DCN Ensino Médio
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A lei determina que as diretrizes sejam fixadas a partir de proposta feita pelo
Ministério. Em princípio, cabe ao Ministério tomar a iniciativa de enviar ao Conselho essa
proposta de diretrizes. Recebendo a proposta do Ministério, o Conselho a amplia, muda,
Não foi, entretanto, o que ocorreu no caso das diretrizes nacionais de ensino médio.
O Ministério da Educação mandou ao Conselho em junho/julho de 1997 um documentos
básico sobre elas. Grande parte do que futuramente seria deliberado pelo Conselho já estava
contemplado no documento do Ministério. Considerando que as questões do ensino médio
no Brasil eram muito mais difíceis de discutir que a questão do ensino fundamental, sobre o
qual há certa unanimidade, a Câmara de Educação Básica, tendo delegado a mim a relatoria
desse trabalho, decidiu aprofundar uma justificativa pedagógica melhor para as propostas
que estavam vindo. A partir daí, por conta desse documento do Ministério, durante o
segundo semestre de 1997 e todo o primeiro semestre de 1998, começou um intenso
período de estudos.
Do ponto de vista legal, cabe ainda esclarecer como se processa a tramitação das
normas, que são obrigatórias, tanto as que emanam dos Conselhos Estaduais, como as
definidas pelo Conselho Nacional da Educação. Concomitantemente com a elaboração de
diretrizes tanto para o ensino médio como, antes, para o ensino fundamental, o Ministério
da Educação, no desempenho de suas funções de assistência técnica aos Estados e
Municípios, preparou, também, o que veio a ser conhecido como parâmetros curriculares,
um trabalho de fôlego. São a proposta curricular do Ministério, e, não sendo obrigatórios,
com certeza serão muito importantes e muito utilizados, sobretudo nos Estados e
Municípios que não criaram, ainda, capacidade própria para formular sua propostas
curriculares. Só no caso da primeira à quarta série fundamental, resultaram 14 volumes.
Mas, além disso, para as escolas e para todos os demais sistemas, os parâmetros são
uma contribuição extremamente importante. Podem ser usados como sugestão inicial aos
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parâmetros que a escola proporá para seu currículo. Diante da lei, o currículo proposto por
uma escola ou sugerido pelo Ministério da Educação têm o mesmo valor e nenhum dos dois
é absolutamente obrigatório. A norma, a diretriz que emana do Conselho, sim. E a Câmara
de Educação Básica considerou essa uma enorme responsabilidade. É que a Lei 9.394, a
nossa atual Lei de Diretrizes e Bases, é extremamente flexível e aberta, quase uma
convocação à criatividade e à inovação dos educadores.
Por isso, o trabalho a nós atribuído de traçar diretrizes estava exatamente na tensão
que normalmente ocorre entre o Governo federal e as autonomias estaduais e municipais
(reconhecidas pela nossa Constituição) na gestão pedagógica e administrativa dos seus
sistemas de ensino, e depois, com a LDB, na autonomia dos seus estabelecimentos.
Qual era o roteiro básico que o Conselho deveria seguir para traçar essas
diretrizes?
Nosso ponto de partida foi o primeiro artigo da lei, que diz que a educação escolar
deverá estar vinculada ao trabalho e à prática social. Quero assinalar a importância de ser
esta a primeira vez que a lei não diz que a educação profissional vincula-se ao trabalho: diz
que a educação escolar será vinculada ao trabalho e à prática social. Isto significa, em
princípio, educação escolar da creche ao último ano de doutorado, em todas as matérias.
Ela não especifica a modalidade em que a vinculação para o trabalho deve ocorrer; une o
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trabalho à prática social como as duas dimensões que devem estar presentes no processo
educativo, em todas as suas manifestações escolares.
Essa lei, antes de mais nada, enfatiza competências cognitivas, começando pelas
finalidades gerais da educação básica, na qual a capacidade de aprendizagem tem um
grande destaque. Então, não se trata de ensinar um conteúdo específico, mas sobretudo de
desenvolver a capacidade de aprendizagem de diferentes conteúdos, por todo o ensino
fundamental.
Nos artigos 35 e 36, que tratam especificamente do ensino médio, a lei abre portas
para um currículo voltado para competências e não para conteúdos. Este currículo ou
doutrina curricular tem como referência não mais a disciplina escolar clássica, mas sim as
capacidades que cada uma das disciplinas pode criar nos alunos.
Alguns pontos desses artigos devem ser destacados. Em primeiro lugar, a autonomia
intelectual, outra maneira de se falar em capacidade de aprendizagem. Para haver
autonomia intelectual é muito importante que a pessoa saiba como aprender. Em segundo
lugar, o conhecimento dos fundamentos científicos e tecnológicos dos processos
produtivos. É necessário notar que esse trecho é da lei sobre educação básica, não de
educação profissional...
constituidoras de significados está muito mais presente do que a questão dos conteúdos, por
uma série de razões.
Eu não estava no Brasil quando se elaborou a LDB, e não acompanhei de perto esse
processo, mas de longe eu chegava a dizer: “Que coisa estranha! Que coisa moderna em um
país que pra mim tem séculos que se sobrepõem, como se os séculos 17, 18 e 19 tivessem
deixado um rescaldo aqui, e se fosse acumulando uma grande contemporaneidade com
muita coisa arcaica”. Considero que, pelo menos no âmbito legal, temos hoje uma situação
em grande sintonia com algumas exigências educacionais de grande contemporaneidade.
Ganhamos pontos
Foi sob esse cenário legal que o Conselho trabalhou. Mas há também outras coisas
tão ou mais importantes que a questão legal que tiveram de ser levadas em consideração.
Uma delas diz respeito ao próprio desenvolvimento brasileiro.
Ainda hoje, eu estava folheando os dados mais recentes das estatísticas educacionais
que temos. São bem claras algumas tendências que traçam alguns panoramas interessantes
e desafiadores para o futuro... Em primeiro lugar, aumenta, de maneira contínua, embora
lenta (mas é uma tendência de alguns anos), a taxa de conclusão do ensino fundamental. E,
ao mesmo tempo se reduz, de maneira lenta, mas também contínua, a idade média dos
concluintes. Este é um indicador muito seguro de que o esforço para resolver alguns
problemas básicos de qualidade no ensino fundamental (como repetência, abandona e
evasão) começou a produzir efeitos. Por exemplo, em dez anos cresceu em cerca de 30% o
número dos jovens que, em menos tempo, conseguem cursar e completar as oito séries do
ensino fundamental. Os jovens equivalentes a estes, dez anos atrás, tinham expectativa de
permanecer 11 anos no sistema, em vez dos 8 regulares. Atualmente estamos em 9,7 anos.
Quanto mais cedo o aluno terminar a 8 série, mais disposição ele terá de buscar o
ensino médio. E é por isso que, em 12 anos, estamos elevando a nossa matrícula no ensino
médio de cerca de 11% a 12% ao ano. De 1997 para 1998, isso deve ter significado a
incorporação de quase 800 mil alunos jovens, ou jovens adultos, na primeira série do ensino
médio.
Um novo jovem
Isto equivale dizer que o ensino médio está dando os primeiros passos para deixar
de ser excludente e começar a incluir um outro tipo de população, porque até agora a taxa
líquida de matrícula no ensino médio é de 25%, até um pouco menos. Ou seja, apenas uma
quarta parte dos jovens de 15 a 17 anos consegue chegar à escola média. Um outro tanto
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está na escola, mas ainda retido no ensino fundamental. Portanto, a taxa bruta é de pouco
mais de 50%, enquanto no ensino fundamental a taxa de escolaridade é superior a 95% da
faixa etária.
Ele não é mais um “Mauricinho”, cuja carreira já havia sido determinada pela
família: terminou o 2 grau, faz o cursinho e vai para a faculdade. Este jovem tem, sim, o
ensino superior no seu projeto de vida, mas não exclusivamente: precisa do trabalho como
estratégia para continuar os estudos. É um jovem que, de modo geral, já atingiu nível
educacional superior ao de seus pais e, portanto, é capaz de alcançar significados que a
geração anterior de sua família não teve. E, finalmente, é um jovem que tem de ter
autonomia na sua vida, porque vai ganhar a sua subsistência. Por isso, as exigências que se
fazem a este jovem são muito mais complicadas do que as sofridas pelo outro jovem de
classe média e média alta, incluído nos 25% que sempre tiveram matrícula no ensino
médio.
O novo aluno do ensino médio precisa ter um projeto de vida, que inclua o trabalho
e a continuidade dos estudos ou, pelo menos, o trabalho. Ele responde por si mesmo,
porque já tem autonomia para isso, ainda que não tenha maioridade legal. Muitas vezes,
também ajuda economicamente a família e não pode contar com ela para determinadas
decisões que implicam significados adquiridos da escolaridade, porque seus pais têm um
nível escolar inferior. Portanto, é um outro tipo de jovem, provavelmente mais maduro e
mais angustiado; certamente muito mais vulnerável à necessidade de ganhar dinheiro e com
exigências em relação à ordem jurídica institucional que podem se resolver pela autonomia,
mas também pela repressão...
Onde há isso no Brasil? Em meia dúzia de escolas, num país de 160 milhões de
habitantes. Temos o Pedro I, o Caetano de Campos, que já nem é mais... E aí, onde estão os
outros? Nós não conhecemos a escola média, nem a da elite, muito menos a da massa. Até
agora, a expansão do então 2 grau foi de classes perdidas de ensino médio em escolas de
ensino fundamental, em geral no período noturno, sem identidade, sem projeto próprio.
A medida tomada por São Paulo, que já está sendo imitada por vários outros
Estados, é bastante interessante nesse sentido e talvez permita repensar um pouco essa
identidade da escola média.
O mercado a considerar
Há uma outra dimensão que o debate do ensino médio deve considerar: o que está
ocorrendo no mundo do trabalho e no mundo da prática social, já que, diz a lei, a educação
escolar deverá estar vinculada ao mundo do trabalho e à pratica social. Sem entrar em
detalhes a respeito das mudanças em curso no organização do trabalho e que deixam muitos
educadores até atônitos, em relação ao perfil de habilidades e de competências.
Quem já não sentiu a angústia de se perguntar: “Meu Deus, qual é o sentido disto,
qual o sentido da minha vida? Do meu trabalho? Do meu casamento?” Quando alguém se
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faz esta pergunta é por estar sentindo, de repente, que lhe falta chão sob os pés e parece-lhe
ter perdido a visão.
Isto acontece com a aprendizagem. Quanto mais informações se têm, mais difícil se
torna classificá-las, selecioná-las, incorporá-las e organizá-las de modo que elas mostrem
algum sentido. Eu diria, então, que a escola tenderá a se transformar, cada vez mais, numa
ponte de significados sobre a autoestrada das informações e dos conhecimentos, com
questões que são muito familiares para nós, que trabalhamos no cotidiano escolar. Em
primeiro lugar, porque conhecimentos e informações se adquirem sozinhos. Significados se
constróem interagindo um com o outro. Ninguém constrói significados sozinho. A cultura é
significado e nada mais coletivo, como produto, que a cultura. A comunicação, nesse
sentido, nada mais é do que a possibilidade de que muitos significados circulem e entrem
em concorrência, em condições de igualdade. Essa é a comunicação na sociedade
democrática.
O professor está, hoje, no ponto de se dizer: “ Epa! Eu não sou mais a única fonte
legítima de conhecimento para o meu aluno! Talvez ele seja mais hábil e mais rápido do
que eu para ir à Internet buscar um monte de informações! Mas eu resgato cada vez mais o
meu papel de ajudar este aluno a constituir um significado, a dar sentido para essas
informações...”
Isso muda o papel do professor. Ele não precisa ser a única fonte de
conhecimentos... Os conhecimentos podem vir da Internet, da televisão, do vizinho, da
prática social, do trabalho, etc. Mas o sentido que aqueles conhecimentos podem constituir
é uma coisa que esse professor pode trabalhar. E quem trabalha sentido trabalha linguagem;
trabalha a língua e trabalha as demais linguagens: a linguagem do corpo, a da música, a das
artes, a da informática, como linguagens que constituem sentido, que fazem a pessoa
localizar-se no mundo, apesar da enxurrada de informações que lhe chegam à cabeça.
Apesar de todo o peso das exigências específicas do mundo do trabalho, creio que a
questão das informações no mundo contemporâneo talvez seja, do ponto de vista
educacional, a mais importante. São indispensáveis a constituição de sentidos, a
negociação de sentidos na sala de aula e a possibilidade de gerar, nesta sala de aula e na
escola, uma certa inteligência coletiva que negocie sentidos. Não se trata só de saber
química; trata-se de saber para que serve saber química e qual é o papel dela no mundo de
hoje. Pesquisa recente feita com alunos do grupo das melhores escolas particulares de São
Paulo é reveladora: nenhum dos alunos apontou relação entre a química que estuda na
escola e a sua vida. Por aí, pode-se pensar que essas pessoas não usam roupa de fibra
sintética, não comem iogurte, não têm problemas de agrotóxico, não vivem num mundo de
novos materiais, todos eles produzidos no âmbito da química...
As novas diretrizes
Nestas áreas, não são descritos conteúdos, mas competências pessoais, intelectuais e
sociais que os alunos deverão adquirir durante o percurso pelo ensino médio. Não se fixa
nenhuma proporção em que as áreas deverão estar presentes nos currículos. Diz-se apenas
que as três áreas deverão estar representadas – mas não se diz nem em que proporção. E,
sobretudo, não se menciona nenhuma disciplina ou conteúdo específico em cada área.
Na área de ciências humanas, por exemplo, é possível haver estudos de direito como
é possível haver estudos de sociologia ou de antropologia – ou até da velha história e
geografia que nós conhecemos. Da mesma forma, na área das ciências humanas cabem
estudos relativos à gestão, à administração e a outros instrumentos da área, porque são as
ciências humanas e suas tecnologias. Na física e na área de ciências da natureza localizam-
se os estudos relativos à física, à química e à biologia e seus desdobramentos. E na área das
linguagens encontram-se todas as disciplinas relativas às linguagens, que vão da educação
física à língua portuguesa.
Um caso que conheci em escola do Interior de São Paulo: reciclagem do lixo escolar
é um projeto interdisciplinar exemplar. Em torno dele, articulam-se todos os conhecimentos
de importância: de política, de sociologia, de psicologia, de química e de física. Mas o
projeto era extra-curricular!
O processo de reinventar precisa ser reproduzido quase que artificialmente para que
o aluno possa entender um pouco mais do que se ensina. E uma das coisas interessantes
para fazer isso é a contextualização: trazer o que está sendo ensinado para mais perto da sua
experiência imediata ou de sua experiência cotidiana. Assim, o aluno poderá perceber que o
ruído de pneu e a freiada do carro têm a ver com aquela fórmula sobre atrito, explicada em
aula pelo professor de física. E o aluno fará a ponte entre a teoria e a prática, como manda a
LDB. E não há contexto melhor para fazer isso que o contexto do trabalho, a
contextualização.
Mas não é o único. O novo aluno do ensino médio precisa, por exemplo, determinar
a sua sexualidade e como exercê-la de maneira segura. Ou precisa, também, decidir se faz
dieta ou não e como cuida da sua saúde; se fuma ou não; se usa droga. Quer saber como
conviver com a família, como lidar com a questão de já estar avançado em relação ao nível
escolar de seu pai ou de sua mãe. Deve decidir como buscar seu parceiro ou sua parceira. É
aqui que o professor pode consultar as características e exigências da clientela. É na
contextualização que se ausculta. É claro que há grandes diferenças nos contextos cujos
conteúdos devem ser trabalhados numa escola particular, de classe média alta, e numa
escola de 2 grau noturno, de bairro da periferia.
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No entanto, o ensino profissional, tal como conhecido hoje, não cabe nas 2.400
horas do ensino médio e, por isso, terá de ser adicional, se for concomitante. Ou terá de ser
posterior. Significa isso que as habilidades específicas de um curso de enfermagem deverão
estar sendo ministradas fora das 2.400 horas. E toda a base na área de linguagens, na de
ciências humanas e sociais necessária para ser enfermeiro, por exemplo, poderá e deverá
ser trabalhada no contexto da enfermagem num curso de nível médio.
Não é um paradigma curricular novo. Nada disto é grande novidade: boas escolas,
privadas e públicas, já fazem trabalhos bastante sintonizados com este paradigma
curricular, ainda que não lhes dêem os mesmos nomes ou não usem os mesmos termos.
Alguns nós terão de ser desatados: o divórcio doloroso, talvez litigioso, da educação básica
e do ensino profissional, que está na lei (Decreto 2.208), a articulação do sistema do ensino
médio com um sistema de formação profissional, além, obviamente, de todas as questões
relativas à infra-estrutura e formação de professores, entre outros.
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