Conceito de Coesão

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Faculdade Teles Pires

Credenciada pela Portaria 1.430 de 11/06/2003

CONCEITO DE COESÃO.

São muitos os autores que têm publicado estudos sobre coerência e coesão.
Apoiados nos trabalhos de Koch (1997), Platão e Fiorin (1996), Suárez Abreu (1990) e
Marcuschi (1983), apresentamos algumas considerações sobre o conceito de coesão
com o objetivo de mostrar a presença e a importância desse fenômeno na produção e
interpretação dos textos.

Koch (1997) conceitua a coesão como "o fenômeno que diz respeito ao modo como os
elementos lingüísticos presentes na superfície textual se encontram interligados, por
meio de recursos também lingüísticos, formando seqüências veiculadoras de sentido."
Para Platão e Fiorin (1996), a coesão textual "é a ligação, a relação, a conexão entre
as palavras, expressões ou frases do texto." A coesão é, segundo Suárez Abreu
(1990), "o encadeamento semântico que produz a textualidade; trata-se de uma
maneira de recuperar, em uma sentença B, um termo presente em uma sentença A."
Daí a necessidade de haver concordância entre o termo da sentença A e o termo que
o retoma na sentença B. Finalmente, Marcuschi (1983) assim define os fatores de
coesão: "são aqueles que dão conta da seqüenciação superficial do texto, isto é, os
mecanismos formais de uma língua que permitem estabelecer, entre os elementos
lingüísticos do texto, relações de sentido."

A coesão pode ser observada tanto em enunciados mais simples quanto em


enunciados mais complexos. Observe:

1) Mulheres de três gerações enfrentam o preconceito e revelam suas experiências.


2) Elas resolveram falar. Quebrando o muro de silêncio, oito dezenas de mulheres
decidiram contar como aconteceu o fato que marcou sua vida.
3) Do alto de sua ignorância, os seres humanos costumam achar que dominam a terra
e todos os outros seres vivos.

Nesses exemplos, temos os pronomes suas e que retomando mulheres de três


gerações e o fato, respectivamente; os pronomes elas e sua antecipam oito dezenas
de mulheres e os seres humanos, respectivamente. Estes são apenas alguns
mecanismos de coesão, mas existem muitos outros, como veremos mais adiante.

Vejamos agora a coesão num período mais complexo:

Os amigos que me restam são da data mais recente; todos os amigos


foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas,
algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas crêem
na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que
falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal freqüência é
cansativa.

(Machado de Assis, Dom Casmurro)


Observemos os elementos de coesão presentes neste texto.

No primeiro período, temos o pronome que remetendo a amigos, que é o sujeito dos
verbos restam e são, daí a concordância, em pessoa e número, entre eles. Do mesmo
modo, amigos é o sujeito de foram, na oração seguinte; todos e os se relacionam a
amigos.

Já no segundo período, em que o autor discorre sobre as amigas, os pronomes


algumas, outras, todas remetem a amigas; os numerais duas, três também remetem a
amigas, que, por sua vez, é o sujeito de datam, crêem, fariam, falam; nela retoma a
expressão na mocidade, evitando sua repetição; que representa a língua. E, para
retomar muita vez, o autor usou a expressão sinônima tal freqüência.

Esses fatos representam mecanismos de coesão, assinalando relações entre os


vocábulos do texto. Outros mecanismos marcam a relação de sentido entre os
enunciados. Assim, os vocábulos mas (mas a língua que falam), e (e quase todos
crêem na mocidae, e tal freqüência é cansativa) assinalam relação de contraste ou de
oposição e de adição de argumentos ou idéias, respectivamente. Dessa maneira, por
meio dos elementos de coesão, o texto vai sendo "tecido", vai sendo construído.

A respeito do conceito de coesão, autores como Halliday e Hasan (1976), em obra


clássica sobre coesão textual, que tem servido de base para grande número de
estudos sobre o assunto, afirmam que a coesão é condição necessária, mas não
suficiente, para que se crie um texto. Na verdade, para que um conjunto de vocábulos,
expressões, frases seja considerado um texto, é preciso haver relações de sentido
entra essas unidades (coerência) e um encadeamento linear das unidades lingüísticas
presentes no texto (coesão). Mas essa afirmativa não é categórica nem definitiva, por
algumas razões. Uma delas é que podemos ter conjuntos lingüísticos destituídos de
elos coesivos que, no entanto, são considerados textos porque são coerentes, isto é,
apresentam uma continuidade semântica, como vimos no texto "Circuito Fechado", de
Ricardo Ramos.

Um outro bom exemplo da possibilidade de haver texto, porque há coerência, sem elos
coesivos explicitados lingüisticamente, é o texto do escritor cearense Mino, em que só existem
verbos.

Como se conjuga um empresário

Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxugou-se.


Perfumou-se. Lanchou. Escovou. Abraçou. Beijou. Saiu. Entrou.
Cumprimentou. Orientou. Controlou. Advertiu. Chegou. Desceu. Subiu.
Entrou. Cumprimentou. Assentou-se. Preparou-se. Examinou. Leu.
Convocou. Leu. Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou. Conferiu.
Vendeu. Vendeu. Ganhou. Ganhou. Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou.
Lesou. Explorou. Escondeu. Burlou. Safou-se. Comprou. Vendeu.
Assinou. Sacou. Depositou. Depositou. Depositou. Associou-se. Vendeu-
se. Entregou. Sacou. Depositou. Despachou. Repreendeu. Suspendeu.
Demitiu. Negou. Explorou. Desconfiou. Vigiou. Ordenou. Telefonou.
Despachou. Esperou. Chegou. Vendeu. Lucrou. Lesou. Demitiu.
Convocou. Elogiou. Bolinou. Estimulou. Beijou. Convidou. Saiu. Chegou.
Despiu-se. Abraçou. Deitou-se. Mexeu. Gemeu. Fungou. Babou.
Antecipou. Frustrou. Virou-se. Relaxou-se. Envergonhou-se. Presenteou.
Saiu. Despiu-se. Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. Justificou-
se. Dormiu. Roncou. Sonhou. Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou-se.
Temeu. Suou. Ansiou. Tentou. Despertou. Insistiu. Irritou-se. Temeu.
Levantou. Apanhou. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Rasgou. Engoliu. Bebeu.
Dormiu. Dormiu. Dormiu. Acordou. Levantou-se. Aprontou-se ...

Neste texto, a coerência é depreendida da seqüência ordenada dos verbos com os


quais o autor mostra o dia-a-dia de um empresário. Verbos como lesou, burlou,
explorou, safou-se ... transmitem um julgamento de valor do autor do texto em relação
à figura de um empresário.

Podemos constatar que "Como se conjuga um empresário" não precisou de elementos


coesivos para ser considerado um texto. Por outro lado, elos coesivos não são suficientes para
garantir a coerência de um texto. É o caso do exemplo a seguir:

As janelas da casa foram pintadas de azul, mas os pedreiros estão


almoçando. A água da piscina parece limpa, entretanto foi tratada com
cloro. A vista que tenho da casa é muito agradável.

Finalizando, vale dizer que, embora a coesão não seja condição suficiente para que
enunciados se constituam em textos, são os elementos coesivos que dão a eles maior
legibilidade e evidenciam as relações entre seus diversos componentes. A coerência
em textos didáticos, expositivos, jornalísticos depende da utilização explícita de
elementos coesores.

Coerência:

Produzimos textos porque pretendemos informar, divertir, explicar, convencer,


discordar, ordenar, ou seja, o texto é uma unidade de significado produzida sempre
com uma determinada intenção. Assim como a frase não é uma simples sucessão de
palavras, o texto também não é uma simples sucessão de frases, mas um todo
organizado capaz de estabelecer contato com nossos interlocutores, influindo sobre
eles. Quando isso ocorre, temos um texto em que há coerência.

A coerência é resultante da não-contradição entre os diversos segmentos textuais


que devem estar encadeados logicamente. Cada segmento textual é pressuposto do
segmento seguinte, que por sua vez será pressuposto para o que lhe estender,
formando assim uma cadeia em que todos eles estejam concatenados
harmonicamente. Quando há quebra nessa concatenação, ou quando um segmento
atual está em contradição com um anterior, perde-se a coerência textual.
A coerência é também resultante da adequação do que se diz ao contexto extra
verbal, ou seja, àquilo o que o texto faz referência, que precisa ser conhecido pelo
receptor.

Ao ler uma frase como "No verão passado, quando estivemos na capital do Ceará
Fortaleza, não pudemos aproveitar a praia, pois o frio era tanto que chegou a nevar",
percebemos que ela é incoerente em decorrência da incompatibilidade entre um
conhecimento prévio que temos da realizada com o que se relata. Sabemos que,
considerando uma realidade "normal", em Fortaleza não neva (ainda mais no verão!).

Claro que, inserido numa narrativa ficcional fantástica, o exemplo acima poderia
fazer sentido, dando coerência ao texto - nesse caso, o contexto seria a
"anormalidade" e prevaleceria a coerência interna da narrativa.

No caso de apresentar uma inadequação entre o que informa e a realidade


"normal" pré-conhecida, para guardar a coerência o texto deve apresentar elementos
lingüísticos instruindo o receptor acerca dessa anormalidade.

Uma afirmação como "Foi um verdadeiro milagre! O menino caiu do décimo andar
e não sofreu nenhum arranhão." é coerente, na medida que a frase inicial ("Foi um
verdadeiro milagre") instrui o leitor para a anormalidade do fato narrado.

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