Atividade de Intervenção Técnica Do Caso Mariana Ferrer
Atividade de Intervenção Técnica Do Caso Mariana Ferrer
Atividade de Intervenção Técnica Do Caso Mariana Ferrer
Paulo Afonso – BA
2021
Anecleide Maria da Silva
Enzo Fabrício Carvalho Netto
Jerônimo Cícero do Carmo
Meire da Silva Barros
Thamyres Souza Silva Ferreira
Paulo Afonso – BA
2021
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1 G1. Caso Mariana Ferrer: ataques a blogueira durante julgamento sobre estupro provocam
indignação. 2020. Disponível em < https://g1.globo.com/sc/santacatarina/noticia/2020/11/03/caso-
mariana-ferrer-ataques-a-blogueira-durante-julgamentosobre-estupro-provocam-indignacao.ghtml>
Acesso em 18 de agosto de 2021.
2 ENTENDA O CASO MARIANA FERRER: Jovem que denunciou seu estuprador e o viu ser
inocentado. https://jovempan.com.br/noticias/brasil/entenda-o-caso-mariana-ferrer-jovem-que-
denunciou-seu-estuprador-e-o-viu-ser-inocentado.html Acesso em: 14 de agosto de 2021.
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chegou na sua residência com o rosto manchado de maquiagem e o corpo amolecido. Ela
tirou a roupa da sua filha, armazenou num plástico, deu banho e a colocou na cama. 3
De acordo com matéria publicada no Portal Makingof, imagens do
suspeito viralizaram nas redes sociais, após a divulgação do caso. O André Aranha e
Mariana Ferrer aparece subindo e descendo uma escadaria de um camarim do Beach
Club. Em 23 de maio, o investigado prestou depoimento na Polícia Civil de
Florianópolis, acompanhado dos seus advogados Gustavo Frances e Gerson
Mendonça, André Aranha foi interrogado e assumiu ter subido as escadas do camarim
do Beach Club com Mariana Ferrer.
O investigado “afirmou que a ajudou a subir a escada íngreme, pois
Mariana usava salto alto e negou que tivesse tido qualquer contato físico com a
jovem”. Em um primeiro momento, o empresário topou conceder material para
confronto genético com o sêmen colhido na roupa da vítima, mas mudou de ideia após
conversar com os advogados.
De acordo com matéria publicada no portal de notícias Ndmais, a
delegada conseguiu durante o interrogatório na delegacia da Polícia Civil em
Florianópolis, colheu não só as impressões digitais do investigado, como também a
saliva dele, em um copo no qual o réu bebeu água. De acordo com o laudo, que o
valor da coeficiência de verossimilhança foi de dois septilhões entre a amostra
questionada e a amostra de confronto, o que indica se tratar da mesma pessoa.
A prova colhida foi acatada pelo juiz Rudson Marcos, da 3ª Vara
Criminal, que concordou com o pedido da delegada e o parecer do Ministério Público,
em decretar a prisão temporária do empresário pela prática do crime de estupro de
vulnerável.4
3 JULGAMENTO de influencer Mariana Ferrer termina com tese inédita de ‘estupro culposo’ e advogado
humilhando jovem. The Intercept Brasil. Disponível em:
https://theintercept.com/2020/11/03/influencer-mariana-ferrer-estupro-culposo/>. Acesso em: 13 de
agosto de 2021.
4 CASO MARIANA FERRER: Empresário do ramo esportivo é indiciado por estupro de vulnerável.
Disponível em https://ndmais.com.br/seguranca/caso-mariana-ferrer-empresario-do-ramo-esportivo-
e-indiciado-por-estupro-de-vulneravel. Acesso em 21 de ago. de 2021.
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3. DO PROCESSO JUDICIAL
Gastão pergunta por que ela acha que seus colegas fariam isso, momento em que
Mariana diz que “o senhor sabe muito bem o que as pessoas são capazes de fazer”.
Mais uma vez o advogado rispidamente responde que “olhando pra você, eu
começo a supor o que as pessoas são capazes de fazer, você é um bom exemplo”.
Depois que Mariana começa a chorar, o advogado continua os ataques, falando
em “lágrimas de crocodilo”. O juiz Rudson Marcos informa a vítima que ela pode fazer
uma pausa para tomar uma água se quiser, sem manifestar sobre as falas do
advogado.
Mariana então pede respeito, afirmando que nem os acusados de assassinato
são tratados como ela está sendo tratada. Um intervalo é concedido e, após, o
magistrado retorna pedindo que se mantenha um “bom nível da audiência”. Mais uma
vez ele pede que Mariana responda as perguntas objetivamente, aduzindo que ela
não pode expor suas impressões pessoais sobre o caso, devendo apenas responder
às perguntas formuladas.
Dessa forma, é dada continuidade a audiência com mais perguntas do
advogado da defesa para a vítima. Em um desses momento, ele faz uma pergunta a
vítima e, sem dar tempo pra ela responder, reclama ao magistrado que ela não estava
respondendo, mas que mesmo assim prosseguiria “antes que comece a choradeira”.
Em outro momento Cláudio Gastão questiona a vítima sobre o seu estado
anímico durante os fatos, aduzindo que ela estava consciente e, assim, não era
vulnerável. Mariana responde que não se lembra dos fatos e que ela não jamais iria
consentir em perder a sua virgindade daquela forma. O advogado fala que “aqui não
dá pra fazer esse seu showzinho, isso você vai fazer no seu Instagram depois
para seus seguidores, você vive disso. Vamos ser sinceros, fala a verdade, tu
trabalhavas no café, perdeste o emprego, estava com o aluguel atrasado 7 meses."
Por fim, o advogado de André Aranha finaliza mostrando as fotos de editoriais
feitos por Mariana e afirma que ela apagou essas imagens das redes sociais
para uma imagem de santa, questionando-a sobre o porquê de apagar as fotografias
e “deixa só a carinha de choro como se fosse uma santa, só falta uma auréola na
cabeça”. Em seguida a chama de mentirosa.
Após a oitiva de Mariana Ferreira, ouviu-se a mãe dela, Luciane Aparecida
Borges, na condição de informante. Ressalte-se que durante o depoimento de
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corroborado por outros elementos de prova, o que não se constata nos autos
em tela, pois a versão da vítima deixa dúvidas que não lograram ser dirimidas.
[...] Diante disso, não há como condenar o acusado por crime de estupro,
quando os depoimentos de todas as testemunhas e demais provas (periciais)
contradizem a versão acusatória.
4. DA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Por todo o exposto, forçoso registrar que a tese defendida aqui está balizada
nos trechos da Audiência de Instrução e Julgamento, em que comprova que Mariana
Ferrer foi humilhada de forma desrespeitosa pelo advogado Cláudio Gastão, que
defendeu André Camargo Aranha, violando os preceitos fundamentais do devido
processo legal, bem como ao princípio da dignidade da pessoa humana, sem
nenhuma advertência dos outros presentes no ato, ensejando, assim, a
inconstitucionalidade da audiência de instrução e julgamento, que não deixa dúvidas:
a audiência é nula por ofensa à dignidade humana da depoente.
Separamos alguns trechos para fundamentar a nossa tese, em que demonstra
quem em diversos momentos o advogado do réu agiu de maneira inusitada ao falar
diretamente com a vítima, além de comprovar, efetivamente, que o juiz e promotor de
Justiça ficaram pusilânimes perante as alegações do mesmo.
I- Em determinado momento, o advogado Cláudio Gastão mostra fotos da
vítima, publicadas nas redes sociais antes do caso e que nada têm a ver com o
processo. "Peço a Deus que meu filho não encontre uma mulher como você. "Aqui
você tem que responder, não dá para dar o seu showzinho. Teu showzinho você vai
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lá dar no teu Instagram, para ganhar mais seguidores. Você vive disso”. Mariana, fala
a verdade. Vamos lá. Tu trabalhavas no Café, perdeu o emprego, estava com o
aluguel atrasado sete meses, era uma desconhecida...". O juiz interrompe para dizer
que isso é questão de alegação e que deverá ser aportada aos autos nas alegações
finais. E não repreende o advogado.
II- O advogado do réu, além de em outros momentos, ironiza o choro da vítima:
" o choro de Mariana é falso, dissimulado e que as lágrimas "são de crocodilo". O juiz
mais vez não repreende o advogado.
III- O Juiz permaneceu silente, apesar da súplica da vítima ao juiz: "Eu gostaria
de respeito, eu tô implorando por respeito, nem os assassinos são tratados da forma
como eu estou sendo tratada...”. O promotor do caso, também não se manifestou
diante da agressão.
Na ocasião, não resta dúvida sobre a nulidade absoluta do depoimento e de
todo o processo, em virtude da ofensa a dignidade humana da depoente, além da
provocação constante efetuada pelo advogado do investigado, com palavras
agressivas, ocasionando um desequilíbrio emocional na vítima, comprometendo a
higidez da sua fala no decorrer da audiência.
O magistrado durante a audiência não se manifestou de forma efetiva nas
investidas do advogado, realizou apenas duas tímidas intervenções, a conduta do
magistrado foi vexatória, constituindo em mais um fator de nulidade absoluta do
processo. O juiz Rudson Marcos deixou ocorrer, perante os seus olhos, tamanhas
ofensas à dignidade humana, permaneceu silente, diante das agressões desferidas à
depoente. Tanto é que as ofensas pronunciadas no decorrer da audiência se
fragmentaram no decorrer do depoimento da vítima.
A sentença que absolveu André Camargo Aranha, não poderia ter partido deste
juiz, uma vez que este permitiu que a audiência se transformasse num verdadeiro
espetáculo, para ofender e constranger a depoente. Ao agir desse modo, tornou-se
suspeito para julgar com imparcialidade o processo.
Na primeira investida ofensiva do defensor proferida pela defesa do acusado, o
magistrado deveria ter feito dura intervenção. Ao não intervir, contaminou o restante
do processo. Isso também vale para a conduta do Promotor de Justiça que atuava em
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defesa do interesse público, que foi gravemente violado com as ofensas pronunciadas
pelo advogado do réu e consentidas pelo juiz.
A nossa Carta Magna não compactua com forma maneira indigna de tratamento
humano.
O Tribunal de Justiça Santa Catarina deve anular o processo pela nulidade do
depoimento, sob pena de comprometer a credibilidade do nosso sistema de justiça,
uma vez que a nossa Carta Magna não compactua com forma indigna de tratamento
humano.
4.3 DA ESTRATÉGIA
medida tenha sido tomada para garantir o direito, o acolhimento e a dignidade e que
lhe são devidos pela Justiça.
[…]
5 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 4056/RJ. DJ: 21/11/1994. JusBrasil.
Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/557843/recurso-ordinario-em-habeas-
corpus-rhc-4056/relatorio-e-voto-9339860 Acesso em: 17 de agosto de 2021.
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6 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 4056/RJ. DJ: 21/11/1994. JusBrasil.
Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/557843/recurso-ordinario-em-habeas-
corpus-rhc-4056/relatorio-e-voto-9339860. 18 de agosto de 2021.
7 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial nº 932334/RS. DJ: 18/11/2008. . JusBrasil.
Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/6062196/recurso-especial-resp-932334-rs-
2007-0047387-9 Acesso em: 18 de agosto 2021.
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8 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 4056/RJ. DJ: 21/11/1994. JusBrasil.
Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/557843/recurso-ordinario-em-habeas-
corpus-rhc-4056/relatorio-e-voto-9339860 Acesso em: 19 de agosto de 2021.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS