Nome 1 2 3 4
Nome 1 2 3 4
Nome 1 2 3 4
Nome 1 2 3 4
Ogbe I I I I
Oyẹku II II II II
Iwori II I I II
Odi I II II I
Ọbara I II II II
Ọkanran II II II I
Irosun I I II II
Iwọnrin II II I I
Ogunda I I I II
Ọsa II I I I
Irẹtẹ I I II I
Otura I II I I
Oturupọn II II I II
Ika II I II II
Ọsẹ I II I II
Ofun II I II I
16 Afa-du principais
(Yeveh Vodoun)
Nome 1 2 3 4
Gbe-Meji I I I I
Yeku-Meji II II II II
Woli-Meji II I I II
Di-Meji I II II I
Abla-Meji I II II II
Akla-Meji II II II I
Loso-Meji I I II II
Wele-Meji II II I I
Guda-Meji I I I II
Sa-Meji II I I I
Lete-Meji I I II I
Tula-Meji I II I I
Turukpe-Meji II II I II
ka-Maji II I II II
Ce-Meji I II I II
Fu-Meji II I II I
OPON-IFÁ
Opon-Ifá, tábua sagrada feita de madeira e esculpida em diversos formatos, redonda [2],
retangular, quadrada, oval,[3] utilizada para marcar os sígnos dos Odús (obtidos com o jogo
de Ikins) sobre um pó chamado Ierosum. Método divinatório do Culto de Ifá utilizado
pelos babalawos. Irofá de Orula instrumento utilizado pelobabalawo durante o jogo
de Ikin com o qual bate na tábua Opon-Ifá.
JOGO DE OPELE
Opele Ifá
O Òpelè-Ifá ou Rosário de Ifá é um colar aberto composto de um fio trançado de palha-da-
costa ou fio de algodão, que tem pendentes oito metades de fava de opele, é um instrumento
divinatório dos tradicionais sacerdotes de Ifá.
Existem outros modelos mais modernos de Opele-Ifá, feitos com correntes de metal
intercaladas com vários tipos de sementes, moedas ou pedras semi-preciosas.[4][5]
O jogo de Opele-Ifá é o mais praticado por ser a forma mais rápida, pois a pessoa não
necessita perguntar em voz alta, o que permite o resguardo de sua privacidade, também de
uso exclusivo dos Babalawos, com um único lançamento do rosário divinatório aparecem 2
figuras que possuem um lado côncavo e outro convexo, que combinadas, formam o Odú.
JOGO DE IKINS
Jogo de Ikin
O Jogo de Ikin só é utilizado em cerimônias relevantes, só pode ser consultado
pelobabalawo. O jogo compõe-se de 21 nozes de dendezeiro Ikin, são manipuladas pelo
babalawo com a finalidade de se apurar o Odú a ser interpretado e transmitido ao
consulente. Dos 21 Ikins, 16 são colocados na palma da mão esquerda, com a mão direita
rapidamente o babalawo tenta retirá-los de uma vez. A determinação do Odú é a quantidade
de Ikin que sobrou na mão esquerda, o resultado seja qual for, terá que ser riscado sobre
oierosun que está espalhado no Opon-Ifa, para um risco usa o dedo médio da mão direita e
para dois riscos usa dois dedos o anular e o médio da mão direita. Deverá repetir a operação
quantas vezes forem necessárias até obter duas colunas paralelas riscadas da direita para a
esquerda com quatro sinais, se não sobrar nenhum ikin na mão esquerda, a jogada é nula e
deve ser repetida.
Oráculo
O oráculo consiste em um grupo de cocos de dendezeiro ou Búzios, ou réplicas destes, que
são lançados para criar dados binários, dependendo se eles caem com a face para cima ou
para baixo. Os cocos são manipulados entre as mãos do adivinho , e no final são contados,
para determinar aleatoriamente se uma certa quantidade deles foi retida. As conchas ou as
réplicas são freqüentemente atadas em uma corrente divinatória, quatro de cada lado.
Quatro caídas ou búzios fazem um dos dezesseis padrões básicos (um odu, na língua
Yoruba); dois de cada um destes se combinam para criar um conjunto total de 256 odus.
Cada um destes odus é associado com um repertório tradicional de versos (Itan),
freqüentemente relacionados à Mitologia Yoruba, que explica seu significado divinatório. O
sistema é consagrado aos orixás Orunmila-Ifa, orixá da profecia e a Exu que, como o
mensageiro dos Orixás, confere autoridade ao oráculo.
O sistema inteiro traz uma semelhança superficial com os sistemas ocidentais
de geomancia. Suspeita-se que a geomancia ocidental é um empréstimo de um sistema
criado pelos Árabes e trazida para o norte da África, onde foi aprendida pelos europeus
durante as Cruzadas. Muito embora possua um número diferente de símbolos, o sistema
carrega também alguma semelhança com sistema chinês do I Ching.
O Babalaô brasileiro William de Ayrá (Mestre Obashanan, discípulo de Mestre Arapiagha)
foi o primeiro a realizar um estudo comparativo sério e eficaz entre o Ifá, o I-ching,
Geomancia e o cabalismo de diversas culturas, com resultados filosóficos e divinatórios
comprovados.
Os primeiros a escreverem sobre Ifá no Brasil foram sacerdotes Umbandistas. W.W. da
Matta e Silva, conhecido como Mestre Yapacani já descrevia em 1956 um dos inúmeros
sistemas de Ifá em suas obras. Seus discípulos, Francisco Rivas Neto (Mestre Arapiaga) e
Ivan H. Costa (Mestre Itaoman) escreveram, nos anos 90, obras descritivas sobre o oráculo.
A tradição africana de Ifá só chegou ao Brasil via africanos e Cubanos muito mais tarde.
Odu
Cada odù é formado por um conjunto constituído por duas colunas verticais e paralelas de
quatro índices cada. Cada um desses índices compõem-se de um traço vertical ou de dois
traços verticais paralelos que o babalawo traça no pó (iyerosun) espalhado sobre um
tabuleiro de madeira esculpida (Opon-Ifá) à medida que vai extraindo os resultados pela
manipulação dos cocos de dendezeiro ou ikin-ifá.
O babalawo detecta esse odù manipulando caroços de dendê (Ikin) ou jogando o rosário de
Ifá chamado (Opele-Ifa).
Existem 256 odù, correspondendo cada um a uma série lendas (Itan).
O Culto de Ifá é oriundo das Religiões tradicionais africanas, ligado ao Orixá Orunmilá–
Ifá da religião yoruba. Com a ida destas culturas para Brasil e Caribe, nos períodos
do tráfico negreiro, alguns sacerdotes (chamados babalawo (yoruba) e Bokono (ewe/fon).)
foram levados para estes países, estando ligados às religiões Candomblé (Brasil)
e Santeria através da Regla de Ocha (Cuba).
O culto de Ifá é um sistema divinatório, empregado na África e nos países para onde foi
disseminado para decisões de cunho religioso ou social. Utiliza três técnicas diferentes
(Opelê, Ikins eMerindilogun), que têm em comum os Odú–Ifá, os signos.
As mulheres também podem ser iniciadas no culto, quando passam a ser
chamadas apetebis(esposas de Orunmilá), mas os sacerdotes – babalawôs – sempre são
homens heterossexuais, sendo vedado às apetebis jogar Opelê ou Ikins. O Merindilogun é o
jogo dos OBAORIATES sendo permitido as mulheres a usarem o EKURÓ. As pessoas
ebomis que não são iniciadas em Ifá usam o OBANIKA.
O Culto de Ifá tem um rígido e complexo sistema de conduta moral relativo a seus adeptos,
expresso no Odu Ikafun, onde surgem os dezesseis mandamentos de Ifá.
Os primeiros a escreverem sobre Ifá no Brasil, obras publicadas em português foram
sacerdotes Umbandistas. W.W. da Matta e Silva, conhecido como Mestre Yapacani já
descrevia em 1956 um dos inúmeros sistemas de Ifá em suas obras. Seus discípulos,
Francisco Rivas Neto (Mestre Arapiaga) e Ivan H. Costa (Mestre Itaoman) escreveram, nos
anos 90, obras descritivas sobre o oráculo.
COMPRENDENDO AS DETERMINAÇÕES ORACULARES
Existe uma distância enorme que separa a postura do homem religioso da postura do
homem racional.
O religioso é aquele que busca a compreensão de tudo o que diz respeito aos dogmas,
procedimentos ritualísticos, liturgias e filosofia de sua religião, o que o diferencia também
do fanático, que aceita qualquer coisa sem compreender e sem contestar.
O homem racional não busca a compreensão e sim o resultado. Para ele a religião, seja
qual for, é uma butique de milagresonde os resultados pretendidos devem ser obtidos e,
invariavelmente, em curto prazo.
O que não pode ser provado em laboratório, o que não lhe trouxer um resultado prático e
positivo é, para o racional, considerado obsoleto e, como tal, jogado na cestinha das
bobagens sem utilidade. O homem racional é, em essência, um cético e ateu, por conta de
nunca haver-se provado a existência de Deus “in vitro”.
Creio que esta introdução pode servir para responder, em parte, aos diversos
questionamentos da maioria das pessoas, e, claro, a alguns de nossos amigos que a este
lêem.
De forma mais objetiva, já que tratamos com pessoas confessadamente pragmáticas, ou
seja, que considera o valor prático como critério da verdade, eu diria que quando se tira um
Odu regente, o que se pretende na verdade é buscar, em Orunmilá, os aconselhamentos e
orientações para que se possa proceder de forma a assegurar que tudo transcorra bem a
partir da execução de determinados procedimentos, sejam eles religiosos ou posturais.
Somente as pessoas crentes no poder de Orunmilá podem aceitar as orientações daí
decorrentes e, segundo as mesmas, participar dos ritos, observar as interdições, seguir os
aconselhamentos e oferecer os sacrifícios propiciatórios e defensivos determinados.
Não sendo assim, de nada adianta “sacar-se” um Odu para saber dessas orientações, e não
segui-las, ou obedecê-las, e assim NÃO se beneficiar das orientações por ele trazidas.
Temos o grave defeito (humano, congênito, cultural e Geográfico), de culparmos aos
Orisá, pela não realização de nossos anseios.
Costumo dizer que Orisá lê a mente e o coração de todos nós, e o que a boca fala, às
vezes, não é o que o coração e a mente executam. E daí provém a não execução de alguns
desejos nossos.
Ou a demora da realização dos mesmos.
Ou o atendimento, mas não da forma que desejaríamos.
Devemos ter a consciência de que estamos aqui na Terra para aprender, para evoluir, para
recebermos as benesses de Orisá, mas não de graça. Temos um dever, mas sempre
queremos apenas os direitos.
E quase sempre relutamos em executar os deveres conforme as determinações
de Orunmilá.
Temos a pretensão de achar que sabemos mais que Orunmilá, que Orisá, e
constantemente “botamos queda de braço” com Eles.
Ledo engano…
Na grande maioria das vezes fazemos o que queremos e também constantemente contra
as determinações do Oráculo.
Achamos que os sacerdotes, por serem humanos como nós, nada sabem.
Achamos que as impressões, por ele apresentadas, são de sua autoria.
O que normalmente não é.
E aí…pagamos caro…e normalmente com dor, pela nossadescrença.
E mesmo assim, relutamos em crer em nosso sacerdote, em suas determinações
fornecidas por Esú.
E culpamos aos Orisá, por tantas coisas, que chega a ser ridículo as colocações.
Mas tudo devido a nossa incompetência, a nossa negligência, a nossa falta de confiança e na
falta de FÉ.
Mas, como homem estudioso de minha Religião, um Sacerdote que busca
constantemente uma melhor evolução religiosa, cultural e litúrgica, crente na
sabedoria de Orunmilá, creio que as orientações que Ele me fornece para minha
proteção e das pessoas pertencentes ao meu Egbe, através do Odu, funcionam, como
tem funcionado até hoje de forma muitíssimo satisfatória, para aqueles que seguem
essas determinações, e que têm em Orunmilá, e em Esu, como seus orientadores e
mentores espirituais.
E reafirmo aos que lêm a este, que busquem dentro de si mesmos as respostas, baseadas
nos ensinamentos de Ifá.
Busquem aprimorar-se como seres humanos, como pessoas que estão em busca não só de
bem estar material, mas sim na busca de IWÁ (caráter).
Que assumam seus compromissos assumidos diante de Ifá, e deEsu, e cumpram-nos,
para obterem assim as tão desejadas benesses materiais.
Não adianta querer, e não fazer.
Não adianta falar para o Mundo, e não sentir dentro de si mesmo.
Não adianta teimar, e não seguir as determinações.
Não adianta receber, e depois descumprir o assumido.
Não adianta… pois ninguém engana a Esu !!!
QUANDO SE DAR E QUANDO RECEBER
Um sábio passeava pelo mercado quando um homem se aproximou.
Sei que és um grande mestre – disse.
Hoje de manhã, meu filho me pediu dinheiro para comprar algo que custa caro; devo
ajudá-lo?
Se essa não é uma situação de emergência, aguarde mais uma semana antes de atender
o seu filho.
Mas se tenho condições de ajudá-lo agora; que diferença fará esperar uma semana?
Uma diferença muito grande – respondeu o sábio.
– A minha experiência mostra que as pessoas só dão o real valor a algo quando têm a
oportunidade de duvidar se irão ou não conseguir o que desejam.
Moral da história:
A vida freqüentemente nos ensina este ponto. Por isso é que muitas vezes as nossas
orações demoram um pouco para serem atendidas.
Jogo de BúziosORIGENS
Em todos os países do mundo numa época ou em outra surgiram e continuam a surgir
formas de adivinhação algumas vezes chamadas de oráculos. O i-ching chinês é um
oráculo assim como o tarot ocidental ou o jogo de búzios nigeriano. Enquanto o i-ching
possui forte base pragmática, o tarot nos remete a conceitos mais românticos. Já o jogo
de búzios é talvez o mais objetivo de todos. Imagina-se que este jogo esteja sempre
ligado aos cultos afro, o que não é verdade. Isto se deve à forma como ele chegou ao
Brasil trazido por sacerdotes yorubás no século XVIII. Na realidade, visto
isoladamente, o jogo de búzios em pouco se difere de outros processos divinatórios. Ele
é constituído de uma base onde se lançam pequenas conchas. Pela disposição destas
conchas ou búzios, o olhador ou ledor, retira a resposta à pergunta formulada por ele
mesmo ou por um consulente.
A LÓGICA DO JOGO
O grande humanista suíço C. G. Jung ao estudar os processos de adivinhação,
desenvolveu a teoria da sincronicidade ou das coincidências significativas. Por esta
teoria ao se tirar cartas, moedas ou em nosso caso, lançar búzios, tendo em mente uma
certa questão, há uma interação entre a pessoa que faz o jogo, a formulação feita e a
resposta que reside em algum ponto do espaço-tempo. Como tudo ocorre no mesmo
instante o nome sincronicidade está bem aplicado.
A PRÁTICA
Uma forma bastante comum do jogo de búzios é a que utiliza uma peneira como base.
Esta peneira estará coberta por um pano branco, em redor da peneira deverão ser
colocadas as guias, que são colares de contas com as cores dos orixás, formando um
círculo, em seu interior poderá conter outros objetos, que complementam a magia,
moedas, pedras e outros amuletos que representam os orixás.
Orixá mais que um deus ou semi-deus, é a representação simbólica ou arquetípica de
forças da natureza. Possuem representação humana o que é natural para a maioria dos
povos (veja o caso dos deuses gregos), seus erros e virtudes. O equivalente na astrologia
seriam os planetas revestidos de seus signos naturais.
Nesta peneira ou base equivalente, lançam-se 16 búzios, e ocasionalmente um extra
chamado oxetuá (búzio de energia ou axé). Nos 16 búzios faz-se um furo nas “costas” de
modo que ao ser lançado tenha igual chance de cair
Como em qualquer oráculo pode-se fazer qualquer pergunta. O ingrediente que aciona
a sincronicidade é a crença, fé ou que nome se queira dar. A qualidade da resposta é
muito mais uma função de quem joga do que do jogo propriamente dito.
Alguém disse que o erro não está na astrologia mas nos astrólogos. O mesmo se pode
dizer do jogo de búzios. As melhores respostas são aquelas em que razão e intuição
andam lado a lado. Os melhores adivinhos podem chegar a tal estado de perfeição que
dispensam qualquer meio sejam eles cartas, moedas, mapas astrais ou mesmo búzios.
Naturalmente estes casos são muito raros. O normal é seguir as observações
comprovadas ao longo de centenas de anos por estes magos.
O processo aqui descrito se baseia em regras muito claras na prática diária do jogo. A
propósito não se deve confundir o nome jogo com algum tipo de brinquedo. O jogo de
búzios é sério e para funcionar corretamente é preciso que se o leve a sério.
Não há absolutamente necessidade que o olhador ou o consulente pertençam a qualquer
culto africano. É fundamental no entanto o respeito à força maior que orienta a “caída”
dos búzios. Não há mágica, mas mistério. Não há superstição, mas crença. E esta fé
neste poder superior é a mesma que move a ciência, a filosofia e a religião.
OS JOGOS DE BÚZIOS
Os jogos mais difundidos são :
4. O jogador pode lançar qualquer número de búzios numa jogada pessoal, já que há
pessoas que usam 21 búzios.
A INTERPRETAÇÃO
A interpretação da “caída” dos búzios se fundamenta na quantidade de búzios abertos e
fechados e na relação que existe entre este número e determinados orixás. Em certos
casos como a opção 1 é considerado igualmente o dia da semana em que o consulente
nasceu, exatamente como no ocidente o Domingo é dia do sol (sunday), Sábado de
Saturno (saturday) etc., cada dia da semana é regido por um ou mais orixás, conforme
abaixo:
Cada jogada se encerra com um quadro de chaves interpretativas, que dão margem a
interessantes combinações. Não é raro acontecer “coincidências” incríveis.
Com o tempo e a prática você será capaz de intuir fatos que hoje seriam tidos como
mágicos. É uma questão de pura dedicação. Inicialmente aproveite os quadros como se
apresentam. Futuramente quem sabe você passe a utilizar seu próprio método.
OS ORIXÁS
Para facilitar o entendimento, adotaremos o jogo da Nação Ketô, com 16 Búzios
A quantidade de búzios abertos e fechados que caem na peneira, indica qual orixá está
respondendo a pergunta do consulente e qual a sua mensagem.
Somente isto seria suficiente para qualquer tipo de interpretação, bastando para tanto
saber as características de cada orixá (os nomes podem diferir entre as diversas nações
de origem embora os atributos sejam os mesmos ).
Vejamos as caídas e as principais características arquetípicas dos orixás :
O JOGO DE BÚZIOS
Como será meu dia de amanhã?Se eu fizer o que pretendo, qual será o resultado?
Desde que o mundo é mundo que o homem tem necessidade de saber algo sobre o
seu futuro. Dentro do Candomblé, a modalidade do jogo de búzios é a mais
conhecida (O búzio é uma concha do mar encontrado em praias litorâneas).O jogo de
búzios é um aprendizado de conhecimentos preciosos em que a memória exerce um
papel muito importante, ou seja, é lá na memória ou cabeça, que se vai guardar uma
enorme série de histórias, lendas e caídas que decifram, segundo a tradição yorubá, a
vida de uma pessoa.Na Nigéria, o jogo de búzios recebe o nome de Merindilogún, ou
seja, o “JOGO DOS DEZESSEIS”. O processo do jogo de búzios consiste no
seguinte: Os búzios são lançados sobre uma toalha ou peneira conforme a nação
daquele Babalorixá ou Yalorixá que está jogando. A posição em que os búzios caem
é que dará as indicações necessárias solicitadas pelos consulentes. Portanto, cabe ao
Babalorixá ou Yalorixá interpretar as caídas e passar para os consulentes as
mensagens do jogo.O intermediário do Merindilogún, ou seja, desta forma de jogo,
não é Ifá; e sim, Exu. Ifá tem a sua modalidade particular de jogo. Diz uma lenda que
apenas Exu tinha o dom da adivinhação. Mas, a pedido de Orunmilá, Exu transmitiu
seus conhecimentos a Ifá e em troca Exu recebeu o privilégio de receber sempre em
primeiro lugar as oferendas e sacrifícios antes de qualquer outro orixá.Diz ainda que
Oxum era a companheira de Ifá e os homens lhe pediam constantemente que
respondesse às suas perguntas. Oxum contou o caso a Orunmilá que concordou que
ela fizesse a adivinhação com a ajuda de 16 (dezesseis) búzios. Porém, as respostas
seriam indicadas por Exu. Exu, então, voltou à antiga função, ou seja, a de responder
às perguntas de Oxum. Depois disso, por espírito de vingança, Exu passou a
atormentar com mais raiva os filhos de Oxum.Na verdade, o jogo de búzios é o
instrumento de maior consulta constante do Babalorixá ou Yalorixá, pois é através
dele que ele(a) irá dirigir diversas situações dentro da casa de orixá.No começo do
aprendizado do jogo de búzios, segundo a tradição, começa-se a jogar com 04
(quatro), 08 (oito) e depois os 16 (dezesseis) búzios. Mas, vamos nos deter aqui no
jogo de 04 (quatro) búzios, também chamado de “Jogo de Confirmação”.O Jogo de
Confirmação, como relatei, é formado por 04 (quatro) búzios. Esta modalidade é
usada como o próprio nome sugere, para confirmar caídas feitas anteriormente com
os outros búzios, ou ainda, esta forma de jogo é usada para se obter respostas rápidas
dos orixás, por exemplo:04 (quatro) búzios abertos significa “tudo ótimo”
03 (três) búzios abertos e 01 (um) fechado significa “talvez”, ou seja, poderá dar
certo ou não o que seperguntou
02 (dois) búzios abertos e 02 (dois) fechados: a resposta é afirmativa; “tudo bem”
03 (três) búzios fechados e 01 (um) aberto: a resposta é “não”, ou seja, “negócio não
realizável”
Agora, se todos os 04 (quatro) búzios caírem com as 04 (quatro) partes fechadas para
baixo significa que não se deve insistir em perguntar o que se quer saber, pois além
de ser nula esta caída, ela vem acompanhada de “maus presságios”.Além disso, este
Jogo de Confirmação ou Jogo dos 04 (quatro) Búzios também é chamado de “Jogo de
Exu”, porque segundo alguns antigos Babalorixás, quem responde nesse jogo é Exu,
pela precisão e rapidez nas respostas.ODÙ
A palavra odù vem da língua yorubá e significa “destino”. Portanto, odù é o destino
de cada pessoa.
O destino é, na verdade, a regra determinada a cada pessoa por Olodumaré para se
cumprir no àiyé, o que muitos chamam de missão. Esta “missão” nada mais é do que
o odù que já vem impresso no ìpònrí de cada um, constituído numa sucessão de fatos,
enquanto durar a vida do emi-okán ou espírito encarnado na terra.
Enquanto a criança ainda não nascer, ou seja, enquanto ela permanecer na barriga de
sua mãe, o odù ou destino desta criança ficará momentaneamente alojado na placenta
e só se revelará no dia do nascimento da criança.
Cada odù ou destino está ligado a um ou mais orixá. Este orixá que rege o odù de
uma pessoa influenciará muito durante toda a vida dela. Mas, nem por isso ele será
obrigatoriamente o orixá-ori, ou “o pai de cabeça” daquela pessoa, ou seja, o orixá-
ori independe do odù da pessoa. Vejamos um exemplo: um omon-orixá de Yansã que
tenha no seu destino a regência do odù ofun (que é ligado à Oxalá), essa pessoa terá
todas as características dos filhos de Yansã: independentes, autoritários, audaciosos.
Mas, sofrerá as influências diretas do odù ofun, trazendo portanto para este filho de
Yansã, lentidão em certos momentos da vida. Situação esta desagradável para os
filhos de Yansã, que tem a rapidez como marca registrada.
Os odùs ou destinos são um segmento de tudo que é predestinação que existe no
universo, conseqüentemente, de todas as pessoas.
Os odùs, além de serem a individualidade de cada um, também são energias de
inteligências superiores que geraram o “Grande Boom”, a explosão acontecida a
milhares de anos no espaço que criou tudo.
Dentro de um contexto específico(pessoal ou social) em nosso planeta esses odùs
podem seguir um caminho evolutivo ou involutivo, por exemplo: existe um odù
denominado de odi. Foi Odi que em disfunção gerou as doenças venéreas e outras
doenças resultantes de excessos e deturpações sexuais. Traz em sua trajetória
involutiva a perversão sexual e é ainda através desse lado involutivo de odi que
acontece a perda da virgindade e a imoralidade.
Porém, como expliquei, existe o lado evolutivo e o próprio odù odi citado aqui em
nosso exemplo possui características boas e marcantes como: caráter forte e firme e
tendência a liderança.
Na verdade, são os odùs que governariam tudo que está ligado a vida em todos os
sentidos.
Abaixo, relaciono os 16 (dezesseis) principais odùs e seus orixás correspondentes:
ODÙ ORIXÁ
1.Òkànràn Exu
2.Éji Òkò Ogun e Ibeji
4.Ìròsùn Yemanjá
5.Òsé Oxum
10.Òfún Oxalá
14.Ìka Oxumarê
16.Àlàáfia Orunmilá
A ORIGEM DO ODÚ
O Odú é um termo africano do dialeto Yorubá e Fon que determina o DNA espiritual de
uma pessoa ou local e situação. Tem sua origem na própria criação do mundo e muitos
deles não tiveram sua origem na terra. Foi a forma técnica que os sacerdotes das tribos
africanas encontraram para decodificarem os enigmas e os segredos do universo e do
ambiente que os cercava.
O Jogo-de-Búzios e os Odus correspondentes a eles foi instituido por Oduduwá, que
investiu um sacerdote chamado SETILU, o qual entronizou a divindade Orúnmilá ou Baba
Elérin Ipin que significa “O Céu me fala” ou a Fala do Céu. Setilu então, estebeleceu as
regras da leitura desse jogo que passou a se chamar IFÁ, na realidade o verdadeiro nome de
Setilú. Setilu criou sacerdotes, especialistas na leitura desses jogos, a quem chamamos de
Babalawô, ou seja “pai, senhor dos mistérios e segredos”. E somente os babalawos fazem a
leitura dos jogos. Oduduwa tendo o conhecimento do jogo de “perguntas e respostas” (Urim
e Purim) dos hebreus, adaptou-o ao sistema africano e codificou-o para entregar o segredo a
Setilú, tanto no sistema de “Opélé Ifá”, como Ení Ifá e Fu-Fú. Estebeleceu-se
imediatamente os dois tipos de leituras que seriam passados às gerações furutas com o
nome de Ifá Igbá Ilá e Ifá Obé Keruáti.
Como de divide um Odú ?
O Odú se divide em duas partes: Pupa (vermelho) e Funfun (branco) – Ou ainda em
positivo ou negativo. Ambos, Pupa e Funfun se alternam no posicionamento, invertendo
suas posições. Isto significa que o Odú que hoje está Pupa, amanhã ou na semana que vem
poderá estar Funfun.
Como responde um Odú ?
O Odú responde através do Jogo-de-Búzios (16 búzios) mediante suas “caídas” na peneira
ou toalha de jogo. O Odú tanto usa os búzios como as castanhas de Ifá (8 metades)
conhecida por Opelé Ifá.
11 OBIOROSSUN OKARAN
OBARAXÉ 79 ADORIN-META-MERIN – (79=8)
13 ETALA-METALA EJÍ
OLOGBOHUN 81 OGORIN-OKAN-MESAN-MERIN-(81=9)
15 ORÉ-BABA-DAJÁ 83 OGORIN-META-MESSAN-MERIN-(83=9
16 ORIGBÁ 84 OGORIN-MERIN-MESSAN-MERIN-84=9
89 OGORIN-MESAN-OKANLA-MERIN
21 OGÚN-DA-MEJÍ -(21) (89=11)
92 ADONRUN-MEJÍ-OKANLA-MERIN-
24 AJÉ MERINLÁ-(24=4) (92=11)
93 ADONRUN-META-MEJÍLA-MERIN -
25 OXÉ XALUNGA OBARÁ (93=93)
95 ADONRUN-EKERUN-EJÍLA-MERIN-
27 OKÔNRON MEJÍ -(27=6) (95=12)
99 ADONRUN-EKESAN-METALA-MERIN-
31 AWORI-MEJÍ -(31=8) (99=13)
102 OGORUN-EKEJÍ-EKERINLA-
34 EJÍLÁ OTUN -(34=9) MERIN(102=14)
103 OGORUN-EKETA-EKERINLA-MERIN-
35 OFÚ-SAKPATÁ -(35=10) (103=14)
104 OGORUN-EKERIN-EKERINLA-MERIN-
36 OSSÁ-MEJÍ -(36=10) (104=14)
105 OGORUN-EKERUN-MEDOGÚN-MERIN-
37 OLOGBÓN-MEJÍ -(37=11) (105=15)
106 OGORUN-EKEFA-MEDOGÚN-MERIN -
38 BEOFUN -(38=11) (106=15)
107 OGORUN-EKEJE-MEDOGÚN-MERIN -
39 OULASAN-OULAXÉ MEJÍ (39) (107=45)
108 OGORUN-EKEJO-MEDOGÚN-MERIN -
40 ORETÉ-MEJÍ -(40=12) (108=46)
109 OGORUN-EKESAN-EKERINDILOGÚN-
41 OTURÁ-MEJÍ -(41=13) (109=16)
110 OGORUN-EKEWA-OLO-
42 ETALÁ-MEJÍ -(42=13) EKERINDILOGÚN-(110)
111 OGORUN-OKÔKANLA-OLO-
43 OSSÉ-MEJÍ -(43=14) ERINDILOGU-(111)
112 OGORUN-EKEJÍLA-OLO-ERINDILOGÚN-
44 OBÉ-JOKÔ -> IKÁ (44) (112)
117 MARUN-MARUN-OKÔRINÁ-EKEJO-
49 OWARIN-MERIN (49=1) (117=1)
125 METALA-METALA-TOHOSSU-EKEJO
57 IWORI-MERIN (57=ONI=3) (125=2)
126 MERINLA-MERINLA-IBIEMI-EKEJO
58 OGÚN-DA-MEJÍ-MERIN (58=3) (126=2)
127 MEDOGÚN-MEDOGÚN-TOSSÁRI-
59 OGÚN-DÁ-MERIN -(59=3) EKEJO(127=2)
129 METADILOGÚN-GÚLACAIE-EKEJO
61 OSSÁ-MERIN -(61=4) (129=3)
131 MOKANDILOGÚN-OGAGÚN-EKEJO -
63 LOBOMALÉ- MERIN -(63=4) (131=3)
Cada Odú, destino, caída, tem aspectos positivos e negativos, devendo o sacerdote saber
reconhecer através de jogos complementares essas tendências, revelando-as ao consulente.
No caso das tendências serem negativas, procurar através conselhos e orientações, que o
consulente faça mudanças necessárias no próprio comportamento, auxiliado ainda por
orações e rituais específicos.
Existem sacerdotes que trabalham também com a numerologia da data do nascimento,
(forma não ortodoxa de Jogo, já que os antigos, não faziam contas para o oráculo)você
perceberá, pois ele irá perguntar a data do seu nascimento e começará a fazer as contas para
determinar o Odu de nascimento da pessoa. Na verdade esta numerologia dispensa o “jogar
os búzios”, usando apenas o significado numérico de cada Odú.
Exemplo: uma pessoa que nasceu em 09 de Fevereiro de 2011
09/02/2011 desmembramos em duas colunas e somamos:
09
+02
20
11
3 12 3+12=15 12+15=27 2+7=9
Cabeça = 03 – Pés = 12 – Esquerda = 15 Direita = 9
A Soma da Primeira Coluna representa a “cabeça” da pessoa, o que dita a personalidade, no
caso 3 que corresponde ao Odú Etá Ogundá(03).
A soma da segunda coluna representam os “pés” e falam dos cuidados que se teve ter para o
futuro devido aos aspectos negativos do Odu Eji Lasebôrá(12).
A soma da das duas colunas colunas representam aquilo que pode prejudicar a pessoa, no
caso qualidades negativas do Odu Ogbegundá(15).
A soma da dos “pés” com a soma das duas colunas anteriores é a síntese do que reserva o
futuro, ou seja 15+12=27 reduzimos quando o resultado for superior a 16 então 2+7=9
revelando o Odú Osá(09).
Resultado 03 significa que a pessoa possui uma personalidade forte, corajosa, dinâmica e
determinada.
(03) Etá Ogundá, deve ter cuidado para que essa força, coragem, dominância e excesso de
confiança não se volte contra si próprio.
(12)Eji Lasebôrá alerta para problemas com vícios, principalmente jogos, drogas, bebidas, e
promiscuidade. (15) Ogbegundá, alerta que, se não manter o equilíbrio poderá perder tudo
na vida, fala de cuidados com as pernas, com perdas e brigas.
(09) Osá vem alertando para problemas psicológicos, depressão e doenças na região
abdominal.
Existe também o jogo simples, com apenas quatro búzios, que fornece respostas simples
como:
Sim, Não, Analisar Melhor,Auspicioso e Desastroso. Neste jogo com quatro búzios, quem
responde diretamente é o Orixá Exú, sendo uma forma simples de contato do devoto com o
seu Orixá, via Exú.
Minha intenção nesta postagem é dar uma noção às pessoas de como funciona este Oráculo
e também de fazer um ALERTA, pois existem “sacerdotes” que prometem coisas absurdas,
e cobram preços exorbitantes por pseudo trabalhos e consequentes resultados.
Não faço ou prometo coisas que independem de mim e deixo claro que este é o meu ponto
de vista, e que está de acordo com a minha consciência.
Cobrar um jogo de búzios, Tarô ou Baralho Cigano, é coerente por ser um conhecimento
técnico, você compra livros, baralhos, etc, investe horas em estudos e cursos, agora cobrar
trabalhos “espirituais” e prometer e garantir uma situação que independe da nossa vontade,
mas do Plano Maior, ao meu ver não se justifica. Lembre-se que podemos até pagar o
“sacerdote” mas não podemos “comprar” Deus!
Axé, Mojubá
Jogo de Búzios – um diálogo com seus orixás
Muitas pessoas desconhecem a função doJogo de Búzios e não imaginam
que os orixás “falam” conosco através da interpretação feita pela mãe de santosobre as
caídas dos búzios.
Jogo de Búzios orienta sobre os caminhos a serem seguidos espiritualmente
As pessoas tem o hábito de realizarsimpatias e oferendas sem antesconsultar o oráculo.
Sem a consulta não há como avaliar o impacto dos trabalhos realizados no plano espiritual,
causando muitos problemas a pessoa que realizou o trabalho como as outras pessoas
possivelmente envolvidas, como no caso das amarrações de amor.
Assim; feito as cegas, sem consulta ao oráculo, a amarração de amor, o trabalho de cura de
doença, o trabalho para prosperidade financeira, ou outrotrabalho espiritual qualquer
nunca apresentará um bom resultado porque as energias estão sendo usadas incorretamente.
Os búzios são jogados em número de dezesseis, que correspondem aos dezesseis odús principais, quer sejam:
okaran (exú), ejioko (ogum, ibeji), etaogunda (obaluayiê, ogun), iorosun (yemanjá, oya), oxê (oxum), obara
(Oxossi, logunedé e xangô), odí (omolu oxosse e oxalá), egionile (oxaguian), ossá (oyá, yewa e yemanjá), ofum
(oxalufan), owarim (oyá, oguy e exu), egilexebora (xangô, oba, iroko), egioligibam (nanã), iká (ossain e
oxumare), obeogundá (ogun, ewá e obá) e alafia (orixalá, isto é, todos os outros Orixás funfun). Duas formas
são as mais utilizadas, sobre a urupema (peneira (totalmente aboolido em ketou)), ou sobre erindilogun (fio de
contas), que em alguns casos, nele constam os dezesseis orixás cultuados atualmente no Brasil; igualmente
constam desta parafernália: uma otá, uma vela branca, um adjá (espécie de sineta) usado para saudar os orixás,
abrir o jogo e convocar o eledá do consulente para que permita uma boa leitura; água; indispensável os fios de
Oxalá e Oxum; um côco de ifá; moedas; favas; obi; orobô; um imã; uma fava (semente) especial que represente
no jogo o eledá consultado, aforante a isso um preparo do babalorixá, e os orôs (rezas) necessários.
Para uma boa leitura de búzios, três situações são fundamentais:
1) Conhecimento e aprendizado.
2) Autorização, através de ritual próprio, o qual é ministrado por sacerdote responsável, tendo o iniciado
passado por completo, com seriedade e merecimento, seu período de iniciação, que são no mínimo 7 anos.
3) Seriedade do consultor e do consulente.
Esses são pré-requisitos básicos para uma leitura honesta e imparcial.
Muito importante, quem “responde” no jogo de búzios é o orixá do consulente, ele é quem determina a
formação dos búzios para serem analisados, é uma espécie de permissão, do orixá, para que a situação do seu
filho seja exposta.
A forma de jogo mais usual, é a da leitura por odú, feita pela quantidade de búzios “abertos” ou “fechados”, em
que o babalorixá, deverá efetuar várias jogadas para uma leitura mais completa, em alguns jogos, cada queda
corresponde a um único odú-orixá.
O porque e para que se consultam os búzios ? Pelo mesmo princípio que se vai ao médico, só vai quem está
doente ou para uma avaliação de rotina, da mesma forma, que só toma remédio quem está doente, só se deve
fazer algo, se houver alguma necessidade.
O futuro – é grande questão dos consulentes, no jogo de búzios, pode-se fazer “perguntas”, cujas respostas não
são detalhadas, mas de uma maneira geral é sim ou não, provável e se não fosse assim não haveria babalorixá
pobre neste mundo, o futuro a Deus pertence, esta é uma frase sábia que alguém com muita propriedade disse
um dia. O futuro depende muito dos nossos atos presentes, o exercício do nosso livre arbítrio é constante, nada
está definitivamente marcado ou decidido, a partir do instante que exercemos nossa vontade, podemos modifica
a todo instante nosso futuro; exemplos simples: se alguém fica doente e acha que é o destino, vai morrer, mas, s
procurar um médico, vai se curar; o futuro foi alterado; assim alguém que perca seu emprego, se ficar em casa,
vai passar fome, se sair e procurar um emprego, terá grande chance de conseguir e novamente alterar seu futuro
e assim com tudo na vida; uma grande questão é que muitas pessoas acham que seu orixá, anjo da guarda ou
Deus, tem saber de tudo, das suas necessidades, dos seus problemas e simplesmente resolvê-los, antes assim
fosse, porém, mais uma vez é necessário que o nosso livre arbítrio e o nosso querer, tem que ser constante em
nosso dia a dia. Não podemos esperar que as pessoas “adivinhem” ou saibam o que estamos querendo ou
precisando, se não falarmos, se não nos comunicarmos, é evidente que se tem uma forma de fazê-lo, sempre
podemos dizer o que pensamos e precisamos, mas de uma forma correta, não agressiva, coerente. Sempre temo
duas chances em cada situação que nos apresenta, o de sim e o de não, se tentarmos, porém se não tentarmos, só
resta o não. O jogo de búzios, costumo dizer que é uma ciência exata, sabe-se ou não, não cabe meio termo,
quem sabe, talvez, ou a leitura é a expressão de uma realidade presente ou não, a forma de checar se um jogo
está correto, começa pela identificação do orixá, a cada orixá corresponde um estereotipo de caráter e
personalidade ao seu “filho”, que ao lhe relatar não pode errar ou fugir das suas principais características, que o
babalorixá checa com o consulente, se tudo corresponde, as demais situações do jogo também estarão corretas.
Porém se observe, que um leitor de jogo de búzios necessariamente tem que conhecer sobre as características
que os orixás imprimem aos seus “filhos” características estas, que em alguns casos para o mesmo orixá, tem
variantes, pela sua qualidade apresentada, ou ainda, difere determinadas características, se o “filho” for do sexo
masculino ou feminino, há que se reconhecer uma situação um pouco complexa, e não poderia ser de outra
forma, com todas essas variantes é um jogo prostituído, isto é, usado de forma inescrupulosa, leviana, por
pessoas totalmente estranhas ao processo, pelos ignorantes que se julgam conhecê-lo. Com relação ainda à esta
situação, é muito comum alguns iniciados ou até mesmo sacerdotes, que não se preocuparam muito com o
aperfeiçoamento, estudo mais detalhado, prática exaustiva, incorrem num erro, de conhecer uma pessoa de
determinado orixá, e classificar suas características como definitivas para aquele orixá, e sempre que ver alguém
com aquelas características, achar que aquela pessoa, também será daquele orixá, generalizando para sempre
todos estes casos e situações; o erro: esta pessoa que conheceram, pode estar com o orixá errado, pois quem lhe
atribuiu este orixá, não era competente, este é um fato muitíssimo comum.
É uma forma de leitura divinatória, que não massifica, isto é, uma situação vale para muitos, como no caso do
horóscopo, mas usada de forma individual, como exemplo, o caso de gêmeos, dois ou mais, nascem no mesmo
dia, e no entanto, caráter e personalidade em muitos casos, totalmente diversos.
Qual a diferença de Umbanda, Candomblé, Quimbanda & Vodu?
ORIXÁS
Os orixás são manifestações do Grande Deus Olorum. Orisha é uma palavra yoruba para designar um ser sobre
humano, ou um deus.[3]Todo o universo surge de Olorum através das radiações que são individualizadas e
personificadas em orixás. Essas radiações são personificadas de formas diferentes nos diversos terreiros –
depende da influência histórica que cada um sofreu. A radiação (vibração da água) pode ser relacionada apenas
a Iemanjá, mas pode ser subdividida em Oxum: água doce, Nanã: pântano e Iemanjá: mares. Ocorre semelhante
com Ossain e Oxóssi.
Muitos escritores da umbanda relacionam as Sete Linhas aos Orixás, outros preferem relacionar as Sete Linhas
com as vibrações e não diretamente a orixás, já que eles são mais de sete.
Os orixás não são originários da umbanda, muito antes eles já eram reverenciados nas terras africanas por
diversas tribos. Muitos deles não se tornaram conhecidos aqui no Brasil, e até mesmo nas tribos africanas cada
uma possuía seu orixás e desconhecia outros que eram cultuados em tribos diferentes.
Quando começou o tráfico de escravos, muitos negros de tribos diferentes foram vendidos juntamente, desta
maneira os diversas orixás de tribos distantes se encontraram em terras brasileiras e formaram o grande panteão
do Candomblé. Notadamente a nação que mais influenciou foi a Iorubá.
Nesta visão ainda própria dos ritos tribais, o orixá era um ancestral que todos tinham em comum. Geralmente
era considerado como o próprio fundador da tribo e deixava grande influência por suas características incomuns
de liderança, poderes espirituais e grande habilidade de caça. A tribo tinha no orixá um símbolo da união, pois
todos eram filhos diretamente desse grande ancestral; com isso surge o termo Orixá histórico – realmente um
rei, rainha, feiticeiro, guerreiro que existiu.
No nascimento do Candomblé, os homens passaram a ser filhos espirituais dos orixás, pois a relação de
ancestralidade que existia na tribo não se confirmava mais na nova realidade da América. A partir da umbanda
se configura a uma nova visão: o Orixá Cósmico. O orixá, pela cosmogonia umbandista, nunca viveu na terra,
ele é muito mais que o espírito desencarnado de um homem; Toda criação é o resultado do trabalho harmônico
dos orixás, espíritos elevadíssimos, verdadeiros arquitetos e mantenedores da criação. [4]
Sincretismo
A umbanda é uma junção de elementos africanos (orixás e culto aos antepassados), indígenas (culto aos
antepassados e elementos da natureza), Catolicismo (o europeu, que trouxe o cristianismo e seus santos que
foram sincretizados pelos Negros Africanos), Espiritismo(fundamentos espíritas, reencarnação, lei do carma,
progresso espiritual etc).
A umbanda prega a existência pacífica e o respeito ao ser humano, à natureza e a Deus. Respeitando todas as
manifestações de fé, independentes da religião. Em decorrência de suas raízes, a umbanda tem um caráter
eminentemente pluralista, compreende a diversidade e valoriza as diferenças. Não há dogmas ou liturgia
universalmente adotadas entre os praticantes, o que permite uma ampla liberdade de manifestação da crença e
diversas formas válidas de culto.
A máxima dentro da umbanda é “Dê de graça, o que de graça recebestes: com amor, humildade, caridade e fé”.
Mantém-se na umbanda o sincretismo religioso com o catolicismo e os seus santos, assim como no antigo
Candomblé dos escravos, por uma questão de tradição, pois antigamente fazia-se necessário como uma forma d
tornar aceito o culto afro-brasileiro sem que fosse visto como algo estranho e desconhecido, e, portanto,
perseguido e combatido.
Há discordância sobre as cores votivas de cada orixá conforme o local do Brasil e a tradição seguida por seus
seguidores. Da mesma forma quanto ao Santo sincretizado a cada orixá.
Alguns exemplos:
– no Rio de Janeiro, chamado de no Rio Grande do Sul;ExuSanto AntonioBará
– no BrasilOxumaréSão Bartolomeu
– , principalmente no centro-sul do Brasil e na Bahia;OgumSão JorgeSanto Antonio
Oxossi – São Sebastião; principalmente no centro-sul do Brasil, São Jorge na Bahia;
Xangô – São Jerônimo,São João Batista, São Miguel Arcanjo
IemanjáNossa Senhora dos Navegantes
OxumNossa Senhora da Conceição
IansãSanta Bárbara
Omulu – São Roque;
Obá – Santa Rita de Cássia, Santa Joana d’Arc
Obaluaê – São Lázaro;
Nanã – Sant’Anna;
Ibeji – Cosme e Damião;
Oxalá – Divino Jesus Cristo, o Ser Cristalino.
O culto umbandista
A umbanda tem como lugar de culto o templo, terreiro ou Centro, que é o local onde os Umbandistas se
encontram para realização do culto aos orixás e dos seus guias, que na umbanda se denominam giras.
O chefe do culto no Centro é o Sacerdote ou Sacerdotisa (pode ser Babá, Zelador, Dirigiente, Diretor(a) de
culto, Mestre(a), sempre dependendo da forma escolhida por cada casa). São os médiuns mais experientes e com
maior conhecimento, normalmente fundadores do terreiro. São quem coordenam as sessões/giras e que irão
incorporar o guia-chefe, que comandará a espiritualidade e a materialidade durante os trabalhos.
Vale lembrar que o termo pai-de-santo ou mãe-de-santo podem ser aplicados na umbanda.
Como uma religião espiritualista, a ligação entre os encarnados e os desencarnados se faz por meio dos médiun
Na umbanda existem várias classes de médiuns, de acordo com o tipo de mediunidade.
Normalmente há os médiuns de incorporação, que irão “emprestar” seus corpos para os guias e para os orixás.
Há também os atabaqueiros, que transmitem a vibração da espiritualidade superior por via dos atabaques,
criando um campo energético favorável à atração de determinados espíritos, sendo muitas vezes responsáveis
pela harmonia da gira.
Há os Corimbas, que são os que comandam os cânticos e as cambonas que são encarregadas de atender as
entidades, provisionando todo o material necessário para a realização dos trabalhos.
Embora caiba ao sacerdote ou à sacerdotisa responsável o comando vibratório do rito, grande importância é
dada à cooperação, ao trabalho coletivo de toda a corrente mediúnica.
Segundo a umbanda, as entidades que são incorporadas pelos médiuns podem ser pretos-
velhos, caboclos, boiadeiros, mineiros, crianças,marinheiros, ciganos, baianos, orientais, xamãs e exus.
AS SESSÕES DE UMBANDA
O culto nos terreiros é dividido em sessões de desenvolvimento e de consulta, e essas, são subdivididas em
giras.
Nas sessões de consulta, onde comumente podemos encontrar Pretos-Velhos, Caboclos, Ciganos… As pessoas
conversam com as entidades a fim de obter ajuda e conselhos para suas vidas, curas, descarregos, e para resolve
problemas espirituais diversos.
As ocorrências mais comuns nessas sessões são o “passe” e o[descarrego na umbanda|descarrego].
No passe, a entidade reorganiza o campo energético astral da pessoa, energizando-a e retirando toda a parte
fluídica negativa que nela possa estar.
O descarrego é feito com o auxílio de um médium, o qual irá captar a energia negativa da pessoa e a transferir
para os assentamentos ou fundamentos do terreiro que contém elementos dissipadores dessas energias. Também
a entidade faz com que essa energia seja deslocada para o astral. Caso seja um obsessor, o espírito obsediador é
retirado e encaminhado para tratamento ou para um lugar mais adequado no astral inferior caso ele não aceite a
luz que lhe é dada. Nesses casos pode ser necessária a presença de um ou mais [Exu de umbanda|Exus] (um
gênero de espírito desencarnado) para auxiliar a desobsessão.
Nos dias de consulta há o atendimento da assistência e nos dias de desenvolvimento há as giras médiunicas, que
são fechadas à assistência, onde os sacerdotes educam e ensinam os mecanismos próprios da mediunidade.
Médiuns
Médium é toda pessoa que, segundo a Doutrina Espírita, tem a capacidade de se comunicar com entidades
desencarnadas ou espíritos, seja pela mecânica da incorporação, pela vidência (ver), pela audiência (ouvir) ou
pela psicografia (escrever movido pela influência de espíritos).
A umbanda crê que o médium tem o compromisso de servir como um instrumento de guias ou entidades
espirituais superiores. Para tanto, deve se preparar através do estudo, desenvolvendo a sua mediunidade, sempre
prezando a elevação moral e espiritual, a aprendizagem conceitual e prática da umbanda, respeitar os guias e
orixás; ter assiduidade e compromisso com sua casa, ter caridade em seu coração, amor e fé em sua mente e
espírito, e saber que a umbanda é uma prática que deve ser vivenciada no dia-a-dia, e não apenas no terreiro.
Uma das regras básicas da umbanda é que a mediunidade não deve ser vista ou vivenciada vaidosamente como
um dom ou poder maior concedido ao médium, mas sim como um compromisso e uma oportunidade que lhe fo
dada para resgate kármico e expiação de faltas pregressas antes mesmo da pessoa reencarnar. Por isso não deve
ser encarada como um fardo ou como uma forma de ganhar dinheiro, mas como uma oportunidade valiosa para
praticar o bem e a caridade.
Existem médiuns que acabam distorcendo o verdadeiro papel que lhes foi dado e se envaidecem, agindo de
forma leviana em suas vidas. O médium deve tangir sua vida como sendo um mensageiro de Deus, dos orixás e
guias. Ter um comportamento moral e profissional dignos, ser honesto e íntegro em suas atitudes, pois do
contrário acaba atraindo forças negativas, obsessores ou espíritos revoltados que vagam pelo mundo espiritual
atrás de encarnados desequilibrados que estejam na mesma faixa vibracional que eles. Por isso, desenvolver a
mediunidade é um processo que deve ser encarado de forma séria e regido através de um profundo estudo da
religião, e seguido por conceitos morais e éticos. Ser orientado e iniciado por uma casa que pratica o bem é
essencial.
As pessoas que são médiuns devem levar sempre a sério sua missão, ter muito amor e dar valor ao que fazem,
tendo sempre boa-vontade nos trabalhos de seu terreiro e na vida diária.
O médium deve tomar, sempre que necessário, os banhos de descarrego adequados aos seus orixás e guias, esta
pontualmente no terreiro com sua roupa sempre limpa, conversar sempre com o chefe espiritual do terreiro
quando estiver com alguma dúvida, problema espiritual ou material.
Sobre o estudo da mediunidade e do médium, pode-se utilizar como fonte para estudos a relação que existe
abaixo, no item “Literatura Umbandista”.
Alguns terreiros utilizam-se das obras Espíritas (codificadas por Allan Kardec), mas a maioria segue as
orientações da literatura umbandista que é prolífica nas discussões teóricas e nas orientações práticas. Há livros
umbandistas a partir da década de 1930.
As Linhas da Umbanda Sagrada
Ocorre que médiuns predispostos ao vício podem, ao invés de atraírem espíritos de luz, afinizarem-se com
espíritos de viciados que já morreram – esses espíritos serão obsessores dessa pessoa, uma vez que ela satisfaz
seus desejos materialistas. Note-se que o álcool é um elemento usado na magia para trabalhos para o bem;
abusos nunca são tolerados e exibicionismo não são sinais de incorporações de luz.
Existem casas que, por ordem do mentor espiritual, nunca usaram ou deixaram de utilizar o fumo, assim como a
bebida alcoólica, sem que por isso, tivessem qualquer problema com as entidades que, por ventura, utilizavam
esses elementos. Afinal, os espíritos podem se adaptar e mudar a forma de trabalhar de acordo com o
fundamento de cada instituição.
É importante ressaltar, ainda, que quanto menos o espírito utilizar materiais terrenos melhor. Eles podem
trabalhar com elementos bastanteetéreos e tão eficazes quanto os fluidos do próprio médium.
Paramentos
Na umbanda, os médiuns usam normalmente como paramentos apenas roupas brancas, podendo estar os pés
descalços, representando a simplicidade e a humildade.
Mas há umbandas que também utilizam roupas com as cores de cada linha. Por exemplo, em giras de Ogum se
utiliza camisas ou batas vermelhas e calças e saias brancas.
Nas giras de esquerda as roupas são pretas, sendo que as filhas de santo podem se vestir de vermelho e preto.
Pode ocorrer, por exemplo, que uma entidade de Preta-velha solicite uma saia ou um lenço para amarrar os
cabelos; isso visa a proporcionar que o médium se pareça mais com a entidade que está incorporando.
Também há os apetrechos dos guias. Por exemplo, os Caboclos costumam utilizar cocares, alguns utilizam
machadinhas de pedra, chocalhos, etc.
Uma outra visão sobre os paramentos e apetrechos materiais utilizados pelos médiuns é de que são usados pelos
espíritos como condensadores de energia: um modo de concentrar a energia e depois enviá-la, se positiva, ou
dissipá-la no elemento apropriado, quando negativa.
UMBANDA
Entender os termos da Umbanda
ABC DE UMBANDA
1-O que é um Orixá?
São divindades africanas directamente relacionadas às forças da natureza. Seriam as falanges específicas
que trabalham especializadas em determinado meio, como mar, céus, plantas, etc.…
UM ORIXÁ É UM REGENTE DE UMA DAS FORÇAS DO MUNDO MATERIAL, SEMPRE ABAIXO DE OLÓRUM, O
DEUS SUPREMO.
FALA-SE, TAMBÉM, QUE SERIAM ANTIGOS GOVERNANTES AFRICANOS TORNADOS DEUSES APÓS A MORTE.
NA ÁFRICA, HÁ EM TORNO DE 600 ORIXÁS. NO CANDOMBLÉ, 16. NA UMBANDA, SEIS (MAIS YORIMÁ).
2. O que é Candomblé?
É uma religião de origem africana, com seus rituais e sacrifícios, que cultua Orixás, Voduns e Inkices,
dependendo das diversas Nações de que se compõe, a saber: Ketu, Jeje, Mina-Jeje, Fon, Ijexá, Nagô-
Vodun – estas de origem sudanesa – e Angola, Congo e Muxicongo – de origem bantu.
3. O que é Nação?
É uma das diversas nações africanas que vieram ao Brasil no tempo da escravidão. Há a Sudanesa (Nagô
Jeje, Jeje-Nagô, Mina-Jeje, Muçurumin) e a Bantu (Angola, Congo, Angola-Congo). Pode designar, no
Rio Grande do Sul, o Candomblé local, conhecido também como Batuque.
4. O que é Umbanda?
Surgiu em 1908, no Brasil. Grosso modo, seria a mistura do culto angola-congo (misturado com o nagô),
noções de Espiritismo, esoterismo, pajelança e até mesmo budismo. Umbanda quer dizer “Arte de Curar
ou “Magia”.
5. O que é Quimbanda?
São assim chamados, pelos umbandistas, todas aquelas casas (terreiros, centros), trabalhadores ou
falanges que trabalham com a magia negra, ou seja, “fazendo o mal”. A Quimbanda possui sete falanges
(linhas) diferentes das da Umbanda, que trabalham muito com os Exus e Omolu.
6. O que é um Orixá de Cabeça?
O mesmo que Orixá de Frente. No Brasil, costuma-se dar uma pessoa a dois Orixás, normalmente
formando casais, sem ser, com isso, regra. Em certos cultos, adoptam-se três Orixás, os demais seriam
conhecidos como “passagens”, exercendo menor influência. O Orixá de Cabeça corresponde à energia
básica, fundamental, de um indivíduo, dando-lhe características mais marcantes em sua personalidade.
O segundo é o Ajuntó, de características mais sutis, muitas vezes amenizando o carácter do Orixá de
Cabeça, que poderá Ter o caráter arrebatado por ser jovem e guerreiro. O terceiro seria o Orixá de
Herança, que acompanha a família por algumas gerações.
7. Quais os Orixás que combinam entre si?
Varia muito de lugar para lugar, sendo vistos no jogo de búzios. Para alguns cultos e nações, o Orixá Exu
apenas se combina com um tipo de Ogum, ou Oxalá apenas com Iemanjá e um tipo de Oxum.
8. O que é pemba?
Em sua origem, é um calcário extraído da terra, cuja finalidade é riscar os pontos que identificam a linha
vibratória da entidade. Há de diversas cores. A mais comum é a branca, que serve para todos,
pertencente a Oxalá.
9. Quais são as leis de Umbanda?
São 10 os princípios básicos que regem a Umbanda:
9.1 Crença em um Deus único, omnipotente, eterno, incriado, potência geradora de todo o Universo
material e espiritual, adorado sob vários nomes.
9.2 Crença em entidades superiores: Orixás, anjos e santos que chefiam falanges.
9.3 Crença em guias, em planos médios, mensageiros dos Orixás, anjos e santos.
9.4 Existência da alma e sua sobrevivência após a morte.
9.5 Prática da caridade desinteressada, na busca de aliviar o carma do médium.
9.6 Lei do Livre-Arbítrio (da livre escolha), pela qual cada um escolhe fazer o bem ou o mal, e o ser
humano afiniza com sua faixa vibratória e a do ambiente que o cerca.
9.7 O ser humano é a síntese do Universo.
9.8 Crença na existência de vida inteligente em todo o Universo, vivendo e habitando.
9.9 Crença na reencarnação, na lei cármica de causa e efeito.
9.10 Direito de liberdade de todos os seres.
10. O que é reencarnação?
A crença no renascimento do espírito em um novo corpo, em eterno aprimoramento e evolução. Eterno
porque perfeito é apenas Deus, pois, se não, já haveria muitos Deuses na Criação.
Não se aceita a metempsicose (a reencarnação de um homem em corpo de um animal), pois haveria o
retrocesso no aprendizado em determinado momento da evolução de cada indivíduo.
11. O que é a Lei de Causa e Efeito?
Todo efeito tem uma causa, assim como todo o malfeito é atraído de volta por sintonia fluídica, assim
como o bem. Devemos entender que as pessoas são como ímãs que se atraem por afinidade de idéias e
ambientes. É o popular “Colhe-se o que se planta” ou “Dize-me com quem andas e te direi quem és”.
12. O que é Chacra?
São os locais de concentração de magnetismo no corpo, onde se aglomera os centros nervosos do corpo
humano.
13. O que são as Linhas Auxiliares?
Como o nome diz, são os auxiliares dos guias. Normalmente, são os espíritos que tiveram sua última
reencarnação em período mais actual. Os marinheiros actuam na Linha das Águas, como activos
auxiliares nos tratamentos de purificação, tais como vícios de qualquer espécie. Os baianos são o elo de
ligação dos guias à Terra. Os boiadeiros cuidam da harmonia entre os médiuns durante os trabalhos.
14. O que são os boiadeiros?
Entidades responsáveis pelo bom andamento dos trabalhos e por tornar o grupo mediúnico harmonizado
entre si. São conhecidos também por oguns, guardiões, vigilantes (dentro da literatura espírita, vistos em
Nosso Lar, de André Luiz e outros).
15. O que é um ponto riscado?
Já vimos que o ponto cantado auxilia na sintonia mental com a linha vibratória que estamos invocando. O
ponto riscado identifica a origem da entidade, quais os seus domínios e a quem é subordinada. Risca-se
com a pemba.
16. Orixá é entidade?
Segundo os pesquisadores, não. Um Orixá é energia vinda de um elemento primordial. Existem entidades
que trabalham com essas energias e são especializadas nelas. São com tais energias que os umbandistas
trabalham. Assim, mesmo que a entidade se identifique como Oxóssi ou Odé, não é o Orixá em si, mas
está se identificando em sua linha vibratória. Isso explica porque pode, em um mesmo trabalho ou
simultaneamente em vários locais, haver entidades com o mesmo nome.
17. Existem proibições alimentares a filhos do mesmo santo?
Por uma questão de formação básica dos corpos, de afinidade das entidades, as proibições existem. Daí o
africanos criarem as muitas lendas, tão conhecidas no Candomblé. Os filhos de Oxalá, tenho visto, têm
verdadeira indigestão com o azeite-de-dendê. As entidades chamadas do Oriente detestam quando seus
médiuns ingerem, no dia de trabalho, carnes vermelhas e alimentos picantes, sob a explicação do excesso
de fluidos pesados que ficam no corpo do médium, sendo necessárias verdadeiras limpezas espirituais e
físicas, antes da incorporação.
18. Umbanda é religião cristã?
Em seus princípios (leis de Umbanda), há a crença em um Deus único e a caridade desinteressada, visto
nos mesmos princípios do Evangelho de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si
mesmo. Jesus, por sua vez, ocupa seu lugar nas preces como o divino coordenador ou mesmo na figura
excelsa de Oxalá, sendo Deus, Ifá (1). Por que, então, não considerá-la cristã?
19. O que são quiumbas?
Seriam os espíritos de mortos sem luz ou esclarecimento, escravizados pelos seus próprios sentimentos em
grande ódio e revolta. São as levas de obsessores existentes na espiritualidade, que induzem idéias
maléficas aos vivos, apreciam fingir que são entidades iluminadas, quando não o são. Da mesma forma,
são os verdadeiros executantes da magia negra e os vampiros do astral.
20. E os mortos?
Não são Orixás, podendo se tornar um guia, Exu, auxiliar ou anjo, de acordo com sua elevação espiritual
São chamados de Eguns.
(1) Ifá, segundo os mitos, teria sido o primeiro babalaô (adivinho) e é confundido com a própria figura de
Orunmilá, por alguns autores.
Para outros, Orunmilá seria Deus. Na realidade, Deus é conhecido como Olodumare ou Olorum (na
mitologia iorubá) ou ainda Zambi (na mitologia banto). Orunmilá é um Orixá/Imolê da categoria dos
funfun (Orixás brancos).(Nota da autora).
21. O que é amaci?
Banho purificatório na cabeça, feito com folhas, flores, mel, perfumes e outros, de acordo com orientaçã
dada pelo diretor dos trabalhos. Sua finalidade é auxiliar na incorporação e assentar” a mão do guia
espiritual.
22. O que é amuleto e talismã?
Nada mais é do que um objecto magnetizado. O amuleto serve para afastar fluidos pesados, alguns
exemplos são: medalhas, figuras, imagens, inscrições ou objectos variados. O talismã serve para atrair
bons fluidos. O patuá seria um dos mais populares amuletos, feito com material preparado, costurado em
tecido, sob a forma de saquinhos, papel, etc.
23. O que é Aruanda?
Lugar onde moram os Orixás e as entidades superiores. No Catolicismo é o Céu. No Espiritismo são as
colónias espirituais.
24. O que é uma oferenda?
Na Umbanda trabalha-se com os quatro elementos da Natureza: água, fogo, terra e ar, como matéria-
prima básica. Manejados convenientemente, por entidades especialistas, promovem o equilíbrio, o
descarrego, a harmonia. Na Umbanda, em respeito à Natureza, nada pode ser retirado sem uma
restituição ao elemento básico. Muitas vezes, ao entregar-se determinada oferenda, por afinidade fluídica
a mesma fica saturada dos fluidos densos retirados do solicitante, pelas entidades. Assim, os Exus utilizam
o álcool com fins de evitar os vícios no médium; o dendê, para evitar a desordem psíquica; a farofa, para
trazer bens materiais (alimentação); a pipoca, para atrair doenças cármicas dirigidas ao médium.
25. Existe o feitiço?
Infelizmente, sim. São trabalhos feitos pela quimbanda com fins de prejudicar alguém, perfeitamente
lógicos, dentro do ponto de vista magnético.
26. Pode-se evitar o feitiço?
Já vimos no conceito de magnetismo que, dependendo da sintonia que vibre em cada um, pode-se
assimilar o feitiço ou não. Nesses casos, quando a pessoa tem “um santo forte”, ou seja, vibra em
frequência mais elevada, a onda do mal emitida tende a ricochetear e, muitas vezes, retorna a quem o
emitiu, que, na realidade, vibra nessa faixa, pelo simples fato de Ter desejado o mal.
27. Qual o valor das palavras na Umbanda?
A palavra, no Antigo Egipto, era sinónimo de criação. Tanto é verdade, que uma palavra exprime uma
idéia. Uma idéia, um pensamento. E um pensamento é onda que é emitida. Daí usar-se algumas palavras
que exprimem complexos sentimentos carregados de amor, nos trabalhos de Umbanda. São os conhecido
mantras, na Índia.
28. O que é um ritual?
É um processo gradativo, onde se utilizam acessórios, os mais diferentes possíveis, até ser atingido o
clímax desejado. Na verdade, assemelha-se a uma subida em uma escada, degrau a degrau, frequência a
frequência, até a sintonia com as falanges desejadas, cujos objectivos podem variar sobremaneira.
29. Existe maldição ou praga?
Seria a mesma explicação dada na questão 27. As famosas pragas de mãe e madrinha nada mais são que
palavras emitidas com poderoso influxo magnético acolhidas e re-alimentadas por quem as recebe, em
baixo padrão vibratório. Como todas as coisas já vistas, o que pode repelir todas as coisas dirigidas ao
mal é a elevação do pensamento, do teor vibratório, rechaçando por não afinidade magnética.
30. Há nomes que não devem ser ditos na Umbanda?
No Candomblé, o nome Xapanã, por exemplo, não deve ser pronunciado. No Sul do país popularizou-se,
inclusive, abafando os nomes de Omolu e Obaluaiê, comuns no resto do país. Cada letra possui um som.
Cada som produz uma frequência. A soma das letras produz um nome que poderá, ou não formar uma
melodia harmoniosa do ponto de vista espiritual. Todavia, antes de mais nada, não produz efeitos
desastrosos se comparados ao teor de pensamento que exprime a palavra.
31. Por que é tão comum colocar-se, na magia negra, objectos dentro de colchões, travesseiros, cobertas
ou escondidos dentro das casas?
No primeiro caso, na tentativa de o objecto magnetizado ficar, o maior tempo possível, em contacto com
pessoa visada. No segundo, para continuar irradiando, o maior tempo possível, sem ser descoberto no
ambiente.
32. O pensamento tem cor?
Por incrível que pareça, tem. Segundo Ramatis: “A qualidade do pensamento determina-lhe a cor; a
natureza do pensamento compõe-lhe a forma; e a precisão do pensamento determina-lhe a configuração
exata”. (Magia de Redenção, página 64, citado na bibliografia). Dependendo da intensidade do mesmo,
podem-se criar as conhecidas formas-pensamento, citações estas com volume, cor, som, verdadeiros
marionetes espirituais de quem os criou. Na maioria das vezes, exprimem o verdadeiro interior de cada
um, visíveis pelos guias que as analisam. São percebidas, também, pelos médiuns videntes e, muitas vezes
confundidas com entidades.
33. Por que é tão comum despachar-se objectos em água corrente?
Sabemos que a água é um dos mais poderosos elementos da natureza, no que se refere a sua capacidade
de excelente condutor de electricidade e fluidos quaisquer, sendo um poderoso solvente. Ao atirar-se o
objecto saturado, a água de imediato absorve esse teor magnético, levando-o para longe do enfeitiçado (o
aquele que quer desvincular-se de objectos imantados). Assim, quebra os vínculos que antes existiam, por
proximidade ou assimilação do dono.
34. E água fluida?
É digna de um livro sobre o assunto, tal sua complexidade e utilização. Já vimos que a água é um solvent
magnífico, por sua formação molecular e magnética de elevado poder. É usada amplamente pelos
marinheiros no tratamento de perturbações psíquicas e vícios. A água fluida nada mais é do que um
veículo preparado com elementos espirituais e da natureza, saturada por hábeis manipuladores do astral
com fins terapêuticos. Pessoalmente, já tive a oportunidade de acompanhar os trabalhos de um preto-
velho que, preparando vidros de água fluida, curou indivíduos minados de vícios de toda a espécie.
35. E o Sol? Por que há trabalhos antes e depois do entardecer?
A vida terrestre gira em torno do Sol. Sua radiação magnética de calor e luz são conhecidas. As de
carácter espiritual, muito pouco. São nesses horários, antes e depois do pôr-do-sol que observamos a
maior intensidade de raios infravermelhos (verdes, no plano espiritual) capazes de dissolver,
especialmente, as formas nocivas de trabalhos dirigidos ao mal.
36. Por que se utilizam de unhas e cabelos da vítima em trabalhos?
São os conhecidos “endereços-vibratórios”, tão citados em obras. Por trazerem em si idêntico magnetism
da pessoa visada, servem, no plano espiritual, como verdadeiro roteiro para encontrá-la. Um exemplo são
os médiuns que, tocando objectos pertencentes a alguém, localizam vítimas, locais, ou descrevem o
portador com detalhes, o que fazia e sentia.
37. E as benzeduras?
Nada mais são do que passes magnéticos. Nossos pretos-velhos eram eficazes, assim como nossos índios.
Utilizam-se de metais (tesouras, facas, excelentes condutores de electricidade), água, ervas, saliva, etc.
como condutores desse magnetismo curativo.
38. E os quebrantos? O olho-grande ou gordo?
Funcionam similar às pragas. Há pessoas que, de baixo teor espiritual e magnético, emitem algumas sem
o desejar, poderosos feixes de carácter nocivo, capazes de matar plantas, animais ou causar mal-estar em
pessoas. Desde criança ouvia uma história de um galo, muito bonito, vítima desse tipo de enfeitiçamento
verbal, morto imediatamente após Ter sido emitido pela pessoa que o admirou.
39. E as figas, cruzes, elefantes de gesso e outros?
Objectos os mais variados possíveis em todo o mundo, tornam-se populares como “quebradores” de olho
grande. Ao serem colocados em locais visíveis, alguns preparados para dissolver descargas negativas, são
a primeira coisa a ser vista por aqueles portadores desse tipo de magnetismo pesado, recebendo, em
primeiro lugar, a descarga do mesmo. Ou seja, viram objectos de “descarrego” da limpeza, absorvendo
ou dissolvendo tais vibrações na entrada das residências.
Todos esses objectos e práticas auxiliam muito como paliativos, no teor magnético existente nas casas.
Todavia, o mais importante é o tipo de ambiente que é criado pelas mentes que ali habitam. Se não,
tornam-se inúteis ou de muito baixa influência.
40. Por que se sintam as figas de vermelho e outros objectos, na Umbanda?
Na escala de cores, cada qual possui uma frequência específica. O vermelho, entre as cores visíveis por
nossos olhos, possui a mais baixa, de teor mais pesado, em comparação com as demais. As entidades das
zonas umbralinas, do “inferno”, como são chamadas essas regiões no plano astral, costumam vestir-se de
vermelho, cor enervante, sanguínea, que exprime as paixões inferiores, como nos cita André Luiz, na obr
Libertação. Dentre as cores, misturadas, é a que primeiro chama a atenção, tal qual um perfume forte.
Daí ser escolhida para trabalhos ou usada pelas entidades que se utilizam dos fluidos mais pesados, como
vestuário, na espiritualidade.
41. E os objectos de cera, e as velas?
A cera natural, vinda das abelhas, é impregnada dos fluidos existentes nas flores, em grande quantidade.
Este elemento, vindo da natureza, é utilizado na prática do bem e do mal como matéria prima poderosa
para somar-se com os teores dos pensamentos, tornando eficaz o trabalho e o objectivo ao qual se propõe
Comparada a uma bateria, uma pilha natural, a cera sempre foi utilizada em larga escala na magia.
42. E a vela?
É considerada, na espiritualidade, como uma das melhores oferendas por Ter, em sua formação, os
quatro elementos da natureza activos, desprendendo energia. O fogo da chama, a terra (através da cera),
o ar aquecido queimando resíduos espirituais.
O umbandista não deve, jamais, retirar nada da natureza sem deixar, ao menos, uma vela para repor aos
elementais o fluido retirado do seu ambiente, em profundo respeito à criação divina.
43. E os elementais?
Sem eles a Umbanda não existiria. São entidades primárias, quase infantis na espiritualidade, sempre
dirigidas por entidades superiores, habitando um dos quatro elementos. No fogo, as salamandras que
trabalham na área relacionadas ao amor, ao sexo, à amizade, à agressividade e protecção. Na terra há
vários, sendo os mais conhecidos os gnomos, cuja actividade relaciona-se ao trabalho, à criatividade, à
perseverança e aos bens materiais. As ondinas, nas águas, actuam na sabedoria, na doçura, nas
actividades espirituais e mediúnicas. No ar, os silfos, ágeis e inquietos, dominam as áreas da saúde, da
cura e do equilíbrio físico e mental.
Todos eles participam dos trabalhos umbandistas como auxiliares valiosos e nas outras doutrinas e
religiões, muitas vezes, em discreto anonimato.
44. E os elementares?
São diferentes dos elementais. São entidades muito primitivas em situação intermediária entre o animal e
a racionalidade. Dirigidos por entidades, colaboram na limpeza, na guarda, tomando formas as mais
variadas possíveis. São colaboradores dos Exus e boiadeiros, principalmente.
45. E a aura humana?
Sem ela fica muito difícil compreender a origem das energias existentes no magnetismo humano,
principal responsável nos fenómenos do mau-olhado, do passe, na imantação dos objectos. É resultante d
mistura e união das energias caloríficas e luminosas do sol, dos minerais subterrâneos, da radiação
atómica na natureza, da água ingerida e da assimilação de energias de outros corpos, tais como plantas,
animais e o próprio homem. Irradia, em torno do corpo físico, uma luminosidade que, pela análise de cor
varia do tom mais brilhante que, pela análise de cor, varia do tom mais brilhante ao mais escuro, se
doente. É distinta da aura existente no duplo etéreo (perispírito, Ba egípcio, duplo, etc.), que é o elo de
ligação semi-material do espírito ao corpo físico. Pelo teor dos pensamentos e sentimentos do espírito,
varia dos tons azulados e dourados, mais sublimes, aos tons avermelhados e escuros das paixões inferiore
e doenças espirituais. O tamanho da aura do duplo etéreo varia em proporção ao grau de elevação
espiritual do indivíduo.
46. E as crendices?
Onde há fumaça, há fogo, diz o ditado popular. Há crendices verdadeiras e falsas. Quando muitos dizem
que determinada actividade é correcta, deve-se analisar os fundamentos do ponto de vista científico e
espiritual. Ou seja, devem ser analisadas friamente, sem serem repetidas, mecanicamente, sem discussão
prévia. Certa vez ouvi que determinada imagem, dentro de casa, produziria efeito negativo na
sexualidade feminina e coisas do género. Já falamos repetidamente que o que vale são os pensamentos e a
magnetização dos objectos. Como foi comprovado, mais tarde, a dita imagem nada produziu de negativo
muito pelo contrário.
47. Por que se fala tanto em arruda, guiné e outras ervas?
São ervas que, pela utilização popular e orientação espiritual, ficaram muito conhecidas. As ervas, ao
crescerem, absorvem as radiações do Sol, da Lua, dos minérios, enfim, de toda a natureza, e dos
elementos espirituais, à semelhança da aura humana. A arruda é conhecida por murchar e secar em
casas, terrenos ou regiões onde há abundância de fluidos danosos. Um verdadeiro termómetro da
natureza.
48. E defumação?
Nada mais é do que plantas que, com todo o magnetismo absorvido da natureza, ao serem queimadas e
suas emanações dirigidas por entidades encarregadas da purificação de ambientes, diluiriam fluidos
pesados ou atrairiam boas vibrações. Usam-se desde a tradicional arruda ou outras ervas, cascas de alho
açúcar, resinas aromáticas, etc.
49. Por que incorporar Exu ou Pombagira?
É comum ouvir-se frases do tipo “deve-se deixar vir o povo de rua para ‘desamarrar’ a vida”. Ao
incorporar um Elebara (Exu ou Pombagira), o médium é alertado conscientemente ou inconscientemente
para não desenvolver os seus piores instintos ou evitar que esses comandem suas vidas. Pela assimilação
magnética, os Elebaras costumam carrear excessos de fluidos pesados. Ao incorporar, no médium, em
franca operação de limpeza, diz-se que “carregam” ou “assumem” parte do carma do mesmo, desta
forma. Esclarece-se que eliminar o carma é impossível, mas aliviar o destino que daremos a nossas vidas
perfeitamente viável. Por isso, podemos afirmar que minimizam, reduzem, aliviam acidentes, minoram
doenças, criam convicções de boa conduta e correção de caráter. São verdadeiros faxineiros do astral e
preciosos amigos.
Devido a seu caráter zombeteiro e brincalhão, alguns “pedichões” de oferendas, por falta de
esclarecimento dos guias e médiuns, são vistos de soslaio com muita desconfiança nas casas ditas “não-
cruzadas”, ou seja, onde não há trabalho específico dos Exus com o público (giras) e sacrifícios. São,
infelizmente, muito confundidos com obsessores, arruaceiros, entidades “primitivas” e “ignorantes”,
como são chamados. O que podemos dizer é que se deve observar o conteúdo das mensagens dessas
entidades, o comportamento, o comprimento das promessas (sobretudo, o aval dos guias), conduta da
casa e do grupo mediúnico, naqueles parâmetros do bom senso. Não devem ser temidos, mas respeitados.
Em suma, pode-se afirmar que os Exus garantem, assim, muito maior protecção, uma vida menos
problemática, um salutar vínculo de amizade criado entre trabalhadores de ambos os lados da
espiritualidade.
50. Ouve-se muito falar nas fases da Lua propícias a trabalhos. No que se fundamenta?
A ação electromagnética da Lua é conhecida desde a mais remota antiguidade nos fenómenos das marés,
na germinação e crescimento das plantas, na poda de plantações, na fecundação dos seres, nas alterações
de humor e um sem-número de fenómenos. Já que se trata de trabalhos, com fins quaisquer, é natural
que se escolham dias em que a força electromagnética da Terra, sob a influência lunar, crie um ambiente
mais propício ao crescimento, ou não, do teor magnético nocivo ou benigno desses mesmos trabalhos.
51. Afinal, qual a diferença entre Exu e quiumba?
Os quiumbas são malfeitores do astral, avessos ao bem e altamente perturbadores. Tanto que há
concordância entre autores quanto ao fato de serem eles os verdadeiros executores dos trabalhos
destinados ao mal. São os costumeiros “encostos” ou “rabos de encruza”.
Fazem-nos pensar que muitos quiumbas mistificam, fingindo, em casas desatentas, serem Exus ou até
mesmo Orixás, com fins de alcançar seus objectivos.
Os Exus, não. São eles que desmancham os trabalhos de magia negra, transportando magneticamente as
mazelas, as dores e doenças físicas e espirituais, aliviando carmas. Alguns Exus, por estarem ainda no
início de sua evolução, como trabalhadores do bem, necessitam orientação e doutrina, tanto pelo médium
como pelos diretores dos trabalhos (cacique, chefe ou babalorixá) e devem ser colocados na disciplina da
casa. Daí temos os Exus orientados, que não pedem sacrifícios, com oferendas mais simples, e aqueles que
não tiveram uma colocação correta, que se acostumam com extravagâncias e exigências repletas de
vaidades humanas.
52. Por que os Exus aparecem nas imagens em formas tão assustadoras?
Foi-nos explicado em uma consulta com entidades de sua linha. Os Exus costumam tomar tais formas
como meio de impor respeito e medo a espíritos inferiores (quiumbas) e, desta forma, facilitar o controle
vigilância que obtêm sobre estas mentes vinculadas ao mal, para que não perturbem trabalhos ou até
mesmo lares e locais.
53. O que é Umbanda de Branco, Umbanda Branca ou de Cáritas?
Na verdade, varia infinitamente, de casa para casa.
Mas seus fundamentos básicos são que algumas casas recusam-se a trabalhar com giras de Exus, por
considerá-los indisciplinados e só trabalharem com sacrifícios sangrentos, coisas que já sabemos
incorrectas, apesar de serem idéias muito confundidas.
Existem sete falanges, dominadas por Orixás, Yorimá (Pretos-Velhos) e Yori (Crianças). Na legião de
Iemanjá haveria Orixás comandando suas subdivisões, tais como Oxum, Iansã e Nanã. Em alguns locais,
os Orixás não “descem” pessoalmente, mas são representados por Pretos-Velhos (antigos escravos),
Caboclos (indígenas) e espíritos de Crianças (entidades evoluídas que se apresentam sob a forma infantil
Há rituais em matas, praias, pedreiras, cachoeiras, etc. Nela foram abolidos rituais com sangue
(sacrifícios) e magia negra.
54. O que é Umbanda Cruzada?
Chamada de Quimbanda pelos umbandistas (ditos de linha branca) e macumba, os seus trabalhos ou
feitiços. Cultuam de dez a doze Orixás, dependendo da nação africana de origem, sendo que os Orixás
“descem” pessoalmente, podendo haver, ou não, giras de caboclos e pretos-velhos em outros dias,
intercalados. Fazem comidas (oferendas) mais elaboradas que na Umbanda Branca e sacrifícios animais.
Nela é comum o jogo de búzios e rituais assemelhados ao Candomblé, feitos pelo pai ou mãe-de-santo ou
babalorixá ou yalorixá. O vestuário é elaborado, há toque de instrumentos (algumas casas de Umbanda
Branca aboliram), seu cerimonial e ritualística possuem maior quantidade de preceitos, proibições e
quizilas (proibições alimentares).
Cultuam-se, obremaneira, os Orixás ligados à morte e aos cemitérios, fonte energética de muitos
trabalhos de magia negra, como Xapanã (Omolu ou Obaluaiê), Exu (Elebaras) e Iansã como dominadora
de Eguns.
A Nação Nagô no Rio Grande do Sul é uma das modalidades do Batuque, uma religião voltada ao culto dos
Orixás. Bem, minha intenção com este comentário é mostrar que esta nação não foi extinta como muitos pensam
e que ela não sofreu processo de aculturação, ao contrário do que ocorreu com outras nações. Uma das
principais marcas desta nação é que o transe para ela não é um tabu como nas demais; os filhos sabem que
foram pegos pelo Orixá. Muito parecida com o candomblé em muitos aspectos, dentre eles, a nomenclatura dos
cargos e o seu panteão que é mais numeroso do que nas demais nações. Esta nação buscou preservar suas
origens, sendo por isso, uma nação fechada. Não há aglutinação de divindades como ocorre nas outras nações
onde Ibeji é qualidade de Oxun e Xangô, Nanã é qualidade de Iemanjá, Olokun e Orumilá são qualidades de
Oxalá, na Nação Nagô estes Orixás mantém sua individualidade.
Uma referência a esta Nação é o Ilê Axé Oba Oluorogbo, casa de Nação Nagô de Pelotas-RS dirigida pelo
Babalorixá Eurico de Oxalá. O Panteão desta casa é bem diferente do convencional observado em outras casas.
Os Orixás cultuados no Ilê Axé Oba Oluorogbo são:
Exu, Ogum, Odé-Otin, Logunedé, Xangô, Obaluaiê, Oxumaré, Ossaim, Oyá, Oxum, Yemanjá, Nanã, Ewá, Obá
Ibeji, Onilé, Oxalá, Orunmila-Ifa, Olokun.
Também quanto aos cargos que em outras nações não existem, e no Nagô é usado:
-Babalorixá ou Yalorixá: A palavra iyá do yoruba significa mãe, babá significa pai. É o título sacerdotal.
-Egbomis: são pessoas que já cumpriram o período de sete anos da iniciação (significado: “meu irmão mais
velho”).
Esta Nação muito linda, mas infelizmente incompreendida por parte de zeladores das demais nações, é uma boa
referência, aqui no Rio Grande do Sul, da conservação da Cultura Africana.
Nas cerimônias os Orixás chegam e dançam ao som das cantigas, as roupas são simples, não há paramenta, os
filhos dançam apenas com roupas nas cores de seus Orixás.
O processo de iniciação nesta modalidade também é diferente do que nas demais nações e se aproxima muito da
iniciação do Candomblé, com Obí e tudo mais.
“Cada orixá possui “qualidades” ou “caminhos” que irão expressar aspectos ligados a ele, a exemplo uma
passagem enquanto jovem, uma passagem enquanto de mais idade, uma passagem de conquista, seja por um
titulo honorifico, seja por um cargo (Rei de determinada região). Cada qualidade portanto, trará consigo
informações de culto, tais como: Local de origem, cores, números, ferramentas e tipos de ofertas. Há também
“qualidades” cuja origem são Orixás independentes aglutinados a categorias de Orixás “maiores”.” (Babá
Eurico D’Oxalá)
Etimologia
Olodumaré
Oló = senhor
Odu = destino
Maré = supremo = deus, senhor do destino supremo.
Correspondente á personalidade de Deus com o nome de Shadai ou Alhim Tsebaoth (kaballah) – Referencia
para leigos entenderem.
Religião natural, significando o culto dos seres da natureza, ou seja ainda, o culto á terra, ar, fogo e água
compreendidos todas as suas proporções, e que o “ocultismo” divide em 7 reinos, compreendendo três reinos
elementais.
Os Bantús rendem culto aos antepassados, cuja origem remontam a um grande ser estranho que existiu “só”,
num tempo EM QUE AINDA NÃO EXISTIA O TEMPO (manifestação visível do universo criado)
correspondendo ao mito bíblico: “no principio era o caos…”.
No conceito Yoruba, existiu um ser dotado de dois sexos, ao qual poderia gerar tudo que podemos ver ou sentir
seu criador teria o nome de (Olorum – é a causa sem causa e Obatalá – é a manifestação, deus que pode se
adorar), como toda cultura por mais que se distancie em seus dogmas mesmo assim sequem a mesma linha
como se surgissem de um só fio para se abrir em vários ramos com varias cores, a cultura Yoruba seque a
mesma concepção do que temos conhecimento.
A evolução sobe uma escala sem pressa, vamos verificar. No período paleolítico de duração desconhecida, o
homem habita cavernas e utensílios a pedra lascada e os ossos de animais. No neolítico, sabe polir a pedra,
confeccionam utensílios novos para novos usos, abandona as cavernas, constrói tendas e cabanas e mesmo
aldeias lacustres e já domestica o boi, o carneiro, a cabra e o cão. Surge a cerâmica, barcos, vestuários de pele,
linho, lã e algodão. Um passo mais… utiliza o cobre e estanho e por fim o ferro. Sua concepção religiosa se
aperfeiçoa, deixaram na face da terra os resquícios de uma cultura que escavamos e descobrimos nossas raízes.
Descobriu-se que o Egito manuseou metais por meados de 6.000 A.C., na China e Grécia trinta séculos; na
Gália e Suíça, vinte e cinco; na Scandinávia, vinte; e, na Finlândia, três.
A tradição dos chineses alcança uma duração de 80 a 100.000 anos, embora os dados positivos contem somente
17.000.
Os egípcios abraçam uma duração de 30.000 anos. A dos hindus, variável com a região, orça entre 13.000 a
19.000 anos.
Plínio faz referencia a uma época em que os egípcios não tinham como arma de defesa nas tribos africanas,
senão os seus bastões.
No mesmo sentido, dessas origens, poderiam ser citados Platão, Aristóteles, Bérosio, Sallustio, Strabão.
Perfurações e sondagens no solo do vale do Nilo, em 1854, Burmeister calculou que o Egitp era habitado pelo
homem há mais de 72.000 anos, época em que a Europa era habitado por selvagens.
As mudanças que ocorram no Egito por volta de 8000 A.C. transformaram definitivamente a evolução da
humanidade. Estas mudanças culminaram com a invenção da agricultura e da pastoreia perto do Egito, no
Próximo Oriente e no Sudão.
A cultura Egípcia teve o seu início pouco antes da época pré-dinástica, que a levaria para o auge das épocas
faraônicas. Por volta de 5000 a.C. apareceram as primeiras evidências de organização. Apesar de serem
escassas, estas mostram-nos que por esta altura já existiam povoados em que a agricultura era a sua principal
atividade. A caça não era uma forma de subsistência para estas primeiras povoações, já que estas já possuíam
animais de pasto. Alguns artefatos de pedra, metal e cerâmicas encontradas vêm com inscrições e desenhos de
animais domésticos, prova que estes povos eram já de fato pastores. Assim a transição da forma mais primitiva
de civilização de tribos nômades para a civilização tradicional estava completa.
Um dos mais interessantes aspectos deste período de transição eram os seus costumes funerários. Antes desta
transição, as tribos nômades sepultavam os seus mortos da forma mais conveniente, que freqüentemente era
perto dos seus acampamentos, ou mesmo dentro deles, como os cemitérios encontrados em Jebel-Sahaba.
Os tambores falam de festas, coroações, tristezas, guerras e cultos, grande variedades de batidas muitas vezes
transportam os nativos a reinos espirituais, o majestoso orgulho de ser negro e dançar com graça e leveza, a
cultura negra se orgulha da herança que carrega mesmo que tenham levado seu ouro, suas terras seus animas e
sua liberdade, o étnico levanta sua cabeça e baila com pés descalços e poucos tecidos envoltos no corpo.
A mais antiga das religiões traz ancestrais que remota a era da história falada, onde não tinha material para
registra nem escrita para perpetuar tradições, os mais velhos passaram de boca em boca para os mais novos ate
que descobriram formas para registrar os deuses, sacrifícios e rituais.
No mundo todas as religiões originam de um mesmo principio divino, somos um só povo com varias
personalidades espirituais, o ser divino que criou o macrocosmo é o mesmo que governa o microcosmo, para os
seres inteligentes, varias formas expressas provam suas existência e contradizem sua divindade.
O numero 1
Representado por um ponto, significa o universo o macrocosmo e o microcosmo, representando o ser individua
e único em sua divindade. O principio do movimento porem ele não é perfeito se continuar único, porque a vida
não terá sentido sem outra vida para compartilhar.
O numero 2
De dois ponto temos uma reta, de um lado o principio do outro o complemento, uma reta, nos da o movimento,
a duplicidade do ser e o compartilhamento das forças
O numero 3
De triangulo, tem a origem divina, o inicio, a dualidade e o trio da santidade, a perfeição do espírito e da
humanidade, diz os mais antigos que o homem era dotada de divindade com sua ganância foi se afastando e com
a historia na humanidade esta a graça divina se perdeu, os ocidentais foram os mais afetados e na atualidade
busca o elo perdido da sabedoria interior.
Uma busca que talvez seja em vão, onde a tecnologia contesta e sufoca a tradição. Somos filhos de uma geração
de dotados espirituais esquecidos, nossas células ainda guardam lembranças ancestrais, mesmo sendo difícil
alcançar novamente o homem luta pela sua herança perdida.
Dizem os mais antigos que o mundo teve origem de uma palavra que continha as letras que movimentaram pela
primeira vez as moléculas do universo, tal palavra foi passada de boca a ouvido pelos sacerdotes e pelos
membros das antigas escolas de mistério, porem se é verdade, poucos podem afirmar, porque a palavra é tão
bem guardada que se duvida da sua veracidade, conversando com antigos mestres de escolas tradicionais e
templos, ao tocar no assunto apenas mudam de conversa e ficam sérios, com sua atitude e comportamento da
para se ver que tem algo misterioso e bem guardado, homens sérios saudáveis mentalmente respeitáveis, não
saberiam mentir, o conhecimento traz responsabilidades que temos que respeitar, mas como saber a verdade,
talvez nós, os menos privilegiados não tenhamos a oportunidade de tocar um milésimo da verdade.
Antigos templos guardam escritos que contradizem a verdade da humanidade, como isso pode ser, uma pequen
coincidência esta em escrituras que traz a origem do homem no pó, acredito que tal pó venha das estrelas, os
cientistas estão estudando a possibilidade da vida ter surgido na terra de poeiras estrelares, esta verdade hoje em
dia esta perto de ser desvendada, e talvez possamos afirmar que nossos genes vêm de planetas distantes, mas
não se empolguem achando que somos e.t.
Quem poderá afirmar a verdade, eu não sei, mas tenho que me preocupar como a verdade é moldada, o que será
um bem feito para mim, talvez possa prejudicar outras pessoas por isso temos que ter cuidado com nossos
desejos e atos para não prejudicar nossos semelhantes.
Um povo inteiro desaparece no antigo mundo sem sabermos o que aconteceu realmente, apenas historia contad
por poucos sábios que publicaram em pedra e papiros os costumes e ritos da época, mesmo assim corremos o
risco de perder tudo que temos e sofrer o mesmo destino a qualquer momento, pois o poder que se encontra nas
mãos de alguns homens pode matar milhões de pessoas em questão de segundo sem que destrua suas casas,
imagina o poder de morte e vida.
O momento de nascer é um poder que o homem ainda não dominou ele pode matar se apossar, mas ainda não
temos poder de gerar a vida e criar o espírito, mas por quanto tempo?
Não sabemos onde iremos parar, só sabemos é que estamos pagando o preço de nossos atos. E não temos o
pleno domino dos nossos destinos, podemos comprar uma terra, roupa ou jóias, mas não seremos os verdadeiro
donos, somente temos emprestado aquilo que podemos pagar, um dia quando morrermos não levaremos nada
para o tumulo, somente nossa sabedoria e fé, mais nada.
A Bahia é a terra santa dos orixás, mas foi no rio grande do sul que me influenciei pelos Orixás, seres
encantados que os africanos cultuam, são ancestrais e deuses que sincretisam com a natureza.
São Paulo uma cidade grande que guarda em cada esquina um terreiro, da periferia ao bairro mais nobre, temos
muitos templos nesta terra de cimento.
*Atenção – alguns dados publicados nesta matéria contem informações retirados da Kabalah, para ilustrar, não
quer dizer que foi gerado no mesmo tempo e época.
“Religiões Africana no Brasil ou chamadas
de Afro-Brasileira”
Sintetizando:
Elucidando, que os negros escravos que vieram para o Brasil trouxeram enormes bagagens culturais
como: arte, gastronomia e de religiões, com seus usos e costumes sagrados, linguajar próprio, ritmos e
vozes.
Dos estudos já realizados, reconhece-se desde o séc. XVI a presença no Brasil de africanos de origen
de Nações “Bantu”, a esse grupo pertenciam os negros chamados e de Nações: do Kongo; Angola;
Moçambique; Makuas; Kabinda; Benquela; Monjolo, Musikongos, Rebolos, Munjolos etc… Mais tarde,
a vinda dos povos de Nações Sudaneses com o seu linguajar de origem Yorùbá, a “língua geral” dos
escravos, em muitos Estados do Brasil, tendo dominado as línguas faladas pelos escravos de outras
Nações existentes em nosso País. Para melhor definição do idioma Yorùbá: pertence ao grupo “Kwa” de
Línguas Sudanesas e ao grupo Nígerokameruniano, compreende vários sub-grupos e dialetos, e entre os
quais o “Egbá” que inclui a Nação de Keto (Kétu) – e a Nação de Ijexá (Ìjèsà) – e a Nação de Òyó, sendo
a mesma, a Região e Cidade da Nigéria, África Ocidental, antiga Capital Política do reino de idiomas
Yorùbá e a de maior importância cultural e religiosa entre os povos sudaneses; desta Nação, região e
cidade vindo negros escravos com ritos próprios, subsiste até hoje no Estado do Rio Grande do Sul, assim
como, povos de Nação Ewe ( evoes) também chamados de “anago” – nome dado pelos “daomeanos” aos
povos que falavam o Yorùbá, tanto na Nigéria como no Daomei, Togo e arredores e que os franceses
chamavam apenas de “Nagô”. Portanto, Nagô não é uma Nação Africana e sim todo os povos Sudaneses
que falam o idioma Yorùbá. Com os povos africanos, vieram também os cultos religiosos de cada região
de sua origem, e, que devido aos empórios de escravos e a mistura destes, e também de rituais, originaram
as chamadas religiões, hoje, chamadas por muitos de afro-brasileiras, eu prefiro, chamar de africanistas.
A história nos narra, que nos navios negreiros, os cantos de lamentações e de apelações aos Orixás
(Òrìsàs / Voduns) se confundiam com o barulho do mar e os açoites sofridos pelos negros. Era o maior castigo,
que um ser humano poderia suportar.
Já no Brasil, após os empórios de escravos; e, com suas convicções religiosas, levaram um bom tempo para
adaptá-las ao Novo Mundo; misturando-se à religiosidade de seus patrões, aglutinando os Orixás aos Santos
Católicos (sincretismo), e que também mais tarde, houve a inclusão a religiosidade do ameríndio (nativo do
Brasil).
Das sobrevivências culturais africanas no Brasil, as maiores influências inicialmente foram no Nordeste e depoi
se estendendo há todo o País. A contribuição da África, recebidas em nosso País, está em todas as “divindades”
que recebemos “direta ou indiretamente do Povo Africano / Negro – Sudaneses (Nagô / Anago) e Bantus”.
No Brasil, a cultura dos povos e Nações Sudanesas Africanas recebeu o nome de “Nagô” e com a inclusão da
Nação Ewe (Avoes) do Daomei (Jèje) que são chamados de “Anago” e que ainda subsiste em uma pequena
minoria no Estado do Rio Grande do Sul, e são chamados Nação de Jèje ou Nagò – Vodú.
Qualidade de Orixás
Sobre as Qualidades de Orixas”
Existe sem duvida no Brasil uma questão muito polêmica sobre as multiplicidades dos orisas chamada por todo
de qualidade de orisa
Para melhor entendimento é que na África não há qualidade de orisa; ou seja, em cada região cultua-se um
determinado orisa que é considerado ancestral dessa região e, alguns orisas por sua importância acaba sendo
conhecido em vários lugares como é o caso de Sàngó, Orumila, etc.
É de se saber que Esu é cultuado em todo território africano, da forma que Osun da cidade de Osogbo é
Osun Osogbo, da região de Iponda é a Osun de Iponda, Ogún da região de Ire é Ogún de Ire (Onire: chefe
de ire), do estado de Ondo é Ogún de Ondo,etc. Na época do tráfico de escravos veio para o Brasil diversas
etnias
Ijesas, Oyos, Ibos, Ketus,etc e cada qual trouxe seus costumes juntos com seus orisas digamos particulares, e
após a mistura dessas tribos e troca de
informações entre eles cada sacerdote ou quem entendia de um determinado orisa trocaram fundamentos e a
partir daí surgem todos esses aspectos, e essa quantidade de orisa presente aqui no Brasil, sendo que o orisa é o
mesmo com origens diferenciadas.
É claro que por ter origens diferenciadas seus cultos possuem particularidades religiosas e até mesmo culturais
por exemplo Oyá Petu tem seus fundamentos assim como Oyá Tope terá o seu, isso nada mais é, que uma
passagem do mesmo orisa por diversos lugares e cada povo passou a cultuá-lo de acordo com seus próprios
costumes. Um exemplo mais nítido é que aqui fazemos muitos pratos para Osun com feijão fradinho, entretanto
num determinado país nãohá esse feijão portanto foi substituído por um grão semelhante e assim puderam
continuar com o culto a Osun sem a preocupação de importar o feijão fradinho.
Outro exemplo de orisa transformado em qualidade no Brasil é Osun kare, Kare é uma louvação à Osun quando
se diz: Kare o Osun! A palavra kare também é uma espécie de bairro na África, logo Osun cultuada em kare é
Osun kare, e por vai surgindo desordenadamente essa quantidade de orisa aqui no Brasil. Imagine um rio que
atravessa todo território Nigeriano e, em suas margens diversas etnias que num determinado local algumas
pessoas diria que ali é a morada de Osun Ijimu (cidade de Ijumu na região dos Ijesa), mais para frente em
Iponda diria aqui é a morada de Osun Iponda, mais para frente, em Ede esse rio terá o culto de Ologun Ede, o
chefe de guerra de Ede segundo sua mitologia, e serão diversos orisas cultuados num mesmo rio por diversas
etnias com pequenas particularidades. Isso acontece com todos orisas e suas mitologias fazem alusão a essas
passagens e constantes peregrinação de seus sacerdotes quer por viajens comercias ou por guerras intertribais
sempre espalharam seus orisas em outras regiões.
Outro fato interessante é títulos que algumas divindades possuem e foram transformadas em qualidades, por
exemplo Ossosi akeran, akeran é um titulo de um determinado caçador (ancestral) com isso vamos na próxima
edição analisar esses fatos e informar todas qualidades de orisa da nação keto que o sacerdote pode ou não
mexer de acordo com o conhecimento de cada um, pois o nosso dever é informar sem a pretensão de nunca ser
dono da verdade Na próxima edição vamos diferenciar, títulos de nomes de cidades, nomes tirados de cânticos
que as pessoas insistem em dizer que é qualidade de orisa.
Sobre a multiplicidade dos orisa.
Vamos separar a qualidade como é chamada no Brasil (em Cuba chama-se caminhos), dos títulos e de nomes
tirados de cantigas como insistem pseudo sacerdotes. Já sabemos que os orisa são venerados com outros nomes
em regiões diferentes como: Iroko (Yoruba), Loko (Gege), Sango (Oyo), Oranfe (Ife), isso torna o culto
diferente. Temos também o segundo nome designando seu lugar de origem como Ogun Onire (Ire), Osun Kare
(Kare),etc, também temos os orisa com outros nomes referentes as suas realizações como Ogun Mejeje refere-s
as lutas contra as 7 cidades antes dele invadir Ire, Iya Ori a versão de Iyemanja como dona das cabeças, etc. Há
portanto uma caracterização variada das principais divindades, ou seja, uma mesma divindade com vários
nomes e, é isso que multiplica os orisas aqui no Brasil.
Vamos começar com Esu o primogênito orisa criado por Olorun de matéria do planeta segundo sua mitologia,
ele possui a função de executor, observador, mensageiro, líder, etc. Alem dos nomes citados aqui que são
epítetos e nomes de cidades onde há seu culto, ele será batizado com outros nomes no momento de seu
assentamento, ritual especifico e odu do dia. Não será escrito na grafia Yoruba para melhor entendimento do
leitor.
Oba Iangui : o primeiro, foi dividido em varias partes segundo seus mito.
Agba: o ancestral, epíteto referente a sua antiguidade.
Alaketu: cultuado na cidade de ketu onde foi o primeiro senhor de ketu.
Ikoto: faz referencia ao elemento ikoto que é usado nos assentos esse objeto lembra o movimento que esu faz
quando se move do jeito de um furacão.
Odara: fase benéfica quando ele não está transitando caoticamente.
Oduso: quando faz a função de guardião do jogo de búzios.
Igbaketa: o terceiro elemento, faz alusão ao domínios do orita e ao sistema divinatório.
Akesan: quando exerce domínios sobre os comércios.
Jelu: nessa fase ele regula o crescimento dos seres diferenciados. Culto em Ijelu.
Ina: quando e invocado na cerimônia do ipade regulamentando o ritual.
Ona: referencia aos bons caminhos, a maioria dos terreiros o tem, seu fundamento reza que não pode ser
comprado nem ganhado e sim achado por acaso.
Ojise: com essa invocação ele fará sua função de mensageiro.
Olobe: domina a faca e objetos de corte é comum assenta-lo para pessoas que possuem posto de Asogun.
Marabo: aspecto de esu onde cumpre o papel de protetor Ma=verdadeiramente, Ra=envolver, bo=guardião.
Também chamado de Barabo= esu da proteção, não confundi-lo com seu marabo da religião Umbandista.
Soroke: apenas um apelido, pois a palavra significa em português aquele que fala mais alto, portanto qualquer
orisa pode ser soroke.
Ogún, Òsòósí e Ode lembrando que nem todos caçadores tomaram o titulo de Òsòósí e, na África, Òsòósí em
certas regiões é feminino tomando o aspecto masculino no antigo reino de Ketu. Ode que dizer caçador, porém,
nem todos Ode’s são Òsòósí; Ijibu Ode, Ikija, Agbeokuta, são alguns lugares onde houve seu culto, pois seu
culto, expandiu-se mesmo aqui no Brasil onde ele é lembrado como rei de Ketu, Ogún em outro aspecto foi
chefe dos caçadores (Olode) entregando essa função mais tarde para seu irmão caçula Òsòósí para partir em
buscas de suas inúmeras batalhas.
Já em certas mitologias o caçador passa a ser sua esposa Òsòósí L`Obirin Ogun, ou seja, Òsòósí é a esposa de
Ogún, segundo o verso desse mito.
Isso afirma o chamado enredo de santo aqui no Brasil quando se diz que para assentar Òsòósí temos que
assentar Ogún e vice versa. Era costume africano quando os caçadores tinham que partir em busca de suas
presas, louvarem Ogún para que tudo desse certo, de òrìsà secundário na África Òsòósí, passou a uma condição
importantíssima no Brasil sendo òrìsà patrono da nação Keto, senhor absoluto da cerimônia fúnebre do asesé,
alguns cânticos fazem alusão a essa condição: Ode lo bi wa, ou seja, o caçador nos trouxe ao mundo. Eis alguns
nomes de Ogún/Òsòósí/Ode conhecidos, sobretudo no Brasil e seus aspectos, características, origem e
particularidades:
Ogún Olode: epíteto do òrìsà destacando sua condição de chefe dos caçadores.
Ogún Je Ajá ou Ogúnjá como ficou conhecido: um de seus nomes em razão de sua preferência em receber
cães como oferendas, um de seus mitos o liga a Osagìyán e Ìyémojá quanto a sua origem e como ele ajudou
Osalá em seu reino fazendo ambos um trato.
Ogún Meje: aspecto do òrìsà lembrando sua realização em conquistar a sétima aldeia que se chamava Ire (Mej
Ire) deixando em seu lugar seu filho Adahunsi.
Ogun Waris: nessa condição o òrìsà se apresenta muitas vezes com forças destrutivas e violentas. Segundo os
antigos a louvação patakori não lhe cabe, ao invés de agradá-lo ele se aborrece. Um de seus mitos narram que
ele ficou momentaneamente cego.
Ogún Onire: Quando passou a reinar em Ire, Oni = senhor, Ire = aldeia.
Ogún Masa: Um dos nomes bastante comum do òrìsà, segundo os antigos é um aspecto benéfico do òrìsà
quando assim ele se apresenta.
Ogun Soroke: apenas um apelido que Ogún ganhou devido a sua condição extrovertida, soro = falar, ke= mais
alto. Nossa historia registra o porque o
chamam assim.
Ogún Alagbede: nesse aspecto o òrìsà assume o papel de pai do caçador e esposo de Ìyémojá Ogunte (uma
outra versão de Ìyémojá) segundo um de seus inúmeros mitos.
Há vários nomes de Ogún fazendo alusão a cidade onde houve seu culto como Ogún Ondo da cidade de Ondo,
Ekiti onde também há seu culto, etc. O òrìsà possui vários nomes na África como no Brasil e com isso ganha
suas particularidades e costumes.
Ode/Ososi.
Há uma síntese sobre esse orisa na edição anterior, eis então suas várias formas de se apresentar:
Ososi akeran = um titulo do orisa;
Ososi Nikati = um de seus nomes;
Ososi Golomi = um de seus nomes;
Ososi Fomi = um de seus nomes;
Ososi Ibo = um de seus mitos o liga a Ossaniyn;
Ososi Onipapo = um dos antigos, tem culto a mais de um século no país;
Ososi Orisambo = possui seu assentamento diferente dos demais;
Ososi Esewi/Esewe = seu mito o liga a Ossaniyn e as vezes a Osala segundo os “antigos”;
Osossi Arole = uns de seus epítetos;
Ososi Obaunlu = segundo registro há um assentamento deste orisa aqui no Brasil desde 1616 no ase de D.
Olga de alaketu, é considerado o patrono de ketu;
Ososi Beno = um dos mais antigos, detalhe tem assento aqui em São Paulo, cidade considerada emergente para
tradições do candomblé Keto, com poucas casas antigas.
Ososi DanaDana = aquele que ateou fogo ou roubou, um epíteto dos mais perigosos dado ao caçador.
Ode Wawa = epíteto do caçador;não se tem notícia do seu culto no Brasil;
Ode Wale = epíteto do caçador, não se tem notícia de seu culto no Brasil;
Ode Oregbeule = é um Irunmale, portanto acima do orisa foi um dos companheiros de Odudua em sua chegada
na terra segundo sua mitologia;
Ode Otin = outro caçador confundido com Ossosi, sua lenda o identifica ora como uma caçadora ora como um
caçador, contudo sua ligação com Ossosi é fato, Otin se apresenta sempre junto com ele a ponto de confundi-
los;
Ode Karo = um do caçadores que também mora as margens de um rio é irmão de Igidinile.
Ode Ologunede = o chefe de guerra de Ede, titulo ganhado quando seu pai o entregou aos cuidados de Ogún;
Olo = senhor, gun = guerra, Ede = um lugar na áfrica.É filho de um outro caçador chamado Erinle tendo
como mãe Osún Iponda. O posto de asogun, a priori, surge desse mito que o liga a Ogún companheiro de seu
pai.
Possui outros nomes como Omo Alade, ou seja, o príncipe coroado. Não há qualidades de Logun como
acreditam alguns tais como locibain, aro aro, etc., são apenas nomes tirados de cânticos, aliás aro quer dizer
tanta coisa menos nome de orisa. O nome Ibain é de um outro caçador homenageado nos cânticos de Ologun,
esse caçador inclusive é o verdadeiro proprietário dos chifres tão importantes no culto. Oba L`Oge é um outro
nome para esse orisa. É da região de Ijesa;
Ode Erinle = outro caçador confundido com Osossi no Brasil. Seu assento é completamente diferente dos
demais, pois Erinle ou Inle é um orisa do rio do mesmo nome, o rio Erinle que corta a região de Ilobu na
Nigéria. Encontra-se seus mitos no odu Okaran-Ogbe e Odi-Obara. Sua esposa é Abatan pois é considerado
médico e ela enfermeira, seu culto antecede o de Ossayn, o pássaro os representam. Ibojuto é a sua própria
reencarnação representado pelo bastão que vai em seu assentamento e tem a mesma importância do Ofa de
Ossosi.Tem uma filha chamada Aguta que às vezes se apresenta como irmã ou como filha sendo sua mãe Ainan
Ode Otin se apresenta como sua filha, às vezes e ai é representado por uma enguia. Ainda temos Boiko como
seu guardião, Asão seu amigo e Jobis seu ajudante. No Brasil o ligam a Osún e a Iyemanja pois segundo sua
lenda é pela boca dela que ele fala, Erinle é um orisa andrógino e considerado o mais belo dos caçadores;
Ode Ibualama = uma outra versão para Erinle quando ele se apresenta mais ao fundo do rio, há um templo com
esse nome na África fazendo alusão ao seu fundador. Aliás há vários templos mas todos são de um orisa só:
Erinle nessa situação o caçador traça um outro caminho e pactua seus mitos com Omolu, Osumare, Nana,etc. A
montagem de seu Igba (cuia) também difere de um simples alguidar com um ofa para cima como é comum as
pessoas não esclarecidas assim fazer.
Ossaniyn, Omolu, Oluaye, Osumare, Nanan e Iroko.
Ossaniyn = Também chamado Baba Ewe, Asiba, que são epítetos do orisa. Possui seu próprio sistema
divinatório; o orisa exerce suas funções interligadas a Esu composto ao mesmo tempo em que ele. Kosi ewe,
kosi orisa: Sem folhas, sem orisa.
Osumare = Chamado Araka seu epíteto. É o orisa do arco-íris e da transformação, não deve ser confundido com
o vodun Becem que se apresenta como Dangbe, Bafun, Danwedo todos da família Danbira e cultuados em outr
nação.
Omolu / Obaluaye = É como se apresenta o orisa sapata transmutando-se para formas conhecidas tais como:
Agoro, Telu, Azaoni, Jagun, Possun, Arawe, Ajunsun, Afoman, etc, cada qual com suas particularidades.
Nanan = apresenta-se nas formas conhecidas como: Iyabahin, Salare, Buruku, Asainan, sem culto no Brasil. É
sempre bom lembrar que muitos nomes são de lugares onde se cultua o orisa. Por exemplo: Ajunsun é o Rei de
Savalu, assim como Dangbe é o Rei do Gege, portanto são nomes que dão origem as suas formas. :
Iroko = orisa da gameleira (no Brasil), controla a hemorragia humana.
Iyabas são os orisá feminino.
Oba = orisa guerreira é única em seu aspecto.
Iyewá = orisa guerreira única em seu aspecto.
Osún Opara = a orisa se apresenta jovem e guerreira.
de Afro-Brasileira”
Sintetizando:
Elucidando, que os negros escravos que vieram para o Brasil trouxeram enormes bagagens culturais
como: arte, gastronomia e de religiões, com seus usos e costumes sagrados, linguajar próprio, ritmos e
vozes.
Dos estudos já realizados, reconhece-se desde o séc. XVI a presença no Brasil de africanos de origen
de Nações “Bantu”, a esse grupo pertenciam os negros chamados e de Nações: do Kongo; Angola;
Moçambique; Makuas; Kabinda; Benquela; Monjolo, Musikongos, Rebolos, Munjolos etc… Mais tarde,
a vinda dos povos de Nações Sudaneses com o seu linguajar de origem Yorùbá, a “língua geral” dos
escravos, em muitos Estados do Brasil, tendo dominado as línguas faladas pelos escravos de outras
Nações existentes em nosso País. Para melhor definição do idioma Yorùbá: pertence ao grupo “Kwa” de
Línguas Sudanesas e ao grupo Nígerokameruniano, compreende vários sub-grupos e dialetos, e entre os
quais o “Egbá” que inclui a Nação de Keto (Kétu) – e a Nação de Ijexá (Ìjèsà) – e a Nação de Òyó, sendo
a mesma, a Região e Cidade da Nigéria, África Ocidental, antiga Capital Política do reino de idiomas
Yorùbá e a de maior importância cultural e religiosa entre os povos sudaneses; desta Nação, região e
cidade vindo negros escravos com ritos próprios, subsiste até hoje no Estado do Rio Grande do Sul, assim
como, povos de Nação Ewe ( evoes) também chamados de “anago” – nome dado pelos “daomeanos” aos
povos que falavam o Yorùbá, tanto na Nigéria como no Daomei, Togo e arredores e que os franceses
chamavam apenas de “Nagô”. Portanto, Nagô não é uma Nação Africana e sim todo os povos Sudaneses
que falam o idioma Yorùbá. Com os povos africanos, vieram também os cultos religiosos de cada região
de sua origem, e, que devido aos empórios de escravos e a mistura destes, e também de rituais, originaram
as chamadas religiões, hoje, chamadas por muitos de afro-brasileiras, eu prefiro, chamar de africanistas.
A história nos narra, que nos navios negreiros, os cantos de lamentações e de apelações aos Orixás
(Òrìsàs / Voduns) se confundiam com o barulho do mar e os açoites sofridos pelos negros. Era o maior castigo,
que um ser humano poderia suportar.
Já no Brasil, após os empórios de escravos; e, com suas convicções religiosas, levaram um bom tempo para
adaptá-las ao Novo Mundo; misturando-se à religiosidade de seus patrões, aglutinando os Orixás aos Santos
Católicos (sincretismo), e que também mais tarde, houve a inclusão a religiosidade do ameríndio (nativo do
Brasil).
Das sobrevivências culturais africanas no Brasil, as maiores influências inicialmente foram no Nordeste e depoi
se estendendo há todo o País. A contribuição da África, recebidas em nosso País, está em todas as “divindades”
que recebemos “direta ou indiretamente do Povo Africano / Negro – Sudaneses (Nagô / Anago) e Bantus”.
No Brasil, a cultura dos povos e Nações Sudanesas Africanas recebeu o nome de “Nagô” e com a inclusão da
Nação Ewe (Avoes) do Daomei (Jèje) que são chamados de “Anago” e que ainda subsiste em uma pequena
minoria no Estado do Rio Grande do Sul, e são chamados Nação de Jèje ou Nagò – Vodú.
Após vários estudos realizados por sociólogos, antropólogos e etnógrafos. Notou-se que a Religião e Rituais ao
Òrìsàs / Voduns no Estado do Rio Grande do Sul, chamado de “Batukàjé – Batuque” venha ser, os mais
idênticos aos da Religião dos Òrìsàs / Voduns “Anagos e Bantus” praticados na África. Por vários fatores,
enumerando alguns: Por ter sido um dos últimos Estados, deste País, a receber escravos africanos; o rigor e
rigidez de julgamento e provas as “Divindades” e de seus Rituais; julgamento de Ebós e de Feituras de Òrìsàs /
Voduns através do “Emissò Kássum” (Julgamento, através da roda humana, de pessoas selecionadas que possu
assentamento de “Divindades com animais com quatro patas”); a integração universal (Natureza – Divindades)
através do Ritual, em um só momento, ou seja, a representação Universal, através das Divindades no bàsá (sala
salão); após uma doutrina e feitura completa da Divindade é concedido através de provas, a liberdade de
expressão das “Divindades” em língua africana e brasileira; a inexistência de luxo e deslumbramentos, através
pessoas, em seus rituais; o não, poder saber de uma pessoa de que recebe (ocupar-se) uma Divindade,
preservando assim o Fundamento e Rituais assim como, a própria Religião de Matriz Africana. Assim,
poderíamos citar vários fatores; mas, não é nosso objetivo desfazer os Rituais realizados em outros Estados do
País, e sim, de mostrarmos as características do Batukàjé – Batuque, visto, pela maioria dos etnógrafos.
Subjetivo, é a mídia dizer, bem como, os desinformados que o Candomblé venha ser a maior pureza dos
cultos Nagô, veja, a origem do seu próprio nome (Candomblé), e a mídia informa, como sendo, os mais
tradicionais em nosso País.
Os melhores pesquisadores das religiões afro-brasileiras e que não estão comprometidos com nem uma das
facções religiosa, são unânimes em dizer que o Candomblé é uma mescla de sincretismos. Recebendo o apoio d
Governos Estaduais (Bahia) e da mídia em geral, o que não ocorre em outros Estados, para fins comerciais e
turísticos, chamados de folclóricos de orixás afro-brasileiros. Exemplo:
Na Bahia, as “Confrarias religiosas” – os negros de Angola na “Venerável Ordem do Rosário de Nossa Senhor
das Portas do Carmo”, fundada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Pelourinho.
Os Nagôs de Nação de Kétu; formaram, juntos, com a comunidade católica, duas irmandades: a) A de “Nossa
Senhora da Boa Morte”, somente para mulheres. b) E outra, somente para os homens, chamada de : “Nosso
Senhor dos Martírios”.
Já os de origem de Nações Bantu, em especial, a do Congo, associaram-se nas irmandades de “São Benedito e
de Nossa Senhora do Rosário dos Negros Congos”, dizendo-se, ser vossa padroeira, já no cristianismo africano
por influência dos colonizadores portugueses.
Candomblé = Tendo como a origem de Nações Bantu, do idioma kimbundo. Se originando da palavra
“Kandombe” (ka = costume, uso; + ndombe = preto, costume dos pretos), que quer dizer em africano: Dança
antiga africana de Nações Bantu, sem nenhum sentido religioso na África, espécie de batuque ou batucada, com
vários instrumentos, inclusive com tambores. Dando a origem da palavra Candomblé na fronteira da Argentina,
Uruguai com o Brasil (RGS) como dança de escravos nas fazendas (farra africana, como nem, hoje, são as roda
de sambas). Os baianos e outros; adotaram e copiando essa terminologia de origem espanhola Sul Americana,
como sendo, o termo correto a dar aos cultos afro-brasileiros. E, os mesmos, desejam induzir que os
cultos/rituais baianos e outros difundidos pelos mesmos, idênticos, ou seja, cópia fiel africana, se nem o nome é
original africano! Isto, mais uma vez, prova que o Batukàjé – Batuque do RGS., sendo o mais próximo aos
rituais religiosos praticados na África, ao menos, não temos nomes falsos ou de origem espanhola!
Orixás, afinal o que são? E quais são as posições ocupadas pelas divindades (Status)?
Os Orixás (Òrìsàs) são: Os que governam, à sua discrição, a vida e o destino dos seres humanos. São
caprichosos, amam e odeiam, beneficiam e castigam, curam ou perseguem com doenças, e se fazem respeitar e
temer. Têm suas cores, os seus animais prediletos e suas comidas, os seus toques e as suas andanças, as suas
insígnias e os seus cânticos, as suas preferências e as suas antipatias – e ai! – daqueles que, devendo-lhes
obediência, os irritar!
Embora sejam todos Orixás, há uma hierarquia poderosa e rígida em relação ao “status” – posições ocupadas
pelas “Divindades”, os mais poderosos entre eles são, como na África: Òòsàálá => Oxalá (Brasil) => (ou
Obàtálá / Odùdúwà); Óbara; Ògún; Oyá; Songó; Sakpatá ou Sakponã /Sapanã, também chamados de Homulú e
Obaolúayé; Òsún (Oxum no Brasil); Yémonja (Yemanjá no Brasil).
Superior = Deus. Olóòrun (Olórun) que, depois de ter criado o mundo, dividiu o cosmo e deu a cada Òrìsà
(Orixá) um domínio sobre o qual reinar.
Obàtálá (deus criador do homem) / Odùdúwà (deus criador, distribuidor da justiça) => filhos
de Olórun que, no Brasil, receberam o nome de Oxalá (Òòsàálá).
Óbara => Aquele que, inicia ou termina / o que abre ou fecha. Sendo o pólo oposto ao de Òòsàálá. Sem
Óbara, não se vai a lugar ou chega-se em algum objetivo almejado, pois sendo, o grande mensageiro entre os
homens e as Divindades. Resumindo: Sem Óbara, não se faz nada ritualisticamente.
Intermediários = Orixás com muitos elementos, constituindo-se o resultado dos extremos como, por
exemplo: Ògún; Oyá; Songó; Sakpatá ou Sakponã / Sapanã; Òsún; Yémonja e sucessores.
Inferiores = (Culto aos Ancestrais). Egún ou Egúngun, espíritos, almas dos mortos que retornam a Terra,
dependendo das cerimônias ritualísticas. Tanto pode ser da família, como antepassados da Religião Africana, e
devem ser honrados. Já o Bàbá Eégún = São espírito reencarnado de uma Ancestral, que muitos chamam,
somente, de Eégún. Esse, até pode ser, o primeiro grau de algumas iniciações, que podem variar de “uma” até
“sete” cerimônias, mudando em cada delas a classificação do candidato.
Exu = Em primeiro lugar, nunca foi de origem africana e sim, hebraico e de língua palli (o que quer
dizer: o inverso de Deus), pois, os negros-africanos os temem. E nem tão pouco, como sendo, mensageiros entr
deus e homens, como o Candomblé o apregoa, são personagens muito controvertidos. O surgimento desta
“entidade” veio com a formação de Umbanda, pertencendo, principalmente, a facção de Quimbanda, o Exu
como sendo escravo direto de Caboclos e Pretos Velhos e, sendo sim, está “entidade” o verdadeiro mensageiro
dos homens para “Magia Negra”, bem como, nos rituais praticados na religião primitiva Celta e outras….
Africanos, evitam Exus; porque, os temem, em vista disto, consta em seus “orins” e “oríkìs” (rezas) a presença
da “entidade Exu”. E tendo como, umas das atribuições principais, os Orixás Óbaras, com a obrigação de cuida
e de evitar os Exus. Não é como muita gente pensa, que Óbara é um Exu, isso não é verdade! Eles cuidam sim,
dos Exus, para não perturbarem de modo geral o negro – africano e seus Rituais. Assim como, o Orixá Oyá
cuida dos Egúns.
Observações: A verdadeira Doutrina dos Cultos de Religião de Matriz Africanas, e o aprendizado da
mesma, por um Feitor ou Feitora, tem que ser paralelo, como nem trilhos de trem, ou seja, deve aprende
todos os rituais de Orixás, assim como, cultuar seus Antepassados (Ancestrais), caso contrário, e nesses
casos, os Feitores ou Feitoras, sempre, serão chamados de “pernetas” ou “manetas”! Como queiram….
Como esclarecimento, muita gente não conhece ou não sabe distinguir entre “Obàtálá e Odùdúwà”:
Obàtálá = Nome africano de Oxalá (Òòsàálá), filho de Olórun, o Deus Supremo. Divindade às vezes masculina
às vezes hermafrodita, é o Orixá da “criação”.
Mitos: Olórun começou o mundo e encarregou “Obàtálá” de terminá-lo. Também fez o “homem e a
mulher”, grosseiramente, de barro, e Obàtálá deu-lhes membros e feições, tendo-lhes então Olórun insuflado a
vida.
Outro mito: Obàtálá é o único criador do primeiro casal humano, e ainda outro lhe atribui a formação
da criança no ventre materno, sendo os portadores de defeitos físicos – albinos, coxos, corcundas etc… – vistos
como erros seus e por isso seus protegidos, ou então um sinal de seu desagrado para com os pais.
Devemos externar que seus fieis usam roupas brancas e comem só comidas brancas e manteiga vegetal
(ori) que é branca, em lugar do óleo de dendê, vermelho. Também como os caracóis
comestíveis ìgbín (conhecido no Brasil por “ebi”) são lhe oferecidos. Seus filhos usam colares brancos e são
proibidos de beber vinho de palmeira e de se alimentar com alimentos contendo sal.
Importante: Deve constar em seu assentamento, entre outros objetos de seu culto “os bolos redondos de
pembas (cal)” – nome africano => “sésé efun”; é sua arma de encantar.
Título: Chamado de “Òrìsàálá (e no Brasil de Orixalá), cuja contração deu Oxalá (Òòsàálá), sendo seu
nome chamado no Brasil.“Obàtálá” => deus criador do homem.
Odùdúwà: Orixá de origem dos povos sudaneses (nagô), ora masculino, ora feminino. Irmão de “Obàtálá”
=> Òòsàálá (Oxalá), esposa deste, simbolizando a “mãe terra” e Obàtálá o “céu”. Esta união é simbolizada por
dois objetos formando uma bola (o Universo) que contém a vida e deve constar, dentro de um “Ilé”, e que traz
prosperidade ao mesmo, sendo um “eró”, sendo proibido sua divulgação, só pode dar-se aquém têm àse (axé).
Mito:Como irmão de Obàtálá, Odùdúwà, segundo os mitos, criou o mundo no lugar de seu irmão que
dormia, em vez de cumprir a tarefa que lhe dera Olórun, embriagado pelo demasiado vinho de palmeira que
bebera (razão pela qual esse vinho de palmeira, bem como, o óleo de dendê é proibido aos filhos de Obàtála /
Òòsàála / Oxalá).
Odùdúwà, ascendente dos povos Nagô, por seu filho “Òron Yòn” (pronunciando-se no Brasil
como: Oranhiã) => deus progenitor dos povos Nagô (Nações Sudaneses Africanas). Seu nome verdadeiro
era “Odé-dé” (caçador-chegado), dá longa vida, e aos anciãos honoráveis (africanos) que possuem um desses
(símbolos) em sua casa (Ilé) abrem-na quando desejam morrer. É bom que se diga, no Brasil, de modo geral nã
é cultuado, ou seja, não existe culto e muito pouco lembrada. Porque, seu culto sempre se constitui, baseados,
em grandes segredos africanos. Conhecemos alguns, mas nem todos! Por exemplo: Na Nação de Òyó (Pelotas –
RS., e arredores) usa-se ou usava-se como Orixá de frente. Empregando-se o “awo eró” (segredos
secretos). Odùdúwà => odù = cabaça para o àgbo + du = jorrou + wà = existe (cabaça [porongo] de onde jorrou
a vida).Tendo sua atribuição como: Criador, distribuidor da justiça, neste Mundo.
Observação: Após está explanação ou de ter elucidado, os Orixás acima, com certeza, terá a preferência,
homossexualismo, isto será lamentável. Desejo deixar claro, que não existe e nem deve existir comparações com
os mitos de Orixás à personalidade ou escolha sexual de cada ser humano.
Os aspectos predominantes nos Cultos/Rituais Africanistas são leitura de “búzios”; linguagem específica
de uso junto às “divindades” e de costumes africanos ou de africanistas (Brasil). Outros rituais, e de facções
umbandistas/quimbandistas, bem como, madames que colocam cartas, todos são embuste à leitura de
“búzios”, assim como, até africanistas pára-quedistas de cidade em cidade ou tenda em tenda à cata de clientes.
Os africanistas só podem ler seus búzios em seu Ilé (Casa) e perante aos seus Orixás, caso contrário, é duvidoso
ou logro, também são chamados de embusteiros.
Como também, são predominante e belo, as oferendas de frutas; flores; comidas de origem africanas e o
respeitoso voto de sacralização de animais aos Orixás, sendo uma obrigação milenar, oriundo primitivo africano
Vestuário de acordo com os Orixás (ornamentos, guias, cores, etc…), altar das Divindades; cerimônias públicas
para diversos fins, inclusive para apresentação dos futuros seguidores; diversos instrumentos musicais
primitivos e específicos.
Os Orixás, nos rituais e cultos africanistas, têm como predominante o seu grande repositório, dominando mar;
céu; terra; cachoeiras; rios e o homem, bem como, todas as forças cósmicas do Universo. Têm suas preferências
pela natureza, roupagem simples, cor, flores, grutas, nascentes, animais, dias, instrumentos de guerra e musicais
melodias e ritmos.
Em suas “lendas”, há tipos que se apresentam como figuras com características humanas como, por
exemplo: Oyá; Yémonja; Òsún; Nanã; Ògún; Songó e Òòsàálá, significando, respectivamente, a mulher
lutadora, a dona das águas do mar, a dos rios e cachoeiras, a mais velha, o guerreiro, como sendo o ministro da
guerra, o julgador, justiceiro e também guerreiro e por fim o sábio experimentado.
Feitura – para não deixar dúvidas para muitas pessoas, com relação à feitura de Orixás pessoal. As pessoas, em
sua maioria, só têm dois Orixás; mas, há possibilidade de até três, a fim de equilibrar a personalidade e a
individualidade, caso contrário é piada! Ou, outros interesses, como financeiros etc…
O Orixá de cabeça (Olórí) e o de frente / corpo (Eléèdá ou Eléèmí => Orixá protetor pessoal). Mas não
muito fácil compreender, devemos ir analisando vários fatores, após um estudo mais apurado e de confirmações
com outros Feitores, dá-se melhores informações sobre os Orixás de cada um (pessoal).
“Umbanda”
Pode-se dizer, hoje, como sendo, uma das religiões dos brasileiros. Tomando o significado geral da religiã
dos negros do Rio de Janeiro e também como em outros Estados do País.
É a religião, dos cultos de ancestrais (Egúns com luz), de caboclos, boiadeiros, pretos – velhos, certas falanges
de ciganos, marinheiros e crianças, bem como, de escravos e subordinados aos demais, já citados, são os exus e
também a exu fêmea (pomba-gira), destes nascendo a “quimbanda”, sendo esta, um dos caminhos, para tão
chamada de “Magia-Negra brasileira”. É bom ressaltar, que este culto e ritual de quimbanda, nada tem haver
com as doutrinas de cultos/rituais praticados pelos africanistas ou como chamados por muitos de afro-brasileiro
Uma das diferenças existente e básica entre a Umbanda e com as demais, religiões de matriz africana, encontra-
se (diferença) na doutrina de uma e de outra, bem como, também na concepção sacral e na explicação da
experiência de mediunidade. A Umbanda, não deixa de ser um culto como os africanos intitulam,
para Bàbá Eégún (Egúns com luz => Guias [caboclos; pretos velhos, etc…]). Já na tradição africana, é o Orixá
(Òrìsà) que toma o corpo dos filhos de Orixás (omoòrìsàs); ao passo que, a Umbanda, é o espírito desencarnado
de um ancestral ou antepassado que se manifesta no médium. Possuindo um linguajar bem diferente e
misturando várias línguas, ou seja, falam através da matéria do médium. Ao passo que, em alguns rituais de
origens africanos, principalmente, no Candomblé, o Orixá “não fala e nem canta, mas sussurra e grita”; porque,
não existe no Candomblé (de forma geral) uma doutrina, assim como, de ensinamento do linguajar (idiomas)
africano aos seus sacerdotes, e extensivo aos adeptos religiosos.
É bom, esclarecer, que no “Batukàjé” (batuque – RS.), em seu início, havia uma doutrina do linguajar africano,
tanto de Nagô, Anago e Bantu e, com o tempo foi se perdendo e agravou-se na década de 60, pela discriminaçã
racial nos USA. Isto, vindo a repercutir nos afro-descendentes, da época e até os dias de hoje, no Rio Grande do
Sul e, os mesmos, passaram obliterar o linguajar africano em troca da língua oficial do País, em suas
comunicações diárias; mas, ainda existe, pouco é verdade, não com a mesma intensidade do passado, nos
cultos/rituais religioso. O linguajar africano, que aos poucos, estamos resgatando, principalmente, o idioma
yorùbá.
A Umbanda tradicional ou de antigamente baseava-se nos ensinamentos dos orixás, dos guias e protetores, cuja
essência era fornada pelo ABCDEF, como sendo a sigla representativa
de amor; bondade; caridade; desprendimento; evolução e fé, tanto que seus rituais e trabalhos sérios não
tiravam o caráter benevolente para com as pessoas.
Hoje, como a Umbanda cruzada ou também chamada de popular, e com o desenvolvimento de Quimbanda em
nosso País, devido, as facilidades e influência de drogas e vícios existentes, a mesma, vem soterrando a própria
Umbanda e demais religiões de matriz africanas em nosso País, na conquista de novos adeptos religiosos.
A base dos aspectos predominantes de Umbanda tradicional em no País, são rituais de várias origens; roupas
simples e brancas; imagens de santos católicos; pretos-velhos; caboclos e índios; desenvolvimento de doutrinas
umbandistas ao médium, através de freqüência permanente e de acordo com sua capacidade mental e espiritual,
atinge graus ascendentes; com o auxílio dos palmeados e de instrumentos simples e rústicos. Cultuando às
vezes, alguns orixás de origem africana e instrumentos como tambores e outros, sendo esta, chamada de popula
ou cruzada.
O nome de Umbanda de Linha Branca é dado quando somente há magia branca, ou seja, elevação espiritual e
mediúnica, não se utilizando a Linha da Esquerda (Preta) que trabalha com exus, praticando o mal, praticados
por pessoas nódoas e sem escrúpulos e sendo escroques. Notificando, que vem nulificando a sublime, Umbanda
tradicional. Desejo notificar; que ambas não têm nexo aos Cultos/Rituais Africanistas. Que a sociedade
brasileira realiza sua judicatura envolvendo todas em uma só religião.
É de bom alvitre dizer que a Umbanda tradicional trabalha para a evolução espiritual; mental e mediúnica dos
vivos. No século XXI, existe a necessidades de elucidar e de externar ao ser humano as facções de escroques
existentes em nosso meio, confundindo o leigo. Em breve, a tendência é de unir as facções religiosas que
trabalham para o bem e a evolução do homem.Temos que buscar na formação intelectual de cada pessoa e suas
aptidões, sendo importante, para feitura de futuros sacerdotes. Já que a Umbanda não é um culto, mas sim uma
religião popular. Caso contrário, será um niilismo para as religiões populares neste País.
A principal finalidade de Umbanda seria o serviço aos espíritos humanos “encarnados ou desencarnados”, seja
por meio da doutrinação ou do auxílio espiritual, se destacando nas dificuldades materiais e morais, alívio ou
cura de doenças.
“O SINCRETISMO”
Com a dificuldade dos africanos cultuarem seus costumes religiosos na nova Terra, optaram por fazer uma
aproximação dos santos católicos aos Orixás, por eles, cultuados na África-Negra. Tornando-se assim, mais
compreensível os usos e costumes dos escravos pelos seus patrões e representantes da Igreja Católica; mas,
mesmo assim, com a perseguição e discriminação de muitos.
Assim, os escravos, embora “convertidos” ao catolicismo (cristianismo), continuavam a praticar seus rituais,
com muitas restrições, em idiomas de origens de sua Nação – África-Negra.
É bom que se diga; as relações que os escravos faziam entre o Orixá e o Santo Católico eram interessantes e
com muita esperteza, como por exemplo: Entre muitas, as comparações feitas, entre Ògún e São Jorge; Xapanã
Sakpatá e São Lazaro / São Roque; sendo este Orixá, o deus da varíola e, o santo tem o corpo coberto de feridas
Observação: Na verdade, o sincretismo nos leva apenas a comparações, havendo na conversão dos negros-
escravos-africanos e seguido até pouco tempo por alguns afro-descentes ao catolicismo uma grande ilusão de
catequese. Hoje, lutamos para desfazer esse sincretismo; mas, o leigo insiste em mantê-lo! O sincretismo,
criado na época como fuga ou disfarce, para o negro-africano poder cultuar seus rituais religiosos de origem.
Hoje, não existe mais a necessidade, embora, ainda exista a discriminação religiosa neste País, principalmente,
em um Estado como nem o Rio Grande do Sul, sendo colonizado, em sua maioria por povos de origens
européias.
As religiões de matriz africana tiveram no Brasil, em seu princípio e até os dias de hoje, existindo perseguições
e discriminações, embora, tenha um vasto campo de proliferação e sendo muito fácil, e como ainda sendo
utilizado, por muitos, do sincretismo permanente. Embora, não exista mais essa necessidade. Assim, iremos
encontrar no País:
Candomblé = Nome falso das origens dos negros-africanos, sendo de origem espanhola (Argentina / Uruguai).
Se fosse o nome africano, seria então “kandombe” do idioma Bantu, dialeto Kimbundo => (costume dos pretos
dança sem fins religiosos na África-Negra. A prova do que o sincretismo está no próprio “Candomblé”, é só
notarmos as “Confrarias religiosas na Bahia”. Aos leigos ou desinformados, o Candomblé se diz o núncio das
verdadeiras religiões de matriz africana, estão nefando.
Bàbásuê = No Pará e Piauí, tendo fluência da Casa Grande das Minas (Jèje).
Tambor = Chamado de Tambor de Mina ou de Nagô. Culto de ritual “daomeano” principalmente no Estado do
Maranhão.
Xangô = Nome usado por leigos para designar os cultos de matriz africana em Recife e nas Alagoas.
Catimbó = Nome dos Cultos relacionado à pajelança, com várias procedências. Muito comum no Nordeste
Brasileiro.
Batukàjé = Nome original do idioma Bantu, dialeto Kimbundo. Passando a chamar-se; genericamente, ou de
forma geral de “Batuque” no Estado do Rio Grande do Sul. Sendo este o Estado, um dos últimos a introduzir os
serviços de escravos negros. E, em princípio, a maioria de escravos-negros de origem, de povos, sudaneses e
depois os póstero escravos-negros, os de origem de povos Bantu, os quais, deram o nome dos Cultos e Rituais
Religiosos de Matriz Africana no Rio Grande do Sul. Possuindo hoje, em nosso País, os rituais mais
semelhantes e tradicionais existentes da África-Mãe. Mas, também existe, entre muitos, Africanistas o
sincretismo, devido, há várias influências, perseguições e discriminações.
Por fim, devo elucidar para todos, que as Religiões de Matriz Africanas, de modo geral, encontram-se muito
modificadas de seu princípio em nosso País, sofrendo grandes alterações no seu “Fundamento” e
principalmente, em seus Cultos/Rituais a passo largo. Devido, a má preparação, hoje, dos futuros Bàbálóòrìsàs
Iyálóòrìsàs está comprometendo a continuação dos usos e costumes das tradicionais Religiões de Matriz
Africana, sendo que as pessoas menos avisadas passam a adotar as deturpações através da persuasão dos
sofisticados “Feitores de Orixás” que não têm qualquer preparo, negaceando e nocivo ao “Fundamento” e dos
Rituais de Matriz Africana; aplicando um neologismo e niilismo do “Fundamento e Rituais”, fazendo de seus
adeptos os néscios das Religiões de Origem Africana, visando sim, dos mesmos, somente o lado financeiro. O
que acaba prejudicando as demais manifestações nobres e religiosas existentes em nossa Comunidade, Estado e
País. Pois, a luta para neutralizar os falsos feitores é grande; mas, o leigo ignora esse fato. Cuidado! Com aquel
ou aqueles que realizam vários rituais!!! Será que ele ou eles sabem realizarem um ritual por inteiro!? Cuidado,
você poderá ser cobaia dos feitores escroques!
“ESCLARECIMENTO”
“Nagô”
Devemos iluminar há todos; que a palavra “Nagô” não significa uma Nação ou Reino Africano, e sim, sendo
uma denominação dada pelos “franceses” aos povos africanos sudaneses que compreende as Nações: de Òyó; d
Ijèsà; e de Kétu, todas elas de “Idiomas Yorùbá” que pertence aos grupos “Kwa ou Nígerokameruniano” de
Línguas Africanas Sudanesas. Que também compreende vários sub-grupos e dialetos, entre os quais o “Egbá” –
que inclui a Nações de Kétu e Ijèsà. Portanto, “Nagô” quer dizer; várias Nações Sudanesas Africanas, entre as
quais, existem seus costumes e rituais religiosos.
Devido, aos “empórios de escravos no Brasil” e a misturas de crenças, costumes e práticas religiosas destes
povos sudaneses africanos, chamados de negros Yorùbás. Também, deu-se, o mesmo, nome no Brasil, como
nem os franceses, de “Nagô”. A religião que trouxeram estava poderosamente plantada na sua Terra Natal,
servindo de modelo para outras Nações Africanas, onde nasceu o termo de “Anago”, formando-se com o Nagô
mais as religiões das áreas vizinhas, e mais particurlarmente entre os povos “Ewes” (Evoes), conhecidos no
Brasil como povo Jèje, os mesmos, são vizinhos dos Nagôs na África. Têm as mesmas divindades, mas com
nomes diferentes, que conservam em oclusão. Uma das principais característica das “Casas de Cultos (Jèje) é a
presença de “Dã”, serpente não venenosa, companheira de todos os voduns (divindades). Já na África, como a
religião andava de mãos dadas com o poder civil, também a realeza, nos territórios de leste e a oeste, seguia os
padrões “Nagôs”, com seus “reis” pagando tributo, real ou simbólico ao soberano Reino de Òyó. Sendo a Naçã
de Òyó, a principal Nação Sudanesa Africana (Nagô), tanto na África como no Brasil, devido, o “Fundamento e
seus Rituais religiosos” em todos eles, existindo a lógica entre o Fundamento e os Rituais, por eles praticados.
“Anago”
Como já citei acima como se formou o “Anago” na África. Aqui no Brasil, damos, o mesmo, exemplo no início
das Nações Religiosas Africanistas do Rio Grande do Sul e, em outros Estados do País. A princípio, no Rio
Grande do Sul eram a maioria, hoje, já predominando os de Nações de Bantu (por exemplo: Kabinda). Devido,
facilidade nas feituras de adeptos, dando-se aproliferação desta Nação em nosso Estado.
O “Anago”, é bom sempre esclarecer, que são as Nações Sudanesas (de Òyó; Ijèsà; Kétu) e mais a Nação
de Ewe (Evoes), dita de Nação Jèje; o “Anago” também chamado no Brasil de “Nagô-Vodú” ou “Nagô –
Jèje” => formou-se com a únião do povo Nagô com Ewe (evoe) Língua da África Ocidental, falada em parte d
região da antiga Costa do Ouro (atual Gana), Rio Volta, Togo e Daomei (atual República Popular do Benin).
Tem vários grupos dialetais e dialetos, como Ewe propriamente dito, “Fon” (Jèje do Dahomey); “Mina” (anexo
Popo, etc…); “Anlo”; “Inland”; “Fantis”; “Esantis”; “Camarões”; “Gabões”; habitantes da “Costa”, “Hauças”;
“Maometanos”, etc…
Devemos ressaltar, para fins de “religião” – “Fundamento e Rituais”- e para formar-se o “Anago” pode ser uma
só ou mais Nações Sudanesas acresentando-se mais a Nação de Jèje.
Ewe (Evoes) =>língua que pertence ao Grupo Kwa, foi falada juntamente com a Língua Yorùbá, no Brasil,
pelos escravos vindos dessas regiões, especialmente os Dahomey => que tiveram o nome geral de Jèje. Embora
tivessem sido muito influenciados pelos povos Nagô, deixaram algumas palavras, bem como, alguns rituais nos
cultos religiosos e também certos dialetos ainda são falados por um ou por outro, em certas Nações de origem
Jèje que exitem no Brasil, mas com a predominancia do Nagô (Yorùbá). É bom que se diga:
Entre os demais, os Nagôs sempre exerceram, do ponto-de-vista religioso, uma grande e inconstestada
supremácia, devido, ao grande Reinado de Òyó na África, com relação a toda cultura religiosa africana,
inclusive sobre aos povos Bantus, menos cultos aos costumes religiosos na África.
“Bantu”
É um Grupo ligüístico, chamado no Brasil de povos “Banto”, compreendendo milhões de africanos, com
inúmeras línguas e quase 300 dialetos, possuindo aproximadamente 2/3 da África Negra.
A população escrava, vinda para o Brasil, era formada quase que totalmente dos negros de origem “Bantu”, e
principalmente, os negros de “Angola” e “Congo”. Os escravos aqui chamados de: Banquelas ou Bangalas;
Rebolos; Munjolos ou Monjolos; Makuas; Musikongos; Moçambiques; Kabinda, está última se destacando no
Sul do País, (onde, juntamente com a Nação de Òyó, vinda em primeiro lugar ao Estado – RS.). Mas, eram
poucos escravos, os procedentes das colônias portuguêsas de Moçambiques e da Guiné, vindos para o Brasil.
No momento da chegada dos “Nagôs”, um século e meio, já de escravidão no Brasil, os negros escravos
existentes de origem Bantu, já haviam sido desafricanizados e apagando os seus costumes, as suas crenças
religiosas, as suas línguas nacionais. A maioria dos escravos Bantus no Brasil, esse Grupo, e cujas línguas,
Kimbundo e Kikongo, entre outras, são as que mais termos deixaram em nossa linguagem religiosa atual.
Quanto aos costumes religiosos, associaram-se ou mesclaram-se com as demais, principalmente, no Rio Grande
do Sul. O importante foi o nome dado pelo povo Bantu aos Cultos Religiosos do Rio Grande do Sul => do
Batukàjé, que no passar dos tempos, originou o nome popular de Batuque dos gaúchos.
Como também devemos elucidar, pelos estudos até hoje realizados. Na África, os povos Bantus, houve tempo
em que os de Nação de Angola (do Congo ou Kongo, Kabindas e Banguelas, inclusive) jamais passaram do
nível de gênios ou demiurgos; a colonização portuguesa interrompeu o processo natural de codificação de
crenças e práticas e, portanto, do surgimento de ordens sacerdotais; seminômades em grande parte, os negros de
Nação de Angola e outras de povos Bantus, teriam os seus lugares de oração, mas não em templos. Tudo isto, o
esperava, porém, no Brasil, graças aos Nagôs e Anagos. Tendo aceito a nova religião, como o fez toda a massa
escrava, Kabindas, Banguelas, Rebolos e outros, reinterpretarem o modelo recebido pelos Nagôs e Anagos,
fazendo aproximações entre as suas “divindades (do povo Bantus)” e as dos Nagôs e Anagos, adaptando aos
seus costumes o ritual (muito rígido e mesmo hierático entre os Nagôs / Anagos, mais livre entre os povos
Bantus).
É de bom alvitre dizer: Os três tipos de Religiões de Matriz Africanas realizadas em nosso País, ligam-se, em
geral, entre si, elementos socialmente acomodados de emprego, de situação familiar estável, capazes de
satisfazer as “Obrigações Religiosas” individuais e de acorrer às necessidades sociais das “Casas de Cultos
Religiosos de Origem Africanas”.
Neste texto apresento alguns tópicos relativos às religiões afro-brasileiras do Rio Grande do Sul (RS) que
contemplam ao mesmo tempo uma visão histórica e atual, com ênfase nas suas características que mais se
destacam na atualidade.
Inicio com dados historiográficos sobre o ingresso do negro escravo no RS e sobre a estruturação do Batuque.
Discorro então sobre os distintos “lados” desta religião ao mesmo tempo em que aponto alguns aspectos
históricos e especificidades da Umbanda e da Linha Cruzada neste estado. Em seguida, me atenho a um
personagem legendário do campo afro-gaúcho, um príncipe africano que residiu neste estado a partir de 1899 e
aqui faleceu em 1935. Na seqüência, discorro sobre três importantes características atuais do campo religioso
afro-gaúcho, a saber: a presença de “brancos” nas religiões de matriz africana; a transnacionalização do batuque
e demais religiões afro-brasileiras para os países do Prata; e a aproximação dessas religiões no campo político
estadual e municipal, sem, porém, ocorrer o ingresso efetivo na esfera política, como fazem, por exemplo, os
evangélicos.
Os negros africanos e seus descendentes participaram diretamente do desenvolvimento econômico dos dois
primeiros séculos da história do Rio Grande do Sul. Segundo Beatriz Loner, “praticamente não houve profissão
manual que não tivesse representantes dessa etnia em seu desempenho, tanto no período imperial quanto na
República” (Loner, 1999:9). O mesmo, como se sabe, ocorreu nas demais capitanias e províncias do Brasil
onde, como diz Prandi, os escravos africanos “foram sendo introduzidos […] num fluxo que corresponde ponto
por ponto à própria história da economia brasileira” (Prandi, 2000:52). 1
O marco inaugurador do Rio Grande do Sul é a fundação do Forte de Jesus, Maria e José, na Barra de Rio
Grande, no ano de 1737, pelo brigadeiro José da Silva Paes, em cuja tropa, formada por 260 homens, havia
escravos e negros libertos.
A historiografia do Rio Grande do Sul ainda se debate em torno da questão de saber a procedência do negro
escravo trazido para este estado. Há, no entanto, algum consenso de que essa população se dividia entre negros
“crioulos”, ou seja, indivíduos nascidos no Brasil e para aqui transferidos, “ladinos”, isto é, indivíduos que já
haviam trabalhado em outras regiões do país, e africanos, aqui chegados após terem passado por algumas
regiões brasileiras, entre elas, Bahia, Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina, e mesmo africanos que chegaram
ao Rio Grande do Sul provenientes da Argentina e do Uruguai. A título de exemplo, um levantamento realizado
junto aos Inventários da Freguesia de Pelotas, no período compreendido entre 1850 e 1880, mostrou que num
universo de 1.604 escravos, 460 eram crioulos, 556 indeterminados e 590 africanos (Assumpção, 1990). Estes
últimos, por sua vez, dividiam-se em diferentes nações ou grupos tribais. Por exemplo, por ocasião das
comemorações da Abolição, desfilaram em Pelotas os “Filhos de Angola, Mina, Benguela, Erubé, Congo e
Cabinda…” (Jornal Echo do Sul, 10/6/1888 apud Loner, 1999:8).2Seja como for, no Rio Grande do Sul “os
banto vieram em número muito superior aos sudaneses” (Correa, 1998a:66).
A introdução do escravo no RS ocorreu a partir da primeira metade do século XVIII. Trabalhavam na
agricultura, nas estâncias e, sobretudo a partir de 1780, na produção do charque, na região de Pelotas. Segundo
Correa, os negros compunham cerca de 30% da população da Província em 1780, e 40% do total em 1814.
Nesta data, os negros perfazem cerca de 51% da população de Piratini e 60% de Pelotas (ibidem:65-66). Porém
com o início da chegada dos colonos alemães em 1824 e dos italianos em 1875, verifica-se um aumento da
população branca e uma redução na porcentagem da população negra em território gaúcho.
A produção das charqueadas — executadas pelo trabalho braçal escravo em condições bastante desfavoráveis
em razão das condições climáticas, precariedade de infra-estrutura e exigências severas ditadas pelo próprio
regime escravocrata — foi de tal monta que em 1861 o charque contribuía com 37,7% do total do que o RS
exportava e os couros com 37,2% do total, juntos somando 74,9% do total da produção gaúcha para fora da
Província (Assumpção, 1990). A relação entre o trabalho forçado dos negros e o desenvolvimento das
charqueadas era tal que na medida em que se aproximava a Abolição também diminuiu o número de
charqueadas. Assim, referindo-se a Pelotas, Loner lembra que “de um total de 34 charqueadas existentes em
1878 na cidade, elas reduziram-se a apenas 21 às vésperas da Abolição e a 18, dois anos depois” (Loner,
2001:7), ocasionando a diminuição do charque que servia de alimento dos escravos do sudeste e desta forma
acarretando problemas no mercado de consumo deste produto.
A estruturação do batuque no Rio Grande do Sul constitui outro tema que aguarda um aprofundamento
investigativo. Tudo indica que os primeiros terreiros foram fundados justamente na região de Rio Grande e
Pelotas. Para o historiador Marco Antônio Lirio de Mello — que fez uma ampla pesquisa nos jornais de Pelotas
e Rio Grande do século XIX — a presença do batuque é atestada nesta região desde o início do século XIX
(Mello, 1995). Também Correa situa o período inicial do batuque nesta região entre os anos de 1833 e 1859
(Correa, 1988a:69). Se assim for, permanece a dúvida de se saber se a estruturação do batuque ocorreu
posteriormente ou paralelamente à estruturação do candomblé, uma vez que o primeiro terreiro de candomblé
teria surgido na Bahia no ano de 1830 (Jensen, 2001:2). Aliás, a mesma dúvida M. Herskovits havia levantado
em 1942, por ocasião de uma “rápida viagem” pelo Rio Grande do Sul (Herskovits, 1948). 3
No entanto, a partir das décadas de 70 e 80 do mesmo século, os jornais dessa região apresentam, com alguma
regularidade, em suas páginas policiais, matérias sobre cultos de matriz africana. De fato, nos jornais Correio
Mercantil e Jornal do Comércio, de Pelotas, bem como no jornal Gazeta Mercantil de Rio Grande, pode-se ler
notícias, infelizmente as mais recorrentes sendo de prisão de “feiticeiros” e “feiticeiras”, como esta:
Foram presas à ordem da delegacia, duas pretas feiticeiras que atraíam grande ajuntamento de seus adeptos.
Na ocasião de serem presas, encontrou-se-lhes um santo e uma vela, instrumento de seus trabalhos […]“.
(Jornal do Comércio, Pelotas, 9/4/1878, p. 2 apud Mello, 1995:26)
Quanto ao mito fundador do batuque, há duas versões correntes: uma que afirma ter sido o mesmo trazido para
esta região por uma escrava, vinda diretamente de Recife; e outra que não associa a um personagem, mas às
etnias africanas que o estruturaram enquanto espaço de resistência simbólica à escravidão.
Em Porto Alegre, a partir da segunda metade do século XIX, o maior contingente de negros se encontrava nas
cercanias da cidade, no Areal da Baronesa, na cidade baixa, imediações da atual Rua Lima e Silva,5 e nas
chamadas Colônia Africana e “Bacia”, atuais bairros Bonfim, Mont Serrat e Rio Branco.6 Estas últimas
tratavam-se, em sua origem (“em torno da época da abolição”), de uma “zona insalubre, localizada nas bordas
de chácaras e propriedades que ali existiam, de baixa valorização e de pouco interesse imediato para seus donos
que foi sendo ocupada por escravos recém-emancipados” (Kersting, 1998:111). 7
Kersting mostra como, sobre essas áreas, foram criadas representações que as associavam a criminalidade,
vícios, perigo, e seus habitantes tidos como membros de “classes perigosas”. Por isto mesmo, essas áreas foram
deixadas a um relativo isolamento por parte das autoridades públicas e, ao longo das décadas do século passado
foram dissolvidas mediante um processo de “higienização urbana“. 8 Evidentemente que por trás desta atitude
existiam interesses imobiliários de ocupação dessas áreas da cidade para “modernizá-las”, o que começou a
ocorrer ainda nas primeiras décadas do século XX, com o processo de branqueamento da população,
simultaneamente à abertura de ruas e de construções em padrões arquitetônicos não populares. Por exemplo,
parte da Colônia Africana começa a receber iluminação elétrica em 1911, algumas ruas são asfaltadas em 1912
neste momento prevê-se também a construção de uma rede de esgotos. Reitero que esse processo de urbanizaçã
consiste fundamentalmente na descaracterização como área essencialmente negra “até se transformar em
bairro saneado que se vê em 1922″ (ibidem:195). Este autor informa que a maioria dos não-negros que fixam
residência na ex-Colônia Africana são judeus, enquanto os negros são expulsos para áreas mais periféricas e
ainda desabitadas, como o bairro Mont Serrat, destino primeiro dos exilados da Colônia Africana e onde
algumas famílias conseguiram estabelecer moradia até os dias de hoje.9
Simultaneamente a esse processo de modernização, justamente em 1912 a Colônia Africana passa a ser um
bairro chamado Rio Branco. Embora seja uma homenagem ao Barão do Rio Branco, não deixa de ser irônico
que um território anteriormente denominado Colônia Africana, em razão da presença maciça de negros, seja
chamado de Rio Branco, caracterizando o predomínio de não-negros nesta área.
Há relatos da prática de cultos afro-brasileiros em todos os territórios negros referidos. Relativamente à Colônia
Africana, por exemplo, o primeiro sacerdote da igreja de Nossa Senhora da Piedade, concluída e inaugurada
nesta área em 1913, cônego Matias Wagner, “aponta para a presença desses cultos e para o fraco número de
católicos realmente fiéis” (ibidem:184). Assim, em seu livro “Paróquia de N. S. da Piedade de Porto
Alegre:1916-1958″, o referido cônego escreve: “Encontrei certa vez um homem que, dizendo-se muito católico
apostólico e romano, era também dono e Pai Santo de uma casa de batuque…” (apud Kersting, idem:186). O
mesmo cônego refere também que foi alvo de despachos de “parte daquela gente de Umbanda”. Aliás, o pároco
se refere às religiões afro-brasileiras pelos nomes de batuque, umbanda e espiritismo e, mais genericamente,
pelos termos etnocêntricos e preconceituosos de crendices, superstições e feitiçarias.
No contexto das lacunas históricas sobre as religiões afro-brasileiras no Rio Grande do Sul figuram também
dados estatísticos sobre os terreiros deste estado. Dispomos unicamente de informações parciais sobre o número
de terreiros de batuque para Porto Alegre, durante 20 anos, de 1937 a 1952, apresentados por Carlos Krebs
(1988:16).
Tais dados constam das estatísticas oficiais do Rio Grande do Sul, tendo o censo sobre a religião sido
abandonado em 1952. Malgrado sua precariedade, pode-se perceber um crescimento quase que anual do númer
de terreiros em Porto Alegre, fato este que continua, segundo dirigentes de federações, até os dias de hoje, onde
existem, no seu conjunto, cerca de dois mil terreiros na capital gaúcha.
O Batuque
Batuque é um termo genérico aplicado aos ritmos produzidos à base da percussão por freqüentadores de cultos
cujos elementos mitológicos, axiológicos, lingüísticos e ritualísticos são de origem africana. O batuque é uma
religião que cultua doze orixás10 e divide-se em “lados” ou “nações”, tendo sido, historicamente, as mais
importantes as seguintes: Oyó, tida como a mais antiga do estado, mas tendo hoje aqui poucos representantes e
divulgadores; Jeje, cujo maior divulgador no Rio Grande do Sul foi o Príncipe Custódio, sobre o qual falaremos
mais abaixo; Ijexá, Cabinda e Nagô, são outras nações de destaque neste estado. Nota-se que o Keto esteve
historicamente ausente no RS, vindo somente nos últimos anos a se integrar por meio do candomblé.
Vejamos alguns dados disponíveis sobre as mencionadas nações neste estado:
OYÓ. Segundo a tradição local, esta nação chegou a Porto Alegre vindo da cidade de Rio Grande. Foi cultuada
no Areal da Baronesa e dali no Mont Serrat onde se situaram as principais casas deste culto.
M. Herskovits e R. Bastide, por ocasião de suas estadas em Porto Alegre, o primeiro em julho de 1942 e o
segundo em 1944, referem-se carinhosamente à Mãe Andrezza Ferreira da Silva, da nação Oyó que, segundo
Bastide, “formara-se com um velho babalorixá que ainda tinha à sua volta alguns africanos nativos” (Bastide,
1959:238). Segundo Carlos Krebs, Mãe Andrezza teria vivido de 1882 a 1951 (Krebs, 1988).
Hoje, como disse acima, trata-se de um culto praticamente em extinção, restando algumas poucas casas no
estado. Segundo Pernambuco Nogueira,
[…] o último nome da antiguidade da nação Oyó que conhecemos foi Tim do Ogum, já falecido, e que foi o
iniciador da Delsa do Ogum, casa ainda em atividade. Além deste vamos encontrar o Antoninho da Oxum e su
filha-de-santo a Moça da Oxum (Lídia Gonçalves da Rocha), como nomes de projeção. Distinguiu-se entre os
praticantes do Oyó a figura de Fábio da Oxum quer pela beleza e suavidade do orixá que recebia, quer pelo
fato de ter sido um dos raros pais-de-santo que não vivia da Religião (Nogueira, 2001b).
As especificidades da nação Oyó residiam, sobretudo, na ordem das rezas, uma vez que chamavam primeiro os
orixás masculinos e a seguir os femininos, encerrando-se com as de Yansã (Oiá), Xangô e finalmente Oxalá, o
destaque para os dois orixás resultando do fato de serem o Rei e a Rainha de Oyó. Também era próprio da naçã
Oyó os orixás conduzirem em suas bocas, ao término das obrigações, as cabeças dos animais oferecidos em
sacrifício já em estado de decomposição; finalmente, segundo os mais antigos, no Oyó os ocutás eram
enterrados, em vez de colocados em prateleiras (ibidem).
IJEXÁ. Trata-se da nação predominante hoje no estado. Os deuses invocados são os orixás e a língua
ritualística é o iorubá. Renomados babalorixás históricos (já falecidos) como Manoelzinho do Xapanã e Tati do
Bará, ambos iniciados na Cabinda, passaram mais tarde para o Jeje e seus descendentes ingressaram todos no
Ijexá, dizendo-se então Jeje-Ijexá.
Segundo um depoimento colhido por Norton Correa junto ao já falecido tamboreiro Donga de Yemanjá, o Ijexá
predominava nas regiões negras de Porto Alegre como o Mont Serrat e Colônia Africana (Correa, 1998a:76).
Vale aqui registrar que a origem do termo “jeje” é bastante problemática. Lorand Matory, por exemplo, sintetiz
uma série de autores que tentam esclarecer o “mistério” em torno deste conceito e propõe a hipótese de que se
trata de uma construção transatlântica, ou seja, um nome aplicado pelos comerciantes e donos de escravos —
alguns retornados, em suas idas e vindas entre Brasil, Cuba e Golfo da Guiné — “a todos os africanos que eles
consideraram seus parentes, apesar de ser pouco provável que esses ‘parentes’ assim se identificassem
inicialmente” (Matory, 1999:64).
CABINDA. Trata-se de uma nação Banto, originalmente de fala Kimbundo. O cemitério é o início da nação
religiosa de Cabinda, diz um pai-de-santo e estudioso do batuque. Segundo ele,
[…] o culto aos Eguns nesta Nação é tão forte que dificilmente se encontrará uma casa-de-religião sem que
tenha o devido assentamento de Balé (culto aos egunguns), ou Igbalé (casa dos mortos). (Ferreira, 1994:59)
Já para o babalorixá Pernambuco Nogueira, nos rituais de Cabinda que freqüentou no Rio Grande do Sul
“jamais ouvimos falar de Inkices. O que sempre foi cultuado foi o Orixá iorubano” (Nogueira, 2001b).
Segundo consta, este culto foi trazido para o Rio Grande do Sul por um africano conhecido por Gululu, de cujas
mãos saiu a figura mais marcante do culto Cabinda no Rio Grande do Sul: Waldemar Antônio dos Santos, do
Xangô Kamucá. Dele descenderam as famosas Mãe Maria Madalena Aurélio da Silva, de Oxum Epandá
Demun, que iniciou Romário Almeida, do Oxalá, e Henrique Cassemiro Rocha Fraga, de Oxum Epandá Bomi,
todos falecidos, e Mãe Palmira Torres dos Santos, de Exum Epandá Olobomi, que iniciou João Cleon Melo
Fonseca, do Oxalá, que é tido hoje como o mais importante herdeiro da tradição Cabinda do estado, embora,
como diz Pernambuco Nogueira, “de sua origem mantém apenas o rótulo: o conteúdo é todo ele Ijexá” (ibidem
NAGÔ. No dizer de Pernambuco Nogueira, […] é uma nação que, tendo sido a origem do Culto no Rio Grande
do Sul, hoje está praticamente extinta, restando pouquíssimas casas” (idem). Há, em Porto Alegre, o terreiro
Nova Era, do pai Jader, que pretende ser a continuação dessa tradição longínqua no estado. Diferentemente dos
demais terreiros, neste, “a chegada dos orixás se faz como no Candomblé (linha por linha, trabalhando e
desincorporando) e a matança é procedida com o animal no chão e não suspenso” (idem).
Ainda segundo Pernambuco Nogueira, “talvez situa-se nesta casa a semente do culto africano plantada pelos
escravos das charqueadas, desde a sua origem em Rio Grande…” (idem).
Ao que consta, não dispomos de informações numéricas sobre a incidência dessas nações no Rio Grande do Su
O historiador Dante de Laytano, em pesquisa realizada sobre o batuque em Porto Alegre, em 1951, observou
que as 71 casas por ele encontradas dividiam-se em 24 de nação Nagô, 21 Jeje, 13 Oyó, 8 Ijexá e 5 “mistos”
(Laytano, s.d.:53). Na atualidade, porém, predomina no batuque do Rio Grande do Sul o lado Ijexá, “quer pela
facilidade do toque como pela ausência de tamboreiros iniciados nos demais Cultos” (Nogueira, 2001b).
Embora haja terreiros que se digam seguidores de outros lados, trata-se, segundo o babalorixá Adalberto
Pernambuco Nogueira, “apenas de rótulos utilizados talvez para marcar a origem dos fundamentos” (idem).11
A Umbanda
A primeira casa de umbanda no Rio Grande do Sul foi também fundada na cidade de Rio Grande, em 1926.
Chamava-se “Reino de São Jorge” e foi fundada pelo ferroviário Otacílio Charão.
Como em todo o Brasil, também no Rio Grande do Sul a umbanda surgiu defendendo padrões e
comportamentos aceitos socialmente. No entanto, não escapou à repressão policial, a tal ponto, informa M.
Caldas — um dos maiores intelectuais da umbanda e do espiritismo no Rio Grande do Sul, hoje falecido — que
nos primeiros tempos o centro de Charão não possuía um endereço fixo, funcionando de forma itinerante (seu
endereço mudava toda semana). Também o próprio espiritismo e o batuque se opuseram à umbanda nascente, o
primeiro desqualificando suas práticas mediúnicas, o segundo não aceitando que seus orixás fossem invocados
sem suas normas rituais, o que denuncia que estava em jogo uma disputa de bens simbólicos (Isaia, 1997:386).
De Rio Grande, a umbanda foi trazida para Porto Alegre, em 1932, pelo capitão da marinha Laudelino de Souza
Gomes, que fundou nesta capital a Congregação Espírita dos Franciscanos de Umbanda, existente até os dias
atuais. Neste caso, é dupla a razão do termo franciscano. Em primeiro lugar, pela sincretização entre São
Francisco de Assis e Lokô (termo yorubá), ou Irokô (termo jeje), ou orixá tempo (Angola), isto é, a árvore
gameleira branca; em segundo lugar, pelo uso que seus membros fazem de uma espécie de bata branca, com
sandália e cordão em torno ao ventre, semelhante ao que consta na iconografia histórica atribuída a São
Francisco.
Pernambuco Nogueira esclarece que tanto Charão quanto Souza Gomes não eram originários do Rio Grande do
Sul e ambos estiveram na África por algum tempo. No entanto, dedicaram-se quase que exclusivamente à
implantação e divulgação da Umbanda (Nogueira, 2001b). Outros importantes personagens divulgadores da
umbanda neste estado foram Norberto de Oliveira, que a introduziu no município de Viamão; Jesina Furtado,
fundadora da casa Mestre Quatro Luas; e Astrogildo de Oliveira, fundador do Templo Rainha Yemanjá
Fraternidade Ubirajara. Segundo Pernambuco Nogueira, esta última casa possuía
[…] a peculiaridade de ter construído, nos fundos, uma miniatura de todos os reinos em que se efetuavam os
rituais, inclusive uma calunga pequena (cemitério) para ali realizar os trabalhos sem sair do local do Templo,
preocupado com as deturpações já então existentes. (ibidem)
Uma particularidade desses templos mencionados, e que hoje já não mais vigora, reside no fato de que
a abertura dos trabalhos era efetuada por uma linha que hoje não mais encontramos: a linha das Yaras que se
apresentavam arrastando-se pelo chão, como o fariam as sereias em terra seca, e promoviam a limpeza do
templo utilizando-se de água (idem).
No mais, na umbanda do Rio Grande do Sul são cultuados “caboclos”, “pretos-velhos” e “crianças” (Ibeji), aos
quais não são realizados sacrifícios de animais.12 Outrora era também cultuada a “linha”, ou “povo do oriente”,
hoje quase em extinção. Segundo a representação dos umbandistas, tratavam-se de entidades bondosas, bastante
evoluídas e que transmitiam vibrações puras. Seus médiuns, incorporados, adotavam a postura corporal e os
gestos dos povos do Oriente: chineses, indianos, árabes e ciganos. Nos trabalhos da casa de Pernambuco
Nogueira manifestavam-se duas entidades indianas: Brahmayana e Nargajuna.
Hoje o “povo cigano” foi transformado em Linha de Exu. Quanto aos guias orientais, manifestam-se em poucas
casas que trabalham com o que denominam de Junta Médica.
A Linha Cruzada
Trata-se de uma expressão religiosa relativamente nova, iniciada, tudo indica, na década de 1960. Constitui,
porém, a que mais tem crescido neste estado, sendo cultuada hoje em cerca de 80% dos terreiros. Segundo
Norton Correa, esta modalidade ritualística chama-seCruzada
[…] porque, enquanto o Batuque cultua apenas orixás e a Umbanda caboclos e pretos-velhos, a Linha Cruzad
reúne-os no mesmo templo, cultuando, alem deles, também os exus e suas mulheres míticas, as pombagiras,
provavelmente originários da Macumba do Rio de Janeiro e São Paulo. (Correa, 1998a:48) 13
Ainda segundo Correa, as principais razões para o crescimento da Linha Cruzada seriam os seguintes: os custos
dos rituais são mais baratos do que os do batuque; o aprendizado geral é mais simples do que o do batuque; seu
membros podem reunir e somar a força mística do batuque com a da umbanda (ibidem:90).
A proliferação de terreiros cruzados tem se constituído num forte motivo de polêmica e de acusação mútua entr
os membros das religiões afro-brasileiras do RS. Trata-se, em verdade, de um conflito em parte intergeracional,
em que os “mais velhos” na religião tendem a considerar essa inovação como uma “deturpação” da religião dos
orixás por parte dos mais jovens, ao mesmo tempo em que expressa em parte também um conflito entre os
“conservadores” e os “modernos”, as mudanças sendo compreendidas pelos batuqueiros mais apegados à
tradição como uma violação dos fundamentos da religião.
De uma maneira geral, são extremamente precários os números acerca dos terreiros existentes no Rio Grande d
Sul, bem como a incidência de rituais dentro das três modalidades religiosas acima referidas. Seja como for, e
para dar ao menos uma idéia de grandeza, sugiro que deva existir hoje cerca de trinta mil terreiros
em atuação14 neste estado, onde, em cerca de 80% deles são celebrados rituais de Linha Cruzada, em 10%
somente rituais de Umbanda (caboclos e pretos velhos) e em 10% somente rituais de Batuque (nação).
Neste estado, como já assinalou Correa (1996), a estruturação das três diferentes expressões religiosas afro-
brasileiras acompanha, até certo ponto, as mudanças que atingiram a própria estrutura da sociedade.
De fato, o batuque floresceu na segunda metade do século XIX e adaptou-se às condições de um Rio Grande do
Sul “tradicional”, eminentemente agrário, pois naquela forma religiosa a tradição regia a estrutura ritual com os
orixás formando uma grande família patriarcal. Os sacrifícios de animais não ofereciam problemas num estado
pastoril e em uma Porto Alegre onde havia ainda bairros “rurais”. As iniciações podiam ser longas, pois as
relações de trabalho eram ainda relativamente frouxas.
A Linha Cruzada surgiu a partir da década de 60 numa fase de consolidação do capitalismo com o conseqüente
incremento de graves problemas, tais como desemprego, insegurança, doenças, frustrações. Neste contexto, a
Linha Cruzada torna-se uma religião prática, pragmática, de serviço, que se especializa nas soluções
sobrenaturais daqueles problemas.
Detenho-me agora, mesmo que sucintamente, sobre um dos mais controvertidos personagens do campo afro-
gaúcho, um príncipe africano, herdeiro do trono de Benin, que morou no Rio Grande do Sul de 1899, quando
chegou à cidade de Rio Grande, até 1935, quando faleceu em Porto Alegre.
Segundo informações colhidas por Maria Helena Nunes da Silva junto a diferentes fontes — bibliográficas,
intelectuais africanos e, sobretudo, dois filhos biológicos de Custódio — este descendia da tribo pré-colonial
Benis, dinastia de Glefê, da nação Jeje, do estado de Benin, na Nigéria. Seu nome tribal era Osuanlele Okizi
Erupê, filho primogênito do Obá Ovonramwen (Silva, 1999).
Há diferentes versões sobre sua saída da terra natal. Todas, porém, estão associadas à invasão britânica ao reino
de Benin, em 1897, diante da qual não se sabe ao certo se Osuanlele teria resistido, ou fugido, ou, então, feito
um acordo com os britânicos para deixar o país e viver no estrangeiro, onde receberia mensalmente uma pensão
do governo inglês (a mais provável). De fato, Dionísio Almeida, filho de Custódio, relatou a Maria Helena que
seu pai teria deixado Benin em direção ao Porto de Ajudá, acompanhado por oficiais ingleses e por parte do seu
Conselho de Chefes, onde teria permanecido por cerca de dois meses, dali embarcando para o Brasil, tendo
chegado ao porto de Rio Grande em 7 de setembro de 1899, com uma comitiva formada de 48 pessoas, em sua
maioria membros do seu Conselho. Segundo aquele informante, antes de chegar a Rio Grande Custódio teria
estado em Salvador, depois no Rio de Janeiro, tendo se estabelecido em Rio Grande por orientação dos orixás,
através dos ifás.15 Custódio permaneceu nesta cidade até o dia 4 de outubro de 1900, quando se transferiu para
Pelotas, e no dia 4 de abril de 1901 veio para Porto Alegre, a convite do então presidente do estado, Julio de
Castilhos, que algumas semanas antes o teria procurado em Pelotas como último recurso para remediar um
câncer que tomava conta de sua garganta. Como teve uma melhora temporária, teria convidado Custódio a
morar em Porto Alegre para continuar a tratá-lo nesta cidade, o que não impediu, porém, a morte de Julio de
Castilhos aos 43 anos de idade, em 1903.
Em Porto Alegre, Custódio morou durante 35 anos na rua Lopo Gonçalves, na cidade baixa. Mantinha-se com a
pensão mensal que recebia do governo inglês, via Banco do Brasil. Consta que se apresentava em público
sempre bem vestido, desfilava pela cidade com uma carruagem puxada por parelhas de cavalos brancos e pretos
dedicava-se ao seu esporte preferido, o turfe, possuía um haras, era proprietário e treinador de cavalos de
corrida, nunca se casara e vivia em situação poligâmica. “Haras” e “harem”, sintetizam a vida do Príncipe
Custódio em Porto Alegre, disse-me um velho e bem informado batuqueiro.
Consta também que a partir do seu primeiro contato para fins terapêuticos com o presidente da Província, este e
outros políticos da época, e mesmo o sucessor de Julio de Castilhos, Borges de Medeiros, bem como Getulio
Vargas, teriam visitado o Príncipe em sua casa e este teria estado em várias oportunidades no palácio do
governo. Este é, porém, um tema controvertido, uma vez que à primeira vista parece difícil que aqueles
políticos, fervorosos positivistas, procurassem o “feiticeiro” africano. Mas não seria ilógico pensar que este
nobre e político africano, durante os 35 anos de vida em Porto Alegre, não pudesse ter sido socialmente
contatado pelos políticos ou por membros da elite local.
Também controvertido é o papel desempenhado por este Príncipe no que diz respeito aos membros da sua etnia
No campo político, enquanto por um lado diz-se que ele teria usado do seu prestígio para conquistar melhor
espaço para os negros locais e contribuído para aliviar o preconceito e a discriminação que pesa sobre eles, por
outro, recrimina-se que ele teria usado suas relações políticas unicamente em favor dos membros da sua família
empregando-os no serviço público, por exemplo, pouco ou nada fazendo para os negros em geral. No campo
religioso paira a mesma controvérsia. Por um lado, muitos são os pais e as mães-de-santo de Porto Alegre que s
dizem descendentes da linhagem religiosa do Príncipe, defendendo que ele teria contribuído decididamente para
a estruturação do batuque na cidade, para o reconhecimento social do mesmo e para diminuir as perseguições
policiais; mas, por outro lado, afirma-se também que ele não teria iniciado ninguém, pois sendo nobre não teria
“posto sua mão” em nenhum plebeu, e que teria atuado como religioso somente para as elites e as pessoas de su
amizade e família.
Seja como for, segundo consta na sua certidão de óbito, Custódio morreu em 28 de maio de 1935, aos 104 anos
solteiro e deixando bens. Sua morte foi noticiada nos jornais locais e seu enterro foi bastante concorrido,
contando inclusive com a participação de políticos da época.
Hoje o Príncipe Custódio constitui um mito no imaginário negro do Rio Grande Sul e, como escreveu N.
Correa, “a figura ainda hoje mais legendária que a memória dos integrantes do Batuque guardam […]” (Correa,
198a:77). No entanto, quanto à sua vida e realizações, e às várias controvérsias que as envolvem, trata-se de
mais um tema à espera de pesquisadores que efetuem uma investigação transatlântica.
O Rio Grande do Sul é uma sociedade multiétnica e pluricultural construída no “encontro de civilizações”, com
diria Bastide, onde os nativos indígenas viram seu território sendo ocupado pelos portugueses e espanhóis, aos
quais foram associados os escravos africanos e, posteriormente, os imigrantes europeus, com destaque para os
alemães e ositalianos.16
Em termos gerais, hoje a composição multiétnica do Rio Grande do Sul é assim constituída: 86,8% são brancos
4,1% negros, 8,9% pardos e 0,2% indígenas (PNAD, IBGE, 1999). Com estes números, o Rio Grande do Sul
constitui o estado mais “branco” do Brasil, depois de Santa Catarina.17
Ora, neste território multiétnico, malgrado a posição superior que os brancos ocuparam em relação aos negros e
aos índios, ocorreram, de alguma forma, trocas culturais em diferentes direções, sendo uma delas a aproximaçã
dos não-brancos, de diferentes etnias e de diferentes camadas sociais, às religiões afro-brasileiras.
É praticamente impossível saber quando este encontro começou a ocorrer. Tudo indica, porém, que data ainda
do século XIX, tendo aumentado nas primeiras décadas do século XX e se consolidado a partir da segunda
metade daquele século, quando, então, há notícias de brancos que ocupam a condição de pais e mães-de-santo.
Este fenômeno, como se sabe, ocorreu em praticamente todo o Brasil, chegando ao ponto em que hoje, em
algumas regiões, como escreve Prandi, referindo-se a São Paulo, “o Candomblé é uma religião que não pode se
caracterizada como uma religião de negros” (Prandi & Silva, 1987:4). Trata-se, antes, de religiões multiétnicas
universais (Prandi, 1991).
A procura de terreiros por parte dos brancos pobres geralmente está associada à busca de solução para
problemas práticos como doenças, desemprego ou dificuldade econômica, ou problemas legais, geralmente
relacionados à sua condição desfavorável de classe. Já os brancos de maior poder aquisitivo o fazem na busca d
solução de problemas existenciais como os de sentido, identidade, afetivos, etc. Também o caráter misterioso,
exótico e fascinante da religião dos orixás, associado à sua eficácia simbólica, contribui para a atração de
brancos.
Diga-se de passagem que as mesmas ou semelhantes razões apontadas para a aproximação dos brancos das
camadas populares aos terreiros servem também para os negros ingressarem neles. No entanto, não se pode
imaginar uma convivência harmônica entre negros e brancos nos terreiros multiétnicos gaúchos. Ocorre aqui
uma espécie de tolerância mútua ou, como Silva e Amaral referiram para São Paulo, uma
espécie de negociação velada onde os brancos, com dinheiro, tornam-se necessários à própria sobrevivência
do terreiro de maioria negra e, assim, o que é visto como negativo (a entrada dos brancos no candomblé)
acaba adquirindo sinal positivo, já que a concessão é necessária à manutenção das despesas da casa. (Silva &
Amaral, 1994:17)
Em outras palavras, parece prevalecer no Rio Grande do Sul a representação negra segundo a qual é importante
a presença simultânea de brancos e de negros nos terreiros por serem, os primeiros, detentores principalmente d
capital econômico e os segundos principalmente de capital simbólico, religioso, dado pela tradição.
Evidentemente que os atores sociais implicados no processo nem sempre possuem esta consciência dos fatos. É
mais recorrente neles a afirmação de que “o axé não tem cor”.
No entanto, há terreiros multiétnicos onde o preconceito de cor tende a se manter. Isto se dá especialmente
quando os brancos implicados na religião detêm pouca consciência da origem africana desta e não realizam
uma aproximação mais efetiva com a etnia negra. Há outros terreiros multiétnicos, porém, onde até certo ponto
e por um tempo limitado parece haver uma suspensão dos preconceitos raciais; neste caso, negros e brancos
juntam-se no espaço religioso para se divertir, rezar e fortalecer uma identidade social comum.
Os terreiros multiétnicos a que me refiro reúnem especialmente pessoas das camadas populares. Isto porque os
terreiros de camadas médias tendem a ser predominantemente freqüentados por brancos, enquanto os terreiros
de camadas altas são freqüentados quase que exclusivamente por brancos. Em todos eles, como mostrei em
outro lugar (Oro, 1998), são reproduzidas as desigualdades raciais encontradas na sociedade gaúcha (e
brasileira).
Um outro aspecto que sobressai no estudo do atual campo religioso afro-gaúcho consiste na importância que ele
tem para o ressurgimento e introdução das expressões religiosas de matriz africana nos países do Prata. Com
efeito, a Argentina já teve uma história de reprodução dessas religiões até o final do século XIX, quando os
atabaques, tocados até então pela comunidade afro-argentina, silenciaram em razão do abrupto declínio
destapopulação.18 Já no Uruguai, não consta ter havido uma histórica prática religiosa africana, mas importante
expressões musicais de origem africana como o candombe.19 No entanto, em ambos os países, a partir da décad
de 60 do século passado, verifica-se o reingresso (na Argentina) e a introdução (no Uruguai) das religiões de
matriz africana, sobretudo através do Rio Grande do Sul.
Este processo ocorreu primeiramente nas cidades platinas fronteiriças com o Rio Grande do Sul e dali
alcançaram as capitais federais. Deveu-se a iniciativas que partiram de ambos os lados da fronteira, ou seja, de
pais e mães-de-santo brasileiros que procederam à expansão da religião para os países platinos e de cidadãos
desses países que procuraram terreiros brasileiros.
Na década de 70, o fluxo se estendeu até Porto Alegre, onde se localizava o maior número de renomados
batuqueiros que passaram a ser visitados por argentinos e uruguaios. Estes para aqui vinham em busca de
iniciação religiosa junto a um famoso pai ou mãe-de-santo, ao mesmo tempo em que buscavam o
reconhecimento oficial da sua condição de iniciados, ou sacerdotes, junto a uma federação local. Sem tais
documentos, tinham muitas dificuldades de praticar a religião em seus países, sobretudo na Argentina, podendo
até mesmo sofrer perseguições policiais.
O período áureo das relações religiosas internacionais platinas ocorreu na década de 80. Em relação à Argentina
deu-se sobretudo após o retorno à vida democrática, em 1983 (Frigerio & Carozzi, 1993), enquanto no Uruguai
o crescimento do número de terreiros e o incremento das relações religiosas com o Brasil coincidiram com o
período ditatorial, que se estendeu até 1985 (Hugarte, 1993).
Na década de 90 ocorreu um arrefecimento das relações religiosas entre gaúchos e platinos e isto se deveu,
segundo o discurso dos pais e mães gaúchos, à crise econômica que se abateu sobre aqueles países, sobretudo n
Argentina, que reduziu os investimentos das pessoas na religião, embora não tenha diminuído o interesse pela
mesma. Mas há um não-dito: o arrefecimento também se deveu à concorrência religiosa que estão sofrendo
naqueles países. Ou seja, se até o início da década de 90 havia uma relação relativamente assimétrica, mas
aceitável, entre os pais e mães gaúchos e seus filhos platinos — os primeiros colocando-se numa posição
hierárquica superior — a partir deste período estabeleceu-se uma relação conflituosa entre alguns, senão a
maioria dos pais-de-santo gaúchos (cerca de 15 pessoas), que participam do circuito religioso platino, sobretudo
argentino, e os seus colegas deste país, posto que estes últimos passaram a disputar poder pela ocupação do
espaço religioso afro-brasileiro e pelo exercício legítimo do sacerdócio naquele país.
Apesar disto, nos dias atuais continuam as viagens de membros das religiões afro-brasileiras nos diferentes
sentidos e foram criadas verdadeiras redes internacionais de parentesco simbólico, as quais constituem
denominadores de fronteiras sociais e simbólicas que contribuem para a construção de verdadeiras identidades
transnacionais. Ao mesmo tempo, essas redes constituem uma forma de integração regional/internacional,
legitimada religiosamente, mediatizada pelas religiões afro-brasileiras, onde a nacionalidade e as diferenças
sociais e ideológicas não são anuladas, mas superpostas à religiosa.
Evidentemente que a construção de identidades não significa a formação de comunidades (no sentido tradiciona
do termo) internacionais. Igualmente, a integração e a formação internacionais de redes de famílias-de-santo nã
significa que as relações entre os seus membros sejam harmônicas. Elas continuam a reproduzir o ethos de
rivalidade e aliança que caracteriza o campo religioso afro-brasileiro. 20
As Religiões Afro-Brasileiras no Rio Grande do Sul e suas Relações com o Poder Político Local
Nos últimos anos, as religiões afro-brasileiras parecem ter conseguido, em Porto Alegre, uma aproximação não
alcançada até então, e em nenhum outro local do estado, com o poder público local. É sobretudo nas gestões do
PT na prefeitura, especialmente na segunda e na atual, em que o chefe do Executivo é Tarso Genro,21 que
aquelas religiões conseguem lograr apoios e interagir diretamente com o gabinete do Prefeito e com algumas
secretarias, como da Cultura e do Meio Ambiente, tudo isto ocorrendo, porém, não sem conflitos.22
Assim, em Porto Alegre, mediante Lei Municipal, e por intermediação da Secretaria Municipal da Cultura e da
Câmara Municipal de Porto Alegre, desde o ano de 1996 comemora-se a Semana da Umbanda e dos Cultos
Afro-Brasileiros.Os eventos desta Semana são compostos de palestras e rituais, celebrados no Parque da
Harmonia, no centro da cidade. Iniciam-se no dia 15 de novembro com uma sessão de Umbanda e encerram-se
em 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, com uma sessão de Batuque. Nestes eventos
comparecem autoridades civis, membros das religiões afro-brasileiras, além de simpatizantes, curiosos e o povo
em geral.
Outra atividade pública semelhante a essa, e que também consta como Lei Municipal de Porto Alegre, é a Festa
da Oxum, celebrada desde 1996 em todos os dias 8 de dezembro, na praia de Itapema, diante da imagem deste
orixá erguida à beira do Rio Guaíba. Nesta ocasião ocorre também uma sessão religiosa na praia em
homenagem à deusa das águas doces.
É digno de nota que ambas as atividades referidas, a Semana da Umbanda e a Festa da Oxum, constam no
calendário de eventos da prefeitura de Porto Alegre.
Outra iniciativa de parceria com o poder público ocorreu entre as três maiores federações do estado (Conselho
Superior da Umbanda e dos Cultos Afro-brasileiros, Afrobras e Aliança Umbandista e Africanista do Estado) e
as Secretarias Estadual e Municipal do Meio Ambiente, ao editarem um caderno de orientação intitulado “A
Educação Ambiental e as Práticas das Religiões Afro-Umbandistas”, com o objetivo de “orientar as Casas de
Religião e funcionários do poder público municipal e estadual sobre procedimentos em relação a cultos e
colocação de trabalhos religiosos no meio ambiente”. Trata-se de um manual de aconselhamentos em relação às
oferendas, tendo como pressuposto a preservação da natureza.
As federações acima mencionadas também conseguiram, junto ao poder público municipal e à Assembléia
Legislativa do estado, o apoio financeiro e logístico para realizar anualmente um Seminário Cultural e
Teológico da Umbanda e dos Cultos Afro-Brasileiros do Estado do Rio Grande do Sul. Trata-se de um
seminário que desde a sua primeira edição, em 1996, é celebrado no salão nobre da Assembléia Legislativa do
estado e conta com palestrantes oriundos do próprio campo religioso em questão e de pesquisadores dos
mencionados cultos, provenientes de diferentes regiões do Brasil e dos países do Prata. O seminário tem duraçã
de três dias e dele participam em média 400 pessoas.
Principalmente neste evento, mas também nos demais referidos, nota-se sempre a presença de políticos, dos
Executivos e Legislativos, municipal e estadual, de distintos partidos.
Outra forma de aproximação do campo religioso afro-brasileiro com o político ocorre através de outorga
de comendasetítulos honoríficos, com que os governos locais distinguem alguns líderes destas religiões. Assim,
por exemplo, o babalorixá Cleon (Fonseca) de Oxalá recebeu das mãos do então governador do Estado do Rio
Grande do Sul, Antônio Brito, em 30/6/1996, a medalha Negrinho do Pastoreio, a mais alta comenda do estado
Três pais-de-santo receberam na Câmara Municipal de Porto Alegre o título de cidadãos de Porto Alegre. São
eles: Ailton (Albuquerque) da Oxum, Jorge (Verardi) de Xangô e Adalberto Pernambuco Nogueira — o
primeiro nascido em Pelotas (RS), em 3/11/1945, o segundo em Cruz Alta (RS), em 19/10/1949, e o terceiro em
Belém do Pará, em 3/11/1928.
O último agraciado, Adalberto Pernambuco Nogueira, é presidente do Conselho Estadual da Umbanda e dos
Cultos Afro-Brasileiros do Rio Grande do Sul (CEUCAB/RS), e uma das maiores lideranças desta religião no
estado. Devido o seu carisma e bom trânsito na esfera pública, tem contribuído para as religiões afro-brasileiras
conquistarem maior e melhor espaço tanto no campo político quanto no campo religioso institucional. Na área
política tem participado, enquanto representante das religiões afro-brasileiras, no Conselho Político de
Campanha da Frente Popular (formado então por cerca de 160 pessoas de destaque das várias áreas de atuação
social e profissional) por ocasião das últimas eleições municipais de 2000, e atualmente integra o Conselho
Político de Governo da Frente Popular (formado por cerca de 300 pessoas). Igualmente, a partir de janeiro deste
ano foi escolhido como membro do Conselho Municipal de Cultura.
Além destas atividades no meio político, Pernambuco Nogueira é o representante mais solicitado das religiões
afro-brasileiras por ocasião de celebrações ecumênicas, ocorridas, por exemplo, por ocasião das posses do
governador do estado e do prefeito municipal, no dia do aniversário da cidade de Porto Alegre (26 de março), n
dia das Mães e na celebração de 25 de agosto, dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas.
Em tais cultos ecumênicos comparecem representantes da igreja católica, da igreja luterana, do islamismo, do
budismo, do judaísmo, do espiritismo, além dos cultos afros.
Mas, se, de um lado todos os fatos acima mencionados revelam uma aproximação — que, como já disse, não
ocorre sem tensões — entre as religiões afro-brasileiras e o poder político no Rio Grande do Sul, por outro lado
os representantes dessas religiões não logram ingressar diretamente no campo político mediante a condução
pelo voto. Ou seja, malgrado as tentativas para sua viabilização de parte de alguns renomados pais, não
conseguiram eleger nenhum seu representante nas Câmaras Municipais e muito menos na Assembléia
Legislativa do estado. O único precedente neste sentido data da década de 1960, quando o umbandista Moab
Caldas foi eleito para a Assembléia Legislativa do estado, pelo PTB de Leonel Brizola e Jango Goulart, e
reeleito nos anos de 1964 e 1968. Foi cassado em 1968, vindo a falecer em 1997.23 Também no ano de 1960
foram eleitos 3 prefeitos e cerca de 20 vereadores umbandistas no Rio Grande do Sul.
Após este período não parece ter havido mais presença efetiva de membros desta religião em cargos eletivos no
Rio Grande do Sul, malgrado algumas tentativas, como a do babalorixá Ailton Albuquerque, de Porto Alegre,
que se apresentou às eleições legislativas gaúchas nas últimas eleições de 1998 pelo Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB). Não logrou se eleger, tendo obtido 3.425 votos, quando o mínimo necessário situa-se em torn
de dez mil, dependendo da situação da legenda.
Nas eleições de 2000 não consta ter havido algum líder desta religião que tenha sido eleito em algum município
do Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, entre os 411 candidatos a vereador para a Câmara Municipal, havia 5
representantes das religiões afro-brasileiras, 4 pais-de-santo e 1 presidente de um famoso terreiro. Foi, entre
eles, o presidente da Federação Afrobras quem obteve o maior número de votos, 1.994, este montante
representando, porém, somente um quarto dos votos necessários para ser eleito. Os demais candidatos obtiveram
1.668, 1.109, 451 e 421 votos, totalizando, juntos, 5.643 votos, quantia insuficiente para eleger um
único candidato.24
O discurso eleitoral veiculado pelos pais-de-santo de Porto Alegre para dentro da “comunidade” afro-
umbandista era fundamentalmente o mesmo: a necessidade de a “religião” ter representantes no legislativo
municipal para defender os seus direitos e para mostrar sua força perante a sociedade e, sobretudo, perante os
evangélicos (pentecostais), que estão ampliando seu espaço na política e se mostrando abertamente críticos em
relação às religiões afro-brasileiras. Ora, este discurso não produziu a eficácia esperada pelos candidatos e, a
meu ver, isto se deve, sobretudo, à própria estrutura e ao ethos das religiões afro-brasileiras.
De fato, o modelo organizacional das religiões afro-brasileiras repousa sobre uma variedade de federações e
uma pulverização de terreiros, sendo todos ao mesmo tempo autônomos e rivais entre si. Como não existe, no
âmbito desta religião, uma única hierarquia religiosa, um poder centralizador e aglutinador dos centros
religiosos, estes constituem-se autônomos e, por isso mesmo, concorrentes entre si. Em conseqüência disso,
reconhece o candidato a vereador Jorge Verardi, presidente da Afrobras, “cada um procura sua própria
autopromoção”. “Não temos a organização dos aleluia”, disse uma mãe-de-santo.
Ora, este ethos constituído de permanente disputa, rivalidade entre terreiros e desqualificação do outro, torna,
como reconhece R. Prandi, bastante remota a possibilidade de união entre terreiros e grupos, mesmo em se
tratando de proveito para a religião (Prandi, 1991:163). 25
Considerações Finais
Malgrado os avanços alcançados nos últimos anos pelas ciências sociais e humanas na compreensão da história
e do presente do negro e sua cultura no Rio Grande do Sul, muita coisa ainda resta a ser investigada.
Talvez não pese hoje tão forte como há alguns anos atrás a frase escrita em 1940 pelo historiador D. de Laytano
quando afirmava que “os nossos cronistas, os historiadores de compêndios oficiais e toda a literatura gaúcha nã
se ocuparam do negro senão acidental, ligeira e negligentemente” (Laytano, 1940). No entanto, malgrado
produções recentes, permanece atual a exortação de outro historiador, Mário Maestri Filho: “a história do
escravo sulino, proto-história do proletariado gaúcho, ainda está por escrever-se” (Maestri Filho, 1979:67).
Especificamente sobre as origens do negro gaúcho, escreveu que “não sabemos rigorosamente nada” (idem,
1993:30), enquanto Norton Correa afirmou que “ainda não foram perfeitamente esclarecidas as origens das
populações trazidas como escravos para o Rio Grande do Sul” (Correa, 1998a).
A explicação para a desconsideração do negro pela academia, mas não só ela, pode residir, como salienta R.
Oliven, no próprio processo de construção política e cultural do Rio Grande do Sul, onde ocorreu um interesse
massivo e concentrado em torno da figura do gaúcho — que foi elevado à condição de “autêntico” representant
desse território — e do colonizador europeu, em detrimento de outros grupos sociais aqui presentes desde o
princípio da colonização, como os negros e os índios. Estes parecem condenados ao silêncio e ao esquecimento
e comparecem no âmbito das representações de uma forma extremamente pálida. Particularmente quanto ao
negro prevalece uma invisibilidade social e simbólica (Oliven, 1996) ao mesmo tempo em que ainda predomina
no Rio Grande do Sul, a auto-imagem de um estado branco e moderno, construído pelas figuras “heróicas” dos
gaúchos e dos imigrantes europeus e seus descendentes.
No contexto de exclusão do negro e sua cultura no Rio Grande do Sul figura também o batuque, cuja história,
linhagens, tradições religiosas e repressão policial, permanecem ainda com lacunas, incógnitas e dúvidas não
resolvidas, como pudemos constatar neste trabalho.
Notas
1. Por se tratar de um texto que pretende ser, até certo ponto, um vôo panorâmico sobre as religiões afro-
brasileiras no Rio Grande do Sul, este será, necessariamente, superficial em alguns aspectos; porém, essa
deficiência poderá ser em parte sanada com as indicações bibliográficas respectivas para os interessados.
2. Ou seja, atuaram como mão-de-obra nos engenhos de açúcar de Pernambuco e Bahia, na mineração aurífera
de Minas Gerais, nos campos de fumo e cacau da Bahia e Sergipe, no cultivo do café do Rio de Janeiro e São
Paulo, no algodão do Maranhão e Pará, nas plantações de café também cultivado no Espírito Santo, na
agricultura e pecuária do Rio Grande do Sul e na mineração de Goiás e Mato Grosso.
3. Sabe-se que durante algum tempo o envio para o Sul era tido como um pesado castigo e forte ameaça aos
escravos desobedientes, por parte dos patrões de outras regiões do Brasil.
4. De fato, ao efetuar uma comparação entre o candomblé da Bahia e o batuque o Rio Grande do Sul, Herskovit
propunha a hipótese de que a existência do africanismo no Rio Grande do Sul resulta de um trabalho
independente e paralelo, “de idênticos impulsos culturais africanos primitivos”. Ponderava, porém, de que tal
hipótese deveria ser revista com os avanços dos estudos historiográficos “sobre a migração negra dentro do
Brasil e da procedência tribal africana dos negros importados para a parte sul do país” (Herskovits, 1948:64).
5. ”Embora ocupada desde os meados do século XVIII por colonos açorianos, Porto Alegre só começou a se
desenhar após 1772, quando se deu a primeira demarcação do espaço urbano e a distribuição de datas de terras
para esses açorianos. Só então a condição de ponto estratégico daquele sítio vai transfigurar-se em funções
comerciais e político-militares” (Kersting, 1998:61). A instalação de Porto Alegre como capital da província
ocorre em 1773. Sua população era de 1.500 habitantes em 1780 e 12.000 em 1820.
6. ”Era uma região insalubre, fora do centro urbano, habitada por uma população pobre, essencialmente negra,
estigmatizada pelos órgãos oficiais, pela imprensa e por tudo aquilo que era considerado sociedade na época”
(Kersting, 1998:148). A palavra “Areal” tem sentido ambíguo. Trata-se de uma corruptela da palavra Arraial,
mas também área de depósito de areia do fluxo da foz do riacho Ipiranga com o rio Guaíba. A palavra
“Baronesa” refere-se à proprietária dessa chácara, de então, a Baronesa do Gravataí.
7. ”Como limites mais ou menos definidos da Colônia Africana, podemos estabelecer a Rua Ramiro Barcelos, a
Avenida Protásio Alves (antigo Caminho do Meio) até a altura da Rua Dona Leonor, seguindo pela parte alta at
aproximadamente o atual Instituto Porto Alegre (IPA), e deste até a rua Castro Alves, descendo por essa até a
Ramiro Barcelos, de onde partimos” (Kersting, 1998:102).
8. O número de moradores dessas áreas não é preciso. Relativamente à Colônia Africana, era de 3.460 em 1910
4.299 em 1912 e 5.636 em 1917. Estes números correspondem respectivamente a 2,66%, 2,92% e 3,15% do
total da população de Porto Alegre nesses anos (Kersting, 1998:128-129).
9. Este autor mostra como a análise dos registros de ocorrências policiais da virada do século em relação à
Colônia Africana não são superiores às de outras áreas da cidade, mesmo o centro, considerado “civilizado” e
“moderno”. Entretanto, sobre este não foram construídas representações sociais excludentes como em relação
àquele território negro da cidade (Kersting, 1998).
10. A expulsão se dá mediante a expansão da cidade com a conseqüente valorização da área, que implica em
aumento de impostos, impossível de ser pago por moradores de baixa renda.
11. São os seguintes os principais orixás cultuados no batuque: Bará, Ogum, Oiá, Xangô, Odé (Otim), Ossanha
Obá, Xapanã, Bêdji, Oxum, Iemanjá e Oxalá. O anexo I apresenta um conjunto de elementos vinculados a cada
um desses orixás, segundo a tradição batuqueira gaúcha.
12. Segundo Paulo Tadeu B. Ferreira, na Nação Cabinda, por exemplo, a língua ritualística deveria ser o Bantu
(Kunbundo) e os deuses chamados de Inkices. Na prática cultuam-se os orixás em lingua yorubana. Na Nação
Jeje (Jeje), a língua deveria ser o Ewe e os deuses os voduns. Na prática adotam o mesmo procedimento da
Cabinda, que é o mesmo do Ijexá e do Oyó (Ferreira,1997:42).
13. O anexo II apresenta algumas especificações das entidades acima mencionadas.
14. O anexo III apresenta os nomes e algumas concepções relativas às principais entidades da Linha Cruzada
praticada no Rio Grande do Sul.
15. Este montante é aproximado, mesmo porque “terreiro” é uma categoria ampla que reúne desde um congá
familiar onde seu dono recebe clientes para “jogar”, até um espaço onde são realizados rituais de distintas
expressões religiosas afro-brasileiras no âmbito de uma comunidade religiosa local. Seja como for, mesmo os
terreiros no Rio Grande do Sul, segundo esta última observação, podem ser considerados de tamanho pequeno
ou médio, pois o número médio de freqüentadores situa-se entre 10 e 30 pessoas, sendo reduzidos os terreiros
que reúnam num único espaço ritualístico em torno de 100 pessoas.
16. Eis, textualmente, o depoimento de Dionísio:
“[…] o Forte de São João Batista de Ajudá era comandado por um baiano, o qual tornou-se amigo do papai e
indicou-lhe a Bahia como lugar adequado para viver no Brasil. Isto porque José Maria só conhecia a Bahia, nad
sabendo dos outros estados brasileiros. Quando Osuanlele chegou à Bahia ele jogou novamente seus ifás e, em
resposta, obteve que ainda não era aquele lugar o escolhido. Da Bahia ele foi para o Rio de Janeiro. Conheceu
algumas pessoas que professavam a religião africana. Bem, na Bahia ele também conheceu importantes figuras
que estavam ligadas diretamente à religião africana. Lembro que ele nos dizia que tinha muitas coisas que ele
entendia sobre a sua religião. Homenagens foram feitas a ele” (Dionísio, 13/5/1988 apud Silva, 1999:71).
17. De fato, os alemães desembarcaram no Rio Grande do Sul a partir de 1824, tendo chegado a mais de 60.000
indivíduos até 1939. Os imigrantes italianos, por sua vez, chegaram a partir de 1875 e a última vaga
desembarcou em 1914. Neste período, entre 70.000 e 100.000 italianos se estabeleceram no Rio Grande do Sul.
18. Segundo a mesma fonte, a distribuição étnica de Santa Catarina é de 91,0% de brancos, 2,1% de pretos,
6,4% de pardos e 0,5% são índios (PNAD, IBGE, 1999).
19. O último depoimento sobre um ritual religioso de tipo afro-americano em Buenos Aires é de 1903 (Segato,
1991). Ainda segundo esta autora, a população negra era de 30% em Buenos Aires no início do século passado
caiu para 2% no final do mesmo século. As causas mais importantes do desaparecimento dessa população foram
as guerras e as pestes. É possível também que seus últimos componentes tenham emigrado para o Sul do Brasil
Rita Segato aponta, no entanto, que o desaparecimento do negro na Argentina foi antes ideológico, cultural e
literariamente construído, do que propriamente físico. Ou seja, na imagem que os políticos e os intelectuais
argentinos se fizeram de nação homogênea e depurada não havia lugar para o negro (id. ibid.).
20. Para uma análise sobre o candombe uruguaio ver Ferreira (1997).
21. Para uma análise mais aprofundada do processo de transnacionalização das religiões afro-brasileiras do Rio
Grande do Sul para os países platinos ver Oro (1999).
23. Talvez o conflito maior resida na própria administração municipal e, sobretudo, no interior do PT, onde
vozes do partido, movidas por brios ideológicos, se erguem em desaprovação às relações estabelecidas pelos
organismos executivos com as religiões afro-brasileiras e, mesmo, com as religiões em geral.
24. Diana Brown recorda que em 1960 os umbandistas também elegeram para a Assembléia Legislativa do Rio
de Janeiro Atila Nunes — um radialista umbandista que havia sido eleito vereador em 1958 (Brown, 1985).
Maria Helena Villas-Boas Concone e Lísias Nogueira Negrão fazem uma análise histórica dos distintos
momentos da relação da umbanda com a política e o estado, onde prevaleceu a perseguição até o golpe de 1964
e a sua cooptação política a partir de então. Mais especificamente analisam o envolvimento político-partidário
da umbanda paulista nas eleições de 1982 e analisam a derrota dos candidatos umbandistas (Concone e Negrão,
1985).
25. No entanto, não estamos emitindo nenhum juízo de valor sobre este permanente conflito entre líderes de
terreiros das religiões afro-brasileiras. Há mesmo alguns autores, como N. Correa que, baseado em G. Simmel,
levanta a hipótese de que o conflito referido não representa algo negativo na vida social dessas religiões, posto
que ele constitui a chave para explicar a permanência histórica e o crescimento das religiões afro-brasileiras, em
razão do seu papel também construtivo e agregador em termos sociais (Correa, 1998b).
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Terreiro de Jauá
O terreiro foi fundado em 1967 no Rio de Janeiro por Laércio Messias Sacramento, o Tata
Laércio de Lemba[2]. Em 1990, Laércio foi a Salvador para cumprir uma obrigação religiosa
noTerreiro Bate Folha e acabou ficando na capital. Três anos depois, transferiu o terreiro
para Jauá. Desde então mais de cem pessoas já foram iniciadas no local.
O nome do terreiro, Manso Kilembekweta Lemba Furaman, dá a dimensão do trabalho
desenvolvido ali. Manso significa casas, Kilembekweta quer dizer sombras e Lemba
Furaman é o nome do Nkisi (forças da natureza cultuadas pelos adeptos, nesse caso o da
fecundidade). O candomblé de Jauá ocupa um espaço de 15 mil metros quadrados, com
vegetação nativa e árvores sagradas africanas, como o baobá, além de uma lagoa de animais
silvestres, como patos, gansos e pássaros da região.
O terreiro participa de projetos de cunho ambiental. Um exemplo é o Família Artesão, que
ensina a cerca de 20 moradores da região a produção de artesanato com cipós da região.
Outro é o Roupas de Sinhá, um projeto que beneficia cerca de 30 pessoas,
entre costureiras ebordadeiras, no qual se confeccionam panos da
costa e indumentárias para os Minkisis e para os filhos-de-santo da casa.
Há ainda serviços prestados para inclusão social e educação voltada para a manutenção,
como ensino da língua quibundo para serviços religiosos pelo Centro de Estudo e Pesquisa
da Tradição da Origem Bantu, instalado no terreiro.
Descrição
O Manso Kilembekweta Lembafuraman, assim como as casas de culto pertencentes
ao Candomblé, realizam um ‘culto à natureza‘, onde elementos naturais
como árvores, pedras e lagos se transformam em epifanias divinas, e reporta-se aos Inkisis;
acentua a relação intensa entre o homem e a natureza e sacraliza o espaço físico cotidiano,
dando-Ihe novos significados e modificando a percepção dos seus praticantes. A casa
corresponde a um modelo ideal de configuração espacial de terreiros, permitido pela
qualidade ambiental da área onde se encontra instalado aliado a sua dimensão, portando
ecossistema aquático e terrestre no seu interior. Os assentamentos encontram-se distribuídos
de acordo com uma lógica inerente a prática religiosa da nação angola, onde encontramos
em seqüência.
Os assentamentos de Nzila ao lado dos Caboclos; seguidos por Nkossi
Mukumbi, Katendê, Angorô e Kavungo; próximo a lagoa onde é cultuado Luenji pelo
reflexo do assentamento na água; a direita ficam os sacrários
de Tempo, Luango e Matalumbô.
A construção principal, onde se encontra O Barracão possuí os santuários
de Bamburucema, Kukueto, Kisimbe, Lemba e Zazi, além do sacrário principal, de Lemba
Furaman. Protegidos visualmente por uma cerca de nativos, fica a área do Umbakisi, espaço
reservado a ritos iniciáticos específicos. A seguir encontra-se a casa de Ankita, de Vumbe,
do Inkisi Nkondi, e Mbanza de Nzilas.
A área possui uma relação bastante equilibrada entre urbanização e preservação de
ambientes naturais, condição fundamental para a manutenção do culto, onde se busca a
manutenção de toda a flora necessária nos seus rituais.
Assim, o sítio que representa o Manso Kilembekweta Lembafurama corresponde a um
modelo de estabelecimento característico da religião afro-brasileira, onde os elementos da
natureza são considerados sagrados, tornando-se, portanto, parte inseparável do conjunto
construído correspondente à estrutura definitiva da configuração espacial dos terreiros.
Nestes modelos de estabelecimento, por razões de culto, sempre se busca manter
(idealmente) no seu âmbito um trecho de “mato” e quando possível
um manancial conservado e outros elementos naturais, determinados por sua cosmovisão.
CANDOMBLÉ DE ANGOLA
O tráfico de escravizados africanos ao Brasil fez com que homens, mulheres e crianças,
pertencentes a reinos, nações, clãs, linhagens, aliados e inimigos, caçadores, sacerdotes,
guerreiros, príncipes e princesas, mães e pais de famílias se encontrassem e
redimensionassem as suas tradições culturais, sociais, familiares e religiosas. Essa era a
única maneira de confrontar a opressão religiosa católica que se fez acompanhar não apenas
dos grilhões de ferro que aprisionavam os corpos dos negros, mas também do “aspergir” da
água benta, do nome novo marcado a ferro em brasa nas regiões corporais, onde a carne não
fosse comprometida e perdesse seu valor de compra e venda de mercadoria e ainda na
permissividade e omissão diante dos desmandos e das ações dos senhores (algozes) cristãos
no novo mundo.Religião, catequese e escravidão andavam juntas desde os embarques nos
navios negreiros, quando eram batizados, até nos troncos, quando os africanos e seus
descendentes, que nem eram vistos como humanos, aos olhos da teologia da época, eram
levados sem que houvesse, por parte da igreja nenhuma manifestação contra aquela situação
desumana.Todos os valores que os africanos traziam, fossem religiosos ou culturais eram
banidos ou rotulados como coisas do demônio, magia pagã ou feitiçaria.Mas, por muitos
meios e artifícios os africanos e seus descendentes se apropriaram dos valores dos seus
escravizadores ou usaram sua estrutura para se organizarem em irmandades, onde o branco
cristão europeu não participava, como é o exemplo da Irmandade de Nossa Senhora do
Rosário dos Pretos e da Boa Morte. Estas irmandades funcionavam até como agremiação
para angariar fundos para pagar a alforria de seus “irmãos”, além de servir de um
intercâmbio de africanos, e das suas tradições culturais, lingüística e religiosas, sendo um
dos primeiros berços para a resistência e para a manutenção das crenças dos seus
antepassados africanos na terra que tinha lhe recebido com o chicote na mão.A religião
nativa dos africanos foi interpretada à luz da teologia católica que se considerava superior,
deferindo títulos de pagãs, idólatras, satânicas,animistas e politeístas, gerando, senão no
africano que aqui chegava, que tinha o conhecimento de seus antepassados, mas a partir de
seus descendente uma inferiorização da fé e crença trazidas na alma de seus pais.Na maioria
dos casos, na África, o culto tinha um caráter familiar e era exclusivo de uma linhagem, clã
ou grupo de sacerdotes. As divindades iorubás eram cultuadas em suas cidades: Xangô, em
Oió; Oxossi, em Ketu; Oxum, em Ipondá, e assim por diante. Bem como divindades de
origen Bantu como Nzazi, Mutakalambô, Ndandalunda eram cultuadas por grupos próprios,
embora os bantu tivessem uma idéia de transcendência de seus cultos e buscasse esta ou
aquela divindade como intermediária entre ele e Nzambi Mpungu (Deus Todo Poderoso),
de acordo com a situação real e a área de atuação de cada energia.Com a vinda ao Brasil e a
separação ardilosa das famílias, das nações, das etnias, essa estrutura religiosa não pode se
repetir e se fragmentou. Mas os negros criaram uma unidade nesta diversidade e pluralidade
e puderam partilhar e comungar os cultos e os conhecimentos diferentes em relação aos
segredos rituais de sua religião e cultura. E desta nova maneira de ser e viver, aberta a
todos, surgiu a forma acabada do que se chama hoje candomblé.
O vernáculo Candomblé, não mantém sob sua sombra uma unicidade e sim uma diversidade
religiosa e cultural, que talvez até hoje não tenhamos a verdadeira dimensão de sua
abrangência, em termos de origem étnica, clã, reinos, povos e organizações sociais e
religiosas africanas que foram trazidas para o Brasil.
Reúne, sob o mesmo título a idéia genérica para os diversos troncos religiosos na
experiência dos muitos povos trazidos do continente africano para as terras brasileiras. Na
sua etimologia advém do étimo bantu ndombele para a variação kandombele, e, portanto,
vem a denotar um equivalente próximo ao verbo “adorar” “falar” (existem outras
interpretações para o termo, mas preferimos esta).
Os aqui chegados, vindo da longínqua terra dos seus antepassados e submetidos ao regime
de escravatura de produção comercial de bens e riquezas, não tiveram tempo de trazer seus
objetos rituais e sagrados, visto terem sido forçados a abandonar seu espaço de origem,
além de muitos povos terem perdido o vínculo com os seus sacerdotes. Porém, não houve
como impedir que transportassem suas crenças, cultos, ritos, mitos e cosmogonias em suas
almas, fazendo retumbar em seus corações o som dos ngomas/atabaques ancestrais de seus
povos.
Então, como antes tinha se organizado sob o manto das irmandades cristãs, agora, no
momento próprio se irmanam sob o manto da nova identidade, que viria a ser conhecida
como Candomblé.
Os africanos de maioria bantu (durante os dois primeiros séculos do tráfico dos negros),
largamente assentados na região nordeste do Brasil (Alagoas, Pernambuco, Maranhão), no
Rio de Janeiro e em Minas Gerais, utilizados na lavoura e pastoreio, pois já na África eram
grandes criadores e cultivadores do solo, além de serem mestres na fundição de metais,
influenciaram em todas as áreas a cultura do país nascente, que nascia sob o fertilizado solo
regado pelo suor da pele negra, e sob a riqueza gerada pelos músculos africanos. Alguns
historiadores defendem que os africanos que desembarcaram na Bahia eram da África
sudanesa (Yorubás, dahomeanos, malês…), e que em muitas lutas de resistência se
refugiavam em quilombos baianos. O que se tem certeza é que os primeiros a chegarem por
aqui, quando a escravidão era mais desumana, foram os bantu.
Na religião não foi diferente. Influenciaram e foram influenciados. Ou conscientes, ou por
aproximação de cultos e tradições, ou por necessidade de recriar seu universo mítico, se
amalgamaram às novas experiências e resistiram aos valores religiosos dos escravizadores.
aquele que, por excelência, fala (Mpungu é uma ave que voa muito alto, fornecendo, deste
modo, a derivação semântica de “maior”, “eminente”, “excelente”) Os bantos (bantu) são
povos que habitam a África do Sul Equatorial. Falam dialetos diferentes (a língua é igual) e
pertencem a etnias diferentes. Cerca de 274 dialetos e línguas são falados. A influência dos
bantos invadiu a cultura brasileira, trazendo sua mitologia, culinária, religião além de
elementos folclóricos como a congada, recordando a rainha Ginga de Angola; o maracatu
de Cambinda Velha; a capoeira e o primitivo samba (semba).
Claro que muitas coisa tidas hoje como folclóricas, são na verdade uma tentativa de
reformular nas novas terras uma dinastia desfeita pela escravização como é o caso da
formação da corte do Congo (congadas).
Hoje o candomblé abriga em suas lides várias tradições religiosas conhecidas como Nações.
A nação Ketu, que tomou o nome de um dos povos yorubanos, onde a familia Arô reinava,
quando da escravização e do tráfico para o Brasil, e que cultua Orixás de várias origens
daquele povo, além de diversas divindade de povos que eram seus vizinhos na África e se
influenciaram mutuamente tanto na sua terra natal, quando na diáspora. De forte expressão
na Bahia e em Pernambuco, através do Xangô do Recife, uma variação religiosa
correspondente ao candomblé.
A Naçaõ Jêje, que tomou o nome de um “apelido” que lhe era dado pelos yorubanos. São de
origem Ewe Fon, de povos do antigo Daomé, que cultua Voduns, além de divindades
comuns com a nação ketu. Teve sua grande expressão na Bahia, através de casas antigas e
no Maranhão através do Tambor de Mina, uma organização religiosa corresponde ao
candomblé.
Nação hoje quase extinta, devido ao forte movimento de re-africanização que as religiões
afro-brasileiras sofreram a partir da década de 80.
Entre os grupos que se identificam nas “Nações” acima, temos as variantes que trafegam
entre uma e outra, como, por exemplo, os que se identificam como “Nagô-Vodum”.
Ainda temos o Omolocô, uma tradição afro-brasileira antiga e respeitada, que em muitas
casas está mais próximo das tradições yorubanas/daomeanas e em outras das tradições de
origem bantu
Pelos registros temos como o primeiro sacerdote iniciado no Brasil, de origem bantu, que
mais tarde seria conhecida como Nação Angola-Congo, o Sr. Roberto Barros Reis, que foi o
Iniciador da Sra. Maria Genoveva do Bonfim, conhecida como Maria Neném. A Sra. Maria
Neném tinha o nome iniciático de Twenda Nzambi e Fundou uma casa de candomblé que
chefiou até 1945.
De suas mãos saíram Manoel Ciriaco de Jesus, Tata Nludiamugongo, que teve casa de
candomblé no Engenho Velho e depois assumiu a terreno da Ladeira da Vila América (ou
Alto do Corrupio), que era do Sr. Manoel Kambambi, filho do Nkisi Nkosi. Foi Tata
Ciriaco que formou a grande família hoje conhecida como Tumba Junsara, deixando a casa
nas mãos de sua filha de santo e sobrinha de Tata Manoel Kambambi, Mam’etu Deré Lubdi,
grande sacerdotisa. Hoje a casa é chefiada pela Nengua ria Nkisi/Mukixi Sra. Iraildes Maria
de Jesus, filha do Nkisi Kindembo (Tempo), onde se celabra uma grande festa todos os anos
no final de semana mais próximo ao dia 10 de agosto. Da raiz Tumba Junsara se espalharam
várias casas em todo Brasil e no exterior.
Também das mãos de sacerdotisa Twenda Nzambi (Maria Neném) saiu o Sr. Manoel
Bernardino, fundador da casa de Angola-Congo Bate Folha, na Mata escura, que também
gerou um enormidade de filhos e casas que seguem esta tradição em todo o país e em vários
país estrangeiros.
Além, é claro, de várias outras casas e famílias, que de acordo com os estudos e com os
mais velhos são todos descendentes da sacerdotisa Maria Neném, pois foi ela que fundou a
primeira casa de Candomblé de Angola – Muxicongo.
Embora, cada família se identifique como Angola-Congo, Angola Muxicongo, etc., existem
tradições diferenciadas. Algumas cultuam um nkisi/mukixi que não é cultuado por outras.
Algumas tem festas que não são realizadas por outras, mas a essência é a mesma: Nzambi
Mpungu ou Suka Kalunga (um dos seus muitos nomes), que mora na Sanzala Kasembe Diá
Nazambi (Aldeia encantada de Deus)/Duilo (céu), é o Deus Supremo e criador de todas as
coisas. Quando do seu movimento de expansão e de criação, gerou o universo e
consequentemente o planeta terra, que foi gerado pela energia e criação dos Nkisis/Mukixis
que se manifestam nas diferentes partes da natureza e também regem a natureza humana.
Através do culto aos Nkisi/Mukisi, já que Nzambi, está acima de qualquer forma existencial
e de qualquer representação e culto, pois é completo em si mesmo, o ser humano consegue
o equilíbrio e ascende espiritualmente como iniciado, até que chegue o momento de ir
morar nas Aldeias dos Antepassados, onde se mantém vivo. Onde os campos são verdes e
os rebanhos fartos. Onde são felizes e mantém o intercâmbio com os mundo dos humanos,
que é sua continuidade. Os antepassados, também, são respeitados e invocados como
intercessores e intermediários entre os seres humanos e Nzambi. A eles são devidos todo o
respeito e todo ação de culto dentro de uma nzo (casa), que deve sempre iniciar com a
invocação e homenagens aos antepassados.
Mãe Biu, com seus familiares, filhos-de-santo e amigos, comprou lotes de terrenos, construiu
casas, quartos em torno do terreiro. Nessa empreitada liderada pela Yalorixá, destacaram-se:
José Martins da Silva, operário (esposo); madrinha Tila, costureira (irmã); tio Luís, sapateiro
(irmão); tio Sandoval, motorista (cunhado); pai Tonho (cunhado); tia Luíza, enfermeira
(irmã), que fundou a primeira Associação de Moradores do bairro; tia Laura, costureira e
irmã de padrinho Pedro, alfaiate; seu Cavaquinho, pedreiro, que, junto com padrinho Pedro,
se encarregou da construção do terreiro; dona Belmira de Ogum, filhade- santo, que articulou
um emprego de estivador para Adeíldo Paraíso (filho legítimo de Mãe Biu), trabalho que lhe
garantiu atuar por 20 anos como presidente do Sindicato dos Estivadores de Pernambuco. Em
razão dessas ações, o local conhecido como Portão do Gelo ficou popularizado como Xangô
de Mãe Biu. Após a morte da Yalorixá, a rua onde foi sediado o terreiro e construídas as
primeiras casas de seus parentes e filhos-de-santo passou a se chamar Severina Paraíso da
Silva, em homenagem àquela que procurou preservar o culto xambá e garantir espaços de
moradia e trabalho aos membros de seu terreiro.
Tchambá, Chambá, ou simplesmente Xambá, seria um grupo étnico africano, habitante dos
montes Adamawa, próximos ao rio Benué – rio de Iansã, orixá patrono do Terreiro Santa
Bárbara. Na Nigéria, Senegal e Camarões, algumas famílias, cujos membros lutaram nas
guerras de independência de suas nações, carregam o tchambá como sobrenome. Seria um
povo que habitou o norte da África, onde estavam localizados os haussás, baribas, tapas,
situados na Bacia do Benin. A verdade é que, sobre essa elaboração étnica, pouco sabemos.
Para os membros do Terreiro Santa Bárbara, são eles descendentes étnico-religiosos do
ocidente africano, para onde Pai Rosendo viajou nos primeiros anos pós-1888, trazendo os
axés do Xambá da Costa da África. Essa memória institucionaliza a identidade dos herdeiros
de Mãe Biu, que sob a auto-adscrição de nação Xambá, afirmam sua africanidade.
VALÉRIA GOMES COSTA concluiu o seu mestrado na Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE). Atualmente é aluna do Doutorado em História na Universidade Federal
da Bahia (UFBA).
Anais
V Simpósio Internacional do Centro de Estudos do Caribe no Brasil
Salvador – Bahia, 30 de setembro a 03 de outubro de 2008.
ÁUREA DAS AFRICANIDADES:
IDENTIDADES ÉTNICO-RELIGIOSAS NOS TERREIROS DE XANGÔS EM
PERNAMBUCO E ALAGOAS PÓS ABOLIÇÃO
*
Resumo:
Ao se aproximar os anos precedentes à Abolição, identidades africanas específicas –
cassage,
baca, xambá – e/ou gerais – nagô, mina, jeje, angola – foram tomando novos significados.
Nos
espaços religiosos como os terreiros de culto aos orixás, essas ressignificações identitárias
passaram a ser compreendidas também dentro da lógica de experiência do tráfico e
escravização
atlântica que os ex-escravizados e seus descendentes foram reinventando para reestruturar
suas
„raízes‟ étnicas, culturais e religiosas esgarçadas no movimento transatlântico. Esta
comunicação
traz questões gerais de meu projeto de doutorado, no qual pretendo discutir como essas
(re)elaborações identitárias foram sendo reconfiguradas pelos africanos e crioulos, no
período
pós-1888, nos terreiros de xangôs em Pernambuco e Alagoas, tendo naqueles que se
identificam
como nagô, e em especial xambá, o ponto de partida para as análises.
Palavras-chave: Religiões afrodescendentes. Pós-Abolição. Identidades africanas.
Abstract:
When approaching the years preceding the Abolition, African specific identities – cassage,
bacca,
xambá – and / or general – nagô, mine, jeje, angola – were taking new meanings. In
religious
*
Doutoranda em História Social na UFBA, Mestra em História pela UFPE e Licenciada em
História pela UFPE. E
Anais
V Simpósio Internacional do Centro de Estudos do Caribe no Brasil
Salvador – Bahia, 30 de setembro a 03 de outubro de 2008. 2
spaces such as terreiros of worship to orixas, these remaining identity began to be
understood
even within the logic of experience of trafficking and enslavement Atlantic that the former
enslaved and their descendants were reinventing to restructure its’ roots’ ethnic , cultural
and
religious semi-destroyed in transatlantic movement. It brings broad issues of my project,
doctorate, in which I intend to discuss how these (re) elaborations identities were re-
configured
by African and Creole, in the post-1888, the terreiros of xangôs in Pernambuco and
Alagoas,
and those who identify as nagô, and in particuler xambá, the starting point for analysis.
Key-words: Afro-descendants Religions, Post-Abolition, African Identities.
O presente artigo é mais uma apresentação de minha proposta de tese do que resultados
de pesquisas mais aprofundadas sobre o assunto. Pretendo investigar como foram se
configurando as elaborações de identidades étnico-religiosas africanizadas, no período
pósabolição da escravidão e primeira fase da República (1888 a 1937), pelos adeptos das
religiões
afro-brasileiras, sobretudo africanos e crioulos, em meio às suas estratégias de organização
dos
espaços urbanos em Pernambuco e Alagoas. Tomei como referência os terreiros de culto
aos
orixás em Recife e Maceió, particularmente os que se identificam como de culto Xambá.
1
Desta
forma, antes de partir para o debate em torno de minhas hipóteses acerca das táticas e
estratégias
1
Modelo ritualístico de culto aos orixás que, no Recife e em Maceió, ficou conhecido pelas
suas particularidades:
cantos litúrgicos em iorubá „aportuguesado‟; roupas rituais da cerimônia de feitura-de-
santo (yaô) semelhantes às
indumentárias dos autos alagoanos. No Terreiro Santa Bárbara – Nação Xambá, localizado
no bairro de Beberibe
(Olinda/PE), Região Metropolitana do Recife, há uma cerimônia anual chamada de
“Louvação de Oyá”, que ocorre
no dia 13 de dezembro, ao meio-dia, como memória de preparação das sacerdotisas filhas
de Iansã/Oyá feita pelo
precursor do culto, Artur Rosendo Pereira. Os membros do Terreiro Santa Bárbara são
conhecidos em Olinda e
Recife como “comedores de ebó”, por se alimentarem dos “axés” dos animais (partes vitais)
oferecidos aos orixás,
enquanto a carne é compartilhada entre os demais membros presentes nas obrigações.
(COSTA, 2006).
Anais
V Simpósio Internacional do Centro de Estudos do Caribe no Brasil
Salvador – Bahia, 30 de setembro a 03 de outubro de 2008. 3
de apropriação e organização de espaços urbanos por africanos e crioulos, tendo a religião
como
eixo aglutinador de pessoas e idéias, farei breves esclarecimentos sobre as narrativas de
configuração étnica Xambá no território em estudo.
A nova historiografia da escravidão apontou as estratégias de configuração de identidades
que os escravizados elaboravam também como mecanismo de resistência ao cativeiro,
ficando
algumas nações e/ou etnias africanas, comumente rememoradas nos terreiros de culto aos
orixás,
como nagô, mina, jeje, angola, tidas como “guarda-chuvas étnicos” (REIS apud SOARES;
GOMES; FARIAS, 2005); enquanto outras, como bacca, savalu, xambá, puderam ser
pensadas
como identificações mais específicas, preservadas pelos africanos ou (re)elaboradas dentro
das
malhas de negociação da escravização, ou seja, frutos do processo de crioulização (PRICE,
2003;
PARÉS, 2005).
A nação Xambá aparece ainda como uma incógnita em minhas pesquisas. Afora as
narrativas dos membros do Terreiro Santa Bárbara – Nação Xambá, arrogando-se como
descendentes étnico-religiosos do povo Xambá (Tchamba, Chambá, Shamba),
possivelmente
habitantes dos montes Adamawa, nas proximidades do rio Benué, no Ocidente africano, não
há
referências documentais sobre a vinda de africanos desta procedência para Pernambuco e
Alagoas no período da escravidão.
2
Trabalhos recentes indicam a chegada de africanos xambás
no Brasil, no século XVIII, em regiões do Recôncavo Baiano no ano de 1778 (PARÉS,
2006, p.
67) e em Minas Gerais a partir de 1795 (REZENDE, 2006). Para Mariza de Carvalho
Soares, os
2
Estou fazendo levantamento documental nos Arquivos Públicos de Pernambuco, Alagoas e
Bahia, privilegiando
inventários, cartas de alforrias, ações de liberdade, processos-crimes, batismos, casamentos,
óbitos, livros de
registros de passaportes pós-1850, que me dão pistas sobre os grupos de procedência
africana que possivelmente
entraram em Pernambuco após 1850, uma vez que, anteriormente à proibição do tráfico,
não há registros de
africanos da etnia Xambá em Pernambuco e Alagoas.
Anais
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chambás não podem ser definidos como grupo étnico “guarda-chuva”, uma vez que poucos
africanos desta procedência vieram na condição de escravizados para o Brasil, sobretudo no
Rio
de Janeiro, onde aparece um número pouco significativo em termos demográficos
(SOARES,
2007, p. 17). Robin Law ainda localiza os chambás na vizinhança com os haussás, ashantis,
baribas, borgus, tapas, no espaço geográfico da Baía do Benin (LAW, 2005, p. 109-131).
Por outro lado, os trabalhos de Olga Cacciatore, Waldemar Valente e René Ribeiro
encontraram, nos territórios pernambucano e alagoano, indícios desta procedência étnica
como
identidade religiosa de alguns terreiros de xangôs
3
, no início do século XX. Enquanto Cacciatore
(1988) e Valente (1976) davam como extintas as práticas religiosas de nação Xambá,
devido à
supremacia do culto Nagô no Recife na década de 1940, René Ribeiro apontava como
baluarte
de preservação do rito xambá o alagoano Artur Rosendo Pereira. Segundo Ribeiro, Pai
Rosendo
teria viajado para a Costa da África, mais precisamente para o Daomé, onde possivelmente
teria,
por quatro anos, convivido com o povo somba, aprendendo a língua local e familiarizando-
se
com as práticas que convencionou chamar de xambás em Dakar (O Cruzeiro, 1949)
O babalorixá alagoano, crioulo, nasceu no bairro do Jaraguá, em Maceió. Chegou ao
Recife no início dos anos 1920, na tentativa de burlar a repressão e perseguição policiais
que as
religiões afrodescendentes estavam sofrendo em Alagoas. No Recife, passou a habitar o
bairro de
Água Fria e depois o bairro da Mangueira, onde faleceu por volta do início dos anos 1950.
Nestas áreas suburbanas, Pai Rosendo aglutinou inúmeros filhos(as)-de-santo, cujas ações
políticas sinalizaram suas autoridades em seus respectivos bairros. Um exemplo é Lídia
Alves, a
3
Em alguns estados do Nordeste, sobretudo Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do
Norte, os cultos de
orixás ficaram conhecidos como xangôs. Palavra que, além de designar o nome do Orixá do
trovão e da justiça,
indica também os espaços de prática da religião e o próprio ritual (obrigações e toques
festivos)
Anais
V Simpósio Internacional do Centro de Estudos do Caribe no Brasil
Salvador – Bahia, 30 de setembro a 03 de outubro de 2008. 5
mãe Lídia de Oxalá, no bairro de Campo Grande, que liderou abaixo-assinado dirigido à
Câmara
de Deputados do Estado de Pernambuco, nos anos 1950, para que os cultos afro-brasileiros
tivessem os mesmos direitos que as demais religiões, argumentando que a legislação do país
já
assegurava liberdade de culto.
4
Outro exemplo é Severina Paraíso da Silva, a “Mãe Biu do
Portão do Gelo”, que no início da década de 1950 liderou o empreendimento de organização
de
sua comunidade religiosa na localidade do Portão do Gelo, em Beberibe, inaugurando o
surgimento de um bairro negro (COSTA, 2006). Mesmo popularizando o culto xambá em
Recife,
5
Pai Rosendo era muitas vezes questionado sobre sua real estada na África pelos demais
sacerdotes na Cidade, uma vez que quando trocava palavras em iorubá com eles se
mostrava
contraditório.
Além de Pai Rosendo, outros babalorixás mencionaram suas possíveis viagens ao
Continente Africano como forma de legitimação religiosa de seus terreiros, como no
clássico
caso de Felipe Sabino da Costa, o famoso Pai Adão, que se constituiu como referência da
tradição religiosa Nagô em Recife, sobre o qual irei falar an passant, mais adiante. Outras
pessoas vinculadas às práticas religiosas africanizadas buscavam ainda constituir sua
africanidade afirmando-se etnicamente, como Fortunata Maria da Conceição (Baiana do
Pina),
4
SEITA africana. Recife, 1967. Fundo SSP, n. 7856, Arquivo Público Estadual Jordão
Emerenciano (APEJE). Lídia
Alves nasceu em 1893, estando com 60 anos quando liderou essa ação.
5
Aportuguesando os orôs (toadas de fundamento), colocando em seus rituais elementos dos
autos do folclore
alagoano. Cf. O Cruzeiro, 1949; Resultados da experiência com Rorschach com Dúdu em
9-4-54, Manuscritos de
René Ribeiro, 1954. Agradeço a Daniel Stone, do King‟s College – Londres, pelo repasse
dos cadernos particulares
de René Ribeiro sob a guarda de Celina Ribeiro. Cf. também Fernandes (1937) e Ribeiro
(1978)
Anais
V Simpósio Internacional do Centro de Estudos do Caribe no Brasil
Salvador – Bahia, 30 de setembro a 03 de outubro de 2008. 6
que se apresentava como natural da Costa;
6
Apolinário Gomes da Mota, que dizia ser sua casa o
primeiro terreiro de tradição Congo no Recife;
7
Mestre Félix, conhecido como “Negro Mina”,
em Maceió, procedente da Costa da Mina.
8
Pierre Verger e Gilberto Freyre foram os que primeiro falaram dessas narrativas de
africanos(as) e crioulos(as) libertos(as) que estabeleceram fluxos entre o Brasil e a África.
Mais
recentemente, Luis N. Parés e Lisa E. Castilho (2007) constataram que essas narrativas de
trânsitos Brasil-África tiveram vários significados. Porém, a agência religiosa, por meio do
comércio de objetos rituais e aperfeiçoamento da liturgia, aparece com importância
destacada.
Tudo isto, porém, refere-se às experiências na Bahia com os nagôs, jejes, minas, ficando
espaços
como Alagoas e Pernambuco pouco ou quase nunca mencionados. Uma exceção é o
exemplo de
Pai Adão, que teria nascido no Engenho da Torre (Recife-PE), em 1877, filho do africano
Sabino
Costa. Ele assumiu a direção do Terreiro Obá Ogunté, conhecido como Sítio do Pai Adão,
após a
morte de Inês Joaquina da Costa, negra de ganho que conquistara sua alforria por volta de
1875.
9
Segundo a versão dos funcionários do Serviço de Assistência a Psicopatas de Pernambuco,
teria
Pai Adão seguido em um cargueiro para Lisboa, onde embarcou para Lagos, passando
quatro
6
A Baiana do Pina declarou em entrevista a Pedro Cavalcanti, em 1932, ser oriunda da Costa
da África, estando já
há muitos anos no Brasil. Antes de fixar residência no Recife, teria habitado também no Rio
de Janeiro, Bahia e
Alagoas. (Arquivos da Assistência a Psicopatas de Pernambuco, Recife, 1935, p. 88).
7
O Terreiro de Apolinário foi estudado por Waldemar Valente nos anos 1950, por ser o
Babalorixá tido como uma
das lideranças de referência de tradição afro-religiosa e social na comunidade. Cf. Valente
(1976); Diário de
Pernambuco, 19 fev. 1954 e 06 out. 1956.
8
O Terreiro do Mestre Félix pode ser considerado um dos mais antigos de Maceió, pois já
funcionava no início do
século XX, em 1906, afirmando-se como muito antigo. Formou muitos filhos-de-santo no
bairro do Jaraguá, em
especial a famosa Tia Marcelina.
9
ARQUIVOS da Assistência a Psicopatas de Pernambuco, 1935; Diário de Pernambuco, 28
mar. 1936; RIBEIRO,
René. Resultados da experiência com Rorschach com Dúdu em 9-4-54. Manuscritos, 1954,
p. 5.
Anais
V Simpósio Internacional do Centro de Estudos do Caribe no Brasil
Salvador – Bahia, 30 de setembro a 03 de outubro de 2008. 7
anos na companhia de seus parentes africanos.
10
Uma segunda versão sustenta que o Babalorixá
fora auxiliado por outros sacerdotes que eram africanos libertos e estavam ainda no Recife
na
primeira década do século XX, como Tio Cassiano, Tio Claudiano, Tia Rita e o babalaô
Pedro
Salustiano da Costa.
11
Com estas pessoas Pai Adão tivera viajado para a África, tendo a Cidade
de Salvador como caminho facilitador da viagem. Há também indícios de que
posteriormente o
Babalorixá teria vivido em Salvador e Maceió, indo e vindo constantemente entre essas
duas
cidades, em decorrência de seus empreendimentos religiosos.
12
A partir dessas narrativas sobre africanidades e trajetórias de experiências de africanos e
crioulos no fluxo e refluxo Brasil-África – ora para afirmar a legitimidade de seus terreiros,
ora
para o aperfeiçoamento de suas práticas afro-religiosas, ou ainda para a educação filial
segundo a
tradição da ancestralidade (PARÉS; CASTILHO, 2007) –, venho trabalhando a hipótese de
que,
paralelamente a todo esse processo de construção de identidades africanas dos adeptos de
culto
aos orixás, também ia se configurando a organização dos espaços urbanos por onde essas
pessoas
passavam. Entre as diferentes localidades regionais e/ou locais que iam ocupando,
engendravam
ações para garantir habitação, trabalho e lazer aos que lhes seguiam, concorrendo para o
surgimento de bairros negros, lugares de autoridade dessas lideranças religiosas.
Em Alagoas, alguns bairros de Maceió, como Jaraguá, Levada, Pajuçara, Bebedouro,
Trapiche da Barra, Farol, Ponta Grossa, Supapo, entre outros, mostram aspectos de
ocupação e
estruturação urbana, social e religiosa afrodescendentes. Lideranças de Xangôs, como
Mestre
Félix, Tia Marcelina, Manuel Geleilú, Manuel Coutinho, Chico Foguinho, João Catarina,
José
10
ARQUIVOS da Assistência a Psicopatas de Pernambuco, 1935, p. 104.
11
Resultados da experiência de Rorschach com Dúdu em 9-4-54, op. cit.
Anais
V Simpósio Internacional do Centro de Estudos do Caribe no Brasil
Salvador – Bahia, 30 de setembro a 03 de outubro de 2008. 8
Bambirrá – do Cafundó, no Jaraguá, pai-de-santo de Artur Rosendo Pereira
13
– tornaram-se
nomes ligados à história de organização desses bairros.
14
Alguns, como Tia Marcelina, estavam
vinculados a questões políticas
15
, outros, como Artur Rosendo, recriavam tradições à medida que
ocupavam os espaços urbanos.
Em Pernambuco, bairros recifenses como Casa Amarela, Beberibe (trabalhados em
minha dissertação de Mestrado), Água Fria, Mangueira, Tejipió, Barro ficaram conhecidos
como
“pedaço do povo-de-santo”, nas primeiras décadas do século XX. Antes deles, os bairros de
São
José e Afogados, ao se aproximar os anos precedentes à Abolição, foram se constituindo a
partir
das ações de africanos(as) e crioulos(as) libertos(as). Em São José, que se tornou lugar de
reconstrução dos “laços culturais e religiosos esgarçados pelo desenraizamento violento que
foi o
tráfico atlântico de escravos” (CARVALHO, 1998, p. 87), ocorreram os primeiros
assentamentos
de terreiros de xangôs. Ruas como Imperial, Concórdia, Peixoto, Flores e a Praça Sérgio
Loreto
– limite entre São José e Afogados – fizeram parte da trajetória de crioulos(as) e
africanos(as)
libertos(as), como Maria Helena da Costa, ex-cativa de ganho. Esta conseguiu se iniciar nos
preceitos religiosos nagôs após a aquisição de sua alforria, segundo sua neta Marcolina da
Silva
Marques, que foi exaustivamente entrevistada por René Ribeiro, em 1954, quando estava
com 75
13
Segundo José Benedito Maciel, o Pai Maciel, que diz ter nascido em 06 de julho de 1910, o
babalorixá de Artur
Rosendo se chamava Mestre Inácio e residia no Jaraguá. Entrevista com Pai Maciel, Ponta
Grossa – Maceió/Al, 28
fev. 2007.
14
Os terreiros dirigidos por esses líderes religiosos estavam concentrados nos bairro do
Jaraguá, Trapiche da Barra e
Farol (RAFAEL, 2004).
15
Em 1912 Tia Marcelina teve seu terreiro fechado no episódio do “Quebra”, movimento
político-policial que
ocorreu em Maceió e levou diversos terreiros de xangôs a serem depredados, fechados e
seus líderes perseguidos.
Entre as motivações deste movimento, estão as relações pessoais que o então governador
Euclides Malta mantinha
com pessoas adeptas das religiões afro-brasileiras em Alagoas. (RAFAEL, 2004).
Anais
V Simpósio Internacional do Centro de Estudos do Caribe no Brasil
Salvador – Bahia, 30 de setembro a 03 de outubro de 2008. 9
anos de idade.
16
Estas personagens marcaram a história do Terreiro Obá Ogunté – Sítio de Pai
Adão. Investigar suas trajetórias torna-se de suma relevância para a montagem do quebra-
cabeça
das redes sociais tecidas pelos afrodescendentes na organização dos espaços urbanos e da
agência transatlântica, alimentada por produtos, pessoas e idéias.
Por fim, nas pesquisas iniciais que estou desenvolvendo nos livros de Passaportes e de
Entrada e Saída da Polícia do Porto em Savaldor-BA,
17
venho me deparando com um
significativo número de africanos(as) e crioulos(as) libertos(as), de Alagoas e Pernambuco,
que
constantemente iam à África, tendo o porto de Salvador como passagem para esse “fluxo e
refluxo”. Entre os motivos dessas viagens, estavam os „negócios‟ desenvolvidos por
esses(as)
libertos(as), sobretudo crioulos(as), que podem vir a corroborar minhas idéias preliminares
acerca dessas construções de africanidades nos terreiros de xangôs pernambucanos e
alagoanos.
REFERÊNCIAS
CACCIATORE, OLGA G. Dicionário de cultos afro-brasileiros. 3. ed. Rio Janeiro: Forense
Universitária, 1988.
CARVALHO, Marcus J. M. de. Liberdade: rotinas e rupturas do escravismo no Recife
(1822-
1850). Recife: Editora Universitária da UFPE, 1998.
16
Um de meus objetivos no trabalho final de Doutorado é construir trajetórias de africanos
libertos e crioulos, como
Arthur Rosendo – até o presente momento o maior referencial de introdução das práticas
xambás no Recife e
Maceió, que possivelmente viajou à África. Maria Helena da Costa, Pedro Salustiano da
Costa, Inês Joaquina da
Costa e Felipe Sabino da Costa são minhas referências da organização do culto Nagô em
Pernambuco que também
seguiram provavelmente para a Costa da África nos anos iniciais do pós-1888. Cf.
Resultados da experiência com
Rorschach com Dudu 9-4-54, op. cit.
17
REGISTROS de Passaportes, Sessão Colonial, maços 5902 a 5910, de 1870-1889. Entrada
e Saída de Passageiros
– Diretoria da Polícia do Porto, Sessão Arquivos Republicanos, v. 01-31 (entrada), v. 57 a
67 (saídas). Arquivo
Anais
V Simpósio Internacional do Centro de Estudos do Caribe no Brasil
Salvador – Bahia, 30 de setembro a 03 de outubro de 2008. 10
COSTA, Valéria Gomes. Nos arrabaldes da cidade: práticas de apropriação e estruturação
dos
espaços no subúrbio do Recife pelo Terreiro Santa Bárbara – Nação Xambá (1950-1992).
Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2006.
FERNANDES, Gonçalves. Xangôs do Nordeste: investigações sobre os cultos negro-
fetichistas
do Recife. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1937.
LAW, Robin. Etnias de africanos na diáspora: novas considerações sobre os significados do
termo „mina‟. Tempo, Niterói, v.10, n.20, p. 109-131, jan. 2006.
PARÉS, Luis Nicolau. O processo de crioulização no Recôncavo Bahiano (1750-1800).
Afro-
Ásia, Salvador, n. 33, p. 87-132, 2005.
______. A formação do Candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia. Campinas:
UNICAMP, 2006.
______; CASTILHO, Lisa Earl. Marcelina da Silva e seu mundo: novos dados para uma
historiografia do candomblé Ketu. Afro-Ásia, Salvador, n. 36, p. 111-151, 2007.
PRICE, Richard. O milagre da crioulização: retrospectivas. Revista de Estudos Afro-
Asiáticos,
Rio de Janeiro, n. 3, p. 383-419, 2003.
SOARES, Carlos Eugênio Líbano; GOMES, Flávio dos Santos; FARIAS, Juliana Barreto.
No
labirinto das nações: africanos e identidades no Rio de Janeiro, século XIX. Rio de Janeiro:
Arquivo Nacional, 2005.
SOARES, Mariza de Carvalho (Org.). Rotas atlânticas da diáspora africana: da Baía do
Benim
ao Rio de Janeiro. Niterói: EDUFF, 2007.
VALENTE, Waldemar. Sincretismo religioso afro-brasileiro. 2. ed. São Paulo: Nacional,
1976.
VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo: fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do
Benin
e a Baía de todos os Santos. Salvador: Corrupio, 2002.
Marileide conheceu o coco dos xambazeiros e todo sincretismo desse povo através do
contato com Cleyton José da Silva, o Guitinho, vocalista do grupo Bongar. ‘Ele me pediu
ajuda na produção do Bongar. Na época, eu estava fazendo pós-graduação em Jornalismo
Cultural e decidi usar essa história como objeto da monografia’, explicou a jornalista. Os
componentes do grupo Bongar têm entre 18 e 25 anos, são todos descendentes de Mãe Biu e
aprenderam desde a infância a importância de seus ritos e tradições.
O culto Xambá era praticado pela minoria dos negros ‘importados’ para o Brasil. A partir
da pesquisa, Marileide descobriu que, na narrativa dos historiadores, esse povo era citado
como extinto ou quase-extinto. ‘Isso por que, em 1930, na época do Estado Novo, a
repressão fechou muitos terreiros. A maior raiz do povo Xambá estava em Alagoas e o
babalorixá veio fugido para Pernambuco. Aqui, ele iniciou Maria Oiá, mas em 1938, o
terreiro foi fechado’.
Doze anos depois, o terreiro foi reaberto e repovoado pela Mãe Biu, que começou a trazer
parentes e amigos. Semi-analfabeta, ela cultivou os costumes e consolidou a comunidade.
No ano passado, eles foram reconhecidos como o primeiro quilombo urbano do Estado pela
Fundação Cultural Palmares. Lá, prevalece o culto Xambá, com linguagem e ritos
peculiares, sobrevivente apenas em Pernambuco.
Nação Xambá, do terreiro aos palcos vem para suprir a falta de informação a respeito desse
povo. ‘Eles existem, mas eram anônimos. Tudo o que colhi para o livro foi passado pela
oralidade, por xambazeiros mais velhos e pelos meninos do Bongar’, disse Marileide. A
publicação tem patrocínio do projeto BNB Cultural, do Banco do Nordeste, e apoio da
Prefeitura do Recife e Fundação Cultural Palmares.
O livro é a soma de histórias de pessoas simples que lutaram pelo direito à sua religião e
não se deixaram levar pelas condições financeiras. ‘Dei ao meu trabalho um olhar muito
emotivo. Eu sou espírita e, a partir desse contato com os xambazeiros, adentrei num
ambiente de muita harmonia e energia, onde histórias de gente simples se transformaram
em força e resistência’, disse a jornalista.
Para apresentar inspiração das 150 páginas de Nação Xambá, do terreiro aos palcos, o grupo
Bongar faz um show intimista, durante o lançamento. O exemplar custa R$ 20. A Portão de
Gelo fica na Rua Severina Paraíso Silva, 65, São Benedito, Olinda.
Nação Xambá
Diversos autores apontam o povo Xambá ou Tchambá, como povos que habitavam a região
ao norte dos Ashanti e limites da Nigéria com Camarões, nos montes Adamaua, vale do rio
Benué. Existem várias famílias com esse nome, nos Camarões, tendo inclusive participado
nas lutas pela independência daquele país.
No dia 13 de dezembro de 1932, Maria Oyá termina sua iniciação, com o recebimento das
folhas, faca e espada. Ao meio dia, realizou-se o ritual de coroação de Oyá no trono,
cerimônia tocante e belíssima, repetida anualmente, pôr Mãe Biu, sucessora de Maria Oyá.
Violenta repressão policial fecha o terreiro em 1938, que manteve o culto aos Orixás, à
portas fechadas. Em 1939, falece Maria Oyá. Em 16 de junho de 1950, Mãe Biu (filha de
Ogum e Oyá), reabre seu terreiro na estrada do Cumbe, 1012, Santa Clara – Recife, tendo
como Babalorixá Manoel Mariano da Silva e Yalorixá Dona Eudóxia, Padrinho Luiz da
Guia e Madrinha Dona Severina, esposa de Manoel Mariano. Em 07 de abril de 1951,
muda-se para o atual endereço, na antiga Rua Albino Neves de Andrade, hoje Severina
Paraíso da Silva, nº 65, no Portão do Gelo, São Benedito – Olinda.
Após 54 anos dirigindo sua casa e mantendo as tradições e rituais da Nação Xambá, Mãe
Biu falece aos 78 anos, no dia 27 de janeiro de 1993. Donatila Paraíso do Nascimento, Mãe
Tila, iniciada em 1932 por Artur Rosendo, Mãe-pequena da casa desde 1933, sucede Mãe
Biu como Yalorixá, tendo como Babalorixá, seu sobrinho (filho de Mãe Biu), Adeildo
Paraíso da Silva (Ivo), que continuam preservando as tradições do Terreiro Xambá.
Localidade
NAÇÃO XAMBÁ
A Nação Xambá é uma religião afro-brasileira ativa em Olinda, Pernambuco. Alguns
autores como Olga Caciatore (Dicionário de Cultos Afro-Brasileiros. Rio de Janeiro,
Forense Universitária, 3ª Edição, 1988) e Reginaldo Prandi (Candomblés de São Paulo. São
Paulo, HUCITEC, 1991) afirmam que culto Xambá no Brasil está praticamente extinto.
Historia
Com o passar dos anos e com a violência policial do Estado Novo cada vez mais rígida.
Em 1938 Maria Oyá é obrigada a fechar seu terreiro.Terreiro esse que não mais abrira suas
portas guiado por aquela que pela mãos de Artur Rosendo Pereira trouxe o Xambá
para Pernambuco. Pois em 1939 Maria Oyá se despede de sua vida terrena, deixando o
Xambá órfão. É ainda nesse duro período de perseguições que juntamente com as outras
nações de candomblé cultuadas em Pernambuco que todos os terreiros são fechados e seus
fieis tolhidos, durante 12 longos anos até 1950, daquilo que lhes é mais precioso, do culto
de seus Orixás, Inkices e Voduns.
Porém, como depois de uma guerreira de Oyá há de vir uma outra guerreira para continuar a
luta por seus ideais, pela conservação dos ritos e mitos de uma tradição, Mãe
Biu de Oyá Megué reabre o terreiro Xambá em 1950 na Estrada do Cumbe, 1012 no bairro
de Santa Clara na cidade do Recife. Tendo como seu babalorixa o Sr. Manoel Mariano da
Silva, como Iyalorixá D. Eudoxia, como padrinho o Sr. Luiz da Guia e madrinha D.
Severina. Tendo permanecido nesse endereço por apenas dez meses, no dia 7 de abril
de 1951 o terreiro se muda para o atual endereço na antiga rua Albino Neves de Andrade,
hoje em homenagem a sua grande Mãe Biu, rua Severina Paraíso da Silva, 65 na localidade
do Portão do Gelo, bairro de São Benedito – Olinda – Pernambuco.
Com o falecimento de Mãe Biu, que durante 54 anos dirigiu o Terreiro Xambá, auxiliada
por sua fiel e inseparável irmã e amiga Mãe Tila que então assume o cargo de Iyalorixá do
Xambá por um período de 10 anos, tendo como babalorixá seu sobrinho carnal Adeildo
Paraíso, filho carnal de Mãe Biu. Hoje em 2004 com o falecimento de Mãe Tila, assume
o Trono do Xambá a Iyalorixá Maria de Lourdes da Silva de Iemanjá, iniciada por Mãe
Biu em 18 de maio de 1958.
A jovem guarda do Xambá de Pernambuco orgulha-se de seu terreiro, do seu povo, de sua
simplicidade sem invenções modernas, sem sequer mudar uma linha do que lhes deixou seu
propulsor e suas grandes e humildes mães de santo. O terreiro Xambá está lá no no bairro
Portão do Gêlo, preservado, conservado e servindo de exemplo para
muitos terreirostradicionais. O Memorial do Xambá foi criado de acordo com a solicitação
de seu babalorixá aos seus filhos, para contar a historia de um povo aguerrido e ordeiro.
O Grupo Bongar é formado por seis percussionistas e cantores da Nação Xambá, realiza um
trabalho de resgate e divulgação da cultura e religião Xambá e de sua dança tradicional
o coco.[1]
Orixás
Ritual
Os escravos homens deviam dar nove voltas em torno dela. As mulheres sete voltas. Depois
disso supunha-se que os escravos perdiam a memória e esqueciam seu passado, suas origens
e sua identidade cultural, para se tornarem seres sem nenhuma vontade de reagir ou se
rebelar.
Mas, o escravo não esquecia nada, porque quando chegou aqui recriou suas divindades.
Conseguiu refazer tudo aquilo que ficou para traz. Hoje, nos diversos estados brasileiros se
tem verdadeiras ilhas de África, pois se mantém muito vivas as tradições religiosas iorubá e
jêje. Devido à multiplicidade nas origens, a estruturação e a prática dos rituais tomaram
formas diferentes em cada região do país.
Orixás
Orixás, regentes do mundo terrestre com várias definições a seu respeito, mas em princípio
os Orixás são divindades intermediárias entre o Deus Supremo, Olorum, e o mundo terrestre.
Foram encarregados de administrar a criação e a continuidade da vida na terra.
Os Orixás estão subordinados a um Deus Supremo chamado Olorum ou Olodumare, mas não
há nenhum culto ou altar dirigido diretamente à ele, o contato é feito através dos Orixás, seus
intermediários.
Nossa tradição guarda o axé (força) de cada Orixá em um Okutá (pedra) que é colocada em
uma vasilha junto a outras “ferramentas”, que ficam sob a guarda do babalorixá ou Yalorixá;
mas a força maior está solta na natureza, apenas parte dela, simbolicamente fica no Okutá.
As cerimônias são diversas, são ofertados presentes, comidas diferentes para cada um e
sacrifícios que envolvem animais de quatro pés e aves; tirando a parte dos Orixás toda carne
é consumida pelos participantes e membros da comunidade. Aos orixás rogam-se proteção,
saúde, paz, em fim, pedidos específicos às necessidades de cada um em particular.
Os Orixás intercedem de acordo com o domínio que cada um exerce sua influência no
aspecto da vida, como por exemplo, Bará para abrir os caminhos, Xangô para justiça, Oxum
para fertilidade e assim por diante.
É magnífico poder escrever sobre a religião africana, mas há rituais muito particulares, nos
quais alguns praticantes, não estão se preocupando em guardar o segredo, alguns estão
colocando em público, rituais que os antigos levariam anos, até passarem para aqueles que
mostravam sigilo absoluto, e que guardariam para confidenciar apenas aos seguidores de
merecimento. Todas as religiões importantes do mundo doutrinam e ensinam, mas os maiores
segredos um mestre só passa para outro mestre.
Existem aspectos cerimoniais que regulam o relacionamento dos serem humanos com as
divindades. As regras são muitas, numa espécie de quebra cabeças, com começo, meio e fim,
montado com interpretações simbólicas dos mitos que envolvem os orixás, e constituem uma
grande rede interligada de deveres e direitos, obrigações e possibilidades, extremamente
complexa e cheia de nuanças, inclusive possibilitando diversas variações que só quem é do
meio pode saber e executar. A forma organizada na África deve ser perpetuada. Não temos o
direito de mudar algo estabelecido a séculos, mesmo que queiram rotular nossos rituais de
primitivos e ultrapassados, temos que procurar manter a força espiritual que envolve nossa
religião, esta poderosa raiz deixada por nossos ancestrais.
Um caminho que nos faz ter contato com os orixás é através da incorporação; este é o
processo pelo qual a entidade se manifesta em seu filho(a) que passou pelos mais diversos
rituais de iniciação. Contudo há casos de incorporação de não iniciados. É possível uma
pessoa estar assistindo um ritual pela primeira vez e se identificar com as forças espirituais
energéticas referentes ao seu orixá, e ter esta manifestação espontânea.
Na maior parte, a manifestação dos orixás acontece em dias de festas. No batuque, nestas
ocasiões, podemos falar; pedir auxílio, consultar, abraçar e ser abraçado por eles; em fim
pode-se ter um contato direto com os orixás. Uma característica específica que diferencia o
batuque das demais religiões afro-brasileiras é o fato do iniciado não saber, em hipótese
alguma, que é incorporado pelo orixá. Esta peculiaridade provém de longínquas aldeias do
interior da África, e faz parte dos rituais desde o início da estruturação da religião no Estado
do Rio Grande do Sul a mais de duzentos anos.
Outro caminho que nos leva aos Orixás são os Búzios. A cerimônia do jogo dos Búzios é o
instrumento usado no dia a dia para consulta aos Orixás. Através dele podemos receber
orientações, conselhos e advertências.
Os Orixás cultuados no Batuque do Rio Grande do Sul são: Bará, Ogum, Oyá ou Iansã,
Xangô, Ibêji, Odé, Otim, Obá, Ossãe, Xapanã, Oxum, Yemanjá e Oxalá.
ORIXÁS
Na Umbanda e no Candomblé se cultuam muitos outros orixás, desconhecidos por leigos, por
serem menos populares do que Xangô, Iansã, Oxossi e outros, mas com um significado muito
forte para os adeptos dos cultos afro-brasileiros. Alguns são necessariamente cultuados,
devido à ligação com trabalhos específicos que regem, para a saúde, morte, prosperidade e
diversos assuntos que afligem o dia-a-dia das pessoas. Estes deuses africanos são
considerados intermediários entre os homens e Deus, e por possuírem emoções tão próximas
dos seres humanos, conseguem reconhecer nossos caprichos, nossos amores, nossos desejos.
É muito comum, alguns dizerem que suas personalidades são conseqüências dos Orixás que
regem suas cabeças, desenvolvendo características iguais às destes deuses africanos.
EXU, Senhor dos caminhos, Orixá mensageiro e vencedor de demandas. Por estar mais
próximo da realidade humana é considerado o Orixá das causas materiais. Veste-se de
vermelho e preto e seu elemento é o fogo. Seu dia é a Segunda-feira e sua saudação é
“Laroiê !”. Seus filhos são pessoas críticas e originais, não ligam para opiniões alheias.
Adeptos da lei do menor esforço, preferem concentrar suas energias no lazer. De hábitos
noturnos, tendem a ser egoistas e tornam-se tristes quando não se encaixam em
determinados ambientes.
OGUM, é o Orixá guerreiro. Deus do ferro e da guerra. Seu domínio são as retas dos
caminhos, as lutas e o trabalho. Veste-se de azul escuro, verde ou vermelho. Traz sempre
sua espada pronta para o ataque. Seu dia é terça-feira e sua saudação é “Ogunhê !” Seus
filhos, são pessoas com um apurado senso de honra e incapazes de perdoar uma ofensa.
São fisicamente muito resistentes, curiosos por natureza, possuem muita capacidade de
concentração e perseguem seus objetivos com derterminação.
OXOSSI, Orixá caçador, protetor das matas, dos animais da floresta e
dos caçadores. Veste-se de verde, azul turquesa e vermelho. Traz
sempre o seu Ofá (arco e flexa). Seu dia é a Quinta-feira e sua saudação
é “Okê Arô Oxossi !” Seus filhos, são pessoas muito exigentes no
cumprimento das obrigações, de atitudes firmes e até um pouco duras.
Não têm “papas na língua” e costumam falar tudo o que pensam. Dão
muito valor aos acordos e não faltam com sua palavra. Com tendência à
timidez, não gostam de demonstrar suas emoções.
OSSAIM, Orixá das ervas medicinais e das plantas em geral, presentes em todos os rituais
de iniciação no Candomblé. É representado por um pássaro pousado num ramo e seu
domínio é a mata virgem. Veste-se de verde e rosa. Seu dia é Quinta-feira e sua saudação é
“Ewé ô – Ewe assá !”. Seus filhos, são pessoas com forte tendência à religiosidade,
tolerantes e de bom coração. De personalidade instável, costumam controlar seus
sentimentos e emoções. Valorizam a liberdade e não se apegam aos bems materiais.
OBALUAIÊ, ( ou OMOLU, em sua forma velha). O deus das pestes e das doenças de pele.
Por ser o deus da peste conhece a cura de todos os males. Veste-se de branco e preto e usa
um capuz de palha-da-costa que encobre todo o corpo. Dança com o Xarará. Seu dia é
segunda-feira e sua saudação é “Atotô !” Seus filhos, são pessoas que se preocupam demais
com os outros, esquecendo de seus próprios interesses. Podem até ter uma boa situação
financeira, porém não se apegam aos bens materiais. São inquietos e não apreciam a
monotonia.
OXUMARÉ, Orixá da sorte, fartura e fertilidade. Protetor das mulheres grávidas. Seu
domínio são os poços e fontes da mata. Veste-se de verde e amarelo ou com as sete cores do
arco-íris e é representado por uma serpente. Seu dia é Quinta-feira e sua saudação é
“Àrobô bô yi !”. Seus filhos são pessoas orgulhosas e exibicionistas. Periódicamente
mudam tudo em sua vida: casa, emprego, amigos, sempre buscando novidades. Costumam
desenvolver o dom da vidência e possuem intuição aguçada, que normalmente lhes
revelam os melhores caminhos.
EWÁ, Orixá das chuvas, rainha dos mistérios e da magia, jovem virgem
que recebeu de Orunmilá o poder de ler os Búzios (o Oráculo de Ifá).
Comanda os astros e está ligada às mudanças e transformações das
águas. Veste-se de vermelho e branco. Seu dia é Sábado e sua saudação
é “Ri-rò !”. Seus filhos são pessoas extremamente metódicas e racionais.
Costumam traçar metas para tudo. Conservadoras, acabam sofrendo
com o execesso de rotina que conseguem estabelecer em suas vidas.
IANSÃ, é a deusa guerreira, senhora dos ventos, das tempestades e dona dos raios. É a
dona dos eguns, por isso seus filhos são os mais indicados para a entrega de ebós. É a
mulher principal de Xangô. Veste-se de vermelho, marrom escuro, e branco. Seu dia é
Quarta-feira e sua saudação é “Eparrei Oiá !”. Seus filhos, são pessoas alegres, audaciosas,
intrigantes, autoritárias e sensuais. Adoram usar joias e bijuterias. Extrovertidas, francas
e amantes da natureza. Ambiciosas e de temperamento forte. São guerreiras e
comunicativas.
Os filhos de Oxalufã (oxalá velho), em geral são pessoas calmas e dignas de confiança. Dotados
de grande sabedoria, estão sempre buscando os significados de tudo o que ocorre ao seu redor.
Não cansam de estudar e buscar o conhecimento. Também são teimosos orgulhosos e
inteligentes e com tendência à serem preguiçosos.
Os filhos de Oxaguiã (oxalá moço), são pessoas joviais e viris. Ativos, guerreiros, alegres e
generosos. Não se deixam influenciar por opiniões alheias. São organizados e metódicos em
seus ofícios e projetos. Trabalhadores incanssáveis e por essa razão, suscetíveis à crises de
estresse.
Axé !!!
Candomblé de Angola
Religião, catequese e escravidão andavam juntas desde os embarques nos navios negreiros,
quando eram batizados, até nos troncos, quando os africanos e seus descendentes, que nem
eram vistos como humanos, aos olhos da teologia da época, eram levados sem que houvesse,
por parte da igreja nenhuma manifestação contra aquela situação desumana.
Todos os valores que os africanos traziam, fossem religiosos ou culturais eram banidos ou
rotulados como coisas do demônio, magia pagã ou feitiçaria.
Mas, por muitos meios e artifícios os africanos e seus descendentes se apropriaram dos valores
dos seus escravizadores ou usaram sua estrutura para se organizarem em irmandades, onde o
branco cristão europeu não participava, como é o exemplo da Irmandade de Nossa Senhora do
Rosário dos Pretos e da Boa Morte. Estas irmandades funcionavam até como agremiação para
angariar fundos para pagar a alforria de seus “irmãos”, além de servir de um intercâmbio de
africanos, e das suas tradições culturais, lingüística e religiosas, sendo um dos primeiros
berços para a resistência e para a manutenção das crenças dos seus antepassados africanos na
terra que tinha lhe recebido com o chicote na mão.
A religião nativa dos africanos foi interpretada à luz da teologia católica que se considerava
superior, deferindo títulos de pagãs, idólatras, satânicas,animistas e politeístas, gerando, senão
no africano que aqui chegava, que tinha o conhecimento de seus antepassados, mas a partir de
seus descendente uma inferiorização da fé e crença trazidas na alma de seus pais.
Na maioria dos casos, na África, o culto tinha um caráter familiar e era exclusivo de uma
linhagem, clã ou grupo de sacerdotes. As divindades iorubás eram cultuadas em suas cidades:
Xangô, em Oió; Oxossi, em Ketu; Oxum, em Ipondá, e assim por diante. Bem como divindades
de origen Bantu como Nzazi, Mutakalambô, Ndandalunda eram cultuadas por grupos próprios,
embora os bantu tivessem uma idéia de transcendência de seus cultos e buscasse esta ou aquela
divindade como intermediária entre ele e Nzambi Mpungu (Deus Todo Poderoso), de acordo
com a situação real e a área de atuação de cada energia.
Com a vinda ao Brasil e a separação ardilosa das famílias, das nações, das etnias, essa
estrutura religiosa não pode se repetir e se fragmentou. Mas os negros criaram uma unidade
nesta diversidade e pluralidade e puderam partilhar e comungar os cultos e os conhecimentos
diferentes em relação aos segredos rituais de sua religião e cultura. E desta nova maneira de
ser e viver, aberta a todos, surgiu a forma acabada do que se chama hoje candomblé.
O vernáculo Candomblé, não mantém sob sua sombra uma unicidade e sim uma diversidade
religiosa e cultural, que talvez até hoje não tenhamos a verdadeira dimensão de sua
abrangência, em termos de origem étnica, clã, reinos, povos e organizações sociais e religiosas
africanas que foram trazidas para o Brasil.
Reúne, sob o mesmo título a idéia genérica para os diversos troncos religiosos na experiência
dos muitos povos trazidos do continente africano para as terras brasileiras. Na sua etimologia
advém do étimo bantu ndombele para a variação kandombele, e, portanto, vem a denotar um
equivalente próximo ao verbo “adorar” “falar” (existem outras interpretações para o termo,
mas preferimos esta).
Os aqui chegados, vindo da longínqua terra dos seus antepassados e submetidos ao regime de
escravatura de produção comercial de bens e riquezas, não tiveram tempo de trazer seus
objetos rituais e sagrados, visto terem sido forçados a abandonar seu espaço de origem, além
de muitos povos terem perdido o vínculo com os seus sacerdotes. Porém, não houve como
impedir que transportassem suas crenças, cultos, ritos, mitos e cosmogonias em suas almas,
fazendo retumbar em seus corações o som dos ngomas/atabaques ancestrais de seus povos.
Então, como antes tinha se organizado sob o manto das irmandades cristãs, agora, no
momento próprio se irmanam sob o manto da nova identidade, que viria a ser conhecida como
Candomblé.
Os africanos de maioria bantu (durante os dois primeiros séculos do tráfico dos negros),
largamente assentados na região nordeste do Brasil (Alagoas, Pernambuco, Maranhão), no
Rio de Janeiro e em Minas Gerais, utilizados na lavoura e pastoreio, pois já na África eram
grandes criadores e cultivadores do solo, além de serem mestres na fundição de metais,
influenciaram em todas as áreas a cultura do país nascente, que nascia sob o fertilizado solo
regado pelo suor da pele negra, e sob a riqueza gerada pelos músculos africanos. Alguns
historiadores defendem que os africanos que desembarcaram na Bahia eram da África
sudanesa (Yorubás, dahomeanos, malês…), e que em muitas lutas de resistência se refugiavam
em quilombos baianos. O que se tem certeza é que os primeiros a chegarem por aqui, quando a
escravidão era mais desumana, foram os bantu.
aquele que, por excelência, fala (Mpungu é uma ave que voa muito alto, fornecendo, deste
modo, a derivação semântica de “maior”, “eminente”, “excelente”) Os bantos (bantu) são
povos que habitam a África do Sul Equatorial. Falam dialetos diferentes (a língua é igual) e
pertencem a etnias diferentes. Cerca de 274 dialetos e línguas são falados. A influência dos
bantos invadiu a cultura brasileira, trazendo sua mitologia, culinária, religião além de
elementos folclóricos como a congada, recordando a rainha Ginga de Angola; o maracatu de
Cambinda Velha; a capoeira e o primitivo samba (semba).
Claro que muitas coisa tidas hoje como folclóricas, são na verdade uma tentativa de
reformular nas novas terras uma dinastia desfeita pela escravização como é o caso da
formação da corte do Congo (congadas).
Hoje o candomblé abriga em suas lides várias tradições religiosas conhecidas como Nações.
A nação Ketu, que tomou o nome de um dos povos yorubanos, onde a familia Arô reinava,
quando da escravização e do tráfico para o Brasil, e que cultua Orixás de várias origens
daquele povo, além de diversas divindade de povos que eram seus vizinhos na África e se
influenciaram mutuamente tanto na sua terra natal, quando na diáspora. De forte expressão na
Bahia e em Pernambuco, através do Xangô do Recife, uma variação religiosa correspondente
ao candomblé.
A Naçaõ Jêje, que tomou o nome de um “apelido” que lhe era dado pelos yorubanos. São de
origem Ewe Fon, de povos do antigo Daomé, que cultua Voduns, além de divindades comuns
com a nação ketu. Teve sua grande expressão na Bahia, através de casas antigas e no
Maranhão através do Tambor de Mina, uma organização religiosa corresponde ao candomblé.
Nação hoje quase extinta, devido ao forte movimento de re-africanização que as religiões afro-
brasileiras sofreram a partir da década de 80.
Entre os grupos que se identificam nas “Nações” acima, temos as variantes que trafegam entre
uma e outra, como, por exemplo, os que se identificam como “Nagô-Vodum”.
Ainda temos o Omolocô, uma tradição afro-brasileira antiga e respeitada, que em muitas casas
está mais próximo das tradições yorubanas/daomeanas e em outras das tradições de origem
bantu
De suas mãos saíram Manoel Ciriaco de Jesus, Tata Nludiamugongo, que teve casa de
candomblé no Engenho Velho e depois assumiu a terreno da Ladeira da Vila América (ou Alto
do Corrupio), que era do Sr. Manoel Kambambi, filho do Nkisi Nkosi. Foi Tata Ciriaco que
formou a grande família hoje conhecida como Tumba Junsara, deixando a casa nas mãos de
sua filha de santo e sobrinha de Tata Manoel Kambambi, Mam’etu Deré Lubdi, grande
sacerdotisa. Hoje a casa é chefiada pela Nengua ria Nkisi/Mukixi Sra. Iraildes Maria de Jesus,
filha do Nkisi Kindembo (Tempo), onde se celabra uma grande festa todos os anos no final de
semana mais próximo ao dia 10 de agosto. Da raiz Tumba Junsara se espalharam várias casas
em todo Brasil e no exterior.
Também das mãos de sacerdotisa Twenda Nzambi (Maria Neném) saiu o Sr. Manoel
Bernardino, fundador da casa de Angola-Congo Bate Folha, na Mata escura, que também
gerou um enormidade de filhos e casas que seguem esta tradição em todo o país e em vários
país estrangeiros.
Além, é claro, de várias outras casas e famílias, que de acordo com os estudos e com os mais
velhos são todos descendentes da sacerdotisa Maria Neném, pois foi ela que fundou a primeira
casa de Candomblé de Angola – Muxicongo.
Embora, cada família se identifique como Angola-Congo, Angola Muxicongo, etc., existem
tradições diferenciadas. Algumas cultuam um nkisi/mukixi que não é cultuado por outras.
Algumas tem festas que não são realizadas por outras, mas a essência é a mesma: Nzambi
Mpungu ou Suka Kalunga (um dos seus muitos nomes), que mora na Sanzala Kasembe Diá
Nazambi (Aldeia encantada de Deus)/Duilo (céu), é o Deus Supremo e criador de todas as
coisas. Quando do seu movimento de expansão e de criação, gerou o universo e
consequentemente o planeta terra, que foi gerado pela energia e criação dos Nkisis/Mukixis
que se manifestam nas diferentes partes da natureza e também regem a natureza humana.
Através do culto aos Nkisi/Mukisi, já que Nzambi, está acima de qualquer forma existencial e
de qualquer representação e culto, pois é completo em si mesmo, o ser humano consegue o
equilíbrio e ascende espiritualmente como iniciado, até que chegue o momento de ir morar nas
Aldeias dos Antepassados, onde se mantém vivo. Onde os campos são verdes e os rebanhos
fartos. Onde são felizes e mantém o intercâmbio com os mundo dos humanos, que é sua
continuidade. Os antepassados, também, são respeitados e invocados como intercessores e
intermediários entre os seres humanos e Nzambi. A eles são devidos todo o respeito e todo ação
de culto dentro de uma nzo (casa), que deve sempre iniciar com a invocação e homenagens aos
antepassados.
Hierarquia
Cargos da Casa (Kijingu)
Funções e Cargos no Candomblé de Angola e Kongo
Acrescento aqui informações que tenho em mãos, vindas de livros e apostilas que ganhei de
minha finada Nengüa Namboazaze, juntamente com informações orais de dentro do próprio
barracão que fui criada, de pesquisas que apurei, discussões em congressos e da própria internet,
as quais não me responsabilizo por comportar várias contradições dialéticas.
Seguimos então com os termos utilizados dos Cargos Máximos e reconhecidos, dos “mais
velhos para os mais novos”:
Nengüa – Sacerdotisa (Kongo) /Mãe de Santo velha
Nganga – Sacerdote (Kongo) /Pai de Santo velho
Kimbanda – Feiticeiro
Mama – Mãe (Kimbundu)
Tata – Pai (Kimbundu)
Mam’etu Ria Mukixi – Sacerdotisa no Angola/Bantu
Mama Mukixi/ Mam’etu Nkisi (Inquice) ou Inquiciane – Minha ou nossa Mãe de
Santo
Tat’etu Ria Mukixi – Sacerdote no Angola/Bantu
Tata Mukixi/ Tat’etu Nkisi (Inquice) ou Inquiciane – Meu ou nosso Pai de Santo
Cargos principais utilizados e concedidos pelos cargos acima:
Ritual
Na Angola, os sacramentos são:
Hierarquia
Na hierarquia de Angola o cargo de maior importância e responsábilidade são: é mais frequente
se dizer Tata Nkisi (homem) ou Mametu Nkisi (mulher)
A “nação” Angola, de origem Banto, adotou o panteão dos orixás iorubás (embora os
chame pelos nomes de seus esquecidos inkisis, divindades bantos, assim como incorporou
muitas das práticas iniciáticas da nação queto. Sua linguagem ritual, também intraduzível,
originou-se predominantemente das línguas quimbundo e quicongo. Nesta “nação”, tem
fundamental importância o culto dos caboclos, que são espíritos de índios, considerados
pelos antigos africanos como sendo os verdadeiros ancestrais brasileiros, portanto os que
são dignos de culto no novo território a que foram confinados pela escravidão. O
candomblé de caboclo é uma modalidade da nação angola, centrado no culto exclusivo dos
antepassados indígenas. Foram provavelmente o candomblé angola e o de caboclo que
deram origem à umbanda. Há outras nações menores de origem banto, como a congo e a
cambinda, hoje quase inteiramente absorvidas pela nação angola.
O Deus supremo e Criador é Nzambi ou Nzambi Mpungu; abaixo dele estão os
Jinkisi/Minkisi, divindades do Panteão Bantu. Essas divindades se assemelham a Olorun e
Orishas da Mitologia Yoruba, e Olorum e Orixá do Candomblé Ketu.
Os principais Minkisi são:
Aluvaiá, Bombo Njila, Pambu Njila: intermediário entre os seres humanos e o outros
Jinkice (cf. Exú (orixá)).
Nkosi: Senhor dos Caminhos, das estradas de terra
Mukumbe, Biolê, Buré: qualidades ou caminhos desse nkise
Ngunzu: engloba as energias dos caçadores de animais, pastores, criadores de gado e
daqueles que vivem embrenhados nas profundezas das matas, dominando as partes onde o
sol não penetra.
Kabila: o caçador pastor. O que cuida dos rebanhos da floresta.
Mutalambô, Lembaranguange: caçador, vive em florestas e montanhas; deus de comida
abundante.
Gongobira: caçador jovem e pescador.
Mutakalambô: tem o domínio das partes mais profundas e densas das florestas, onde o Sol
não alcança o solo por não penetrar pela copa das árvores.
Katende: Senhor das Jinsaba (folhas). Conhece os segredos das ervas medicinais.
Nzazi, Loango: São o próprio raio.
Kavungo, Kafungê, Kingongo: deus de saúde e morte.
Nsumbu – Senhor da terra, também chamado de Ntoto pelo povo de Kongo.
Hongolo ou Angorô: auxilia a comunicação entre os seres humanos e as divindades.
Kitembo: Rei de Angola. Senhor do tempo e estações.
Kaiangu: têm o domínio sobre o fogo.
Matamba, Bamburussenda, Nunvurucemavula: qualidades ou caminhos de Kaiangu
Kisimbi, Samba_Nkice: a grande mãe; deusa de lagos e rios.
Ndanda Lunda: Senhora da fertilidade, e da Lua, muito confundida com Hongolo e
Kisimbi.
Kaitumbá, Mikaiá, Kokueto: deusa do oceano.
Nzumbarandá: a mais velha das Nkisi
Nwunji: Senhora da justiça. Representa a felicidade de juventude e toma conta dos filhos
recolhidos.
Lembá Dilê, Lembarenganga, Jakatamba, Kassuté Lembá, Gangaiobanda: conectado à
criação do mundo.
Ritual
Na Angola, os sacramentos são:
5 – Nguecè Katàtu Muvu: Ritual de obrigação de 3 anos (Nguece = obrigação), nessa obrigação,
faz-se o ritual de mudança de grau de santo.
6 – Nguecè Katuno Muvu: Ritual de obrigação de 5 anos, preparação quase que identica a de
um ano, só que acompanhada de muitas frutas.
As obrigações, são de praxe para os rodantes, porque Kota (ekedi) e Kambondo (ogã), ja
recebem seus cargos na feitura, portanto já nascem com suas ferramentas de trabalho, dão suas
obrigações para aprimorar seus conhecimentos.
Em Angola, quem passa cargo são os enredos de Dandalunda. Isto é, não é preciso ser filho de
Dandalunda, mas é ela quem autoriza aquela pessoa a receber o cargo.
Após 7 anos de obrigações, se renovarão a cada ano com rito de obi ou borí, conforme o caso,
repetindo-se as obrigações maiores de 7 em 7 anos para renovar e conservar o indivíduo fortte,
transformando-o em Kukala Ni Nguzu- Um ser fotte.
Kunha Kele: Sacramento realizado 3 meses e 21 dias após a feitura ( tirada de kele), quando o
santo soltará a Kuzuela = Ilá.
Ordem de barco (sequência das pessoas recolhidas juntas para iniciação) na Angola
1º – Kamoxi, 2º – kaiari, 3º – katatu, 4º – Kakuanam, 5º – kakatuno, 6º – Kassagulu, 7º –
Kassambà.
Na hierarquia de Angola o cargo de maior importância e responsábilidade são: é mais frequente
se dizer Tata Nkisi (homem) ou Mametu Nkisi (mulher)
Femininos:
1. Toivoduno
2. Noche
No Kwé Ceja Houndé
Kubama………………adivinhador de 1a categoria.
Tabi………………..adivinhador de 2a categoria.
Nganga-a-ngombo………adivinhador de 3a categoria.
Kimbanda…………….feiticeiro ou curandeiro.
Nganga-a-mukixi………sacerdote do culto de possessão (Angola).
Niganga-a-nikisi……..sacerdote do culto de possessão (Kongo).
Mukúa-umbanda………..sacerdote do culto de possessão (Angola-Kongo).
Divisão Sacerdotais no Brasil
Angola – língua quimbundo – Kongo – língua quicongo
A feitura tem por início no recolhimento. São 21 (vinte e um) dias de reclusão, e neste prazo são
realizados banhos, boris, oferendas, ebós, todo o aprendizado começa, as rezas, as dança, as
cantigas…
É feita a raspagem dos cabelos (orô) e o abiã recebe o oxu (representa o canal de comunicação
entre o iniciado e seu orixá) o kelê, os delogun, o mokan, o xaorô, os ikan, o ikodidé. O filho de
santo terá que passar agora por um ritual, onde terá seu corpo pintado com giz, denominado
efun. Ele deverá passar por este ritual de pintura por 7 (sete) dias seguidos.
O abiã terá agora que assentar seu Orixá e ofertar-lhe sacrifícios de animais de acordo com as
características de cada um. Feito isso ele passa a se chamar yàwó.
A festa ritualística que marca o término deste período é denominada Saída de Yàwó, neste
momento ele será apresentado à comunidade. Ele será acompanhado por uma autoridade à
frente de todos para que lhe sejam rendidas homenagens.
Deitado sobre uma esteira, ele saudará com adobá e paó, que são palmas compassadas que serão
dadas a cada reverência feita pelo yàwó e acompanhadas por todos presentes, como
demonstração de que a partir daquele momento ele nunca mais estará sozinho na sua
caminhada. Primeiramente saudará o mundo, neste momento a localização da esteira é na porta
principal da casa. No seu interior, ele saudará a comunidade e por último, frente aos atabaques
que representam as autoridades presentes. Neste primeiro momento o Orixá somente poderá dar
o jicá. Só após a queda do kelê o Orixá poderá dar seu ilá.
O momento mais aguardado do cerimonial é o orukó. Neste momento o Orixá dirá o nome de
iniciação de seu filho perante todos e também é neste momento que se abre a sua idade
cronológica dentro de sua vida no santo.
Após a saída e depois dos 21 (vinte e um) dias de recolhimento o yàwó permanecerá de
resguardo até a queda de kelê fora do barracão por um período de 3 (três) meses, neste período
ele não poderá utilizar talheres para comer, deve continuar a sentar-se no chão sobre a esteira
durante as refeições, está proibido de utilizar outra cor de roupa que não o branco da cabeça aos
pés, não poderá fazer uso de bebidas alcoólicas, cigarro. .. E nem tão pouco sair à noite. E até
que se complete 1 (um) ano, os seus preceitos continuarão.
Até que o yàwó complete a maior idade de santo, terá que continuar dia a dia o seu aprendizado
e reforçar os seus votos por meio das obrigações.
Candomblé Ketu
Iniciação no Candomblé Ketu
O sacerdócio e organização dos ritos para o culto dos orixás são complexos, com todo um
aprendizado que administra os padrões culturais de transe, pelo qual os deuses se manifestam no
corpo de seus iniciados durante as cerimónias para serem admirados, louvados, cultuados. Os
iniciados, filhos e filhas-de-santo (iaô, em linguagem ritual), também são popularmente
denominados “cavalos dos deuses” uma vez que o transe consiste basicamente em mecanismo
pelo qual cada filho ou filha se deixa cavalgar pela divindade, que se apropria do corpo e da
mente do iniciado, num modelo de transe inconsciente bem diferente daquele do kardecismo,
em que o médium, mesmo em transe, deve sempre permanecer atento à presença do espírito. O
processo de se transformar num “cavalo” é uma estrada longa, difícil e cara, cujos estágios na
“nação” queto podem ser assim sumariados:
Para começar, a mãe-de-santo deve determinar, através do jogo de búzios, qual é o orixá dono
da cabeça daquele indivíduo (Braga, 1988). Ele ou ela recebe então um fio de contas
sacralizado, cujas cores simbolizam o seu orixá (ver Anexo), dando-se início a um longo
aprendizado que acompanhará o mesmo por toda a vida. A primeira cerimónia privada a que a
noviça (abiã) é submetida consiste num sacrifício votivo à sua própria cabeça (ebori), para que a
cabeça possa se fortalecer e estar preparada para algum dia receber o orixá no transe de
possessão. Para se iniciar como cavalo dos deuses, a abiã precisa juntar dinheiro suficiente para
cobrir os gastos com as oferendas (animais e ampla variedade de alimentos e objectos), roupas
cerimoniais, utensílios e adornos rituais e demais despesas suas, da família-de-santo, e
eventualmente de sua própria família durante o período de reclusão iniciática em que não estará,
evidentemente, disponível para o trabalho no mundo profano.
Como parte da iniciação, a noviça permanece em reclusão no terreiro por um número em torno
de 21 dias. Na fase final da reclusão, uma representação material do orixá do iniciado
(assentamento ou ibá-orixá) é lavada com um preparado de folhas sagradas trituradas (amassi).
A cabeça da noviça é raspada e pintada, assim preparada para receber o orixá no curso do
sacrifício então oferecido (orô). Dependendo do orixá, alguns dos animais seguintes podem ser
oferecidos: cabritos, ovelhas, pombas, galinhas, galos, caramujos. O sangue é derramado sobre a
cabeça da noviça, no assentamento do orixá e no chão do terreiro, criando este sacrifício um
laço sagrado entre a noviça, o seu orixá e a comunidade de culto, da qual a mãe-de-santo é a
cabeça. Durante a etapa das cerimónias iniciáticas em que a noviça é apresentada pela primeira
vez à comunidade, seu orixá grita seu nome, fazendo-se assim reconhecer por todos,
completando-se a iniciação como iaô (iniciada jovem que “recebe” orixá). O orixá está pronto
para ser festejado e para isso é vestido e paramentado, e levado para junto dos atabaques, para
dançar, dançar e dançar.
No candomblé sempre estão presentes o ritmo dos tambores, os cantos, a dança e a comida
(Motta, 1991). Uma festa de louvor aos orixás (toque) sempre se encerra com um grande
banquete comunitário (ajeum, que significa “vamos comer”), preparado com carne dos animais
sacrificados. O novo filho ou filha-de-santo deverá oferecer sacrifícios e cerimónias festivas ao
final do primeiro, terceiro e sétimo ano de sua iniciação. No sétimo aniversário, recebe o grau
de senioridade (ebômi, que significa “meu irmão mais velho”), estando ritualmente autorizado a
abrir sua própria casa de culto. Cerimônias sacrificiais são também oferecidas em outras etapas
da vida, como no vigésimo primeiro aniversário de iniciação.
Quando o ebômi morre, rituais fúnebres (axexê) são realizados pela comunidade para que o
orixá fixado na cabeça durante a primeira fase da iniciação possa desligar-se do corpo e retornar
ao mundo paralelo dos deuses (orum) e para que o espírito da pessoa morta (egum) liberte-se
daquele corpo, para renascer um dia e poder de novo gozar dos prazeres deste mundo.
Muitas conseguiram construir a sua própria Igreja como a Igreja do Rosário da Barroquinha,
com a qual aIrmandade da Boa Morte manteve estreito contato. O que ficou conhecido como
devoção do povo decandomblé. O historiador cachoeirano Luiz Cláudio Dias Nascimento
afirma que os atos litúrgicos originais da Irmandade de cor da Boa Morte eram realizados
na Igreja da Ordem Terceira do Carmo, templo tradicionalmente freqüentado pelas elites locais.
Posteriormente as irmãs transferiram-se para a Igreja de Santa Bárbara, da Santa Casa da
Misericórdia, onde existem imagens de Nossa Senhora da Glória e daNossa Senhora da Boa
Morte. Desta, mudaram-se para a bela Igreja do Amparo desgraçadamente demolida em 1946 e
onde hoje encontram-se moradias de classe média de gosto duvidoso. Daí saíram para a Igreja
Matriz, sede da freguesia, indo depois para a Igreja da Ajuda.
O fato é que não se sabe ao certo precisar a data exata da origem da Irmandade da Boa
Morte. Odorico Tavares arrisca uma opinião: a devoção teria começado mesmo em 1820,
na Igreja da Barroquinha, tendo sido os Jejes, deslocando-se até Cachoeira, os responsáveis pela
sua organização. Outros ressaltam a mesma época, divergindo quanto à nação das pioneiras, que
seriam alforriadas Ketu. Parece que o “corpus” da irmandade continha variada procedência
étnica já que fala-se em mais de uma centena de adeptas nos seus primeiros anos de vida.
Essas confrarias eram os locais onde se reuniam as sacerdotisas africanas já libertas (alforriadas)
de várias nações, que foram se separando conforme foram abrindo os terreiros. Na comunidade
existente atrás da capela da confraria foi construído o Candomblé da Barroquinha pelas
sacerdotisas de Ketu que depois se transferiram para o Engenho Velho, ao passo que algumas
sacerdotisas de Jejedeslocaram-se para o Recôncavo Baiano para Cachoeira e São Félix para
onde transferiram a Irmandade da Boa Morte e fundaram vários terreiros de candomblé
jeje sendo o primeiro Kwé Cejá Hundé ou Roça do Ventura.
O Candomblé Ketu ficou concentrado em Salvador. Depois da transferência do Candomblé da
Barroquinha para o Engenho Velho passou a se chamar Ilê Axé Iyá Nassô mais conhecido
como Casa Branca do Engenho Velho sendo a primeira casa da nação Ketu no Brasil de onde
saíram as Iyalorixás que fundaram o Ilê Axé Opô Afonjá e o Ilê Iya Omin Axé Iyamassé,
o Terreiro do Gantois.
Índice
Orixás
Os Orixás do Ketu são basicamente os da Mitologia Yoruba.
No Brasil, em cada templo religioso são cultuados todos os Orixás, diferenciando que nas casas
grandes tem um quarto separado para cada Orixá, nas casas menores são cultuados em um
único quarto de santo (termo usado para designar o quarto onde são cultuados os Orixás).
Ritual
O Ritual de uma casa de Ketu, é diferente das casas de outras nações, a diferença está no
idioma, no toque dos Ilus (atabaque no Ketu), nas cantigas, nas cores usadas pelos Orixás, os
rituais mais importantes
são: Padê, Sacrifício, Oferenda, Sassayin, Iniciação, Axexê,Olubajé, Águas de Oxalá, Ipeté de
Oxum,…
A língua sagrada utilizada em rituais do Ketu é derivada da língua Yoruba ou Nagô. O povo de
Ketu procura manter-se fiel aos ensinamentos das africanas que fundaram as primeiras casas,
reproduzem os rituais, rezas, lendas, cantigas, comidas, festas, e esses ensinamentos são
passados oralmente até hoje.
Hierarquia
As posições principais do Ketu (são chamados de cargo ou posto, em yoruba Olóyès , Ogãns e
Àjòiès), em termos de autoridade, são:
No Maranhão encontramos a Casa das Minas fundada por Maria Jesuína, segundo informação
de Sergio Ferretti. É com certeza a mais conhecida casa de jeje do Brasil. Esse é o segmento do
povo Jeje-Mina.
Ainda no Maranhão encontramos a casa Fanti-Ashante fundada por Euclides Menezes Ferreira
(Talabian). Esse é o segmento jeje-Fanti-Ashanti do povo Akan vindo de Ghana, inicialmente
teria ligações com a Sitio de Pai Adão Nação Nagô-Egbá.
No Rio de Janeiro, foi fundado pela africana Gaiaku Rosena, natural de Allada, o Terreiro do Pó
Dabá no bairro da Saúde, que foi herdado por sua filha Adelaide do Espírito Santo, também
conhecida como Ontinha de Oiá (Devodê), que por sua vez foi sucedida por Joana da Cruz de
Avimadjé, mais conhecida como Mejitó, que transferiu a casa de santo para o bairro Coelho da
Rocha. Os descendentes do Pó Dabá mais ilustres da atualidade são Glorinha Toqüeno, com
terreiro no bairro de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro e Helena de Dã, com terreiro em
Parque Paulista, em Duque de Caxias.
Depois veio Antonio Pinto de Oliveira. Tata Fomutinho que fundou o Kwe Ceja Nassó, no
bairro de Santo Cristo, depois mudou-se para Madureira na Estrada do Portela, depois para São
João de Meriti onde finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba.
Dizem os mais velhos, que Mejitó, ajudou muito Tata Fomutinho no começo de sua vida de
santo aqui no Rio de Janeiro.
Tata Fomutinho deixou uma legião de filhos, netos e bisnetos. Dentre esses, Jorge de Yemanja
que fundou o Kwe Ceja Tessi, Pai Zezinho da Boa Viagem que fundou o Terreiro de Nossa
Senhora dos Navegantes, Tia Belinha que fundou a Colina de Oxosse e Amaro de Xangô.
Na Nação Jeje existe a necessidade do poço (se não existir uma nascente nas terras), o ideal é
um sítio com nascente, mata natural, plantas e animais.
Infelizmente nas casas urbanas isto já não é tão possível, pois as Casas cada vez mais diminuem
de tamanho. Mas ainda assim toda casa Jeje deverá ter pelo menos um poço, um local reservado
exclusivamente para as plantas e árvores necessárias ao culto, que chamamos “kpamahin”, e
alguns animais que são muito importantes para nós.
Voduns não usam roupas luxuosas não gostam de roupas de festa e geralmente preferem a boa e
velha roupa de ração. As danças são cadenciadas em um ritmo mais denso e pesado. Os Voduns
estão sempre de olhos abertos e salvo algumas excessões, conversam (usando preferencialmente
um dialeto próprio) e dão conselhos a quem os procura. Informação de Doté Dorivaldo.
A iniciação ao culto dos voduns é complexa é longa e pode envolver longas caminhadas a
santuários e mercados e períodos de reclusão dentro do convento ou terreiro hunkpame, que
podem chegar a durar um ano, onde os neófitos são submetido a uma dura rotina de danças,
preces, aprendizagem de línguas sagradas e votos de segredo e obediência.
Hierarquia
Bokonon – Sacerdote do Vodun Fa equivalente ao Babalawo
Doté Sacerdotes (homens) e Doné Sacerdotisas (mulheres) esse título é usado no Terreiro do
Bogum e casas descendentes.
Candomblé de Jeje
Dahomé, o berço da nação Ewe e fon, denominados Jêjes, no Brasil, enumeram-se em diversas
tribos como os Agonis, Axantis, Gans, Popós, Crus etc. Os primeiros povos jêjes tiveram como
destino São Luis do Maranhão, onde ainda se mantém vivas as tradições religiosas trazidas da
terra mãe, África. Também se encontra o ritual jêje em Salvador, Cachoeira de São Félix,
Pernambuco entre outros estados do Brasil como Rio Grande do Sul e São Paulo, que também
importou os rituais desta nação.
O negro descendente do Dahomé, hoje Benin, trouxe consigo o culto à suas divindades
chamadas Voduns, cujo Deus Supremo é Mawu , a quem são subordinados, assim como
Olodumaré o Deus Supremo dos Orixás Yorubás. Diz a Mitologia Fon que Mawu tinha um
companheiro chamado Lisa, e são filhos de Nana Buruku (ou Nana Buluku), a grande mãe
criadora do mundo. Mawu era a Lua, que teve força ao longo da noite e viveu no oeste. Lisa era
o Sol, que fez sua morada no Leste. Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa
estavam fazendo amor. Eles eram pais de todos os outros Deuses. E existem catorze destes
deuses, que eram sete pares de gémeos. Este relato é um mito do primeiro povo do Dahomé, os
Fons.
O culto aos Voduns teve ênfase na Bahia, conhecido como Candomblé Jêje, e no Maranhão
Tambor de Mina.
Nos terreiros mais influenciados pela mina jêje, o predomínio, em certos grupos, é de mulheres
como filhas de santo. Os devotos têm que se submeter a longo processo de iniciação. Os
detalhes dos rituais são pouco comentados, não há rituais públicos de iniciação; a cada
comunidade, apenas duas ou três pessoas se dedicam ao ritual completo de iniciação. Em geral
as Vodunsis dão poucas informações sobre os rituais relacionados com o culto, os segredos são
mantidos a sete chaves.
Algumas casas de jêje tiveram influencias dos yorubás e vice-versa, formando o que se chama
de cultura Jêje-Nagô. A exemplo do candomblé, as instalações dos terreiros contam com um
barracão central para as danças, pequenas casas reservadas para as diferentes famílias de
divindades, onde são mantidos os assentamentos. O forte sincretismo prevê, também a
instalação de uma pequena capela com altar católico, há uma cozinha, quartos para dormir e se
vestir e quarto onde os iniciados ficam recolhidos durante as obrigações. há também a casa de
Legba, onde são feitas grandes obrigações.
A iniciação jêje requer um longo período de confinamento, que pode durar de seis meses a um
ano de reclusão, onde um Vodunsi aprende as tradições religiosas jêje como: danças, cantigas,
preparo das comidas sagradas, cuidar de árvores e espaços sagrados, votos de segredo e
obediência. As entidades são assentadas, recebem sacrifícios de animais, comidas, bebidas e
outros presentes. Os assentamentos são preparados em pedras, que representam um “imã” que
tem a força do Vodun, e ficam guardadas no quarto de segredo recobertos com jarras, louças e
ferramentas. Existem, também, assentamentos em outras partes da casa e do quintal marcados
por árvores como a cajazeira, ginja e pinhão branco. È comum ter assentamentos no centro do
barracão de danças; assim como em outras nações, no culto jêje também são feitos rituais de
limpezas, banhos com ervas e muitas preces. Nos rituais antigos o contacto com os voduns
dependia muito da vidência das Vodunsis, e a adivinhação era feita através da interpretação dos
sonhos, consulta com os Voduns e exame da luz de velas, actualmente é comum o uso dos
Búzios para consultar as divindades.
As casas de jêje, além do culto aos Voduns, também incorporam em seus rituais alguns orixás
nagôs. O panteão jêje é numeroso, sendo os Voduns agrupados em famílias como: Dambirá,
Davice, Savaluno e Queviossô.
As actividades religiosas requerem um extenso calendário com rituais reservados aos iniciados,
e em festas públicas que duram um, três ou sete dias; no final das obrigações todos comem as
comidas preparadas com a carne dos animais oferecidos em sacrifício às divindades.
Mawu é o ser supremo dos povos Ewe e Fon, criador do mundo, dos seres vivos e das
divindades. Mawu (feminino) e Lissá (masculino) forman a divindade dupla Mawu-Lissá cujos
Voduns são filhos e descendentes de ambos. Os principais Voduns são: Loko; Gu; Heviossô;
Sakpatá; Dan; Agbê; Águé; Ayizan; Agassu; Legba e Fa.
A casa de jêje chama-se Kwe, e o local destinado ao culto dos Voduns é chamado Hunkpame,
que é o templo onde está dentro a divindade; é chefiado por um sacerdote ou sacerdotisa, que
são responsáveis pelos ensinamentos aos futuros Vodunsis.
No Rio Grande do Sul, os terreiros que ainda mantém firme a cultura Jêje, nota-se a
conservação de certas obrigações, à exemplo, nos assentamentos de Ogum Avagã cujas
ferramentas usadas são as mesmas para o assentamento de Gu no Dahomé, e algumas não tem o
uso do okutá; e também há nomes de Orixás que usam o mesmo dos Voduns, como por exemplo
Dã, cujo Orixá de uma famosa Yalorixá da nação Jêje chamava-se Dã e um outro antigo
Babalorixá de Porto Alegre pertencente a esta mesma nação, tinha o assentamento de Sobô;
(Sobô é nome de um Vodun do Dahomé). Dos pais e mães de santos actuais, da nação Jêje do
Rio Grande do Sul, muitos desconhecem a palavra Vodun; deve-se este fato ao predomínio da
nação Ijexá, de origem Yorubá que acabou absorvendo as demais, e o termo Vodun com o
tempo deixou de existir; mas é certo que a linguagem usada nos cantos rituais e o uso dos
aquidavís para percussão dos tambores, o uso do Gã (gonguê) (instrumento de percussão), entre
outros fatos reflectem muito os fundamentos do antigo Dahomé.
Há casos em que as tradições culturais africanas resistem, mais que em outros, à mudança, mas
em nenhuma instância, nem mesmo nos terreiros mais antigos e ostensivamente zelosos à suas
origens, deixou de existir, contudo, se tivesse, no sul um maior interesse em pesquisar a origem
dos fundamentos de cada nação é certo que achariam a ligação directa do jêje praticado aqui,
com os povos do antigo Dahomé, e assim por diante.
O que sobrevive da vertente jêje como legado cultural acha-se incorporado ou associado ao
acervo Yorubá, embora não se fale em Vodu no Rio Grande do Sul, certas práticas da religião
do antigo Dahomé, hoje Benin, podem ser detectadas no Batuque do Rio Grande do Sul,
principalmente nos terreiros que fazem parte da raiz do falecido Joãozinho de Bará (Esú Biyí).
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Apenas faço observação ao termo jeje-nagô utilizado no texto, que achei interessantíssimo,
tirado de “Candomblé: o mundo dos Orixás”, que trouxe para vocês, leitores do blog. Em outro
post vimos que o império iorubá anexou o povo de Daomé. Veja o mapa do império de Oió no
século VXIII. Com essa anexação do território daometano ao ao império iorubá, houve uma
grande fusão cultural, com a assimilação de elementos da religião fon ao povo iorubá e vice-
versa. Portanto, ao Brasil, quando o povo iorubá chegou escravizado após a decadência de
Oió,veio com ele a cultura jeje-nagô. Diz-se que, inclusive, o universalizado uso do kelê era
restrito aos rituais a Xangô. Da mesma forma, Nanã (geradora da dicotomia Mawu-Lissa) era
uma divindade daometana. Quando os iorubás (que fundaram o candomblé Nagô – e a
dissidência Keto) vieram para o Brasil, trouxeram o produto da expansão iorubá na África. A
tradição que decorreu da assimilação das divindades nagô pelos jeje foi a nagô-vodum.
Candomblé Jeje
Os voduns são divindades de origem Fon que correspondem aos orixás dos nagôs. Os fons, ao
chegarem no Brasil , eram chamados de “Jejes”, implantaram aqui o seu culto, baseado em rica,
complexa e elevada mitologia.
Terreiro do Bogum
O Terreiro do Bogum está localizado na Ladeira do Bogum, antiga Manoel do Bonfim, no
Bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador , Bahia , Brasil .
O Terreiro de Bogum, de Nação Jeje , é diferente dos outros terreiros de Salvador. Uma das
principais diferenças é a língua falada nos rituais. Como explica Jaime Sodré (ogã da casa há 35
anos), a língua falada pelos jeje é o ewé , do povo fon , com tradição ligada ao Benin . A
maioria dos candomblés baianos é de tradição nagô e utiliza como língua o iorubá . Além da
língua, alguns rituais dos jeje são diferentes. No Terreiro do Bogum não existem orixás , lá se
cultuam os voduns e recebem outras denominações.
A missa em homenagem a São Bartolomeu é feita anualmente há 200 anos, tendo-se tornado
uma tradição do Terreiro do Bogum.
Zaildes Iracema de Mello, Mãe Índia, é a atual chefe do terreiro, tendo sucedido sua tia Nicinha
e sua tia-avó Valentina (Runhó).
Segundo historiadores, foi no local onde está o Bogum que Joaquim Jêje, herói do movimento
de insurreição de escravos malês, deixou o bogum (baú) onde estavam os donativos que
permitiram a famosa Revolta dos Malês ocorrida em Salvador em janeiro de 1835. Esses
escravos sabiam ler e escrever em árabe, tinham grande poder de organização e articulação e
pretendiam fundar um “reino africano” em terras brasileiras, mas foram traídos e a “revolução
negra-escrava” foi descoberta. O termo “bogum” também pode ser explicado pelo dialeto gun
( http://www.ethnologue.com/show_language.asp?code=GUW ) (dialeto do fon com muitos
elementos do iorubá), falado na região de Porto Novo, no Benin, significando “lugar ( ibo ) dos
fon ( gun )”. O nome completo do terreiro é Zoogodô Bogum Malê Rundó .
UM RESULMO DO QUE FOI A REVOLTA DOS MALÊS
A Revolta dos Malês
Durante as três primeiras décadas do século XIX várias rebeliões de escravos explodiram na
província da Bahia. A mais importante delas foi a dos Malês, uma rebelião de caráter racial,
contra a escravidão e a imposição da religião católica, que ocorreu em Salvador, em janeiro de
1835. Nessa época, a cidade de Salvador tinha cerca de metade de sua população composta por
negros escravos ou libertos, das mais variadas culturas e procedências africanas, dentre as quais
a islâmica, como os haussas e os nagôs. Foram eles que protagonizaram a rebelião, conhecida
como dos “malê”, pois este termo designava os negros muçulmanos, que sabiam ler e escrever o
árabe. Sendo a maioria deles composta por ” negros de ganho “, tinham mais liberdade que os
negros das fazendas, podendo circular por toda a cidade com certa facilidade, embora tratados
com desprezo e violência. Alguns, economizando a pequena parte dos ganhos que seus donos
lhes deixavam, conseguiam comprar a alforria.
Em janeiro de 1835 um grupo de cerca de 1500 negros, liderados pelos muçulmanos Manuel
Calafate, Aprígio, Pai Inácio, dentre outros, armou uma conspiração com o objetivo de libertar
seus companheiros islâmicos e matar brancos e mulatos considerados traidores, marcada para
estourar no dia 25 daquele mesmo mês. Arrecadaram dinheiro para comprar armas e redigiram
planos em árabe, mas foram denunciados por uma negra ao juiz de paz. Conseguem, ainda,
atacar o quartel que controlava a cidade mas, devido à inferioridade numérica e de armamentos,
acabaram massacrados pelas tropas da Guarda Nacional , pela polícia e por civis armados que
estavam apavorados ante a possibilidade do sucesso da rebelião negra .
No confronto morreram sete integrantes das tropas oficiais e setenta do lado dos negros.
Duzentos escravos foram levados aos tribunais. Suas condenações variaram entre a pena de
morte, os trabalhos forçados, o degredo e os açoites, mas todos foram barbaramente torturados,
alguns até a morte. Mais de quinhentos africanos foram expulsos do Brasil e levados de volta à
África. Apesar de massacrada, a Revolta dos Malês serviu para demonstrar às autoridades e às
elites o potencial de contestação e rebelião que envolvia a manutenção do regime escravocrata,
ameaça que esteve sempre presente durante todo o Período Regencial e se estendeu pelo
Governo pessoal de D. Pedro II.
AS ÁGUAS DE OXALÁ
(do livro História de um Terreiro Nagô – Deoscóredes Maximiliano dos Santos- Mestre DIDI –
Max Limonad-Joruês Cia Editora)
Na quinta-feira à noite, antes de se iniciarem os preceitos das águas de Oxalá, das dezenove até
às vinte e quatro horas, todos os filhos e filhas da casa são obrigados a fazer um bori (obrigação
que se faz coma fruta chamada obi e água) para poderem carregar as águas.
Depois desse bori, vão se agasalhar, até que são despertados pela Iyalorixá para iniciarem o
preceito das águas.
Os filhos do Axé, trajados de alvo, saem em silêncio do terreiro, em procissão, carregando potes
e moringues, tendo à frente a Iyalorixá tocando o seu ajá. No tempo de Mãe Senhora, dirigiam-
se para uma fonte chamada Riacho, que fica ao lado da Lagoa da Vovó, nessa roça de São
Gonçalo do Retiro. Hoje, essa obrigação é feita dentro do próprio terreiro.
Meia hora depois, com suas vasilhas cheias d’água, aproximam-se de um lugar apropriado, todo
cercado de palha, com uma oca indígena, chamado Balué, onde se colocou o assento do velho
Oxalá. Alí, todos apresentam aquelas águas à Iyalorixá, que as derrama por cima do assento de
Oxalá. São feitas três viagens à fonte ou aonde está a água, e, na terceira, a água não é mais
derramada, ficando todas as vasilhas cheias depositadas no Balué, sendo colocada uma cortina
branca na porta e uma esteira no chão.
Cada pessoa que chega ajoelha-se sobre aquela esteira em sinal de reverência. Algumas pessoas,
os que têm orixá masculino, dão Dodobalé, deitam-se de fio ao comprido, tocando a cabeça no
chão. As demais dão o Iká otun iká osi, virando-se de um lado e do outro, tocando o chão com a
cabeça – são as que têm o orixá feminino. Depois dessa cortesia, a Iyalorixá, juntamente com
todos os seus filhos e associados, começa a cantar uma saudação para Oxalá (Oriki):
Babá êpa ô
Babá êpa ô
Ará mi fo adiê
Êpa ô
Ará mi ko a xekê
Êpa Babá
Depois de cantada essa saudação, todas as pessoas pertencentes à Oxalá são por ele
manifestadas e vão até o Balué, que é, como já se viu, onde está o assento do orixá.
Candomblé de Jeje
Março 21, 2011 por Hùngbónò Charles – Ágbájì Dofàmi
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e estranho;
que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos conquistados pelos
reis de Dahomey e seu exército. Segundo a história, quando os conquistadores eram avistados
pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan, djedje hum wa!”
(olhem, os jejes estão chegando!). Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como
escravos, aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje
hum wa!”; e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”. A nação jeje
pode ser divididas em vários segmentos dependendo da origem. Assim temos o Jeje-Mahi, o
Jeje Dahomey, o Jeje Savalu, o Jeje Modubi, o Tambor de Mina (Jeje Mina) encontrado
sobretudo no Maranhão, onde também se encontra o segmento Jeje-Fanti-Ashanti.
Eguns e voduns que tiveram vida terrena como os reais do Dahomey não são cultuados em
Mahi, todos os antepassados da casa são reverenciados saudando-se e ofertando-se ao vodun
Ayizan, que sempre está a frente da casa principal (Ayizan, que em Mahi, é vista como esposa
de Legba e ligada a terra, a morte e aos ancestrais). Os Voduns de Jeje-Mahi são aqueles que
assim como os Orixás, não possuem sepultura, são antepassados míticos.
O Jeje-Mahi foi fundamentado no Brasil pela africana Ludovina Pessoa, da cidade de Mahi.
Segundo a tradição ela foi escolhida pelos Voduns para fundar três terreiros:
Tambor de Mina
O Tambor de Mina é o nome mais difundido da cultura africana no Maranhão. Mina deriva de
negro-Mina de São Jorge da Mina, denominação dada aos escravos procedentes da “costa
situada a leste do Castelo de São Jorge da Mina” (Verger, 1987: 12) , no atual República do
Gana, trazidos da região das hoje Repúblicas do Togo, Benin e da Nigéria, que eram conhecidos
principalmente como negros mina-jejes e mina-nagôs.
O Tambor de Mina cultua em grande parte os Voduns reais de Dahomey, alguns nagôs (orixás)
e também os Encantados (que seriam os Caboclos).
Hierarquia do candomblé Jeje
No Jeje-Mahi
1. Toivoduno
2. Noche
No Kwé Ceja Houndé
Como relatei, Jeje era um apelido dado pelos yorubás. Na verdade, esta família, ou seja, nós que
pertencemos a esta nação deveríamos ser classificados de povo Ewe, que seria o mais certo.
Ewe-Fon seria a nossa verdadeira denominação. Nós seríamos povos Ewe ou povos Fons.
Então, se fôssemos pensar em alguma possibilidade de mudança, nós iríamos nos chamar, ao
invés de nação Jeje, de nação Ewe-Fon. Somente assim estaríamos fazendo jus ao que é
encontrado em solo africano. Jeje é então um apelido, mas assim ficamos para todas as nossas
gerações classificados como povo Jeje, em respeito aos nossos antepassados.
Os fundadores
Voltando a falar sobre “Kwe Ceja Undé”, esta casa como é chamada em Cachoeira de São Félix
de “Roça de Baixo” foi fundada por escravos como Manoel Ventura, Tixerem, Zé do Brechó e
Ludovina Pessoa.
Ludovina Pessoa era esposa de Manoel Ventura, que no caso africano é o dono da terra. Eles
eram donos do sítio e foram os fundadores da Kwe Ceja Undé. Essa Kwe ainda seria chamada
de Pozerren, que vem de Kipó, “pantera”.
Darei um pequeno relatório dos criadores do Pozerren Tixarene que seria o primeiro Pejigan da
roça; e Ludovina, pessoa que seria a primeira Gaiacú.
A roça de cima que também é em Cachoeira é oriunda do Jeje Dahomé, ou seja, uma outra
forma de Jeje. Estou falando do Mahin, que era comandada por Sinhá Romana que vinha a ser
“Irmã de santo” de Ludovina Pessoa (esta última mais tarde assumiria o cargo de Gaiacú na
Kwe de Boa Ventura). Mas, pela ordem temos Manoel Ventura, que seria o fundador, depois
viria Sinhá Pararase, Sinhá Balle e atualmente Gamo Loko-se. O Kwe Ceja Undé encontra-se
em controvérsia, ou seja, Gamo Loko-se é escolhida por Sinhá Pararase para ser a verdadeira
herdeira do trono e Gaiacú Agué-se, que seria Elisa Gonçalves de Souza, vem a ser a dona da
terra atualmente. Ela pertence a família Gonçalves, os donos da terra. Assim, temos os
fundadores da Kwe Ceja Undé.
Aqui, no Rio de Janeiro, saindo de Cachoeira de São Félix, Tatá Fomutinho deu obrigação com
Maria Angorense, conhecida como Kisinbi Kisinbi.
Uma das curiosidades encontradas durante minha pesquisa sobre Jeje é o que chamamos de
Deká, que na verdade vem do termo idecar, do termo fon iidecar, que quer dizer “transmissão de
segredo”. Esse ritual é feito quando uma Gaiacú passa os segredos da nação Jeje para futura
Gaiacú pois, na nação Jeje não se tem notícias, que possa ter havido “Pai de santo”. O cargo de
sacerdotisa ou “Mãe de santo” era exclusivamente das mulheres. Só as mulheres poderiam ser
Gaiacús.
Ogans
Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é o primeiro Ogan da casa
Jeje. A palavra Pejigan quer dizer “Senhor que zela pelo altar sagrado”, porque Peji = “altar
sagrado” e Gan = “senhor”. O segundo é o Runtó que é o tocador do atabaque Run, porque na
verdade os atabaques Run, Runpi e Lé são Jeje. No Ketu, os atabaques são chamados de Ilú. Há
também outros Ogans como Gaipé, Runsó, Gaitó, Arrow, Arrontodé, etc.
Podemos ver que a nação Jeje é muito particular em suas propriedades. É uma nação que vive
de forma independente em seus cultos e tradições de raízes profundas em solo africano e trazida
de forma fiel pelos negros ao Brasil.
Mina Jeje
Em 1796, foi fundado no Maranhão o culto Mina Jeje pelos negros fons vindos de Abomey, a
então capital de Dahomé, como relatei anteriormente, atual República Popular de Benin.
A família real Fon trouxe consigo o culto de suas divindades ancestrais, chamados Voduns
e,principalmente, o culto à Dan ou o culto da Serpente Sagrada.
Uma grande Noche ou Sacerdotisa, posteriormente, foi Mãe Andresa, última princesa de
linhagem direta Fon que nasceu em 1850 e morreu em 1954, com 104 anos de vida.
Curiosidades
*A primeira Casa Jeje no Rio de Janeiro foi, em 1848, de D.Rozena, cuja filha de santo foi
D.Adelaide Santos
Os vodun-ses da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que da família de Kaviuno,
do sexo masculino, são chamados de Doté; e do sexo feminino, de Doné.
O termo usado “Okolofé”, cuja resposta é “Olorun Kolofé” vem da fusão das Nações de Jeje e
de Ketu.
*esin = água
*atinçá = árvore
*agrusa = porco
*kpo = pote
*avun = cachorro
*nivu = bezerro
*kuentó = kuentó
*tó = banho
*sarapocã = cerimônia feita 07(sete) dias antes da festa pública de apresentação do(a)
iniciado(a) no Jeje
Arró-bo-boí!
Estes negros falavam o dialeto ewe que, por ser marcante, influenciou por demais a cultura
yorubá e também a cultura bantu. Como exemplo, cito os nomes que compõem um barco de
yawo: Dofono, Dofonitin, Fomo, Fomutin, Gamu, Gamutin e Vimu, Vimutin.
Outras palavras Jeje foram incorporadas não só na cultura afro-brasileira como também no
nosso dia-a-dia, como por exemplo: Acassá, “faca” que no original ewe é escrita com “K” ao
invés de “C”. Outra palavra Jeje que ficou no nosso cotidiano foi a palavra “tijolo” que em ewe
é Tijoló.
A TRADIÇÃO JEJE:
O VODUN JEJE SOGBÔ E A PROVA DE ZO
A tradição dos povos fons que aqui no Brasil foram chamados de Adjeje ou Jeje pelos yorubás,
requer um longo confinamento quando na época de iniciação. Essa tradição Jeje exigia de 06
(seis) meses ou até 01 (um) ano de reclusão, de modo que o novo vodun-se aprendesse as
tradições dos voduns: como cultuá-los, manter os espaços sagrados, cuidar das árvores, saber
dançar, cantar, preparar as comidas e um artesanato básico necessário a implementos materiais
dos diferentes assentos, ferramentas e símbolos necessários ao culto.
Para os povos Jeje, os voduns são serpentes que tem origem no fogo, na água, na terra, no ar e
ainda tem origem na vida e na morte. Portanto, a divindade patrona desse culto é Dan ou a
“Serpente Sagrada”.
Como disse, para o povo Jeje os Voduns são serpentes sagradas e sendo as matas, os rios, as
florestas o habitat natural das cobras e dos próprios voduns. O ritual Jeje depende de muito
verde, grandes árvores pois muitos voduns tem seus assentos nos pés destas árvores.
É comum no culto Jeje provar o poder dos Voduns quando estes estão incorporados em seus
iniciados. Uma destas provas é a prova chamada Prova do Zô ou Prova do Fogo do vodun
Sogbô, que governa as larvas vulcânicas e é irmão de Badé e Acorombé, que comandam os
raios e trovões.
A seguir, descrevo uma Prova do Zô feita com uma vodun-se feita para Sogbô, um vodun que
assemelha-se ao Xangô do Yorubás:
Num determinado momento entra no salão uma panela de barro, fumegante, exalando cheiro
forte de dendê borbulhante, contendo dentro alguns pedaços de ave sacrificada para o vodun.
Sogbô adentra o salão com fúria de um raio, os olhos bem abertos (que como expliquei é
costume dos voduns) e tomando a iniciativa vai até a panela, onde mergulha as mãos por algum
tempo. Em seguida, exibe para todos os pedaços da ave. É um momento de profunda emoção
gerando grande comoção por parte dos outros iniciados que respondem aquele ato entrando em
estado de transe com seus voduns.
NANÃ
Nanã Buruku ou Buku é considerada a mais antiga das divindades. Muito cultuada na África em
regiões como: Daça Zumê, Abomey, Dumê, Cheti, Bodé, Lubá, Banté, Djabalá, Pesi e muitas
outras regiões.
Para os fons e ewes, a palavra Nanã ou Nàná é empregada para se chamar de mãe as mulheres
idosas e respeitáveis, ou seja, a palavra Nanã significa: “Respeitável Senhora”.
Nanã está associada à terra, à água e à lama. Os pântanos e as águas lodosas são o seu domínio.
Como relatei no começo, é a mais antiga das divindades, pois representa a memória ancestral.
Mãe de Loko ou Irokô, Omolu e Oxumare ou Becém na dinastia Fon, Nanã está ligada ao
mistério da vida e da morte. É a senhora da sabedoria, mais velha que o ferro. Daí, não usar
lâminas em seu culto.
BECÉM
O culto à serpente remonta desde o início dos séculos. Os romanos e os gregos já prestavam
culto à cobra, sendo os povos que mais difundiram em séculos passados este culto.
No Egito, a serpente era venerada e encarregada de proteger locais e moradias. Cleópatra era
uma sacerdotisa do culto à serpente. Todos os seus pertences e adornos eram em formatos de
cobras e similares. Este culto correu através do Rio Nilo as diversas regiões africanas.
No Antigo Dahomé, este culto se intensificou e lá Dan, como é chamada a Serpente Sagrada,
transformou-se no maior símbolo de culto daquele povo, também sendo chamado pelo nome de
vodun-becém. Já os yorubás chamaram esta mesma entidade de Oxumare ou a Cobra Arco-íris;
e os negros Bantos, de Angôro.
Na verdade, aí falamos de uma só divindade com vários nomes dependendo da região em que é
cultuada.
Mas, Oxumare, como é mais popularmente conhecido no Brasil, é o Orixá que determina o
movimento contínuo, simbolizado pela serpente que morde a própria cauda e enrola-se em volta
da terra para impedí-la de se desgovernar. Se Oxumare perder-se a força, a Terra vagaria solta
pelo espaço em uma rota a seguir, sendo o fim do nosso Planeta.
É o orixá da riqueza, um dos benefícios mais apreciados não só pelos yorubás como por todos
os povos da terra.
Arró-bo-boí!
OFERENDA À BECÉM PARA PROSPERIDADE
Em tempos difíceis, um dos voduns que não pode deixar de ser cultuado é Becém, pois este
vodun é o Deus do movimento. Na nação de Ketu, este vodun é assimilado ao Orixá Oxumarê.
Os ingredientes necessários para a comida ou oferenda à Becém, para prosperidade são:
*01 travessa média de barro
*½ k de canjica
Como fazer:
*Cozinhar bem a canjica e colocá-la na travessa
*Cozinhar as batatas doces, retirar as cascas e amassá-las bem. Modelar duas cobras de batata
doce e colocá-las em cima desta canjica
*Enfiar as folhas de louro nos cantos, em volta da canjica. (Observação: para cada folha, uma
moeda e um búzio aberto até completar as 14 folhas, 14 moedas e 14 búzios)
*Espalhar o açúcar cristal por cima de toda esta oferenda e oferecê-la à Becém, em baixo de
uma árvore bonita e frondosa com 14 velas em volta, acesas.
AJOIÉ E EKEDI
A palavra “ajoié” é correspondente feminino de ogan pois, a palavra ekedi, ou ekejí, vem do
dialeto ewe, falado pelos negros fons ou Jeje.
Portanto, o correspondente yorubá de ekedi é ajoié, onde a palavra ajoié significa “mãe que o
orixá escolheu e confirmou”.
Assim como os demais oloyés, uma ajoié tem o direito a uma cadeira no barracão. Deve ser
sempre chamada de “mãe”, por todos os componentes da casa de orixá, devendo-se trocar com
ela pedidos de bençãos. Os comportamentos determinados para os ogans devem ser seguidos
pelas ajoiés.
Em dias de festa, uma ajoié deverá vestir-se com seus trajes rituais, seus fios de contas, um ojá
na cabeça e trazendo no ombro sua inseparável toalha, sua principal ferramenta de trabalho no
barracão e também símbolo do óyé, ou cargo que ocupa.
A toalha de uma ajoié destina-se, entre outras coisas, a enxugar o rosto dos omo-orixás
manifestados. Uma ajoié ainda é responsável pela arrumação e organização das roupas que
vestirão os omo-orixás nos dias de festas, como também, pelos ojás que enfeitarão várias partes
do barracão nestes dias.
Mas, a tarefa de uma ajoié não se restringe apenas a cuidar dos orixás, roupas e outras coisas.
Uma ajoié também é porta-voz do orixá em terra. É ela que em muitas das vezes transmite ao
Babalorixá ou Yalorixá o recado deixado pelo próprio orixá da casa.
Quem seria essa divindade? Para os yorubás, essa divindade que auxilia o Babalawo a
interpretar as caídas do jogo-a-ifá tem o nome de Exu e para os ewes ou fons da cultura Jeje
essa mesma divindade é chamada de Legba, que em ewe significa: “Divino esperto”.
Como podemos observar, nas duas culturas o culto à ifá é uma constante na vida destes povos,
pois tanto na Nigéria como no antigo Dahomé, o destino individual ou coletivo é motivo de
muita atenção(Destino que em yorubá se chama odù e em ewe-fon, aírun-ê), pois os povos Jejes
também cultuavam os odùs ou aírun-ê.
Candomblé de Jeje
Assim, como os Nagôs ou Yorubas, os Jejes língua Ewe, língua Fon, língua Mina e os Fanti
ashantis, formam grupos sudaneses que englobam a África Ocidental hoje denominada de
Nigéria, Benin e Togo. Sua entrada no Brasil ocorreu em meados do século XVII.
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e estranho;
que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos conquistados pelos
reis de Dahomey e seu exército. Quando os conquistadores eram avistados pelos nativos de uma
aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os jejes estão
chegando!).
Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já estavam
aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e assim ficou conhecido o
culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”.
Dentre os daomeanos escravizados, uma mulher chamada Ludovina Pessoa, natural da cidade
Mahi (marri), foi escolhida pelos Voduns para fundar três templos na Bahia. Ela fundou:
Um templo para Dan; Kwe Ceja Hundê, mais conhecido como o Roça do Ventura ou Pó Zehen
(pó zerrêm) em Cachoeira e São Felix
Um templo para Heviossô Zoogodo Bogun Male Hundô Terreiro do Bogum em Salvador
Um templo para Ajunsun que não se sabe porque não foi fundado. Esse é o segmento jeje-mahi
do povo Fon.
O templo de Ajunsun-Sakpata foi fundado mais tarde pela africana Gaiacu Satu, em Cachoeira e
São Felix e recebeu o nome de Axé Pó Egi, mais conhecido por Cacunda de Ayá. São os Jeje-
Savalu ou Savaluno. Sakpata era rei da cidade Savalu na África, segundo alguns historiadores,
Sakpata foi o único rei que preferiu o exílio a se render aos conquistadores do Daomé. O dialeto
dos savalus também é o Fon.
No Maranhão encontramos a Casa das Minas fundada por Maria Jesuína, segundo informação
de Sergio Ferretti. É com certeza a mais conhecida casa de jeje do Brasil. Esse é o segmento do
povo Jeje-Mina.
Ainda no Maranhão encontramos a casa Fanti-Ashante fundada por Euclides Menezes Ferreira
(Talabian). Esse é o segmento jeje-Fanti-Ashanti do povo Akan vindo de Ghana, inicialmente
teria ligações com a Sitio de Pai Adão Nação Nagô-Egbá.
No Rio de Janeiro, foi fundado pela africana Gaiaku Rosena, natural de Allada, o Terreiro do Pó
Dabá no bairro da Saúde, que foi herdado por sua filha Adelaide do Espírito Santo, também
conhecida como Ontinha de Oiá (Devodê), que por sua vez foi sucedida por Joana da Cruz de
Avimadjé, mais conhecida como Mejitó, que transferiu a casa de santo para o bairro Coelho da
Rocha. Os descendentes do Pó Dabá mais ilustres da atualidade são Glorinha Toqüeno, com
terreiro no bairro de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro e Helena de Dã, com terreiro em
Parque Paulista, em Duque de Caxias.
Depois veio Antonio Pinto de Oliveira. Tata Fomutinho que fundou o Kwe Ceja Nassó, no
bairro de Santo Cristo, depois mudou-se para Madureira na Estrada do Portela, depois para São
João de Meriti onde finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba.
Dizem os mais velhos, que Mejitó, ajudou muito Tata Fomutinho no começo de sua vida de
santo aqui no Rio de Janeiro.
Tata Fomutinho deixou uma legião de filhos, netos e bisnetos. Dentre esses, Jorge de Yemanja
que fundou o Kwe Ceja Tessi, Pai Zezinho da Boa Viagem que fundou o Terreiro de Nossa
Senhora dos Navegantes, Tia Belinha que fundou a Colina de Oxosse e Amaro de Xangô.
Na Nação Jeje existe a necessidade do poço (se não existir uma nascente nas terras), o ideal é
um sítio com nascente, mata natural, plantas e animais.
Infelizmente nas casas urbanas isto já não é tão possível, pois as Casas cada vez mais diminuem
de tamanho. Mas ainda assim toda casa Jeje deverá ter pelo menos um poço, um local reservado
exclusivamente para as plantas e árvores necessárias ao culto, que chamamos “kpamahin”, e
alguns animais que são muito importantes para nós.
Voduns não usam roupas luxuosas não gostam de roupas de festa e geralmente preferem a boa e
velha roupa de ração. As danças são cadenciadas em, um ritmo mais denso e pesado. Os Voduns
estão sempre de olhos abertos e salvo algumas excessões, conversam (usando preferencialmente
um dialeto próprio) e dão conselhos a quem os procura. Informação de Doté Dorivaldo.
A iniciação ao culto dos voduns é complexa é longa e pode envolver longas caminhadas a
santuários e mercados e períodos de reclusão dentro do convento ou terreiro hunkpame, que
podem chegar a durar um ano, onde os neófitos são submetido a uma dura rotina de danças,
preces, aprendizagem de línguas sagradas e votos de segredo e obediência.
Hierarquia
Doté Sacerdotes (homens) e Doné Sacerdotisas (mulheres) esse título é usado no Terreiro do
Bogum e casas descendentes.
Candomblé Bantu
Divindades
Babalu Aye · · Exu Iansã · · Jah Mami Wata · · Obatalá Ogum Olorum · · · Orunmila Osun · ·
Xangô Yemaja
Raízes
Oeste Africano Vodun · Ifá, Orisa (Iorubá) · Lwa (Dahomey) · Odinani (ibo) · Nkisi (Kongo) ·
Catolicismo (Portugal, Espanha)
No entanto, na área das religiões de matriz bantu no Brasil, existe uma enorme carência de
estudos, pois muito pouco ou quase nada tem sido feito desde que nossos pioneiros na pesquisa
do africano e nas suas manifestações simbólicas afirmaram não encontrar elementos de peso da
cultura bantu1 no Brasil. Desde tal acontecimento, a atenção dos estudiosos passou a ser voltada
para os sudaneses, criando, com isso, a temática do nagocentrismo que muito prejuízo tem
causado, já que reforça a ideia lançada por Nina Rodrigues e acalentada por Edison Carneiro e
Arthur Ramos de que os bantu eram possuidores de uma mítica paupérrima, com ausência total
de mitos cosmogônicos e fundadores, razão por que teriam se apoderado da mítica e dos rituais
nagô. Em decorrência da falta de estudos mais aprofundados sobre o tema, a tarefa de
compreender a mítica bantu no Brasil, infelizmente, tornou-se quase impossível.
Outra consequência, ainda que indirecta, dessa atitude de nossos primeiros pesquisadores, é o
fato de que as religiões de matriz bantu, principalmente a Umbanda e o Candomblé
Congo/Angola, têm assimilado de forma acentuada os elementos de matriz yorubana, uma vez
que estes foram legitimados pela academia e disseminados pela mídia. A Umbanda, fenômeno
verificado nas regiões sul e sudeste do Brasil, assim como uma sua variante, o Omolocô,
sincretizou-se, violentamente, a partir dos anos 60, na intenção de se tornar conhecida e
legitimada pelo grande público, pelos orixás nagôs e pela prática litúrgica dos descendentes do
povo yorubano. Por sua vez, o Candomblé Congo/Angola passou a nomear seus Mukisis2 como
se fossem Orixás nagôs, copiando formas de culto e de comportamento do Candomblé de Ketu,
mais popular e aceito pela academia e pela mídia.
Há alguns poucos anos, os descendentes espirituais dos bantu começaram a tomar consciência
do problema e alguns esforços nesse sentido têm sido verificados: a Cobantu, associação com
sede na cidade de São Paulo, e alguns grupos da Bahia, motivados pela Casa de Angola, têm
procurado estudar o Kimbundo e o Kikongo3, línguas rituais dos Candomblés de matriz bantu.
São esforços louváveis, mas que não têm tido a força suficiente para despertar o interesse dos
pesquisadores, que poderiam, por meio de seu labor académico, dar uma valiosa contribuição
para que a recuperação de determinados mitos e ritos necessários para a sobrevivência do
fenómeno religioso ocorresse.
Os bantu, aos poucos, começam a sair do isolamento e estão procurando preencher lacunas,
omissões e esquecimentos causados por séculos de separação entre a matriz e suas ramificações.
No entanto, as dificuldades são imensas, pois a parca bibliografia existente sobre o assunto foi
escrita, ou por portugueses e publicadas em Portugal, ou por pesquisadores de outras
nacionalidades e em línguas que o povode-santo de origem bantu não lê. Algumas obras de
Oscar Ribas, José Redinha e outros têm sido fotocopiadas até a exaustão e repassadas de mão
em mão, lidas e relidas em busca de respostas que o passado calou. Faltam-lhes tudo:
bibliografia acessível, condições culturais para leitura da bibliografia existente, bem como a
atracão de estudiosos das religiões de matriz africana no Brasil. Costumamos, em tom de
brincadeira, dizer que estamos a buscar agulha no palheiro, sem, no entanto, descobrirmos
sequer onde ele – o palheiro – está. Isso porque, enquanto as religiões de matriz yorubana
encontram seus elementos africanos na “iorubalândia”, conjunto de povos localizados na
Nigéria, Benin e Togo, os bantu se espalham por uma imensa área geográfica, dificultando
sobremaneira a localização dos elementos culturais que deram origem as religiões no Brasil.
Uma outra séria dificuldade a evocar é a extrema diversidade e polissemia dos cultos afros-
brasileiros em geral e dos cultos bantos, em particular, acrescidos do fato, de que, o candomblé
é uma religião iniciática sem fontes de escrituração, o que torna cada casa um universo fechado
dependente do Sacerdote, cuja voz é autoridade máxima e inquestionável, resultando disso,
discrepâncias notáveis entre casas da mesma raiz e da mesma nação.
1 bantos ou bantu – grande grupo lingüístico da África sub-saariana
2 Mukissis-sing. Nkissi –divindades bantu
3 Kikongo e Kimbundo – línguas faladas no Congo e em Angola
Uma das caracteristicas do povo de Angola importantes são a lingua o kimbundo é o kicongo
que emprestam muitas palvras ao portugues.
As referências dos Jinkisi/Akixi e algumas referências aos Orixás yorubá mais conhecidos,
entendamos estas semelhanças como caminhos, e não como individualidades.
No Brasil os cultos que prevalecem nos candomblés Angola, Congo (com algumas variações de
casa para casa ou de família para família de culto).
Os mais velhos trouxeram cantigas, rezas, tudo em Kimbundo e Kikongo (algumas também em
Umbundo e outros dialetos). Muita coisa se perdeu até mesmo por haver a associação com as
tradições Jeje nagô, que foi em ultima instância prejudicial para as tradições bantu.
Não que estas sejam mais certas ou mais erradas, mas que cada tradição deve ser mantida e
respeitada, pois faz parte da história da própria humanidade, de como nos organizamos, como
desenvolvemos outros falares, de como nos organizamos como sociedade, etc. e ao que parece,
tínhamos um culto primitivo comum que com as distâncias das eras e também geográficas foi se
modificando e incorporando novos elementos.
Acima de tudo está Nzambi Mpungu (um dos seus títulos) Deus criador de todas as coisas.
Alguns povos bantu chamam Deus de Sukula outros de Kalunga e outros nomes ainda
associam-se a estes.
O Culto a Nzambi não tem forma nem altar próprio. Só em situações extremas eles rezam e
invocam Nzambi, geralmente fora das aldeias, em beira de rios, embaixo de árvores, ao redor de
fogueiras. Não tem representação física, pois os Bantu o concebe como o incriado, o que
representa-lo seria um sacrilégio, uma vez que Ele não tem forma.
No final de todo ritual Nzambi é louvado, pois Nzambi é o princípio e o fim de tudo.
O culto no Brasil
A partir da Mameto de inkice Maria Nenen e de outros Tatetos como, Jubiabá, Olegário,
Bernardinho, Ciriaco, Joãzinho da Goméia, Tombeici o culto Banto ou Candomblé da Nação de
Angola, como é chamado o culto no Brasil, teve maior destaque na comunidade afro-brasileira.
Estes negros ou bantos, como eram chamados devido a língua que falavam, seguiam a tradição
religiosa de lugares como: Casanje, Munjolo, Cabinda, Luanda entre outros.
Mas, o culto banto tem sua liturgia particular e muito diferenciada das culturas yorubá e fon.
O nome Bantu não se refere a uma unidade racial. A sua formação e migração originou uma
enorme variedade de cruzamentos. Existem aproximadamente 500 povos Bantu. Assim, não
podemos falar de uma raça Bantu, mas sim de povo Bantu, isto significa uma comunidade
cultural com uma civilização comum e linguagens similares. Depois de muitos séculos de
movimentações, cruzamentos, guerras e doenças, os grupos Bantu mantiveram as raízes da sua
origem comum. A palavra Bantu aplica-se a uma civilização que manteve a sua unidade e foi
desenvolvida por pessoas de raça negra. O radical ntu, vulgar para a maioria das línguas Bantu,
significa homem, ser humano e ba é o plural. Assim, Bantu significa homens, seres humanos.
Os dialectos Bantu, e existem centenas, têm uma tal semelhança que só pode ser justificada por
uma origem comum. Os povos Bantu, além do semelhante nível linguístico, mantiveram uma
base de crenças, rituais e costumes muito similares; uma cultura com características idênticas e
específicas que os tornam semelhantes e agrupados.
Fora da sua identidade social, são caracterizados por uma tecnologia variada, uma escultura de
grande originalidade estilística, uma incrível sabedoria empírica e um discurso forte e
interessante com sinais de expressão intelectual. As línguas faladas hoje em Angola, são por
ordem de antiguidade: Bochiman, Bantu e Português. Das três só o Português tem uma forma
escrita. Os dialectos Bantu, apresentam uma unidade genealógica. Homburger, um eminente
estudioso do Bantu diz que o primeiro ponto obtido no domínio da linguística comparada foi a
unidade dos povos Bantu. Também diz, tendo em conta a história desta unidade, que os
primeiros descobridores Portugueses viram que os Angolanos conseguiam comunicar com os
povos da costa Moçambicana. Os Bantu Angolanos estão divididos em 9 grupos
etnolinguísticos: Quicongo, Quimbundo, Luanda-Quioco (Tchôkwe), Mbundo, Ganguela,
Nhaneca-Humbe, Ambó, Herero e Xindonga, que por seu turno estão subdivididos em cerca de
100 subgrupos, tradicionalmente chamadas tribos.
Kijingu – Cargo
A partir da Mameto Ria Nkise Maria Nenen e de outros Tatetos como Bernardinho e Ciri Aco, o
culto banto ou Candomblé da Nação de Angola, como é chamado o culto no Brasil, teve
maior destaque na comunidade afro-brasileira.
Estes negros ou bantos, como eram chamados devido a língua que falavam, seguiam a
tradição religiosa de lugares como: Kassanje, Munjolo, Kabinda, Luanda entre outros.
Mas, o culto banto tem sua liturgia particular e muito diferenciada das culturas yorubá e fon.
05º Muzenza_Katanu
09º Muzenza_kavua
possui peculiaridades próprias, tratamento e culto diferenciados. Pode-se sim, dizer que existem
pequenas coincidências, como por exemplo o fato de Kabila, Oxósse e Otulu serem caçadores,
ou ainda, por usarem as mesmas cores. Mas não há que se confundir um e outro, pois mesmo
em suas origens na África se diferem, sendo o primeiro ( Kabila ) originário do Congo, o
segundo (Oxósse) originário das terras Yorubás e o último ( Otulu ) do Reino do Dahomé.
Desta forma, elenco abaixo alguns dos Nkises de Angola e Congo, sem fazer qualquer
correspondência entre orixá ou vodum, dando ao lado de seus nomes uma breve descrição :
Gongobira.
É um jovem caçador que obtém, seu sustento ora através da caça, ora através da pesca.
Suas características são as mesmas das dos caçadores ( Kabila, Mutambô, Lambaranguange)
unidas as características dos Nkises da água doce ( Kisimbe, Samba ). Suas cores: verde cristal,
azul cristal e amarelo ouro, sua saudação: Mutoni Kamona Gongobira – Muanza ê (Pescador
Menino Gongobira – Rio ê)
Katendê.
Nkise dono dos segredos das ” nsabas” ( folhas, ervas ). Sua cor é o verde ou verde e branco,
sua saudação: Kisaba kiasambuká – Katendê (Folha Sagrada – Katendê)
Zaze, Luango.
Nkise responsável pela distribuição da Justiça entre os homens. Suas cores são: vermelho e
branco, sua saudação: A Ku Menekene Usoba Nzaji – Nzaze (Salve o Rei dos Raios – Grande
Raio)
Angorô e Angoroméa.
Assim como Njira, auxiliam na comunicação entre as divindades e os homens. São
representados por uma cobra, sendo o primeiro ( Angorô ) masculino e o segundo ( Angoroméa
) feminino, sua saudação: Nganá Kalabasa – Angorô Le (Senhor do Arco Íris – Angorô Hoje
Kitembo ou Tempo.
É o responsável pelo tempo de forma geral, e especificamente, pelas mudanças climáticas
(como chuva, sol, vento etc), portanto, atribuído a ele, o domínio sobre as estações do ano. É
representado, nas casas Angola e Congo, por um mastro com uma bandeira branca.
Usa cores fortes, como: vermelho, azul, verde, marron e branco, sua saudação: Nzara Kitembo
– Kitembo Io (Gloria Kitembo – Kitembo do Tempo).
Tempo é o Nkise senhor das estações do ano, regente das mutações climáticas. Ainda, é
considerado o Pai da Maionga, que é o banho usado pelos seguidores e iniciados da Nação de
Angola, tendo sua maior vibração justamente ao ar livre, ou seja, no tempo. É exatamente ali, no
tempo, que este banho feito de ervas, água do mar, de cachoeira, de rio, chuva e outros
elementares vai consagrar através de tempo este iniciado.
Tempo está associado à escala do crescimento, por isso sua ferramenta é uma escada com uma
lança voltada para cima, em referência ao próprio tempo.
Como expliquei, este Nkise rege as estações do ano e está ligado ao frio, ao calor, a seca, as
tempestades, ao ambiente pesado e ao ambiente agradável.
Conta uma lenda da Nação de Angola, que Tempo era um homem muito agitado que fazia e
resolvia muitas coisas ao mesmo tempo. Entretanto, este homem vivia reclamando e cobrando
de Zambi que o dia era muito pequeno para fazer e resolver tudo que quisesse. Um dia, Zambi
lhe disse:
“Eu errei em sua criação, pois você é muito apressado.” Ele então respondeu a Zambi: “Não
tenho culpa se o dia é pequeno e as horas miúdas, não dando tempo para realizar tudo que
planejo”. A partir desse momento, Zambi então determinou que esse homem passa-se a
controlar o tempo. Tendo} domínio sobre os elementares e movimentos da natureza. Assim
nasceu o Nkise Tempo.
Zumbarandá.
É um Nkise feminino, uma Nkisi amê, representa o início, vez que, é a mais velha das mães.
Também tem relação estrita com a morte. Sua cor: azul, sua saudação: Mametu Ixi Onoká –
Zumbarandá (Mãe da Terra Molhada – Zumbarandá)
Wunje.
É o mais novo dos Nkises. Representa a mocidade, a alegria da juventude. Durante o toque para
este Nkise, a dança se transforma numa grande brincadeira, sua saudação: Wunje Pafundi –
Wunje ê (Wunje Feliz – Bem Vindo)
Zambi, Zambiapongo.
Não se trata de um Nkise, mas sim do Deus Supremo, o grande criador. Na Angola toma-se
benção como: Mukuiú – responde: Mukuiú no Zambi Para os NkisesKonzondiô – responde:
Zambeuatala Para as Nkisi amêsEnuncy – responde: Sendalá com Samburiká – Para Nzaze
Munzenza – Iniciado
Ndunbe – Abian
Vumbi – Egun
Kufumala – Defumação
Dizungu – Nlungu
Ordem do barco:
Aluvaiá, Bombo Njila, Pambu Njila: – Intermediário entre os seres humanos e o outros
Nkisis (cf. Exú Orixá). Na sua manifestação feminina, é chamado Vangira.
Nkosi, Roxi Mukumbe: – Nkisi de guerra e Senhor das estradas de terra. Mukumbe,
Biolê, Buré qualidades ou caminhos desse Nkisi.
Ngunzu: – Engloba as energias dos caçadores de animais, pastores, criadores de gado e
daqueles que vivem embrenhados nas profundezas das matas, dominando as partes onde
o sol não penetra.
Kabila: – O caçador pastor. O que cuida dos rebanhos da floresta.
Mutalambô, Lambaranguange: – Caçador, vive em florestas e montanhas, Nkisi de
comida abundante.
Gongobira ou Gongobila: – Caçador jovem e pescador.
Mutakalambô: – Tem o domínio das partes mais profundas e densas das florestas, onde
o Sol não alcança o solo por não penetrar pela copa das árvores.
Katendê: – Senhor das Jinsaba (folhas). Conhece os segredos das ervas medicinais.
Nzazi, Loango: – São o próprio raio, entrega justiça aos seres humanos.
Kaviungo ou Kavungo, Kafungê ou Kafunjê, Kingongo: – Nkisi da varíola, das doenças
de pele, da saúde e da morte.
Nsumbu – Senhor da terra, também chamado de Ntoto pelo povo de Kongo.
Hongolo ou Angorô (masculino) e Angoroméa (feminino): – Auxilia na comunicação
entre os seres humanos e as divindades (representado por uma cobra).
Kindembu ou Nkisi Tempo: – Rei de Angola. Senhor do tempo e estações. É
representado, nas casas Angola e Congo, por um mastro com uma bandeira branca.
Kaiangu: – Têm o domínio sobre o fogo.
Matamba, Bamburussenda, Nunvurucemavula: – Qualidades ou caminhos de Kaiangu.
guerreira, comanda os mortos (Nvumbe).
Kisimbi, Samba_Nkisi: – A grande mãe; Nkisi de lagos e rios.
Ndanda Lunda: – Senhora da fertilidade, e da Lua, muito confundida com Hongolo e
Kisimbi.
Kaitumbá, Mikaiá, Kokueto: – Nkisi do Oceano, do Mar (Kalunga Grande)
Nzumbarandá: – A mais velha das Nkisi, conectada para morte.
Nvunji: – O mais jovem do Nkisi, Senhora da justiça. Representa a felicidade de
juventude e toma conta dos filhos recolhidos.
Lembá Dilê, Lembarenganga, Jakatamba, Nkasuté Lembá, Gangaiobanda: – Conectado
à criação do mundo.
O Deus supremo e Criador é Nzambi ou Nzambi Mpungu; abaixo dele estão os
Jinkisi/Minkisi, divindades da Mitologia_Bantu. Essas divindades se assemelham a Olorun
e Orishas da Mitologia Yoruba, e Olorum e Orixá do Candomblé Ketu.
NAÇÃO ANGOLA
Os Nkises
Os Nkises são para os Bantus o mesmo que orixás para os Yorubás, ou ainda, o
mesmo que
vodum para os Daometanos. Muitos autores cometem o mesmo erro ao tratar das
semelhanças existentes entre um Nkise, orixá ou vodum, pois confundem semelhanças
com correspondência, fazendo-nos acreditar que na verdade se tratam da mesma
divindade apenas com nome distinto.
Esta visão é equivocada, e cabe a nós desfazermos tal equívoco. Cada Nkise, orixá ou
vodum
possui peculiaridades próprias, tratamento e culto diferenciados. Pode-se sim, dizer que
existem
pequenas coincidências, como por exemplo o fato de Kabila, Oxósse e Otulu serem
caçadores,
ou ainda, por usarem as mesmas cores. Mas não há que se confundir um e outro, pois
mesmo
em suas origens na África se diferem, sendo o primeiro ( Kabila ) originário do Congo, o
segundo (Oxósse) originário das terras Yorubás e o último ( Otulu ) do Reino do
Dahomé.
Desta forma, elenco abaixo alguns dos Nkises de Angola e Congo, sem fazer qualquer
correspondência entre orixá ou vodum, dando ao lado de seus nomes uma breve
descrição :
Aluvaiá, Bombojira, Vangira (feminino), Pambu Njila.
É o Nkise responsável pela comunicação entre as divindades e os homens. Está nas
ruas, é a este Nkise que pertencem as “bu dibidika jinjila” (encruzilhadas). Suas cores
são
preto, vermelho, sua saudação: Kiuá Luvaiá Ngananzila Kiuá (Viva Aluvaiá, Senhor dos
Caminhos)
Nkosi Mukumbe, Roxi Mukumbe.
É o Nkise da guerra, das estradas. É a ele que se fazem oferendas com o fim de obter
abertura de caminhos. Sua cor é o azul escuro, sua saudação: Luna Kubanga Mueto –
Nkosi
ê (Aquele que briga por nós – Nkosi ê)
Kabila, Mutalambô, Burungunzo.
Nkise caçador, habita as florestas ou montanhas. É o responsável pela fartura, pela
abundância de alimentos. Suas cores: verde para Mutalambô, Kabila e Burungunzo, e
verde,
azul e amarelo para Gongobira, sua saudação: Kabila Duilu – Kabila (Caçador dos
Céus – Kabila)
Gongobira.
É um jovem caçador que obtém, seu sustento ora através da caça, ora através da
pesca.
Suas características são as mesmas das dos caçadores ( Kabila, Mutambô,
Lambaranguange)
unidas as características dos Nkises da água doce ( Kisimbe, Samba ). Suas cores: verde
cristal, azul cristal e amarelo ouro, sua saudação: Mutoni Kamona Gongobira – Muanza
ê
(Pescador Menino Gongobira – Rio ê)
Katendê.
Nkise dono dos segredos das ” nsabas” ( folhas, ervas ). Sua cor é o verde ou verde e
branco, sua saudação: Kisaba kiasambuká – Katendê (Folha Sagrada – Katendê)
Zaze, Luango.
Nkise responsável pela distribuição da Justiça entre os homens. Suas cores são:
vermelho
e branco, sua saudação: A Ku Menekene Usoba Nzaji – Nzaze (Salve o Rei dos Raios –
Grande Raio)
Kaviungo ou Kavungo, Kafungê e Kingongo.
É o Nkise responsável pela saúde, estando intimamente ligado a morte. Usa preto,
vermelho,
branco e marrom, sua saudação: Tateto Mateba Sakula Oiza – Dixibe (O Pai da Ráfia
Está
Chegando – Silêncio)
Angorô e Angoroméa.
Assim como Njira, auxiliam na comunicação entre as divindades e os homens. São
representados por uma cobra, sendo o primeiro ( Angorô ) masculino e o segundo
( Angoroméa ) feminino, sua saudação: Nganá Kalabasa – Angorô Le (Senhor do Arco
Íris
– Angorô Hoje
Kitembo ou Tempo.
É o responsável pelo tempo de forma geral, e especificamente, pelas mudanças
climáticas (como chuva, sol, vento etc), portanto, atribuído a ele, o domínio sobre as
estações
do ano. É representado, nas casas Angola e Congo, por um mastro com uma bandeira
branca.
Usa cores fortes, como: vermelho, azul, verde, marron e branco, sua saudação: Nzara
Kitembo – Kitembo Io (Gloria Kitembo – Kitembo do Tempo)
Matamba, Bamburussema, Nunvurucemavula.
Trata-se de um Nkise feminino, uma Nkisi amê. É guerreira e está intimamente
ligada
a morte, por conseguir dominar os mortos ( “Vumbe” ). Suas cores são o vermelho e o
marrom avermelhado, sua saudação: Nenguá Mavanju – Kiuá Matamba (Senhora dos
Ventos – Viva Matamba)
Kisimbi, Samba, Dandalunda.
Nkise feminino, uma Nkisi amê, representa a fertilidade, é a grande mãe. Seu
domínio
é sobre as águas doces. Sua cor é o amarelo ouro e o rosa, sua saudação: Mametu Maza
Mazenza – Kisimbi ê (Oh, Mãe da Água Doce – Kisimbi ê)
Kaitumbá, Mikaiá, Kokueto.
Também um Nkise feminino, uma Nkisi amê, tem domínio sobre as águas salgadas
( ” Kalunga Grande” , o mar ). Sua cor: branco cristal, sua saudação: Kiuá Kokueto –
Mametu Ria Amaze Kiuá (Viva Kokueto, Mãe das águas -Viva)
Zumbarandá.
É um Nkise feminino, uma Nkisi amê, representa o início, vez que, é a mais velha das
mães. Também tem relação estrita com a morte. Sua cor: azul, sua saudação: Mametu
Ixi Onoká – Zumbarandá (Mãe da Terra Molhada – Zumbarandá)
Wunje.
É o mais novo dos Nkises. Representa a mocidade, a alegria da juventude. Durante o
toque para este Nkise, a dança se transforma numa grande brincadeira, sua saudação:
Wunje Pafundi – Wunje ê (Wunje Feliz – Bem Vindo)
Lembá Dilê, Lembarenganga, Jakatamba, Kassuté Lembá, Gangaiobanda.
Nkise da criação, ora apresenta-se como jovem guerreiro, ora como velho curvado.
Está ligado a criação do mundo. Quando jovem tem como cores o branco e o azul, ou
branco
e prata, quando de idade avançada, apenas o branco, sua saudação: Kalaepi Sakula
Lemba Dilê – Pembele (Quietos, Ai Vem o Senhor da Paz – Eu te Saudo)
Zambi, Zambiapongo.
Não se trata de um Nkise, mas sim do Deus Supremo, o grande criador.
TEMPO
Tempo ou kitembo é um Nkise da nação de Angola, é o dono da bandeira de Angola, que
podemos ver em qualquer casa de Candomblé, perto do assentamento de Tempo, uma grande
vara
com uma bandeira branca no topo.
Tempo é o Nkise senhor das estações do ano, regente das mutações climáticas. Ainda, é
considerado o Pai da Maionga, que é o banho usado pelos seguidores e iniciados da Nação de
Angola,
tendo sua maior vibração justamente ao ar livre, ou seja, no tempo. É exatamente ali, no
tempo, que este
banho feito de ervas, água do mar, de cachoeira, de rio, chuva e outros elementares vai
consagrar
através de tempo este iniciado.
Tempo está associado à escala do crescimento, por isso sua ferramenta é uma escada com uma
lança voltada para cima, em referência ao próprio tempo.
Como expliquei, este Nkise rege as estações do ano e está ligado ao frio, ao calor, a seca, as
tempestades, ao ambiente pesado e ao ambiente agradável.
Conta uma lenda da Nação de Angola, que Tempo era um homem muito agitado que fazia e
resolvia muitas coisas ao mesmo tempo. Entretanto, este homem vivia reclamando e cobrando
de Zambi
que o dia era muito pequeno para fazer e resolver tudo que quisesse. Um dia, Zambi lhe disse:
“Eu errei em sua criação, pois você é muito apressado.” Ele então respondeu a Zambi: “Não
tenho
culpa se o dia é pequeno e as horas miúdas, não dando tempo para realizar tudo que planejo”.
A
partir desse momento, Zambi então determinou que esse homem passa-se a controlar o tempo.
Tendo}
domínio sobre os elementares e movimentos da natureza. Assim nasceu o Nkise Tempo.
Estes negros ou bantos, como eram chamados devido a língua que falavam, seguiam a tradição
religiosa de lugares como: Kassanje, Munjolo, Kabinda, Luanda entre outros.
Mas, o culto banto tem sua liturgia particular e muito diferenciada das culturas yorubá e fon.
Makota Ekedi
Kijingu Cargo
Munzenza Iniciado
Vumbi Egun
Kufumala Defumação
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CABOCLOS
Publicado em 29 de junho de 2006
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Falar de Caboclos é uma tarefa bastante agradável, ainda que extensa e difícil, pois
existem tantos que seria uma grande leviandade, declararmos conhecer a todos.
Inicialmente é importante conhecermos uma diferenciação que se faz entre eles. Os
Caboclos de Couro e os de Pena. Caboclos de Couro, são os Boiadeiros, e os de Pena
são os Índios. Ainda tem os Caboclinhos, que são índios meninos, muito comuns no
Nordeste do Brasil.
Muito se fala a respeito de que tipo de espíritos poderiam ser os Caboclos, Pretos-
Velhos, etc… Seriam mesmo índios? Ou em relação aos Pretos-Velhos, seriam
somente negros ou escravos?
O trabalho da caridade espiritual é muito grande e não caberia somente a esta ou
aquela qualidade de espíritos praticá-la. Se nas falanges de Caboclos ou em outra
qualquer, não se manifestarem somente espíritos daquela classe, isso não muda em
nada sua força. E qualquer espírito que se aproxime ou que lhe seja determinado
trabalhar naquela determinada linha vibracional, às características da falange deverá
ser amoldar.
Isso se aplica a qualquer qualidade de espírito. Até mesmo aqueles que em suas vidas
pretéritas tenham convivido em camadas sociais diversas, podem depois de
desencarnados trabalharem em qualquer falange, mas para isso moldam-se a ela
utilizando-se da roupagem característica dela.
Já imaginaram um Caboclo manifestado de paletó e gravata, dando consultas com um
lep top?
O que quero dizer é que as falanges de Caboclos, são mesmo índios, ou no caso dos
Caboclos de Couro, são boiadeiros, vaqueiros, trabalhadores do campo. Entretanto,
não é impossível a outros espíritos que viveram em outras classes sociais,
aproximarem-se, por gosto ou determinação superior, às características da falange em
questão e passarem a praticar a caridade, assim como, a perseguir a elevação
espiritual, dentro daquelas características. A evolução de cada entidade se dá mais
pelo trabalho que pratica, pelo bem que alcança e dirige a quem necessita, do que pela
maneira como se manifesta, fala ou se veste.
Assim sendo é muito mais importante nos aproximarmos da figura que a entidade nos
proporciona, do que ficarmos procurando uma maneira de investigar e determinar o
que não nos é devido.
Os Caboclos são entidades fortes, viris. Alguns tem uma dificuldade muito grande de
se expressar em nossa língua, sendo normalmente auxiliados pelos cambonos, que são
filhos da casa, normalmente iniciando seus desenvolvimentos ou alguém que não tenha
a mediunidade de incorporação. São sérios, mas gostam de festas e fartura. Dançam
muito e gostam de cantar também. Bebem vinho, cerveja, ou a Macaia que é uma
mistura de ervas. Fumam normalmente charutos, mas alguns Boiadeiros fumam o
palheiro, que é um cigarro feito de palha de milho com fumo de corda ou rolo ou até
mesmo cigarros normais.
Os Caboclos, embora comandados por Oxosse, Orixá da caça, que na Umbanda é
louvado como rei das Matas, estão sempre ligados a um determinado Orixá e mantém
suas características, de alguma forma ligada a esse Orixá. As Caboclas normalmente
estão ligadas a Orixás femininos.
Os Caboclos de couro – Boiadeiros – são alegres e festeiros, são bem mais
descontraídos e extrovertidos que os Caboclos de penas. Gostam de música, alguns
gostam de samba, cantam toadas que falam em seus bois e suas andanças por essas
terras de meu Deus. Os Boiadeiros também são conhecidos como " Encantados ". Eles
não teriam morrido para se espiritualizarem, teriam sido encantados e se
transformados em entidades especiais.
Os Caboclos de Pena são exímios na arte de curar e na limpeza espiritual, são
profundos conhecedores das ervas medicinais e de suas propriedades espirituais, assim
como suas propriedades terapêuticas para o tratamento de muitos males. São grandes
passistas e os resultados de seus trabalhos aparecem muito rapidamente. Gostam
muito de crianças e se entristecem muito com o mal tratamento dispensado a elas por
maus pais.
Gostam muito de frutas, plantas e flores e suas festas devem ser bem ornamentadas
pelos Zeladores de santo, que tem neles uma barreira muito grande contra os males de
natureza material e espiritual. A ornamentação não precisa ser suntuosa, pois são
entidades bastante simples, mas flores e folhas compõem arranjos que os deixam
muito satisfeitos.
Nas matas, cachoeiras, praias, rios, montanhas, sempre haverá a presença de um
Caboclo, assim como entre as plantas e animais: Mata Virgem, Sete Cachoeiras, Sete
Montanhas, Caboclo Arruda, Caboclo Guiné, Cobra Coral, Sucuri, Jibóia; Os ligados
diretamente aos Orixás, Caboclo Rompe Mato ( Ogum/Oxosse), Caboclo da Pedra
(Xangô); aos ligados às forças da natureza, Caboclo Ventania, Sete Cachoeiras; aos
ligados às atividades nas florestas, Caboclo Caçador, Flecheiro; aos ligados ao
desmanche de feitiços, Serra Negra; aos ligados às cores, Caboclo Roxo; às tribos,
Caboclo Tupi, etc… Em suma, sempre haverá um Caboclo ligado a qualquer área da
natureza para nos proteger e auxiliar. Saravá Caboclo, Saravá toda a Macaia. Saravá
Jurema, Jupira, Jandira, Iara, e tantas outras Caboclas maravilhosas que enfeitam os
rios, as serras com sua beleza e força e nas festas bradam e dançam, mostrando a
feminilidade indígena, inocente, feliz, mas forte. Grandes trabalhadoras da seara de
Oxalá. Okê Caboclo, Okê!
Assim se manifestam os Caboclos, onde quer que sejam chamados. Algumas casas
adotam determinadas doutrinas que lhes tolhem um pouco as características. Não lhes
permitem fumar ou beber e se mesmo assim, humildemente, aceitam as condições da
casa é por que é maior o desejo da caridade, do que mostrarem-se como realmente são.
Isso não diminui nem seus trabalhos nem a capacidade da casa, muito menos deprecia
tal doutrina. No entanto é muito importante que os respeitemos da maneira que se
apresentem, sem que queiramos por nossas variações sociais, determinar suas
procedências ou negar suas qualidades.
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ERVAS E AMALÁS
Publicado em 19 de junho de 2006
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OXALÁ
Amalá
14 velas brancas, água mineral, canjica branca dentro de alguidar de louça branca, e flores
brancas.
Local de entrega: deve ser muito bonito e cheio de paz, como uma colina limpa, ou junto
de uma entrega para Iemanjá, na praia.
OGUM
Amalá
14 velas branca e vermelha ou 7 brancas e 7 vermelhas, cerveja branca servida em coité, 7
charutos, peixe de escama e de água doce, ou camarão seco, amendoins
e frutas, de preferência, dentre elas, uma manga (melhor a espada).
Local de entrega: uma campina
IEMANJÁ
Amalá
7 velas brancas e 7 azuis, champanhe, manjar branco, rosas brancas ou outrO tipo de flor
branca.
Local de entrega: na praia.
OXÓSSI
Amalá
7 velas verdes e 7 brancas, Cerveja branca servida em coité, 7 charutos,
peixe com escama de água doce ou uma moganga bem assada com milho dentro coberto
com mel.
Local de entrega: na entrada da mata.
XANGÔ
Amalá
7 velas marrons e 7 velas brancas,
7 charutos, cerveja preta servida em coité, camarão, quiabo.
Local de entrega: na pedreira ou sobre uma pedra grande e bonita.
OXUM
Amalá
7 velas brancas e 7 amarelo claro, Flores Amarelas, água mineral canjica amarela, fitas
amarelo claro e branca.
Local de entrega: ao lado de uma cascata.
IANSÃ
XANGO
Publicado em 19 de junho de 2006
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Orixá de grande valia e importância nos Cultos Afro-Brasileiros, tem alguns cultos
que levam o seu próprio nome, tamanha a popularidade deste Orixá.
Divide com Ogum a popularidade e o respeito dos fiéis, tanto nos Candomblés
(diversas nações) como na Umbanda.
Xangô foi o grande Obá (rei) da cidade de Oyó, representando, na linha de sucessão,
seu quarto alafin (segundo fontes fidedignas). Ele fez sua passagem pela Terra por
volta de 1450 a. C., filho de Oranian e Torossi. Governou com mãos de ferro, sendo, ao
mesmo tempo, temido e adorado pelo povo. Muitas vezes comportou-se como tirano,
na sua ânsia pelo poder. Alguns relatos afirmam que Xangô destronou seu próprio
irmão, Dadá-Ajanká, para tomar o seu lugar.
É o orixá das pedreiras, das terras áridas e das rochas.
Seu elemento é o fogo, dominando também o raio e o trovão.
O metal a que pertence é o cobre.
Possui, como símbolo da natureza, a pedra de raio, que se cria quando um raio cai na
terra.
Sua ferramenta principal é o Oxé, ou machado duplo, simbolizando a imparcialidade
na hora da justiça.
Carrega também o Xerém, espécie de cabaça que é usada por certas qualidades deste
Orixá.
Xangô detém um profundo conhecimento e ligação com as árvores, de onde provêm
muitos de seus objetos de culto, como a gamela e o pilão.
É muito violento, mas nunca gratuitamente. Quando provocado, castiga seus inimigos
sem piedade, sendo implacável nas guerras de conquista, atividade que exerce com
maestria. Se for necessário, Xangô usa seus poderes de feitiçaria para destruir o
inimigo.
Como grande amante da justiça, é imparcial em suas ações, usando toda sua
autoridade para resolver as mais difíceis questões, tarefa que ninguém gosta de fazer.
Sempre podemos recorrer a ele quando nos defrontarmos com questões litigiosas ou
problemas jurídicos.
Segundo a mitologia africana, um traço marcante desse orixá é o fato de se fazer
notar, sendo muito atraente e vaidoso. Ele teve várias uniões com outros orixás, como
Oxum, Obá e Iansã, que era sua prima e esposa predileta.
Diz a tradição de lendas que Xangô tem medo da morte, pelo fato de abandonar a
cabeça (ou ori) de seus filhos de santo. Orixá poderoso que não teme nada, não
suportanto o frio que emana de um corpo sem vida.
Xangô possui a energia do fogo, que irradia calor e possibilita a existência da vida.
A morte e o frio são contrários à sua essência.
Nos meses de junho, mantém-se uma tradição festiva, que são as famosas fogueiras de
Xangô, feitas em sua homenagem. Xangô é um orixá que teve vontade de experimentar
a criação divina, ou seja, ele quis nascer e viver aqui na Terra.
Como foi dito no início, existiu um rei, na cidade de Oyó, que era muito poderoso,
sendo identificado como a energia Xangô.
São Gerônimo (Agodô) é o sincretismo mais conhecido deste Orixá. São Pedro
(Alafim), São João Batista (Xangô do Ouro ou Xangô menino) e São José (Agaju)
também são qualidades de Xangô. Embora alguns estudiosos dão também como
sincretismo São Miguel e São Gabriel.
Orixá presente em todas as feituras de casas de santo, tem no axé da casa a sua Pedra
Sagrada conhecida como “Okanixé”. Outras qualidades de Xangô são: Abomi,
Alufam, Airá, Echê e Ibaru.
Esta sentado no meio de 12 ministros chamados (obagues) que seriam seus ministros.
Os ministros da direita absolvem enquento os da esquerda condenam.
Para o contexto Umbandista, Xangô mora no alto de uma pedreira, e carrega o livro
sagrado (as escrituras) e as Sete Chaves da Sabedoria.
Xangô controla todas as forças naturais por intermédio dos astros, é conhecido como o
Rei dos Astros.
Vive no seu castelo, além do seu criado Oxumarê (quando o arco-irís aparece, significa
que Oxumarê veio a Terra e está levando água ao Reino de Xangô), tem como servos
Biri (as trevas) e Afefe (o vento).
Nos candomblé dança com suas cores rituais que são o vermelho, branco e marrom.
Algumas qualidades trazem na cabeça um gorro na cor vermelha.
Conta uma lenda que explica o fato de Xangô e Iansã deterem ao mesmo tempo o
poder do fogo.
Vivia Xangô no reino de Oió e ouviu dizer de um certo mago que vivia num reino
distante que tinha uma poção capaz de fazer com que aquele que a tomasse, pudesse
cuspir fogo e Ter o domínio sobre os raios e as tempestadades. Xangô muito ocupado,
manda Iansã até o Reino viziho para pegar a tal poção. Lá chegando Iansã pega a tal
poção e é avisada pelo mago para que não ousasse beber tal composto. No caminho,
Iansã sente uma sede muito grande e não resistindo toma parte da poção. Chegando ao
Reino de Oió, é perguntada por Xangô sobre o sucesso da viagem. Sem esperar, no ato
da resposta Iansã fala com labaredas de fogo saindo pela boca. Xangô irado, manda
Iansã embora, mas sabendo que a partir daquele dia teria Iansã como companheira
dos raios e trovões.
O Arquétipo dos seus filhos
Assim como o orixá, seus filhos são amantes da justiça, agindo com muita
imparcialidade, podendo ser excelentes profissionais ligados à área jurídica. Podem
também exercer cargos dentro do exército ou do governo, devido às suas qualidades de
autoridade e comando. Sabem, como ninguém, administrar seu patrimônio, não
deixando que nada escape ao seu controle. Embora não admitam, também gostam de
controlar as despesas dos membros de sua família, mas não deixa que nada lhes falte.
Fisicamente são fortes, com discreta tendência à obesidade. Geralmente, são de média
ou baixa estatura, com estrutura óssea bem desenvolvida e, quase sempre, desprovidos
de nádegas. Seus filhos podem ser identificados pelo forte timbre de voz,
assemelhando-se ao barulho do trovão. São honestos e sinceros em seus
relacionamentos, mas dificilmente fiéis. Têm a fama de mulherengos. Apresentam alta
dose de energia, auto-estima e egocentrismo. Possuem uma postura nobre e hábitos
aristocráticos, gostando de dar a última palavra em tudo. Seu humor é variável, sendo
incapazes de cometer injustiças.
O Culto ao Orixá
Oyá é a menina dos olhos de Oxalá, seu protetor, e a única divindade que entra no
Ibalé dos Eguns(mortos). Na Bahia é sincretizada com Santa Bárbara.
Divindade ctoniana, Iansã tem ligações com o mundo subterrâneo, onde habitam os
mortos, sendo o único orixá capaz de enfrentar os eguns. Entre as dezessete
individuações da multifária Iansã, uma delas é como Deusa dos Cemitérios.
Nossa amada mãe Iansã possui vinte e uma Iansãs intermediárias, que são assim
distribuídas:
Sete atuam junto aos pólos magnéticos irradiantes e auxiliam os orixás regentes dos
pólos positivos, onde entram como aplicadoras da Lei segundo os princípios da Justiça
Divina, recorrendo aos aspectos positivos da Orixá planetária Iansã.
Sete atuam junto aos pólos magnéticos absorventes e auxiliam os orixás regentes dos
pólos negativos, onde entram como aplicadoras da Lei segundo seus princípios,
recorrendo aos aspectos negativos da orixá planetária Iansã.
Sete atuam nas faixas neutras das dimensões planetárias, onde, regidas pelos
princípios da Lei, ou direcionam os seres para as faixas vibratórias positivas ou os
direcionam para as faixas negativas.
Enfim, são vinte e uma orixás lansãs intermediárias aplicadoras da Lei nas Sete
Linhas de Umbanda.
Iansã do Tempo, não tenham dúvidas, tem um vasto campo de ação e colhe os espíritos
desvirtuados nas coisas da Fé, enviando-os ao Tempo onde serão esgotados. Mas, não
tenham dúvidas, antes ela tenta reequilibrá-los e redirecioná-los, só optando por
enviá-los a um campo onde o magnetismo os esvazia quando vê que um esgotamento
total em todos os sete sentidos é necessário. E isto o Tempo faz muito bem!
Já Iansã Bale, do Bale, ou das Almas, é outra intermediária de nossa mãe maior lansã
que é muito solicitada e muito conhecida, porque atua preferencialmente sobre os
espíritos que desvirtuam os princípios da Lei que dão sustentação à vida e, como vida
é geração e Omulu atua no pólo negativo da linha da Geração, então ela envia aos
domínios de Tatá Omulu todos os espíritos que atentaram contra a vida de seus
semelhantes ao desvirtuarem os princípios da Lei e da Justiça Divina.
Logo, seu campo escuro localiza-se nos domínios do orixá Omulu, que rege sobre o
lado de "baixo" do campo santo.
Mas também são muito conhecidas as lansãs intermediárias Sete Pedreiras, dos Raios,
do Mar, das Cachoeiras e dos Ventos (Iansã pura). As outras assumem os nomes dos
elementos que lhes chegam através das irradiações inclinadas dos outros orixás,
quando surgem as Iansãs irradiantes e multicoloridas. Temos:
1 Iansã do Ar.
1 Iansã Cristalina.
1 Iansã Mineral.
1 Iansã Vegetal.
1 Iansã Ígnea.
1 Iansã Telúrica.
1 Iansã Aquática.
AS FILHAS DE IANSÃ
A mulher-Iansã é o tipo de mulher que está mais voltada para o amor sensual do que
para o amor maternal. Ama os filhos, mas consegue maior expressão quando se sente
admirada e desejada por um homem, o que geralmente provoca o ciúme e a inveja das
outras mulheres.
É também uma mulher que está ligada ao passado, ao coletivo, pela origem comum da
necessidade fertilizadora do feminino e está ligada ao futuro pela necessidade de
diferenciação, que a tirará do coletivo e a jogará sempre para frente, para o novo. É
inconformada e inquieta, está voltada para o impulso de empreender coisas, de
realizar seu poder criativo. A atualização dessa força criadora dependerá da forma
como ela direcionar esta energia, que muitas vezes pode ser desviada para outros fins,
ou ser esvaziada.
O perigo é permitir que as barreiras sociais a entravem, desviando a energia criativa
para a neurose.E, a neurose é parada de movimento. Todo aquele que se recusa a viver
o futuro, apegando-se ao passado, estagna.
A mulher que sente impulso para criar, para dar significado ao seu mundo, precisa ser
fiel aos seus conteúdos internos, à Deusa dentro de si. O ato criativo é o processo de se
arriscar, de se jogar no desconhecido, de mergulho nas fontes fertilizadoras, da viagem
interna em busca da essência das coisas. O desejo de criar move o contato com o
informe pela necessidade de dar forma, de arrancar da terra coisas vitais para
alimentar a consciência
O X A L Á * ORISA
Publicado em 17 de junho de 2006
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O PERFIL DO ORIXÁ
Orixá masculino, de origem Ioruba (nagô) bastante cultuado no Brasil, onde costuma
ser considerado a divindade mais importante do panteão africano. Na África é
cultuado com o nome de Obatalá. Quando porém os negros vieram para cá, como
mão-de-obra escrava na agricultura, trouxeram consigo, além do nome do Orixá, uma
outra forma de a ele se referirem, Orixalá, que significa, orixá dos orixás. Numa
versão contraída, o nome que se acabou popularizando, é OXALÁ.
Esta relação de importância advém de a organização de divindades africanas ser uma
maneira simbólica de se codificar as regras do comportamento. Nos preceitos, estão
todas as matrizes básicas da organização familiar e tribal, das atitudes possíveis, dos
diversos caminhos para uma mesma questão. Para um mesmo problema, orixás
diferentes propõem respostas diferentes – e raramente há um acordo social no sentido
de estabelecer uma das saídas como correta e a outra não. A jurisprudência africana
nesse sentido prefere conviver com os opostos, estabelecendo, no máximo, que, perante
um impasse, Ogum faz isso, Iansã faz aquilo, por exemplo.
Assim, Oxalá não tem mais poderes que os outros nem é hierarquicamente superior,
mas merece o respeito de todos por representar o patriarca, o chefe da família. Cada
membro da família tem suas funções e o direito de se inter-relacionar de igual para
igual com todos os outros membros, o que as lendas dos Orixás confirmam através da
independência que cada um mantém em relação aos outros. Oxalá, porém, é o que traz
consigo a memória de outros tempos, as soluções já encontradas no passado para casos
semelhantes, merecendo, portanto, o respeito de todos numa sociedade que cultuava
ativamente seus ancestrais. Ele representa o conhecimento empírico, neste caso
colocado acima do conhecimento especializado que cada Orixá pode apresentar:
Oçanhe, a liturgia; Oxóssi, a caça; Ogum, a metalurgia; Oxum, a maternidade;
Iemanjá, a educação; Omolu, a medicina – e assim por diante.
Se por este lado, Oxalá merece mais destaque, o considerá-lo superior aos outros (o
que não está implícito como poder, mas sim merecimento de respeito ao título de
Orixalá) veio da colonização européia. Os jesuítas tentavam introduzir os negros nos
cultos católicos, passo considerado decisivo para os mentores e ideólogos que tentavam
adaptá-los à sociedade onde eram obrigados a viver, baseada em códigos a eles
completamente estranhos. A repressão pura e simples era muito eficiente nestes casos,
mas não bastava. Eram constantes as revoltas. Em alguns casos, perceberam que o
sincretismo era a melhor saída, e tentaram convencer os negros que seus Orixás
também tinham espaço na cultura branca, que as entidades eram praticamente as
mesmas, apenas com outros nomes.
Por causa de Oxalá a cor branca esta associada ao candomblé e aos cultos afro-
brasileiros em geral, e não importa qual o santo cultuado num terreiro, nem o Orixá
de cabeça de cada filho de santo, é comum que se vistam de branco, prestando
homenagem ao Pai de todos os Orixás e dos seres humanos. Se essa mesma, gostar e
quiser usar roupas com as cores do seu ELEDÁ (primeiro Orixá de cabeça) e dos seus
AJUNTÓS (adjutores auxiliares do Orixá de cabeça) não terá problema algum,
apenas dependendo da orientação da cúpula espiritual dirigente do terreiro.
Sabem argumentar bem, tendo uma queda para trabalhos que impliquem em
organização. Gostam de centralizar tudo em torno de si mesmos. São reservados, mas
raramente orgulhosos.
Seu defeito mais comum é a teimosia, principalmente quando têm certeza de suas
convicções; será difícil convencê-los de que estão errados ou que existem outros
caminhos para a resolução de um problema.
Para Oxalá, a idéia e o verbo são sempre mais importantes que a ação, não sendo raro
encontrá-los em carreiras onde a linguagem (escrita ou falada) seja o ponto
fundamental.