MACIEL, 1997. Primeiros Caminhos Primeiros Olhares

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Primeiros caminhos, primeiros olhares 215

PRIMEIROS CAMINHOS, PRIMEIROS OLHARES

Maria Eunice de Souza Maciel


Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil

Resumo: Este texto procura sistematizar dados sobre os primeiros relatos e trabalhos
de natureza etnográfica e antropológica envolvendo populações do Estado do Rio
Grande do Sul, compreendendo o período anterior ao da criação da disciplina na
UFRGS. Iniciando com as primeiras informações de europeus sobre as populações
indígenas encontradas, segue com os relatos de estrangeiros e as contribuições dos
chamados “eruditos locais”.

Abstract: This article aims as systematizing data from the first reports and hooks
involving populations from the state of Rio Grande do Sul, covering a period prior to
the creation of the discipline of Anthropology at the Federal University of Rio Grande
do Sul. Beginning with the first records by Europeans on indigenous populations, we
follow up with a consideration on travel logs left by foreign visitors and, finally, the
works of “local erudites”.

Introdução
Este trabalho faz parte de um projeto institucional desenvolvido dentro
do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da UFRGS a partir de
1990, Durante este período, o projeto contou com a colaboração de diversos
pesquisadores que, em momentos distintos, integraram a equipe. O idealizador
do projeto foi o professor Ruben George Oliven, que foi seu primeiro coor-
denador. Posteriormente, a coordenação ficou a cargo do professor Bernardo
Lewgoy e, atualmente, está com a professora Maria Eunice Maciel. O projeto
contou com o trabalho das antropólogas Sinara Robin e Lúcia Muller, numa
fase inicial, e de diversos alunos, que contribuíram para o seu desenvolvimen-
to. Entre o material já coletado encontram-se entrevistas com antigos profes-
sores, textos didáticos, fotos e filmes que constituem o início de um acervo
sobre o tema que está, no momento, em fase de organização.

Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 3, n. 7, p. 215-231, nov. 1997


http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71831997000300012
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O texto que segue é um breve roteiro, pontual e esquemático, procurando


abordar o que poderia ser chamado de uma “pré-história” da antropologia
no Rio Grande do Sul – o período anterior ao da criação da disciplina de
Antropologia tanto na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1942
como em outros centros de ensino. Trata de um período cujos documentos,
trabalhos e obras citadas referem-se a uma problemática que remete às questões
que envolvem a Antropologia mas não se trata, ainda, de um pensamento
antropológico configurado (com o instrumental teórico e metodológico que
caracteriza a investigação na área). Os dados aqui levantados possibilitam
diferenciar perspectivas, a “exterior”, representada por aqueles que aqui
estiveram mas que escrevem a partir de um referencial externo e a “interior”,
representada pelos “locais” que procuram entender o “local”.
Neste sentido, procura-se aqui esboçar, em grandes linhas, um roteiro
preliminar e provisório da trajetória de um tipo de pensamento ligado à ques-
tões antropológicas na região. Como tal, o trabalho sofre de determinadas
carências que mostram que está ainda no seu início mas que já podem ser
apreciados alguns resultados, ainda que subsistam lacunas e omissões.

Os primeiros registros
Atualmente observa-se um interesse crescente pelos antigos relatos (es-
critos e pictóricos) – particularmente pelos efetuados por cronistas, viajantes
e artistas que percorreram as terras brasileiras nos primeiros tempos de seu
povoamento tais como os de Thevet (1557) ou de Léry (1578), relatos de
viagens que influenciaram no pensamento europeu.1 Sobre este assunto, Ana
Maria Belluzzo (1996, p. 10) assim coloca:

[…] No entanto, essas obras só podem dar a ver um Brasil pensado por outros.
O olhar dos viajantes espelha, também, a condição de nos vermos pelos olhos
deles. As obras configuradas pelos viajantes engendram uma história de pontos
de vista, de distâncias entre modos de observação, de triangulações do olhar.
Mais do que a vida e a paisagem americana, exigem que se focalize a espessa
camada da representação. Evidenciam versões mais do que fatos. Na sua origem,
as imagens elaboradas pelos viajantes participam da construção da identidade
européia. Apontam modos como as culturas se olham e olham as outras, como

1
Ver Todorov (1989).

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estabelecem igualdades e desigualdades, como imaginam semelhanças e dife-


renças, como confrontam o mesmo e o outro.

Nicolau Sevcenko (1996, p. 108), ao refletir sobre a paisagem e a co-


lonização do país mostra que dentro do processo de colonização é possível
avaliar duas formas de percepção européia não dissociadas entre si mas que
ao cabo tornam-se o que ele chama de “atitudes especializadas no contexto da
evolução do processo colonizador”. São elas: o impulso desejante (desejo pelo
desconhecido, vontade de conquistar) e a prática da intervenção colonizadora
(agressiva).
Trazendo a reflexão para o sul do (hoje) Brasil, é interessante verificar
a existência de documentos que tratam da ocupação deste território que se dá
num período posterior ao dos chamados “viajantes” citados anteriormente,
quando a colonização no nordeste e sudeste já se encontrava em franco
desenvolvimento, e que o encontro com o indígena já está condicionado por
estratégias desenvolvidas em outros lugares – em particular, a cruz e a espada.
De fato, a ocupação territorial do que viria a ser o Rio Grande do Sul2 é
considerada pelos historiadores como tardia. Embora tenha sido descoberto a
partir das expedições litorâneas da fase pré-colonizadora – registrado então
como “Rio Grande de São Pedro” – não apresentava maior interesse, ficando
assim inexplorado por mais de um século.
Foi no século XVII que iniciaram as primeiras expedições em direção ao
sul e a ocupação da terra. Por um lado, pelo interior, este movimento foi feito
pelos jesuítas espanhóis que fugiam dos ataques dos bandeirantes paulistas às
suas reduções no território hoje paraguaio (ataques estes cujo objetivo era o
apresamento de índios já aldeados), criando novas reduções no que viria a ser
o Rio Grande do Sul.
Por outro lado, a Coroa portuguesa fundou, em 1680, face a Buenos
Aires, a Colônia de Sacramento. Para garantir esta posse, era necessário
ocupar as terras que situavam-se entre a Colônia e as povoações portuguesas
no Brasil, o que foi feito a partir de expedições que tinham seu ponto de par-
tida, principalmente, a partir de Laguna (no atual Estado de Santa Catarina).
Em 1737, foi fundado o forte de Jesus–Maria–José, onde hoje está a cidade

2
Como estamos lidando com um período inicial, para fins de análise, os limites extrapolam o que hoje
constitui o Rio Grande do Sul que nesta época era uma “terra de ninguém”.

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de Rio Grande, ponto fundamental para a ocupação portuguesa efetivar-se, já


no seu início com um caráter militar próprio a uma zona de conflito entre dois
poderios coloniais em expansão.
No entanto, desde muito antes o território era percorrido por indivíduos e
grupos – os “gaudérios”, mais tarde conhecidos por gaúchos – com o objetivo
de caçar o gado que aqui tinha sido introduzido pelos jesuítas e que tinha se
criado bravio.
Em decorrência da expansão jesuítica e da ocupação militar do território
que hoje é o Rio Grande do Sul, os primeiros relatos são, principalmente, de
militares e de religiosos. Agregam-se a estes os dos primeiros administradores
e os dos chamados “viajantes”. Os documentos deste período mostram uma
“curiosidade” (que, em alguns casos, poderia ser chamada de “operacional”)
em relação aos indígenas e sobre a terra, num primeiro momento e, num
segundo, uma preocupação em informar sobre a sociedade que estava se
constituindo.
Os primeiros registros mostram os encontros entre europeus (e/ou seus
descendentes) e indígenas que habitavam a região. Conforme Guilhermino
César (1981), uma das primeiras informações acerca das populações indíge-
nas locais é 1605-1607. Trata-se do relato do padre Jerônimo Rodrigues des-
crevendo costumes dos índios Carijós e Araxás, habitantes da região nordeste
do atual Rio Grande do Sul e o sudeste do atual Estado de Santa Catarina.
Jerônimo Rodrigues era um jesuíta português que acompanhado pelo padre
João Lobato saiu de Santos rumo ao sul pelo litoral, representando assim a
primeira expedição jesuítica a estas terras, o que veio a ser chamado de “ci-
clo português”, encerrado com o regresso dos padres para o Rio. Segundo
Luís Gonzaga Jaeger,3 o relatório do padre Jerônimo Rodrigues, escrito em
Tramandaí, contava, entre outras coisas, o aprisionamento e venda dos indí-
genas como escravos, fato este que fazia com que esses fossem arredios ao
contato, em particular os Araxás.
Porém, são os jesuítas espanhóis que marcaram fortemente sua presença
no território, aldeando os indígenas do nordeste do território, os “Tapes-
Guaranis” e assim originando, numa primeira fase, as chamadas “reduções”
(povoações indígenas cristianizadas) e, numa segunda, os Sete Povos das

3
Cf. Jaeger (1956, p. 22). Segundo este autor, o relatório do padre Rodrigues foi publicado por S. Leite no
vol. 194 da Brasiliana, p. 196-246.

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Missões. A primeira figura de destaque é a do padre Roque Gonzales de Santa


Cruz, nascido em Assunção e conhecedor da língua Guarani o qual, segundo
Jaeger (1956, p. 28) “[…] deixou-nos dessa porção do Rio Grande a primeira
descrição geográfica, orográfica, potamográfica e etnográfica, referente ao ano
de 1627”.4
Por outro lado, dentro do processo de ocupação militar da terra promovido
pela Coroa Portuguesa, os relatos administrativos e militares se confundem.
Neste caso, as informações são de outra natureza, mostrando os contatos,
as articulações e as guerras que fizeram parte do processo de ocupação e
apropriação desta zona fronteiriça disputada por duas potências européias.
Neste sentido, mostram a utilização, em benefício do ocupante, de laços com
determinados grupos indígenas e o aproveitamento das rivalidades intertribais
pré-existentes, tal qual ocorreu em outras partes do Brasil, o que pode ser visto
como “operacional”, ou seja, uma das estratégias utilizadas pelos colonizado-
res para dominar o território.
Como exemplo, podemos citar (também a partir de Guilhermino César,
1981) o relato de Francisco de Brito Peixoto, capitão – mor e um dos res-
ponsáveis pela colonização do Rio Grande do Sul que mostra as relações de
amizade estabelecidas entre os portugueses e os índios Minuanos os quais se-
riam, posteriormente, aliados (e “bucha de canhão”) nos conflitos com os es-
panhóis ou “castelhanos” (denominação genérica dos provenientes de regiões
de colonização espanhola) pelo território. Outros relatos mostravam os confli-
tos entre os portugueses e populações indígenas como o que ocorreu entre os
expedicionários de Silva Paes (considerado o fundador do Rio Grande) e os
índios chamados de Tapes (Simão Pereira de Sá, 1737) ou ainda, os que rela-
tavam os combates entre portugueses e guaranis (Manuel Martins dos Santos,
1755) durante as “guerras guaraníticas”. Cabe salientar, nesta fase, um relato
anônimo de 1749-1751 (escrito em italiano) sobre a catequese e aldeiamento
de índios minuanos que descreve hábitos indígenas.
Se podemos dizer que existe algo que poderíamos chamar de
“curiosidade” em relação ao indígena, ela se dá em decorrência dos objetivos
da expansão européia, seja por parte dos projetos da Igreja (e, particularmente,
da Companhia de Jesus), seja pela posse e ocupação da terra pela coroa

4
É de sua autoria também Os bem-aventurados Roque Gonzales, Afonso Rodriguez e João del Castillo,
Livraria Selbach, Porto Alegre.

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portuguesa. Assim, aqui, num período de ocupação tardio em relação às


primeiras expedições e aos primeiros contatos com a terra que veio a ser o
Brasil, pode-se vislumbrar a ação inerente à expansão européia no que tange
a um dado território – ocupando a terra, desalojando e até mesmo eliminando
a população original. Porém, esta ação parte de uma determinada maneira
de perceber as populações aqui encontradas e volta-se assim, à questão dos
olhares, das maneiras de conceber o outro e a si mesmos.

O povoamento
Com o povoamento, surge na região uma sociedade que aos poucos se
estabelece com alguns contornos particulares, especialmente no que se refere
à militarização. A tardia colonização fez com que o Rio Grande do Sul fosse
povoado não apenas por portugueses vindos diretamente da metrópole mas,
também e principalmente, por Ilhéus (açorianos) e pelos chamados “vicenti-
nos” ou “lagunistas” (particularmente soldados), populações de origem portu-
guesa porém de áreas de povoamento já estabelecidas no Brasil. Assim, como
em outras regiões, trata-se de um povoamento de desdobramento, já contando
com misturas raciais e culturais. Junte-se a este fato a influência da coloniza-
ção espanhola vizinha e esta região toma contornos que poderíamos chamar
de “particulares” no que concerne ao Brasil.
Decorre daí um interesse em assinalar as características da região. Já em
1777, o cirurgião-mor de um regimento do Rio Grande do Sul, Francisco Ferreira
de Souza, relata os costumes locais da população de origem européia que havia
se estabelecido e elabora a primeira coleção de vocábulos e frases característi-
cas da região sendo que suas apreciações são particularmente depreciativas em
relação aos locais comparando-os com os europeus como segue:

Os Naturaes (não todos porem o comum) tem a mesma natureza do país, he


gente ingrata, porca, dezagradecida, preguiçoza, e ambicioza; os que tem qua-
tro cavallos, quarenta ou sincoenta vacas (por ser o gado barato) tem o seu
equivaliente, e em cultivar a terra não cuidão: lassar, andar a cavallo, correr,
fazer parelhas, e arreyar, hé o destino em que se empregão. Os Ilheos são os
que (por ambiciozos) mais trabalhão, que por reduzirem a dinheiro toda a pro-
dução da terra e viveres, se sustentão de feijão, e abobra, os vestidos não pas-
saao de hum pnxe, hu’a carniza grossa, e descalços (posto q’alguns não deixão
de andarem mal calçados) brutalmente passão, brutam.e vivem, e brutamente

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morrem; as camas constão de hum Couro, e hum ponxe por abuzarem dos
lançoes. (Souza, 1979, p. 246).

O interesse neste registro não é apenas decorrente do fato de ser um dos


primeiros a descrever a população pertencente a sociedade que estava sendo
constituída. Antes de tudo, mostra uma maneira de perceber e diferenciar-
-se dos que aqui viviam. A crítica aos “naturaes” e “ilhéus”, ambos de des-
cendência portuguesa (ou predominantemente) assim como português era o
autor, mais do que revelar “estilos de vida”, mostra apreciações capazes de
estabelecer distinções e hierarquias. Aqui, trata de pensar a própria população
de origem européia que, para usar sua palavra, se “brutaliza” no novo mundo.

Outras viagens, outros diários e outras descrições


No início do século XIX, já estabelecida a ocupação portuguesa (embora
ainda houvesse conflitos de limites) salientam-se os registros de Auguste de
Saint-Hilaire, cientista francês que percorreu o território em 1821 e deixou um
estudo importante sobre a região, até hoje utilizado como referência.5 Sua con-
tribuição vai deste a classificação da flora nativa (dentre a qual a erva-mate,
Ilex paraguaiense) até mostrar um quadro sobre população local, tanto urbana
quanto rural, descrita em seu diário.
Saint-Hilaire é um exemplo dos cientistas característicos desta fase:
eruditos que realizam viagens para recolher informações e classificar tanto o
que se refere às chamadas “ciências naturais” (botânica, zoologia, geologia,
etc.) quanto o que se refere às populações encontradas nestas viagens numa
perspectiva de ordem classificatória quanto ao novo e um olhar voltado para
o exótico.
São desta época também as anotações de viagem de Arséne Isabelle
(viagem entre 1833-34)6 e as descrições de Hormeyer (refere-se ao ano de
1850 mas escrita em 1853 e publicada em 1854 em Coblenz, Alemanha) e de
Beschoren (1875-1887, editado em Berlim em 1889)7 sobre o território e seus
habitantes. Hormeyer era militar e Beschoren, engenheiro.

5
Cf. Saint-Hilaire (1974).
6
Cf. Isabelle (1983).
7
Cf. Beschoren (1989).

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Escritos em suas línguas maternas, estes relatos se destinavam, principal-


mente, a informar a Europa e os europeus sobre as características desta terra,
particularmente sobre as possibilidades de imigração, o que aparece como
sendo uma preocupação importante e constante em seus trabalhos. A partir
deste ponto de vista, muitas destas obras trazem dados gerais e detalhados
sobre aspectos físicos, econômicos e, o que interessa mais precisamente, sobre
a população local. Hormeyer tenta mesmo desfazer idéias que circulavam na
Europa sobre a imigração alemã. Em suas palavras, pode-se verificar a pers-
pectiva na qual escreve:

A intenção deste livro é, por enquanto, descrever uma região, conhecida pelo
autor, conforme a verdade e a finalidade da emigração; tirar as consequências,
fica a critério do leitor. […] Também eu, um admirador do gênero humano em
suas baixesas e grandezas, convencido dos incomensuráveis tesouros que o solo
virginal do Brasil guarda em seu regaço para o trabalhador aplicado, pego, em-
bora mais acostumado à espada, da pena, na esperança de me tornar útil ao país
e aos meus patrícios. (Hormeyer, 1986, p. 15, 16).

Os eruditos locais
Já no século XIX iniciaram-se os estudos sobre a população local rea-
lizados por brasileiros ou por estrangeiros radicados no Rio Grande do Sul e
cuja preocupação não se limitava a aspectos referentes às possibilidades imi-
gratórias (embora em alguns estivesse também presente). Eram estudos em-
brionários, porém, já mostravam uma preocupações de certo cunho etnológico
e lingüístico procurando detectar particularidades da sociedade aqui formada,
ou seja, entram em jogo as diferenças. De certa forma, também representa
uma busca pelo “pitoresco” e o “exótico” do território.
Um caso particular é o de Nicolau Dreys cuja obra foi editada em por-
tuguês em 1839/1840. Embora também contenha informações gerais sobre o
território, tal como os estrangeiros anteriormente citados, Dreys viveu durante
muitos anos no Rio Grande do Sul e sua obra, publicada durante a Revolução
Farroupilha, não é, necessariamente, voltada para o exterior. E dele uma das
descrições mais completas do grupo de gaúchos e dos rio-grandenses (com os
quais estabelece distinções), utilizada até hoje por quem trabalha com o tema.
Citando um breve extrato:

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[…] Tal é geralmente a distribuição da população em todo o Brasil; mas a pro-


víncia do Rio Grande oferece ainda a este respeito uma anomalia bem digna
de se notar: é a existência de uma nação mista, intercalada entre as populações
originárias e que pertence à raça livre, menos ainda por sua extração, do que
pela possessão imemorial de uma liberdade indefinita que as leis das sociedades
vizinhas podem dificilmente refrear; dizemos nação, por ter essa associação ex-
cepcional, moral, costumes e gostos sui-generis: entendemos falar dos gaúchos:
expressão local a que não pretendemos das acepção nenhuma desfavorável; a
esses homens consagraremos algumas linhas separadas. (Dreys, 1990, p. 109).8

Podemos citar o trabalho de Antonio Alvares Pereira Coruja que deixou


uma obra constituída de crônicas e lembranças que mostram diversas faces da
vida na Província tendo publicado o primeiro vocabulário regional, em 1852,
a “Coleção de Vocábulos e Frases usadas na Província de São Pedro do Rio
Grande do Sul.
Um destaque especial deve ser dado a Carlos Von Koseritz. Alemão de
nascimento (nascido no ducado de Anhalt em 1830), Karl Von Koseritz veio
ao Brasil quando muito jovem, com apenas 21 anos, estabelecendo-se no Rio
Grande do Sul, casando com uma brasileira e naturalizando-se brasileiro.
Quando chega ao Brasil, já trazia na bagagem uma vida de aventuras
tendo participado do movimento revolucionário de 1848 na Alemanha o que,
segundo alguns, teria sido o motivo de sua vinda. Professor, jornalista, polí-
tico, escritor, tornou-se figura de destaque e influência na vida intelectual e
política da região.
Jornalista e escritor bilíngüe e anticlerical, Von Koseritz deixou uma vasta
obra, em grande parte esparsa em artigos e crônicas. Entre suas obras estão: “A
evolução do gênero humano” (1874/75), “A farsa dos Muckers na colônia alemã.
Uma contribuição à história cultural dos alemães no Rio Grande do Sul” (1875)
“Bilder aus Brasilien” (Imagens do Brasil, 1885) e “Bosquejos ethnológicos”
(Koseritz, 1884).9 Nesta obra, que compõe-se de artigos publicados durante três
anos na “Gazeta de Porto Alegre”, lamenta a perda (num incêndio) de sua cole-
ção etnográfica, que reunia 15 anos de trabalho e pretendia figurar na Exposição
Antropológica da corte. Compunha-se de mais de 2000 itens (material lítico e
outros), objetos de uso dos indígenas da província Em outros artigos da mesma

8
Primeira edição possivelmente de 1839.
9
Cf. Spalding (1956, p. 197, 229).

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obra, fala dos sambaquis de Conceição do Arroio e de Cidreira como também da


“hypothese phenícia” (discussão sobre a navegação do Amazonas e das costas
do Brasil pelos fenícios, tese defendida pelo Barão de Tefé) (Koseritz, 1884).
Coletou lendas e poesias populares mantendo contato com Silvio
Romero que cita seu trabalho nesta área como exemplo. Era partidário de
Darwin, Haeckel, citava Lamarck e é por muitos considerado spenceriano.
Dizia-se “franco adepto da escola de Jena, materialista científico, darwinista
convencido”.10 Sua principal obra sobre este assunto é “A Terra e o Homem à
luz da moderna ciência” (1884) que reunia conferências de 1878.
Maçom, Von Koseritz combateu a Igreja Católica (os jesuítas em parti-
cular), os positivistas (que no Rio Grande do Sul vão ter uma grande impor-
tância política), os latifundiários (especialmente cafeicultores), a escravidão
e os cônsules e enviados da Alemanha, o que lhe valeu inimizades poderosas.
Embora tivesse grande orgulho de suas origens e tenha defendido e partici-
pado intensamente da vida das colônias alemãs, sua percepção era de uma
participação na vida brasileira:

Os alemães do Rio são, a saber, estrangeiros; eles se interessam pelo Brasil


e seus destinos somente quando estes coincidem com seus próprios interesses
imediatos. Nós outros somos uma população de colonos e o centro de gravitação
dos nossos interesses está no Brasil. Nós adquirimos a cidadania brasileira e
compreendemos a necessidade de participar da vida política do país e adquirir
influência para nos tornarmos respeitados. (Carneiro, 1959, p. 26).

Lutou pela imigração européia porém salientava que esta deveria ser fei-
ta através das colônias, núcleos baseados na pequena propriedade familiar e
não como forma de suprir de mão de obra as grandes lavouras baseadas no
latifúndio, em substituição ao braço escravo africano. Foi em função disso
que bateu-se contra a imigração chinesa, em 1883, tentada por Tong – King
– Sing, da China Merchant’s Steam Navigation Company. Estando no Rio de
Janeiro, relata:

No que diz respeito ao interessante chinês, devo ainda ajuntar que ele chegou a
três dias, tendo sido recebido com o maior entusiasmo pelos barões do café, de

10
Cf. Carneiro (1959, p. 19). As informações aqui utilizadas baseiam-se, principalmente se bem que não
exclusivamente, neste autor, seu principal biógrafo.

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tal maneira que no mesmo dia de sua chegada compareceu a um baile nos salões
de conto de fada do palácio Haritoff com o qual Madame Haritoff encerrou a
estação. Ali, naqueles salões dourados, onde corria em torrentes a champanha
paga com o suor dos negros e nos quais a nata da sociedade daqui, que vive do
trabalho dos negros, exibe o seu luxo, o mandarim foi naturalmente o herói do
dia considerado como um Messias. […] Nós declaramos guerra ao latifúndio e
tentamos levar à vitória o sistema de pequenas propriedades, com a introdução
de colonos agricultores. Os barões do café pretendem continuar a sua vida de
vagabundos e se esforçam por isso na procura de novos escravos de cor amarela
em substituição aos antigos pretos.11

Perseguido, Von Koseritz foi preso em 1890 e logo ao sair da prisão,


faleceu. Sua vasta obra deixou marcos constituindo-se num referencial até
hoje utilizado.
Ainda cabe citar, neste período, a figura de Apolinário Porto Alegre com
trabalhos diversificados entre os quais incluem-se títulos tais como: “Morfologia
Ario-guaranítica”, “Origens guarano-tupídicas”, “Popularium sul-riogranden-
se” e “Origens Arianas do Guarano” e o trabalho de J. Romanguera Correa
“Vocabulário Sul-Riograndense” de 1898. Cabe citar também o engenheiro
francês Mabilde que deixou importantes anotações sobre os índios Coroados,
com os quais teve contato durante o seu trabalho na região da serra.
Entre os “eruditos locais” da passagem do século XIX para o XX, destaca
– se a obra de dois outros autores: o major Cezimbra Jacques e o padre Carlos
Teschauer. Apesar do sobrenome francês, Cezimbra Jacques era neto de cata-
rinenses, rio-grandenses e baianos, nascido em Santa Maria, RS. Representava
assim uma via de colonização nitidamente luso-brasileira. Militar positivista,
admirador de Augusto Comte, autodidata, Cezimbra Jacques deixou uma obra
importante no que se refere ao Rio Grande do Sul, utilizada como referência
até hoje. Conhecedor do território, muitas vezes percorrido em função de sua
atividade, Cezimbra Jacques realizou estudos sobre os mais diversos assuntos
tais como botânica, zoologia e geografia. No entanto, é em relação aos índios,
(ao que consta, falava algumas línguas indígenas) e aos gaúchos (foi o fun-
dador da primeira associação destinada a cultuar as tradições gaúchas no Rio
Grande do Sul) e ao que chamaríamos de “folclore” (lendas, crendices, etc.)
que seus estudos chamam a atenção.

11
Artigo de 13 de outubro de 1883 (Carneiro, 1959, p. 32).

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Cezimbra Jacques foi um dos primeiros “locais” a pesquisar de maneira


mais sistemática a própria terra porém, o que procurava era, de alguma forma,
o “diferente”, o que se encontrava em vias de extinção. No caso de Cezimbra
Jacques se, em relação aos gaúchos, sua perspectiva era a de preservar suas
tradições, em relação aos índios, era outra muito diferente. A partir das idéias
de progresso e evolução do positivismo, pregava “incorporá-los à civiliza-
ção”, propondo cruzamentos com os “nacionais, oriundos do ibérico” para
“garantir o tipo nacional e evitar a anarquia que acarreta a fusão de muitas
raças” (Cezimbra Jacques, 1979).
O padre jesuíta Carlos Teschauer, deixou também uma vasta e diversi-
ficada obra, na qual salientamos “Estudos Etnográficos sobre os principais
achados índios no Museu de São Leopoldo” (1901), “A Etnografia do Brasil
no princípio do século XX” (1915). Um de seus artigos sobre história e ge-
ografia do Rio Grande do Sul, é chamado de “Poranduba Riograndense ou
Investigações sobre as origens do Estado de São Pedro do Rio Grande do Sul”
(1929). Uma nota de rodapé informa que Poranduba é pergunta, inquirição ou
noticia, vindo de uma conjunção de palavras em Tupi. Outro artigo do mesmo
autor era “A língua guarani e o Ven. Pe. Roque Gonçalves ou Não compreen-
diam Bem os Jesuítas a Língua Indígena?” e “Avifauna e Flora nos Costumes,
Superstições e Lendas Brasileiras” (1909-1910).

O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS)


Um importante marco na produção intelectual da região, foi a criação
do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul – em 1921 – o qual
congregou uma parte dos eruditos locais e editou uma revista que marcou toda
uma fase de estudos na região.
O IHGRGS é uma criação tardia dentro do processo de associação de
estudiosos nas diversas regiões do país decorrente da criação do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro em 1839. Sobre este assunto, assim se
expressa Lilia Moritz Schwarcz (1993, p. 99-100) acerca do IHGB, o primeiro
a ser criado, no Rio de Janeiro:

Criado logo após a independência política do país, o estabelecimento carioca


cumpria o papel que lhe fora reservado, assim como aos demais institutos
históricos: construir uma história da nação, recriar um passado, solidificar mitos

Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 3, n. 7, p. 215-231, nov. 1997


Primeiros caminhos, primeiros olhares 227

de fundação, ordenar fatos buscando homogeneidade em personagens e eventos


até então dispersos. Exemplos longínquos dos centros do Velho Mundo, no
Brasil, os institutos se proporão a cumprir uma tarefa monumental: “Colligir,
methodizar e guardar” (RIHGB, 1839/I) documentos, fatos e nomes para final-
mente compor uma história nacional para este vasto país, carente de delimitações
não só territoriais. […]E, portanto, no interior desse processo de consolidação
do Estado Nacional, tão marcado por disputas regionais, que toma força um
programa de sistematização de uma história oficial. Ao IHGB coube o papel de
demarcar espaços e ganhar respeitabilidade nacional. Aos demais, a função de
garantir as suas especificidades regionais e buscar definir, quando possível, certa
hegemonia cultural.

Caracterizando-se como uma sociedade regional voltada aos estu-


dos, desde a sua criação o IHGRGS preocupou se com trabalhos de cunho
etnográficos. Em seu estatuto (1921), já consta como objetivo “promover
estudos e investigações que se relacionem com a História, Geographia,
Archeologia, Ethnologia, Paleontologia do Brasil e especialmente do Rio
Grande do Sul, e bem assim cultivar o folclore riograndense e a língua dos
indígenas que habitaram e dos que ainda habitam este Estado”. Entre as co-
missões permanentes do Instituto figuravam a de “Archeologia, Ethnografia e
Paleontologia” e a de “Folclore e língua dos indígenas”.12
Ao que parece, a visão que o Instituto tinha sobre etnologia era
basicamente relacionada com o índio e, particularmente, sobre sua língua
sendo que, em sua maioria, os autores não tinham contato com indígenas
(salvo raras exceções) e seus estudos carecem de respaldo. Neste momento,
não aparece uma separação clara entre áreas de conhecimento e pesquisa e
assim, história, lingüística e etnolografia estavam mescladas e confundidas.
A análise das publicações do Instituto de 1921 a 1929 mostra este aspecto,
são vários os artigos que, de uma maneira ou de outra, tratam das línguas
indígenas. Desde o primeiro número da revista, em 1921, são publicados
artigos intitulados “Vocábulos Tupis na geographia riograndense”, de autoria
de Emilio Fernando Souza Docca, publicação esta que vai estender-se por
muitos anos.
Mais adiante, inicia-se a publicação de outros temas, tais como as
lendas riograndenses, de autoria de Roque Callage (em 1925), bem como um

12
Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, números de 1921 a 1929.

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228 Maria Eunice de Souza Maciel

Vocabulário Gaúcho do mesmo autor. Os estudos sobre a imigração, neste


período, são raros. Em 1930 publicam a tradução de “Zehn Jahre in Brasilien”
(de 1855) sobre a colonização alemã, de Carlos Seidler, ex-oficial ao servi-
ço imperial brasileiro. Também o historiador Aurélio Porto interessou – se
pelo tema e escreve em 1934 “Colono Alemão – Notas para a imprensa no
Rio Grande do Sul” juntamente com “O Trabalho alemão no Rio Grande do
Sul” que, em 1936, é publicado na revista “A colonização allemã no RGS” de
Francisco Leonardo Truda. Posteriormente, Emílio Willems vai realizar pes-
quisas que resultaram em trabalhos cardinais sobre o tema como por exemplo
“A aculturação dos alemães no Brasil. Estudo antropológico dos imigrantes
alemães e seus descendentes”.
Sobre o negro, quase não há trabalhos no primeiro período. Em 1941 é
publicada uma resenha do trabalho de Arthur Ramos feita por Fernando Goes
mas é com Carlos Galvão Krebs e com Dante de Laytano em 1947 que os es-
tudos nesta área serão realizados.13 Pesquisador, professor e, posteriormente,
diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, Dante de
Laytano é uma das figuras de maior destaque na história da intelectualidade
rio-grandense tendo pesquisado diversos temas mas especialmente a história e
o folclore do Rio Grande do Sul e, o que nos interessa particularmente, sobre
negros e religiões africanas.
Foi Dante de Laytano que recebeu e acompanhou Melville Herskovits
e Roger Bastide em suas pesquisas no Rio Grande do Sul. E interessante
notar que sempre que estas viagens são citadas, costumam ser chamadas de
“visitas”. De uma certa forma, mostra como eram encarados: visitas, ilustres,
por certo, bem-vindos e afeiçoados também, porém passageiros. Ambos es-
tavam estabelecidos em São Paulo (Herskovits entre 1941 – 42 e Bastide em
1943 – 46 – 47) e vinham ao sul para pesquisas que resultaram em trabalhos
tais como “O batuque em Porto Alegre” (Bastide, 1959), “As congadas no sul
do Brasil” (Bastide, 1947) e “Deuses africanos em Porto Alegre” (Herskovits,
1948). Ambos não apenas pesquisavam na região como também proferiam
palestras e aulas.14 Pelo que pode ser levantado até o momento, Bastide (1948)
contribuía também com artigos sobre outros temas como “A propósito da

13
Ver o artigo de Dayse Macedo de Barcellos nesta publicação.
14
Informação do professor Dante de Laytano.

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Primeiros caminhos, primeiros olhares 229

edição brasileira da Comédia Humana: Balzac, o homem e a obra” publicado


na revista Província de São Pedro.15
Mas, voltando aos chamados “eruditos locais”, quem eram eles?
Eram militares, religiosos, professores, advogados, médicos, em suma
profissionais de áreas diversas que, salvo exceções, não tinham na pesquisa
sua ocupação principal. Eruditos no sentido de possuírem um conhecimento
diversificado, formavam uma camada intelectualizada local. Em grande parte
(senão em sua maioria) eram autodidatas no que se refere aos seus objetos de
pesquisa – inclusive devido ao fato de não existir formação específica (pelo
menos localmente). Embora possamos tentar classificá-los conforme suas
orientações teóricas (positivistas, historicistas, etc.) cabe sublinhar que isto
não exclui um autodidatismo que vai influir na perspectiva e no resultado de
seus estudos. Assim, embora alguns de seus trabalhos sejam fontes de referên-
cia até hoje válidas, em boa parte são fragmentados e, seguidamente, apenas
orientados pela busca de “sobrevivências” e “arcaísmos” ou então rastreando
origens a partir do que era entendido como “folclore”.
A sua própria definição era fragmentada, mostrando também a diversidade
de assuntos sobre os quais se interessavam. Por exemplo (Ferreira Filho, 1958)
Aurélio Porto é descrito como “poeta, jornalista, dramaturgo e historiador”;
Apolinário Porto Alegre é que recebe a descrição mais extensa: “pedagogo,
etnólogo, lingüista, crítico, dramaturgo, romancista, poeta, jornalista, filósofo,
folclorista, antropólogo, teatrólogo, cronista, biógrafo, pensador”.
Polivalentes e autodidatas, muitos ainda mantinham as característi-
cas dos eruditos de períodos anteriores interessando-se tanto pelas ciências
naturais quanto pelas humanas. Um dos exemplos mais significativos foi o
Padre Jesuíta Balduíno Rambo (também pertencente ao IHGRS) que deixou
uma importante obra sobre os mais variados aspectos do Rio Grande do
Sul (zoologia, geografia e, principalmente, botânica). No que se refere ao
nosso tema em particular é com ele que nasce a disciplina de Antropologia
e Etnolografia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1942. Mas
esta já é uma outra história.

15
Esta publicação da Editora Globo criada em 1945 teve grande importância na vida intelectual da região.
Embora de caráter regional, dedicava-se às letras e ciências humanas em geral publicando trabalhos de,
por exemplo, Artur Ramos, Gilberto Freyre, Manuel Diégues Junior, Oliveira Viana, Emílio Willems,
Antônio Cândido, Nelson Werneck Sodré, Sergio Buarque de Holanda e Helio Vianna.

Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 3, n. 7, p. 215-231, nov. 1997


230 Maria Eunice de Souza Maciel

Referências
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1983.

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SIMPÓSIO COMEMORATIVO DO BICENTENÁRIO DA RESTAURAÇÃO
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