Trabalho e Energia - Apostila

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Trabalho e Energia

Na Física, como outros conceitos básicos, a energia não é algo fácil


de se definir. Em aulas de Física, aprendemos o que é energia
através de exemplos, como a energia cinética, potencial, mecânica,
eletromagnéticas, etc. O que sabemos também é que diferentes
formas de energia estão relacionadas entre si, no sentido de que uma
forma de energia pode se transformar em outra – como a energia
elétrica que se transforma em calor -, mas com uma condição muito
importante: a soma de todos os tipos de energia num sistema
fechado permanece constante, ou seja, a energia é conservada.
A conservação da energia é um princípio fundamental na Física.
Trabalho
Na Física, o trabalho é definido como sendo a transferência de
energia por meio de uma ou mais forças que atuam sobre um corpo.
Como consequência, esse corpo sofre um deslocamento ∆𝑟⃗. É
importante observar que, independentemente do tipo de forças
envolvidas, o trabalho contabiliza a quantidade energia transferida,
sem levar em conta o tempo de atuação do trabalho (a duração da
força ou conjunto de forças).
Trabalho realizado por uma força constante

𝑤 = ⃗⃗⃗⃗
𝐹. ∆𝑟⃗
O trabalho realizado por uma força sobre um objeto é igual ao produto
do módulo da força pelo deslocamento sofrido pelo objeto na direção
da força. Caracteriza-se por ser uma grandeza escalar resultante da
operação do produto escalar entre dois vetores. Como 𝐹⃗ é
constante, obtemos o gráfico abaixo:
Logo, a área é numericamente igual ao trabalho.

Trabalho realizado por uma força variável


Existem situações em que uma força aplicada (ou várias) num corpo
não é constante, ou seja, enquanto ela agir, o seu módulo, direção
ou sentido podem variar.
A figura abaixo mostra o gráfico de uma força (de módulo variável
aplicada a um corpo) em função do deslocamento s do corpo. A curva
em vermelho mostra que F varia com s.

Para o cálculo do trabalho total, vamos dividir a área abaixo do gráfico


e acima do eixo horizontal, entre as posições s1 e s2, em pequenos
retângulos, cujas larguras ∆s são variações de posições muito
pequenas. O trabalho total, que corresponde numericamente à área
do gráfico, portanto que:
𝑁

𝑤 ≈ ∑ 𝐹⃗𝑖 ∆𝑠⃗𝑖
𝑖=1
Matematicamente, não é igual. A igualdade é válida somente quando
aplicamos o conceito de limite do Cálculo diferencial e integral, um
importante ramo da matemática.
𝑠𝑓
𝑊 = ∫ 𝐹(𝑠) 𝑑𝑠
𝑠𝑖
Teorema Trabalho – Energia Cinética
O teorema trabalho – energia cinética é um importante teorema da
Física, que conforme veremos adiante, diz que o trabalho de uma
força resultante (soma de todas as forças envolvidas no cálculo do
trabalho) produz variação da energia cinética de um corpo.
Enunciado:
O trabalho realizado pela força resultante que atua sobre um corpo é
igual a variação da energia cinética do corpo.

Demonstração do teorema – caso particular com força constante


A segunda lei de Newton para um corpo de massa:

𝐹⃗𝑅 = 𝑚 𝑎⃗
Assim, o trabalho da força constante será dado:

⃗⃗⃗⃗ ∆𝑟⃗
𝑤 = 𝐹.

𝑤 = 𝑚 𝑎⃗ ∆𝑟⃗
Neste a força constante, temos que a aceleração será constante
(assumindo que a massa permaneça constante), ou seja, estamos
tratando do movimento retilíneo uniformemente variável (MRUV).
Vamos utilizar a aceleração deste movimento para substituir na
equação acima. A equação de Torricelli é válida!!
𝑣 2 = 𝑣0 2 + 2𝑎∆𝑟
Ao isolarmos a aceleração e substituirmos na equação acima,
teremos:
𝑣 2 − 𝑣0 2
𝑤=𝑚 ( )
2
Ou,
𝑤 = ∆𝐸𝑐

Demonstração do teorema – força variável


A situação mais geral possível é quando o corpo percorre uma
trajetória em 3D sob ação de uma força resultante na direção
qualquer, cujo módulo, direção e sentido podem variar ao longo do
caminho.
A demonstração a seguir será o caso unidimensional, onde a
partícula está se movendo ao longo do eixo x, sob ação de uma força
resultante também nessa direção.
Para um corpo se movendo sobre um eixo x, sujeito à uma força
variável, temos:
𝑥𝑓
𝑊 = ∫ 𝐹(𝑥) 𝑑𝑥
𝑥𝑖

Desta vez, a aceleração não é mais constante e, portanto, não


podemos mais utilizar as equações do MRUV. Formalmente,
podemos obter a aceleração instantânea através da expressão:

∆𝑣⃗ 𝑑𝑣⃗
𝑎⃗ = lim =
∆𝑡→0 ∆𝑡 𝑑𝑡

O trabalho de uma força resultante será dado, portanto, por:


𝑥 𝑥 𝑑𝑣
𝑊 = ∫𝑥 𝑓 𝑚 𝑎 𝑑𝑥 = ∫𝑥 𝑓 𝑚 𝑑𝑥
𝑖 𝑖 𝑑𝑡
dv dv dx
Mas, =
dt dx dt

𝑥 𝑥 𝑑𝑣 𝑑𝑥
Assim: 𝑊 = ∫𝑥 𝑓 𝑚 𝑎 𝑑𝑥 = ∫𝑥 𝑓 𝑚 𝑑𝑥
𝑖 𝑖 𝑑𝑥 𝑑𝑡
𝑥 𝑣
𝑊 = ∫𝑥 𝑓 𝑚 𝑎 𝑑𝑥 = ∫𝑣 𝑓 𝑚𝑣 𝑑𝑣
𝑖 𝑖

Após um curso básico de cálculo, obtermos o mesmo resultado


anterior:

𝑤 = ∆𝐸𝑐

TRABALHO E FORÇAS CONSERVATIVAS


Considere uma força atuando sobre um corpo. A força é
dita conservativa se o trabalho realizado por ela não depende do
caminho percorrido, mas somente das posições inicial e final do
corpo.

Se invertermos o sentido do caminho 2 percorrido, mantendo a


mesma força, temos que o sinal do trabalho muda.
Trabalho de forças conservativas
• Trabalho da força Peso
Vamos calcular o trabalho da força gravitacional sobre o corpo
descendo uma rampa e mostrar explicitamente que ele não depende
do comprimento da rampa, mas somente da altura da posição
inicial A em relação à posição final B, conforme mostra a figura
abaixo:

𝑤 = ⃗⃗⃗⃗
𝐹. ∆𝑟⃗

𝑤 = 𝑃⃗⃗ cos 𝜃 ∆𝑠⃗

𝑐𝑎𝑡𝑒𝑡𝑜 𝑎𝑑𝑗𝑎𝑐𝑒𝑛𝑡𝑒 ℎ
Mas: cos 𝜃 = =
ℎ𝑖𝑝𝑜𝑡𝑒𝑛𝑢𝑠𝑎 ∆𝑠
Substituindo essa relação na equação do cálculo do trabalho, temos:

𝑤 = 𝑚𝑔ℎ
• Trabalho da força elástica
A força exercida por uma mola sobre um objeto depende do
grau de distensão ou compressão, representado pelo
deslocamento dessa mola.

De acordo com a Lei de Hooke: ⃗F⃗ = K ∆x⃗⃗


onde , a chamada constante de mola, representa a rigidez da
mola quanto à deformação.
Gráfico abaixo

Neste caso específico, não precisamos utilizar conceitos de cálculo


para calcular o trabalho. Temos que:

𝐾𝑥 2
𝑊=
2

Energia Potencial
A energia transferida pelo trabalho é armazenada no sistema (no
caso do deslocamento da posição inicial até a posição final. Esta
energia é chamada de energia potencial. A sua variação – energia
potencial final menos a inicial, é definida como sendo:

∆U = Uf − Ui = − 𝑤
Temos assim que, por definição,
A variação da energia potencial é o negativo do trabalho
realizado por uma força conservativa.
Para recordar, no caso unidimensional com força variável, temos:

𝑥
𝑈 = 𝑈𝑓 − 𝑈𝑖 = − 𝑊 = ∫𝑥 𝑓 𝐹(𝑥) 𝑑𝑥
𝑖
Energia Mecânica e a Sua Conservação
Discutimos até aqui duas formas de energia: a energia cinética, que
está associada a um corpo em movimento e a energia potencial, que
é uma energia “armazenada” por um sistema. Por “sistema”,
entendemos como sendo o universo físico constituído por um ou mais
corpos móveis sob ação de uma ou mais forças conservativas.
Caso o sistema se encontre isolado, podemos juntar dois resultados
encontrados até aqui, a saber,
• Pelo teorema trabalho-energia cinética:
𝑤 = ∆𝐸𝑐
• Pelo teorema trabalho-energia potencial

w = −∆U

Caso uma força conservativa seja também a força resultante,


podemos igualar as duas expressões acima, obtendo:

∆𝐸𝑐 = −∆U
𝐸𝑐𝑓 − 𝐸𝑐𝑖 = −(𝑈𝑓 − 𝑈𝑖 )
𝐸𝑐𝑖 + 𝑈𝑖 = 𝐸𝑐𝑓 + 𝑈𝑓
Definimos a soma E + U = constante como sendo a energia
do sistema. É muito comum chamarmos a energia do sistema como
a energia mecânica do sistema.
A energia do sistema, que é a soma das energias cinética e
potencial, se conserva em um sistema fechado, onde só atuam
forças conservativas.

Conservação de energia – forças não conservativas


Se consideramos sistemas em que somente forças conservativas
atuam, vimos que a energia do sistema se conserva num processo,
ou seja,
Eci + Ui = Ecf + Uf
O que ocorre com a energia do sistema quando há forças não-
conservativas?

Eci + Ui ≠ Ecf + Uf
Mesmo assim, podemos escrever alguma equação de conservação
(ou não) de energia? A resposta é sim, baseada na lei da
conservação a energia total, uma lei fundamental da Física que
afirma que a soma de todas as formas de energia se conserva num
determinado processo. Até o presente momento, não há um único
fenômeno sequer que viola esta lei da Física. Devemos concluir,
portanto, que além da energia cinética e da energia potencial, há
outros tipos de energia.
Numa situação geral, quando forças conservativas e não-
conservativas atuam no sistema, o trabalho resultante é dado por

w𝑅 = 𝑤𝑐𝑜𝑛𝑠 + w𝑛𝑐𝑜𝑛𝑠
Temos que
• O trabalho da força resultante é a variação da energia cinética:

w𝑅 = ∆𝐸𝑐𝑜𝑛𝑠 = 𝐸𝑐𝑓 − 𝐸𝑐𝑖


• A variação da energia potencial é menos o trabalho das forças
conservativas:
𝑤𝑐𝑜𝑛𝑠 = −∆U == −(𝑈𝑓 − 𝑈𝑖 )

Segue, portanto, que:

w𝑅 = 𝑤𝑐𝑜𝑛𝑠 + w𝑛𝑐𝑜𝑛𝑠

𝐸𝑐𝑓 − 𝐸𝑐𝑖 = −(𝑈𝑓 − 𝑈𝑖 ) + w𝑛𝑐𝑜𝑛𝑠


Logo:

𝐸𝑀𝑓 − 𝐸𝑀𝑖 = w𝑛𝑐𝑜𝑛𝑠


𝐸𝑀𝑓 = 𝐸𝑀𝑖 + w𝑛𝑐𝑜𝑛𝑠
A energia dissipada, representada por w𝑛𝑐𝑜𝑛𝑠 , entra com sinal
negativo (lembre-se que obtivemos trabalho negativo para a força de
atrito), de forma que 𝐸𝑀𝑓 < 𝐸𝑀𝑖 .
Referências bibliográficas:

1. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER,


J. Fundamentos de Física 1, 8ºed. Livros Técnicos e
Científicos Editora S/A, 2008.
2. SEARS, F.W., ZEMANSKY, M.W. e YOUNG,
H.D. Física – Vol. I. 12ª Edição. Addison Wesley, 2008.
3. TIPPLER, P. A., MOSCA, G., Física para Cientistas e
Engenheiros – Vol. 1. 6ª Edição. Livros Técnicos e
Científicos Editora S/A. 2009.
4. NUSSENZVEIG, H. M.. Curso de Física Básica.
Volume 1. Segunda Edição. São Paulo: Edgard Blucker
Ltda, 1994.

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