III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA.

2014 425

Atropelamento de Herpetofauna na Reserva Biológica de Sooretama, Espirito Santo,

Brasil
T. L. Rocha , A. Banhos , P. L. V. Peloso 3, R. P. Deolindo4 & M. R. Moreno 4
1* 2

1
Curso de Ciências Biológicas, Centro Universitário Norte do Espírito Santo, Universidade
Federal do Espírito Santo
2
Departamento de Biologia, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Espírito
Santo
3
Division of Vertebrates Zoology (Herpetology), American Museum of Natural History
4
Reserva Biológica de Sooretama/ICMBio
*Email para correspondência: 92.tomas@gmail.com

Introdução
Desde a antiguidade o homem vem fragmentando grandes biomas, bem como ecossistemas
inteiros em consequência da adoção do modo de organização social cumulativo, isto é, onde os
recursos explorados são muito maiores que os necessários para a sobrevivência (PRADO et
al., 2006). Particularmente, a construção de estradas é um mecanismo de fragmentação de alto
impacto, removendo a cobertura vegetal original, gerando efeito de borda e alterando a função
e a estrutura da paisagem (Prado et al., 2006).
Atualmente, em vista ampla malha viária no Brasil, o número de estudos sobre ecologia de
estradas no país tem aumentado (COSTA & SPERBER, 2009). No Espirito Santo alguns
estudos apontam a dimensão do impacto da fauna atropelada para a biodiversidade e enfatizam
a necessidade de medidas mais eficazes para evitar atropelamentos (Milli & Passamani, 2006;
Gomes et al., 2011; Martinelli & Volpi, 2011; Concessionária Rodosol, 2012; Agnezi, 2003).
Os atropelamentos afetam todos os grupos de vertebrados silvestres. Entretanto, existem
poucos trabalhos focados em anfíbios e répteis, que por dificuldade de serem visualizados nas
estradas durante os monitoramentos muitas vezes são negligenciados nos estudos devido à
dificuldade de identificação em nível taxonômico mais fino (Andrews et al., 2008; Coelho et
al., 2012).
O levantamento das principais espécies vitimadas por atropelamentos é de fundamental
importância para o entendimento do problema, precisando para isto recorrer à identificação
correta das mesmas. Essa identificação das espécies mais impactadas nos atropelamentos pode

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ajudar na elaboração de medidas de mitigação mais eficazes para a conservação da fauna

local.
O presente trabalho visou identificar em nível mais específico possível os espécimes da
herpetofauna atropelados no trecho de 5,1 km da rodovia BR-101 que corta a Reserva
Biológica de Sooretama.

Material e Métodos
Área de Estudo. Criada em 20 de setembro de 1982, por meio do Decreto n° 87.588, a
Reserva Biológica de Sooretama (Rebio de Sooretama) é o resultado da união da Reserva
Florestal Estadual de Barra Seca, criada em 1941, com o Parque de Refúgio de Animais
Silvestres de Soóretama. O objetivo de criação foi preservar espécies da fauna local e
remanescentes de Mata Atlântica (IBAMA, 2007).
A Rebio de Sooretama localiza-se no norte do estado do Espirito Santo, nos municípios de
Linhares, Sooretama, Jaguaré e Vila Valério. Abrange área de 24.250 ha, entre os paralelos
18°53’ e 19°05’S e os meridianos 39°55’e 40°15’W, constituindo 0,5% da área do estado
apresentando um perímetro de 120 km (IBAMA, 2007). A reserva é cortada por um trecho de
5,1 km da rodovia BR-101, considerado como Zona de Uso Conflitante no Plano de Manejo
da UC, uma área de alto impacto ambiental incompatível com os objetivos da reserva (IBDF,
1981).

Procedimentos. Em campo, os animais atropelados foram identificados por grupo (répteis e

anfíbios), quando possível também em nível mais específico. Carcaças em bom estado de
conservação foram coletadas e armazenadas em frises, e posteriormente identificadas em nível
taxonômico mais específico possível através da avaliação das características morfológicas
diagnósticas, com o auxílio de guias de campo, chaves taxonômicas e consultas a especialistas.
A identificação dos animais foi também realizada através de análises das fotografias feitas dos
animais atropelados no período de julho de 2010 a agosto de 2011 e fevereiro de 2013 a
novembro de 2013. As fotografias foram realizadas por um funcionário da Rebio de
Sooretama durante as campanhas de monitoramento a pé no trecho, em dias úteis da semana,
pela manhã, para registro de fauna atropelada.
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Resultados e Discussão
Foram identificados apenas 95 dos 309 animais fotografados durante o período, entre cobras
(n = 65), lagartos (n = 4) e anfíbios (n = 26), divididos em 19 espécies (Tabela 1).
Tabela 1. Número de indivíduos identificados de cada táxon.
Táxon N° de Indivíduos
AMPHIBIA 26
BUFONIDAE
Rhinella crucifer 1
HYLIDAE
Dendropsophus elegans 1
Hypsiboas semilineatus 2
Trachycephalus mesophaeus 21
LEPTODACTYLIDAE
Leptodactylus fuscus 1
REPTILIA 69
DIPSADIDAE
Dipsas albifrons 1
Dipsas indica indica 2
Elapomorphus wuchereri 7
Erythrolamprus miliaris 6
Oxyrhopus petolarius 18
Pseudoboa nigra 11
Sibynomorphus neuwiedi 2
Siphlophis compressus 5
ELAPIDAE
Micrurus corallinus 8
Micrurus ibiboboca 1
BOIDAE
Epicrates cenchria 3
VIPERIDAE
Bothrops jararaca 1
TEIIDAE
Kentropyx calcarata 1
Salvator merianae 3

Total 95

Foram identificadas 14 espécies de cobras, sendo Oxyrhopus petola a mais abundante.

Oxyrhopus petola é uma cobra de hábitos noturnos, que se alimenta principalmente de

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pequenos roedores (Argôlo, 2004), os quais foram também vitimas nod atropelamentos no
trecho estudado da rodovia (Agnezi, 2003).
Duas espécies de lagartos foram identificadas, sendo Salvator merianae a mais abundante. Os
atropelamentos de espécimes de S. merianae podem ser devido ao fato de serem atraídos para
o ambiente quente do ambiente viário, para atividade de forrageamento ou controle de
temperatura nos momentos mais quentes do dia (Silva et al., 2007).
Cinco espécies de anfíbios foram identificadas, sendo Trachycephalus mesopheus a mais
abundante. A grande quantidade de espécimes de T. mesopheus atropelados pode estar
relacionada ao tipo de reprodução da espécie, que se reproduz em poças temporárias, que se
formam durante o período de chuva (Becker et al., 2007), podendo ser atropelados quando
buscam locais para reprodução ou se dispersam das poças após a sua metamorfose.
O baixo número de espécimes identificados se deveu ao fato de que a identificação
morfológica precisa de animais mortos por atropelamento nem sempre é possível, uma vez que
algumas ou todas as suas características de diagnóstico são perdidas. Além disso, nem todas as
fotos permitiram a visualização de características diagnósticas indispensáveis para a
identificação.

Conclusão
Os dados de atropelamento de répteis e anfíbios são muitas vezes subestimados por conta do
tamanho dos indivíduos, que em certos métodos de coleta são difíceis de constatar, além de
serem alvo de animais necrófagos, diminuindo assim o número de visualizações e coletas. A
baixa quantidade de dados específicos sobre esses animais atropelados serve como empecilho
para a proposição de medidas mitigadoras eficazes. Entretanto, mesmo com as limitações foi
possível identificar algumas espécies que estão sendo atropeladas no trecho da BR-101 na
Rebio de Sooretama, informação que poderá auxiliar medidas específicas de mitigação para
evitar atropelamentos.
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Literatura Citada
Agnezi, J. Impacto da rodovia BR 101 Norte na fauna dos vertebrados da
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Biológicas) – Faculdade de Ciências Aplicadas Sagrado Coração/UNILINHARES,
Linhares , ES, 2003.
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Argôlo, A. J. S. As serpentes dos cacauais do sedeste da Bahia. Ilheus, Ba. Editus, 2004
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060, Guarapari, 2012.
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Gomes, B. A.; Bizoni, K. P.; Rabello, H. Levantamento das classes de vertebrados atropelados
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Prado, T. R et al. Efeito da implantação de rodovias no cerrado brasileiro sobre a fauna de

vertebrados. Acta Sci. Biol. Sci. Maringá, v. 28, n. 3, p. 237-241, July/Sept., 2006
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