Apostila Latim 1 Ufma Ead
Apostila Latim 1 Ufma Ead
Apostila Latim 1 Ufma Ead
Língua Latina I
Prof. Dr. Paulo da Silva Lima
Apostila de
Língua
Latina I
Universidade Federal do Maranhão I
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1. NOÇÕES HISTÓRICAS
b) Fundação de Roma
Não se sabe com exatidão quando e como foi fundada Roma. Há, porém, uma lenda sobre
esse acontecimento transmitida por Tito Lívio, célebre historiador romano do tempo do
imperador Augusto.
Conta-se que, depois da destruição de Tróia pelos gregos, o herói troiano Enéias fugiu para a
Itália, onde fundou a cidade de Alba Longa. Um rei de Alba Longa, Numitor, pai de Réia
Silva, foi destronado pelo irmão, Amúlio.
Réia Silva era vestal, nome das sacerdotisas do culto da deusa Vesta, encarregadas de manter
aceso o fogo sagrado da cidade. As vestais eram obrigadas ao voto de castidade, mas Réia
Silva teve com Marte, deus da Guerra, dois gêmeos, Rômulo e Remo.
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Amúlio, receando ser destronado pelos gêmeos, ordenou que os lançassem ao Tibre.
Milagrosamente salvos, foram amamentados por uma loba até que um pastor, Fáustulo, os
recolheu. Como mais tarde viessem, a saber, de sua origem, os dois irmãos expulsaram
Amúlio do trono de Alba Longa e puseram no lugar o avô Numitor. À margem do rio Tibre,
no monte Palatino, fundaram a cidade de Roma (753 a.C.). Depois, Rômulo matou Remo e
tornou-se o primeiro rei.
Para os historiadores Roma não teve fundador, como conta a lenda. Primeiramente,
formaram-se à margem do Tibre, naquele lugar, diversas aldeias de latinos que se dedicavam
ao pastorio e à agricultura; depois, lentamente, essas aldeias foram-se agrupando até
constituir-se a cidade.
c) A realeza
Como a fundação de Roma, também os acontecimentos da realeza são narrados de modo
lendário. Do governo de Rômulo recorda-se o episódio que se chamou “rapto das sabinas”.
Como em Roma só houvesse homens, os romanos, durante uma festa, raptaram as mulheres
dos sabinos, seus convidados, povo também italiota.
Conta a tradição que Rômulo desapareceu durante uma tempestade e passou a ser adorado
como um deus, sob o nome de Quirino. Seu sucessor, Numa Pompílio, organizou um
calendário e criou numerosas leis. Depois reinou Tulo Ostílio que empreendeu uma guerra
contra Alba Longa. O rei seguinte, Anco Márcio, fundou na foz do rio Tibre o pôrto de Óstia.
Os últimos reis romanos, Tarquínio Prisco ou Antigo, Sérvio Túlio e Tarquínio o Soberbo
eram etruscos, o que prova haver este povo dominado Roma.
Tarquínio Prisco construiu as cloacas (canais subterrâneos de esgoto) e o Circo Máximo,
destinado às corridas; a Sérvio Túlio atribuem obras de defesa da cidade, como as muralhas
que cercavam as sete colinas por onde se havia estendido a população romana. Por isso Roma
ficou conhecida pelo nome de Cidade das Sete Colinas.
O último rei, Tarquínio o Soberbo, concluiu o Capitólio, o mais famoso templo romano,
dedicado a Júpiter, cuja construção fora iniciada por Tarquínio Prisco.
Durante a realeza, o poder do soberano era limitado pelo das assembléias, principalmente o
senado, formadas pelos cidadãos romanos ou patrícios; eles eram como os eupátridas de
Atenas, ricos proprietários de terras. A outra classe, que não exercia os cargos públicos nem
participava das assembléias, constituía a plebe. Então Tarquínio o Soberbo, para fortalecer-se
no poder, procurou o apoio dos plebeus contra os patrícios; mas estes se revoltaram,
destronaram o soberano e estabeleceram a república (509 a.C.).
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a) Organização da república
Estabelecida a república, Roma passou a ser governada por dois cônsules, eleitos pelo senado,
por um ano.
Em ocasiões de perigo, quando a cidade se encontrava ameaçada, escolhia-se um ditador, que
dispunha de toda a autoridade. Sua palavra, isto é, o que ele dizia (daí o nome ditador), tinha
força de lei. Mas, com tanto poder, o ditador poderia pretender tornar-se rei e, para que tal não
acontecesse, ficou estabelecido que ele só podia permanecer no poder pelo prazo de seis
meses.
Dos outros magistrados importantes da república, cita-se o censor, que fazia a censura, isto é,
zelava pelos bons costumes e também contava a população, o que ainda hoje se chama censo.
É por isso que duas palavras censo e censura, de significado diverso, têm a mesma origem.
Entre os romanos, ao concluir-se o censo, feito de cinco em cinco anos, havia uma cerimônia
religiosa, chamada lustrum, destinada a limpar ou purificar a população dos seus pecados. É
por isso que a palavra lustro, que significa brilho, também tem o sentido de período de cinco
anos.
O mais célebre dos censores foi Catão; muito severo, combateu o luxo, que se introduziu em
Roma durante as conquistas.
Das assembléias a mais importante era o senado. Os senadores, a princípio em número de
trezentos, eram escolhidos pelos censores entre cidadãos de honestidade comprovada. Os
senadores não podiam exercer determinadas atividades comerciais, como emprestar dinheiro a
juros. Possuíam, entretanto, muitos privilégios; tinham lugar de honra nos jogos públicos e,
quando acusados de algum crime, só podiam ser julgados em Roma.
b) As lutas internas
A princípio, todas as funções públicas, como também as religiosas, eram exercidas
exclusivamente pelos aristocratas ou patrícios, descendentes das antigas famílias de Roma. Os
outros, os plebeus, não tinham nenhum direito: cultivavam a terra, exerciam diversos ofícios
e, como soldados, participavam das guerras. Nessas ocasiões, suas pequenas propriedades
eram devastadas e, reduzidos à situação de miséria, tinham que recorrer aos patrícios,
solicitando-lhes empréstimos e, se não pagavam as dívidas, passavam à condição de escravos
dos seus credores.
Pouco a pouco, porém, os plebeus foram-se igualando aos patrícios: primeiramente,
conseguiram a nomeação de dois tribunos para a defesa dos seus interesses (tribunos da
plebe); depois obtiveram leis escritas, gravadas em doze tábuas de bronze, por isso chamadas
Lei das Doze Tábuas; seguiram-se outras conquistas, como os casamentos mistos, isto é, entre
patrícios e plebeus, e o exercício, por eles, de todos os cargos políticos e religiosos.
Mas não se deve pensar que, estabelecida a igualdade entre patrícios e plebeus, a república
romana se tornasse democrática. Com as conquistas houve romanos que se apoderaram de
extensas terras, tomadas aos vencidos, e se tornaram poderosos, constituindo uma espécie de
nobreza, enquanto que outros, embora cidadãos romanos, viviam em Roma em extrema
miséria. Então os termos patrício e plebeu mudaram de sentido: patrício ou nobre era o
cidadão rico e plebeu, o de condição humilde.
Na luta entre ricos (patrícios) e pobres (plebeus) distinguiram-se os dois irmãos Gracos:
Tibério e Caio. Eleitos tribunos, procuraram resolver a questão agrária, isto é, a distribuição
das terras cultiváveis, de modo que os plebeus pudessem tornar-se proprietários.
Os poderosos, sentindo-se prejudicados, levantaram-se contra os Gracos: Tibério, acusado de
aspirar a seu rei, foi assassinado e seu cadáver jogado às águas do rio Tibre; Caio Graco, para
não ser vítima de seus inimigos, pediu a um escravo que o matasse.
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Depois dos Gracos, surgiram generais que se diziam defensores dos ricos ou dos pobres; na
realidade, procuravam apoiar-se nessas classes para satisfazer suas ambições. Desses generais
dois ficaram célebres: Mário e Sila.
Nessa ocasião as leis da república já não eram mais respeitadas e a numerosa plebe, formada
de cidadãos pobres, vendia seu voto aos ambiciosos. Tudo parecia favorável à formação de
um regime em que o poder coubesse, de modo definitivo, a um só homem. Esse regime, que
se chamou império, foi afinal fundado por Otávio, sobrinho de César.
c) O exército romano
Os romanos deveram o império que conquistaram à excelente organização de seus exércitos.
Comandado pelo ditador ou pelos cônsules, o exército dividia-se em legiões, semelhantes aos
atuais regimentos; cada legião dividia-se em manípulos e cada manípulo em duas centúrias. O
comandante da legião era o tribuno militar.
O legionário trazia, além do capacete e do escudo, uma espada curta, o gládio, e uma lança,
chamada pilo, semelhante ao dardo dos gregos, que se usava como arma de arremesso. Cada
legião possuía a sua insígnia, geralmente a figura de uma águia (aquila). O soldado que a
conduzia era o aquiles feris e dessas palavras latinas derivou-se alferes, nome dado a um
posto militar no antigo exército brasileiro e hoje correspondente a segundo-tenente.
Para as operações do cerco o exército romano dispunha de máquinas apropriadas; uma delas
era o aríete, cujo nome se deriva de aries (carneiro), pois consistia num grosso e pesado
tronco que terminava numa peça de ferro com a forma de cabeça de carneiro. O aríete
destinava-se a abrir brechas nas muralhas inimigas.
A disciplina do exército romano era muito severa: por faltas insignificantes o soldado era
condenado à morte. Também havia punições coletivas; a mais importante consistia em
dizimar a legião, quando esta cometia faltas graves, como traição e fuga: em cada dez
soldados um era sorteado para sofrer a pena de morte.
Havia também recompensas, como a coroa cívica, uma coroa de ramos de carvalho, oferecida
ao soldado que salvava da morte um companheiro. A mais importante, porém, de todas as
recompensas era o triunfo, que o senado concedia ao general vencedor: coroado de louros,
entrava ele em Roma, seguido de seus soldados, que entoavam hinos guerreiros, e dos chefes
inimigos acorrentados. Para fugir a essa humilhação, os vencidos preferiam muitas vezes o
suicídio, como a rainha egípcia Cleópatra, quando suas forças foram derrotadas por Otávio.
Durante o triunfo, a multidão aclamava o vencedor, que se dirigia para o templo de Júpiter
Capitólio onde, junto à estátua do deus, depositava a coroa de louros.
Outra recompensa que o senado dispensava ao vencedor era a ovação: consistia no sacrifício
de uma ovelha no templo de Júpiter Capitólio.
Instituições romanas
A família romana
A família foi uma das mais importantes instituições em Roma. Na verdade o lar dos romanos
era bem diferente da casa do grego; para este, a casa era somente o lugar para comer, dormir e
guardar seus objetos. Para o romano, a veneração pelos antepassados, pelas tradições fazia
com que o lar fosse um lugar sagrado, ao qual dedicavam seu respeito e seus cuidados. Nesse
ponto, os romanos foram os verdadeiros criadores do que se chama um lar.
Numa família romana o pater famílias era o chefe da casa, o pai de família. Não tinha
ascendente vivo (pai ou avô), e estavam sob seu poder a mulher, os filhos, os netos, libertos,
escravos e bens.
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A mulher era mater famílias e tinha a posição de filha. Se casada cum manu passava da
dependência do chefe de sua família para a dependência do marido e do pai deste. O marido
adquiria, pois, total poder sobre a mulher. Seus bens eram absorvidos pelos bens do marido.
Se casada sine manu, a mulher, mesmo casada permanecia na dependência de seu pater
famílias e continuava a dispor de seus bens, usufruía a mesma situação social do marido. Mais
tarde o casamento sine manu predominou sobre a outra modalidade.
A cerimônia do casamento foi assim descrita por um escritor: (1) “A moça é conduzida à casa
do esposo. Como na Grécia, vai velada, leva uma coroa e um archote nupcial precede o
cortejo. Canta-se à sua volta um antigo hino religioso... O cortejo pára em frente da casa do
marido. Aí apresentam à moça o fogo e a água. O fogo é o emblema da divindade doméstica;
a água é a água lustral que serve à família em todos os atos religiosos. Para que a donzela
entre em casa é preciso, como na Grécia, simular o rapto. O esposo deve tomá-la nos braços e
com ela ao colo atravessar a soleira sem que seus pés a toquem.”
1 - Coulanges, Fustel. A Cidade Antiga, vol. I, p.66.
Entre os romanos havia a dissolução do matrimônio: quando o marido morria; quando ele era
aprisionado; pelo divórcio.
No matrimônio cum manu só o marido podia dissolver o casamento. Ele possuía o poder de
repudiar a mulher por motivos graves, nos tempos mais antigos e por motivos leves, mais
tarde, com a decadência de costumes que atingiu a sociedade romana.
No casamento sine manu, os cônjuges, por consentimento mútuo podiam divorciar-se; a
mulher podia repudiar o marido e este também podia repudiá-la. Na época imperial houve tal
epidemia de divórcios que a natalidade decresceu. Augusto, preocupado em este fato,
querendo dar à mulher nova oportunidade para casar, permitiu que a mesma, com certas
restrições, reivindicasse seu dote, pois este era um atrativo para os pretendentes. A
conseqüência dessa lei foi prorrogar uniões por motivos de ordem material e às vezes
transformar a mulher bem dotada em senhora absoluta do marido.
No lar romano a matrona desempenhava um papel muito importante. Era a fiel auxiliar do
marido, sua colaboradora, participando da alegria das festas, da autoridade do lar e das
honrarias da vida pública.
Tão grande era o prestígio da matrona na família romana que Catão, escritor romano muito
moralista (234 a.C. e 149 a.C.) comentava com azedume: “Todas as nações dominam suas
mulheres; nós dominamos todas as nações, mas somos dominados por nossas mulheres.”
A História da posição da mulher romana na família e na sociedade assinala uma crescente
conquista de autonomia e liberdade. O casamento significava, em geral, para a mulher um
alargamento no horizonte de suas atividades, pois com o mesmo adquiria relativa liberdade de
vida e de movimento. Nisso era mais afortunada que as mulheres gregas as quais pelo
casamento passavam de enclausuradas na casa do pai para enclausuradas na casa do marido;
patroas das escravas, mas elas também escravas.
As matronas romanas, ao contrário, gozavam da confiança de seus maridos; saíam, trocavam
visitas, iam pelos armazéns para fazer compras. Acompanhavam os maridos aos banquetes e
voltavam tarde para a casa.
As transformações sociais motivadas pelas conquistas ampliaram muito o campo de liberdade
de ação das mulheres. Nos últimos tempos da República assinala-se o início do feminino
triunfante. Com a abolição de velhas leis as mulheres tornaram-se livres e como sempre
acontece, o prisioneiro libertado, a primeira coisa que faz é abusar da liberdade. Foi o que
aconteceu à sociedade romana desta época e todos os desregramentos havidos de parte das
mulheres podem ser explicados pelo encanto e enlevo que a liberdade lhes trouxe. As
mulheres, sob o manto do divórcio, passavam de um marido para o outro; outras, com
atrevimento, ostentavam o escândalo. Juvenal (fins do século I a.C. a começo do século II
a.C.) nos fala de uma esposa que no espaço de cinco outonos teve oito maridos. Para
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abandonar os maridos as mulheres arranjavam qualquer pretexto: velhice, doença, partida para
a guerra.
Mas, apesar de tudo, ainda temos belos exemplos de mulheres romanas que despertam nossa
veneração como a admirável mãe dos Gracchos, Cornélia, Paulina, esposa de Sêneca, grande
trágico romano vítima de Nero (4 a.C. a 65 d.C.), Arria, esposa do senador Petus e outras.
Um famoso epitáfio diz: “Foi casta, cuidou da casa, fez lã.”
A educação em Roma
daquela. Após a parte teórica, os alunos passavam para a parte prática: composição e
declamação de discursos. Os pais dos alunos iam ouvir essas aulas de retórica, entusiasmados
com os arroubos oratórios dos filhos.
Como a influência da cultura grega sempre esteve presente em toda a sociedade romana,
primeiro em contacto com os gregos da Magna Grécia e em seguida pela conquista da Grécia,
podemos afirmar que a civilização grega penetrou, com todos seus aspectos, na sociedade
romana impregnando-a desde as altas rodas aristocráticas até as camadas servis.
Com isso, a mocidade romana passou a freqüentar os centros de civilização grega como
aperfeiçoamento de sua formação intelectual. Para isso era necessário o conhecimento da
língua grega, de modo que em Roma falava-se constantemente o grego entre as pessoas
cultas, incluindo as moças, que admiravam os poetas gregos.
Depois de ser levantada do chão pelo pai, isto é, ser aceita, a criança recebia seu prenome e
penduravam-lhe no pescoço uma bulla, um saquinho com amuletos para protege-los das
desgraças possíveis.
Em geral o romano tinha três nomes: o prenome, o nome de família e o sobrenome. Por
exemplo o grande escritor e orador Cícero chamava-se Marcus Tullius Cicero; Marcos era o
prenome; Tullius era o nome de família, porque pertencia à família Tullia; Cicero era o
sobrenome e significava “O homem do grão de bico”, talvez porque um dos seus antepassados
tivesse na ponta do nariz uma excrescência em forma de grão de bico.
As mulheres usavam um único nome, o de sua gens (família) no feminino: Tullia, filha de
Cicero, cujo nome de família era Tullius.
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Giordani, Mário Curtis. História de Roma. Petrópolis, R.J. Editora Vozes Ltda, 1976
2. A LÍNGUA
A língua latina
O latim foi primeiramente o idioma falado numa pequena zona da Itália Central, à margem
esquerda do rio Tibre, não longe do Mar Tirreno. A cidade principal dessa minúscula região,
chamada Lácio, foi e é Roma, fundada, segundo consta, por Rômulo no dia 21 de abril de 754
a.C.
Essa língua do Lácio, seguindo as conquistas dos exércitos de Roma, implantou-se na Itália
Central, depois em toda a Itália, na Espanha, em Portugal, no Norte da África, nas Gálias
(França, Suíça, Bélgica, regiões alemãs ao longo do Reno), na Récia e no Nórico (Áustria), na
Dácia (România) e, menos profundamente, na Grã-Bretanha, na Frísia (Holanda), na
Dalmácia e na Ilíria (Iugoslávia), e na Panônia (Hungria).
O mais vetusto (antigo) documento da Língua Latina é uma inscrição do 6.º século a.C., mas
os mais antigos textos literários que chegaram até nós, pertencem ao 3.º século antes de nossa
era. Nesses escritos a língua já é bem desenvolvida, mas apresenta ainda alguma incerteza na
ortografia e no emprego das formas.
Foi no 1.º século da era cristã e no século precedente que a Língua Latina teve seu máximo
esplendor. Pertencem a este período, chamado “idade de ouro”, os maiores escritores latinos
(os clássicos): Marco Túlio Cicero (106-43 a.C.), político, filósofo, um dos maiores oradores
de todos os tempos; Caio Júlio César (100.44 a.C.), escritor primoroso, um dos grandes
generais da história; Caio Crispo Salústio (87-35 a.C.), historiador; Públio Virgilio Marão
(70-19 a.C.), um dos mais excelsos poetas da humanidade; Quinto Horacio Flaco (65-8 a.C.) e
Públio Ovídio Nasão (43 a.C. - 17 d.C.), grandíssimos poetas líricos; Tito Lívio (59 a.C. - 17
d.C.), o maior dos historiadores romanos.
Com a queda do Império Romano (476 d.C.) acaba a História Romana e um século depois,
mais ou menos, termina também a História da Literatura Latina, mas o latim continua ainda
por quase mil anos, sendo em toda a Idade Média a língua da Civilização Ocidental,
inspirando assim todas as obras primas das literaturas modernas da Europa (e da América).
Em nossos dias o latim não é mais falado em parte alguma, mas é a língua oficial da Igreja e é
estudado em quase todas as nações do mundo, por ser, com razão, considerado elemento
precípuo (principal) e fator eficiente de cultura, instrumento indispensável para o
conhecimento profundo das línguas neolatinas (português, italiano, espanhol, francês,
rumeno, etc.) e meio incomparável para educação da inteligência, disciplina do raciocínio e
formação do caráter.
1. A língua portuguesa provém do latim, que se entronca, por sua vez, na grande família
das línguas indo-européias, representada hoje em todos os continentes.
2. De início, simples falar de um povo de cultura rústica, que vivia no centro da
Península Itálica (o Lácio), a língua latina veio, com o tempo, a desempenhar um
extraordinário papel na história da civilização ocidental, “menos por suas virtudes intrínsecas
do que pelo êxito político do povo que dela se servia”.
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1. Desde o século III a.C., pios, sob a benéfica influência grega, o latim escrito com
intenções artísticas foi sendo progressivamente apurado até atingir, no século I a.C., a alta
perfeição da prosa de Cicero e César, ou da poesia de Vergílio e Horácio. Em conseqüência,
acentuou-se com o tempo a separação entre essa língua literária, praticada por uma pequena
elite, e o latim corrente, a língua usada no colóquio diário pelos mais variados grupos sociais
da Itália e das províncias.
2. Tal diferença era já sentida pelos romanos, que opunham ao conservador latim
literário ou clássico (sermo litterarius) o inovador latim vulgar (sermo vulgaris),
compreendidas nesta denominação as inúmeras variedades da língua falada, que vão do
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As línguas românicas
1. Se dos gregos os romanos foram discípulos atentos, dos outros povos vencidos
souberam eles ser os mestres imitados. Não só na Itália, mas também na Gália, na Hispânia,
na Récia e na Dácia, as tribos mais diversas cedo assimilaram os seus costumes e instituições,
adotaram como própria a língua latina, romanizaram-se.
2. É fácil concluir que, falado em tamanha área geográfica, por povos de raças tão
diversas, o latim vulgar não poderia conservar a sua relativa unidade, já precária como a de
toda língua que serve de meio de comunicação a vastas e variadas comunidades de
analfabetos.
Nos centros urbanos mais importantes, o ensino do latim difundia o padrão literário e,
com isso, retardava até certo ponto os efeitos das forças de diferenciação. Mas no campo ou
nas vilas e aldeias a língua, sem nenhum controle normativo, ia voando com suas próprias
asas.
A partir do século III da nossa era, podemos dizer que a unidade lingüística do Império
não mais existia, embora, continuassem os contatos políticos entre as suas diversas partes,
interligados por certa comunidade de civilização; é o que se entende por Romania, em
contraste com Barbaria, as regiões habitadas por outros povos.
3. Alguns fatos históricos vieram contribuir para ativar o processo de dialectalização.
Enumeremos os principais.
Desde 212, o edito de Caracala estendera o direito de cidadania a todos os indivíduos
livres do Império, com o que Roma e a Itália perderam a situação privilegiada que
desfrutavam.
Diocleciano, que governou de 284 a 305, instituiu a obrigatoriedade do latim como
língua da administração. Mas, contraditoriamente, anulou os efeitos dessa medida unificadora
as descentralizar política e administrativamente o Império em doze dioceses, caminho aberto
para o aguçamento de nacionalismos regionais e locais. Não sendo mais capital, Roma
deixou, conseqüentemente, de exercer a função reitora da norma lingüística.
Em 330, Constantino, que se tornara defensor do Cristianismo, transferiu a sede do
Império para Bizâncio, a nova Constantinopla.
Com a morte de Teodósio em 395, o vasto domínio foi dividido entre os seus dois
filhos, cabendo a Honório o Ocidente, e a Arcádio o Oriente. O Império do Oriente teve vida
longa. Conservou-se até 1453. O do Ocidente, porém, depois de sucessivas invasões de hunos,
visigodos, ostrogodos, burguinhões, suevos, alanos e vândalos, sucumbe em 476, quando
Odoacro destrona o imperador fantoche Romulus Augustus, apelidado com o diminutivo
Augustulus, “Augustinho”.
As forças lingüísticas desagregadoras puderam então agir livremente, e de tal forma
que, em fins do século V, os falares regionais já estariam mais próximos dos idiomas
românicos do que do próprio latim. Começa então o período do romance ou romanço
denominação que se dá à língua vulgar nessa fase de transição que termina com o
aparecimento de textos redigidos em cada uma das línguas românicas: francês (séc. IX),
espanhol (séc. X), italiano (séc. X), sardo (séc. XI), provençal (séc. XII), rético (séc. XII),
catalão (séc. XII, ou princípios do séc. XIII), português (séc. XIII), franco-provençal (séc.
XIII), dálmata (séc. XIV) e romeno (séc. XVI).
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A romanização da Península
1. Os romanos chegaram à Península Ibérica no século III a.C., por ocasião da 2.ª Guerra
Púnica, mas só conseguiram dominá-la por completo, ao fim de longas e cruentas lutas, em 19
a.C., quando Augusto venceu a resistência dos altivos povos das Astúrias e da Cantábria.
2. Muito pouco se sabe das antigas populações ibéricas. No início da romanização
habitava a Península uma complexa mistura racial: celtas, iberos, púnico-fenícios, lígures,
gregos e outros grupos mal identificados.
Das línguas desses povos quase nada conservaram os idiomas hispânicos. Com
relativa segurança, atribui-se origem pré-romana apenas a uns quantos sufixos, como: arra
(bocarra), orro- (beatorro), asco- (penhasco) e ego- (borrego) e algumas palavras de
significação concreta: arroio, balsa, barro, Braga (s), carrasco, gordo, lama, lança, lousa,
manteiga, tamuge, tojo, veiga, etc.
3. A romanização da Península não se processou uniformemente. Das três províncias em
que Agripa (27 a.C.) dividiu a Hispânia - a Tarraconense.
INTRODUÇÃO ÀS DECLINAÇÕES
Gêneros
O latim, além do masculino e do feminino, tem também o gênero neutro, isto é, nem
masculino nem feminino.
Terminação
O adjunto restritivo, o objeto indireto, o objeto direto, etc., exprimem-se em português por
meio de artigos e preposições.
Em latim não há artigos, por isso a palavra latina rosa pode, conforme as circunstâncias
traduzir-se por: “a rosa”, “uma rosa” ou, simplesmente, “rosa”; os complementos e os
adjuntos se exprimem, em geral, por meio de modificações na parte final das palavras.
À parte final variável de qualquer nome chamaremos terminação.
Casos e Declinações
para o vocativo; o ablativo para o agente da passiva e para muitos adjuntos que serão
estudados mais tarde.
c) As Declinações dos substantivos são cinco e distinguem-se pela terminação do genitivo
singular, a qual é: ae- na primeira declinação, i- na segunda, is- na terceira, us- na quarta, ei-
na quinta.
Por isso os dicionários registram os substantivos, dando por extenso o nominativo singular e
acrescentando a terminação do genitivo singular: nauta, ae marinheiro (1.ª decl.); avus, i avô
(2.ª decl.); civis, is cidadão (3.ª decl.); manus, us mão (4.ª decl.); species, éi espécie (5.ª decl.).
“O professor que, pela vez primeira, abre a gramática na declinação de rosa, rosae, não sabe
sobre que canteiros de flores abre a alma do jovem”.
(Charles Péguy, primoroso romancista francês contemporâneo)
4. PRIMEIRA DECLINAÇÃO
Exercícios
a) Declinem-se estes substantivos femininos: casa, casae- choupana; luna, lunae- lua;
rota, rotae- roda; corona, coronae- coroa; via, viae- rua; lacrima, lacrimae- lágrima.
laud-o
lauda-s
lauda-t
lauda-mus
lauda-tis
lauda-nt
N.B. Como, para indicar o número, a pessoa do verbo, usam-se desinências ditas pessoais,
assim, na língua latina, não só os verbos têm suas “desinências”, mas também os nomes
(substantivo, adjetivo, pronome) possuem desinências que servem para indicar o caso (função
sintática) e o número.
VERSÃO:
52. Pup puell sunt pulchr . (As bonecas das meninas são lindas.)
54. Insul Brasili sunt magn . (As ilhas do Brasil são grandes.)
Nominativo
-a / -ae
1. -Europa: Sicilia est insula. Corsica est insula. Sicilia et Corsica sunt insulae.
Italia non est insula, sed paeninsula. Hispania quoque est paeninsula.
Estne Gallia insula? Non est.
2. - Natura est deae: Minerva, es dea. Diana quoque est dea.
Minerva et Diana, deae estis. Diana est Luna. Suntne luna et terra deae
Luna non est stella.
Lupa est fera. Formica et cicada sunt bestiolae.
3. - Personae. Nasica est agricola. Agrippa est nauta. Seneca est poeta.
Staphyla est ancilla. Sumusne poetae? Non sumus - Estisne agricolae?
Acusativo
-am / -as
1. Italiam descripsimus:
Itália est antiqua terra. Agricolas, nautas, poetas habuit. Agricolae terram araverunt et
oleas, vineas, curaverunt.
Nautae terram patriam defenderunt.
2. Poetae, multas pugnas narravistis, magnas victorias cecinistis, Romamque amavistis.
3. Galliam olim coluerunt Celtae. Ubi Italiam invaserunt et Romam ceperunt, Graeciam
petierunt. Athenas non ceperunt. Legistine historiam Romanam historiamque Graecam?
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1. Roma diu floruit. Romae gloria terras complevit. Roma antiqua pulchra fuit, magnasque
copias habuit. Postremo, fortuna adversa fuit, Romaque periit.
2. Fuisti, Roma. Fortunae tuae reliquiae supersunt. Vidimus marmoreas columnas,
basilicarum formas viasque vacuas.
3. Ubi sunt dearum cellae et aureae statuae? Non audivimus incolarum turbam, non vidimus
victimarum pompas neque athletarum pugnas.
4. Sed potentiae tuae ruína tuam memoriam non delevit. Latinas litteras amavisti, Minerva,
Romaeque famam defendisti.
Exercícios Morfológicos
Vocabulário
1. Lusitania, ae, f.: a Lusitânia. - Et.: e. - Hispania, ae, f.: a Espanha. - Sunt: são. - Vicina, ae:
vizinha.
2. Industria, ae, f.: o zelo. - Diligentia, ae, f.: a diligência. – Rara-ae: rara. - In: em. - Ancilla,
ae, f.: a criada.
3. Avara, ae: avara. - Est: é. - Formica, ae, f.: a formiga - At: mas. – PR odiga, ae: pródiga. -
cicada, ae, f.: a cigarra.
4. Provida, ae: previdente. - Mala, ae: má. - Tamen: contudo, ainda que.
5. Bruma, ae, f.: o inverno. - Erit: será. - Longa, ae: comprida, longa. - Parca, ae: poupada.-
igitur: portanto. - Esto: sê. - O: ó.
6. Patria, ae, f: a pátria. - Mea, ae: minha. - Mihi: a mim, para mim. - Cara, ae: querida.
7. Roma, ae, f.: Roma. - Fortuna, ae, f.: a Fortuna. - Que: e. - Erant: eram. - Dea, ae, f.: deusa
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Vocabulário
1. Copiae, arum, f.: as tropas. - Romana, ae: romana. - Vastaverunt: devastaram. - Insula, ae,
f.: a ilha. - Sicilia, ae, f.: a Sicilia.
2. Laudamus: louvamos. - Graecia, ae, f.: a Grécia. - Magistra, ae, f.: a mestra. - Litterae,
Arum, f.: as letras, a literatura.
3. Habent: têm. - Galea, ae, f.: o capacete. - Aurara, ae: dourada. - Hasta, ae, f.: a lança. –
Lenta, ae: pesada.
4. Rana, ae, f.: a rã. - Herba, ae, f.: a erva. - Ambulat: anda. - Luscinia, ae, f.: o rouxinol. –
Silva, ae, f.: o bosque. - Cantant: catam. - Tota (gen. arc.: ae): toda. - Natura, ae, f.: a
natureza. - Laeta, ae: alegre.
5. Historia, ae, f.: a história. - Victoria, ae, f.: a vitória. - Iniustitia, ae, f.: a injustiça. - Sparta,
Ae f.: Esparta. - Monstrat: mostra, conta. - Superba, ae: soberba. - Fuit: foi. - Ira, ae, f.: a
ira. - Excitavit: excitante.
6. Terra, ae, f.: a terra. - Opulenta, ae: abundante. - Copia, ae, f.: a riqueza. - Dat: dd. - Non:
não. - Sine: sem. - Cura, ae, f.: o cuidado, o trabalho. - Socordia, ae, f.: a indolência. –
Ubique: em toda a parte.
7. Infecunda, ae: estéril. - Scythia, ae, f.: a Citia. - Fera, ae, f.: a fera. - Sagitta, ae, f.: a seta. –
Necant: matam. - Delicata, ae: delicada. - Vita, ae, f.: a vida. - Delicia, ae, f.: a delícia. –
Repudiant: rejeitam.
8. Per: durante. - Hora, ae, f.: a hora. - Calida, ae: quente. - Frigida, ae: fria. - Aqua, ae, f.: a
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água - Affectamus: desejamos. - Flamma, ae, f.: o fogo. - Amamus: gostamos de.
9. Femina, ae, f.: a mulher. - Hostia, ae, f.: a vítima. - Immolabant: imolaram.
10. Filia, ae, f.: a filha. - Rosa, ae, f.: a rosa. - Pulchra, ae: bela. - Placent: agradam.
11. Saevissima, ae: cradelistima. - Serva, ae: a criada, escrava. - Occisa est: foi morta.
5. SEGUNDA DECLINAÇÃO
2.ª Declinação
Como sabemos, uma vez conhecido o genitivo singular, sabe-se qual é o radical da palavra; para
declinar os demais casos, é suficiente acrescentar as desinências ao radical. Declinemos
dominus, domini (masc.; = senhor) e bellum, belli (neutro; = guerra):
a) Como vimos, há palavras que no plural podem ter, além do primeiro, um segundo
significado:
singular plural
auxilium (n.) = auxílio auxilia = tropas auxiliares
bonum (n.) = bem bona = propriedades, bens
castrum (n.) = castelo castra = acampamento
comitium (n.) = lugar para comício comitia = reunião do povo, comicio
hortus (m.) = jardim horta = parque, jardim público
impedimentum (n.) = impedimento impedimenta= bagagens do exército
ludus (m.) = jogo, divertimento ludi = espetáculo público
rostrum (n.) = bico de pássaro, rostro rostra = tribuna de orador
Questionário
terminam? E no plural?
9. Como é o vocativo singular dos nomes terminados em us?
10. O vocativo das palavras terminadas em er, ir e um é igual ao nominativo?
11. Decline uma destas palavras: servus, i; amicus, i; discipulus, i.
O genitivo singular da 2.ª declinação pode apresentar às vezes dois ii. Isto acontece quando a
palavra já tem um i radical, ou seja, quando no nominativo termina em ius ou em ium. Por
exemplo: fluvius (rio) tem por radical fluvii. É claro que no nominativo e no vocativo plural o
mesmo fenômeno se opera, aparecendo ainda dois ii no dativo e no ablativo do plural. Outros
exemplos: nuntius, nuntii; vicarius, vicarii; impius, impii; filius, filii; auxilium, auxilii;
proclium, proclii etc. (Em tais palavras, os dicionários costumam indicar os dois ii do genitivo:
nuntius, ii).
Para maior segurança vejamos a declinação de um desses nomes, tendo o cuidado de pronunciar
destacadamente os dois ii nos casos citados:
singular plural
Nom. fluvi-us Nom. fluvi-i
Voc. fluvi-e Voc. fluvi-i
Gen. fluvi-i Gen. fluvi-orum
Dat. fluvi-o Dat. fluvi-is
Abl. fluvi-o Abl. fluvi-is
Ac. fluvi-um Ac. fluvi-os
a) Deus, Dei (= Deus), agnus, agni (= cordeiro) e chorus, chori (= coro) têm o vocativo igual
ao nominativo.
b) Filius, filii (= filho) tem o vocativo singular irregular fili.
c) Os nomes próprios em ius, de i (i breve) no nominativo, terminam no vocativo em i:
Demetrius, Demetri. Os nomes próprios em ius, de i (i longo) no nominativo, terminam no
vocativo em ie: Darius, Darie.
d) Além da irregularidade observada no vocativo, a palavra Deus apresenta outras
irregularidades. Vamos declinar este nome:
singular plural
Não sei se o aluno notou que a desinência do dativo e do ablativo do plural é igual na 2.ª
declinação e na 1.ª declinação. Ao mesmo tempo em que isso facilita decorar a 2.ª declinação,
sugere observar o seguinte: O dativo e o ablativo plural de filia, ae (= filha) é também filiis.
Como saber distinguir uma palavra da outra? Em tais casos, o latim adota para a 1.ª declinação a
desinência abus para o dativo e ablativo plural. Se não houver perigo de confusão, poder-se-á,
indiferentemente, empregar filiabus ou filiis: duabus filiabus ou duabus filiis, porque duabus
denota, por si, tratar-se do nome feminino filia, ae.
Outras palavras que podem trazer essa confusão e seguem essa irregularidade nos casos citados:
1. pulcher-chri (belo)
2. servus-i (servo)
3. dominus-i (senhor)
4. liber-bri (livro)
5. aper-pri (javali)
6. pomum-i (fruto)
7. perum-i (pêra)
8. morbus-i (doença)
9. magister-tri (professor)
10.liber-i (livre) 1.miser-i (miserável)
12.ventus-i (vento)
13.aurum-i (ouro)
Questionário
1. Uma palavra da 2.ª declinação pode apresentar dois ii no genitivo singular? Quando
acontece isso? Em quais outros casos se dá o aparecimento desses dois ii?
2. Decline nuntius, ii.
3. Qual é o vocativo de Deus? Quais as outras palavras nas mesmas condições de Deus?
4. Decline Deus, Dei.
5. Qual é o vocativo de filius, ii? Decline essa palavra.
6. Por que é filiabus o dativo e o ablativo plural de filia, ae? Quais as outras palavras em
idênticas condições?
vocabulário
afugentar - fugo, are ímpio - impius, ii
aluno - alumnus, i (1) jardim - hortus, i
amigo - amicus, i lobo - lupus, i
cavalo - equus, i patrão - herus, i
circundar - circundo, are recusar - recuso, are
criado - servus, i riacho - rivus, i
Deus - Deus, Dei rio - fluvius, ii m.
disposição - anímus, i sujar - inquíno, are (2)
filho - filius, ii
vocabulário
Exercícios
3. Vergilius magnus poeta latinus fuit. VERGÍLIO FOI UM GRANDE POETA LATINO. 4.
Poetæ Romani erant docti; seduli enim discipuli fuerant. OS POETAS ROMANOS ERAM
SÁBIOS; NA VERDADE TINHAM SIDO ALUNOS APLICADOS. 5. Pueri, seduli estote;
industria enim est primum vestrum officium. MENINOS, SEDE APLICADOS; NA
VERDADE O TRABALHO É O VOSSO PRIMEIRO DEVER. 6. Aderant docti magistri; sed
aberant impigri discipuli. ESTAVAM PRESENTES OS SÁBIOS PROFESSORES; MAS
ESTAVAM AUSENTES OS DEDICADOS ALUNOS. 7. Tagus et Durius magni sunt fluvii.
O TEJO E O DOURO SÃO GRANDES RIOS. 8. O Tityre, beatus es. Ó TÍTIRO, ÉS FELIZ.
9. Fili mi, esto iustus et sanctus. FILHO MEU, SÊ JUSTO E SANTO. 10. Populus Romanus
magnificos ludos amabat. O POVO ROMANO AMAVA OS GRANDIOSOS JOGOS. 11.
Galli pagi strenuos villæ incolas excitant. OS GALOS DA ALDEIA DESPERTAM OS
DEDICADOS HABITANTES DA VILA. 12. Studium linguae latinæ discipulo impigro
gaudium est. O ESTUDO DA LÍNGUA LATINA É A FELICIDADE PARA O ALUNO
DEDICADO. 13. Habemus cerebrum, oculos, supercilia, labra, mentum, collum, dorsum.
TEMOS CÉREBRO, OLHOS, SOBRANCELHAS, LÁBIOS E DORSO. 14. Praecipua
metalla sunt aurum, argentum, ferrum et plumbum. OS PRINCIPAIS METAIS SÃO O
OURO, A PRATA, O FERRO E O CHUMBO. 15. Boni discipuli semper mundos libros
habent. OS BONS ALUNOS SEMPRE TÊM OS LIVROS LIMPOS. 16. Nigri apri soceri
nostri campum vastaverunt. OS NEGROS JAVALIS DEVASTARAM O CAMPO DE
NOSSO SOGRO. 17. In libris pigrorum discipulorum sunt sæpe lacerae paginæ. NOS
LIVROS DOS PREGUIÇOSOS ALUNOS SEMPRE HÁ PÁGINAS RASGADAS. 18.
Pulchra præmia studiosis discipulis dabimus. BELOS PRÊMIOS DAREMOS AOS
ALUNOS ESTUDIOSOS. 19. Temperamus aqua rubrum vinum. MISTURAMOS VINHO
TINTO À ÁGUA. 20. Fraudavistis, o mali ministri, dominum vestrum bonis. TIRASTES, Ó
MAUS MINISTROS OS BENS DE VOSSO SENHOR.
Vocabulário
13. Habemos: temos. - Cerebrum, ri, n.: o cérebro. - Oculus, i, m.: o olho. - Supercilium, i, n.:
a sobrancelha. - Labrum, i, n.: o lábio. - Mentum, i, n.: o queixo. - Collum, i, n.: o
pescoço. - Dorsum, i, n.: o dorso, as costas.
14. Praecipuum, i: principal. - Metallum, i, n.: o metal. - Aurum, i, n.: o ouro. - Argentum, i,
n.: a prata. - Ferrum, i, n.: o ferro. - Plumbum, i, n.: o chumbo.
15. Semper: sempre. - Mundus, i: limpo. - Liber, bri, m.: o livro.
16. Niger, gri: negro. - Aper, apri, m.: o javali. - Socer, ri, m.: o sogro. - Noster, tri: nosso. -
Campus, i, m.: o campo.
17. Piger, gri: preguiçoso. - Lacera, ae: rasgada. - Pagina, ae, f.: a página.
18. Praemium, i, n.: o prêmio. - Strudiosus, i: estudioso. - Dabimus: daremos.
19. Temperamus: misturamos. - Rubrum, i: vermelho. - Vinum, i, n.: o vinho.
20. Fraudavistis: defraudastes. - Malus, i: mau. - Minister, tri, m.: o ministro. - Dominus, i,
m: o senhor. - Vester, tri: vosso. - Bonum, i, n.: o bem.
singular
m. (2.ª) f. (1.ª) n. (2.ª)
Nom. bonus bona bonum
Voc. bone bona bonum
Gen. boni bonae boni
Dat. bono bonae bono
Abl. bono bona bono
Ac. bonum bonam bonum
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plural
m. (2.ª) f. (1.ª) n. (2.ª)
Nom. boni bonae bona
Voc. boni bonae bona
Gen. bonorum bonarum bonorum
Dat. bonis bonis bonis
Abl. bonis bonis bonis
Ac. bonos bonas bona
Outros exemplos
Tal qual acontece em português, também em latim, o adjetivo concorda com o substantivo a que
se refere, isto é, o adjetivo deve ir para o gênero, para o número e para o caso do substantivo
com que se relaciona:
Questionário
a) donunus bonus
b) insula longa
c) bellum nefastum
d) agricola operosus
e) periódus longa
Pronomes
Pronomes pessoais:
Um de nós-nostrum (partitivo)
Pronomes possessivos:
N. meus-mea-meum N. mei-meae-mea
G. mei-meae-mei G. meorum-mearum-meorum
D. meo-meae-meo D. meis
Ac. meum-meam-meum Ac. meos-meas-mea
V. mi-mea-meum V. mei-meae-mea
Ab. meo-mea-meo Ab. meos
N. tuus-tua-tuum
Não tem vocativo
N. noster-nostra-nostrum
Não tem vocativo
N. vester-vestra-vestrum
Não tem vocativo
N. suas-sua-suum
Não tem vocativo
Pronome reflexivo:
N. ----
G. sui
D. sibi
Ac. se
V. ----
Ab. se
Vocabulário
Vocabulário
(1) Observe bem que bonis, adjetivo como é, está se referindo a um substantivo do mesmo
caso, número e gênero. “Boni sunt”: aqui boni é predicativo; a leitura deve ser (o traço
representa pausa; a linha „pontilhada‟, pausa menor): Libri | bonis pueris ¦ boni sunt.
(2) A leitura deve ser: Magister meus | amici mei ¦ discipulus fuit.
(3) Espero que preste atenção na concordância do predicativo com o sujeito.
Vimos, que o sujeito de um verbo é aquilo que pratica a ação expressa pelo verbo. Na oração “O
menino quebrou o brinquedo”, menino é sujeito do verbo quebrar, porque é ele quem pratica a
ação de quebrar. Pois bem, quando o sujeito pratica a ação, isto é, quando age, o verbo está na
voz ativa.
Quando, então, um verbo está na voz ativa? - Um verbo está na voz ativa quando o sujeito
pratica a ação do verbo.
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Vejamos agora o caso em que o sujeito, em vez de praticar, recebe a ação do verbo. Na oração
“O menino foi castigado pelo professor”, qual é o sujeito? Descobre-se, fazendo-se a pergunta
que já sabemos: “Quem foi castigado pelo professor?” - O menino. O sujeito, portanto, é
menino.
Agora eu pergunto: O menino praticou ou recebeu a ação de castigar? Naturalmente que
recebeu, porque quem praticou a ação de castigar foi o professor.
Estamos dessa forma, vendo um caso em que o sujeito recebe, sofre a ação em vez de praticar.
Pois bem, quando o sujeito recebe, sofre a ação do verbo, o verbo está na voz passiva.
Nota: A palavra (passivo) prende-se à mesma raiz latina de paixão (lat. passio, passionis);
ambas têm relação com sofrer, padecer (paixão de Cristo = sofrimento de Cristo); daí a
significação de verbo “passivo”: verbo cuja ação é sofrida pelo sujeito.
Como se analisa o complemento “pelo professor” na oração que acabamos de ver - “O menino
foi castigado pelo professor”? Chama-se agente da passiva. Agente da passiva é, portanto, o
complemento que nas orações passivas pratica a ação.
Nota: O agente da passiva costuma aparecer, em português, acompanhado de preposição per ou
por (per + o = pelo; per + a = pela); em alguns casos, em vez de per aparece a preposição de,
principalmente com verbos que exprimem sentimentos: “ser querido das crianças” - “ser
temidos dos néscios” - “ser amado de todos”.
O sujeito da oração passiva vai para o nominativo. O verbo coloca-se em forma especial para
indicar passividade, e o agente da passiva como se traduz? Coloca-se no ablativo.
Quando o agente da passiva é coisa, é ser inanimado, basta ir para o ablativo. Quando é pessoa
ou qualquer ser animado, ou considerado animado pelo autor, além de ir para o ablativo deve ir
antecedido da preposição a ou ab, empregando-se a quando a palavra começa por consoante, e
ab quando começa por vogal ou por h.
Vocativo - caso da pessoa ou coisa a que nos dirigimos diretamente; é o caso da interpelação.
Vale por interjeição e se constrói com independência do resto da oração. Para maior ênfase,
pode ser acompanhado pela interjeição:
Salvo, o Patria! Valo, puella! Valoto, puellae!
a) O adjunto de lugar “ONDE” indica o lugar no qual alguém está ou faz alguma ação:
Estamos na aula; Cicero combateu na Ásia.
Traduz-se com o ablat. precedido pela prep. in: Sumus in shcola; Cicero in Asia pugnavit.
b) O adjunto de lugar “DONDE” indica o lugar do qual alguém (ou algo) se afasta:
Antonio partiu da Gália; A sabedoria afasta dos ânimos a tristeza. Traduz-se com o abl.
precedido por uma destas preposições ab, ex, de: Antonius de Gallia discessit; Sapientia ex
(ab) animo tristitiam fugat.
Obs. 1.ª - Diante de consoante que não seja h, as preposições ab e ex podem mudar-se
Respectivamente em a e c: Ab legione ou a legione (da legião): ex Gallia ou e Gallia (da
Gália).
Obs. 2.ª - Preste-se atenção ao sentido da oração para não confundir o adjunto de lugar com o
adjunto restritivo.
c) O adjunto de lugar “POR ONDE” indica o lugar através do qual se passa. Esse adjunto, em
português, é geralmente precedido pela prep. por ou pela locução através de: Os romanos
passaram por bosques densos e escuros; Os lobos correm através dos campos.
Traduz-se com o acusat. precedido pela prep. per: Romani per densas et obscuras silvas
transiérunt; Lupi per agros currunt.
d) O adjunto de lugar “PARA ONDE” indica o lugar para o qual alguém se dirige: O aluno
entra na aula; César foi para a Espanha; A frota chegou ao porto; O cordeiro foi ao rio.
Esse adjunto, em português, é geralmente precedido por uma destas preposições : em, para, a.
Traduz-se em latim com o acusat. precedido pela preposição in (principalmente quando se
indica entrada num lugar) ou ad (quando não se indica entrada num lugar): Discipulus in
scholam intrat; Caesar in Hispaniam contendit; Classis in portum venit; Ad rivum agnus venit.
1ª observação:
a) Para termos o adjunto de lugar para onde não basta que o verbo indique movimento, mas é
preciso que quem faça a ação, mude de lugar: Os meninos nadam na piscina, pueri natant in
piscina (adjunto de lugar onde, e não para onde).
b) Desde que o adjunto de lugar para onde só pode ser encontrado após as palavras que indicam
movimento, não será difícil distinguí-lo do objeto indireto.
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2.ª observação:
Qualquer adjunto se traduz de acordo com as regras acima, ainda que exprima uma
circunstância figurada e não real. Nos exemplos “Vivo nas letras; mandei uma carta para
Pompeu” temos um adjunto de lugar onde e um adjunto de lugar para onde figurados, mas a
tradução é regular: In literis vivo; ad Pompelum epistulam misi.
Vocabulário
1.ª) Mediante os verbos ser e estar e o particípio de certos verbos ativos: ser visto (sou visto, és
visto, é visto, etc.); estar preso (estou preso, estás preso, está preso, etc.).
Notas:
a) Também o verbo ficar presta, ás vezes, para indicar a voz passiva; na oração: “Ele foi preso”
- podemos, sem sacrifício do sentido passivo da oração, substituir o foi por ficou: “Ele ficou
preso”.
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b) O português não possui flexões verbais sintéticas para - verbo passivo; em latim o indicativo
presente passivo de amar se expressa por uma única palavra - amor (pronuncie ámor) - ao passo
que o português necessita de duas: sou amado.
2.ª) Mediante o pronome se, que então se diz pronome apassivador.
Na oração “alugam-se casas” - casas não pratica a ação de alugar e, sim, recebe, sofre tal ação, o
que eqüivale a dizer que casas não é o agente, mas, o paciente da ação verbal. O verbo é
passivo, e essa passividade é indicada pelo pronome se. A oração “Alugam-se casas” é idêntica
à oração “Casas são alugadas”; em ambas o sujeito é casas.
Questionário
Exercício
Vocabulário
Questionário
indicativo passivo?
4. Conjugue, na voz ativa, o imperfeito do indicativo de voco, are.
5. Conjugue esse mesmo tempo na voz passiva.
6. Para se assegurar da tradução perfeita de um trecho latino, que deve o aluno procurar em
primeiro lugar? Por quê?
Vocabulário
(1) a poetis: Note que as dez orações são passivas: em todas elas entra um agente da passiva.
(2) servo: Note que não se trata do verbo servo, are, mas sim do subst. servus, i (= criado,
escravo).
(3) laudamur: Tanto em latim como na tradução portuguesa não é preciso que o sujeito venha
expresso porque a própria pessoa do verbo o indica claramente.
(4) lunã: Está lembrado do significado da sigla?
07. SÍNTAXE
Nominativo: - caso do sujeito e do predicativo do verbo em modo finito: Britannia est insula.
- caso de títulos: Columba et Formica (Do Columba et Formica)
Dativo: - caso que mais comumente se usa para marcar a pessoa ou coisa indiretamente
atingida pela ação do verbo, ou o que chamamos de objeto indireto:
Magistra dat veniam puellae.
Me philosophiae do.
-caso que indica a pessoa ou coisa em benefício ou em prejuízo de quem se
faz alguma coisa (Dativo de interesse):
Non sholae, sos vitae discimus.
-caso que serve de complemento nominal de nomes que indicam:
a) utilidade, favor e seus contrários: útil a...; pernicioso a...:
Ancilla dominae suae utilis est.
Pugna perniciosa est patriae.
b) igualdade ou semelhança: semelhante a...; igual a...:
Puella irata bestiae similis est.
c) proximidade ou vizinhança (física ou moral): vizinho de...; próximo de...:
Casa agricola proxima Romae est.
Ira insaniae vicina est.
d) conveniência, destino, benevolência: apto a...; caro a...:
Gloria poetis cara est.
Acusativo: -caso que indica a pessoa ou coisa sobre que cai diretamente a ação do verbo: é o
caso do objeto direto:
Puella amat nautam.
Clementia tua multas vitas conservat.
-caso de alguns adjuntos adverbiais, precedido ou não de preposição:
a) de lugar (inclui normalmente idéia do movimento, direção para onde;
movimento por onde):
Agricola in Italiam oxiit.
Agricola Romam oxiit.
Poeta ad torram adapiciobat.
Puella ambulat per vias Romao.
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Vocabulário
O adjunto de causa indica o motivo pelo qual se faz alguma ação: Os meninos descuidam os
deveres por preguiça; rimos por causa de vossa avareza.
Esse adjunto responde às perguntas: por quê? Por causa de quê? Traduz-se com o ablativo
simples ou com o acusativo precedido pelas preposições ob ou propter: Púeri officia déserunt
pigritia (ou ob pigritiam ou propter pigritiam); ridémus avaritia vestra (ou ob avaritiam
vestram ou propter avaritiam vestram).
Vocabulário
3a. DECLINAÇÃO
Passaremos agora a ver a mais importante das declinações latinas, a terceira declinação,
à qual pertencem nomes de todos os gêneros e de muitas terminações no nominativo singular.
Na 2.ª declinação vimos que existem quatro terminações no nominativo, mas na 3.ª as
terminações são tão variadas que não podem ser fixadas. Por isso é que, ao mencionar as
desinências da 3.ª declinação, costuma-se dizer: Nominativo - várias terminações. Quer isso
dizer que os nomes da 3.ª declinação devem ser estudados quase de um em um ou de grupo em
grupo, por causa dessa variedade de terminações.
O vocativo não apresenta dificuldade, porquanto é sempre igual ao nominativo.
O genitivo singular, já sabemos que termina em is. As demais terminações do singular
são mais ou menos fixas e iremos estudá-las aos poucos.
E as desinências do plural? Não apresentam dificuldade, mas o genitivo tem duas
terminações: um e ium. Para o correto emprego dessas terminações precisamos saber o que são
palavras parissílabas e palavras imparissílabas.
Palavras parissílabas são as que no singular têm igual número de sílabas no nominativo
e no genitivo. Não vá pensar o aluno que parissílabas sejam as palavras que têm número par de
sílabas; nada disso. Uma palavra de três sílabas no nominativo pode muito bem ser parissílaba,
com tal que no genitivo tenha também três sílabas. Exemplos de nomes parissílabos:
NOM. GENIT.
auris auris 2 sílabas em ambos os casos
nubes nubis 2 sílabas em ambos os casos
volucris volucris 3 sílabas em ambos os casos
cubile cubilis 3 sílabas em ambos os casos
Palavras imparissílabas são as que no genitivo singular têm uma ou mais sílabas a mais
do que no nominativo. Imparissílabo quer dizer, portanto, número diferente de sílabas e não
número ímpar de sílabas. Uma palavra de duas sílabas no nominativo pode ser imparissílaba,
uma vez que tenha três ou quatro sílabas no genitivo. Exemplos de nomes imparissílabos:
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NOM. GENIT.
Dux ducis 1 sílaba no nom. e 2 no gen.
urbs urbis 1 sílaba no nom. e 2 no gen.
labor laboris 2 sílabas no nom. e 3 no gen.
homo hominis 2 sílabas no nom. e 3 no gen.
iter itineris 2 sílabas no nom. e 4 no gen.
societas societatis 4 sílabas no nom. e 5 no gen.
Genitivo plural: Uma vez que aprendemos o que são palavras parissílabas e palavras
imparissílabas e uma vez que sabemos que o radical de uma palavra se descobre tirando-se a
desinência do genitivo singular (que na 3.ª declinação é is), podemos compreender a seguinte
regra geral:
A) Os nomes imparissílabos, cujo radical termina em uma só consoante, têm o genitivo plural
em: um
B) Os nomes parissílabos, bem como os nomes imparissílabos cujo radical termina em duas ou
mais consoantes, têm o genitivo plural em: ium
Podemos agora decorar as desinências da maior parte das palavras da 3.ª declinação:
SINGULAR PLURAL
NOMINATIVO várias terminações NOMINATIVO es
VOCATIVO igual ao nominativo VOCATIVO es
GENITIVO is GENITIVO um ou ium
DATIVO i DATIVO íbus
ABLATIVO e ABLATIVO íbus
ACUSATIVO em ACUSATIVO es
Cientes do que acabamos de estudar e do que já ficou dito, isto é, uma vez achado o
radical de uma palavra, este radical não varia em todo o decurso da declinação, podemos
declinar com segurança muitas palavras da 3.ª declinação, como rex, regis; Ico, Iconis; libertus,
libertatis; natio, nationis; civis, civis; nox, noctis; ars, artis etc.:
SINGULAR PLURAL
NOM. rex (= rei) NOM. reg-es
VOC. rex VOC. reg-es
GEN. reg-is GEN. reg-um
DAT. reg-i DAT. reg-ibus
ABL. reg-e ABL. reg-ibus
AC. reg-em AC. reg-es
QUESTIONÁRIO
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VOCABULÁRIO
1. Os bons costumes dos alunos são elogiados pelo mestre. (Notou que a oração é passiva? “São
elogiados”, portanto, traduz-se por uma única forma. “Pelo mestre” é agente da passiva, não
é verdade?)
2. Os perfumes e as cores das flores são variados. (Não se trata de voz passiva: “são” é verbo de
ligação, e “variados” é predicativo - adjetivo que deve concordar com o sujeito; estou quase
certo de que irá errar no gênero)
3. Os escritores romanos louvavam os costumes dos germanos.
4. Os imperadores são amigos dos oradores.
5. As boas ações são celebradas pelos homens bons.
VOCABULÁRIO
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NOMES EM (TER)
Certos nomes da 3.ª declinação, cujo nominativo termina em ter, perdem o e dessa
terminação no genitivo e, conseguintemente, em todos os demais casos. A desinência do
genitivo plural de tais nomes é um. São eles: pater, patr-is (= pai), mater, matr-is (= mãe),
frater, fratr-is (= irmão), accpiter, accipitr-is (= gavião).
Para maior elucidação, vejamos a declinação completa de pater, patr-is:
SINGULAR PLURAL
NOM. - pater (= pai) NOM. - patr-es
VOC. - pater VOC. - patr-es
GEN. - patr-is GEN. - patr-um
DAT. - patr-i DAT. - patr-ibus
ABL. - patr-e ABL. - patr-ibus
AC. - patr-em AC. - patr-es
SINGULAR
NOM. - Jupiter (ou Juppiter)
VOC. - Jupiter
GEN. - Jovis
DAT. - Jovi
ABL. - Jove
AC. - Jovem
IMPARISSÍLABOS EM (S)
Em resumo:
Labial - permanece
Gutural - funde-se (= x)
Dental - desaparece
Vemos mais uma vez quanto é importante o genitivo de uma palavra latina, tão
importante no presente caso que por meio dele ficamos conhecendo o nominativo da palavra.
Notas: 1.ª - Quando, no caso presente, e radical tem um i breve, essa vogal muda-se no
nominativo em e se o nominativo terminar em:
ps - gen. princip-is, nom. princeps
(t)s, (d)s - gen. milit-is, nom. miles - gen. obsid-is, nom. obses
x - gen. judic-is, nom. judex
Suponhamos que o aluno encontre numa frase latina a palavra custodibus: não sabendo o
significado e precisando consultar o dicionário, que palavra irá procurar? Sabe ele que ibus é
desinência: o primeiro trabalho, pois, é tirar a desinência ibus: resta custod, radical terminado
em dental. Pelo que acabamos de estudar, o nominativo deve ter s (custods), mas, como o
radical termina em dental (d), esta dental deve desaparecer, ficando custos.
Temos um exemplo interessante na palavra noite, cujo radical latino é noct (gen. noct-
is). Acrescido de s, o radical perde a dental, ficando “noca”, mas do encontro cs resulta x, sendo
então o nominativo nox.
QUESTIONÁRIO
VOCABULÁRIO
1. Voluptates hominibus semper noxiae sunt. (noxiae: predicativo; está concordando em gen.,
num. e caso com o sujeito.)
2. Magistri laudes discipuli patri gratae fuerunt. (gratae: predicativo; a regra de concordância é
sempre a mesma.)
3. Reges sunt militum duces et legum custodes. (Há dois predicativos e cada um deles tem um
adjunto adnominal restritivo.)
4. Obsidum vita reverentiam foederis firmabat.
5. Sacerdotum reverentia signum est virtutis.
VOCABULÁRIO
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Para o completo estudo dos neutros da 3.ª declinação, devemos dividi-los em três
grupos.
No 1.º, estudaremos os terminados em e, al e ar.
No 2.º, estudaremos os restantes não compreendidos no 1.º grupo.
No 3.º, estudaremos certos nomes neutros de origem grega, terminados em ma.
Neutros da 3.ª, terminados em E, AL e AR: Os neutros assim terminados fazem:
a) no ablativo singular - i
b) nos três casos iguais no plural - ia
c) no genitivo plural - ium.
As desinências dos neutros deste grupo são, portanto:
SINGULAR PLURAL
NOM. e al ar NOM. ia
VOC. igual ao nominativo VOC. ia
GEN. is GEN. ium
DAT. i DAT. ibus
ABL. i ABL. ibus
AC. igual ao nominativo AC. ia
Exemplos:
SINGULAR PLURAL
NOM. mare (= mar) NOM. maria
VOC. mare VOC. maria
GEN. maris GEN. marium
DAT. mari DAT. maribus
ABL. mari ABL. maribus
AC. mare AC. maria
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SINGULAR PLURAL
NOM. várias terminações NOM. a
VOC. igual ao nominativo VOC. a
GEN. is GEN. um
DAT. i DAT. ibus
ABL. e ABL. ibus
AC. igual ao nominativo AC. a
Exemplos:
SINGULAR PLURAL
NOM. corpus (= corpo) NOM. corpor-a
VOC. corpus VOC. corpor-a
GEN. corpor-is GEN. corpor-um
DAT. corpor-i DAT. corpor-ibus
ABL. corpor-e ABL. corpor-ibus
AC. corpus AC. corpor-a
SINGULAR PLURAL
NOM. poema (= poema) NOM. poemat-a
VOC. poema VOC. poemat-a
GEN. poemat-is GEN. poemat-orum (ou
poematum)
DAT. poemat-i DAT. poemat-is (ou poematibus)
ABL. poemat-e ABL. poemat-is (ou poematibus)
AC. poema AC. poemat-a
QUESTIONÁRIO
VOCABULÁRIO
1. Magna maris animalia nautis saepe periculosa sunt. (Se maris é genitivo e nautis é dativo,
não podem ser sujeito de sunt.)
2. Villici attenti ovilia et suilia diligenter purgant.
3. Parentum et praeceptorum adhortationes incitamenta sunt pueris.
4. Omen temporis futuri dubium est.
5. Magna sunt onera captivorum.
VOCABULÁRIO
1. Os caminhos das montanhas altas são ásperos. (Cuidado com o gênero do predicativo.)
2. As esporas dos cavaleiros incitam os cavalos. (Está sempre lembrado da costumeira ordem
latina: complemento antes da palavra completada? Em latim ficará como se em português
estivesse: “Dos cavaleiros as esporas os cavalos incitam”.)
3. As palavras são indicadas pelo tema. (Precisarei lembrar-lhe que esta e as duas últimas
orações são passivas?)
4. Os nomes são dados aos aliados pelos cônsules.
5. Aos poemas de Homero grandes honras são dadas.
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3- Outros têm o acusativo em em, mas o ablativo tanto pode ser em e como em i:
amnis - rio classis - armada
anguis - serpente navis - navio, nau
civis - cidadão ovis - ovelha
avis - ave (tem o ablativo em i quando significa presságio.)
ignis - fogo (tem sempre o ablativo em i nas expressões consagradas.)
VOCABULÁRIO
5. Fines Arpinatium angusti erant. (Traduza fines por território; se em latim o verbo está
obrigatoriamente no plural (porque o suj. é pl.), em português verbo e predicativo ficarão no
singular.)
EXERCÍCIOS
1. ovis-is (ovelha)
2. vulpes-is (raposa)
3. virtus-utis (virtude)
4. arbor-oris (árvore)
5. sermo-onis (discurso)
6. leo-onis (leão)
7. miles-itis (soldado)
8. lex-legis (lei)
9. gens-gentis (gente)
10. pons-pontis m. (ponte)
11. nix-nivis (neve)
12. nomen-nominis n. (nome)
13. corpus-corporis n. (corpo)
14. flumen-fluminis n. (rio)
15. animal-is n. (animal)
1. - P. - Fundo meo praees, Dave Cur Romam venire cupis? Nitidus tamen es et
rotundus.
D. - Romae beatus ero.
P. - Heu! Rustica otia amo, urbana negotia fugio.
D. - Urbanas voluptates desidero; molesti sunt Davo rustici labores.
2. - P. - At pauper illic eris: nam desunt Romae prata flonda, desunt laetae segetes etiam
diviti homini.
D. - At sunt ludi et balnea.
P. - Hic habes tibias pastorum varietates florum, undasque rivorum.
D. - Romae erunt Davo bona vina tabernarum.
3. - P. - Hic dormis sub densa arbore.
D. - Terram et saxa moveo sub solis ardore.
P. - Romae semper cum invidis comitibus eris.
D. - Hic cotidie, cum mutis jumentibus vivo.
P. - Semper urbanus invidet colono, colonus urbano. Nunquam fortuna contenti homines.
Cras Romae eris, insane!
Não se poderia compreender bem os romanos sem conhecer sua religião. Conta-se que
o rei Numa organizou o culto, entremeado, por vezes, de práticas supersticiosas.
1. - Olim Juppiter crebra fulmina in Aventinum jaciebat. Romani Jovis fulmina
vehementer timebant. Rex Numa sic fulminum procurationem cognovit.
2. - Sub Aventino fluminis liquidi undae fluebant. Fluminis aquam rustici dei, Faunus
nomine et Martius Picus, cotidie bibebant.
Rex vetus vinum prope ripam posuit. Postquam dei vinum biberunt, vino victi
dormierunt. Deos ebrios rex vinxit.
3. - Dein rex numina e somno excitat interrogatque. Numina regem carmina docent. Rex
Numa, postquam in Aventino sacrificium fecit, divinis carminibus Jovem e caleo ad terras trahit
Rex a Jove fulminis procurationem petit. Juppiter procurationem regem docet.
09. Vocabulário
Abundant – rica Ferox, ocis - intolerável Pars, partis - parte
Aegrotus, a, um - doente Fessus, a, um - cansado Parva, æ - pequena
Agnis - cordeiros Fidelis, e – fiel Parvus, a, um - pequeno
Agricola, ae m. - agricultor Fides, ei – fidelidade Patria, ae f. - pátria
Ala, ae - ala Filia, ae f. - filha Paucus, a, um - pouco
Ala, ae f. - asa Florens, entis – florescente Pax, pacis - paz
Albam - branca Formica, ae - formiga Peccatum, i n. - falta
Albus, a, um – branco Fortis, e - forte Pecunia, ae f. - dinheiro
Altus, a, um – a Fortuna - sorte Pennae,ae f. - pena (pluma)
Amavestis - amastis Fortunae - bens, riquezas Peninsula - península
Ambulo, are – passear Frater, tris – irmã Perniciosus, a, um- pernicioso
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10. BIBLIOGRAFIA
Apostila utilizada pelo Prof. Ariovaldo Peterleni Verdier, Roger; Marcus et Tullia Manual de
Língua Latina, Presença, Editora da U.S.P.
Ascenção, Álvaro; Pinheiro, José; Selecta Latina, quinta edição; Livraria Apostalado da
Imprensa; Porto 1.965.
Comba, P. Júlio; Programa de Latim; 1.º Volume; Editorial Dom Bosco.
Cunha, Celso Ferreira da; Gramática da Língua Portuguesa; 5.ª edição; Fename; R. Janeiro;
1.979.
Almeida, Napoleão Mendes de; Gramática Latina: curso único e completo; 22. Ed.; Saraiva;
São Paulo; 1989.
Nardini, Bruno; Mitologia: O primeiro encontro; Círculo do Livro S.A.; São Paulo.
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