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Hermenêutica Bíblica

FABAPAR
F A C U L D A D E S B A T I S TA D O P A R A N Á
Paschoal Piragine Júnior

Hermenêutica Bíblica
1a ed.

Curitiba
2019
© Os direitos de autoria e patrimônio são reservados ao(s) autor(es) da obra e a Faculdades
Batista do Paraná (FABAPAR). É expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta
obra sem autorização da FABAPAR.

FACULDADES BATISTA DO PARANÁ


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Gerência Acadêmica – Jaziel Guerreiro Martins
Gerência Administrativa – Jader Menezes Teruel
Coordenação dos Bacharelados em Teologia – Margareth Souza da Silva
Coordenação Adjunta do Bacharelado em Teologia EAD – Janete Maria de Oliveira
Autoria do Material – Paschoal Piragine Júnior

Coordenação Editorial – Elen Priscila Ribeiro Barbosa


Coordenação de Produção – Murilo de Oliveira Rufino
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Bibliotecária e Desenvolvimento
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CRB9/1243
Revisão – Edilene Honorato da Silva Arnas
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Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)
Rozane Denes (Bibliotecária CRB/9 1243)

Getão, Eduardo.
P667 Piragine Júnior,
Estudos de Paschoal.
missões / Eduardo Getão. – 1.ed. – Curitiba : Núcleo de
Publicações FABAPAR, 2019.
Hermenêutica
105 p. bíblica. / Paschoal Piragine Júnior. – 1. ed. –
Curitiba: Núcleo de Publicações FABAPAR, 2019.
91. p.
ISBN: 978-85-89487-04-7

ISBN: 978-85-89487-18-4
1.Missões – Igreja. 2. Evangelismo. 3. Missões Paulinas. I. Faculdades
1. do Hermenêutica
Batista Paraná. II. Título.(Religião). 2. Bíblia – Hermenêutica. I.
Título.
CDD (21. ed.) – 266
CDD: 220.601

Elaboração da ficha: Rozane Denes CRB9/1243


Apresentação do autor
Paschoal Piragine Júnior é pastor da Primeira Igreja Batista de
Curitiba, onde exerce o ministério desde 1988. Exerceu vários cargos
na denominação batista, dentre eles: presidente da Ordem dos Pastores
Batistas do Brasil (2003-2004) e presidente da Convenção Batista
Brasileira, em 2006.

É autor de diversos livros. Também comanda o programa Dia a Dia


com Deus, criação dedicada às pessoas que têm muitas preocupações
e tarefas e acabam por deixar de lado seu tempo com Deus para
fazer algo que consideram mais importante. Escritor, conferencista
e palestrante. Doutor em Ministério na Faculdade Sul-Americana, em
Londrina-PR e pós-doutorando na área de Missiologia pelo Programa
Doctoral em Teología, da Universidad Evangélica de las Américas, em
San José (Costa Rica).

5
Prefácio
Hermenêutica bíblica é o estudo da interpretação da Bíblia. O termo
procede da palavra grega “ηρμηνευειν” e seus derivados que significa
declarar, anunciar, interpretar ou esclarecer e, por último, traduzir.
(CORETH, 1973, p. 1)

Apesar da necessidade de interpretação fazer parte da questão do


uso dos sinais (signos) em toda a forma de comunicação humana, na
história da humanidade ela sempre esteve mais atrelada à busca de
sentido dos Textos Sagrados de todas as religiões1. Só nos séculos XVI e
XVII se tornou ciência da boa interpretação tanto de textos jurídicos,
históricos e filosóficos.

Saiba Mais
O conceito de “signo” foi amplamente difundido pela semiótica,
sendo esta a teoria geral dos signos e sua relação com a
comunicação.
O signo tem três partes essenciais: o significante (que seria a parte
material do signo, como um ícone ou uma palavra), o significado
(ou seja, a imagem mental gerada na mente de quem ouviu ou
leu a palavra ou ícone) e o referente (o objeto em si, seja ele real
ou imaginário). Para entender melhor a semiótica, recomenda-se
a leitura de Charles S. Pierce, um dos maiores autores da teoria.

1 Não há certeza filológica, mas só probabilidade, de que a palavra derive de Hermes,


o mensageiro dos deuses, a quem se atribui a origem da linguagem e da escrita. O certo
é que já em grego o termo significava de preferência, embora não exclusivamente, a
compreensão e a exposição de uma sentença dos deuses, de uma mensagem divina,
como de um oráculo de Delfos, o qual precisa de uma interpretação para ser apreendido
corretamente, ou seja, “levado à compreensão”. Dessa forma, o termo referia-se desde
então a uma dimensão sacra: a compreensão e interpretação de uma palavra divina.
(CORETH, 1973, p. 2)

6
Mas a grande questão é por que é preciso técnicas para interpretar
a Bíblia? Não é um preceito evangélico o livre exame das Escrituras? Não
há a crença protestante de que o Espírito Santo pode iluminar os crentes
para entender as Escrituras Sagradas?

É verdade, tudo isso faz parte da crença protestante. No entanto,


ao ler as Escrituras, é possível perceber que sua autoria foi dupla: Divina e
humana, e que traços da cultura, da história, das crenças e dos problemas
do tempo histórico do autor humano também estão colocados no texto.
Portanto, se o leitor tiver tais conhecimentos, ficará muito mais fácil
compreender a mensagem de Deus que foi por ele transmitida, pois
interpretar é determinar o sentido de um escrito o mais próximo possível
do que pensava o autor quando o escreveu.

Mas não somente isto, dependendo do tipo de revelação divina


ou estilo literário usado o Texto Sagrado será de mais fácil ou difícil
compreensão, caso não haja recursos para poder interpretá-los.

Além de tudo isso, o intérprete é outro componente na história


da interpretação bíblica, pois, quer queira quer não, a compreensão que
o intérprete tem do texto também é afetada por sua história, cultura e
experiências.

Assim, conhecer as técnicas de interpretação bíblica é uma


necessidade imprescindível para quem deseja compreender as Escrituras
e comunicá-la a outros.
1. História da
interpretação bíblica
1. História da interpretação bíblica
No presente capítulo, será feita uma contextualização histórica da
Hermenêutica. Há quem diga que isso não é necessário, porém ficará
claro que conhecer o contexto histórico e cultural é sempre relevante para
se realizar uma excelente interpretação textual.

Conhecer a história da Hermenêutica, por onde passou, de onde


surgiu, como foi feita ao longo do tempo, possibilita uma compreensão
geral dos erros e acertos cometidos no passado. Além disso, ao conhecer
as escolas hermenêuticas, é possível entender melhor os posicionamentos
de algumas figuras encontradas nos textos bíblicos.

Por isso, em um primeiro momento, será apresentada a forma como


a hermenêutica era realizada no tempo dos autores do Novo Testamento,
principalmente pelas diferentes escolas judaicas.

Em seguida, será possível perceber como era realizada a


interpretação bíblica na época da Igreja Primitiva, ou seja, logo após os
acontecimentos do NT. Isso compreende os pais apostólicos, o método
alegórico e a escola de Antioquia.

Por fim, será apresentado como se desenrolou a ação hermenêutica


da Idade Média até a Pós-Modernidade.

1.1 A interpretação judaica na época do Novo


Testamento
O judaísmo teve uma variedade de expressões durante o tempo de
Jesus e dos primeiros cristãos: círculos apocalípticos que aguardavam
o fim da era atual e a vinda de um fim dos tempos; Essênios encontrados
em sua comunidade estritamente isolada em Qumran; fanáticos e
outros grupos nacionalistas que tentaram se rebelar contra o poder da
ocupação romana.

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Além destes, o judaísmo oficial em Jerusalém, cujos julgamentos
internos eram decididos pelo sinédrio tendo como presidente o sumo
sacerdote. Esse conselho consistia em dois partidos principais: os
saduceus e os fariseus. (REVENTLOW, 2009, p. 105)

1.1.1 Saduceus
Para o grupo dos chamados saduceus, os quais compunham a parte
principal da classe sacerdotal, apenas a primeira divisão do Cânon Hebraico
tinha autoridade normativa. Para eles, só a porção atualmente chamada de
Pentateuco, formada pelos livros de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio, a chamada Torá, era considerada palavra de Deus.

Saiba Mais
Para conhecer um pouco mais sobre os saduceus e outros grupos
religiosos da época em questão, leia o livro Os partidos religiosos
hebraicos da época neotestamentária, de Kurt Schubert.

É possível encontrar na Bíblia algumas menções a esse grupo:


E, chegando-se alguns dos saduceus, que dizem não haver
ressurreição, perguntaram-lhe, Dizendo: Mestre, Moisés nos deixou
escrito que, se o irmão de algum falecer, tendo mulher, e não deixar
filhos, o irmão dele tome a mulher, e suscite posteridade a seu irmão.
Lucas 20:27,28 (ACF)

E, havendo dito isto, houve dissensão entre os fariseus e


saduceus; e a multidão se dividiu.

Atos 23:7 (ACF)

E, estando eles falando ao povo, sobrevieram os sacerdotes, e


o capitão do templo, e os saduceus, Doendo-se muito de que
ensinassem o povo, e anunciassem em Jesus a ressurreição
dentre os mortos. Atos 4:1,2 (ACF)

10
Porque os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo,
nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa.

Atos 23:8 (ACF)

E a multidão dos que criam no Senhor, tanto


homens como mulheres, crescia cada vez mais.
De sorte que transportavam os enfermos para as ruas, e os
punham em leitos e em camilhas para que ao menos a sombra
de Pedro, quando este passasse, cobrisse alguns deles.
E até das cidades circunvizinhas concorria muita gente
a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados
de espíritos imundos; os quais eram todos curados.
E, levantando-se o sumo sacerdote, e todos os que estavam
com ele (e eram eles da seita dos saduceus), encheram-se
de inveja, E lançaram mão dos apóstolos, e os puseram na
prisão pública.

Atos 5:14-18 (ACF)

1.1.2 Fariseus
Estes aceitavam as três divisões do AT: lei, profetas e escritos, além
da tradição como sendo palavra de Deus. (GUSSO, 2011, p. 8)

A influência dos fariseus repousava em duas instituições: a sinagoga


e a casa de estudo. Após a destruição do templo, a sinagoga continuou,
e ainda hoje é o único local de culto para o judaísmo em todo o mundo. A
oração, a leitura das Escrituras e um sermão a cada sábado constituíam
adoração na sinagoga. O sermão interpretava a seção da Escritura
(perícope ou parash) que era lida. Como os pregadores eram leigos,
isso fornecia aos fariseus, conhecedores das Escrituras, a oportunidade
de instruir a congregação em seus ensinamentos. A segunda esfera de
atividade na qual os fariseus trabalhavam era a escola. Inicialmente, o
processo de ensino foi conduzido em uma base privada em que os
alunos se reuniram para aprender com um professor bem conhecido em
diferentes lugares da Palestina e, provavelmente, também na Babilônia.
Mais tarde, passaram a existir casas de estudo ou academias regulares.
(REVENTLOW, 2009, p. 106)

11
Glossario

De acordo com o Dicionário Michaelis, perícope é:


1 Seção ou parágrafo de livro usados para transcrição ou para outro
fim.
2 Ret Excerto da Bíblia que é lido durante o culto ou que é usado como
base para o sermão. (MICHAELIS on-line, 2019, página do verbete).

Alguns trechos bíblicos que exemplificam essas informações:


Então compreenderam que não dissera que se guardassem do
fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus.
Mateus 16:12
Ai de vós, fariseus, que amais os primeiros assentos nas
sinagogas, e as saudações nas praças.
Lucas 11:43
Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para
que também o exterior fique limpo.
Mateus 23:26
E saíram os fariseus, e começaram a disputar com ele, pedindo-
lhe, para o tentarem, um sinal do céu.
Marcos 8:11
E os escribas e fariseus observavam-no, se o curaria no sábado,
para acharem de que o acusar.
Lucas 6:7
Então, acercando-se dele os seus discípulos, disseram-lhe: Sabes
que os fariseus, ouvindo essas palavras, se escandalizaram?
Mateus 15:12

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1.1.3 Midrash
Alguns dos primeiros comentários sobre os livros da Torá
(Midrashim) fornecem informações sobre o conteúdo da interpretação
rabínica. Esses comentários originaram-se durante o chamado período
Tannaítico (o termo hebraico é tanna “professor”: a imagem era de
comprimir os ensinos na mente pela memorização mecânica). Esse
período começou no início do terceiro século d.C. Eles expressavam a
tradição oral na forma de ditos de rabinos transmitidos oralmente, cujas
interpretações de certos preceitos bíblicos muitas vezes conflitavam.
(REVENTLOW, 2009, p. 107)

1.1.4 Jesus
A interpretação de Jesus, ainda que levasse em conta o Cânon
em sua totalidade, da mesma forma que os fariseus, diferia dos padrões
judaicos normais. Sua interpretação deixava de lado o literalismo extremo
do texto buscando o “espírito” do mesmo. Ia, também, contra os saduceus,
que ficavam com apenas parte das Escrituras (Mt 22.23-33) e, ao mesmo
tempo, censurava os fariseus que iam além delas, dando mais valor à
tradição do que aos Textos Sagrados (Mt 15.1-9). (GUSSO, 2011, p. 8)

O Método hermenêutico de Jesus incluía uma leitura cristológica, o


que significava que Jesus lia o AT à luz de si mesmo. Veja, como exemplos,
João 5.39,40 e João 5.46. (DOCKERY, 2005, p. 27)
Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida
eterna, e são elas que de mim testificam;
E não quereis vir a mim para terdes vida.
João 5:39,40
Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de
mim escreveu ele.
João 5:46

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1.1.5 Os apóstolos e autores do Novo Testamento
Os escritores do Novo Testamento compartilham algumas
características gerais do uso das Escrituras com os rabinos e essênios de
sua época. Ao citar as Escrituras, eles geralmente fazem um comentário
ligeiro visando aplicar o texto à situação presente. Raramente estão
envolvidos em exegese do texto, eles visam mais à aplicação do texto.

A contribuição distinta dos cristãos para a hermenêutica bíblica


é sua reinterpretação radical das Escrituras do Antigo Testamento à
luz dos eventos históricos redentivos relacionados com encarnação,
vida, morte e ressurreição de Cristo, e o surgimento da Igreja Cristã.
(LOPES, 2007, p. 116)

1.2 A interpretação do período da Igreja Primitiva


De fato, os eventos ocorridos em decorrência da encarnação e vida
de Jesus em Terra mudaram a forma como os textos do Antigo Testamento
eram vistos, uma vez que muitas de suas predições foram cumpridas na
pessoa e vida de Cristo. Sendo assim, uma grande transformação na
maneira de se interpretar a Bíblia foi iniciada nos anos que se seguiram à
morte, ressurreição e ascensão do Messias. A seguir, serão apresentados
os métodos interpretativos dos pais apostólicos, o método alegórico e o
método da escola de Antioquia.

1.2.1 Os pais apostólicos


São chamados de pais apostólicos aqueles que tiveram contato
com os apóstolos, vivendo do final do século I até meados do século II,
sendo estes homens que escreveram cartas e outros textos escritos em
anos imediatamente posteriores aos livros do Novo Testamento, formam
o primeiro conjunto literário de textos cristãos. É possível dividi-los em
duas escolas hermenêuticas: a funcional e a tipológica.

14
1.2.1.1 Hermenêutica funcional
A pregação da igreja entendia a Escritura do AT nos termos da vinda
de Cristo. Isso se evidenciava pela atitude diante do AT. A lei e os profetas,
como também os acontecimentos e o culto de Israel, eram considerados
como parte da tradição cristã, porque se acreditava que eles davam
testemunho de Jesus Cristo.

O significado estava ligado à aplicação funcional da Escritura. Assim,


a Escritura explicava à igreja, principalmente com base nas palavras de
Jesus, o que ela deveria fazer. De maneira semelhante, os gnósticos se
voltavam para as palavras de Jesus em busca de autoridade, mas eram
considerados heréticos.

Clemente geralmente tomava os textos bíblicos em seu sentido literal


e, de maneira funcional, bem característica, aplicava-os à situação dos
coríntios.

Ele apresentava Jesus como um modelo de piedade (1.2), de ajuda


no sofrimento (2.1), de humildade (16.2) e de despojamento pessoal
(7.4; 12.7; 21.6; 49.6). Esses exemplos não vieram dos Evangelhos, mas
aparentemente de uma tradição em desenvolvimento, relacionada a Jesus.

1.2.1.2 Hermenêutica tipológica


No final do século II, o combate à heresia se tornou uma necessidade
para a continuidade da Igreja, assim a hermenêutica da apologia passava
a ter conotações tipológicas com o objetivo de demonstrar que o Deus de
Israel também era o Deus da igreja. O desafio incluía confirmar para os
gnósticos a continuidade entre os Testamentos.

Em pouco tempo, a interpretação tipológica do AT tornou-se


padrão para explicar as Escrituras no culto da igreja. Por exemplo,
a Epístola de Barnabé, um tratado escrito por volta de 135 d.C. em
Alexandria, afirmava que “os profetas, depois de obterem a graça dele
[Jesus Cristo], fizeram suas profecias relacionadas a ele”. Na Homilia

15
pascal, de Militão, escrita por volta de 170 d.C., o cordeiro pascal de
Êxodo 12 tipologicamente apontava para Cristo, o verdadeiro cordeiro
pascal. Assim, foi pela pregação da Igreja Primitiva que a exegese
tipológica inicial foi praticada. Mas essa abordagem não foi dominante
até meados do século II. (DOCKERY, 2005, p. 47-49)

1.2.2 Método alegórico


O primeiro na história da igreja a apresentar uma teoria de
interpretação bíblica foi Orígenes, da escola de Alexandria, no Egito,
falecido em 254 d.C.

Demonstrando influência recebida de Filo e Platão, elaborou seu


método que pode ser chamado de “alegórico”. Nele, o que realmente
interessava ao intérprete não era o que estava escrito no texto, mas, sim,
o que estava por trás dele. (GUSSO, 2011, p. 10)

O importante era buscar o significado oculto, também chamado de


mais profundo, pois esse é que era considerado o significado verdadeiro,
inspirado por Deus (FEE; STUART, 1997, p. 239). Essa conclusão de
que a Bíblia não foi feita para significar o que diz abertamente acabou
tornando-a semelhante a um objeto mágico de onde se extraíam mistérios
e “verdades”. Veja um exemplo da extravagante interpretação de Orígenes
citado por Robinson. Segundo este autor, Orígenes, ao interpretar o
Capítulo 6 de Josué, o relato da batalha de Jericó, (GUSSO, 2011, p. 10)
“sustentou que Josué representava Jesus, e a cidade de
Jericó representava o mundo. Os sete sacerdotes que levavam
trombetas ao redor da cidade representavam Mateus, Marcos,
Lucas, João, Tiago e Pedro. Raabe, a prostituta, representava a
Igreja, que é composta de pecadores; e o cordão vermelho que
ela exibiu para se livrar com toda sua casa, era o sangue de
Cristo”. (ROBINSON, 2002, p. 95)

Além da forma apresentada no parágrafo anterior, o método de


Orígenes apontava para a necessidade de se procurar pelo menos três
níveis de significados na Bíblia.

16
No primeiro nível, estava a busca do sentido literal, ou primário,
que não era levado muito a sério.

Espiritual

Psíquico ou moral

Literal

No segundo, buscava-se o significado psíquico ou moral,


relacionado com a vida religiosa do presente e, finalmente, o
terceiro, e mais importante para ele, o sentido espiritual, que dizia
respeito à vida futura e celestial. (FEE; STUART, 1997, p. 239)

Agostinho, que viveu entre 354 e 430 d.C., serve como exemplo
do que era capaz um intérprete de deduzir dos textos bíblicos nesse
período. Veja a interpretação de Lucas 10.30-37 que segue, criada por
Agostinho, a conhecida Parábola do Bom Samaritano. Ele, analisando o
texto, entendeu que:
O Homem que descia de Jerusalém para Jericó representa Adão.
Jerusalém é a cidade celestial da paz da qual Adão veio a cair.
Jericó significa a lua e aponta para a mortalidade Humana. Ela
nasce, desenvolve-se, mingua e morre. Os bandidos que atacam
Adão são o Diabo e seus anjos. Eles o despojam da imortalidade
e o espancam para persuadi-lo a pecar. Eles o abandonam quase
morto. O Sacerdote e o levita, os quais passam pelo homem sem
ajudá-lo são os ministros do Antigo Testamento que não podem
trazer salvação. O termo Samaritano significa tutor. Sendo assim
ele é uma referência ao próprio Jesus. As faixas colocadas sobre
os ferimentos significam a repreensão do pecado. O óleo é o
conforto da boa esperança e o vinho é a exortação para que se
trabalhe com um espírito fervoroso. O animal no qual o homem
estava montado significa a carne na qual Jesus apareceu entre
os homens. Ser colocado sobre o animal é crer na encarnação de
Cristo. A hospedaria para qual o homem foi levado é a igreja onde
as pessoas são confortadas em sua peregrinação de retorno
para a cidade celestial. As duas moedas que o Bom Samaritano
entregou para o hospedeiro é a promessa desta e do que virá, ou
ainda os dois principais sacramentos. O hospedeiro é o apóstolo
Paulo. (HAYES; HOLLADAY, 1987, p. 20)

17
Conheça, a seguir, quais são os pais apostólicos.

Clemente de Roma ~ 30-100 d.C.

Alguns acreditam que Clemente foi colaborador


do apóstolo Paulo.

Inácio de Antioquia ~ 55-117 d.C.

Foi bispo na igreja de Antioquia, na Síria. Escreveu


cartas às igrejas cristãs de sua época.

Justino, o mártir ~ 100-170 d.C.

Fundou uma escola de doutrina cristã em Roma


e escreveu algumas apologias.

Ireneu de Lyon ~ 130-200

Escreveu cartas contra o gnosticismo e outras


heresias.

Orígenes ~ 184-253

Um dos mais conhecidos, foi quem organizou


em Alexandria uma escola superior de Exegese
Bíblica.

18
Cipriano ~ 200-258

Redigiu tratados pastorais e cartas, 82 ao


todo, sendo 14 dirigidas a si mesmo.

Eusébio de Cesaréia ~ 265-339

Considerado o pai da história do cristianismo,


foi o primeiro a redigir escritos quanto à história
do cristianismo primitivo.

Tertuliano de Cartago ~ 150-230

Defendeu a doutrina da Trindade com grande


veemência.

Jerônimo ~ 325-378

Tradutor da Bíblia para o latim, versão também


conhecida como Vulgata.

Crisóstomo ~ 344-407

Eloquente, é conhecido por suas homilias,


suas renúncias aos prazeres deste mundo, e
pela Divina Liturgia.

19
Agostinho ~ 354-430

Um dos mais conhecidos pais apostólicos,


escreveu diversas obras que colaboraram para
o desenvolvimento teológico e filosófico do
Cristianismo.

Policarpo de Esmirna ~ 69-159 d.C.

Teria sido discípulo do apóstolo João

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encontradas no Wikimedia.

1.2.3 Escola de Antioquia


Surgiu como reação ao método de Orígenes e seus principais
expoentes foram Teodoro de Mopsuéstia (+ 429) e Crisóstomo (+ 407),
considerados, respectivamente, o maior exegeta e o maior pregador
da Igreja Antiga. A grande diferença entre a escola de Alexandria e a de
Antioquia residia no entendimento da inspiração bíblica. Os alexandrinos
entendiam a inspiração das Escrituras no sentido platônico de declarações
feitas num estado de êxtase. Era natural, por isso, que palavras ditas desse
modo tivessem que ser interpretadas misticamente e o seu significado
interior precisava ser trazido à luz.

Os da escola de Antioquia entendiam a inspiração como um


impulso divino conferido sobre a consciência e a inteligência do escritor,
sendo que a sua individualidade persistia, e que a sua atividade intelectual
permanecia sob controle. Por isso, era importante na interpretação dos
escritos a consideração dos hábitos, objetivos e métodos de cada autor.

O sentido literal tinha primazia, e era dele que deviam ser tiradas
lições morais; os sentidos tipológico e alegórico não eram excluídos, mas
se tornavam secundários. (FEE; STUART, 1997, p. 240)

20
Com certeza, a questão da opinião a respeito da inspiração, assim
como no passado, continua na atualidade a levar a interpretações
diferentes. Da mesma forma, aqueles que creem na inspiração verbal
tendem a encontrar significados ocultos na Bíblia, enquanto os que creem
na inspiração plenária, o impulso divino sobre os autores, buscam mais o
significado literal de cada passagem. (GUSSO, 2011, p. 10)

1.3 A interpretação bíblica Pós-Igreja Primitiva


A seguir há a continuação do resumo que vem sendo apresentado
de como a interpretação bíblica tem evoluído. O objetivo é apenas dar
um panorama geral, sem aprofundar nas várias escolas que surgiram no
decorrer do tempo. As leituras sugeridas poderão ajudá-lo a aprofundar-
se mais nestes conhecimentos.

1.3.1 Idade Média


A interpretação bíblica da Idade Média, ao menos no Ocidente,
deve mais a Alexandria do que a Antioquia. É claro que isto não deve ser
generalizado. Aqui e ali variava o grau em que a alegorização imperava
como princípio hermenêutico. Essa tensão pode ser detectada, por
exemplo, em grandes expoentes de um período ainda anterior, como
Jerônimo e Agostinho. Via de regra, porém, alguma forma de alegorismo
prevaleceu pelos próximos mil anos.

A Bíblia era interpretada em pelo menos 2 sentidos, chegando


esse número, às vezes, até a 7. O mais comum foi o chamado quádruplo
sentido, característica do catolicismo medieval: o sentido histórico-
literal, o alegórico (que chama à fé), o moral (que governa a conduta) e o
anagógico (que diz algo sobre o destino final dos fiéis).

Bernardo de Claraval, escritor prolífico do século XI, era adepto da


quadriga. Em sua obra Sobre o Amor a Deus, ele expõe o amor da Igreja a
Cristo interpretando Cantares no uso alegórico da quadriga:

21
Nem os judeus nem os pagãos sentem as dores do amor como
a Igreja, que diz: “Sustentai-me com passas, confortai-me com
maçãs, pois desfaleço de amor” [Ct 2.5]. Ela contempla o Rei
Salomão, com a coroa com a qual sua mãe o coroou no dia do
casamento; ela vê o unigênito do Pai carregando o fardo pesado
da sua cruz. Contemplando isto, a espada do amor traspassa sua
própria alma e ela clama: “Sustentai-me com passas, confortai-
me com maçãs, pois desfaleço de amor”. Os frutos que a esposa
colhe da Árvore da Vida no meio do jardim de seu Amado são
romãs [Ct 4.13], que tomam seu gosto do Pão da Vida, e sua cor
do sangue de Cristo. (LOPES, 2007, p. 150)

Entre o que se pode considerar de exceções, é relevante mencionar


Tomás de Aquino, que procurava dar primazia ao sentido primário, e a
escola de S. Vítor, em Paris, influenciada em parte pela exegese rabínica
medieval. Ambos os casos pertencem ao fim do período, ou seja, depois
de 1100 a.D. (FEE; STUART, 1997, p. 140–141)

1.3.2 Reforma
Ainda que desde o início do Cristianismo tenham sido feitos
alguns esforços para que a Bíblia fosse interpretada a partir de princípios
gramaticais, históricos e teológicos, a principal tentativa ocorreu no século
XVI, na época dos reformadores. Opondo-se à interpretação dos eruditos
patrísticos e medievais, os reformadores enfatizaram a necessidade de
interpretar a Bíblia em seu sentido literal, destacando esse significado
como a única fonte de autoridade em matéria de religião cristã. Assim, a
Bíblia que vinha sendo interpretada à luz da tradição, passa a ter prioridade
sobre ela e a julgá-la.

Martinho Lutero abandonou o método quádruplo de interpretação


que vinha sendo praticado desde a Idade Média, chamou o método
alegórico, zombeteiramente, de “truques de macaco”, que serviam apenas
para demonstrar a esperteza do exegeta, e passou a defender que o texto
deveria ser entendido em seu significado claro, dentro de seu contexto.
Seu objetivo era garantir que o texto guiaria o entendimento, e não uma
teologia que não se podia provar. (NEWPORT, 1987, p. 53)

22
Por isso ele enfatizou a necessidade do estudo da história e das
línguas originais da Bíblia e de se buscar o significado primário, permitindo-
se outros sentidos apenas quando o próprio texto apontava para isso.

Na disputa de Leipzig (1519), ele afirmou: Nenhum crente cristão pode


ser forçado a reconhecer qualquer autoridade além da Escritura Sagrada,
que é exclusivamente investida de direito divino (BRUCE, 1977, p. 30)

João Calvino foi considerado por todos o maior exegeta da


Reforma. Suas exposições abrangem quase todos os livros da Bíblia. Seus
princípios fundamentais foram os adotados por Lutero e Melanchton,
porém ele os superou pelo fato de haver praticado sua teoria. Achava
que o método alegórico era uma artimanha satânica para obscurecer o
sentido da Escritura. Acreditava firmemente na significação tipológica de
muitas coisas do Velho Testamento, mas não concordava com a opinião
de Lutero, segundo a qual Cristo podia ser encontrado em qualquer lugar
da Escritura. Além disso, reduziu o número de Salmos que poderiam
ser considerados messiânicos. Insistiu em que os profetas deviam ser
interpretados à luz das circunstâncias históricas. Segundo lhe parecia, a
virtude por excelência de um expositor era a lúcida brevidade. Além do
mais, considerava como “primeiro dever de um intérprete, permitir que o
autor diga o que realmente diz, ao invés de lhe atribuir o que pensamos
que devia dizer”. (BERKHOF, 1965, p. 30)

Os Católicos não progrediram no campo exegético durante a


Reforma. Reagindo contra os reformadores, insistiram que a interpretação
deveria ser feita com base na versão bíblica em latim, conhecida como
Vulgata, levando-se em conta a tradição da Igreja e dos primeiros
pensadores do Cristianismo, os chamados Pais da Igreja. Em outras
palavras, não foi dado o direito da interpretação particular, só a Igreja
poderia interpretar a Bíblia. (GUSSO, 2011, p. 14)

23
1.3.3 Período das confissões de fé
O período seguinte ao da Reforma pode ser chamado de “Período
das Confissões de Fé”.

Depois do Concílio de Trento, os protestantes começaram a redigir


seus próprios credos em defesa de seus ensinamentos.

Os protestantes não aceitavam submeter suas interpretações às


normas estabelecidas pelos concílios e papas, mas, ao mesmo tempo,
ainda que na teoria afirmassem que “a Escritura interpretava a Escritura”,
na prática corriam o sério risco de terem suas interpretações atreladas
às confissões de fé, que surgiam em grande número, como resultado
das muitas divisões que havia na Igreja, problema cada vez maior na
modernidade.

Nessa época, a interpretação acabou ficando atrelada às Confissões


de Fé e, naturalmente, submissa à dogmática (Teologia Decretada),
mais conhecida nos meios evangélicos como Teologia Sistemática. Os
esforços empreendidos no estudo bíblico interpretativo, nessa época, não
passavam de uma busca de textos, provas para as declarações de fé de
antemão estabelecidas. Nessa busca, muitas vezes, as interpretações
foram “forçadas” para apoiar aquilo que já estava determinado nas
confissões como sendo verdade em matéria de fé. (GUSSO, 2011, p. 14)

Foi nesse período, como uma reação aos intérpretes confessionais,


que surgiu o movimento conhecido como Pietismo, que não se satisfaz
com a mera exatidão e doutrina fria, mas a edificação.

O termo “edificação” não precisa, de antemão, ser entendido


erroneamente no sentido de beatice superficial, mas significa a
fundamentação da existência cristã e da comunidade cristã na fé em
Cristo, mediada pela Escritura. (GUNNEWEG, 2003, p. 61)

Um de seus principais representantes, em matéria de interpretação


bíblica, foi Johann Albrecht Bengel. Ele não se limitava a interpretar e expor
os textos, mas, principalmente, a exortar a aplicação das mensagens à
vida pessoal. Os seguintes passos metodológicos eram levados em conta
na sua interpretação:

24
• O estabelecimento do texto;
• A busca dos significados das palavras;
• O contexto próximo;
• A verificação do contexto bíblico;
• Auxílio obtido na verificação do fundo histórico;
• O significado geral do texto como um todo;
• Aplicação homilética.
Ele afirmava: “Aplique todo o seu eu ao texto e todo o texto a você
mesmo.” (KISTEMAKER, 1980, p. 167)

1.3.4 Período histórico-crítico


Um dos principais motivos que levou ao surgimento do estudo
histórico-crítico da Bíblia foi o desejo de adequação à ênfase científica
dada nos meios acadêmicos nos séculos dezoito e dezenove. Com
a pressuposição de que o ser humano era o centro do universo e que
tudo deveria ser julgado por sua racionalidade, as antigas interpretações,
baseadas na fé, foram dando lugar a métodos considerados científicos.
Assim, a inspiração, bem como a infalibilidade das Escrituras, foi negada
e a Bíblia passou a ser interpretada como qualquer outro livro. Retirando
dela o valor sobrenatural, os intérpretes passaram a, apenas, discutir
questões históricas e críticas que a envolviam, o que, certamente, não
demonstrou valor prático para a Igreja.

O método histórico-crítico tirou da Bíblia o status de Palavra de


Deus e a transformou em um simples testemunho de fé do povo de Israel
e da Igreja Primitiva, dando assim origem a um liberalismo teológico que
vê os milagres como mitos ou eventos que podem ser explicados pela
própria natureza, e autoridade das Escrituras restrita a princípios éticos e
morais ora válidos universalmente, ora restritos ao tempo e espaço onde
foram escritos. (GUSSO, 2011, p. 15)

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1.3.5 Pós-Modernidade
O pensamento pós-moderno rejeita o conceito da modernidade de
que existam verdades absolutas e fixas. Toda verdade é relativa e depende
do contexto social e cultural em que as pessoas vivem. Isso inclui verdades
religiosas. Conceitos como “Deus” são totalmente relativos. Cada um
percebe a verdade de sua própria forma. Não existe “verdade”, mas sim
“verdades” que não se contradizem, apenas complementam-se. A única
“inverdade” que existe é alguém insistir que existe verdade fixa e absoluta!
Para a mente pós-moderna, a mensagem cristã é muito ofensiva, pois
apresenta Jesus Cristo como sendo o único caminho e o Evangelho como
sendo a verdade. (LOPES, 2007, p. 197)

Influenciados por esse tipo de pensamento, lá pela metade do


século 20, começaram a surgir várias teorias hermenêuticas que podem
ser classificadas como pós-modernas. Elas são o resultado da influência
do trabalho de, entre outros, F. Schleiermacher, R. Bultmann, F. Saussure,
K. Barth, H-G Gadamer e J. Derrida. Elas se dividem em muitas, mas
possuem alguns pontos em comum, entre eles estes dois de destaque:

Saiba Mais
Um livro excelente para ajudar a entender essa época histórica
da interpretação, que entre outros pontos destaca a “morte” do
autor e a necessidade de “desconstrução” do texto, é o de Kevin
Vanhoozer, o Há um significado neste texto?: interpretação
bíblica: os enfoques contemporâneos. Nele, do ponto de vista da
teologia reformada, o autor apresenta um panorama do período,
como se chegou a essa situação e quais as consequências para
a interpretação. Seu enfoque, ainda que esteja baseado em vários
autores e correntes, destaca principalmente a obra de Derrida.

1) a ênfase na sincronia do texto e não na diacronia, ou seja, procura


analisar o texto em si, ignorando sua história;

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2) partem do princípio de que o texto possui múltiplos sentidos e
não apenas um. Na verdade, essa abordagem parece ser uma espécie de
retorno à alegoria, em que os sentidos do texto dependem da criatividade
do intérprete e não da intenção dos autores.

Quadro – O deslocamento do sentido

AUTOR TEXTO LEITOR

Reforma e Ortodoxia Método Histórico-Crítico Novas Hermenêuticas


Protestantes (Modernidade) (Pós-Modernidade)

Busca da intenção do autor Pesquisa visando reconstruir Abandono da intenção autoral


como chave para compreensão a formação do texto bíblico e do processo formativo do texto
do texto bíblico por meio de métodos críticos do leitor com o texto

Fonte: LOPES, 2007, p. 201

#pracegover: Acima, há três círculos: o texto ao centro, o autor do lado esquerdo com
uma seta apontando para o texto e o leitor do lado direito com uma seta apontando
para o texto. Abaixo do círculo autor, lê-se o seguinte texto: Reforma e ortodoxia
protestantes. Busca da intenção do autor humano como chave para a compreensão
do texto bíblico. Abaixo do círculo texto, lê-se o texto: Método histórico-crítico
(modernidade). Pesquisa visando reconstruir a formação do texto bíblico por meio
de métodos críticos. Abaixo do círculo leitor, lê-se o texto: Novas hermenêuticas
(Pós-Modernidade). Abandono da intenção autoral e do processo formativo do texto e
foco na interação do leitor com o texto.

1.4 Síntese
Resumindo esta unidade é possível dizer que a atividade interpretativa
relativa à Bíblia existe desde que os textos bíblicos existem. Assim, para
a compreensão de partes do Novo Testamento é importante saber como
é que os Fariseus e Saduceus interpretavam a Bíblia que possuíam, bem
como a opinião de Jesus à forma que eles agiam. Também é relevante
conhecer as formas de interpretação utilizadas no período que seguiu logo
depois da época do Novo Testamento, percebendo que o entendimento do
que seja a inspiração bíblica influi diretamente na maneira de se interpretar
os textos da Bíblia.

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Saiba Mais
Sugestão de leitura
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus intérpretes. São
Paulo: Cultura Cristã, 2007, p.107-139.

Ainda sobre essa breve descrição do Período Pós-Moderno, é


possível afirmar que na interpretação pós-moderna errado não existe,
pois todos estão certos, sejam quais forem as suas interpretações para
determinado texto, pois tudo depende da criatividade do leitor, com exceção,
é claro, daquele que crê na existência do certo e do errado, este, para os
pós-modernos convictos, está sempre errado. (GUSSO, 2011, p. 15)

Saiba Mais
Para um aprofundamento no tema, recomenda-se as seguintes
leituras:
ANGLADA, Paulo. Introdução à hermenêutica reformada:
correntes históricas, pressuposições, princípios e métodos
linguísticos. Ananindeau: Knox Publicações, 2006, p. 25-106.
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus intérpretes: uma
breve história da interpretação. São Paulo: Cultura Cristã, 2007,
p.141-237.
BERKHOF, L. (1965). Princípios de Interpretação Bíblica. Rio de
Janeiro: Casa Publicadora Batista.
Obs.: O ideal para um estudo avançado da história da
hermenêutica é uma leitura completa desse livro de Augustus
Nicodemus Lopes, ou Berkhof.

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