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FABAPAR
F A C U L D A D E S B A T I S TA D O P A R A N Á
Paschoal Piragine Júnior
Hermenêutica Bíblica
1a ed.
Curitiba
2019
© Os direitos de autoria e patrimônio são reservados ao(s) autor(es) da obra e a Faculdades
Batista do Paraná (FABAPAR). É expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta
obra sem autorização da FABAPAR.
Getão, Eduardo.
P667 Piragine Júnior,
Estudos de Paschoal.
missões / Eduardo Getão. – 1.ed. – Curitiba : Núcleo de
Publicações FABAPAR, 2019.
Hermenêutica
105 p. bíblica. / Paschoal Piragine Júnior. – 1. ed. –
Curitiba: Núcleo de Publicações FABAPAR, 2019.
91. p.
ISBN: 978-85-89487-04-7
ISBN: 978-85-89487-18-4
1.Missões – Igreja. 2. Evangelismo. 3. Missões Paulinas. I. Faculdades
1. do Hermenêutica
Batista Paraná. II. Título.(Religião). 2. Bíblia – Hermenêutica. I.
Título.
CDD (21. ed.) – 266
CDD: 220.601
5
Prefácio
Hermenêutica bíblica é o estudo da interpretação da Bíblia. O termo
procede da palavra grega “ηρμηνευειν” e seus derivados que significa
declarar, anunciar, interpretar ou esclarecer e, por último, traduzir.
(CORETH, 1973, p. 1)
Saiba Mais
O conceito de “signo” foi amplamente difundido pela semiótica,
sendo esta a teoria geral dos signos e sua relação com a
comunicação.
O signo tem três partes essenciais: o significante (que seria a parte
material do signo, como um ícone ou uma palavra), o significado
(ou seja, a imagem mental gerada na mente de quem ouviu ou
leu a palavra ou ícone) e o referente (o objeto em si, seja ele real
ou imaginário). Para entender melhor a semiótica, recomenda-se
a leitura de Charles S. Pierce, um dos maiores autores da teoria.
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Mas a grande questão é por que é preciso técnicas para interpretar
a Bíblia? Não é um preceito evangélico o livre exame das Escrituras? Não
há a crença protestante de que o Espírito Santo pode iluminar os crentes
para entender as Escrituras Sagradas?
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Além destes, o judaísmo oficial em Jerusalém, cujos julgamentos
internos eram decididos pelo sinédrio tendo como presidente o sumo
sacerdote. Esse conselho consistia em dois partidos principais: os
saduceus e os fariseus. (REVENTLOW, 2009, p. 105)
1.1.1 Saduceus
Para o grupo dos chamados saduceus, os quais compunham a parte
principal da classe sacerdotal, apenas a primeira divisão do Cânon Hebraico
tinha autoridade normativa. Para eles, só a porção atualmente chamada de
Pentateuco, formada pelos livros de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio, a chamada Torá, era considerada palavra de Deus.
Saiba Mais
Para conhecer um pouco mais sobre os saduceus e outros grupos
religiosos da época em questão, leia o livro Os partidos religiosos
hebraicos da época neotestamentária, de Kurt Schubert.
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Porque os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo,
nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa.
1.1.2 Fariseus
Estes aceitavam as três divisões do AT: lei, profetas e escritos, além
da tradição como sendo palavra de Deus. (GUSSO, 2011, p. 8)
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Glossario
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1.1.3 Midrash
Alguns dos primeiros comentários sobre os livros da Torá
(Midrashim) fornecem informações sobre o conteúdo da interpretação
rabínica. Esses comentários originaram-se durante o chamado período
Tannaítico (o termo hebraico é tanna “professor”: a imagem era de
comprimir os ensinos na mente pela memorização mecânica). Esse
período começou no início do terceiro século d.C. Eles expressavam a
tradição oral na forma de ditos de rabinos transmitidos oralmente, cujas
interpretações de certos preceitos bíblicos muitas vezes conflitavam.
(REVENTLOW, 2009, p. 107)
1.1.4 Jesus
A interpretação de Jesus, ainda que levasse em conta o Cânon
em sua totalidade, da mesma forma que os fariseus, diferia dos padrões
judaicos normais. Sua interpretação deixava de lado o literalismo extremo
do texto buscando o “espírito” do mesmo. Ia, também, contra os saduceus,
que ficavam com apenas parte das Escrituras (Mt 22.23-33) e, ao mesmo
tempo, censurava os fariseus que iam além delas, dando mais valor à
tradição do que aos Textos Sagrados (Mt 15.1-9). (GUSSO, 2011, p. 8)
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1.1.5 Os apóstolos e autores do Novo Testamento
Os escritores do Novo Testamento compartilham algumas
características gerais do uso das Escrituras com os rabinos e essênios de
sua época. Ao citar as Escrituras, eles geralmente fazem um comentário
ligeiro visando aplicar o texto à situação presente. Raramente estão
envolvidos em exegese do texto, eles visam mais à aplicação do texto.
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1.2.1.1 Hermenêutica funcional
A pregação da igreja entendia a Escritura do AT nos termos da vinda
de Cristo. Isso se evidenciava pela atitude diante do AT. A lei e os profetas,
como também os acontecimentos e o culto de Israel, eram considerados
como parte da tradição cristã, porque se acreditava que eles davam
testemunho de Jesus Cristo.
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pascal, de Militão, escrita por volta de 170 d.C., o cordeiro pascal de
Êxodo 12 tipologicamente apontava para Cristo, o verdadeiro cordeiro
pascal. Assim, foi pela pregação da Igreja Primitiva que a exegese
tipológica inicial foi praticada. Mas essa abordagem não foi dominante
até meados do século II. (DOCKERY, 2005, p. 47-49)
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No primeiro nível, estava a busca do sentido literal, ou primário,
que não era levado muito a sério.
Espiritual
Psíquico ou moral
Literal
Agostinho, que viveu entre 354 e 430 d.C., serve como exemplo
do que era capaz um intérprete de deduzir dos textos bíblicos nesse
período. Veja a interpretação de Lucas 10.30-37 que segue, criada por
Agostinho, a conhecida Parábola do Bom Samaritano. Ele, analisando o
texto, entendeu que:
O Homem que descia de Jerusalém para Jericó representa Adão.
Jerusalém é a cidade celestial da paz da qual Adão veio a cair.
Jericó significa a lua e aponta para a mortalidade Humana. Ela
nasce, desenvolve-se, mingua e morre. Os bandidos que atacam
Adão são o Diabo e seus anjos. Eles o despojam da imortalidade
e o espancam para persuadi-lo a pecar. Eles o abandonam quase
morto. O Sacerdote e o levita, os quais passam pelo homem sem
ajudá-lo são os ministros do Antigo Testamento que não podem
trazer salvação. O termo Samaritano significa tutor. Sendo assim
ele é uma referência ao próprio Jesus. As faixas colocadas sobre
os ferimentos significam a repreensão do pecado. O óleo é o
conforto da boa esperança e o vinho é a exortação para que se
trabalhe com um espírito fervoroso. O animal no qual o homem
estava montado significa a carne na qual Jesus apareceu entre
os homens. Ser colocado sobre o animal é crer na encarnação de
Cristo. A hospedaria para qual o homem foi levado é a igreja onde
as pessoas são confortadas em sua peregrinação de retorno
para a cidade celestial. As duas moedas que o Bom Samaritano
entregou para o hospedeiro é a promessa desta e do que virá, ou
ainda os dois principais sacramentos. O hospedeiro é o apóstolo
Paulo. (HAYES; HOLLADAY, 1987, p. 20)
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Conheça, a seguir, quais são os pais apostólicos.
Orígenes ~ 184-253
18
Cipriano ~ 200-258
Jerônimo ~ 325-378
Crisóstomo ~ 344-407
19
Agostinho ~ 354-430
Todas as imagens utilizadas neste recurso estão sob Domínio Público e podem ser
encontradas no Wikimedia.
O sentido literal tinha primazia, e era dele que deviam ser tiradas
lições morais; os sentidos tipológico e alegórico não eram excluídos, mas
se tornavam secundários. (FEE; STUART, 1997, p. 240)
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Com certeza, a questão da opinião a respeito da inspiração, assim
como no passado, continua na atualidade a levar a interpretações
diferentes. Da mesma forma, aqueles que creem na inspiração verbal
tendem a encontrar significados ocultos na Bíblia, enquanto os que creem
na inspiração plenária, o impulso divino sobre os autores, buscam mais o
significado literal de cada passagem. (GUSSO, 2011, p. 10)
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Nem os judeus nem os pagãos sentem as dores do amor como
a Igreja, que diz: “Sustentai-me com passas, confortai-me com
maçãs, pois desfaleço de amor” [Ct 2.5]. Ela contempla o Rei
Salomão, com a coroa com a qual sua mãe o coroou no dia do
casamento; ela vê o unigênito do Pai carregando o fardo pesado
da sua cruz. Contemplando isto, a espada do amor traspassa sua
própria alma e ela clama: “Sustentai-me com passas, confortai-
me com maçãs, pois desfaleço de amor”. Os frutos que a esposa
colhe da Árvore da Vida no meio do jardim de seu Amado são
romãs [Ct 4.13], que tomam seu gosto do Pão da Vida, e sua cor
do sangue de Cristo. (LOPES, 2007, p. 150)
1.3.2 Reforma
Ainda que desde o início do Cristianismo tenham sido feitos
alguns esforços para que a Bíblia fosse interpretada a partir de princípios
gramaticais, históricos e teológicos, a principal tentativa ocorreu no século
XVI, na época dos reformadores. Opondo-se à interpretação dos eruditos
patrísticos e medievais, os reformadores enfatizaram a necessidade de
interpretar a Bíblia em seu sentido literal, destacando esse significado
como a única fonte de autoridade em matéria de religião cristã. Assim, a
Bíblia que vinha sendo interpretada à luz da tradição, passa a ter prioridade
sobre ela e a julgá-la.
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Por isso ele enfatizou a necessidade do estudo da história e das
línguas originais da Bíblia e de se buscar o significado primário, permitindo-
se outros sentidos apenas quando o próprio texto apontava para isso.
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1.3.3 Período das confissões de fé
O período seguinte ao da Reforma pode ser chamado de “Período
das Confissões de Fé”.
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• O estabelecimento do texto;
• A busca dos significados das palavras;
• O contexto próximo;
• A verificação do contexto bíblico;
• Auxílio obtido na verificação do fundo histórico;
• O significado geral do texto como um todo;
• Aplicação homilética.
Ele afirmava: “Aplique todo o seu eu ao texto e todo o texto a você
mesmo.” (KISTEMAKER, 1980, p. 167)
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1.3.5 Pós-Modernidade
O pensamento pós-moderno rejeita o conceito da modernidade de
que existam verdades absolutas e fixas. Toda verdade é relativa e depende
do contexto social e cultural em que as pessoas vivem. Isso inclui verdades
religiosas. Conceitos como “Deus” são totalmente relativos. Cada um
percebe a verdade de sua própria forma. Não existe “verdade”, mas sim
“verdades” que não se contradizem, apenas complementam-se. A única
“inverdade” que existe é alguém insistir que existe verdade fixa e absoluta!
Para a mente pós-moderna, a mensagem cristã é muito ofensiva, pois
apresenta Jesus Cristo como sendo o único caminho e o Evangelho como
sendo a verdade. (LOPES, 2007, p. 197)
Saiba Mais
Um livro excelente para ajudar a entender essa época histórica
da interpretação, que entre outros pontos destaca a “morte” do
autor e a necessidade de “desconstrução” do texto, é o de Kevin
Vanhoozer, o Há um significado neste texto?: interpretação
bíblica: os enfoques contemporâneos. Nele, do ponto de vista da
teologia reformada, o autor apresenta um panorama do período,
como se chegou a essa situação e quais as consequências para
a interpretação. Seu enfoque, ainda que esteja baseado em vários
autores e correntes, destaca principalmente a obra de Derrida.
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2) partem do princípio de que o texto possui múltiplos sentidos e
não apenas um. Na verdade, essa abordagem parece ser uma espécie de
retorno à alegoria, em que os sentidos do texto dependem da criatividade
do intérprete e não da intenção dos autores.
#pracegover: Acima, há três círculos: o texto ao centro, o autor do lado esquerdo com
uma seta apontando para o texto e o leitor do lado direito com uma seta apontando
para o texto. Abaixo do círculo autor, lê-se o seguinte texto: Reforma e ortodoxia
protestantes. Busca da intenção do autor humano como chave para a compreensão
do texto bíblico. Abaixo do círculo texto, lê-se o texto: Método histórico-crítico
(modernidade). Pesquisa visando reconstruir a formação do texto bíblico por meio
de métodos críticos. Abaixo do círculo leitor, lê-se o texto: Novas hermenêuticas
(Pós-Modernidade). Abandono da intenção autoral e do processo formativo do texto e
foco na interação do leitor com o texto.
1.4 Síntese
Resumindo esta unidade é possível dizer que a atividade interpretativa
relativa à Bíblia existe desde que os textos bíblicos existem. Assim, para
a compreensão de partes do Novo Testamento é importante saber como
é que os Fariseus e Saduceus interpretavam a Bíblia que possuíam, bem
como a opinião de Jesus à forma que eles agiam. Também é relevante
conhecer as formas de interpretação utilizadas no período que seguiu logo
depois da época do Novo Testamento, percebendo que o entendimento do
que seja a inspiração bíblica influi diretamente na maneira de se interpretar
os textos da Bíblia.
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Saiba Mais
Sugestão de leitura
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus intérpretes. São
Paulo: Cultura Cristã, 2007, p.107-139.
Saiba Mais
Para um aprofundamento no tema, recomenda-se as seguintes
leituras:
ANGLADA, Paulo. Introdução à hermenêutica reformada:
correntes históricas, pressuposições, princípios e métodos
linguísticos. Ananindeau: Knox Publicações, 2006, p. 25-106.
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus intérpretes: uma
breve história da interpretação. São Paulo: Cultura Cristã, 2007,
p.141-237.
BERKHOF, L. (1965). Princípios de Interpretação Bíblica. Rio de
Janeiro: Casa Publicadora Batista.
Obs.: O ideal para um estudo avançado da história da
hermenêutica é uma leitura completa desse livro de Augustus
Nicodemus Lopes, ou Berkhof.
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