Artigo Joinpp 2021 PDF
Artigo Joinpp 2021 PDF
Artigo Joinpp 2021 PDF
RESUMO
O Programa “Morar Feliz” no município de Campos dos
Goytacazes/RJ, desde 2009 com recursos advindos dos royalties do
petróleo, vem viabilizando moradias populares a diversas famílias que
viviam de aluguel social e/ou em áreas consideradas de risco. O
presente artigo objetiva fornecer elementos de análise sobre os
impactos deste programa sobre a vida de mulheres empobrecidas
chefes de família, trazendo o debate sobre o direito à cidade e acesso
a outras políticas, sob a perspectiva da questão de gênero e território.
Constatou-se que estes conjuntos estão atualmente distantes do
acesso pleno à cidade em sua totalidade, pois estão marcados pela
dificuldade no que tange à mobilidade urbana e pela ausência de
serviços públicos essenciais à vida.
ABSTRACT
________________________
________________________
² “A
noção de risco não implica somente a iminência imediata de um perigo, mas quer dizer também
a possibilidade de, num futuro próximo, ocorrer uma perda de qualidade de vida pela ausência de
uma ação preventiva” (SPOSATI, 2001, p.69).
Deste modo, a prioridade pela mulher se dá pelas peculiaridades que a
mesma possui na relação de vínculos afetivos instituídos com os demais
membros da família, na responsabilidade de assegurar abrigo, da dedicação à
saúde, à educação e no cuidado com o lar e com os/as filhos/as. Tradicionalmente
tal compreensão costuma ser levada em conta pelos governos na formulação de
políticas públicas ou execução de projetos.
Essas famílias foram removidas das supostas áreas de risco da cidade, e
realocadas nos 14 conjuntos habitacionais existentes a fim de lhes garantir
moradias de qualidade. No entanto, o que deveria solucionar um determinado
problema serviu como agente catalisador do agravamento de outros problemas
como a segregação dessas famílias, os altos índices de violência nesses
territórios, a ausência de serviços públicos essenciais à vida e o não acesso pleno
à cidade, tendo em vista que os conjuntos habitacionais foram construídos em
locais afastados do centro, na periferia do município, onde os lotes imobiliários
são mais baratos (CORTES, 2020).
Logo, no imaginário social a execução da função das políticas deve ser
breve e de urgência, quer dizer, que seja eficiente em suavizar o sofrimento do
sujeito, mas não de atingir a responsabilidade em responder a um direito de
cidadania, estabelecendo resultados prolongados (SPOSATI, 2007).
É importante ressaltar, que o novo local de moradia transformou todas as
esferas da vida dessas famílias reassentadas. Estas, foram direcionadas para
diferentes ruas no mesmo conjunto habitacional ou diferentes conjuntos , não
respeitando os laços pessoais, sociais e afetivos desses indivíduos.
A mulher/mãe chefe de família, mesmo inserida no mercado de trabalho,
muitas vezes depende de uma rede de apoio, que parte de parentes próximos e
amigos que auxiliam nos cuidados com os filhos. As relações com a vizinhança
também são importantes. Entretanto, com as mudanças abruptas, estes laços
foram rompidos.
Para além de todo agravante relacionado à objetividade e subjetividade dos
indivíduos, é importante destacar os impactos relacionados ao mundo do trabalho
e renda dessas mulheres. Isso ocorreu, pois muitas moradoras perderam seus
meios de produção, já que trabalhavam no seu próprio bairro de origem ou em
suas imediações, como babás, empregadas domésticas, trabalhadoras do
comércio ou vendiam mercadorias de revistas de cosméticos para vizinhança,
como fonte de renda principal ou complementar.
Quando não afastadas do trabalho, essas mulheres tiveram que se
submeter ao precário, caro e irregular transporte público para se locomover pela
cidade. Muitos(as) trabalhadores(as), por trabalharem sem direito ao vale
transporte, optaram por buscar novas formas de inserção no mercado, já que os
baixos salários não compensavam a subtração para arcar com o transporte
público (CORTES, 2020). Deixar de trabalhar é a última opção por conta das
condições de pobreza, então muitas mulheres acabam se sujeitando a trabalhos
com longas jornadas, condições precárias, sem direitos e com baixos salários.
Para além disso, é indispensável ressaltar que muitas famílias perderam o
benefício do Programa Bolsa Família, visto que não conseguiram matricular suas
crianças nas escolas, o que é uma condicionalidade do programa.
Todas essas questões afetam não apenas as condições materiais e de
subsistência dessas famílias chefiadas exclusivamente por mulheres, afetam
também sua própria convivência e organização.
A desapropriação territorial promovida pela política habitacional do
município de campos, não só retirou a base territorial dos expropriados e os seus
meios de trabalho, como também potencializou uma série de outras
expropriações contemporâneas, representadas pelas expropriações dos direitos,
notadamente, conhecidas como as expropriações secundárias (CORTES, 2020).
A partir disso, é necessário que o Estado ofereça uma rede de serviços que
de fato atendam às necessidades e demandas dessas famílias, com o intuito de
evitar o rompimento de laços familiares e violações de direitos (REGO, 2017).
É fundamental compreendermos que, a garantia do direito à moradia e a
cidade às mulheres é essencial para a realização de suas atividades do dia a dia
e, inclusive, para a promoção da autonomia em todas as esferas da sua vida e
para a efetivação de outros direitos. Devendo-se levar em consideração todas as
adversidades vivenciadas por um grande número de mulheres,
predominantemente negras, principais provedoras do sustento dessas famílias.
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALVES, Priscila Viana. Programa morar feliz: entre a política pública habitacional
segregação socioespacial no município de Campos dos Goytacazes-RJ. XIII
Encontro Nacional de Geógrafos. São Luís: Jul. 2016. Disponível em:
<http://www.eng2016.agb.org.br/resources/anais/7/1468289418_ARQUIVO_ArtigoE
NG2016_Priscila.pdf>. Acesso em: 25 Jul.2021.
CORTES, Thaís Lopes. O outro lado do “morar feliz” em Campos dos Goytacazes/RJ:
a oficialização da expropriação pela retórica do “risco”. O Social em Questão, vol. 23,
n. 48. Rio de Janeiro: 2020. p. 295-316. Disponível em:
<https://www.redalyc.org/jatsRepo/5522/552264320012/html/index.html>. Acesso
em: 22 Jul. 2021.
CRUZ, José Luiz Vianna da. Origem, natureza e persistência das desigualdades
sociais no Norte-Fluminense. In: Formação Histórica e Econômica do Norte
Fluminense. RJ: Ed. Garamond. 2006.
MELO, Hildete Pereira de. Gênero e pobreza no Brasil. CEPAL. Brasília: 2005. p.
1-47. Disponível em: <www.observatoriodegenero.gov.br/menu/...artigos.../genero-
e-pobreza-no- brasil/>.