Olhares Sobre Manaus
Olhares Sobre Manaus
Olhares Sobre Manaus
MANAUS
Atributos e qualidades que
conferem valor ao Centro
Histórico
Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Amazonas – Iphan-AM
OLHARES SOBRE MANAUS: Atributos e qualidades que conferem valor ao Centro Histórico
MANAUS -AM
IPHAN
2020
Ficha técnica
PRESIDENTE DA REPÚBLICA CONSULTOR DA UNESCO
Jair Messias Bolsonaro Antônio Miguel Lopes de Souza
Jaraqui e mururé
Cunhantã e curimim
Banzeiro no igarapé
APRESENTAÇÃO .............................................................................................................................. 6
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 8
Apresentação
Aprimorar a gestão do Patrimônio Cultural tem sido um dos grandes desafios do
IPHAN, que no ano de 2020 completou 83 anos.
O Centro Histórico de Manaus foi tombado pelo IPHAN em 2010, através da
Notificação de Tombamento do Centro Histórico de Manaus, publicada no Diário Oficial da
União nº 222, de 22.11.2010, Seção 3, Página 18 – Processo de Tombamento 1614-T-10, tendo
a superintendência do Amazonas iniciado sua atuação no território, utilizando-se das
diretrizes elencadas no dossiê do tombamento. Desta forma, durante o tempo transcorrido, a
equipe do IPHAN/AM pôde analisar, pela Portaria nº 420 de 22 de dezembro de 2010, diversas
solicitações de intervenções na área, tendo atuado ainda, na sua vigilância, através da Portaria
nº 187, de 11 de junho de 2010.
Em 2018, um ano após a confirmação do tombamento Federal pelo Supremo Tribunal
Federal, iniciou-se os trabalhos de elaboração de uma normativa do Centro Histórico, esforço
este que intensificou-se com a publicação da Política do Patrimônio Material pelo DEPAM, no
mesmo ano, e passadas as dificuldades estruturais da Superintendência do Amazonas, com o
ingresso de novos servidores, a partir de maio de 2019.
É importante destacar, que a experiência adquirida na salvaguarda de 5 bens
registrados no Estado do Amazonas, foi fundamental para a ampliar a compreensão de
apropriação social e sustentabilidade dos bens culturais materiais. Foi, portanto, na lógica de
incorporar a imaterialidade no “leque” dos valores do território, que se desenvolveu este
trabalho.
Sendo assim, a partir de orientações e provocações feitas por Antônio Miguel Lopes de
Sousa, consultor da UNESCO, foi que o historiador Matheus Cássio Blach e o antropólogo
Mauro Augusto Dourado Menezes, técnicos do IPHAN/AM, juntamente com os estagiário da
Universidade Estadual do Amazonas - UEA, foram às ruas compreender como as pessoas e/ou
os coletivos se relacionavam com os bens culturais, conferindo-os, inclusive, novos
significados
Desta forma, as qualidades, potencialidades e problemas informados na pesquisa,
elencados neste trabalho, auxiliaram na elaboração da narrativa da preservação e valorização
do território, dando subsídios à construção multidisciplinar de parâmetros para as novas
7
Karla Bitar
Superintendente do Iphan no Amazonas
8
Introdução
[...]todas as cidades e em especial as cidades tombadas, mais do
que o produto das características estéticas, são documentos
históricos devendo informar sobre a vida e a trajetória das
sociedades que as construíram [...] os sítios históricos estão
integrados no permanente processo de evolução e readaptação
social das cidades levando à necessidade de se manter o
equilíbrio entre os valores do passado e do presente diante dos
objetivos da preservação. (BRASIL, 2007, p. 43).
Lugares são espaços físicos imbuídos de significação cultural, aos quais são
atribuídos valores. No Brasil, o termo se integrou definitivamente ao
vocabulário patrimonial em 2000, a partir do Decreto nº 3.551 [...] A
espacialização opera como uma unidade que agrega os referenciais tangíveis
e intangíveis; e estes existem de determinado modo porque se realizam
naquele espaço. Essa é a dimensão múltipla que a categoria procura
abranger. (TEIXEIRA, Luana. S/d).
Desse modo, buscando superar os desafios colocados pelas limitações das pesquisas
de cunho quantitativo, a pesquisa qualitativa:
Assim, nas últimas décadas, foram desenvolvidas novas concepções teóricas que
levaram a uma aproximação das análises qualitativas. “Contestou-se a eficiência das minúcias
de uma análise de frequência, como prova de objetividade e de cientificidades”
(CONSTANTINO, 2004 p.164), buscando maior profundidade interpretativa no trato das
fontes. Ocorreu o desenvolvimento de uma nova metodologia que atende à “[...] reivindicação
do individual, do subjetivo, do simbólico como dimensões necessárias e legítimas da análise
histórica” (CARDOSO; VAINFAS, 1997, p. 22-3).
13
Além do mais, Le Goff (2003) ainda defende uma ampliação do conceito de documento.
Assim, além do documento escrito e oficial, diversos outros tipos de registros passam a ser
considerados fontes legítimas para a pesquisa histórica e social, como fontes orais,
audiovisuais, fotográficas e pictóricas, dentre inúmeras outras.
Assim, o autor demonstra que é necessário questionar os documentos, perceber a
informação que não está lá, óbvia, “estampada”, escrita e registrada, e sim na sua
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intencionalidade, na sua relação com o meio no qual foi produzido. Cabe aos pesquisadores
perceberem os indícios que revelam as intencionalidades dos documentos e não serem
ingênuos diante de tais construções.
determinados bens culturais têm nos aspectos da vida cotidiana no Centro de Manaus bem
como questionar os porquês das presenças, ausências e das omissões.
No entanto, é importante lembrar que toda pesquisa é caracterizada também por
lacunas, seja pela indisponibilidade de fontes para dar respostas aos questionamentos
levantados; seja pelas escolhas feitas pelos pesquisadores a fim de atender certo cronograma
ou recorte temático. Aqui as lacunas são exemplificadas, sobretudo, pelo curto espaço de
tempo para realizar o levantamento de dados. Tendo sido iniciado em outubro de 2019, com
previsão de finalização em novembro, prorrogado até dezembro. Já o prazo para entrega do
relatório final foi para final de janeiro de 2020. Ressalta-se dessa forma que, mesmo
aumentando o tempo de pesquisa de dois para três meses, considera-se ainda muito restrito
para apreender de forma satisfatória, os olhares sobre a diversidade do Patrimônio Cultural
do Centro Histórico de Manaus. Assim, considera-se que o resultado dessa pesquisa se trata,
na verdade, de um dossiê de pesquisa com alguns apontamentos prévios a respeito das
apropriações sociais sobre o Centro de Manaus.
Além do mais, as conclusões, afirmações e as “verdades científicas” expressas como
resultados do trabalho devem ser consideradas a partir de seu contexto de produção. Se as
premissas ligadas à expressão documento-monumento foram adotadas para realizar essa
pesquisa, defende-se que também poderão ser adotadas para analisar seus resultados.
Para Bachelard, e para Bourdieu depois dele, a verdade não é uma expressão
absoluta das coisas em si mesmas, nem a ciência é conhecimento
sistematizado, e sim conjuntos de relações que são parcialmente
determinadas pelas condições de sua realização. Além disso, aquilo que
expressamos é sempre uma representação, não é a coisa em si. Proceder
cientificamente é “conquistar” fatos científicos, muitas vezes em oposição a
modos convencionais de ver o mundo, e não através da descoberta. [...]
Basicamente, não existe uma realidade definitiva, apenas modos de enxergá-
la. (GRENFELL, 2018)
Cabe ressaltar que a prática de uma pesquisa participativa privilegia, acima de tudo, a
escuta atenta de diversos atores, aqui denominados de detentores. Os detentores são aqueles
agentes socioculturais que se apropriam simbolicamente, utilizam, trabalham, vivenciam,
moram ou são, de fato, proprietários de imóveis no Centro Histórico de Manaus.
O trabalho enfatizou a interação entre os pesquisadores e os detentores, entendendo
que os agentes envolvidos não são meros informantes, mas protagonistas na definição de suas
referências culturais. Além disso, a interação com os detentores possibilitou compreender os
atributos que, em suas narrativas, definem ou caracterizam suas próprias referências culturais
enfim, que justificam as suas escolhas ao defini-las. Posteriormente, esses atributos foram
analisados e agrupados no sentido de definir quais as qualidades do Centro Histórico de
Manaus que de fato devem ser conservadas enquanto Patrimônio Cultural.
As metodologias que foram desenvolvidas visaram contribuir para o entendimento da
relação territorial, temporal e afetiva dos grupos sociais com suas “referências culturais”.
cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares. (IPHAN, s/d). A UNESCO (Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) define como patrimônio imaterial
"as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os instrumentos,
objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos
e, em alguns casos os indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio
cultural." (IPHAN, s/d)
É seguro afirmar que todo Patrimônio Material é dotado de uma certa imaterialidade
(valores, significados, narrativas, memórias) sem a qual perderia seu valor. Por outro lado, o
Patrimônio Imaterial também é composto por materialidades associadas às práticas,
representações, expressões, conhecimentos e técnicas. (BLACH, 2019). Nenhum bem tem
valor em si mesmo, nem mesmo o valor artístico, estético, pois todo processo de valoração
resulta necessariamente de uma atribuição humana que parte de subjetividades e
objetividades intrínsecas a experiência cotidiana. Assim, apesar das distinções entre essas
duas categorias de Patrimônio Cultural, é amplamente difundido na literatura acadêmica
contemporânea que, os aspectos materiais e imateriais do patrimônio cultural são
essencialmente complementares e indissociáveis. (CASTRIOTA, 2009; FONSECA, 2000).
Essa noção é fundada em uma “concepção antropológica de cultura” cujo enfoque está
na “diversidade da produção material, como também dos sentidos e valores atribuídos pelos
diferentes sujeitos a bens e práticas sociais” (FONSECA, 2000 p.13). Entendeu-se que essa
perspectiva mais ampla foi fundamental para que se pudesse identificar quais os atributos e
qualidades que imprimem valor ao Centro Histórico de Manaus:
Falar em referências culturais nesse caso significa, pois, dirigir o olhar para
representações que configuram uma “identidade” da região para seus
habitantes, e que remetem à paisagem, às edificações e objetos, aos
“fazeres” e “saberes”, às crenças, hábitos etc. Referências culturais não se
constituem, portanto, em objetos considerados em si mesmos,
intrinsecamente valiosos, nem apreender referências significa armazenar
bens ou informações. Ao identificarem determinados elementos como
particularmente significativos, os grupos sociais operam uma
ressemantização desses elementos, relacionando-os a uma representação
coletiva a que cada membro do grupo de algum modo se identifica
(FONSECA, 2000 p.14)
Desse modo, para que a pesquisa pudesse gerar dados relevantes para subsidiar a
elaboração das normativas do Centro Histórico de Manaus, adotou-se o conceito de
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“referência cultural” como princípio norteador da aplicação das metodologias aqui propostas.
Sobretudo, levando em conta que essa identificação só é de fato possível, se realizada a partir
de um viés colaborativo que busque pactuar com a sociedade quais são os elementos que
representam os valores atribuídos a esse espaço urbano:
O sociólogo francês Michel Maffesoli (apud FREIRE, 1997) considera necessário não se
ligar diretamente a nenhuma prática instrumental, para se refletir sobre social. O objeto se
revela indisciplinado e o método deve misturar diversas abordagens. Portanto, empreendeu-
se um estudo dos dados utilizando diversos instrumentos metodológicos.
Ademais, um dos objetivos principais da pesquisa, além de coletar dados para traçar o
panorama dos atributos e qualidades que conferem valor ao Centro Histórico, foi o de
provocar, através dos diálogos, o reviver mnemônico, bem como conhecer a profundidade da
penetração das referências culturais na vida da comunidade estudada. Assim, mediante os
fundamentos aqui descritos, as técnicas aplicadas no decorrer desse projeto foram: 1) Mapas
de Percepção com grupos focais 2) Observação Participante 3) Entrevistas Temáticas
Semiestruturadas com indivíduos selecionados 4) Pesquisa Bibliográfica e Documental.
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apropriação e percepção social do centro com algumas análises e conclusões prévias que
merecem ser verificadas e aprofundadas em pesquisas futuras.
Assim, os grupos focais que se obteve êxito na mobilização foram: Técnicos do Iphan-
AM (oficina realizada em 22/08/2019, laboratório de experimentação da metodologia),
Moradores da Ilha de São Vicente (oficina realizada em 23/10/2019), Estagiários do Museu da
Cidade de Manaus (oficina realizada em 25/10/2019), Artífices da Secretaria de Estado da
Cultura do Amazonas –SEC (oficina realizada em 22/10/2019), Mestres de Capoeira (oficina
realizada em 14/10/2019), Moradoras do entorno do Teatro Amazonas (oficina realizada
entre os dias 02 e 06/12/2019), Membros da Associação Comercial do Amazonas –ACA (oficina
realizada em 04/12/2019) e Pesquisadores do Centro Histórico de Manaus (oficina realizada
em 08/10/2019). No total, 79 pessoas participaram das oficinas de mapas de percepção
compondo os grupos focais. (FIGURA 1)
Figura 1: Grupo focal dos Moradores da Ilha de São Vicente participando de uma Oficina de Mapas de
percepção.
Trad (2009), ao discorrer sobre o perfil social para formação dos grupos focais
considera que é imprescindível assegurar um clima confortável para a troca de experiências e
impressões, de modo que o grupo não resulte em incontornáveis discussões frontais ou em
recusa sistemática de emitir opiniões (TRAD, 2009).
da pesquisa (LIMA; BUCHER; LIMA 2004; PIZZOL, 2004; TRAD et al., 2002).
(TRAD, 2009 p. 785).
Nesse sentido, a ideia de perfil das pessoas (alvo da pesquisa), esteve mais preocupado
em reunir quem, em potencial pôde, através da abordagem proposta, apresentar narrativas
das memórias, das fantasias latentes e dos universos de sentido, que têm hoje, como
testemunho as referências culturais do Centro Histórico de Manaus.
Figura 2: Entrevista com senhora Fátima e senhora Nazaré, moradoras antigas do Centro.
3. Mapas de percepção
Os Mapas de Percepção consistem em uma atividade que tem a função de gerar dados
de natureza qualitativa e quantitativa para a visualização e classificação de percepções e
apropriações visando a catalogação, análise e organização de informações, não
necessariamente geográficas, mostrando como certos bens culturais se introduzem e se
articulam junto às coletividades. (FIGURA 3).
Assim, a dinâmica dos Mapas de Percepção, aliada ao conceito de referência cultural,
tem o objetivo de identificar bens culturais produzidos, reproduzidos, percebidos e
apropriados pela comunidade de detentores sem, no entanto, estabelecer distinções entre
“tipos” de patrimônio cultural e sem se ater somente aqueles bens acautelados e/ou
reconhecidos por políticas públicas de memória.
Figura 3: Mapa de Percepção produzido pelos Mestres e Artífices da Secretaria de Estado de Cultura do
Amazonas.
referências culturais, independente delas terem, ou não, passado por um processo oficial de
patrimonialização. Esse raciocínio pode ser associado a dois conceitos distintos e como eles
se diferenciam e se relacionam: memórias dissidentes e memórias hegemônicas.
As memórias hegemônicas são aquelas versões de um determinado passado,
construídas e reconstruídas pelas instituições de memória, tais como o IPHAN, as políticas
públicas de patrimônio cultural, os arquivos, os museus, entre outros. As memórias dissidentes
estão associadas às construções e reconstruções do passado realizadas por agentes de uma
memória não oficial, tais como as comunidades locais e, no caso desta pesquisa, os
detentores. (PINTO, 2011; GNECCO e ZAMBRANO, 2000).
Figura 4: Mapa de Percepção produzido por pesquisadores que estudam o Centro de Manaus.
para um trabalho calcado na preocupação com o que eles consideram como esvaziamento
simbólico que vinha se configurando na relação dos indivíduos e a cidade. O trabalho realizado
por estes artistas buscava a ressignificação do passado mítico e simbólico aprisionado nas
construções. Introduzem a variante do conceito literário da flânerie. (FREIRE, 1997).
Se o flaneur benjamniano tinha o prazer em olhar objetos em si, os situacionistas a
partir do procedimento e teoria à deriva são convidados a representar a apropriação do objeto
atribuindo significados, buscando a sua manifestação na memória, reconstruindo-o a partir
do imaginário e fantasias. (FREIRE, 1997). A forma de enxergar desses artistas estimulou a
valorização da percepção das pessoas nas suas formas de apropriação, para além dos aspectos
físicos e materiais, mas como constroem através de suas narrativas, mapas imaginários,
processo que Cristina Freire (1997) denomina, psicogeografia.
Figura 5: Mapa de Percepção produzido por uma criança, moradora da Ilha de São Vicente.
Os mapas têm relação com esse aspecto artístico, porque traduzem como as pessoas
imaginam e simbolizam os lugares da cidade. A percepção desconsidera aspectos da realidade,
mas prestigia os fragmentos dessa forma de apropriação e relevância dadas a certos edifícios
e lugares. Como a criança que em seu mapa representou Manaus como uma jovem mulher de
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350 anos. (FIGURA 5). Os situacionistas notavam que a escolha desses lugares tinha a ver com
experiências vividas ou assimiladas pelos processos de socialização. Esses mapas apresentam
uma cartografia que não é facilmente decifrada pela razão, não podendo serem elaboradas
somente a partir de monumentos ou bens oficialmente reconhecidos, mas de todas as
referências que possuem uma relação com as memórias coletivas e individuais.
As formas de representar as apropriações sociais por meio de mapas de percepção
evidenciam as produções simbólicas de um grupo. Assim como um artista, um escritor de
literatura, um produtor de cinema, um poeta, todas essas produções são a materialização do
imaginário social. Entende-se, desse modo, que o imaginário é suporte para as representações
sociais, o que estabelece “a verdadeira consciência social”. (CARVALHO, 2002)
Por fim, segundo Carvalho (2002), o reconhecimento dos olhares dos grupos sociais,
postula que, nesse processo de normatização, os discursos e narrativas são fundamentais para
respeitar aquilo que o próprio grupo "pensa" e atribui valor aos objetos e bens da cidade.
Figura 6: Mapa de Percepção produzido por estagiários do Museu da Cidade.
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Assim, independente dos bens culturais representados nos mapas serem reconhecidos
por uma política oficial de patrimônio cultural, com um discurso histórico e identitário pré-
determinado por essa mesma política, a metodologia busca reconhecer, enquanto resultado
dessas memórias dissidentes, as referências culturais definidas pelos próprios detentores.
Bem como, as formas de apropriação e as narrativas de atribuição de valor à essas referências,
sejam elas patrimonializadas, ou não. (FIGURA 6).
Portanto, o resultado desse levantamento também possibilitou dimensionar, mesmo
que superficialmente, o grau de penetração do discurso oficial sobre Patrimônio Cultural no
processo de definição das referências culturais desses detentores, possibilitando esse
movimento dialético entre o que é definido “de cima” e o que/como é “apropriado” ou
“subvertido” pelos “de baixo” revelando também, os contra usos do Patrimônio Cultural em
Manaus. Os resultados da aplicação dessa metodologia revelam uma hierarquia de valores e
o grau de protagonismo dos bens culturais, definidos pelos próprios detentores, em suas
memórias e narrativas.
A fase de aplicação das Oficinas de Mapas de Percepção foi composta por quatro
etapas. Cada uma dessas etapas foi acompanhada por 3 profissionais (mediador, relator e
documentarista) sob orientação de um responsável técnico da área de Patrimônio Cultural,
História e/ou Antropologia. O mediador foi responsável por guiar todo o procedimento,
fazendo uma fala de apresentação e dando as instruções. O relator observou atentamente
todo o processo, fez anotações e descreveu a atividade. O documentarista foi responsável por
fotografar a atividade, pegar a assinatura dos termos e lista de presença, fazer os registros do
desenvolvimento dos mapas desde o início de sua produção até a conclusão e filmou as
apresentações finais dos grupos.
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4. Observação Participante
A Observação participante é um roteiro de investigação que se dá pela imersão nas
formas costumeiras de viver de um grupo social. Por meio dessa metodologia compreende-se
a importância da presença do cientista no local investigado, o que lhe permite, a partir de sua
experiência de imersão em um território cultural, apreender formas de apropriação, o
imaginário, representações e conhecimentos locais. Nesse sentido, uma abordagem
participante de pesquisa como método, precisa penetrar na “forma de vida” que constitui a
população pesquisada, enfim, considerando o exercício de “estar lá” (GEERTZ, 2008, p.14).
A imersão nos lugares de vivência e nas práticas culturais dos indivíduos estudados,
permite ao pesquisador uma análise mais delimitada e específica, devido a incursões mais
constantes que se pode fazer no dia-a-dia da comunidade estudada. A partir dessa
experiência, o pesquisador poderá então efetuar interpretações através da observação direta
sobre o seu objeto de estudo com maior correspondência ao modo como os próprios
integrantes vivenciam, percebem, caracterizam e atribuem valores aos lugares, edifícios e
espaços públicos no território.
Assim como o método do mapa de percepção, o exercício da observação participante
assemelha-se ao método à deriva empreendido pelos artistas na década de 60 para entender
a relação que as pessoas mantinham com os lugares para além da dimensão física, da
funcionalidade imediata, mas apreender aspectos simbólicos e afetivos dessa relação.
Ressalta-se que essa forma de estudo da percepção da cidade, resultou do processo
impositivo da indústria cultural que estava difundindo uma percepção dos espaços das cidades
associada à lógica de consumo. Esse movimento, liderado pelos artistas de corrente
situacionista retomam a busca pela relação que a cidade mantém com o inconsciente, com as
fantasias, com as memórias e com o imaginário. (FREIRE, 1997)
Nessa perspectiva, a observação participante foi norteada a partir da revelação dos
lugares que as próprias pessoas narraram nos mapas de percepção e durante a própria
observação, com base nas memórias individuais e experiências vividas. Além disso, locais já
consagrados da cidade, seja pelas narrativas patrimoniais ou ligadas ao turismo, também
foram visitados (FIGURA 7).
29
Figura 7: Observação Participante, placa de atrativos turísticos localizada na Av. Eduardo Ribeiro.
Mapa 01: Observação Participante – áreas pesquisadas pela equipe organizada em grupos.
31
escrita do diário de campo, condicionando naturalmente que tal universo se torna mais
acessível à interpretação. O pesquisador precisa se colocar dentro do universo social em que
as percepções e construções simbólicas do grupo em pesquisa são construídas.
Roberto Cardoso de Oliveira (2002), considera que na observação participante, o
pesquisador assume um papel direcionado pela sociedade estudada. Como metié do
antropólogo, a observação direta dos grupos sociais precisa ser construída a partir das formas
cognitivas de apreensão das ações sociais, sendo estruturadas, segundo o autor, pelo olhar,
ouvir e escrever.
Figura 9: Observação Participante na Praça da Polícia.
Assim, Oliveira (2002), salienta que o ouvir precisa ser estabelecido por uma relação
dialógica, em que pesquisador e pesquisado sejam interlocutores, que um possa ter a
oportunidade de ouvir o outro, colocando-se em um plano interacional na relação,
complementando e qualificando as informações e impressões obtidas pelo olhar, podendo ser
conduzida pelos indivíduos estudados. Por fim, o escrever que pode ser realizado durante todo
o processo através das anotações das percepções do pesquisador e falas dos pesquisados.
Constitui-se, também, de uma etapa denominada conclusiva, configurada em uma
textualização da cultura estudada, cuja autonomia de quem escreve, não está desvinculada
aos dados propiciados do olhar e dos significados dos “modelos nativos” proporcionados pelo
ouvir.
34
1
Os critérios gerais adotados para a escolha dos indivíduos entrevistados são explicados em cada um dos
relatórios de entrevistas (capítulo 13).
35
fontes, pois as fontes orais “corrigem as outras perspectivas, assim como as outras
perspectivas as corrigem” (PRINS, 1992, p.166).
Além disso, como destacam os autores acima mencionados, as entrevistas temáticas
pressupõem a análise de desdobramentos e vínculos entre múltiplos indivíduos envolvidos no
processo abordado pelo tema. É neste sentido que se buscou entrecruzar as falas de
entrevistados de diferentes esferas sociais.
Figura 10: Entrevista realizada com o Prof. Otoni Mesquita.
Assim, foi priorizada a perspectiva que considera a relação entre memória individual e
memória histórica expressa nas narrativas dos entrevistados. Estas narrativas são resultantes
de um processo mnemônico que estabelece vínculos entre as dimensões individuais e
coletivas diante de um contexto histórico-social. Marcelo Cedro (2011 p.113) sintetiza de
forma esclarecedora esta questão:
Contudo, a pesquisa não deixou de considerar o caráter subjetivo das narrativas dos
entrevistados, levando em conta os processos seletivos da memória em que os indivíduos
escolhem consciente ou inconscientemente o que lembrar e o que esquecer na construção de
seu discurso. Como bem destaca Lucília Delgado, a memória, principal fonte dos depoimentos
orais, vai ser “um cabedal infinito”,
7. O trabalho de pesquisa
Conforme destacado na introdução, o processo que levou a realização dessa pesquisa
iniciou-se na semana de 29/07/2019 a 01/08/2019 e envolveu a realização de um conjunto de
atividades denominadas “percepções iniciais”, nas quais o consultor da Unesco Antônio
Miguel Lopes de Souza orientou os técnicos do Iphan quanto a formulação da normativa do
Centro Histórico de Manaus, utilizando, entre outros recursos, a demonstração de diversos
estudos de caso.
O objetivo dos exercícios referentes às “percepções iniciais” foi começar, de fato, os
trabalhos voltados para a elaboração da normativa em questão. Essa etapa transcorreu sem
a participação dos estagiários da Universidade do Estado do Amazonas-UEA, uma vez que a
parceria IPHAN-AM e Observatur-UEA foi firmada em fins do mês de setembro de 2019, assim
os estudantes juntaram-se aos técnicos do Iphan a partir do início de outubro de 2019.
Assim, uma breve capacitação dos estagiários da Rede Observatur-UEA (estudantes de
turismo da Universidade do Estado do Amazonas) foi realizada pelos técnicos do IPHAN-AM.
A capacitação buscou esclarecer os objetivos da pesquisa e as metodologias a serem aplicadas,
essa atividade foi empreendida nos dias 03 e 04 de outubro de 2019, na sede do IPHAN-AM.
Já na semana seguinte aconteceram reuniões de alinhamento com todos os membros da
equipe de pesquisa, inicialmente tratou-se do planejamento e da logística do estudo de
campo, da escolha dos grupos e pessoas a serem consultados, bem como dos agendamentos
das oficinas e entrevistas, e da definição dos locais e dias para o início da atividade de
observação participante.
Ainda na segunda semana de outubro empreendeu-se uma oficina de mapa de
percepção com pesquisadores de diferentes universidades que abordam temas relacionados
ao Centro Histórico de Manaus (atividade realizada em 08/10/2019) e a primeira ida a campo
para realização da observação participante (atividade realizada em 09/10/2019). As semanas
seguintes envolveram uma série de encontros entre a equipe de pesquisa, nos quais foram
definidos os papéis de cada integrante em cada um dos exercícios a serem empreendidos,
bem como quais as atividades seriam realizadas posteriormente, além da definição das datas
e prazos para a entrega dos relatórios referentes aos exercícios de coleta de dados já
efetuados.
51
No entanto, oficialmente, a fase de coleta de dados teve início ainda no mês de agosto,
quando foi realizada a primeira oficina de mapas de percepção junto aos técnicos da
Superintendência do Iphan no Amazonas. Essa atividade, apesar de ter resultado em dados
importantes que também foram considerados na análise final da pesquisa, foi aplicada como
um laboratório da metodologia em questão e objetivou introduzi-la, bem como gerar dados
para uma análise prévia que, posteriormente, foi usada como modelo de aplicação e dos
diagnósticos presentes nos relatórios. Considerando este primeiro exercício, a pesquisa de
campo teve duração média de quatro meses (entre meados de agosto e início de dezembro
de 2019), sendo a primeira atividade realizada em 22/08/2019 e a última no dia 06/12/2019.
Figura 12: Mestres e Artífices da SEC-AM apresentam seu mapa.
mapas de percepção e/ou entrevistas com alguns indivíduos e grupos pré-estabelecidos. Vale
ressaltar que no decurso da pesquisa a equipe deparou-se com dificuldades relacionadas à
disponibilidade e a “vontade” de determinados indivíduos e grupos escolhidos previamente
em participar do estudo, fato que, posteriormente, ocasionou na substituição deles. Contudo,
esses pequenos contratempos e adaptações não prejudicaram o andamento do estudo nem
o procedimento de coleta de dados.
Figura 13: Oficina de Mapa de Percepção com Mestres de Capoeira antigos de Manaus.
ditas “drogas do sertão”, limitando-se a hoje capital do Amazonas a ser um mero vilarejo sem
qualquer importância econômica e política.
Não obstante as mudanças que se seguiram por mais de dois séculos, como a
Independência do Brasil (1822) e a criação da Província do Amazonas (1850), Manaus
manteve-se como um povoado simples e pacato. Tudo mudou, entretanto, a partir da segunda
metade do século XIX com os efeitos da Revolução Industrial, a qual concentrava-se no
Hemisfério Norte e Japão.
Tendo sido descoberto o processo de vulcanização da borracha em 1838 por Charles
Goodyear, foi somente com o avanço da II Revolução Industrial que se compreendeu a
necessidade fundamental da borracha, qual seja, a de absorção do impacto nas junções das
peças mecânicas, que fizessem as engrenagens moverem-se suavemente sem desgastes, e
que possibilitasse a bicicletas e veículos automotores rodas pneumáticas (SOUZA, p. 257,
2009).
Figura 15: Habitação de um seringueiro na Selva Amazônica, 1865, circa.
Autor: Albert Frisch Fonte: Convênio Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, Leipzig/ Instituto Moreira Salles
Disponível em: < http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/4524>
posição de protagonista, diante da sua localização que favorecia o contato entre os seringais,
onde se coletava o produto, com os mercados internacionais. (FIGURA 15).
Dessa forma, a cidade que até então era um vilarejo, passou por um rápido processo
de urbanização. Tendo como parâmetros os sistemas urbanísticos vigentes na Europa, a
capital amazonense pautou-se por abrir largas avenidas, servir sua população com energia
elétrica, transporte público e saneamento básico. Paralelamente, as antigas casas foram
demolidas para serem ocupadas por palacetes e palácios seguindo o estilo arquitetônico do
Ecletismo. (FIGURA 16).
Figura 16: Panorama de Manaus, com destaque para o Teatro Amazonas, 1896, circa.
Autor: George Huebner Fonte: Álbum Vistas de Manaus - Mestres do Séc. XIX - Instituto Moreira Salles
Disponível em: < http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/1849>
Autor: Desconhecido Fonte: Instituto Durango Duarte Disponível em: < https://idd.org.br/acervo/cine-
guarany-decada-de-70/cine-guarany-decada-de-70-2/>
A demolição de tal edificação não foi um episódio isolado, mas talvez tenha sido o
estopim para uma reação social e governamental em defesa do patrimônio cultural. Não
obstante já haver desde a década de 1970 uma norma estadual de proteção, a qual foi
atualizada em 1982, seu uso limitou-se aos imóveis públicos e eclesiásticos, deixando os
particulares sem qualquer tutela jurídica.
Dessa forma, criada uma consciência coletiva acerca do assunto, a Prefeitura Municipal
de Manaus baixou o Decreto Municipal nº 4.673, de 17 de maio de 1985, criando o setor
especial das unidades de interesse de preservação, considerado um marco importante na
preservação do patrimônio histórico pela municipalidade.
61
Já no âmbito federal, é sabido que desde 1937 está em vigor o Decreto-Lei nº 25, o
qual contém o procedimento de tombamento de bens de valor cultural, bem como estipula
sanções administrativas por sanções aos seus dispositivos legais. Sobre o tombamento,
destaca-se:
Ainda que de forma bastante tímida, houve três tombamentos no Amazonas que se
destacaram dentro do espírito de reformulação do entendimento acerca de patrimônio
cultural. Destaca-se que os três bens acautelados se filiam ao estilo arquitetônico do
62
Autor: Alexinaldo Granela Borja Fonte: Wikimedia Commons Disponível em: <
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:03_-_Teatro_Amazonas.jpg>
Não obstante tal mudança, nas décadas que sucederam a promulgação da nova Carta
Constitucional houve uma nova movimentação no sentido de ampliar o acervo tombado como
patrimônio cultural brasileiro. Sobre isso, destaca-se:
Surge assim o ímpeto de tombar o Centro Histórico de Manaus pela União. Como parte
de prestigiar a diversidade cultural brasileira, buscou-se na capital do Amazonas uma proteção
que não só valorizasse a Região Norte e seu ciclo econômico da borracha, mas o
fortalecimento da identidade local, enfatizando suas singularidades e a excepcionalidade da
arquitetura manauara, identificada pelo isolamento geográfico, em meio à Floresta
Amazônica (IPHAN, 2010).
Assim, o IPHAN decidiu por incluir como protagonista a paisagem urbana de Manaus
(edifícios e traçado urbano, incluindo praças), altamente influenciada durante o ciclo da
borracha. Visando tão somente marcar uma poligonal, estipulou-se como os dois ícones mais
simbólicos e densos de realizações paisagísticas e artístico-construtivas daquela época o Rio
Negro e o Teatro Amazonas.(MAPA 02)
63
2 Os aspectos considerados negativos também foram registrados durante os levantamentos. No entanto, como
o objetivo aqui almejado foi o de fornecer dados para se definir o que de fato deve ser conservado, mediante
política pública de Patrimônio Cultural, no Centro Histórico de Manaus, os esforços ficaram concentrados em
definir as qualidades que devem ser mantidas e potencializadas. Caberá em pesquisas futuras mapear e analisar
também, os problemas identificados.
3
Entende-se como categorias de apropriação social, repertórios das narrativas que mais se repetiram,
constituindo, desse modo, a identidade de setores, de vias e eixos estruturantes, de praças, de monumentos e
edificações e das vivências do centro histórico. Assim, esse trabalho, ao ser integrado a análise de cunho
arquitetônico (morfológico) que é realizada em paralelo pela equipe técnica do Iphan-AM, visando a
normatização do Centro Histórico de Manaus, equipara-se o termo de categorias de apropriação ao de
qualidades, sendo esse último de mais fácil associação.
68
4
Pierre Nora (1993) percebe uma ruptura cada vez mais veloz entre o passado e o presente e uma aproximação
entre a memória e o esquecimento. O autor também defende que a cultura é dotada de uma intensa dinâmica
que se acelera cada vez mais e assim, da incapacidade de “habitarmos nossa memória” surge à necessidade de
atribuir-se lugares a ela. O conceito de lugar de memória acrescido das sugestões de Ricœur (2007) engloba o
aspecto material, simbólico e funcional do lugar, ou seja, o espaço em si, sua representação e sua função social.
Desse modo, apropria-se desse conceito em um sentido mais amplo que agrega ao termo as mediações de Paul
Ricœur (2007), considerando ainda a articulação com as categorias já discutidas de memória hegemônica e
memória dissidente.
69
5https://www.archdaily.com.br/br/798436/fatores-morfologicos-da-vitalidade-urbana-nil-parte-1-densidade-de-usos-e-
pessoas-renato-t-de-saboya
70
Regis Nº.
Nº Nome Qualidades
tros Qual.
Regis Nº.
Nº Nome Qualidades
tros Qual.
Hospital Beneficente
40. 2 Monumentalidade; Lugar de Memória. 2
Portuguesa
Instituto de Educação do
43. 2 Lugar de Memória 1
Amazonas
Centro de Artes da
59. Universidade Federal do 1 Vitalidade 1
Amazonas – CAUA/UFAM
74
Regis Nº.
Nº Nome Qualidades
tros Qual.
Tabela 4: Qualidades ordenadas por número de vezes que foram atribuídas aos bens
Nº Qualidade Bens associados Atribuições
Largo de São Sebastião, Porto de Manaus, Av. Eduardo Ribeiro, Teatro Amazonas,
Praça Dom Pedro II, Igreja Matriz, Praça da Saudade, Mercado Adolpho Lisboa, Av.
Sete de Setembro, Museu da Cidade de Manaus, Praça da Polícia, Igreja de São
Sebastião, Praça da Matriz, Praça do Congresso, Santa Casa de Misericórdia, Teatro
Gebes Medeiros (Antigo Ideal Clube) , Feira Manaus Moderna, Rua 10 de Julho, Rua
Bernardo Ramos, Biblioteca Pública Estadual do Amazonas, Edifício da Alfândega,
Relógio Municipal, Palacete Provincial, Palácio Rio Negro, Bar do Armando, Feira da
01 Lugar de Memória Av. Eduardo Ribeiro, Feira do Paço, Rua José Clemente, Tacaca na Bossa, Paróquia 49
Nossa Senhora dos Remédios, Atlético Rio Negro Clube, Caminhos da Arte, Casa do
Frei, Hospital Beneficente Portuguesa, Les Artistes Café Teatro, Instituto de
Educação do Amazonas, Teatro da Instalação, Avenida Joaquim Nabuco, Café do
Pina, Edifício da Antiga Faculdade de Direito, Edifício do Antigo Hotel Amazonas,
Obelisco do Centenário, Praça Tenreiro Aranha, Praça dos Remédios, Rua Lobo
D’Almada, Instituto Amazônia, Praça Almirante Tamandaré, Rua 24 de Maio, Rua
Epaminondas
Largo de São Sebastião, Porto de Manaus, Av. Eduardo Ribeiro, Teatro Amazonas,
Praça Dom Pedro II, Igreja Matriz, Mercado Adolpho Lisboa, Av. Sete de Setembro,
Museu da Cidade de Manaus, Praça da Polícia, Igreja de São Sebastião, Praça da
Matriz, Praça do Congresso, Feira Manaus Moderna, Biblioteca Pública Estadual do
Amazonas, Palacete Provincial, Palácio Rio Negro, Bar do Armando, Feira da Av.
02 Vitalidade 35
Eduardo Ribeiro, Feira do Paço, Tacaca na Bossa, Paróquia Nossa Senhora dos
Remédios, Atlético Rio Negro Clube, Caminhos da Arte, Casa do Frei, Les Artistes
Café Teatro, Parque Senador Jefferson Péres, Teatro da Instalação, Café do Pina, Rua
Lobo D’Almada, Usina Chaminé, Casa Ivete Ibiapina, Casa Monsenhor, Centro de
Artes da Universidade Federal do Amazonas – CAUA/UFAM, Festival Paço a Passo
77
Gráfico 1A: Percentual de representação das referências culturais nos 31 Mapas de Percepção
Porto de Manaus
Teatro Amazonas
Praça da Saudade
Igreja Matriz
Praça da Polícia
Museu da Cidade
Rio Negro
Palácio da Justiça
Praça do Congresso
Praça da Matriz
Rua 10 de Julho
Relógio Municipal
Edifício da Alfândega
Aviaquário da Matriz
Gráfico 1B: Percentual de representação das referências culturais nos 31 Mapas de Percepção
Tacaca na Bossa
Rua José Clemente
Palácio Rio Negro
Palácio Rio Branco
Palacete Provincial
Feira do Paço
Feira da Av. Eduardo Ribeiro
Bar do Armando
Parque Senador Jefferson Péres
Paróquia Nossa Senhora dos Remédios
Museu Casa Eduardo Ribeiro
Les Artistes Café Teatro
Instituto de Educação do Amazonas
Hospital Beneficente Portuguesa
Colégio Dom Bosco
Casa do Frei
Caminhos da Arte
Atlético Rio Negro Clube
Usina Chaminé
Teatro da Instalação
Sede do Banco da Amazônia
Rua Monsenhor Coutinho
Rua Lobo D’Almada
Rua Epaminondas
Rua 24 de Maio
Praça Tenreiro Aranha
Praça Nove de Novembro
Praça dos Remédios
Praça Almirante Tamandaré
Praça Adalberto Valle
Plácio dos Nery
Pavilhão Universal
Obelisco do Centenário
Instituto Amazônia
Hotel Cassina
Hospital Militar
Festival Paço a Passo
Edifício do Antigo Hotel Amazonas
Edifício da Antiga Faculdade de Direito
Colégio Dom Pedro II
Casa Monsenhor
Casa Ivete Ibiapina
Café do Pina
Booth Line
Avendia Joaquim Nabuco
Antiga Câmara dos Vereadores
CAUA/UFAM
0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10%
Registros
83
Gráfico 2A: Quantas vezes cada referência cultural aparece nos 31 Mapas de Percepção
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
Registros
84
Gráfico 2B: Quantas vezes cada referência cultural aparece nos 31 Mapas de Percepção
0 1 2
Registros
85
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Qualidades
86
Edifício da Alfândega
Casa do Frei
Caminhos da Arte
Café do Pina
Bar do Armando
Rua Epaminondas
Rua 24 de Maio
Rua 10 de Julho
Pavilhão Universal
Instituto Amazônia
Hotel Cassina
Casa Monsenhor
CAUA/UFAM
Hospital Militar
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Qualidades
87
4 Qualidades
7%
1 Qualidade
22%
3 Qualidades
17%
2 Qualidades
39%
Numero de referencias
89
facilmente vistos ou descritos nas narrativas dos interlocutores consultados. Tendo sido dada
maior ênfase nos edifícios, vias e praças públicas.
Sobre essa constatação, Cristina Freire (1997) apropria-se da percepção de Walter
Benjamin: ao narrar o mapa da sua memória sobre as cidades em que viveu, ele descreve os
lugares das cidades com base nas lembranças que lhe são mais significativas. A autora chama
atenção para o fato de que nas narrativas de Walter Benjamin, o seu corpo se mistura à cidade
e os mapas têm um conteúdo afetivo. Os monumentos e obras podem conter sentimentos
íntimos e lembranças individuais. Nesse sentido, a cidade se mistura à vida de seus habitantes,
como se ela ganhasse sentido também, da própria casa.
A cidade, na narrativa dessa canção, se confunde com a própria condição de ser, ela é
tão intrínseca aos citadinos que ela não é externa ao indivíduo, ela mora na gente.
No entanto, assim como partes do corpo, que pelo hábito nem sempre se observa ou
dá-se a devida atenção na sua integralidade, a menos que se sinta alguma dor ou destituição
de alguma competência e habilidade a esta parte atribuídos. Também pelo hábito, segundo
FREIRE (1997) a relação com a cidade faz com que os monumentos deixem de ser vistos, sendo
notados mais pela ausência, pela constatação de sua falta quando se criam espaços vazios.
No entanto, segundo Ceniquel (1994), estes "sistemas de representação" conformam
um todo tão fortemente enraizado no cotidiano das pessoas - independente da configuração
espacial do seu meio ambiente - que certas partes são sentidas como algo "natural", como
parte componente dele mesmo, sem necessariamente mencioná-los. Existiria, assim, um
curioso processo de leitura do espaço urbano, caracterizado pela forma "natural" como se
incorporam as imagens da paisagem às narrativas de percepção ou não dos seus habitantes.
Desse modo, é notório que – e essa pesquisa revela precisamente isso - há um processo
de apropriação social, simbólico, afetivo, limitado e fragmentário dos lugares, sendo alguns
atribuídos de maior relevância na memória e na autobiografia. Segundo Ceniquel (1994), os
sistemas de significação/representação acabaram adquirindo uma qualidade de
"invisibilidade", decorrente da convivência diária com eles. Todavia, a “invisibilidade” do
imaginário da cidade é desfeita quando percebida pelas ausências e pelas marcas deixadas.
Pode-se mencionar o caso do Hotel Cassina, em Manaus. Após décadas de abandono,
um projeto revitalização do lugar foi proposto. A partir do momento em que o projeto ganhou
notoriedade pública, observou-se uma série de manifestações representando diversas
narrativas que foram descritas nas redes sociais e meios de comunicação.
Como pode-se explicar que um bem em condição de ruína, que apareceu apenas uma
vez nas narrativas apreendidas por esse estudo, tenha ganhado tanta repercussão e comoção
92
social quando passou a ser alvo de um projeto de transformação por parte do poder público
municipal?
O Cassina, a exemplo de tantas outras, justifica que a imagem simbólica da cidade é
suscitada também, quando despertada as lembranças antes adormecidas por esse processo
que se denominou de naturalização/interiorização de uma imagem da cidade.
Todavia, ressalta-se que essa relação simbólica que se mantém com os lugares da
cidade assimilam, também, a dinâmica cultural e as marcas do processo histórico. Diante das
mudanças estruturais, culturais e as novas formas de interação e apropriação social dos bens
culturais, as pessoas elaboram novas formas de significá-los a fim de atender também as
necessidades do presente.
determinado bem cultural empresta para a vida presente são o que de fato deve ser colocado
em questão ao se pensar a conservação, restauração e revitalização.
Assim, a situação do Cassina mencionada acima, reflete o quanto os lugares da cidade
requerem uma relação perceptiva que realize uma leitura dos tempos presente e passado,
histórias individuais e coletivas, afetivas e oficiais, intergeracionais, em contextos sociais do
passado e a contemporaneidade.
É interessante observar como as percepções sociais sobre o Centro, dez anos após ao
tombamento, reforçam como a população assimilou, ou reconhece como território cultural, a
poligonal de tombamento.
Esse aspecto pode ser apreendido pelo que o antropólogo indiano Arjun Appadurai
(2004), define como ‘produção de localidade’. O autor avalia que a produção de ‘localidade’,
é estabelecida pelo enfrentamento de uma situação emergente de homogeneização cultural,
de um mundo globalizado. Ele compreende o bairro, e aqui por analogia o centro histórico,
como espaço de resistência e exercício urbano de alteridades.
A produção de localidade para o autor, é entendido como o menor espaço onde as
relações humanas podem ser percebidas, onde se dá intensamente a reprodução de sujeitos
locais permanentes, a partir da noção de pertencimento a um lugar. A percepção da produção
de ‘localidade’, estaria assim presente no cotidiano dessas comunidades, sobretudo em suas
práticas culturais como rituais religiosos, festas, nas artes musicais e em outras situações.
Ao buscar-se apreender a percepção e apropriação dos indivíduos sobre os lugares,
identificou-se a relação de pertencimento com o território6. Por meio de múltiplas narrativas
ligadas ao uso cotidiano e as memórias, sejam elas memórias hegemônicas ou dissidentes, as
pessoas dão sentido ao lugar criando seus próprios mapas da cidade, suas próprias
continuidades e descontinuidades históricas, pessoais, locais, regionais ou nacionais.
6
Território não é pensado aqui como base física de sustentação locacional e ecológica, de zona urbana, ou
juridicamente institucionalizado, do Estado Nacional ou de jurisdição de municípios, mas um comportamento
humano espacial (SACK, 1986), resultante de uma construção social de significados atribuídos aos espaços.
Segundo Haesbaert (2004), território é base material e simbólica que coopera para construção identitária. Para
o autor, ‘território’ é uma das principais referências para o ‘imaginário social’ e dimensão histórica de uma
sociedade. Por isso, a confecção de Mapas de Percepção pelos moradores e por aqueles que consomem e
circulam pelos espaços do centro, pode sugerir as formas que um determinado grupo social se apropria dos
espaços e atribuem a eles referências a sua identidade coletiva, ou seja, o que eles mesmos definem como Centro
Histórico, seus usos, lugares que o compõe, o que o caracteriza, o que qualifica e sua delimitação espacial.
94
Dados Gerais
4. Duração do campo: 5h
5. Documentação fotográfica
Título: Praça Antônio Bittencourt. Autor: Yara Título: Praça Antônio Bittencourt. Autor: Yara
Magabi Data: 09/10/2019 Magabi Data: 09/10/2019
Título: Praça Antônio Bittencourt. Autor: Yara Título: Praça 5 de Setembro. Autor: Matheus
Magabi Data: 09/10/2019 Blach Data: 09/10/2019
98
Título: Praça 5 de Setembro. Autor: Matheus Título: Entorno da Praça 5 de Setembro. Autor:
Blach Data: 09/10/2019 Matheus Blach Data: 09/10/2019
Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi
Data: 09/10/2019 Data: 09/10/2019
99
6. Mapa
100
7. Relatório da Atividade
O presente relatório é uma síntese das observações realizadas na Praça Antônio Bittencourt
(Praça do Congresso), na Praça 5 de Setembro (Praça da Saudade) e no Largo e Praça de São
Sebastião, durante pesquisa de campo empreendida no dia 09 de outubro de 2019 (Grupo 02), que
teve duração de aproximadamente 5 horas. Todos os locais citados acima estão no Centro Histórico
de Manaus, sua localização foi a motivação principal para a escolha destes lugares, uma vez que este
estudo busca compreender como a população manauara (e os visitantes que chegam à capital) se
apropriam destes espaços.
A observação começou às 15h02, tendo como primeiro ponto a Praça Antônio Bittencourt, ou
Praça do Congresso como é popularmente conhecida, esse logradouro localiza-se entre a Avenida
Eduardo Ribeiro e a Rua Ramos Ferreira, em seus arredores estão situadas várias edificações históricas
(a Biblioteca Municipal, o prédio do Ideal Clube, o Instituto de Educação do Amazonas (IEA), dentre
outros) e, a Praça em si, é também um local rico em historicidade. Neste local foi possível perceber
muitos jovens (majoritariamente alunos do IEA) fazendo uso do espaço, eles conversam, ouvem
música, praticam esportes e brincam livremente. As áreas mais arborizadas são escolhidas como
refúgio com maior frequência, por conta do calor intenso da tarde manauara, sendo os gramados e
bancos localizados embaixo das árvores tomados por jovens e adolescentes, bem como por pessoas a
caminho de outros locais que param no lugar para descansar ou aguardar por alguém.
Na ocasião conversei com um vigilante que trabalha no local, funcionário de uma empresa
terceirizada que presta serviço para o Governo do Estado do Amazonas, o mesmo informou que a
Biblioteca Municipal está sendo finalmente reformada, segundo ele, a edificação é um patrimônio
histórico de Manaus que ficou abandonado por muitos anos e ele estava feliz com a recuperação do
prédio. O vigilante, cujo nome será preservado, também falou sobre a revitalização da Praça, realizada
em 2012, e como essa intervenção transformou o espaço, trazendo de volta a população, em especial
alunos do IEA e de escolas vizinhas, além de moradores dos prédios residenciais próximos que, de
acordo com o mesmo, costumam frequentar a Praça nos fins de semana.
Ainda falando sobre a revitalização da Praça, o vigilante comentou que antes de tal intervenção
o logradouro era ocupado por moradores de rua e usuários de droga, e comparou o local com a Praça
5 de Setembro (Praça da Saudade), dizendo que “não adiantou nada ter sido reformada”, já que o
poder público “abandonou a praça e agora é muito perigoso de andar por lá”, a Praça do Congresso,
por outro lado, foi reformada e recebe manutenção constantemente, além de ser “vigiada” por agentes
como ele, que trabalham todos os dias, em turnos alternados. Já no final da conversa, o vigia informou
que na Praça acontecem eventos como “shows de rock”, mas que ele gostaria que eventos religiosos,
que ele chamou de “shows gospel”, fossem realizados com mais frequência.
Ainda na Praça do Congresso, fomos abordados por um vendedor de trufas que atua nos lugares
conhecidos como “atrativos turísticos de Manaus”, quando questionado sobre quais seriam esses
“atrativos”, ele disse que são os locais onde “tem muitos gringos”, sendo eles o Teatro Amazonas e as
Praças da Polícia e do Congresso. A Praça Antônio Bittencourt aparenta bom estado de conservação e
101
limpeza, bem como equipamentos urbanos adequados, como banca de jornal e quiosques nos quais
são comercializados diversos alimentos, é bastante utilizada pela população de Manaus, especialmente
por estudantes de escolas próximas e moradores da área.
Foi possível perceber que o logradouro exerce a função de refúgio para a maioria de seus
frequentadores, suas áreas bem arborizadas atraem as pessoas e a atmosfera familiar do lugar, bem
como a evidente presença do poder público, passa segurança e faz da Praça um local onde a população
pode socializar sem maiores preocupações. Através da observação e do contato com pessoas que
trabalham e/ou frequentam a Praça, é válido presumir que a mesma é um local muito apreciado e que
a população, de fato, se apropria deste espaço, mesmo sem conhecer totalmente sua história ou
entender sua importância para a cidade, isso enriquece ainda mais o local e retifica seu status de
patrimônio.
Após deixarmos a Praça do Congresso, seguimos para a Praça 5 de Setembro, popularmente
conhecida como Praça da Saudade, começando a observação às 15h45, esse logradouro localiza-se
entre a Avenida Epaminondas e as ruas Simão Bolívar, Ferreira Pena e Ramos Ferreira, passou por
diversas intervenções desde sua construção, sendo a última a que pareceu agradar menos a população
de Manaus.
Fica mais fácil compreender o porquê disso quando visita-se o lugar, o cenário e a atmosfera
deste local são totalmente distintos da praça anterior, as partes mais arborizadas são os limites da
Praça, essa distribuição das árvores acaba por criar uma espécie de muro entre o interior da mesma
e as ruas à sua volta, isso passa a impressão de insegurança para aqueles que se encontram “dentro”
do lugar e estimula comportamentos impróprios, e até mesmo perigosos, como o uso de drogas, por
exemplo. Não existem muitos bancos e lugares que possibilitem a permanência no local, os gramados
estão bastante deteriorados, as instalações, assim como o monumento situado no centro da Praça,
estão pichados e danificados, essa evidente aparência de total abandono do lugar, bem como seu
traçado e sua distribuição espacial, acabam por afastar a população, que se sente insegura no local.
Aqui observa-se muitas pessoas passando, como se a Praça fosse apenas mais uma rua ou um
atalho para qualquer outro lugar, quase não há socialização ou paradas para apreciação da paisagem,
ou até mesmo para descanso. As paradas de ônibus situadas em uma das laterais do logradouro são
o único ponto no qual a aglomeração de pessoas é maior, nas áreas restantes poucos alunos de escolas
próximas podem ser vistos, sentados no gramado onde existe sombra, usuários de droga e moradores
de rua parecem ser os mais assíduos frequentadores desta Praça.
No decorrer da pesquisa na Praça tivemos a oportunidade de conversar com uma moradora
antiga da área (segundo ela, vive no local desde a década de 1970), sua casa estava sendo oferecida
para venda ou aluguel, quando indagada do porquê de querer vender ou alugar a propriedade, a
mesma alegou que quer sair do centro da cidade por causa da violência e da “bagunça de hoje em
dia, mas ninguém quer (a casa)”, por conta da imagem negativa da Praça e das redondezas.
Questionada sobre a Praça da Saudade, a mesma disse que “não tem mais saudade nenhuma, agora
é a Praça do Inferno”, explicou sua declaração afirmando que antes o local era organizado, bem
102
cuidado e as famílias costumavam passear ali nos fins de semana, “até o Rio Negro (Clube) era melhor,
agora tá uma bagunça só”. Para ela, antes da última intervenção o logradouro era “mais alegre e mais
bonito”, as crianças podiam brincar livremente e era muito bom morar ao lado do mesmo, no entanto,
nos últimos anos o local se tornou perigoso e só fica movimentado quando, raros, eventos são
realizados ali. É natural, depois de visitar a Praça e ouvir tais relatos, inferir que há algum tempo atrás
esse lugar era muito popular e movimentado, no qual a população podia apreciar a paisagem e
socializar tranquilamente, todavia, depois da mais recente reforma empreendida no local, o mesmo
tornou-se decadente e a relação de troca dos indivíduos com esse espaço passou a não ter a mesma
expressividade de outrora.
Dando continuidade à pesquisa de campo, chegamos ao Largo e à Praça de São Sebastião às
16h35, esse espaço está localizado entre a Avenida Eduardo Ribeiro e as ruas 10 de Julho, José
Clemente e Costa Azevedo, atualmente classificado como Centro Cultural, o Largo de São Sebastião é
formado pelo Teatro Amazonas, a Igreja de São Sebastião, a Praça de São Sebastião, a Casa das Artes
e outros espaços/edificações situados em seu entorno.
Sua localização privilegiada atrai muitas pessoas, em especial os turistas, aqui se ouve
diferentes idiomas além do português (predominantemente o inglês, o espanhol, o francês e o chinês),
uma evidência da atratividade do lugar junto aos visitantes de várias partes do planeta. Também é
possível observar muitas pessoas tirando fotos, especialmente em frente ao Teatro.
No fim da tarde a movimentação no local se intensifica, são trabalhadores e estudantes que
antes de voltar para casa param no Largo para descansar e/ou apenas socializar, é corriqueiro ver
muitos jovens dançando, conversando e ouvindo música na área da Praça, aliás, a musicalidade e a
arte em toda a área do Largo são um ponto forte, além da música que vem das caixas de som
espalhadas pelo local, existe uma grande quantidade de artistas de rua (músicos, pintores, artesãos,
etc.) se apresentando nesse espaço e diversos eventos culturais também acontecem com certa
frequência.
Conversamos com um senhor, já aposentado, durante observação na Praça de São Sebastião,
que informou morar em Manaus há mais de 50 anos, nascido no Rio Grande do Norte, ele disse já ser
“filho do Amazonas”, uma vez que aqui constituiu família e “conquistou muitas coisas trabalhando no
Tropical Hotel por 12 anos”. Indagado sobre a frequência com que visita o Largo, ele respondeu que
vai até o local quase todos os dias porque mora próximo (na Avenida Leonardo Malcher) e porque “não
tem nada pra fazer, já que é aposentado”.
O Largo de São Sebastião apresenta ótima infraestrutura com muitos bancos de alvenaria e
madeira, lanchonetes, restaurantes, arborização razoável (a disposição das árvores, na Praça em
especial, poderia ser melhor, uma vez que em alguns pontos as mesmas dificultam a visão dos
atrativos do local), aparenta receber serviços de manutenção e limpeza regularmente e seu casario
histórico parece bem preservado, essas edificações, em sua maioria, abrigam estabelecimentos
comerciais e espaços culturais; Os elementos elencados acima, bem como a localização e a
atratividade do logradouro, tornam o mesmo bastante agradável e convidativo, em determinados
103
momentos o fluxo no local é intenso, são crianças brincando e correndo, casais namorando,
vendedores ambulantes circulando, homens jogando dama em um dos bancos da Praça, estudantes
conversando em volta do monumento à abertura dos portos (no centro da Praça), visitantes entrando
e saindo do Teatro Amazonas, guias de turismo oferecendo seus serviços, turistas tirando fotos,
famílias passeando, amigos sentados nos bancos socializando, dentre outros. Muitas pessoas passam
pelo local a caminho dos pontos de ônibus e, na ocasião, notei um ensaio fotográfico sendo realizado
em frente ao Teatro Amazonas.
À noite a programação cultural e o clima mais ameno atraem muitas pessoas, principalmente
na quarta-feira, quando acontece o tradicional Tacacá na Bossa (evento cultural com apresentações
musicais, realizado por empresários atuantes na área em parceria com a Secretaria de Estado de
Cultura do Amazonas- SEC). Nesse período os bares, restaurantes e lanchonetes ficam lotados, e o
logradouro fica bastante agitado e cheio de vida, evidenciando, assim, que a população e os visitantes
se apropriam verdadeiramente deste lugar.
A observação participante empreendida no dia 09 de outubro de 2019, foi extremamente
importante para o entendimento da relação entre os indivíduos e estes espaços históricos da cidade.
Foi possível analisar esses locais dentro de contextos diferentes e compreender como os alguns
frequentadores enxergam os mesmos.
Nesse sentido, pode-se inferir que os aspectos estruturais e estéticos, bem como as questões
ligadas ao clima, ao uso e à segurança, são os grandes responsáveis pela apropriação, ou não, desses
espaços por parte da população, uma breve comparação entre os logradouros visitados durante a
atividade ajuda a corroborar este entendimento; Das três Praças observadas, duas delas (Praça do
Congresso e Largo/Praça de São Sebastião) apresentam boa estrutura física, limpeza, manutenção,
arborização adequada, presença do poder público e atrativos culturais (eventos, edificações históricas,
etc), logo, são bastante frequentadas e apreciadas pelas pessoas. Já a Praça da Saudade, por outro
lado, aparenta total abandono, sem limpeza ou manutenção, a arborização e a estrutura física são
ineficientes, eventos culturais quase nunca acontecem ali, assim, a população apenas transita pelo
local, como se fosse uma passagem qualquer, e sua única “utilidade” para os mesmos é a de ponto de
ônibus e caminho para outro lugar.
8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
104
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.
11.2 Relatório 02
Dados Gerais
4. Duração do campo: 2h
5. Documentação fotográfica
Título: Avenida Eduardo Ribeiro (esquina com a Av. Título: Avenida Eduardo Ribeiro. Autor: Yara Magabi
Sete de Setembro). Autor: Yara Magabi Data: Data: 16/10/2019
16/10/2019
Título: Avenida Eduardo Ribeiro. Autor: Yara Magabi Título: Avenida Eduardo Ribeiro . Autor: Yara Magabi
Data: 16/10/2019 Data: 16/10/2019
106
Título: Avenida Eduardo Ribeiro. Autor: Yara Magabi Título: Avenida Eduardo Ribeiro (esquina com a Rua
Data: 16/10/2019 Saldanha Marinho). Autor: Yara Magabi Data:
16/10/2019
Título: Avenida Eduardo Ribeiro. Autor: Yara Magabi Título: Avenida Eduardo Ribeiro . Autor: Yara Magabi
Data: 16/10/2019 Data: 16/10/2019
107
Título: Santa Casa de Misericórdia (Rua 10 de Julho). Título: Capela da Santa Casa de Misericórdia (Rua 10
Autor: Yara Magabi Data: 16/10/2019 de Julho). Autor: Yara Magabi Data: 16/10/2019
108
6. Mapa
109
7. Relatório da Atividade
Dando continuidade ao levantamento de dados por meio da metodologia da observação
participante, no dia 16 de outubro de 2019 às 15h00, visitamos a Avenida Eduardo Ribeiro (em toda
sua extensão) e parte da Rua 10 de Julho, ambas situadas no Centro Histórico de Manaus. (Grupo 02).
A Avenida Eduardo Ribeiro é, atualmente, a principal artéria do centro da capital, tanto por
concentrar boa parte do comércio na cidade, quanto por abrigar um conjunto arquitetônico importante
para a história de Manaus. Iniciamos a observação logo no começo da Avenida, em frente à Catedral
de Nossa Senhora da Conceição (Igreja Matriz), nessa área, o fluxo de pessoas é intenso, isso pode
ser explicado por sua proximidade ao Porto de Manaus e a um terminal de ônibus, e pela grande
quantidade de estabelecimentos comerciais em seu entorno.
Foi possível perceber que a Praça 15 de Novembro (Praça da Matriz) e os Jardins da Catedral
são bastante usados pela população (em especial moradores de rua e vendedores ambulantes) como
refúgio contra o calor, já que esse local é bem arborizado e seus bancos de alvenaria são, também,
uma opção para o descanso.
A parada seguinte, durante a observação, foi na esquina com a Avenida Sete de Setembro,
nesse ponto (até a altura da Rua 24 de Maio) a movimentação é muito grande por conta do comércio,
são lojas de diversos segmentos, prédios comerciais e residenciais, bancas de jornal, vendedores
ambulantes, lanchonetes, bancos e supermercados que atraem muitas pessoas. Nessa área existem
alguns edifícios históricos que são ocupados por estabelecimentos comerciais, a maior parte desse
casario antigo apresenta suas fachadas alteradas ou quase completamente danificadas, com placas e
letreiros de propaganda, fios de eletricidade, cabos de telefonia e até encanamentos expostos. Além
disso, as reformas empreendidas nessas edificações não levaram em consideração seus aspectos
originais, o que acabou por descaracterizá-las.
Essas visíveis alterações no aspecto original desse casario, bem como a verticalização das
construções, ocorrida principalmente entre as décadas de 1960 e 1980 (período de implementação e
desenvolvimento do modelo econômico Zona Franca de Manaus, no qual foram construídos vários
prédios residenciais e comerciais ao longo da Avenida), quebram a harmonia do conjunto arquitetônico
na via e dificultam a visualização de algumas edificações históricas.
É comum perceber um bom número de pessoas paradas em frente às portas de algumas lojas,
aproveitando o alívio térmico proporcionado pelos aparelhos de ar-condicionado desses
estabelecimentos. Vendedores ambulantes e artistas amadores também se aglomeram em frente aos
comércios, na ocasião, dois músicos se apresentavam em uma das calçadas da via, tocando violão e
flauta, e cantando músicas em espanhol.
Subindo um pouco mais a Avenida, percebeu-se uma expressiva mudança de cenário neste
logradouro, na área entre as ruas 24 de Maio e Monsenhor Coutinho (na altura da Praça do Congresso),
toda a agitação do comércio, observada nas áreas anteriores, quase desaparece. Isso parece ocorrer
porque a quantidade de prédios comerciais diminui, já que predominam as edificações históricas (como
o Teatro Amazonas, o Palácio da Justiça, o prédio do Ideal Clube e o Largo de São Sebastião, entre
110
outros), alguns hotéis e um edifício residencial (Edifício Maximino Corrêa). Deste modo, a
movimentação mais expressiva no local é de alguns turistas, bem como universitários, que podem ser
vistos entrando e saindo dos espaços culturais existentes na área.
Na Praça Antônio Bittenciurt (do Congresso) são os alunos do Instituto de Educação do
Amazonas (IEA) que “dominam” a paisagem, conversando sentados nos gramados ou nos bancos da
Praça, ou ainda, brincando e praticando esportes, além de alguns taxistas e homens que trabalham
na reforma/restauração da Biblioteca Municipal.
Durante a pesquisa de campo tivemos a oportunidade de conversar com um taxista, nascido
em Porto Velho, que mora em Manaus há muitos anos e gosta muito da cidade. Perguntado sobre os
locais mais procurados por visitantes que vem à capital, o mesmo informou que o Teatro Amazonas e
o Museu da Amazônia (MUSA), são os preferidos. Sobre o Centro Histórico, disse que está abandonado
e muito violento, ele acredita que o PROSAMIM (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus,
que consiste em proporcionar melhorias das condições ambientais, de moradia e de saúde da
população que vive próxima aos igarapés da cidade) causou o aumento dessa violência que afastou
as pessoas do Centro.
O taxista ainda mencionou a Praça da Saudade como exemplo de tal descaso, apesar disso, o
mesmo informou que algumas coisas melhoraram nos últimos anos, como a implantação do programa
de estacionamento na área central denominado de Zona Azul, que, segundo ele, organizou o espaço
e ajudou a diminuir os assaltos e as confusões nessa redondeza, já que grande parte dos guardadores
de carro que ficavam nas ruas deslocou-se para lugares mais distantes. Citou, ainda, a revitalização
empreendida na Avenida Eduardo Ribeiro em 2015, de acordo com ele, isso melhorou “a situação da
rua”, informou que o prédio do antigo Ideal Clube está aberto para visitação e que a Praça do
Congresso é um logradouro bastante seguro e tranquilo para passeios e descanso.
Dando continuidade à observação, seguimos para a Rua 10 de Julho chegando até o prédio da
Santa Casa de Misericórdia (quase na esquina com a Rua Lobo D’Almada), neste local observamos o
completo abandono desta construção histórica (exceto pela Capela, que aparenta estar recebendo
trabalhos de limpeza e reparo), que se transformou em abrigo para moradores de rua e usuários de
droga. Em frente ao edifício notamos algumas pessoas trabalhando, guardadores de carro, outras
cortando uma mangueira e sendo supervisionados por funcionários de um hotel, além de alguns poucos
indivíduos transitando pela via. Em seguida à visita ao prédio da Santa Casa, descemos a Avenida
Eduardo Ribeiro até chegarmos ao Obelisco (Monumento ao Primeiro Centenário da Elevação da Vila
da Barra do Rio Negro à Categoria de Cidade), finalizando a observação às 17h10.
Através das observações e dos diálogos realizados durante a pesquisa de campo aqui relatada,
observou-se que a Avenida Eduardo Ribeiro exerce a função de centro comercial em quase toda sua
extensão. Nessa área a movimentação de pessoas é intensa, moradores e trabalhadores locais
misturam-se aos visitantes, o que proporciona ao observador ouvir diferentes idiomas e sotaques,
bem como assistir as complexas dinâmicas entre indivíduos de realidades distintas. Neste espaço,
percebe-se que as pessoas não param para apreciar a paisagem ou as edificações históricas (muitas
111
descaracterizadas ou cobertas por uma grande variedade de materiais de propaganda, entre outros),
as únicas paradas são nos estabelecimentos comerciais, seja para comprar algo ou, apenas, refrescar-
se do calor intenso de Manaus. Avançando um pouco mais na via (entre as ruas 24 de Maio e
Monsenhor Coutinho), a atmosfera muda quase que totalmente, o fluxo de pessoas é bem menor, a
paisagem do logradouro se transforma e apresenta um ar mais acolhedor e agradável, esse espaço é
mais arborizado, as construções antigas aparentam melhor estado de conservação, assim como a
pavimentação da Avenida e seu calçamento. Nesta altura, as pessoas se sentam nos bancos das praças
(do Congresso e Largo de São Sebastião) para descansar, conversar ou aguardar por alguém, algo
que não se vê tanto na parte mais baixa a Avenida (na altura da Rua 24 de Maio até as proximidades
da Igreja Matriz). Essa mudança de ares faz com que tenhamos a impressão de estarmos em duas
vias diferentes, tamanho contraste entre as duas áreas.
Outra observação relevante é o cenário da Avenida quando vista a partir da Praça do Congresso,
são tantos edifícios grandiosos que dificultam a visualização dos prédios históricos. A impressão é de
que se trata de uma via comum, em qualquer bairro da cidade, e não de uma avenida que faz parte
do Centro Histórico, na qual estão localizadas algumas das edificações mais importantes para a história
da cidade. Talvez, por essa razão a população acaba por ignorar esse aspecto tão significativo desse
logradouro, assim, essa mesma população apropria-se, quase que exclusivamente, da avenida apenas
como espaço comercial e/ou residencial, exceto em pontos específicos (Praça e Jardins da Matriz,
Praça do Congresso e Largo de São Sebastião, por exemplo), nos quais a relação de troca dos
indivíduos com o espaço aparenta maior expressividade.
8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.
11.3 Relatório 03
Dados Gerais
4. Duração do campo: 9h e 4h
5. Documentação fotográfica
Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro) Autor: Título: Rua Bernardo Ramos Autor: Matheus C. Blach
Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Data: 09/10/2019
Título: Início da Avenida 7 de Setembro, na Ilha de Título: Praça Dom Pedro II Autor: Matheus C. Blach
São Vicente Autor: Matheus C. Blach Data: Data: 09/10/2019
09/10/2019
113
Título: Mercado Municipal Adolpho Lisboa Autor: José Título: Teatro Amazonas Autor: Yara Araújo Magabi
Luiz Pizzol Fonte: Wikimedia Commons Data: Data: 16/10/2019
15/04/2015
Título: Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia). Autor: Título: Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia). Autor:
Mauro Augusto Dourado Menezes Data: 16/10/2019 Mauro Augusto Dourado Menezes Data: 16/10/2019
Título: Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia). Autor: Título: Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia). Autor:
Mauro Augusto Dourado Menezes Data: 16/10/2019 Mauro Augusto Dourado Menezes Data: 16/10/2019
114
6. Mapa
115
7. Relatório da Atividade
1. Primeiro dia
Iniciamos nossa observação participante na Praça da Matriz, por volta de 10h30, do dia 09 de
outubro. Para esta atividade contei com a companhia dos colegas Matheus Blach e Leandro Gomes.
Iniciamos juntos a vivência no lugar, depois fizemos a imersão individualmente.
A proposta de observação participante é o método de pesquisa em que o próprio
pesquisador se coloca como parte do universo social, vivenciando o lugar, apreendendo atributos,
características, aspectos simbólicos, que incluem costumes e apropriações dos espaços. Feita essa
digressão, continuo meu diário de campo, descrevendo as percepções das vivências realizadas.
Ao estar na praça, consigo perceber de imediato a distinção que mantém com as demais áreas
do centro. A praça possui um ambiente aprazível, arborizada, com conforto térmico e fluxo de pessoas.
Foi interessante observar a quantidade de pessoas sentadas nos bancos da praça ou mesmo em pé,
debaixo das sombras das árvores ou apenas transitando pela praça.
Os espaços debaixo das árvores são bastante prestigiados e concorridos. As pessoas que
usufruem desses espaços parecem aproveitar o lugar para fazer encontros, esperar a hora do trabalho
(pessoas com fardas), ou mesmo apenas para passar o tempo.
Tive a oportunidade de fazer o mesmo, encontrar e conhecer pessoas, ficar debaixo da sombra
das árvores, sentir a ventilação, apreciar o movimento ao redor e passar o tempo. A sensação de não
perceber o tempo passar e desejar permanecer naquele ambiente foi bastante significativo. Senti-me
em lugar acolhedor e que quebra a dinâmica e rotina das vias e da área comercial do centro histórico.
Estando sentado em um dos bancos, a praça parece ter sido estruturada para motivar a
contemplação da Igreja. É como se ela propositalmente proporcionasse para quem está na praça, uma
conexão com ela. Inclusive, ao redor da praça tem um sistema de som que transmite o áudio das
missas, canções religiosas e atividades no interior da Igreja, constituindo uma paisagem sonora
peculiar.
Ao caminhar para mais próximo da Igreja, notei que ali se constituía um pedaço de apropriação
de algumas mulheres. Notei ao ver e ouvir as abordagens estabelecidas por elas com os homens que
passavam. Constatei que aquele pedaço, à margem direita da praça, é um território ocupado por
garotas de programa, pelo menos naquele horário que estava fazendo a imersão no lugar. Esse é um
aspecto que merece mais estudos para entender a configuração das relações que rompem fronteiras
entre o sagrado e o profano.
Em seguida, parei em um mirante da praça, para iniciar um diálogo com um senhor que estava
ao meu lado, manifestei minha admiração sobre aquele ambiente, propondo que aquele senhor
escutasse minhas opiniões para despertar o posicionamento dele. Deu certo, logo em seguida ele
manifestou concordância com qualidades que estava manifestando sobre arborização e o passeio da
praça.
116
De lá, estando numa posição mais elevada da praça, observei a permanência de pessoas que
escolhem a praça para descansar e até mesmo dormir, como faziam, naquele momento, alguns
trabalhadores da limpeza pública.
Estando na Praça, tive a sensação perder o senso de localização da área de entorno da praça.
O barulho dos automóveis, sobretudo dos ônibus que circulam na região do terminal à margem da
Praça, tem seus efeitos abafados. A praça transmite a sensação de isolamento acústico, sobretudo
estando mais próximo à igreja.
Seguindo o itinerário programado, encontrei novamente meus colegas de pesquisa e seguimos
para a Ilha de São Vicente. Na Ilha, buscamos o restaurante para almoçar. Escolhemos o restaurante
“Mirage”, local que já conhecíamos. Após fazermos nossa refeição, aproveitamos para conversar com
a dona do estabelecimento. Perguntamos o que mais marca para ela ter o estabelecimento naquela
localidade, ela relatou que além de todo espaço preservado naquela rua (Bernardo Ramos), o local é
parte da memória que ela guarda da época que o restaurante era sua casa. Ao sorrir, ela conta que
estar ali, lembra a infância dela, quando brincava na rua e circulava pela região. Então, para ela ter
um empreendimento naquela localidade tem um valor afetivo.
A rua Bernardo Ramos, onde fica localizado o restaurante, possui um conjunto de bens que
marca a arquitetura da Belle Époque em Manaus, representados no conjunto morfológico dos edifícios,
calçamento por toda extensão, a começar pela Praça Dom Pedro II até o 9° Distrito Naval.
Estar nesse trecho da Bernardo Ramos possibilita uma experiência de revival (volta no tempo)
por ser uma das ruas que mais concentra atributos e características peculiares à tipologia do início da
urbanização de Manaus, vinculados ao Ciclo da Borracha. A Bernardo Ramos é configurada para
prestigiar o passeio dos pedestres, limitar a circulação de automóveis. Nota-se essa configuração a
partir do amplo calçamento, arborização e pavimentação de paralelepípedos.
As casas, nessa rua, compõem uma unidade tipológica e morfológica perceptível nas fachadas,
gabarito, vãos das portas e cores. Ao realizar a vivência no lugar, somos levados a conceber que a
área é suporte de memória da cidade.
Para averiguar se a Ilha de São Vicente mantém uma coerência nas demais quadras de ruas,
caminhamos pela Rua Frei José dos Inocentes. Diferentemente do que ocorre na Rua Bernardo Ramos,
na Frei José, a lógica de conjunto e unidade já está bastante fragmentada, mas mantém os mesmos
atributos de rua com pouca movimentação, embora com calçamento reduzido e pavimentação de
asfalto.
A Ilha de São Vicente parece guardar a vida pacata provinciana. Fomos até o fim da Rua
Gabriel Salgado, onde tem acesso ao começo de um igarapé. Ao chegarmos próximo desta área,
acenou para nós uma moradora da última casa da rua. Ao perguntarmos sobre como ela sente
morando naquele lugar, ela nos manifestou a sensação de insegurança e que por esse motivo não tem
mais vontade de passear pelo Centro. Um aspecto interesse da relação com aquela senhora foi o
acolhimento, despreocupada em estar falando com estranhos ela passou a fazer orientações espirituais
e religiosas.
117
Retornamos à rua Bernardo Ramos, seguimos para o início da Avenida 7 de Setembro. Fomos
até o fim do prédio da Amazonas Energia, onde tem uma bela vista do Rio Negro. Ficamos apreciando
o raro acesso visual do rio por algum tempo. Lembramos naquele momento ao colega Leandro que ali
era o lugar que todos os recém-chegados do IPHAN vão para ter seu “batismo” simbólico de iniciação
à trajetória no órgão. O local apresenta um contraste entre a beleza da imensidão do Rio Negro e a
poluição e abandono da área.
Seguindo a Avenida 7 de Setembro, observamos ligeiramente a Praça Dom Pedro II. Ao estar
na Dom Pedro II foi inevitável perceber que ela é o epicentro ou núcleo de uma ocupação urbana,
circundada por um conjunto remanescente de edifícios que mantém uma ligação direta com a praça.
Ela é circundada pelo Paço da Liberdade (Museu da Cidade), o Palácio Rio Branco e o antigo Hotel
Cassina. O prédio onde hoje ocupa o INSS, destoa o padrão estabelecido pelos demais da quadra, em
todos os sentidos. A circulação de pessoas na área, se dá mais pelos visitantes do Museu da Cidade
e do departamento de Segurança Pública que fica nas adjacências. Durante nossa imersão naquele
lugar, notamos que a Praça, por estar isolada em relação à área comercial, é pouco movimentada, a
não ser pelo espaço ocupado por moradores de rua.
Continuamos nossa trajetória, dessa vez fomos em direção à Praça da Igreja dos Remédios.
Para esta observação participante, contei com a parceria do pesquisador, antropólogo, Leandro
Gomes.
Na caminhada até a referida Praça, fomos identificando alguns conjuntos de bens que possuem
estruturas morfológicas e características peculiares do recorte tipológico estabelecido para
tombamento do centro histórico.
Permanecendo por quase 40 minutos, usufruímos do sombreamento, do silêncio, da ventilação,
da vista para o Rio Negro, observamos quem transitava, a qualidade dos bancos largos que parecem
“sofás de concreto” e desfrutamos de um bom lugar para dialogar. Leandro e eu percebemos o quanto
o local é propício ao encontro e conversas. Especialmente, nesta praça eu me senti num refúgio e num
universo social de uma cidade do interior. A Praça dos Remédios é bastante arborizada, possui ao seu
redor baixa circulação de carros. Diferentemente das outras praças, a dos Remédios não parece estar
conectada com os imóveis ao redor.
Naquele momento que usufruíamos da praça, escutávamos, como paisagem sonora, o som de
um senhor fazendo uma pregação e executando músicas evangélicas. Notamos que algumas pessoas
que permaneciam na praça, acompanhavam a pregação e cantavam as canções.
Dessa imersão, fomos para feira da Manaus Moderna. Observamos a fartura de peixes e
verduras. Os trabalhadores já estavam guardando parte dos produtos expostos nas bancas e fazendo
a higienização do lugar. A feira estava, naquela hora, muito tranquila, trabalhadores demonstravam
satisfação, e em um clima de fim de dia, reservavam energia para dialogar e brincar com seus colegas.
Após isso, fomos até à beira da Manaus Moderna, de lá ficamos observando os barcos que chegavam
e saíam. Do alto assistimos crianças se banhando no rio. Trocamos a posição que estávamos, viramos
nosso olhar para cidade para simular a percepção de quem está chegando à cidade. Observamos a
118
paisagem da cidade, as cores e a composição dos prédios e fachadas. Identificamos que quem chega
à Manaus Moderna, a primeira imagem que se tem é de uma cidade bastante modificada representada
na mistura de placas, propagandas e contraste entre prédios modernos e antigos. Dessa observação,
seguimos para o Largo de São Sebastião para encontrar com os colegas da equipe e finalizar a
atividade naquele dia.
2. Segundo dia
No dia 16 de outubro de 2019, a observação participante foi realizada na Av. 7 de Setembro,
no trecho compreendido entre a Igreja Matriz e a Praça Heliodoro Balbi, mais conhecida como Praça
da Polícia. Os estagiários da UEA, Silvio e Rebeca, acompanharam-me nesta atividade.
Caminhando pela avenida 7 de setembro, no trecho mencionado, pudemos notar o quanto os
conjuntos ou os bens representativos da tipologia arquitetônica da Belle Époque estão fragmentados
e são raros nessa área. Quando estamos nesta Avenida, chama atenção o gabarito de mais de quatro
pavimentos dos edifícios situados nessa localidade e a largura reduzida das calçadas. Aspecto que
causa uma quebra na lógica que fundamentam as qualidades, atributos e características observadas
no primeiro trecho dessa mesma avenida, na região da Ilha de São Vicente.
Ao chegar à Praça Heliodoro Balbi, tivemos a impressão de reencontrarmos as qualidades
observadas na Ilha de São Vicente. Na Praça são salvaguardadas calçadas largas e densa arborização,
características que cooperam para qualidade do passeio, permanência e o conforto térmico.
Outros aspectos que agradaram quando chegamos à praça foi a presença de guardas de
segurança, assim como a presença de profissionais de limpeza, enfatizando a sensação de segurança
e bem-estar.
A paisagem de fundo da Praça é delineada pelo Palacete Provincial ao fundo e Colégio
Amazonense Dom Pedro II à esquerda, compondo o conjunto daquela área.
Ao realizarmos o primeiro momento de vivência na praça, observei que o meu exercício de
observação estava sustentado num olhar naturalizado da praça, pois senti-me conformado ao lugar,
uma vez que aquela paisagem foi cenário por três anos, que fui estudante no Colégio Amazonense
Dom Pedro II e mais uns 10 anos que trabalhei no Centro. No entanto, a lembrança foi despertada
quando notei que alguns aspectos da praça foram alterados. Como por exemplo, “os lagos artificiais”
com fundo de cor verde, imitando piscina, modifica a ideia que tinha de um “lago de verdade”. As
fontes não funcionam mais e não há mais peixes nos lagos.
Tirando essa memória reconstruída a partir das ausências, estar na praça nos proporcionou
percepção de uma série de características e atributos do lugar. Lugar de encontro e sociabilidade, a
praça é boa para conversar, compartilhar e desfrutar do tempo em pleno centro urbano da cidade.
Caminhando pela área central da praça, avistei na proximidade do coreto um vendedor de água,
que fazia seu trabalho naquela tarde. Fiquei curioso para saber qual seria o olhar daquele que utiliza
a praça como lugar para o seu trabalho. Ao conversar com ele, ele relatou que a praça é bonita por
ter esculturas, arborização, museu, coreto, bancos que servem de lugar de descanso. O movimento é
tão bom que dá para vender bem.
119
Logo depois, busquei diálogo com um grupo de meninas estudantes. Elas esboçaram receio ao
perceber minha aproximação. Apenas uma delas quis conversar comigo. Ao perguntar se ela gostava
da Praça e o porquê, ela respondeu: “a praça é um bom lugar de encontro; você não gosta de ninguém,
você vem para praça”. Foi o que ela conseguiu responder, resistindo aos insistentes pedidos para sair
dali. A frase daquela moça, reforça como a praça é espaço para começar novos relacionamentos e
criar amizades. Ou mesmo, alguém que precisa vir à praça para ficar sozinho. O episódio das
estudantes, trouxe uma reflexão sobre uma divisão social de gênero de uso dos espaços públicos. Foi
notório após este start, notar a permanência e o trânsito muito mais de homens do que de mulheres.
Notamos outra rara presença feminina na praça. Ela permanecia por muito tempo apoiando-se
no guarda-corpo da ponte que atravessa um dos chafarizes. Ao perguntarmos sobre a sua percepção
do local, ela justificou não poder contribuir muito por ser venezuelana e que não estava há muito
tempo na cidade, mas mesmo assim insistimos na sua contribuição para a pesquisa. Então, ela
declarou que achava bonita a quantidade de árvores, sendo esse aspecto, segundo ela, um atrativo
para as pessoas frequentarem ali. Ela, ainda, fez críticas à infraestrutura, a sujeira e mobiliários
quebrados. Outro aspecto negativo, destacado por ela, foi a sensação de insegurança que ameaça o
uso da praça, sobretudo a noite.
Uma outra atração da praça é o reconhecido e memorável Café do Pina. O café fica em uma
das extremidades da praça, para quem vem subindo a Avenida 7 de Setembro. Decidimos usufruir
daquele pedaço, sentamo-nos, fizemos nosso pedido e começamos a conversar com o gerente do
estabelecimento, que demonstrou interesse em dialogar conosco. Ele contou que trabalha com a
família Pina há 34 anos e há 12 no café. Ele destacou que o café é um dos motivos que trazem as
pessoas para praça. Ressaltou com orgulho o fato de seu estabelecimento manter o modo de fazer
café, há mais de 50 anos, considerado por ele como tradicional, pois poucas lanchonetes oferecem
café produzido no coador, comparou ele. Ele relembrou as mudanças de lugar da estrutura do café,
ocupando diversas localidades da praça.
O gerente ao descrever sua experiência como comerciante no centro, reclamou sobre a
desvalorização do centro pelas gestões governamentais. Para ele uma das intervenções
governamentais negativas que implicaram diretamente no rendimento das atividades de prestação de
serviços e comércio no centro, foi a implantação da zona azul. Segundo ele, a zona azul afastou a
população do centro. Ele considera que a "zona azul" é responsável por “afastar” a população e
“obrigar” os empresários a investirem e levarem seus negócios para os bairros. O espaço dos
empreendedores amazonenses no centro tem sido ocupado pelos chineses. Segundo ele, "os chineses
estão tomando conta", "para cada loja que fecha no centro, há um chinês abrindo no mesmo lugar".
Outros aspectos que têm afastado os frequentadores do centro e da praça é a limpeza e falta
de segurança. Ele comentou que a limpeza ele mesmo providencia na área mais próxima ao café, no
entanto os outros pedaços da praça ficam descobertos por um zelo contínuo. A presença de
policiamento é limitada, permitindo que lugar seja alvo fácil da atuação de assaltantes.
120
Ressaltou que o Café do Pina por ser um dos estabelecimentos mais antigos daquela região do
centro, ocupa relevância na história da cidade, reservando práticas sociais e encontros de uma clientela
que frequenta o lugar há bastante tempo. Ele lamentou o fato de ao longo desse tempo ter registrado
a perda da presença de sua clientela e esse tipo de frequentador assíduo não tem sido renovado.
Durante essa conversa, fazíamos o delicioso chance, tapioca com queijo e tucumã, sanduíche,
seguido do famoso café tradicional. Após essa conversa, continuamos a observação.
Durante uma nova caminhada na praça, encontramos um casal num dos bancos mais ao centro
da praça, próximos a um coreto e resolvemos fazer mais algumas indagações. Perguntamos a eles se
frequentam regularmente a praça. O rapaz respondeu que sim. Ele comentou ainda que gosta do lugar
porque ele se sente no espaço antigo, com “clima antigo”. Revelou que é um bom lugar para fazer
leitura e que ali estudou para o vestibular, o que garantiu seu ingresso à faculdade de Jornalismo.
“Aqui é ótimo para quem está com problema e quer raciocinar”. Chamou a atenção para a arborização,
pois o ambiente natural o agrada. Criticou a falta de limpeza. Para ele, o coreto precisa ser protegido,
a parte externa do Palacete deve ser preservada e a pintura repensada e reformada.
8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.
11.4 Relatório 04
Dados Gerais
4. Duração do campo: 9h
5. Documentação fotográfica
Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro) Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro)
Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019
Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro) Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro)
Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019
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Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro) Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro)
Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019
Título: Rua Bernardo Ramos Autor: Matheus C. Título: Praça Dom Pedro II Autor: Matheus C.
Blach Data: 09/10/2019 Blach Data: 09/10/2019
Título: Rua Frei José dos Inocentes Autor: Título: Sede do Projeto Casa do Frei (Instituto
Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Amazônia) Autor: Matheus C. Blach Data:
09/10/2019
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Título: Sede do Projeto Casa do Frei (Instituto Título: Sede do Projeto Casa do Frei (Instituto
Amazônia) Autor: Matheus C. Blach Data: Amazônia) Autor: Matheus C. Blach Data:
09/10/2019 09/10/2019
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6. Mapa
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7. Relatório da Atividade
A aplicação da metodologia de observação participante teve início no dia 09/10/2019 por volta
das 10h da manhã. A proposta foi realizar trajetos no Centro Histórico de Manaus orientados pela
poligonal estabelecida pelo dossiê de tombamento, orientados pelos mapas de percepção que haviam
sido realizados até aquela ocasião e orientados pelas minutas de readequação da poligonal de
tombamento e entorno realizadas pelos técnicos da Superintendência do Iphan no Amazonas. Além
de percorrer os trajetos estipulados, os pesquisadores, conversaram com moradores, comerciantes,
vendedores ambulantes e transeuntes que utilizavam esses espaços da cidade e indicavam novos
roteiros e lugares.
Assim, os pesquisadores Leandro Eustáquio Gomes, Mauro Augusto Dourado Menezes e eu
(Matheus Cássio Blach), compondo o Grupo 01, iniciamos a atividade a partir da Praça da Matriz (Praça
XV de Novembro). Após uma breve caminhada por uma das calçadas, decidimos nos separar, para
que cada um pudesse ficar à vontade para explorar e observar aquele ambiente. Enquanto caminhava
tomei notas sobre o que observava em um gravador de voz, o qual utilizo para relembrar pontos
importantes e traduzi-los nessa análise. Com o objetivo de organizar o texto optei por dividir a análise
em dois momentos/espaços: primeiro relato a aplicação da metodologia na área da Praça da Matriz e
e seu entorno e em seguida na Praça Dom Pedro II (Paço da Liberdade) e seu entorno.
Desse modo adentrei o espaço da praça seguindo em direção ao seu ponto mais central. A
primeira impressão que tive foi do fluxo de pessoas na Praça. A movimentação era, de fato, enorme,
muitas pessoas passavam por ali atravessando a praça e seguindo em direção, principalmente, a
Avenida Eduardo Ribeiro. No entanto, muitas pessoas caminhavam em direção ao Porto e a Rua 15 de
Novembro. Esses fluxos mais intensos partiam do próprio Porto e do Terminal de Ônibus da Praça da
Matriz. A maioria das pessoas apresentavam um caminhar mais apressado. Apesar do desenho da
Praça com caminhos, canteiros e jardins, as pessoas optam por realizar o caminho mais curto entre
um ponto e outro, atravessando por cima do gramado e criando pequenas trilhas de terra onde a
grama pisada já morreu. Outras, com o caminhar mais lento, estavam dentre aquelas que exerciam
alguma atividade na praça, como vendedores ambulantes, panfleteiros, pedintes, funcionários da
prefeitura realizando manutenção e coleta de lixo, dentre outros.
Além desses, também se notou um público estacionário, ainda que bem menor: os
trabalhadores dos quiosques de venda de lanches, moradores de rua e diversas outras pessoas que
estavam ali sentadas nos bancos da praça. Neste primeiro momento já se evidenciou a importância
da presença de árvores nos espaços públicos de Manaus. Os bancos que estavam sob a sombra das
árvores estavam, praticamente, todos ocupados. Já àqueles ao sol, vazios.
O trânsito de veículos nos arredores da praça também é considerável. O número de taxis lotação
que vêm da Av. Eduardo Ribeiro impressiona e ao mesmo tempo incomoda, pois os motoristas têm o
hábito de passarem buzinando para chamar a atenção de possíveis passageiros no entorno da praça.
Já o fluxo que vem da Rua 15 de Novembro e Avenida Floriano Peixoto, prioriza os ônibus, sobretudo
devido ao Terminal que ali existe. De fato, a praça é um ambiente bastante barulhento em que se
126
escuta os sons dos veículos, os gritos e palmas dos vendedores que ficam na rua, anúncios e músicas
com caixas de som das lojas nos arredores, dentre outros.
O grande fluxo de pessoas, veículos e sons fez com que minha atenção ficasse presa ao que
estava acontecendo ao meu redor mais imediato. As diversas narrativas a respeito do centro de
Manaus, que relatam esse espaço como um local violento em que ocorrem muitos assaltos e outros
crimes, podem ter contribuído para essa fixação do olhar num horizonte mais restrito. No entanto, em
um esforço maior de apreensão da paisagem cultural, elevei meu olhar para o entorno e edificações
ao redor praça. Assim, a partir do centro da Praça pude observar se destacando na paisagem: o
conjunto de ruínas do Booth Line, a entrada do Porto de Manaus e a antiga Casa da Tração Elétrica, o
edifício do Banco do Brasil e o antigo edifício do Ministério da Fazenda.
Os dois últimos citados, a meu ver, impactam de forma negativa a paisagem da Praça. O edifício
do Banco do Brasil, um grande bloco cúbico de cor branca e cinza apresenta aspecto austero, que
destoa de seu entorno não estabelecendo diálogos morfológicos nem com as construções
contemporâneas, nem com as construções antigas dessa área. O potencial reflexivo de suas cores
agride o olhar, embora não tanto quanto a frente espelhada do antigo edifício do Ministério da Fazenda.
Este, talvez seja o edifício mais marcante na paisagem devido a sua altura absolutamente
descontextualizada com os arredores da Praça. O espelho faz um desserviço a capacidade de conforto
térmico de suas imediações na Praça ao tempo que parece tentar amenizar um problema que ele
mesmo causa, refletindo a imagem oposta da paisagem urbana e do céu, tornando sua presença
menos incômoda ao olhar.
As fachadas dos prédios da Avenida Eduardo Ribeiro que ficam na quadra da Praça, observada
de longe, apresentam uma certa unidade morfológica, sendo preservado parte considerável do
gabarito das construções. Além disso, nota-se características arquitetônicas originais a partir do
segundo pavimento dessas edificações, uma vez que, quase todos os térreos foram convertidos em
frentes de lojas.
Ao percorrer a parte “interna” da praça, ou seja, os jardins da Igreja, nota-se um fluxo bem
menor de pessoas enquanto um número maior de pessoas sentadas às sombras oferecidas pela
arborização do espaço. Aqui, foi possível observar alguns turistas visitando a igreja, pessoas
caminhando mais lentamente com sacolas de compras, casais namorando, vendedores ambulantes de
gêneros alimentícios variados, dentre outros. Uma presença curiosa é a das profissionais do sexo que
provocam o estabelecimento de uma relação, pelo menos aparentemente, harmoniosa entre o
“sagrado” e o “profano” naquele lugar. Existe um local específico em que elas ocupam e oferecem seus
serviços aos homens que transitam por ali.
Por fim, tive a oportunidade de conversar com uma senhora que estava sentada em uma mureta
próxima a lateral esquerda da Igreja. Ela relatou que não frequenta o centro e que vai ali apenas uma
vez por mês para receber uma cesta básica. A senhora, desempregada, trabalha fazendo “bicos” como
faxineira, embora tenha relatado que durante muitos anos foi artesã e vivia viajando pelo país como
feirante. Aproveitei a oportunidade e a disposição que ela manifestou em conversar para perguntar-
127
lhe quais locais de Manaus ela recomendaria para alguém “de fora” visitar caso quisesse conhecer a
história e a cultura da cidade. Ela disse que Manaus “tem muita História” e que, além da própria Praça
da Matriz, seria interessante conhecer a Praça Dom Pedro II, Teatro Amazonas, o Mercado Adolpho
Lisboa e a feira Manaus Moderna. Sobre a Praça Dom Pedro II, no entanto, ela disse que não era bom
eu ir lá naquele momento pois era um lugar muito perigoso e abandonado. De fato, o trajeto que
fizemos mais tarde, partindo da Matriz e indo em direção a Praça Dom Pedro II, através do terminal
de ônibus e passando pela Rua Visconde de Mauá, revelou um ambiente tumultuado com grande fluxo
de veículos e pessoas, com muitas edificações abandonadas, com condições de preservação
aparentemente precárias e pouco policiamento. É notório que dois dos pesquisadores envolvidos com
essa pesquisa tem relatos pessoais de incidentes com furtos e roubos nessa mesma área.
Por último, a senhora com que conversava, recomendou que eu adentrasse a Catedral de Nossa
Senhora da Conceição (Matriz) porque em seu interior existe um museu que conta toda a história de
como a Igreja era, de quando ela pegou fogo e de como ela se tornou o que é hoje. A fala dela revela
indícios de que a narrativa que atribui valor a Igreja enquanto patrimônio é de fato incorporada em
suas percepções sobre a história de Manaus, demonstrando o potencial de difusão dessa narrativa
entre a população.
Em seguida caminhamos em direção à Praça Dom Pedro II e seu entorno. Como já estávamos
nos aproximando do horário de almoço optamos por ir em um restaurante situado na rua Bernardo
Ramos na altura do número 43. Assim, analisou-se esse trecho da rua, que vai do seu início até a
Praça Dom Pedro II.
No restaurante tivemos a oportunidade de conversar com a proprietária que nos relatou que,
antes de ser um espaço comercial, aquele lugar foi a casa de sua família tendo morado ali durante 20
anos. A proprietária do restaurante contou que durante a sua infância brincava muito na rua que era
mais larga, com calçamento de asfalto liso e com as calçadas estreitas. Informou que o alargamento
das calçadas, o calçamento de pedra e o estreitamento da via para a circulação de apenas um veículo
por vez, foi bem mais recente.
Essa rua é, talvez, a que apresenta maior número de edificações aparentemente preservadas.
A altura das casas segue uma uniformidade notória, elemento raramente perceptível em outros locais
pesquisados no Centro Histórico de Manaus. Esse trecho da Bernardo Ramos revela uma rua
aconchegante que, com bastante árvores, calçadas largas e trânsito de veículos reduzido, parece
convidar para uma agradável caminhada contemplando as edificações que a compõe.
Após realizar a observação na Rua Bernardo Ramos, seguimos para o início da Avenida 7 de
Setembro, no ponto em que se tem o contato direto com o rio. No entanto, para fins de organização
textual, optei por traduzir em análise a observação desse trecho no relatório em que trato
especificamente dessa avenida.
Desse modo, após observar o referido trecho da Avenida 7 de Setembro, seguimos de fato para
a Praça Dom Pedro II. A praça apresentava-se como uma praça jardim, repleta de árvores e plantas
menores, Coreto em ferro fundido e o piso de saibro. O espaço abriga um sítio arqueológico em que
128
foram encontradas urnas e diversos outros vestígios da presença das civilizações pré-coloniais. Em
seu entorno destacam-se o Paço da Liberdade (Museu da Cidade), o Palácio Rio Branco e o antigo
Hotel Cassina. De forma negativa destaca-se o prédio onde hoje ocupa o INSS, a altura do prédio
destoa do entorno e rouba o protagonismo dos prédios históricos no contexto da praça. A
movimentação de veículos ao seu redor é reduzida, com exceção da face voltada para a Rua
Governador Vitório. O fluxo de pessoas também é menor, sobretudo se comparado com a Praça da
Matriz. De fato, a mudança de ambiente é significativa entre esses dois espaços, geograficamente, tão
próximos. A maior movimentação de pessoas envolve o acesso ao Museu da Cidade, nessa ocasião e
em outros momentos notei a presença de ônibus de turismo e de grupos escolares estacionados em
frente ao museu, embora nunca tenha observado grupos de turistas no interior da praça. O Coreto é
usado como abrigo por moradores de rua, esses sim, ocupantes permanentes da praça.
Por fim, a praça oferece um conforto térmico relativamente bom, apesar de arborizada a
densidade das copas parece não a proteger efetivamente do sol, gerando poucos pontos com sombras.
Mais uma vez, os espaços em que se faz sombra são ocupados, porém, diferente da Praça da Matriz,
não tão disputados. A impressão de abandono ou de vazio é notória, contudo, a praça figura-se como
um local mais calmo. Talvez, solucionando o problema da segurança pública, a praça possa atrair um
público maior sem perder essa qualidade de ser um ambiente de tranquilidade. Cabe destacar que as
observações aqui descritas foram realizadas em data anterior ao início da última obra de revitalização
da praça que ocorre no momento da escrita desse relatório. Os impactos positivos e negativos da nova
intervenção deverão ser mensurados novamente, em outro momento.
Em seguida nos direcionamos para a Rua Frei José dos Inocentes. A rua apresenta alguns
imóveis aparentemente preservados e outros nem tanto. Uma parte das construções são parecidas e
mantem mais ou menos a mesma altura, o que confere a sensação de unidade para o conjunto. O
fluxo de veículos parece ser pequeno, alguns moradores transitavam pelas ruas, algumas senhoras e
crianças andavam tranquilamente.
Passamos em frente a Casa do Frei, um projeto social mantido pelo Instituto Amazônia com a
comunidade dos moradores da Ilha de São Vicente. Em frente, o mesmo instituto também mantém o
projeto Caminhos da Arte onde são ofertados cursos de dança, circo, teatro, dentre outros, para a
comunidade. Posteriormente, no decorrer da pesquisa, contamos com o apoio do Instituto Amazônia
para reunir esses moradores e realizarmos uma Oficina de Mapas de Percepção com eles.
Por fim, continuamos caminhando pela área até encontrarmos com uma moradora na Rua
Gabriel Salgado. A moradora já vive nessa área há 14 anos, após alguns minutos de conversa
perguntei a ela quais os locais da cidade ela recomendaria a visita para alguém que quisesse conhecer
a história e a cultura de Manaus. Ela disse que os locais são a Praça da Matriz e o Largo São Sebastião
que são os lugares onde tem “muita coisa bonita pra se ver”.
7. Referências Bibliográficas
129
11.5 Relatório 05
Dados Gerais
4. Duração do campo: 9h
5. Documentação fotográfica
Título: Praça do Congresso (Praça Antônio Bittencourt) Título: Praça do Congresso (Praça Antônio
Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Bittencourt) Autor: Matheus C. Blach Data:
09/10/2019
Título: Praça do Congresso (Praça Antônio Bittencourt) Título: Praça do Congresso (Praça Antônio
Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Bittencourt) Autor: Matheus C. Blach Data:
09/10/2019
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Título: Praça da Saudade (Praça 5 de Setembro) Título: Praça da Saudade (Praça 5 de Setembro)
Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019
Título: Teatro Amazonas Autor: Yara Araújo Magabi Título: Teatro Amazonas Autor: Yara Araújo Magabi
Data: 16/10/2019 Data: 16/10/2019
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6. Mapa
133
7. Relatório da Atividade
A aplicação da metodologia de observação participante teve início no dia 09/10/2019 por volta
das 10h da manhã. A proposta foi realizar trajetos no Centro Histórico de Manaus orientados pela
poligonal estabelecida pelo dossiê de tombamento, orientados pelos mapas de percepção que haviam
sido realizados até aquela ocasião e orientados pelas minutas de readequação da poligonal de
tombamento e entorno realizadas pelos técnicos da Superintendência do Iphan no Amazonas. Além
de percorrer os trajetos estipulados, os pesquisadores, conversaram com moradores, comerciantes,
vendedores ambulantes e transeuntes que utilizavam esses espaços da cidade e indicavam novos
roteiros e lugares.
Após ter percorrido a área representada pelo Grupo 01 no mapa, durante o período da manhã
e início da tarde, me desloquei para a área representada pelo Grupo 02. Juntamente com as
pesquisadoras Yara Araújo Magabi e Luciane da Silva Queroga. Posteriormente o grupo foi integrado
também pelos pesquisadores Rebeca Nunes de Melo e Silvio Márcio Freire de Alencar Filho. Demos
início a essa segunda parte da observação a partir da Praça Antônio Bittencourt (Praça do Congresso).
A Praça apresenta áreas bem arborizadas, com gramados e bancos, locais propícios para a
permanência evidenciado pela presença de jovens estudantes e moradores do entorno que ocupam
esses espaços. A parte central da praça por onde se seguia a continuidade da Avenida Eduardo Ribeiro,
caracteriza-se por ser um espaço aberto, com calçamento e sem arborização. O espaço é propício para
a realização de eventos, manifestações políticas e culturais evidenciados pelo grande número de
ocorrências desse tipo pontuadas na agenda anual da cidade. Além disso, a praça conta com
barraquinhas que vendem lanches e uma banca de livros e revistas que tem tanto um aspecto
comercial como também divide o espaço com uma proposta de minibiblioteca pública da Secretaria de
Estado de Cultura do Amazonas.
De modo geral o trânsito de veículos ao redor da Praça é moderado, no entanto, sua face
voltada para a Avenida Ramos Ferreira apresenta volume intenso. As edificações do entorno
apresentam certa uniformidade quanto à altura, porém, sem unidade estilística notória. O condomínio
do Edifício Maxímino Corrêa é uma exceção, rompendo completamente a harmonia do conjunto. O
edifício, de valor estético duvidoso, assume protagonismo na paisagem da Praça, concorrendo com o
edifício do Instituto de Educação do Amazonas o qual deveria ser o prédio mais imponente da área,
tendo em vista o projeto urbanístico que conformou a construção da própria Avenida Eduardo Ribeiro.
Ainda assim, existem edifícios que podem ser inseridos na lógica de interesse a preservação como
Teatro Gebes Medeiros e a Biblioteca Municipal João Bosco Evangelista.
A partir da Praça, ainda é possível enxergar o topo da torre da Igreja de São Sebastião, parte
da Cúpula do Teatro, quase toda a extensão da Avenida Eduardo Ribeiro e por muito pouco não se
tem uma visada do Rio Negro, talvez no período de cheia isso seja possível. O fluxo de pessoas é
moderado. Em comparação com a Praça da Matriz, localizada no início da Avenida Eduardo Ribeiro,
esse fluxo é consideravelmente menor. A praça tem seguranças que a monitoram e um número
considerável de pessoas ocupando e permanecendo nos espaços sombreados, bancos, gramados,
134
paisagem, como o Edifício Maximino Corrêa, o Edifício Cidade de Manaus e outros que marcam o
processo de verticalização do centro, embora existam graus diferentes e específicos de impactos
causados por esses prédios que marcam a paisagem. De modo geral a praça é muito bem conservada
e limpa, possui grande vitalidade e os componentes de seu entorno imediato se apresentam bem
conservados.
Especificamente na Praça de São Sebastião nota-se uma arborização mais densa enquanto nos
demais espaços do largo ela é menor. Os bancos localizados à sombra das árvores são disputados, a
impressão que fica é de que poderiam ter mais árvores e mais bancos no Largo. A disposição das
árvores ao redor da praça prejudica a apreciação estética do teatro enquanto o seu interior fica
desprovido de sombreamento. De fato, o espaço interno da praça só é ocupado efetivamente pelas
pessoas ao anoitecer. Nesse momento, diversas pessoas sentam-se no próprio Monumento à Abertura
dos Portos e muitas crianças correm e brincam no espaço aberto da praça. No entanto, algumas
pessoas ainda reclamam, pois mesmo passadas algumas horas do pôr-do-sol, o material construtivo
do monumento ainda retém o calor. Parece sensato supor que uma requalificação visando ao
paisagismo da praça, poderia privilegiar uma visada mais ampla do Teatro Amazonas, destacando seu
protagonismo na Paisagem, ao mesmo tempo em que se garanta mais sombra e mais locais de
permanência e usufruto.
Por fim, na medida em que as horas passaram a ambiência do largo foi se alterando e cada vez
mais pessoas ocupavam o local, enquanto a continuidade do fluxo de pessoas que apenas o
atravessavam, foi diminuindo. Organizadores do Tacaca na Bossa prepararam o palco e distribuíram
cadeiras. Cada vez mais, um número maior de pessoas se sentava e aguardava o começo do show.
Muitas outras pessoas iam chegando, ocupando outros espaços e se envolvendo e diversas atividades.
Moradores de rua e pedintes, turistas, moradores do entorno, artistas de palco e de rua e diversos
outros compõem o cenário. A quente e animada noite no Largo de São José é marcada pela diversidade
de grupos sociais, seus usos e apropriações. No entanto, essa vitalidade é observada de forma mais
notável apenas nessa área. Findo o horário comercial, grande parte do Centro de Manaus parece
esvaziar-se durante a noite, denotando uma impressão de abandono e insegurança. O uso misto da
maioria dos espaços do Centro de Manaus não se verifica na mesma extensão em que ocorre no largo,
caracterizando problemas urbanos graves como o da ocupação efetiva através da habitação. De fato,
o largo figura-se como um verdadeiro projeto piloto para o Centro Histórico de Manaus, com
diversidade de grupos sociais, de usos e apropriações, de serviços, com infraestrutura adequada e
vitalidade exemplar.
7. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
137
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis : Vozes,
1998.
NORA, Pierre. Entre memória e história: A problemática dos lugares. Revista Projeto História, São
Paulo, PUC, n. 10, pp. 7-28, dezembro de 1993.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.
11.6 Relatório 06
Dados Gerais
1. Responsável técnico: Mauro Augusto Dourado Menezes
2. Pesquisador: Luciane Queroga e Matheus Blach
3. Data do campo: 16/10/2019
4. Duração do campo: 4h
5. Documentação fotográfica
Título: Início da Avenida 7 de Setembro, na Ilha de Título: Início da Avenida 7 de Setembro, na Ilha de
São Vicente Autor: Matheus C. Blach Data: São Vicente Autor: Matheus C. Blach Data:
09/10/2019 09/10/2019
Título: Início da Avenida 7 de Setembro, na Ilha de Título: Início da Avenida 7 de Setembro, na Ilha de
São Vicente Autor: Matheus C. Blach Data: São Vicente Autor: Matheus C. Blach Data:
09/10/2019 09/10/2019
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Título: Avenida Sete de Setembro. Autor: Luciane Título: Avenida Sete de Setembro. Autor: Luciane
Queroga Data: 16/10/2019 Queroga Data: 16/10/2019
Título: Edificações da Avenida Sete de Setembro. Título: Avenida Sete de Setembro. Autor: Luciane
Autor: Luciane Queroga Data: 16/10/2019 Queroga Data: 16/10/2019
Título: Praça Heliodoro Balbi. Autor: Luciane Queroga Título: Praça Heliodoro Balbi. Autor: Luciane
Data: 16/10/2019 Queroga Data: 16/10/2019
140
Título: Praça Heliodoro Balbi. Autor: Luciane Queroga Título: Praça Heliodoro Balbi. Autor: Luciane
Data: 16/10/2019 Queroga Data: 16/10/2019
Título:Fachada Cine Polytheama, atual lojas Título: Fachadas de casas que remete ao período da
americanas. Autor: Luciane Queroga Data: Belle Époque. Autor: Luciane Queroga Data:
16/10/2019 16/10/2019
Título: Avenida Sete de Setembro. Autor: Luciane Título: Parque Senador Jefferson Péres. Autor:
Queroga Data: 16/10/2019 Luciane Queroga Data: 16/10/2019
141
Título: Ponte sobre o Igarapé Manaus. Autor: Luciane Título: Avenida Sete de Setembro. Autor: Luciane
Queroga Data: 16/10/2019 Queroga Data: 16/10/2019
Título: Salão Rio Solimões e Palácio Rio Negro. Autor: Título: Palácio Rio Negro. Autor: Luciane Queroga
Luciane Queroga Data: 16/10/2019 Data: 16/10/2019
Título: Avenida Sete de Setembro. Autor: Luciane Título: Fachadas de casas que remete ao período da
Queroga Data: 16/10/2019 Belle Époque. Autor: Luciane Queroga Data:
16/10/2019
142
Título: Fachadas de casas que remete ao período da Título: Ponte sobre Igarapé Bittencourt. Autor:
Belle Époque. Autor: Luciane Queroga Data: Luciane Queroga Data: 16/10/2019
16/10/2019
Título: Parque Senador Jefferson Péres. Autor: Título: Parque Senador Jefferson Péres. Autor:
Luciane Queroga Data: 16/10/2019 Luciane Queroga Data: 16/10/2019
143
6. Mapa
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7. Relatório da Atividade
A aplicação da metodologia de observação participante teve início no dia 16/10/2019 por volta
das 14h. A proposta foi realizar trajetos no Centro Histórico de Manaus orientados pela poligonal
estabelecida pelo dossiê de tombamento, orientados pelos mapas de percepção que haviam sido
realizados até aquela ocasião e orientados pelas minutas de readequação da poligonal de tombamento
e entorno realizadas pelos técnicos da Superintendência do Iphan no Amazonas. Além de percorrer os
trajetos estipulados, os pesquisadores, conversaram com moradores, comerciantes, vendedores
ambulantes e transeuntes que utilizavam esses espaços da cidade e indicavam novos roteiros e
lugares.
O presente relatório diz respeito a incursão realizada pelo Grupo 01, composto pelas
pesquisadoras Karla Bitar (superintendente do Iphan no Amazonas), Luciane da Silva Queroga e
Matheus Cássio Blach (eu), no dia 16/10/2019 (MAPA). Desse modo, o relato trata da observação e
análise do eixo estruturante da Avenida 7 de Setembro. A
referida avenida figura-se como um dos eixos principais do Centro de Manaus, sendo meio de
acesso para diversos Bairros, principalmente da zona leste e sul. Além do mais, é uma das avenidas
de grande representatividade para a história política e para a história do urbanismo da cidade,
acompanhando o crescimento e expansão do núcleo urbano de Manaus. Outrossim, também está
ligada à circulação e memórias afetivas de parte da população. A avenida também faz cruzamentos
com outras principais ruas de fluxo de entrada e saída do centro, assim como ruas que trazem em seu
nome à referência a figuras públicas consideradas importantes como Lobo D’Almada, Getúlio Vargas,
Joaquim Nabuco e outros.
Cabe ressaltar que durante a pesquisa de campo do dia 09/10/2019, Grupo 01, fizemos a
análise do trecho da Avenida 7 de Setembro que vai de seu início, na Ilha de São Vicente, até o
cruzamento com a Avenida Eduardo Ribeiro. No entanto, com o objetivo de uma melhor organização
textual, omitimos essa análise do relatório que diz respeito ao campo do dia 09/10 para ser incorporado
no presente relatório, apresentando assim, uma visão geral mais coesa da Avenida 7 de Setembro.
Assim, a incursão realizada no dia 09/10 deu-se a partir da ponta em que a avenida encontra
o Rio Negro. O local preserva, atualmente, um dos dois únicos pontos de contato direto e visada direta
para o rio no centro histórico de Manaus, identificados nesta pesquisa.7 Durante a cheia do rio, suas
águas podem chegar até o início do asfalto, invadindo também, algumas construções do começo da
avenida. Durante a época mais seca, ocasião em que realizamos a observação participante, o rio recua
formando uma grande praia e revelando a poluição presente em suas margens. O volume de lixo
impressiona e o mal cheiro incomoda. No entanto, isso não impediu de encontramos uma banhista no
local. A mulher conversava sozinha enquanto secava-se, sentada ao sol, em suas roupas de baixo.
7 O segundo local identificado é a rampa ao lado do Mercado Adolpho Lisboa, usado durante a cheia do rio para
acesso de pequenas embarcações e como lugar de banho de crianças e moradores de rua; e durante o período seco,
como acesso à praia que se forma, onde é montada uma pequena feira de produtos que chegam de barco.
Considerou-se estes dois espaços com os únicos pelo fato de o acesso via Porto de Manaus ser restrito.
145
Além disso, encontramos os vestígios de um fogão improvisado com restos de peixe assado. Apesar
dos aspectos negativos descritos, ficou notório que o local ainda é utilizado, mesmo diante dos riscos
de contaminação representados pela poluição. A visada do rio e da Ponte Phelippe Daou, ignorando-
se a praia repleta de lixo, ainda preserva sua qualidade paisagística. Indício disso é o fato que, mesmo
nas atuais condições, é comum que turistas que visitam o Museu da Cidade e a Praça D. Pedro II vão
no local para ver o rio.
Dando sequência, seguimos pela avenida em direção ao cruzamento com a Av. Eduardo Ribeiro.
A primeira quadra da avenida não apresenta edifícios preservados nem com características que
remetem ao período do ciclo da borracha. No entanto, entre a travessa Carolina e a rua Gabriel Salgado
existem diversos edifícios que mantém tais características. Ao lado direito para quem “sobe” o gabarito
permanece pouco alterado representando certa unidade de conjunto, enquanto as fachadas também
mantêm alguma unidade de estilo arquitetônico contudo, em condições precárias de preservação. Do
lado esquerdo observa-se os fundos do casario da rua Bernardo Ramos, esse sim, em condições bem
melhores de preservação. A continuidade da unidade é rompida por um espaço aparentemente em
abandono que parecia ser destinado a ser um estacionamento da área do porto e depois é retomada
até chagar na Praça D. Pedro II. Neste ponto, temos o edifício atualmente ocupado pelo INSS que
rompe completamente com a lógica urbana remanescente do ciclo da borracha no entorno da praça,
roubando o protagonismo do Paço da Liberdade e de outros edifícios cujo projeto urbanístico
intencionava dar maior destaque.
Dali em diante, até a avenida Eduardo Ribeiro, destacam-se diversos edifícios de interesse à
preservação, porém, a unidade de conjunto estilística parece-nos ser mais descontínua. No entanto, o
gabarito é relativamente bem preservado até que se cruze a Eduardo Ribeiro. Ou seja, o trecho não
apresenta nenhum edifício que conflite com a lógica do marco paisagístico que a Igreja Matriz
representa nesse espaço urbano.
Na medida em que nos deslocamos da Ilha de São Vicente rumo a Eduardo Ribeiro, o cenário
gradativamente se altera. O fluxo de pessoas e veículos aumenta substancialmente, a arborização
parece diminuir, as calçadas cada vez mais cheias de pessoas, parecem mais estreitas, embora não
tenhamos notado uma diferença real significativa entre suas dimensões no início da avenida e neste
ponto mais “acima”. Conforme descrito em outros relatórios, o espaço que perpassa os fundos da
Praça da Matriz é marcado pela presença de garotas de programa. Aos poucos nota-se um número
maior de vendedores ambulantes e pequenas barracas de venda instaladas de forma improvisada nos
cantos das calçadas.
Ao chegarmos na Avenida Eduardo Ribeiro, demos por encerrado está parte do campo do dia
09/10. Assim, retomaríamos a percepção da avenida no dia 16/10 partindo desse cruzamento,
passando pela Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia), pela Ponte Romana I, pelo Palácio Rio Negro e
indo até a Ponte Romana II, no cruzamento com a Rua Jonathas Pedrosa.
146
aguardam ou que saem da visitação ao Palacete Provincial, um dos prédios históricos que compõem o
cenário da praça. O Palacete tem função de museu, bastante frequentado por pessoas da própria
cidade como por turistas de várias origens.
A cada avanço na caminhada, a avenida vai ganhando um aspecto mais calmo e com prédios
que remetem um padrão mais residencial, com algumas construções do início do século XX porém,
com uma paisagem deteriorada devido alguns edifícios estarem com aspecto de abandono e
depredados seja por pichações, por receberem faixas de propaganda comercial ou por terem suas
fachadas marcadas por emaranhados de fiação.
A partir do cruzamento com a avenida Joaquim Nabuco a presença de edificações que remete
ao período da Belle Époque torna-se mais presente, porém, ainda descontínuas não caracterizando
um conjunto coeso. Também perpassamos as Pontes Romanas (Floriano Peixoto e Marechal Deodoro)
construídas sobre os igarapés Manaus e Bittencourt que passam pelo parque senador Jefferson Peres.
O Parque mantém uma estética agradável, do lado direito a ponte há uma área toda cercada
de grades, com presença de seguranças transitando pelo espaço, há pessoas fazendo uso para
caminhadas, corridas, registros fotográficos e equipe de manutenção fazendo a limpeza do local, o
lado esquerdo à ponte a uma área de parque, todavia, configura uma característica diferente ao lado
direito, com ausência de manutenção, sem grades no entorno e com menor fluxo de pessoas
desfrutando do espaço.
Dentre as construções presentes, sobressai o palácio Rio Negro, que em sua faustosa
edificação em estilo eclético demonstra de forma isolada a ostentação do período do ciclo da borracha,
por sua construção rica de detalhes arquitetônicos e um jardim frontal com a predominância de várias
estátuas e poste “Cajado São José” ornando a área.
Ainda na avenida, encontra-se um conjunto de nove casas, com tipologia e morfologia
semelhantes, embora de cores diferentes, todas tem fachada em linha reta, platibanda, uso de cornija,
evidenciando contraste entre conservação e deterioração.
Dentre o conjunto das nove casas, acima mencionado, com exceção da edificação que teve
função de prefeitura que atualmente está abandonada, as demais casas do conjunto estão em uso
como residência, hotel e espaços comerciais.
A atividade também possibilitou um momento de interação com três senhoras moradoras do
centro, uma delas é proprietária de um pequeno lanche na área do parque localizado na esquina da
Avenida Sete de Setembro com a Rua Jonathas Pedrosa, uma rua que também mantém um conjunto
de dez casas com o mesmo padrão de fachada mencionado anteriormente. Entre essas edificações,
algumas casas foram ampliadas verticalmente, porém, aparentemente, sem perder a harmonização
com a linguagem do modo de construção estabelecidos na Belle Époque.
Em conversa com essas senhoras, perguntei os locais que elas indicariam para alguém que
queira conhecer a história e a cultura manauara. Elas responderam indicando o palácio Rio Negro,
justificando que esse é um lugar importante por atrair muita gente. “Frequentemente ônibus param
em frente ao local para visitação e registro fotográfico”. Além desse, o museu do índio, Teatro
148
Amazonas, Palácio da Justiça, Palacete Provincial e Usina Chaminé. Estes lugares, para essas senhoras,
podem ser considerados como bens que compõem o patrimônio histórico de Manaus.
Ao conversar com a proprietária da uma pequena lanchonete, ela lembrou do tempo que morou
no centro. Quando completou dezesseis anos foi morar em Maceió. Ao casar-se retornou à Manaus,
naquele tempo, com trinta anos de idade, ou seja, passados 24 anos, a cidade estava muito diferente,
relatou ela. A cidade, segundo ela, quando se mudou, tinha apenas quatro bairros, ao regressar
percebeu o quanto tinha crescido com surgimento de muitos novos bairros.
A outra senhora com quem conversamos também mora no centro, desde os seus cinco anos de
idade. Tanto a primeira como esta, herdaram, dos pais, as casas que moram. Elas formam a terceira
geração que reside em suas casas. Elas lembram, ainda, que na área onde moram possuía apenas
três casas.
Na oportunidade da conversa com essas senhoras, elas contaram que nos anos 60 os locais de
entretenimento eram: Cine Veneza, Guarani e o Polytheama. O bonde era o transporte utilizado para
deslocamento com destino ao mercado. O mercado é relembrado por uma delas, como o local
frequentado pela manhã, sempre acompanhadas dos seus pais. Durante as compras no mercado, elas
lembraram que degustavam os diferentes sabores de mingaus que lá eram vendidos.
Quando perguntado se elas costumam passear no centro, uma delas revelou que vai para fazer
compras, principalmente na avenida Eduardo Ribeiro. Normalmente, evitam circular pelo centro devido
a considerarem o espaço inseguro. Segundo elas, a Praça da Saudade, atualmente, não se pode andar
pois é um espaço de predominância de usuários de drogas. Para exemplificar, descreveram como
usufruíam dessa praça. A Praça da Saudade era o lugar que os jovens se encontravam para dançar.
Não raro retornavam da praça tarde da noite, pois era tranquilo. Hoje, elas percebem o quanto é
inseguro andar no centro e o quanto os espaços perderam qualidade, descrição observada em uma
das declarações que fizeram “o que tinha de bonito agora acabou”.
Durante nossas conversas, embora terem citado várias edificações históricas, uma das
senhoras emitiu a seguinte declaração: “não há muita coisa histórica em Manaus”. Quando ela fez
essa declaração, provocou um certo desagrado a uma das outras senhoras que se opôs a afirmativa.
Notamos, também, que outras referências culturais em Manaus, para elas, são: a praia da Ponta
Negra, o Encontro das Águas e outras áreas naturais presentes na cidade.
Procurando estabelecer vínculos com suas experiências pessoais e memórias afetivas
continuamos fazendo perguntas que levaram as senhoras a se lembrarem do Teatro Amazonas como
um símbolo da cidade, assim como as praças, o Porto, o Hotel Amazonas, a Casa do Tesouro e Hotel
Cassina.
Diante da visão das moradoras é notável que o conhecimento compartilhado está muito atrelado
a experiência de vida, memórias e recortes, principalmente, da infância e do contexto de uso do centro.
Logo, diante da experiência, é possível olhar para a avenida Sete de Setembro como uma área
que contém uma riqueza de edificações com valor histórico emergentes no período do auge do Ciclo
149
da Borracha, devendo ser alvo da salvaguarda, porém não apresenta conjuntos a serem tombados,
mas alguns imóveis que conservam tipologia e morfologia da arquitetura dos bens da Belle Époque.
8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.
11.7 Relatório 07
Dados Gerais
1. Responsável técnico: Mauro Augusto Dourado Menezes
2. Pesquisador: Luciane Queroga
3. Data do campo: 09/10/2019
4. Duração do campo: 4h
5. Documentação fotográfica
Título: Praça Antonio Bittencourt. Autor: Matheus Título: Praça Antonio Bittencourt. Autor:
Blach Data: 09/10/2019 Matheus Blach Data: 09/10/2019
Título: Praça V de setembro. Autor: Matheus Título: Praça V de setembro. Autor: Matheus
Blach Data: 09/10/2019 Blach Data: 09/10/2019
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Título: Praça V de setembro. Autor: Matheus Título: Praça V de setembro. Autor: Matheus
Blach Data: 09/10/2019 Blach Data: 09/10/2019
Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi
Data: 09/10/2019 Data: 09/10/2019
Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi
Data: 09/10/2019 Data: 09/10/2019
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6. Mapa
153
7. Relatório da Atividade
O primeiro dia de observação participante ocorreu em 09 de outubro, na qual fiz parte do Grupo
02, que percorreu o trajeto envolvendo, por ordem de observação, a Praça Antônio Bittencourt, Praça
5 de setembro e Largo de São Sebastião.
A Praça Antônio Bittencourt inaugurada em 1908, recebe esse nome em homenagem ao
governador Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt, também conhecida popularmente como Praça do
Congresso, pois, nela ocorreu o 1° Congresso Eucarístico Diocesano. A praça tem uma boa localização,
no final da avenida Eduardo Ribeiro em frente ao Instituto de Educação do Amazonas – IEA. É uma
praça que está rodeada de construções históricas vivas, que mantém características originais aduzindo
assim, uma boa harmonização. O edifício Maximino Corrêa, uma construção muito elevada em relação
aos demais prédios, contrapõe o cenário e figura-se como uma exceção ao aspecto de harmonização
das edificações que a praça apresenta. De modo geral o espaço é bem conservado, limpo, arborizado
e com a presença de guardas municipais, uma banca de revista, vários bancos ao longo da praça e
lixeiras públicas.
A observação aconteceu em uma tarde quente manauara, e deu-se às quinze horas e três
minutos e o fluxo de pessoas na localidade era pequeno. As pessoas que faziam uso do espaço estavam
nos bancos situados sob as árvores, algumas aproveitando a sombra para descanso, degustação de
uma fruta ou conferindo o celular, enquanto circulavam ambulantes de picolés da massa e trufas. A
quantidade de pessoas na praça aumentava ao passo que os estudantes do IEA se aglomeravam em
pequenos grupos. Com isso, é notável que um dos principais público da praça, no decorrer do dia, são
os alunos e a concentração dá-se em áreas arborizados.
Conforme relatou-me uma senhora, ela faz uso da praça com certa frequência, pois todos os
dias aguarda a filha sair da faculdade. Além disso, ela destaca as sensações de tranquilidade e
segurança somadas à paisagem e ventilação que a localidade apresenta. Ela sente-se bem em ficar
na praça e disse que indicaria esse espaço para ser visitado por outras pessoas pelo apreço que já tem
do local. Outrossim, a entrevistada também destacou ser um espaço bonito e bem localizado, pois
está próximo do principal atrativo de Manaus, o Teatro Amazonas, assim como de outros prédios de
atração turística.
Em outro momento pude conversar com um grupo formado por cinco estudantes da Escola
CEJA Professora Jacira Caboclo que estavam usufruindo do espaço pela primeira vez, por indicação de
um amigo que frequenta a praça assiduamente. Informaram que foram convencidos a ir devido as
boas indicações no que refere a segurança e estética. Mediante essa visita que descobriram a
localização e o nome da praça que até então não conheciam. Quando perguntei, porque não realizar
esse momento de socialização na praça 5 de Setembro (Praça da Saudade) que fica mais próxima da
escola que eles frequentam, foi unânime a resposta: infelizmente aquela praça não apresentavam os
mesmos atributos da Praça Antônio Bittencourt, como segurança e espaços gramados com sombras.
Por meio de um primeiro olhar do grupo de estudantes, foi identificado que a presença de um
guarda no local e uma quantidade de pessoas fazendo uso do mesmo espaço é o que transmite a
154
sensação de segurança, assim como ter um gramado com possibilidade de sentar e a arborização que
faz com que a praça possa ser usada mesmo em dias quentes. A praça também transparece a
impressão de que é passa por manutenções constantes pelo aspecto de conservação e limpeza.
Em seguida nos deslocamos para a Praça 5 de Setembro, também conhecida como Praça da
Saudade. Há uma grande mudança de cenário comparado a praça Antônio Bittencourt, pois, enquanto
na primeira tem-se a sensação de um espaço amplo e que está ligada à sua adjacência, a Praça 5 de
Setembro, devido a estruturação das árvores de seu entorno, transmite a sensação de espaço fechado,
bloqueando a visão da praça para a paisagem do arredor. Isso parece trazer isolamento e insegurança
para quem está na praça. O espaço também perde uma das principais funções de uma praça, a
socialização, pois não há muitos bancos e os que tem estão posicionados diretamente sob o sol,
impossibilitando a permanência. Além do mais, a praça exibe uma estética deteriorada, visto que há
traços de má conservação do monumento em homenagem a Tenreiro Aranha, pichações, ausência de
arborização, que de forma geral, acarreta um afastamento das pessoas.
No entanto, é comum ver pessoas transitando pela praça, revelando sua função como local de
passagem. Na lateral que dá acesso à rua Simão Bolívar, existe uma parada de transporte público,
sendo a área com maior concentração de pessoas. Foi interessante notar a diferença entre os
quiosques presentes nas laterais da praça: os da lateral da rua Ramos Ferreira estavam fechados e
com aspecto de abandonados, enquanto a da rua Simão Bolívar estavam em funcionamento,
expressando que não é a praça que influencia a movimentação da população e sim a parada de ônibus
anexada a ela.
Uma das residentes que vive no entorno da praça revelou que, após anos morando naquela
localidade, está com a casa à venda. A moradora relatou que não está obtendo êxito no processo de
venda da sua casa e atribuiu a falta de interesse na compra do imóvel à reputação negativa que praça
adquiriu. A moradora utilizou-se da expressão “Já foi praça da saudade, hoje está mais para a “Praça
do inferno” ao relembrar o quão prazeroso era morar próximo à praça antes da reforma que a
descaracterizou enquanto espaço de convívio. Era um local com atrações para toda família, todavia,
atualmente não há nenhuma área nela que promova o uso do espaço, como atrativos de lazer e
interação, tornando-se um local em decadência e inseguro, onde o principal público são moradores de
rua e usuários de entorpecentes. As pessoas que usufruíam da localidade evadiram por ela não ter
mais um aspecto convidativo ao uso.
Por fim, nos deslocamos para o Largo de São Sebastião. Ao contrário da praça 5 de Setembro,
possui uma estrutura muito convidativa, pois, está localizado em frente ao maior símbolo da Belle
Époque em Manaus, o Teatro Amazonas. Também há na redondeza outros prédios de significância
histórica como a Igreja de São Sebastião, um conjunto de casas que ainda mantém um padrão nas
fachadas embora tendo funções diferentes de uso e os postes de iluminação.
Assim como ao entorno do largo é notável toda uma organização para manter a vitalidade da
área com predominância de restaurantes, pizzaria, cafeteria, bares, sorveterias, quiosques de comidas
regionais, galerias, centro culturais, lojas de artesanato, centro de atendimento a turistas, agências
155
de viagens e hotéis. Todo esse contexto possibilita a união do contemporâneo e o passado histórico
tornando o local um espaço de uso que envolve todas as idades, para momento de descanso, lazer,
passeio, encontro com amigos, socialização, degustação, registros fotográficos, entre outros usos.
O largo possui bancos ao seu redor e no centro está o monumento de abertura dos portos. É
um espaço bem arborizado e ao longo da observação o silêncio foi substituído por músicas regionais
que eram ouvidas em todo o largo, os bancos estavam todos ocupados enquanto vários vendedores
ambulantes, em sua maioria venezuelanos, ofereciam seus produtos como água, dim-dim gourmet,
picolé e café.
Conversando com um fotógrafo que já trabalha no largo há 8 anos, o mesmo relatou que o
espaço nunca fica vazio e há sempre um turista ou um residente com solicitação de uma foto. Os locais
favoritos para o registro são: a fachada do teatro seguido do monumento de abertura dos portoa. O
Teatro figura-se como o principal atrativo em Manaus, todos que visitam a cidade vão ao teatro para
conhecê-lo e consequentemente ao largo, porém quem vai especificamente ao largo, muitas vezes
não entra no teatro. O fotógrafo também mencionou, que os frequentadores do largo fazem uso do
espaço entre 13 e 16 horas e que estão mais interessados em se sentar à sombra para se encontrar
com alguém, conversar ou mesmo apenas descansar.
O cenário começa a mudar a partir das dezesseis e trinta como foi possível notar,
compreendendo a fala do fotógrafo, em especial na quarta feira, pois acontece semanalmente o evento
chamado Tacacá na Bossa onde há apresentações gratuitas de artistas locais. Por isso, cadeiras
começam a preencher as áreas vazias em frente aos estabelecimentos, enquanto um pequeno palco
é organizado próximo ao quiosque do Tacacá da Gisela, o fluxo de pessoas aumenta em uma junção
de residentes, grupos de estudantes e turistas.
Diferentes idiomas podem ser ouvidos como o inglês, francês e espanhol, como notado em uma
mesa no Ponto do Açaí, quatro amigos estrangeiros se divertiam enquanto degustavam da bebida
regional, um casal francês mantinha um diálogo enquanto se deslocavam ao Monumento da Abertura
dos Portos, em um dos bancos um grupo de senhores embarcavam em uma acirrada disputa no jogo
de damas.
Em contato com uma das frequentadoras que escolheu o largo para encontrar uma amiga,
quando perguntei o porquê da escolha do largo, ela usou como resposta a boa lembrança que tinha
do local, assim como a estética, a segurança e por ser um local conhecido por todos. Vale ressaltar
que era a primeira vez que ela retornava ao largo desde sua infância, quando visitava a local
acompanhada de seus pais. Em sua opinião, o local manteve-se com o mesmo aspecto de como
lembrava, considerando-o um Patrimônio pois é um local que pessoas de vários locais do mundo já
conhecem, principalmente pela proximidade ao Teatro Amazonas e, acima de tudo, pela significância
histórica e cultural que apresenta para os manauaras.
Assim, diante do contexto observado, fica evidente que os principais aspectos que possibilitam
o uso dos espaços estão diretamente atrelados à valorização estética, predominância da arborização
e a segurança. Esse entendimento é possível mesmo diante do fato que muitos dos indivíduos que
156
responderam às perguntas que contribuíram para esse resultado, não tivessem um entendimento
conceitual a respeito do Patrimônio Cultural. Ainda assim, foi possível pontuar qual o grau de
importância dos espaços pesquisados e quais características desses lugares que são mais apreciadas.
8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.
11.8 Relatório 08
Dados Gerais
5. Documentação fotográfica
Título: Praça da Saudade. Autor: Matheus Blach Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi
Data: 09/10/2019 Data: 09/10/2019
Título: Estado da calçada. Autor: Yara Magabi Título: Praça da Polícia. Autor: Luciane Queroga
Data: 09/10/2019 Data: 16/10/2019
158
6. Mapa
159
7. Relatório da Atividade
09/10 – Quarta-feira, 17h às 19h
Praça da Saudade
Apesar do pouco tempo de permanência na praça, pois a pesquisa já estava sendo finalizada
naquele trecho, foram observadas reclamações que no cotidiano manauara, infelizmente, tornaram-
se frequentes: o descaso e o abandono da praça seja pelo poder público quanto pelo civil (que torna-
se cada vez mais constante devido às inúmeras queixas sobre barulho e insegurança) deixam a praça
livre para que os assaltantes e viciados possam utilizá-la a vontade, de maneira que expulsa ainda
mais a população por medo. Quase que vazia, sem bancos, e com poucas árvores, o ambiente não se
torna muito confortável para aqueles que constantemente buscam por sombra ou apenas um lugar
para descansar. Além de que a praça se tornou até motivo de tristeza para aqueles que tiveram uma
infância marcada pelas brincadeiras no antigo parquinho que ali havia.
Largo São Sebastião
No Largo de São Sebastião, todos os dias é possível observar alguma apresentação ou
espetáculo, seja dentro do Teatro Amazonas ou no próprio Largo, em virtude disso habitualmente
consta um fluxo razoável de pessoas, mas nas noites de quarta-feira é quando ele realmente enche,
em especial, pelo Tacacá na Bossa. O público é diversificado: estudantes, famílias, estrangeiros,
turistas, músicos e artistas de rua, vendedores ambulantes e de artesanato. No canto da praça, em
um dos bancos, uma cena familiar e nostálgica surge: senhores de idade jogando damas, ao serem
abordados a recepção foi amigável e apesar de a partida estar intensa, todos pareciam prestar atenção
em tudo ao seu redor. “Todo dia viemos pra cá jogar, é um lugar bonito de se olhar e também é
melhor por que tem as árvores e aí não é tão quente, fora que nessa praça tem mais gente e já fica
mais seguro, porque na Praça da Saudade, por exemplo, só é doido que fica lá.” comenta um dos
senhores. Quando mencionado sobre quão raro é ver pessoas jogando damas na rua a maioria deles
parece dar um riso meio que nostálgico e um deles afirma que a juventude só quer saber de brincar
“com” as damas e xadrez só se for o que te faz ver o sol nascer quadrado.
Um jovem que também observava a partida começou uma conversa e logo revelou que ele era
de São Paulo, mas estava morando em Manaus há dois anos. Ele afirmou que não gostava muito de
Manaus, que tem que tomar vários banhos em um só dia, pois é muito quente e também afirmou que
a infraestrutura da cidade é muito antiga. “Se estivesse em bom estado tudo bem, mas você vê as
coisas quebradas e velhas, olha aquela lata de lixo quebrada, olha o estado desses bancos, as calçadas
têm pisos fora do lugar, isso a gente não vê com frequência em outras cidades, mas aqui é quase em
todo lugar, tem muitas ruas esburacadas e quando chove no Centro é uma confusão, alaga tudo. No
Japão essas árvores iam ser todas sintéticas, por mim, deveriam modernizar ou reformar, porque se
for pra deixar velho e feio, mal preservado, melhor que mude tudo de uma vez.”
Em outro banco não muito distante, um argentino observava a cena com tranquilidade, quando
questionado sobre o porquê de ele ter vindo para Manaus, ele deu um sorriso ao dizer em um
160
português embolado “Na verdade, era um sonho de criança. A gente escuta histórias sobre a Amazônia
e sobre a cidade no coração da selva. Antes de vir para Manaus, eu achava que era uma vila com um
teatro bonito no meio da selva e aí quando cheguei aqui foi que eu descobri que na verdade é uma
grande cidade dentro da selva. Vocês manauaras tem muita sorte do que tem, eu fui na Casa Eduardo
Ribeiro, rica em história! A história de vocês é muito interessante. Eu gosto mais de natureza, passei
duas semanas em Presidente Figueiredo, lindo demais! Mas eu realmente gostei dos museus aqui, eu
recomendaria a Casa Eduardo Ribeiro porquê eu acho muito importante as pessoas saberem quando
é que teve o primeiro governador negro, isso é importante.” Ao ser informado que ele em apenas três
semanas no Amazonas já sabia mais do que boa parte dos manauaras sobre história local, o mesmo
aparentou desapontado mas não surpreso “As pessoas não sabem o que têm, a cidade de vocês é
linda! Linda! Tem gente que vem de fora pra ver o que vocês tem aqui e o povo não valoriza,
infelizmente acho que é assim em quase todo lugar.”
A observação participante foi finalizada com uma dose de tacacá e uma apresentação do grupo
Casa de Caba.
16/10 – Quarta-feira 14h às 17h
Praça Heliodoro Balbi / Praça da Polícia
A observação começou em grupo com a companhia do Mauro Augusto e Silvio Márcio, após
andar um pouco pela praça, observamos que aquela deveria ser uma das praças mais arborizadas de
Manaus, que formava quase uma cobertura sobre todo o perímetro. Na ponte que atravessa o chafariz,
abordamos uma venezuelana que estava ali, ela disse que gostava da praça só durante o dia, pois
pela noite era muito perigoso. Quando questionada sobre o que ela achava bonito na praça e o que
poderia melhorar, a mesma respondeu que achava bonita a quantidade de árvores, afirmou que aquele
contato com a natureza deveria ser o que atraía as pessoas já que inúmeras vezes grupos se reuniam
para ver a iguanas que ali aparecem. Ela também afirmou que o que poderia melhorar seria a
infraestrutura da praça, ela via muita coisa suja e rachada ou quebrada, mas que ainda dava para ser
salva.
Depois seguimos para o café do Pina, que segue em atividade desde 1951 no mesmo local. O
Café foi tombado como bem imaterial da cidade em 2016 e até hoje é ponto de encontro para
movimentos políticos e culturais como o Projeto Jaraqui e o Clube da Madrugada. Pedimos um lanche
e depois conversamos com o gerente que disse trabalhar há 30 anos no Café do Pina, tentamos
perguntar o que ele gostava na praça mas a negatividade sempre vinha à tona e apenas conseguimos
obter queixas sobre a implantação da Zona Azul, que afetou o tempo de permanência das pessoas no
centro e também da insegurança que surge com o cair da noite. Também foi possível observar que
quando meus companheiros falavam algo, o gerente escutava atentamente e quando eu fazia alguma
observação ou pergunta, o mesmo continuava a falar por cima e pouquíssimas vezes direcionava o
olhar. Ele já aparentava ter idade e falava do passado como os “melhores tempos” com a presença de
alguns comentários conservadores então é possível que a cultura machista deva ser algo normal e que
não foi muito trabalhada com o mesmo.
161
Depois de inúmeras tentativas sem sucesso para obter um aspecto positivo da praça com o
gerente, nos separamos para finalizar a observação participante sozinhos, ao entrar em um sebo,
começo a conversar com um cliente assíduo que estava de saída, e quando questionado sobre o que
ele achava importante no centro, ele afirma “Na verdade, eu acredito que o Centro inteiro é importante
mas as pessoas não sabem disso. Eu tiro fotos e quando postei uma foto do pôr-do-sol na 7 de
setembro, todo mundo veio me perguntar onde era aquilo. O povo daqui não sabe valorizar, eu não
vejo investimento pra cuidar do patrimônio.”
8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.
11.9 Relatório 09
Dados Gerais
4. Duração do campo: 9h e 4h
5. Documentação fotográfica
Título: Praça da Polícia. Autor: Silvio Márcio Freire de Título: Praça da Polícia. Autor: Silvio Márcio Freire de
Alencar Filho Data: 16/10/2019 Alencar Filho Data: 16/10/2019
Título: Praça da Polícia. Autor: Silvio Márcio Freire de Título: Praça da Polícia. Autor: Silvio Márcio Freire de
Alencar Filho Data: 16/10/2019 Alencar Filho Data: 16/10/2019
163
6. Mapa
164
7. Relatório da Atividade
Por meio deste relatório, buscarei expor as informações levantadas durante os dias de
Observação Participante, realizada na Praça Antônio Bittencourt (do Congresso), Praça V de setembro
(da Saudade), no Largo de São Sebastião e Praça Heliodoro Balbi, respectivamente, nos dias 9 e 16
de outubro de 2019.
No primeiro dia, acompanhado de outra colega de pesquisa, me dirigi à praça popularmente
conhecida como Praça da Saudade para podermos nos juntar ao grupo, o qual já havia começado sua
observação anteriormente. Devido a outro compromisso acadêmico, fomos impossibilitados de
percorrer por inteiro o percurso traçado pelos demais, sendo assim, minha observação integral se deu
apenas no Largo de São Sebastião, última parada do grupo naquele dia.
Apesar disso, ainda foi possível obter uma percepção geral de nosso local de encontro. A praça
é arquitetonicamente bonita, com destaque para o monumento encontrado bem no centro do local.
Faço esse comentário, ainda que o ambiente difira muito da estrutura que possuía, quando eu
frequentava na infância.
O modelo que a Praça da Saudade está configurada hoje, apresenta conforto térmico apenas
na sua área de entorno, devido a concentração de arborização nessa parte, facilitando a circulação e
a permanência das pessoas. Já na área central da praça, mesmo tendo bancos, por não ter arborização
diminui a possibilidade de uso dos moradores e de pessoas que circulam pela área, causando
isolamento do espaço.
O isolamento da praça e a ausência das instituições de segurança geram uma sensação de
insegurança e medo, permitindo que o espaço seja ambiente favorável para os usuários de drogas,
como conseguimos observar quando estivemos por lá.
Durante o horário observado, por volta das 16h30min (dezesseis horas e trinta minutos), é
notável a presença de vários estudantes do ensino regular de escolas próximas, os quais permanecem
por algum tempo no local, em seus pequenos grupos e sempre pelas bordas da praça.
Saindo da lá, seguimos até a Praça Antônio Bittencourt (a qual o grupo já havia estado
momentos antes) para fazer registros fotográficos que estavam faltando. Ela localiza-se bem próxima
a que estivemos anteriormente. Por conta da passagem prévia, não demoramos no local e seguimos
andando em direção ao Largo de São Sebastião.
Ao sair da Praça do Congresso, seguimos pela histórica Avenida Eduardo Ribeiro e viramos à
esquerda na Rua 10 de Julho que em poucos metros se chega ao Largo de São Sebastião. No caminho,
é possível visualizar fachadas de prédios históricos do tempo áureo da borracha, que têm por vezes
sua harmonia interrompida por edificações mais contemporâneas. Logo no início da Avenida Eduardo
Ribeiro, próximo a Praça do Congresso, já nos deparamos com prédios mais altos que muito divergem
das construções históricas. Na Rua 10 de Julho, andamos os metros finais ao lado do imponente Teatro
Amazonas para então chegar ao Largo, o qual se localiza bem em frente.
O Largo de São Sebastião se apresenta como um dos principais cartões postais da cidade de
Manaus e é um importante atrativo turístico junto ao Teatro Amazonas. Os dois funcionam em uma
165
espécie de simbiose, dada principalmente pela sua proximidade. Logo de início, duas coisas chamam
a atenção no largo em si, sendo o calçamento em preto e branco com formas onduladas, composto de
pedra portuguesa, e o imponente Monumento à Abertura dos Portos às Nações Amigas.
O calçamento lembra outros de mesmo material mundo afora, como o calçadão de Copacabana,
no Rio de Janeiro, e o calçamento próximo ao Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa. Bem no meio
fica o Monumento à Abertura dos Portos, representando quatro continentes: África, Ásia, Europa e
América, simbolizados por proas dispostas para fora e de costas umas para as outras, com uma fonte
abaixo, como se as embarcações estivessem navegando sobre a água dela.
Combinamos então de nos separarmos e andar pela localidade, onde cada um faria sua
observação. Num primeiro momento, fiquei junto da colega Rebeca Nunes e logo avistamos dois
conhecidos. Dirigimos-nos até um banco próximo a eles e conversamos rapidamente, porém não
consegui extrair muita informação relevante. Assim como eles, mais jovens estudantes transitam por
lá e conversam sentados nos bancos. Permanecemos sentados ao lado tentando absorver o que
podíamos daquele ambiente, que senti ser bem mais agradável em relação aos visitados
anteriormente, muito por causa da boa arborização, a qual ameniza a temperatura e dá equilíbrio ao
meio urbano. O Largo é todo cercado por árvores, dispostas de tal forma a serem intercaladas com
bancos de concreto, ocasionando boa sombra pra quem quiser ficar um tempo ali sentado. Outra coisa
interessante são as caixas de som espalhadas pelo local, as quais ficam reproduzindo música popular,
compondo assim, junto aos eventuais músicos, a trilha sonora de parte de nossa estada. Também por
isso, é seguro dizer que o Largo de São Sebastião é um ambiente de forte musicalidade.
Aproximou-se de nós um rapaz que apresentava um visual considerado alternativo,
apresentando-se como um viajante argentino recém-chegado na capital (menos de 24 horas). Ele
tentou nos vender algumas miçangas para ajudar a bancar sua aventura, mas no lugar disso conseguiu
de nós apenas algumas perguntas, informando-nos gostar mais de natureza e que o Largo lhe passa
um pouco disso, devido a arborização presente. Disse também serem as pessoas o que lhe chama
mais a atenção e que ali sente poder compartilhar histórias e conhecer pessoas mais “loucas” do que
ele.
Satisfeitos com o nosso tempo ali sentados, resolvemos suspender nossa dupla e seguir
observando individualmente. Fui em direção ao monumento para ter uma visão mais ampla e central
do largo (o monumento possui degraus e se eleva um pouco mais do chão). Ao chegar perto, um
grupo de turistas me abordou pedindo que fizesse um registro fotográfico deles, enfatizando a
necessidade de incluir o monumento e o Teatro Amazonas na mesma fotografia, algo que pode reforçar
a noção de que ambos o Largo de São Sebastião e o Teatro Amazonas funcionam em conjunto.
Realizado o pedido, comecei a rondar o monumento e logo fui abordado novamente, desta vez por um
vendedor ambulante me pedindo dinheiro, com certo tom de urgência, para ajudá-lo a comprar mais
trufas para ele revender. A sensação imediata foi de susto e medo, ao que logo passou apenas para
um estado de alerta e desconfiança quando o homem afirmou não se tratar de um assalto, mesmo
sem que eu houvesse dito alguma coisa antes. Este tipo de situação não é incomum, muito menos
166
restrito ao lugar em questão. Por todas as áreas públicas do centro histórico, as chances de ser
abordado para fins semelhantes são muito grandes. Interpreto o fato de ele alertar não se tratar de
um assalto, como um indicativo do tipo de expectativa que a população tem em relação a abordagens
rápidas em locais públicos, em especial no centro da cidade, pois também não seria muito incomum
ter sofrido um assalto como um desfecho alternativo.
De onde estava, avistei alguns de meus colegas de pesquisa de longe. Resolvi falar novamente
com a Rebeca, que parecia estar muito entretida com um jogo de damas protagonizado por dois
senhores, parte de um pequeno grupo de mais ou menos de 10 homens, idosos, reunidos ao redor de
um dos bancos. Ela me informou que eles afirmaram se encontrar sempre ali para este fim e já o
faziam há algum tempo, pois o local era propício. Informei-lhe que seguiria para a sorveteria próxima
para levantar mais informações e assim o fiz.
A sorveteria, de nome Barbarella, se encontra na Rua 10 de Julho bem junto ao Largo. Ali
frequentei diversas vezes quando a mesma ainda era filial da sorveteria Glacial. Adentrei e logo puxei
assunto com a atendente do caixa. Aline rapidamente me reconheceu de outra vez que falei com ela
para pedir direções. Ela me informou trabalhar ali há 5 anos, e há 2 o estabelecimento passou a
fabricar o próprio sorvete, adotando o novo nome. Enquanto tomava o meu, de sabor chiclete, fui
fazendo algumas indagações, ao que ela me passou ser o público majoritariamente de turistas, dentre
os quais, a maioria é estrangeira. Os moradores da cidade compõem a minoria. Ela destaca ainda que
se dependesse do movimento de residentes apenas, seria bastante difícil para o empreendimento. A
funcionária também informou que os turistas pedem geralmente sorvete de açaí (típico da região Norte
do Brasil) e que quando requisitam alguma informação relacionada ao centro histórico é por vezes
sobre o Teatro Amazonas (horário de funcionamento, etc), Praça do Congresso, onde fica o Mercado
Adolpho Lisboa, qual a linha de ônibus para chegar à Ponta Negra e ainda o nome da Rua 10 de Julho,
para poder chamar transporte por aplicativo.
Terminei meu sorvete e me reuni com a Rebeca. Decidimos subir as escadarias principais e
andar pelo pátio do Teatro Amazonas, onde os turistas tendem a se concentrar para ter uma melhor
visão do entorno e fazer fotos. Em dia de apresentação, uma grande fila se forma percorrendo a frente
e as laterais do teatro. Por sua lateral esquerda, visualizamos o transitar de pessoas na Rua José
Clemente, onde trabalhadores levantavam a pequena estrutura que receberia o Tacacá na Bossa,
evento de música popular oferecido pelo Tacacá da Gisela, estabelecimento conhecido por vender
tacacá no Largo de São Sebastião. Havia também alguns moradores de rua e ambulantes, além dos
frequentadores já citados. Em meio a eles vimos os integrantes do outro grupo que participa da
pesquisa e fomos ao seu encontro.
Reunimo-nos ainda com os outros integrantes de nosso próprio grupo e socializamos todos
juntos numa pizzaria próxima. Logo após, nos aproximamos da multidão que prestigiava o evento
musical Tacacá na Bossa e lá pudemos fazer mais observações. Famílias e jovens mais alternativos
compunham o público enquanto muitos tomavam tacacá. Também era possível identificar um bom
número de turistas.
167
há mais de 50 anos e que os clientes sabem o "ponto" do café. Disse também que o estabelecimento
168
ficava no coreto próximo e depois operou em outras partes da praça, voltando para o ponto atual,
após a revitalização daquele patrimônio.
O gerente lamentou o centro não ter atraído ninguém e aponta o excesso de multas como um
dos fatores que afastam as pessoas. Disse ainda que a "zona azul" dificulta o acesso, chutando ainda
que isso representa 60% a 70% do afastamento e que isso está prejudicando o comércio, fazendo as
lojas se mudarem para outros bairros. Além disso, afirmou que "os chineses estão tomando conta",
"para cada loja que fecha no centro, há um chinês abrindo no mesmo lugar", em suas próprias
palavras.
Com chuva, o movimento para. Lamentou ainda o fato de os clientes antigos estarem morrendo
e a clientela não estar se renovando, e a mudança do local de saída do Colégio Amazonense Dom
Pedro II ter diminuído o público estudantil na praça. Criticou a revitalização do centro, apontando estar
atraindo bandidos e que em dezembro tem arrastões nas proximidades. Reclamou também que a
limpeza muitas vezes fica por conta do próprio estabelecimento, a segurança pública é horrível e que,
além dos fatores citados, não frequentaria o centro, pois as mercadorias e serviços existentes ali, se
encontram facilmente em outros locais.
Tentamos por diversas vezes, mas não conseguimos fazer com que ele nos apontasse atributos
positivos da praça. Parecia ainda estar frustrado com a multa recebida não há muito tempo na mesma
praça.
Após a conversa proveitosa e o lanche delicioso, eu, Rebeca e Mauro nos dividimos para
fazermos observações individuais na praça. De frente para ela fica o Palacete Provincial, lembrando
um pouco a dinâmica entre o Teatro Amazonas e o Largo de São Sebastião. O local já foi de grande
importância governamental durante a época da borracha e hoje abriga cinco museus. Decidi levantar
informações no seu interior. Na recepção trabalha um estagiário muito solícito chamado Alexandre. O
rapaz é estudante de história na UniNorte e já atua no palacete há quase dois anos.
Na breve conversa que tivemos, ele disse que, por atuar no movimento negro, não simpatiza
muito com as edificações do período da borracha, denunciando terem sido erguidas com trabalho
escravo e com outros tipos de exploração humana, mas que entende a importância dada pelas pessoas
ao centro histórico. Ele compreende a Praça Heliodoro Balbi como um ponto de encontro importante,
até mesmo por ser muito acessível. Ele valoriza a interação com as pessoas. Aponta que o local é bem
visitado, bonito, cativante e que passa a “tranquilidade de um local histórico”, apesar de suas ressalvas
pessoais citadas. Ressalta o local como imperialista, porém a população o considera bonito. Indagado
quanto aos patrimônios do centro histórico, responde não remeter a ele nostalgia ou certo carinho.
Aproximando-se mais de resgatar alguma lembrança afetiva seria o Largo de São Sebastião, por ter
frequentado no tempo do colégio.
Dada a hora combinada, saí do Palacete e fui ao reencontro do trio. Encontrei primeiro o Mauro,
sentado fazendo anotações, próximo ao Café do Pina. Juntos fomos procurar a colega Rebeca, contudo
nos deparamos com um casal sentado num dos bancos mais ao centro da praça, próximos a um coreto
e resolvemos fazer mais algumas indagações. Quem tomou a frente foi o rapaz, ao que prontamente
169
respondeu gostar muito do “clima antigo”. Destaca a praça como boa para fazer leitura e que ali
estudou para o vestibular e ingressou na faculdade de Jornalismo. É ótima para quem está com
problema e quer raciocinar. Chamou a atenção para a arborização, pois o ambiente natural o agrada.
Criticou a falta de limpeza. Para ele, o coreto precisa ser protegido, a parte externa do Palacete deve
ser preservada e a pintura repensada e reformada.
Não muito depois, nos encontramos com a Rebeca e voltamos para o IPHAN, encerrando nossa
Observação Participante naquela tarde.
8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.
Dados Gerais
6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Técnicos da Superintendência
12 2h 22/08/2019
do Iphan no Amazonas
R. Marechal Deodoro, nº 27, 8º andar, Centro, CEP 69.005-000.
9. Endereço:
Ed. do Ministério da Fazenda – Manaus/AM
10. Participantes
Grupo 01 Grupo 03
Carluzi Santos Silva Mattos Alexander Afonso Nogueira Cavalcante
Marcia Honda Nascimento Castro Giannini Veras Magalhães
Rosimeire Duarte Randall Mauricéia Ribeiro Andrade
Grupo 02 Grupo 04
Izabel Cristina Rufino Chaves Francisco di Franco Ferreira de Najar
José Ferreira Gonçalves Júnior Jaime de Santana Oliveira
Rafael Nascimento de Azevedo José Vicente Damante Ângelo e Silva
Título: Mediador apresenta faz a apresentação da Título: Início da elaboração dos mapas. Autor:
atividade. Autor: Mauro Augusto Dourado Mauro Augusto Dourado Menezes Data:
Menezes Data: 22/08/2019 22/08/2019
Título: Início da elaboração dos mapas. Autor: Título: Mediador realizando intervenção com
Mauro Augusto Dourado Menezes Data: vistas a garantir a fluidez da elaboração dos
22/08/2019 mapas. Autor: Mauro Augusto Dourado Menezes
Data: 22/08/2019
174
13. Mapas de Percepção
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 01. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 23/08/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 02. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 23/08/2019
175
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 03. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 23/08/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 04. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 23/08/2019
3
Tacaca na Bossa 2 Musicalidade, convívio, gastronomia.
1
Palácio Rio Negro 2 Apreciação estética
1
Feira Manaus Moderna 1 Diversidade de produtos
177
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros atrib.
Não foi possível inferir quais seriam as qualidades a 0
Edifício da Alfândega 1
partir dos argumentos apresentados pelos grupos.
Não foi possível inferir quais seriam as qualidades a 0
Hospital Militar 1
partir dos argumentos apresentados pelos grupos.
Não foi possível inferir quais seriam as qualidades a 0
Palácio da Justiça 1
partir dos argumentos apresentados pelos grupos.
Não foi possível inferir quais seriam as qualidades a 0
Praça Adalberto Valle 1
partir dos argumentos apresentados pelos grupos.
Praça do Congresso 0
Não foi possível inferir quais seriam as qualidades a
(Praça Antônio 1
partir dos argumentos apresentados pelos grupos.
Bittencourt)
Não foi possível inferir quais seriam as qualidades a 0
Santa Casa 1
partir dos argumentos apresentados pelos grupos.
178
15. Gráficos
Santa Casa
Palácio da Justiça
Hospital Militar
Edifício da Alfândega
Booth Line
Tacaca na Bossa
Feira do Paço
Teatro Amazonas
Porto de Manaus
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
11
10
7
7
6
6
1
1
0
1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros
180
15. Análise
As informações coletadas por meio da oficina de Mapas de Percepção geraram a identificação
de 26 referências culturais dentre as quais: 7 foram registradas nos quatro mapas produzidos; 1 foi
registrada em três dos mapas produzidos; 6 foram registradas em dois mapas produzidos; 12
aparecem apenas em um ou outro mapa. Sete das 26 referências não apresentaram ou não foi possível
inferir, a partir dos argumentos apresentados, as qualidades que justificaram a escolha dos grupos
por sua inclusão.
Os sete bens culturais que se destacaram, pela unanimidade de registros nos mapas, foram: O
Largo São Sebastião, o Paço da Liberdade (Praça Dom Pedro II), a Avenida Eduardo Ribeiro, o Porto
de Manaus, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a Avenida Sete de Setembro e o Teatro
Amazonas.
Quanto a descrição das qualidades dos bens culturais, foi dada maior ênfase ao Largo de São
Sebastião e ao Paço da Liberdade, com mais de 10 qualidades identificados. É curioso notar que apesar
do Teatro Amazonas ter sido um elemento destacado em todos os mapas, nenhum dos grupos
expressou, em suas falas ou gráficos, quais são as qualidades que justificaram a sua inclusão.
Considerando o recorte temático proposto pela pesquisa foi realizado um procedimento
interpretativo das falas e dos gráficos apresentados. Assim, diversos dos elementos representados
pelos participantes foram traduzidos em a associadas aos bens culturais e valores descritos pelo Dossiê
de Tombamento do Centro Histórico de Manaus. Por exemplo, tivemos diversas alusões à momentos,
práticas, eventos e festividades associados à música. A partir desses indícios é possível inferir que o
Centro Histórico de Manaus é dotado de uma certa musicalidade que é apreciada pelo grupo
investigado. Desse modo, a presença dessa musicalidade foi traduzida em uma qualidade dos lugares
onde se manifesta com frequência regular como o Largo de São Sebastião e o Paço da Liberdade
(Praça Dom Pedro II).
Outra qualidade que foi possível inferir, cujos indícios indicam associação com o Centro Histórico
como um todo, é a da presença marcante do comércio. Nota-se que a diversidade e densidade do uso
comercial do centro é definidora do lugar e de suas qualidades como espaço de troca, de vivências, de
memória e de afetividades.
Além disso, por meio das falas e representações gráficas, notou-se uma apreciação dos espaços
arborizados como uma qualidade estruturante da experiência vivida. A relação de importância com a
arborização foi definida inclusive por negação, sendo representada em locais que são apreciados, mas
que poderiam ser melhores se tivessem as árvores presentes.
Por fim, de modo geral, os grupos deram enfoque ao uso dos espaços, porém, sem deixarem
de considerar a apreciação estética das edificações e da paisagem natural, sobretudo quando ligada
ao Rio Negro.
Dados Gerais
6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Pesquisadores que atuam com
temas relacionados ao Centro 9 2H 08/10/2019
Histórico de Manaus
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan
9. Endereço:
Rua Marechal Deodoro n° 27, 8° andar, Centro – Manaus/AM
10. Participantes
Grupo 01 Grupo 03
Ana Cristina Mota de Assis Leandro Eustáquio Gomes
Silvio Márcio Freire de Alencar Filho Yara Araújo Magabi
Grupo 02 Grupo 04
Luciane da Silve Queroga Carla Aires Martins
Rebeca Nunes de Melo Gabriel Lorram Lima Yepez
Raquel Souza de Lira
Título: Grupo 01 e Relatora Mônica Nogueira Título: Grupo 02 Autor: Mauro Augusto Dourado
Autor: Mauro Augusto Dourado Menezes Data: Menezes Data: 08/10/2019
08/10/2019
185
Título: Grupo 03 Autor: Mauro Augusto Dourado Título: Grupo 04 Autor: Mauro Augusto Dourado
Menezes Data: 08/10/2019 Menezes Data: 08/10/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 01. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
10/10/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 02. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
10/10/2019
186
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 03. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
10/10/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 04. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
10/10/2019
Santa Casa de 2
1 Lugar de Memória; apreciação estética das ruínas
Misericórdia de Manaus
Aquário e aviário da 1
Igreja da Matriz Lugar de Memória
1
(Catedral Nossa (Não existem mais)
Senhora da Conceição)
1
Casa Ivete Ibiapina 1 Espaço Cultural
1
Festival Paço a Passo 1 Espaço de memórias afetivas
Lugar de memória 1
Ideal Clube 1
(Qualidades de uso relatadas como perdidas)
188
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
Igreja da Matriz 1
(Catedral Nossa 1 Espaço de memórias afetivas
Senhora da Conceição)
Museu da Casa Eduardo 1
1 Espaço de memórias afetivas
Ribeiro
1
Obelisco do Centenario 1 História e memória da cidade
1
Palácio da Justiça 1 Ambiência
Parque Senador 1
1 Apreciação estética
Jefferson Péres
Lugar de memória 1
Praça IX de Novembro 1
(Qualidades perdidas devido ao estado de abandono)
1
Relógio Municipal 1 História e memória da cidade
Terminal de ônibus da 1
Praça da Matriz (Praça 1 Espaço de memórias afetivas
XV de Novembro)
189
15. Gráficos
Relógio Municipal
Praça IX de Novembro
Palácio da Justiça
Obelisco do Centenário
Ideal Clube
Porto de Manaus
Teatro Amazonas
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
15
14
13
12
11
10
6
6
2
2 2
0
1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros
Dados Gerais
1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach – Historiador
2. Mediador: Mauro Augusto Dourado Menezes - Antropólogo
3. Relator: Luciane Queroga
4. Documentarista: Silvio de Alencar Filho
6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Mestres de Capoeira do
3 1h 14/10/2019
Amazonas
Superintendência do Iphan no Amazonas - R. Marechal Deodoro, nº
9. Endereço: 27, 8º andar, Centro, CEP 69.005-000. Ed. do Ministério da
Fazenda – Manaus/AM
10. Participantes
Grupo 01
Julival do Espírito Santo (Mestre Gato)
Edgar Francisco das Chagas (Mestre Chaguinha)
Luiz Carlos de Matos Bonates (Mestre KK Bonates)
Título: Elaboração do Mapa de Percepção. Autor: Título: Elaboração do Mapa de Percepção. Autor:
Silvio de Alencar Filho Data: 14/10/2019 Silvio de Alencar Filho Data: 14/10/2019
196
13. Mapa de Percepção
Título: Mapa de Percepção elaborado pelos mestres de capoeira. Fotografia: Matheus Blach Data:
14/10/2019
197
14. Referências Culturais Identificadas
Identificação Atributos Nº atrib.
Local de encontros; manifestações culturais; entretenimento; 07
Avenida Eduardo Ribeiro compras; lugar para as rodas de capoeira; memórias afetivas;
história e memória da cidade.
Local de encontros; local de passagem; lugar para as rodas de 07
Praça 5 de Setembro
capoeira; beleza e paisagem; locais de manifestações artísticas;
(Praça da Saudade)
memórias afetivas; história e memória da cidade.
Local de encontros; arborização; lugar para as rodas de 07
Praça 15 de Novembro
capoeira; beleza e paisagem; memórias afetivas; fluxo de
(Praça da Matriz)
pessoas, história e memória da cidade.
Local de encontros; arborização; lugar para as rodas de 05
Largo de São Sebastião
capoeira; beleza e paisagem; lazer e passatempo.
Praça Antônio 05
Local de encontros; local de passagem; lugar para as rodas de
Bittencourt (Praça do
capoeira; beleza e paisagem; manifestações culturais.
Congresso)
Praça Heliodoro Balbi Local de encontros; arborização; lugar para as rodas de 05
(Praça da Polícia) capoeira; estética e atividades culturais.
Local de passagem; história e memória da cidade; beleza e 03
Praça Dom Pedro II
paisagem.
02
Bar do Armando Local de encontros; lazer
Praça Almirante 02
História e memória da cidade; lugar para as rodas de capoeira.
Tamandaré
01
Avenida 7 de Setembro Lugar para as rodas de capoeira
01
Avenida Getúlio Vargas História e memória da cidade
01
Ideal Clube Memórias afetivas
01
Rua 10 de Julho História e memória da cidade
01
Rua 24 de Maio História e memória da cidade
Rua 24 de Maio
Rua 10 de Julho
Ideal Clube
Avenida 7 de Setembro
Bar do Armando
0 1 2 3 4 5 6 7
15. Análise
As informações coletadas por meio da metodologia do Mapa de Percepção, com os Mestres de
Capoeira possibilitaram identificar 15 referências culturais. Todavia, como foi elaborado apenas um
mapa, perdeu-se a perspectiva comparativa, que será retomada quando o presente relatório e seus
gráficos forem somados ao conjunto dos demais para a produção do relatório final. No entanto, ainda
assim, é realizado um esforço de comparação com as oficinas de Mapa de Percepção realizadas com
outros grupos.
Entre as referências culturais representadas no mapa se destacam àquelas em que foi possível
identificar um maior número de atributos segundo as descrições dos Mestres de Capoeira: Avenida
Eduardo Ribeiro, Praça da Saudade e Praça da Matriz.
De modo geral os grupo pesquisado deu ênfase aos espaços públicos abertos(ruas e praças)
destacando seus atributos que favorecem a prática/manifestação das rodas de Capoeira; que
propiciam os encontros com amigos e encontros românticos; que são representativos de uma memória
histórica da cidade de Manaus bem como memórias afetivas dos grupos de Capoeira; e o grande fluxo
de pessoas.
É notório que as edificações do Centro Histórico ficaram em segundo plano, tanto nas
representações gráficas quanto nas narrativas e descrições dos Mestres. O Teatro Amazonas
199
comumente aparece como ponto estruturante da elaboração dos mapas em outros grupos. Muitos
desses iniciam o desenho pelo Teatro, o representam detalhadamente, em uma escala que o destaca
no mapa e fazem o restante dos desenhos a partir dele. No mapa dos Mestres ele foi representado
apenas pelo seu nome, foi inserido posteriormente a elaboração de outros elementos estruturantes e
ainda necessitou de um debate mais aprofundado quanto seu real protagonismo como representante
da identidade cultural dos capoeiristas. Os elementos estruturantes do mapa produzido foram: o
traçado urbano (sobretudo o eixo da Eduardo Ribeiro em que o debate e as descrições foram mais
aprofundados), por onde o desenho se iniciou; a Praça da Matriz (primeiro elemento representado
após o traçado urbano) e a Praça da Saudade.
Portanto, fica evidenciado que os principais atributos para as referências culturais
representadas no mapa estão diretamente ligados ao uso do espaço como locais que propiciam a
socialização. Essa qualidade pode ser inferida dos atributos descritos de 7 referências culturais. Além
disso, outras qualidades como conforto térmico (sombreamento e ventilação), limpeza urbana, estado
de conservação (calçamento adequado) e a própria socialização podem ser inferidas a partir do atributo
que descreve os lugares como propícios a manifestação das rodas de Capoeira que foram associados
à 8 das 15 referências culturais identificadas.
Dados Gerais
6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Comissão de Manutenção e
Obras da SEC (Mestres e
13 2h 22/10/2019
artifices) - Diretoria de Centros
Culturais e Teatros -
9. Endereço: Centro Cultural dos Povos da Amazônia. Avenida Silves, nº 2.222-
Distrito Industrial I- Manaus/ AM
10. Participantes
Grupo 01 Grupo 03
Ademar Batista Viana Allana Larissa Oliveira
Jessilda Ribeiro Furtado Eduardo Oliveira
Luiza Angélica Oliveira Allan Viana
Grupo 02 Grupo 04
Joara Marques Eliezer Marinho
Renato Pereira Joaquim da Silva Filho
Henrique Santos da Silva Raimundo Nonato dos Santos
Ana Cristina Mansour
Título: Início da oficina de Mapa de Percepção. Título: Grupos confeccionando os mapas. Autor:
Autor: Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019 Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019
Título: Grupo 01. Autor: Matheus Cássio Blach Título: Grupo 02. Autor: Matheus Cássio Blach
Data: 22/10/2019 Data: 22/10/2019
204
Título: Grupo 03. Autor: Matheus Cássio Blach Título: Grupo 04. Autor: Matheus Cássio Blach
Data: 22/10/2019 Data: 22/10/2019
Título: Apresentação do Grupo 01. Autor: Título: Apresentação do Grupo 02. Autor:
Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019 Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019
Título: Apresentação do Grupo 03. Autor: Título: Apresentação do Grupo 04. Autor:
Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019 Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019
205
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 01. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 02. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019
206
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 03. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 04. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019
207
14. Referências Culturais Identificadas
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
História e memória da cidade; Apreciação estética; 6
Teatro Amazonas 4 Espaço de memórias afetivas; Espaço de manifestações
culturais; Uso; Beleza arquitetônica;
Espaço de comércio e de convívio; Espaço de memórias 5
Avenida Eduardo Ribeiro 4
afetivas; História e memória da cidade; Uso.
Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
Rua 10 de Julho 4
dos argumentos apresentados pelos grupos
Espaço de lazer e socialização; Apreciação estética; Uso; 6
Praça de São Sebastião 3
Espaço de memórias afetivas; Manifestações culturais
História e memória da cidade; Espaço de lazer e 5
Largo de São Sebastião 3 socialização; Apreciação estética; Espaço de memórias
afetivas
Avenida Sete de Uso; História e memória da cidade; Espaço de memórias 4
3
Setembro afetivas; Manifestações culturais
História e memória da cidade; Beleza arquitetônica; 4
Palácio da Justiça 3
Apreciação estética; Uso
Espaço de memórias afetivas; Arborização; Apreciação 6
Avenida Getúlio Vargas 2 estética; Conforto térmico; Convívio; Espaço de
comércio
Espaço de memórias afetivas; História e memória da 6
Palacete Provincial 2 cidade; Socialização; Espaço de manifestações culturais;
Uso; Espaço de lazer
Espaço de lazer e socialização; Uso; História e memória 6
Praça Heliodoro Balbi/
2 da cidade; Espaço de manifestações culturais; Espaço de
da Polícia
memórias afetivas;
Praça Antônio História e memória da cidade; Espaço de memórias 5
Bittencourt/ do 2 afetivas; Uso; Espaço de manifestações culturais;
Congresso Socialização
Beleza arquitetônica; Apreciação estética; Uso; Espaço 4
Biblioteca Pública 2
de memórias afetivas
Orla da Cidade/ Rio Paisagem natural; Apreciação estética; Uso; Espaço de 4
2
Negro lazer
Prédio do Ideal Clube/ Espaço cultural; História e memória da cidade; Convívio; 4
2
Teatro Gebes Medeiros Uso
História e memória da cidade; Religiosidade; Espaço de 3
Igreja de São Sebastião 2
memórias afetivas
Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
Rua José Clemente 2
dos argumentos apresentados pelos grupos
História e memória da cidade; Uso; Espaço de 4
Café do Pina 1
socialização; Espaço de memórias afetivas;
Caua/ Centro de Artes 4
Espaço cultural; Convívio; Espaço de memórias afetivas;
da Universidade Federal 1
Uso
do Amazonas- UFAM
Igreja Matriz de N. S. História e memória da cidade; Religiosidade; Apreciação 4
1
da Conceição estética; Espaço representativo da cultura local
Gastronomia; Espaço de lazer e socialização; Espaço de 4
Tacacá da Gisela 1
memórias afetivas
Espaço cultural; Apreciação estética; Espaço 4
Teatro da Instalação 1 representativo da cultura local; História e memória da
cidade
208
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
Espaço cultural; História e memória da cidade; Convívio; 4
Usina Chaminé 1
Uso
História e memória da cidade; Apreciação estética; 3
Alfândega 1
Beleza arquitetônica
História e memória da cidade; Apreciação estética; 3
Mercado Adolpho Lisboa 1
Espaço representativo da cultura local
Paço da Liberdade/ 3
Museu da Cidade de 1 História e memória da cidade; Espaço cultural e de lazer.
Manaus
História e memória da cidade; Apreciação estética; 3
Porto de Manaus 1
Espaço representativo da cultura local
História e memória da cidade; Apreciação estética; 3
Relógio Municipal 1
Espaço representativo da cultura local
2
Bar do Armando 1 Espaço de lazer e socialização;
0 1 2 3 4 5 6
17
16
15
14
13
12
11
10
9
9
8
4
4
3
3
2
0
1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros
15. Análise
211
As informações coletadas, por meio da oficina de Mapas de Percepção, geraram a identificação de
35 referências culturais dentre as quais: 3 foram registradas em todos os 4 mapas produzidos; 4 foram
registradas em 3 mapas; 9 foram registradas em 2 mapas; 19 foram registradas apenas em um ou outro
mapa.
Dos bens culturais identificados 3 aparecem em todos os mapas produzidos, são eles a Avenida
Eduardo Ribeiro, a Rua 10 de Julho e o Teatro Amazonas. Contudo não foi possível inferir quais as
qualidades atribuídas a Rua 10 de Julho por meio dos relatos e ilustrações. Quanto a descrição dos
atributos dos bens culturais, foi dada maior ênfase ao Teatro Amazonas, a Praça de São Sebastião, ao
Palacete Provincial, a Avenida Getúlio Vargas e a Praça Heliodoro Balbi, todos com 6 atributos
identificados.
Considerando o recorte temático proposto pela pesquisa foi realizado um procedimento
interpretativo das falas e dos gráficos apresentados. Assim, diversos dos elementos representados pelos
participantes foram traduzidos em atributos associados aos bens culturais e em valores descritos pelo
Dossiê de Tombamento do Centro Histórico de Manaus.
De modo geral, os grupos deram enfoque aos locais em que se manifestam memórias afetivas e
pessoais, com a presença evidente do elemento de uso no tempo presente, especialmente aos espaços
geridos pela SEC, nos quais os integrantes das equipes trabalham frequentemente. Contudo, o valor
histórico e de memória para a cidade dos bens culturais identificados, bem como a apreciação estética e
arquitetônica, também foram reconhecidos por todos os grupos. A arborização e o comércio juntamente
com as qualidades de convívio, surgiram de forma pontual na fala dos participantes.
Os atributos que pareceram mais marcantes para os grupos foram, a qualidade desses lugares
como espaços culturais e de socialização, além do lazer que se caracteriza pela variedade da programação
cultural disponível em locais como a Praça e o Largo de São Sebastião, o Teatro Amazonas e o Teatro
Gebes Medeiros (antigo Ideal Clube), por exemplo.
Um ponto avaliado como relevante, é o bem cultural representado devido a sua referência à
memória, mas que passou por importantes descaracterizações, perdendo, assim, alguns atributos que
lhe conferiam valor: parte da Avenida Getúlio Vargas, que antes abrigava prédios com atrações voltadas
para o lazer de crianças e jovens (um dos grupos citou um fliperama situado nessa via que era bastante
apreciado por eles na infância), mas que atualmente apresenta, majoritariamente, estabelecimentos
comerciais em quase toda sua extensão.
Outra questão que chama atenção, são os bens representados nos mapas, mas que quase não
aparecem na fala dos membros dos grupos, cujas qualidades não foi possível inferir a partir dos
argumentos apresentados pelos mesmos, são eles: a Rua Monsenhor Coutinho, o Monumento à Abertura
dos Portos, a Rua José Clemente, o Colégio Dom Bosco, a Rua 10 de Julho e o Colégio Dom Pedro II.
Finalmente, cabe enfatizar a relação “sentimental” dos participantes com os bens culturais
identificados, além de serem espaços de memórias afetivas, esses lugares são relevantes para os grupos
por serem a “fonte” de sua renda e locais de aprendizado e crescimento profissional e pessoal. As
qualidades atribuídas a estes lugares os tornam, na percepção das equipes, “heranças” importantes da
212
história e da cultura local, que devem ser preservadas para seus descendentes e para as futuras gerações
de manauaras.
Dados Gerais
6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Moradores Ilha de São Vicente 22 2h 23/10/2019
10. Participantes
Grupo 01
Participante não identificado
Karla Spencer Grupo 04
Klilton Souza Participante não identificado
Participante não identificado Participante não identificado
Mayara da Silva Grupo 05
Grupo 02 Cleópatra Vila Pouca
Angélica dos Santos José
Leila Alves Participante não identificado
Leila Teixeira Grupo 06
Grupo 03 Participante não identificado
Edneia da Silva Grupo 07
Participante não identificado Participante não identificado
Izomara Paiva Yaselis Montilla
Participante não identificado
Tatiane de Oliveira
Vanessa Almeida
Título: Grupo 01. Autor: Luciane da Silva Título: Grupo 02. Autor: Luciane da Silva
Queroga Data: 23/10/2019 Queroga Data: 23/10/2019
Título: Grupo 03. Autor: Luciane da Silva Título: Grupo 04. Autor: Luciane da Silva
Queroga Data: 23/10/2019 Queroga Data: 23/10/2019
Título: Grupo 05. Autor: Luciane da Silva Título: Grupo 06. Autor: Luciane da Silva
Queroga Data: 23/10/2019 Queroga Data: 23/10/2019
218
Título: Grupo 07. Autor: Luciane da Silva Título: Oficina múltiplos grupos. Autor: Luciane
Queroga Data: 23/10/2019 da Silva Queroga Data: 23/10/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 01. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
219
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 02. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 03. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
220
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 04. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 05. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
221
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 06. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 07. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
222
14. Referências Culturais Identificadas
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
História e memória da cidade; beleza e paisagem; uso; 4
Museu da Cidade 3
lazer.
Uso; Espaço cultural; Espaço de memórias afetivas; 4
Caminhos da Arte 2
Socialização.
Uso; Espaço cultural; Espaço de memórias afetivas; 4
Casa do Frei 2
Socialização.
Igreja Matriz de Nossa 2
2 Espaço de memórias afetivas; Uso.
Senhora da Conceição
Espaço de memórias afetivas; Espaço cultural; 4
Largo de São Sebastião 2
Arborização; Apreciação estética.
Beleza e paisagem; Gastronomia; Uso; Espaço de 4
Mercado Adolpho Lisboa 2
comércio.
História e memória da cidade; Beleza e paisagem; 3
Palácio Rio Branco 2
Memórias afetivas.
Apreciação estética; Arborização e conforto térmico; 4
Praça Dom Pedro II 2
Uso; História e memória da cidade.
Espaço de memórias afetivas; História e memória da 2
Teatro Amazonas 2
cidade.
Casa nº 69 e 77 (as 2
mais antigas de 1 Uso; História e memória da cidade.
Manaus)
2
Encontro das Águas 1 Apreciação estética; Paisagem natural.
2
Feira do Paço 1 Espaço cultural; Socialização.
1
Igreja dos Remédios 1 Espaço de memórias afetivas.
Roadway (Porto de 2
1 Espaço de memórias afetivas; Uso.
Manaus)
História e memória da cidade; Uso; Espaço de memórias 3
Rua Bernardo Ramos 1
afetivas.
4
Rua Lobo D’Almada 1 Uso; Socialização; Lazer; História e memória da cidade.
Sede do Instituto 3
1 Uso; Espaço de memórias afetivas; Espaço cultural.
Amazônia
15. Gráficos
223
Relógio Municipal
Feira do Paço
Teatro Amazonas
Casa do Frei
Caminhos da Arte
Museu da Cidade
0 1 2 3 4
11
10
8
8
1
1
0
0
1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros
Dados Gerais
1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach
2. Mediador: Matheus Cássio Blach
3. Relator: Silvio Márcio Freire de Alencar Filho – Rebeca Nunes de Melo
4. Documentarista: Rebeca Nunes de Melo – Carluzi Santos Silva Mattos
6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Estagiários do Museu da
8 2h 25/10/2019
Cidade de Manaus
9. Endereço: Rua Gabriel Salgado, s/n. Centro
10. Participantes
Grupo 01 Grupo 03
Lauriane da Silva Szabo Agnaldo Júnior Martins. dos Santos
Yan Soares Diniz Rosicley Cardoso Lopes
Grupo 02 Grupo 04
Ane Caroline S. Rocha João Gerson Sarmento Souza
Jennifer Queiroz Bastos Maria Eduarda Vieira
Título: Grupo 01. Autor: Carluzi Santos Silva Título: Grupo 02. Autor: Carluzi Santos Silva
Mattos Data: 25/10/2019 Mattos Data: 25/10/2019
Título: Grupo 03. Autor: Carluzi Santos Silva Título: Grupo 04. Autor: Carluzi Santos Silva
Mattos Data: 25/10/2019 Mattos Data: 25/10/2019
230
13. Mapas de Percepção
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 01. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 02. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
231
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 03. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 04. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
232
14. Referências Culturais Identificadas
Qtd.
Nº
Identificação Registro Atributos
Atrib.
s
MUMA (Museu da Cidade Memória Afetiva; convívio; apreciação estética e 5
4
de Manaus) arquitetônica; valor histórico;
Intercâmbio cultural; uso; socialização; lazer; 8
Porto Flutuante de
3 proximidade com o rio; paisagem natural; memória
Manaus
afetiva; Valor histórico;
Beleza e paisagem, apreciação estética e 6
Teatro Amazonas 3
arquitetônica; valor histórico; memória afetiva;
Apreciação estética e arquitetônica; valor histórico; 6
Largo de São Sebastião 2
uso; socialização; lazer;
Feira da Manaus Comércio; gastronomia; uso; resistência popular; 5
2
Moderna memórias afetivas;
História e memória de povos nativos; ambiência; 2
Praça 5 de Setembro (Segundo os relatos o tempo de permanência foi
2
(Praça da Saudade) drasticamente reduzido devido ao nível de
insegurança);
1
Av. 7 de Setembro 2 Valor histórico;
Praça Antônio 2
Bittencourt (Praça do 1 Uso; Memória Afetiva;
Congresso)
Praça Dom Pedro II 2
1 Arborização; conforto térmico;
(Paço da Liberdade)
Santa Casa de 2
1 Valor histórico; memória afetiva;
Misericórdia
Casas 69 e 77 (Mais 1
1 Valor histórico;
antigas de Manaus)
1
Igreja da Matriz 1 Valor histórico;
Instituto de Educação do 1
1 Memória Afetiva.
Amazonas (IEA)
1
Palacete Provincial 1 Valor histórica;
233
15. Gráficos
Palacete Provincial
Igreja da Matriz
Feira da Banana
Av. 7 de Setembro
Teatro Amazonas
0 1 2 3 4 5 6 7 8
4
4
2
2
1
1
0
1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros
15. Análise
Os dados levantados, por meio desta oficina de Mapas de Percepção, possibilitaram a identificar
16 referências culturais, dentre as quais: 9 não se repetem em nenhum dos 4 mapas elaborados; 4
aparecem em apenas 2 mapas; 2 aparecem em todos, exceto em 1 mapa; e 1 aparece em todos os mapas.
De todos os bens analisados, o Museu da Cidade de Manaus foi unanimidade, o que era de se
esperar, já que os estagiários desse local foram quem produziram os Mapas de Percepção, porém ele não
foi o bem com mais atributos identificados. O Porto Flutuante de Manaus e o Teatro Amazonas, ainda que
apareçam em igual número de vezes (ausentes em apenas um mapa), distinguem-se quanto ao número
de atributos, sendo o Porto o bem cultural com a maior quantidade deles (total de 8 atributos). O Teatro
Amazonas segue em segundo lugar empatado com o Largo de São Sebastião, ambos com 6 atributos cada,
um dado interessante, considerando a sua proximidade (o largo fica em frente ao teatro). As feiras da
Manaus Moderna e da Banana se igualam nos seus atributos.
Considerando o recorte temático proposto pela pesquisa, foi realizado um procedimento
interpretativo das falas e dos gráficos apresentados. Assim, diversos dos elementos representados pelos
participantes foram traduzidos em atributos associados aos bens culturais e em valores descritos pelo
Dossiê de Tombamento do Centro Histórico de Manaus.
Ao todo, os atributos variaram bastante, sendo notável a ênfase dada pelos grupos à memória
afetiva e ao valor histórico, relembrando seus primeiros contatos com os bens mencionados, suas
experiências pessoais e o valor aprendido na academia, dado que a vasta maioria dos integrantes dos
grupos foi composta por estudantes de História e de Turismo, cursos fortemente relacionados ao
patrimônio. Foi também possível identificar atributos relacionados ao uso, comércio, socialização, lazer,
conforto térmico, gastronomia, dentre outros.
Dados Gerais
6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Moradoras antigas do entorno 02, 04 e
3 3 dias
do Teatro Amazonas 06/12/2019
Entorno do Teatro Amazonas (Rua Tapajós, Edifício Radio –
9. Endereço: Avenida Getúlio Vargas/ Edifício Cidade de Manaus -Avenida
Eduardo Ribeiro)
10. Participantes
Ilza Oliveira Garcia de Vasconcelos
Etelvina de Andrade
Socorro Gomes Padilha
Título: Mapa elaborado na concepção de Socorro Título: Finalização da elaboração do mapa com
Gomes. Autor: Matheus Blach Data: 02/12/2019 Socorro Gomes. Autor: Matheus Blach Data:
02/12/2019
Título: Elaboração do mapa com Ilza Garcia. Título: Finalização da elaboração do mapa com
Autor: Matheus Blach Data: 04/12/2019 Ilza Garcia. Autor: Neide Data: 04/12/2019
Título: Inicio da elaboração do mapa com Título: Finalização da mapa com Etelvina das
Etelvina das Graças. Autor: Luciane Queroga Graças Autor: Tereza Data: 06/12/2019
Data: 06/12/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado sob orientação de Socorro Padilha. Autor: Matheus Cássio Blach Data:
02/12/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado sob orientação de Ilza Garcia. Autor: Matheus Cássio Blach Data:
04/12/2019
244
Título: Mapa de Percepção elaborado sob orientação de Etelvina das Graças 03. Autor: Luciane Queroga Data:
06/12/2019
14. Referências Culturais Identificadas
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
Apreciação estética, arborização, lugar de memória 7
Praça Heliodoro Balbi
3 (manifestações artísticas, socialização, encontro
(Praça da Policia)
românticos e espaço de comércio)
Manifestações religiosas, gastronomia, manifestações 5
Largo de São Sebastião 3
culturais, apreciação da estética e lazer.
Apreciação da estética, valorização do sagrado, valor 4
Igreja São Sebastião 3 histórico, lugar de memória (sino que não está
badalando)
Apreciação da estética, manifestações artísticas, valor 3
Teatro Amazonas 3
histórico
Praça Antonio 2
Bittencourt 3 Gastronomia e socialização
(Praça do Congresso)
Apreciação da estética, lugar de comércio, Lugar de 6
Praça 5 de Setembro memória (pois, na praça antes da modificação
2
(Praça da Saudade) possibilitava encontro românticos, socialização,
manifestações culturais e lazer)
Manifestações religiosas, apreciação estética, valor 4
Porto de Manaus 2
histórico e paisagem natural.
Espaço de comércio, manifestações culturais e 3
Avenida Eduardo Ribeiro 2
gastronomia.
1
Ideal Clube 2 Manifestações Culturais
245
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
1
Rio negro Clube 2 Manifestações Culturais
Hospital Beneficente 2
1 Apreciação estética, lugar de memória
Portuguesa
Igreja Matriz de Nossa 2
1 valorização do sagrado e valor histórico
Senhora da Conceição
2
Praça XV de Novembro 1 Manifestações culturais e Manifestações religiosas
Santa casa de 2
1 Apreciação estética, lugar de memória
Misericórdia
1
Avenida Getúlio Vargas 1 Manifestações cívicas
1
Casa Mousenhor 1 Manifestações artísticas, apreciação da estética.
0
IEA 1 Não foi adicionado atributos
246
15. Gráficos
IEA
Casa Mousenhor
Praça XV de Novembro
Ideal Clube
Porto de Manaus
Teatro Amazonas
0 1 2 3 4 5 6 7
5
5 5
0
1 Registro 2 Registros 3 Registros
15. Análise
248
Por meio das informações coletadas na oficina de Mapas de Percepção foram identificadas 17
referências culturais dentre as quais: 5 foram registradas nos três mapas, assim como também tiveram
5 registradas dois dos mapas produzidos e 7 referências apareceram em apenas um dos mapas. Os
mapas embora sendo desenvolvidos de forma individual e em locais diferentes é notório uma certa
predominância de referências culturais, logo evidência, principalmente, a igreja São Sebastião o Largo
São Sebastião e o Teatro Amazonas nos mapas das três moradoras, sempre apresentando estes como
principais referências dentro do centro histórico, seguido das Praças Heliodoro Balbi e Praça Antônio
Bittencourt.
Embora tenha uma concordância quanto as três principais referências culturais descritas nos
mapas, algumas discordâncias são expressas, a exemplo da moradora que reside próximo à Avenida
Eduardo Ribeiro, pontua a feira como um incomodo, também a moradora próxima ao largo expressa
essa mesma insatisfação diante de alguns eventos no largo. Ainda assim, o valor ao bem edificado,
conforme identificado pela elaboração dos mapas, está diretamente associada a prática de atividades
que evidenciam a cultura e crença presente na sociedade, pois, dentro dos bens desenhados a
manifestação cultural foi atribuída a 6, a manifestação religiosa foram atribuídas a 3. Contudo entre
todos os atributos percebe-se que para uso do espaço a apreciação da estética (atribuída a 9 das
referências) também se torna importante para a valorização.
Sendo mencionado principalmente a Igreja São Sebastião por representa muito mais que um
bem cultural, histórico ou arquitetônico, mas com um valor de sagrado para as moradoras, fazendo
menção a importância do badalar do sino assim como a festividade que acontecia no Largo São
Sebastião.
É importante salientar que os dois locais que apresentar a maior quantidade de atributos,
sendo: praça Heliodoro Balbi (7) e Praça 5 de Setembro (6) são espaços que os atributos estão
diretamente relacionados a lembrança de aspecto que existia, porém atualmente não é mais
identificado devido ao processo de modificação que os locais tiveram ao longo dos anos. O mesmo
acontece com os atributos ligados a Praça Antonio Bittencourt, pois é mencionada nos três mapas,
com 2 atributos refere-se à praça como um lugar de memória.
O Instituto de Educação do Amazonas, embora apareça em um dos mapas, não teve atributos
relacionados a ele.
Diante dos discursos, é expresso que muitas das perdas do uso dos espaços são motivados
pela negligencia nos processos pelos quais os espaços são submetidos, pois ignora muitas vezes o
valor que os bens edificados representa para a sociedade e em outros casos ignora-se também a
dinâmica da cidade.
Dados Gerais
6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Membros da Associação
9 2H 04/12/2019
Comercial do Amazonas- ACA
Associação Comercial do Amazonas- ACA. Rua Guilherme Moreira,
9. Endereço:
281- Centro, Manaus-AM.
10. Participantes
Grupo 01
Grupo 03
Ataliba Davi Filho
Allan Bandeira de Melo
Paulo Cezar Couto
Hassan Ahmud
Grupo 02
Grupo 04
Ivone Leite
Acácia Seco Ferreira
Johnny Azevedo
Pedro Paulo Cordeiro
Maurino Nogueira Azevedo
Título: Grupo 01 Autor: Yara Araújo Magabi Data: Título: Grupo 02 Autor: Yara Araújo Magabi Data:
04/12/2019 04/12/2019
Título: Grupo 03 Autor: Yara Araújo Magabi Data: Título: Grupo 04 Autor: Yara Araújo Magabi Data:
04/12/2019 04/12/2019
255
13. Mapas de Percepção
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 01. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
04/12/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 02. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
04/12/2019
256
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 03. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
04/12/2019
Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 04. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
04/12/2019
257
14. Referências Culturais Identificadas
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
Apreciação estética e arquitetônica; uso; história e 5
Mercado Municipal
4 memória da cidade; gastronomia; proximidade com o
Adolpho Lisboa
rio.
Uso; história e memória da cidade; Apreciação estética e 5
Porto de Manaus 4
arquitetônica; potencial turístico; proximidade com o rio.
Orla da cidade/Rio Paisagem natural; proximidade com o rio; Apreciação 4
3
Negro estética; História e memória da cidade.
Monumentalidade; apreciação estética e arquitetônica; 4
Teatro Amazonas 3
uso; história e memória da cidade.
Igreja Matriz de Nossa História e memória da cidade; uso; Apreciação estética e 4
2
Senhora da Conceição arquitetônica; potencial turístico.
História e memória da cidade; apreciação estética; uso; 4
Largo de São Sebastião 2
socialização.
História e memória da cidade; Apreciação estética e 4
Palácio da Justiça 2
arquitetônica; potencial turístico; Espaço Cultural.
Apreciação estética e arquitetônica; História e memória 2
Alfândega 2
da cidade.
Aquário, aviário e 1
zoológico da Igreja da Lugar de memória
2
Matriz (Catedral Nossa (Qualidades de uso relatadas como perdidas);
Senhora da Conceição)
História e memória da cidade; Apreciação estética e 6
Praça de São Sebastião 1 arquitetônica; Espaço Cultural; uso; socialização;
potencial turístico.
Socialização; História e memória da cidade; potencial 3
Bar do Armando 1
turístico.
3
Feira Manaus Moderna 1 Apreciação estética; gastronomia; uso;
0 1 2 3 4 5 6
25
24
23
22
21
20
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12
11
10
5
5
4
2
2 2
1
0
1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros
Dados Gerais
6. Motivação da entrevista
O Professor Otoni Moreira de Mesquita é um pesquisador consagrado na cidade de Manaus,
sendo reconhecido pelo seu trabalho a respeito da história e memória da cidade. É uma figura sempre
presente no Centro Histórico, seja em eventos acadêmicos, manifestações políticas, bibliotecas e
arquivos, seja caminhando pelas ruas da cidade, frequentando restaurantes e outros espaços públicos.
Seu “olhar de pesquisador e morador” se manifesta cotidianamente, tanto em trabalhos formais quanto
em conversas corriqueiras nos encontros casuais com aqueles que habitam o centro da cidade.
De fato, o Professor Otoni é uma dessas personas que trazem consigo um amplo cabedal
mnemônico a respeito de lugares, pessoas e processos históricos. Sua trajetória enquanto pesquisador
se mistura com suas experiências de vida na cidade, conferindo um valor historiográfico inestimável a
todas as suas narrativas autobiográficas e sobre Manaus.
Além disso, Otoni tem sido um importante parceiro do Iphan em suas ações voltadas para
pesquisa e para a Educação Patrimonial, apresentando sempre uma perspectiva crítica com uma
análise meticulosa e construtiva da ação da instituição. Em 2019 publicou, com o apoio do Iphan-AM,
o livro “Manaus: História e Arquitetura, 1669-1915”. Ainda no mesmo ano, participou do “Dia do
Patrimônio em Manaus”, promovido pelo Iphan-AM juntamente com a Secretaria de Estado de Cultura
do Amazonas, contribuindo com um roteiro guiado pelo Porto de Manaus e com a palestra “Resgate
da Memória como preservação do Patrimônio”, oferecidos gratuitamente ao público inscrito.
Sendo assim, devido a essa capacidade de representar uma experiência de vivência e memória
da cidade, tanto sob um olhar acadêmico, quanto sob um olhar de morador, o Professor Otoni Mesquita
figura-se como um verdadeiro stakeholder para essa pesquisa, sendo seu olhar e interpretações de
fundamental importância para se compreender os valores associados ao Centro Histórico de Manaus.
Minicurrículo: Otoni Moreira de Mesquita, nascido em 27 de junho de 1953 em Autazes -
Amazonas, em 1979 graduou-se em Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade do Amazonas
(FUA), em 1983 graduou-se em Gravura na Escola de Belas Artes na Universidade Federal do Rio de
264
Janeiro - UFRJ. Em 1986 cursou Oficina de Conservação e Restauração em Papel na Universidade
Federal de Minas Gerais. Em 1992 conclui curso de mestrado em História e Crítica da Arte (1992),
apresentando a dissertação “A Belle Époque Manauara e sua Arquitetura Eclética- 1850/1915”, editado
em formato de livro em 1997 com o título “Manaus: história e arquitetura-1850/1915”. Em 1997 e
1998 atuou como Coordenador do Patrimônio na Secretaria de Cultura do Estado. Em 2005 concluiu
doutorado em História Social na Universidade Federal Fluminense com a tese “O mito do progresso e
a refundação da cidade de Manaus- 1890/1900”, publicada em 2009 com o título “La Belle Vitrine:
Manaus entre dois tempos- 1890/1900”. Atuou como professor do Departamento de Artes da
Universidade Federal do Amazonas, desde 1984 e no Programa de Pós-Graduação em História de 2006
a 2013 e se aposentou como professor Associado, em 2015. Atua como artista plástico, desde 1975,
desenvolvendo trabalhos com desenho, pintura, gravura, arte digital, vídeo, performance e curadoria
de exposições. Participou de mais de uma centena de exposições coletivas e mais de duas dezenas de
exposições individuais, com participações em variados eventos nacionais e alguns internacionais
7. Roteiro da entrevista
Primeiro bloco: Biográfico
1. Há quanto tempo o senhor vive em Manaus?
2. Quais vivências marcaram sua vida na cidade?
3. Quais seus lugares de memória no centro histórico?
Segundo bloco: Trajetória Profissional
4. Fale um pouco da sua trajetória como pesquisador.
5. Por que escolheu Manaus como objeto de pesquisa?
Terceiro bloco: Mapeamento das Referências Culturais
6. Quais são os bens edificados do período do ciclo da borracha que representam os valores culturais
(artístico, histórico, urbanístico, uso etc.) do Centro Histórico?
7. Para além do olhar acadêmico, quais são os bens culturais que fazem referência a memória e
identidade da população? Ou seja, como o senhor percebe a população se apropriando do centro
histórico de Manaus?
8. Quais áreas do centro tem características de “unidade de conjunto” preservada e que devem ser
mantidas? Utilização do mapa, desenhar áreas e poligonais
9. Quais são as características desses bens culturais e do centro histórico, dessas permanências do
passado, que emprestam qualidades ao presente da cidade?
10. Quais são as principais qualidades do centro histórico, o que devemos de fato preservar?
Quarto bloco: Debate conceitual
11. O tombamento é/tem sido um meio eficaz de preservação dos valores e qualidades associados ao
centro histórico de Manaus? Existe algum outro modelo ou instrumento de preservação que o
senhor acredita que seja viável ou recomendável para Manaus?
265
12. A que o senhor atribui a preservação espontânea dos bens culturais da cidade, que se mantiverem
até o presente, sobretudo, no período anterior aos processos de tombamento?
8. Documentação fotográfica
Ao tempo em que essas modificações trouxeram aspectos positivos que viabilizaram também,
a sensibilização das pessoas por esses bens, Mesquita lamenta quanto a precariedade da área da Praça
Dom Pedro II (Paço), pois os investimentos são tímidos e as intervenções acontecem de forma
paulatina, mesmo ações de infraestrutura básica, a exemplo da iluminação da área. Assim como a
movimentação de comércio, que na opinião do mesmo é importante um olhar para que as atividades
aconteçam de forma contínua, não apenas esporádicas.
As intervenções que acontecem nos bens edificados, algumas vezes acarretam a perda do uso
pela sociedade, como exemplo da Praça 5 de Setembro (Praça da Saudade) que embora realizado a
revitalização para recuperar um suposto design original de estilo francês clássico, perdeu sua
apropriação pela população. Tanto devido a remoção da parte do comércio (quiosques de alimentação),
quanto da de lazer ligado ao envolvimento da população com o parque e equipamentos urbanos que
havia ali. Além disse houve a perda da arborização. Conforme expõe Mesquita, na praça havia a
realização de atividades contínuas que proporcionavam uma relação da população com o ambiente, e
não acontece atualmente. A mesma perda é evidenciada na Praça Antônio Bittencourt, um dos motivos
para essa anulação da movimentação na área, foi a tentativa de fazer o calçamento de pedras, porém
não manteve o padrão planificado usado no período da Belle Époque, associando também, esse
afastamento da população a outros fatores.
A Praça XV de Novembro, atualmente, apresenta um aspecto diferente das citadas anteriores,
pois, caracteriza-se como um lugar popular, porém não apresenta mais a qualidade para os usuários
em serviços e o aspecto paisagístico, pois, o jardim e a arborização foram retirados, houve demolições
de monumentos e a retirada dos pavilhões variados.
Como aspectos negativos identificados nesses espaços Mesquita relata que essas áreas muitas
vezes tornam-se inviáveis para uso contínuo de grande parcela da população, justamente pela
ausência de segurança e/ou serem locais estereotipados pela configuração de prostituição e pontos de
uso de entorpecentes. Pelo viés do uso do espaço, pode-se associar ao fato que muitas das
intervenções que acontecem em Manaus tem-se o discurso de “embelezamento, limpeza e
271
higienização, porém esquecem o para quem” (MESQUITA, 2019) que de forma natural, pela ausência
do sentimento de pertencimento população, promove o afastamento das pessoas desses espaços.
Nessa perspectiva do espaço com representatividade para a população do período do ciclo da
borracha e que mantém um aspecto de memória coletiva são evidenciadas, de forma geral, as
tradições familiares que permanecem vivas em algumas ruas, bares e bairros como no: Educandos,
Aparecida e São Raimundo, entretanto, em uma visão mais focada no centro de Manaus, considera-
se principalmente os espaços públicos que se caracterizam por propiciarem a socialização, como o
Mercado Adolpho Lisboa. Embora na concepção de Otoni, esse local tenha perdido a sua função
principal depois da reforma, pois era um local de envolvimento da população para as compras e
consumo dos tradicionais mingaus e não voltado para o público externo e turismo. Entretanto, essa
função concentra-se atualmente na Feira da Manaus Moderna depois que o mercado passou a ter uma
finalidade mais turísticas. Ainda assim, “o mercado é o mais tradicional, ainda remete e guarda as
referências das pessoas que iam ao mercado” (MESQUITA, 2019).
Alguns desses lugares, de uso coletivo, também vão se perdendo ao longo dos anos diante da
dinâmica da cidade, a exemplo do que acontece a partir do final da década de 60 que alguns espaços
públicos são substituídos por estacionamentos, sendo esses espaços: a Praça Tamandaré, a praça em
frente ao Booth Line, assim como a Praça da Bola que foi destruída para promover a circulação de
veículos. Com isso, foi diminuído os espaços de interação social e criou-se mais vias de trânsito na
cidade.
Todavia, fazendo uma contraposição ao delimitar os espaços portadores de uma memória
coletiva dentro do recorte temporal do ciclo da borracha, Mesquita salienta que a Belle Époque foi
marcada por um período muito breve, chega a ser de dez anos e a partir desse momento Manaus é
evidenciada como uma cidade que fica “congelada”, contudo ela vai ter sua animação, se estabelecer
em uma harmonia e hierarquia dentro do período de se estende de 1915 até 1967, mantendo em seu
aspecto as suas praças arrumadas, com jardins bem cuidados e a predominância de arborização nas
principais vias. Logo, até o início dos anos 1970 o centro permaneceu relativamente bem preservado.
Associando esse aspecto ao uso do centro histórico nos dias atuais pelos moradores, no ponto
de vista de Mesquita, há uma minoria sensibilizada e preocupada com a valorização e conservação do
patrimônio, porém há uma quantidade que devido à ausência do sentimento de pertencimento pelo
local, ainda não tem esse olhar de cuidado e apreço pelos espaços que mantém essa vinculação com
a história e cultura da cidade. Logo que essa ausência de memória afetiva leva, muitas vezes, a
depredação, substituição, pichação, vandalismo e consequentemente perda desses bens.
Outro ponto significativo que o entrevistado destaca é que o olhar sobre o Centro deve
considerar os bens não somente de forma isoladamente, mas também, o conjunto e as características
que expressam esse recorte da Belle Époque, que felizmente ainda mantém uma presença relevante
de tendências arquitetônicas e artísticas nas construções em vários pontos com a tipologia eclética,
como: Na avenida 7 de setembro, Rua Pedro Botelho, Rua José Clemente, Rua Lobo D’Almada, Avenida
Joaquim Nabuco, Marechal Deodoro, Miranda Leão, Marcilio Dias, Epaminondas, Luiz Antony e um
272
citado com muito enaltecimento por Mesquita, é o conjunto que fica no beco da indústria, na Aparecida,
que guarda muito das características daquele período.
Contudo, há atualmente muitas construções verticalizadas que descaracterizam essa visão de
conjunto em vários locais do centro. Também, nos últimos 20 anos, há o processo de descaracterização
diante da derrubada de casas de alguns conjuntos, como o que aconteceu no conjunto de casas que
havia em parte da Rua Visconde de Mauá.
Vale destacar, algumas unidades isoladas que têm importância pela singularidade do estilo
arquitetônico, como as construções com tijolo aparente e as de referência neogóticas. Algumas
características presentes nos bens edificados estão diretamente relacionadas a memória e a história
da cidade, a harmonização estética, as referências e a qualidade para o uso, tornando essencial o
cuidado e a preservação dos prédios, das praças, da arborização.
De forma geral, é relevante todo o espaço de socialização que promova a qualidade do uso e
a interação social, logo que “o século XIX, sua principal finalidade era desenvolver áreas com intuito
de congregar e animar, atualmente a ideia que passa é de dispersar, manter a individualidade, o
consumo e a circulação rápida” (MESQUITA, 2019).
Diante da importância de manter viva e valorizada a história e cultura que os bens edificados
representam que Mesquita considera o tombamento como o primeiro passo para a preservação dos
valores e qualidades associados ao Centro Histórico de Manaus. Porém, é necessário manter atrelado
à preservação dos espaços a sensibilização da população e a educação patrimonial, pois do contrário
não acarretará nenhum significado, será uma preservação vazia sem a relação humana. Também é
necessária uma comunicação clara e informativa, o envolvimento da população e a fiscalização.
“Tombar é uma garantia, porém sozinho não consegue atingir o objetivo, por isso são necessários
projetos, ações de sensibilização e o envolvimento de outros setores” (MESQUITA, 2019).
Quanto a valorização de elementos significativos na cidade, Mesquita sugere projetos que
tenham um olhar voltado também, para o tombamento dos calçamentos com pedras ilhós, presentes
no centro, de forma que o espaço continue sendo viável. Pontua também, que a cidade precisa ter
qualidade associada a todos os elementos essenciais para manter a dinâmica e que possibilite uma
agradável estética unida ao prazer de uso dos espaços.
O Centro Histórico passou por um processo de preservação espontânea dos bens culturais , que
se mantiveram até o presente, sobretudo, no período anterior aos processos de tombamento que na
concepção de Mesquita está diretamente atribuído aos projetos e ações desenvolvidas pela Prefeitura
e pelo Estado com algumas ações de órgãos privados, embora que em um caráter menor houve essas
intervenções diante da recuperação de alguns imóveis. Pode-se dizer que há a manifestação de atores
sociais ligados aos órgãos públicos e privados.
Mesquita afirma também, que recuperar detalhes associado a valorização da estética são ações
que contribuem para manter essa preservação dos bens, tais como: a retirada de superposição de
fachadas e de elementos extras. Tendo um olhar para os calçamentos com pedra de ilhós, pedra jacaré
e paralelepípedos, assim como as esquadrias, as fachadas, os bancos, as grades, gradis, elementos
de colunas, frontões, esculturas e elementos sobre as platibandas, os estuques e as pinturas das
273
partes internas e externas, fachadas e paredes são elementos de referência importante a serem
considerados e analisados.
O fato do entrevistado ser um pesquisador atrelado a experiência como morador do centro
proporciona um olhar para as riquezas de referências presentes, evidencia uma vontade manter viva
a história da cidade, a preservação dos bens edificados e a valorização da cultura. É notória a sua
preocupação com os processos de intervenções e o impacto gerado sobre as pessoas, principalmente
considerando que os processos históricos de uma localidade são dinâmicos. Para o entrevistado o que
muitas vezes torna-se referência para o grupo não necessariamente condiz com o manter sua forma
original, e sim está mais ligado a qualidade de uso proporcionado, logo esse valor atribuído aos bens
edificados faz relação ao envolvimento da população, ao sentimento de pertencimento e as memórias
afetivas que dão aos espaços o significado de referência cultural e consequentemente o apreço e a
vontade de mantê-los preservado.
Dados Gerais
1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach
2. Entrevistador: Matheus Cássio Blach
3. Entrevistado: D. Nazaré e D. Fátima
4. Documentarista: Leandro Gomes e Rebeca Nunes de Melo
6.Relatora: Rebeca Nunes de Melo
7. Documentação fotográfica
Título: Começo da Entrevista. Autor: Rebeca Título: D. Nazaré. Autor: Rebeca Nunes Data:
Nunes Data: 23/10/2019 23/10/2019
Título: D. Fátima o seu troféu em sua Título: Encerramento com realização do Mapa de
homenagem. Autor: Rebeca Nunes Data: Percepção. Autor: Rebeca Nunes Data:
23/10/2019 23/10/2019
275
8. Motivação da entrevista
As senhoras Nazaré e Fátima, são irmãs de criação e moradoras antigas tanto de Manaus como
do próprio Centro da cidade, reconhecidas por anteriormente residirem na atual sede da
Superintendência do IPHAN no Amazonas, ambas com vivências em cada cenário de transição e
manifestações do Centro Histórico.
Suas trajetórias narram suas experiências de vida na cidade, especialmente nos arredores do
IPHAN (Ilha de São Vivente), onde cresceram, trabalharam, viveram e vivem, até hoje, conferindo
assim um valor de memória inestimável para seus relatos e justificando a relevância dos seus olhares
para essa pesquisa sobre o Centro Histórico de Manaus.
9. Roteiro da entrevista
Primeiro bloco: Biográfico
• Há quanto tempo as senhoras vivem em Manaus?
• Quais vivências marcaram sua vida?
• Quais seus lugares de memória no centro?
Segundo bloco: Mapeamento das Referências Culturais
• Para alguém que quer conhecer a cultura, história e arte da cidade, quais lugares vocês
recomendariam?
• O que mudou no Centro Histórico e se teve algum marco para a mudança de como era antes
para hoje.
• Quais os lugares do Centro que as senhoras mais visitam e gostam de frequentar?
• Quais são os bens edificados do período do ciclo da Borracha que representam e atribuem os
valores culturais do Centro Histórico que vocês recomendariam?
Terceiro bloco: Debate conceitual
• Vocês concordam que tombamento é/tem sido um meio eficaz de preservação associados ao
centro histórico de Manaus?
• Em 2012, Manaus tem o Centro Histórico reconhecido como patrimônio, esse processo
demonstra a relevância de Manaus tanto historicamente como culturalmente e afins. Nos seus
olhares, o que mudou de 2012 até os dias atuais, diante desse processo de entendimento
desse espaço como patrimônio? Ocorreram mudanças?
Dados Gerais
6. Motivação da entrevista
A busca por diferentes olhares sobre o centro histórico de Manaus contribui para a compreensão
dos lugares de valor histórico e representa a memória coletiva da sociedade, possibilitando assim a
interpretação das práticas sociais que foram experienciadas ao longo dos anos e que são refletidas nas
manifestações culturais, nos discursos, nos lugares de memória e no cotidiano que reforçam a história
da cidade.
Considerando de grande valor para a pesquisa, o olhar dos moradores do centro histórico de
Manaus, devido acúmulo de histórias e usos dos espaços é que avaliou-se ser importante a realização
da entrevista com Ilza Oliveira Garcia de Vasconcelos, pois há 98 anos é moradora do centro e ao
longo desses anos pode contemplar diferentes processos de modificações ocorridas na cidade.
Minicurrículo: Trabalhou 31 anos como secretária do gerente na NESTLE Manaus, também
por 17 anos foi presidente da APAE, atualmente é membro da Casa da Amizade e uma das diretoras
da Associação de comerciantes do Amazonas – ACA, faz parte a 70 anos do apostolado de oração da
Igreja São Sebastião, por 22 anos foi expectora salesiana.
7. Roteiro da entrevista
Bloco de perguntas
13. Há quanto tempo a senhora vive no Centro de Manaus?
14. O que a senhora Mais gosta no centro?
15. Quais os locais que a senhora considera importante no Centro Histórico de Manaus?
16. Quais locais frequentava ou ainda frequenta no centro histórico de Manaus?
17. O que deve ser preservado na Igreja São Sebastião?
280
8. Documentação fotográfica
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