O Ideal Iniciatico Wirth Oswald
O Ideal Iniciatico Wirth Oswald
O Ideal Iniciatico Wirth Oswald
POR
OSWALD WIRTH
Proibido o uso comercial desta obra.
Exclusivamente para os membros da GLOJARS
www.glojars.org.br
Meus Irmãos,
Como se pode colher da introdução escrita pelo próprio Oswald Wirth, esta
obra resulta de uma coletânea de artigos publicados a partir de janeiro de
1922. Reunidos, deram origem ao livro que, agora, é colocado à disposição
de todos os Irmãos da Muito Respeitável Grande Loja Maçônica do Estado
do Rio Grande do Sul. Como não foi possível encontrar o original francês,
não nos restou outra alternativa senão nos utilizarmos da tradução
espanhola feita por Fernando Villard, cuja cópia nos foi generosamente
presenteada pelo Ir.'. João Carlos Miranda, M.'. I.'., em 28 de setembro de
2000.
Fraternalmente
Ir.'. Bruno C. Carravetta, M.'. I.'.
bcarravetta@cpovo.net
Índice
1. Introdução.......................................................04
2. A Iniciação Maçônica......................................06
3. As Obrigações do Iniciado..............................10
4. A Preparação do Candidato............................15
5. A Descida a Si Mesmo....................................18
6. A Conquista do Céu........................................22
7. A Posse de Si Mesmo.....................................28
8. O Fogo Sagrado..............................................32
9. O Cálice da Amargura.....................................36
10. O Primeiro Dever do Iniciado..........................39
11. A Magna Obra.................................................42
12. Os Poderes do Iniciado...................................45
13. Os Ensinamentos da Franco-Maçonaria.........48
14. “Maçonismo” e Franco-Maçonaria...................51
15. A Iniciação Feminina........................................54
16. A Inacessível Amante......................................58
17. Masculinidade e Feminilidade..........................62
18. A Sabedoria Iniciática.......................................67
19. A Força Realizadora.........................................73
20. A Divina Beleza.................................................80
01
Introdução
A Iniciação confere tal sorte de pretexto a certos ensinamentos
equívocos, mas nem sempre inofensivos, sobretudo, quando a
investigação de conhecimentos anormais conduz ao desequilíbrio dos
indivíduos...
Oswald Wirth
02
A Iniciação Maçônica
Alegoricamente, a Franco-Maçonaria aspirava a remediar a confusão das
línguas que dispersara os construtores da Torre de Babel. Seu objetivo
era formar Maçons capazes de compreenderem-se de um pólo a outro,
para juntos edificarem um templo único aonde viriam a se confraternizar
os sábios de todas as nações. Este edifício não se inspirava, de modo
algum, no capricho humano: não é uma Torre destinada a desafiar o céu
com seu orgulho, mas um santuário cujo plano concebeu o Grande
Arquiteto do Universo.
03
As Obrigações do Iniciado
A Iniciação não nos instrui debalde nem sequer pelo gosto de instruir-
nos. Ilumina a quem quer trabalhar, a fim de que o trabalho possa ser
levado a cabo.
04
A Preparação do Candidato
O iniciado verdadeiro, puro e autêntico não se contenta de um verniz
superficial: deve trabalhar ele mesmo, na profundidade de seu ser, até matar
nele o profano e fazer com que nasça um homem novo.
crédulo para imaginar que tal milagre pudesse ter lugar em virtude
de um apropriado cerimonial? Os ritos da iniciação são apenas
símbolos que traduzem, em objetos visíveis, certas manifestações
internas de nossa vontade, com a finalidade de ajudar-nos a
transformar nossa personalidade moral. Se tudo se reduzisse ao
externo, a operação não daria resultado: o chumbo permanece
chumbo, ainda que recoberto de ouro.
Entre os que lerem estas linhas, ninguém, por certo, há de
querer ser iniciado por um método galvanoplástico. O que se chama
toque não se aplica à Iniciação. O iniciado verdadeiro, puro e
autêntico não se contenta de um verniz superficial: deve trabalhar
ele mesmo, na profundidade de seu ser, até matar nele o profano e
fazer com que nasça um homem novo.
Como proceder para obter êxito?
O Ritual exige, como primeiro passo, que se despoje dos
metais. Materialmente, é coisa fácil e rápida; sem embargo, o
espírito se desprende com dificuldade de tudo quanto o deslumbra.
O brilho externo o fascina e é com profundo pesar que se decide a
abandonar suas riquezas. Aceitar a pobreza intelectual é condição
prévia para ingressar na confraternidade dos Iniciados, como
também no reino de Deus.
Ser consciente de nossa própria ignorância e rechaçar os
conhecimentos que acreditamos possuir é o que nos capacita a
aprender o que desejamos saber. Para chegar à Iniciação, é preciso
voltar ao ponto de partida do próprio conhecimento, em outros
termos: à ignorância do sábio que sabe ignorar o que muitos outros
figuram saber, quiçá demasiado facilmente. As idéias
preconcebidas, os preconceitos admitidos sem o devido contraste
falseiam nossa mentalidade. A iniciação exige que saibamos
desprezá-los para voltar à candura infantil ou à simplicidade do
homem primitivo, cuja inteligência é virgem de todo ensinamento
pretensioso.
Podemos pretender o êxito completo? É, desde logo, muito
duvidoso; mas todo sincero esforço nos aproxima da meta. Lutemos
contra nossos preconceitos, buscando nos livrar de nós mesmos;
sem pretender atingir uma libertação integral, este estado de ânimo
favorecerá nossa compreensão que se abrirá, assim, às verdades
que nos incumbe descobrir, principiando nossa instrução.
Em primeiro lugar, o desenvolvimento de nossa sagacidade.
Ser-nos-ão propostos enigmas, a fim de despertar nossas
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05
A Descida a si Mesmo
Saber morrer: aqui está o grande segredo que não se pode ensinar. Deveis
encontrá-lo ou, do contrário, vossa iniciação não passará de fictícia, como
sucede infelizmente na maior parte das vezes.
06
A Conquista do Céu
Para ver realmente as coisas do alto, é necessário substituir-se, em espírito,
ao próprio Deus. E não digam que isso é ímpio; nada pode ser tão saudável
para nosso ser moral como a ginástica mental da sublimação filosófica
preconizada pelos Hermetistas.
inferiores. Esta união interna dos dois extremos estriba seu poder de
Iniciado.
07
A Posse de si mesmo
Purifiquemos nossa imaginação que, de tal sorte, poderá refletir, — sem
deformá-las, — as imagens reveladoras dos mistérios tradicionais. O
precioso não pode se perder. Esta verdade que nos importa reconhecer
conserva-se viva, e percebem-na os cérebros que souberam tornar-se
receptivos às ondas de uma telefonia sem fios tão velha quanto o mundo. A
Iniciação ensina a Arte de Pensar, ou seja, a Arte Suprema, a Arte Real, a
Grande Arte por excelência.
08
O Fogo Sagrado
O Aspirante interna-se pelas areias em meio às rochas calcinadas. Não há a
menor vegetação nem rastro de ser vivente: aqui, o dono absoluto é o Sol
que tudo seca e mata. Essa luz que não projeta a menor sombra
corresponde à luz da razão humana que pretende fazer omissão de tudo o
que não seja ela mesma. Esta razão analisa e decompõe, mas sua própria
secura incapacita-a para vivificar o que quer que seja.
2
João, o precursor, batiza e prega a penitência às margens do Jordão, mas não
tem por missão esta obra de redenção à vista da qual Jesus interna-se no deserto,
para jejuar e purificar-se durante quarenta dias. O Evangelho é, muitas vezes, à
sua maneira, um ritual iniciático.
3
Na preparação do candidato, e segundo um antigo ritual maçônico, prescreve-se
desnudar certas partes de seu corpo e, dentre elas, o pé esquerdo, como se o
contato direto com o solo tivesse sua importância para o candidato que, com os
olhos vendados, coloca o pé sobre um terreno que, em absoluto, desconhece.
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09
O Cálice da Amargura
Estas exigências da vida poderão parecer tirânicas ao profano que não
tenha compreendido a existência; uma inexorável necessidade condena-o ao
trabalho. Em meio a trabalhos e penas, lamenta-se e revolta-se airoso
contra a dor que lhe foi imposta. Esse suplício dura enquanto não se
determina a encontrar o paraíso, tão pronto saiba renunciar ao mesmo.
Sofrer, trabalhar: significará isso, por acaso, decadência? E quem pode ser
forte e poderoso sem antes haver sofrido cruelmente? A alma que quer
conquistar a nobreza e a soberania deve buscá-las nas fragas do sofrimento.
10
O Primeiro Dever do Iniciado
Em todos os tempos, têm existido charlatões pontífices e hierofantes:
prometem dar-nos uma ciência infalível, um poder ilimitado, a riqueza neste
mundo e a felicidade no outro. Não pedem, em troca, mais que a confiança
absoluta em suas palavras e o serem reverenciados como semideuses.
Inumeráveis são os que se deixam enganar e jactam-se de ser iniciados,
depois de conseguirem assimilar algumas doutrinas e de aprenderem a
contentar-se com as miragens de certos fenômenos que mais pertencem à
patologia. As teorias que tudo explicam e os desequilíbrios psicofisiológicos
nada têm a ver com a Verdadeira Iniciação.
11
A Magna Obra
Esse tesouro supremo, último objetivo da Iniciação hermética, instrui os
ignorantes, cura as enfermidades do espírito, da alma e do corpo, enriquece
os pobres e, de modo geral, transmuta o mal em bem. Não é uma
substância. É um estado de ânimo que confere poderes de ação e
influência.
12
Os Poderes do Iniciado
Os três poderes do Iniciado estão em estreita relação uns com os outros, e
ninguém alcançará o último sem antes haver conseguido alcançar os dois
primeiros. Para terminar, podemos dizer que, fora desse ternário, tudo é vão
e ilusório no domínio desses “poderes” que servem de engodo aos
aficionados em ciências ocultas.
13
Os Ensinamentos da Franco-Maçonaria
A todas as questões, a Franco-Maçonaria responde sempre por meio de
símbolos em si enigmáticos e que convidam à reflexão. Cada um pode
interpretá-los à sua maneira, e tudo que podem sugerir é justo, com a
condição de que satisfaçam à lógica. As interpretações contraditórias vêm a
nos apresentar uma mesma verdade, mas sob aspectos diametralmente
opostos. O Iniciado não sabe, e não estranha isso.
14
“Maçonismo” e Franco-Maçonaria
O verdadeiro iniciado há de iniciar-se por si mesmo. Poderá ter quem o guie,
é verdade, mas apenas o esforço que houver realizado o levará à entrada da
senda da Verdadeira Luz.
15
A Iniciação Feminina
Infelizmente, um feminismo mal compreendido incita a mulher de hoje a
masculinizar-se, como se se considerasse inferior e sentisse a necessidade
de elevar-se à masculinidade. Equivoco lamentável e também traição à
feminilidade! A mulher difere do homem e rende homenagem à sua força;
enquanto o homem, — se ele admira a mulher, — é precisamente quando ela
se caracteriza como tal. Conscientemente ou não, rende homenagem às
suas qualidades peculiares, inclusive quando brilham por sua ausência.
Enfim, o homem quer encontrar na mulher dotes de complemento que a ele
faltam precisamente.
14
A Inacessível Amante
Discorrer sobre o mistério das coisas é perder tempo. Mais vale calar e
buscar as certezas apenas no campo da ação. Nada podemos saber do que
convém crer com relação aos enigmas que atormentam aos humanos, mas
cada um de nós pode adivinhar sem esforço excessivo aquilo que a Vida
exige e, assim, uma verdade se nos revela proporcional à norma: é uma
verdade de ordem moral que emana das próprias leis da Vida.
17
Masculinidade e Feminilidade
A masculinidade e a feminilidade mentais combinam-se em doses muito
variáveis nos indivíduos de ambos os sexos. Muito poucas são as mulheres
cujo cérebro é estritamente feminino e também, felizmente, os homens estão
bem distantes de pensar unicamente segundo a tendência de seu sexo. A
intelectualidade mais equilibrada será desde logo a que participará, em
proporções harmoniosas, do raciocínio masculino e da intuição feminina.
*
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18
A Sabedoria Iniciática
O candidato à Sabedoria começará por renunciar com propósito deliberado
a toda curiosidade indiscreta. Pedirá luz, na medida necessária aos seus
trabalhos. Se aplicar esta regra com discernimento, não correrá o perigo de
perder-se nessa enorme confusão das especulações ocas e sem
fundamento nas quais permanecem absortos muitos espíritos incapazes de
resistir a essa fascinação. A vida é curta, demasiado curta, se refletirmos
quão longa e difícil é a arte de viver. Saibamos, pois, nos limitar com
prudência, e não vamos ambicionar ao que está fora de nosso alcance.
19
A Força Realizadora
...uma mulher graciosa que, sorridente, domina um leão furioso e mantém
abertas suas mandíbulas. É a personificação da Força Suprema tal como foi
concebida na Idade Média. Pois bem: a mulher que tranqüila e pacificamente
domina é a Alma, enquanto o animal que ruge representa a veemência das
paixões, a impetuosidade dos instintos, o furor dos apetites, todas estas
energias saudáveis, desde que não ultrapassem certos limites. Dessa sorte,
não se trata de matar o leão, seguindo o exemplo de Hércules, herói não
completamente iniciado. Seu antecessor, o caldeu Gilgamés, demonstrou
ser mais sábio: apoderou-se da fera e estreitou-a bem viva contra o seu
coração, de modo que o sábio nada destrói, preferindo assimilar-se às
energias que se vê obrigado a combater.
4
Os peles-vermelhas atribuem a cada espécie animal um manitu particular, sob
cuja influência se desenvolve e dirige-se na vida. O êxito na caça depende do
manitu da espécie, e o caçador deve saber atrair seus favores.
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* *
Mas não basta que seja concebida uma função para que o
órgão indispensável ao seu cumprimento se produza ipso facto. A
Sabedoria que concebe restaria estéril sem a Força que executa.
Esta última realiza em ato o ideal até então em potência, para
empregar-se a costumeira fórmula dos Hermetistas. A Força
realizadora confunde-se também com o Poder criador, cujo exercício
está confiado aos Obreiros do Grande Arquiteto do Universo.
20
A Divina Beleza
Qual é a verdadeira religião? Não é acaso superior a do artista, que adora a
Beleza, àquela do pobre beato aterrorizado por algumas quimeras? Ninguém
pode duvidar da Beleza que em tudo se realiza e que todos podemos realizar
em nós mesmos. Não depende de nós, em absoluto, sermos felizes nesta
vida ou levar a cabo grandes empresas; todavia, o mais aflito dos humanos
pode viver com beleza e, se permanecer fiel ao culto do Belo, a morte não
poderá parecer-lhe mais que suprema apoteose. Tornamo-nos divinos, se
sabemos amar o belo a ponto de nos identificarmos com a Beleza.
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Fim
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D E C R E T A: