Resumos Do Mestrado
Resumos Do Mestrado
Resumos Do Mestrado
Petrópolis: Vozes,
1994.
INTRODUÇÃO GERAL
Este trabalho tem por objetivo explicitar as combinatórias de operações que compõem também
(sem ser exclusivamente) uma ‘’cultura’’ e exumar os modelos de ação característicos dos
usuários.
A presença e a circulação de uma representação não indicam de modo algum o que ela é para
seus usuários. É ainda necessário analisar a sua manipulação pelos praticantes que não a
fabricam. Só então é que se pode apreciar a diferença ou a semelhança entre a produção da
imagem e a produção secundária que se esconde nos processos de sua utilização.
Essas “maneiras de fazer” constituem as mil práticas pelas quais usuários se reapropriam do
espaço organizado pelas técnicas da produção sócio-cultural. A “cultura popular” se apresenta
diferentemente, assim como toda uma literatura chamada “popular”: ela se formula
essencialmente em “artes de fazer” isto ou aquilo, isto é, em consumos combinatórios e
utilitários. De um lado, trabalhos sociológicos, antropológicos, e mesmo históricos elaboram
uma teoria dessas práticas, misto de ritos e bricolagens, manipulações de espaços, operadores de
redes. De outro, destacam os processos de interações cotidianas relativas a estruturas de
expectativa, de negociação e improvisação próprias da língua ordinária.
Neste palco de concreto, de aço e vidro, que uma água fria corta entre dois oceanos (o atlântico
e o americano), os caracteres mais altos do globo compõem uma gigantesca retórica de excessos
no gasto e na produção. A vontade de ver a cidade precedeu os meios de satisfazê-la.
Escapando às totalizações imaginárias do olhar, existe uma estranheza do cotidiano que não
vem à superfície. Neste conjunto, práticas estranhas ao espaço “geométrico” ou “geográfico”.
Essas práticas do espaço remetem a uma forma específica de “operações”, a “uma outra
espacialidade” e a uma mobilidade opaca e cega da cidade habitada.
1 DO CONCEITO DE CIDADE ÀS PRÁTICAS URBANAS
Planejar a cidade é ao mesmo tempo pensar a própria pluralidade do real e dar efetividade a este
pensamento do plural: é saber e poder articular. A “cidade” instaurada pelo discurso utópico e
urbanístico é definida pela possibilidade de uma tríplice operação: 1. A produção de um espaço
próprio; 2. Estabelecer um não-tempo ou um sistema sincrônico; 3. Enfim, a criação de um
sujeito universal e anônimo que é a própria cidade.
A cidade se torna o tema dominante dos legendários políticos, mas não é mais um campo de
operações programadas e controladas. Talvez as cidades estejam deteriorando ao mesmo tempo
que os procedimentos que as organizaram.
Ao invés de permanecer no terreno de um discurso que mantém o seu privilégio invertendo seu
conteúdo, pode-se enveredar por outro caminho. Esse caminho poderia inscrever-se como uma
seqüência, mas também como a recíproca da análise que Michel Foucault fez das estruturas do
poder. Ele deslocou para os dispositivos e os procedimentos técnicos “instrumentalidades
menores” capazes de transformar uma multiplicidade humana em sociedade “disciplinar” e de
gerir, diferenciar, classificar, hierarquizar todos os desvios concernentes à aprendizagem, saúde,
justiça, forças armadas ou trabalho.
O traço vem substituir a prática. Manifesta a propriedade que o sistema geográfico tem de poder
metamorfosear o agir em legibilidade, mas aí ela faz esquecer uma maneira de estar no mundo.
O ato de caminhar está para o sistema urbano como a enunciação está para a língua ou para os
enunciados proferidos. O ato de caminhar parece, portanto encontrar uma primeira definição
como espaço de enunciação. Se é verdade que existe uma ordem espacial que organiza um
conjunto de possibilidades e proibições, o caminhante atualiza algumas delas. Da mesma forma,
o caminhante transforma em outra coisa cada significante espacial.
Os lugares históricos são fragmentários e isolados em si, dos passados roubados à legibilidade
por outro, enfim, simbolizações enquistadas na dor ou no prazer do corpo.
Essa relação de uma pessoa consigo mesma comanda as alterações internas do lugar ou os
desdobramentos caminheiros das histórias empilhadas num lugar. A tática se desenvolve onde
não há poder.
NORDESTE: IDENTIDADE IMÁGINARIO E ESPAÇOS DE SAUDADE CULTURAL
Espaços da saudade faz parte do segundo capítulo do livro A invenção do Nordeste e outras
artes do escritor Durval Muniz de Albuquerque Júnior que Possui graduação em Licenciatura
Plena em História pela Universidade Estadual da Paraíba (1982), mestrado em História pela
Universidade Estadual de Campinas (1988) e doutorado em História pela Universidade Estadual
de Campinas (1994).
A invenção do Nordeste e outras artes visa, ver como este nordeste foi construído e inventado
historiograficamente, para o autor o Brasil estava dividido entre Norte e Sul, e que este espaço
geográfico chamado Nordeste que nasceu através da “Paisagem Imaginária do País no final da
primeira década do século XX em substituição a antiga divisão regional do país entre norte e
sul; porém, uma região fundada na Saudade e na Tradição.” (ALBUQUERQUE, 2009, p. 78).
Ainda analisando a sua obra, Durval Muniz ele confecciona uma analogia da questão
regionalista do discurso, tendo como objeto de estudo o espaço cultural e político.
No discurso de Durval ele deixa bem claro que este Nordeste que estamos acostumados a ver
representado tanto no cinema, teatro e na musica ele é mais incisivo; pois, através das análises
sociológicas e antropológicas da região frente ao naturalismo, observa-se a preocupação de
vários estudiosos em mostrar e explicar as fissuras sociais existentes naquele espaço.
É importante lembrar que para o autor este Nordeste ele não é linear, muito menos a sua
identidade, ele nasce da necessidade dos políticos e intelectuais em meio a uma forte sensação
de perda no seu espaço econômico e político para os produtores tradicionais, este pensamento é
bem colocado pelo próprio autor.
Porém, é importante destacar também que, pela primeira vez será discutida a questão do espaço;
embora se perceba um olhar diferente e até depreciador, dependendo do espaço. O autor utiliza
os conceitos de Gilberto Freyre[2], para mostrar como é desenhado este regionalismo, que
atribui à influência holandesa no século XVII, fazendo referência de um Nordeste que em si era
diferente do restante do país.
Outro ponto importante esta na visibilidade deste espaço que será construído por uma gama de
intelectuais tradicionalistas que vão apoiar o seu discurso na memória para construir uma
identidade. Este discurso é fundamentado numa tradição regional, tendo na música uma forte
representação pela busca desta identidade e dizibilidade regional. Podemos observar nas
palavras de Neves ao escrever sobre o Sertão como imaginário cultural os mesmos mecanismos
para se construir esta identidade na busca desta evocação com suas imagens e sentimentos.
Como categoria cultural, sertão afirma-se pelos antecedentes sócio-culturais de sua população,
exprimindo ‘poder de evocação de imagens, sentimentos, raciocínios e sentidos’, construídos ao
longo da sua experiência histórica. No imaginário do cancioneiro popular, sertão expressa
diferentes viveres e saberes. (NEVES, p. 6 apud BARBOSA, 2000)
Portanto vemos que estes intelectuais com suas produções são responsáveis por disseminar esta
identidade pautada na reminiscência e ao saudosismo do passado para justificar o presente. Esta
identidade ela não nascer de forma própria, até por que o Nordeste não existia, ele é inventado, e
com isso notamos uma contribuição do outro para ser construída esta identidade.Na análise do
espaço nordestino, observa-se que, o plano cultural será mais enfatizado do que o político;
embora, não descartemos esse último, pois, o texto deixa transparecer que aquele discurso
disperso de outrora da classe dominante da região, agora tem outra conotação, pois prima em
mostrar as rupturas e desigualdades existentes em relação ao Centro Sul. Ao retratar sobre o
sertão vejamos o que nos diz MORAES (2009, p. 87):
O sertão não é, portanto, uma obra da natureza. Não há um espaço peculiar, cuja naturalidade
própria, permita uma tipologização consistente da localização sertaneja. Se bem que a
prevalência de elementos naturais na composição paisagística apareça, amiúde, como um
atributo associado à sua identificação: o sertão como um lugar onde predomina o ritmo dado
pela dinâmica da natureza, onde o elemento humano é submetido às forças do mundo natural.
A invenção do Nordeste ela passa a representar uma invenção dos grandes intelectuais,
proprietários de terras, os donos de grandes engenhos e os artistas que usavam a sua música,
arte, poesia e a literatura para consolidar esta identidade que a principio tem como base o
tradicionalismo muito forte e arraigado no cotidiano e imaginário do nordestino.
Podemos observar que outro problema na formação da identidade nacional é este olhar sobre o
outro, no caso do nordeste o outro seria o Sul, e esta afirmação parte na busca pela historia da
sua região, tendo cada uma o seu conjunto de fragmentos imagéticos e enunciativos. A
historiadora Mirian Dolhnikoff[3] descreve que esta identidade não é nada fácil para se obter.
Não seria fácil acomodar em uma mesma nação territórios tão distintos, com poucos laços de
integração e cujas elites apresentam demandas muitas vezes contraditórias entre si, basta
comparar os exemplos de três províncias localizadas em pontos distintos da América
portuguesa: São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul. (DOLHNIKOFF, 2005 p. 24)
Para Durval o discurso historiográfico esta centrado na história dessas três áreas para construir a
história do Brasil junto com as suas diversidades, sendo cada intelectual o responsável por
estabelecer as suas diferenças.
Esta diferença é bem marcante quando observamos as palavras de Albuquerque que mostra a
visão de Fernand Braudel quando esteve no Brasil “para ele, a Bahia era uma sociedade velha,
com perfume de Europa, ao passo que São Paulo lembraria Chicago e Nova York”
(ALBUQUERQUE, 2009, p. 121). Perceba que as alteridades são construídas e o Nordeste
começa ganhar peso junto com o sertão do que a identifica e distingue das demais é este atraso
ao moderno.
É preciso entender que esta visão do outro sempre será o levantamento do seu oposto esta
afirmação é ratificada nas palavras de Morais (2009, p. 92) “Nesse sentindo, trata-se de uma
imagem construída por um olhar externo, a partir de uma sensibilidade estrangeira e de
interesses exógenos, que atribuem àquele espaço juízos e valores que legitimam ações para
transformá-lo”.
Mas, esta regionalização muito forte irá desenvolver um discurso de uma realidade social,
criando dicotomias como Deus e Diabo, tradicional e moderno, mar e sertão, inferno e miséria
(ALBUQUERQUE, 2009) tudo isso irá influenciar de forma direta na formação da identidade
regional. Esta identidade regional não esta apenas atrelada a discurso sociológico e literário, é
importante lembrar que a pintura irá ser um veiculo muito importante para congelar esta uma
imagem fica no tempo do Nordeste. Observe o que nos dia Albuquerque (2009, p. 165):
A instituição do nordeste como espaço da tradição, da saudade, não se faz apenas pelo discurso
sociológico ou literário. Dela também participa, por exemplo, a pintura, que procura realizar
plasticamente essa visibilidade do Nordeste. Ela é fundamental na transformação em formas
visuais das imagens produzidas pela ‘romance de trinta’ e pela sociologia tradicionalista e
regionalista. Cristalizará imagens e irá instituí-las como ‘imagens típicas da região’, exercendo
enorme influência na produção posterior, seja no campo do cinema ou da televisão.
Portanto estes discursos serão construídos a partir do imaginário cultural sem perder de vista o
espaço e recorte espaciais na construção do forte regionalismo tão forte na música, artes,
literatura e na pintura. Durval observando isso ele resolve traçar um discurso sobre este
Nordeste que é inventado. Como podemos observar em sua próprias palavras:
Portanto podemos concluir que os trabalhos dos professor e pesquisadores envolvido neste
ensaio contribui de forma direta como um forte instrumento para análise e também por que não
dizer de alerta, para uma região marginalizada pelos que tem o poder em suas mãos, poder este
de valorizar e viabilizar a cultura e o espaço chamado Nordeste.