Bocage - Obras Completas (III)
Bocage - Obras Completas (III)
Bocage - Obras Completas (III)
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f^^ilO,"^^:^
Presented to the
US^LARYofthe
UNIVERSITY OF TORONTO
by
Professor
Ralph G. Stanton
BibUotlieca da ACTUALIDADE
3V.« IO
OBilAS POÉTICAS
BOCAGE
'^^ oe:
^KANUELMALHElROrn!
%
^12iMDGALMrtO,M2i
OBRAS POÉTICAS
BOCAGE
VOLUME III
(Anacreonticas), Cançonetas,
Re«loiidilha.«i
Glosas, Fabulas, Kpig^raninias
-^>QSO^
PORTO
IMPRENSA PORTUGURZA KDITORA
1875
ODES ANACEEONTICAS
Veloz Borboleta j
Que leda giraiido
Penosas idéas
Me estás avivando:
Insecto mimoso.
Aos olhos tão grato,
Da minha tyranna
Tu és. o retrato:
Tu andas brincando
De flor para flor;
Anarda vaguêa
D'amor cm amor.
OBRAS DE BOCAGE
Os teus prisioneiros,
Cupido, os que derem
Saber definir-re.
Que mal te descrevem
Es áspide (affirmam)
Cuberto de flore?-,
Sedento d'estrngos,
Amigo de horrores:
Sustentam carpindo
Que 03 feres, e etdêas
Com áureos vii^otes,
Com férreas cadôas:
Enganam-se, oh nume!
Teus laços, teus tiros
São longas madeixas,
Sáo ternos suspiros.
ODES ANAOREONTICAS
De liquido aljôfar
As faces bordadas,
Ao vento dispersas
As tranças douradas:
Formosa Marília,
Modelo das Graças,
Que mil pensamentos
Áccendes, e enlaça^
Se folgas de ouvil-p
Por ti suspirar,
Ao cdo dos amores
Não deixes voar.
Do vasto abysmo
Do eterno horror
Surgiu a Angustia
De negra cor:
Determinavam
Em crua guerra
De pranlo e sangue
Banhar a terra:
Oh milac^roso
Dom da beiloza!
No inesnio instante.
Kia-se a Tiiísteza:
O ag''o Lamento
Mudo ficou;
Só o Ciuuie
Dese>perou.
ODES ANACREONTICAS 11
Poupando votos
A loura Isbella,
Se Amor falia sse
Nos olhos d'ella:
Do ai mos prazeres
Me pousaria
Cândido enxame
Na phautasia:
Eu antes quero
Muda expressão;
Os lábios mentem,
Os olhos não.
12 OBRAS DE BOCAGE
Se os deuses me conferissem
A suprema faculdade
D'espraiar a luz do dia,
E a nocturna escuridade:
A
quarta parto do tempo
Ao grato somno a daria;
Outra egual ás brandas Musas,
E ametade á minha Armia.
ODES AKACREONTICAS 13
(Imitada do mesmo)
As debruçadas alfênas.
Presas n'um confuso enleio,
Miúdo pranto da Aurora
Destillem sobre teu seio.
14 OBRAS DB BOCAGK
10
(Traduzida de Argenson)
Vê se uma traça
Podes aclinr
Para meus damnos
Remediar.
— Empenha afagos,
Rop:a humilbado ... —
Afago, e rogo,
Tudo é baldado.
Lídia mè abraza
Em chamma aecêza;
E as duras pedras
Vence em dureza.
•
—
Pulsa o laúde,
Cantos lhe ajusta...
Laúde e cantos
Despreza a injusta.
ODES ANACREONTICAS
17
— Pranto derrama,
MeiVo te ostenta,
Que isto a Cupido
Também contoAdíu —
Braiirlo me ostento,
Ais d 'alma accêza,
•
Rios de pranto.
Tudo despreza.
— Punhados d'ouro
^
— Dome a distancia
Tão grande amor . .
. — *
—
Se nada pode
Finda r-ie a lida,
Aprompta um laço.
Põe n'elíe a vida:
Porque te vejo
Triste hesitar?
Só assim pode
Teu mal findar. —
18 OBRAS DE BOGAGfí
11
Armia
(Pastoril)
Tardí s'avve(le
D'un triAiirruínto
Chi mai di fede
Mancar non sa.
Metast., Clemenz. di TU.,
Att. II, Sc. I.
Clamores de um infeliz!
20 OBRAS I>E nOOAGE
A deshumana mentia.
Não dum -te lofioramente.
Encantadora illusâo
Desfez amarga expViencia
Os phantasn^as da paixão.
Dareis credito, mortaes,
As perfídias, que lamento?
Oh terra, tnine! Ap;-.gae-vos,
Oh luzes do firmamento
24 OBKAS DE BOCAGE
12
Thesouro da natureza,
Furtado ao século de ouro,
Pó le expellir-me a tristeza,
E mal peor, — o desdouro.
Não te iinplorOj alta matrona,
Como aquelle, a quem o enxamo
De vícios mil desabona,
E em si cáe depois que infame
Sobre o delicto resona.
Eu, desvalido mortal,
Ludibrio de sorte injusta,
Amei sempre, avesso ao m
As leisda virtude augusta,
As leis da recta moral.
Se casuaes erros fiz
(Sócios da edade imprudente)
Meu desvario inf^;liz
No coração innocente
Não teve infesta raiz.
Da vaidade activo ardor,
Que o peito itiey perto inflamma,
Das Musas suave amor.
Sede implacável de fama
Me sumiram n'este horror.
ODES ANACREONTIOAS 31
A Armania
Do Tejo cristallino: óA
Em torno á branda nympha
Se ria a Natureza, ííJvN^ qG
Ufana em ter creado i i m Hímíi oíl
Tfio nova gentil^^za: o ír/ivnoívf ^)8
•>
Roxeava no horisonte
Sereno, amoroso dia;
RosaSj e jasmins a Aurora
No puro céo desparzia.
De ameno matiz brilhante
A natureza esmaltada,
Não surgiu tão magestosa
No ponto em que foi creada.
Como que não satisfeito
O artifice divinal,
Primoroso, ultimo toque
Dera ao quadro universal.
Gorgeava em tom mais doce
O plumoso, aéreo bando;
De_ ventos, flores, e rios
Era o murmúrio mais brando.
Suas plantas
se vestiam
De recendentes verdores.
Em tudo o mez das searas
Imitava o mez das flores.
áO OBRAS DE BOCAGE
46 OBRAS DE BOCAGE
Tu tens agudos,
Cruéis espinhos,
Ella suaves,
Brandos carinhos;
Tu não percebes
Ternos desejos,
Em vão Fa\'onio
Te dá mil beijos:
Marília bella
Sente, respira,
Meus doces versos
Ouve, e suspira.
A mãe das flores,
A Primavera
Fica vaidosa,
Quando te o^era:
Porém Marília
No macro riso
Traz as delicias
Do pnraiso.
Amor que diga
Qual é mais bella.
Qual é mais pura,
Se tu, ou ella;
Que diga Vénus . .
Filis, e Amor
«Mimosa njmpha,
Oloria de Amor,
Dás-lhe um beijinho
. Por esta flor?
<íSoii criancinha,
Não tenlias pejo.
Sorriu-se Filis,
E deu-lhe o beijo;
Mas o travesso
Logo ontro pede
A simples nympha,
Que lh'os concede:
Que por matar-lhe
Doce.s desejos
A cada instante
Repete os beijos.
Assim brincavam
íilis, e Amor,
Eis que o menino,
Sempre traidor,
Oo'a pequenina
Boca risonha
Lhe communica
Sua peçonha.
Descora Filis,
E de repente
Solta um suspiro
D'alma innocenteu
50 OBRAS BE SOGAGE
A Noute
52 OBRAS DE BOCAGE
Susurro aprazível,
Que o Tejo fazia,
Coarctava a tristeza
Da noute sombria.
Então solitário,
Seu mal, seus segredo»
O languido Elmano
Contava aos penedos.
De gélidas íjotas
o rosto orvalhado,
De zelos mordido,
Da vida enjoado:
Destinos! (clamava)
Qu^ assim retardaes
O termo infallivei,
Que imploram meus ais:
cc De que me aproveita
Vivor d'esta sorte?
A vida é aos tristes
Mais agra que a morte.
c( Feliza deixou-me,
Fugiu-me a perjura,
Depois de votar-me
Perenne ternura:
o: Fugiu-me, deixou-mo
Curtindo a anciedade,
Que geram, que nutrem
Ciúme, e saudade
! !
CANÇONETAS 5?
Aqui os sentidos
Nas azas de um ai
Llie escapam, lhe fogem,
E o misero cáe.
Nas grutas os éccos
Ao grito espertaram,
E, d'elle doídos,
A Amor o levaram.
Voando ao fragrante
Vergel de Cythéra
Por ti frequentado.
Louçã primavera,
Encontram Cupido,
Que ha pouca voltara
De empreza brilhante,
Que ufano acabara.
Folgavam do numen
As carnes mimosas
Em molle alcatifa
De goivos, e rosas;
Dormia, e na idéa
Morphêo lhe pintava
Sanguineos triumphos,
Que o mundo chorava;
Não longe, em silencio,
Pousavam Encantos,
DesdonSj Esperanças^
Sorrisos, e Prantos;
CANÇONETAS 5fi
Mordazes Suspeitas,
Que o deus vigiavam,
Kaivando, em si mesmas
Os dentes cevavam:
Do tronco de um myrto
Pendia o luzente
Carcaz, salpicado
De sanguõ inda quente;
Nas pontas hervadas
Dos áureos farpões
Ainda arquejavam
Fieis corações.
A gárrula turma
Eodêa Cupido,
Eepete, anhelante,
De Elmano o gemido.
Eis fremem os ventos,
Eis aves alerta,
Convulsos os montes,
E Amor não desperta.
Os Eecos, pasmados
O rorpo lhe abalam,
E apenas o acordam,
Doesta arte lhe faliam:
c(E crivei, menino,
Que durmas em paz
Ao som de um gemido,
Que penhas desfaz?»
M^ OBRAS DE BOCAGE
—€ Deixae-me, imporínnos,
(Lhes brada o travesso)
Que ao som de suspiros
É que eu adormeço. i>
CANÇONETAS 57
(Baeebica)
Amor é fonte
De riso, e graça,
Porém não passa
De um só sabor:
O doce Baccho
Tempera Amor.
Baccho entre o coro
Das lindas Graças
Exbanre as taças
De almo elixir.
D'um dens o exemplo
Cumpre seguir.
58 OBRAS DE BOCAQS
(Bacchica)
Descuida-se Jovo
Na oljmpica mesa,
Da summa grandeza,
Do eterno poder:
Consente um sorriso
ííos lábios, que molha,
B humano se anfólha
No no ser;
gesto,
A monotonia
Dos bens, em que impera,
O néctar lhe altera,
Lhe faz esquecer:
O néctar, que adoça
Mortaes azedumes,
Até entre os numes
Matiza o prazer.
Se Júpiter bebe,
Não hei de eu beber?
CANÇONETAS 59
De Baccho opulento
Compõe-se o thesouro,
De pérolas, de ouro,
Topázio, rubi.
Do néctar sentindo
Nas fauces o travo,
Misérrimo escravo
Desdenha o Sofi.
Lustrosas chimeras
Lhe vagam na mente,
Do mundo é contente,
Contente de si.
Amigos, libemos
O pico sagrado,
Tão mal condemnado
Na seita de Ali.
Teimosos cuidados,
Caterva importuna.
Visões da Fortuna,
Deix;ie-uos, fngí.
Onosso universo
Não passa d'aqui.
Em torno a Baccho
Susurra, adeja,
Ri-se, graceja,
Sciutilla Amor.
Ao deus Idálio
Baccho é preciso,
60 OBRAS DE BOCAGB
Doura-lhe o riso,
Lho accende a còr.
Amor, oh Baccho^
Tem por costume
Juntar seu hime
Com teu ardor.
Ambos se adorem
Com egunidade,
Teiiha a vontade
Mais de um senhor.
Baccho triumphe,
Triumphe Amor.
ENDECHAS
A Armia
ENDECHAS 67
Ah malfadado ! Acceitas
O rigoroso artigo,
Mas súbito expVimentas
Um bárbaro castigo.
Pela mordaz saudade
Roto o cruel preceito,
Olhas, e vês em sombras
Teu jubilo desfeito.
Sumindo-se a teus olhos
A cara esposa vae,
B a teu inútil grito
Responde ao longe um c( ai !
68 OBRAS DE BOCAGE
As f©rrolhadas portas
Do amplo salão ruidoso
Tornas de novo, e queres
Entrar-lhe o seio umbroso:
Extráes um som da lyra
Mais tentador, mais terno,
Mas o divino encanto
Não move o surdo inferno.
Desfarte a meiga esposa
Do misero amador
Foi por amor ganhada,
Perdida por amor.
Ah brando Orphêo! Não chores,
Supprime os ais que lanças,
Turbado o pensamento
Com tão cruéis lembranças.
Jpu sou mais desgraçado,
Tu não padeces tanto,
Tu logras, tu desfructas
O premio de teu pranto
Aquella, que soava
Na tua doce Ijra,
Qual suspirava d'antes
Inda por ti suspira
Eu, miserando objecto
De dor, e de piedade.
Junto á fatal balisa
Da triste humanidade,
!
ENDECHAS 69
Sacrificar excessos
Aos dons da varia Sorte,
Sumir-me os tristes dias
Na escuridão da morte:
E, ainda não contente
Da enorme aleivosia,
Co presumpçoso amante
Pizar-me a campa fria:
Ali, entre seus braços.
Para o cruel fartar,
Do extincto Elmano as cinzas
De imprecações manchar.
Mas trema a deshumana
Se desleal me for,
Trema, que até na morte
Terá dominio Amor.
Fará surgir do Averno
Meus manes vingadores,
Para terror, e exemplo
De corações traidores.
Qual o afanoso Orestes,
Das Fúrias acossado,
Sempre terás, oli fera,
O meu phantasma ao lado;
Como a continua sombra
Perseguirei teus passos:
Não folgarás ao menos
Do meu rival nos braços.
èifofeCHÀS ti
Irei lá no silencio
Da erma noute escura
Turbar-te os deleitosos
Mysterios da ternura.
Quando (ai de mim) sentires
Teu coração tremer,
Voar tua alma ao cume
Do rápido prazer,
((Perjura! (héi de gritiar-tó
Com pavorosa voz)
Eu sou Elmano, e venlio
Punir teu crime atroz, i)
A gruta do Ciúme
Ha um cerrado bosque
Aquém do abysmo eterno,
Vô-se o vapor do inferno
Nos ares negrejar;
Ali rebentam, crescem
Mil ])lanfas venenosas,
Mil serpes tortuosas
Ouvem-se ali silvar;
Rochedos escabrosos
As nuvens ameaçam;
Rios por elles passam,
Medrosos de os tocar;
AU tremula a rama
Do teixo, e do cypreste,
Fermenta estygia peste,
Que as almas vem damnar;
De infestas, roucas aves
O bando ali se acouta,
Que está de mouta em mouta
Desastres a agourar;
ENDECHAS T3
As
azas não menêas,
Ali,Favonio brando,
Tufões de quando em quando
Só se ouvem rebramar.
Ali umas com outras
As arvores se fecham,
De sorte que não deixam
Do dia a luz entrar;
A custo ali respira,
Cercada a Natureza
De horror, e de tristeja,
Capaz de a suíFocar;
Ali, sempre aclarado
Pelo tartaréo lume,
Jaz do cruel Ciúme
O temeroso lar.
Na aborrecida entrada
Vela a mordaz Suspeita,
Continuamente aíFeita
A crer, e a recear; ^
No seio da caverna
A torpe Inveja escura
Phren ética murmura.
Venenos a espumar:
Sente-se lá no fundo
Da estancia sinuosa
Caterva pavorosa
De monstros ulular:
74 OBRAS DE BOCAGE
Em quanto os gados
Pascem dispersos
Casem-se á Ijra
Meus brandos versos.
Tyrso, que adoras
Nize engraçada^
Ouve o retrato
Da minha amada.
Em seus cabellos
Soltos, e ondados
Mil Cupidinhos
Estão pousados:
Lá, convertidos
Em virações,
Ordenam laços.
Armam traições.
Os olhos d'elia
São como o céo
Depois que a Noute
Desdobra o véo:
:
78 OBRAS DE BOCAGE
Lisas columnas,
Taes como as creio,
De obras divinas
Cândido esteio,
Guardam thesouro
De alta valia,
Que só se gosa
Na phantasia.
Ah Que attraído
!
Da imagem bellí\,
Meu pensamento
Se absorve n'ella I
Vive na margem
Do Tejo louro
Cândida nympba,
Do Amor thesouro.
Madeixas bellas
Ao ar lhe ondêam.
Que os pensamentos
Soltas enlêam:
Seus olhos ternos
De alta belleza
São dous milagres
Da natureza:
A liberdade
Morre de os ver,
Mas tem na morte
Doce prazer:
Em suas lindas
Faces lustrosas
O pejo enfeitam
Jasmins^ e rosas:
RETRATOS 8Í
Amor.
'
' '
'
E a phantasia .;»rj'í
De mil delicias /i
Cofre sao^rado, /lí'! »
Ee3eDe d'ella ^
Virtud e tanta,] i n ní fniQ
Que até na idéa-? '- -íifí
Gosado encanta. oQ
O
deus terrível,
O summo Jove,
Que o3 céos occupp,
Que os astros move,
Um dia os olhos
Volvendo á terra
Viu esta nyn^pha,
Das ulmas guerra.
OBRAQ íLKB BíK;AúE
Doce desmaio^
Mudou d© aspectOj
Caíu-lhe o nvio.
Pasmou do hrnnano,
Raro portento,
Fugiu-lhe Ventrs
Do pensamento;
De novo em cysHe
Foi transformar-se,
Mas a Virtude
Soube o disiirco.
Ah ! Se até Jove
Ferve em ternura,
Vendo os eiicantos '•
De Armania pura;
Se elles o ferem,
Que mai, que daraíio
Farão no peito ; «y
Do terno Elmano!^' ííííoD
.{(ií? o
^
..m3
QÚADEAS
Se de ti aoído eaípu:; .,
;
A afagadora esperançi,
Mas no coração da ingrata
Velava a fera esquivança.
.
^^^'
QtriidíiAS 85
«^^'^u
Aqui soluço a n cioso
A doce voz Ihé èrileou, ""^^^S'^
,
^
^ ^í'^^^
f
E. as rosas das tenras facéy
'" ' ^-rioonA f
Miúdo pranto aljoí^du.
Eu desconsolado, eu mudo '^^^^^
Quanto d'arites ledo, ufano, 1'^^^
- 4^r o <íY^Okl
T
,. .M
3íjp ,í?0§'lA o fl
(viíçfiioo mU
8s6 0BB4^§ PR Ç0CA6E
(luiitadas de Pamy)
Í^;A1>KAS 87
Receoso da verdade •
''^' ''-í''- j'
^> ^'^^'^
r;;3i-u i-
> •)!lníqso
vnjo moo ò8í
rfinp mH
Inalia mçllior que a Bosfiírr O
Empenha-te, oh Natureza,
Em crear flor mais mime >a,
.^i-i.ff;'
léoh ^r
^nhá^Si í>(í
TKABALHOS PA VIDA lUMANA
VôLmifi».
Do fu^^^p^ Limoeiro,
Já toco os tristes dq^c^^^^ .-^.^^^j j.;4
Por onde.sjob^^i, e descçm rr/>:. ,?r
Egualme^tjç, o^s bou^, e 08s w^us.
—
92 OBRAS DE BOCAGE
Os ferrolhos estridentes,
Feroz condiictor ir»e enterra
Denominado enxovia.
Fecham -me, fico assombrado
Na medonha solidão,
E, sem cama n que me encoste,
Descanço os membros iiò chão.
)
Os amigos iíicònsta^íitôs
Me tinham di^ampa^adò;
E nas garrai 'èA incligelit5iá
Eu gemia atribulado;
Quando Aoniò, o cUí*ô Âòíifó,
Da natureza tliesoilro
A triste penúria Wiii^dà
Efíicaz auxilio de oufô.
Em quanto exiíitir Biiilátíô,
Sempre, oh gèllio isiíígtilàl',
Na sua alma, ie iK)è s^itt^ Vèt*sdè
Terás honroso lofifat.
Passados vinte e doti:^ dí'á«,
A Anarda
k
100 OBRAS DE BOCAGE
ALLEGOBUS 103
O Zephyro e a Rosa
(Imitada de ung versos de Pamy)
GLOSA
GLOSAS 107
GLOSA
GLOSAS 109
GLOSA
Verificae, merecei:
Duro assalto removei;
Jus vos dão para a victoria
Um Deus, a razão, a historia,
((Caracter, costume, e lei.^o
112 OBRAS DM BOCAGE
GLOSA
GLOSAS 113
GLOSA
GLOSAS 115
GIiOSA
No nume alado
templo do
Cujas adoro, e sigo,
leis
Entrei, Marilia, comtigo
De verde myrtho c'roado:
Ali jurei ao teu lado
Vivo amor, finezas raras;
E tintas as fiices claras
Do purpúreo pejo honesto,
Tu fizeste egual protesto
«Pondo a mão nas sacras aras.:
Só o nome de Maria
Inconstância quer dizer;
A mulher^ que assim se chama,
Ingrata sempre ha de ser.
GLOSA
E desatino, é loucura
No mundo haver quem pretenda
Qae nomes dependa
até dos
A condição meiga, ou dura :
GLOSAiá lig
GLOSA
GLOSA
GLOÍSAS 123
10
GLOSA
Desvelado pensamento,
Que a minha mágoa requintas,
Quando em illusões me pintas
Suave contentamento:
Re um dever duro, e violento
Do bem, que adoro^ me aíFasta,
Se barbara lei contrasta
Os da paixão,
des^^jos
De enganar-se o coração
((Basta, pensamento, basta.»
Pensamento namorado,
Não promovas minha pena;
Oeda-se ao que o fado ordena,
Que ninguém resiste ao fado:
Alto prazer suspirado,
Que se não pode alcançar.
Porque em se não desfructar
Deixa em fim de ser prazer,
E^uma dita esquecer,
«E um tormento lembrar.»
126 OBRAS DH BOCACB
11
O
Lethes, rio fatal
De margens seccas e nuas,
Confunde nas aguas suas
Memorias do bem, do mal:
»
GLOSAS 127
12
GLOSA
13
GLOSA
A minha imaginação
Escura sempre, e funesta,
Males sobre males me empresta
Ao misoro coração:
As amarguras estão
Com o dente roedor
Cercando esta alma de horror;
Eu morroj acabo infeliz,
^
Se acaso não me acudis,
«Meigos sorrisos de amor.))
De delícias percursores,
Ternos mimos inda em flor
Me fizeram sabedor
De arcanos; já, já conheço,
Já, já sei que não tem preço
€ Meigos sorrisos de amor. i>
Tempestades esbravejam,
Fuzilam nuvens medonhas,
E as esperanças tardonhas
Já dentro do peito arquejam:
Subir aos astros forcejam
Mil sombras de negra cor;
Ah N'este mal, n'este horror,
I
GLOSAS 133
14
GLOSA
Perguntei á ííatureza
No seu alcaçar sublime,
Qual era o mais torpe crime
Que infectava a redondeza?
EUa, que meus cultos preza,
E me franquea o altar,
Respondeu-me a prantear,
Exhalando um ai ancioso:
<íAh! E o mais criminoso
c( Quem pôde deixar de amar, :»
15
O painel da Natureza.
GLOSA
Os elementos em guerra
Blasonam mutua braveza;
N'este horror, n'esta graveza,
Que não cede, não se acalma,
É o quadro da minha alma
«O painel da Natureza.»
»
1«-
GLOSA
17
GLOSA
18
GLOSA
Se o poder da desventura
Seu ardor tem subjugado,
E se um vinculo sagrado
A liberdade lhe prostra,
Quando em si crenças lhe mostra
19
GLOSA
A natureza corrupta
E objecto ante quem tremo;
Nem padece mal supremo,
Nem bem supremo desfructa;
Ora o vicio amado enluta
Esta machina ambulante,
Ora a virtude anda errante.
Entre temor, e incerteza;
Ah! Corrige a natureza,
c(Analia terna, e constante.»
:
20
GLOSA
21
Es gloria da Natureza,
GLOSA
22
GLOSA
Flagello do coração:
Não, não pode a reflexão
Repellir o activo amor;
Contra elle não tem vigor,
O seu esforço é baldado,
Não por fraqueza, por fado
« Deliro entre susto, e dor.
GíEiÒSAS' 1^
23
GLOSA
Em quanto da formosura
O encanto se não observa.
Livre a Razão se conserva,
Tranquilla, serena, e pura:
GLOSAS 155
íi
Os erros da educação
Extraem de amor delictos.
GLOSA
25
GLOSA
26
Um só momento de amor
Faz feliz um desgraçado,
GLOSA
11
162 OBRAS DE BOCAGK
27
GLOSA
Desenganae-vos, athêos,
Vede a vossa insipiência^
Eu vos mostro a omnipotência,
« Elmano foi mais que um deus:»
; !
GLOSAS 163
Í8
GLOSA
A face da redondeza
Eis vasto incêndio devora,
E soando a toda a hora
Ais, queixumes, gritos, prantos,
Sentida dô seus encantos
c( Lilia geme, Lilia chora. y>
166 OBRAS DE BOCAGE
29
GLOSA
GLOSAS 167
30
GLOSA
A Primavera brilhante
Vem ver a origem da vida.
Vê toda a terra florida
«Quem vê de Analia o semblante:
170 OBRAS DK BOCAGE
31
GLOSA
32
GLOSA
33
GLOSA
Maravilhas e extranhezas
Te deram as Graças bellas,
E vincularani com ellas
<í Mimos, carinhos, finezas:
Eis, eis mil chammas
accêzas
Em um, em
outro amador;
Não, não cabem no louvor
Oh Lilia, os encantos teus:
Quanto em si reúne um deus
<x Reuniu em ti Amor. 7>
Tíí OBRAS KE BOCAGE
34
GLOSA
35
GLOSA
36
GLOSA
37
GLOSA
13
»:
38
GLOSA
GLOSAS 17
39
GLOSA
40
GLOSA
GLOSAS 181
41
GLOSA ,
42
A natureza premèa
Quem as suas leis adora.
GLOSA
43
GLOSA
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GLOSA
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GLOSA
46
A vida de um desgraçado
É peor do que morrer.
GLOSA
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GLOSA
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GLOSA
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GLOSA
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GLOSA
GLOSAS 191
51
GLOSA
Arrojar no esquecimento
«Aonio, Jonio, e Elmano:»
Eis o austero Desengano
Chefe dos deuses melhores,
Lhe diz c( São vãos teus furores,
:
52
GLOSA
53
GLOSA
13
194: OBllAS Dtí BOCAGE
54
GLOSAS
GLOSAS 197
55
GLOSAS
Desfallece, oh Natureza,
Accelera o fado teu;
Esta voz te g\\\& ao nada:
<( A
minha Lilia morreu.
Fadou-me o caso medonho
Vate, que nos astros leu;
Os vates são como os numes:
« A minha Liha morreu. »
: »!
As estrellas se apagaram,
A Natureza tremeu,
Os promontórios gemeram,
<í A minha Lilia morreu.»
GLOSAS 199^
56
GLOSAS
Milhares de maravilhas
Tem Jove em tudo o que é seu,
Mas não tem n'esse thesouro
«Um coração como o meu.
Deste, Amor, á minha amada
Um semblante como o teu
Amor, porque lhe não deste
«Um coração como o meu?3)
GLOSAS 2GÍ
57
Instantes afortunados,
GLOSAS
Sacrifiquei á belleza
Meus dias, e meus cuidados;
Esperava em recompensa
«Instantes afortunados.»
Olhos da branda Mariiia,
Olhos no céo fabricados,
Minha fé vos merecia
(( Instantes afortunados. y>
Mas com meus duros destinos
Impiamente conjurados,
ííegaes á minha ternura
«Instantes afortunados.»
Ai de mim Vós me pozestes
!
GLOSAS 203
Ha momentos infinitos
Pela desgraça enlutados;
Escaçamente reluzem
(í Instantes afortunados.»
A
morte negros liiomentoiS
Traz á mente dos malvitdos;
Dos justos conduz á mente
Instantes afortunados. )>
<í
GLOSAS 205
58
Instantes afortunados,
GLOSAS
APÓLOGOS
O passarinlLO preso
Na gaiola empoleirado,
Um mimosopassarinho
Trinava brandos queixumes
Com saudades do seu ninho.
((Nasci para ser escravo,
(Carpia o cantor plumoso)
Não ha ninguém n'este mundo,
Que seja tão desditoso.
d Que é do tempo^ que eu passava,
Ora descantando amores,
Ora brincando nos ares,
Ora pousando entre flores?
((Mal haja a minha imprudência.
Mal haja o visco traidor;
Um raio, um raio te abraze.
Fraudulento caçador
li
!
c( Do entendimento Ah malignos
!
Zelosamente guardaes,
Como sois usurpadores *
Da liberdade dos mais?
((O que eni vós é um thesouro,
Nos outros perde o valor?
Destróe-se o jus do opprimido
Pela força do oppressor?
((Não tem por base a justiça,
Funda-se em nossa fraqueza
A lei, que a vós nos submette,
Tyrannos da Natureza.
((Em ofFensa das deidades,
Em nosso damno alíusaes
Da primazia, que tendes
Entre os outros animaes.
: !
APOLOGOS 211
O. volátil carpidor;
Eis que ve chegar da caça
O seu bárbaro senhor.
Trazia encostado ao hombro
O arcabuz fatal, e horrendo,
E alguns pássaros no cinto.
Uns mortos, outros morrendo.
Das penetrantes feridas
Ainda o sangue pingava,
E do cruento verduo^o
As curtas vestes. manchava.
O preso vendo a tragedia,
Coitadinho, estremeceu,
E de susto, e de piedade
Quasi os sentidos perdeu.
Mas apenas do soçobro
Repentino a si tornou,
Cos olhos nos seus finados
Estas palavras soltou:
(( Entendi que dos viventes
o lobo e a ovelha
O amante e a borboleta
O corvo e o rouxinol
Afortunado me acclamo
Em ver que attenção me dás;
Pousa aqui sobre este ramo,
E a teu commodo ouvirás.»
— c( Vamos, de novo começa,
APÓLOGOS 22£
As damas e a borboleta
APÓLOGOS 225
E depois conhecereis
Que fallaes contra vós mesmas
No que contra mim dizeis.
c( Quem faz mais errada escolha
A raposa e as uvas
(Traduzido do mesmo)
O corvo e a raposa
(Traduzido do mesmo)
OBRAS DE BOCAGE
A cigaíra e a formiga
(Traduzido do mesmo)
APÓLOGOS
10
11
O leão velho
(Traduzido do mesmo
APOLOGOS
12
13
O cão e a oadella
OBP.AS DE BOU.Uiiii
14
O corvo e o pavão
15
16
o macaco declamando
17
APÓLOGOS. 243
Extranliando-lhe a basofia
Um mono dos mais astutos.
Que n'uma arvore trepado
A alliviava dos fructos,
Co'uma gargalhada exclama:
<( Não verão quem alardêa
Eurro com fumos de mestre!
Isto é cousa, que se creia!
«Não zombes d'esse coitado,
Faz bem em não responder:
Um tclo só em silencio
E que se pode soíFrer.»
244 OBRAS DE BOCAGE
18
APÓLOGOS 245
19
APÓLOGOS 247
Personagens eminentes
Não fazem vão juramento.
(( Agora pede a razão,
A repugnância vencendo
Com bem custo a (foitadinha^
E callada extremecendo.
Pouco a pouco se avisinha
Ao bruto feroz, e horrendo.
: ! :
APÓLOGOS 24.9
20
O tigre e a doninlia
APÓLOGOS 253
21
Os dons cães
Té
as aves muitas vezes
Ao venatorio ruido
D'entre os pés lhe rebentavam,
E não as tinha sentido.
Mas, sendo incapaz, ao sócio
Excedia na ventura,
E o néscio domno prezava
Mais que o préstimo a figura.
Assim succedcj leitores,
A um sem-sabor Narciso,
N'uma assembléa com outro
De má cara, e bom juizo
,Diz um d'ali «Este amic^o :
22
O elepliante e o burro
23
A mona e o fillio
24
o papagaio e a gallinlia
Loqnaz papngaio
Seccava a goela^
Soltando mil gritos
A lima janella.
Oihou para a rua
Por onde vagava
Gallinha de popa
Qui) de pinicava:
Na lingua-das aves-
Co'um ar superior
Lhe deu estes cbascos
O vão palrador:
Deveras, visinha.
c<
«Deixando ironias,
S3inpre és cousa pouca,
Não tons outro chiste
Senão essa touca.
ccDepois de defunta
Só causas prazer;
Para te comerem
Te dão de comer.
C(Eu em alma, e corpo
Sou ave excellente;
Não pasmas de ouvir-me
Fallar como a gente?»
— «Não pasmo (responde
Dos gallos a amiga)
Villão, carioca.
Mordaz de uma figa.
«Da lingua, que allegas,
Basofia concebes?
Que importa que a falles.
Se não a percebes?
«Com isto te abates
No meu parecer;
Os tolos só dizem
O que ouvem dizer. D
260 OBRAS DE BOCAGE
25
A macaca
26
o leão e o porco
27
Os dous gatos
APÓLOGOS 263
O nosso villão-ruim)
Se tu não és mais valente,
Em que és sup'rior a mim?
264 OBRAS DE BOCAGE
c( Tu não mias ? )) —
llio. c( y> —«E sentes
Gosto em pilhar algum rato?»
cíSim.í) — c(E o comes?)) — «Ohl Se o comoI...3>
(LlLogo não passas de um oato.
c(Abate, pois, esse orgulho,
Intractavel creatura:
Não tens mais nobreza que eu;
O que tens é mais ventura. 5)
APÓLOGOS 265
28
Um ctíco e um rouxinol
Tiveram grave disputa
Sobre quem melhor cantava^
Qual tiiiha voz mais arguta.
Junto das aves o bando,
Todas ellas mui picadas,
Fizeram que se calasse
O basofio com risadas.
Elle, pois', injuriado
«Apostem (diz) ou se calem;
E para se convencerem
Ambos ouçam, logo fallem.»
O partido era prudente,
E conforme á sã razão;
Nenhum outro poderia
Melhor solver a questão.
266 OníiMÁ DE BUCAGS
EPIGEAMAS
Pergunta o poeta :
—
Á quem ? c(
Um chapado, um retumbante
Coripbêo de medicina
Ceita menina adorava,
E a(hjeceu-lhe a menina.
Eis p,:ira cural-a o chamam,
Pila íilta fama que tem:
Geme o doctor, e responde:
((Não vou, que lhe quero bem.»
epk;kam:íías 271
9
• (Dialogo)
ALCÊO
EPIGKAMMAS 273
Sim? Qual é?
ALCÊO
Fazeres versos.
ALCÊO
Eu ! Qual é ?
ELMANO
Náo os fazeres.
10
11
(Traduzido de Dufresny)
12
EPlGEAidMAS 275
13
U
Conheces um certo Albano,
Homem de raro primor?
(Perguntou Fikno um dia
A Silvio, gran jogador)
c(Oh! (responde-lhe o gatuno
Que aos mais tafues pede meças)
Eu sou seu intimo amigo:
Hontem lhe ganhei cem peças. >
»
15
16
17
Um Philosopho enfermou;
Não tinha mal cie perigo,
Mas scífreu a medicina
Por agradar a um ami<To.
Consentiu que receitasse
Hvpocratico impostor,
E logo para um criado
Disse, brando, e sem tremor:
«Não deixes lá na botica
Esse amargo fructo do erro;
Inda tem mais serventia:
Supre os escriptos de enterro. 5)
18
19
20
21
22
(Diaktgoj
CPÇJDON
EIAIANO
CORYDON
E porque tremes ?
ELMAJÍO
23
CTraduzido de Bois-Robert)
24
Bojudo pliarmacopóla,
De cangalhas no nariz,
Lia um pnpel, dos que a gente
Preor-am em vasa-barris.
O papel era receita,
Isto bem se deixa ver:
Eis o algoz dos palladares
A moléstia quiz saber.
Soube-a, pouco mais, ou menos,
E exclama um tanto impaciento:
«O medico hallucinou-sel
Com isto sara ò doente !í)
»
EPTGRAMMAS 281
25
26
27
28
29 ,
30
31
32
33
Um medico receitou;
Súbito o récipe veio,
Do qual no bucho do enfermo
Logo embutiu copo e meio.
<í Adeus até amanhã . . .5)
34
(Traduzido de Perrault)
Amor é um menino
Tão velho como o mundo,
Dos deuses o maior, e o mais pequeno:
De seu fogo divino
Occupa o céo sereno,
O largo mar profundo,
A populosa terra,
E nos olhos comtudo íris o encerra.
35
(Dialogo)
A,
^.
Com receitas.
286 OiíKAb Difi JbOOACiiá
36
37
38
39
40
41
42
43
Um medico, resentido
De certo seu ofFensor,
Ante um amigo exclamava,
Todo abrazado em furor:
«Para punir este indigno,
Este vil, tcmára imi raio.»
Acode o outro: — c(Ha um meio
Muito mais fácil : curae-o ! ))
44
15
46
47
"*
48
49
50
51
52
A um enfronhado em poeta
53
(Traduzido)
54
Epitapliio
EPIGRAMMAS 293
55
56
Epitapliio
29 OBRAS DE BOCAGE
57
(Twíduzido de Marcial.)
58
59
EPI€ÍEAMMAS 2&5
60
Um doctor, aòeommettido
Das chufas de um boticário,
(Qne não sei porque motivo
Se lhe quiz mostrar contrario)
Disse-lhe: a:Inda que nós ambos
Sjmos dos humanos mágoa,
Mais do que eu faço com tinta
Faz sua mercê com agua.»
61
62
(Dialogo)
A.
A,
63
Rechonchudo franciscano
Desenrolava um sermão
E defronte por acaso
Lhe ficara um beberrão.
Tractava dos bens celestes.
Proferindo: «Ouvintes meus,
Qne ditas, que imraensa gloria
Para os justos guarda um Deusl
Falsos, momentâneos gostos
Ha n'este mundo mesquinho:
Mas no céo ha bens sem conto .» . .
64
Um procurador de causas
Tinha na dextra de harpia
Nojenta, incurável chaga,
Que até ossos lhe roía.
EPIGRAMMAS 297
65
(Traduzido)
66
2M OBIiAS ? K T07A^E
67
A um enfatuado em nobreza
68
Examinasse um planeta
Com telescópio de cá
Ver-se-ia a cara da Helena
Sem telescópio de lá.
69
EPÍGRAMMAS
70
71
72
73
A estanqueiro tem marido,
Que quando deitar-se intenta,
Como não cabe na cama
Dorme dentro de umai venta.
!
74
A cara da estanqueira
Por um milhão a comprara;
Se fosse cara de assucar,
Um milhão, não era cara
75
76
77
78
79
Dizem os da Encarnação;
«Que em morrendo a estanquGÍra
Faz-se a obra, e o cemitério,
Tudo dentro da caveira.»
80
81
302 •
OmA^ DJ& Mi^AGE
82
83
84
85
86
(Imitado de Mftr«;^ID.
Barbeiro demorador,
Não me pilhas outra vez, *
Mal haja o pae que te fez.
Devera ser malfeitor.
! !
87
Cançado de dissabores
Morre-se aqui sem tristeza;
Dormir coberto de flores
No seio da natureza.
Doura, oh Morte, os teus pavores
89
(Dialogo)
P.
O que é mais leve do que o ar ?
i?.
O fumo.
P.
O que é mais leve do que o fumo ?
B.
O vento.
P.
E que o vento ?
B.
A mulher.
P.
Que a mulher?
B.
Nada.
90
Se alguma palavra digo,
E o hálito á bocca pucho,
Sobem-me as tripas e o bucho
A escutar se mastigo.
306 OBRAS DK BOOAGB
91
Disse, em ar de novidade,
Lélio, que a rugosa Elvira
SoffVêra longa moléstia,
De que a bem custo surgira.
«Creio: o seu medico é bom,:^
(Proferiu grave pessoa)
Acode um taful E eu sento
: C(
92
E resolver um problema.»
93
Um geómetra zombou
Ao ver que amante infeliz
Por linda moça expirou;
Mas ao sábio o que o matou?
Não dar c'o valor d'um xiz.
EPlGilAMMAS 307
94
(Traduzido de Alciato)
95
Da feia mulher Andronio
Com zelos arde, e rebenta;
N'isto o não jul^o bolonio:
A mulher é um demónio,
Porém o demónio tenta.
96
Do Meirel formas querella,
Porque os dentes te dispensa;
Não t'os tirou por doença,
Tirou-t'o3 só por cautela
Bem atalha quem bem pensa.
308 OBBAS DE BOCAGE
97
(Dialogo)
B.
Já se não diz quando casam ?
A.
Recebe-a á hora da morte.
98
A um mau medico
99
. Se o Padre-santo tivera
Um pé tão largo e tão mau,
Podia mesmo de Roma
Dar beija-pé em Macau.
_ 100
Definição do Ouro
101
(Imitado de D'Anchet^.
102
(Traduzido de Rabutin)
103
104
EPIGRAMMAS 311
105
106
107
A Morte se enfastiou
De Orço profundo,
surgir' do
Exclamando: «Não estou
Para tornar mais ao mundo Id
Disse um medico: — o: Eu lá vou.d
312 OBRAS DE BOCAGE
108
109
Madrigaes
(Traduzido)
EpitapMos
Pag.
Odes anacreonticas • 5
Cançonetas 35
Endechas 61
Retratos 77
Quadras 83
Trabalhos da vida humana 91
AUegorias 99
Glosas 105
Apólogos 209
Adivinhações 267
Epigrammas « 269
,"«" ^
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* r^x
4â.^''
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•
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íí-teá*'
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