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SUMÁRIO
Mistagogia 3

A renovação da criatura 9

Capítulo 1

Analogia dos sentimentos 15

Capítulo 2

As investidas das trevas 24

Capítulo 3

A natureza fala 62

Capítulo 4

Mediunismo na função coletiva 96

Capítulo 5

A comunicação dos espíritos 111

Capítulo 6

Os segredos da natureza 137

Final 150

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MISTAGOGIA

Estamos tentando, com as bênçãos de Jesus, cumprir o convite do Evangelho,

de colocar a luz em cima da mesa, para que todos vejam e sejam iluminados por ela:

a luz que vem de Deus, a luz da sabedoria e do amor.

Somos simples cooperadores na vasta seara de Nosso Senhor Jesus Cristo e

nada do que falamos e escrevemos sobre os mistérios da natureza é nosso, mas

vem do Criador, pelas mãos abençoadas de nosso Mestre e, na verdade, vos

dizemos que essa luz ilumina com abundância por toda a parte, dependendo daquele

que quiser iniciar-se nos arcanos do saber e viver na luz da educação espiritual.

Mistagogia é um livro que dá continuação ao livro Iniciação, ampliando

conceitos e nos ajudando a deduzir o porquê dos fatos, o porquê dos acontecimentos

e como Deus está em tudo, nos ajudando a pensar e a viver.

Somos sete trabalhadores atuando mais diretamente nesta obra, como foi na

anterior, e todos nós estamos trabalhando e aprendendo na grande escola de Deus.

Estamos unidos em um sentido profundo que nos atrai e nos faz amar o labor: é

corrigir as nossas falhas em todos os sentidos, sem nos alterarmos com os erros dos

outros. Quem anota todos os lances desses trabalhos é o mesmo autor de Iniciação,

o nosso querido companheiro Lancellin que, integrado no movimento de renovação

dos sentimentos, se dispôs a exercitar, no silêncio, todos os valores revelados por

Jesus, para que desperte dentro de cada criatura o CRISTO, o Cristo de Deus.

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Os estudiosos da Doutrina Espírita, assim como de outras religiões, que

desejam se familiarizar mais com os espíritos superiores desencarnados e conhecer

as suas funções em favor dos homens, devem ler, além de outras obras

espiritualistas, esta, que é cuidadosamente estruturada nos fatos, mostrando que

ninguém vive só, que somos todos ajudados em um entrelaçamento universal, de

maneira que dependemos uns dos outros, e todos de Deus.

O homem é um ser que se encontra na dianteira de todos os seres viventes no

reino da Terra e, para tanto, ele tem uma história. O Espírito que anima um corpo

humano está animando vários outros corpos, para o desempenho das suas funções

na carne. Ele é mais protegido pela própria natureza; dadas as qualidades já

despertadas no seu mundo interno, ele tem mais vida e sabe aproveitar melhor os

seus próprios valores. Entretanto, nem todos estão preparados, pela evolução, para

sentir e viver o céu dentro de si.

Os livros espiritas são livros em forma de água fresca, para quem tem sede e

deseja saciá-la; eles são alimentos para quem tem fome e anseia em nutrir-se e,

ainda mais, eles são vestes para os nus que buscam se cobrir. É a Doutrina da não

imposição, que somente expõe os caminhos com o carinho do Grande Semeador,

aquele é a vida e a verdade.

Nós não pretendemos ser mestres das criaturas na Terra, mas somos

companheiros que trocamos experiências, sem que a exaltação manifeste nos

nossos trabalhos. O planeta em que atuamos é uma oficina sobremaneira grandiosa,

onde todos aprendemos a ser úteis uns aos outros, sentindo o mesmo sol da verdade

nos aquecendo a todos.

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O que estamos escrevendo é uma introdução, que nos coube fazer pela

bondade dos companheiros, que sempre estão ao nosso lado nos afazeres mais

difíceis e que não medem sacrifícios para que o anúncio da luz e do amor seja

publicado.

Há momentos em que notamos a renúncia deles em ambientes que parecem

dissolver a personalidade, notamos o sofrimento desses irmãos pela agressão de

fluidos deletérios, mas devemos compreender que isso é uma lei. Entretanto, o ideal

que palpita em seus corações vence todas as barreiras e refaz as necessidades pela

fé, na vitória do bem. O verbo que se conjuga no meio deles é o amor. Existem

criaturas que vivem com mais facilidade na Terra e que ainda não se prepararam

para enfrentar os problemas da própria ascensão, que falam e que por vezes

escrevem afirmando não haver dificuldades para os espíritos desencarnados em se

comunicar com os médiuns encarnados, que é só se aproximar, pegar na mão e

escrever, ou falar ao ouvido interno ou externo, usar a garganta e a boca e falar o

que se pretender para os ouvintes. Como se enganam! A nossa resposta para essas

criaturas é que elas experimentem, depois que estiverem do nosso lado vibratório,

ou seja, desencarnadas. Somente a prática ensina melhor. De cá, achamos que a

vida de um instrumento mediúnico bom é muito difícil; quantos sucumbem por não

suportarem o peso do fardo e os espinhos dos caminhos!

Porém, em tudo existem lições. Nada se perde; esta é uma lei em

todos os mundos de Deus. O mundo dos Espíritos ficava muito distante

dos homens não por medidas matemáticas, por faixa, por conhecimento;

distância por elevação. É o que não ocorre nos dias atuais, quando a humanidade

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está acordando por vários meios de que dispõe a própria natureza; a evolução não

espera pelo querer dos homens, pois ela é força de Deus que age na criação.

Este livro é mais um avanço, para que todos aprendamos o valor do Evangelho

na vivência do dia a dia. Onde se vivem os preceitos de Jesus, nada falta, tudo de

bom se realiza, tudo se multiplica em favor da alegria e da paz; o amor opera milagres

em todos os rumos da vida. A falta de alimento, de vestes, de habitação e de escolas

se evidencia por faltar compreensão e amor nos corações dos que dirigem as nações

e também dos dirigidos. O próprio povo pede guerras, não pela vida que levam, mas

pelos pensamentos. Na verdade, nada falta na Terra, mesmo se se dobrar

dez vezes a população atual. O que falta é somente amor nos corações

dos homens, amor que, para se tornar mais compreendido, se dividiu,

nas luminosas mãos de Jesus, em variadas virtudes de que o Evangelho

é portador. O Evangelho é a salvação da humanidade, porque ele é a

caridade dos céus para todos os povos da Terra.

Estamos escrevendo todos os dias em variados lugares e não vamos

parar. A ordem que temos é de prosseguir no bem até o fim; somos

todos filhos do mesmo Pai de amor e de bondade. A mediunidade é um

instrumento que usamos e, por vezes, por ele somos usados, para que

outros falem por nós, na sequência que a lei estabeleceu, para que a verdade

seja conhecida por muitas escolas que instruem e educam. Ninguém é

privilegiado por escrever essa ou aquela página; tudo vem de Deus, que é a

glória da vida, que fecunda e faz nascer o amor em todos os cambiantes da

existência. Grupos semelhantes ao nosso existem inúmeros, percorrendo

todo o mundo, aproveitando a oportunidade para alimentar a fé em todos

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os corações, assim como a crença na vida que continua depois do túmulo.

Onde haja oportunidade de inspirar, estamos trabalhando com alegria e

em nome do amor, até a verdade se tornar para todos um sol, como o que

aquece a Terra e da vida aos homens.

Os Espíritos das trevas estão assanhados na face do planeta, criando

perturbações nunca antes vistas, por sentirem que a luz está dominando

e ganhando a direção do barco cósmico.

Os que estão sendo iniciados e desejam começar a caminhar por essa

luz imortal, que é a senda da verdade, certamente vão encontrar obstáculos

sem conta para que desistam no meio do caminho. A esses diremos: avante!

Não esmoreçam, que estaremos com vocês em todas as lutas; todavia, lhes

pedimos que se esforcem todos os dias, para se melhorarem moralmente,

diante de quaisquer circunstâncias que aparecerem. A senha é amar, o

caminho é o amor e o objetivo é também o amor, porque ele é atributo de

Deus, que deve alcançar e morar em nossos corações.

Pode-se constatar em todas as páginas do livro espirita que não se

esqueceu de Jesus nos seus conceitos, distribui harmonia e se empenha na

boa vivência de todas as criaturas; portanto, deve ser divulgada para que

a paz seja a esperança, e a fraternidade seja o ambiente de todos os povos.

Pedimos a todos os leitores para não discutirem acerca de quem está

com a verdade, não combaterem as outras filosofias e religiões diferentes

daquela a que pertencem. Só são conhecidos os verdadeiros discípulos de

Jesus por muito se amarem; o respeito é o primeiro passo de compreensão,

incentiva o bem onde ele está proliferando e ajuda o seu irmão a ajudar.

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Mistagogia vai nos dar esse alcance, mostrando que todos somos filhos de

Deus e que a salvação, a libertação, não depende da religião a que se pertença, pois

é consequência da sede interior de transformação de cada criatura, da evolução, do

despertamento individual, e isso se faz em qualquer país, seita ou filosofia.

Existe dentro de cada criatura um Cristo que deve ser despertado,

para que viva nele, sob as bênçãos de Deus.

Miramez

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Renovação da criatura

É de entendimento comum, na senda da iniciação, que qualquer criatura que

deseja colocar o pé na porta do templo já deve estar vivendo regras escritas pela

natureza, como sendo instrumento de Deus. A vida palpita em tudo o que existe e

cada vida é um livro aberto, que deve ser lido pelo iniciado; ele encontrará resposta

onde consultar e saberá entender a quem lhe falar. Os valores imortais do espírito

não se perdem; é qual o diamante que, onde quer que seja, é o mesmo ainda que

estiver ofuscado pelo ambiente. O espírito renovado em Cristo é um diamante divino

que brilha intensamente, mesmo que não seja visto, e que irradia o que é em favor

de todos.

Você, que está lendo, sinta-se convidado para ingressar no grande

rebanho do Bem que se estende por toda parte, no engenhoso serviço de amor e

caridade. Não precisa inscrição, nem fazer testes sofisticados, não carece de dinheiro

nem de posição na sociedade humana, não existe vestibular nos moldes da Terra,

pois ninguém compra alguém no reino do espirito. Aqui, você é o que pretende ser,

aqui você acende a sua própria luz pelo esforço próprio, aqui você deve ser pessoa

grandiosa.

Estamos procurando pessoas que queiram renunciar a algumas

extravagâncias, para iniciar a conquista da luz da alma. Temos visitado

muita gente, milhares de criaturas de Deus, e nunca tivemos decepções,

no valor que os dicionários do mundo argumentam ser. Conhecemos

as criaturas pelos sinais de renovação interior; cada esforço que fazem

para melhorar é como que um ponto de luz que se acende no coração e

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essa luz é viva, não fica somente onde nasce, mas irradia por todo o ser.

O homem iniciado carrega consigo um selo na aura, muito conhecido

pelos seus companheiros de reforma; na carne, ele recebe alguns toques

na pauta da ascensão, mas o verdadeiro trabalho é no mundo espiritual,

onde os olhos sabem ver, e os sentimentos sabem descobrir a realidade.

O mestre Jesus veio despertar o Cristo em todos os homens, senão

nas almas que dormem, mostrando a eles que a verdade liberta a todos

dos grilhões do sono, que sempre ofusca o entendimento, como a vida que

quer crescer. Comece hoje, agora, a luta, como sendo a maior das guerras

que já teve notícias em todos os tempos; é a batalha consigo mesmo, é a

luta com os inimigos internos, que ninguém mais, a não ser você, deve

vencer. Vai haver momentos em que o esmorecimento assomará ao seu

coração, enfraquecendo a sua vontade; haverá dias que a dor e o desânimo

dominarão todo o seu ser, e as dificuldades entorpecerão todo o seu

raciocínio; haverá instantes em que você se considerará morto e vencido.

No entanto, meu irmão, este ponto de luz já referido no coração lhe dará

resistência para levantar e prosseguir se o seu desejo estiver consubstanciado

na fé e naquele amor que tudo vence, apoiando-se na caridade. Não deixe

este trabalho para ser feito na velhice, desculpando-se que não há tempo

para tanto. Quem quer e deseja fortemente, tem tempo para tudo.

Estamos consultando corações e não pararemos de auscultar todos os dias, o

nosso convite é sem agressão, mas será registrado com intensidade absoluta pelo

coração desperto. Não é necessário estarem juntos de nos de espirito para espirito.

Com referência a ciência espiritual, aos recursos de Deus, ninguém está longe nem

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pertos todos estamos presentes pelos ideais, pelos sentimentos ideados na mesma

faixa. Estamos todos presentes pelo corpo de trabalho que escolhemos,

ligados com aqueles que escolheram também, na mesma faixa. Quem

canta a mesma música do amor, mesmo que more em outros mundos

que não seja o nosso, está junto ao rebanho a que pertence, por sintonia.

A humanidade está passando por inúmeras dificuldades, que vão

ainda se intensificar mais. O aprendizado requer muitos sacrifícios, sem

que faltem os gemidos e o ranger de dentes. Estamos no fim dos tempos

anunciados e quem plantou o mal voltará a colher a terrível safra, mesmo

que disponha de recursos para melhorar, mesmo que já tenha modificado

os seus sentimentos, mesmo que já tenha começado a renovação interior,

pois ele terá de presenciar os desastres que ajudou a semear.

Para que as lições sejam mais proveitosas, estamos a procura da

libertação espiritual, de todos nós, e iremos encontrá-la porém, na forma

de conquista. Esta é a justiça de Deus que nunca falha. Há irmãos que,

quando se lembram de corrigir seus deslizes, pensam logo que devem

começar depois da morte, onde, pensam, não existe preocupação com

moradia, alimentação, estudos ou dinheiro. Como se enganam! Aqui

vibratoriamente, tem tudo isso, pois o que existe na Terra, é cópia do

plano espiritual. Aquele que começa na Terra ganha muito tempo e se

distrai dos sofrimentos, chegando ao plano espiritual como aluno que

já passou em um vestibular, entendendo o que deve ser feito. Devemos

compreender que o objetivo de Jesus, na sua descida a Terra, foi para

evitar muitos sofrimentos dos espíritos depois do fenômeno da morte.

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Ninguém vive fora de Deus, em qualquer plano em que habitemos, pois estamos

vivendo no eterno. Os esforços empenhados pela Doutrina dos

Espíritos é também facilitar aos homens a passagem pelos caminhos

da morte, com a devida coragem, com alguma bagagem espiritual

conquistada e, para tanto, a melhor fonte de ensinamento é o Evangelho

de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Para nós, onde Jesus não está figurando como o Caminho, como a

Verdade e a Vida, mesmo se fazendo passar por Doutrina Espirita, vamos

saindo, por ser mera casca sem substância. Jesus é o nosso Guia, para sempre.

A humanidade já tem em mãos todos os instrumentos para difundir

os direitos dos espíritos e os seus deveres. O Evangelho, em variadas

formas, pode ser levado para todas as criaturas com a rapidez da luz,

e pode se mostrar, por imagens, na vida dos grandes instrutores da

humanidade, para exemplo de todos os povos. Eis que temos de começar,

mas começar dentro de nós, na vivência do Bem e na exemplificação do

Amor, revestido da fraternidade universal.

O que aqui anotamos é o exemplo vivo dos acontecimentos à luz

do Espírito; os Anjos do Senhor trabalham em prol da humanidade,

sem exigências e sem pensar em trocas passageiras, a não ser trocas de

experiências naturais sem que a ambição palpite pela aquisição. Todos

os nossos trabalhos objetivam a reforma da criatura. Não estamos

procurando vestes exteriores que o mundo pode dar, estamos, sim, à

procura, com todas as nossas forças, das riquezas do coração. Jesus lançou

a semente há dois mil anos, e o terreno não era bom, tendo custado a

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frutificar; entretanto a semente não se perdeu, ela agora dá sinais de vida

e começa a crescer. Compete a nós outros cuidar dessa semente para que

a árvore da vida possa medrar em toda a Terra, fazendo surgir o reino de Deus, de

que tanto falaram os grandes profetas.

Cada um de nós é uma peça na engrenagem universal; ninguém foi feito por

acaso. O nosso dever agora é trabalhar na seara do Divino Mestre, ajudando a

levantar os caídos, a dar o pão aos famintos, a vestir os nus, como Ele se refere no

Evangelho. Certamente que no futuro, na Terra, não haverá mais caídos, nem

famintos nem nus, nem encarcerado nem sofredores, porque o amor a tudo dominará

pela força de Deus.

Estamos tentando, há muito tempo, mostrar aos homens que ninguém morre e

que a vida continua em todas as faixas. Eles sabem, por intuição,

mas duvidam no momento dos sofrimentos; eles conhecem Deus pelos

fenômenos da natureza, mas d'Ele se esquecem com facilidade, na hora

dos problemas, eles oram, por vezes, todos os dias, porém blasfemam de

vez em quando, até contra o próprio Criador... Falam muito de paz, mas

criam condições favoráveis às guerras...

Falta, na mente humana, conscientização, onde o amor pode tudo

realizar; falta entre eles a verdadeira amizade, porque o orgulho e o

egoísmo ainda são proprietários de grande parte dos corações e são sempre

incentivados pela vaidade. Todavia, Deus está atento, permanentemente,

e cuida da vinha com sabedoria e discernimento. Nada se perde; tudo

vive e cresce diante da Sua grande luz.

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Estamos visitando pessoas, naquele mesmo trabalho de viagem astral

consciente, com grande aproveitamento. Quantos e quantos já sentiram

a alegria espiritual em sair do corpo espiritual, conscientes cada vez mais!

Essa é, para o encarnado, a maior prova de que a vida prossegue depois do

túmulo, pela experiência própria, saindo do corpo sem a manifestação da

morte do mesmo. Vamos continuar o nosso trabalho nesta Terra de Deus,

com este povo que se empenha em viver nela, em regime de Fraternidade,

onde os sentimentos de amor viajam e se fazem presentes pelo próprio ar!

Este livro não é nosso, como nos diz o nosso companheiro Miramez;

é de todos. Assim como não pode faltar uma letra na ordenação desta

escrita, para não tirar o sentido do assunto, não deve faltar a cooperação

dos que foram chamados para este trabalho, para que a harmonia não

falte nos exemplos transcritos. Estou lutando pelo autoconhecimento e

agradeço a todos os homens da Terra por criarem este ambiente que se nos

apresenta como uma universidade, que tudo ensina, tanto para os encarnados,

quanto para os desencarnados.

Sejamos felizes, dando-nos as mãos, pela força dos sentimentos que já nos

uniram, em nome d’Aquele que é tudo para nós, DEUS.

Lancellin

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Capítulo 1 – Analogia dos sentimentos

Antes de começarmos diretamente os capítulos deste livro, procederemos

como no livro anterior: conversaremos sobre vários assuntos, como que preparando

o leitor para um entendimento mais prolongado. Será um "bate-papo" mais

de perto, que entendemos não desagradar a ninguém; ao contrário,

essas conversas nos fazem bem, principalmente aquelas que nascem da

verdade do dia a dia.

É nosso desejo mostrar aos companheiros de aprendizado a força

poderosa da sintonia, e como se agrupam aqueles que pensam do mesmo

modo. Quando descobrimos essa lei e acreditamos nela como agente

que nos faz o Bem, mas que pode nos fazer o mal, a nossa vida começa a

mudar, porque mudamos o nosso modo de ser. Atraímos o que sentimos,

o que pensamos.

Ainda que tenhamos uma bagagem pesada para dela nos desfazer,

na forma de carma, se já despertamos para a necessidade da modificação

interior e colocarmos mãos à obra, é justo e certo que tudo se aliviará

a nosso respeito. As nossas companhias são reflexos do nosso interior,

quer seja na profundidade de nossa consciência, ou na periferia das

nossas ações.

Quando conhecemos alguém que foge às conexões dos nossos

sentimentos, há uma rejeição de ideias de um para o outro, como

acontece em certos transplantes de órgãos. Tornamos a dizer que essa é

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uma lei universal, palpitando em toda a criação divina e humana. Quando

sentimos profundo amor por alguém em todos os rumos que o amor

possa indicar, salientando suas forças, é indução analógica que o sustenta

e domina; queremos dizer com isso que a nossa felicidade está de certo

modo, em nossas mãos. Estudemos a nós mesmos e vejamos por onde

andamos, quais as qualidades dos nossos pensamentos, o que sentimos e

o que fazemos; por certo iremos encontrar pessoas que pensam e fazem

as mesmas coisas que gostamos de realizar.

Os lares que se desfazem se sujeitam, nada menos que a perda de

sintonia, que pode ocorrer, pela mudança dos personagens, e quem

muda para melhor, ganha terreno e avança com melhores condições

para a liberdade espiritual; mas quem retarda, por conveniência, por

acomodação ou por não haver em seu coração forças para a ascensão,

certamente que responderá pelo que faz e pelo que é.

É bom que analisemos a natureza nas suas qualidades afins: as águas

sempre se reúnem as pedras; da mesma forma, as árvores não buscam

outro procedimento, e da mesma forma o ar, os animais, os peixes, os

pássaros... Como ficar então livre da obsessão, de companhias espirituais

indesejadas? Os Espíritos brincalhões, malfeitores ou doentes sempre

se aninham pela atração dos iguais. E para tanto, vamos dar algumas

demonstrações colhendo fatos reais na vida dos próprios homens.

O objetivo desta obra, através destes apontamentos, é facilitar o

despertamento, em cada coração, da vontade de melhorar, de mudar por

dentro, para que tudo mude por fora. Se você quer boas companhias, seja

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bom; se quer amizade, cultive-a; se deseja que os outros o amem, faça o

mesmo com os seus semelhantes; se encontra no perdão um alívio, perdoe

sempre. Pessoa alguma é culpada dos nossos infortúnios; simplesmente

eles não erram a direção apontada pela afinidade.

***

Estávamos em uma pequena reunião no salão da Música na Colônia

do Triunfo, onde vibrava no ar um arranjo de Rossini, que nos elevava de

forma profunda na atmosfera espiritual, pela emoção qualificada como tal.

Depois que sentimos aquela tranquilidade interna, o coração

pedia ouvir alguma coisa sobre os assuntos ventilados ao pé do ouvido

de quase todos os companheiros, e naquela tarde a matéria mais

comentada era sintonia.

Padre Galeno, tranquilo e sorridente, falou animadamente para o nosso

grupo de ouvintes, acomodados em assentos que formavam suave semicírculo,

no tom amoroso que o seu coração sabe dispensar a quem o ouve:

- Meus filhos... A verdade é sempre rejeitada por nós! Procuramos

sempre as conveniências, e aquilo que requer de nós esforço e certa

renúncia, costumeiramente deixamos de lado e sempre nos falta tempo

para a realização! E se isso se vê em Espirito já de certa evolução, quanto

mais naqueles ainda equivocados! Portanto, é preciso fazer qual Jesus, ao

conversar com o apóstolo Pedro, formulando esta persistente interrogação:

"Simão Pedro, amas-me mais do que estes outros?" (João, 21:15)

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Mas não ficou somente nisso. Jesus perguntou a Pedro três vezes!! É

o que devemos fazer com o assunto de sintonia. Esta é uma lei universal,

todos sabemos. Se Pedro, o primeiro apóstolo de Jesus, precisou ouvir do Mestre

três vezes a mesma pergunta quanto ao seu amor por Ele, quantas vezes

precisaremos ouvir repetidamente as leis de Deus!! O nosso trabalho é repetir para

os que dormem quantas vezes forem necessárias pela intuição, pela escrita, usando

a boca de outrem, enfim por todo os meios lícitos possíveis, para que a verdade seja

conhecida, senão conscientizada por todas as criaturas de Deus. Quem compreende

sente que a sintonia é uma verdade, e se esforça na sua própria melhoria

interna, é justo que atraiam boas companhias espirituais e elementos

mesma espécie.

Padre Galeno deu um pequeno sorriso, como de seu costume,

arrematou a conversa, no prazer que sempre tem, assim se expressando:

- Nós somos sempre daquele grupo que "Aures habent et non audient” (Têm

ouvidos e não ouvem).

Todos sorrimos juntos.

Saímos volitando, ganhando espaços e buscando acontecimentos.

Parecia que a sublime música de Rossini nos acompanhava, dando-nos um

prazer indizível aos corações. Daí a instantes, descíamos em uma avenida

toda iluminada de uma metrópole na Terra, paramos em frente a uma casa

de bebidas onde, pelo lado de fora, estavam inúmeras mesas todas tomadas

por pessoas que bebiam cerveja animadamente. Alguns deles trituravam

espetinhos de carne mal passada. O cheiro recendia à distância.

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Apuramos a visão, a pedido de Miramez, e notamos em duas dimensões

homens e Espíritos, entretanto, os últimos compunham maior número.

Todos estavam unidos numa sintonia que era um verdadeiro espetáculo.

Pairando alguns metros acima do solo, com a facilidade dispensada

ao saber, Miramez comentou com facilidades:

- Eis o momento de observarmos o quanto pode a sintonia de ideias!

Todas essas pessoas encarnadas que aqui estão sorvendo essa bebida

assim como também os Espíritos, estão esperando alguma coisa começar.

Nos dois planos todos se agrupam por ideais afins. Gostam do esporte que

denominam de futebol, que logo vai começar. Quase todos estão de

rádio ao ouvido.

Em cada copo que era sorvido poder-se-iam notar duas bocas com as

mesmas emoções. Os encarnados fanáticos pelo esporte eram verdadeiros

médiuns! Os pensamentos estavam enxertados uns nos outros, e as

emotividades manifestavam-se entrelaçadas, como que uma verdadeira

troca de prazeres! Apostas eram feitas e desfeitas, e eles vibravam,

encarnados e desencarnados, hipnotizados pelo ambiente de gargalhadas

e palavrões, de apelidos grosseiros e música que anunciavam o começo

do espetáculo distante.

Miramez retomou a palavra e disse com afabilidade:

- Caros companheiros, nós estamos assistindo a fatos que

exemplificam, como conversávamos no salão de música, na colônia.

Vejamos o quanto pode a conexão de ideias! Trocam ideias e emoções,

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e, tanto de um plano como de outro, são mutuamente influenciados!

Ninguém influencia sem receber a mesma cota que ofereceu.

E é isso que queremos mostrar aos que já despertaram para as leis de

Deus: quem nos leva para a decadência ou para a felicidade somos nós

mesmos, dependendo dos caminhos que escolhermos para viver. Eis um

bom princípio para o estudo da obsessão! O obsediado que não deseja

mudar de sintonia não alcança a cura e não se liberta das companhias

que não deseja, enquanto continuar com as mesmas ideias inferiores que

os Espíritos ignorantes alimentam. Se alguém tem o hábito de fumar,

de beber e de jogar, Espíritos que gostam do fumo, da bebida e do jogo

aproximam-se dele, pela força da afinidade de gostos, e sentem prazer

nisso. Se os homens querem ficar livres de tais companhias, devem

suprimir esses hábitos indesejados, que imediatamente se sentirão

desligados desses irmãos que ainda alimentam tais inconveniências.

Não estamos querendo impor regras para ninguém, é bom que entendam as

nossas disposições! As diversões são uteis a todas as criaturas.

Aqui, no nosso plano de vida, elas continuam, por fazerem parte das nossas

vidas; no entanto o exagero é que traz a perturbação e abre caminhos para

os vícios. Podem-se notar, nesse aglomerado de homens e Espíritos, algumas

pessoas sérias, que certas forças espirituais não os influenciam tanto, por

serem comedidos. Todas as regras têm exceções, no entanto existem outras

pessoas que são totalmente médiuns de Espíritos brincalhões e zombeteiros,

chegando ao ponto de serem sustados por policiais, por praticarem gestos

indecorosos, ajuntando-os a palavrões, que não cabem no ambiente!

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Depois de examinarmos todas as mesas e observarmos a influência

mútua dos dois mundos, pelo poder das ideias, dali saímos alcançando

uma terceira rua.

A nossa frente, notamos uma reunião de pessoas, que logo se

via serem criaturas de nível cultural mais elevado. Aproximamo-nos e

constatamos que eram políticos pertencentes a um partido de certa influência

popular. A sintonia, tanto dos encarnados como dos desencarnados, era

dominante. Todos estavam concentrados nos ditames dos estatutos, e

os mais inteligentes acrescentavam coisas e deveres em defesa do povo,

verdadeiras armadilhas para o partido da situação, em que se via que o

interesse maior era o de desmoralizar os contrários. O povo ali, como

instrumento útil, figurava para a cata dos votos.

Ali se reuniam três vezes mais a quantidade de Espíritos do que

homens, e muitos se afinavam tanto com o seu médium, que dava a

aparência de uma só personalidade. Espíritos traziam trabalhos prontos,

insuflando nos seus comparsas as ideias e também energias para

prolongados debates. Cigarros eram acesos um atrás do outro, e a agitação

era o ambiente normal de todos os dias...

Miramez, na sua vasta experiência sobre o assunto, falou com

simplicidade:

- Observem outra modalidade dos iguais. Ali era o jogo; aqui,

política tendenciosa! Vejam como funciona a mediunidade! Ela é, pois, o dom mais

usado no mundo, ainda que de forma inconsciente. Quantos médiuns mais

ostensivos estão aqui neste recinto? São muitos, atraindo companhias espirituais de

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acordo com os seus sentimentos! De qualquer modo, é um exercício dessa

faculdade. Que Deus os abençoe!

Saímos novamente para a rua e nela observamos um homem que ia

apressado. Resolvemos acompanhá-lo na sua marcha, e foi o que fizemos.

Era um senhor de aproximadamente quarenta anos.

Miramez abriu a mão direita em certa direção, e a observamos cheia

de algo que fosforescia à nossa vista. No mesmo instante, ele imprimiu

na aura do senhor aqueles fluidos, e notamos na tela mental e áurica do

companheiro encarnado a figura de uma mulher.

O senhor estava tão ligado à imagem, que não atendia a alguns

cumprimentos de transeuntes seus conhecidos. Estava hipnotizado

pelo sexo! A mulher crescia em sua mente e, mesmo andando, ele a via

despindo-se, até que a vislumbrou nua, com os gestos que ele mesmo estava

desejando. Pensava em possuí-la naquele momento, no entanto o mesmo

instinto de posse verdadeiramente travava a ideia, somente se conservando

em sua mente, para inspiração dos desejos que ardiam na sua alma.

Virou aqui, virou ali, passou em um bar e, com aquela certeza de

que a sua presa estava segura, pediu uma cerveja, acompanhada de

aguardente. Sorvendo a bebida, percorria mentalmente o ambiente onde

tinha em mente saciar os desejos sexuais. No mesmo instante, notamos

dois Espíritos mal-encarados, de lábios salientes e avermelhados, a

observarem o ambiente, e um deles, assanhado falou ao outro:

- Olha ele lá! É a nossa oportunidade! Que bom!

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Aproximaram-se do senhor em questão, um de cada lado, e o

foram ajudando a sorver a bebida, pedindo mais e mais. Um deles,

certamente o mais desenvolvido, focalizou a mente da vítima e disse

para o companheiro.

- Veja no que ele está pensando! Está pensando em Júlia, minha mulher!

E foi logo desatrelando a língua num palavrão, buscando a orelha

do encarnado com uma dentada. Este sentiu como que o sangue subir

para a cabeça, apresentando-se uma coceira no local, onde passou a mão

com aflição. A sua orelha direita começou a queimar, no que ele passou a

suspeitar que fosse algum desarranjo de estomago, dizendo mentalmente:

"Eu sou azarado! Não posso mesmo beber! Quando começo, para me

distrair, lá vem esse desarranjo! Será que isso ocorre somente comigo?"

E empurrou o copo devagarinho, meditando no que poderia

acontecer, suspirando. E o desejo sexual arrefeceu-se por um pouco e

um estranho torpor tomou-lhe os sentidos. Quando despertou, estava no

Pronto Socorro, sem saber quem o levara e o que acontecera com ele. No

entanto, as lembranças começaram a surgir devagarinho, sobre o que ele

estivera premeditando...

Miramez, tranquilamente, alertou-nos com atenção:

- Vejamos, meus filhos, o quanto pode a mente humana, tanto para

o bem como para o mal! As distorções de valores nos distancia do bem

que desejamos conquistar!

23
Capítulo 2 – As investidas das trevas

O sol estava encantador! Ele é um grande benfeitor de todos nós, encarnados

e desencarnados! A tarde, na colônia, o astro nos traz lembranças que revolvem o

nosso passado de eras longínquas, e a consciência que tudo registra nos conta, por

processos da ciência espiritual, a nossa própria história, às vezes boa, às vezes má...

E em certas circunstâncias, a intuição nos segreda que somente a reencarnação

pode nos curar do mal feito em outras vidas. E é nesse empenho de trocar de corpos

como os homens trocam de vestes no mundo, que poderemos alcançar a felicidade,

em nome de Deus.

As criaturas que estagiam na Terra podem se considerar bem-aventuradas, ao

reverem o passado. Quantas coisas boas se encontram no planeta, em favor dos

próprios Espíritos, vestidos de fluidos mais densos!?

É ilimitada a quantidade de métodos e meios de educação e de instrução de

todos os povos. Sentimo-nos cheios de alegria com isso, por desfrutarmos dessas

bênçãos junto aos nossos companheiros da carne e mais ainda, a nossa grande

satisfação é de vê-los usando os meios possíveis para o Bem, na construção da paz.

Alguns que ainda os usam ao contrário não prosseguirão por muito tempo. O mal é

transitório, na contagem da eternidade e como todos foram feitos iguais, todos, algum

dia, abrirão os olhos para a luz da verdade.

O nosso interesse é sobremodo o de levar o nome e a vida de Jesus Cristo a

todos os companheiros e fazer conhecidos todos os Seus ensinamentos, para que

todos possamos sentir e viver ou, pelo menos, começar a viver, o que Ele ensinou

24
vivendo. O exemplo é a Sua vida que se imortalizou na história dos povos e, muito

mais, na história da vida, exaltando o amor e mostrando como deveria ser praticada

a caridade para com nós mesmos e de uns para com os outros.

O sol, à nossa vista, é um engenho cósmico, é um doador comum há trilhões

de anos e de que ainda dependemos para viver. Esse grande foco de energia divina

é o transmutador do sopro da Divindade, que nos oferece o hálito de Deus, na

qualidade que possamos suportar. Estamos trabalhando para que os homens

possam, mais depressa, conhecer essa fonte de vida e viver melhor. Ainda existe

muita coisa para ser conhecida pelos Espíritos da Terra, a seu favor.

Graças a Deus, encontra-se na Terra, mesmo que seja ainda em rudimentos

na arte da vivência, a Doutrina dos Espíritos. Essa doutrina, quando compreendida,

passará a preparar com grande amplitude os que desejam se libertar e, sendo o

homem a célula da sociedade, ele, no futuro, educado, as nações do mundo inteiro

compreenderão o valor do evangelho e a sua missão, e se instalará a felicidade em

todos os corações.

Para isso, devemos começar. Foi o que Allan Kardec fez; começou, por ordem

e assistência dos benfeitores, e prosseguiu, sob a proteção do nosso Mestre Jesus.

*****

Entramos em um grande salão, onde a música era o ponto de meditações. A

nossa natureza interna, à moda de intenso egoísmo, contraia todas as nossas

atenções para nossa intimidade, e sentíamos uma implosão pelas sensações da

harmonia diferenciada pela música, cuja melodia nos fazia esquecer da própria vida,

buscando nos integrar ao Absoluto. Abri os olhos em um pequeno intervalo e notei

que todos os companheiros pareciam flutuar nas emoções.

25
A música se intitulava Canção da Vida, e era um arranjo feito pelo grande

compositor Daniel, nascido na França, e já no mundo espiritual. Era bem parecida

com Sonho de Amor, do mesmo autor, quando na Terra.

А música, quando elevada, nos faz transportar para dimensões desconhecidas,

nos colocando como pássaros de luz que desconhecem distancias, por estar

presente em todo o universo de Deus.

A escrita não consegue, mesmo com todos os recursos do melhor idioma, falar

e fazer o leitor compreender o que transmitem as emoções. Por isso é que repetimos:

vale a pena viver no bem que abre os caminhos e tece os fios energéticos por onde

poderemos encontrar os princípios da harmonia.

*****

Terminada a nossa meditação, registramos o chamado do nosso guia espiritual;

acompanhamo-lo para um breve passeio nos jardins da colônia, onde os arbustos

são cada vez mais vivos, as flores mais belas e o colorido encantador.

Espíritos passavam, indo e vindo, cada qual com objetivos diferentes, em busca

de soluções. Pela luz que os contornava, cada um nos explicava sua posição na

escala evolutiva, assim como a ordem dos sentimentos, ou necessidades de

harmonia espiritual. Andando, andando, sentíamos suaves rajadas de ar fresco que

nos dava a entender que ele estava sendo veículo de energias vivificantes.

Passei a perguntar ao nosso estimado Miramez de onde vinha aquele ambiente

tão saudável, e como se dava a movimentação naquela atmosfera, em que não se

precisava desejar coisa melhor.

26
O nosso companheiro acudiu com presteza, como um pai que não se

esquece de instruir seus filhos, quanto às múltiplas necessidades, falando de maneira

fluente em completo domínio do assunto:

- Lancellin!... A vida é um segredo da própria vida, onde Deus se move e

existe. Nesta colônia, desde o princípio da sua formação, seus organizadores

não se esqueceram dos fundamentos evangélicos. As primeiras construções

se fundamentaram no amor. Todos os operários do Bem que por aqui

passaram trabalharam com alegria cristã, de modo que as vibrações de

tudo o que aqui existe tem a característica da fraternidade. Veja e sinta o

ambiente, e compreenderá o que falo. Neste ambiente sentimos confiança,

amizade e confiamos mais em Deus e em nós mesmos. É por isso que

sempre voltamos para cá ao término de uma jornada, no sentido de nos

reabastecermos novamente com as energias que nos ofertam o ar, a água

as plantas, como e certamente os nossos irmãos que aqui se movimentam.

Este ar que nos abastece e com o qual ora você sente a vida vigorosa é

ativado por benfeitores da colônia e tem a sua procedência nas divisas da

luz com as trevas, para que ele entre purificado neste convívio de Deus

de acordo com as necessidades dos que trabalham nesse aglomerado de

almas afins pelos ideais. Quando for oportuno, você poderá assistir a esse

trabalho dos nossos maiores da espiritualidade superior, que dominam os

elementos da natureza e fazem crescer o Bem onde as necessidades pedirem.

Não existe, Lancellin, carência no universo de Deus; tudo existe com

abundância, em todos os lugares. A falta, se assim podemos chamar, é de

27
amor nos corações. Quando aprendermos a amar, como Jesus nos ensinou

a todos, passaremos a viver na abundância de tudo aquilo que desejamos.

*****

Ocupamos alguns bancos para revermos o nosso roteiro daquela

noite. Estava estampada nas feições de todos os companheiros muita

alegria e, pelas conversas, notava-se a disposição de servir aflorada no

próprio corpo que o espírito dominava.

Fernando, Abílio, Kahena, Celes, Padre Galeno, Eu e Miramez.

Esperávamos em uma praça o momento de partir para o trabalho, em

busca de novos aprendizados que a vida não se esquece de nos fornecer,

por misericórdia. Todos, em conversações educativas, estávamos ligados

a um só ideal, aquele que se chama amor. Eu, no meio deles, era o mais

carente dessa virtude divina; por isso, a qualquer gesto do nosso instrutor

espiritual estava atento, para não perder os ensinamentos.

A uma distância regular, encontrava-se um casal. Pelas características

com que ambos se apresentavam, deveriam ter sido filhos, pelo menos na

última encarnação, de pais alemães, no Brasil. Eles se encontravam em

interesse mútuo, que me despertava curiosidade.

Miramez, sentindo o meu interesse pela história daquele casal de

almas na procura de como acertar, no espaço que a vida nos oferece, disse

com brandura.

- Lancellin... Todos que você observar aqui neste sitio benfeitor

têm uma história, e todas são variadas e interessantes. Quando temos necessidade,

procuramos saber, desde quando nos sirva de lição.

28
Estes dois Espíritos que ora buscam acertar compromissos novos, já estiveram

reencarnados em Santa Catarina, no nosso querido Brasil.

Começaram muito bem, obedientes ao que prometeram na vida

espiritual. Nasceram de família bem posta na vida rural, partiram para a

cidade e não foram menos felizes em estudos e trabalhos. Encontraram-se

cedo, no princípio das suas carreiras, e se aproximaram como prometido.

Assistência espiritual não faltou; as intuições eram-lhes constantes e eles as

acatavam. Muitos admiraram o porte e a vida dos dois, que estavam

quase formando um só lar.

Depois de algum tempo, os guias espirituais que os acompanhavam

desde o nascimento, já sentindo seus tutelados adultos para viverem

mais por eles mesmos, conquistarem a própria paz e despertarem os

seus próprios talentos de luz nos corações, afastaram-se um pouco,

obedientes às leis do esforço próprio de cada criatura. Eles começaram

a sentir um vazio. Já formados em letras, quase que não se dava mais o

casamento; esqueceram os compromissos. De vez em quando, tinham

vagas lembranças, mas, para todo impulso instintivo de se unirem,

tinham desculpas, principalmente ele, Alberto, dizia que a vida estava

ficando difícil, que as mulheres da época eram muito influenciadas pelas

novidades, que a vida a dois se tornara quase impossível na ocasião que

atravessavam.. E ainda mais, os filhos: como criar filhos em tempos

totalmente contrários à educação? E o preço em que ficaria uma família?

E as viagens que ele pretendia fazer à Eurásia?

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Alberto cada vez mais esfriava nos seus compromissos do passado. A

moça jovem e encantadora, sentindo necessidade da presença de Alberto,

apresentava seus argumentos em favor da instituição do casamento, falava de

filhos lindos como flores de um lar, onde poderiam encontrar a felicidade.

No entanto, a frieza de Alberto fê-la desistir de tentar convencê-lo.

E o tempo passou, ela desistiu de instá-lo e de procurá-lo, e o moço,

envolvido nas ondas do materialismo, e no prazer de “aproveitar a vida"

esqueceu-se completamente dos seus acertos no mundo espiritual e

dela, Rita, cuja imagem somente de vez em quando vinha em sua tela

mental, mas logo esquecia, pela força do álcool que passou a ingerir e

pela frequência a ambientes indesejados.

Para resumir, Rita, a companheira de Alberto, voltou para sua

terra natal, e uma profunda tristeza começou a invadir seu coração.

Depois, veio melancolia completa. Casou-se no mesmo ambiente rural por interesse

de seus pais e, certamente, seus; teve vários filhos, sem ter aquele sublime cuidado

de mãe, e morreu por displicência e desleixo com o próprio corpo, torturada por

enfermidade que escondera dos próprios familiares.

Ele, desde decisão de quebrar os compromissos assumidos, trocando-os pelas

ilusões do mundo, passou a ser dominado pelos vícios, e em

uma certa noite, apareceu morto nas ruas do Rio de Janeiro, onde se

encontrava morando, atropelado por carro desconhecido.

Miramez deu uma pausa e disse com bondade:

- Vê, Lancellin, como Deus é bom! Eles tornaram a se encontrar

aqui, e fazem agora novos compromissos, depois de muitas lágrimas. Rita

30
e Alberto estão se preparando para retornarem à Terra, pelo processo

da reencarnação. Que Deus os abençoe mais esta vez, de forma que eles

despertem para os compromissos assumidos, compreendendo o valor do

Bem e, acima de tudo, da caridade para com eles mesmos.

Senti aquele silêncio na alma, pelo silêncio de Miramez. Olhei para

ele com vontade de perguntar algo que me engasgava, e como estava

descontraído pelo ambiente de fraternidade, falei emocionado:

- Eu desejaria saber o porquê de tanto esquecimento da parte desses

companheiros, se saíram daqui firmados com um ideal de reajuste e

aprendizado. Não seria melhor que alguém do nosso plano os tivesse

assistido até o fim, para aproveitamento do próprio tempo, como sendo

ajuda para esses dois irmãos?

Miramez, com habilidade, respondeu serenamente:

- Lancellin... Depois das bênçãos de Deus que recebemos

antecipadamente em tudo o que precisamos, o resto é conquista nossa,

mas a bondade do Nosso Pai é tão grande, que concede a misericórdia

em variadas formas, como este ambiente em que eles se encontram,

a ajuda dos benfeitores espirituais, de onde nascem na Terra etc. No

entanto, a parte tocada a eles, eles devem fazer. Isso é lei, meu filho!

Quando criança, você é tratado como criança; quando adulto, você é tratado

como adulto. Compreendeu?

Não estava bem certo, mas senti que era verdade. Os outros

companheiros estavam conversando entre si, evidenciando que eles já

conheciam o caso de Rita e Alberto.

31
Fiquei pensando... E novamente perguntei:

- E desta vez, eles acertarão ou vão tornar a se desviar do programa!

Miramez, na sua simplicidade e sabedoria, esclareceu com interesse:

- Vamos aguardar, Lancellin, como os fatos se desenrolam. Creio

que eles melhoraram um pouco. Vamos pedir a Deus para que eles, desta

vez, cumpram os seus deveres e se saiam bem nos seus mandatos. Vamos

ajudá-los no que estiver ao nosso alcance.

Os dois, no banco, mal percebiam que estávamos ali, pelas trocas de

amor que processavam, quase do mesmo modo que da Terra...

Miramez percebeu que eu estava entregue às recordações e me disse

com certa energia, que fluía na entonação do seu verbo:

- Lancellin!... Recordar não deixa de ser uma boa coisa, mas

somente quando essas lembranças nos incentivam para as boas

realizações; do contrário, meu filho, as recordações podem nos impedir

de tranquilizar a consciência! A sua vez de compromissar-se com alguém

que o ama e que anseia por encontrar, vai chegar. Contudo, sem o

preparo devido, pode acontecer como ocorreu com esses nossos irmãos.

que se esqueceram do que fazer.

Senti um abalo no corpo, e o coração agitar-se, porque verdadeiramente

eu estava me lembrando de alguém, por ver aquele quadro nos rudimentos

do amor. Agradeci, pelo que pude colher de ensinamentos, e pedi a Deus

para me ajudar no aproveitamento do tempo e das companhias que, por

misericórdia, me cercavam.

32
No mesmo instante, apurei os ouvidos e notei, com alegria, que

próprio vento que soprava em todas as direções trazia até nós uma suave melodia

como que renovando forças e esperanças, assinalando o momento

de partir para outras bandas. Ali mesmo, sem nenhum constrangimento

diante dos Espíritos que passavam, Miramez orou a Deus e a Cristo,

agradecendo a oportunidade de sermos úteis mais uma vez.

"Senhor de toda criação!...

Estamos neste sitio de paz e trabalho, onde encontramos as melhores

oportunidades de servir e a mais fecunda escola de aprendizado! Todos os dias

aprendemos um pouco, pelos processos que a natureza engendra, para instruir

as almas em processo de despertamento. A cada dia que passa, encontramos

nova oportunidade para o nosso entendimento, como bênção dos céus para quem

começa o esforço na conquista de si mesmo.

Grande Luz do Universo!

As nossas mãos estão prontas para o labor, as nossas mentes esperam o

comando, e as nossas vontades estão acesas sob o comando do Senhor.

Jesus!... Divino Médico de todas as almas....

Ajuda-nos a compreender os nossos deveres ante os viventes da Terra!

Estamos ligados a eles e eles a nós, pelos processos da Benfeitoria Maior

e, assim sendo, deveremos dar-nos as mãos, como sendo um só corpo em Cristo,

para que as lutas possam ficar mais brandas, e os valores mais fáceis de serem

conquistados nas renovadas experiências...

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Estamos empenhados em acender a luz por onde andarmos, que seja um

ponto minúsculo, com é de nosso dever. Somos poucos companheiros, mas estamos

de mãos dadas para o avanço.

A ignorância medra em todas as divisões, e o mal já está organizado,

contudo ele é passageiro, e o Bem é o fundamento da vida, por ser Deus

irradiando amor... Já decidimos e é o nosso dever maior trabalharmos dentro

das sombras, buscando transformá-las, lutarmos junto aos de boa vontade, para

que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo cada vez mais cresça e encontre

condições em nós de nos libertar.

Abençoa-nos, Senhor, não nos favorecendo com facilidades, mas nos ajudando

a compreender as leis do esforço próprio, sabendo nos fortalecer diante

de todos os problemas.

Estamos de saída, como bem sabes, para o trabalho, e sabemos que vamos

encontrar o serviço-lição de que mais precisamos para o nosso bem-estar espiritual.

Graças te damos por esta oportunidade, e que outras mais possam ser flores

para os nossos caminhos.

Assim seja.

Sentimos algo diferente onde estávamos: uma luz, como um

fortificante etéreo, penetrava em nossos corpos sutis, dando-nos mais

alento para os trabalhos a que fomos convocados. Alguns dos que passavam

por nós na oração eram também beneficiados por esse ambiente de amor

que a prece sempre proporciona.

Miramez, com todo o esforço que sempre faz nessas horas, para não

se transformar, não teve êxito: ficou inundado de luz, desta feita de um

34
verde encantador que traduzia saúde. E todos nós fomos tocados por essa

claridade.

Os recursos que existem dentro de nós são infinitos; basta que

despertemos esses valores, e a chave para que eles cresçam se encontra

dentro do Evangelho de Jesus e da Doutrina dos Espíritos. Por intermédio

da mediunidade, fluem todos os dias páginas e mais páginas elucidativas,

dando maior entendimento aos homens sobre a obra do nosso Mestre. O

Espiritismo é, pois, revivescência do Cristianismo nascente e ainda mais,

com a amplitude que a evolução das criaturas requer. Todas as filosofias

no futuro se fundirão naquele princípio grandioso, o do amor, como

sendo um só rebanho, sob a tutela de um só Pastor.

Espíritos encarnados e mesmo os desencarnados vivemos dentro do

céu e ainda mais, disse Jesus: "o céu está dentro de vós". Somente nos falta

compreender os recursos que Deus nos oferece e saber usá-los. Todos nós

recebemos de Deus todas as oportunidades e condições iguais, no entanto

nem todos estão preparados e dispostos a aceitar a dádiva do Senhor.

Como o tempo estava nos convidando a agir, reunimo-nos em um

pequeno salão para ouvirmos do nosso guia algumas considerações sobre

o trabalho a realizar, porém, antes da conversa, nos deliciamos com a

música que sempre prepara os corações, despertando a esperança no

centro da própria vida.

Miramez sentencia com habilidade:

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- Vejam, meus filhos, este pequeno mapa! Será seguindo estas

diretrizes que vamos encontrar a região que devemos atingir, no entanto

o ideal não é somente atingirmos este ponto assinalado:

é termos éxito nos trabalhos;

não somente trabalhar,

mas sabermos trabalhar;

não somente descobrir,

mas sabermos achar;

não somente nos reunirmos para esse feito,

mas sabermos nos comportar;

não somente transmitirmos ideias pela força da telepatia,

mas conhecermos o momento de falar

e saber o que convém dizer.

Este e outros trabalhos da luz são uma ciência e, como ciência,

quem a usa deve conhecer, na sua profundidade, os fundamentos da

lei do uso e nunca entrar no abuso das forças universais, como se fosse

brincadeira infantil.

Vamos visitar uma região das sombras, das mais pesadas que existem

na atmosfera da Terra. São as trevas organizadas. Compete a nós todos

compreender os nossos deveres, respeitar o que lá existe sem função

do Bem, na Terra ou no Céu... O que chamamos de mal, pode ser o Bem vestido de

roupagem diferente, para despertar o próprio bem por sintonia. A visão do Espírito

vai crescendo para a claridade da intuição, de maneira que o entendimento

ultrapassa o pobre raciocínio.

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Não se admirem diante do que vejam. Deixem as experiências os

beneficiarem à vontade, sem que participem as emoções, pois elas gravam

os fatos com muita nitidez nos centros sensíveis da alma, o que torna

difícil o reparo para harmonização.

Estamos em um processo engenhoso de saber ver, saber ouvir, saber

falar (e, como neste caso agora, de saber escrever)... Desejo que possam

compreender o que estamos falando, mas não somente compreender:

viver aquilo que é preciso viver. Estamos a caminho das trevas, como se

estivéssemos a caminho da luz. Não devemos nos alterar com os fatos.

Cada alteração é fortalecimento para elas, cada admiração é contribuição

para o erro. Quem mais ajudou na fantasiosa construção do inferno e do

seu comando foi quem o criou para dominar o povo.

Terão oportunidade de ver, acompanhar e tocar inúmeros demônios,

que têm nomes variados, que partiram da criação, pelos próprios homens,

de religiões que usaram o nome de Deus e Cristo para alimentar a ignorância

e as convenientes satisfações pessoais. São, repitamos, criações mentais.

Vejamos o perigo da mente deseducada! Esses "demônios" são como que

cascões energéticos, comandados por Espíritos brincalhões e obsessores

pertinazes, Espíritos vingativos e muitos deles conhecem certas forças, usam

o magnetismo com o nome de hipnotismo, para provocar distúrbios entre

as criaturas, mas com as mentes dos encarnados que descuidaram do dever

maior da oração e de começar a viver o amor, que afasta todo o mal.

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Miramez fez uma pausa, como sempre procede ao nos falar, porque

um pouco de silêncio no momento adequado é como o sal na comida. E

prosseguiu, nos alegrando desta forma:

- O temor, meus irmãos, em tudo o que fazemos, é porta aberta

para o fracasso. Confiemos em Deus, que Jesus estará à frente, e tudo sorrirá para

nós. Atraímos o que vivemos, quando o bem domina o nosso

íntimo, não haverá lugar para o mal. Entreguemo-nos ao trabalho da Luz,

e a Luz não nos deixará no escuro.

Quando Miramez falou da criação do inferno e do diabo, olhei para

Padre Galeno, mas ele estava sério. Fiquei querendo perguntar a ele alguma

coisa, porém a educação pedia que eu deixasse para depois. E foi o que

fiz, ao terminar a fala do nosso companheiro em Cristo. Aproximei-me

do nosso querido e estimado irmão Galeno e ele, parecendo que já sentia

meus pensamentos, foi falando antes de mim:

- Pergunte, Lancellin, o que quiser. Estamos em uma escola, onde

não devemos esconder o que nos serve de esclarecimento!

Eu, meio pra - lá, meio pra - cá, disse com humildade forçada:

- Padre! O senhor ouviu?

Só isso bastou para que ele me respondesse com desembaraço:

- Sim, sim, Lancellin!... Ouvi tudo o que o nosso Miramez disse

acerca do que fizemos no passado e que hoje estamos colhendo o que

plantamos. Se fomos nós que fizemos, nós é que certamente temos de

fazer o que não deve ser.

E sorriu terminando:

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- Chi va piano, va sano e va lontano(devagar se vai ao longe|)

E arrematou:

- Olha, Lancellin, a verdade, meu filho, vai se despindo de acordo

com a evolução das criaturas de Deus. Não existe outra forma para

compreendermos com mais segurança as coisas da vida!

Fiquei com a orelha queimando, até com certa emoção, quando

Padre Galeno se referiu à colheita, e fiquei a pensar: será que eu também

plantei sementes de "inferno" e sementes de "demônio"? e a consciência

começou a me acusar. Acusamos sempre os padres e até os espíritos que

se apresentam na forma de padres!

Compreendi que já estávamos preparados para o trabalho e o que

se tinha de falar já tinha sido dito, no tocante ao nosso procedimento,

Via-se no rosto de Abilio estampar-se grande alegria, e ele comentou aos

meus ouvidos:

- Lancellin!... Cada vez que participo de uma caravana como esta de

estudo-auxílio, fico empolgado! Como é bela a vida, quando descobrimos

o que deve ser feito por nós! Já participei de muitas delas, e em todas tirei

muito proveito. Todas as vezes que estamos nos preparando para uma

viagem como esta, o nosso guia espiritual nos adverte sobre o padrão

mental que devemos conservar, mas, mesmo assim, de vez em quando

facilitamos. Temos ainda muito o que aprender acerca da educação da

mente! Quando a gente vê determinada coisa, mudamos o pensamento

em um instante; no entanto, a educação nasce do exercício.

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Abilio tocou no meu ponto fraco. Eu amo a teoria, principalmente

quando ouço os benfeitores espirituais, que sabem falar e viver, mas, na

hora em que devo colocar em prática, a coisa é diferente: passo apertos

enormes comigo mesmo! Já houve momentos em que Miramez veio em

meu socorro, ajudando-me a sair de vícios das ideias. É o mesmo processo

descoberto pelo cientista russo Pavlov; os pensamentos condicionados.

Vivemos tanto tempo na ilusão, que essa ilusão passa a viver dentro de nós.

Escutei de leve o que o Padre Galeno falava a Fernando e

com atenção:

- Fernando!... Muita gente na Terra, quando se envolve nas dificuldades,

quando observa problemas aparentemente sem solução na família e por vezes nos

seus próprios caminhos, quando analisa as guerras, a peste e a fome, começa a

esfriar sobre a crença em Deus. É, pois, um erro que agrava ainda mais seu equilíbrio

espiritual. Tudo o que existe, meu filho, são processos que nos levam ao

despertamento espiritual, senão de uma vez, mas realiza de muitas outras vezes, na

gradação que achar conveniente. Somente quando o Espirito se encontrar maduro,

nas hostes do Bem eterno, somente depois que o amor se tornar visível

em nossos corações, e que nos conscientizaremos desta verdade. Deus,

sendo Deus, nada iria deixar na vida o que não fosse para o nosso bem.

Sempre nos esquecemos disso! A luz nasce de Deus, mas só tomamos

conhecimento dela quando conhecemos as trevas!

E sorriu, como de seu costume, rematando:

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- "Bis dat qui cito dat!" (Dá duas vezes quem dá prontamente) O Senhor nos

dá sem demora, e nós devemos fazer o mesmo: ajudar sem demora, para ajudar

multiplicado, e ajudar sem demora é ajudar sem errar na ajuda!

Não ouvi bem o resto, mas notei que o Padre falava da oportunidade

de fazer o trabalho bem feito.

Pensei comigo mesmo: vamos para um trabalho nas sombras e

lá se encontram Espíritos que se esfriaram no sentido da educação

espiritual, por não conseguirem examinar os casos deles e dos outros

na profundidade com que deve ser; são almas revoltadas com o próprio

Criador. Desconhecem as leis que sustentam eles mesmos e que ainda

lhes concede determinada liberdade! E como ninguém consegue ficar

parado, passam a fazer o contrário das leis de amor.

Senti que a atmosfera começou a pesar. Havia alguns no nosso meio,

inclusive eu, que não estavam suportando mais a viagem. Parecia que

meu corpo espiritual pesava uma tonelada.

Miramez, sustentando-nos a todos, parou um pouco no cume de

uma montanha e nos disse com energia:

- Coloquem em prática o que aprenderam! Quando idealizamos

uma excursão, nos inspiramos em teorias; quando a fazemos, testamos

a prática. Todo trabalho de ideal elevado exige sacrifícios, toda subida

nos pede esforço. Concentrem-se na energia divina, visualizem-na em

torno de nós e respiremo-la com toda confiança que, por lei de atração,

ela nos procurará! O céu existe onde se encontra harmonia, o universo se encontra

todo em harmonioso ritmo e quem conseguir assinalar esse ritmo dentro de si terá

41
se apoderado da fé, que transporta todas dificuldades. E assim o trabalho será feito

com alegria. Pratiquemos o exercício de respiração profunda, para depois entrarmos

na rítmica! Se em todo lugar se encontra Deus, Ele há de estar aqui também!

Fez uma pausa para que pudéssemos meditar sobre o assunto e

voltou a dizer:

- Isto que estamos falando, quanto ao modo de respirar, meus filhos, é uma

oração por dentro, por intermédio do nariz espiritual. A prece existe em várias

modalidades!

Notei e todos sentiram a legitimidade da afirmativa ouvida do nosso

mentor espiritual. Em poucos instantes, o clima mudara, e eu já estava

me sentindo outro, como antes. Uma força poderosa penetrava em meus

centros de força, como por encanto, a até me esqueci do lugar em que

estávamos. E pensei: meu Deus, como a mente é tudo na vida da gente!

O nosso grupo parecia estar dentro de um sol, onde a vida era um céu. E

de novo veio a fala do nosso irmão Miramez:

- Procuremos conservar este padrão vibratório! A visão, para este

estágio em que nos encontramos, é uma porta perigosa. Ela, conforme

o que vemos, deixa passar imagens negativas para a consciência, e

começamos a viver na faixa daqueles que deveremos ajudar. E o pior é

que, se baixarmos as vibrações, nos tornaremos visíveis a eles e a situação

pode piorar para nós. A visibilidade só deve se dar quando for conveniente

e quando for útil para eles.

Parou um pouquinho e falou com ânimo:

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- A meditação é válida somente enquanto opera a transformação; depois disso,

é necessário que coloquemos mãos no arado, porque já diziam os nossos maiores

que a fé sem obras é morta.

Descemos por um despenhadeiro enorme; parecia um vulcão extinto e, quanto

mais descíamos, a atmosfera era mais pesada. A mente estava firme, mas algo nos

atraía para baixo, pelo menos a mim; porém, de visual nada víamos que pudesse

desconsertá-la. Somente a agressividade ambiente.

Continuamos descendo. Nada estava vendo, porém sentia que

filetes afiados - era esta a minha impressão - penetravam em meu corpo espiritual,

mas, como a mente se encontrava preparada pelo que ouvira e pelo que já

aprendera, resistia à violência dos fluidos deletérios. Descrever o que a gente sente

em lugares como esse é bem difícil, pois as palavras não retratam fielmente a

realidade. Além disso, também não é muito bom para os leitores, porque a mente

também cria o que lê, senão o que ouve e vê, desde quando não esteja educada.

A nossa descida levou uns quarenta minutos mais ou menos.

Acompanhávamos Miramez, no seu jeito de ave livre, mas, respeitando as

leis que regulam também as trevas. O silêncio da nossa caravana era total.

Tive vários ímpetos de perguntar alguma coisa que me inquietava, mas o

momento não era propicio. Não obstante, mesmo nos ajudando a todos

na descida e sustentando a nossa vibração, ele percebeu minha curiosidade

e falou dentro da minha cabeça, em resposta ao que me torturava:

- Lancellin!... Você vai ter oportunidade de verificar que esses

Espíritos que se encontram reunidos no interior da Terra não são tão atrasados como

você pensa. Eles têm alguma evolução, são conhecedores de algumas leis e sabem

43
respirar bem onde se encontram. Somente Espíritos doentes que ainda sentem as

mazelas da carne, não resistem a essas profundezas, mas estes que aqui se

encontram já dominam o próprio ambiente pestilento, do magnetismo ao alimento da

mesma ordem. Temos de tomar muito cuidado, pelo que já falamos, porque

vamos entrar para um covil de lobos, e a quantidade deles é sobremodo

assustadora a tal ponto de podermos chamá-los de legião das sombras.

Em comparação com o estádio Maracanã, do Rio de Janeiro, este lugar

em que eles estão reunidos passa a ser um fundo de quintal. Conhecerão

nesta noite onde se encontram as raízes do carnaval, que se processa na Terra, bem

como a quantidade de médiuns, seus representantes, que eles têm no mundo dos

encarnados. Como negar a mediunidade, se os médiuns são inumeráveis? Se

tirássemos uma fotografia dos homens nos três dias de loucura, com as suas devidas

companhias espirituais, e mostrássemos, muitos deles enlouqueceriam de

assombro. Entretanto, aproveita-se o desenvolvimento das faculdades, mesmo nas

linhas da dor e do arrependimento!

Fiquei ainda mais impressionado. Laivos de medo relampagueavam

na alma, ja visualizando o verdadeiro “Inferno de Dante”, no intervalo

que Miramez sempre deixava para a gente pensar. Porém, ele veio em meu socorro

dizendo:

- Não deves criar algo por suposição! Se emitir seu pensamento dessa maneira,

no lugar que supostamente pensar que é, será criada uma corrente fluídica de você

para eles e vice-versa, e você será envolvido nela, de maneira a ser um deles, na

pauta dos trabalhos que as trevas se propõem a fazer. Cuida de você, sustentando

as ideias de tranquilidade e de confiança nos poderes maiores, que nos sustentam a

44
todos. Lancellin!... Mesmo se encontrar, aonde vamos, personalidades que foram

distintas na Terra, distinção essa doada pela história dos homens, não se admire e

cuidado com as emoções! O momento é de ajudar ao Bem, e não fortalecer o mal.

Meu pensamento fogueava, e senti que começava um certo distúrbio mental, mas,

graças a Deus, pude me controlar, respirando profundamente. Senti também, pelo

pensamento, uma corrente energia imediata a penetrar todos os meus centros de

força. Dei graças a Deus, e a confiança me sustentou todas as intenções do Bem

que eu alimentava no coração.

De um ambiente escuro em que estávamos, passamos a percebe

algumas claridades. Paramos em um desvio da descida, parecendo

com um grande palanque. Miramez, sereno, com a feição que nos dar

segurança e nos imprimia respeito, foi nos dizendo com mansuetude:

- Meus irmãos, estamos chegando onde deveremos trabalhar!

Começa aqui e agora o nosso empenho de servir, mas servir por amor!

Enquanto ele falava, dividíamos a atenção e registrávamos um

vozerio infernal ao fundo do despenhadeiro. O ponto que asserenava

as nossas almas e nos despertava a confiança era a presença de Miramez.

Se não fosse ele, ou outro da sua estatura espiritual, eu teria voltado do

meio do caminho, por faltar coragem de enfrentar o desconhecido

somente em pensar, já tremia toda a estrutura dos nervos espirituais.

Acomodamo-nos ali no palanque, e a fala do guia espiritual prosseguiu:

- Os Espíritos que dirigem essa falange de entidades perversas e gozadoras

têm certos sentidos altamente desenvolvidos. Devemos cuidar da nossa estabilidade

vibratória, escapando, assim, da faixa deles. Isso aqui é uma organização, onde tudo

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funciona mais ou menos bem. Existe um policiamento muito grande em torno desta

aglomeração. Há mais de um milhão de Espíritos ligados aos trabalhos das trevas, e

procurando cada vez mais fazer os serviços bem feitos! Vocês assistirão aqui até

teatro, ensaio de passistas e de outros trejeitos que o carnaval na Terra apresenta

como cópia desta região.

Vamos descrever o menos possível, protegendo, assim, a mente

do leitor. Entretanto, um pouco eles devem saber, principalmente os

espíritas, para evitarem certos excessos e fugirem das influências do

Rei Momo.

Existem muitos compositores encarnados que são verdadeiros

médiuns dos Espíritos desta região, que cuidam de tudo o que se relaciona

com o carnaval. E muitos dos dirigentes desta zona discutem em defesa

de certo equilíbrio da própria atuação, evitando exageros em demasia,

para não perderem o domínio dos dias de loucura. "A evolução, dizem,

no campo dos desregramentos, tem de ser lenta, para que as autoridades

e mesmo as famílias se acostumem. Devemos ganhar terreno sem eles

perceberem; essa será a chave do nosso êxito.

Eu bebia palavra por palavra pronunciada por Miramez, e havia momentos em

que brotavam em minha mente perguntas e mais perguntas, pelo que eu nunca tinha

visto, por que Deus permitia aquilo, e outras coisas mais...

Miramez, sem perda de oportunidade, compreendendo a minha inquietação,

falou com tranquilidade:

- Lancellin!... O que significa assombro para você é coisa natural para Deus!

Certas emoções da primeira visão sempre acontecem; depois de

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outras visitas, você se acostumará e os acontecimentos se tornarão rotina,

passando a ser lições valiosas. Os processos evolutivos, o despertamento

das criaturas são variados, incompreensíveis às vezes para nós, mas naturais

para o Senhor do Universo. A primeira vez que visitamos um hospital

de doenças infecto-contagiosas graves, as emoções estragam a nossa paz,

mas, com o tempo, verificamos que a vida se constitui de tudo isso. As

doenças morais são piores, porém, para todas elas existem tratamentos e

o terapeuta maior é Nosso Senhor Jesus Cristo, e o medicamento infalível

é o Evangelho do Mestre. Estamos aqui como simples trabalhadores do

Cristo, como enfermos que desejamos nos tratar e progredir.

Deu uma pequena pausa, onde todos respiramos aliviados, e

prosseguiu na tranquilidade que lhe é peculiar:

- Meus companheiros!... é bom que todos fiquem sabendo que ainda existem

lugares muito piores do que este, mas o universo de Deus

em nada muda com esses simples fatos, que sempre aconteceram nos

estágios evolutivos dos Espíritos.

Ficamos pensando alguns minutos sobre o que ouvimos, e um certo

conforto penetrou em nossos corações. A nossa visão até aquele momento

estava sendo empanada por uma nuvem meio avermelhada, que foi se

desfazendo, e eu, pelo menos eu, senti sem que a minha educação mental

pudesse interromper, um abalo interno, ao ver aquela multidão de almas

desencarnadas, como se fosse um dos campos de esportes da Terra, como

lembrava, com muita evidencia, o velho e arruinado Coliseu de Roma.

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No entanto, o que já conhecia sobre domínio me veio à mente e me

serviu como água fria nos centros mais sensíveis, e logo me acalmei.

Pude observar um palanque todo requintado, que era o local do

comando do movimento, e ao lado havia um grande palco, onde se

apresentavam variados artistas, com os mais complicados movimentos,

onde o sexo parecia construir o ideal de todos os que ali se encontravam.

A fala de um dos dirigentes já tinha sido anunciada. A distribuição

de alto falantes era perfeita; ouvia-se nitidamente, por toda parte, a voz

retumbante de quem falava. Miramez olhou para mim com ternura e

disse com segurança:

- Lancellin!... Chegou o momento de você trabalhar! Va até o

Comando deste aglomerado de Espíritos ouvir mais de perto e sentir

o que eles são; tome algumas anotações para que possa descrever o

que ouvir e sentir em momento oportuno. Os nossos irmãos da Terra

precisam saber de certas verdades como essa, para que possam evitar

alguns convites da carne. O espirita, como sendo o mesmo cristão da

época de Jesus, deve compreender a necessidade de aproveitamento do

tempo, no serviço do amor.

Quis recuar, mas a noção de dever me fez silenciar e pensei

fortemente, dirigindo os meus pensamentos a Miramez, exatamente do

jeito que ora escrevo: "pelo amor de Deus, o Senhor me ajuda! Vou ficar

no meio das feras... E se por acaso!...'

E ele me respondeu de maneira suave, mas ao mesmo tempo enérgica:

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- Todos nós testamos as nossas forças algum dia, e o seu dia chegou.

É hoje! Aqui, no mundo espiritual, começamos pela teoria, falamos

e escrevemos, porém temos de dar exemplo daquilo que mostramos

para os outros como certo. Estaremos todos com você, se você estiver

conosco. Confie e avance! Ninguém luta com os braços cruzados! Quem

se movimenta no bem sente a mão de Deus a segurar a sua.”

E eu, naquele momento, entrei em oração. Confesso que foi um

prece diferente, como nunca fiz. Notava que o grupo orava comigo, como

se fosse uma só criatura. Uma energia que eu nunca tinha experimentado

corria por todo o meu corpo e uma grande serenidade apossou-se de

mim. Que coisa sublime!

Não precisou que ninguém me falasse; visualizei fortemente quem

estava com o comando no grande palanque, e lá me encontrei em poucos

segundos. Estava invisível aos que ali se encontravam, graças a Deus,

ao longe divisava meus companheiros envolvidos em uma atmosfera que

me dava mais segurança. Estava diante de sete entidades de feições duras

como se fosse um comando militar. O ambiente era pesado, para quem

não estava acostumado a tal ambiente; o magnetismo era impregnado de

violência e sensualismo.

Anunciaram um número de arte, que logo deu lugar a um samba

onde mulheres conhecidas na época como "mulatas” desfilavam de

maneira provocante aos impulsos inferiores. No intervalo, falou um

daqueles chefes sobre um tema dos mais atualizados, no que toca

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ao desregramento moral... Ele buscava o procedimento das velhas

gerações, comparando-o com o da atual, e dizia:

- Cadê o pecado do clero? Para onde foi o interno?

E arrematava:

- Aproveitem a vida!

E vinha um número de samba, com a apresentação das "mulatas”

com o título "Aproveita a Vida."

A plateia delirava, centenas copiavam a letra, aprendendo

música, solfejando canções que depois surgiriam na Terra, por médiuns

compositores.

E o anunciante sempre reclamava que a Terra era lugar de deturpação

onde uma letra era feita de uma maneira, e os humanos modificavam

sempre a melhor parte, "Contudo, fica sempre alguma coisa". Rematava.

Eu estava rente ao Comando, mas, como que oprimido pelas

vibrações e também por estar ali, onde o ambiente era desfavorável aos

meus ideais. Contudo, estava confiante na minha missão de levar aos

homens, se Deus o permitisse, alguma coisa acerca dos movimentos das

trevas, para alterar os bons princípios da moral humana.

Daí a alguns instantes foi anunciado com entusiasmo o nome de um

dos maiores que iria ocupar o aparelho, para falar a toda a assistência,

ansiosa por ouvi-lo. Quando ele saudou a multidão, ela estrondou em

saudação ao artista da palavra e do comando. E ele, orgulhoso pelo

momento e sádico nos seus jeitos, enfatizou nesta alocução:

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- Camaradas de trabalho.... estamos aqui, juntos, com a mesma

preocupação e ideais idênticos. Se assim não fora, não estaríamos como

um mutirão de almas que sofreram, pelas leis humanas, o aguilhão dos

interesses mesquinhos dos maus políticos e das religiões egoístas da Terra.

Para tanto, precisamos responder, acionando a lei de Justiça, de que os

humanos tanto falam. Vamos usá-la para bem corrigi-los. Se nós não

fizermos justiça, quem vai nos defender? As filosofias religiosas falam em

justiça divina e, acabando de falar, passam a perseguir! Pensam eles que

não sabemos das suas reuniões secretas, idealizando perseguições, usando

da maledicência para com os próprios companheiros? A hipocrisia entre

eles pesa tanto quanto o próprio corpo que eles carregam, equivale à

mesma quantidade do ar que eles respiram e ao alimento que comem!

Se existisse alguma justiça superior como eles dizem, mas não

confiam, nós não estaríamos jogados à nossa própria sorte! Onde se

encontra o céu? Se existe, está na posse dos ladrões, dos "lobos que se

vestem de ovelhas" termo que eles mesmos usam para nos maltratarem.

Acompanhamos a vida de muitos sacerdotes, de muitos pastores,

evangélicos e de inúmeros espíritas, nas suas pregações e no contrário

delas, que eles fazem. Se fossemos escrever sobre a vida desses religiosos

fanáticos, não sei se as letras suportariam tamanha vergonha!

Nós vamos dar a resposta a eles da seguinte forma: aproxima-se o

carnaval. A festa é nossa, pela lei que eles mesmo dizem, de atração; o que

somos, atraímos. Eles vão atrair o que estamos planejando, e devemos

51
aproveitar a oportunidade e fazer o que desejamos, usando os próprios

humanos como nossos instrumentos.

Os espiritas não falam muito da mediunidade? E isso que queremos!

Sabemos como ativá-los para tal empreendimento: é pela dança e a bebida.

Todos irão cair em transe, e vai ser uma sessão em todo o pais! Só que

a duração, em vez de uma hora e meia, será de três dias! Primeiramente

vamos influenciar os políticos para “soltarem verbas gordas". Esse é um

dos maiores incentivos para a ideia do domínio do Momo não cair; e a

outra ideia-chave é o sexo. Estimularemos o sexualismo por toda parte, nos

moldes que possam disfarçar na sociedade. Esse método nunca falhou.

A própria música completará nossas aspirações. Depois, vamos

atuar na imprensa, principalmente junto aos que defendem o carnaval.

Eles vão ser os médiuns-psicógrafos, para transmitirem as nossas ideias

para o papel. Mesmo que eles cortem alguma coisa, passarão outras que

nos darão vantagens no que pretendemos realizar. Não é preciso que

a gente explique tudo detalhadamente, porque estamos falando com

companheiros experientes e acostumados a ouvir muita coisa sobre o

assunto. São malandros que sabem vestir a fina lã de carneiro. As divisões

vão ser feitas como nos outros anos, só que com mais requinte, porque

a pesquisa nos mostrou alguma falha no ano passado. Desta vez, vão

comparecer, às escondidas, milhares dos mesmos religiosos. Para isso,

existe a ideia antiga das máscaras e das roupas que escondem aqueles que

não podem aparecer!

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Tomou um fôlego, como os grandes tribunos. Sorriu, acenando a

mão direita com um lenço vermelho entre os dedos, cuja cor de fogo já

denunciava as intenções, e partiu para o ataque, usando o verbo para

decadência de uma moral já em queda. Dos seus olhos partiam jatos energias

agressivas, de um roxo carregado a um tom de terra assustador, e

nos filamentos energéticos notavam-se as suas mais profundas intenções

de imoralidade. E tornou a dizer, com o peito saliente:

- Vamos acabar com a instituição do casamento! Casamento é sinônimo de

sexo, e sexo se faz quando quiser! A vontade é livre, lutemos

pela liberdade sexual! Libertemos as mulheres, que há muito tempo foram

cativas e, com elas livres, os homens gozarão da mesma liberdade. O

amor livre é o caruncho que irá corroer a sociedade já podre pelos seus

fundamentos. Para tanto, já estamos incentivando a abertura de motéis

por todo o pais, a maior indústria que existe no Brasil, o tal do “coração

do mundo", que vai ser a pátria da corrupção. Os países estrangeiros

estão em uma boa marcha, dentro do que pretendemos; o mais difícil

mesmo está sendo a tal “pátria do cruzeiro", de que somente vai lhe restar

o símbolo! O povo está gostando da ideia de motéis, porque a ação fica

mais escondida e, desta maneira, grassa mais em todo o país. Quando

aparecer algum problema, vocês já conhecem: o dinheiro resolve tudo.

Eu quero falar-lhes uma coisa muito séria para nós todos: o maior

impedimento para os nossos ideais não são os padres fazendo discursos,

não são os protestantes pregando nas ruas, não é a assistência social que

se faz até na área do governo, não são os congressos que realizam com os

53
religiosos de todas as estirpes, que só vão conversar e mais, com intenções

de passeio! As duas coisas mais perigosas que podem jogar todo nosso

trabalho por terra são: quando aparece alguém que começa a viver o que o

crucificado ensinou (e isso é um desastre para os nossos ideais; a vivência

dos seus preceitos irradia uma força irresistível que desorienta todas as

nossas aspirações) e a outra, que não é menos poderosa... sabem qual é?

Fez uma pequena pausa e disse com alteração:

- E o livro espirita! Procuremos desviá-lo, ou deturpa-lo dos seus objetivos, que

venceremos. Allan Kardec foi o maior agente contra os nossos princípios, porque os

seus adeptos são doentes e fanáticos. A razão nos convoca para colocar nos

caminhos deles os espinhos, de forma a impedi-los de caminhar! Anotem bem isso:

Livro Espírita! Essa influência é nociva ao nosso comando, e pode esvaziar as nossas

fileiras, que pretendem a justiça.

Vamos trabalhar no sentido de libertar mais o cinema, que já se

encontra bem encaminhado, os jornais e revistas, como também a televisão

(essa é a nossa melhor arma, porque entra em todos os lares, com a força

da imagem) Sei que estou falando a mais de um milhão de companheiros,

dos que puderam comparecer a esta importante reunião, e em que muitos

têm ideias mais ou menos diferentes; no entanto, conclamo a todos

para nos unirmos nos mesmos ideais. Liberdade! Liberdade sempre, que todos

encontrarão os caminhos da felicidade! Uma coisa devo repetir, em alto e

bom som, para todos os que me ouvem: se deixarmos esfriar o sexo nos

homens, tudo cairá por terra! Ele é a alavanca que move o mundo. E é bom

que nos lembremos de todas as suas modalidades!

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"Meu Deus..." quase deixei escapar do meu peito essa frase em alta

voz, mas, no momento senti dois dedos selando meus lábios trêmulos.

Esforcei-me para reconhecer e vi que eram meus conhecidos. Miramez

estava ao meu lado, graças a Deus, me ajudando no silêncio, como tem

costume de fazer. Respirei aliviado. Borbulhavam em minha mente

muitas perguntas a fazer, mas, reconheci que não era hora propicia, e

calei-me deixando para outra vez. Tive novo ânimo, por saber que o nosso

respeitável companheiro estava rente a mim, me ajudando a realizar um

difícil trabalho.

E passei a anotar novamente as seguintes palavras:

- Camaradas de lutas... Camaradas que adoram prazeres! Estamos

vivos, e mais vivos do que muitos pensam! Uma das boas chaves dos

nossos empreendimentos é a negação da nossa própria existência. Os

homens, não acreditando que a vida continua, é bem melhor para nós porque agimos

com mais facilidade ou, pelo menos, que creiam

que ninguém morre, mas entendam que não voltam para junto deles.

Devemos inspirar-lhes que a mediunidade dos espiritas é uma farsa,

uma boa ideia é a dos contraditores do Espiritismo, que afirmam que

tal do espirito é fruto do consciente, do consciente, do subconsciente ou

da consciência profunda, ou de outros nomes que queiram usar! Tudo é

valido, para que tenhamos ação livre.

Fechar as sessões de desobsessões é uma boa! Elas nos perturbam e,

por vezes, desviam os nossos companheiros do que deveremos realizar

na inspiração dos homens. Lembrem-se todos que o carnaval, para nós,

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é uma arma poderosa! Ele deixa um saldo positivo, ele ajuda a acabar

com a família! Cerquem de cuidados também esses grupos que estão

abrindo o Culto do Evangelho no Lar! Isso fortifica a ideia de unidade.

Encontramos na vida livre maiores prazeres e emoções sem conta!

Calou um pouco, e disse terminando:

- Vamos à arte, para descansar os nossos ouvidos e sentir o que falamos, pela

realidade!

Não fomos autorizados a falar mais. Esse pouco é para que se tenha

uma ideia da influência dos Espíritos das trevas, das emoções desregradas.

Pode-se analisar para onde se vai e o que está fazendo do tempo que lhe

foi entregue, nos caminhos do mundo.

Daí a instantes, estávamos novamente no palanque, onde me senti

livre das agressões vibratórias. Padre Galeno e os outros companheiros

se encontravam em altas conversações acerca dos modos pelos quais deveremos

ajudar sem agredir, trabalhar sem exigências e de amar a

todos como o Cristo nos ensinou. E eu, ansioso por saber alguma coisa, "flechei o

nosso guia de perguntas, que passo a descrever:

- Por que o senhor apareceu lá, junto a mim, que deveria testemunhar

sozinho diante das dificuldades no trabalho de aprendizado?

Solicito, respondeu com meiguice:

- Lancellin.... Deus sempre nos ajuda, até quando não desconfiam

do perigo. Você estava sentindo emoções que o tornaria visível ao

comando das trevas! E como somos seus companheiros de trabalho, pelas

56
bênçãos de Nosso Senhor Jesus Cristo, fui até lá fazer o que poderia fazer

em seu favor.

A emoção, desta vez de gratidão, foi muito grande e não resisti às

lágrimas. Quis beijar as mãos do nosso mentor espiritual mas ele não

permitiu, dizendo:

- Você já o fez pelas lágrimas. Ninguém ajuda sozinho. Somos muitos e a maior

parte é feita por Deus. Que Ele o abençoe sempre nos caminhos que pretende

percorrer!

Abracei os companheiros e descarreguei a minha humildade, se

verdadeiramente tenho, diante deles.

Notei que Padre Galeno e Kahena já tinham experiência naquele

trabalhos, enquanto eu e os outros era a primeira vez que deparávamos

com aquela legião de Espíritos induzidos pelo comando das trevas. Todos

nós nos encontrávamos em outra dimensão de vida, invisíveis a eles

como deveria ter outros invisíveis a nós. Como é grandiosa a vida!

Miramez pediu meditação e me falou dentro da cabeça:

- Lancellin!... Observa a ordem do Comando! Anote o que ele está

falando.

Agucei os meus ouvidos espirituais em direção ao palanque e anotei

assustado:

- Captura!... Captura!... Captura!... Alerta! Tem espionagem em nosso meio!

Alguém nos traiu. Verifiquem todo o mutirão e prendam os invasores.

Miramez nos pediu tranquilidade, neste termos:

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- Não se assustem com esse fato! Eles, muitas vezes, são dotados

de percepções, de maneira a registrar a presença da luz, no entanto, se

perseverarmos no Bem, seremos salvos das suas vistas e protegidas pelas bênçãos

de Jesus, nosso Mestre e Senhor. Confiemos em Deus, e façamos a nossa parte.

Tranquilizamo-nos e pudemos observar uma multidão de guardas ferozes a

vasculhar o gigantesco anfiteatro, se esse for o termo, mas nada encontraram.

Miramez, serenamente, deu toque em todos nós e acompanhamo-lo ficando

a uma determinada altura do aglomerado de almas. Trançamos as mãos uns

com os outros e ele passou a orar neste modo de agradecer:

- Deus, vrs bem sabeis onde estamos...

Queremos ajudar, mas, para isso, haveremos de nos esconder. A nossa

presença aqui é inconveniente. A luz neste sitio de incompreensão, torna-se

violência para eles. E o que fazer? Desejar o amor em silêncio, e para tanto,

pedimos a vossa ajuda divina. Eles desejam destruir o pouco do Bem que existe

na Terra e fazer com que os homens esqueçam a Bondade superior e a presença de

Jesus, como Mestre dos mestres. Entregamo-vos os nossos trabalhos!

Fazei de nós o que achais mais conveniente, para o maior entendimento

destas criaturas, porque sabemos que, hoje ou amanhã, eles irão compreender a

lição do amor e o porque Jesus veio a Terra.

Sabemos que muitos dos que aqui se reuniam antes já se encontram vestidos

de carne, lutando com as suas próprias naturezas inferiores e padecendo pela

colheita das sementes que semearam. Pedimos para esses que aqui se encontram

Senhor, que os seus corações despertem e compreendam qual o verdadeiro motivo

de viver.

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Tudo o que puderdes, dai-nos neste momento para que transfiramos para eles.

Jesus, Mestre de amor, abençoai estes nossos irmãos e derramai sobre todos

o entendimento da verdade.

Pedimos que nada acenda em nós e que tudo seja feito para o bem de

todos eles. Não desejamos destruir o ideal de ser alguém, seja ele qual for, mas

que o progresso, com a Vossa presença, faca mudanças, aperfeiçoando todas as

modalidades de lazer e purificando todos os sentimentos, para que o amor cresça

e liberte todas as criaturas que aqui se reúnem por sintonia.

Agradecemos essa oportunidade, porque nela aprendemos muito, porque

mal, se existe, é sempre para os que desejam fazer o bem.

Notei que estávamos dentro de um campo de força, de modo que nada

poderíamos expressar que pudesse nos tornar visíveis e, pelo que vi, pude

entender que era um circuito fechado de energias sublimadas, mas que

exterior não poderia perceber. E todos sentimos a misericórdia de Deus:

uma chuva de estrelas minúsculas caíam no aglomerado de Espíritos,

nas enormes escadarias, penetrando em seus corações espirituais. Eles

continuavam gritando e pulando, entusiasmados com uma apresentação

de arte, que de arte nada tinha mas sim, de perversão moral.

Observei tudo aquilo e pensei, usando o mesmo raciocínio de

homens: bem, agora compreendo de onde vêm as ideias para as revistas e

casas noturnas na Terra. Na verdade, todos os homens são médiuns: basta

ver aonde seus sentimentos estão ligados, mas que são médiuns, eles são!

Terminando, nos elevamos e eu estava com vontade de respirar

um ar mais puro e, graças a Deus, pude ver as estrelas, o que me deu

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grande alegria e quase "estourei" os pulmões espirituais com ar, como se

estivesse há muitos dias sem respirar. Padre Galeno olhou para mim com

satisfação e disse:

- O céu é bom, mas temos de conquista-lo. A subida e difícil, mas nos

prepara para a resistência. Nós não podemos criticá-los, por esse estágio

evolutivo, porque também passamos por isso e alguém, que certamente

amava as criaturas, nos ajudou a sair das trevas. O nosso dever é fazer o

mesmo com aqueles que se encontram na retaguarda. Ali existem criaturas

no momento de começar a implodir, e mãos caridosas os levarão para a

carne, onde a dor, os problemas e todos os tipos de infortúnios ajudarão

a limpar de suas consciências as escórias do passado... E passando a

trabalhar como seareiros do Bem comum, porque, Decendo dixitur.

Volitando em direção a nossa colônia, tive oportunidade de perguntar ao nosso

Miramez o seguinte:

- Por que desta vez não cogitamos de levar alguém encarnado no

treinamento de viagem astral?

Ele, sorrindo, espontaneamente respondeu:

-Lancellin... Este trabalho é muito perigoso para nós, quanto mais,

para os nossos irmãos encarnados! Nenhum deles suportaria as emoções,

que devem ser controladas! Ainda mais, com todo cuidado que temos,

ainda reflete no soma, com graves desastres. Lembre-se de que o que

você escreveu não foi um por cento do que se passou naquele mutirão

das trevas! Se fosse falar tudo o que viu, tanto entraria na faixa deles,

60
como carrearia essa faixa para o leitor. O visual, a leitura e a palavra têm

poderes sobremodo desconhecidos para a própria ciência dos homens!

Achei que não deveria perguntar mais e entrei em profundo silêncio.

Daí a pouco, vi como que um carro de luz descer sobre a nossa cidade

espiritual. E Celes perguntou a Miramez o que era aquela projeção de luz

nos espaços. E ele, tranquilamente, respondeu com muita atenção:

- Celes, aquilo que você vê são nossos irmãos maiores que descem de vez em

quando de planos superiores, trazendo algo para as nossas necessidades. Vamos

ter o prazer de ouvi-los e a alegria de vê-los!

Escutei aceso, querendo saber outras coisas, mas já estávamos chegando,

como pássaros que voltam ao ninho.

61
Capítulo 3 – A natureza fala

Ainda estava eu um pouco impressionado com os fatos anteriores, onde

assistimos a uma reunião das trevas em que planejavam incentivar os homens na

Terra ao desregramento moral, e pensava comigo: Gente, como pode! É para

assustar! Esse tanto de Espíritos esquecidos da vida no Bem! O trabalho

no sentido de despertar essas almas para a luz será muito demorado!

Demorei aparentemente pensando, sem nada pensar, e me veio uma

ideia: Se Deus está em toda parte, será que Ele estava ali? Como pode? A

gente acredita, mas fica pensando como encontrar o Senhor no seio de

uma confusão daquela...

Neste raciocínio interno, onde a mente pergunta, e a consciência

responde, Miramez me acode, nestes termos:

- Lancellin... Na verdade, Deus está dentro e fora de tudo o que existe, mas

nem sempre o interno e o externo reconhecem a Sua magnânima presença; depende

muito de cada coisa e de cada criatura. Somos dotados de todos os dons, mas nem

todos estão desenvolvidos, como existem muitas almas adormecidas, sem

qualidades para registrar a presença do próprio Pai dentro e fora dela. Entretanto, a

natureza fala de Deus na sua mais simples expressão, como se estivesse

conversando com o Criador. Se prestarmos bastante atenção, notaremos que o

Supremo Senhor nunca se afasta da Sua criação. Além de tudo isso, Lancellin, como

poderemos negar a presença da Luz naquele aglomerado de Espíritos que têm olhos

e não veem? És conhecedor das dimensões que existem e que por vezes não

percebemos. Além de Deus estar presente, da matéria primitiva aos aglomerados de

62
mundos, Seus mais chegados agentes nada perdem de vista e cumprem a Sua

vontade em todas as dimensões da vida. Aqueles irmãos não são maus; no dizer do

Cristo, eles ignoram a verdade e ainda mais, a ninguém estão perseguindo; eles

tramam armadilhas para eles mesmos. Esta é a justiça e a lei que sustenta o amor!

Na verdade, já conhecíamos estas coisas, mas, quando deparamos com uma

monstruosidade daquela, parece que perdemos a noção do que já conhecemos.

A colônia é cercada por dois grandes rios, nascidos em uma só fonte

e que se abrem como sendo dois braços a acolher essa região sagrada e

adiante, tornam a se encontrar, como o Rio Jordão na Palestina, que

forma o lago de Genesaré, ou Mar da Galileia.

Estávamos sequiosos pela natureza! Miramez tinha razão: a natureza

fala, e fala de Deus e de Sua grandeza com mais segurança, porque tudo

o que diz é em silêncio, para quem tem ouvidos para ouvir.

Após ligeira caminhada, paramos frente ao rio, onde uma queda d'água nos

mostrava a beleza do liquido grandioso, no seu volume exuberante. As águas eram

de um verde lindo, de uma limpeza extraordinária. Aproximei-me mais e senti a

verdade: a natureza fala! Senti cântico da água, toquei-a, e o magnetismo fluía da

sua mais profunda intimidade, como se fosse um sopro divino, na divina obrigação

de servir.

Vieram logo à minha mente inúmeras perguntas, que passei a formular:

- Estimado irmão Miramez, como pode essa água conduzir na sua intimidade

tamanha energia, de modo que só ao tocá-la sentimos o seu fluido visitar toda a

nossa sensibilidade, deixando um bem-estar indizível em nosso corpo? Será possível

63
a gente levá-la nas nossas excursões e toma-la nas horas de aflições, nos momentos

difíceis dos nossos trabalhos, ou dar aos enfermos quando for o caso?

Miramez, na sua postura de serenidade, respondeu com atenção:

- Lancellin!... A água, em toda parte, é uma bênção de Deus, que

se faz presente em nossos caminhos, a nos ajudar no nosso equilíbrio

orgânico e psíquico, na Terra e no céu. Aqui não se pode viver sem ela.

Onde nasce esse rio, os engenheiros espirituais do Mais Alto criaram um

campo de força, de onde dimanam energias estuantes, que se afinizam

na intimidade dos elementos da água, enriquecendo-a, de sorte a nos

descansar, proporcionando em quem a toma um bem-estar muito grande.

Devemos ver nela a presença de Deus mais intensa, pois é a natureza que

fala do Criador, da Sua bondade e do Seu amor sem limites.

Quanto a levá-la para as nossas lides espirituais, até que poderíamos,

pois ela existe aqui em abundância e tem toda a liberdade de conduzi-la para o nosso

conforto; contudo, o abuso coloca-nos na dependência

deste meio e de outros mais, existentes na natureza. E além disso, tudo

que contém nesta água, e muito mais, pode ser conseguido pelas nossas

mentes, quando se tem fé e confiança no poder superior. Já estamos sem

necessidades de muletas, de sermos crianças para sermos adultos. E no que tange

aos enfermos, meu filho, já tem quem cuida disso. Devemos ficar livres para

trabalharmos, exercitando o amor em todos os nossos passos, e quando por ai

estivermos, usufruir do lazer a que temos direito, aproveitar das bênçãos da natureza,

para o conforto e paz de nossos corações.

64
Fiquei extasiado com a conversa do nosso guia espiritual e não quis fazer

outras perguntas que havia pensado em fazer. E como os outros companheiros

estavam em silêncio, contemplando a natureza, fiz o mesmo. Via-se na feição de

Kahena a alegria em tocar a água, e me admirei ao ver dentro do rio peixes que não

se espantavam com a companheira como ocorre na Terra e, sem

perguntar, Kahena me respondeu a interrogação, dizendo:

-Lancellin!... Porque admirar-te ao vê-los? A vida se desdobra em todas as

dimensões e vibra em todas as faixas. Sei o que queres saber; eles não temem a

nossa presença, por não precisarmos de comê-los! Alimentamo-nos, como bem

sabes, dos elementos divinos que se estendem em toda a criação, por Deus. Tudo

que existe são nossos irmãos, por serem todos filhos do mesmo Pai que está nos

céus. Compreendeu? Na Terra, tudo é diferente, Lancellin!

Prosseguia:

- Os animais, aves e todas as espécies de viventes abaixo do homem,

temem-no, pela destruição causada por ele. Mas, esperamos em Deus

que, daqui a uns tempos, quando o amor fizer parte da vida humana, eles

passarão a respeitar os direitos dos outros, sejam humanos ou animais,

insetos ou mesmo as vidas invisíveis aos seus olhos.

Celes, ao lado de Padre Galeno, que é veterano na colônia, tocou o

de leve com a destra e enfatizou ansioso:

- Padre, e como surgiu a vida desses viventes da água neste rio de energias?

Padre Galeno, sorrindo, disse com carinho:

- Meu filho, a própria natureza fala! Tudo que você vê, sente e toca neste

universo de Deus veio d'Ele e vive n'Ele ainda mais o que escapa às nossas

65
sensibilidades. Os processos de como surgiu a vida aqui têm os mesmos

fundamentos da vida na Terra, com algumas diferenças, por mudar de dimensão.

Tudo isso obedece à lei de unidade no Criador, e nunca deveremos saber de coisas,

nem querer nos aprofundar demais na ciência, que não nos sirva de instrução

educativa. Toda revelação é gradativa, para não nos fazer mal. Isso, até para os

maiores desta colônia, Celes !...

Continua pesquisando muita coisa que ignoras, pois nada é dado

de "mão beijada"; as revelações, assim como a felicidade, são filhas do

esforço próprio. O que nos agrada muito é saber que o amor nos salva, e

nos coloca como sendo filhos da felicidade, sentindo-a no coração, pela

tranquilidade imperturbável da consciência. A interrogação constante é

uma fase dos Espíritos quando chegam aqui; depois silenciam, conforme

a dimensão em que passam a viver. As mutações são constantes.

Celes agradeceu ao Padre Galeno, e este encerrou a conversa dizendo:

Par est fortuna laboris' (A fortuna é companheira do trabalho). Quem trabalha

no Bem é sempre rico de conhecimentos. Fernando aproximou-se de Miramez e

passou a saber dele o seguinte:

- Estimado companheiro em Cristo! Por que a Terra se encontra empestada de

insetos, de uma variação incrível, que os homens lutam para eliminá-los, mas não o

conseguem nem mesmo com a ajuda da ciência? Falo mais dos insetos caseiros e,

ainda a praga na lavoura, que destrói alimentos, pondo em risco o equilíbrio

econômico!

Miramez, serenamente, respondeu com bondade:

66
- Fernando!... Essa sua pergunta põe em evidência a necessidade que têm os

encarnados de educarem a mente, no que tange aos pensamentos. Muitos dos

insetos se alimentam das vibrações dos homens, assim como dos Espíritos, que

pensam igual a eles, que chamamos Espíritos humanos. O magnetismo negativo da

vida às vidas inferiores. Observa, se já não o fez, que nesta colônia não existem os

tais por não encontrarem ambiente onde possam viver. As próprias pragas das

lavouras são atraídas da mesma forma. O dia em que o amor dominar todas as

frentes de trabalho, tudo o que surgir como vida é para ajudar na multiplicação do

Bem. Se os homens soubessem, ou se conscientizassem do valor do Evangelho na

própria vida, não fariam outra coisa, por benefício mais de perto deles mesmos.

Por isso é que o Cristo disse com propriedade aos seus discípulos: Eu Sou o

Caminho, a Verdade e a Vida. Seguindo Jesus, e vivendo Jesus, tudo o que aparecer

em nós e em torno de nos é acréscimo para a nossa felicidade!"

Fernando agradeceu e ficou pensando, como de seu costume.

Abilio, passeando ao lado de Kahena, atento às suas palavras, que eram

poucas, devido a sua maior atenção aos fenômenos da natureza, disse com

ansiedade:

- Kahena... Como surgem essas flores nos nossos parques, ou como surgiram

elas na nossa colônia?

A benfeitora espiritual, serenamente, respondeu com mansuetude:

- Abilio.... Na nossa linguagem, no plano em que habitamos é mais fácil

trocarmos ideias sobre os assuntos pertinentes às coisas que aqui existem, no

entanto, quando se trata de assuntos para serem passados para a Terra, é mais

67
difícil, pela pobreza da linguagem humana, em se comparando com as possibilidades

das comunicações no nosso meio.

As flores, aqui nesta colônia, como em todas as outras, são oriundas

da cocriação de Deus, ou seja a criação de Deus através dos seus mais

elevados emissários. Os cientistas siderais planejam variados tipos de

flores e frutos, de plantas de decoração, e demais árvores, com todo

carinho e amor, uns em forma de sementes, outras de minúsculas

mudas,... Depois, se sua cocriação agradar, que todos os pormenores

responderem a harmonia pela qual foi criada, eles oram aos céus, e a

vida vem de Deus, porque somente Ele pode dar a vida. A energia divina

se ajusta a forma, como sendo uma luz divina a dividir-se ao infinito, na arte de

reprodução. E por isso que falamos que a natureza fala! Ela fala na verdade do eu

Criador, expressando a vida dentro da eternidade.

A humanidade desconhece essas belezas, que existem em toda

parte, e muitas vezes não respeita as leis que nos assistem a todos. A

tendência do ser humano é destruir, e o homem é tão animalizado

ainda, que pratica a autodestruição, pelos processos que inventou como

as guerras, o ódio e a inveja; os países não se entendem, e a ganância

cria um ambiente de pobreza na Terra, sendo que Deus tem tudo e tudo

dá com abundância.

O Cristo desceu das esferas resplandecentes por amor, para nos

ensinar o AMOR, porque somente o amor nos salva. Pelo que sabemos

do amor, é o que João, o apóstolo por excelência desta virtude maior, nos

68
disse: Deus é amor. Somente isso basta para encontrarmos a segurança

do que estamos falando.

Abilio baixou a cabeça para o solo em que estava pisando e disse

baixinho:

- Tenho vergonha de olhar para cima! Sei que o Senhor nos fala por todos os

lados, mas tenho a impressão de que as estrelas são seus olhos!

Padre Galeno, que andava junto de nós, depois de grande silêncio, disse

sorrindo, às margens do Rio Verde:

- Eu desejava que sentássemos em baixo desta árvore, que nos convida para

a meditação, e não existe nada melhor do que ouvirmos, depois de certo silêncio, a

palavra do nosso estimado guia Miramez sobre o tema mais empolgante do Universo;

Deus.

Todos aquiescemos, sentindo alegria interna apoiando o convite do

nosso sacerdote. Sentamo-nos na relva macia e esperamos a fala, onde o

verbo mesclado de amor e sabedoria pudesse nos trazer algo mais sobre

o Criador do Universo. Depois de alguns instantes, o companheiro que

nos orienta nos falou com segurança:

- Queridos companheiros, que nos ajudam sempre a compreender

os segredos da vida, fazendo-nos sentir igualmente a Inteligência Suprema!

É de interesse comum de todos nós conhecer mais de perto nosso Pai

Celestial, na qualidade de vida maior onde todos vivemos. Falar de Deus

torna-se, para nós, uma grande alegria; representa um filho cantando um

hino de glória à Majestade Suprema, por nos ter concedido a caridade de

viver, assim como sentir a vida na sua mais profunda harmonia, até onde

69
o nosso despertamento possa atingir. Conhecer Deus na Sua totalidade,

somente Ele mesmo o pode; nós podemos perceber alguns dos Seus

atributos, mesmo assim, usando a pálida compreensão que atingimos, por

misericórdia do céu. O Senhor nos criou com uma consciência, engrenagem

divina dentro da qual se encontram registradas todas as leis que possam

nos amparar e essas leis, com o tempo, desabrocharão na frequência dos

dias, a intuição de que precisamos, na marcação da sua obediência.

Compete a nós outros pensarmos em Deus, em todos os momentos,

orar e meditar sobre Ele, para que, pelas vias dos sentimentos possamos

melhor compreende-Lo, nas diretrizes que devemos seguir. Ele, o Senhor

Supremo, sempre está conosco. A Sua magnânima posição foi, é e será

sempre a mesma, para com todos os seus filhos; a nossa fé, em se referindo

a Ele, é que é mutável, de acordo com o nosso despertamento espiritual.

O nosso Pai Celestial está em todas as faixas de vida e nos atende a todos,

conforme as nossas necessidades. Deus está no ar que ora respiramos e nos

entrega o que desejamos assimilar d'Ele, se pedirmos pelo conhecimento.

Deus se encontra nessas águas abençoadas, a nos oferecer os elementos

que nos dispusermos a requerer desse liquido, pela compreensão. Deus

está nas árvores que nos cercam, por variados processos. Se quisermos

algo d'Ele nesta dimensão, necessário se faz que O busquemos. Ele nunca

fechará as Suas mãos dadivosas e santas, quando se sabe pedir. A vida é,

pois, uma escola, onde o Senhor se expressa em tudo e nos fala dentro de

eterna harmonia espiritual. E voltou a falar na suavidade peculiar ao seu modo de

dizer:

70
Meus filhos!... O melhor canal de entendimento de que é Deus, são os

processos ensinados pelo amor.

Vejamos como Jesus Cristo viveu, o que Ele falou, e o que faz em favor de toda

a humanidade, como e certamente Seus verdadeiros seguidores! Todos os

fenómenos surgidos com o Nosso Senhor Jesus Cristo se basearam na caridade, na

fraternidade e no amor. Essa doação divina é que nos mostra a felicidade.

Se quisermos compreender Deus, meditemos n'Ele, mas a meditação

não pode existir sem amor, sem a paciência, sem carinho, sem tranquilidade

e confiança na Sua bondade. Quem começa a senti-Lo dentro de si, já é por

ter certeza que Ele existe fora também. E quem quiser ficar mais perto de

Deus, é só amar, porque é por excelência o atributo gerado no Seu coração.

Por enquanto, não poderemos acrescentar nada mais sobre Deus, além

do que já foi dito pelas grandes almas. Todos nós sentimos necessidade

de conhecer Deus mais de perto, e é muito justo esse interesse; contudo,

encontramos nas pesquisas certas leis que nos colocam uma barreira, a fim

de manter o nosso equilíbrio. O sol físico que mantém a vida na Terra em

que todos nós, aqui do plano espiritual, nos fortalecemos nele, é um foco

de vida, porém, para nos aproximarmos dele, para chegarmos mais perto

da sua intensa luz, é necessário que tenhamos crescimento espiritual, senão

sofreremos muitos desastres de difícil reparo. Se habitamos uma dimensão

da vida, suponhamos aqueles que estão na primeira. Não temos condições de

saltarmos para a terceira, sem passarmos pela segunda, pois a lei nos contém, a

adaptação é fato natural em todos os reinos. O homem de hoje, na Terra, pesquisa

o átomo, como pesquisava ontem a célula. Ele já conhece a matéria interatômica,

71
como o médico disseca um cadáver, conhecendo todos os seus órgãos. Mas, na

verdade, o homem ainda não conhece a matéria primitiva, e está tão longe dela

quanto o astrônomo moderno está dos limites do universo!

Assim como é para a regressão, o é para a ascensão; Os métodos de

pesquisas ainda são fracos para nos levar a conhecer as belezas de Deus e

a ciência da vida. Se ainda, mesmo residindo aqui no mundo espiritual, com alguns

passos à frente dos homens, continuamos estudando o corpo físico, que

desconhecemos, quanto mais o corpo espiritual e o espírito! E sobretudo, a Deus!

Mistério nunca vai deixar de existir, porque somente nosso Pai Celestial tudo

conhece e tudo sabe, sobre a Sua criação. Notamos como os homens se enganam,

querendo tudo saber e em certas épocas, tentando até mudar o destino da Terra.

Temos compreensão e sentimos misericórdia por esses homens, pois em tudo há

uma direção divina, que na hora precisa se serve dos próprios homens para acertar

e corrigir a direção das coisas. Quem ler com atenção a própria história, reconhecerá

o que estamos dizendo.

O que temos a dizer, ou a repetir inúmeras falas de todos os tempos,

é que Deus é Espírito, e importa que O adoremos em espírito e verdade.

"E a Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas", é o que fala

"O Livro dos Espíritos" na sua abertura, quando os Espíritos superiores

respondem ao Codificador Allan Kardec. É muito bom falar do Criador,

ouvir quem fala d'Ele, respirar o ambiente que se faz nas conversações,

porque desta maneira a vida se desdobra em nossa consciência,

refundindo n'alma, e nos conscientizando da verdade, como aumenta a

nossa confiança na Sua bondade.

72
Miramez fez outra pausa. As águas do rio nos davam a sensação

que tinham parado para escutar também; pássaros voavam em torno

de nós. Os peixes procediam da mesma maneira: formavam cardumes

magnetizados pela energia da presença espiritual, e as árvores balançavam

os galhos, como se fossem palmas estalando nos ares. O vento soprava

com encanto e brandura, enriquecendo o ambiente de elementos de mais vida... E

nós somente desfrutávamos dos encantos da natureza, que falava da urdidura na

sua imponente posição.

Miramez continuou com serenidade e firmeza:

- Meus filhos, ainda não podemos, nem sabemos falar profundamente de Deus,

mas, só em pensar n'Ele, o pequeno espaço que ocupamos se transforma em céu!

Esse é o Seu amor para conosco!

Luzes partiam de todos os reinos da natureza em busca do nosso

grupo. Miramez, com todo o esforço que notávamos que estava fazendo,

tentava não mudar, mas transformou-se: parecia um sol! A policromia era

a beleza da visão. Das suas mãos partiam jatos de forças, devolvendo à

natureza, compensando o que recebíamos, e o mais bonito era a harmonia

de tudo o que ali se postava, em agradecimento ao Criador.

Poderíamos dizer que estávamos assistindo a uma sinfonia de cores,

às margens de um rio, no mundo espiritual, que corria serenamente,

levando a sua mensagem de vida para os que desejavam vivê-la. Não tínhamos

expressões para verdadeiramente agradecer a Deus. Talvez o silêncio falasse

melhor, e foi o que fizemos, partindo para outros trabalhos. Adiante, Padre Galeno

suspirou profundamente e, sorrindo, disse como de seu costume:

73
- Abyssus Abssum invocat...(um abismo, chama – invoca – outro abismo) e

terminou: Quem busca a luz, atrai a luz. É o que devemos fazer sempre.

Saímos todos compensados pelas conversações e pelo ambiente,

e tomamos a direção do salão de música. O salão é de proporções

imensas, no entanto, é dividido em várias salas, para que os grupos

possam ficar à vontade, cada qual com a sua função; todos eles são

ligados à direção da colônia.

Sentamo-nos confortavelmente. Padre Galeno acionou dispositivo, e passamos

a ouvir a Melodia da Esperança, composta no mundo espiritual pelo famoso

compositor, conhecido na Terra pelo nome Carlos Gounod. Entramos no relax. A

música desperta na alma a harmonia, e esta é alimento para o Espirito... O padre,

abrindo os olhos, serenamente falou com satisfação:

- A música elevada é o mesmo amor que tanto procuramos, mas, em outra

dimensão.

E arremata:

- Como Deus é bom! Ele fraciona Seu maior atributo de vida para

agradar e ensinar a todos que compensa viver, que compensa amar!

Demo-nos as mãos, e alçamos voo em direção ao sul do pais.

Sentimo-nos dentro de um campo de força (se assim podemos dizer),

e era mais fácil notar que a energia partia do nosso guia espiritual, que

nos sustentava a todos. E ele, sem perder tempo no tempo que passa, nos

informou desta maneira:

- A nossa filosofia é o trabalho. Deus trabalha permanentemente, e

Jesus labora com Ele de segundo a segundo! Eis que estamos nos caminhos

74
do Mestre, seguindo as suas pegadas, portanto a nossa meta é o trabalho

Assim como nós partíamos para o sul, encontrávamos caravanas na

mesma faixa que iam e vinham no mesmo ideal, assistindo em vários

pontos da nossa nação brasileira, e esses movimentos alegravam-nos, por

saber que muitas falanges do Bem operavam nos serviços da fraternidade

semeando vida, onde poderia frutificar o amor. Miramez prosseguiu com

vivacidade e ponderação:

- Creio que estamos todos preparados para as operações a que nos

destinamos realizar, certificando-nos de que o Bem sempre vence o mal, em todas

as circunstâncias. Devemos trabalhar em várias áreas de assistência, onde o carinho

se torna ferramenta de luz, mas o discernimento é força que estabelece a justiça. Em

muitos casos, meus filhos, é a própria vida que fala mais alto o que deveremos fazer,

para tranquilidade de certas consciências!

Para mim, a sensação na viagem volitiva é grandiosa; o poder da

mente é verdadeiramente fantástico. Como pode a nossa mente...

O mundo espiritual está disposto e preparado para transmitir certos

segredos para os homens, sobre o poder da mente, no entanto, espera para

outra geração, por depender muito do uso que se pode fazer dela. Podemos

dizer que a felicidade depende, mas muito, de como usar a mente.

Miramez, pegando os meus pensamentos, sobre o modo de pensar,

acrescentou com facilidade:

- Lancellin!... Quando os homens descobrirem que a germinação de tudo que

precisamos se encontra nas ideias, e que respondemos

pelo que pensamos, não ficando somente na teoria, tudo no mundo irá

75
mudando como por encanto. Na Terra existem todos os canais para que

o amor e a sabedoria se estendam a todos os corações; só o que falta

é a renovação das criaturas que se dará, em uma sequência vagarosa, e

que se solidificará na ternura de muitos anos. Deus sabe disso, Jesus

é consciente desta verdade, e nós também. Quem quiser transformar a

humanidade em poucos momentos, talvez erre mais do que quem prega

a confusão. Esperar trabalhando é a nossa diretriz!

Queríamos ouvir mais, porém o nosso Miramez é por excelência

"homeopático". Sem percebermos, já estávamos chegando aonde precisávamos

chegar. Só víamos as belezas dos céus estrelando quando em viagem; ao

descermos, entramos na penumbra. O nevoeiro escuro tirava-nos a visão da

cidade e até a luz elétrica estava ofuscada, e reconhecíamos a sua ineficiência.

Considerando o mundo como ele é, e as promessas que assumimos para esses

trabalhos, nada reclamamos, nem pensamos em desconforto mas, em comparação

com o ambiente em que estávamos antes, a coisa mudou muito.

Ganhando as ruas de Curitiba, no estado do Paraná, entramos em

uma simples residência, mas nem se podia pensar em tanto desconforto.

Era a casa de Cento e Onze, já conhecido do nosso grupo, com várias

experiências em nossos trabalhos, elemento de certo valor, entretanto

meio fraco, por desconfiar em demasia dos seus companheiros e dos

próprios Espíritos que o assistem.

Antes de entrarmos, demos sinais de que estávamos chegando, e isto

bastou para que aparecesse o guia da casa, aureolado de uma claridade

76
segura, de modo a mostrar a sua tranquilidade interna. Cumprimentou-nos a todos,

dizendo:

- A paz de Deus esteja com todos os companheiros!

E acrescentou:

Sentimo-nos felizes em recebe-los, ainda mais, pelo que vieram fazer!

Entremos!

Miramez, adiantando-se, perguntou com delicadeza:

- E o nosso Cento e Onze?

Geraldino, o guia e companheiro daquela família, respondeu desembaraçado:

- Estimado irmão, Cento e Onze não tem passado bem. Mesmo com todo o

esforço que vem fazendo para melhorar, ele, de uns dias para cá entrou em uma

decadência psíquica muito grande. Apareceu aqui com um livro de sugestões da linha

do esoterismo, e quer fazer mudanças esotéricas, com a rapidez das leituras. E o

senhor sabe que isso é impossível, toda mudança requer tempo correspondente a

harmonia que deve ser fixada! Ele anda pelas ruas repetindo palavras horas a fio

criando, assim, choques e mais choques, na criação dos próprios pensamentos.

Notamos certo distúrbio na área mental. Sabemos que temos de ter paciência com

ele, pois isto é uma fase por que todos passamos; só sei que ele tem fome

de conhecimentos e, quando encontra, ingere demais. E terminou assim Geraldino:

- Como é dificil o equilíbrio!

Miramez olhou demoradamente para o guia da casa, deixou escapar

um leve sorriso e argumentou:

- Geraldino, meu filho!... Desejávamos que todas as criaturas da Terra

estivessem na posição de Cento e Onze! Ele vai indo bem, os caminhos são esses

77
mesmos, no entanto precisamos ajudá-lo naquilo que estiver ao nosso alcance. O

fanatismo é próprio do iniciante, como a teoria o é do pregador, ele vai ter várias

mudanças, até chegar a estabilidade emocional. O impulso de todos nós, quando

encontramos o caminho da verdade, é de querer passar por ele com velocidade

vertiginosa, não sabendo que com isso poderemos entrar por outras vias e precisar

começar de novo. São estes, porém, os processos de despertamento espiritual. Se

formos capazes de recordar o nosso passado, não encontraremos outra coisa, a

não ser os métodos que Cento e Onze está usando, e alguém nos tolerou,

como devemos fazer com ele!

Geraldino sorriu, com o "copo de suco filosófico" que tomou, e

nós aproveitamos a mesma oportunidade para aprendermos que as coisas

não podem ser do modo como pensamos e sim como elas são, do modo

que Deus estabeleceu.

Entramos na residência de Cento e Onze. Notamos duas entidades

espirituais conversando sentadas em uma poltrona e, pelo olhado de

Miramez, entendemos que deviamos nos aproximar das duas mulheres

desencarnadas e registrar a prosa delas. E foi o que fizemos, com muita

alegria, por estarmos à cata de experiências.

A mais nova atendia pelo nome de Cátia, e a de mais idade, Sônia.

Sônia perguntou à Cátia:

- Quando você conheceu Cento e Onze!

Cátia sorriu prazerosamente e lhe respondeu:

- Ah, minha filha, foi em um lugar muito especial! Ele dirigia um

carro com ansiedade, para um desses motéis aqui em Curitiba com sua noiva, mulher

78
asquerosa, cuja presença eu nunca suportei. E eu os acompanhei, aproveitando a

oportunidade de satisfação, e para mim foi uma experiência que valeu a pena: gostei

tanto, que nunca mais o deixei. E hoje nós dois somos um, no dizer dos amantes. E

a "cara", eu já fiz correr!

Gargalhava vitoriosa.

- E ele passou a ser meu amante! Todas as noites, ou quase todas, saímos

juntos, e o interessante é que Cento e Onze já me sente como se fosse sua mulher,

como fosse de carne e osso como ele! Isso é bom, isso é muito bom!

Notei que Padre Galeno aproximou-se de Sônia, levou a destra

sobre sua cabeça, e ela lhe serviu de médium. Sem perceber que estava

sendo instrumento para o reverendo Galeno, disse com tranquilidade

à companheira:

- Cátia, eu já fiz o que você está fazendo, há muito tempo, minha

filha! E quero lhe dar um conselho, que a experiência me ensinou: não

faça isso com Cento e Onze! Você já se encontra em outro

plano da vida, as sensações suas devem ser de outra ordem. A sua insistência neste

tipo de coisa vem perturbando o nosso companheiro! Eu não estou na qualidade

de dar conselhos, mas lhe peço que não faça mais o que vem fazendo!

Há duas semanas que eu frequento um centro espirita aqui em Curitiba.

Fui levada por uma amiga de infância quando na Terra, e graças a Deus,

encontrei a porta por onde devo conhecer a verdade. Quero me preparar,

Cátia, para ajudar não somente a você, mas a todos os que estão por aí perturbando

homens e mulheres, nesses ambientes de decadência moral. A minha intenção não

é fazê-lo sair dos motéis e espraguejá-los! Não, Cátia! É trabalhar dentro deles, com

79
as possibilidades que eu for adquirindo com Jesus Cristo, para mostrar aos que ali

frequentam que não vale a pena essa modalidade de amor, por vias que a própria

consciência não aprova. São satisfações passageiras e insaciáveis, que nunca nos

trazem tranquilidade. Estou falando assim por lhe querer o bem, como a todos

os que estão no seu mesmo modo de pensar. Sei que é difícil sair da onda

magnética do sexo, mesmo fora da carne, mas devemos fazer força para a

libertação, e é isso que lhe peço, para a sua própria felicidade!

Eu desejaria lhe levar para a escola que comecei a frequentar, e

quando você tiver algum preparo, se não quiser, como eu, trabalhar

nos antros onde prolifera a imoralidade, onde tisna cada vez mais a

consciência, poderá escolher outro ramo de trabalho, noutra área de

muito valor. O que lhe aconselho é trabalhar para a paz dos lares. Os

lares estão enfraquecendo com o aumento assustador dos motéis, por

serem eles de interesse de muitos administradores públicos, onde se

arrecada muito imposto. Torno a lhe falar, minha amiga: deixe essa vida! Você é um

Espírito.

As palavras de Sônia tocavam o coração de Cátia, e esta começou a

chorar, lembrando do seu antigo lar, na Barra da Tijuca. Suas filhas, seu

marido, seus pais. Dobrou a cabeça no ombro de Sônia e disse:

- Sônia, minha amiga, me ajude a encontrar o melhor! Eu, na

verdade, não tenho a tranquilidade como desejo tê-la! Sofro demais! Se

existe inferno, eu não estou dentro dele, por nunca tê-lo encontrado,

mas ele me achou, porque se encontra dentro de mim! Eu faço força

para sentir alegria com isso, mas você acertou, esse ambiente de

80
perdição não é o que eu quero! A minha consciência não aprova este

estado de coisas. Ajude-me!... Ajude-me a acertar... Eu quero ser feliz,

e felicidade sem Deus, eu já ouvi dizer que não existe. Leva-me para

onde você está indo e me ensine a escutar o que você está escutando

com o coração!

E nada mais pôde falar, pela emoção. E as duas mulheres choraram...

Padre Galeno usou dos recursos disponíveis, aplicando longos passes nas

duas irmãs em Cristo, falando-lhes dentro d'alma:

- Minhas irmãs, que Jesus abençoe seus corações, nos propósitos que se

dispuseram a seguir. Deus nunca esquece Seus filhos, ainda mais, quando esses

despertam para o bem!

As duas almas em pranto, no silêncio da noite, deixavam fluir do

centro dos seus corações uma luz com a qual ficamos admirados. De um

azul encantador, essa luz queimava os resíduos do magnetismo inferior

do ambiente e da própria atmosfera psíquica das duas, que seus antigos

pendores geravam.

Padre Galeno, terminando a sua fala telepática com as duas

companheiras, virou-se para mim e acrescentou:

- Lancellin, observaste o poder de Deus no coração transformado! O

arrependimento é um sinal de luz, entretanto não basta ficar somente

nele; é necessário seguir os conselhos do Cristo, quando diz: "aquele que

perseverar no bem até o fim será salvo.

Esperei o proverbio latino, mas ele não soltou desta vez; ficamos

meditando sobre as lições...

81
No dia seguinte, veríamos Sônia e Cátia entrando de mãos dadas

em um templo espírita, em Curitiba, repleto de criaturas dos dois

planos da vida, para assistir à exposição de um pregador que escolheu

como tema "A Mulher Adultera", até chegar na renovação de Maria

Madalena, mulher que o próprio Jesus escolheu para se apresentar

pela primeira vez, depois dos três dias no silêncio, entre o túmulo e o

resplandecer da vida imortal...

Bem, Geraldino nos informara que Cento e Onze havia dado uma pequena

saída, mas voltaria logo; que pudéssemos esperar e ficássemos à vontade.

Miramez passou os olhos em todos nós, e cada um começou

trabalhar naquilo que nos cabia fazer.

Kahena meditou uns instantes e saiu em busca da natureza, que cantava ao

clarão da luz; as estrelas, vivas como sempre, nos davam parecer que Deus andou

a semear no infinito luzes de variados matizes. A harmonia da criação extasia quem

busca os segredos do Criador... Pedi a ela licença para acompanhá-la, e ela,

prestativa, aquiesceu, dizendo:

- Lancellin!... Estamos acostumados a trabalhar e conviver com a natureza.

Para nós é coisa comum; não nos espantam mais os fenômenos

naturais. Ao contrário, somente nos causam alegria e um bem-estar no

coração. Contudo, para muitas criaturas é novidade. Tu, que gostas de

anotar os nossos trabalhos e tens prazer em perguntar, fica à vontade.

Desde quando sirva para melhorar alguém na Terra, nos enche de

felicidade esse seu trabalho. Estamos empenhados em fazer conhecer

certas leis de Deus na Terra, para que elas sejam respeitadas, de sorte a

82
trazer paz para os homens... E essa mesma natureza, que há mil e tantos

anos temos estudado com prazer, fala muito de Jesus Cristo; o Seu

Evangelho de luz está escrito nela, mais perfeito do que se encontra no

mundo dos humanos, em forma de livro!

Fiquei meio aturdido com aquela revelação de Kahena, mas me

controlei, para depois perguntar a Miramez como pode ser isso.

Agradeci a sua amável disposição e passei a acompanhá-la com interesse.

Kahena sibilou do seu jeito, e logo apareceram muitos indios ao seu dispor, e

penetramos em mata fechada. Ela conversava com eles, mas eu não entendia qual

era o assunto. Em dado momento, acercou-se de uma árvore muito bonita, flores

arroxeadas. Via-se um pequeno sorriso em seus lábios, e ela me disse:

- Veja, Lancellin!... o seu nome cientifico é Tecoma Impetiginosa, da familia

das Bignoniaceae, conhecido por muitos nomes populares, árvore muito famosa no

trato de certas enfermidades até incuráveis pelos homens, desde quando tenha o

toque da fé, com a mistura de determinados fluidos, que encontramos no suprimento

universal com abundância... Este é o Ipe Roxo. A sua casca é empregada em várias

doenças, como seja: impigens, leocorreia, inflamações artríticas, catarro na uretra,

sarna, serve para variadas feridas e é remédio que interrompe o crescimento da

próstata, descongestionando a mesma... Os índios recolhiam o material e dançavam

debaixo da árvore frondosa.

Kahena, estendendo as mãos diante da árvore, falou algo em uma dimensão

ininteligivel para mim; no mesmo instante, avolumou-se em

seus braços um plasma vegetal, de um tom branco gelo, com vida, e

obediente à mente poderosa da nossa irmā.

83
Ela acolheu com carinho a dádiva da floresta, agradeceu aos índios.

tocando um por um com gratidão, e partimos em pleno silêncio, para a

casa de Cento e Onze. Chegando lá, ele já se encontrava no leito, onde

procurava dormir, fazendo afirmações permanentes sobre a pureza, sobre

a coragem e a tranquilidade de consciência. A mente, já cansada das

repetições, começou a fazer afirmações para dormir, mas estava sendo

pior. O sono não vinha.

Miramez olhou melancólico para mim e disse com ternura:

Lancellin, não deixes de anotar isso, o que ora deves escutar! Os mantras,

como se costuma chamá-los, têm alguma utilidade; porém, depende do momento, e

de como fazê-los. Essa desordenação empregada pelo Cento e Onze cria distúrbios

mentais. Para dormir, necessário se faz esquecer-se de tudo e não gastar energias,

que devem ser reparadas com o repouso. Essas reações violentas da mente dele,

ao correrem por todo o sistema nervoso, atacam os pontos mais frágeis. No caso

dele, atacou a próstata. Veja como ela se encontra volumosa, e com pequenos

pontos avermelhados! Ela está servindo de bateria das descargas mentais violentas,

como raios em tempos de trovoadas. É bom que observemos! Vê!...

Miramez ativou minha vista e pude observar atentamente a criação

mental de Cento e Onze. A escrita não tem recursos para expressar

fenômeno da criação mental da alma, mas viam-se pequenas bolinhas de luz a

descerem no sistema nervoso, como um raio, perambulando por vários centros de

forças, onde descarregavam um pouco da sua energia e descendo pela coluna, a

descarregar na próstata agulhas já avermelhadas e quentes. Foi o que pude

constatar. Fiquei abismado por ver o quanto pode o pensamento.

84
Miramez, olhando-me dentro dos olhos, disse como velho professor:

- Viu? A mente cria e destrói; depende do uso que fazemos dela.

Kahena passou às mãos do nosso guia o plasma vegetal, com todo

o carinho que poderia ofertar, e o nosso companheiro demorou-se um

pouco com aquela bênção da natureza em suas mãos. Aplicou-a com

certos cuidados na próstata do nosso Cento e Onze, e aquele fluido foi

absorvido instantaneamente pelos tecidos do nosso irmão. Mais alguns

passes, e pudemos analisar a próstata normalmente, como a de um rapaz

festejando saúde.

O ambiente estava todo harmonioso. Fernando, Celes e Abilio já

tinham providenciado tudo o que era de suas responsabilidades. Padre

Galeno entrou em profunda oração, e Miramez, estendendo as mãos de luz sobre

Cento e Onze, consciente das duas vidas, convidou-o a sair do corpo.

Cento e Onze começou a estremecer. Miramez puxou-o mentalmente para fora

do corpo, e ele, sentindo reações esquisitas, debate-se para voltar, mas não

conseguiu. Pairou acima do fardo físico, afobado, mas o pensamento passou a se

asserenar. Sentiu-se mais leve e com alguma consciência.

Miramez conversou com ele mentalmente:

- Vem, meu irmão, lembra-te do teu compromisso! Já o esqueceste? Vem estar

conosco! Ninguém morre; o Espirito e vida, tu estás em viagem

astral e desta maneira, poderás reconhecer e firmar na consciência toda a

certeza de que a vida continua, por experiência própria!

Víamos um corpo sair do outro com certa facilidade, sob o comando

85
de uma mente poderosa, exercitando o Cento e Onze na caridade, mesmo

fora do corpo de carne. Isso é muito grandioso para a alma.

Procurei o cordão fluídico e logo notei, no encaixe dos crânios físico e espiritual,

e pude verificar um turbilhão de energias filetes intermináveis, para sustentar os dois

corpos.

Miramez adiantou-se explicando:

- Lancellin, o "cordão de prata", como o chamas, tem natureza psicofísica. Ele

se interliga ao corpo somático desde a sua genealogia; as suas raízes estão nos

centros de força espiritual, com bases no Espírito. Os nossos estudos sobre os

corpos têm um limite que respeitamos, pela evolução dos homens. A gente aprende

somente o que pode suportar; se pretendermos o que não suportamos,

criamos distúrbios na engrenagem da própria vida. Contentemo-nos com essas

pequenas posições de conhecimentos, que Deus, pela Sua bondade e misericórdia,

nos irá ofertando coisas novas, com as nossas novas melhorias.

Vi Cento e Onze registrando a nossa presença, mas estava meio

tonto, parecia embriagado, por falta de harmonia no campo mental.

Todos estávamos reunidos no quarto, inclusive Geraldino. Ajudamos o

candidato a ficar de pé no nosso meio, o que fez com muito custo. Viu

alguns dos nossos companheiros e ficou a cismar. Fernando aproximou

-se dele e falou com bondade:

- Meu irmão, somos teus conhecidos. Não te lembras?

Ele ficou olhando demoradamente e disse:

- Ah! Sim! Perdoe-me, estou me lembrando! Eu preciso de todos

vocês! Ajudem-me eu me encontro em uma situação embaraçosa: tenho

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sonhos horríveis, com mulheres me agredindo e forçando-me a fazer

coisas que não desejo! Eu amo a pureza espiritual, mas não tenho forças

para me manter neste padrão de vida. Como fazer? Preciso

da ajuda de todos os amigos espirituais; a carne é fraca, bem sabem!

Fernando tocou-lhe o ombro com simplicidade e falou-lhe

carinhosamente:

"Meu filho!... A tua libertação depende de ti; é para isso que estamos aqui Jesus

te oferece oportunidade de trabalho, e esse trabalho de caridade vai te ajudar a

libertar-te das trevas mentais e das más companhias espirituais. Nós atraímos o que

desejamos ser. Confia em Deus, que os Seus anjos dar-te-ão o amparo conveniente.

Estás esquecendo de orar e violentas em demasia a tua mente com sugestões. Tudo

o que forçamos prejudica a nossa harmonia. O que aprendeste das outras vezes, em

nossas companhias, ao cair do corpo e entrar no limiar do mundo dos Espíritos?

Ele pensou, pensou, e disse com alegria infantil:

- Agradecer a Deus por meio da prece!

Notamos Cento e Onze ajustar a mente, cerrar os olhos espirituais e falar com

humildade:

Senhor Todo Poderoso e Justo!

Perdoa minhas deficiências! Sei que nada sei diante dos que aqui se

encontram. Eles são meus guias a quem devo obedecer e ouvir.

Compreendo que essa é uma oportunidade que não mereço. Ela vem a mim

pelas linhas da misericórdia de Jesus Cristo!

Ajuda-me a ver as coisas mais santas, meu Deus, pelo menos as que se

encontram junto de nós!

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Desejo ardentemente melhorar moralmente, mas sem Tua ajuda, será

impossível. Porém, creio que não me faltará esse amparo que espero confiante.

Ajuda-me, Jesus, a pensar, a melhorar as minhas ideias, pois há momentos

em que não consigo!

Eu quero conhecer a mim mesmo e não posso me demorar

nesta batalha! Preciso sair vencedor, para ganhar a tranquilidade de consciência.

Estendo as minhas mãos em direção aos céus, pedindo as bênçãos do

entendimento e a luz para meus caminhos.

Convida-me Mestre, para ser um dos Teus seguidores, mas ajuda-me a Te

seguir. Agradeço, de todo o coração, a esses irmãos que me cercam com carinho e

ternura, que vieram me buscar para o trabalho do amor!"

Terminando a oração, lágrimas escorriam em suas faces espirituais e uma onda

e luz circundava seu corpo, dando-lhe uma expressão de maior alegria e bem-estar...

Cento e Onze viu Padre Galeno, tomou as suas mãos e beijou-as com

amabilidade, pedindo ansioso:

- Padre, ajuda-me no que desejo ser...

Padre Galeno, na tranquilidade que lhe é peculiar, responde com carinho,

passando as suas mãos em seus bastos cabelos, dizendo:

- Meu filho!... Já estás no caminho! Agora, basta andar com Jesus e por Ele!

Se confiante e confia no tempo, mas, juntamente com o esforço diário sem, contudo,

usar a violência em nada.

E arrematou em tom de brincadeira:

Basta de conversa! Vamos trabalhar!

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Cento e Onze observou, viu todos os componentes da caravana espiritual

dentro do seu quarto e iluminou-se de emoção, dizendo:

- Graças a Deus!

Miramez estava demorando a sair de dentro do aposento de Cento e Onze, e

eu desconfiei que me era oferecida oportunidade de observação; e foi o que fiz. Notei

que Cento e Onze flutuava, ora em pé ora inclinado.

]Ele olhava para nós, como que pedindo socorro, e Miramez lhe falou com

segurança: - Meu filho, a tua mente é portadora de todo o equilíbrio de que

necessitas! Podes equilibrar-te pela força mental, assim como entrar em insegurança

pelas ideias de medo e desconfiança. Já te foi ensinado tudo isso; não temos tempo

de repetir lições, nem perder tempo com irmãos que se esquecem das experiências

com facilidade!

Tornei a notar que Cento e Onze reagia, sem que ninguém tocasse

nele, e seu corpo espiritual foi se aprumando, até se firmar como nos

outros. Todos sorrimos, e Padre Galeno adiantou satisfeito:

- Você já está grandinho, meu irmão! O pássaro trata dos seus

filhotes no ninho, levando comida em suas escancaradas boquinhas mas, quando

empenadinhos, faz que eles saiam do ninho, em busca do seu próprio alimento!

Arrematando, o que nós já esperávamos:

- Ages quod agis!(Faze o que fazes, ou seja; presta atenção no que fazes)

Abeirei-me de Miramez, por estar inquieto por uma pergunta e busquei

entender:

- Por que os outros não encontram tantas dificuldades de se aprumarem

ao sair do corpo, como o mesmo Cento e Onze em outras ocasiões?

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Miramez, solícito, respondeu com facilidade, pelo domínio dos conhecimentos

possuídos:

- Lancellin... tudo no mundo muda de feição e de lugar! As mudanças são

constantes: o Sol e os planetas nunca permanecem nos mesmos

lugares, as correntes magnéticas são variáveis; igualmente os meridianos

da Terra são forças que circulam em muitas direções, e a atração e/ou a

repulsão se deslocam, como por encanto, em sentidos diferentes. É por

isso que cabe ai nesse caso a advertência de Jesus: Orar e vigiar. Devemos

estar sempre atentos com as mudanças, e mudar também. Deste fato que

você assistiu, se podemos entender muitos outros, e o aluno vigilante

sabe-se conduzir em todos eles.

Parou um pouquinho e disse com dignidade:

- Observando o corpo humano, verás como ele é "inteligente"! Não precisa, por

exemplo, perguntar ao Espirito, quando recebe um corpo estranho na sua

comunidade celular: ele usa defesas que encontra ao seu

alcance. Mesmo que possa sucumbir, não deixa de lutar vigorosamente!

Assim deve ser a alma, quando começa a descobrir a verdade, aquela que

trabalha em busca da harmonia, e sempre encontra a paz quem deseja

aprender. Esforçando-te, o saber procurará teu coração!

Pensei no que ouvi e fiquei pensando mais no que preciso aprender Cento e

Onze aprumou-se rapidamente, e nós saímos volitando sentindo as belezas da vida

e ouvindo o que ela nos falava.

Em pleno espaço, tive a ideia de observar o cordão fluídico, que liga

Cento e Onze ao corpo físico; ele brilhava um pouco, circulando numa

90
certa energia mas, como que pesada, e notava também a sua diminuição

de volume, pelo que avançávamos. Quando quis perguntar a Miramez o

que estava vendo, ele adiantou-se para Cento e Onze, dizendo com carinho:

- Deixe as recordações para outra hora! O momento requer outras atitudes. Se

não puder desfazer-te destas lembranças, voltarás para o teu corpo envolvido no

magnetismo correspondente aos teus sentimentos. Aquele que desejar trabalhar

conosco deve atender primeiro às necessidades do amor com Jesus Cristo! Não

precisei perguntar, e Cento e Onze, imediatamente, modificou-se, porque notei a

diferença que se fez no cordão de prata; a energia clareou, o brilho mudou, e ele

volitava quase sem ajuda da caravana desencarnada.

Descemos suavemente em uma cidade quase na divisa dos dois

países irmãos, adentramos a um pequeno hospital e fomos recebidos

amavelmente por dois benfeitores daquela casa. Atingimos um quarto

onde se encontrava uma moça em desespero. Pessoas entravam e saiam, e

notamos logo a existência de um obsessor terrível, manipulando a mente

do clínico e influenciando igualmente os pensamentos dos pais daquela

criatura, que se encontrava no leito, em estado de adiantada gravidez.

Seria uma mãe solteira, e tudo indicava que o aborto era a solução, não

para o estado de saúde da paciente, mas para o conforto moral dos genitores.

Imediatamente Miramez isolou os filetes fluídicos que partiam do

Espírito das sombras ao médico e aos pais da vítima. Depois, olhou

para Kahena e esta, junto com Cento e Onze, do qual se servia como

instrumento mediúnico, pôs as mãos na base do crânio da paciente. Esta

começou a ficar inquieta no leito.

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O Médico entrou no quarto e mandou ajeitar a futura mãe na posição que lhe

facilitaria o trabalho nefasto, mas, quando ia começar o trabalho idealizado pelas

trevas, Miramez emitiu um pensamento em sua cabeça e lhe disse com energia:

Já verificaste a pressão da paciente. Se há pouco minutos, estava tudo bem,

tudo pode mudar de momento a momento. Essa é a lei!

Ele ouviu claramente, como o benfeitor queria, pegou o aparelho de medição,

ajeitou-o no braço da moça, enganchou o outro lado aos ouvidos para auscultar o

coração e assustou-se, concluindo:

- Não podemos fazer nada hoje! Está com a pressão arterial

elevadíssima; pode morrer neste parto forçado!

Desfez-se dos equipamentos e mudou os medicamentos. Saindo apressado,

foi interrompido pela família no corredor, mas foi dizendo, antes de ouvir:

- Hoje não é possível; pensemos nisso depois!

O pai ficou furioso, pela quantia que pagara, porém a mãe saiu da

faixa das sombras e disse:

- Fulano, antes a vida do que a morte! Deixa que a nossa filha tenha

a criança! Piores embaraços já passamos na vida. Se esta é a vontade de

Deus, que se cumpra o que está determinado por Ele!

O marido, irritado e ao mesmo tempo admirado pela mudança da

companheira, e pela autoridade com que sua esposa falara, acalmou os

nervos, e o ambiente foi criado pela defesa de uma vida!

No mesmo instante, percebi que quem estivera soprando aos ouvidos

da mãe da paciente fora Fernando. Gostei, abraçando-o com ternura.

Admirei-me como o trabalho fora feito por sintonia, sem que eu notasse

92
combinação antecipada de alguém, nesta sutil operação de valores!

Celes e Abílio estavam vigiando o apartamento, e Padre Galeno

aproveitava a oportunidade para conversar com umas enfermeiras

desencarnadas que estavam trabalhando na casa de saúde, antigas irmās

de caridade da região.

Cento e Onze, com os consertos que foram dados nele pela palavra reagiu e

postou-se como um verdadeiro aprendiz, orientado por Kahena na transfusão de

energias que a necessidade pedia.

Afastado o médico da influência nefasta, a enfermeira media a pressão

da moça de hora em hora, mas essa não cedia. Então, foi aconselhado,

por mais dois terapeutas da casa, bastante repouso, e aos pais da paciente

que voltassem ao lar e ficassem tranquilos, no tocante a vida da filha.

Depois de tudo normalizado, voltamos para a casa de Cento e Onze, já

refeito das energias gastas na prática do Bem. Descemos no seu aposento

e notamos o seu corpo desfeito, rosto trancado e sono intranquilo.

Olhamos para Miramez, e ele nos esclareceu:

- O que observais é produto das descargas de pensamentos inferiores! Quando

volitamos, o cordão de prata é como fio-terra, e no “corpo - terra", o sistema nervoso

se desequilibra com as energias degradantes, emitidas pela mente em decadência.

A educação dos sentimentos é meta prioritária do trabalho dos Espíritos superiores.

Os tempos de todas as escolas religiosas e filosóficas cuidarem disso, para que

possamos fazer da Terra um paraíso, onde os anjos possam frequentar, sem que

nós nos envergonhemos diante deles, estão chegando.

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Cento e Onze despediu-se de todos nós, com gratidão, e notamos

suas lágrimas fáceis rolarem pelas faces; quando ajudado e apoderar-se

do seu corpo, acordou, sofrendo a violência das energias que estavam

circulando nele, e que ele mesmo enviara em viagem.

Olhei para Miramez, pensando: "mas ele não estava no serviço do

bem?... Não notei seus lábios se moverem, mas ouvi, dentro da cabeça

a sua voz límpida e harmoniosa: "Ele está colhendo, Lancellin o que

semeou... Depois, irá sentir o conforto do que fez na área da caridade!"

Oramos todos juntos e partimos para a colônia, onde o ambiente

era aquele céu que tínhamos deixado antes, registrando na consciência

tudo o que a natureza falara aos nossos corações!

Para que possas avaliar os trabalhos realizados no hospital, evitando-se

abortos com a ajuda de Cento e Onze, depois de certo tempo ver-se-ia em um

grande alpendre, balançando-se em uma rede, um velho com grandes e ásperos

bigodes, com a maior das alegrias que já tivera: uma linda criança, fazendo confundir

seus sentimentos de pai e de avô e, no momento, sentia-se como sendo a própria

mãe.

E que Deus abençoe quem trabalha em defesa da vida.

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4 – Mediunismo na função coletiva

O nosso assunto, aqui na colônia, é, em grande parte, em relação aos

encarnados: os processos de trabalhos que deveremos desenvolver em favor dos

homens, a reencarnação dos Espíritos, a comunicação dos mesmos com os seres

da Terra e o mediunismo que se processa em toda parte. Acode-nos a consciência,

em todos os momentos, para não perdermos tempo diante de tanto serviço; a luz

constitui-se uma semente de Deus, que deve nascer em todas as direções. Quem já

a cultiva no coração, que se apresente como voluntário para os trabalhos, que a paz

é o objetivo e a caridade, o maior ideal no caminho.

Fomos convocados para analisar as interferências dos Espíritos

desencarnados nos trabalhos dos homens, como também a nossa assistência nos

casos em que é necessário. Em muitos deles, a sintonia do encarnado com os

desencarnados não permite interferência. Os dois polos se atraem por analogias de

sentimentos.

A mediunidade é lei universal; não podemos negar o sol, quando brilha no céu

a nos sustentar a vida. "Devemos repetir essa verdade absoluta: somos todos

médiuns!" Quando não somos intermediários dos Espíritos, somos de outras forças

que intercruzam o universo de Deus. Aqui, provavelmente, vamos narrar muitos

casos, para que o leitor possa deduzir e tirar as suas conclusões acerca da

mediunidade, do ser intermediário de alguma coisa.

O ambiente da colônia é de recuperação de energias, como de

instrução em todos os ramos do saber. Desde quando os candidatos não

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estejam na qualidade daqueles referidos por Jesus, ao afirmar que não se

deveria lançar pérolas aos porcos.

O intercâmbio nas colônias, principalmente as que conhecemos,

é enorme, e isso é de grande valor, na troca de experiências. Sempre

chegam grupos de companheiros de outras regiões, nos trazendo novas

ideias e levando conclusões. Nada se perde, no trato com novos amigos.

Nós pediríamos aos espiritas da Terra, nos seus constantes encontros,

para aproveitarem mais tempo, aliviando um pouco as teorias e partindo

para a prática, indo imediatamente as ideias que frutificam.

Muitos médiuns oradores buscam, em primeiro lugar, os admiradores

da sua palavra, ou dos seus demorados discursos, que a memorização

proliferou em suas mentes, esquecendo-se que a vaidade pode interromper seus

mais sublimes sentimentos de amor e de caridade.

Os comestíveis, os namoros e as roupas bem-postas não deveriam ser a

prioridade nos conclaves e nos congressos, nem partir dos trabalhos para as

conversações mais simples, sem imposição. Nesses ambientes, há sempre quem

tenha mais facilidade de sustentar uma conversação, e é quem tem sempre razão

nos temas apresentados. Isso é uma ameaça para a Doutrina dos Espíritos, em que

se revive o Cristianismo.

Uma das primeiras coisas que os organizadores deveriam se lembrar, nos

congressos ou nos encontros espíritas, é a organização de livrarias, incentivando os

companheiros a adquirirem boas obras, e para quem já as tivesse em sua biblioteca,

a intuição não faltaria, indicando-lhes a destinação. O Espiritismo sucumbiria se não

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existissem os livros que indicassem os caminhos de Jesus, que norteassem os

irmãos para o amor e a caridade, como únicos roteiros para a felicidade!

Se hoje muitos conhecem as leis espirituais e têm facilidade de entender o

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, é graças ao livro espirita. Se a doutrina

está segura nesta nação, como se encontra, é devido ao livro espírita. Se ela é

respeitada entre os grandes homens, intelectuais, políticos e mesmo religiosos, é

pela força do livro espírita. Por que negar esse livro nos eventos onde o maior

interesse é divulgar a doutrina?

A justificativa de que é falta de recursos para aquisição dos livros não

é procedente, pois esse dinheiro não falta para alimentar certos vícios e

hábitos, que são constantes; para acompanhar Jesus, não pode inexistir

um dos mais belos gestos cristãos: a renúncia.

Acabara de tomar essas anotações no salão de música, quando

despertei para ouvir algo que nos enchia de alegria: o ambiente retumbante

de sons, da dimensão em que habitamos. Esses sons estimulam nossos

centros de força a ampliar qualidades e a distribuir energias sutis em

todas as direções.

Notei Miramez em uma mesa de trabalho, marcando um mapa e definindo

tarefas, onde certamente deveríamos operar, e eu deveria preparar as devidas

anotações, de modo a escrever depois, através da mediunidade, fenômeno que

vamos enfocar mais nesta escrita. Estamos empenhados em mostrar aos homens

que eles são mais acompanhados de desencarnados do que pensam, e são

certamente atraídos por sintonias.

Os afins se comunicam com mais facilidade.

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Esta é a lei.

Grupos de Espíritos entravam e saíam, no ritmo comum que

conhecíamos, e os volumes que relatavam os trabalhos realizados eram

entregues em uma secretaria, onde eram cuidadosamente guardados, por

processos ainda desconhecidos na Terra. Às vezes, víamos amigos íntimos

entrarem no salão de música mas somente trocávamos olhares fraternos e

sorrisos, por nos faltar tempo para demoradas recordações.

Kahena consultava alguns pergaminhos que lhe fazia entender melhor a

natureza, na profundidade que ela já podia conhecer; suspirava de alegria e, por

vezes, beijava os escritos com gratidão e respeito. Os outros companheiros

quedavam-se em pleno relax, sem que a preguiça se manifestasse, mas somente

harmonizando o campo energético de forças internas, por intermédio das melodias

ouvidas...

Eu olhava tudo, com a mesma fome do primeiro dia que entrei na colônia. Padre

Galeno olhou para mim, bem disposto, e falou com carinho:

- Lancellin, meu filho, tu especulas demais! Sei que tens fome de saber, mas

quem come demais interrompe a própria digestão! E como ele sabia que eu gostava

dos seus provérbios, não deixou de dizer:

- Volenti nihil difficile...(nada é difícil a quem quer) mas, deves querer com

parcimônia!

Desta vez, tínhamos de atingir a Terra durante o dia, para inúmeras

experiências.

Todas as vezes que formamos caravanas para estudos, sentimos muita alegria

e aquela esperança indescritível no coração. O relógio da Terra deveria estar

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marcando mais ou menos sete horas, conforme a região. Era uma manhã linda!

Aprumamo-nos no espaço com todo o entusiasmo de servir. A visão espiritual no

nosso plano é bem diferente da dos encarnados. A gente vê mais profundamente a

natureza e a escuta com mais nitidez.

Quando volitávamos ao clarão do astro rei, tivemos a curiosidade de examinar

os filetes de luz, que são despejados em profusão, do grande foco de luz para a

Terra. É como que chuva intensa, e ela, a luz, é veículo para outras forças mais sutis

da vida. Como é saudável essa visão! O Sol, verdadeiramente, é uma bênção de

Deus que se irradia em todas as direções, aquecendo coisas e despertando vidas.

Ele é indispensável, mesmo no plano espiritual da Terra! Velocidade incrível a que

desenvolve a luz! Ela desliza velozmente pelo colchão etérico, atingindo todos os

pontos idealizados por Seu Criador.

A luz solar obedece à lei da transformação, para servir com mais eficiência. Ela

transmite a vitalidade oriunda do Sol, para o enriquecimento do ar, cujo volume é

gigantesco, tendo no centro a Terra. Essa claridade gloriosa manifesta-se na água,

cedendo a outros princípios das leis, favorecendo aos viventes da água meios para

viver e progredir.

Essa mesma luz usa das árvores para transformar elementos, depurar

ambientes e purificar a própria atmosfera! Ela valoriza o solo, colocando-í

em condições benéficas para a própria lavoura! Esses mesmos raios solares

desintegram o magnetismo inferior, cuja presença nasce da invigilância dos

Espíritos encarnados e desencarnados, que ainda não conheceram a verdade.

100
Enfim, o astro solar tem inúmeras funções, que por vezes desconhecemos.

Por isso sempre falamos que o Sol é a mais perfeita expressão de Deus em relação

a Terra, proporcionando a vida física.

Pedimos desculpas pela prolixidade porque, quando começamos a

falar da natureza, embalamos o coração no mesmo ritmo da sabedoria

divina, que tudo fez para a paz das criaturas; e nós custamos a conhecer essa

essa verdade!

Descemos suavemente em uma grande cidade brasileira, onde o progresso

estava começando a perturbar a harmonia dos que desejávamos ajudar a manter

uma vida mais espiritualizada.

Na principal avenida passava um carro em alta velocidade,

comparando-a com a estipulada pelo trânsito local. O carro, por fora,

mostrava quem estava dentro, dado o seu luxo. No banco traseiro, duas

personagens ilustres; dois médicos bem postos na vida, pela fama e pelos

bens que possuíam, com várias clinicas de renome.

Miramez ordenou-me telepaticamente que seguisse aquele carro para

importante aprendizado, ao que prontamente obedeci.

No banco da frente, com o motorista, três entidades conversando

animadamente sobre variadas questões. Eles também tinham sido médicos

no passado, sendo que suas vidas, mesmo diante dos compromissos

jurados ante os seus diplomas e as autoridades que os conferiram,

não evidenciaram respeito a seus ministérios, usando a medicina para

satisfação própria e desregramentos em vida fácil. Os três Espíritos

101
estavam atentos à conversa dos médicos encarnados, e já há algum tempo

estavam influenciando aqueles homens da ciência.

O carro de luxo parou em frente a uma mansão transformada

em clínica médica, onde o dinheiro era fácil de ser movimentado. No

entanto, para a posição dos dois famosos médicos, estava sendo escasso,

em decorrência das altas despesas.

Entraram e logo foram ajudados a vestirem seus aventais, que

indicavam sua profissão. Neste interim, as entidades desencarnadas

também entraram, já também transvestidos de terapeutas. Tinham

prazer em lidar com as mulheres no respectivo ambiente da profissão e

usavam os médicos encarnados como instrumentos, como médiuns que

poderiam manipular e realizar seus desejos.

Mais uma vez, debatemos aqui sobre o fator sintonia espiritual. Vamos analisar

a conversa de um dos médicos desencarnados, que usou a medicina para seu

proveito próprio e pelos mais extravagantes meios! Esqueceu o ministério da

profissão, como sendo um sacerdócio!

Ele aproximou-se de um dos clínicos encarnados e passou a soprar

em seus ouvidos, na sutilidade que lhe era própria como Espírito das

trevas, acostumado a manejar seus companheiros encarnados, quando

encontra ambiente e sentimentos afins. Antes, voltara-se para seus dois

colegas e dissera com convicção: - Esses dois companheiros de profissão são

nossos! Eles, aparentemente são homens de moral, como os homens entendem a

moral, porém, por dentro, o campo é aberto às ideias de sexo. Só quem

escuta as conversas dos dois a sós é que sabem quem eles são! A hipocrisia,

102
aqui, meus amigos, é força que gera a liberdade em todos os sentidos!

Muitas mulheres que aqui vêm não o fazem para consultar e sim para

satisfazer seus instintos inferiores. Eles estão transformando esta clínica

em um verdadeiro motel, das piores condições morais. É frequentado

por mulheres comprometidas, cujo número está aumentando cada vez

mais, porque umas vão contando as outras. Vocês sabem como são elas...

E para nós, ser-nos-ão de grande utilidade, porque vamos aproveitar,

através deles, para fazermos aquilo que não pudemos terminar na Terra!

E o Espirito desencarnado motivou em um dos médicos da clínica

recordações indesejadas para que suas ideias se afinassem com as dele.

Bastou um toque para que o médico se lembrasse de certas revistas

escondidas do público, mas de fácil acesso às suas mãos e, folheando

junto ao outro, perdeu-se em regozijo, esquecendo compromissos sérios.

E a entidade das sombras falou na sua intimidade, com desembaraço:

- A vida, caro companheiro, é de quem a aproveita mais! Veja essas mulheres!

Qual o prazer no mundo que se iguala ao sexo? Não existe; e quem foi que fez esses

prazeres que deliciam homens e mulheres? Eu, você? Isso é produto da própria

natureza! Para que? Para ser vivido, certamente, com discrição. Sabemos que a

sociedade é podre, mas sempre esconde a sua podridão, essa é a vida! Vamos

esconder também, mas vamos desfrutar aquilo que o mundo nos dá com abundância!

Quantas dessas mulheres não aparecem aqui, e vocês deixam escapar, como as

gazelas do caçador?

Vocês trabalham muito e rendem pouco, em matéria de dinheiro, e

os que não podem pagar são muitos, e os que não pagam são demais! Que

103
tal fechar a clínica e abrir um motel, daqueles que existem nos países mais

adiantados do mundo? A lei protege quem os tem. Quanto mais motéis

forem abertos, mais a cidade será moralizada e as famílias tranquilizadas!

Essa ideia vai proliferar, por ser uma das melhores que já tivemos, a de

incentivar a abertura de motéis em toda parte do pais...

Nós ajudaremos vocês, em todas as dificuldades; até as autoridades,

que não sejam todas, mas muitas delas vão achar boa a ideia! Vocês

poderão dar desculpas de que estão fechando a casa, por já estarem

cansados, e que passarão o bastão para os que estão se formando agora.

E o dinheiro vai entrar sem esforço algum! Pode faltar a grana para

tudo na vida, menos para frequentar esse ambiente de satisfação. Isso

é que é vida, colega!

A entidade afastou-se um pouco do médico que estava folheando a

revista pornográfica e esperou o resultado, ao lado dos seus companheiros

espirituais. E foi positivo! Daí a instantes, o médico estava reproduzindo

as mesmas ideias para o seu colega, que logo iluminou o rosto com um

largo sorriso, dizendo:

- Você tem razão! Quantos estão ficando ricos com isso, sem fazer nada, com

poucos empregados, pois quase não se precisa deles. E

ainda mais - acrescentou - não precisa ficar em nosso nome. Para tal,

encontramos muitas pessoas que devem participar também, e de cujos

nomes não fazem tanta questão, como no nosso caso! Vai ser uma vida

que pedimos a Deus!

104
Eu estava invisível a esses irmãos das sombras, contendo as minhas emoções

ao ver e sentir como possuem habilidades para influenciar as criaturas incautas!

Homens de posição, homens de ciência, mas enganados pelos agentes das

sombras! Meu Deus, precisamos orar em favor dessas criaturas, para que eles não

venham a sucumbir nas malhas desses Espíritos sem responsabilidades! Que Deus

nos ajude a ajudar!

A crise econômico-financeira da nação fez muitas indústrias

fecharem, mudando para a indústria da imoralidade e da perversão. Os

motéis nunca se fecham por falta de fregueses; o dinheiro corre à vontade

na abundância das paixões.

Os dois médicos decidiram desativar a clínica, e foi o que fizeram.

Reuniam-se diariamente, para ideias mais aperfeiçoadas, visitaram países

estrangeiros, trazendo novas experiências que as trevas acumularam nas

mesmas mãos que, na Terra, comandam o aborto e a depravação.

Um deles, em uma das viagens de rotina, o carro em que estava ganhou

velocidade pela sua pressa de chegar ao lugar que correspondia aos seus maiores

interesses. Não viu bem uma carreta à sua frente, que a neblina encobria, e a vida

física se lhe escapuliu, no momento das suas maiores emoções ilusórias. Tanto

pensara, que acabou separando os dois corpos, sem que quisesse fazê-lo. O outro

companheiro, cheio de expectativas quanto ao novo empreendimento, mas frágil em

demasia para enfrentar as derrocadas sucessivas, quando soube da morte do colega,

desesperou-se e, na aflição, não lhe faltou um cochicho aos ouvidos, bem seguro:

- Só lhe resta um tiro, porque você está liquidado!

E foi o que fez!

105
Eu tinha ficado sozinho nesta pesquisa, por não precisarem da participação de

toda a caravana; entretanto, afirmo que sofri as maiores opressões que um corpo

espiritual pode sofrer, no meu caso, de Espirito ainda ligado às sombras, por vias que

ainda não desejo saber.

Tomei estes apontamentos para que possam entender o valor da vigilância, e

como as trevas se imiscuem nas vidas humanas. Elas ficam à espera de

oportunidade, da sintonia de uns para com os outros, para agitar. Atraímos os que

pensam na mesma dimensão em que pensamos. Somos acompanhados por

entidades dos mesmos sentimentos.

O que pode a mediunidade em matéria de desequilíbrio, quando

ela está em função do mal! Os dons mediúnicos sem Jesus podem

ser um desastre nas nossas vidas; a mediunidade sem educação cristā

é fonte de perturbações. Eis porque a Doutrina dos Espíritos está

empenhada em disciplinar o mediunismo, de modo que ele possa

servir de instrumento verdadeiro, onde o amor e a caridade se

materialize nos caminhos das criaturas!

Acompanhei esse caso por muito tempo, no sentido de sintetizar esta história

para os homens. Que ela sirva de exemplo, acordando as criaturas para o "orar e

vigiar” tão necessário nos campos do mundo! Naquela minha saída da caravana,

Celes ficou encarregado de fazer as anotações necessárias para os nossos

apontamentos, que depois passou as minhas mãos.

Celes narra que tocaram para as ruas de uma metrópole:

- Era época de carnaval; era o primeiro dia do reinado, e a massa humana

parecia estar querendo enlouquecer. Notava-se muita gente comprando coisas nas

106
lojas e nas barracas, onde as fantasias demonstravam a posição do movimento.

Abeiramo-nos de uma das lojas em que vários empregados apressados atendiam

fregueses exigentes, onde o dono, postado no caixa, demonstrava inquietação. Seus

pensamentos faziam com que seus olhos disfarçadamente buscassem uma revista

aberta em uma prateleira, abaixo poderiam passar os da registradora, onde o nu

estava tão comum, que todos os empregados olhos, sem demonstrar admiração.

As freguesas que ali entravam eram por ele olhadas como se estivessem

despidas, e era o que ele visualizava, na ilusão dos seus mais baixos sentidos. Nisto,

entrou uma mulher desencarnada, com aspecto estranho, cujo ódio que ela

alimentava contra o comerciante desprevenido de vigilância era fácil de se notar.

Projetou nele um magnetismo mesclado de vingança e falou dentro

da sua cabeça, tão cheia de mazelas, que não tinha tempo para analisar o que ouvia,

principalmente dos desencarnados:

- Meu bem!... Vamos aproveitar a vida, vamos começar hoje mesmo a nossa

ronda naquela boate que você conhece e que não tem igual! Busquemos satisfazer

nossos desejos sexuais, vamos gozar a vida! Você se lembra quando esteve lá pela

primeira vez, o quanto foi feliz? Ajudei-te na felicidade, e agora muito mais, pois esses

dias pertencem à inconsciência. Nada está errado nestes dias; até as religiões

perdoam essas faltazinhas, que não chegam a ser pecado e, sim, terapia para os

homens que trabalham como você! Nestes dias não se deve lembrar da

família, de negócios, de nada! Somente do prazer pessoal! É a felicidade

batendo em nossa porta!

107
E a vibração da mulher desencarnada atingia a região genésica do corpo

do comerciante, e este acendeu-se de alegria com aqueles pensamentos recebidos

da parte das sombras.

A tarde, passou o bastão da loja para um antigo empregado, de

confiança, arranjou uma fantasia que lhe tolhia a identidade e caiu no

samba, esquecendo a vida de responsabilidade, buscando a inconsciência. Não foi

em casa, para não ter aborrecimentos. Da loja mesmo, partiu para a folia, e a

entidade desencarnada o conduziu, como se fosse chofer dirigindo um carro: vai aqui,

vai acolá; toma uma cerveja ali, outra lá, entra no todo dos escândalos...

O espírito desencarnado na forma de mulher, sua inimiga ferrenha, continuou

dirigindo-o, preocupada em levá-lo para a boate antes determinada. Essa seria a sua

maior vingança, pelo menos naquela noite que favorecia às trevas, pelo domínio das

sombras.

Abraçado com o comerciante, lhe falava com mansidão forçada:

- Peguemos um táxi! As horas passam! E devemos aproveitar o tempo.

Nisto, ia passando um. Os dois, encarnado e desencarnada, acenam as mãos

em um mecanismo incrível; o carro parou, e eles entraram em completa sintonia e

em grande troca de energias inferiores. Já no interior da boate, o comerciante sentiu

sede e pediu cerveja. Os dois bebiam numa simbiose perfeita, e quanto mais o

encarnado sorvia a bebida, mais tinha vontade de beber. Naquele momento, foi

entrando uma jovem, no seu jeito sem juízo. O Espírito desencarnado, ao vê-la,

envolveu os dois com uma onda de desejo infernal; simpatizaram-se e logo

sintonizaram os seus intentos. Os dois de máscaras passaram para um reservado,

108
onde os três, encarnados e desencarnada, bebiam e conversavam na maior

expressão de desejos passageiros e sensuais.

Depois de toda a intimidade possível, ele sentia tanta alegria, pelos

filamentos dos sentimentos da carne, que avançou-a com violência para

arrancar a máscara da mocinha, porque o resto ele já estava conhecendo

pelo tato. Era como uma mão dentro da outra, era a mediunidade em

exercício, que sempre acontece com os foliões. E quando lhe tirou a

fantasia, a moça era sua filha!

Ela saiu correndo, pela rua afora, e ele caiu para trás, sofrendo um

colapso cardíaco. As coronárias, não resistindo, romperam uma artéria, e o

comerciante tombou fulminado.

O Espírito desencarnado, na fúria que o ódio sempre alimenta,

avançou, alcançando o rosto do pobre homem, esbofeteando-o muitas vezes, com

palavrões que não se pode descrever, e saiu do ambiente nefando dando

gargalhadas.

Estudemos esses fatos, onde, em muitos casos, interferimos; no

entanto, em outros ficamos impossibilitados, por não encontrarmos

segurança no ofendido. A sintonia é uma lei, que induz pessoas e Espíritos a se

unirem, de forma a colher o que plantaram nas searas das vidas.

É bom que tenhas cuidado, observando os pensamentos que chegam

à mente, analisa-os, observa-os, pesquisa-os: e vê se são teus. Podem ser

parecidos, mas nem sempre nascem em tua cabeça. E se queres libertar-te dessas

influências, sai da faixa das más ideias e procura reformar teus

sentimentos, porque a lei é lei para todas as criaturas; elas te defendem

109
ou podem te penalizar, dependendo do modo pelo qual pensares e

certamente agir.

Os médiuns são inúmeros por toda parte, porém o bom uso da

mediunidade ainda é limitado na esfera da Terra, por desconhecerem

seus mais profundos fundamentos. Jesus foi, é e será o caminho, a verdade

e a vida, para todos os medianeiros que queiram acertar e viver em paz

com a consciência.

110
Capítulo 5 – A comunicação dos espíritos

Fazemos parte de uma comunidade espiritual, por misericórdia

de Deus, que nos dá muita segurança; é uma grande família,

que nos acolhe a todos e não nos deixa esquecer os deveres

assumidos diante da própria consciência. Estamos cada vez mais

agradecidos pelas oportunidades de trabalho.

O corpo físico é um desafio difícil para o Espírito, bem o sabemos,

porque nele estivemos por muitas e muitas vezes e, na última vez, na

França, país a que devo muito, sofri muito no que refere à moral, pelo

que eu me dispus a fazer: pregava a imortalidade, mas na intimidade eu

a duvidava um pouco.

E neste ponto que entendemos o que se diz no Evangelho: “a carne é

fraca!" A gente se esquece do tempo em que vivemos no plano espiritual,

embora este seja muito maior do que quando internados nos liames da matéria, e

esquecemos a melhor parte, que é a certeza da continuação da vida em espírito e

verdade.

Por outro lado, faz-se necessário que nos esqueçamos um pouco das belezas

imortais da espiritualidade, quando a elas atingimos, para não forçarmos a nossa

saída do corpo, para retornar ao plano espiritual, violentando a lei da vida no plano

do mundo físico.

As atrações do mundo terreno nos prendem e, quando não temos certo

equilíbrio, é bom que isso aconteça, favorecendo despertamento espiritual. O

preparo é demorado, mas constante, pois somos todos vigiados pelos benfeitores da

111
eternidade, que nos dão somente aquilo que suportamos, em todos os planos em

que vivemos. Ser algum está sem proteção; não existem órfãos do amor divino em

ponto algum do universo; o sol da vida nos aquece a todos e nos sustenta

em qualquer lugar em que estejamos.

Tive medo do nada, quando estava à beira da morte, porém, depois

reagi, porque o medo não nos leva a coisa alguma; o que é, tem de ser

e deve ser. O certo é confiarmos, aceitando o que é, porque somente a

verdade fica de pé.

Muito já se escreveu sobre os segredos da vida além da morte

mas, na verdade, quase nada se sabe sobre o plano espiritual em que

habitamos. Nós, que temos a oportunidade de transmitir alguma

notícia, somos controlados para não dizermos o que não pode

ser dito; a nossa conversa através da escrita, em nos servindo da

mediunidade, é gradativa e muito lenta, acompanhando a evolução

da humanidade.

Se queres saber a verdade sobre o que falamos, observa uma criança em

conversações com adultos; vê como é o aprendizado delas nas escolas. A gradação

é a mesma, ou talvez mais lenta. A negação de muitas coisas que nós falamos se dá

porque, quem nega, às vezes, não está preparado para conhecer o que falamos. Os

trabalhos dos Espíritos com os homens estão cada vez mais ativados; é ordem

superior, para nos familiarizarmos com os dois planos, conscientizando as criaturas

dessa necessidade, para grandeza da própria vida.

A mediunidade é uma faculdade comum entre os povos; são bilhões de

Espíritos que se comunicam permanentemente todos os dias na Terra. Será que não

112
dá para entender e sentir essa verdade? Ela está explodindo de sorte que, sendo a

vontade de Deus, ela se faz com ou sem a vontade dos homens, por estar no código

das leis divinas. Não existe religião no mundo que não se alicerce na comunicação

dos Espíritos. O próprio Cristo deu prova disso, e Ele mesmo voltou, através de um

fenômeno extrafísico para dizer que não existe a morte.

Estávamos subindo uma grande rampa de uma casa de recuperação,

onde se encontravam centenas de Espíritos recém-desencarnados, que

estavam em preparo para receber assistência. Aquele que não quer se curar,

fica no ambiente que idealizou ou idealiza e esperamos o amadurecimento

espiritual; a vida pede não violência, mesmo na ação do Bem.

Adentramos num vasto salão, onde a simplicidade era a expressão

de beleza natural. Compreendi que o silêncio, naquele ambiente, era um

pouco de tratamento, em que o próprio doente se medica a si mesmo.

Como é bela a educação!

Miramez abeirou-se de um leito, na delicadeza que já é parte da sua

própria vida, pediu licença e destampou o rosto de uma criatura estendida

na cama. Feições cadavéricas, olhos fundos, cabelos esbranquiçados,

tez enrugada, de tal modo que não se precisava perguntar pelos seus

infortúnios, pois a descrição dos dados fisionômicos o revelavam.

Ficamos três de um lado, três de outro, e um aos pés do enfermo. Nosso guia

espiritual , que permanecia em silêncio, "abriu-se" em uma oração que vibrava tanta

harmonia, que nos prendia na mesma onda de paz e atenção:

"Pai de todas as coisas...

Reverenciamos-Te, da maneira que alcançamos te amar, Senhor!

113
Agradecemos-Te, da maneira que compreendemos a vida que nos deste!

Amamos-Te pelo que somos no dia a dia, ante os campos de lutas que a Tua

misericórdia nos ofertou!

Eis-nos todos juntos, onde o amor é o nosso ideal mais sagrado, onde nossas

intenções se confundem no bem comum em favor de todas as criaturas.

Onde o amor e a caridade são as nossas metas que jamais esqueceremos.

Onde a Tua vontade é o nosso comando para sempre.

Estamos diante de inúmeros irmãos estendidos nesta enfermaria, esperando

o nosso carinho, esperando a parte a ser feita pelos samaritanos do amor.

Sabemos que não devemos pedir, pedir o que diante do próprio convite que

a natureza nos faz?

Temos é de agradecer por todas estas oportunidades!

É Deus nos chamando à benevolência, é Deus presente onde falta a

compreensão.

Estendamos as mãos, companheiros, para que elas possam oferecer a mais

pura energia de que o coração é portador.

Estendamos as mãos, meus amigos, e para distribuir o que a caridade tem

com abundância usemos as mãos, para que elas provem que Deus também nelas

está e fazendo com que elas sejam as d'Ele. O silêncio deste salão é a conversa de

Deus; quem não entende o que Ele nos pede que façamos?

E é neste entendimento captado pelas nossas sensibilidades, que devemos

começar a sermos úteis.

Agradecemos-Te, Senhor!"

114
Todos nós, por intuição, nos distribuímos no salão, transmitindo a todos os

enfermos ali estendidos, recolhidos em zonas interiores pelos samaritanos da casa.

Fiquei ao lado de Miramez, olhando para mim, disse com suavidade:

- Lancellin... Observa esse nosso irmão! Um experimentado terapeuta da

colônia, ao olhar por fora, já conhece perfeitamente o que vai por dentro do paciente.

No entanto, meu filho, tens necessidade de buscar por dentro, por desconheceres

ainda as manifestações do interno para o externo.

O universo vive em perfeita harmonia; é necessário que copiemos essa

paz! Enquanto os Espíritos encarnados e desencarnados não conquistarem

essa harmonia, sofrerão as consequências da ignorância. Não existe

doença; somente existe o desequilíbrio da mente. E, para tanto, milhares

de instrutores encarnados e desencarnados se encontram por toda parte,

ensinando a conquista da harmonia universal, trabalhando para que os

Espíritos dos dois planos voltem à natureza e encontrem a felicidade.

- Lancellin!... Observa os órgãos desse companheiro!

Miramez, estendendo as mãos sobre o corpo espiritual do enfermo,

criou condição de eu observar atentamente todos os órgãos em

decadência, desde o cérebro, os filamentos nervosos, os meridianos, os

gânglios, o coração pulsando sem ritmo, a seiva divina irrigando todo o

corpo espiritual, numa luz que se interrompia, de quando em vez, em

todo o soma espiritual. Ele prontamente me disse:

- Vê como são diferentes os coloridos dos órgãos em questão! Eles têm

vida própria, no que se refere a individualidade de função. Está parecendo

115
uma cópia do corpo de carne, no entanto dá-se o contrário... O corpo

físico, em todas as suas nuances, é que é cópia exata do corpo espiritual.

A medicina terrena, no futuro, vai apresentar muitas mudanças;

primeiramente surgirão as mudanças pelo interesse ao dinheiro, depois

pelo interesse de servir por amor e, finalmente, ela deverá se esforçar, em todas as

suas operações, voltando o homem para a natureza. O alimento do futuro será

também medicamento! As universidades de todos os campos do saber vão se

preocupar mais com a educação da mente, porque uma mente educada é o prefácio

da própria felicidade! O colorido dos órgãos que estás observando, Lancellin, tem

muito a ver com o colorido das plantas, e a sintonia dos dois é que busca

a saúde ou ajuda no equilíbrio. Aí é que buscamos o que nos disse Jesus: "Quem

tem olhos para ver que veja." O médico-médium faz o diagnóstico pela vidência e

confronta a cor dos órgãos, com a cor das plantas, para que possa fazer o tratamento

acertado. Compreendes?

Comecei a compreender até onde atinge a harmonia. Ela não se dá pela

música, apenas para deixar o ambiente agradável; o ritmo do universo interpenetra

tudo, para que tudo cante as belezas da criação!

- Se Deus é amor, meu filho, Deus é harmonia divina! -disse Miramez.

Enquanto Miramez movimentava suas mãos sobre o enfermo,

que, de vez em quando suspirava, eu via como funcionava mal o corpo

espiritual do nosso doente. Depois, Miramez demorou as mãos em sua

cabeça espiritual, e eu via, nitidamente, saindo das suas mãos, uma luz

azul, mesclada com um verde lindo, que descia pelos filamentos sensíveis

do enfermo, clareando energias escuras por onde passava.

116
O nosso benfeitor espiritual, que me dava uma aula ao pé do leito

do enfermo, acrescentou com segurança:

- Olha, Lancellin, na vida universal, que é a mesma natureza, nada se perde.

Mesmo aquilo que achamos imprestável, como esse magnetismo inferior expulso do

corpo do nosso irmão pelos fluidos superiores, acumula-se nos pés e depois passam

a ser dispersados e, pela lei da atração do mais pesado, é atraído para o solo da

nossa colônia e transformado, pela química da argila divina, em adubo e em

higienização do próprio ambiente, contra variados parasitas que surgem e se movem

nos antros das sombras, onde milhares de entidades sofredoras e perversas

estagiam. Se a humanidade compreendesse a grande necessidade da educação da

mente, as doenças ficariam somente no passado, como sendo estado de ignorância

dos ancestrais. Toda doença é pois, desarmonia da mente consciente ou

inconsciente. O próprio sofrimento, que os humanos já conhecem na Terra como

consequência de erros do passado, nada mais é do que a falta de harmonia mental,

que levou a alma para os desastres morais.

Parou um pouquinho com as mãos na região do baço, e pude

verificar como que um céu nublado anunciando chuvas violentas; raios

tenuíssimos desciam, atingindo todas as células do corpo perispiritual, e

o doente se agitava. Nesses momentos, Miramez concentrou a atenção na

frequência que lhe cabia atingir, dispersando as nuvens e encaminhando

as energias violentas para os pés do enfermo, que logo se foi acalmando,

entrando novamente em estado de coma, como antes estava.

Pela observação, a razão nos fazia entender que aquele corpo não tinha

mais jeito, dado o estado de decadência do nosso companheiro. Entretanto,

117
Deus tem todos os recursos, de modo a nos ensinar que tudo se refaz, desde

quando se entenda o modo pelo qual a harmonia divina possa estabelecer.

Kahena logo se aproximou de nós, com as suas mãos abençoadas e cheias

de medicamentos colhidos na própria natureza. Entregou sua abençoada

contribuição a Miramez que, sorridente, me falou com jovialidade:

- Lancellin!... Observa a bondade de Deus! Estas bênçãos que se encontram

em nossas mãos e que nos foram entregues pela natureza podem ter sido ontem um

lixo magnético, que se transformou em bálsamo curativo, pelo Seu amor que, como

sei, opera em tudo e em todas as criaturas!

Suspirei de emoção e passei a meditar na vida e como o Senhor

Supremo se encontra em toda parte.

O nosso guia espiritual, depois de várias modificações nos fluidos,

canalizou-os para o enfermo, pelos centros de forças que os absorviam como se

estivessem com fome de recuperação do todo de parte. O Espirito, estendido no leito,

já com um pouco de serenidade no rosto, abriu os olhos e chamou por Jesus, com

uma voz em que dava para se notar a ansiedade de paz no coração. Miramez mudou,

no modo de falar, de terapeuta para o pai carinhoso e dedicado, passando

de leve no rosto daquele que passara a ser seu filho do coração, e suas

palavras pareciam água viva, daquela que Jesus ofertou à Samaritana. E

ele continuou me dizendo:

- Olha, Lancellin, depois de o corpo espiritual ficar desobstruído do

magnetismo inferior, o melhor remédio agora é a palavra. Ela é um

estimulo divino, quando educada com Jesus, e age em todas as frequências

da vida. Quem sabe falar, sabe viver.

118
Abençoou o irmão, que já se encontrava sorrindo para nós, buscando

as mãos de Miramez para beijá-las, e nos acompanhou com os olhos em

que se lia profunda gratidão, até sairmos da enfermaria.

Os outros companheiros trabalharam muito em assistência espiritual -

dava para se notar - porém não pude observar com mais atenção o que eles

fizeram, por estar anotando o que se passava entre eu, o doente e Miramez.

Ao sairmos, ainda descendo a rampa, interroguei o nosso benfeitor:

- O nosso irmão Adelino curou-se definitivamente com aquele tratamento que

recebeu? Como é fácil curar os outros pelas tuas mãos!

Nosso guia espiritual sorriu da minha incompetência, e falou com

tranquilidade:

- Lancellin... Curar não é tão fácil como pensas! Sabes por que? A verdadeira

cura vem de dentro do próprio enfermo. Se ele não renovar seus sentimentos, não

mudar suas atitudes diante de Deus e do próximo, se não se educar e se instruir por

amor, a harmonia não se fará em seus fundamentos espirituais, e a felicidade, como

já foi dito, é a harmonia perfeita na consciência, no coração e na mente. A bondade

de Deus é tão grande, que isso que ele acaba de receber é uma misericórdia da Luz,

para que possa despertar suas próprias qualidades e viver, ele mesmo, as leis

direcionais pela luz divina. Se ele não compreender a necessidade de se

reformar, do modo que falamos, voltará ao estado em que se encontrava e

começará a sentir tudo de novo, até que os seus sentimentos amadureçam e ele seja

ele mesmo. É o que Jesus dizia aos Seus discípulos amados: "Vai e e não peques

mais".

119
Verdadeiramente, eu sentia-me feliz, por ver e saber, mais uma vez,

pela prática, pela vivência, que a paz imperturbável, ou seja, a saúde, tem

um preço que é o esforço próprio, o conhece-te a ti mesmo.

Daí a poucos instantes estávamos no salão de música, deliciando-nos

com as melodias que reajustam e dão esperança em todos os trabalhos

em que o amor nos mostra a verdadeira caridade. A atmosfera espiritual

enchia-se de ritmo, correspondendo aos corpos espirituais que ali se

encontravam. Desta vez, era a ópera do famoso Bizet, “Pescadores de

Pérolas”, mas arranjada em um ritmo adequado ao ambiente espiritual,

pelo conforto e alegria que nos dava ao coração.

Daí, demo-nos as mãos, toda a caravana, volitando em direção a cidade

de Belo Horizonte, onde descemos com suavidade que a misericórdia nos

ofereceu. Kahena nos pediu para acompanhá-la até o Parque Municipal.

Aceitamos o convite, e Miramez, sorrindo, nos falou com carinho:

- Vamos caminhando. Não somos melhores do que os encarnados;

materializemo-nos o quanto pudermos, para sentirmos a presença e a vibração dos

próprios homens.

Entramos no mini-bosque daquela metrópole mineira e sentíamo-nos felizes.

Os encarnados de muitas procedências iam e vinham em ritmo de pressa, cada qual

com o seu problema, de maneira que a mente sofria o peso das preocupações que

sempre carregam.

Notamos que, junto a cada criatura que passava por nós, iam muitos

desencarnados que a acompanhavam, uns exibindo tons de brincadeira, outros

120
estavam no papel de perseguidores e outros, em bem menor quantidade, ajudando,

de um modo difícil, por não encontrarem sintonia em seus tutelados.

Parei admirado, por ver quadro tão triste de obsessão, e que os próprios

obsediados não notavam seus caminhos infestados de inimigos ou de almas, cuja

afinidade as fizeram ligarem-se às suas. Quis fazer uma pergunta ao nosso guia

espiritual e este, antes que eu falasse, veio em meu socorro, com muito interesse, e

falou paternalmente:

- Lancellin... a vida é um todo, em que tudo se encontra ligado por lei em toda

a sua dimensão. Ninguém se encontra separado de nada e, por essas ligações,

correm fios de simpatia que sustentam os afins. Verdadeiramente, os encarnados

não estão vendo suas companhias espirituais porque, se isso acontecesse, seria um

desequilíbrio coletivo e perturbaria a vida social e o trabalho dos homens. As

dimensões estão separadas pelo véu que podes chamar, como nas escolas

iniciáticas, de "Véu de Isis". Onde uns podem viver sem que os outros vejam, mas

que se sentem mutuamente na profundidade da consciência. Os que estão nos

planos mais grosseiros, contudo, não percebem os que estão mais além e

que por vezes os estão ajudando. As leis de Deus são benfeitoras e sabem

graduar os conhecimentos e a verdade, de acordo com as necessidades dos

que têm ânsias de subir. Porém, a exceção é uma realidade: são raros, mas

existem na Terra, como existem em todos os tempos, irmãos encarnados

que, pelas faculdades desenvolvidas, podem observar o plano espiritual,

não na sua totalidade, por não suportarem as reações dos seus sentimentos,

porém veem de um a dez por cento do que se passa no invisível, para os

que têm olhos para ver, provando, assim, que estamos sempre presentes

121
nos caminhos dos encarnados. No nosso caso, estamos pedindo a eles para

modificarem o modo de pensar e agir, transformando seus sentimentos,

para que possam atrair Espíritos da mesma dimensão em que estão.

E concluiu:

Nós somos pelas mudanças. Nisto, foi passando um senhor apressado, de

pasta na mão e conversando sozinho, de tal forma que dava para escutarmos com

perfeita nitidez. Pelo que me pareceu, eu deveria acompanhá-lo. E foi o que fiz. O

companheiro encarnado monologava:

Quando chegar em casa hoje, se ela falar alguma coisa sobre

a minha amante, dou-lhe um tiro e pronto! Não quero nem saber as

consequências. Aquela mulher é uma peste, tem tudo que deseja e ainda

exige que eu fique em casa. Ficar pra quê? Olhando para a cara dela? Perdi

o interesse completo por ela; se existe alergia de criatura para criatura, eu

fui o primeiro a manifestar essa doença!

Seus pensamentos, dava para notar, irradiavam em tons escuros

e, por onde ele passava, as entidades que o acompanhavam, como que

"farejando" seus pensamentos, abraçavam-no com alegria. Uma delas lhe

disse, experimentando sua recepção psíquica;

- Olhe, amigo, vai em frente! Não deixe de satisfazer seus interesses pessoais

por causa de mulher! Você se encontra escravo daquela que colocou no seu lar!

Mulher é para cuidar dos filhos e nada mais!... O prazer fora é bem melhor, você sabe

disso!

122
E o homem da pasta assimilou completamente as ideias do Espírito, sendo

ele atraído quase que totalmente. Sorriu com o novo estimulo recebido e falou com

interesse:

- É por isso que gosto de passar por este parque! Aqui a gente tem ideias

geniais...

E o Espírito malfeitor ainda completou, notando que seu médium recebera

bem suas insinuações: - Que tal uma surra nela? Isso a faria entender a sua posição

de "macho" e de comando da sua própria casa. Outro sorriso estampou-se na feição

do senhor, e ele foi alimentando aquele procedimento que ele mesmo buscara, pelas

sementes das idéias.

Eu quis intervir várias vezes, para cortar os pensamentos do Espírito e apagar

as ideias do homem em relação sua esposa, mas não consegui, devido a afinidade

dos sentimentos.

Miramez, mesmo de longe acompanhou mudo o que se passou.

Quando voltei para junto do nosso grupo, ele, sem perguntar, fez a exposição que

se segue:

- Lancellin... A assimilação das ideias, tanto de encarnados para

encarnados, de desencarnados para desencarnados, e de desencarnado para

encarnado ou vice-versa, é uma realidade por ser lei. É pois, a telepatia em plena

ação, em todos os campos da vida. Isso sempre existiu e continua se aperfeiçoando.

É a mediunidade em plena função, que a Doutrina dos Espíritos veio educar em todas

as suas modalidades vigorosas. O médium comunica-se com os Espíritos, e os

Espíritos comunicam-se com os médiuns com os quais mais se afinam pelos seus

sentimentos.

123
Nós, no plano espiritual, somos em número muito maior do que os homens no

plano físico, e os desequilibrados não em muito maior número do que pensas. Aquele

senhor que acaba de receber a semente de ideias de perturbações para o seu lar, se

fosse vigilante e pensasse na dimensão dos sentimentos elevados, ele certamente

atrairia Espíritos do mesmo nível para ajudá-lo. Ele já foi chamado várias vezes para

as devidas mudanças morais, tampando os ouvidos por isso recebe justamente o

que busca.

Silenciou um pouco e sentenciou:

- O que tentas saber, sobre a sua mulher e filhos, eles estão no mesmo nível

do chefe da casa, a mulher tem um ciúme doentio, e os filhos são Espíritos muito

necessitados, que reencarnaram sob o peso de muitas dívidas, e ainda cobrando

algumas dos próprios pais. O lar deles tornou-se um ninho de incompreensões.

Somente o tempo e a dor poderão transformá-los para uma vida melhor. Deus é

paciente, e o processo de evolução é uma lei em todos os mundos.

Anotei tudo às pressas e pude observar o nosso grupo em torno de uma

senhora que estava sentada em um dos bancos de cimento; viam-se ali algumas

flores pendentes que se refletiam na água, em que os pequenos peixes brincavam,

líquido encantador para o seu reino.

A senhora arfava o peito com falta de ar; cabelos grisalhos e muitas rugas

denunciavam idade avançada; pernas inchadas, olhos esbugalhados e feição

macilenta, encostara-se ali para descansar e depois seguir adiante, à procura de uma

consulta médica, em hospital próximo.

Um Espirito, em condições lamentáveis e que sofria de um ciúme doentio,

ciúme que, com o tempo, passou a ódio e deste à vingança, a acompanhava. A

124
entidade, fora do corpo - dava para todos observarmos - soprava levemente em

direção à veia mais saliente da doente; sua língua afunilava-se como se fosse um

tamanduá, e se introduzia na corrente sanguínea da senhora, absorvendo o plasma

de vida do líquido sagrado e deixando nele um corrosivo perturbador, de modo a

descompassar o coração e colocar em desarmonia todo o organismo.

A doente, semi-consciente, balbuciava uma oração meio inteligível, mas que

dava para compreender-se mais ou menos assim:

"Meu Deus.... Sei que sou uma pecadora!

Errei muito quando moça e não tive respeito para com os meus pais e, de

certa forma não correspondi ao meu lar, no que ele merecia.

Mas, Te peço perdão e quero corrigir os meus defeitos, que são inúmeros;

ajuda-me a compreender as leis, que sei existentes em tudo o que fizeste.

Desejo agora um pouco de luz de entendimentos, para que o meu coração

sinta e mostre a alegria de conhecer-Te no Teu esplendor, na glória de um Pai, que

sempre ama os Seus filhos.

Abençoa-me meu Deus, porque não quero morrer sem encontrar a quem devo

ver, para pedir perdão das minhas invigilâncias!

Sinto que estou no fim, porém, este fim pode ser prolongado em favor da

minha esperança Depois de certa idade, meu Deus, é que conheci a necessidade

que tem a criatura de uma religião, e confesso que encontrei a vida por intermédio

de um simples livro que encontrei aqui neste parque de lazer, talvez esquecido por

alguém que, como eu agora, tinha sede de justiça e de amor.

Que Jesus abençoe a quem me fez essa caridade!

125
Agora entendo que esquecer um livro deste, do modo que encontrei aqui há

algum tempo, é favorecer o despertamento para a luz de quem estava nas trevas, é

guiar um cego para o porto da vida que floresce.

Entrego em Tuas mãos a minha vida, e que seja feita a Tua vontade, e não a

minha!

Já me sinto feliz em poder orar, como agora faço. Se não puder ser ajudada

de outra forma, já me sinto compensada pela prece que Te dirijo, e o faço em nome

do Cristo.

Amém."

Nós, que estávamos invisíveis diante dela e do terrível obsessor,

começamos a nos fazer visíveis aos dois. O vingador terrível deu um

salto para trás, apavorado com a nossa presença, saiu correndo, pulou

na água e começou a nadar, como se fosse um encarnado. Notamos em

sua aparência a forma de um morcego, onde dois dentes se salientavam,

tintos do plasma sanguíneo que ainda há pouco sugava...

Fiquei intrigado diante do fato de não termos ordem de prende-lo e levá-lo

para as escolas, para os devidos aprendizados, libertando aquela senhora da

obsessão que a matava pouco a pouco. E quando quis perguntar, Miramez adiantou-

se prestativo:

- Lancellin, todos temos direitos e as próprias leis são cheias de misericórdia!

Essa senhora o atraiu pelos próprios atos e pode afastar-se dele, modificando a sua

própria vida, até o momento da desencarnação. É hora dela renovar-se, e ela já

sentiu o sinal do amadurecimento. Aqui estamos para ajudá-la, pela força da sua

126
oração. Vê o quanto vale a prece! Vamos levá-la ao bebedouro, para que lá

possamos ajudá-la, com mais eficiência.

Miramez, depois de vários passes reconfortantes na senhora enferma,

disse-lhe, dentro da sua cabeça meio desarrumada: “- Vamos, minha irmā, levanta-

te! Já estás melhor; podes seguir teu caminho para o hospital, mas, antes, passa ali

no bebedouro. Estás com sede!"

No mesmo instante, a senhora levantou-se, sentindo-se melhor; deu uma

espreguiçada e falou em tom de bom-humor:

- Graças a Deus, melhorei! Como é bom este parque, ainda mais na beira

desta água!

Deu uma olhada nos peixinhos nadando em cardumes e teve vontade

de ser um deles; teve sede e buscou o bebedouro. Lavou as mãos, esfregando-as,

colocou-as em forma de concha e a água, onde Kahena já tinha colocado

uma porção de fluidos da natureza, que irradiavam em diversas nuances,

caiu cristalina. Ela sorveu o liquido de Deus, tomou água várias vezes sem,

contudo, perceber o que estava se passando em torno dela...

Suspirei, agradecido, por constatar a bondade de Deus operando

em tudo, e por compreender a necessidade da dor nos caminhos do

ser humano que, infelizmente, não pode desaparecer por enquanto dos

roteiros da Terra.

Aquela senhora, pelo que fui informado, era uma antiga professora.

Já fora das lides da profissão e abandonara marido e filhos em troca de

aventuras passageiras. Os três filhos da sua prole ficaram sós, com a morte

127
do pai e sem notícias da mãe. Entretanto, não perderam a paternidade de

Deus, que é a sustentação da vida.

Aquele Espirito malfeitor, que a perseguia sem piedade, era seu ex-marido,

que tinha desencarnado por processos violentos, revoltado com a própria vida e

odiando-a mortalmente. Tornou-se seu mais ferrenho inimigo, vampirizando-a todos

os dias, esforçando-se para esquecer todos os compromissos com o bem,

integrando-se totalmente as sombras, ficando assim quase visível aos próprios

encarnados, pois, de quando em vez, era visto por alguns encarnados, em lugares

estranhos, disseminando o mal, desde quando fosse para a sua satisfação pessoal.

Deus sempre espera as nossas mudanças. A maturidade é importante

para os céus, a fim de que possa ser dada a assistência mais direta aos

que sofrem. A prece sincera é também um sinal de arrependimento e

ela transforma ambiente em torno de quem ora, de modo a atrair a

atenção dos agentes do Senhor...

A senhora doente ajeitou a bolsa no ombro, passou as mãos

molhadas pelo rosto várias vezes, lembrou-se de consertar os cabelos,

quase esquecidos pelo asseio e saiu cantarolando rumo a uma casa de

saíde, próxima ao parque.

Fiquei querendo saber se aconteceria e como se processaria o encontro

da mãe com os filhos ou com algum deles, pelo desejo que ela firmara na

oração e tive leve intuição de que ela seria atendida. Olhei para Miramez,

ansioso, e ele compreendeu minha curiosidade. Disse-me com amabilidade:

- Lancellin!... Os pais dessa família, de que tanto queres saber o destino, se

deixaram levar pelos enganos do mundo; não tiveram preparo nem elevação

128
espiritual para suportar as provas, que vêm sempre para todas as criaturas. Deverão,

mais tarde - e isso somente o tempo vai determinar - nascer juntos, de forma a

reajustarem suas vidas e compreender, com bastante nitidez, o respeito pelas leis

naturais. Pelo que penso, ela deve reencarnar como mãe do ex-marido; ela, já

reformada, e ele, ainda rebelde, mas os filhos, encarnados ou não, vão ajudá-los,

para que o amor apague todos os feitos reconhecidos como malfeitos.

Os três filhos, hoje, estão bem e trabalham no hospital em que ela

vai se internar agora; todos eles estudam e vivem sob a proteção de um

dos grandes clínicos desta capital, que os ama com toda ternura de um pai

verdadeiro. Eles estão recebendo o que plantaram no coração desse homem, que

hoje os ampara. As leis são justas, meu filho; tanto o bem como o mal não erram os

caminhos daqueles que os semearam!

Silenciou por instantes e dando um leve sorriso, continuou

descontraído:

- Lancellin!... quanto à senhora que você pressupõe curada, estás enganado;

são efeitos passageiros da misericórdia divina, porque a verdadeira cura, já deves

saber, vem de dentro; ela é fruto de mudanças internas, que se processam em ritmo

lento, mas seguro. Ela vai ficar internada e desta vez passará para o nosso lado.

Chegou o momento da sua mudança de corpo, para que se iniciem as mudanças

morais. E provavelmente as rejeições dos corpos espirituais a uma nova vida

são piores do que as dores do mundo material. Todas as mudanças

requerem sacrifícios, toda subida exige esforço. A Doutrina dos

Espíritos está fazendo um grande trabalho junto aos desencarnados.

Ela tem meios para preparar as criaturas para a desencarnação e elas,

129
com facilidade, assimilarem os primeiros ensinamentos no mundo da

verdade. É nesse sentido que estamos fazendo tudo ao nosso alcance

para a disseminação do livro espírita, porque ele tem o poder de acordar

os homens para a realidade e, depois de abrirem os olhos, andarem

com os seus próprios pés. A exemplo, podes observar esta senhora, que

há alguns meses encontrou um livro sobre o banco em que descansava,

e ele despertou o interesse da nossa irmã para a vida espiritual, em que

ela nunca pensara. E a prece é uma força divina ao alcance de todos.

Ali mesmo, junto àquele bebedouro, Padre Galeno fez uma sentida

oração, de modo que dava para se notar o quanto de fluidos chegavam

em torno de nós, enriquecendo as águas, o ar, envolvendo as próprias

criaturas que por ali passavam.

Saímos dali caminhando e conversando, do mesmo modo como

entramos, misturando-nos com os homens nas ruas da grande metrópole.

Notávamos, nas ruas da cidade, que os desencarnados em número bem maior

que os encarnados e muitos deles, além de acompanharem seus instrumentos,

transmitiam seus pensamentos, alguns falavam mesmo aos seus ouvidos, como se

estivessem vivendo mesmo plano. Eu, vendo tudo aquilo, perguntei ao nosso guia

espiritual, usando daquele momento para melhor me esclarecer:

- O senhor poderia me ajudar no modo de compreender essa invasão de

Espíritos junto aos nossos irmãos encarnados, sendo a menor parte deles bem

intencionada? Não seria mais útil levá-los para uma colônia, que são muitas, no

sentido de educa-los, aliviando assim os homens deste peso? Os homens já passam

130
por tantas provas, além do corpo físico representar uma luta contra os impulsos

violentos da carne! Miramez, solícito, respondeu com suavidade:

- Lancellin... Homens e Espíritos foram feitos para viverem juntos; buscamos

sempre a unidade. Ninguém pode prender os pensamentos; eles são livres, por

natureza divina e por bênção da Divina Providência. Se tirarmos esses Espíritos da

face da Terra, prendendo-os em lugares apropriados, para aliviar os homens, eles e

os homens continuarão juntos pelos sentimentos, fios esses que dão passagem aos

fluidos inferiores, gerados em uns, que aos outros alimentam, e vice-versa.

Além desse processo natural, garantido pela lei da afinidade, uns são

mestres dos outros no aprendizado, pelos processos da dor. Tanto assim

que, podes notar, quantos encarnados que não sofrem, ou quase não

sofrem, influência malfazeja dos Espíritos inferiores, por se encontrarem

em outra dimensão de vida!? E é esse o nosso trabalho: ajudar aos irmãos

de boa vontade, que queiram se libertar e compreender a verdade; e os

nossos instrumentos, Lancellin, são os livros. Quanto mais escrevermos,

quanto mais disseminarmos no mundo os livros da moral evangélica,

maiores esclarecimentos os nossos irmãos da Terra receberão, e o processo

de libertação crescerá, crescendo assim o reino de Deus na Terra.

Afastar os Espiritos malfeitores da Terra é agressão. Isso acontece quando

alguns deles passam do limite. Eles estão acompanhando os homens por convite dos

próprios homens, mas é bom que creias: de tudo isso que vês assombrado, surgirá

a compreensão no futuro. O mal, meu filho, é cansativo e transitório. Somente o Bem

é eterno, nas linhas do amor.

131
Quando Miramez encerrou sua fala, já estávamos entrando em um

templo católico, guiados por Padre Galeno. A igreja estava cheia de espíritos, e umas

vinte senhoras, usando somente os terços como força divina, buscavam

descarregar suas consciências, um tanto ou quanto pesadas. Tive curiosidade de

contar uns vinte e tantos padres desencarnados, com as mãos postas, balbuciando

orações sem, contudo, participarem dos verdadeiros sentimentos de amor que são

gerados nas preces verdadeiras.

Fiquei inquieto e pensei: "O que eles vieram fazer aqui?" Eles não

nos viam, e Padre Galeno veio em meu auxilio, dizendo:

- Meu filho!... Esses nossos companheiros estão ainda "mortos"! Vivem

apegados à letra, sem perceberem o Espirito que vivifica! Vê! Eles são vinte e cinco

irmãos, que moram em vinte e cinco mansões em Belo Horizonte! São "confessores"

dessas famílias. Todos os dias vêm em uma igreja da capital para orarem juntos, do

modo a que assistimos. Eles ainda não se interessaram pelo verdadeiro Cristo.

Falaram tanto dos falsos profetas e falsos Cristos, julgando os outros, que acabaram

envolvidos na falsidade!

Sei que você vai me perguntar porque não são retirados dessas

casas. A resposta é a mesma que já ouviste do nosso Miramez: as famílias

pediram e continuam a pedir suas presenças, como guias da casa. E “cego

que guia cego", você já sabe o que acontece...

Fez um pequeno intervalo e sentenciou, como de seu costume:

- Cuique Suum! (A cada um o que é seu)

No meu caso particular, quando vejo esses quadros, fico inquieto para

resolver, esclarecer os Espíritos, curar logo os enfermos e levar todos para

132
escolas, que são muitas no mundo espiritual. Porém, reconheço que tudo

tem a sua hora. Deus é sábio e justo e nunca falta no momento exato...

Descemos as escadarias do templo. O ar soprava, renovando pela rua

afora. Centenas de carros deslizavam no asfalto; as buzinas impacientes

pediam passagem. As pessoas que passavam no passeio próximo a nós

andavam com as suas companhias espirituais, sem perceberem quem as estava

acompanhando. As vezes, encontravam amigos, davam uma paradinha,

abraçavam-se e conversavam uns com os outros, mas o mais interessante é que

os desencarnados falavam mais por intermédio deles do que eles mesmos.

Como a mediunidade é um fato! Funciona em toda parte, queiramos ou não.

Busquei Miramez, com a pergunta na ponta da lingua:

- Se a mediunidade é desta forma generalizada, nos parece que ela é como a

água e o ar, como as vestes para todos os homens a possuírem; por que é negada

pelos próprios homens? Pela influência das suas religiões? Não é melhor acreditar,

abrindo assim caminhos para essa faculdade, no seu desenvolvimento?

Miramez meditou por alguns segundos e disse com discernimento:

- Lancellin!... Os segredos da natureza têm seu tempo para serem

generalizados. É preferível negar a fazer mau uso dessa faculdade! O mundo

espiritual elevado não está preocupado, por enquanto, em fazer

tornar uma crença popular a reencarnação e o mediunismo, mas, sim,

a mudança do homem velho para o novo homem. O objetivo maior de

Nosso Senhor Jesus Cristo é que nasça o amor no centro do coração

mesmo assim, Ele espera pela maturidade dos homens porque, mesmo o

133
amor, se for por agressão, não cresce, nem se divide nas virtudes que têm

o poder de libertar as almas.

A mediunidade é um instrumento divino nas mãos dos homens de boa

vontade; no entanto, constitui-se numa arma perigosa, na direção dos inconvenientes

da verdade espiritual. As crianças precisam ser tratadas como crianças, e os adultos,

como adultos. Não obstante, o que a Misericórdia pode fazer em favor dos ignorantes

e sofredores, ela o faz. A doação de Deus é constante, para que possamos despertar

mais depressa. Mesmo com toda vigilância do mundo da verdade, ainda acontecem

coisas fora das leis do equilíbrio e da harmonia expressando, assim, a

bondade do Criador e o amor sem limites de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Dali onde estávamos, entrelaçamo-nos as mãos e nos elevamos, de

sorte a ver a grande BH de uma só olhada.

Paramos no espaço que Deus deu a todos; senti o ar rarefeito, e

um brando sopro de que o vento não se esquecera. Miramez olhou para

Padre Galeno, e ele compreendeu o que deveria ser feito. E o reverendo

passou a orar:

"Senhor....

Aqui estamos a Te pedir de novo;

pedir para os que sofrem,

para os estropiados,

para os órfãos,

para os sem-tetos,

para os políticos,

para os presos,

134
para os enfermos de todas as condições,

para todos os religiosos e as religiões!

Para os Espíritos, Senhor

que ainda não despertaram para a luz da verdade,

Pedimos para nós que aqui nos reunimos!

Que o trabalho não nos falte;

e que possamos compreender a verdadeira caridade

e que o amor que tanto procuramos

se encontre e more conosco para sempre.

Pedimos, Bondade Divina,

para todos os moradores desta metrópole,

com as suas condições inúmeras de ajudar!

Que esse povo generoso

possa crescer cada vez mais para o Cristo.

E como observamos,

que a mediunidade tome a direção do Evangelho

e seja orientada pelas palavras do Divino Mestre.

Pedimos que abençoe a toda esta nação brasileira,

na urdidura do Teu magnânimo amor.

Estamos aqui à disposição do Teu mando,

e que Jesus nos inspire no bem que devemos fazer.

Assim seja!"

Luzes de tonalidades diferentes riscavam o espaço, e todos falamos de uma

só vez:

135
- Graças a Deus!

Tomamos, então, o rumo da colônia de onde viemos.

136
Capítulo 6 –Os segredos da Natureza

Há ainda muita coisa escondida para os homens, que não podem ser

reveladas, a não ser na gradatividade do próprio tempo. No entanto todos conhecem,

pela intuição da existência dos arcanos da natureza divina e humana.

Eis que chegamos no momento, com o advento da Doutrina dos

Espíritos, de começar a desvendar o véu das leis que se encontram ocultas.

O homem passa a conhecer a verdade, que tem o poder de libertá-lo da

escravidão da ignorância.

A vida na carne é bastante sufocante, e, quando ai estagiamos,

esquecemo-nos quase sempre das belezas imortais, que a vida nos oferta por

amor. Estamos em completo intercâmbio, encarnados e desencarnados, e,

com o Espiritismo, esse intercâmbio torna-se consciente, pelos processos

da mediunidade com Jesus.

Infelizmente, os homens perdem muito tempo com discussões e demandas

inaproveitáveis; quase todos andam como que de lentes, procurando defeitos

alheios, esquecendo que cada criatura deve aprimorar o seu próprio mundo interior

e todos juntos neste ideal colaborarão para transformar a Terra em verdadeiro

paraiso de luz.

Estávamos no salão de música, em pleno relax, ouvindo a opera do famoso

compositor português, Marcos Portugal, que intitulava "A Morte da Semiramis", em

um arranjo diferente, próprio do mundo da verdade, de modo que a harmonia

pudesse dominar os sons. Aquele ponto da Colônia do Triunfo era muito frequentado

137
por nós, pela paz que desfrutávamos no lazer espiritual, como preparo para as lutas

do Bem, na alvorada do Amor.

Quando despertamos daquele enlevo musical, Miramez falou-nos

com simplicidade:

- Meus companheiros, hoje temos algo diferente aqui na colônia! É um nosso

irmão de esferas superiores que nos visita e falará esta noite no auditório "Cristo

sempre". Quem desejar assistir, estaremos livres para receber mais uma

oportunidade de aprender algo sobre os segredos da vida, além de homenagear a

presença de um companheiro que já está livre dos liames da carne, mas que tem

muito amor para os que ficaram no mundo.

Acendeu-se em mim uma grande expectativa por conhecer aquela

personalidade. Fiquei inquieto, para que o tempo passasse depressa. Os outros

companheiros cochichavam uns com os outros, e a alegria iluminava seus

semblantes. Somente Miramez e Padre Galeno, conquanto felizes, conservavam a

tranquilidade de antes, pois haviam participado de coisas parecidas, e a estrela

daquela noite não despertava neles tamanha admiração por já terem conhecido sois

inumeráveis...

Depois de certo tempo, entravamos no grande salão. Ali, o ar que

respirávamos nos dava a entender que era o próprio alimento. Um perfume sutil

embriagava as nossas sensibilidades mais profundas, aguçando as nossas mentes,

aumentando a área do raciocínio. Sentamo-nos todos na mesma fila: eu, Kahena,

Celes, Fernando, Abilio, Padre Galeno e Miramez.

O teto do grande salão "Cristo sempre" prendia a minha atenção, como a de

vários companheiros que ali se encontravam. O céu estava ali presente, por

138
manifestar-se nas estrelas pintadas no teto do salão. O visual arrancava lágrimas,

mesmo dos acostumados a contemplar a arte da pintura. Todos tinham uma

impressão que o infinito se movimentava, nos mostrando posições diferentes dos

astros e dos próprios acúmulos de estrelas brilhantes. Sóis de todas as naturezas,

em nuances diferentes, derramavam luzes de variada policromia, que a nossa visão

podia alcançar.

Entrar ali somente para ver aquele espetáculo de arte já constituía uma grande

misericórdia. Conforme a alma, poderia não suportar tanta beleza! E pensei comigo:

"Sei que não posso ver coisa além deste visual que, para mim, é divino. Não

suportaria! Não suportaria!" O silêncio era o dono do ambiente; como conversar, se

o que nos cercava deslumbrava no encanto e em sugestões, sobremaneira

elevadíssimas! Ninguém conseguia tirar a atenção das coisas que nos cercavam para

conversar com o companheiro, para não perder a lição de grandeza, ouvindo o que

se pode aprender no silêncio.

O salão estava cheio. De longe, eu percebia muitos conhecidos, o que muito

me alegrava, por conhecer a capacidade intelectiva deles, em todas as áreas do

saber.

Pelo meu estado emotivo e o grande interesse pelo que estava

observando, cheguei a conclusão de que naquela casa de Deus ninguém se

lembrava do passado nem do futuro, por estar vibrando e vivendo no eterno. Vivendo

aqueles instantes de felicidade é que perguntei a mim mesmo: como pode ser Deus?

A mente restrita, como é a minha, não tem nem de pensar na

grandeza do Criador... Comecei a ouvir uma música suave, que me parecia vir

daquela estrelas do teto, canalizada para os nossos sentidos, equilibrando a nossas

139
emoções. Quis perguntar algo a Miramez, mas a educação me fez permanecer

calado; porém tentei a telepatia na sua frequência e deu certo! Preparei as imagens

mentais nas micro-ondas ao meu alcance, assim transmitindo: "Eu queria saber do

senhor se a pintura deste teto muda sempre quando aqui fala um desses

mensageiros da luz!"

Miramez, recebendo com facilidade meu telegrama mental, respondeu com

satisfação:

- Lancellin!... Tudo muda, e as mudanças são constantes em todas as

dimensões da própria vida. Se um visual permanecer, ele nos enfada, dada a nossa

inferioridade, por procurarmos quase sempre as belezas exteriores. Este templo é

modificado sempre que vêm benfeitores falar nele, de modo a agradar, trazendo o

bem-estar maior aos que assistem. Quem cuida disso, meu filho, são os engenheiros

da colônia, encarregados não somente de dar toques de belezas neste salão, como

igualmente em toda colônia. Estamos sempre renovando, graças a Deus; isso é vida,

e a vida nunca deixou de ser movimento!

Fiquei encantado com a explicação do nosso guia espiritual que, na

sua humildade, permanecia conosco naquele salão de conferências...

Naquele instante, apareceu rapidamente um fundo azul no palco onde iria,

certamente, falar o mensageiro, e nele estava como que desenhado um caminho de

estrelas, como se fosse um cortejo de uma luz maior.

Todos encararam a tela enorme, que parecia imantada de vida, e um astro de

maior proporção, ficando cada vez maior, desceu ao palco, tomando a forma

humana, sorrindo para todos, acenando a destra para a multidão que ali se

encontrava, ansiosa pela sua presença benfeitora.

140
Eu estava quase flutuando na cadeira, pelas emoções que não conseguia

controlar. Miramez, percebendo meu estado emotivo e desnecessário me transmitiu

no silêncio, pelas vias do pensamento, que, registrei com grande nitidez:

- Lancellin... Umas das maiores virtudes que devemos cultivar é a serenidade!

Se esse equilíbrio não nascer em nos permanentemente, passaremos a viver na

ansiedade, que desqualifica a nossa personalidade, emitindo na própria mente raios

escuros, que nascem da incompreensão e do medo do desconhecido. Procura os

recursos que existem dentro do teu mundo interno e exercita a paz em todos os

momentos para que possas entender e sentir a felicidade na grandeza da própria

vida. Certamente, a verdade é gradativa, mas, se ela for atender nossas

inferioridades, estacionará e não nos trará as sublimes nuances da verdadeira

sabedoria, como os segredos da vida imortal!

Fiquei desajeitado, mas compreendi que deveria me esforçar, recorrendo ao

que já aprendera na escola espiritual. Foi o que fiz e asserenei-me um pouco.

O ancião, sorridente, andava no palco, olhando para todos os assistentes, com

o antigo gesto de abençoar - pelo menos foi o que compreendi - dizendo:

- "A paz de Deus esteja com todos!..."

O silêncio era motivo de compreender a expectativa de ouvir o verbo de luz

vindo a nós, por misericórdia de Jesus Cristo. Mais em baixo um pouco, de onde

estava o benfeitor espiritual, levantou-se um companheiro da colônia, com a sua

respeitável presença, e orou, mais ou menos nestes termos: Senhor de todos os

mundos,

"Senhor de todos os mundos,

de todas as coisas criadas,

141
Deus de infinita bondade e amor,

abençoa-nos a todos neste momento,

a nós que aqui nos reunimos em busca de maiores entendimentos!

Fala-nos, Paternidade Absoluta,

através deste Teu mensageiro de paz e amor,

da maneira que possamos compreender os objetivos da vida

e ajustar forças para viver o bem

em todos os segundos do que entendemos por vida.

Pedimos, Jesus,

que nos ajude nas posturas convenientes ante a fala divina

e que o respeito nesta casa possa fazer entender

que estamos a caminho da verdade.

Não nos deixes cair em tentações,

onde a dúvida possa nos fazer esquecer a bondade,

juntamente com todos os deveres

diante da nossa paternidade e das nossas consciências.

Fortalece nossos corações nos momentos de trabalho,

conscientiza nossos raciocínios

para que o nosso amor não ceda aos miasmas do egoismo.

Que possamos nos sentir dentro da casa universal,

em conjunto com a família que se estende em todo o infinito.

Pedimos, Senhor,

que nos ajude a ajudar,

e que a fala desta noite nos mostre o intercâmbio verdadeiro

142
da luz com as trevas, no silêncio,

como é peculiar a sua divina função.

Não queremos estender muito a nossa oração

para ouvirmos com mais proveito do tempo

que esse mensageiro de luz dedica as nossas necessidades,

qualificadas como humanas.

Que nos abençoe, Deus,

e que Jesus nos desperte para a Vida Maior.

Assim seja.

O espetáculo de luz, nas variações que os céus nos ofertavam, era

maravilhoso. O ancião que iria nos falar estava nimbado de claridades celestiais

, que quase faziam desaparecer as suas feições. A serenidade que partia dele nos

dominava, como força de Deus a penetrar em nossos corações. Vamos chamá-lo de

Paladino da Esperança.

Ele firmou-se em um cajado, que trazia como apoio simbólico e ganhou tempo,

dizendo a todos nós que ali estávamos:

Queridos filhos!... Que Nosso Senhor Jesus abençoe a todos, hoje e na

eternidade. Que Deus nos ouça mais de perto e que nos ajude a conversar com todos

vós, na intimidade dos nossos próprios valores. Meus irmãos... Sabemos das

dificuldades que tendes em ajudar os homens. Ainda na sociedade deles, nota-se

mais visível o orgulho e o egoísmo, o mando e a prepotência, deixando a usura

estragar os caminhos da fraternidade, favorecendo meios para que o ódio interrompa

o crescimento do amor, e desapareçam os gestos e desprendimento das suas

cogitações. Vivem na Terra, atualmente, em torno de cinco bilhões de almas

143
encarnadas, de modo que, mesmo que queiram, as leis que regulam a vida não as

deixam se separarem umas das outras, sendo que a felicidade depende de que todos

trabalhem pelo mesmo ideal, aquele que focaliza a universalidade do amor, da

caridade e da justiça, empenhado na formação do paraíso na Terra, em nome do

Todo Poderoso.

O sofrimento sobe aos céus todos os dias como oração, e, como o Senhor é

misericordioso, nos envia constantemente os agentes do Seu amor, para nos ajudar

a todos, de acordo com as nossas necessidades físicas e espirituais.

Na verdade, a Doutrina dos Espíritos foi um desses grandes socorros, Senão

o próprio amor do Pai Celestial que desceu aos homens, para curar, enxugar

lágrimas, consolar criaturas desesperadas, apaziguar povos, orientar nações e

preparar um mundo novo para as futuras gerações.

Estou falando frente aos trabalhadores de boa vontade e vos peço, ante o

padecimento dos que sofrem, que tenhais mais paciência em ajuda-los, que tenhais

mais coragem para instruí-los, que tenhais mais caridade uns para com os outros.

Sabemos que a dor é um instrumento que os próprios homens pediram, no entanto

a bondade do Senhor é tamanha, que abriu a inteligência dos próprios homens,

descobrindo os remédios, no sentido de aliviar as duras lições.

E é disso que quero vos falar, principalmente aos que trabalham na Terra junto

aos médiuns, cujas mãos que aliviam foram abençoadas por Deus e Jesus. Deveis

inspirar aos homens para recorrerem aos passes espirituais, principalmente aos que

carregam consigo os dons de curar. Que possam impor as mãos, para confortar os

desesperados, os infortunados de todos os tipos, os famintos de justiça e de paz!...

144
Pedimo-vos a todos que me ouvis para ensinardes aos medianeiros como

devem impor as mãos e onde, de modo que obtenham mais resultados e que a cura

se faça mais rápida e eficiente, e o alivio se dê, em muitos casos, com maior rapidez.

Não deveis vos esquecer de levar o conhecimento espiritual a quem padece

na dor física, pois uma mente renovada é um corpo em recomposição.

Vejamos o que deve ser de maior importância: é o preparo do médium diante

do doente! A sua mente deve estar em completa harmonia, facultando assim a ajuda

dos benfeitores espirituais; que não faltem alegria, amor, fraternidade, perdão e

justiça, irradiando-se na vida do instrumento dos Espíritos. O passista não pode

esquecer a serenidade e a confiança nas forças superiores da vida.

O médium curador deve começar seus trabalhos sempre com a oração e, ao

impor as suas mãos no paciente, deve fazê-lo, em primeiro lugar, nas supra-renais.

Essas duas glândulas endócrinas são de capital importância na saúde humana; elas

são revestidas de uma camada de córtex de alta sensibilidade, e o passe, ali,controla

as emoções desordenadas que violentam a adrenalina segregada no sangue e que

altera a emotividade. Essas duas flores ajustadas na cruz do corpo, como podemos

dizer, estão sempre irradiando uma luz azul, que poderá brilhar mais ou menos,

de acordo com o estado mental da criatura. São pontos de forças no organismo

humano. Depois, as mãos do passista podem procurar a cabeça, onde estão

localizadas mais duas glândulas de secreção interna, que são a pineal e a pituitária

ou epífise e hipófise. A pineal é uma glândula de secreção interna, onde brilha

igualmente uma luz de um azul encantador, de ordem divina, que qualifica e

verticaliza as emoções elevadas. E com a ajuda de mãos caridosas, de onde irradiam

magnetismo superior, essa glândula ilumina-se mais, facilitando o bem-estar para o

145
coração. Ela é um instrumento humano, mas serve a Divindade, recebendo, assim,

as intuições mais puras, para que o raciocínio possa instruir e fortalecer os

sentimentos.

A pituitária é de suma importância no corpo humano; controla o crescimento e

tem uma ação muito grande no mundo celular. Ela segrega muitos hormônios no

sangue, de maneira a vitalizar o próprio sistema nervoso e dá impulso a força sexual.

Pode ampliar a visão espiritual e tem outras funções benfazejas, que por ora

devemos esquecer. A pituitária tem profundas ligações com a pineal, formando uma

dupla de luz a serviço do Espirito encarnado. As luzes se confundem, quando a alma

encontra seu verdadeiro caminho com Jesus. As cores se entrelaçam como o próprio

céu estrelado, e é bom que as mãos dos passistas se demorem na cabeça das

criaturas e que o amor seja o móvel dessa postura.

No entanto, o médium curador deve saber do seu valor como corpo energético

na vida do ser humano, de sorte que as suas mãos possam ajudar a essas duas

rosas situadas na cabeça a melhor se posicionarem na vida do homem, como duas

lâmpadas acesas em busca da espiritualidade maior.

O Paladino da Esperança fez um pequeno intervalo, de maneira que

o silêncio pudesse falar igualmente, e continuou com benevolência:

- Depois desse tratamento, o médium de cura pode descer as mãos para a

região do baço, glândula mais volumosa, bateria humana carregada de força solar, o

campo que lhe cabe depositar essa energia, que podemos chamar de porção de luz.

A contraparte desse órgão esplende uma luz encantadora, de um ouro lindo que, por

vezes, entra em desarmonia e pode descarregar-se com facilidade, para emoções

que não correspondem à tranquilidade da consciência. Por exemplo, o sexo

146
desregrado desperdiça o campo vital do baço, assim como faz a glândula pituitária

entrar em decadência, até surgir sua recuperação.

A mente que está impondo suas mãos no baço não pode ser vacilante, nem

alimentar desejos fortes, que a moral contradiga. Essa glândula é tão importante na

vida da criatura, que os ocultistas do passado supunham que para cada órgão desse,

tinha um anjo vigilante, dada a riqueza dos seus celeiros. O baço é muito afetado

pelos pensamentos inferiores das criaturas. O médium passista deve se precaver,

procurar educar-se na caridade, em toda a sua ação benfeitora.

Meus filhos, quero vos dizer mais acerca dessa rede de pontos sensíveis, que

se entrelaçam no corpo, em favor do Espírito encarnado. A glândula interna que

devemos abordar agora é Timo, onde o amarelo brilhante tem grande intensidade.

Ela é a glândula dos desejos, de maneira que, educada à luz do Cristo, poderá elevar

a criatura, como sendo um Sol; mas, se descuidar com os seus pensamentos, o

campo de interesse próprio se avolumará, em uma segregação inferior, onde o

hormônio é somente o corpo material que por ele viaje, em forças destrutivas para a

própria consciência.

O terapeuta mediúnico deve movimentar suas mãos vibrando na fraternidade,

de modo que a dimensão vibratória higienize a massa glandular de todos os possíveis

miasmas negativos, que desceram da mente em forma de ódio, inveja e ciúme, para

o mundo endócrino, através do Timo. E no fim, descansar as mãos curadoras na

Tireoide. Esse centro de energia, que segrega substâncias superiores no sangue,

tem grande influência no cérebro, na urdidura dos pensamentos. Uma Tireoide

desequilibrada desarruma as ideias e põe o mundo da mente em desordem, capaz

até de promover o desinteresse pela vida. Deveis cuidar da Tireoide pelos processos

147
espirituais que podem levá-la ao equilíbrio, serenando a própria mente, antes em

decadência. As mãos do médium devem ser colocadas em cima da Tireoide, com

suavidade, procurando atrair para junto de si os fluidos imponderáveis, que se

registra após uma oração bem sentida, onde a fé organiza e seleciona todas as

qualidades de vida espiritual.

Meus filhos, onde a Tireoide é bem controlada, a disciplina dos desejos se faz

com eficiência, e a mente se torna livre, no campo do amor mais puro, na elevação

que o Cristo espera de nós. Depois que toda essa operação estiver pronta, colocai

novamente as mãos na cabeça do paciente, visualizando-as como sendo um terminal

a derramar bênçãos dos céus para a paz da criatura em tratamentos.

O instrutor, a quem ouvíamos extasiados pela facilidade de se expressar, fez

outro pequeno intervalo, sorriu para todos nós como um pai amoroso quando

conversa com os filhos e arrematou com interesse:

- Estimados companheiros em Jesus Cristo! É de nosso grande interesse que

possais cooperar com os homens, no transe que eles passam no atual estágio da

Terra! Como tudo se encontra difícil, ofertai-lhes as mãos, pelas mãos dos próprios

homens, no serviço da caridade! São recursos que Deus nos dá, para que possamos

servir com mais possibilidades. Usai daquilo que tendes e fazei crescer os tesouros

do coração e ainda mais, esse intercâmbio do Bem abre caminhos para

todos os trabalhadores de todos os planos, para o amanhecer de outras

vidas. Não percais as oportunidades, pois elas passam e, passando, somente ficará

arrependimento, que pode nos castigar a consciência. Vamos nos unir todos, em

nome do Cristo de Deus, e Ele completará o que faltar com eficiência nos Espíritos

148
em ascensão. Que Deus abençoe esta casa e que Jesus oriente a todos os

companheiros, para que não erreis os caminhos.

Quando estiverdes em serviço, se precisardes, voltai sempre a este sitio de

luz, para que possais recuperar as vossas forças e prosseguirdes no labor da

verdade e do Bem, que nunca desaparecem. Confiai nas forças espirituais, que elas

já se encontram presentes em todas as necessidades de todas as criaturas; é-vos

solicitado apenas boa vontade; que aceiteis e vos esforceis para melhorar! Apoderai-

vos da educação e não deixeis faltar a disciplina, que o Sol Divino, a qualquer hora,

nascerá no centro dos corações que conhecem e obedecem ao Senhor.

Que a Paz seja com todos e que a luz não vos deixe nas trevas!

Assim seja!

O que aqui escrevemos é uma síntese do que ouvimos do grande mensageiro

da verdade, é o que era para ser descrito...

Os homens devem também pesquisar os segredos da natureza. Que cada um

se esforce nesse sentido e será ajudado por mentes sábias, capazes de revelar algo

para os que trabalham na Terra. Disse Jesus, em outras palavras que, quem busca

acha e quem pede, recebe.

O interessante é que, ao lado do palco, onde estava o Paladino da Esperança,

estava aparecendo em uma tela como que cinematográfica, o corpo humano com as

glândulas e sua iluminação especifica, segregando hormônios de vários tipos na

corrente sanguínea, e as reações estabelecidas no corpo ilustravam a palavra do

instrutor espiritual. Não senti o tempo que passou, dado o ambiente de tranquilidade

que estávamos desfrutando naquele momento.

149
O céu no teto do salão mudava como que por encanto. Luzes faziam-se e se

desfaziam no ambiente; flores enfeitavam de beleza todo o recinto espiritual, eu não

era capaz de qualificar o perfume, tamanha a sua doçura ao bem-estar do meu olfato.

Começamos a levantar com os olhos marejados de lágrimas, por gratidão

àquele ser espiritual, que jamais esquecerei.

Estávamos no salão de música, onde muitos se deliciavam com as melodias

que se sucediam, para nos levar à harmonia tanto quanto desejávamos. Naquele

momento, alguém tocava o dedo em vários dispositivos, e o ar se impregnava de

sons maravilhosos, colocando-nos quase em êxtase. Estávamos, naquele momento,

ouvindo o notável compositor alemão, que reencarnou na Terra em 1714, viveu 73

anos e compôs inúmeras partituras; homem de uma criatividade exuberante,

chamado até de "Miguel Angelo da Harmonia": Cristóvão Willibald Gluck.

Nós desejamos vos dizer que a música, sempre que ouvimos aqui, nos mostra

muita diferença das que estão registradas nas possibilidades terrenas. As dos planos

espirituais são mais aperfeiçoadas; as da Terra são cópias com certas deficiências,

que os compositores conseguem materializar no mundo, marcando, assim, um

grande esforço.

A música, para nós, serve de alimento, pelo toque de harmonia em nossa

mente, e verdadeiramente a harmonia e vida, por estar todo o Universo em plena

consonância com Deus. A simetria é um segredo da vida. Quando o homem começar

a despertar para a ciência espiritual, deverá começar a estudar a harmonia. O próprio

corpo físico passa a adoecer, quando lhe falta ordem! A primeira coisa que o

Evangelho faz na criatura que o descobre como o caminho da salvação é harmonizar

a sua mente. Os grandes compositores, quando animam um corpo físico, já levam

150
daqui do mundo espiritual noções mais profundas sobre a coerência das coisas e da

vida. Malgrado, que muitos tomam caminhos indesejados, mesmo como os tesouros

na cabeça.

Podeis, no mundo, fazer tratamento pela música, desde quando conheçais

outras ciências coadjuvantes.

*****

Final

E agora, Nunes?

Como ficaremos sem saber o que aconteceu com a equipe harmoniosamente

formada?

O que terá acontecido com os médiuns envolvidos, com os obsessores

e suas vitimas?

A resposta, nos diz o caro amigo João Nunes, está na prática do que nos

recomendam as leis divinas e os principios básicos da Doutrina Espirita.

Quem sabe o que pode ter acontecido com cada um? Estude as obras

básicas e, no aspecto da mediunidade, busque respostas em "O Livro dos

Médiuns", de Allan Kardec.

Quer saber o que teria acontecido? Olhe ao seu redor, acompanhe o

noticiário, reflita nos acontecimentos... Imagine o trabalho de nossos sete

heróis desta saga e, ao se recolher ao leito, ore e peça permissão a Jesus para

frequentar aulas no plano espiritual que possam oferecer esclarecimentos

e treinamentos para fazer parte de equipes que, incansavelmente, se

151
distribuem no espaço em busca do trabalho enobrecedor de socorro às

vitimas de seus próprios personalismo, mas que, conscientes do equivoco,

se dispõem a servir em nome do Amor.

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