Artigo - Saúde Existencial
Artigo - Saúde Existencial
Artigo - Saúde Existencial
ACONSELHAMENTO
Estudo de Caso
Resumo: Este trabalho tem como objectivo, um estudo de caso, tendo por base dados
perturbações e cuidados propostos também serão abordados. O trabalho ainda terá uma
Abstract: The purpose of this article is a case study, based on the information taken by
an interview done with the person in study. Her biography, her possible perturbations
and proposed care will be the issues in this article. The work will have a theoretical
component, where some fundamental concepts will be revised, to help understand the
Darei a minha entrevistada o nome fictício de Maria Rita. Portanto, a Maria Rita tem 47
anos, nasceu em Angola, filha de pais angolanos, tendo um irmão. Teve uma infância,
que ao seu ver foi bastante normal e feliz. Vivia num meio familiar coeso, que lhe
proporcionou desenvolver-se numa atmosfera de paz e segurança. Aos doze anos, tem a
sua primeira paixão, por um colega da escola. No entanto tem que sair de Angola com
toda a sua família, praticamente “fugida”, vindo viver para Portugal, este contacto acaba
por força das circunstâncias sendo abruptamente interrompido (já em Portugal, tentam
na idade uma reaproximação, que não é de todo concretizada). Aos doze anos, vê-se
obrigada a adaptar-se a uma nova realidade, marcou-a muito o facto de os pais terem
perdido praticamente todos os bens que possuíam. Segue sua vida escolar, no Liceu,
ultrapassando algum preconceito, por serem rotulados, como “retornados”, rótulo que
nem sequer correspondia a sua condição real. Conclui os seus estudos, já a trabalhar em
Maria Rita casa-se aos vinte e seis anos, estando apaixonada, mas diz ter ficado marcada
a sua paixão da adolescência. Seu casamento é um tanto conturbado, pois é marcado por
constantes traições por parte do marido, dividiam suas vidas entre Lisboa e Porto,
passando algumas vezes semanas sem estarem juntos. Já desiludida com a degradação
do seu casamento, conhece aquele que viria mesmo a ser “o amor da sua vida”, para
logo a seguir separar-se do seu marido, pondo fim, a dez anos de casamento.
Maria Rita começa então uma nova relação aos 36 anos com o João, que também é
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vivendo em casas separadas, mesmo com o passar do tempo e com uma maior
Maria Rita engravida do João, sendo que a gravidez não fazia parte dos planos de
nenhum dos dois. Entretanto o seu pai adoece, e lhe é diagnosticado um Tumor
Cerebral, vindo o mesmo a falecer um mês depois. Com estes acontecimentos Maria
Rita acaba por sofrer um aborto espontâneo, a seguir ao sepultamento do pai. Diz que
Maria Rita no entanto, enfrentou mais dissabores em relação a saúde, quando foi
todo o processo do tratamento, indo inclusivamente viver para a casa do João, sendo a
única que se ocupava dos seus cuidados. Confessa ter sido um período extremamente
companheiro. Diz ter momentos que se vai a baixo, ainda por conta desta perda e
Maria Rita neste momento, tem um companheiro com quem vive, e diz ser o objectivo
da sua vida, ver sua única sobrinha, a quem considera como uma filha, formada e bem
na vida.
Saúde Existencial
“Mais que mera saúde orgânica ou forma estética corporal, a Saúde Existencial é um
(Leonel de Souza)
A Saúde Existencial, está relacionada de forma directa, com o facto de existir, e não
apenas viver. Segundo Lopes (2006), existir é não ceder a inautenticidade, é ser
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persistente apesar de todos os obstáculos que possam surgir, enquanto realiza-se algo
com valor.
Viver, de acordo com Lopes (2006) é algo que acontece, através de tendências
primárias, por impulsos, por motivos superficiais, enquanto existir, é algo muito mais
profundo, que nos leva a realizar valores por nós eleitos, para os quais somos atraídos.
Lopes (1982) nos dá uma ideia, clara e profunda do que a tarefa de existir, comporta em
si. Como assumir a Liberdade, ser-se responsável, e comprometido com o seu Devir,
e de Fé”.
Porém, ter Saúde Existencial, não é apenas Existir, mas sim, Existir Autenticamente, o
que segundo Lopes (2006) é possível, quando o existente, exerce sua possibilidade de
(http://www.geocities.com/slprometheus/html/heidegger.htm).
Segundo Lopes (2006), o existente morre todos os dias, para as suas falhas e para tudo
aquilo que contraria, o pleno exercício do seu “vocatio”. O existente irá imortalizar-se à
medida que vai existindo com ética, e com ética religiosa, buscando a perfeição de si,
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De acordo com Carl Rogers (1985) o termo congruência é fundamental para tudo aquilo
que vem ser a base em terapia, e nas interacções subjectivas de uma maneira geral.
Autenticidade por sua vez, não pode ser considerada sinónimo de congruência. Segundo
a visão de Heidegger (Ser e Tempo) ser autêntico é poder-ser -si mesmo, e autenticidade
tem uma correspondência com “cuidado (cura), é o chamado para o cumprimento de si-
mesmo.” Portanto ser autêntico, pode ser interpretado, como possuindo a si mesmo,
Descrição da Entrevista
No decorrer da entrevista (Anexo A), pode-se perceber que a entrevistada Maria Rita,
tem como factos marcantes em sua vida, a sua vinda com a família para Portugal e a
Com sua mudança para Portugal ressente-se de ter deixado parte importante da sua vida
para trás e fala da sua adaptação., “ Odiei o Liceu, comecei a odiar as pessoas, odiar
entre aspas, não é, eu não consigo odiar ninguém. Para já, o frio, cheguei aqui em 1976,
no dia 1 de Março, com temperatura de 0º grau, quando eu saí de lá, com 40ºgraus,
depois a adaptação de uma nova vida”. Maria Rita diz que nem ela nem os seus
familiares perderam a “maneira africana de ser”. Nesta altura, percebe que sente
demasiada falta do seu país … “Mas hoje com 47 anos, eu sinto falta do meu país, da
minha terra, de várias coisas, a liberdade, a maneira de estar, a maneira de ser das
pessoas, o espaço, a amplitude, tudo isto, o calor, o calor, o calor não em termos de
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temperatura, mas o calor Humano. Pronto. E depois aquela história, o stress contínuo
A doença e morte do seu companheiro, também lhe deixaram marcas profundas., “Era,
horrível. Por acaso eu estava a assistir a degradação de uma pessoa, com 1,80, que tinha
80 quilos de peso, que é uma figura… ele era um homem, interessante, muito
interessante… Só que é assim, eu sou uma pessoa que consigo lhe dar com estas coisas,
Maria Rita argumenta consigo própria para não cair, para não entregar-se ao desânimo,
diz que não resolveria os seus problemas, tomar medicamentos. Passou logo após a
morte do João, momentos de esgotamento., “Teve uma altura em que a única coisa que
eu queria fazer, era dormir, Só a noite, atenção. Era um cansaço sobre humano…mas é
contra a minha natureza entrar em depressão.” Esforça-se para não demonstrar fraqueza
diante das outras pessoas, muito embora, sinta-se fraca, com alguma frequência., “Ao pé
das pessoas, nunca dei parte fraca, não sou pessoa de dá parte fraca ao pé das pessoas,
Diz durante a entrevista que tem sido difícil sair da cama todos os dias, mas reage logo,
dizendo em tom de brincadeira, que ficar na cama, não ia senão, lhe aumentar os
relação a situação das coisas e pessoas que a cercam., “Complica-me muito o sistema
nervoso, eu não poder ajudar pessoas que eu acho que devia ajudar.”
Expõe ser ela o alicerce de toda a família, mas que tem sempre o apoio do irmão., “O
meu irmão é o meu «ai Jesus». A minha sobrinha, é como se fosse minha filha. Não sou
uma pessoa de grandes afectividades…adoro a minha família, somos uma família unida,
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Por fim, Maria Rita que no inicio da entrevista afirmou que ia vivendo por viver, e que
não havia nada que desse real sentido a sua existência, termina fazendo uma avaliação
“Considero-me uma boa pessoa, não estou a me auto elogiar, atenção, não sou
prepotente a este ponto, mas acho que sou uma boa pessoa, neste momento, com esta
idade, considero-me mesmo uma óptima pessoa, foi com os meus erros todos, que eu
aprendi a ser a pessoa que eu sou hoje… O objectivo da minha vida é ver a minha
sobrinha bem-criada e bem formada na vida, quero ver a menina bem na vida.”
Possíveis Perturbações
Após uma análise da entrevista efectuada pode-se perceber que a entrevistada vive em
capacidade para “dar a volta por cima sozinha”, no entanto o que foi emergindo no
sentimento de impotência, em relação ao estado das coisas que a cercam. A própria diz
que, vai vivendo por viver, o que segundo Lopes (2006) é uma forma de desespero.
Apesar de ir com o movimento da massa e de até esboçar algum interesse pelo futuro da
Cuidados propostos
De acordo com Lopes (2006) a crise pode levar a pessoa a uma situação correspondente
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da existência pode trazer um novo estado gerado por actualizações realizadas no
caminho para que a Maria Rita obtenha Saúde Existencial, para tal proponho que ela
Conclusão
“Escolher a si mesmo, ser autor de seu próprio roteiro, ser livre e por conseguinte
responsável”, não são de todo tarefas fáceis. Já dizia Kierkegaard ser a Existência tarefa
(Lopes, 2006). Tarefa árdua, não deixar que o desespero venha ao nosso encontro, que
instale-se em nossa vida, anulando a nossa Existência. Maria Rita perdeu-se de si, e hoje
vive ao sabor das massas, vive o social, o impessoal, mas como este trabalho mostra
Maria Rita poderá Existir Autenticamente, e desta forma ter Saúde Existencial.
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Referências Bibliográficas
Almeida Oliveira, J. (2007). www.facapa.edu.br
318).
Rogers, C., R. (1985). Tornar-se pessoa (7ª ed). Lisboa: Moraes editores.
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