João Cabral de Melo Neto - Auto Do Frade
João Cabral de Melo Neto - Auto Do Frade
João Cabral de Melo Neto - Auto Do Frade
Auto do Frade
2
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Capa
Mariana Newlands
Imagem de capa
Stephanie Maze/Corbis/LatinStock
Estabelecimento do texto e bibliografia
Antonio Carlos Secchin
Revisão
Ana Kronemberger
Conversão para e-book
Abreu’s System Ltda.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M486a
Melo Neto, João Cabral de
Auto do frade [recurso eletrônico] / João Cabral de Melo Neto. - Rio de Janeiro : Objetiva, 2011.
recurso digital
Formação: ePub
Requisitos do sistema:
Modo de acesso:
48p. ISBN 978-85-7962-123-9 (recurso eletrônico)
1. Poesia brasileira. 2. Livros eletrônicos. I. Título.
11-8170 CDD: 869.91
CDU: 821.134.4(81)-1
3
A meus filhos
4
“I salute you and I say I am not displeased I am not pleased,
I am not pleased I am not displeased.”
GE RTRU DE STE IN
5
Na cela
O Provincial e o carcereiro
O P RO V IN C IA L E O C A RC E RE IRO :
— Dorme.
— Dorme como se não fosse com ele.
— Dorme como uma criança dorme.
— Dorme como em pouco, morto, vai dormir.
— Ignora todo esse circo lá embaixo.
— Não é circo. É a lei que monta o espetáculo.
— Dorme. No mais fundo do poço onde se dorme.
— Já terá tempo de dormir: a morte inteira.
— Não se dorme na morte. Não é sono.
— Não é sono. E não terá, como agora, quem o acorde.
— Que durma ainda. Não tem hora marcada.
— Mas é preciso acordá-lo. Já há gente para o espetáculo.
— Então, batamos mais forte na porta.
— Como dorme. Mais do que dormindo estará mouco.
— Ainda uma vez.
— Melhor disparar um canhão perto da porta.
— Batamos, outra vez ainda.
— Melhor arrombar a porta. Sacudi-lo.
— Dorme fundo como um morto.
— Mas está vivo. Vamos ressuscitá-lo.
— Deste sono ainda pode ser ressuscitado.
— Deste sono, sim. Do outro, nem que ponham a porta abaixo.
— Está dormindo como um santo.
— Santo não dorme. Os santos são é moucos. Mas têm os olhos bem abertos. Vi na
igreja.
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Na porta da cadeia
O Meirinho
O M E IRIN H O :
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
O Clero:
O C LE RO :
— Vejo que foi obedecido
— à risca o cerimonial.
— Primeiro, eis as tropas de linha,
— de porte espigado, marcial.
— Depois, as gentes da justiça
— e suas roupas de funeral.
— Depois, irmãos da Santa Casa
— com sua compunção clerical.
— E afinal, nós outros do Clero,
— que conhecemos o ritual.
— Noto apenas é que o Juiz
— que na execução capital
— é mais importante que o réu,
— é até sua figura central,
— não tenha aparecido aqui,
— tão pontual que é no Tribunal.
A Tropa
A TRO P A :
— Dizque ele ainda está dormindo,
— como criança quando dorme.
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— Enquanto ele estiver dormindo,
— sofrerá dos pés quem mais sofre.
— Da morte estará bem mais perto
— quanto mais tarde o réu acorde.
— Dizque uma lei do Imperador,
— que vai chegar, lhe muda a sorte.
— Não sei que esperar desse lado,
— não há navio que hoje aporte.
— Terá sido o sono mais fundo
— de sua vida viva e insone.
— O sol já subiu bastante alto,
— sem que isso a seu sono lhe importe.
— Que sol entra na cela negra?
— Lá se dorme como quem morre.
A Justiça
A JU S TIÇ A :
— Não estamos todos aqui?
— Só noto a ausência do juiz.
— Por que não chega? Já é tarde.
— O sol, todo aceso, já arde.
— A Taborda, como está longe.
— A mais de três gritos deste onde.
— Andar no sol todo o caminho,
— nem para um banho nos Peixinhos.
— Bem pior do que ir de procissão:
— de tarde o sol amansa o cão.
— Por que não apressam o juiz?
— Já o chamaram. Mas não quis vir.
— Não quis vir, não: não o encontraram
— e a ninguém da raça de juiz.
— Nem o próprio, o Ouvidor de Olinda,
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— nem nenhum vem cá presidir.
Frei Caneca
FRE I CA N E C A :
— Acordo fora de mim
— como há tempos não fazia.
— Acordo claro, de todo,
— acordo com toda a vida,
— com todos cinco sentidos
— e sobretudo com a vista
— que dentro dessa prisão
— para mim não existia.
— Acordo fora de mim:
— como fora nada eu via,
— ficava dentro de mim
— como vida apodrecida.
— Acordar não é de dentro,
— acordar é ter saída.
— Acordar é reacordar-se
— ao que em nosso redor gira.
— Mesmo quando alguém acorda
— para um fiapo de vida,
— como o que tanto aparato
— que me cerca me anuncia:
— esse bosque de espingardas
— mudas, mas logo assassinas,
— sempre à espera dessa voz
— que autorize o que é sua sina,
— esses padres que as invejam
— por serem mais efetivas
— que os sermões que passam largo
— dos infernos que anunciam.
— Essas coisas ao redor
— sim me acordam para a vida,
— embora somente um fio
— me reste de vida e dia.
— Essas coisas me situam
— e também me dão saída;
— ao vê-las me vejo nelas,
— me completam, convividas.
— Não é o inerte acordar
— na cela negra e vazia:
— lá não podia dizer
— quando velava ou dormia.
O Meirinho
O M E IRIN H O :
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
A Justiça
9
A JU S TIÇ A :
— O juiz não virá: partiu
— na sua visita trimestral
— para correr os dez partidos
— de seu imenso canavial.
— Canavial de muitas sesmarias
— que, para corrê-lo em total,
— se precisa de muitas viagens
— em lombo de escravo ou animal.
— Algo é suspeito em tudo isso,
— tratando-se de homem tão pontual.
— Ao corregedor cabe julgá-lo:
— quem sabe é um monstro liberal.
— Talvez como é tão importante
— (numa execução é central),
— receia que confundam o réu
— com seu meritíssimo animal.
A Tropa
A TRO P A :
— O que estamos fazendo aqui,
— de pé e à espera qual cavalos?
— Qual cavalos atraímos moscas,
— as moscas de nossos cavalos.
— As moscas não estão saciadas,
— vêm dos cavalos para os soldados.
— Caíram todas sobre nós,
— e os cavalos foram poupados.
— Ficar de pé sem ter por quê
— é dos cavalos e soldados.
— Mas os cavalos têm ao menos
— para plantar-se quatro cascos.
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— Nós não temos senão dois pés,
— e nenhum dos dois vai ferrado.
— Até quando aqui ficaremos,
— fazendo de cavalos, de asnos?
O Clero
O C LE RO :
— Nós, que somos da Madre Igreja,
— por força seremos os últimos?
— Teremos de ir detrás de todos?
— Nossos direitos estão nulos?
— O réu já foi um de nós mesmos,
— não é mais, porque foi expulso.
— Por ele sequer rezaremos
— nenhum ofício de defunto.
— Nosso lugar seria à frente,
— como é prescrito pelo uso.
— Deviam prestigiar o clero
— e livrá-lo desses insultos.
— É uma forma de nos punir
— que aqui nos coloquem por último.
— Punir no clero qualquer frade
— levantadiço é mais que absurdo.
O Meirinho
O M E IRIN H O :
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
11
Da cadeia à Igreja do Terço
Um Oficial
U M O F IC IA L:
— Que ninguém se aproxime dele.
— Ele é um réu condenado à morte.
— Foi contra Sua Majestade,
— contra a ordem, tudo que é nobre.
— Republicano, ele não quis
— obedecer ordens da Corte.
— Separatista, pretendeu
— dar o Norte à gente do Norte.
— Padre existe é para rezar
— pela alma, mas não contra a fome.
— Mesmo vestido como está,
— com essa batina de monge,
— para receber seu castigo
— é preciso que ele se assome.
— Que todo o cortejo avance!
— Temos que chegar ainda longe.
Dois Oficiais
DO IS O F IC IA IS :
— Este passo está muito lento.
— É de procissão, não de guerra.
— Vamos como podemos. Ninguém
— disse que o cortejo tem pressa.
— Nesse andar de frade jamais
— chegaremos às Cinco Pontas.
— Ao juiz cabia dar o ritmo.
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— Porém não quis vir até a festa.
— Isto aqui não é procissão,
— não tem por que o andar de reza.
— Então o melhor é dizer isso
— a quem todo o cortejo regra.
— Andar como padre é dar vez
— à gente baixa, que protesta.
— Melhor pois que corra o cortejo,
— com passo de assalto, de guerra.
O Meirinho
O M E IRIN H O :
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
13
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
A Gente nas Calçadas: — Por Que Será Que Ele Não Fala,
A G E N TE N A S C A LÇ A DA S :
— Por que será que ele não fala,
— nem diz nada sua boca muda?
— Senhor que ele foi das palavras,
— não há uma só que hoje acuda.
— Contaram-me que na cadeia
— lhe haviam arrancado a língua.
— Pois, se ele pudesse falar,
— tropa ou juiz, quem que o detinha?
— Cortaram-lhe a língua na cela
— para que não se confessasse.
— Condenado que foi à forca,
— que ao inferno se condenasse.
— Não fala porque lhe proibiram
— na cela onde as caveiras limpas.
— Os muros que o tinham na cela
— são agora essas togas, batinas.
— Lá não tinha com quem falar,
— as paredes nem eco tinham.
Frei Caneca
FRE I CA N E C A :
— Se é procissão que me fazem,
— mudou muito a liturgia:
— não vejo andor para o santo,
— nem há nenhum santo à vista.
— Vejo muita gente armada,
— vejo só uma confraria.
— E tudo é muito formal
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— para ser uma romaria.
— Talvez seja só um enterro
— em que o morto caminharia,
— que não vai entre seis tábuas,
— mas entre seis carabinas.
— Irmãos da Misericórdia,
— com sua bandeira e insígnias,
— me acompanham no desfile
— no andar triste de batinas,
— com passadas de urubu
— como sempre eles imitam,
— o andar de grua dos padres
— e da gente da justiça.
— E essa tropa de soldados
— formados para ordem unida,
— que cerca o morto, não vá
— escapar da cerca viva,
— pendurada pelas casas
— ou de pé pelas cornijas.
— Dessa gente sei dizer
— quem Manuel e quem Maria,
— quem boticário ou caixeiro,
— e sua mesma freguesia.
— Cada casa dessas ruas
— é também amiga íntima,
— posso dizer a cor que era,
— que no ano passado tinha.
— E essa gente que nas ruas
— de cada lado se apinha
— (neste estranho dia santo
— em que ninguém comercia),
— a gente que dos telhados
— tudo o que vai vê de cima.
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— falando em frutas, passarinhos.
O Meirinho
O M E IRIN H O :
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
O Oficial e o Provincial
O O F IC IA L E O P RO V IN C IA L:
— Vem de dizer o condenado
— que suspende sua falação.
— Mas, falando alto, não pregava.
— Falava-se, o que não é sermão.
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— Que tinha a dizer ante a forca?
— Não lembra a cela de alcatrão?
— O alcatrão já não o preocupa
— e ao sol curou-se da prisão.
— Parecia que estava bêbado.
— Era álcool ou sua desrazão?
— Bêbado da luz do Recife:
— fez esquecer sua aflição.
— Mas pareceu falar em versos.
— É isso estar bêbado ou não?
— Mesmo sem querer fala em verso
— quem fala a partir da emoção.
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FRE I CA N E C A :
— Sob o céu de tanta luz
— que aqui é de praia ainda,
— leve, clara, luminosa
— por vir do Pina e de Olinda,
— que jogam verde e azul
— sob o sol de alma marinha,
— sob o sol inabitável
— que dirá Sophia um dia,
— vou revivendo os quintais
— que dispensam sesta amiga
— detrás das fachadas magras
— com sombras gordas e líquidas.
— E, se não ouço os pregões,
— vozes das cidades, vivas,
— revivendo tantas coisas
— valem qualquer despedida.
— Sei que acordei para pouco
— e que entre a cela sinistra
— onde só a luz das caveiras
— com luz própria reluzia,
— e o outro telão de sono
— que cai e que não se bisa,
— é estreita a nesga de tempo
— para que se chame vida.
— E as ruas de São José
— com que mais eu convivia,
— que passeava sem prever
— o passeio deste dia.
— Eu sei que no fim de tudo
— um poço cego me fita.
— Difícil é pensar nele
— neste passeio de um dia,
— neste passeio sem volta
— (meu bilhete é só de ida).
— Mas, por estreita que seja,
— dela posso ver o dia,
— dia Recife e Nordeste,
— gramática e geometria,
— de beira-mar e Sertão
— onde minha vida um dia.
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— como com os panos acontece.
— Foi um menino que a enxergou
— e adultos o mesmo pretendem.
— Decerto é a Senhora do Carmo,
— de quem é frade, e que o protege.
— Padroeira também do Recife,
— dos marinheiros que lhe rezem.
— A Virgem que uma estrebaria
— tirou do convento que teve.
O meirinho:
O M E IRIN H O :
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
Frei Caneca:
FRE I CA N E C A :
— O raso Fora-de-Portas
— de minha infância menina,
— onde o mar era redondo,
— verde-azul, e se fundia
— com um céu também redondo
— de igual luz e geometria!
— Girando sobre mim mesmo,
— girava em redor a vista
— pelo imenso meio-círculo
— de Guararapes a Olinda.
— Eu era um ponto qualquer
— na planície sem medida,
— em que as coisas recortadas
— pareciam mais precisas,
— mais lavadas, mais dispostas
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— segundo clara justiça.
— Era tão clara a planície,
— tão justas as coisas via,
— que uma cidade solar
— pensei que construiria.
— Nunca pensei que tal mundo
— com sermões o implantaria.
— Sei que traçar no papel
— é mais fácil que na vida.
— Sei que o mundo jamais é
— a página pura e passiva.
— O mundo não é uma folha
— de papel, receptiva:
— o mundo tem alma autônoma,
— é de alma inquieta e explosiva.
— Mas o sol me deu a ideia
— de um mundo claro algum dia.
— Risco nesse papel praia,
— em sua brancura crítica,
— que exige sempre a justeza
— em qualquer caligrafia;
— que exige que as coisas nele
— sejam de linhas precisas;
— e que não faz diferença
— entre a justeza e a justiça.
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— Mandou de férias todos eles
— e ficou sozinho no prédio.
— Todo o convento está de férias
— como se só fosse colégio.
— Assim todos estarão longe
— do condenado e, assim, dos ecos.
— Frei São Carlos segue Caneca,
— desde sua cela, manhã cedo.
— Depois sozinho, no convento,
— fará no claustro seu enterro.
Dois oficiais:
DO IS O F IC IA IS :
— Melhor é apressar mais o passo,
— que a gente já se mostra inquieta.
— A gente é o que há de perigoso:
— sua arma final é um quebra-quebra.
— Um indulto do Imperador
— é o que essa gente ainda espera.
— Não pode haver adiamento
— e a volta à prisão negra e cega?
— Como indulto ou adiamento,
— se nenhum navio hoje chega?
— Então essa gente das calçadas
— vai esperar muito que aconteça.
— Que a padroeira do Recife,
— com seus milagres apareça.
— Talvez por ser dos marinheiros,
— mande navio a toda pressa.
O Oficial e o Provincial:
O O F IC IA L E O P RO V IN C IA L:
— Que fazer para vos fazer
— adotar um passo de carga?
— Demonstrar que em cima de nós
— há inimigo na retaguarda.
— Não sentis que a gente impaciente
— desse espetáculo está cansada?
— A impaciência que nela sinto
— é porque nada disso acata.
— É o indulto do Imperador
— o que essa gente toda aguarda?
— Não compreendeis que minha tropa
— disparará caso atacada?
— A gente não pensa atacar,
— é um milagre que a gente aguarda.
— E não só a gente dessas ruas:
— a gente também das sacadas.
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A G E N TE N A S C A LÇ A DA S :
— Nos fizeram lavar fachadas
— como em dia de procissão.
— Nos fizeram varrer calçadas,
— limpar o que faz todo cão.
— Parece até enterro de Bispo,
— ou mais bonito, a sagração.
— Até nosso céu eles espanaram
— e não só com as brisas, não.
— Como que passaram no céu
— esfregão com água e sabão.
— Mas disso tudo agora vemos
— qual a verdadeira intenção.
— Enforcar um homem que soube
— opor ao Império um duro não.
— (Cem anos depois um outro homem
— dirá “nego” a uma igual questão.)
O meirinho:
O M E IRIN H O :
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
22
No adro do Terço
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
— Agora o estão paramentando:
— para vir celebrar a missa.
— Nenhum sacristão o ajudou
— tão ritualmente em sua vida.
— Talvez porque essa venha a ser
— a última missa que diga.
— Quanto terá de abençoar
— o que há aqui de gente inimiga!
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
— É falsa a unção com que o ajuda
— o frade que é seu sacristão.
— — Põe-lhe o amito, veste-lhe a alva
— como a um judas de diversão.
— — O cordão agora é o litúrgico,
— não o que o trouxe como um cão.
— — Esse cordão com que ora o cingem
— não é o baraço da forca, não.
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
—
— Põem-lhe um manípulo bordado
— como ele nunca usou nem teve.
— Trazem-lhe uma estola de luxo
23
— que é mais de bispo que de freire.
— Essa casula com que o vestem
— lhe cai perfeitamente, é adrede.
— Como mandada costurar
— por alfaiate que o conhece.
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
—
— Agora o conduzem ao trono
— como um bispo ou como um vigário.
— Como não temos bispo agora,
— levam-no ao trono do vigário.
— Não sei por que tanto se ajoelha
— como penitente relapso.
— Se já está do lado da morte,
— nada o reterá deste lado.
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
—
— Não sei se hoje pelas igrejas
— é dia de usar encarnado.
— Para enforcado, o justo é roxo,
— pois sangue não é derramado.
— Quem sabe se há nisso um presságio?
— Quem sabe se vão indultá-lo?
— Me parece, sim, presságio:
— não indulto, vão fuzilá-lo.
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
—
— Mas não foi para dizer missa
— que de luxo o paramentaram.
— Ainda continua de joelhos
— perante o bispo improvisado.
— Que parece querer falar
— aos que chama de seu rebanho.
— Mas quantos de nós hoje aqui
— querem ouvir sua voz de fanho?
A Meirinho
A M E IRIN H O :
—
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
O Vigário Geral
O V IG Á RIO G E RA L
— A degradação eclesiástica é uma pena vindicativa, a mais grave de todas as penas
24
eclesiásticas. Ao iniciar-se a degradação, vestem-lhe todos os paramentos
sagrados, como se o padre houvesse ainda uma vez de celebrar o sacrifício
incruento da redenção. E a cerimônia começa, com grande aparato: o celebrante
lhe tira das mãos o cálice, a hóstia e a patena. Depois, um a um, o vai despindo
dos paramentos sacerdotais. Despem-no finalmente da batina ou hábito religioso.
Está o padre degradado das ordens sacras; já não pode exercer o ministério
sacerdotal.
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
— Não foi mesmo para dizer missa
— que o haviam paramentado.
— Manda tomar o que lhe deram
— esse faz-de-bispo, o vigário.
— O cálice e a patena, vejo,
— foram primeiro arrebatados.
— Com o latim que eles não sabem
— pensam que tudo está explicado.
[em background]
Amovemus a te, quin potus amotan esse ostidimus offerendi Deo sacrificium,
Missanque celebrandi tam pro vivio, quam pro difunctis.
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
— Ainda estão lhe retirando
— até o que não lhe tinham dado.
— Com a faca raspam-lhe as mãos
— que tanto haviam abençoado.
— Do índice e do polegar
— raspam-lhe esse gesto sagrado.
— Parece que o sagrado é poeira:
— muito facilmente é raspado.
[em background]
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
— Vem agora a vez da casula,
— da cor do sangue que evitou.
— Que ele evitou de derramar
— e só por isso se entregou.
— Quem sabe se o matam com sangue,
— cor do paramento que usou?
— Vão sempre falando em latim:
25
— pensam que o fala o Imperador.
[em background]
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
— O que ainda continuarão,
— continuarão a despir dele?
— Arrancam-lhe agora a estola,
— que lhe é arrancada como pele.
— Se continuam assim, à forca
— não arribará nada dele.
— Enforcarão o esqueleto nu,
— nu de alma, de carne e de pele.
[em background]
Signum Domini per hanc stolam turpiter abjecisti, ideoque ipsam e te amovemus,
quem inhabilem reddimus ad omne Sacerdotale officium exercendum.
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
— Parece que não é o vigário
— que vai continuar a despi-lo.
— Ou já estará muito cansado
— ou do que resta não é digno.
— Os outros padres, seus lacaios,
— tiram-lhe o cíngulo, a alva, o amito.
— De todo o frade que ele foi,
— eis que volta ao que é, sem mito.
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
— Agora lhe raspam a tonsura
— com pobre navalha barbeira.
— Despem-no do hábito do Carmo,
— para ele é despir-se da igreja.
— Nu de toda igreja, em camisa
— e calças de ganga grosseira.
— Voltou a ser qualquer de nós:
— pensará que foi ganho ou perda?
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
— Quando tiravam alguma coisa,
— vinham o incenso e a água benta.
26
— Não era o frade a quem benziam,
— estavam benzendo era a prenda.
— Queriam limpá-la do frade
— e do diabo, se estava prenha.
— Queriam lavá-la de tudo,
— do frade, do diabo e suas lêndeas.
A Gente no Adro
A G E N TE N O A DRO :
— Reparai, agora lhe trazem
— uma outra espécie de batina.
— Dizem-na a alva dos condenados:
— a forca a exige, é da rotina.
— Nela não enxergo os bordados
— que há nas alvas de dizer missa.
— A alva é encardida, é sua mortalha,
— dizem-na alva por ironia.
O Meirinho:
O M E IRIN H O :
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
27
Da Igreja do Terço ao Forte
Oficial:
O F IC IA L:
— Que se recomponha o cortejo
— como ele vinha até então.
— Todos seguirão na mesma ordem,
— e ainda o réu sob proteção.
— Iremos ao Forte, onde a forca
— está atrasada em sua ração.
— Que todos sigam até o Forte.
— Só depois se dissiparão.
O Meirinho:
O M E IRIN H O :
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
28
— precisa ainda de mais luta.
Frei Caneca:
FRE I CA N E C A :
— Dentro desta cela móvel,
— do curral de gente viva,
— dentro da cela ambulante
— que me prende mas caminha,
— posso olhar de cada lado,
— para baixo e para cima.
— Eis as pedras do Recife
— que o professo carmelita,
— embora frade calçado,
— sente na sola despida.
— Como estou vendo melhor
— essa grade, essa cornija,
— o azulejo mal lavado,
— a varanda retorcida!
— Parece que melhor vejo,
— que levo lentes na vista;
— se antes tudo isso milvi,
— as coisas estão mais nítidas.
— Andando nesse Recife
— que me sobrará da vida,
— sinto na sola dos pés
— que as pedras estão mais vivas,
— que as piso como descalço,
— sinto as arestas e a fibra.
— Embora a viva melhor,
29
— como mais dentro, mais íntima,
— como será o Recife
— que será? Não há quem diga.
— Terá ainda urupemas,
— xexéus, galos-de-campina?
— Terá estas mesmas ruas?
— Para sempre elas estão fixas?
— Será imóvel, mudará
— como onda noutra vertida?
— Debaixo dessa luz crua,
— sob um sol que cai de cima
— e é justo até com talvezes
— e até mesmo todavias,
— quem sabe um dia virá
— uma civil geometria?
O Meirinho:
O M E IRIN H O :
30
—
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
Frei Caneca:
FRE I CA N E C A :
— Esta alva de condenado
— substituiu-me a batina.
— Não penso que ainda venha
— a vestir outra camisa.
— Certo também é mortalha
— e nela sairei da vida.
— Não sei por que os condenados
— vestem sempre esta batina,
— como se a forca fizesse
— disso a questão mais estrita.
— Será que a morte é de branco,
— onde coisa não habita,
31
— ou, se habita, dá na soma
— uma brancura negativa?
— Ou será que é uma cidade
— toda de branco vestida,
— toda de branco caiada
— como Córdoba e Sevilha,
— como o branco sobre branco
— que Malevitch nos pinta
— e com os ovos de Brancusi
— largados pelas esquinas?
— Se essa mortalha branca
— é bilhete que habilita
— a essa morte, eu, que a receio,
— entro nela com alegria.
— Temo a morte, embora saiba
— que é uma conta devida.
— Devemos todos a Deus
— o preço de nossa vida
— e a pagamos com a morte
— (o poeta inglês já dizia).
— Nessa contabilidade
— morte e vida se equilibram,
— e, embora no livro-caixa,
— e também nas estatísticas,
— apareça favorável,
— e sempre, o saldo da vida,
— no dia do fim do mundo
— serão iguais as partidas.
32
A gente nas calçadas:
A G E N TE N A S C A LÇ A DA S :
— Foi muitas vezes anunciado
— um indulto do Imperador.
— Tempo já tinha para chegar,
— mas até hoje não chegou.
— Há dias que não chegam barcos,
— nenhum tampouco hoje arribou.
— E mesmo que chegue tal barco,
— quem diz que a Corte o perdoou?
A Meirinho:
A M E IRIN H O :
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
33
Na praça do Forte
O Meirinho:
O M E IRIN H O :
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
:
O ficial
O F IC IA L:
— Agora apenas militares
— podem entrar neste recinto.
— Que os outros todos se dispersem,
— Santa Casa, clero e cabido.
— Mas fique a gente da Justiça,
— os escrivães, que, por escrito,
— darão fé da morte na forca
— do inimigo da Corte do Rio.
A Gente no Largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Quem foi que ainda não chegou
— para que tenha início a festa?
— Decerto alguma autoridade
— que o veleiro do indulto espera.
— O brigadeiro Lima e Silva,
— dizem, é a favor do Caneca.
— Talvez ele saiba do indulto
— e tenha ordenado essa espera.
A Gente no Largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— O brigadeiro Lima e Silva
— jamais viria abrir a festa.
— Quem é então o personagem
— por quem todo esse mundo espera?
— É mais do que um personagem:
— é a outra metade da festa.
34
— É o carrasco que se não vem
— não se enforcará o Caneca.
A Gente no Largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Lima e Silva não é a favor.
— Ele não é contra o Caneca.
— Ele dobrou-se à Comissão:
— nem procurou influir nela.
— Se for verdade, o Imperador
— tirará tudo o que ele era.
— Lhe dirá que vá para casa
— com suas grã-cruzes, comendas.
A Gente no Largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Não é o carrasco um tal Vieira
— que à forca irá por assassino?
— Ele mesmo. E se enforca o padre
— terá abertos os caminhos.
— Quando o foram buscar não quis
— aparecer, e o disse a gritos.
— Muita coronhada apanhou,
— porque não quis, e pelos gritos.
A Gente no Largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Que passa com o outro ator
— que nos deixa todos na espera?
— O outro personagem, o carrasco,
— não aceita o papel, se nega.
— Nem o trouxeram da cadeia.
— Ali disse não, e se queda.
— Seu não, está claro, lhe deu
— muito o que curar, muita quebra.
A Gente no Largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Dizem que foi ameaçado
— por padres, parentes, amigos.
— Nada disso: não vem por medo
— do que lhe dizem os espíritos.
— Dizem que uma dama, na véspera,
— pôde chegar a seu cubículo.
— Que não enforcasse o afilhado
— a dama teria pedido.
O Oficial e um Carrasco
35
O O F IC IA L E U M C A RRA S C O :
— Agora chegou. É tua vez
— de se livrar com teu serviço.
— Porém dessa vez eu não posso.
— Matar um santo é mais que um bispo.
— Sabes o que te passará
— se não fizeres o que digo?
— Não te disse que teu indulto
— depende só desse suplício?
— Sei disso. E do que passarei.
— Que a forca é certo, é mais que risco.
— Sabes o que é ser enforcado,
— por que passarás antes disso?
— Morrerei na forca, se chego,
— se das torturas sair vivo.
— Sei que à forca não chegarei;
— morrerei antes, vou para o lixo.
O O F IC IA L E U M O U TRO C A RRA S C O :
— Devolvam o preso à cadeia.
— Por esperar, nada ele arrisca.
— Onde está o outro assassino
— que às vezes o substituía?
— Aqui estou. Mas, aquele frade,
— não está aqui quem o enforcaria.
— Mas quem é que decide aqui?
— Sou eu ou a tua covardia?
— Não é por covardia, não.
— Cumpro ordens da Virgem Maria.
— E como essas ordens te deu?
— Soprou-te numa ventania?
— Cobrindo o frade com seu manto,
— voando no céu ela foi vista.
— Para mim é mais que uma ordem,
— seja ela falada ou escrita.
O Oficial e um Soldado:
O O F IC IA L E U M S O LDA DO :
— Correndo chegue-se à cadeia.
— Traga o mais malvado de lá.
— Sairá hoje livre. Perdoado
— de tudo o que fez ou fará.
— Chefe, daqui para a cadeia
— muito tempo se tardará.
— Será dupla perda de tempo.
— Preso nenhum aceitará.
— Crê Vossoria nessa história
— da Virgem abençoando-o do ar?
— Como posso crer tal absurdo?
36
— É de hoje, mas é lenda já.
— Mas corro à cadeia, à procura
— do mais facinoroso que há.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Falaram a dois substitutos,
— ambos à morte condenados.
— Ofereceram-lhes igual prêmio:
— ir seus caminhos liberados.
— Nenhum não quis. Do mesmo jeito,
— ambos os dois foram espancados.
— A réus sem morte ofereceram
— mesmo prêmio que aos dois carrascos.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Por falta de quem contracene
— abandonarão todo espetáculo.
— E terminarão confiando
— o enforcamento a um voluntário.
— Consultaram todo o escalão
— do sistema penitenciário.
— Mas ninguém quis. Certo tiveram
— a visita da Dama de pardo.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Um emissário foi mandado
— recrutar gente na cadeia.
— Foi fazer a todos os presos
— oferta melhor que as já feitas.
— Por piores que sejam os crimes,
— sairão soltos, e a vida feita.
— Com bom emprego na cadeia,
— farda, comida, cama e mesa.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Mas duvido que lá encontrem
— o pessoal que lhes convenha.
— Fosse a oferta feita na praça,
— teriam carrascos às pencas.
— Se negociassem esses cargos,
— seria facílima a venda.
— Até padres se prestariam
— para salvar a ordem e a crença.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Assim, cá estamos à espera
37
— de um tipo ideal de carrasco.
— Que não tenha fé numa Dama
— que voa vestida de pardo.
— Que tenha um crime para ser
— de alguma forma premiado.
— Para quem a forca compense
— carência que o deixe saciado.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Uma forca sempre precisa
— de um enforcado e de um carrasco.
— A forca não vive em monólogos:
— dialética, prefere o diálogo.
— Se um dos dois personagens falta,
— não pode fazer seu trabalho.
— O peso do morto é o motor,
— porém o carrasco é o operário.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Dizem por aí que o emissário
— voltou com ambas mãos vazias.
— Ninguém aceitou o perdão
— porque ele é à custa da vida.
— Sair das grades está bem,
— de ser carrasco não se hesita.
— O grave é depois fazer face
— ao que a Dama de pardo exija.
O Soldado
O S O LDA DO :
— Vi na cadeia muitos réus
— que esperam tranquilos a pena.
— Disse tudo o que me mandaram,
— mas foi inútil toda a lenha.
— Nem mesmo o monstruoso assassino
— que trucidou na Madalena
— pai, mãe, filho, mais quatro escravos
— e um bebê de dias apenas,
— que por isso foi condenado
— pegando a última sentença,
— concorda em enforcar o padre,
— diz que é questão de consciência.
— Parece que o melhor carrasco
— é um menino em toda inocência:
— ir buscar no Asilo da Roda
— carrasco infantil, mas com venda.
Oficial
O O F IC IA L:
38
— Seja o que for, vou eu agora
— até a Comissão Militar
— pedir que forme um pelotão
— que venha para o fuzilar.
— Única saída que vejo,
— embora seja irregular:
— é pedir o ascenso do crime
— a um digno crime militar.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Enquanto isso tudo, ele espera
— sentado nos degraus da forca.
— Como se não fosse com ele
— o corre-corre em sua volta.
— Sente como pode ser longo
— o que nós chamamos de agora.
— Que é como um tempo de borracha
— que se elastece ou que se corta.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Há mais de três horas espera
— sem ver chegar a sua própria.
— Não é uma tortura menor
— que a da cela negra e sem horas.
— Maior do que a por que passou
— na caminhada de ainda agora.
— E mais se são horas barradas
— pelo muro onde se ergue a forca.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Sabia, ao vir, que caminhava
— ao encontro da própria morte.
— Pensou que o estivesse aguardando
— encostada ao portal do Forte.
— E que lhe saísse ao encontro
— entreabrindo-lhe os braços, nobre.
— Mas chegando logo sentiu
— como é altiva e fria a consorte.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Logo que chegou descobriu
— que a morte nem sempre tem fome.
— E, mais, que nem sempre tem mãos
— para acionar seus ressortes.
— Necessita sempre de um braço,
— de enfarte, de câncer, virose.
— E que, numa forca inanimada,
39
— precisa de um braço a suas ordens.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— A morte já o estava caçando
— desde o ano de dezessete.
— Hoje ele está à espera dela,
— que chegue afinal, se revele.
— Como descobrir quem ela é
— no meio de toda essa plebe?
— Chega a pensar que o não deseja,
— chega imaginar que o despreze.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Não imagina onde ela está,
— de onde virá, nem como seja.
— Imagina que ela é biqueira,
— que há gente que não lhe apeteça.
— Não sabe é que ela já está aqui;
— falta-lhe é o braço com que opera.
— Que desta vez nenhum carrasco
— ousa colaborar com ela.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Como não surge quem o enforque,
— chamaram a tropa de linha.
— Ele ainda está ao pé da forca,
— esperando o carrasco, ainda.
— Se a espera for de muito tempo,
— o povo dele se apropria.
— Já está inquieto e excitado,
— com molas de quem se amotina.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Creio que ao mesmo Frei Caneca
— essa tropa vem como alívio.
— Leva ali horas esperando,
— suplício de esperar suplício.
— Para quem está esperando
— cada minuto vale um espinho.
— E, quando a espera é de martírio,
— vira uma pua cada espinho.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Esperar é viver num tempo
— em que o tempo foi suspendido.
— Mesmo sabendo o que se espera,
40
— na espera tensa ele é abolido.
— Se se quer que chegue ou que não,
— numa espera o tempo é abolido.
— E o tempo longo mais encurta
— o da vida, é como um suicídio.
O Meirinho
O M E IRIN H O :
— Vai ser executada a sentença de morte natural na forca, proferida contra o réu
Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— A morte é sempre natural,
— no que não crê esse meirinho.
— Quer se dê na cama ou na forca
— é natural, pois do organismo.
— Pode vir de dentro ou de fora,
— segundo a anedota ou o ocorrido.
— Só cabe anunciar é se ela
— virá do previsto ou imprevisto.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Cabe perguntar se tudo isso
— é de má-fé ou por equívoco.
— Todos têm medo de assumir
— entrar na desgraça do Rio.
— Ninguém assumindo essa morte,
— fingem carrascos insubmissos.
— Doze homens o vão fuzilar;
— pois ninguém o ousava sozinho.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Enforcar é festa de praça,
— ver fuzilar é para poucos.
— Será fuzilado na forca,
— num suplício híbrido e novo.
— Isso de morrer fuzilado
— não é só decoroso, é honroso.
— É que morrer de bala é nobre,
— embora substitua outro modo.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— E, agora, como sairão dessa
— os que arrumaram seu martírio?
— Martírio não é só na forca,
— pode haver outros, e os de tiro.
— Dizque aí que já convocaram
41
— todo um pelotão aguerrido.
— Não se pode mais esperar
— o navio impontual do Rio.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Como ninguém quis enforcá-lo,
— chamaram soldados de linha.
— Cada um mais aposto, levando
— a amante exigente, a clavina.
— Pensam: mais que a guerra estrangeira
— é a guerra ao pé, esquina a esquina.
— É muito fácil transformá-la,
— de política, nessa que pilha.
Dois Oficiais:
DO IS O F IC IA IS :
— Pois creio que esperar ainda
— é coisa de todo impossível.
— A gente que aguarda na praça
— pode ser barril explosivo.
— Uma autoridade não pode
— deixar-se assim desacatar,
— ainda menos por réus de morte,
— mortos, que não querem matar.
— O melhor foi mesmo pedir
— à ilustre Junta Militar
— pelotão da tropa de linha
— que o venha aqui arcabuzar.
— A solução decerto é a única,
— mas um problema vai criar:
— a Caneca tirou-se a forca,
— sendo um criminoso vulgar.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— A forca deve estar tristíssima,
— vão fuzilá-lo a clavinote.
— A tropa vem com os utensílios
— da arte de provocar a morte.
— Eis por que a forca está triste,
— privada que foi de seu dote.
— Está triste, ainda mais corcunda,
— de artritismo ou tuberculose.
— Mais, por ver que a tropa manobra
— a seus pés, em filas de morte.
— E mais, porque ela foi privada
— de seu prazer, e assim de chofre.
— Morte mecânica, industrial,
— sem qualquer gosto pelo esporte.
— Luta de doze contra um só,
42
— o que não é digno nem nobre.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Assim, não o podemos ver mais?
— Quando o veremos estará morto?
— Ver, não. Ouviremos sua morte,
— quem de todo ainda não está mouco.
— Nem o poderemos rever
— nem mesmo quando estiver morto?
— Certo, não. Eles saberão
— como escamotear o corpo.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Já não se sabe onde o levaram.
— Foi conduzido à Fortaleza.
— Mas o que que terão lá dentro?
— Vão trucidá-lo na capela?
— Como não chegou o carrasco,
— matam-no de qualquer maneira.
— Deram-lhe veneno ou facada,
— pois tiro levanta suspeitas.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Talvez o fizeram fugir
— saltando por porta travessa.
— Talvez o forçassem a fugir
— para atingi-lo na carreira.
— Não sei. Tiro de carabina
— subiria da Fortaleza.
— Se agora não o estão torturando,
— não lhe farão fazer a sesta.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Por que o chamam sempre Caneca
— se se chama mesmo é Rabelo?
— Frei Caneca é o filho maior
— de certo Rabelo tanoeiro;
— ao pai, por sua profissão,
— chama-o Caneca o povo inteiro.
— E o filho quando se ordenou
— quis levar a alcunha do velho.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Por que não deixou para um lado
— esse apelido de Caneca?
— Ser do Amor Divino era pouco
43
— para dignificar quem ele era?
— Não quis esconder que seu pai
— um simples operário era,
— nem mentir parecendo vir
— das grandes famílias da terra.
O Meirinho
O M E IRIN H O :
— Vai ser executada a sentença de morte natural por espingar deamento, proferida
contra o réu Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Durante todo esse caminho
— percorrido pelo cortejo,
— se postavam pelos balcões
— senhoras curiosas de vê-lo;
— outras, na rua, desmaiavam
— ou mostravam seu desespero.
— Quem na rua, quem no balcão
— não rezam pelo mesmo terço.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— O cabido inteiro de Olinda
— e a mais gente de religião,
— cruz alçada, foram pedir
— que suspendessem a execução.
— Ouvi dizer que não moveram
— os forasteiros da Comissão;
— sequer entraram no palácio
— onde vivem, e sempre em sessão.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Ser fuzilado é dignidade
— do militar, mais que castigo.
— Fuzilado assim, sem direito,
— recebe mais do que o pedido.
— Dizem que a forca reagiu,
— pegou estranho reumatismo.
— Perdeu a honra de enforcar
— de seus patrícios o mais digno.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— A forca é a pena habitual
— para assassinos e bandidos.
— Assim, para mais humilhá-lo,
— foi condenado a tal suplício.
— Ser fuzilado é a pena digna
44
— do militar, mesmo insubmisso.
— Como ninguém quis enforcá-lo,
— na hora final foi promovido.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Não puderam não conceder-lhe
— essa honra de ser fuzilado.
— Foi mais bem por medo da gente
— que até aqui veio apoiá-lo.
— A gente se põe inquieta
— pela demora do espetáculo.
— A irritação pode crescer
— e então fazer por libertá-lo.
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— — Não concebo outra explicação
— para que houvesse tanta espera.
— Decerto emissário do Rio
— deve ter chegado a esta terra.
— Quem dirá que neste momento
— o perdão não é posto em letra?
— Ou portaria que o condene
— somente à cadeia perpétua?
A gente no largo:
A G E N TE N O LA RG O :
— Lá ficaria toda a vida
— com a geometria e a aritmética.
— Sua vida poderia ser
— muito mais útil do que era.
— O Imperador dos brasileiros
— os escritores muito preza.
— Tardou o indulto mas chegou.
— É mais seguro vir por terra.
45
No pátio do Carmo
Um grupo no pátio:
U M G RU P O N O P Á TIO :
— Fora de Portas, no santuário,
— rezou todo o dia o Caneca.
— Acendeu a todos os santos,
— de todos renovou as velas.
— A vizinhança o acompanhava
— na casa que virou capela.
— Nem se lembrou da oficina
— de tanoeiro, ao lado dela.
46
— Reza também ao vento sul
— a ver se envia alguma vela.
— De pé, pela beira do mar,
— com toda a pele todo acesa.
— Está à espera do ar da brisa,
— do vento sul, de língua seca.
Cinema no Pátio
CIN E M A N O P Á TIO
—
Quatro calcetas com duas tábuas ao ombro, nas quais se pode distinguir o corpo
de um homem deitado, dirigem-se à porta principal da Basílica do Carmo, e deixam
cair no chão, grosseiramente, o corpo que traziam. Batem na porta, aos pontapés, e
vão embora, sem esperar. A porta da igreja se abre pesadamente e aparece o vulto
de um sacerdote que arrasta para dentro da nave o corpo atirado nos degraus da
escada. A porta se fecha, e a noite prossegue, também pesadamente.
Quito, 1981
Tegucigalpa, 1983
47
Apêndices
Cronologia
48
1969 – Com recepção de José Américo de Almeida, toma posse na Academia
Brasileira de Letras. É transferido para Assunção, no Paraguai.
1972 – É nomeado embaixador no Senegal, África.
1975 – A Associação Paulista de Críticos de Arte lhe concede o Grande Prêmio de
Crítica. Publica Museu de tudo.
1980 – Publica A escola das facas.
1981 – É transferido para a embaixada de Honduras.
1984 – Publica Auto do frade.
1985 – Publica Agrestes.
1986 – Assume o Consulado-Geral no Porto, Portugal.
1987 – No mesmo ano, recebe o prêmio da União Brasileira de Escritores e publica
Crime na calle Relator. Retorna ao Brasil.
1988 – Publica Museu de tudo e depois.
1990 – Aposenta-se do Itamaraty. Publica Sevilha andando e recebe, em Lisboa, o
Prêmio Luís de Camões.
1992 – Em Sevilha, na Exposição do IV Centenário da Descoberta da América é
distribuída a antologia Poemas sevilhanos, especialmente preparada para a ocasião.
A Universidade de Oklahoma lhe concede o Neustadt International Prize.
1994 – São publicadas, em um único volume, suas Obras completas. Recebe na
Espanha o Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, pelo conjunto da obra.
1996 – O Instituto Moreira Salles inaugura os Cadernos de literatura brasileira com
um número sobre o poeta.
1999 – João Cabral de Melo Neto falece no Rio de Janeiro.*
*(Fontes: Melo Neto, João Cabral. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008; Cadernos de
literatura brasileira. Instituto Moreira Salles. nº 1, março de 1996; Castello, José. João Cabral de Melo Neto: o
homem sem alma & Diário de tudo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006; Academia Brasileira de Letras;
Fundação Joaquim Nabuco.)
49
Bibliografia do autor
POESIA
Livros avulsos
Pedra do sono. Recife: edição do autor, 1942. [sem numeração de páginas.] Tiragem
de 300 exemplares, mais 40 em papel especial.
Os três mal-amados. Rio de Janeiro: Revista do Brasil, nº 56, dezembro de 1943. p.
64-71.
O engenheiro. Rio de Janeiro: Amigos da Poesia, 1945. 55 p.
Psicologia da composição com A fábula de Anfion e Antiode. Barcelona: O Livro
Inconsútil, 1947. 55 p. Tiragem restrita, não especificada, mais 15 em papel
especial.
O cão sem plumas. Barcelona: O Livro Inconsútil, 1950. 41 p. Tiragem restrita, não
especificada.
O rio ou Relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife.
São Paulo: Edição da Comissão do IV Centenário de São Paulo, 1954. [s.n.p.]
Quaderna. Lisboa: Guimarães Editores, 1960. 113 p.
Dois parlamentos. Madri: edição do autor, 1961. [s.n.p.] Tiragem de 200
exemplares.
A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1966. 111 p.
Museu de tudo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975. 96 p.
A escola das facas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. 94 p.
Auto do frade. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984. 87 p.
Agrestes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. 160 p. Além da convencional, houve
tiragem de 500 exemplares em papel especial.
Crime na calle Relator. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. 82 p.
Sevilha andando. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. 84 p.
Primeiros poemas. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ, 1990. 46 p.
Tiragem de 500 exemplares.
Obras reunidas
50
O cão sem plumas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, 204 p. Inclui Pedra do sono, Os
três mal-amados, O engenheiro, Psicologia da composição e O cão sem plumas.
Morte e vida severina. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, 176 p. Inclui O rio, Morte e
vida severina, Paisagens com figuras e Uma faca só lâmina.
A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, 298 p. Inclui Quaderna, Dois
parlamentos, Serial e A educação pela pedra.
Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. 820 p.
Antologias
PROSA
51
Bibliografia selecionada sobre o autor
ATHAYDE, Félix de. A viagem (ou Itinerário intelectual que fez João Cabral de Melo
Neto do racionalismo ao materialismo dialético). Rio de Janeiro: Nova
Fronteira/Fundação Biblioteca Nacional, 2000. 111 p.
BARBIERI, Ivo. Geometria da composição. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1997. 143
p.
BARBOSA, João Alexandre. A imitação da forma: uma leitura de João Cabral de Melo
Neto. São Paulo: Duas Cidades, 1975. 229 p.
_______. João Cabral de Melo Neto. São Paulo: PubliFolha, 2001. 112 p.
BRASIL, Assis. Manuel e João. Rio de Janeiro: Imago, 1990. 270 p.
CAMPOS, Maria do Carmo, org. João Cabral em perspectiva. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 1995. 198 p.
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João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife, em 1920. Depois de viver os primeiros
anos no engenho da família, voltou à capital ainda jovem e, ao completar 20 anos,
mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 1942, publicou seu primeiro livro, Pedra do
sono. Em 1950, lançou O cão sem plumas, considerado hoje um marco em sua
poesia. Nos anos seguintes, publicou outras obras significativas, como O rio e Morte
e vida severina, que o consagraram definitivamente. Diplomata, residiu em vários
países, sobretudo na Espanha, nas cidades de Sevilha e Barcelona, que se tornariam
tema frequente em sua poesia. Recebeu uma série de prêmios importantes, como o
Camões, o Neustadt International e o Rainha Sofia, e foi cogitado para receber o
Prêmio Nobel. Faleceu em 1999.
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Sumário
Capa
Folha de Rosto
Créditos
Dedicatória
Epígrafe
Na cela
Na porta da cadeia
Da cadeia à Igreja do Terço
No adro do Terço
Da Igreja do Terço ao Forte
Na praça do Forte
No pátio do Carmo
Cronologia
Bibliografia do autor
Bibliografia selecionada sobre o autor
Sobre o Autor
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