Geografia de Portugal
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V - Maciço Hespérico
1 - Características gerais e zonamento
2 - Zona Cantábrica
3 - Zona Oeste-Astúrico-Leonesa
4 - Sub-zona da Galiza média-Trás-os-Montes
5 - Zona Centro-Ibérica
6 - Zona de Ossa-Morena
7 - Zona Sul Portuguesa
8 - Fracturação tardi-hercínica
9 - Reconstituição paleogeográfica do ciclo hercínico. Tentativa de síntese
10 - Análise global e comparação entre as diferentes zonas
Bibliografia
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I - Introdução
1 - Caracterização geral de Portugal. A necessidade de integrar Portugal na Península
Ibérica
Dimensões do país: 218 a 112 km no sentido dos paralelos; 600 km no sentido dos meridianos
(de 37°N a mais de 42°N). Consequências imediatas: os maiores contrastes serão, a priori, os
que se estabelecem entre o Norte e o Sul. Esse facto ganha, ainda, maior realce se se atentar em
que Portugal se situa, em termos climáticos, numa faixa de transição.
Não é só a posição em latitude que explica os contrastes climáticos entre o Norte e o Sul. O
relevo acentua o contraste entre o Norte mais pluvioso e mais acidentado e o Sul, com uma
precipitação quase sempre inferior a 800 mm.
Para desfazer a velha ideia de que o clima determina quase tudo, convém equacionar esse
problema numa perspectiva histórica, insistindo na ideia de que a litoralização do país é um
processo relativamente recente, brutalmente acelerado nos últimos tempos. Assim, os contrastes
litoral-interior só remotamente terão uma origem física, mas evoluem de acordo com factores
económicos variáveis para cada momento histórico.
De uma posição periférica no contexto peninsular resulta a grande importância do litoral (848
km de perímetro) e da fronteira com a Espanha (1200 km), à qual se atribui uma importância
quase sempre menor. Assim, é costume dizer que Portugal e Espanha são dois países de costas
voltadas um para o outro, ideia que se traduz, entre nós, no conhecido ditado: "de Espanha nem
bom vento nem bom casamento".
Todavia, cada vez menos se pode considerar Portugal como se estivesse desligado do resto da
Península Ibérica. Essa atitude levou, no passado, a que se considerasse o país como uma ilha um
tanto mítica, flutuando num espaço abstracto e vazio, sem relação com o mundo exterior (S.
Daveau, in O. Ribeiro, H. Lautensach e S. Daveau, 1987).
A posição de Portugal como "finisterra" numa Península que estabelece a relação entre dois
mundos - o mundo mediterrânico e a Europa central e do Norte -, conduziu a um certo
isolamento relativamente aos caminhos de invasão. Esse isolamento, juntamente com os factores
históricos decorrentes da Reconquista, teria ajudado a individualizar o território onde a vivência
comum criou uma grande identidade cultural, sublinhada pelas fronteiras mais antigas da
Europa.
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A Península Ibérica faz a transição entre a Europa e a África. Todavia, como é difícil e ocioso
estabelecer limites num domínio de transição, não adianta especular sobre o carácter mais ou
menos "africano" da Península Ibérica, comum a toda a faixa mediterrânica em que aquela se
integra, temperado, neste caso, pela sua posição atlântica.
Sendo a Península europeia que mais se aproxima de África, a Península Ibérica funciona como
uma ponte entre os dois continentes, o que lhe permitiu ser alvo privilegiado das invasões árabes,
facto de que decorre uma parte importante da história das nações ibéricas durante a Idade Média.
A conjugação entre uma posição mediterrânica e a sua situação ocidental (só ligeiramente
ultrapassada pela Irlanda), convertem a Península numa encruzilhada de caminhos, frente ao mar
e ao Novo Mundo.
Forma e dimensões
A superfície=581. 000 km2 (um pouco mais do que a França, 6 vezes e meia maior que
Portugal).
A Península Ibérica tem uma largura máxima de cerca de 1000 km, à latitude do cabo Finisterra.
À latitude de Barcelona a largura reduz-se para cerca de 800 km. Aumenta ligeiramente e é de
850 km à latitude do Cabo da Nao (e da península de Lisboa).
Trata-se de valores bastante próximos, o que mostra, só por si, um carácter maciço inequívoco.
Como é natural numa península, a Península Ibérica apresenta um grande desenvolvimento dos
litorais (4118 km) do qual cerca de metade corresponde ao litoral mediterrâneo.
Trata-se, em linhas gerais, de um litoral pouco recortado. As rias galegas e o estuário do Tejo são
as maiores aberturas existentes no litoral da Península Ibérica.
Essa visão geral não deve conduzir-nos a generalizações excessivas. Com efeito, a ideia de que a
Península Ibérica apresenta litorais pouco recortados, apoiada em mapas de pequena escala, deve
ser matizada pela análise dos mapas de maior escala, onde já podemos aperceber-nos de algumas
reentrâncias, ligadas às embocaduras dos rios e (ou) a acidentes geológicos relevantes. Estas
últimas, em Portugal, agrupam-se em áreas bem definidas, ligadas, geralmente, ao afloramento de
rochas mesozóicas (veja-se o caso da costa ocidental entre a Nazaré e Setúbal e da costa
algarvia).
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Das penínsulas do Sul da Europa, a Península Ibérica é a que se liga ao continente por um istmo
mais estreito (440 km). Além disso está separada da Europa pelos Pirinéus. Por isso, a Península
Ibérica funciona, efectivamente, quase como uma ilha (=península), destacada do resto da
Europa. Atendendo às suas dimensões poderemos dizer que a Península Ibérica corresponde a
um continente em miniatura, com uma grande diversidade geo-estrutural e climática, que,
juntamente com a diversidade cultural, contribui para a existência de paisagens muito variadas.
O isolamento relativamente ao resto da Europa (apoiado nas barreiras físicas dos Pirinéus e do
mar), deve ser explorado de uma forma o menos determinista possível. Isto porque barreiras
como os Alpes e os Pirinéus nunca foram intransponíveis. Por outro lado, o mar aproxima mais
do que afasta. Tudo depende da vontade de ultrapassar os obstáculos físicos e das técnicas
postas ao seu serviço. Na era das comunicações via satélite, em que uma parte importante do
tráfego se realiza por via aérea, as cadeias montanhosas perderam, obviamente, o seu papel de
barreiras significativas.
A circunstância de ser "quase uma ilha" poderia ter levado a Península Ibérica a constituir uma
unidade politicamente homogénea. Todavia, ela só atingiu a unidade política de forma episódica.
Pelo contrário, o espaço Ibérico sempre foi atravessado por regionalismos e por culturas
diversificadas. A unificação de Espanha é um fenómeno relativamente recente, que continua a ser
contestado, por vezes de forma violenta, em algumas das suas regiões autónomas. A
independência de Portugal nunca se teria restaurado se a experiência das descobertas e o
comércio marítimo que se lhe seguiu não tivesse criado interesses económicos fortes que se
sentiram ameaçados com a hegemonia imposta por Castela.
Assim, a "originalidade" dos processos políticos e sociais dos povos da Península a partir do
século XV, com um reforço especial a partir dos anos trinta do nosso século, permitiu que se
falasse, numa metáfora de evidentes conotações geológicas, de uma "jangada de pedra", a
propósito da Península Ibérica.
Extensão: 581. 000 km2. 211.000 km2 correspondem a planaltos. Com efeito, um grande
planalto desnivelado, a Meseta Ibérica, ocupa uma parte importante do centro da Península. Por
isso, esta tem uma altitude média elevada (660 m de altitude média para o território espanhol),
embora não se possa considerar uma região montanhosa.
Nesta Península maciça e planáltica, as planícies são relativamente raras e só constituem unidades
morfológicas importantes no vale do Quadalquivir e na parte ocidental de Portugal.
A Meseta está basculada para Oeste, apresentando um pendor de 0,5%. Assim, pela sua
configuração geral, podemos dizer, com Elisée Reclus (apud L. Solé Sabarís, 1952) que a
Península Ibérica "vira as costas a leste". Esse pendor para Oeste, bem como a existência de
relevos mais importantes no rebordo oriental da Meseta vai condicionar o traçado dos mais
importantes rios peninsulares (Douro, Tejo, parte espanhola do Guadiana, Guadalquivir). A
principal excepção, a esse predomínio do traçado para Oeste, corresponde ao Ebro.
A Meseta está rodeada de relevos por quase todos os lados, o que acentua o carácter continental
que já lhe era dado pela sua posição interior. Além disso, está dividida, pela Cordilheira Central,
em submeseta setentrional e meridional.
Mesmo a Oeste, onde as montanhas mais importantes são oblíquas em relação à linha de costa, o
Caramulo, o Marão e o Alvão, a Sanábria e os Montes de León, acabam por constituir, em
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conjunto, uma muralha quase contínua, impedindo a entrada das influências atlânticas na
submeseta setentrional.
A submeseta meridional começa por ser isolada dos ventos húmidos de Oeste e de noroeste pela
Cordilheira Central e pelos Montes de Toledo. Esse isolamento relativamente ao Atlântico é
igualmente notório a Sul, com a serra Morena. A sudeste, as Cordilheiras Béticas (com as
maiores altitudes dentro da Península Ibérica) constituem um rebordo montanhoso imponente,
isolando a Meseta do Mediterrâneo.
Só no Alentejo a penetração das influências marítimas parece ser mais fácil. Mesmo aí, as serras
do Cercal e de Grândola, apesar da pouca importância topográfica que têm, isolam o Alentejo do
mar, sob o ponto de vista climático. No Algarve, esse papel é desempenhado pelas serras de
Monchique (902 m) e do Caldeirão (541 m).
Assim, o interior da Península Ibérica fica quase sempre bastante distante do mar. Essa distância
é geralmente reforçada pelo seu próprio rebordo montanhoso ou pelas cadeias periféricas
peninsulares. Apenas a Oeste parece ficar um pouco mais aberto à sua influência.
Todavia, mesmo aí, uma análise de maior escala permite verificar que existe, quase sempre, um
rebordo (designado como relevo ou maciço marginal) que separa a plataforma litoral das regiões
interiores e que, apesar de parecer pouco significativo, pode constituir uma barreira não
negligenciável para as influências marítimas.
Cabe aqui uma primeira pergunta, que deixamos em suspenso, por agora, sobre a origem
profunda do carácter periférico da maior parte dos relevos peninsulares (à excepção da
Cordilheira Central).
Para concluir esta alínea, poderemos perguntar-nos sobre as eventuais influências da distribuição
do relevo na evolução histórica e política dos povos da Península. Com efeito, se o carácter de
"quase ilha" poderia induzir um certo isolamento relativamente ao resto da Europa, com o
decorrente sentido de pertença a uma outra unidade com características próprias, a fragmentação
interna decorrente do relevo define, pelo contrário e a priori, uma tendência para a existência de
regiões com graus variáveis de autonomia.
Se essa relação existe, a sua influência não pode ser exagerada. Os limites entre as unidades
nacionais são muitas vezes independentes do relevo (fronteira da Beira transmontana). Sendo
fenómenos humanos, as fronteiras políticas regem-se por leis que lhes são próprias. Quando há
aproveitamento de certas fronteiras naturais como limites políticos, eles funcionam mais como
referências do que como obstáculos intransponíveis (S. Daveau, 1976, cit. em C. A. Medeiros,
1994). Daí que se aproveitem, por exemplo, os cursos de água, como limite entre concelhos e
freguesias, dentro de Portugal. Mas mesmo quando isso acontece, a fronteira sofre,
frequentemente, alterações ao longo do tempo, o que prova que ela é um fenómeno
eminentemente político e que só por coincidência e facilidade adopta traçados com base física.
A uma outra escala, as verdadeiras fronteiras culturais poderão ser os vazios de homens, a terra
de ninguém, porque de aproveitamento difícil. Nessa perspectiva, efectivamente, algumas grandes
barreiras naturais (desertos, montanhas) poderão ter funcionado, ou funcionar ainda, como
fronteiras culturais.
Mas mesmo isso não é uma regra infalível. A Suíça, por exemplo, representa a organização do
espaço baseado nas relações económicas que se estabelecem através dos Alpes. Do mesmo
modo, foi a circulação intensa que se fazia na Meseta Castelhana que "fez" a Espanha e que
permitiu o domínio castelhano sobre as regiões periféricas da Península.
Embora seja, em boa parte, um produto da história, uma nação não é, apenas, um produto da
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História. "A Terra de um povo é a combinação, original e fecunda, de dois elementos: território e
civilização" (O. Ribeiro, 1955). Com efeito, os povos vivem sobre um território de que retiram a
sua subsistência. Assim sendo, as condições físicas desse território acabam por influenciar, de
forma mais ou menos directa, os modos de vida da população e, por seu intermédio, as
respectivas características culturais.
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O ritmo anual do tempo que caracteriza os países mediterrâneos é francamente original à escala
mundial. É caracterizado por um Verão sem chuva, solarengo e quente, em alternância nítida com
uma estação fresca durante a qual se sucedem desordenadamente os dias de chuva e as abertas.
Em todo o resto do Globo, a precipitação reparte-se quase igualmente entre todos os meses do
ano ou, então,o Verão é chuvoso.
No clima mediterrânico, o pino do calor e a maior secura coincidem no tempo. Por isso, este
clima não é favorável à vida vegetal e à agricultura.
É apenas no caso do Mar Mediterrrâneo que este tipo climático se estende para leste, ao longo da
faixa litoral do Mediterrâneo.
O anticidone subtropical dos Açores condiciona a subsidência do ar que é, por isso, muito seco.
Isso impede a formacão de precipitação, no Verão. à latitude de Portugal, e durante todo o ano à
latitude do Sahara. No fundo, o Verão Mediterrâneo é uma extensão temporária, para o norte, da
cintura desértica que separa, na parte ocidental dos continentes, a Zona Temperada da Zona
Intertropical.
Latitude
A latitude varia entre 43° 47'N (Estaca de Bares, a leste do Cabo Ortegal) e 36° 00'N (ilhota de
Tarifa, próximo de Gibraltar).
Esta situação, que coincide perfeitamente com a do desenvolvimento do Mediterrâneo, dá-lhe à
partida, com grande probabilidade, características mediterrâneas. Todavia, numa faixa de
transição, como é a faixa mediterrânica, variações relativamente pequenas de latitude podem
traduzir-se em grandes modificações climáticas.
Das penínsulas do Sul da Europa, a Península Ibérica é aquela que apresenta latitudes mais
baixas e que, adicionalmente, mais se aproxima de África. Com efeito, o estreito de Gibraltar tem
apenas 14 km de largura. A região de Reggio (Calábria, extremidade Sul da Península Itálica)
situa-se à lati-tude do Cabo de Sines. Dos territórios europeus, só a ilha de Creta atinge latitudes
mais baixas.
A passagem das perturbações da frente polar, durante o outono, inverno e parte da pri-mavera,
atinge sobretudo o Norte, que fica mais pró-ximo das depressões que as condicionam. Durante o
verão, contudo, as influências orientais (que penetram escassamente para o interior da costa
mediterrânica) e meridionais tornam-se mais relevantes. Assim, toda a Península é atravessada
por uma "luta" entre as influências atlânticas e mediterrânicas. As características mediterrânicas
estendem-se a todo o território, embora de forma muito mitigada a Norte e de forma cada vez
mais clara à medida que se caminha para Sul.
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7 - O contraste litoral-interior
Um exemplo desta situação pode ser o contraste entre a plataforma litoral e as áreas situadas
para o interior do relevo marginal, na região do Porto. As estações da Sª da Hora e da Serra do
Pilar apresentam amplitudes térmicas anuais (rondando os 9,3°C) significativamente inferiores às
da estação de Sto Tirso (=12,3°C), embora a distância a que esta última se situa do mar seja de
apenas 25 km.
Como seria de esperar, estas características acentuam-se à medida que caminhamos para o
interior. Assim, o mapa nº 3 de H. Lautensach (Geografía de España y Portugal - Atlas
temático) demonstra, muito claramente, a influência da continentalidade e da distribuição do
relevo nas amplitudes térmicas anuais. Estas são sempre mais baixas na fachada ocidental da
Península (com valores de 6,2°C no cabo de S. Vicente, cerca de 10°C na região do Porto) do
que no litoral mediterrânico (o valor mais baixo é de 11,4°C na Costa Brava, mas os valores mais
frequentes nesse litoral rondam os 13-14°C). As amplitudes térmicas na fachada ocidental da
Península são também inferiores às do litoral Cantábrico (onde não descem abaixo dos 8,9°C), o
que poderá relacionar-se com a má exposição aos ventos de Oeste que este litoral apre-senta.
À medida que se caminha para o interior estes valores aumentam rapidamente. Nota-se, todavia,
que esse aumento não é regular. Há uma nítida aceleração que coincide com a barreira de
condensação do Norte de Portugal. As curvas descrevem, depois, um vale que coincide com o
traçado da Cordilheira Central e mantêm-se bastante próximas (uma variação de 3°C de
ampli-tude térmica em cerca de 20 km), coincidindo, praticamente, com a fronteira portuguesa.
Deste traçado resulta óbvia a importância da distância à linha de costa, mas também do relevo e
so-bre-tudo das consequências que ele tem na precipitação e na humidade do ar. Com efeito,
va-l-ores baixos da humidade do ar contribuem para o seu rápido aquecimento durante o dia e
du-rante o verão e para um arrefecimento rápido durante a noite e durante o inverno, acentuando,
assim, os valores da amplitude térmica diurna e anual.
Também resulta evidente que a influência moderadora do Atlântico não tem paralelo no mar
Mediterrâneo. Os valores mais elevados da amplitude térmica anual não coincidem com o centro
geométrico da Península, mas são nitidamente desviados para leste, ocorrendo na região de Soria
(21,6°C), da serrania de Cuenca (21,3°C), de Aranjuez (21,4°C) e da serra de Segura (21,4°C),
que ficam a distâncias cada vez mais pequenas do Mediterrâneo (entre 200 e 100 km), à medida
que se caminha para Sul.
Parece, pois, evidente que a variação da amplitude térmica anual não se explica apenas pela
distância ao mar, mas é fortemente influenciada pela distribuição do relevo e por uma boa
exposição aos ventos de Oeste (de que decorrem valores elevados de precipitação e,
conse-quentemente, de humidade do ar).
Os diversos factores que referimos contribuem para a veracidade do ditado popular que diz que,
no interior da Península "há nove meses de inverno e três de inferno".
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latitude na distribuição da precipitação. Como estes dois factores estão associados, no Norte do
país, quase toda a área a Norte do Tejo apre-senta mais de 800 mm de precipitação.
A análise das isotérmicas de Janeiro e Julho (O. Ribeiro, H. Lautensach, S. Daveau, 1988), com
o seu traçado, respectivamente, em diagonal e paralelo à linha de costa, levará os alunos a
identificar os factores responsáveis.
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Bibliografia
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(*) VILÀ VALENTÍ, J. et al. - Geografía de España, vol. I, Geografía Física, ed. Planeta, Barcelona, 1989, 591
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VILÀ VALENTÍ, J. - La Peninsula Iberica, Ed. Ariel, Barcelona, 1968, 389 p.
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Como o nome indica, trata-se de áreas aplanadas. Contudo, o significado da palavra "plataforma"
nem sempre é definido com clareza.
Isso não admira se pensarmos que as plataformas podem ter origens bastante variadas.
Segundo o referido texto, as plataformas correspondem aos conjuntos estruturais mais antigos.
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Ora, são raras as plataformas estruturais com dimensão suficiente para se considerarem "regiões
de plataforma". Por isso, podemos dizer que as regiões de plataforma são, quase sempre, áreas
de erosão ou de acumulação.
A existência de extensas áreas cujo aplanamento tem origem na erosão ou acumulação significa,
normalmente, que os fenómenos erosivos prevalecem sobre a movimentação tectónica. Trata-se,
por isso, de regiões relativamente estáveis, situadas fora dos sistemas dobrados alpinos. Por isso,
estas plataformas são conjuntos territoriais consolidados em antigas fases orogénicas. Daí
decorre a sua rigidez e estabilidade.
Esta caracterização implica que sejam formadas, sobretudo, por rochas ígneas e metamórficas,
correspondentes às raízes de antigas cadeias montanhosas. Estas podem aflorar (plataformas
cristalinas) ou constituírem socos cobertos por pequenas espessuras (poucas centenas de
metros) de sedimentos continentais com estrutura aclinal ou monoclinal de pequeno pendor
(plataformas sedimentares). Mas plataformas cristalinas e sedimentares não correspondem a
compartimentos estanques: basta um levantamento ligeiro para que toda a cobertura da
plataforma seja erodida, fazendo aflorar o soco subjacente. Basta uma ligeira subsidência para
que uma plataforma cristalina seja fossilizada por sedimentos, transformando-se em plataforma
sedimentar.
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Plataformas cristalinas
Porém, a estabilidade de uma determinada área nunca é indefinida. Assim, ao fim dum certo
tempo (algumas estimativas apontam para cerca de 80 milhões de anos, cf.Global
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Daí pode resultar um processo de intumescência térmica que acaba por conduzir à formação de
novos rifts. Foi o que aconteceu aquando da ruptura da Pangea, no início do Mesozóico. É o que
se passa, actualmente, no vale do Rift, na parte oriental de África. Todavia, face à complexidade
do traçado dos rifts, é difícil prever se se vai dar alastramento dos fundos oceânicos nessa área.
Aparentemente, isso dependerá da movimentação global das placas. Os rifts mal situados
relativamente a elas poderão abortar (M. A. Summerfield, 1991, op. cit.).
Bacias sedimentares:
2 - Rifts intracontinentais onde esta cobertura é deformada por falhas normais com rejecto
moderado e onde o relevo assim criado é compensado por uma sedimentação síncrona do
movimento das falhas (exemplo: Bacia do Tejo e Sado);
3 - Bacias alpinas periféricas onde se depositam os molassos das cadeias alpinas, com uma
subsidência por vezes muito activa que é responsável pela grande espessura dos terrenos,
geralmente post-oligocénicos (exemplo: Bacia do Ebro).
Os Pirinéus constituem um exemplo deste tipo de cadeia. O soco hercínico forma a zona axial da
cadeia e aparece, também, comprometido no dobramento correspondendo à base de alguns dos
mantos de carreamento que se dispõem, formando um leque, a partir da referida zona axial.
Tipo intercontinental: cadeia montanhosa formada pelo choque de dois continentes. Representa o
fecho de um ciclo, em que o oceano formado por rifting vai desaparecer e dar lugar a uma zona
de sutura. Corresponde ao estádio final do ciclo de Wilson, de duração média de cerca de 500
milhões de anos. É o caso de maior complexidade estrutural, já que cada um dos continentes
pode ter, na sua periferia, arcos insulares ou cadeias pericontinentais. Pode dar-se como exemplo
os Alpes e os Himalaias. Nestes casos, a baixa densidade das duas placas litosféricas em colisão
não facilita a subducção, pelo que, no fundo, se dá um empilhamento das placas continentais
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É conveniente fazer, nesta altura, uma breve recapitulação das diversas fases da sedimentogénese,
da tectogénese e do magmatismo que lhe está associado, noções já aprendidas na disciplina de
Introdução à Geologia.
É necessário, além disso, matizar a importância dos movimentos horizontais na criação das
cadeias montanhosas. Eles não são os únicos responsáveis pela criação do relevo. Com efeito, as
cadeias alpinas europeias resultam da coincidência entre os movimentos compressivos, geradores
de estruturas dobradas e de carreamentos de grande amplitude, e os movimentos verticais,
responsáveis por um levantamento de conjunto.
3 - Tabela em inglês
4 - Etc!
Alguns textos e tabelas simplificadas poderão dar uma ajuda inicial para a aprendizagem inicial
Estas tabelas deverão ser consultadas simultaneamente com mapas, dos quais destacamos, já que
engloba todo o país e é de fácil leitura, o mapa tectónico da Península Ibérica
Deste modo, a Geomorfologia deixa de ser, apenas, mais um elemento descritivo, porque, através
das suas relações com a neotectónica, se torna um elemento essencial em qualquer síntese
geodinâmica.
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Pode dizer-se, de um modo geral, que a Península Ibérica corresponde a um grande planalto
desnivelado, rodeado por montanhas e apenas aberto a Oeste às influências marinhas. Para a
compreensão da estrutura geral da Península e do seu caráter maciço é necessário
reportarmo-nos à sua situação no contexto europeu.
Assim, a Europa pode ser dividida em grandes conjuntos agrupando rochas dobradas aquando
de cada uma das grandes orogenias que a afectaram:
Neo-Europa: parte oriental da Península Ibérica, toda a cadeia Alpina e as cadeias que a
prolongam para leste.
As cadeias alpinas, testemunhos da última orogenia que afectou a Europa, são as que se situam
mais a Sul, à volta do Mediterrâneo.
Parece, assim, que a idade das rochas que constituem o continente europeu é progressivamente
mais moderna à medida que se caminha de Norte para Sul.
Esta distribuição espacial pode explicar-se recorrendo à teoria da tectónica de placas, que
sustenta que todos os continentes se formaram a partir de fragmentos progressivamente
cratonizados. Cada um desses fragmentos foi consolidado numa dada orogenia. Depois,
abriam-se novos rifts e os novos mares e oceanos encheram-se de sedimentos. A criação de
novas zonas de subducção junto a algumas margens continentais, consumindo crusta oceânica,
leva a uma aproximação dos continentes e à respectiva colisão, formando-se novas cadeias
montanhosas nas faixas de sutura entre os antigos continentes. É o caso dos orógenos
paleozóicos que formam faixas de sutura aglutinando fragmentos continentais de idade
precâmbrica.
Os Alpes resultam da colisão entre a placa euroasiática e a placa africana, tal como os Himalaias
resultam da colisão entre a Eurásia e a Índia. Assim sendo, o Mediterrâneo é um mar residual
que tenderá a desaparecer, dentro de alguns milhões de anos. Nessa altura, a cadeia alpina será
uma faixa contínua desde a Península Ibérica até à extremidade da Ásia.
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Por outro lado, a posição face às placas actuais determina a actividade sismo-tectónica actual.
Ora, segundo esse ponto de vista, Portugal localiza-se na faixa de choque entre a Europa e a
África, cujo limite corresponde à falha Açores-Gibraltar e ao seu prolongamento no
Mediterrâneo ocidental. Além disso, estudos recentes (A. Ribeiro, referido em O. Ribeiro et al.,
1987 e J. Cabral, 1993) sugerem a emergência da uma zona de subducção que, partindo do Sul
de Portugal, se estaria a estender para Norte e que explicaria a sismicidade anormalmente elevada
e uma certa intensidade da movimentação neotectónica junto ao litoral ocidental da Península.
NB: Para saber a localização dos últimos sismos ocorridos em Portugal e Espanha, consulte os
sites:
http://www.meteo.pt/sismologia/map_sis.gif
http://www.geo.ign.es/servidor/sismo/cnis/proximo/proximo.html
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A observação de algumas fotografias aéras disponíveis no site do CNIG vem provar - para quem
necessitasse dessa prova, que existe uma enorme influência da estrutura geológica
(litologia+estrutura) nas paisagens que os geógrafos em geral, e os geomorfólogos em
particular, se propôem estudar.
Daí que tenhamos privilegiado uma abordagem baseada justamente na estrutura geológica, que
nos permite, além do mais, contar simultaneamente a "história" de cada uma das grandes áreas
em que o país se organiza de uma forma minimamente inteligivel.
O Maciço Hespérico ocupa a parte ocidental e central da Península Ibérica e constitui o núcleo
primitivo e fundamental do território, que o mar só tornou a invadir na periferia. Por isso, é à
volta do Maciço Hespérico que se dispõem as restantes unidades constituintes da Península
Ibérica. Devido ao facto de ter sido dobrado e metamorfizado (muitas vezes com granitização)
durante a orogenia hercínica, o Maciço Hespérico tornou-se no núcleo resistente ao dobramento
alpino. O carácter maciço da Península Ibérica e a importância que os planaltos nela assumem
devem-se, justamente, à existência do soco hercínico que constitui a microplaca Ibérica.
Como é próprio das plataformas cristalinas, o Maciço Hespérico é constituído por superfícies de
erosão fracturadas ou balanceadas e levantadas a cotas variadas, com alguns relevos residuais
(devidos a uma maior resistência ou à posição).
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A periferia do Maciço Hespérico foi invadida pelo mar durante o Mesozóico e princípio do
Cenozóico e foi, assim, coberta por sedimentos meso-cenozóicos. A abertura do oceano
Atlântico controlou a evolução da fachada ocidental Ibérica. A abertura e fecho do sulco
mesogeu influenciou a evolução da Orla Algarvia.
Assim, o substrato paleozóico, quer no centro, quer na periferia da Península Ibérica está,
frequentemente, coberto por sedimentos mais recentes que o mascaram.
Todavia ele pode aparecer a descoberto, constituindo, quer extensas áreas aplanadas (a superfície
da Meseta: Trás-os-Montes oriental, Beira Transmontana), quer os relevos que a circundam
(rebordo montanhoso da Meseta).
O conceito de Maciço Hespérico não coincide com o de Meseta Ibérica, que é uma designação
geomorfológica e só devia ser aplicada aos fragmentos aplanados do soco e à sua cobertura
tabular (ao contrário do que fazem, frequentemente, os autores de língua castelhana, como se vê
na figura anterior).
Sob o ponto de vista geo-estrutural, os sectores da Meseta cobertos por sedimentos terciários
correspondem às bacias interiores do Douro (por vezes chamada de "Castela-a-Velha") e do
Tejo ("Castela-a-Nova").
No fundo, a Meseta corresponde, quer a uma superfície de erosão, talhada em rochas do Maciço
Hespérico, quer a uma superfície de acumulação de materiais Terciários, que assentam sobre a
referida superfície de erosão.
Os sedimentos miocénicos estão, geralmente, dissecados pelo encaixe dos rios e, por vezes,
reduzidos a relevos residuais.
A Meseta articula-se em dois degraus, separados pela Cordilheira Central, que corresponde a um
horst devido à compressão alpina, alongado na direcção ENE-WSW (direcção Bética). Dos
dois degraus acima referidos, o mais alto é o setentrional, com altitudes entre 700 e 800 m,
enquanto que o degrau meridional apresenta altitudes entre 400 e 200 m.
Ao mesmo tempo que se davam as movimentações alpinas, todo o bloco da Meseta se inclinou
para Oeste, o que definiu a orientação dos principais rios (com a excepção do Ebro).
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V - Maciço Hespérico
Nota: propõe-se que os estudantes utilizem o esboço geológico para irem pintando, de
preferência num programa de desenho (Adobe Photoshop) à medida que forem
estudando as diferentes matérias, as áreas correspondentes com cores adequadas
(podem utilizar as da legenda anexa).
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Um primeiro zonamento do orógeno proposto por Lotze em 1945 foi revisto, dando origem às
zonas Cantábrica, Oeste-Astúrico-Leonesa, Centro-Ibérica, Ossa-Morena e Sul-Portuguesa. Elas
podem agrupar-se em domínios e e zonas externas (Cantábrica e Sul-Portuguesa) e internas (as
restantes). Cada um desses conjuntos tem algumas características comuns.
Nos domínios externos o Paleozóico superior aflora mais largamente, a deformação é menos
intensa e mais tardia, o metamorfismo regional de grau mais baixo e as intrusões sin-orogénicas
mais raras.
Tudo se passa com se houvesse uma migração da sedimentação e da orogénese das zonas
interiores para as exteriores.
Como noutros locais da Europa, o orógeno hercínico Ibérico caracteriza-se por um dispositivo
em leque com estruturas verticais, no centro, e tombadas para o exterior, nas margens.
Existe, pois, uma certa simetria bilateral, mas há grandes diferenças entre os dois domínios
externos.
Flysch - termo originado na Suíça, aplicado inicialmente aos sedimentos alpinos, posteriormente usado, por
analogia, para os hercínicos portugueses, por exemplo. Trata-se de sedimentos produzidos pela erosão de
estruturas dobradas em formação, que são, posteriormente, dobrados por novas fases de dobramento. Na Suíça,
correspondem a rochas argilosas, arenitos impuros e conglomerados sintectónicos, ao contrário dos molassos.
Segundo "The Penguin Dictionary of Geology", trata-se de um termo que não deve ser exportado.
Molasso - termo também originado na Suíça: sedimentos produzidos pela erosão de cadeias montanhosas depois
da fase final duma orogénese (formação post-tectónica). Na Suíça os molassos alpinos incluem arcoses,
conglomerados e brechas polimíticos e argilitos vermelho acastanhados. Parecem ter-se formado em bacias
intramontanhosas e são, geralmente, não marinhos. Os arenitos triássicos do leste dos USA seriam molassos
derivados da erosão dos Apalaches e o grés vermelho antigo do Devónico de Inglaterra teria resultado da erosão das
montanhas Caledónicas.
As diferentes zonas dentro do Maciço Hespérico estão separadas por acidentes profundos de
primeira grandeza. Estes acidentes manifestaram-se diversas vezes durante todo o ciclo hercínico,
o que sugere um controle da evolução paleogeográfica e tectónica por falhas profundas,
separando compartimentos crustais de natureza diferente. Além disso, eles podem rejogar nos
diversos impulsos tectónicos sofridos pelo território, pelo que podem ser sede de movimentação
neotectónica apreciável (ex: falha Porto-Tomar).
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2 - Zona Cantábrica
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A Zona Cantábrica é limitada, a Oeste, pelo anticlinório de Narcea, onde se encontram os únicos
afloramentos de Paleozóico inferior desta zona. Os sedimentos têm fácies de plataforma
carbonatada, com longos períodos de emersão, até que, no início do Carbónico, se processa uma
grande transgressão, responsável pela formação dos calcários que constituem os Picos de
Europa. O magmatismo é raro, constituído, apenas, por alguns "stocks" na área do anticlinório de
Narcea. As estruturas constituem, no seu conjunto, o "arco asturiano", em que predominam os
mantos produzidos pelo descolamento da cobertura paleozóica sobre o substrato Precâmbrico. A
deformação é Westfaliana-Estefaniana (Carbónico superior) com formação de molassos.
A inexistência de metamorfismo e granitização levou a que esta zona fosse retomada na orogenia
alpina, mantendo uma deformação de tipo dúctil e funcionando como um prolongamento dos
Pirinéus.
Sobre os calcários de montanha, de idade carbónica e fácies por vezes recifal ,implantaram-se
fenómenos de carsificação espectaculares:
As áreas mais bem preservadas dos Cantábricos constituem o Parque Nacional de Covadonga,
onde é possível observar lagos glaciários como os de Enol e Ercina.
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3 - Zona Oeste-Astúrico-Leonesa
O Paleozóico inferior (Câmbrico e Ordovícico) torna-se muito espesso. O Silúrico tem alguma
representação. A primeira fase da orogenia hercínica é mais antiga que na zona Cantábrica. O
magmatismo sin-orogénico já se assemelha ao da zona Centro-Ibérica.
O limite SW desta zona corresponde a uma antiforma (região de Sanábria, muito perto da
fronteira NE portuguesa) em que aflora uma formação precâmbrica vulcano-detrítica (Ollo de
Sapo).
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Corresponde a um sector especial dentro da zona Centro-Ibérica. Uma das características mais
salientes é o facto de possuir cinco maciços de forma arredondada compostos por rochas de alto
grau de metamorfismo e de composição máfica e ultramáfica, que teriam correspondido a antigas
sequências ofiolíticas. Estes maciços situam-se no Cabo Ortegal, Santiago de Compostela, Lalín,
Bragança e Morais.
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Têm uma história muito complexa e por isso se consideraram polimetamórficos. Os respectivos
contactos com as zonas encaixantes são cavalgamentos sobre sequências monometamórficas do
Silúrico, muito ricas em rochas vulcânicas ácidas e básicas (grupo transmontano). O grupo
transmontano, por sua vez, cavalga as rochas da zona Centro-Ibérica por um outro acidente que
desenha um arco de 180° em Trás-os-Montes.
As dobras da primeira fase hercínica estão adaptadas aos limites das rochas menos dúcteis que
compõem os maciços.
Embora uma hipótese autoctonista pareça responder bastante bem à geometria dos maciços e à
forma como se relacionam com as rochas encaixantes, não se deve excluir a possibilidade de um
carreamento de complexos polimetamórficos partindo de uma raiz situada no contacto entre a
zona Centro-Ibérica e Ossa-Morena, perto da região do Porto. Nesse caso, o carreamento
ter-se-ia estendido por 200 km. Esta teoria tem sido, ultimamente, defendida por A. Ribeiro e E.
Pereira (in Pre-Mesozoic Geology of Iberia, 1990, p. 220-236).
5 - Zona Centro-Ibérica
Uma das características da Zona Centro-Ibérica é a quase total ausência de Precâmbrico bem
documentado, com excepção de um afloramento de gneisse do tipo Ollo de Sapo na região de
Miranda do Douro, situado sob o complexo xisto-grauváquico ante-ordovícico (CXG). Este
corresponde a uma série tipo flysch , normalmente considerada de idade Precâmbrica
superior/Câmbrica, embora, ultimamente, se tenha acentuado a tendência para a considerar
apenas Câmbrica. O complexo xisto-grauváquico corresponde a um fácies mais profundo do
que a generalidade do Câmbrico das zonas envolventes, o que prova a existência de uma fossa
profunda nesta área, durante o Câmbrico.
Os limites com as zonas envolventes correspondem a uma transição suave na parte NE, a partir
do flanco do anticlinório do Ollo de Sapo. A SW trata-se da faixa de compressão
Portalegre-Ferreira do Zêzere. A Oeste, o contacto estabelece-se através da falha Porto-Tomar.
Predominam os granitos de duas micas, com carácter leucocrata, com percentagem de moscovite
idêntica à de biotite. Têm tendência a acompanhar as fases compressivas. Os mais
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A sua mise en place fez-se, sobretudo, durante a tectogénese. Estão estritamente controlados pelo
metamorfismo regional e parecem produzir-se por anatexia húmida da parte média da crusta no
decurso do metamorfismo regional. Sendo assim, relacionam-se com as áreas envolventes
através de auréolas de metamorfismo regional, bastante extensas. Estas apresentam sequências
em que se parte de rochas como os gneisses, migmatitos e micaxistos, junto ao foco granítico e
se passa, depois, para xistos mosqueados e, finalmente, xistos luzentes.
No caso destes granitos, a biotite domina a moscovite, são frequentes os precursores básicos e
os encraves microdioríticos. Apresentam carácter mesocrata e muitos minerais acessórios.
1 - Granodioritos precoces, ligados a fases distensivas com idades situadas à volta dos 330-320
MA.
A falha Porto-Tomar é interpretada como sendo a sutura entre o continente Euroasiático (placa
Armoricana) e Africano (Gondwana) ao tempo da orogenia Cadomiana (final do Precâmbrico).
Como se sabe, as zonas de sutura são faixas onde existe uma certa fragilidade da crusta que
pode originar movimentação tectónica persistente, que se prolonga até aos nossos dias
(neotectónica). Cabe aqui fazer uma primeira referência à importância geomorfológica que esta
falha tem, mostrando que ela corresponde, grosso modo, ao rebordo interior da plataforma litoral
na região a Sul do Douro.
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6 - Zona de Ossa-Morena
A Norte de Abrantes, as estruturas da zona de Ossa-Morena têm uma direcção quase N/S, no
bordo ocidental do Maciço Hespérico, e formam uma faixa estreita entre a zona Centro-Ibérica e
os terrenos da Orla.
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"faixa blastomilonítica", constituída por rochas metamórficas muito tectonizadas, intruídas por
gneisses e migmatitos. Na faixa de Albergaria-a-Velha-Espinho verifica-se que o metamorfismo
hercínico se imprimiu sobre um metamorfismo pré-hercínico.
A NE há uma faixa de transição com a zona Centro-Ibérica, onde existem granitóides idênticos
aos desta zona. No maciço de Évora ainda se encontram granitóides de duas micas. Para SW as
intrusões básicas aumentam e o quimismo calco-alcalino predomina.
Trata-se de uma área constituída por rochas muito mais recentes do que as que afloram nas
zonas centrais. Com efeito, falta todo o Paleozóico inferior e as rochas mais antigas são do
Devónico médio. O vulcanismo, quer ácido, quer máfico torna-se muito importante e as rochas
plutónicas quase desaparecem. A conhecida faixa piritosa, que se localiza perto do contacto entre
a Zona de Ossa-Morena e a Sul-Portuguesa e onde existam as maiores reservas do mundo de
pirites, fica a dever-se a processsos sedimentares submarinos relacionados com o vulcanismo
desenvolvido num processo de distensão crustal posterior ao choque entre aquelas duas zonas
(J. B. Silva, J. T. Oliveira e A. Ribeiro, 1991, p. 360, in Pre-Mesozoic Geology of Iberia).
A xistosidade mergulha para NE, contrastando com a atitude quase vertical das dobras nas zonas
internas. Torna-se quase plana quando nos aproximamos do limite SW desta zona, originando
os carreamentos de Odemira e Carrapateira.
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8 - Fracturação tardi-hercínica
A fase final da orogénese hercínica traduziu-se por uma subida pós-tectónica acompanhada pela
existência de tensões de direcção N-S (durante o Estefaniano, fase I) e a respectiva mudança da
tensão para W-E (durante o Pérmico, fase II).
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Portugal, e afectam, sobretudo, o bordo ocidental do Maciço Hespérico. Assim, é nas Berlengas
que este sistema parece ter uma maior relevância.
A fracturação tardi-hercínica, cujos desligamentos rejogaram várias vezes a partir dos tempos
paleozóicos, corresponde, nomeadamente, às falhas transformantes que vão condicionar as
primeiras fases da abertura do Oceano Atlântico, durante o Mesozóico.
A Península Ibérica foi afectada por deversos Ciclos orogénicos: Precâmbrico, Hercínico e
Alpino.
Entre o Precâmbrico superior e o Devónico médio: período geossinclinal (250 MA), com o
depósito de espessas séries, em regime de extensão, acompanhada localmente de epirogénese e
de vulcanismo.
Entre o Devónico médio e o Vestefaliano (80 MA): tectogénese. Predomina a contracção crustal,
sedimentação sin-orogénica do tipo flysch e a formação de granitóides por anatexia (granitos
alcalinos).
Entre o Vestfaliano superior e o Pérmico superior (60 MA) a cadeia foi levantada, erodida e
cortada por desligamentos, enquanto que se davam as últimas intrusões post-tectónicas (granitos
calco-alcalinos) e se depositavam molassos nas fossas periféricas e intramontanhosas (período
post-tectónico).
Esta análise super-simplificada será complementada pela observação dos esquemas acima
referidos (A. Ribeiro, 1974, E. Pereira, 1988) e acompanhada por uma recapitulação das
formações relacionadas com os eventos mais importantes, feita através da observação de mapas
geológicos.
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A segunda fase é Westfaliana (Carbónico superior). Nas zonas internas origina dobras com
plano axial subvertical. Nas zonas externas, só então deformadas, dá origem a dobras com um
plano axial variável e a mantos superficiais.
O metamorfismo regional afecta, sobretudo, as zonas internas. Por vezes, é difícil distingui-lo de
fases metamórficas mais antigas.
A cadeia hercínica sofreu uma evolução quanto ao respectivo estilo tectónico: inicialmente dúctil,
tornou-se cada vez mais quebradiço. Por isso, o fim da orogénese foi marcado por uma rede de
desligamentos, sobretudo no sector SW. Estes desligamentos são ditos tardi-hercínicos porque
são posteriores às últimas fases dúcteis do Westfaliano, mas não afectam significativamente a
cobertura epi-hercínica.
Pelo contrário, no sector situado no interior (Zona Centro-Ibérica) não se encontra um soco
granítico precâmbrico indiscutível, mas unicamente complexos de alto grau de metamorfismo, de
composição máfica e ultramáfica (Maciços de Vinhais-Bragança, Morais, Lalín, Cabo Ortegal e
Santiago de Compostela).
As causas desta diferenciação são objecto de discussão, mas foi sugerido que o dito alinhamento
Córdova-Badajoz-Portalegre-Coimbra-Porto corresponderia à sutura da orogenia Cadomiana
(Precâmbrico superior) e representaria a junção da Europa e da África no Precâmbrico superior.
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