Metodos e Tecnicas de Pesquisa

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MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6471-7

58472 9 788538 764717


Métodos e técnicas de
pesquisa

Christiane Bischof dos Santos


Danielle da Motta Ferreira Fialho
Edna Cicmanec

IESDE BRASIL S/A


2019
© 2019 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito das autoras e do detentor
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: elenabsl/Shutterstock

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S234m Santos, Christiane Bischof dos
Métodos e técnicas de pesquisa / Christiane Bischof dos
Santos, Danielle da Motta Ferreira Fialho, Edna Cicmanec.
- 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2019.
98 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6471-7

1. Pesquisa - Metodologia. 2. Pesquisa educacional.


3. Ensino a distância. I. Fialho, Danielle da Motta Ferreira.
II. Cicmanec, Edna Regina. III. Título.
CDD: 001.42
19-55983
CDU: 001.81

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Christiane Bischof dos Santos
Doutora e mestre em Administração pela Escola de Negócios da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUC-PR). Graduada em Engenharia Química pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR). Atualmente é consultora em softwares para análise de dados quantitativos e
qualitativos, tais como IBM-SPSS, SmartPLS, Atlas.ti e Minitab.

Danielle da Motta Ferreira Fialho


Doutoranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
Mestre em Educação (PUC-PR). Doutoramento com período de PDSE – Programa de Doutorado
Sanduíche no Exterior – na Universidade de Bolonha. Especialista em Gestão de Projetos e
Políticas Públicas e graduada em Serviço Social pela PUC-PR. Durante sua carreira, ministrou
aulas de Metodologia Científica e Técnicas de Pesquisa e atuou como assessora da pró-reitoria
de ensino, pesquisa e extensão em instituição de ensino superior. Atualmente, é assessora de pla-
nejamento acadêmico da pró- reitoria de graduação e membro do grupo de pesquisa “Políticas,
Formação de Professores, Trabalho Docente e Representações Sociais” (POFORS) na PUC-PR.

Edna Cicmanec
Doutora e mestre em Administração pela Universidade Positivo (UP). Bacharel em
Administração pelo Centro Universitário Autônomo do Brasil (Unibrasil). Atua como coordena-
dora do curso de Administração em uma instituição de ensino superior e é docente das disciplinas
de Administração, Marketing, Metodologia de Pesquisa e Empreendedorismo. Autora de conteúdos
para educação a distância, membro do Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sociais (Ibepes) e
pesquisadora na área de estudos organizacionais e administração, com foco nas relações de trabalho.
Sumário

Apresentação 7

1 O estudo científico e o papel do pesquisador 9


1.1 Pensamento científico 9
1.2 A linguagem e a postura do pesquisador 10
1.3 O plágio acadêmico e suas implicações éticas 11
1.4 A importância da pesquisa 13

2 Fundamentos da metodologia de pesquisa 17


2.1 Significado de metodologia de pesquisa 17
2.2 O fenômeno científico 18
2.3 Tema e problema de pesquisa 19
2.4 Sobre o que escrever? 22
2.5 Justificativa de pesquisa 23

3 Determinação de objetivos, variáveis e hipóteses de pesquisa  27


3.1 Objetivos gerais e específicos 27
3.2 Determinação das variáveis de pesquisa 31
3.3 Hipóteses de pesquisa: função e formulação 33

4 Fundamentação teórica  37


4.1 Objetivos da revisão de literatura 37
4.2 Estrutura do capítulo de referencial teórico 38
4.3 Fontes para revisão da literatura 39
4.4 Citação das fontes 41

5 Abordagens de pesquisa 47
5.1 Base epistemológica da pesquisa 47
5.2 Pesquisas qualitativas, quantitativas ou mistas 50

6 Procedimentos de pesquisa 55
6.1 Procedimentos e estratégias de pesquisa 55
6.2 Pesquisa bibliográfica 56
6.3 Pesquisa documental 56
6.4 Estudo de experimentos 57
6.5 Survey 57
6.6 Estudo de caso 58
6.7 Pesquisa-ação 59

7 Amostragem e fonte de dados 63


7.1 Dados primários e secundários 63
7.2 Fontes de coleta de dados 65
7.3 Amostragem 65
7.4 Definição do tamanho de amostra 68
7.5 Saturação teórica em pesquisas qualitativas 70

8 Instrumentos de coleta e análise de dados 73


8.1 Instrumentos para coleta de dados qualitativos 73
8.2 Instrumentos para coleta de dados quantitativos 76
8.3 Técnicas para análise de dados qualitativos 77
8.4 Instrumentos para análise de dados quantitativos 79
8.5 Articulação entre os resultados e a teoria 79

9 Elaboração de relatórios e conclusões 83


9.1 Estrutura do relatório de pesquisa 83
9.2 Normas da ABNT: conceitos básicos 88
9.3 Cronograma de pesquisa 88
9.4 Orçamento (quando aplicável) 89
9.5 Artigo científico 89
9.6 Publicação científica 91
9.7 Conclusão 92

Gabarito 95
Apresentação

Elaboramos esta obra com base nas experiências de três autoras que assumem diversos
papéis como estudantes, pesquisadoras praticantes e docentes. Tais experiências advêm tanto das
dificuldades que encontramos no percurso acadêmico para entender como se faz uma pesquisa
quanto das descobertas que fizemos, na prática, sobre o que é aplicável ou não no campo da pes-
quisa. Além disso, esses saberes somam-se à habilidade de saber comunicar, desenvolvida por
nós ao longo de nossa carreira docente. Buscamos, neste livro, expressar-nos em uma linguagem
simples, mas sem sacrificar os aspectos técnicos do estudo.

A obra é direcionada a estudantes novatos na área de pesquisa e que podem até mesmo
enfrentar barreiras na elaboração de trabalhos científicos. Assumimos, ao longo do texto, que não
há necessidade de nenhum conhecimento prévio do leitor, o que torna esta obra mais didática e
acessível. Para tanto, acrescentamos diversos exemplos, metáforas e dicas de leitura e de filmes que
objetivam esclarecer um pouco mais esse mundo que, em princípio, parece ser pouco palpável.

Estruturamos esta obra de modo a abarcar todos os procedimentos envolvidos em uma


pesquisa. Nesse sentido, ela pode ser estudada linearmente e também ser usada como obra de
consulta durante a elaboração de uma pesquisa ou trabalho acadêmico.

Esperamos que você encontre neste livro as respostas de que precisa para a elaboração de um
trabalho científico relevante. Desejamos que esse processo seja um caminho de sucesso e realização
acadêmica e profissional.

Bons estudos!
1
O estudo científico e o papel do pesquisador

Neste capítulo, estudaremos a criação de conhecimento por meio da ciência. Primeiro,


faremos uma breve discussão sobre o pensamento científico, seu conceito e seus significados.
Em seguida, daremos foco ao pesquisador e à sua postura ao operacionalizar o pensamento
científico. Posteriormente, veremos algumas informações importantes acerca do plágio e im-
plicações éticas. Por fim, discutiremos de forma geral a importância da pesquisa e suas contri-
buições para a sociedade.

Vídeo 1.1 Pensamento científico


A curiosidade é a base para o pensamento científico. O processo científico
se dá justamente por pensar, duvidar, questionar e buscar respostas às questões.
Se você é curioso, questiona-se por que as pessoas agem como agem, por que
fenômenos ocorrem dessa ou daquela forma, você já deu o primeiro passo na in-
trigante, excitante e, sim, às vezes desafiadora jornada pelo “mundo da pesquisa”.
Mas a simples curiosidade e a busca por respostas não são suficientes para gerar
conhecimento que contribua para a comunidade. É necessário que esse conhecimento
seja devidamente comunicado, expresso de forma clara. Além disso, se há pretensão
de que esse conhecimento gere ações, deve ser válido, principalmente no que tange às
evidências e fontes utilizadas. E, por fim, deve ser convincente, de forma que respon-
da à questão da pesquisa sugerida (DONOVAN; HOOVER, 2013).
É importante aqui fazer uma breve consideração sobre o conhecimento po-
pular (representado pelo senso comum) e o conhecimento científico. Segundo as
professoras Marina Marconi e Eva Lakatos (2017), a distinção entre essas duas for-
mas de conhecimento se dá pela forma ou método e pelos instrumentos que foram
utilizados no ato do conhecer. As autoras salientam que não é uma questão de vera-
cidade ou comprovação e citam o exemplo do agricultor que sabe qual planta requer
maior ou menor quantidade de água para se desenvolver. Nesse caso, trata-se de um
conhecimento popular que pode ser verificado e comprovado.
Um mesmo objeto ou fenômeno (uma planta, um mineral,
uma comunidade ou as relações entre chefes e subordinados)
pode ser matéria de observação tanto para o cientista quanto
para o homem comum; o que leva um ao conhecimento cien-
tífico e outro ao vulgar ou popular é a forma de observação.
(MARCONI; LAKATOS, 2017, p. 68)

Portanto, a ciência pode ser definida por meio da identificação de suas


características essenciais e caracterizada como uma forma de conhecimento
10 Métodos e técnicas de pesquisa

objetivo, racional, sistemático, geral, verificável e falível (MARCONI; LAKATOS, 2017; GIL,
2008). O Quadro 1 resume essas características.
Quadro 1 – Características do conhecimento científico

Objetivo/real Descreve ocorrências ou fatos da realidade, buscando sempre manter a imparciali-


(factual) dade do pesquisador.

Vale-se sobretudo da razão, e não de sensação ou impressões, para chegar a seus


Racional
resultados.

Preocupa-se em construir sistemas de ideias organizadas racionalmente por meio da


Sistemático
ordenação lógica do saber.

Tem possibilidade de ser generalizado e reproduzido em outros contextos, explicando


Geral
fenômenos em outras situações.

Sempre possibilita demonstrar a veracidade das informações e, caso estas não pos-
Verificável
sam ser comprovadas, não pertencem ao âmbito da ciência.

Não é definitivo, absoluto ou final, somente aproximadamente certo.


Falível Assim, novas proposições e hipóteses podem ser utilizadas para reformular o co-
nhecimento.
Fonte: Adaptado de Gil (2008) e Marconi e Lakatos (2017).

René Descartes (1596-1650) foi um dos principais precursores da “formatação” do método


científico. Ao verificar a necessidade de sistematização e organização das regras para a prática da
ciência, escreveu em 1637 o Discurso sobre o método ou, ainda, Discurso sobre o método para bem
conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência. Ao propor um método para evitar erros
e enganos ao raciocinar, Descartes propõe reconstruir o conhecimento a partir de fundamentos
certos, técnicos, inspirando-se na matemática.
Quando falamos em método ou metodologia científica, estamos falando justamente sobre
isto: os caminhos percorridos para a criação e a geração de conhecimento. “Penso, logo existo”,
sugere Descartes. Não “especulo”, não “divago”, não “viajo”. Minha existência está atrelada à minha
capacidade de pensar e legitimar minhas ideias e hipóteses a partir de bases sólidas.

Vídeo 1.2 A linguagem e a postura do pesquisador


Em nossa forma cotidiana de pensar, costumamos aceitar evidências e afir-
mações com pouca ou nenhuma avaliação das evidências. Fazemos, quase incons-
cientemente, juízos de valor usando a nossa intuição. Isso geralmente significa
que agimos com base no que nos parece ter “bom senso” ou ser “mais razoável”.
Entretanto, a intuição pode nos ajudar em algumas situações, mas nem sempre
está correta.
Shaughnessy et al. (2012) apontam que a abordagem científica do conheci-
mento é empírica, em vez de intuitiva, o que não significa dizer que a intuição não
tenha nenhum papel na ciência. A pesquisa pode ser orientada pela intuição do
cientista, mas há um certo ponto em que o cientista deve se orientar fundamental-
mente pelas evidências empíricas que as técnicas de pesquisa proporcionam. Esses
autores ainda recomendam ceticismo aos cientistas. Um cético é aquele indivíduo
que duvida de tudo, um incrédulo. Os cientistas não querem apenas “ver para crer”,
O estudo científico e o papel do pesquisador 11

como provavelmente hão de querer ver e ver de novo, talvez em condições diferentes para ver se
há padrões ou contradições. Os pesquisadores procuram tirar conclusões com base em evidências
empíricas, em vez de em seu juízo subjetivo. O ceticismo dos cientistas os leva a serem mais caute-
losos do que muitos indivíduos sem formação científica. Muitas pessoas têm facilidade para aceitar
explicações baseadas em evidências insuficientes ou inadequadas (SHAUGHNESSY et al., 2012).
Shaughnessy et al. (2012) ainda sugerem duas habilidades que devem ser desenvolvidas pelo
pesquisador:
1. Procurar acessar frequentemente publicações científicas, familiarizar-se à linguagem uti-
lizada para melhor embasar suas proposições.
2. Aprender a fazer pesquisa, conhecer seus métodos e técnicas empregados, para que possa
efetivamente contribuir para a ciência.
Ao acessar estudos científicos, pesquisadores, professores, estudantes e leigos esperam de-
parar-se com uma linguagem própria da academia, que em grande parte evita a redação em pri-
meira pessoa (atribuindo impessoalidade ao texto), a supersimplificação da comunicação e o uso
de gírias.
Um texto acadêmico construído com métodos confiáveis e linguagem adequada oferece
maior confiança ao leitor. Observe o exemplo a seguir:
Linguagem cotidiana – muita gente está tentando achar uma solução para o lixo das fir-
mas e das casas, tipo os restos de comida, as embalagens e tudo mais que hoje em dia polui muito
o mundo.
Linguagem acadêmica – pesquisadores de diferentes áreas têm se dedicado a desenvol-
ver soluções aplicadas à redução e à reutilização de resíduos industriais e residenciais, tais como
orgânicos, plásticos e papéis. Esses materiais, inclusive por seu volume de produção e consumo,
constituem-se na atualidade como grandes poluidores do meio ambiente.
Lembre-se sempre: a ciência é uma busca pela verdade. Procure sempre o mais elevado dos
padrões. Legitime sua pesquisa. Contribua para a comunidade científica de forma sólida.

Vídeo 1.3 O plágio acadêmico e suas implicações éticas


Uma variedade de atividades constitui violações da integridade científica.
Elas incluem a invenção de dados, o plágio, a divulgação seletiva de resultados de
pesquisa, entre outras.
A internet e a world wide web trouxeram muitos benefícios que contribuem
diretamente para o avanço da ciência, tais como a acessibilidade a um grande volu-
me de informações e a facilidade para troca destas entre pesquisadores de diferen-
tes países. Entretanto, há alguns efeitos bastante nocivos que devem ser mitigados,
e um deles é o plágio.
É considerada plágio a utilização de qualquer citação no corpo dos traba-
lhos acadêmicos sem referência à fonte de pesquisa. Pithan e Vidal (2013) res-
saltam que essa prática é cada vez mais frequente e gera grande preocupação na
12 Métodos e técnicas de pesquisa

comunidade científica. Alguns casos emblemáticos trazidos pelos autores e amplamente divulga-
dos pela grande mídia estão exemplificados nas Figuras 1 e 2 a seguir:
Figura 1 – Caso de plágio divulgado pela mídia em 2011

Fonte: G1 (2011).

A reportagem ainda complementa: “Ele é acusado de ter copiado passagens inteiras de ou-
tras teses sem citar seus autores. Isto valeu a ele pelo menos duas queixas na justiça e o apelido de
‘Barão copia-cola’ e ‘Barão von Googleberg’”.
Pouco mais de um ano depois, outro caso:
Figura 2 – Caso de plágio divulgado pela mídia em 2012

Fonte: G1 (2012).

Portanto, verifica-se que o plágio é uma prática entendida como vergonhosa pela sociedade.
No Brasil não deveria ser diferente, mas ele ainda não é assumido de forma satisfatória como um
problema sério. Nesse sentido, o trabalho do professor Marcelo Krokoscz, da USP, publicado em
2015 merece destaque especial. Segundo Krokoscz (2015), o plágio caracteriza uma fraude autoral.
Mas, antes de ser uma questão jurídica, o plágio se trata de uma questão ética, conforme salientam
Pithan e Vidal (2013).
A Capes – órgão vinculado ao Ministério da Educação – emitiu, em 2011, um documento no
qual fez uma recomendação para que as instituições de ensino superior orientem os alunos sobre
o assunto, nos seguintes termos:
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)
recomenda, com base em orientações do Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), que as instituições de ensino públicas e privadas
brasileiras adotem políticas de conscientização e informação sobre a proprieda-
de intelectual, adotando procedimentos específicos que visem coibir a prática
do plágio quando da redação de teses, monografias, artigos e outros textos por
parte de alunos e outros membros de suas comunidades. (CAPES, 2011)

Além de seguir as diretrizes jurídico-acadêmicas, o que mais devemos fazer para evitar
o plágio?
O estudo científico e o papel do pesquisador 13

Algumas instituições utilizam-se de medidas punitivas quando há detecção de plágio. E po-


demos contar uma coisa? Não é tão difícil detectar plágio. Na verdade, é relativamente fácil. Então,
o risco de ser “pego” é bastante grande. Em um estudo realizado por Krokoscz (2015) com pro-
fessores do ensino superior, verificou-se que oito em cada dez percebem que um trabalho escrito
é plagiado apenas fazendo a leitura. Um dos principais indícios está no nível de erudição de um
texto, que está bem acima dos conhecimentos de quem responde pelo trabalho. Outro bastante
evidente é quando o trabalho é resultado de um processo de copiar e colar, em que ficam flagrantes
algumas quebras de estilo e de coesão textual. Além disso, na atualidade existem softwares dedica-
dos exclusivamente à detecção do plágio, que são bastante precisos.
Portanto, não copie e cole somente, sempre cite a fonte. Claro que para informações e con-
ceitos popularmente conhecidos (por exemplo, “a água ferve a aproximadamente 100 °C”) não há
necessidade de citação.
Há duas formas de realizar a citação. A citação direta é de fato uma cópia e transcreve parte
de uma obra, com as palavras do autor. Para isso, além de indicar o(s) autor(es) e o ano da obra,
devemos informar a página de onde foi retirada a citação. As citações diretas podem ser curtas ou
longas, e para cada tipo há uma formatação própria.
Já nas citações indiretas, apresenta-se a ideia de outros autores utilizando suas próprias pa-
paráfrase: reformu-
lavras (é opcional indicar página neste caso). Procure utilizar a paráfrase para não perder a ideia lação de um texto,

central do conceito. trocando as palavras e


expressões originais,

Mais detalhes sobre como fazer citações serão apresentados no Capítulo 4, no item referente mas mantendo a ideia
central da informação.
às fontes de referência.

Vídeo 1.4 A importância da pesquisa


Suponha que você ou algum conhecido tenha uma opinião pessoal tal qual
“eu acho que o capitalismo explora a classe mais pobre” e resolva externalizá-la
nas suas redes sociais. Essa opinião pode influenciar seus amigos, parentes ou
até alguns desconhecidos a pensarem da mesma forma ou ao menos obter algum
apoio por meio de likes e compartilhamentos, mas, eventualmente, isso terá dois
desdobramentos possíveis: ou sua opinião vai se manter limitada ao seu grupo
e terá alcance bastante limitado ou, então, na hipótese mais trágica, alguém nas
suas redes sociais poderá se sentir injustiçado ou simplesmente não gostar de
você, e isso pode ter consequências desagradáveis.
Entretanto, se você citar como evidência que uma a cada cinco crianças
americanas vivem em situação de pobreza, tem-se um argumento mais convincen-
te, já que você está relacionando um julgamento seu a uma medida da realidade.
Além disso, é importante usar fontes fidedignas, pois isso ajuda a legitimar sua
ideia. Opinar sobre o capitalismo munido de fatos e dados, extraídos de uma boa
fonte, provavelmente conseguirá engajar um público maior a seu favor e, até mes-
mo, provocar ações que sejam relevantes. Conforme Donovan e Hoover (2013)
ressaltam, conhecimento construído sobre evidências e divulgado de forma clara
14 Métodos e técnicas de pesquisa

leva a um maior poder de influência sobre o ambiente. Portanto, primeiro argumento quanto à
importância da pesquisa: prover legitimidade à sua opinião ou ideia.
Outra importante razão para se pesquisar é acrescentar conhecimento, elevar a expertise
em uma comunidade e/ou então aplicar as teorias já previamente estudadas de forma inovado-
ra. Essa proposta foi feita por Stokes (2005) e é representada por meio de um gráfico com dois
eixos: um relacionado ao avanço do conhecimento, e o outro, ao grau de aplicação. A Figura 3
apresenta essa classificação.
Figura 3 – Quadrante de Pasteur

Não Sim

Pesquisa básica
Pesquisa básica
Sim inspirada pelo uso
pura (Bohr)
(Pasteur)

Busca de entendimento
fundamental?

Pesquisa aplicada
Não
pura (Edison)

Considerações de uso?
Fonte: Stokes (2005).

Projetada no quadrante superior esquerdo no gráfico representado na Figura 3, a pesquisa


básica pura tem como exemplo as investigações do físico Niels Bohr sobre a estrutura do átomo. Já a
pesquisa denominada aplicada pura, exemplificada com o sistema de iluminação elétrica de Thomas
Edison, insere-se no quadrante inferior direito. As pesquisas que podem contribuir tanto para o avan-
ço do conhecimento quanto para prover grandes perspectivas de aplicações práticas são denomina-
das “pesquisa básica inspirada pelo uso”. As investigações de Pasteur na área de microbiologia são o
seu exemplo mais notório e, portanto, esta área é conhecida como o Quadrante de Pasteur.
É importante salientar que, de acordo com a classificação de Stokes, não há pesquisa “me-
lhor” nem “pior”. A pesquisa básica não está ligada a fins práticos, mas nem por isso tem menos
valor. Contrariamente, é precursora do desenvolvimento tecnológico e deve ser incentivada.
Portanto, a pesquisa tem como característica importante a contribuição, ou seja, para quem
ou por que essa pesquisa é importante e de que forma essa contribuição ocorre. No caso da pesqui-
sa básica, a contribuição pode ser a rediscussão de conceitos, a proposição de testes e formulações
e até mesmo a geração de novas teorias. Já a pesquisa aplicada contribui para promover a aplicabi-
lidade das teorias e dos conceitos previamente levantados na pesquisa básica.
Por fim, mas não menos importante, a pesquisa provê autodesenvolvimento. Umberto
Eco (sim, o mesmo autor de O nome da rosa!) escreveu um livro chamado Como se faz uma tese,
que é quase um manual referente à elaboração de uma pesquisa. Eco (2016, p. 5) sustenta que
para se fazer uma pesquisa (tese) é necessário aprender a organizar as próprias ideias e ordenar
os dados. Portanto, o tema em si da pesquisa não é tão importante quanto a “experiência de tra-
balho que ela comporta.”
O estudo científico e o papel do pesquisador 15

Considerações finais
Novas e velhas questões apresentam-se no mundo em que vivemos, no qual ocorrem
intensas e velozes mudanças. Desse modo, as diferentes áreas de estudo também passam por in-
quietações, revisões e reformulações. Pesquisar é justamente olhar para esse mundo em constante
mudança e perceber o “novo”.
A pesquisa não deve se ater apenas ao meio acadêmico com o objetivo de atingir critérios
de avaliação. Sua finalidade vai além ao formar pessoas curiosas acerca do que se passa no mundo.
Assim se constrói o conhecimento, a ciência e a inovação.

Ampliando seus conhecimentos


• NERDOLOGIA. Disponível em http://www.youtube.com/nerdologia/ ou via Facebook,
no @CanalNerdologia.
Toda semana, o Nerdologia posta um vídeo com explicações científicas sobre fatos da
cultura pop e contemporânea. Os vídeos podem contribuir para inspirá-lo em temas de
pesquisa e ampliar seu conhecimento em temas ainda desconhecidos e que podem vir a
ser objeto de pesquisas científicas. Exercite sua curiosidade!
• O NOME da rosa. Produção de Jean-Jaques Annaud. São Paulo: TW Vídeo distribuidora,
1986. 1 Videocassete (130 min.): VHS, NTSC, son., color. Legendado. Port.
No século XIV, o frei franciscano William de Baskerville procura investigar mortes de mon-
ges ocorridas em uma abadia. Apesar da intensa resistência encontrada entre os monges da
Santa Inquisição, o Frei William baseia-se na ciência, utilizando-se de métodos de pesquisa
sofisticados para coletar provas e chegar à verdade dos fatos.

Atividades
1. Dê exemplos de conhecimento comum e conhecimento científico.

2. Como o plágio crescente nos estudos científicos pode prejudicar o desenvolvimento da ciên-
cia no país?

3. “A única ciência válida é a ciência que tem aplicação prática”. Essa afirmação está correta?
Avalie.

Referências
CAPES. Orientações Capes: combate ao plágio. Brasília 4 jan. 2011. Disponível em: https://www.capes.gov.
br/images/stories/download/diversos/OrientacoesCapes_CombateAoPlagio.pdf. Acesso em: 20 mar. 2019.

DONOVAN, Todd; HOOVER, Kenneth R. The Elements of Social Scientific Thinking. Cengage Learning,
2013.
16 Métodos e técnicas de pesquisa

ECO, Umberto. Como se faz uma tese. Tradução: Gilson César Cardoso de Souza. 26. ed. São Paulo:
Perspectiva, 2016.

G1 – AFP. Ministro acusado de plágio acadêmico renuncia na Alemanha. Disponível em: http://glo.bo/
fNOkYC. Acesso em: 20 mar. 2019.

G1 – Reuters. Presidente da Hungria renuncia após disputa por plágio. 2 abr. 2012. Disponível em: http://glo.
bo/H8bfu9. Acesso em: 20 mar. 2019.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

KROKOSCZ, Marcelo. Outras palavras sobre autoria e plágio. São Paulo: Atlas, 2015.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 8. ed. São
Paulo: Atlas, 2017.

PITHAN, Lívia Haygert; VIDAL, Tatiane Regina Amando. O plágio acadêmico como um problema ético,
jurídico e pedagógico. Direito & Justiça, v. 39, n. 1, Porto Alegre: 2013.

SHAUGHNESSY, John J.; et al. Metodologia de pesquisa em psicologia. Porto Alegre: AMGH Editora, 2012.

STOKES, Donald E. O quadrante de Pasteur: a ciência básica e a inovação tecnológica. Campinas: Unicamp,
2005.
2
Fundamentos da metodologia de pesquisa

Conforme já vimos no capítulo anterior, o campo científico proporciona uma infinidade


de possibilidades para a observação de um mesmo fenômeno, que pode ser conhecido a partir de
diferentes vertentes, técnicas e processos. O método científico nos ajuda a direcionar e organizar
a pesquisa.
Para facilitar a compreensão, podemos imaginar o fenômeno a ser investigado como um
destino de viagem. A forma como chegar a esse destino pode variar de acordo com as diferentes
possibilidades que se apresentam.
Neste capítulo, compreenderemos aspectos introdutórios da estruturação de um estudo
científico. Também reconheceremos a importância da adequada delimitação do problema de pes-
quisa – determinação precisa do fenômeno que se pretende conhecer.

Vídeo 2.1 Significado de metodologia de pesquisa


Geralmente é possível acessar um local por meio de trajetos distintos empre-
gando variados meios de transporte ou ainda combinando diferentes meios dispo-
níveis. O que garante uma viagem mais rápida, mais confortável, mais econômica
são as possibilidades apresentadas versus as escolhas realizadas por aquele que viaja.
Na pesquisa acadêmica, ocorre algo semelhante. As escolhas iniciais do pes-
quisador acerca do “para onde ir” e “como chegar ao seu destino” – conhecer o fe-
nômeno pretendido – determinarão o quão extenso, assertivo ou complexo será seu
percurso de pesquisa, ou seja, impactarão diretamente nas dificuldades enfrentadas
para a realização do estudo e em seus resultados.
Em uma viagem, temos muitos guias para nossa orientação, tais como ma-
pas, placas, roteiros etc., que garantem que possamos chegar ao destino final do
modo como planejamos. Na pesquisa científica, esse guia está pautado nos diversos
elementos, etapas e recursos que contemplam um processo de pesquisa, os quais
garantem que o pesquisador se mantenha em seu caminho e chegue ao destino
pretendido.
Por tratar-se de um estudo do método, a metodologia da pesquisa tem como
função estruturar a pesquisa de forma que possa garantir cientificidade e ofereça
confiabilidade ao conhecimento gerado (CERVO; BERVIAN, 2002; FACHIN, 2002)
Todo processo científico transcorre orientado por uma grande quantidade
de procedimentos e técnicas, distribuídos entre as diferentes etapas de um mesmo
projeto, as quais o pesquisador deverá executar de forma integrada.
A Figura 1 apresenta diversos componentes de um estudo científico distri-
buídos entre as etapas que fazem parte de sua execução. Ao longo dos capítulos
seguintes, você poderá compreender de forma aprofundada cada um desses ele-
mentos e fases.
18 Métodos e técnicas de pesquisa

Figura 1 – Componentes e etapas de uma pesquisa científica

Conjunto de
fenômenos

Tema de Problema de Hipóteses de


=
pesquisa pesquisa pesquisa

Objetivo Objetivo
Legenda: = origina e/ou determina geral específicos

Design de
pesquisa

Pesquisa Pesquisa
Exploratória Conclusiva

Análise
de dados

Conclusões

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Vídeo 2.2 O fenômeno científico


Dentro do universo científico, o fenômeno refere-se a algo que o pesquisa-
dor deseja conhecer melhor (em profundidade), a partir de um enfoque novo ou
diferente. Cada proposta de pesquisa pode gerar um novo resultado ou ainda con-
firmar resultados anteriores. Dessa forma, todos os resultados contribuem para a
ampliação do campo de conhecimento.
A crise histórica no Oriente Médio é um exemplo muito claro de diferen-
tes possibilidades apresentadas pelo campo científico. Existe atualmente uma
quantidade muito extensa de estudos científicos acerca desse fenômeno, não
esgotado, que ocorreram a partir de diferentes orientações, tais como a pers-
pectiva religiosa, a política, a econômica, entre outras. Figuram ainda outras
tantas pesquisas que promovem a comparação entre diferentes focos de análise,
confrontando perspectivas distintas, quando possível, com vistas a uma com-
preensão mais aprofundada da realidade observada.
Um bom exemplo desta condição é o estudo desenvolvido pelo pesquisador
brasileiro Mauro Cesar Barbosa Cid em 2017. A partir de uma visão histórica da
crise no Oriente Médio, o autor propôs compreender uma fração do fenômeno ob-
servando como a diplomacia brasileira conduziu sua política externa em relação ao
Fundamentos da metodologia de pesquisa 19

Oriente Médio. O estudo, publicado na revista Conjuntura Internacional da Pontifícia Universidade


Católica de Minas, está disponível em: https://goo.gl/eP1dTj.

Vídeo
2.3 Tema e problema de pesquisa
No campo científico, um fenômeno de pesquisa tem relação direta com o
tema de pesquisa pretenso. Ambos dizem respeito àquilo que se pretende investi-
gar. Enquanto o fenômeno é amplo e abrangente, o tema de pesquisa é mais res-
trito. Pode-se dizer que o tema é uma parte de interesse do pesquisador dentro do
espectro de um fenômeno, que na maior parte dos casos não pode ser observado
em sua totalidade a partir de um único estudo. A Figura 2 nos ajuda a compreender
melhor a relação entre fenômeno e tema.
Figura 2 – Relação fenômeno x tema de pesquisa

Conjunto de
fenômenos

Parte de um
fenômeno

Tema de
=
pesquisa

Legenda: = origina e/ou determina

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Nesse contexto, o fenômeno poderia ser representado por um quebra-cabe-


ças completo (a Terra), enquanto o tema seria uma das peças desse quebra-cabeças
(um país). A cada novo avanço da pesquisa, a compreensão acerca do fenômeno
é ampliada, ou seja, uma peça a mais do quebra-cabeças é encaixada. Confira no
Quadro 1 outros exemplos de fenômenos e temas de pesquisa.
Quadro 1 – Exemplos de fenômenos, temas e títulos de estudos já realizados

Temas
Fenômeno Título de estudos já realizados
(interesse da pesquisa)

Desafios da Administração Os desafios da produção de conhecimento em administração no Brasil.


no Brasil Disponível em: goo.gl/aDk7Hw.

Administração Pesquisa histórica em Admi- A importância dos arquivos empresariais para a pesquisa histórica em
no Brasil nistração no Brasil administração no Brasil. Disponível em: goo.gl/WPSU4W.

O corpo de conhecimentos da profissão do administrador no Brasil:


Conhecimentos da Adminis-
contribuições do sistema CFA/CRAs para sua legitimação. Disponível
tração no Brasil
em: goo.gl/FXcCxG.

(Continua)
20 Métodos e técnicas de pesquisa

Temas
Fenômeno Título de estudos já realizados
(interesse da pesquisa)

Educação especial na perspectiva da educação inclusiva em dife-


Educação para a inclusão rentes municípios. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/
v38n106/1678-7110-ccedes-38-106-261.pdf.

Psicologia escolar e educação inclusiva: a atuação junto aos professo-


Educação inclusiva Psicologia na educação in-
res. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex-
clusiva
t&pid=S1413-65382018000300427&lang=pt.

Educação inclusiva e as representações dos estudantes sobre seus


Representações da educação
pares com deficiência. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
inclusiva
php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572018000100115&lang=pt.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

A definição de um tema possibilita que o pesquisador elabore questões acerca daquilo que
lhe interessa investigar. Essa ação denominamos problematização – ato de problematizar. Desse
processo decorre o termo problema de pesquisa. Não se trata de investigar um problema, mas sim
delimitar uma situação-problema a ser investigada, algo que, do ponto de vista do pesquisador ou
de um campo científico definido, ainda não foi respondido adequadamente, necessita ser revisto
ou conhecido a partir de um determinado prisma observacional.
Enquanto o tema de uma pesquisa é uma proposição mais abrangente, a formulação do
problema indica exatamente qual dificuldade se pretende resolver. Toda pesquisa tem início com
algum tipo de problema.
Problema, sob a perspectiva científica, é qualquer questão não resolvida e que é objeto de
discussão, em qualquer domínio do conhecimento (GIL, 2008). Para Marconi e Lakatos (2010),
um problema deve necessariamente apresentar um enunciado suficientemente claro, compreensí-
vel e operacional, cuja solução possa ser promovida por meio de processos científicos.
A Figura 3 nos ajuda a compreender melhor a correlação tema versus problema de pesquisa.
Figura 3 – Correlação tema versus problema de pesquisa

Conjunto de
fenômenos

Tema de Problema de
=
pesquisa pesquisa

Legenda: = origina e/ou determina

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Por conta de seu objetivo, o problema de pesquisa é sempre apresentado em forma de per-
gunta e também é conhecido como pergunta de pesquisa. Em geral, os problemas de pesquisa
Fundamentos da metodologia de pesquisa 21

trazem as expressões quem, como, onde, quando, o quê, por quê, entre outras, que ajudam o pesqui-
sador a delimitar com clareza o que exatamente deseja investigar.
Para Gil (2008), um problema de pesquisa deve ser cientificamente testável, ou seja, deve
envolver variáveis que possam ser observadas ou manipuladas. O autor sugere como exemplo:

Em que medida a escolaridade influencia a preferência político-partidária?

Este é um problema mensurável, pois é perfeitamente possível verificar a preferência político-


-partidária de determinado grupo, bem como o seu nível de escolaridade, para depois determinar até
que ponto essas variáveis estão relacionadas entre si.
Por outro lado, a questão “O que pode ser feito para se conseguir melhor distribuição de
renda no Brasil?” não é uma boa pergunta para pesquisa. A busca científica pode até fornecer
sugestões e ideias, mas não pode responder diretamente a esses problemas. Melhor seria a questão
“Quais são os fatores histórico-sociais que contribuíram para o atual quadro de distribuição de ren-
da no Brasil?” ou ainda “Como a desigualdade de renda no Brasil afeta o desempenho estudantil
no ensino fundamental?”.
Perguntas do tipo “É bom adotar jogos e simulações como técnicas didáticas?” também não
são consideradas científicas, pois são problemas de valor, assim como todos aqueles que indagam
se uma coisa é boa, má, desejável, certa ou errada, ou se é melhor ou pior que outra.
Gil (2008) sugere algumas regras para a formulação de um problema de pesquisa e salienta
que são recomendações com base na experiência de pesquisadores que, quando aplicadas, facilitam
esse processo. Segundo o autor, o problema deve:
1. Ser formulado como pergunta – isso auxilia o pesquisador a focar sua atenção na busca
pela resposta.
2. Ser delimitado a uma dimensão viável – nada de querer resolver questões do mundo todo!
Pense na viabilidade de execução da pesquisa.
3. Ter clareza – use termos e significados claros. Evite ambiguidade.
4. Ser preciso – procure formular problemas com conceitos passíveis de mensuração.
5. Conduzir a uma pesquisa factível – se há tempo suficiente, quais são os recursos necessá-
rios, entre outras tecnicalidades.
6. Ser ético – principalmente quando a pesquisa envolve seres humanos, devem-se observar
princípios éticos definidos por normas aceitas internacionalmente.
Confira, no Quadro 2, mais alguns exemplos de temas e problemas de pesquisa.
22 Métodos e técnicas de pesquisa

Quadro 2 – Sugestão de temas e problemas de pesquisa

Tema de pesquisa Problema de pesquisa

O perfil da mãe que deixa o filho recém-nascido para Quais condições exercem mais influência na decisão das mães em dar o
adoção filho recém-nascido para adoção?

A necessidade de informação ocupacional na esco- A orientação profissional dada, no curso de ensino médio, influi na seguran-
lha da profissão ça (certeza) em relação à escolha do curso universitário?

A família carente e sua influência na origem da mar- O grau de organização interna da família carente influi na conduta (margi-
ginalização social nalização) do menor?
Fonte: Marconi e Lakatos (2010).

Vídeo
2.4 Sobre o que escrever?
Em se tratando de pesquisa científica, devemos nos atentar às característi-
cas de um estudo científico. Segundo Umberto Eco, um estudo científico debruça-
-se sobre um objeto (tema) reconhecível pelos outros e também deve dizer desse
objeto algo que ainda não foi dito ou rever sob uma ótica diferente o que já se
disse. Além disso, o estudo deve ser útil aos demais pesquisadores.
Ajudou ou complicou ainda mais? Bom, de fato não é uma tarefa fácil, prin-
cipalmente para quem é novato no meio científico, mas existem algumas dicas que
podem ajudar:
1. Oportunidades oferecidas em determinadas instituições de ensino, às ve-
zes um projeto já iniciado de algum professor que precise de “reforço”.
Pode ser uma ótima chance de fazer parte de um projeto maior e de rele-
vância na instituição. Desvantagem: você faz o projeto do seu orientador,
e pode ser que o tema não lhe agrade.
2. Sua ideologia pode influenciar significativamente na escolha do proble-
ma. Se você está chateado com a política, com a violência nas grandes
cidades pode usar isso, sim, também como motivação. É importante
atentar-se para não emitir pura e simplesmente seu ponto de vista sem
qualquer embasamento porque então não seria pesquisa. Procure ade-
quar sua ideia à sua área de estudo.
3. É frequente a escolha de um problema ocorrer por algum modismo. O
tema pode estar sendo discutido em outro país e eventualmente pode ser
interessante estudar a sua aplicabilidade no Brasil, (por exemplo, econo-
mia digital). Nesse caso, é importante estar atento para não investir em
temas muito distantes da nossa realidade. Pode dificultar a coleta de in-
formações e, consequentemente, ameaçar a legitimação de sua pesquisa.
4. Converse com professores, colegas, experts em um tema com o qual você
tenha maior afinidade. Leia notícias, pois “se antenar” é importante. O
que o incomoda? O que não parece estar muito claro? O que seria interes-
sante ver em outra perspectiva? O que seria importante estudar para seu
Fundamentos da metodologia de pesquisa 23

desenvolvimento pessoal? Se ficar em dúvida entre dois ou mais temas, questione: o que
consigo resolver dentro desse tempo? Quais dados ou pessoas posso acessar para realizar
minha pesquisa? São perguntas essenciais. Lembre-se de que você tem prazo e recursos
limitados.

Vídeo 2.5 Justificativa de pesquisa


Toda pesquisa apresenta uma justificativa para ser realizada. Na justificativa
do estudo, o autor apresenta os reais motivos pelos quais o estudo deve ser feito e
sua efetiva contribuição para diferentes públicos interessados em seus resultados.
Em síntese, o autor explica qual é a relevância, o porquê ou os porquês de se desen-
volver um determinado estudo.
A justificativa de um estudo pode estar associada a contribuições em dife-
rentes esferas, por exemplo: para um determinado campo do conhecimento – am-
pliação dos conhecimentos da área; para uma empresa – melhorar algum de seus
processos; para um país – melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos; para um
grupo de indivíduos – encontrar a cura para determinada doença, entre tantos
outros motivos pelos quais um estudo pode ser realizado.
Cada pequeno avanço dentro de uma pesquisa pode trazer novas implicações
para um conhecimento prévio acerca de um fenômeno. É na justificativa de pesquisa
que o autor apresenta ao leitor tais expectativas e possibilidades. Portanto, é funda-
mental que haja uma exposição sucinta, porém completa, das razões de ordem teóri-
ca e dos motivos de ordem prática que tornam importante a realização da pesquisa.
A justificativa de pesquisa consiste na apresentação das razões de ordem
teórica (falta de estudos sobre o tema, aprofundamento do material existente etc.)
e/ou prática (fato recente, divergências teórico-práticas etc.) que justificam a rea-
lização da pesquisa.

Deve-se convencer o leitor de que vale a pena estudar o


problema em questão e da sua contribuição para o pro-
gresso da ciência.

Entre os anos de 2015 e 2016, o Brasil foi acometido por um número muito
alto de casos de microcefalia. Em um primeiro momento, o crescimento exponen-
cial da doença esteve associado ao Zika vírus. Imediatamente surgiram propostas
da realização de muitos estudos com vistas a compreender e oferecer soluções a
esse fenômeno que colocou em risco a vida de muitos recém-nascidos no Brasil.
O registro dessas condições pode ser acompanhado na íntegra em: goo.gl/
kd8UH4.
24 Métodos e técnicas de pesquisa

A seguir, são apresentadas algumas das justificativas para a realização de estudos que pudes-
sem trazer contribuições ao campo da saúde pública no Brasil:
• Justificativa 1 – Análise bibliométrica de artigos científicos sobre o vírus Zika.
Observa-se a falta de estudos nacionais sobre a temática e evidencia-se a necessidade do
desenvolvimento de pesquisas nesse sentido, uma vez que os resultados são essenciais
para o desenvolvimento de intervenções (MARTINS, 2016).
• Justificativa 2 – Qualidade da informação em saúde: um estudo sobre o vírus do papilo-
ma humano (HPV) em websites brasileiros.
Para os usuários, é importante saber quais sites contêm informações com qualidade e,
portanto, em quais se pode confiar. Para aqueles que proveem o conteúdo do site, com-
preender os quesitos de qualidade esperados em websites de saúde contribui para aprimo-
rar e, consequentemente, oferecer melhores resultados para quem faz a busca (GARCIA
et al. 2018).
• Justificativa 3 – Estratégias de captação de doadores de sangue: uma revisão integrativa
da literatura.
Esse estudo justifica-se por possibilitar a socialização de estratégias de captação de doado-
res de sangue, visando à contribuição dessas experiências para a busca de novos doadores
e de sua fidelização (RODRIGUES; REIBNITZ, 2011).
Conforme ressaltam Marconi e Lakatos (2017), a justificativa de pesquisa deve enfatizar:
a. O estágio em que se encontra a teoria relativamente ao tema.
b. As contribuições teóricas que a pesquisa pode trazer, que podem ser:
• Uma confirmação geral.
• Uma confirmação na sociedade particular em que se insere a pesquisa.
• Uma especificação para casos particulares.
• Um esclarecimento da teoria.
• Uma resolução de pontos obscuros etc.
c. Importância do tema do ponto de vista geral.
d. Importância do tema para os casos particulares em questão.
e. Possibilidade de sugerir modificações no âmbito da realidade abarcada pelo tema
proposto.
f. Descoberta de soluções para casos gerais e/ou particulares etc.

Considerações finais
Neste capítulo, vimos alguns aspectos primordiais para iniciar o trabalho científico. As de-
finições do tema e do problema de pesquisa são essenciais para que se percorra o caminho da pes-
quisa de forma mais assertiva, direta e econômica. Além do tema e do problema, entender o porquê
da escolha também é importante tanto para a comunidade que terá acesso à pesquisa quanto para o
próprio pesquisador, que sentirá maior confiança e segurança em relação ao caminho que trilhará.
Elaborar um trabalho científico nada mais é do que executar um projeto – um projeto que
precisa ter suas etapas bem definidas. Mas, assim como em um projeto, a probabilidade de sucesso
Fundamentos da metodologia de pesquisa 25

pode ser ameaçada por um tema ou um problema de pesquisa que seja irrelevante ou, então, de-
masiadamente abrangente. Não tenha receio em gastar um bom tempo nesta etapa. O tempo usado
aqui certamente lhe renderá menos atribulações e imprevistos futuramente.

Ampliando seus conhecimentos


• GARCIA, Renata Ivone et al. Qualidade da informação em saúde: um estudo sobre
o vírus do papiloma humano (HPV) em websites brasileiros. Revista Eletrônica de
Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, v. 12, n. 1, 2018. Disponível em: https://
www.arca.fiocruz.br/handle/icict/25775. Acesso em: 21 mar. 2019.
Interessante ler esse artigo e compreender como foi construído o problema de pesquisa e
suas razões (justificativa).
• UM HOMEM entre gigantes. Direção de Peter Landesman. EUA: Sony Pictures, 2015.
(2h3min.), color., legendado.
O patologista Dr. Bennet Omalu descobre a verdade sobre o dano cerebral presente em jo-
gadores de futebol americano que sofrem concussões de forma frequente durante os jogos.
Verifique como a ciência e o método são cruciais para vencer essa briga com a gigante NFL.

Atividades
1. Formule problemas de pesquisa a partir dos temas: motivação de equipes e sustentabilidade
ambiental. Verifique, a seguir, se eles se ajustam às regras apresentadas para a formulação de
problemas científicos no item 2.2 deste capítulo.

2. Formule um problema de pesquisa referente a qualquer tema de seu interesse. A seguir,


faça a si mesmo as seguintes perguntas: 1) Que experiências de minha vida contribuíram
e influenciaram na escolha desse tema? 2) Como meus valores e crenças pessoais influen-
ciaram nessa escolha? 3) Que conhecimentos anteriores contribuíram para a proposição do
problema de pesquisa?

3. Leia o resumo a seguir, identifique o tema e proponha uma pergunta de pesquisa:


As empresas familiares possuem grande representatividade no cenário econômico atual. Sua
gestão, geralmente sob a responsabilidade de membros da família fundadora, possui uma
complexidade maior, em razão da necessidade de separação entre as questões familiares e a
estratégia do negócio. O objetivo deste estudo é analisar a interferência do estilo de liderança
em empresas familiares, evidenciando sua influência na motivação dos colaboradores e no
surgimento de conflitos interpessoais na organização. Para tanto, foi realizada uma pesquisa
empírica quantitativa descritiva, com aplicação de questionários a 156 colaboradores de 9
empresas familiares da região de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Os resultados obtidos por
meio da análise de regressão mostram que a motivação está significativamente relacionada
com a liderança. Quanto aos conflitos intergrupais, embora ele esteja presente nas organiza-
ções familiares, este não está significativamente relacionado com a atuação do líder.
Fonte: RUFFATTO, Juliane; PAULI, Jandir; FERRÃO, Augusto Rafael. Influência do estilo de liderança
na motivação e conflitos interpessoais em empresas familiares. Revista de Administração Faces, v. 16, n.
1, p. 30-44, 2017.
26 Métodos e técnicas de pesquisa

Referências
BAND. Casos de microcefalia crescem no Sudeste. Jornal da Band. Disponível em: https://noticias.band.
uol.com.br/jornaldaband/videos/16114635/casos-de-microcefalia-crescem-no-sudeste.html. Acesso em: 21
mar. 2019.

BERTERO, Carlos Osmar; ALCADIPANI, Rafael; CABRAL, Sandro; FARIA, Alexandre; ROSSONI,
Luciano. Os desafios da produção de conhecimento em administração no Brasil. Cadernos Ebape, Rio
de Janeiro, v. 11 n. 13, mar. 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1679-39512013000100012&lang=pt. Acesso em: 21 mar. 2019.

CAIADO, Kátia Regina Moreno; JESUS, Denise Meyrelles de; BAPTISTA, Claudio Roberto. Educação
especial na perspectiva da educação inclusiva em diferentes municípios. Caderno Cedes, Campinas,
v. 38, n. 106, set./dez. 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0101-32622018000300261&lang=pt. Acesso em: 21 mar. 2019.

CERVO; Amado L.; BERVIAN, Pedro A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

CICMANEC, Edna Regina; NOGUEIRA, Eloy Eros da Silva. O corpo de conhecimentos da profissão do
administrador no Brasil: contribuições do sistema CFA/CRAs para sua legitimação. Revista Eletrônica de
Ciência Administrativa – RECADM., Campo Largo, v. 17, n. 1, jan.-abr. 2018. Disponível em: http://www.
periodicosibepes.org.br/index.php/recadm/article/view/2168/0. Acesso em: 21 mar. 2019.

CID, Mauro. A estratégia brasileira no Oriente Médio: uma visão histórica no século XX. Revista Conjuntura
Internacional, Belo Horizonte, v. 14, n. 1, p. 39-53, abr. 2017. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/
index.php/conjuntura/article/viewFile/P.1809-6182.2017v14n1p39/12111. Acesso em: 21 mar. 2019.

CORAIOLA, Diego Maganhotto. A importância dos arquivos empresariais para a pesquisa histórica em ad-
ministração no Brasil. Caderno Ebape, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, jun. 2012. Disponível em: http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-39512012000200002&lang=pt. Acesso em: 21 mar. 19.

FACHIN, Odilia. Fundamentos da metodologia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

FONSECA, Thaisa da Silva; FREITAS, Camila Siqueira Cronemberger; NEGREIROS, Fauston. Psicologia
escolar e educação inclusiva: a atuação junto aos professores. Revista Brasileira de Educação Especial,
Bauru, v. 24, n. 3, jul./set. 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1413-65382018000300427&lang=pt. Acesso em: 21 mar. 2019.

GARCIA, Renata Ivone et al. Qualidade da informação em saúde: um estudo sobre o vírus do papiloma huma-
no (HPV) em websites brasileiros. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação, Inovação e Saúde – Reciis,
jan./mar., 2018, 12(1), p. 43-57. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/25775/2/6.pdf.
Acesso em: 21 mar. 2019.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

MAGNABOSCO, Molise de Bem; SOUZA, Leonardo Lemos de. Educação inclusiva e as representações dos
estudantes sobre seus pares com deficiência. Psicologia Escolar e Educacional, Maringá, v. 22, n. 1, jan./abr. 2018.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572018000100115&lang=-
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MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São
Paulo: Atlas, 2010.

MARTINS, Maria de Fátima Moreira. Análise bibliométrica de artigos científicos sobre o vírus Zika. Revista
Eletrônica de Comunicação, Informação, Inovação e Saúde – Reciis, [S.l.], v. 10, n. 1, mar. 2016. Disponível em:
https://www.reciis.icict.fiocruz.br/index.php/reciis/article/view/1096. Acesso em: 21 mar. 2019.

RODRIGUES, Rosane Suely May; REIBNITZ, Kenya Schmidt. Estratégias de captação de doadores de san-
gue: uma revisão integrativa da literatura. Revista Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, abr./jun. 2011;
20(2): p. 384-91.
3
Determinação de objetivos, variáveis
e hipóteses de pesquisa

Como já vimos no capítulo 2, o problema de pesquisa é expresso por meio de uma pergunta.
O propósito (objetivo) do trabalho de pesquisa a ser elaborado é nada mais nada menos do que
responder a essa questão. Como naturalmente não se trata de um problema de resolução direta,
o método científico auxilia com a busca pela resposta.
Este é um capítulo bastante técnico e que certamente vai auxiliá-lo com os primeiros dire-
cionamentos de sua pesquisa. Lembre-se: a cientificidade será legitimada de acordo com o rigor
metodológico adotado na condução da pesquisa. Não pule etapas e tome o tempo que for ne-
cessário (claro que dentro das limitações do seu cronograma) para delimitar um objetivo claro,
conciso e exequível. Proponha hipóteses, defina as variáveis, delineie o caminho a ser seguido.
Esta é uma das etapas mais importantes de seu trabalho, senão a mais importante. Negligenciá-la
ou subestimá-la pode incorrer em um desperdício razoável de tempo e recursos que por vezes
são bastante escassos.
Neste capítulo, reconheceremos a importância do estabelecimento de objetivos gerais e es-
pecíficos no desenvolvimento de pesquisas científicas. Compreenderemos o papel das variáveis e
hipóteses de pesquisa na estruturação dos estudos científicos. Por fim, entenderemos como elabo-
rar adequadamente cada um desses itens.

Vídeo
3.1 Objetivos gerais e específicos
Após a escolha do tema e a definição do problema de pesquisa, o pesqui-
sador parte para a elaboração dos objetivos e das hipóteses de pesquisa. Cada um
desses componentes de pesquisa contribui para que o pesquisador mantenha seu
foco principal, que consiste em fornecer, ao fim do estudo, uma resposta adequa-
da ao problema de pesquisa.
Se o problema é uma questão a investigar, o objetivo é um resultado a
alcançar. O objetivo final ou geral, se alcançado, dá resposta ao problema
(VERGARA, 2016). Muitos estudantes costumam confundir-se na elaboração
desses itens primeiro por acreditar que o objetivo geral deve ser diferente do pro-
blema de pesquisa.
Objetivos gerais constituem a ação que conduzirá ao tratamento da questão
abordada no problema de pesquisa. Portanto, o objetivo geral “deve” necessaria-
mente estar alinhado com o problema de pesquisa. A Figura 1 nos auxilia na com-
preensão da correlação do problema de pesquisa com o objetivo geral do estudo.
28 Métodos e técnicas de pesquisa

Figura 1 – Correlação entre problema de pesquisa e objetivo geral

Conjunto de
fenômenos

Tema de Problema de
=
pesquisa pesquisa

Objetivo
Legenda: = origina e/ou determina geral

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Enquanto o problema de pesquisa é redigido em forma de pergunta, o objetivo geral é uma


afirmativa do que será realizado no estudo, por isso este último é sempre iniciado com um verbo.
Observe o exemplo:

Problema de pesquisa: Quais são os motivos da evasão escolar no colégio “X”?


Objetivo geral: Analisar os motivos da evasão escolar no colégio “X” na cida-
de “Y” no período “Z”.
No Quadro 1, temos uma taxonomia (classificação) de verbos que podem ser
utilizados para delimitar o objetivo de pesquisa, adaptada de Bloom (1972).

Quadro 1 – Taxonomia dos objetivos


Conhecimento Compreensão Aplicação Análise Síntese Avaliação
apontar concluir aplicar analisar compor argumentar
calcular deduzir desenvolver categorizar comunicar avaliar
citar demonstrar dramatizar combinar conjugar decidir
classificar determinar empregar contrastar coordenar comparar
definir distinguir esboçar correlacionar criar escolher
descrever diferenciar estruturar criticar dirigir estimar
enumerar discutir generalizar debater documentar julgar
enunciar exprimir ilustrar deduzir esquematizar medir
especificar induzir interpretar discriminar modificar precisar
estabelecer inferir operar experimentar planejar taxar
identificar interpretar organizar investigar produzir validar
marcar localizar praticar provar propor valorar
nomear modificar traçar verificar reunir
ordenar narrar utilizar sintetizar
(Continua)
Determinação de objetivos, variáveis e hipóteses de pesquisa 29

Conhecimento Compreensão Aplicação Análise Síntese Avaliação


reconhecer preparar
registrar prever
relacionar reorganizar
relatar representar
repetir revisar
sublinhar transcrever

Fonte: Adaptado de Bloom (1972)

Perceba que todos os verbos propostos por Bloom (1972) em sua taxonomia permitem ao
pesquisador de algum modo organizar seu conhecimento (agir) na busca de respostas adequadas
ao problema de pesquisa de seu estudo. O Quadro 2 apresenta dois diferentes exemplos de objetivo
geral de pesquisa. Observe.
Quadro 2 – Exemplos de objetivo geral de pesquisa

Área do
Problema de pesquisa Objetivo geral Referência do TCC
Conhecimento

ALMEIDA, Juliana Pascualote Lemos de


et al. O planejamento da implantação de
Há particularidades ou
Analisar como ocorre o planeja- Lean Office na administração pública:
especificidades no plane-
mento da implantação do escritório estudo de caso em uma agência regula-
Administração jamento da aplicação do
enxuto numa agência reguladora dora brasileira. Trabalho de Conclusão
Lean Office nos serviços
brasileira de Curso – Faculdade de Economia, Ad-
de natureza pública?
ministração e Contabilidade de Ribeirão
Preto – USP, 2012

LOFRANO, Guilherme Zanotto. Marketing


de conteúdo: fatores interferentes na
Quais fatores influenciam a Identificar os fatores que geram a
confiança e o engajamento na internet.
confiança e o engajamento influenciam a confiança e o enga-
Disponível em: https://acervodigital.
Marketing na experiência com marke- jamento em conteúdo empresarial
ufpr.br/bitstream/handle/1884/59024/
ting de conteúdo por parte distribuído na internet como forma
Guilherme%20Zanotto%20Lofrano.pdf?-
do interagente? de marketing de conteúdo.
sequence=1&isAllowed=y. Acesso em:
22 mar. 2019.

Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de Biblioteca Digital de Trabalhos Acadêmicos da Universidade de São Paulo – USP, disponível em: http://www.
tcc.sc.usp.br/; e Biblioteca Digital de Trabalhos de Graduação da Universidade Federal do Paraná – UFPR, disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/
handle/1884/30071/recent-submissions?offset=100.

Note que a descrição do objetivo nem sempre é curta. Nesse item, é importante que o objeti-
vo do estudo esteja claro, contudo não deve ser longo demais, a ponto de confundir os leitores so-
bre o real objetivo ou foco da pesquisa; nem demasiadamente curto, sem delinear adequadamente
o escopo do trabalho.
30 Métodos e técnicas de pesquisa

3.1.1 Objetivo geral x objetivos específicos


Se a ideia é percorrer um caminho que levará o pesquisador a um destino, objetivos geral e
específicos podem ser considerados as margens de uma estrada, que não permitirão que o veículo
se desvie de sua rota.
Além de confundir os autores sobre qual caminho seguir na pesquisa, a incompreensão da
função do problema de pesquisa e do objetivo geral dentro do estudo conduz os autores, em muitos
casos, a propor objetivos específicos que não estão relacionados com o problema de pesquisa.

Enquanto o objetivo geral do estudo reafirma o propósito da pesquisa de


forma ampla, os objetivos específicos listam as etapas que serão percor-
ridas para se chegar ao objetivo geral expresso.

Os objetivos específicos formam uma espécie de lista organizada de etapas para se chegar ou
atingir o objetivo específico do estudo e assim responder ao problema de pesquisa. Tais objetivos
correspondem às diferentes ações necessárias para a cobertura do problema de pesquisa indicado.
Esquematicamente, podemos pensar na seguinte inter-relação, representada na Figura 2,
entre o objetivo geral e os objetivos específicos:
Figura 2 – Interdependência entre objetivo geral e objetivos específicos

Objetivo
específicos 1

Pergunta de Resposta: Objetivo Objetivo


pesquisa geral da pesquisa específicos 2

Objetivo
específicos 3

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Observe que os objetivos específicos estão “dentro” do objetivo geral, ou seja, não se trata de
outros objetivos ou resultados colaterais da pesquisa. Poderiam ser comparados a um passo a passo
para se atingir o objetivo geral.
Da mesma forma que o objetivo geral, os objetivos específicos são sempre iniciados por
verbos no infinitivo, pois devem apresentar caráter de ação.
Pesquisas científicas apresentam no mínimo dois objetivos específicos e não mais que cinco.
Um estudo que contempla uma grande quantidade de objetivos específicos pode tornar-se dema-
siadamente complexo, o que oferece grande chance de o pesquisador se desviar do seu objetivo
geral ao longo do seu percurso.
Retomemos os exemplos apresentados no Quadro 2 e observemos os objetivos específicos
propostos a partir dos problemas e objetivos gerais antecipadamente definidos demonstrados no
Quadro 3:
Determinação de objetivos, variáveis e hipóteses de pesquisa 31

Quadro 3 – Definição de objetivos

Problema de pesquisa Objetivo geral Objetivos específicos


Verificar como os princípios da mentalidade enxuta são abor-
dados no planejamento da implantação do escritório enxuto.
Verificar como os passos definidos para a implantação do
Há particularidades ou especi- Analisar como ocorre o pla- escritório enxuto são planejados com base nas seguintes
ficidades no planejamento da nejamento da implantação do variáveis: comprometimento, fluxo de valor, aprendizagem,
aplicação do Lean Office nos escritório enxuto numa agên- mapeamento de processos, indicadores de desempenho e
serviços de natureza pública? cia reguladora brasileira melhoria contínua.
Identificar os modelos, os conceitos e as ferramentas, defi-
nidos por meio do planejamento, que serão utilizados pela
agência reguladora para a implantação do escritório enxuto.

Levantar na literatura científica os fatores de engajamento


e de confiança no marketing de conteúdo disponibilizado na
Identificar os fatores que ge- internet.
Quais fatores influenciam a
ram e influenciam a confiança Verificar junto a especialistas em marketing de conteúdo os
confiança e o engajamento na
e o engajamento em conteúdo fatores que influenciam no engajamento e na confiança de
experiência com marketing de
empresarial distribuído na in- conteúdos disponibilizados na internet.
conteúdo por parte do intera-
ternet como forma de marke- Avaliar a existência de convergências entre os fatores le-
gente?
ting de conteúdo. vantados na literatura e pelos especialistas em marketing de
conteúdo que influenciam na confiança e no engajamento do
interagente.

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Biblioteca Digital de Trabalhos Acadêmicos da Universidade de São Paulo – USP, disponível em: http://www.
tcc.sc.usp.br/; e Biblioteca Digital de Trabalhos de Graduação da Universidade Federal do Paraná – UFPR, disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/hand-
le/1884/30071/recent-submissions?offset=100. Acesso em: 26 mar. 2019.

Perceba que, nos dois exemplos apresentados no Quadro 3, os objetivos específicos propos-
tos mantêm-se relacionados com o objetivo geral da pesquisa, que por sua vez está alinhada com o
problema de pesquisa. No campo científico, não é incomum deparar-se com um grande número de
estudos que não contemplam o alinhamento entre problema, objetivo geral e objetivos específicos.
Para além da assertividade do pesquisador quanto àquilo que de fato pretende observar em um
estudo, a clareza e o alinhamento desses itens facilitam a compreensão pelos leitores e o entendi-
mento da proposta do estudo.

Vídeo
3.2 Determinação das variáveis de pesquisa
Segundo Gil (2008, p. 34), “um problema é testável cientificamente quando
envolve variáveis que podem ser observadas ou manipuladas”.
O termo variável consiste em “qualquer coisa que possa ser classificada em
duas ou mais categorias” (Gil, 2008, p. 34), tais como sexo feminino ou masculi-
no, classe social A, B ou C, grau de escolaridade etc.
Você já deve ter ouvido o termo variáveis em aulas de Matemática.
Aprendemos uma expressão deste tipo: y = f(x) que quer dizer que a variável “y”
é função do que acontece com “x”. Quando elaboramos um objetivo de pesquisa e
depois as hipóteses – que veremos em seguida –, podemos propor relações entre
o “y” e o ou os “x”. Confira no exemplo a seguir:
32 Métodos e técnicas de pesquisa

Quais condições exercem mais influência na decisão das mães em dar o


filho recém-nascido para adoção?

Nesse problema de pesquisa, temos uma variável resposta (y) que seria: “a decisão em dar o
filho recém-nascido para a adoção” em função de x, que seria “as condições que exercem influência
na decisão das mães”.
Outro exemplo:

Como a aplicação da linguagem GD&T pode levar medições mais preci-


sas a ambientes industriais?

y = medições mais precisas em ambientes industriais em função de x = aplicação da lingua-


gem GD&T.
Tente transformar seu problema de pesquisa em um problema que apresenta relações entre
variáveis. Essas relações podem ser causais ou de simples associação/familiaridade. Quanto mais
bem delineadas as variáveis estiverem, mais fácil será seu encaminhamento teórico e metodológico,
porque as variáveis ajudam a delimitar o foco da pesquisa.
A clareza quanto às variáveis manipuláveis dentro de um problema de pesquisa favorece sua
manipulação por parte do pesquisador.
Retomemos como exemplo um dos problemas de pesquisa do Quadro 2:

Quais fatores influenciam a confiança e o engajamento na experiência


com marketing de conteúdo por parte do interagente?

Podemos listar como variável (y) a confiança e o engajamento do interagente na experiên-


cia com marketing de conteúdo.
Como variáveis (x), podemos listar: o gênero; a idade; o grau de instrução; a classe social; a
renda; a ocupação; o tipo de acesso à internet; o tempo de exposição dos interagentes, entre outros.
Os dados de cada uma dessas variáveis podem ser explorados de forma individual e posteriormen-
te cruzados ou triangulados com dados de outras variáveis, gerando assim novas informações, que
podem oferecer respostas ao problema de pesquisa.
Em muitos casos, a definição do problema de pesquisa e do objetivo geral determinam que
variáveis de pesquisa deverão ser apreciadas para a adequada compreensão do problema de pesquisa.
Entretanto, o pesquisador também pode determinar quais variáveis serão contempladas em sua pes-
quisa, denotando assim, ao leitor e ao campo científico, o alcance e o escopo de sua investigação.
Determinação de objetivos, variáveis e hipóteses de pesquisa 33

É como dizer: “vou observar este fenômeno a partir deste olhar”, ou seja, vou ver este
problema a partir destas variáveis.

Vídeo
3.3 Hipóteses de pesquisa: função e formulação
Uma hipótese corresponde a uma resposta suposta, provável e provisória
para um problema de pesquisa (MARCONI; LAKATOS, 2010). Trata-se de uma
afirmação, previsão ou suposição não comprovada a respeito de um fenômeno de
interesse para o pesquisador (MALHOTRA, 2012), que ao fim do estudo será acei-
ta como válida, parcialmente válida ou será refutada (descartada), por ser inválida.
A Figura 3 nos auxilia na compreensão da relação entre objetivo geral e objetivos
específicos.
Figura 3 – Alinhamento do objetivo geral com objetivos específicos e hipóteses

Conjunto de
fenômenos

Tema de Problema de Hipóteses de


=
pesquisa pesquisa pesquisa

Objetivo Objetivo
Legenda: = origina e/ou determina geral específicos

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Na compreensão de Kerlinger (1980), hipóteses são poderosos instrumentos


de trabalho da teoria que servem ao avanço da ciência, uma vez que sua comprova-
ção requer que se tornem independentes dos valores e das opiniões dos indivíduos.
Na construção das hipóteses, o autor apresenta antecipadamente ao público/
leitor possibilidades de respostas para o problema de pesquisa suscitado. Ainda que
as hipóteses possam ser interpretadas como possíveis soluções para um problema de
pesquisa, isso não significa que a sua veracidade deverá ser constatada ao final da in-
vestigação. Em muitos casos, o desenvolvimento do estudo faz emergir novos dados
ou ainda dados desconhecidos, “achados de pesquisa”, que podem, em certos casos,
inviabilizar a promoção de respostas adequadas às hipóteses iniciais do estudo.
Em grande parte, as hipóteses de pesquisa contemplam em seus enunciados
informações acerca de uma ou mais variáveis de pesquisa, ou ainda a relação ou a in-
terdependência entre variáveis. Esses enunciados podem ser construídos na forma de
afirmativas ou negativas, e o formato mais comum é o “Se x, então y” (KERLINGER,
1980, p. 39).
34 Métodos e técnicas de pesquisa

“Se o ensino da Matemática é criterioso na educação básica, então os


jovens terão menor aversão às disciplinas exatas no curso superior”.

Podem figurar nos estudos científicos hipóteses mais amplas, que tratam do problema como
um todo, ou hipóteses mais específicas, que tratam de itens dentro do estudo de forma mais pon-
tual. Importante é que, ao longo do estudo, as hipóteses relembrem frequentemente ao(s) autor(es)
variáveis que devem ser consideradas ao longo do desenvolvimento.
Alguns tipos de estudos não permitem a elaboração prévia de hipóteses. Em grande parte
dos casos, é possível aventar alguma resposta temporária para as investigações. O número de hi-
póteses depende sempre da complexidade do problema de pesquisa, e a existência de um número
muito extenso de hipóteses para um mesmo problema de pesquisa pode denotar a necessidade
de um fracionamento do estudo (novo recorte) ou de melhor delimitação do problema ou dos
objetivos geral e específicos da proposta. Por conta disso, é importante que as variáveis a serem
analisadas estejam claras antes de formular as hipóteses.
Observe alguns exemplos de hipóteses.

• Não houve um incentivo por parte do Governo Federal para a cria-


ção de novos postos de trabalho.
• A modernização da indústria nacional intensificou o aumento do
desemprego estrutural.
• Houve um aumento significativo da disponibilidade de mão de obra
em alguns setores da economia.

Mas quais seriam as fontes para a elaboração de hipóteses que valham a pena ser investiga-
das? Seguem algumas sugestões das professoras Marina Marconi e Eva Lakatos (2017).
• Conhecimento familiar: deriva do senso comum, perante situações vivenciadas que po-
dem levar a correlações entre fenômenos notados e ao desejo de verificar a real corres-
pondência existente entre eles.
• Observação: conjectura formada a partir dos fatos ou da correlação existente entre eles.
As hipóteses terão a função de comprovar (ou não) essas relações e explicá-las.
• Comparação com outros estudos: o pesquisador utiliza como base averiguações de ou-
tros estudos ou estudos com o intuito de verificar se há conexões similares entre duas ou
mais variáveis no estudo presente e redefinir hipóteses.
• Dedução lógica de uma teoria: ao considerar o contexto de uma teoria, pode-se chegar
a uma hipótese que afirma uma sucessão de eventos (fatos, fenômenos) ou a correlação
entre eles.
Determinação de objetivos, variáveis e hipóteses de pesquisa 35

• A cultura geral na qual a ciência se desenvolve: refere-se aos diferentes enfoques, dados
pela cultura geral, que podem levar o cientista a se preocupar mais com determinado as-
pecto da sociedade, originando assim hipóteses sobre temas específicos.
• Analogias: advêm das observações da natureza. Assim como a análise do quadro de refe-
rência de outra ciência, podem ser fonte de hipóteses “por analogia” (por exemplo, analo-
gias com fenômenos ecológicos vegetais e animais).
• Experiência pessoal, idiossincrática: trata-se da maneira particular como o indivíduo
reage aos fatos, à cultura em que vive, à ciência, ao quadro de referência de outras ciências
e às observações.
• Casos discrepantes na própria teoria: às vezes, a fonte das hipóteses são as discrepân-
cias apresentadas em relação ao que «deve» acontecer em decorrência da teoria sobre o
assunto.

Considerações finais
Objetivos, variáveis e hipóteses de pesquisa: tantos termos, tantas frases que parecem que
se repetem. Para quê, afinal? Bom, como já falamos, o trabalho de pesquisa é por vezes bastante
árduo, e nem sempre temos o talento nato para redigir textos completamente coesos e bem estrutu-
rados desde a primeira linha. A pesquisa não é feita assim, como se fosse um tecido saindo do tear.
A realidade é bem diferente. É bastante comum o pesquisador se perder nesse meio, e sua pesquisa
acabar tomando um rumo totalmente diferente do inicial, o que em alguns casos pode até resultar
em sucesso, mas, na grande maioria, gera frustração e desmotivação.
Portanto, quanto mais barreiras, delimitações utilizarmos já no início da construção dos
estudos, menor é a possibilidade de nos perdermos ao longo de sua execução. Objetivos geral e
específicos, variáveis e hipóteses servem como delimitadores. Utilize-os, compreenda-os, repita-os
para si mesmo durante todo o tempo da pesquisa.

Ampliando seus conhecimentos


O trabalho com problemas de pesquisa, variáveis de pesquisa e hipóteses é muito evidente
nos dois exemplos de vídeo abaixo:
• O ÓLEO de Lorenzo. Direção: George Miller. Intérpretes: Susan Sarandon, Nick Nolte, e
outros. EUA: Universal Home Video, 1992. (129 min.), DVD.
O filme, de 1992, retrata o drama vivido por Augusto e Michaela Odone, que, mesmo sem
conhecimento científico, lutaram bravamente para desenvolver um medicamento para
seu filho Lorenzo, de cinco anos de idade, diagnosticado com uma rara e incurável doen-
ça neurológica chamada adrenoleucodistrofia (ALD). Associada à fé da família esteve a
pesquisa que ajudou os pais de Lorenzo a chegarem à receita de um óleo que salvou a vida
do filho. Até obterem êxito, o que permitiu que Lorenzo vivesse até os 30 anos, os pais
36 Métodos e técnicas de pesquisa

tiveram de comprovar uma série de hipóteses acerca de diferentes itens alimentares que
desencadeavam a doença em seu filho.

• CRIME Scene Investigation. Disponivel em: https://www.dailymotion.com/video/x64h0ya.


Acesso em: 22 mar. 2019.
As séries C.S.I Miami e NY são um ótimo exemplo de como cientistas forenses empregam
recursos de pesquisa científica para solucionar complexos crimes nessas metrópoles.

Atividades
1. Redija um objetivo geral para o seguinte problema de pesquisa: quais são os impactos do
rompimento da barragem da empresa Vale para a economia local de Brumadinho?

2. Na sequência, redija ao menos três objetivos específicos para o problema de pesquisa apre-
sentado na questão 1.

3. Por fim, redija uma hipótese para o problema de pesquisa apresentado na questão 1.

Referências
BLOOM, Benjamin et al. Taxonomia dos objetivos educacionais: domínio afetivo. Porto Alegre: Globo, 1972.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

KERLINGER, Fred Nichols. Metodologia da pesquisa em ciências sociais: um tratamento conceitual. São
Paulo: EPU, 1980.

MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 6. ed. Porto Alegre: Bookman,
2012.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São
Paulo: Atlas, 2010.

UFPR – UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Trabalhos de Graduação. Disponível em: https://acer-


vodigital.ufpr.br/handle/1884/30071/recent-submissions?offset=100. Acesso em: 22 mar. 2019.

USP – UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Biblioteca Digital de Trabalhos Acadêmicos. Disponível em:
http://www.tcc.sc.usp.br/. Acesso em: 22 mar. 2019.

VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
4
Fundamentação teórica

Neste capítulo, compreenderemos como apreciar o estado da arte acerca de um determinado


campo de investigação. Também estudaremos como construir o referencial teórico de um estudo
científico a partir de fontes fidedignas.
Este capítulo tem como foco a elaboração da fundamentação teórica, também denominada
revisão de literatura ou referencial teórico. Essa etapa consiste em apresentar os conceitos centrais
da sua pesquisa (TCC, artigo científico etc.) com base no que outros pesquisadores dizem e escre-
vem sobre o assunto.
Pense que a elaboração de um trabalho de pesquisa é praticamente um “filho” seu. Tem que
ter sua personalidade, sua cara, mas ao mesmo tempo tem que convencer e, por isso, tem que ser
compreendido pelos leitores. Textos bem explicados, que todos podem compreender, requerem
escrita muito mais habilidosa e inteligente.

Vídeo 4.1 Objetivos da revisão de literatura


Não há muita escapatória: você precisa começar a pesquisa lendo. É impor-
tante procurar, encontrar e ler o que já foi publicado e dito sobre o seu tema de
pesquisa. Lembre-se de que seu estudo deve apresentar algum tipo de contribuição
para o campo científico. Portanto, é importante saber se sua ideia (proposta de
estudo) já não foi exaustivamente discutida ou, então, descobrir o que ainda não se
discutiu suficientemente sobre um determinado tema. Segundo Gil (2012, p. 60),
é “[...] necessária a consulta ao material já publicado tendo em vista identificar o
estágio em que se encontram os conhecimentos acerca do tema que está sendo
investigado”.
Não se trata simplesmente de recortar pedaços de texto e colá-los sem muita
conexão. Esse é o tipo de trabalho que denominamos como uma “colcha de reta-
lhos”. Os parágrafos precisam ter ligação, o texto precisa ser devidamente comuni-
cado ao seu leitor, as ideias precisam estar ordenadas em uma linha de raciocínio. É
importante salientar que a comunicação científica exige rigor no uso da linguagem,
obedecendo às normas básicas de redação. O processo de comunicação só é eficaz
se o leitor ou ouvinte entender o que leu ou viu, compreender o que foi transmitido.
Segundo Vergara (2016, p. 37), o referencial teórico “tem por objetivo apre-
sentar os estudos sobre o tema, ou especificamente sobre o problema, já realizados
por outros autores”.
Quando vemos a obra de um prédio, percebemos que muito tempo é des-
pendido com fundações, escavações e colocação dos pilares estruturais. Da mes-
ma forma, o referencial teórico tem como objetivo fundamentar, ou seja, prover os
38 Métodos e técnicas de pesquisa

fundamentos ou “fundações” para a construção do estudo a ser realizado na pesquisa. Pois então,
da mesma maneira que em uma construção, precisamos de pilares bem firmes para construirmos
nossas argumentações em um trabalho científico. Assim como para cada tipo de construção há o
tipo mais adequado de fundação, a robustez da nossa pesquisa também depende do que usamos
como base.
Quanto mais fidedignas e sólidas forem as fontes utilizadas, mais consistente será o tra-
balho. Afinal, como salientamos no capítulo 1, fontes servem para legitimar e consolidar ideias
e pensamentos.
Vídeo
4.2 Estrutura do capítulo de referencial teórico
Estruturar adequadamente o referencial teórico é uma arte. Na elaboração
de um texto, deve-se sempre lembrar que a conclusão a que você chegou não é
óbvia para todos. Portanto, a subdivisão em seções ou subseções de forma lógica
permite ao leitor compreender sua linha de raciocínio e chegar ao grau de enten-
dimento que você quer passar.
O conteúdo a ser desenvolvido na fundamentação teórica tem relação direta
com o problema de pesquisa, bem como com suas variáveis de pesquisa. Se vamos
falar sobre o impacto da maternidade na carreira da mulher após determinado tem-
po, temos aí duas variáveis importantes a desenvolver, começando pela base teórica:
carreira profissional da mulher contemporânea; e fatores relacionados à materni-
dade (que podem ser psíquicos, sociais, financeiros etc.). Nesse caso, é possível fa-
cilmente pensar em “n” outras possibilidades de estudo, e aí você pode perguntar:
“mas sob qual ponto de vista? Da mulher? Do mercado? Da sociedade?”. Todos são
válidos, mas é preciso delimitar o seu foco de pesquisa, o que ocorre no momento da
definição do problema. E quando se sentir perdido, pensando que “tem muita coisa
escrita sobre isso”, “acho interessante, mas será que é importante para minha pes-
quisa?”, lembre-se sempre do seu problema de pesquisa previamente definido. Este
será seu guia, e sua fundamentação teórica deve aprofundar os temas dentro desse
escopo. A Figura 1 nos auxilia na compreensão desse processo.
Figura 1 – Processo da pesquisa

Conjunto de fenômenos

Tema de Problema de Hipóteses de


= pesquisa pesquisa
pesquisa

Objetivo Objetivo
geral específicos
Legenda: = origina e/ou determina

Fundamentação teórica

Fonte: Elaborada pelas autoras.


Fundamentação teórica 39

Seguem alguns exemplos de como definir as seções e subseções na sua fundamentação teó-
rica. A divisão entre seções e subseções deve partir sempre do mais geral para o mais específico.
Lembre-se de que esta é só uma sugestão. Vale conversar sempre com seu orientador para definir
outros encaminhamentos possíveis.

Exemplo 1
Sugestão de seções (considerando que o referencial teórico corresponde
ao capítulo 2 do trabalho):
2.1 Orientação de carreira e testes vocacionais
2.2 Aderência da atividade profissional ao curso universitário
2.3 ...
Exemplo 2
Problema de pesquisa: “Até que ponto o Banco Central se aproxima ou se
afasta do que se caracteriza como uma organização de aprendizagem?”
(MOTA, 1999).
Sugestão de seções:
2.1 Organizações de aprendizagem
2.1.1 Breve histórico da noção de organização de aprendizagem.
2.1.2 Pressupostos e características de uma organização que aprende.
2.1.3 O modelo de Peter Senge.
Observe que no exemplo 2 não há necessidade de outra seção teórica,
haja vista que a adequação do Banco Central a esse conceito é já o pró-
prio resultado da pesquisa.

Lembre-se de concentrar os argumentos por assunto, tipo, região. Evite falar do Brasil, da
cidade e voltar a falar do Brasil ou falar sobre economia, demografia e voltar para economia etc.
Tenha em mente que você precisa ser “seguido”, portanto não confunda seu leitor. Também é im-
portante evitar frases muito longas nas quais, não raro, o próprio pesquisador acaba se perdendo.
Conforme salientado por Umberto Eco (2016, p. 141), “[...] Nada de períodos longos. Se ocor-
rerem, registre-os, mas depois desmembre-os. Não receie repetir duas vezes o sujeito. Elimine o
excesso de pronomes e subordinadas.”
Sempre ao fim de uma seção, conclua seus argumentos demonstrando claramente aonde
quer chegar com eles. Procure fazer a associação com o seu tema/pergunta de pesquisa.
40 Métodos e técnicas de pesquisa

Vídeo 4.3 Fontes para revisão da literatura


Além dos livros sobre o tema de pesquisa, existem muitas outras fontes de interesse
para a realização de pesquisas, tais como: obras de referência, teses e dissertações, periódicos
científicos e anais de encontros científicos.
Procure usar sempre fontes fiéis e incontestáveis. Mesmo livros e artigos impressos
nem sempre são 100% confiáveis. Portanto, atente para a autoridade do autor sobre determi-
nado assunto. Muitos autores redigem seus textos a partir de “leituras das leituras” de textos
seminais, o que em alguns casos pode comprometer a ideia original e incorrer em distorções.
Ou seja, a partir da leitura do outro, e não da leitura direta dos textos originais, incorre na
interpretação da interpretação. Seu professor orientador certamente poderá lhe ajudar a sele-
cionar as melhores obras.
Quanto aos artigos científicos e anais de eventos, também verifique a procedência do
periódico (a instituição, os professores orientadores, a qualidade do trabalho apresentado).
Veja uma lista de algumas fontes confiáveis para encontrar artigos científicos (suges-
tões de bases):
• SCIELO – Scientific Electronic Library Online. Disponível em: http://www.scie-
lo.br/?lng=pt. Organiza e publica textos completos de revistas brasileiras na web.
• Biblioteca Digital USP. Disponível em: http://www.teses.usp.br/. Disponibiliza parte
da produção intelectual, ou seja, das dissertações e teses defendidas na Universidade
de São Paulo.
• Biblioteca Virtual. Disponível em: http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br. Oferece
obras da literatura brasileira e estrangeira, ações e programas sociais, conteúdos di-
dáticos, informações sobre cultura e lazer e links para concursos literários, entre
outros.
• Repositório da Produção Científica e Intelectual da Unicamp. Disponível em: http://
repositorio.unicamp.br/. Disponibiliza informações sobre as teses e as dissertações
produzidas pela Unicamp.
• CCN – Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas. Disponível em: http://
bdtd.ibict.br/vufind. Oferece acesso a um acervo com dissertações e teses brasileiras.
• Portal de Periódicos Capes/MEC. Disponível em: http://www.periodicos.capes.gov.
br. Periódicos completos, base de dados referencial com resumos, teses e dissertações.
• Google Acadêmico (Scholar). Disponível em: http://scholar.google.com.br/schhp.
• ERIC – Institute of Education Sciences (Instituto de Ciências da Educação).
Disponível em: https://eric.ed.gov.
• National Center for Biotechnology Information (Centro Nacional de Informação de
Biotecnologia). Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/.
• LILACS – Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde. Disponível
em: http://lilacs.bvsalud.org/. É o mais importante e abrangente índice da literatura
científica e técnica na área de saúde da América Latina.
Fundamentação teórica 41

• P@PSIC – Periódicos Eletrônicos em Psicologia. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/.


Além dessas, é possível encontrar uma vasta gama de artigos e revistas científicas em bases e
redes internacionais, tais como o Research Gate, que é uma rede social voltada a pesquisadores que
podem compartilhar trabalhos de interesse mútuo.

Vídeo 4.4 Citação das fontes


Segundo a NBR (Norma Brasileira formulada pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas – ABNT) 10520:2002 (ABNT 2002), citação consiste na “menção
de uma informação extraída de outra fonte”. Assim como a qualidade das fontes utili-
zadas, as ideias de outros autores, quando inseridas no trabalho, devem ser indicadas
com precisão para conferir maior autoridade ao texto. Há dois tipos de citação: direta
e indireta.
As citações diretas são, de fato, uma cópia e transcrevem parte de uma obra,
com as palavras do autor. Podem ser curtas ou longas, e para cada tipo há uma forma-
tação própria.
• Citação direta curta: refere-se à citação que não ultrapassa três linhas. Faz
parte do texto, mas precisa estar entre aspas. Veja o exemplo a seguir.

Segundo Medeiros, Paiva e Lamenha (2012, p. 154), o


Mercosul “surge da vontade dos países do Cone Sul, após
o fortalecimento do regime democrático, em integrar suas
economias”.

• Citação direta longa: é aquela que tem mais de três linhas. Deve ser destacada
com recuo de 4 cm, redução da fonte (por convenção, usa-se o tamanho 10),
espaço simples entre as linhas e sem as aspas, como no exemplo abaixo.

A esse respeito, é preciso considerar que:


O processo de universalização dos direitos humanos
permitiu a formação de um sistema internacional de
proteção desses direitos. Esse sistema é integrado por
tratados internacionais de proteção que refletem, so-
bretudo, a consciência ética contemporânea compar-
tilhada pelos Estados, na medida em que invocam o
consenso internacional acerca de temas centrais dos
direitos humanos, fixando parâmetros protetivos mí-
nimos. (PIOVESAN, 2005, p. 45).
42 Métodos e técnicas de pesquisa

Também e possível citar o autor antes de fazer o recuo da margem.


Observe:

Segundo Goldenberg (2002, p. 96)


O objetivo do relatório e permitir a comunicação da pesquisa para
um publico mais amplo, que pode ser a agencia que financiou o pro-
jeto, a universidade, os colegas de profissão. E um momento difícil
da pesquisa: como construir um todo desta multiplicidade de ma-
terial? Como evitar que as conclusões não sejam meros reflexos da
predisposição do pesquisador e sim resultados da análise do objeto
de estudo?

Já nas citações indiretas, a ideia de outros autores é apresentada por meio de paráfrase,
ou seja, transcrita com suas próprias palavras, mas sem perder a ideia central do conceito.
Observe o exemplo.

Na realidade, como refere Flick (2009), a pesquisa qualitativa é recente e


ocorreu concomitantemente em diversas áreas, tendo-se cada uma delas
caracterizado por um embasamento teórico específico.

Algumas publicações trazem textos já citados por outros autores, é a citação da citação. Para
isso, utiliza-se o termo em latim apud (citado por). Veja o exemplo.

De acordo com Bourdieu (apud GOLDENBERG, 2002, p. 78), “a pesquisa


e talvez a arte de se criar dificuldades fecundas e de criá-las para os outros.
Nos lugares onde havia coisas simples, faz-se aparecer problemas.”

Gil (2012, p. 188-189) sugere ainda duas formas de realizar as citações indiretas. Segundo o
autor, o procedimento mais utilizado é o da citação no próprio texto, que pode ser feita por meio
de dois sistemas de chamada: numérico ou autor-data (recomendado pela ABNT).

Exemplo de sistema numérico:


Afirma Max Weber: “A administração de um cargo moderno se baseia
em documentos escritos.” (6)
O número “6” indica qual a referência na lista ao final do texto.
Fundamentação teórica 43

Exemplo de sistema autor-data, conforme ABNT – NBR 10520


(ABNT, 2002):
A aldeia global pode ser uma metáfora ou uma realidade (IANNI, 1995).
IANNI é o sobrenome do autor, 1995 é o ano de publicação da obra.

Toda citação, direta ou indireta, deve ser detalhada para que o leitor possa também encon-
trá-la, caso seja do seu interesse. Ao final de todo trabalho científico, seja artigo, TCC, dissertação
ou tese, é imprescindível a lista de referências utilizadas. Todas as referências que estão na lista
devem ter sido em algum momento citadas anteriormente. Da mesma forma, não se deve esquecer
de listar a referência sempre que uma nova citação entrar. A Figura 2 contém o recorte de um artigo
apresentado em simpósio e apresenta a relação entre a citação no corpo do texto e a referência na
listagem final do artigo:
Figura 2 – Citação e referência em um artigo científico

Fonte: Adaptada de Bischof-dos-Santos e Numata (2017, p. 11).

Apesar de não ser um tema de metodologia da pesquisa, as regras para formatação de


trabalhos são importantes para a elaboração padronizada da escrita científica. A NBR 10520
(ABNT, 2002) apresenta algumas regras para apresentação dessas citações. Quando a chamada
pelo sobrenome do autor é feita no próprio corpo do texto, esse sobrenome deve ser seguido
pelo ano de publicação dentro de parênteses. Quando a citação não fizer parte da frase, devem
então ser colocados sobrenome + ano + página quando aplicável entre parênteses e, nesse caso,
em letras maiúsculas. Veja alguns exemplos.
44 Métodos e técnicas de pesquisa

Autor e ano referenciados na frase.


Keller (2002) afirma que a marca é um produto que adiciona e carrega
outras dimensões que o diferenciam dos produtos projetados e produzi-
dos para satisfazer a mesma necessidade.
Autores e anos referenciados fora da frase
Uma marca pode ser definida como um nome, termo, sinal, símbolo ou
desenho que identifica o fabricante ou o vendedor de um produto ou
serviço (KOTLER; ARMSTRONG, 2003).

A lista final das referências utilizadas também apresenta uma regra. A NBR 6023 indica
como elementos essenciais na referenciação de livros: autor(es), título, subtítulo (se houver), edição
(se houver), local, editora e data de publicação. Observe o exemplo a seguir, conforme NBR 6023
(ABNT, 2018):

GOMES, L. G. F. F. Novela e sociedade no Brasil. 1. ed. Niterói: EdUFF,


1998.

A própria norma recomenda acrescentar elementos para melhor identificar o documento.


O objetivo desse detalhamento é justamente prover ao leitor a possibilidade de acessar o mesmo
material que você acessou.

Considerações finais
A fundamentação teórica, como o próprio termo diz, fundamenta a pesquisa com a teoria
existente sobre o tema a ser pesquisado. Na pesquisa científica, não há como passar por esta etapa
de forma ligeira e superficial.
Há algumas questões que são respondidas na elaboração da fundamentação teórica,
tais como:
• O que estou pesquisando já foi pesquisado por outras pessoas?
• Se sim, o que essas pessoas descobriram sobre o tema? É possível obter resultados dife-
rentes em outros contextos?
• O que eu estou estudando é “mais do mesmo” ou há alguma contribuição?
• Qual definição deste conceito/termo é a mais adequada para meu estudo?
Essas são questões importantes para se assegurar de que o trabalho em execução terá va-
lidade e contribuição. A fundamentação teórica é muito mais do que simplesmente coletar mais
Fundamentação teórica 45

informações sobre o assunto ou explicar conceitos. É a base para a construção de uma pesquisa
sólida e legítima.

Ampliando seus conhecimentos


• ECO, Umberto. Como se faz uma tese. Trad. de Gilson César Cardoso de Souza. 26. ed.
São Paulo: Perspectiva, 2016.
Leitura do capítulo “A Redação”, do livro Como se faz uma tese, de Umberto Eco. Nesse
capítulo, há algumas dicas sobre como redigir um bom trabalho científico. Bastante inte-
ressante, pois Eco ainda dá exemplos do que “não fazer”.

• MENDELEY. Disponível em: https://www.mendeley.com/. Acesso em: 23 mar. 2019.


Há algumas ferramentas que auxiliam nas citações e no gerenciamento de referências. O
Mendeley® é uma opção gratuita para boa parte das funcionalidades. Vale a pena conferir.

Atividades
Leia o extrato de reportagem a seguir e responda às questões 1 e 2.

Monsanto é condenada em 1ª instância nos EUA por relação entre câncer e herbicida:
Caso é o primeiro processo a ser julgado envolvendo o herbicida de glifosato da empresa
Roundup

Fonte: FOLHA DE S.PAULO, 11 ago. 2018. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2018/08/12/.


Acesso em: 13 mar. 2019.

Um júri da Califórnia declarou a Monsanto culpada em um processo aberto por um homem


que alega que os pesticidas baseados em glifosato da empresa, incluindo o Roundup, causaram
câncer nele. A companhia foi condenada a pagar US$ 289 milhões como indenização. O caso
do zelador de escola Dewayne Johnson foi o primeiro processo a ser julgado que afirma que
o glifosato causa câncer. A Monsanto, adquirida pelo conglomerado alemão Bayer, enfrenta
mais de 5000 processos semelhantes nos Estados Unidos.
1. Qual é o tema da reportagem?

2. Para tornar esse texto um artigo científico, quais elementos você acrescentaria?

3. A pesquisa com este tema seria básica ou aplicada? Ou poderia ser básica, mas inspirada no
uso? Justifique sua resposta.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023:2018 Informação e documentação: refe-
rências. Rio de Janeiro, 2002.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520:2002 Informação e documentação: ci-


tações em documentos. Rio de Janeiro, 2002.
BISCHOF-DOS-SANTOS, Christiane; NUMATA Jr., Flavio. Capacidades políticas e de coordenação na ino-
vação automotiva. Anais do XX Simpoi, São Paulo: 2012.

ECO, Umberto. Como se faz uma tese. Trad. de Gilson César Cardoso de Souza. 26. ed. São Paulo: Perspectiva,
2016.

GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social, 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

MOTA, Maria Gloria Marques. O Banco Central como uma organização de aprendizagem. Dissertação
(Mestrado em Administração Pública) – Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 1999. Disponível em: http://
bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/3418/000090663.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso em: 27 mar. 2019.

VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em Administração. 16. ed. São Paulo: Atlas,
2016.
5
Abordagens de pesquisa

A determinação do problema de pesquisa, dos objetivos gerais, dos objetivos específicos e


das hipóteses de um estudo – “o que fazer” – inevitavelmente faz com que o pesquisador reflita
sobre qual seria a melhor forma de materializar sua proposta – “como fazer”.
Na maior parte dos casos, não é o pesquisador quem determina o “como fazer”, mas sim a
natureza do problema de pesquisa proposto. Em geral, um problema de pesquisa oferece mais de
uma forma de ser investigado, contudo cabe ao pesquisador, de acordo com a realidade apresenta-
da (condições gerais do fenômeno), determinar qual será a sua abordagem para a avaliação. Esse
processo conduzirá a determinação do design da pesquisa.
O design define todos os procedimentos de pesquisa necessários à condução do estudo até
a resolução do problema de pesquisa. Ou seja, determina todas as características da pesquisa. Ao
decidir construir uma casa, é necessário planejá-la minuciosamente. Após a definição da planta
(“o que fazer” = uma casa), é necessário realizar ainda muitas escolhas, de modo que cada etapa
da construção possibilite que ao fim do projeto seja entregue um imóvel com as características
pretendidas e a qualidade desejada. A determinação do design da pesquisa tem função similar na
edificação de um estudo científico, uma vez que tem como objetivo definir com clareza cada um
dos componentes da pesquisa e as etapas de sua construção.
Logo, cabe ao pesquisador desenvolver um raciocínio linear do seu percurso, imaginando e
definindo a partir desse processo qual será a base de construção do conhecimento do estudo e que
recursos e técnicas de pesquisa utilizará em sua proposta.
Neste capítulo, entenderemos como diferentes correntes de pensamento contribuem para a
construção do conhecimento científico, identificaremos as características e aplicações de diferentes
tipos de estudos científicos e, por fim, diferenciaremos pesquisas quantitativas, qualitativas e mistas.
Vídeo
5.1 Base epistemológica da pesquisa
Um estudo não é proposto no vácuo, ou seja, a partir do nada. Sempre have-
rá um conhecimento a priori (anterior) e formas possíveis de ampliá-lo. As bases
epistemológicas correspondem às diferentes abordagens a que os autores podem
aderir para conhecer um problema.
Estudos críticos, positivistas, funcionalistas, marxistas, weberianos são al-
guns exemplos de bases epistemológicas para a construção do conhecimento. Ou
seja, o estudo tem como “pressuposto” os conhecimentos desenvolvidos na base
“X” ou na “Y”. Por exemplo: enquanto muitos pesquisadores adotam a abordagem
positivista, cunhada por Auguste Comte e John Stuart Mill, que defendem que o
conhecimento científico é a única forma de se obter conhecimento verdadeiro, es-
tudos funcionalistas, que surgiram associados ao sociólogo Émile Durkheim, bus-
cam explanar sobre os aspectos da sociedade no que tange às suas funções, ou seja,
ao seu desempenho. A adoção de epistemologias diversas para a abordagem de
48 Métodos e técnicas de pesquisa

um mesmo problema de pesquisa pode conduzir a resultados absolutamente diferentes. Isso não é
necessariamente ruim, uma vez que a construção do conhecimento nem sempre é linear, podendo
ocorrer também a partir de pontos de divergência e crítica.

Pesquisa é prática. Quanto mais um pesquisador se aprofunda na prática


em pesquisas, melhor é seu conhecimento acerca das bases epistemoló-
gicas que circundam a construção de seu conhecimento.

Malhotra (2013) atesta que existem diferentes tipos de pesquisas, que podem, de forma am-
pla, ser classificadas como exploratórias ou conclusivas. A Figura 1 nos auxilia a compreender
melhor essa divisão
Figura 1 – Classificação de pesquisas

Conjunto de fenômenos

Tema de Problema de Hipóteses de


=
pesquisa pesquisa pesquisa

Objetivo Objetivo
Legenda: = origina e/ou determina geral específicos

Design de
pesquisa

Pesquisa Pesquisa
Exploratória Conclusiva

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Uma pesquisa exploratória tem como principal objetivo compreender mais adequadamente
um problema proposto. Segundo o mesmo autor, esse tipo de pesquisa é empregado em casos que
exigem que o problema de pesquisa seja determinado com maior precisão ou ainda em pesqui-
sas em que o pesquisador não dispõe de entendimento suficiente para prosseguir com o projeto
de pesquisa. Em muitos casos, seus resultados não são definitivos e, por conta disso, apresentam
maior dificuldade para o estabelecimento de hipóteses prévias.
Por conta dessa característica, a pesquisa exploratória é considerada mais versátil, flexível e
não estruturada no que se refere aos métodos e às técnicas necessários à sua materialização. É uma
pesquisa solta, por assim dizer, em que pesquisadores estão permanentemente atentos a novas ideias
e informações que possam emergir durante a evolução de seus estudos. (MALHOTRA, 2012).
Um exemplo desse tipo de pesquisa são as pesquisas astronômicas. Embora exista algum co-
nhecimento sobre o fenômeno investigado, muitos outros estudos, ainda por serem desenvolvidos,
Abordagens de pesquisa 49

partem apenas de suposições, necessitando assim de um maior aprofundamento no tema para que
se possa definir melhor seu foco e desdobramentos futuros.
O universo de possibilidades das pesquisas exploratórias faz com que sejam ampliadas por
pesquisas exploratórias adicionais ou pesquisas conclusivas quando o problema ou fenômeno in-
vestigado está mais claro para o pesquisador. A cada novo avanço de uma pesquisa exploratória,
o pesquisador pode propor a realização de estudos complementares, que cessam no momento em
que o autor considera que alcançou respostas suficientes para uma compreensão mais ampla do
fenômeno em observação.
Diferentemente da pesquisa exploratória, a pesquisa de natureza conclusiva é mais formal e
estruturada. Como o próprio nome denota, oferece uma conclusão sobre uma realidade observada,
um fenômeno previamente determinado, por exemplo o comportamento de uma espécie animal
em determinada região de um país sob condições específicas.
Pesquisas conclusivas podem ser empregadas de diferentes formas e para objetivos diversos.
Além de ampliar o conhecimento em um determinado campo, também são empregadas como su-
porte à tomada de decisão em diferentes segmentos da sociedade. Por exemplo:
1. Se uma empresa quer lançar um novo produto no mercado, pode realizar uma pesquisa
sobre o comportamento de consumo de seus clientes, com vistas a compreender a aceita-
bilidade do pretenso produto por parte de seu público-alvo.
2. Se uma instituição de ensino deseja conhecer a opinião de seus alunos acerca de um pro-
cesso que tem possibilidade de ser implementado, é possível realizar estudos quanto à
adaptabilidade em simulações, captar percepções divergentes entre alunos e identificar
possíveis resistências antecipadamente.
Por conta da característica dos estudos conclusivos, que geralmente são propostos a partir de
um conhecimento prévio sobre algum fenômeno, hipóteses de pesquisa são concebidas com certa
facilidade nessa modalidade de estudo.
Segundo Malhotra (2012), pesquisas conclusivas podem ser classificadas em duas diferen-
tes categorias:
a. Pesquisa descritiva – que “descreve” de maneira fiel uma realidade, sem necessariamente
interferir sobre ela. Por conta disso, esta modalidade de pesquisa sempre vem acompa-
nhada de especificações em termos de quem, o quê, quando, onde, por que e como deter-
minado fenômeno se apresenta na realidade;
b. Pesquisa causal ou experimental – que oferece conclusões acerca de uma realidade a
partir da manipulação de variáveis presentes em um fenômeno. Estudos de causa e efeito e
testes para conhecer a reação, as relações ou a interdependência de “X” e “Y” são exemplos
desta categoria.
Os dados gerados por estudos conclusivos, que podem ser desenvolvidos a partir de um
corte transversal (uma única coleta durante um breve momento da realidade) ou longitudinal (co-
letas com o mesmo grupo ao longo de um período mais amplo), fornecem aos pesquisadores e à
sociedade conhecimentos a priori ou a posteriori sobre diferentes temas de interesse.
50 Métodos e técnicas de pesquisa

Nesse contexto, a análise de um fenômeno já ocorrido (posteriori) permite afirmar como


algo aconteceu a partir de determinado ponto de vista. A análise do futuro, que também ocorre
baseada em dados do presente ou do passado, permite supor ou evidenciar a partir de uma abor-
dagem tendências a determinados resultados. Um exemplo dessas condições são as previsões
econômicas, climáticas, eleitorais etc.
Para que os resultados das pesquisas conclusivas possam de fato ser representativos, é
necessário que os estudos sejam normalmente baseados em grandes amostras da população
pesquisada. Existem diferentes tipos e técnicas para se determinar uma amostra adequada em
um estudo científico. Conheceremos detalhes nos capítulos seguintes do nosso material.

Vídeo
5.2 Pesquisas qualitativas, quantitativas ou mistas
Existe uma longa discussão no campo acadêmico sobre qual seria a melhor abordagem para
diferentes tipos de estudos. Ao longo da história da ciência, travou-se uma pequena guerra entre
pesquisadores “quanti”, que defendem que estudos quantitativos são os melhores, pois partem de
avaliações matemáticas precisas, em que os dados representam leituras numéricas e estatísticas de
uma realidade observada, e “quali”, os quais atestam que estudos qualitativos possibilitam captar
nuances acerca de uma realidade que os estudos quantitativos não são capazes de observar.
Mais recentemente, paira no campo acadêmico uma certa concordância de que estudos
quantitativos e qualitativos são complementares e não excludentes, além de poderem ser usados
de forma combinada na compreensão de diferentes fenômenos. Atualmente não é tão rígida a
exigência de uma posição do autor quanto a ser “quanti” ou “quali”. O campo tornou-se mais de-
mocrático. As exigências atuais centram-se muito mais na qualidade dos estudos e na ampliação
dos conhecimentos do campo do que necessariamente em rótulos ou posições inflexíveis.
Na compreensão de Malhotra (2012), pesquisas quantitativas buscam quantificar da-
dos e generalizar resultados obtidos a partir de uma amostra de uma população de interesse.
Complementarmente, Lima (2008) atesta que pesquisas dessa natureza são orientadas pelo ra-
ciocínio hipotético-dedutivo e atendem a pesquisadores que desejam realizar estudos cujo pro-
pósito é verificar hipóteses previamente formuladas, identificando a existência ou não de relação
entre as variáveis contempladas nelas.
O processo de coleta de dados em um estudo quantitativo prioriza a reunião de informa-
ções que possam ser quantificadas, interpretadas e analisadas com apoio de recursos estatísticos.
A preocupação central nesse processo é a validação ou não (refutação) de hipóteses previamente
estabelecidas (LIMA, 2008; MALHOTRA, 2012).
Lima (2008, p. 28) oferece uma lista de argumentos para o emprego do método quantita-
tivo em estudos científicos, entre os quais estão:
a. A objetividade e o rigor reconhecidos nesse tipo de método;
b. A possibilidade de explorar critérios probabilísticos na seleção da amostra;
c. A existência de instrumentos de coleta de dados estruturados previamente testados
capazes de imprimir elevada sistematização ao processo de coleta de dados;
Abordagens de pesquisa 51

d. A existência e o uso de mecanismos de controle durante o processo investigativo;


e. A existência de rigorosas regras de procedimentos que possibilitam a previsão do conjun-
to de etapas que caracterizam a investigação;
f. A representatividade estatística da população investigada amplia a credibilidade das con-
clusões alcançadas;
g. A existência e o uso de softwares agilizam o processamento dos dados e a comparação entre
categorias de análise, além de ampliarem a confiabilidade do processamento dos dados;
h. A existência e o uso de sofisticadas técnicas estatísticas na análise dos dados processados;
i. As conclusões alcançadas permitem a generalização de resultados;
j. Os resultados alcançados suportam a formulação de leis ou explicações gerais decorrentes
da regularidade do fenômeno investigado.
Pesquisas qualitativas, para Malhotra (2012), proporcionam uma visão mais apurada do
contexto do problema, uma vez que buscam compreender qualitativamente razões e motivações
subjacentes de um determinado problema. Para Denzin, Lincoln e Netz (2006), a pesquisa qua-
litativa pressupõe a investigação de aspectos socialmente construídos, que não são facilmente
mensuráveis. Pesquisas dessa natureza são frequentemente utilizadas como suporte ao desenvol-
vimento de estudos exploratórios, contribuindo substancialmente para a identificação de variáveis
ainda desconhecidas, a elaboração de hipóteses e a melhor definição de um problema de pesquisa
(MALHOTRA, 2012).
Para Lima (2008), a impressão de significados a fenômenos humanos é uma das aplicabilida-
des de pesquisas qualitativas. Na compreensão da autora, a abordagem de problemas dessa ordem
(fenômenos humanos), em muitos casos, só pode ser reconhecida com o apoio de exercícios de in-
terpretação e compreensão, pautados na observação do pesquisador e em sua habilidade descritiva.
A compreensão é que a abordagem qualitativa possibilita contemplar na análise de um fenô-
meno particularidades não captáveis em uma coleta de dados quantitativa, mas que estão contem-
pladas na investigação de um determinado problema. Um exemplo dessa condição é a realização
de entrevistas pessoais. O uso dessa técnica qualitativa possibilita que o pesquisador capte aspectos
do comportamento do entrevistado e interprete esses dados como parte das informações que po-
dem oferecer respostas a um problema de pesquisa.
Tente imaginar essa realidade a partir do seguinte exemplo: imagine que você é um pesqui-
sador e está em uma fábrica para coletar dados qualitativos referentes a uma pesquisa de clima
organizacional. Ao entrevistar membros da equipe operacional, você percebe que muitos deles
olham para baixo enquanto respondem aos seus questionamentos. Colocam a mão sobre a boca
ou ainda mantêm os braços para trás. Tais comportamentos podem denotar a existência de outros
aspectos que incidem sobre a atitude dos funcionários. O olhar para baixo pode indicar vergonha,
constrangimento, pressão em revelar alguma informação. A mão na boca pode denotar uma tenta-
tiva de omitir algo, enquanto os braços para trás podem indicar uma posição servil. Sua habilidade
investigativa fará toda a diferença na captação e na interpretação de aspectos significativos à com-
preensão do contexto do problema.
52 Métodos e técnicas de pesquisa

Lima (2008, p. 33) lista alguns benefícios do emprego das pesquisas qualitativas:
a. A importância do singular assumida na investigação dos fenômenos sociais, que contri-
bui para o resgate da ideia do homem como ser singular e universal;
b. Valoriza a ideia de intensidade em detrimento da ideia de quantidade;
c. A credibilidade das conclusões alcançadas é reflexo das multiperspectivas, que re-
sultam de diferentes fontes de consulta exploradas e do olhar prolongado sobre a
realidade investigada;
d. A quantidade de tempo e o contato do pesquisador e de sujeitos da investigação redu-
zem significativamente a fabricação de comportamentos “maquiados”, convenientes
“de fachada”;
e. A quantidade de tempo demandada pelo processo de investigação associada à multiplici-
dade de fontes de evidências dificulta que o pesquisador mantenha “pré-conceitos” frente
ao objeto de investigação – fenômeno.
Como pudemos observar, pesquisas quantitativas e qualitativas divergem significativamente
em suas propostas investigativas. Enquanto a primeira tem um cunho positivista, a segunda é ca-
racterizada como interpretativista.
É tendência no campo científico a valorização de pesquisas acadêmicas que combinam o uso
de recursos metodológicos quantitativos e qualitativos, como forma de oferecer maior cobertura,
assertividade e credibilidade aos estudos desenvolvidos. Tais estudos são denominados pesquisas
mistas ou triangulação.
Para Lima (2008), a utilização de diferentes métodos para conhecer e interpretar um mesmo
fenômeno pode conduzir a novos paradoxos, novos questionamentos e conexões que favorecem
uma compreensão mais completa de uma realidade observada. A mesma autora, citando Downey
e Ireland (1979), lista uma série de vantagens do emprego de abordagens mistas:
a. Amplia a possibilidade de o pesquisador alcançar algum controle sobre vieses (desvios
que podem ocorrer em estudos qualitativos);
b. Amplia a possibilidade de identificar variáveis específicas sem comprometer uma visão
geral do fenômeno;
c. Amplia as possibilidades de o pesquisador identificar um conjunto de fatos e causas asso-
ciados ao fenômeno e explorá-las em sua interpretação;
d. Viabiliza a possibilidade de o pesquisador enriquecer constatações obtidas em situações
controladas;
e. Amplia as condições que favorecem a possibilidade de reafirmar a validade e a confiabili-
dade das descobertas de um estudo.
A Figura 2 apresenta uma comparação entre pesquisa qualitativa e quantitativa ao longo do
processo de pesquisa como um todo.
Abordagens de pesquisa 53

Figura 2 – Comparação das etapas de pesquisa nos processos quantitativo e qualitativo

Processos fundamentais do
Características quantitativas Características qualitativas
processo geral de pesquisa

Voltada para a descrição, previsão Voltada para a exploração, a


e explicação descrição e o entendimento
Específica e delimitada Formulação do Geral e ampla
Voltada para dados mensuráveis problema Voltada para as experiências dos
ou observáveis participantes
Papel fundamental Papel secundário
Justificativa para a formulação Revisão da literatura Justificativa para a formulação e
e a necessidade do estudo a necessidade do estudo

Os dados surgem pouco a pouco


Instrumentos predeterminados
Dados em texto ou imagem
Dados numéricos Coleta dos dados
Números relativamente pequeno
Número considerável
de casos
Análise estatística Análise de textos e material
Descrição de tendências, audiovisual
comparação de grupos ou relação Descrição, análise e
Análise dos dados
entre variáveis desenvolvimento de temas
Comparação de resultados com Significado profundo dos
previsões e estudos anteriores resultados

Padronizado e fixo Emergente e flexível


Relatório de
Objetivo e sem tendências Reflexivo e com aceitação de
resultados
tendências

Fonte: Sampieri, Collado e Lucio (2013, p. 41).

Por fim, vale aqui lembrar que quem determina a realização de um estudo quantitativo ou
qualitativo não é o pesquisador, mas sim o problema de pesquisa proposto. É importante sempre
levar em conta a questão ética implicada nos estudos científicos, que permite ao pesquisador ma-
nipular dados de diferentes formas para obter resultados fidedignos a uma realidade, sem jamais
distorcê-los ou maquiá-los para que expressem um resultado falso, voltado exclusivamente a inte-
resses pessoais e monetários, seja para si ou para um segmento de negócios a que esteja vinculado.

Considerações finais
Como observamos neste capítulo, o método científico conta com uma série de possibili-
dades para a construção dos mais diversos estudos. Quanto mais estruturado e lógico um estudo
científico, maior credibilidade será atribuída a seus resultados. Cabe ao pesquisador conhecer cada
uma das possibilidades que se apresentam e estruturar suas pesquisas de forma que elas possam ser
replicadas com a mesma confiabilidade em outras ocasiões.

Ampliando seus conhecimentos


• GOLDACRE, Ben. Como a indústria farmacêutica manipula testes de medicamentos.
Outras Mídias. Disponível em: https:// outraspalavras.net/outrasmidias/como-a-indus-
tria-farmaceutica -manipula-testes-de-medicamentos/. Acesso em: 22 mar. 2019.
Leia essa reportagem para saber mais como a manipulação dos resultados de estudos
pode beneficiar indústrias do segmento farmacêutico. É importante refletir sobre a
54 Métodos e técnicas de pesquisa

questão ética implicada neste processo, que usa a ciência para gerar lucro a indústrias
do segmento farmacêutico, enquanto a promoção do bem comum, por meio da cura de
enfermidades, passa a ser secundária.

• WORLD ANIMAL PROTECTION. Um foco na crueldade: o impacto prejudicial das


selfies com vida silvestre na Amazônia. Disponível em: https://www.worldanimalpro-
tection.org.br/sites/default/files/br_files/wap_relatorio_um_foco_na_crueldade_ sel-
fies_04102017.pdf. Acesso em: 22 mar. 2019.
O estudo, publicado pela organização em 2017, é um claro exemplo das possibilidades
oferecidas pela realização de um estudo conclusivo.

• GNIPPER, Patrícia. Se o Planeta 9 existe, por que ainda não fomos capazes de detectá-lo?
Canal Tech. Disponível em: https://canaltech.com.br/espaco/se-o-planeta-9-existe-por-
-que-ainda-nao-fomos -capazes-de-detecta-lo-117412/. Acesso em: 22 mar. 2019.
Leia o conteúdo da reportagem publicada no Canal Tech e entenda como uma série de
estudos exploratórios está levando um grupo de cientistas a acreditar na existência de um
novo astro no Sistema Solar inicialmente batizado de Planeta 9.

Atividades
1. Com base em que informações é determinado o design de uma pesquisa?

2. Quando falamos de orientação epistemológica, fazemos referência a que elemento de uma


pesquisa científica?

3. Quais são as principais diferenças entre estudos quantitativos e qualitativos?

Referências
DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna S.; NETZ, Sandra R. Planejamento da pesquisa qualitativa. Porto
Alegre: Artmed, 2006.

LIMA, Manolita C. Monografia - A engenharia de produção acadêmica. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 6. ed. Porto Alegre: Bookman,
2012.

SAMPIERI, Roberto Hernández; COLLADO, Carlos Fernández; LUCIO, Pilar Baptista. Metodologia de pes‑
quisa. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.
6
Procedimentos de pesquisa

Quando estamos realizando uma pesquisa, precisamos decidir como operacionalizá-la, ou


seja, como realizaremos a etapa empírica. Para tanto, devemos definir quais serão os meios, quem
serão as pessoas de interesse e quais dados devem ser levantados para que consigamos atingir os
objetivos da pesquisa. A esses meios chamamos de procedimentos, que consistem em estudo de
caso, estudo experimental, pesquisa bibliográfica e tipo survey, para citar os mais utilizados. Ao
final deste capítulo, você conhecerá diferentes procedimentos de pesquisa diretamente associados
ao tipo de pesquisa previamente selecionado – exploratória ou conclusiva.
Para sabermos quais tipos de dados são adequados, qual amostragem é representativa e até
quantas entrevistas realizar, mais detalhes serão apresentados no capítulo 7.
Cada procedimento pode fazer uso de uma ou mais técnicas ou instrumentos de coleta e
análise de dados. Tais técnicas e instrumentos serão vistos no capítulo 8.
Conforme vimos no capítulo anterior, existe uma classificação específica para cada tipo de
pesquisa. Trata-se de um conjunto de procedimentos formais que estruturam o modo como faze-
mos pesquisa, fortalecendo, assim, a imparcialidade necessária ao trabalho científico.

Vídeo
6.1 Procedimentos e estratégias de pesquisa
O modelo esquematizado na Figura 1 a seguir nos ajuda a compreender mais ade-
quadamente os diferentes procedimentos de pesquisa.
Figura 1 – Esquema para escolha de procedimentos de pesquisa

Conjunto de fenômenos

= Tema de pesquisa Problema de pesquisa Hipóteses de pesquisa

Objetivo geral Objetivos específicos

Legenda: = origina e/ou determina


Design de pesquisa

Pesquisa Exploratória Pesquisa Conclusiva

Entrevistas com especialistas Levantamento piloto Descritiva Causal

Estudo de caso Outros encaminhamentos Transversal ou longitudinal Experimento

Dados secundários: qualitativa Pesquisa qualitativa


Levantamentos Observações

Painéis Dados secundários: quantitativa


Fonte: Elaborada pelas autoras com base em Malhotra (2012).
56 Métodos e técnicas de pesquisa

Para eleger informações introdutórias aos temas propostos, as pesquisas explora-


tórias tradicionalmente empregam a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e os
estudos de caso. Por serem bastante flexíveis, pesquisas dessa natureza podem acrescentar
outras técnicas que favoreçam a exploração do tema em discussão.
Já as pesquisas conclusivas, que, como o próprio nome diz, visam chegar a uma
conclusão, podem ser descritivas ou explicativas e geralmente demandam técnicas de
coleta e análise de dados quantitativos.
É importante salientar que é bastante comum utilizar mais de um procedimento (por
exemplo: survey + experimentos; pesquisa documental + estudo de caso). Essa escolha de-
pende do resultado a que se quer chegar. Por isso, na Figura 1, os procedimentos se encon-
tram “soltos” abaixo das chaves, pois não queremos restringir sua utilização a uma ou outra
abordagem.
Os principais procedimentos utilizados serão apresentados a seguir.

Vídeo
6.2 Pesquisa bibliográfica
Há que se afirmar que todas as pesquisas realizadas se utilizam de pesquisas biblio-
gráficas, pois é necessário sempre ter um referencial teórico na elaboração de uma investi-
gação. A teoria e os conceitos nos norteiam, auxiliando a definir o caminho a ser trilhado.
Além disso, há pesquisas que são apenas bibliográficas, fazendo um levantamento da maior
parte das publicações sobre o tema investigado.
Assim, a pesquisa bibliográfica “é feita com base em textos, como livros, artigos cientí-
ficos, ensaios críticos, dicionários, enciclopédias, jornais, revistas, resenhas, resumos.[...] arti-
gos científicos constituem o foco primeiro dos pesquisadores, porque é neles que se pode en-
contrar conhecimento científico atualizado, de ponta.” (MARCONI,LAKATOS, 2019, p. 33).
Há diversas fontes de pesquisa bibliográfica, e elas podem advir da imprensa escrita,
tais como jornais e revistas, meios audiovisuais, por exemplo, rádio, filmes, televisão, bem
como de publicações científicas na forma de livros, teses, monografias e artigos científicos.
Normalmente, quando você realiza algum trabalho acadêmico, precisa buscar livros
e/ou artigos científicos que discursam sobre o tema estudado. Você realiza leituras e resu-
mos e compõe o seu trabalho. Isso é pesquisa bibliográfica.
A pesquisa bibliográfica traz contribuições relevantes para a comunidade científica.
Verifique, no artigo a seguir, um exemplo de sua aplicação no estudo de clínicas-escola de
psicologia. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/bolpsi/v62n136/v62n136a05.pdf.
Acesso em: 4 abr. 2019.
Vídeo
6.3 Pesquisa documental
Em relação à pesquisa documental, muitas vezes, há a confusão com a pesquisa
bibliográfica, porém na documental a preferência é pelos documentos, impressos ou não.
Procedimentos de pesquisa 57

Segundo Marconi e Lakatos (2019), são fontes de documentos os arquivos


públicos ou provenientes de instituições privadas, registros de acontecimentos his-
tóricos, tais como atas, registros jurídicos, fotografias e dados estatísticos oriundos
de institutos especializados na área etc.
Quando nos referimos às bases de dados provenientes de fontes estatísticas,
é comum denominá-las como dados secundários, os quais são obtidos por meio de
outras pesquisas, como IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Inep (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), entretanto não foram analisados ou transfor-
mados em publicações científicas. Veja o exemplo de uma pesquisa documental, dispo-
nível em: http://books.scielo.org/id/vwc8g/pdf/piana-9788579830389-05.pdf. Acesso
em: 4 abr. 2019.

Vídeo
6.4 Estudo de experimentos
Você já deve ter escutado ou lido algo a respeito de testes realizados com me-
dicamentos ainda em elaboração, convidando pessoas para participar de pesquisas
em hospitais ou laboratórios. Esse é um exemplo clássico de pesquisa experimen-
tal, a qual objetiva experimentar, observar e concluir um resultado conforme o
processo científico, produzindo dados estatísticos com a manipulação de variáveis.
A pesquisa experimental quase sempre esteve presente nas áreas de exatas e
saúde, porque é possível manipular dados concretos, como produtos ou fenôme-
nos físicos e biológicos. Na área das ciências sociais, é menos utilizada, porque o
trato com seres humanos apresenta mais limitações às experiências. Nem sempre
conseguimos colocar pessoas dentro de um laboratório para investigá-las, então a
pesquisa do cientista social é na dinâmica da sociedade. Além disso, apresentam-se
questões éticas que, muitas vezes, impedem a aplicação dessa técnica.
Ainda assim, há estudos sociais e humanos bastante ricos que empregam a
pesquisa experimental, principalmente na psicologia e na sociologia, identificando
comportamento de pequenos grupos, reações à publicidade, influência de estilos de
liderança na produtividade do trabalho etc.
Para conhecer mais sobre experimentos, leia o projeto de investigação com
irmãos gêmeos desenvolvido pela Nasa (2019). Disponível em: https://brasil.elpais.
com/brasil/2015/01/15/ciencia/1421350424_207362.html. Acesso em: 4 abr. 2019.
Vídeo

6.5 Survey
A pesquisa survey é uma técnica dentro da abordagem quantitativa, por-
tanto, tem a preocupação de produzir resultados quantificáveis da investigação
realizada. Pretende obter dados e informações sobre um determinado grupo in-
vestigado, descrevendo as características, as opiniões e as ações (FREITAS et al.,
58 Métodos e técnicas de pesquisa

2000). Normalmente, a survey está acompanhada de um questionário ou entrevista, o que lhe


favorece a obtenção de informações objetivas.
Segundo Dresch, Lacerda e Antunes Jr. (2015, p. 26), “a investigação é conduzida por
meio da coleta de dados e/ou informações, com o intuito de avaliar o comportamento das
pessoas e/ou dos ambientes em que elas se encontram”. A área de administração se utiliza
bastante das surveys, pois com ela é possível descrever características de públicos-alvo, bem
como detalhar ambientes corporativos ou aspectos ambientais para o lançamento de novos
produtos ou serviços.
O artigo de Luiz Carlos Honório e Suzana Braga Rodrigues apresenta um exemplo de
utilização de pesquisa survey com empresas brasileiras. Disponível em: http://www.anpad.
org.br/enanpad/2006/dwn/ enanpad2006-esob-1084.pdf. Acesso em: 4 abr. 2019.
Vídeo
6.6 Estudo de caso
Tanto o estudo de caso como a pesquisa-ação são técnicas da abordagem qualitativa
que buscam analisar e interpretar quesitos conceituais e subjetivos da população-alvo. Vale
destacar que, conforme Yin (2016), há usos do estudo de caso nas abordagens quantitativas
também, porém em menor número, mantendo-se mais presente nas abordagens qualitativas.
O estudo de caso é amplamente empregado em diferentes áreas do conhecimento, seja
nas ciências humanas, da saúde, sociais ou exatas. É possível fazer o estudo de um ou mais
casos, mas a prioridade é manter-se focado em uma situação específica, descrevê-la e conhe-
cê-la o mais profundamente possível. Alguns cientistas não gostam do estudo de caso por ele
apresentar maior flexibilidade na forma de conduzir a pesquisa, porém, mantendo o rigor
teórico, é possível realizar estudos com a qualidade necessária. Veja o que nos diz Goldenberg
(2002, p. 33):
O estudo de caso não é uma técnica específica, mas uma análise holística,
a mais completa possível, que considera a unidade social estudada como
um todo, seja um indivíduo, uma família, uma instituição ou uma comu-
nidade, com o objetivo de compreendê-los em seus próprios termos. [...]
Através de um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado,
o estudo de caso possibilita a penetração na realidade social, não conse-
guida pela análise estatística.

Observe que, para aplicar essa técnica, é preciso estar muito atento aos detalhes do
fenômeno investigado, pois qualquer informação pode ser relevante para a sua compreensão.
Por conta disso, o emprego do estudo de caso, e de qualquer outra técnica de pesquisa, precisa
ser feito com presteza e responsabilidade.
Para conhecer mais sobre a aplicação da técnica de estudo de caso, consul-
te o artigo Ideologia e discursos nas organizações de economia capitalista, de Édna Regina
Cicmanec. Disponível em: https://servicos2.up.edu.br/AplPublicacoes/Arquivos/
DISSERTA%C3%87%C3%83O_%20%C3%89DNA_%20REGINA_%20CICMANEC.pdf.
Acesso em: 5 abr. 2019.
Procedimentos de pesquisa 59

Vídeo 6.7 Pesquisa-ação


No caso da pesquisa-ação, também há um questionamento entre os cientistas
sobre sua validade, principalmente entre aqueles que são mais positivistas1. A pesquisa-
-ação propõe que o pesquisador faça parte da pesquisa, tornando-se um participante do
processo de investigação. Isso gera desconfiança entre alguns, entretanto é uma técnica
bastante útil entre as ciências sociais e a área de gestão, na qual é possível construir uma
teoria por meio da prática, afinal vive-se em conjunto com a realidade para depois des-
crevê-la e recontá-la, conforme afirma Roesch:
Por isso, na pesquisa-ação, a suposição é de que se pode aprender,
a partir do conteúdo, sobre processos e resultados da intervenção,
sobre o que é possível e o que não é possível, sobre o que funciona e
o que não funciona, exatamente porque este é o modo como os fatos
acontecem e as pessoas agem numa situação particular (ROESCH,
2004, p. 162)

Outro aspecto relevante é a diferença entre pesquisa-ação e pesquisa participante.


Alguns autores as colocam como sinônimos, porém há algumas diferenças: “a pesqui-
sa-ação supõe uma forma de ação planejada, de caráter social, educacional, técnico ou
outro. A pesquisa participante, por sua vez, envolve a distinção entre ciência popular e
ciência dominante.” (GIL, 2018, p. 142).
Para ver um exemplo prático de pesquisa-ação, leia o artigo Exemplo de aplicação
do método de pesquisa‑ação para a solução de um problema de sistema de informação
em uma empresa produtora de cana-de-açúcar. Disponível em: https://servicos2.up.edu.
br/AplPublicacoes/Arquivos/DISSERTA%C3%87%C3%83O_%20%C3%89DNA_%20
REGINA_%20CICMANEC.pdf. Acesso em: 4 abr. 2019.

Considerações finais
Ser conhecedor do funcionamento de pesquisas é uma competência importante,
pois você saberá identificar fontes confiáveis para obter informações, além de aumen-
tar sua capacidade crítica. A pesquisa por si só demonstra a necessidade de superar a
primeira aparência e procurar o que está por trás, ampliando sua compreensão sobre a
realidade.
Atualmente, nossa sociedade anseia por profissionais que saibam lidar com a in-
constância e a imprevisibilidade. Para estar preparado para esse tipo de ambiente, nada
melhor que se fundamentar em pesquisas ou realizá-las, para ter direcionamentos com
maiores chances de sucesso.

1 Positivista refere-se ao fundador do Positivismo, Auguste Comte (1798-1857), que trabalhou no de-
senvolvimento da sociologia, empregando os princípios das ciências naturais. Seu pressuposto era tornar
as ciências sociais tão estruturadas e objetivas quanto as naturais, entretanto fixou-se na prerrogativa de
que somente com dados a ciência seria legítima, abandonando qualquer outro aspecto subjetivo na análise
de uma realidade social.
60 Métodos e técnicas de pesquisa

Ampliando seus conhecimentos


• VOZES da Igualdade - O canal da Anis. Modos de fazer – observação., 18 fev. 2018.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=i5MwGahwCyE. Acesso em: 22
mar. 2019.
Neste vídeo, a apresentadora comenta sobre a técnica de observação, empregada na abor-
dagem qualitativa. Ela aponta algumas especificidades de realizar pesquisas com a meto-
dologia qualitativa.

• GÜNTHER, Hartmut. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa:


esta é a questão? In: Psicologia: teoria e pesquisa, maio/ago. 2006, v. 22,
n. 2, p. 201-210. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/ptp/v22n2/a10v22n2.pdf.
Acesso em: 22 mar. 2019.
Leia este artigo, em que o autor apresenta tópicos que relacionam as metodologias qua-
litativa e quantitativa, fazendo uma reflexão sobre a aplicabilidade de ambas.

Atividades
1. Se você fosse realizar uma pesquisa descritiva (classificação por objetivo), qual(is) técnica(s)
você utilizaria?

2. A abordagem qualitativa tem como característica o contato do pesquisador com o pesquisa-


do, considerando suas crenças, valores, costumes e representações do dia a dia. Que técnica
de pesquisa apontada neste capítulo se enquadra nesse caso? Explique.

3. Como você pode explicar a seguinte afirmação: “A investigação quantitativa [...] deve ser
utilizada para abarcar, do ponto de vista social, grandes aglomerados de dados, de conjuntos
demográficos, por exemplo, classificando-os e tornando-os inteligíveis por meio de variá-
veis.” (MINAYO, M. C.; SANCHES, O., 1993)?

Referências
ANSEDE, Manuel. National Aeronautics and Space Administration – Nasa. El País. Disponível em: https://
brasil.elpais.com/brasil/2015/01/15/ciencia/1421350424_207362.html. Acesso em: 22 mar. 2019.

COSTA, Eugênio P.; POLITANO, Paulo R.; PEREIRA, Néocles A. Exemplo de aplicação do método de pes-
quisa-ação para a solução de um problema de sistema de informação em uma empresa produtora de cana-
-de-açúcar. Gestão&Produção, p. 895-905, 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/gp/2014nahead/
aop_gp060811.pdf. Acesso em: 22 mar. 2019.

DRESCH, Aline; LACERDA, Daniel Pacheco; ANTUNES JÚNIOR, José Antonio V. Design science research:
método de pesquisa para avanço da ciência e tecnologia. Porto Alegre: Bookman, 2015.
Procedimentos de pesquisa 61

FREITAS, Henrique et al. O método de pesquisa survey. Revista de Administração. São Paulo, v. 35, n. 3,
p. 105-112, jul./set. 2000. Disponível em: http://www.utfpr.edu.br/curitiba/estrutura-universitaria/diretorias/dir-
ppg/especializacoes/pos-graduacao-dagee/lean-manufacturing/PesquisaSurvey012.pdf. Acesso em: 22 mar. 2019.

GOLDENBERG, Miriam. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. Rio de
Janeiro: Record, 2002.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2018.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 8. ed. São
Paulo: Atlas, 2019.

MINAYO, Maria Cecilia; SANCHES, Odécio. Quantitativo-Qualitativo: oposição ou complementaridade?.


Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul./set. 1993.

PIANA, Maria Cristina. A construção da pesquisa documental: avanços e desafios na atuação do serviço social
no campo educacional. São Paulo: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2009. Disponível
em: http://books.scielo.org/id/vwc8g/pdf/piana-9788579830389-05.pdf. Acesso em: 22 mar. 2019.

ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2004.

VILLEMOR, Anna Elisa et al. Serviços de psicologia em clínicas-escola: revisão de literatura. Boletim de
Psicologia, v. 62, n. 136, p. 37-52, 2012. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0006-59432012000100005. Acesso em: 22 mar. 2019.

YIN, Robert K. Pesquisa qualitativa do início ao fim. Porto Alegre: Penso, 2016.
7
Amostragem e fonte de dados

Neste capítulo, conheceremos as principais fontes de dados empregadas em estudos cientí-


ficos. Aprenderemos ainda a diferenciar população de amostra e compreenderemos a função das
amostras nos estudos. Por fim, entenderemos como definir o tamanho de uma amostra confiável
para um estudo científico.
Estudos científicos têm como tarefa oferecer respostas adequadas a diferentes problemas
de pesquisa, e tal tarefa demanda a seleção de dados empíricos advindos de fontes confiáveis. A
seleção dos dados é uma etapa bastante intensa de um estudo. Em certos casos, dados referentes a
um determinado fenômeno podem ser facilmente localizados e coletados na realidade observada.
Em contrapartida, alguns dados são de difícil acesso, restritos ou inexistentes, podendo inclusive
inviabilizar a sequência de certos estudos.
Dados podem ser extraídos a partir de uma infinidade de fontes, algumas mais estáticas, tais
como documentos históricos, e outras mais inconstantes ou variáveis, como indicadores econômi-
cos de um país. Dependendo da natureza do estudo, é necessário estabelecer ainda uma amostra
representativa da população-objeto de forma a atribuir confiabilidade e legitimidade à pesquisa.

Vídeo 7.1 Dados primários e secundários


Todo estudo científico necessita de algum tipo de dado empírico para ser con-
cretizado. Dados empíricos correspondem a um conjunto de informações pertencen-
tes a uma determinada realidade que são empregadas nos estudos como forma de
comprovar teorias e testar hipóteses.
Embora cotidianamente muitos indivíduos empreguem os termos dados e in‑
formações como sinônimos, na pesquisa científica esses elementos são classificados de
modo distinto.
No campo científico, dados correspondem a uma série de fatos ou elementos
estrategicamente reunidos com vistas a gerar as informações que possam trazer res-
postas a um problema de pesquisa.
Podemos então dizer que dados são parte fundamental na construção de infor-
mações. Quanto melhor a qualidade dos dados coletados em um estudo, maior a chan-
ce de construir boas informações que servirão à solução dos problemas propostos.
Na construção de estudos científicos, podemos empregar dois diferentes tipos
de dados: os primários e os secundários. Dados primários correspondem às infor-
mações reunidas exclusivamente para um determinado estudo; são gerados para a fi-
nalidade específica de solucionar o problema de pesquisa. Já os dados secundários
correspondem a informações advindas de outros estudos que são (re)utilizados ou (re)
empregados em outras pesquisas de forma complementar.
64 Métodos e técnicas de pesquisa

Para exemplificar uma situação em que dados primários são mais adequados, considere um
estudo no qual os pesquisadores querem investigar as experiências dos trabalhadores ao retorna-
rem ao trabalho depois de um período de afastamento motivado por alguma lesão relacionada à
sua atividade ocupacional. Como coleta de dados, os pesquisadores poderiam realizar entrevistas
com esses trabalhadores por telefone/vídeo/pessoalmente e questioná-los em relação ao tempo em
que estiveram de licença, sobre suas experiências com o processo de retorno etc. As respostas dos
trabalhadores, consideradas como dados primários, proverão aos pesquisadores informações mais
precisas em relação ao processo de retorno ao trabalho, que dificilmente seriam encontradas por
meio de documentos e dados do setor de Recursos Humanos e outros relacionados.
Como exemplo de uso dos dados secundários, considere uma pesquisa em que se pretende
investigar com que frequência o público masculino de uma determinada cidade realiza consultas
preventivas da especialidade X. Não é necessário refazer a contagem de indivíduos masculinos da
população local. Basta acessar estudos do município (site do governo municipal) ou do IBGE e ex-
trair a informação. A quantidade de indivíduos do sexo masculino da cidade é um dado secundário
nesse estudo.
Ao investir na compreensão das principais justificativas oferecidas por motoristas do sexo
feminino que cometem infrações de trânsito e que solicitam o cancelamento de multas no Brasil,
os dados registrados no auto das infrações e o registro dos veículos formam a base de dados secun-
dários que subsidiarão a construção dessa pesquisa.
Pesquisadores podem inclusive examinar dados secundários em conjunto com as informa-
ções provenientes dos seus dados primários. Voltando ao trabalho sobre as experiências dos tra-
balhadores que retornam de licença, poderíamos levantar dados para determinar o tempo que os
trabalhadores demoram para receber o salário no período de afastamento. Com a combinação
dessas duas fontes de dados, os pesquisadores poderiam determinar quais fatores predizem um
menor tempo de ausência entre os trabalhadores afastados.
Dados que posteriormente serão convertidos em informações pelo pesquisador podem ser
coletados a partir de diferentes técnicas de coleta (tratados nos capítulos seguintes). Optar por
dados primários ou secundários não significa optar pelo melhor ou pelo pior. Somente produzirão
resultados diferentes e demandarão esforços também diferentes. No Quadro 1, é possível verificar
algumas comparações.
Quadro 1 – Comparação de dados primários e dados secundários

Dados primários Dados secundários

Finalidade da coleta Para o problema considerado Para outros problemas/objetivos

Processo da coleta Muito trabalhoso Rápido e fácil

Custo da coleta Alto Relativamente baixo

Tempo da coleta Longo Curto


Fonte: Malhotra, 2012, p. 80.

Entretanto, justamente a finalidade da coleta pode constituir uma desvantagem para o


uso de dados secundários e uma vantagem dos dados primários. Nesse caso, as informações são
Amostragem e fonte de dados 65

coletadas para propósitos específicos de seu estudo. As questões que os pesquisadores submetem
aos seus respondentes são elaboradas justamente para levantar dados que vão ajudá-los com seu
estudo. Geralmente, os pesquisadores coletam eles próprios os dados, utilizando para isso questio-
nários, entrevistas e observações. Já os dados secundários foram coletados para fins diversos da-
queles do problema em estudo, portanto sua utilidade para a solução do problema atual é limitada.
Adicionalmente, os dados secundários podem não ser exatos, não estar completamente atualizados
ou não ser totalmente confiáveis.
O tipo de dados a serem escolhidos depende de muitas coisas, incluindo a questão de pes-
quisa, seu orçamento, suas habilidades e recursos disponíveis. Com base nesses e em outros fatores,
podemos escolher utilizar dados primários, secundários ou ambos.

7.2 Fontes de coleta de dados


Vídeo Um mesmo estudo pode contar com uma infinidade de fontes de dados.
Em geral é o problema de pesquisa e as variáveis de pesquisa implicadas nele que
determinam quais são as fontes de dados empíricos necessárias para sua execução.
Nesse caso, diz-se que o estudo é conduzido do teórico para o empírico. Contudo,
não é totalmente descartada a possibilidade de estudos que se originem a partir de
um banco rico em dados acerca de uma determinada realidade.
Todo tipo de documento, desde que devidamente analisado e sistematiza-
do, pode servir como fonte de dados para os estudos científicos. Além de todos os
documentos físicos tradicionais, em papel, tais como jornais, revistas, históricos
escolares, registros médicos, entre outros, existe na atualidade uma grande quan-
tidade de fontes de dados, muitos deles no formato digital ou pessoal (verbal).
Salienta-se que é bom evitar fontes de caráter duvidoso, mesmo que conhe-
cidas, tais como blogs, podcasts, canais do YouTube e notícias on-line. Sites, artigos
e até mesmo livros também devem ser verificados quanto à atualização, qualidade
da escrita, autoridade dos autores e, em sendo uma fonte secundária, se cita ade-
quadamente suas fontes.

7.3 Amostragem
Vídeo
Imagine, por exemplo, um experimento para testar os efeitos de uma nova
metodologia educacional para o ensino fundamental brasileiro. Seria impossível
selecionar todos os alunos em idade escolar no país. Portanto, a solução seria divi-
dir essa população em grupos para, então, realizar a pesquisa.
A população-alvo de uma pesquisa consiste naquelas pessoas/empresas/
entidades que apresentam as características do tema que você pretende estudar.
Entretanto, muitas vezes é impraticável e indesejável estudar a população como um
66 Métodos e técnicas de pesquisa

todo. Por isso, tomam-se grupos menores, amostras, que possibilitem a coleta de dados. A Figura
1 representa a amostragem de uma população em determinado contexto.
Figura 1 – Ilustração amostragem

Iesde Brasil S/A


População-alvo

Amostra

Gil (2012), Sampieri et al. (2006) e Malhotra (2012) listam alguns conceitos básicos para o
entendimento da amostragem. Veja a seguir e na Figura 2 quais são eles.
a. Universo ou população: conjunto definido de elementos que possuem determinadas ca-
racterísticas ou que concordam com uma série de especificações.
b. Amostra: subconjunto do universo ou da população, por meio do qual se estabelecem ou
se estimam as características desse universo ou população.
c. Unidade de análise: unidade de resposta a ser considerada em uma pesquisa. Exemplo:
consumidor, gestor etc.
Figura 2 – Uma classificação das técnicas de amostragem

Técnicas de
Amostragem

Não-probabilística
Probabilística

Conveniência Julgamento Cotas “Bola-de-neve”

Conglomerado
Simples Sistemática Estratificada
ou Cluster

Fonte: Adaptado de Malhotra, 2012, p. 275.

Amostragem probabilística
Corresponde a um subgrupo da população no qual todos os elementos possuem a mesma
possibilidade de serem escolhidos:
• é representativa;
• permite generalização;
Amostragem e fonte de dados 67

• existem várias formas de cálculo de acordo com os parâmetros utilizados.

Tão importante quanto definir quantas pessoas/casos pesquisar é definir


quais pessoas/casos pesquisar.

A amostragem probabilística pode ser ainda:


1. Probabilística com amostragem aleatória simples – cada elemento da população tem
uma probabilidade conhecida e igual de ser selecionado. Cada elemento é selecionado
independentemente de qualquer outro, e a amostra é extraída por um processo aleatório.
2. Probabilística com amostragem sistemática – colhe-se uma amostra selecionando um
ponto de partida aleatório e, em seguida, extraindo cada i-ésimo elemento sucessivamente.
O intervalo amostral “i” é determinado dividindo o tamanho N da população pelo tama-
nho n da amostra, da seguinte forma:

N
i=
n
3. Probabilística com amostragem estratificada – deve-se dividir a população em subpopu-
lações ou estratos e posteriormente escolher os elementos de cada estrato por um processo
aleatório. Os elementos dentro de um estrato devem ser tão homogêneos quanto possível,
mas os elementos em estratos diferentes devem ser os mais heterogêneos possíveis.
4. Probabilística com amostragem por cluster – divide-se primeiro a população-alvo em
subpopulações mutuamente excludentes e coletivamente exaustivas, ou clusters (conglo-
merados). Os elementos dentro de um cluster devem ser tão heterogêneos quanto possí-
vel, mas os clusters em si devem ser tão homogêneos quanto possível.
5. Outros tipos de amostragem probabilística – amostragem sequencial, em que os elemen-
tos da população são selecionados sequencialmente; amostragem dupla, também cha-
mada de amostragem de duas fases, quando certos elementos da população são extraídos
duas vezes.

Amostragem não probabilística


• Não utiliza cálculo para sua definição.
• É preciso utilizar referências de estudos anteriores.
• Pode ocorrer em formas distintas: conveniência, cotas, julgamento, entre outras.
Não existe cálculo para definir este tipo de amostra. É preciso definir as referências e as
justificativas da amostra. A amostragem não probabilística pode ser:
1. Não probabilística com amostragem por conveniência – a seleção das unidades amos-
trais é deixada em grande parte a cargo do entrevistador. Com frequência, os entrevista-
dos são escolhidos porque se encontram no lugar exato no momento certo.
68 Métodos e técnicas de pesquisa

2. Não probabilística com amostragem por julgamento – forma de amostragem por con-
veniência em que os elementos da população são selecionados com base no julgamento
do pesquisador. Este escolhe os elementos a serem incluídos na amostra por considerá-los
representativos da população de interesse por algum outro motivo.
3. Não probabilística com amostragem por quotas – o pesquisador relaciona característi-
cas relevantes de controle e determina a distribuição dessas características na população-
-alvo. Exemplo: características relevantes de controle, tais como sexo, idade e raça.
4. Não probabilística com amostragem bola de neve: escolhe-se um grupo inicial
de entrevistados geralmente de forma aleatória. Após serem entrevistados, solicita-se que
identifiquem outros que pertençam à população-alvo. Os entrevistados subsequentes são
selecionados com base nessas referências.
Qualquer que seja o tipo de amostragem escolhido, é importante considerar também o grau
de acessibilidade que a pesquisa vai exigir. De nada adianta sugerir amostragem não probabilística
para assuntos pouco conhecidos ou divulgados. Primeiro, entenda seu público, sua população-alvo,
depois decida quanto à melhor forma de amostrar.

Vídeo 7.4 Definição do tamanho de amostra


A determinação de uma amostra muito pequena ou excessivamente grande
pode levar a descobertas incorretas. Por conta disso é que técnicas de amostragem
devem ser utilizadas para determinarmos o que chamamos de “amostras represen-
tativas” para evitar o viés de pesquisa.
Amostras maiores, em geral, levam a resultados significativamente relevan-
tes e mais precisos. Entretanto, nem sempre o tamanho da amostra condiz com
os recursos disponíveis para a sua coleta, pois “[…] um estudo não será melhor
por ter uma população maior, a qualidade de um trabalho baseia-se em delimitar
claramente a população com base nos objetivos do estudo” (SAMPIERI, 2006, p.
253).
Portanto, o tamanho da amostra também depende de:
• importância da decisão;
• natureza da pesquisa;
• número de variáveis;
• natureza da análise;
• tamanhos amostrais utilizados em estudos anteriores;
• taxas de incidência;
• taxas de preenchimento;
• restrições de recursos.
Há diversas tabelas disponíveis contendo tamanhos de amostra ótimos para
determinados casos. Como exemplo, segue o Quadro 2, sugerido por Malhotra
Amostragem e fonte de dados 69

(2012) para pesquisas de marketing. Os tamanhos de amostras apresentados foram determinados com
base na experiência e servem como diretrizes ao se utilizarem técnicas amostrais não probabilísticas.
Quadro 2 – Tamanhos de amostra utilizados em pesquisas de marketing

Tipos de estudo Tamanho mínimo Abrangência média


Pesquisa de potencial de mercado 500 1000 – 2500

Pesquisa para precificação 200 300-500

Testes de produtos 200 300-500

Estudos de marketing 200 300-500

Propaganda na mídia (comercial) 150 200-300

Auditoria em mercados-teste 10 lojas 10 – 20 lojas

Grupos de foco 2 grupos 6 – 15 grupos


Fonte: Adaptado de Malhotra (2012, p. 273).

Entretanto, às vezes não temos conhecimento de qual é o melhor tamanho de amostra.


Portanto, seguem as expressões estatísticas utilizadas para cálculo de amostra em população infi-
nita (em que não se podem contar os elementos) e população finita (quando é possível determinar
a quantidade de elementos).
z c2  2
População infinita: n 
E2
NZ c2  2
População finita: n 
E 2  N  1  Z c2  2
Onde:
n: tamanho da amostra
N: tamanho da população (população finita)
σ: desvio-padrão da população
E: erro padrão de amostragem (em geral até 5%).
ZC equivalente à quantidade de desvios-padrão na distribuição normal padrão N={0;1}.

Nível de confiança
ZC
(mais comuns)

90% 1,65

95% 1,96

99% 2,58

Quando não se souber o valor do desvio-padrão, utiliza-se como valor default σ = 0,5.
Exemplo de cálculo – pesquisa de intenção de votos:
População brasileira: aproximadamente 150 milhões de eleitores (como é uma quantidade
muito elevada, pode-se utilizar diretamente fórmula para população infinita).
70 Métodos e técnicas de pesquisa

Nível de confiança desejado: 95%; portanto ZC =1,96.


Margem de erro: 3% para cima ou para baixo da média.

Z c2  2 1,96 2 * 0 , 5 2
n  = 1067
E2 0 ,03 2

Portanto, para uma pesquisa de intenção de votos, é possível inferir com 95% de
confiança que se 1067 eleitores foram questionados sobre em quem vão votar, teremos um
resultado bastante próximo para cada candidato, com margem de erro de 3 pontos percen-
tuais para cima ou para baixo.

Vídeo
7.5 Saturação teórica em pesquisas qualitativas
Em pesquisas qualitativas, por exemplo quando decidimos entrevistar pessoas ou le-
vantar documentos, como determinar a quantidade de entrevistas ou documentos que assegu-
re a qualidade da pesquisa? Aqui não se aplicam as expressões matemáticas para determinação
de amostra, conforme apresentado no item anterior. Nesses casos, utiliza-se o denominado
critério ou ponto de saturação para definir quando parar.
A saturação é o instrumento que determina quando as observações deixam de ser ne-
cessárias, pois nenhum novo elemento permite ampliar o número de propriedades do objeto
investigado (THIRY-CHERQUES, 2009). Conforme demonstrado na Figura 3, é o ponto em
que a inclinação (d) da curva de saturação de novas respostas e de acréscimo de propriedades
se mantém constante.
Figura 3 – Curva de saturação
Número acumulado de novas respostas

Ponto de
saturação

Número de entrevistas

Fonte: Thiry-Cherques, 2009, p. 23.


Amostragem e fonte de dados 71

Na condução de entrevistas, o pesquisador deve permanecer atento e manter o foco no ob-


jetivo da pesquisa. Quando nenhuma nova informação ou nenhum novo tema é registrado, atin-
giu-se o ponto de saturação.

Considerações finais
Conforme verificamos neste capítulo, a determinação de fontes de dados e amostras popu-
lacionais adequadas é fundamental para o desenvolvimento e a conclusão de estudos científicos
confiáveis. A seleção adequada desses elementos de pesquisa pode, além de atribuir qualidade ao
estudo gerado, evitar vieses e distorções causadas por amostras mal definidas e fontes inadequadas.

Ampliando seus conhecimentos


• INFONET. Pesquisador realiza estudos há 20 anos sobre nanismo. Disponível em: https://
infonet.com.br/noticias/saude/pesquisador-realiza-estudos-ha-20-anos-sobre-nanismo/.
Acesso em: 22 mar. 2019.
A reportagem apresenta uma pesquisa longitudinal (realizada ao longo de 20 anos) que
visa compreender as causas do nanismo. A pesquisa foi realizada na Universidade Federal
do Sergipe (UFS), em parceria com a famosa Universidade Johns Hopkins, dos EUA. Vale
a pena conferir e entender a importância da coleta de dados e do monitoramento rigoroso
ao longo dos anos.
• SPOTLIGHT: segredos revelados. Direção: Tom McCarthy. Los Angeles, CA: Open Road
Films, 2015. Widescreen (128 min.), son., color., legendado. Tradução de: Spotlight.
O filme conta a história verdadeira de como o Boston Globe descobriu o escândalo de
abuso de crianças encoberto durante anos pela Arquidiocese católica local.
Vale a pena assistir ao filme por uma série de razões, entre elas a deter sido vencedor
do Oscar de melhor filme em 2016. Os jornalistas do Boston Globe investigam diversas
coberturas ao longo de anos que envolvem altos níveis da Igreja católica de Boston, levan-
tando uma onda de revelações em todo o mundo.

Atividades
1. Leia o texto Com incêndio em museu, Brasil tem sua maior perda histórica e científica, refe-
rente ao incêndio no Museu Nacional em 2018. Disponível em: https://folha.com/93gt6b2c.
Quais são os tipos de dados de perdidos? Por que essa perda é tão impactante para a ciência?

2. Com as fórmulas para cálculo do tamanho amostral, calcule o número de pessoas que de-
vem ser consultadas quanto à abertura de uma nova academia na região central de Curitiba.
Os empreendedores querem pelo menos 90% de grau de confiança e margem de erro máxi-
72 Métodos e técnicas de pesquisa

ma de 5%. Considere população de 150.000 pessoas maior de 20 anos que habita na região
central. Desvio-padrão = 0,5.

3. Que tipos de documentos podem ser usados como fontes de dados em uma pesquisa científica?

Referências
GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 6. ed. Porto Alegre: Bookman,
2012.

SAMPIERI, Roberto Hernández; COLLADO, Carlos Fernández; LUCIO, Pilar Baptista. Metodologia da pes‑
quisa. São Paulo: Mc Graw-Hill Interamericana Brasil, 2006.

THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto. Saturação em pesquisa qualitativa: estimativa empírica de dimen-


sionamento. Rev. PMKT [Internet]. v. 3, 2009.
8
Instrumentos de coleta e análise de dados

Neste capítulo, aprenderemos sobre as principais técnicas e instrumentos de pesquisa utili-


zados para coleta de dados e seu devido tratamento, de modo a melhor organizá-los e explorá-los.
Toda pesquisa implica o levantamento de dados de diversas fontes e, para isso, são utilizados
técnicas e instrumentos. Técnicas de pesquisa, como a entrevista, a coleta de dados via questioná-
rios e a observação, têm o objetivo de operacionalizar a pesquisa planejada. Já instrumentos de pes-
quisa são o próprio questionário, o roteiro de entrevista, o checklist de observação – documentos
onde se registram os resultados das técnicas aplicadas.
Há uma diversidade de técnicas e instrumentos de pesquisa mais adequados à pesquisa qua-
litativa e outros mais adequados à pesquisa quantitativa. Grosso modo, a pesquisa qualitativa é
estruturada em palavras, enquanto a quantitativa, em números. De forma mais completa, Creswell
(2010) define a pesquisa qualitativa como um meio para explorar e entender o significado atri-
buído a um problema social ou humano. Já a pesquisa quantitativa visa testar teorias objetivas ao
examinar relações entre variáveis.

Vídeo 8.1 Instrumentos para coleta de dados qualitativos


Conforme já mencionado, a pesquisa qualitativa é estruturada com palavras.
Portanto, vamos conhecer algumas técnicas e instrumentos para coletar palavras, se-
jam elas faladas ou escritas, originadas pelas pessoas, por unidades de análise ou pelo
próprio pesquisador (por meio de anotações).
Creswell (2010) salienta que os pesquisadores que adotam abordagem qualita-
tiva procuram coletar múltiplas formas de dados, tais como entrevistas, observações e
documentos, em vez de confiarem em uma única fonte de dados.
Os procedimentos de coleta na pesquisa qualitativa a serem tratados neste capí-
tulo são: observação, entrevista e levantamento de documentos.
• Observação implica que o pesquisador faça anotações de campo sobre o
comportamento e as atividades dos indivíduos no local de pesquisa. Nessas
anotações de campo, o pesquisador registra, de maneira não estruturada ou
semiestruturada, as atividades no local da pesquisa. Lembrando que os obser-
vadores qualitativos também podem desempenhar papéis ativos na pesquisa.
Como instrumento, os pesquisadores costumam utilizar um protocolo ob-
servacional para registrar as informações.
Yin (2016) considera que a observação (principalmente a participante) tem
sido praticada há mais de 100 anos na antropologia e há quase tanto tem-
po na sociologia. O mesmo autor salienta que, na observação participante,
74 Métodos e técnicas de pesquisa

o pesquisador torna-se o próprio instrumento, pois, além de anotações, ele terá os seus
cinco sentidos para ajudá-lo a medir e avaliar informações de campo. Além disso, exerce
com frequência seu próprio arbítrio ao decidir o que registrar.
• As entrevistas podem ser face a face, por telefone ou em grupo (focus group), com seis
a oito entrevistados em cada grupo. As questões utilizadas nas entrevistas em grupo são
não estruturadas e em geral abertas, em pequeno número, com a finalidade de inspirar
opiniões e conjecturas dos participantes.
Como instrumento, os pesquisadores utilizam um protocolo de entrevista para formu-
lar perguntas e registrar as respostas durante uma entrevista qualitativa. O registro da
entrevista pode ser manuscrito, gravado em áudio e até em vídeo. De qualquer forma,
o entrevistado deve ser informado sobre a forma de registro e estar seguro de que essas
informações somente serão utilizadas para a pesquisa. Trata-se de uma questão ética.
Segundo Marconi e Lakatos (2018), as entrevistas podem ser estruturadas ou padroni-
zadas, não estruturadas ou despadronizadas ou ainda constituir um painel. Nas estrutu-
radas, o entrevistador segue o roteiro à risca. Esse tipo de entrevista permite obter dos
entrevistados respostas às mesmas perguntas, propiciando melhor comparação. Na entre-
vista não estruturada, o entrevistador tem liberdade para alterar o roteiro preestabelecido
a fim de explorar mais amplamente uma determinada questão. A entrevista assemelha-se
a uma conversa. A função do entrevistador é de incentivo, levando o entrevistado a falar
sobre certo assunto, sem, entretanto, forçá-lo a responder. Já o formato denominado pai-
nel se trata da repetição de perguntas às mesmas pessoas a fim de comparar opiniões e
contribuições dos participantes.
Yin (2016) sugere que as entrevistas para a pesquisa qualitativa devem ser o menos es-
truturadas possível para que a comunicação torne-se natural e que de fato se tenha uma
conversa, e não um interrogatório. Para tanto, recomenda-se que o pesquisador fale mo-
deradamente, evite fazer múltiplas perguntas embutidas na mesma frase ou então fazer
uma pergunta atrás da outra sem dar ao entrevistado a chance de responder à pergunta
anterior. Quanto ao número de perguntas no roteiro, Yin salienta que deve ser o suficiente
para manter uma conversa fluida e, além disso, é preciso demonstrar interesse nas respos-
tas e tornar o processo semelhante a uma conversa natural.
• A coleta de documentos pode envolver documentos públicos (por exemplo, jornais, mi-
nutas de reuniões, relatórios oficiais) ou documentos privados (como diários pessoais,
cartas, e­mails). Creswell (2010) ainda menciona os materiais audiovisuais, cujos dados
podem assumir a forma de fotografias, objetos de arte, videoteipes ou quaisquer formatos
de som.
Segundo Marconi e Lakatos (2018, p. 54), “a característica da pesquisa documental é que
a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que
se denomina de fontes primárias”.
Para esses materiais, os registros são feitos por meio das anotações do pesquisador, com
ênfase novamente na captura das palavras e das frases exatas no material escrito. Atente
Instrumentos de coleta e análise de dados 75

somente para citar as fontes apropriadamente e não ser acusado de plagiar a propriedade
intelectual. As notas devem ser o mais completas possível, contendo também os detalhes
de que você necessita para citá-lo – por exemplo, as datas específicas, os nomes formais
e os títulos organizacionais associados necessários para citar o documento formalmente
(YIN, 2016).
Em qualquer forma de pesquisa empírica, é importante triangular evidências de múltiplas
fontes. Segundo Yin (2016), a ideia, anteriormente introduzida como um modo impor-
tante de reforçar a validade de um estudo, é determinar se dados de uma ou mais fontes
convergem ou levam ao mesmo resultado. Quanto mais você puder demonstrar tal con-
vergência, especialmente sobre resultados-chave, mais fortes serão suas evidências. O uso
da palavra triangulação aponta para a situação ideal em que as evidências de três fontes
divergentes convergem. Observe a Figura 1 a seguir.
Figura 1 – Triangulação dos dados

Observação

Informação

Documentos Entrevistas

Fonte: Elaborada com base em Yin, 2019.

Quanto mais fontes, métodos e interpretações forem acrescentadas ao estudo, mais credibi-
lidade ele terá. Segundo Yardley (2008), o termo triangulação advém da navegação, pois se utilizam
três pontos de referência diferentes para calcular a localização precisa de um objeto. Da mesma
forma, utilizam-se três pontos de referência diferentes para verificar ou corroborar um determi-
nado fato.
Não só fontes diferentes, como tipos de fontes diferentes possibilitam uma avaliação mais
precisa. Portanto, conforme exemplifica Yin (2016, p. 96),
[...] se você visse um evento com seus próprios olhos (uma observação direta),
e ele lhe fosse relatado por outra pessoa que o presenciou (um relato verbal) – e
ele fosse descrito de maneira semelhante em um relato posterior escrito por
uma terceira pessoa (um documento) – você teria considerável confiança em
seu relato daquele evento.

A necessidade de triangular está diretamente relacionada à necessidade de se prover preci-


são aos dados coletados. Evidentemente, quanto mais precisa for a coleta e o registro dos dados
(com uso de gravações, fotos, filmagens etc.), menor será a necessidade de buscar outras fontes
para corroborar as evidências (YIN, 2016).
76 Métodos e técnicas de pesquisa

Vídeo
8.2 Instrumentos para coleta de dados quantitativos
Neste capítulo, vamos estudar somente o questionário como instrumento para coleta de
dados quantitativos, por ser de fato o mais comumente empregado para esse fim. A título de
informação, são também utilizados formulários, que nada mais são do que questionários res-
pondidos pelo próprio entrevistador/pesquisador, face a face com o entrevistado. As etapas de
elaboração são exatamente as mesmas.
Malhotra (2012) define questionário como um conjunto formal de perguntas com o ob-
jetivo de obter informações dos entrevistados/respondentes.
A elaboração de um bom questionário de pesquisa é uma arte. Além de ser compreensí-
vel e de fácil preenchimento pelos respondentes, deve também conter as informações necessá-
rias para se responder à pergunta de pesquisa.
A elaboração de perguntas que os entrevistados consigam responder, proporcionando
as informações desejadas, é uma tarefa difícil e, por vezes, bastante desafiadora. Além disso, o
questionário deve sempre minimizar o erro de resposta, ao evitar que os entrevistados deem
respostas imprecisas ou incorretas advindas de dificuldades de interpretação ou ambiguidades.
Para elaborar um bom questionário, Malhotra (2012, p. 243) recomenda algumas etapas:
1. Especificação das informações necessárias: rever escopo, objetivos e hipóteses de pes-
quisa. Definir população-alvo de respondentes.
2. Especificação do tipo de método de entrevista: se o questionário será respondido face
a face ou por telefone com o respondente ou se será autoaplicado, ou seja, o respon-
dente responde sozinho ao questionário enviado por e-mail ou correio.
3. Determinação do conteúdo de perguntas individuais: consiste em verificar o que deve
conter cada pergunta. Por exemplo: Esta pergunta é realmente necessária? A pergunta
está clara? Quais serão as possíveis respostas a esta pergunta? Como estas respostas,
neste formato, contribuirão de maneira eficaz para meu objetivo da pesquisa?
4. Planejamento das perguntas de forma a torná-las “atrativas” e interessantes. Malhotra
(2012) salienta que há pessoas que têm muita dificuldade em dar as informações de-
sejadas, seja por falta de informação, esquecimento ou simplesmente por não estar
disposto a responder. O autor sugere questões “filtro”, tais como: Você se interessa
por pesca esportiva? Dessa forma, há apenas duas possibilidades (sim ou não) como
resposta. Assim, caso o entrevistado realmente não tenha interesse no assunto, pro-
vavelmente não contribuirá para sua pesquisa, e você também já o dispensa de gastar
seu tempo.
5. Decisão quanto à estrutura da pergunta: as perguntas podem ser estruturadas ou não
estruturadas. As não estruturadas são perguntas abertas a que o entrevistado respon-
de com suas próprias palavras, por exemplo: O que você acha da nova logomarca da
empresa Beta? Já as estruturadas especificam o conjunto de respostas alternativas e o
Instrumentos de coleta e análise de dados 77

formato da resposta. Exemplo: Você pretende comprar um carro novo nos próximos seis
meses? Responda de 1 (certamente não comprarei) a 5 (certamente comprarei).
6. Determinação do enunciado da pergunta: é a tradução do conteúdo e da estrutura da
pergunta em palavras, de forma que os entrevistados possam compreendê-la facilmente.
7. Organização das perguntas em ordem adequada: a separação entre “blocos” de informa-
ção pode ajudar o respondente a se localizar durante o preenchimento do questionário. A
sequência de perguntas também contribui para assegurar a fluidez de resposta.
8. Identificação do formato e layout do questionário: o formato, o espaçamento e o posicio-
namento das perguntas podem ter um efeito significativo sobre os resultados. Da mesma
forma, o modo de condução favorece o correto preenchimento. Sugere-se elaborar um
pequeno fluxo de como será encaminhado o questionário quando houver algumas per-
guntas-chave (exemplo: resposta “sim” segue um determinado caminho; resposta “não”
segue outro).
9. Reprodução do questionário: se será em papel ou via link, é importante verificar se todas
as questões estão legíveis e completas (por exemplo, perguntas numa página, escalas em
outra).
10. Realizar um pré-teste do questionário: uma das etapas mais importantes na pesquisa
quantitativa é a realização de um pré-teste com o questionário elaborado. Seu objetivo é
identificar e eliminar problemas potenciais. Todos os aspectos do questionário precisam
ser testados, do conteúdo da pergunta ao layout. “Os entrevistados no pré-teste devem ser
semelhantes aos entrevistados da pesquisa real em termos de características fundamen-
tais, familiaridade com o assunto e atitudes e comportamentos de interesse.” (Malhotra,
2012, p. 243).

Vídeo 8.3 Técnicas para análise de dados qualitativos


Após coletarmos todos os documentos, artigos, transcrições de entrevistas,
como analisamos todos esses textos a fim de obter contribuições significativas para
nossa pesquisa?
Neste capítulo, duas técnicas serão apresentadas: a análise de conteúdo e a
análise de discurso.
A análise de conteúdo é uma técnica de interpretação analítica de textos
visando à inferência de conhecimentos relativos à realidade estudada (BARDIN,
2009). Conforme salienta Abela (2002), tanto dados expressos claramente quanto
os latentes (o que é dito sem intenção) apresentam sentido e podem ser captados
dentro de um contexto. Portanto, texto e contexto são dois aspectos fundamentais
na análise de conteúdo.
Mesmo que a análise de conteúdo não siga etapas rígidas, valem as reco-
mendações de Bardin (2009), ao considerar que a análise de conteúdo em uma
investigação organiza-se em torno de três polos cronológicos:
78 Métodos e técnicas de pesquisa

• A pré-análise: que consiste na fase da organização. É o momento de realização da leitura


flutuante, em que se estabelece o primeiro contato com o texto, deixando-se invadir por
impressões e orientações.
• A segunda etapa é a exploração do material, fase em que o conteúdo é submetido a uma
análise mais aprofundada, orientado em princípio pelas hipóteses formuladas e pelo refe-
rencial teórico, surgindo aqui quadros de referências na busca de síntese de coincidências
e divergências de ideias.
• Por fim, ocorre o tratamento e a interpretação dos resultados obtidos. Reflexões e intui-
ções a partir do material analisado possibilitam relações com a realidade, aprofundando
as conexões com as ideias determinadas pelo referencial teórico.
Talvez o procedimento mais importante na condução de uma análise de conteúdo seja a
atribuição de códigos a extratos dos textos. Na análise categorial, os critérios de codificação estão
orientados nos objetivos específicos da pesquisa e podem ser preestabelecidos conforme teoria ou
então identificados durante a leitura do conteúdo coletado.
Outra análise de dados qualitativos bastante utilizada é a revisão sistemática de literatura
– RSL. Nesta, um levantamento exaustivo de literatura é feito a fim de atingir um objetivo bem
definido. Diferentemente da fundamentação teórica do trabalho, a RSL tem um objetivo bastante
específico e visa coletar informações de diversos autores sobre determinado tema proposto.
Como resultados, pode-se fazer levantamento de publicações por áreas de interesse, construir
redes de relacionamento entre autores ou pesquisadores, verificar distribuição de publicações sobre
o tema em diferentes regiões, entre outras informações importantes principalmente para a comuni-
dade científica. A seguir, na Figura 2, veja um dos possíveis resultados após a revisão de literatura.
Figura 2 – Frequência de estudos empíricos sobre comportamento organizacional micro no terceiro setor

Comportamento de fuga e esquiva


no trabalho 1

Cultura organizacional 1

Motivação no trabalho 1

Desempenho produtivo de indivíduos,


2
gerentes e equipes

Tomada de decisão e julgamentos 2

Cognição no trabalho 3

Contratos psicológicos 3

Aprendizagem natural/ induzida


4
no trabalho e sua transferência

Bem-estar e saúde no trabalho 4

Significado do trabalho, dos seus


4
produtos e identidade no trabalho

Afeto no trabalho 6

Interações sociais nas equipes e


nas organizações de trabalho 8

0 2 4 6 8 10

Fonte: adaptado de Do Nascimento, Borges-Andrade e Porto (2016, p. 371).


Instrumentos de coleta e análise de dados 79

Vídeo 8.4 Instrumentos para análise de dados quantitativos


Dados quantitativos são analisados posteriormente com auxílio de ferramentas
que vão de planilhas simples até softwares estatísticos de alta performance.
Desde o início do trabalho, é importante que se estabeleça o objetivo da análise,
pelo que se procura, se será descrição de uma população ou então se há relações entre
as variáveis. Isso porque as ferramentas estatísticas mudam de acordo com o tipo de
relação que se quer verificar.
No caso de a pesquisa visar à simples análise descritiva da população analisada, o
uso de análises tais como histogramas, paretos, curvas de distribuição, box plots é indica-
do. No caso de buscar relações de associação entre variáveis, sugerem-se as ferramentas de
correlação, análise de clusters (aglomerados) ou ainda Anova (analysis of variance), entre
outras. Por fim, para verificar se há relações de causalidade entre variáveis, há ferramentas
estatísticas mais sofisticadas, como a análise de regressão (linear ou multivariada), a re-
gressão logística e a análise de equações estruturais (SEM).
A maior parte dessas análises necessita da utilização de softwares estatísticos de
apoio, às vezes bastante caros. Por isso, é importante considerar esse custo ao elaborar o
seu plano de pesquisa.

Vídeo
8.5 Articulação entre os resultados e a teoria
A análise dos resultados engloba a comparação entre o que vimos na teoria e o
que encontramos empiricamente. Por vezes, os resultados confirmam a teoria existente,
mas ocorre, e não raro, de encontrarmos contextos, situações que desviam totalmente
o resultado do esperado. Nesses casos, é preciso explicar o que houve da maneira mais
detalhada possível.
É importante salientar que a fundamentação teórica feita no início do trabalho
não deve ser esquecida. A verificação da teoria em diferentes contextos segue exatamen-
te o princípio da testagem, defendido por Popper (1975), que prega que as teorias devem
ser continuamente submetidas à testagem a fim de verificar se estas mantêm-se verda-
deiras em quaisquer condições. Para o filósofo, a partir do momento em que se falseia
uma teoria, gera-se progresso da ciência, pois ela será substituída por uma teoria melhor
e mais adequada à realidade. Portanto, a teoria não é estática, deve ser continuamente
testada e, eventualmente, gerar nova teoria.
As hipóteses orientam a pesquisa; a pesquisa, por sua vez, leva à descoberta de
novas teorias (por meio da corroboração ou da refutação das hipóteses). Novas teorias
levam a novas hipóteses e assim se forma o ciclo.
A seguir veja os Quadros 1 e 2 que resumem os instrumentos e as técnicas utiliza-
dos e respectivos tipos de dados.
80 Métodos e técnicas de pesquisa

Quadro 1: Instrumentos de coleta x tipos de dados coletados

Instrumento de coleta Tipos de dados coletados

Gravações e filmagens (que podem ser transcritas ou não). Anotações durante a


Entrevistas
entrevista.

Observação Anotações do observador durante observação direta ou indireta.

Anotações, fichamentos do pesquisador. Cópias dos documentos, arquivos com


(Continua)
Levantamento de documentos
informações sobre autor, edição, ano etc.

Dados de questionário que podem ser com uso de escalas (ex. Likert) ou inser-
Survey
ções numéricas diretas (ex. idade, sexo etc)
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Quadro 2: Técnicas de análise x tipos de dados a serem analisados

Técnica de análise Tipos de dados analisados


Textos tais como entrevistas transcritas, documentos (leis, regulamentos, ins-
Análise de conteúdo truções, etc), textos das redes sociais (Twitter, Facebook) que sejam o foco da
análise.

Revisão sistemática de literatura Livros e artigos de periódicos científicos, artigos em anais, conferências.

Dados numéricos, que podem ser dados secundários, dados inseridos no questio-
Análises estatísticas
nário diretamente ou provenientes de escalas.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Considerações finais
Conforme verificamos neste capítulo, há técnicas específicas para a coleta e a análise dos
dados qualitativos e quantitativos. Como há um número bastante grande de técnicas, concentra-
mo-nos nas mais utilizadas.
Para um trabalho teórico-empírico que deve constituir a maioria dos trabalhos de conclusão
de curso, esta é uma etapa crucial para legitimar a pesquisa feita. Mesmo se os resultados não forem
positivos ou conforme o que você esperava, isso não deve ocorrer devido às técnicas utilizadas,
mas sim ao contexto desfavorável ou a outras limitações de pesquisa comuns.
Não pule etapas! Não é essa parte do trabalho que deve ser resumida ou negligenciada. Aliás,
nenhuma parte deve ser, mas esta, principalmente!
A seguir, mostramos um esquema na Figura 3, com a visão geral das técnicas abordadas
neste capítulo. Aproveite-o para planejar e organizar suas pesquisas.
Instrumentos de coleta e análise de dados 81

Figura 3 – Esquema para estudo das técnicas estudadas

Roteiro de
Entrevistas
entrevistas

Coleta de dados Roteiro / checklist


Observação
qualitativos de observação

Levantamento Anotações /
de documentos Fichas
Pesquisa
qualitativa
Análise de Codificação softwares
conteúdo (QDAS)
Análise de dados
qualitativos
Revisão Sistemática Sociograma /
Técnicas de
de Literatura bibliometria
pesquisa

Coleta de dados Survey ou


Questionário
quantitativos levantamento de campo
Pesquisa
quantitativa
Análise de dados Análises Planilhas / softwares
quantitativos estatísticas estatísticos

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Ampliando seus conhecimentos


• ERIN Brockovich – Uma mulher de talento. Direção: Steven Soderbergh, Califórnia
(EUA): Universal Pictures, 2000.
O filme conta a história verdadeira de uma mãe solteira desempregada (Erin) que se tor-
na assistente legal e praticamente sozinha consegue provocar a ruptura de uma poderosa
empresa na Califórnia, acusada de poluir o fornecimento de água de toda uma cidade.
O que há de interessante do ponto de vista metodológico? Preste atenção na coleta de
documentos realizada por Erin. Graças à sua curiosidade e persistência, ela conseguiu
evidências suficientes para provar sua hipótese.
• HOFFMAN, Jan. Vacina contra sarampo não causa autismo, reafirma novo estudo com
Big Data. Folha de S.Paulo. Disponível em:https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesau-
de/2019/03/vacina-contra-sarampo-nao-causa-autismo-reafirma-novo-estudo-com-big-
data.shtml. Acesso em: 27 mar. 2019.
Em 7 de março de 2019, a Folha republicou reportagem do New York Times, em que se
derruba um mito. A reportagem resume o estudo e usa uma linguagem menos acadêmica,
mas é possível perceber claramente que os dados coletados e a forma como o estudo foi
conduzido conferem segurança sobre a inexistência de qualquer vínculo entre a vacina
contra o sarampo e o autismo.
82 Métodos e técnicas de pesquisa

Atividades
1. Dos projetos a seguir, defina para cada um o universo (população) a ser pesquisado, o ins-
trumento de pesquisa e o tipo de amostragem mais adequado.

a) Projeto de pesquisa sobre a opinião dos professores e alunos de literatura acerca dos
e-books.
b) Projeto de pesquisa sobre a idade média e o perfil socioeconômico dos eleitores brasileiros.
c) Projeto de pesquisa sobre o ajustamento de ex-presidiários ao mercado de trabalho.

2. Diferencie a observação e a entrevista enquanto procedimentos de coleta na pesquisa qua-


litativa.

3. Um estudo de caso visa verificar como se dá o relacionamento professor-aluno numa univer-


sidade. Quais documentos e dados poderiam contribuir com esse estudo?

Referências
ABELA, Jaime A. Las técnicas de análisis de contenido: una revisión actualizada. Documento de trabalho
da Fundación Centro de Estudios Andaluces, Sevilla, 2002. Disponível em: http://www.albertomayol.cl/
wp-content/uploads/2014/08/Andreu-Analisis-de-contenido.pdf. Acesso em: 25 mar. 2019.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 5. ed. Lisboa: Edições 70, 2009.

CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2010.

DA SILVA, Stéfano J. T.; TERENCE, Ana Cláudia Fernandes; ESCRIVÃO FILHO, Edmundo. Planejamento
estratégico e operacional na pequena empresa: um estudo sobre sua influência no desempenho dos empreen-
dimentos do setor de base tecnológica de São Carlos. Iniciação científica e tecnológica: o jovem pesquisador
em ação, USP – São Carlos, 2008.

GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

HOFFMAN, Jan. Vacina contra sarampo não causa autismo, reafirma novo estudo com Big Data. Folha de
S.Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/03/vacina-contra-sarampo
-nao-causa-autismo-reafirma-novo-estudo-com-big-data.shtml. Acesso em: 27 mar. 2019.

MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 6. ed. Porto Alegre: Bookman,
2012.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2018.

POPPER, Karl. Conhecimento objetivo: uma abordagem evolucionária. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo,1975.

YARDLEY, Lucy. Demonstrating validity in qualitative psychology. Qualitative psychology: a practical guide
to research methods, v. 2, p. 235-251, 2008.

YIN, Robert K. Pesquisa qualitativa do início ao fim. Porto Alegre: Penso, 2016.
9
Elaboração de relatórios e conclusões

Enfim chegamos ao momento de preparar o produto final após tantas pesquisas, estudos e
análises. Neste capítulo, estudaremos os padrões existentes para compor um trabalho científico,
que servirão como instrumento de divulgação do seu estudo.
Aproveite cada item, pois são informações relevantes para o seu desenvolvimento acadêmi-
co e profissional.
Na linguagem científica, há padrões como em qualquer outra forma de expressão. Para que
o material seja reconhecido pela comunidade acadêmica, é necessário que ele apresente uma es-
trutura, um formato e siga regras de publicação. Nossa abordagem visa esclarecer alguns detalhes
acerca desses procedimentos, oferecendo condições para buscar informações complementares em
outras fontes.

Vídeo 9.1 Estrutura do relatório de pesquisa


A estrutura de um relatório de pesquisa possui tópicos obrigatórios e opcionais.
Antes de elaborar seu relatório, é importante verificar qual modelo a instituição, à qual
você está vinculado, utiliza. Há características específicas de cada instituição, que em geral
oferece um descritivo em forma de manual ou no formato de orientação para a produção
de estudos.
Na sequência, apresentamos o Quadro 1, que contempla duas proposições de estru-
tura de relatório de pesquisa:
Quadro 1 – Estrutura do relatório de pesquisa

Lakatos e Marconi (2017) Vergara (2016)


1. Apresentação;
2. Resumo (Abstract);
1. Agradecimentos;
3. Sumário;
2. Apresentação;
4. Introdução;
3. Resumo;
5. Revisão bibliográfica;
4. Lista de símbolos e abreviaturas;
6. Metodologia;
5. Lista de ilustrações;
7. Embasamento teórico;
6. Sumário;
8. Apresentação dos dados e sua análise;
7. Introdução;
9. Interpretação dos resultados;
8. Desenvolvimento;
10. Conclusões;
9. Resultados;
11. Recomendações e sugestões;
10. Conclusões;
12. Apêndices;
11. Sugestões e recomendações.
13. Anexos;
14. Bibliografia.
Fonte: Adaptado de Lakatos e Marconi (2017); Vergara (2016).
84 Métodos e técnicas de pesquisa

Observe que os tópicos primordiais em um relatório de pesquisa são: resumo, sumário, in-
trodução, referencial teórico, metodologia, resultados, conclusões, referências bibliográficas.
Entretanto, há elementos que podem ser acrescentados, conforme a necessidade, como: agradeci-
mentos, lista de símbolos e abreviaturas, lista de ilustrações, apêndices e anexos.
Outra forma de se referir aos elementos que compõem a estrutura do relatório de pesquisa
é dividi-los em elementos pré-textuais, elementos textuais e elementos pós-textuais. Observe o
Quadro 2.
Quadro 2 – Elementos obrigatórios e opcionais do relatório de pesquisa

Elementos pré-textuais

Obrigatório Opcional

Folha de rosto X

Agradecimentos X

Resumo na língua vernácula X

Resumo na língua estrangeira X

Lista de símbolos e abreviaturas X

Lista de ilustrações X

Sumário X

Elementos textuais

Introdução X

Desenvolvimento X

Conclusão X

Elementos pós-textuais

Referências X

Apêndices X

Anexos X

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Lembre-se de que no desenvolvimento do seu relatório de pesquisa você incluirá o referen-


cial teórico, a metodologia e os resultados do estudo. É possível abrir subitens dentro do desenvol-
vimento, para que você inclua de forma separada os temas seguintes aos assuntos principais.
Vejamos alguns exemplos dos elementos obrigatórios em um relatório de pesquisa. Segundo
Vergara (2016), o resumo é uma síntese do que você escreveu em seu relatório, pontuando as prin-
cipais ideias, como objetivo, metodologia, resultados e considerações finais. Ele deve ter até 250
palavras, dependendo da norma a ser empregada. Também deve ser colocado em espaço simples,
fonte 10 e em um único parágrafo. Ao final, devem ser incluídas três palavras-chave que represen-
tem seu trabalho.
Elaboração de relatórios e conclusões 85

RESUMO
O texto do resumo deve ter de 200 a 250 palavras. Deve conter a apre-
sentação do tema, o problema ou objetivo geral da pesquisa, a metodo-
logia e os principais resultados. Deve ser redigido em parágrafo único,
fonte 10 e espaçamento simples entre linhas. Resumo resumo resumo
resumo resumo resumo resumo resumo resumo resumo resumo.
Palavras-chave: Palavra 1. Palavra 2. Palavra 3.

Observe a Figura 1 a seguir, que apresenta um recorte do artigo Uso da IoT, Big Data e
Inteligência Artificial nas capacidades dinâmicas, de autoria de Mendonça, Andrade e Souza Neto
(2018).
Figura 1: Exemplo de resumo de um artigo científico

Resumo
O objetivo do artigo foi descrever a utilização e importância de ele-
mentos da transformação digital (IoT, Big Data e Inteligência Artificial)
como apoio aos processos das capacidades dinâmicas em organizações
de uma capital brasileira. A pesquisa caracterizou-se como explorató-
ria e descritiva, com abordagem quantitativa. Foram selecionados 53
questionários de gestores de negócios e TI. Foi identificado que, na per-
cepção de gestores de negócio e de TI, os elementos da transformação
digital, mesmo com a utilização relativamente baixa, principalmente
da IoT e IA, e como melhor destaque para Big Data, são avaliadas com
importância, seja nos dias atuais, bem como, na perspectiva até 2025,
nos processos que envolvem as capacidades dinâmicas de analisar o am-
biente (Sensing), aproveitar as oportunidades (Seizing) e gerir ameaças
e transformações (Managing Threats/Transforming). Com maior desta-
que do Big Data nos processos da capacidade dinâmica de aproveitar as
oportunidades.
Palavras-chave: Transformação Digital. Capacidades Dinâmicas.
Internet das coisas. Big Data. Inteligência Artificial.

Fonte: Mendonça; Andrade; Souza (2018, p. 1)


86 Métodos e técnicas de pesquisa

Na sequência, você deve traduzir o resumo para uma língua estrangeira, em geral o inglês;
ainda podem ser usados o francês, o espanhol ou o italiano. Confira como foi feito para o artigo de
Mendonça; Andrade e Souza (2018), conforme mostra a Figura 2:
Figura 2: Exemplo de abstract de um artigo científico

Abstract
The objective of the article was to describe the use and importance of ele-
ments of digital transformation (IoT, Big Data and Artificial Intelligence)
as support for processes of dynamic capabilities in organizations of a
Brazilian capital. A research is characterized as exploratory and des-
criptive, with a quantitative approach. 53 questionnaires were selected
from business managers and IT managers. It has been identified that
in the perception of business and IT managers the elements of digital
transformation, even with relatively low information, mainly from IoT
and IA, with a better focus on Big Data, are evaluated with importance,
both nowadays, as well as in practice, up to 2025, in processes involving
the dynamic capabilities of analyzing the environment (Sensing), seizing
opportunities and managing as threats and transformations (Managing
Threats / Transforming). With greater emphasis on Big Data in the pro-
cesses of the dynamic ability to seize as opportunities.
Keywords: Digital Transformation. Dynamic Capabilities. Internet of
Things. Big Data. Artificial Intelligence.

Fonte: Mendonça, Andrade e Souza Neto (2018, p. 1)

A introdução é a apresentação do que será demonstrado em seu relatório, uma contextua-


lização do tema, os objetivos, o problema, a hipótese e o que os capítulos subsequentes oferecerão
de informação.
No desenvolvimento, inclua o referencial teórico, que pode apresentar subtítulos, conforme
a distribuição do assunto. Por exemplo, se o desenvolvimento é o tópico 2, os subtítulos e subitens
serão 2.1, 2.2, 2.2.1, 2.2.2 etc.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS
2.2 SUBSISTEMAS DE RECURSOS HUMANOS
2.2.1 Recrutamento e seleção
2.2.2 Análise e descrição de cargo
2.2.3 Treinamento
Elaboração de relatórios e conclusões 87

Dê sequência ao desenvolvimento, em um novo item, incluindo a metodologia utilizada


em seu estudo e os resultados obtidos – este último será feito de forma discursiva e com tabelas,
gráficos, quadros, imagens etc.
No que diz respeito à formatação, observe que o espaçamento é 1,5 cm entre linhas, fonte 12
e justificado. Conforme a subdivisão dos capítulos, você incluirá letra maiúscula e negrito, depois
somente letra maiúscula, em seguida letra minúscula e negrito, de acordo com o exemplo apresen-
tado no box anterior.
A conclusão ou considerações finais é o momento em que você expõe se os objetivos foram
ou não atingidos, se houve limitações e faz a relação entre fatos e teoria.
A maneira de redigir as conclusões deve ser precisa e categórica, sendo as mes-
mas pertinentes e ligadas às diferentes partes do trabalho. Dessa forma, não
pode perder-se em argumentações, mas, ao contrário, tem de refletir a relação
entre os dados obtidos e as hipóteses enunciadas. (LAKATOS; MARCONI,
2017, p. 232)

Nas referências bibliográficas você inclui os livros, artigos científicos e demais materiais
utilizados durante a elaboração do seu relatório de pesquisa. Veja alguns modelos:

SOBRENOME, Nome do autor; SOBRENOME, Nome do autor. Título


do livro em negrito: subtítulo sem negrito. Edição. Local: Editora, ano.
Xx p.
SOBRENOME, Nome do autor; SOBRENOME, Nome do autor;
SOBRENOME, Nome do autor. Título do livro em negrito. Edição.
Local: Editora, ano. Xx p.
SOBRENOME, Nome do autor. Título do artigo. Nome da revista em
negrito, Cidade, v. 00, n. 11, p. 111-222, jan. 2011.
SOBRENOME, Nome do autor. Título do artigo. Nome da revista em
negrito, Cidade, v. 00, n. 11, p. 111-222, jan. 2011. Disponível em: www.
xxxxxx.com. Acesso em: 12 jan. 2012.
NOME DO SITE. Título. Disponível em: www.xxxxxx.com. Acesso em:
12 jan. 2012.

Se você observar com atenção, o sobrenome do autor fica em maiúscula, e o nome, não; o
título do livro fica em negrito, depois vêm, na ordem apresentada, as demais informações, como
edição, cidade, editora, ano e páginas.
Além dessas, devemos considerar algumas normas gerais de formatação que visam assegu-
rar um padrão de apresentação dos trabalhos científicos. Aspectos gerais estão apresentados no
Quadro 3:
88 Métodos e técnicas de pesquisa

Quadro 3 – Aspectos gerais de formatação

Folha: A4 (210 x 297 mm). A ABNT já permite a impressão frente e verso, caso você queira.

Margens frente: esquerda e inferior com 3 cm, superior e direita com 2 cm.

Margens verso: esquerda e inferior com 2 cm, superior e direita com 3 cm.

Fonte: Arial ou Times New Roman, 12.

Espaçamento entre linhas: 1,5 cm.

Parágrafo: deixar 1,25 cm da margem esquerda.


Fonte: Elaborado pelas autoras a partir da ABNT, 2002.

Considere sempre os direcionamentos da instituição quanto às normas. Caso não haja ins-
truções da instituição, siga o padrão ABNT ou APA – os mais utilizados no Brasil.

Vídeo 9.2 Normas da ABNT: conceitos básicos


A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é uma entidade privada e sem
fins lucrativos, fundada em 1940. Ela regulariza e normatiza diferentes tipos de normas
brasileiras, inclusive vinculadas à ISO (International Organization for Standardization –
Organização Internacional de Normalização), oferecendo algumas certificações.
Em relação às normas de produção de trabalhos acadêmicos, há uma específica para
cada situação, por exemplo, normas para citações, referências, sumário, projetos de pesquisa
etc. Para consultar essas normas, é necessário adquirir o material pelo site www.abnt.org.br
ou consultar a biblioteca de uma universidade, a qual terá diferentes manuais fundamenta-
dos na ABNT.

Vídeo
9.3 Cronograma de pesquisa
Assuntos mais administrativos e burocráticos de uma pesquisa também são respon-
sabilidade do pesquisador. Muitas vezes, o sucesso de um trabalho científico está na orga-
nização e no planejamento do tempo e do dinheiro. Portanto, vale a pena investir atenção
no cronograma de sua pesquisa, a fim de pontuar as etapas e o tempo destinado a elas. Gil
(2002) apresenta uma proposta de cronograma demonstrada no Quadro 4.
Quadro 4 – Modelo de cronograma de projeto

Semanas/meses
Etapas
1 2 3 4 5 6 7 8

1 Especificação dos objetivos X

2 Operacionalização dos conceitos X

3 Elaboração do questionário X

4 Pré-teste do questionário X

5 Seleção da amostra X

6 Impressão dos questionários X

(Continua)
Elaboração de relatórios e conclusões 89

Semanas/meses
Etapas
1 2 3 4 5 6 7 8

7 Seleção dos pesquisadores X

8 Treinamento dos pesquisadores X

9 Coleta de dados X

10 Análise e interpretação dos dados X X

11 Redação do relatório X X

Fonte: Adaptado de Gil, 2002, p. 156.

Leve em consideração que o cronograma é um instrumento de orientação. Em alguns casos,


as datas poderão ser reprogramadas, desde que em consenso com as demais pessoas e instituições
envolvidas no processo.
Vídeo
9.4 Orçamento (quando aplicável)
Para que fazer um orçamento da pesquisa, se você sabe que não terá grandes custos?
Muitos pesquisadores são financiados por agências de fomento à pesquisa ou a própria ins-
tituição de ensino oferece um subsídio ao trabalho científico. Assim, você poderá ter mais
chances de receber essa ajuda financeira e se apresentará com mais profissionalismo.
O Quadro 5 traz um modelo de orçamento de projeto. Perceba que é relativamen-
te simples. Haverá necessidade de detalhá-lo, caso a agência de fomento ou instituição
demande.
Quadro 5 – Modelo de orçamento de projeto

Recurso Motivo Custo estimado


Suporte para softwares de análise de dados qualitativos e
Computador R$ 3.000,00
quantitativos

Viagens nacionais (passagem + hos- Realização de entrevistas e participação em congressos e


R$ 5.000,00
pedagem) encontros de pesquisa

Serviço terceirizado Transcrição de entrevistas e revisão da tradução R$ 2.000,00

Custo total estimado para o projeto R$ 10.000,00


Fonte: Elaborado pelas autoras.

Os custos que devem ser elencados são aqueles que se referem aos gastos com mate-
riais e pessoas. Você pode construir uma tabela, com os itens do lado esquerdo e o valor do
lado direito, apresentando os valores individuais e a soma total.
Vídeo
9.5 Artigo científico
Em um artigo científico se apresentam pesquisas realizadas com os diferentes mé-
todos e técnicas. Ele é mais conciso que um livro e pode ser publicado isoladamente em
revistas e periódicos.
90 Métodos e técnicas de pesquisa

No âmbito acadêmico, é muito comum o uso de artigos científicos para expor ideias, afinal é
um ambiente em que a busca pelo conhecimento científico impera. Assim, o artigo científico tanto
pode ser utilizado como meio de obter informações e dados quanto como forma de apresentar o
produto de alguma pesquisa.
A estrutura de um artigo científico tem basicamente os mesmos elementos que um relatório
de pesquisa, porém o artigo é mais enxuto, mantendo como informações primordiais a introdução,
o desenvolvimento e a conclusão. A variação que ocorre nos artigos científicos está nas padroni-
zações estipuladas pelas universidades ou pelos órgãos de publicação. É interessante ficar atento
ao padrão da instituição para a qual você elaborará o artigo, para utilizar o formato adequado. De
acordo com Silva et al. (2012), temos os seguintes tópicos:
• Pré-textuais: são aqueles elementos que antecedem o corpo do artigo científico.
• Título e subtítulo (quando for o caso): deve ser claro e representar o tema do artigo.
• Autor(es): incluir o nome completo dos autores e indicar um breve currículo como
nota de rodapé.
• Resumo e palavras-chave na língua do texto: que contenha as informações principais
do artigo, como objetivos, metodologia, resultados e conclusões.
• Resumo e palavras-chave em língua estrangeira.

• Textuais: seguem as mesmas orientações do relatório de pesquisa.


• Introdução.
• Desenvolvimento.
• Conclusão.

• Pós-textuais: são os elementos que complementam o artigo científico.


• Referências: incluir o material utilizado para compor o artigo científico.
• Título e subtítulo (quando for o caso) em língua estrangeira.
• Anexo(s): caso haja algum documento a ser apresentado.

A escrita de um artigo científico é diferente da dos textos escritos informalmente, pois é


necessário seguir parâmetros científicos, evitando posicionamentos pessoais e jargões populares.
A padronização da escrita do artigo é uma forma de torná-lo universal, a fim de que a informação
ali divulgada seja democraticamente conhecida.
Em síntese, escrever um artigo científico perpassa a estrutura básica apresentada na Figura 3:
Figura 3 – Estrutura básica de um artigo

INTRODUÇÃO REVISÃO DA CONCLUSÃO


O quê? LITERATURA METODOLOGIA RESULTADOS O quê?
Por quê? O quê? Como? O quê? Por quê?
Como? Como? Como?

Fonte: Elaborada pelas autoras.


Elaboração de relatórios e conclusões 91

Vídeo
9.6 Publicação científica
Vimos anteriormente componentes relevantes para a produção científica, como es-
trutura de relatórios de pesquisa e de artigos científicos, bem como aspectos de formatação.
Porém, esse processo culmina com a publicação do produto oriundo da pesquisa.
Para que você tenha um artigo publicado, primeiro precisa fazer uma seleção dos pe-
riódicos na área do seu tema de estudo e verificar os pré-requisitos para a publicação. Existe
uma classificação dos periódicos de publicação estabelecida pela Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), denominado Qualis, um sistema para clas-
sificar a produção científica. Essa classificação se inicia em A1 (a mais alta), passando por
A2, B1, B2, B3, B4, B5, e terminando em C (com peso zero). Quando você escolhe uma re-
vista para publicar, é importante verificar essa classificação: quanto maior, mais demonstra
que você está publicando em uma revista que tem alta qualidade científica1.
Existem diferentes plataformas que auxiliam nesse processo de publicação, orientan-
do sobre as regras específicas de cada uma delas. A Capes sugere alguns endereços eletrôni-
cos de algumas bases indexadoras de periódicos:
• MEDLINE: https://www.nlm.nih.gov/bsd/pmresources.html
• SCOPUS: https://www.scopus.com/
• JCR: https://jcr.incites.thomsonreuters.com/
• LILACS: http://lilacs.bvsalud.org/
• SciELO Brasil: http://www.scielo.br/criteria/scielo_brasil_pt.html
Para você ter ideia das informações que as revistas incluem para publicação, veja na
Figura 4 as condições para submissão da Revista Brasileira de Pós-Graduação (RBPG):
Figura 4 – Condições para submissão

Como parte do processo de submissão, os autores são obrigados a veri-


ficar a conformidade da colaboração em relação a todos os itens listados
a seguir:
1. As contribuições devem ser condizentes com o foco da revista (refle-
xões, estudos e relatos de experiências sobre a pós-graduação stricto
sensu, que contemplem as peculiaridades desse nível de formação,
os programas existentes, as políticas relacionadas e as suas articula-
ções com a graduação, a educação básica, a pesquisa e a inovação).
2. Devem ser originais, inéditas e não devem estar sob análise para pu-
blicação por outra revista.

(Continua)

1 Para obter mais informações sobre o Sistema Qualis, é só acessar o site https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/. Para
conhecer melhor a Capes, acesse www.capes.gov.br.
92 Métodos e técnicas de pesquisa

3. Devem ser apresentadas para uma das seguintes seções: Debates,


Estudos e Experiências, por meio de cadastramento do usuário e in-
clusão do artigo neste site.
4. Os textos submetidos devem ter o formato Microsoft Word e não
ultrapassar 2MB.
5. O documento deve ser anexado sem menção da autoria e sem identi-
ficação nas propriedades e conter: a) título do trabalho em português,
inglês e espanhol; b) resumo de 100 a 250 palavras, composto por fra-
ses concisas e afirmativas, redigidas na terceira pessoa do singular ou
na voz ativa, em um parágrafo único; c) De três a seis palavras-chave
dispostas logo abaixo do resumo, formadas por expressões com no
máximo três termos e separadas por ponto; c) abstract e resumen,
assim como keywords e palabras clave, que sejam a tradução fiel e
correta do resumo em português; e d) corpo do texto, incluindo no-
tas e referências, tabelas, quadros e gráficos, quando utilizados, em
conformidade com as orientações da Associação Brasileira de Normas
Técnicas - ABNT.

Fonte: Revista Brasileira de Pós-Graduação. Disponível em: http://ojs.rbpg.capes.gov.br/index.php/rbpg/about/submissions#authorGuidelines.


Acesso em: 8 abr. 2019.

Esse é um trecho das orientações2 que a RBPG estabeleceu para que autores possam enviar
seus trabalhos para avaliação. No caso de aprovação, eles serão publicados. As regras de submissão
dos demais periódicos também estão disponíveis nas respectivas páginas (websites).

Vídeo
9.7 Conclusão
É muito comum os estudantes terem dificuldades para escrever a conclusão de um
trabalho por diversos fatores, tais como o cansaço, o prazo curto, o fato de não conseguir
olhar mais para o seu tema e, por fim, não saber exatamente que itens retomar na conclusão,
pois a impressão que tem é que já esgotou tudo que tinha sobre o tema da pesquisa. Então,
aqui, você encontra um passo a passo de como construir uma conclusão abordando todos
os aspectos necessários para que o leitor compreenda as reais contribuições geradas pelo seu
estudo.
• A primeira questão a ser apresentada na conclusão é se seu estudo respondeu à sua per-
gunta de pesquisa.

2 Consulta integral disponível em: http://ojs.rbpg.capes.gov.br/index.php/rbpg/about/submissions#authorGuidelines. Acesso em:


25 mar. 2019.
Elaboração de relatórios e conclusões 93

• Na sequência, retome seus objetivos de pesquisa e apresente argumentos para demonstrar


que eles foram operacionalizados.
• Se houver hipóteses de pesquisa, é importante apresentar se foram corroboradas ou refu-
tadas, indicando o contexto.
• Apresentar as contribuições que sua pesquisa deixará para o tema ou local em que o es-
tudo está inserido.
• Se houver novos achados, que não estavam presentes no início do estudo, é importante
detalhar na conclusão.
• Em alguns casos, também é solicitado que o autor aponte sobre a sua experiência ao longo
da pesquisa e a contribuição para sua vida.
• Por fim, é necessário indicar possíveis caminhos que seu estudo possa ainda percorrer –
indicações de estudos futuros.

Considerações finais
Após lermos sobre elaboração de relatórios, suas características, a importância da constru-
ção sólida de uma conclusão, chegamos à seguinte perspectiva: é preciso compreender a impor-
tância de seguir cada passo apresentado neste capítulo, desde as orientações de formatação até a
organização do conteúdo, para que a sua pesquisa seja aceita nos principais veículos de publicação
e seja reconhecida como um meio sério de obtenção de conhecimento pelos seus leitores. Não
existe nada mais gratificante para um pesquisador do que ter sua pesquisa aceita, publicada e lida
pelos interessados pela temática.
Goldenberg (2015, p. 13) afirma que “a pesquisa científica exige criatividade, disciplina, or-
ganização e modéstia, baseando-se no confronto permanente entre o possível e o impossível, entre
o conhecimento e a ignorância”. Dessa forma, compreendemos que trabalhar cientificamente exige
de cada um de nós empenho e resistência, pois lidar com (re)descobertas, (re)construções e (re)
significações não é fácil. Podemos dizer que é simples, se a prática for contínua, o espírito for hu-
milde e o objetivo for fiel!

AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS


• TEDx Talks. A ciência aberta pode salvar o planeta | Kamila Markram | TEDxBrussels.
[S. l.: s. n.], 2017. 1 vídeo (13 min). . Disponível em: https://www.youtube.com/watch?-
v=uPtP6-nAjJ0. Acesso em: 25 mar. 2019.
O vídeo apresenta uma crítica à limitação de acesso a alguns artigos científicos, dificul-
tando que a sociedade tome conhecimento da ciência e avance em diferentes setores.
Acesse também via QR code:
94 Métodos e técnicas de pesquisa

• FERRAZ, Érica de Cássia; NAVAS, Ana Luiza G. P. Recomendações práticas para jovens
pesquisadores. São Paulo: Abec, 2016. Disponível em: https://www.abecbrasil.org.br/ar-
quivos/recomendacoes_publicacao_jovens_pesquisadores.pdf. Acesso em: 25 mar. 2019.
Manual Recomendações práticas para jovens pesquisadores é uma publicação da Abec
(Associação Brasileira de Editores Científicos) que esclarece dúvidas comuns entre os
iniciantes na pesquisa científica.
O link também pode ser acessado pelo QR code a seguir:

Atividades
1. Em um relatório de pesquisa, qual é a diferença entre o resumo e a introdução?

2. Leia o trecho a seguir e faça a paráfrase dele:


Pode haver diferentes motivos para o número reduzido de publicações, como
questões de financiamento e de qualidade das pesquisas. Entretanto, uma das
principais hipóteses é a escassez de formação específica para a elaboração de
artigos científicos. Os livros e manuais disponíveis são voltados para a redação
científica de trabalhos acadêmicos em geral. Com a internacionalização dos
periódicos científicos, há também um obstáculo adicional, que é a tradução dos
manuscritos, para que estes possam ser acessados pela comunidade interna-
cional, que dificilmente consulta os periódicos nacionais. (FERRAZ; NAVAS,
2016, p. 17)

3. Qual é a contribuição de um cronograma e de um orçamento em uma pesquisa?

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6023: Informação e documentação —
Referências — Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.

FERRAZ, Érica de Cássia; NAVAS, Ana Luiza G. P. Publicação de artigos científicos: recomendações práticas
para jovens pesquisadores. São Paulo: Abec, 2016.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2018.

GOLDENBERG, Miriam. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. 14. ed.
Rio de Janeiro: Record, 2015.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 8. ed. São
Paulo: Atlas, 2017.

MENDONÇA, Cláudio Márcio Campos; ANDRADE, António Manuel Valente de; SOUSA NETO, Manoel
Veras de. Uso da IoT, Big Data e Inteligência Artificial nas capacidades dinâmicas. Revista Pensamento
Contemporâneo em Administração, v. 12, n. 1, p. 131-151, 2018.

SILVA, Elane R.; COSTA, Letícia M.; SILVA, Maria W. P.; SOUZA, Ossinete C. Como escrever um artigo
científico: orientações. Anais do Encontro Regional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência
e Gestão da Informação, 2012. Disponível em: http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/moci/article/
download/2205/1406. Acesso em: 25 mar. 2019.
Gabarito

1 O estudo científico e o papel do pesquisador


1. Exemplos de conhecimento comum: Marte é um planeta seco e inóspito.

Exemplos de conhecimento científico: Há um “reservatório” de água líquida repousando abaixo de


camadas de gelo e poeira na região polar sul do planeta vermelho. (Revista Science, 3 ago. 2018).

2. Quando alguém copia um trabalho, não somente prejudica outro pesquisador, como compro-
mete o desenvolvimento da ciência. O plágio é muito nocivo, a começar pelo próprio desenvol-
vimento do pesquisador, que de fato não se torna um pesquisador, com senso analítico apurado,
mas sim um reprodutor de trabalhos.

3. A afirmação está incorreta, pois a ciência básica deve ser levada em consideração, assim como a
ciência aplicada. A ciência básica é o armazenamento de ideias de onde a ciência aplicada extrai
a sua “matéria-prima intelectual”, por assim dizer.

2 Fundamentos da metodologia de pesquisa


1. Motivação de equipes: Quais competências e habilidades são necessárias ao gestor para motivar
sua equipe em um contexto de economia digital?

Sustentabilidade ambiental: Como integrar a sustentabilidade ambiental e o processo de inovação


de produto em uma indústria do ramo alimentício no estado de Santa Catarina?

2. Resposta pessoal. Deve somente contemplar os requisitos para a construção de um bom proble-
ma de pesquisa dispostos no item 2.2.

3. Tema: Gestão de empresas familiares.

Sugestão de pergunta de pesquisa: Qual é a interferência do estilo de liderança em empresas fa-


miliares em especial na motivação dos colaboradores e no surgimento de conflitos interpessoais
na organização?

3 Determinação de objetivos, variáveis e hipóteses de pesquisa


1. Verificar/identificar/listar/classificar os impactos do rompimento da barragem da empresa Vale
para a economia local de Brumadinho no curto prazo.

2.

a) Identificar as principais atividades da economia de Brumadinho nos últimos 5 anos;


b) Distribuir as atividades identificadas na etapa anterior em segmento de negócios;
c) Verificar o desempenho financeiro dessas atividades nos últimos três anos;
96 Métodos e técnicas de pesquisa

d) Listar quais dessas atividades foram impactadas diretamente pelo rompimento da barragem da
empresa Vale;
e) Verificar como a interrupção dessas atividades impacta na economia do município de Bruma-
dinho.
3. Hipótese 1 – Atividades vinculadas ao segmento agrícola e pesqueiro são as mais impactadas pelo
rompimento da barragem da empresa Vale em Brumadinho.

4 Fundamentação teórica
1. Tema: Condenação sem precedentes da Monsanto por venda de pesticidas cancerígenos.

2. Um texto científico geralmente foca um ponto e aprofunda a ideia com ajuda da teoria pertinente,
gerando conhecimento. Também traz objetivos e hipóteses para melhor estabelecer o foco, com busca
na literatura de conceitos e casos similares já estudados.

3. A pesquisa básica não requer aplicação prática, entretanto é a partir dela que fundamentamos a sua
aplicação. Portanto, a pesquisa básica nesse caso seriam as pesquisas em relação aos malefícios do
produto glifosato, com posterior aplicação prática. Já do ponto de vista social, o caso poderia (por
exemplo) ser avaliado como um precedente importante.

5 Abordagens de pesquisa
1. O design de uma pesquisa é definido com base no problema de pesquisa proposto. Ou seja, depende
diretamente da problemática construída pelo pesquisador, baseado em um fenômeno que necessita
ser investigado.

2. A orientação epistemológica indica que tipo de conhecimento serve de base para a construção de um
estudo. A epistemologia adotada em um estudo indica qual é a lente usada por um pesquisador para
compreender determinado fenômeno.

3. Estudos qualitativos ajudam a conhecer melhor um problema, têm foco interpretativista e focam na
análise de fenômenos socialmente construídos; enquanto estudos quantitativos são caracteristica-
mente positivistas e buscam reunir informações quantificáveis com vistas a testar hipóteses previa-
mente estabelecidas.

6 Procedimentos de pesquisa
1. Devemos indicar a técnica de pesquisa da abordagem quantitativa, survey, porque as pesquisas des-
critivas têm o objetivo de detalhar as características do fenômeno estudado, o que é comum na survey,
a qual coleta os dados de forma objetiva.

2. Aqui, são indicadas as duas técnicas qualitativas presentes neste capítulo: estudo de caso e pesquisa-
-ação. Informando que essas técnicas permitem que o pesquisador se aproxime do entrevistado, que
qualquer informação obtida no ambiente ou pelo entrevistado são relevantes, desde que retratem o
cotidiano do entrevistado, e que o objetivo dessas técnicas é abordar os aspectos subjetivos do fenô-
meno investigado.
Gabarito 97

3. A pesquisa quantitativa é aquela que prioriza a coleta de dados objetivos, trazendo resultados em
percentual ou número, a fim de contribuir com dados e informações estatísticos.

7 Amostragem e fonte de dados


1. Todos os dados perdidos são dados de pesquisa secundários que possuíam grande riqueza não ape-
nas histórica, mas científica também. O interessante é que muitos deles foram dados primários para
algumas pesquisas e depois se tornaram dados secundários.

2. Aplicando a fórmula para população finita:

NZ c2  2 150000 * 1,65 2 * 0 , 5 2
n 2   272
E  N  1  Z c2  2 0 ,05 2 * 150000  1  1,65 2*0 ,5 2

Portanto, 272 pessoas devem ser consultadas em uma pesquisa para abertura de uma nova academia
na região central de Curitiba, com 90% de confiabilidade e margem de erro de 5%.

3. Todo tipo de documento pode servir como fonte de dados para os estudos científicos, desde que de-
vidamente analisado e sistematizado, além de todos os documentos físicos tradicionais, em papel, tais
como jornais, revistas, históricos escolares, registros médicos, entre outros.

8 Instrumentos de coleta e análise de dados


1.

a) Projeto de pesquisa sobre a opinião dos professores e alunos de literatura acerca dos e-books.
Público: professores e alunos de literatura em uma instituição de ensino superior. Poderia ser
aplicado formulário para se ter respostas mais abertas ao mesmo rol de perguntas. Amostragem
do tipo snowball seria adequada neste meio tão específico.
b) Projeto de pesquisa sobre a idade média e perfil socioeconômico dos eleitores brasileiros. Público:
eleitores brasileiros (dados podem ser encontrados no site do STE/TRE), aplicação de questioná-
rios curtos, on-line, amostragem estatística probabilística, considerando amostra infinita.
c) Projeto de pesquisa sobre o ajustamento de ex-presidiários ao mercado de trabalho. Público: as-
sistentes sociais que auxiliam o ex-presidiário no processo de retorno à sociedade. Condução de
entrevistas em profundidade com estas pessoas e amostragem também por conveniência e sno‑
wball (bola de neve).
2. Na observação, o pesquisador realiza anotações de campo sobre o comportamento e as atividades
dos indivíduos no local de pesquisa. Nessas anotações de campo, o pesquisador registra, de maneira
não estruturada ou semiestruturada, as atividades no local da pesquisa. Na entrevista, o pesquisador
conduzentrevistas com os participantes, que podem ser face a face, por telefone ou em grupo (focus
group), com seis a oito entrevistados em cada grupo.

3. Dados referentes ao desempenho de alunos e professores em uma avaliação de satisfação institucio-


nal, notas dos alunos com determinado professor, trabalhos em sala.
98 Métodos e técnicas de pesquisa

9 Elaboração de relatórios e conclusões


1. O resumo é uma estrutura enxuta, que apresenta os objetivos, a metodologia, os resultados e as con-
clusões do relatório com uma formatação distinta do resto do relatório. Fica para a introdução a con-
textualização do tema, a apresentação dos objetivos, do problema e dos capítulos seguintes.

2. As autoras Ferraz e Navas (2016) afirmam que há pouca publicação científica, indicando as questões
financeiras como um dos motivos. Entretanto, elas apontam como principal fator a falta de formação
específica em publicação de artigos científicos. Além disso, as autoras incluem como fator a mais nes-
sa dificuldade a internacionalização dos periódicos.

3. O cronograma é uma forma de organização e disciplina para o pesquisador, facilitando a condução


das fases da pesquisa. Já o orçamento é um instrumento auxiliador na conquista de verbas, tornando
o projeto mais profissional.
MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6471-7

58472 9 788538 764717

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