Teste de Avaliação Sumativa de Português - 11.º Ano Domínio: Compreensão Oral
Teste de Avaliação Sumativa de Português - 11.º Ano Domínio: Compreensão Oral
Teste de Avaliação Sumativa de Português - 11.º Ano Domínio: Compreensão Oral
Ouve com atenção o texto intitulado “Mar Português: um mar de palavras” (Luís Miguel
Queirós).
2. No início do texto, a referência ao mar dos banhistas e ao mar dos pescadores pretende…
a. estabelecer uma relação de semelhança entre ambos.
b. realçar o contraste que existe entre ambos.
c. salientar que os poetas portugueses cantaram unicamente estes dois tipos de mares.
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a. apóstrofe.
b. metonímia.
c. metáfora.
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4. A palavra que, no texto, é utilizada para referir a existência de duas perspetivas a partir das
quais o mar pode ser encarado é…
a. “dicotomia”.
b. “ambivalência”.
c. “crepuscular”.
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5. Uma das razões para o mar estar presente em inúmeras obras de autores portugueses
prende-se com o facto de…
a. não haver temas tão simbólicos como o do mar.
b. Portugal ser um país pequeno e com uma costa extensa.
c. haver grande influência de autores estrangeiros na nossa literatura.
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6. De acordo com o autor do texto, a forma como o mar é encarado na poesia trovadoresca e
na poesia do século XX…
a. não diverge em termos temáticos e formais.
b. resulta do facto de a expansão ultramarina ser encarada como um mero instante no
tempo e não como um processo.
c. decorre da experiência proporcionada pelos Descobrimentos.
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III. Corrige as afirmações falsas identificadas em II., indicando o número da
afirmação a que se refere a correção.
Não podes corrigi-las utilizando a frase negativa.
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COTAÇÃO:
GRUPO COTAÇÃO POR ITEM
I. 8 itens 15 pontos X 8 = 120 pontos
II. 6 itens 11 pontos X 6 = 66 pontos
III. 1 item 14 pontos
COTAÇÃO TOTAL 200 pontos
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Teste de Compreensão do Oral
“Mar Português: Um mar de palavras” (Luís Miguel Queirós)
Ao longo de séculos, os poetas portugueses cantaram o mar. Muitos mares: o mar afável
das praias e dos banhistas, o mar duro da faina dos pescadores, ou ainda esse mar que
levou os navegadores quinhentistas à descoberta de um novo mundo.
A poesia portuguesa é uma praia constantemente batida pelas ondas do mar. Foi-o sempre,
desde os primeiros trovadores galaico-portugueses até aos poetas dos nossos dias. Há
setecentos anos, o jogral galego Martim Codax perguntava, assumindo a voz de um sujeito
poético feminino: “Ondas do mar de Vigo,/ se vistes meu amigo?/ e ai Deus, se verrá cedo?”.
Mas já na poesia medieval este mar próximo, costeiro, quase doméstico, cúmplice dos amores do
poeta – “Ai ondas, que eu vin veer,/ se me saberedes dizer/ porque tarda meu amigo/ sem min?”,
escreve o mesmo Codax –, podia também representar perigo e constituir um obstáculo à
consumação do desejo, como acontece na notável cantiga de amigo de Mendinho, que abre com
os versos “Sedia-m’eu na ermida de Sam Simiom/ e cercarom-mi as ondas que grandes som [...]”.
A donzela que fala no poema receia que o amado não venha resgatá-la e que, incapaz de voltar a
terra, esteja condenada a morrer virgem: “Nom ei i barqueiro nem sei remar/ e morrerei eu
fremosa no alto mar./ Eu atendend’o meu amigu’... e verrá?”.
O mar, e por extensão toda a água, teve sempre um simbolismo ambivalente: é origem,
fecundidade, vida, mas também é distância, desastre, morte. A água, escreve António Ramos
Rosa, “[...] é um móvel túmulo e um berço errante/ em que a vida e a morte se consumam unidas/
numa pátria de metamorfoses incessantes”.
No tempo das Descobertas, mais do que em qualquer outro período da história portuguesa, essa
ambivalência tornar-se-ia uma realidade quotidiana, uma vivência coletiva. O mar que nos levava
a novos mundos era o mesmo que separava famílias, amigos, amantes. O mar que nos trazia
especiarias e riquezas várias era também o mar dos sucessivos naufrágios, que Bernardo Gomes
de Brito depois compilaria na sua muito justamente intitulada História Trágico-Marítima. “Deus ao
mar o perigo e o abismo deu,/ Mas nele é que espelhou o céu”, resume lapidarmente Fernando
Pessoa no célebre dístico final do poema Mar Português.
Sendo Portugal um país pequeno com uma costa extensa – “O meu país é o que o mar não quer”,
diz um verso de Ruy Belo –, não surpreende que o mar esteja obsessivamente presente em
inúmeros poetas de sucessivas gerações. Mas o mesmo se poderia dizer, por exemplo, da lírica
inglesa, que nos deu alguns dos mais notáveis poemas sobre o mar da literatura ocidental. Ou da
grega, desde logo com a Odisseia, protótipo de todas as epopeias marítimas.
Se algo distingue o modo como a poesia portuguesa, no seu todo, se relaciona com o mar, essa
singularidade talvez decorra, antes de mais, da “intromissão” do facto histórico dos
Descobrimentos, decisivo não apenas ao nível material, mas também de consequências
duradouras no plano identitário e simbólico. Sem a aventura da expansão marítima, não haveria
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grande diferença entre o mar de Martim Codax e Mendinho e o mar de poetas do século XX,
como Sophia de Mello Breyner Andresen ou Eugénio de Andrade. Assim, e embora se trate
sempre do mesmo “mar imenso solitário e antigo” evocado num dos primeiros poemas de Sophia,
talvez seja lícito falar, na poesia portuguesa, de um mar anterior aos Descobrimentos e de um
mar posterior aos Descobrimentos. E ainda, como a expansão foi um processo, e não um mero
instante no tempo, do mar dos próprios Descobrimentos. Que não é apenas, ou nem sequer
principalmente, o mar dos autores contemporâneos da expansão marítima. É sobretudo um mar
lido a posteriori, na ressaca dessa aventura que levou o país, como escreve Camões, a mostrar
“novos mundos ao mundo”.
Escritos num momento já sentido como crepuscular, com a pátria “metida/ No gosto da cobiça e
na rudeza/ Duma austera, apagada e vil tristeza”, Os Lusíadas serão a referência inescapável de
toda a poesia que, ao longo dos séculos seguintes, irá evocar de múltiplos modos o período da
expansão marítima. O peso da epopeia camoniana – quer no cânone literário, quer na própria
definição da língua – é tão avassalador que se torna difícil perceber se essa centralidade do mar
dos Descobrimentos na poesia portuguesa se deve mais ao facto histórico da expansão marítima,
simbolizável na viagem de Vasco da Gama, ou ao poema que sublimemente a relatou.