Robert Reid Kalley
Robert Reid Kalley
Robert Reid Kalley
Abstract
The aim this article is to study the implementation of the first Evangelical Church of the
Portuguese language in Brazil, from the work of the Scottish physician Robert Reid Kalley
and your wife Sarah Poulton Reid Kalley, protagonists of the congregational movement of
the 19th century on the city of the Rio de Janeiro. Reconciling biblical preaching with social
action in health and education, the Congregational Evangelical Church would change the
percentage of Catholic hegemony in the national territory. If initially the Congregational
Church, through yours pioneers, was disruptive of the social situation, during your story
has not kept the same speech. However, during the installation of the first Evangelical
Church in Brazil, it was alongside political leaders and economic power in order to ensure,
in particular, the freedom of worship. If the Gospel may be preached within rational limits,
this indicates that the target audience of the Congregationalist speech was, above all, the
economic élite and cultured, probably as a strategy to influence the opinion leaders in the
capital of Empire.
Keywords: Evangelical Church. Congregational Church. Religion History.
* Doutor em Estudos Comparados das Américas (UnB). Professor do Centro Universitário de Anápolis
(UniEVANGÉLICA) e da Faculdade de Direito Raízes. E-mail: bonomee@bol.com.br
** Doutor em História pela Université de la Sorbonne Nouvelle – Paris 3. Professor do Programa de
Introdução
Foi este o cenário encontrado por Robert Reid Kalley ao desembarcar no Rio
de Janeiro. Diferente dos luteranos, os congregacionais não objetivaram oferecer,
em primeiro lugar, assistência aos imigrantes europeus, embora o fizesse, mas
cuidar dos enfermos brasileiros. Reid Kalley trazia consigo uma visão missionária
e usou seus conhecimentos na área da medicina como meio para se aproximar da
população local. E, naquele momento, encontrou apoio político especialmente
entre os grupos ligados à maçonaria (Bonome, 1993).
João Gomes da Rocha, filho adotivo dos Kalley, relata a história do início da
Igreja Congregacional no Brasil descrevendo em suas lembranças as condições
precárias à época da implantação desta igreja no Rio de Janeiro.
Conforme José Roberto Bonone (1993), em algumas lojas do Rio de Janeiro podiam-se
encontrar até mesmo equipamentos utilizados para a prática da patinação no gelo.
O Brasil, oficialmente católico, abrigava uma elite que se sentia atraída pelo
progresso inglês e norte americano. Por outro lado, o positivismo de Auguste
Compte, cujos pressupostos firmavam-se na Razão, resvalando num discurso que
pregava a “religião da humanidade”, se insinuava como crença religiosa de parte
importante dessa elite imperial. Diante deste quadro, o discurso de Reid Kalley,
aproximava-se desse humanismo “comtiano” de pressupostos racionais.
sendo que a polícia não intervinha contra os que apedrejavam a casa nos dias de
reuniões de oração (Rocha, 2013). Contudo, o editor do jornal “O Fluminense”
oferecia proteção ao casal Kalley, indicando que membros da elite intelectual
combatiam a prática da perseguição religiosa durante o período imperial, o que
parece reforçar a tese da convergência de interesses por parte de grupos locais
quanto à permanência de religiões não católicas na cidade, objetivando o
enfraquecimento do monopólio religioso por parte da Igreja Católica.
Foi ali, como informa Rocha, que “entoou-se pela primeira vez no Brasil
hinos evangélicos no idioma português” (Rocha, 2013, p. 196). Neste aspecto, o
conflito a respeito do uso ou não da antiga versão escocesa dos Salmos, ou das
versões mais recentes, acontecido entre os presbiterianos americanos, dividindo-
os, não se transferiu para o Brasil. O Salmos e Hinos, hinário resultante das
traduções feitas pelo casal Kalley, dominou as igrejas brasileiras das diversas
confissões evangélicas por mais de um século de atividades missionárias (Hahn,
1989). A importância do hinário se dá pelo fato de que nas primeiras décadas não
havia pastores formados em faculdades de teologia ou seminários no Brasil,
quando se cantava vinte ou trinta estrofes de um hino – o que substituía
parcialmente a necessidade da pregação. De acordo com Fernandes Braga,
Nesta atmosfera marcada pela violência religiosa, Robert Reid Kalley vivia
continuamente em conflito consigo mesmo. Às dificuldades impostas pelo caráter
comum das agitações religiosas no cotidiano da cidade, somava-se um conflito de
outra natureza, derivado de sua própria ordenação não institucional: Kalley havia
sido ordenado por pastores de outras denominações. Ordenação feita às escondidas.
sobretudo para quem estava grato com a atenção do doutor, um convite difícil de
recusar.
seria lido pelo farmacêutico. Outro exemplo, diz respeito ao esforço para publicar
no jornal Correio Mercantil assuntos evangélicos, tais como a imortalidade e a
salvação da alma. Propositadamente, excluía de seus textos assuntos polêmicos
que pudessem ferir o catolicismo como, por exemplo, questionamentos a respeito
da devoção aos santos, críticas à infalibilidade papal ou mesmo a posição da Igreja
Católica quanto ao seu método institucional de interpretação da Bíblia –
colocando-a depois da tradição e não antes, como no método protestante.
Por outro lado, conforme Hahn (1989), embora os Kalley tenham permanecido
congregacionais, seu trabalho foi grandemente influenciado pelos Plymouth Brethren.
Interessante notar que não era objetivo dos Kalley estabelecerem uma igreja
com denominação específica. Não registravam nem mesmo os batismos que
realizavam (Rocha, 2013). Esse desinteresse por registros estatísticos perdura no
congregacionalismo até os dias atuais. No protestantismo, regra geral, estatísticas
são difíceis de serem analisadas por nem sempre terem continuidade.
Embora seja possível inferir que a não institucionalização esteve presente nas
ideias e atitudes do médico escocês, a institucionalização não pode ser evitada. Em
11 de julho de 1858, por ocasião do batismo de Pedro Nolasco de Andrade (primeiro
brasileiro a batizar-se como consequência das pregações de missionários ligados ao
protestantismo nacional), se dá a consolidação da primeira Igreja Evangélica no
Brasil a atuar no idioma português. Desde então, o congregacionalismo fincou suas
raízes em solo brasileiro, influenciando outros grupos protestantes que aqui vieram
a se estabelecer, inclusive no tocante ao culto e à ética.
Considerações finais
respeitá-las e acatá-las até onde não colidam com as leis de nosso Senhor Jesus
Cristo” (abril de 1966); “Insatisfação Estudantil”, onde se pede orações para os
jovens insatisfeitos de todo mundo (insatisfação, de fato, gerada pelo fechamento
de seminários e da Faculdade de Teologia de Rudge Ramos, em junho de 1968 na
cidade de São Paulo); “Exclusão de 27 alunos da Faculdade de Teologia da Igreja
Presbiteriana Independente”, também motivada, segundo o jornal, por
insatisfações e inquietações derivadas do liberalismo e do modernismo (agosto de
1968); “Ato Institucional nº 5 de 13 de fevereiro de 1968”, informando a
promulgação deste ato legal (dezembro de 1968) – são reveladoras das posições
políticas conservadoras frente aos assuntos políticos que balançavam o país.
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