AVALIAÇÃO - Escola Da Ponte - 4

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e professores têm de ser, necessariamente, parceiros. O insucesso merecerá


um legítimo exercício de auto-avaliação por parte de ambos.
A recuperação, pelo que entendi, centra no aluno a responsabilidade do
insucesso, pelo que dependerá do seu esforço adicional o alcance de um nível
positivo. A finalidade será, como foi referido, obter nota suficiente para a
aprovação, o que exige que este tenha que voltar atrás, aprender o que não
aprendeu, sendo que o resultado que se pretende que alcance deva ser
positivo, mas não necessariamente a aprendizagem total e consolidada de
todos os conteúdos/temas em estudo. Na nossa escola, e de acordo com o que
o Wilson já referiu, esta realidade não tem lugar, porque o aluno não inicia
novas aprendizagens sem ter consolidado as que escolheu planificar e o fim
último não é evitar a retenção, mas a promoção de um estudo com qualidade.
Quando o aluno recorre ao dispositivo “Eu já sei” significa que este sabe, de
fato, o que se propõem avaliar e está seguro de si mesmo. Nos casos em que
tal não acontece, o aluno torna-se consciente do mau uso que fez do
dispositivo e consolida melhor o que pretendia que fosse avaliado. Privilegia-se
o ritmo de cada aluno e acresce-se a motivação decorrente da escolha do que
deseja trabalhar e não do que outros atores educativos decidiram que ele devia
trabalhar.

Na verdade gostaria de saber como os alunos avançam de série, de ciclo,


ou como vocês dizem por aí 1ª vez, 2ª... Qual seria o tempo, ou o número
de vezes que o aluno da escola precisa para cumprir seu percurso? Por
aqui são nove anos de Ensino Fundamental. Sendo mais objetiva: existe
"reprovação'?

Professor:
Burocraticamente, existe reprovação. Na prática, não. Ou seja, nos finais de
ciclo (4º, 6º e 9º anos) é possível que os alunos “reprovem”. Contudo, o
trabalho do aluno continua, como se nada acontecesse. E, no início do ano
letivo seguinte, não é obrigado a repetir o que já estudou. Continua o estudo a
partir do ponto em que antes estava.

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As “reprovações” são, em grande parte, fruto da burocracia imposta pelo


Ministério a todas as escolas. Mas a Ponte não se pode esquecer de que não
pode ser uma ilha. Os alunos podem transitar para outras escolas.
No final do 9º ano, por obrigação legal, os alunos fazem exames a Língua
Portuguesa e a Matemática que contam para a sua nota final. O tempo que o
aluno precisa para cumprir o seu percurso é o tempo de cada aluno… Em
alguns casos, é menos de nove anos. Há casos, não tão raros quanto isso, de
alunos que já estão a trabalhar aspectos que seriam considerados de 10º ano a
algumas áreas e em outras ainda lhes faltam algumas coisas que seriam
consideradas até ao 9º.
Nós temos essa designação de “vezes” para salvaguardar estas situações. As
coisas não são estanques. Há dois anos, uma das auxiliares que tinha entrado
há pouco tempo para a Ponte perguntou-me se era verdade que o mesmo
aluno poderia estar no 5º ano a umas coisas e no 6º a outras. Eu expliquei-lhe
que podem escolher o que pretendem trabalhar, não são obrigados a trabalhar
em anos estanques e perguntei-lhe o que estudava um aluno que estava no 8º
ano e que sempre tinha tido nota negativa a Português, 4 a Matemática e 3 nas
restantes (a escala portuguesa do ensino fundamental é de 1 a 5). Será que a
Português ele está mesmo a trabalhar os aspectos de 8º ano, ou nem sequer
compreende o que o professor tenta explicar? Há casos destes. Eu fui um
deles: bom aluno a Matemática e Ciências e péssimo aluno a línguas. Só
melhorei quando comecei a precisar mesmo das notas para não reprovar.

Uma transição (de núcleo) a qualquer momento

Ainda sobre avaliação gostaria de ouvi-los falar um pouco mais sobre


como se dá a passagem das crianças da etapa inicial, em que ainda
se alfabetizam, para o processo de trabalho em equipe com os planos
quinzenais. Em outras palavras, minha preocupação específica é sobre
avaliação na alfabetização. Quais são os critérios que vocês utilizam para
dizer se esta ou aquela criança está pronta para ingressar na nova etapa
de aprendizagem, na Ponte?

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Professor:
Na fase da iniciação à leitura e à escrita a avaliação é essencialmente baseada
na observação directa. Observando os textos que os alunos vão produzindo,
com cada vez com mais autonomia, observando a forma como vão lendo para
os colegas e para nós todos os dias (no, início através da memória;
posteriormente, lendo - processo de retirar *significado* de material escrito),
vamos ficando com uma ideia muito precisa do que cada aluno é capaz de
fazer em cada momento. Lentamente, começam a fazer um plano do dia
incipiente (só com a indicação de que área pretendem trabalhar nesse dia).
Depois, começam a utilizar livros para estudar o que precisam (sobretudo de
estudo do meio - os de língua portuguesa e de matemática para estas idades
costumam ser uma desgraça…) e vão complexificando o seu trabalho, até
ao momento de precisarem de fazer o seu plano do dia.
Plano da Quinzena nº ___ de __ / __ / __ a __ / __ / __
Auto-avaliação
Nome ____________________________________
Grupo:____________________________________ O que aprendi nesta quinzena? __________________
___________________________________________
O nosso Projeto é: ____________________________ O que mais gostei de aprender nesta quinzena? ____
O que eu quero aprender:_______________________ ___________________________________________
____________________________________________ ___________________________________________
____________________________________________ Outros aspetos que ainda gostava de aprofundar
____________________________________________ neste projeto: _______________________________
____________________________________________ ___________________________________________
____________________________________________ Mas ainda não aprendi a... Porquê? _____________
____________________________________________ ___________________________________________
____________________________________________ Outros Projetos que gostaria de desenvolver: _______
____________________________________________ ___________________________________________
____________________________________________ Avaliação geral da quinzena
____________________________________________ Informações do Professor Tutor:
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ Observações do Pai/ Mãe/ Encarregado de Educação:
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ Observações do aluno:
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ Professor Tutor: ___________ Data : ___ / ____/ ____
____________________________________________ Pai / Mãe / E. Educ.: ________Data : ___ / ___ / ____
Aluno: _____________________Data : ___ / ___/ ___

São muitas as formas para as avaliações, como as partilhas, avaliações


feitas no final de um dia de aula, quando os alunos sentem que estão
prontos (que já sabem) e nas Assembléias. Qual a diferença destas
etapas na avaliação geral de cada aluno e como é feita a passagem deste
aluno para o próximo aprendizado, para o próximo ano, se cada um tem
seu ritmo?

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Pai de aluna:
Demora um pouco a "cair a ficha", mas logo a gente entende: na Ponte não
existe nada como um "ano" ou "série", para o aluno passar ou não passar. Por
isto, nenhum aluno da Ponte "passa de ano", pelo mesmo motivo pelo qual
nenhum aluno da Ponte "repete o ano". A "ficha" demora a cair, porque
estamos imersos numa forma de organizar a escola que nos parece tão natural
e imutável quanto o ar que respiramos. Imaginamos que é da natureza da
escola ter séries, anos, aprovação, reprovação, retenção, recuperação…
Coisas que não existem na Ponte.
São estas as "paredes" que mais demoram a ser derrubadas: as concepções e
percepções construídas ao longo de anos, de décadas de vivência em escola
tradicional. Talvez vocês estejam se dando conta de como as coisas são e
acontecem na Ponte, diariamente: não tem sala nem série, não tem reprovação
nem “recuperação”, não tem nota vermelha nem azul, não tem nem prova nem
semana de provas, não tem nem "passar de ano" nem "repetir o ano"...

Professor:
A nossa escola não está organizada numa lógica de anos de escolaridade,
nem tão pouco preconiza "passagens" para outro ano. A aprendizagem é vista
como um processo, que os alunos vão construindo ao longo do tempo. E a
escola não deverá, portanto, segmentar o conhecimento e espartilhá-lo em
anos de escolaridade.
A Escola da Ponte está organizada em três Núcleos de Aprendizagem:
Iniciação, Consolidação e Aprofundamento. Conforme o perfil dos alunos (nível
de autonomia e outros requisitos), os alunos integram estes núcleos e lá
constroem as suas aprendizagens, sem constrangimentos de anos de
escolaridade.

Professora:
A oportunidade de vivenciar uma realidade educacional distinta da que
tradicionalmente conhecemos conduzirá necessariamente ao questionamento
das concepções e percepções enraizadas de que o Wilson falava na sua
partilha.
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A metáfora do iceberg apresentada por Angi Malderez e Caroline Bodóczky


para explicar o comportamento dos professores traduz também essa idéia,
quando referem que a parte visível do iceberg representa o que o professor faz
num determinado contexto, enquanto que a parte submersa do iceberg explica
as suas ações: a cultura, a educação, o conhecimento (adquirido a partir de
experiências pessoais, da observação, do que leu)…
A origem de o Projeto Fazer a Ponte remete-nos para algumas décadas atrás
e a sua aceitação, por exemplo, pela comunidade circundante continua a não
ser consensual, por várias razões, é certo… No entanto, compreender (para
depois aceitar) a diferença é um exercício difícil, sobretudo para os que estão
imersos no “culturalmente e ideologicamente enraizado”.
De fato, o dia-a-dia dos alunos da Escola da Ponte não passa por uma
organização por anos, turmas, testes… Como já referi anteriormente, as suas
planificações quinzenais são o motor de todo o trabalho a desenvolver e elas
próprias traduzem o que o aluno aprendeu no final da quinzena (não falo
apenas de aprendizagens curriculares, mas também de aprendizagens que
surgiram de atividades que envolvem toda a Escola).
A escolha de novas aprendizagens é feita pelo aluno, em negociação com os
orientadores educativos e planificadas aquando a abertura de um novo plano
quinzenal, que se afigura como um compromisso que tem de ser cumprido com
responsabilidade.

O processo de avaliação é um tanto quanto complicado, quando se tem


um projecto tão dinâmico como o da Ponte. Porque imagino que um aluno
pode ir bem em uma determinada área e em outra nem tanto. Como fica a
avaliação nestes casos? Um aluno que poderia mudar de grupo, mas não
apresenta um nível de aprendizagem em uma única matéria, como fica
nestes casos? Um aluno pode ser avaliado bem em suas áreas de
aprendizado, mas negativamente em comportamento ou vice e versa?

Professora:
O processo de avaliação na Ponte não é complicado, é fundamentalmente
formativo, traduzindo-se na análise descritiva de todo o percurso do aluno, só
possível pelo constante exercício de observação e monitorização dos
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dispositivos por parte dos orientadores. Isso sim é que é complicado! (estou
brincando).
O grande desafio do modelo de avaliação da Ponte está na constante
monitorização e acompanhamento de todas as tarefas que os alunos realizam,
do tipo de intervenção e participação que têm na escola e da sua evolução na
aquisição de saberes de cariz curricular e de valores pessoais. Na Ponte existe
um princípio que norteia o nosso modelo de avaliação: os alunos devem saber
e saber ser (são avaliados pelos saberes adquiridos e pela forma como actuam
junto da comunidade educativa, ou seja, pelas suas atitudes e
comportamentos).
Você levanta questões que se prendem com a regulação das aprendizagens
entendidas como curriculares (da matemática, do português…) às quais os
orientadores das diversas Dimensões tentam dar resposta diariamente, isto é,
cada Dimensão se organiza de acordo com as linhas orientadoras do Projecto
Educativo e tenta orientar e ajudar os alunos da melhor forma e de acordo com
o que curricularmente está estabelecido.
Contudo, a aquisição destes saberes visa o desenvolvimento de competências
que consideramos fundamentais no quadro de referência do nosso projecto,
nomeadamente a da responsabilidade, entreajuda, análise, síntese, resolução
de problemas, persistência e concentração, autoplanificação, auto-avaliação,
etc. Desta forma, a avaliação nunca podará ser encarada como um teste aos
conteúdos estudados e sim uma análise do processo de aquisição desses
conteúdos (envolvendo tudo o quem o aluno foi capaz de mobilizar para os
atingir).
Pode acontecer de um aluno estar melhor numa área do que noutra e pode
acontecer do aluno ter uma melhor prestação na aprendizagem das matérias e
não demonstrar as melhores atitudes ou o melhor comportamento. Neste último
caso (apesar de ser muito pontual), existem dispositivos que ajudam o aluno a
perceber o que deve melhorar e como deve agir perante os outros. Falo, por
exemplo, do professor tutor, da Comissão de Ajuda, dos Direitos e Deveres etc.

Ficaram ainda algumas dúvidas. Baseando-se nestas avaliações, como


ocorre a promoção de um núcleo para outro? Quando o Ministério da

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Educação força, existem provas – como isso acontece? Que conteúdos


serão avaliados? Esta avaliação tem algum peso, influencia em algo?

Professor:
A transição de núcleo é sugerida pelo professor tutor e analisada por todo o
núcleo. Pode encontrar os perfis de transição na nossa página da internet,
dentro de "Projecto" e depois dentro de cada núcleo. Depois, é proposta ao
aluno e aos pais.
O Ministério obriga todas as Escolas a efectuarem exames aos alunos que se
preparam para terminar o Ensino Básico (9º ano). Só promove dois exames
(Língua Portuguesa e Matemática) que deverão abarcar todo o Ensino Básico.
Os exames são iguais em todo o país e feitos à mesma hora. Esta avaliação
entra com uma determinada percentagem (penso que 30%) para a nota final de
ciclo. Estes exames inserem-se numa nova "moda", que consiste na ideia que
só o que é examinado é bom e que os exames resolvem todos os problemas
do sistema educativo.

Instrumentos de avaliação

Sou professora de Matemática e fico muito preocupada com os meus


alunos, pois existem alguns, que aparentemente demonstram ter
aprendido o que foi ensinado e no momento dos testes e provas nada
conseguem fazer. Algumas vezes peço que eles redijam sobre o que
aprenderam e o que deixaram de aprender, destacando principalmente o
porquê de não terem aprendido, procuro ser clara e objetiva nas minhas
explicações, mas estou ficando desestimulada. Ao terminar as avaliações
escritas, faço correção na lousa, destacando o que eles poderiam ter feito
e alguns me dizem: poxa pró, eu me esqueci ou me atrapalhei.
Trabalho com alunos da 7ª e 8ª do ensino fundamental e 3° ano do ensino
médio, porém as dificuldades são as mesmas. Sou especialista em
Avaliação, tenho muitos livros a respeito, porém o sistema não me deixa
trabalhar como penso, pois gostaria de deixar as notas de lado e

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acompanhar meus alunos durante o processo da aprendizagem. De


contra partida ainda temos as famílias que vêem aprendizagem como
sendo "nota", infelizmente é difícil se trabalhar com avaliação contínua,
processual e formativa.
Gostaria que vocês me fornecessem mais informações de como este
processo tem sucesso na Escola da Ponte, pois pretendo ousar e
enfrentar diretores, para fazer o meu trabalho de forma coerente e sem
culpa.

Professora:
A clareza e a objetividade do discurso do professor não são condição exclusiva
para que a aprendizagem dos alunos se concretize. A imposição do estudo de
determinado conteúdo por parte do professor aliena o aluno de todo o
processo. A aprendizagem surge como desinteressada e pouco significativa
para ele, pois é o professor que decide o que se vai estudar, quando se vai
estudar, como se vai estudar. O comando da aprendizagem por parte do
professor é novamente assumido no momento da avaliação (é o professor que
decide o que se vai avaliar, quando se vai avaliar, como se vai avaliar).
Antes de pensarmos em alterar os instrumentos de avaliação, será importante
proceder à descentralização do poder do professor e convocar o aluno para a
gestão das suas aprendizagens. Na Escola da Ponte, são os alunos que
escolhem o que querem aprender em determinado momento. Essa escolha é
feita a partir de listagens de objetivos, com a orientação do professor tutor (no
momento de planificação quinzenal) e demais orientadores educativos. Ao
longo deste ano, os alunos desenvolveram também projetos que surgiram das
suas necessidades, interesses e curiosidades. As respostas encontradas para
as questões por eles levantadas concretizaram-se em aprendizagens
significativas.
Para além de os alunos escolherem o que querem aprender, estes gerem (com
maior ou menor autonomia) o seu trabalho diariamente, em função do que
haviam programado no plano da quinzena: prevêem momentos para
desenvolver tarefas, mobilizando os instrumentos necessários para a sua
concretização (manuais, computadores, materiais de laboratório, leitor de
CD…). Porque foi o aluno a traçar as suas próprias metas, este não precisará,
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à partida, do orientador educativo para saber se cumpriu, ou não, os objetivos


delineados, assim como não precisará esperar que o professor estipule um dia
para ser avaliado – é o aluno que solicita a sua avaliação através do «Eu já
sei».
Ao pedir aos seus alunos que escrevam sobre o que aprenderam, ou o que não
aprenderam, ao pedir-lhes que reflitam sobre as razões que conduziram ao
erro/insucesso, está a pedir-lhes que se autoavaliem e que, se necessário,
reorientem todo o processo de aprendizagem. Na Escola da Ponte, estes
momentos são pontuais (no final do dia, no final da quinzena, em momentos de
partilha…), podendo ser reflexões individuais ou conjuntas, orais ou escritas.
Relativamente ao fato de, muitas vezes, os testes que aplica não refletirem as
aprendizagens que os alunos haviam já evidenciado, devolvo-lhe duas
questões: Por que duvidar das aprendizagens e não do instrumento de
avaliação? O que faz com que um aluno se “atrapalhe” num teste?

No meu ponto de vista, além do currículo, a avaliação é o grande "nó" nas


nossas escolas. Em minha opinião, a auto-avaliação é um dos processos
mais ricos como "instrumento" de avaliação, pois se percebe que o aluno
tem consciência das suas facilidades e limitações. Ele consegue obter
critérios,e ser honesto nesse processo e, quanto mais cedo for instigado
a autoavaliar-se, mais facilmente tornar-se-á corresponsável pelo seu
desempenho, pelo seu crescimento. O que acham?
Quanto à avaliação transparente, concordo no sentido de que ela deve ser
clara em relação aos seus critérios, mas acredito que essa transparência
é entre aluno e professor e não como um instrumento de "punição" ao
mau desempenho, ou "prêmio" ao desempenho esperado... Acho muito
difícil o professor trabalhar com a questão da avaliação, acaba-se
tornando uma forma de pressão e não um instrumento de crescimento
individualizado (percebo isso claramente na escola particular de meus
filhos). Ao mesmo tempo, me angustio, quando estou acompanhando o
crescimento de uma criança e ela vem me mostrar seu "boletim", onde
TODAS as disciplinas aparecem como NA ("Não Atingiu”). Me pergunto:
Será que isso é possível? Um professor acreditar que, em um bimestre,
uma criança de oito anos nada aprendeu?
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Pergunto-lhes: o que fazer diante dessa situação? E a auto-estima dessa


criança? E esse professor? Como sensibilizá-lo? Hoje, se fala muito em
inclusão na educação, mas nem mesmo esses alunos conseguem
encontrar um espaço na sala de aula. O que fazer? Desculpa a minha
angústia e meu desabafo, mas fico vendo estas questões sendo tratadas
de forma tão "tranqüila" na Escola da Ponte, que me questiono: por que
não conseguimos? Será que os alunos vão conseguir arrebentar as
amarras sociais que certamente encontrarão e lhes exigirão condutas
mais normativas? Como mudar um conceito tão arraigado socialmente?
Como conseguir com que a sociedade compreenda a importância de
mudar certos valores, num mundo altamente competitivo e solitário, onde
valores como a solidariedade e a honestidade?

Professor:
Tentando dar resposta às suas indagações/indignações, relativamente à
primeira questão, concordo totalmente. Se nós pensarmos na nossa vida de
"adultos", poderemos verificar facilmente que nos auto-avaliamos centenas de
vezes. Por outro lado, sempre que somos avaliados por outros, temos a
sensação de que algo não correu muito bem, que o processo não foi totalmente
transparente, que demos prioridade a outros aspectos.
Em qualquer aspecto da nossa vida, em que tentamos melhorar, a auto-
avaliação é a nossa companhia. No entanto, será que todos nós estamos
habituados e conscientes do que deve ser uma boa auto-avaliação? Parece-me
que não. Em toda a minha vida escolar, a auto-avaliação foi utilizada muito
poucas vezes e sempre na lógica de discutir a classificação do final do ano.
Nada a dizer em relação ao processo, aos pontos intermédios, em relação ao
acompanhamento por parte dos professores ou dos pares...
Será que isso é possível? Um professor poderá acreditar que, em um bimestre,
uma criança de oito anos não aprendeu NADA? Eu acredito que é possível
que um aluno tenha “NA”… mas acredito que também é preciso pensar o que
esteve o professor a fazer durante todo o bimestre.
Quando eu trabalhava em outras escolas, quando tinha a sensação que um ou
mais alunos não tinham obtido uma classificação positiva, pensava no que eu
tinha feito de mal (e pelo menos não muito bem) e não naquilo que o aluno era
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