Direito (TCC)
Direito (TCC)
Direito (TCC)
Bacharelado em Direito
Quirinópolis - GO
2021
1
Quirinópolis - GO
2021
Ferreira Junior, Marciel Domingues.
Perspectivas de subsunção das fake News aos crimes
tipificados no código penal. / Marciel Domingues Ferreira Junior.
– Quirinópolis, 2020.
23 f.
Aos vinte dias (20) dias do mês de fevereiro do ano de dois mil e vinte e um (2021) a partir
das doze horas, de forma remota pela plataforma Google Classroom, via Meet, em virtude
da adoção das medidas sanitárias de distanciamento social impostas pela COVID-19, teve
lugar à sessão de julgamento da Monografia de Graduação do (a) concluinte acima citado
(a) que apresentou o Tema “PERSPECTIVAS DE SUBSUNÇÃO DAS FAKE NEWS AOS CRIMES
TIPIFICADOS NO CÓDIGO PENAL”. A Banca Examinadora foi composta pelos seguintes
professores: Presidente: Profa. Esp. Orientadora Gabriela Bastos Machado Ferreira
(FAQUI) e Convidados: Prof. Esp. Marcos Gabriel Oliveira Evangelista (FAQUI) e Prof.
Me. Jonathas Ferreira Santos (FAQUI). Os Examinadores arguiram e o (a) discente
respondeu. Às 12h54min, a Banca Examinadora passou a julgamento em sessão secreta
tendo sido o (a) candidato (a) aprovado(a) com a seguinte nota: nove ponto seis (9.6).
Reaberta a Sessão Pública o (a) Presidente da Banca Examinadora proclamou os
resultados e encerrou a Sessão, da qual foi lavrada a presente ata que vai assinada por
mim, Gabriela Bastos Machado Ferreira, Presidente da Banca Examinadora, pelo Diretor
Acadêmico Marcos Divino Ferreira Santos e por Paulo Henrique Garcia Andrade
Coordenador do Curso de Direito.
Profa. Esp. Gabriela Bastos M. Ferreira Prof. Esp. Marcos Divino Ferreira Santos
(Orientadora) (Diretor Acadêmico)
Documento assinado eletronicamente pelo Coordenador do Curso de Direito, Professor Paulo Henrique Garcia Andrade, autenticando a veracidade do ato, já que
realizada a defesa de forma virtual.
FACULDADE QUIRINÓPOLIS
Documento assinado eletronicamente pelo Coordenador do Curso de Direito, Professor Paulo Henrique Garcia Andrade, autenticando a veracidade do
ato, já que realizada a defesa de forma virtual.
3
RESUMO
O presente trabalho versa acerca de determinados direitos e garantias fundamentais que concebem o
Estado Democrático de Direito, em especial, as liberdades elencadas na Constituição, diante à
acessibilidade de conexão com as redes virtuais. Pois, tais redes ocasionam um excesso de
informação à sociedade e sobressaltam a era da pós-verdade e das fake news, que põem em risco
outros direitos essenciais ao ser humano. Assim, com vistas a atingir o objetivo desse trabalho, a
priori, analise-se os aspectos que contribuem para o surgimento de tais fake news na sociedade, de
modo a ponderar como a liberdade de expressão se excede por meio das notícias inverídicas.
Posteriormente, a pesquisa ainda observa as condutas de disseminações de notícias falsas, sob as
perspectivas da Criminologia e do Direito Constitucional, que as caracterizam como uma conduta
delinquente, sobre a qual se fundamenta a responsabilidade penal àqueles que disseminarem fake
news, enquanto delinquência. Em seguida, a partir dessas análises e de fundamentações, o ateste da
real possibilidade de subsunção de tais condutas delinquentes à uma norma penal incriminadora,
disposta no Código Penal Brasileiro, como uma forma de resguardar direitos e princípios protegidos
pela Constituição. De modo que, essa subsunção tenha o escopo de mitigar o estado de anomia no
corpo social e de injustiça às vítimas das fake news. A fim de embasar os tópicos, ora apresentados,
foram utilizadas reportagens verídicas que vislumbre a caótica realidade voltada as fake news,
posicionamentos de doutrinadores consagrados do direito penal, como, dogmáticas relacionadas à
criminologia e ao Direito Constitucional, e leis aplicáveis ao assunto.
ABSTRACT
This paper deals with certain fundamental rights and guarantees that conceive the Democratic State of
Law, especially, the freedoms listed in the Constitution, in face of the accessibility of connection with
virtual networks. Because, such networks cause an excess of information to society and startle the era
of post-truth and fake news, which endanger other essential human rights. Thus, with a view to
achieving the objective of this work, a priori, analyzed of aspects, which contribute to the emergence
of such fake news in society, in order to consider how freedom of expression is exceeded through
untrue news. Posteriorly, the survey still looks at the conduct of spreading false news, under the
perspectives of Criminology and Constitutional Law, which characterize them as a delinquent conduct,
on which is based the criminal liability to those who disseminate fake news, as a crime. From these
analyzes and foundations, the attestation of the real possibility of subsuming such conduct to an
incriminating criminal norm, provided in the Brazilian Penal Code, as a way of protecting rights and
principles protected by the Constitution. So that, this subsumption have the scope of mitigating the
state of anomie in the social body and injustice to the victims of those delinquencies are thus avoided.
In order to support the topics, presented here, true reports were used that glimpse the chaotic reality
focused on fake news, positions of consecrated doctrines of criminal law, as well as dogmatics related
to criminology and Constitutional Law, as well as laws applicable to the subject.
1
Graduando do Curso de Direito pela Faculdade Quirinópolis (FAQUI), Goiás.
E-mail: marcieldominguesferreirajunior@gmail.com
.
4
INTRODUÇÃO
regentes do Direito Penal, algumas normas do Código Penal Brasileiro cabíveis para
a repressão daqueles que utilizarem, irresponsavelmente, e de maneira ardilosa, da
liberdade de expressão com propósitos dotados de malícia.
Para tanto, utilizou-se do método tipológico, de maneira a estudar o
fenômeno da fake news diante a exacerbação da liberdade de expressão,
identificando as falhas e pontos essenciais dessa liberdade, tal como a ascensão
das fake news. A fim de embasar os tópicos desse trabalho, foram utilizados, tanto
reportagens verídicas que vislumbre a caótica realidade voltada as fake news, como,
posicionamentos de doutrinadores consagrados do direito penal, dogmáticas
relacionadas à criminologia e ao Direito Constitucional, e leis aplicáveis ao assunto.
[...] estar por trás de um avatar dificulta o embate direto e, por isso, estimula
a publicação irrefletida de conteúdo on-line. Quem compartilha, nesse caso,
raramente terá que prestar contas de seu ato. Qualquer comentário mais
incisivo de alguém que apresente outros dados ou venha tirar satisfação de
informações imprecisas ou inverídicas, poderá ser simplesmente ignorado.
8
Diante disso, não obstante, o ser humano tem o direito de expor livremente
os seus pensamentos e ideologias, tal qual garantido pelo Estado Democrático de
Direito. Essa garantia não pode ser desmedida a ponto de predominar sobre outros
princípios e/ou direitos fundamentais, como por exemplo, prevalecer diante do
princípio da dignidade da pessoa humana.
Nesse diapasão, de um lado, segundo o que dispõe o artigo 5°, inciso II, da
Constituição Federal Brasileira, têm, os cidadãos brasileiros, o direito de fazer tudo o
que a lei não proíbe; de outro, também há o dever de se respeitar o próximo,
enquanto ser humano e cidadão. Por isso, tudo o que, de algum modo, corresponder
ao âmago do outro deve ser analisado e, se tal liame tiver um viés nocivo, o direito
de não fazer apenas o que a lei proíbe, deve ser flexibilizado, face à proporção que
a exposição nociva pode desencadear.
Logo, surge uma dicotomia entre o direito de se expor as próprias opiniões e
os próprios pensamentos face à necessidade de limitação desse direito no que toca
às fake news, pois tal limitação sugere uma tênue linha para que haja uma possível
censura. Todavia, mesmo que haja a crença dessa possível censura para com a
liberdade de expressão, tal limitação não aflige frontal e, sim, transversalmente, esse
direito, pois vai flexibilizar sua amplitude, apenas ao que for relativo ao excedente,
frente a outro direito que, pelas circunstâncias, torna-se mais significativo.
Além do mais, não há direito absoluto e seguindo o entendimento de
Nazareth (2018, p. 594), sobre os direitos fundamentais, ainda é possível pontuar
que:
[...] estão sujeitos à chamada “Teoria dos Limites Imanentes dos Direitos
Fundamentais” [...]. Segundo esta, os direitos fundamentais, mesmo quando
não sofrem limites legais pelo legislador originário, encontram limites neles
mesmos, por serem relativos e limitados. Dessa forma, não há direito
absoluto dentro do ordenamento jurídico, mas sim a ponderação de direitos
e liberdades que mantêm a unidade desse sistema.
10
Malgrado a repressão das disseminações de fake news possa ser feita pelo
direito penal, ainda se faz necessária uma breve análise de tais condutas sob a
perspectiva da Criminologia e do Direito Constitucional, no que tange a alguns
aspectos que têm o intuito de embasarem a cientificidade da subsunção da conduta
de propagadores de falsas notícias sob a espécie de um delito. Assim, para a ciência
criminológica, a caracterização e a definição de crime, considerando o entendimento
de Penteado Filho (2020, p. 18), se dá como:
[...] caso se quebre uma janela de um prédio e ela não seja imediatamente
consertada, os transeuntes pensarão que não existe autoridade responsável
pela conservação da ordem naquela localidade. Em breve, todas as outras
janelas serão quebradas. Nisso, haverá a decadência daquele espaço
urbano em pouco tempo, facilitando a permanência de marginais no lugar,
criando-se, por consequência, um caos anunciado. Dessa forma, defende-
se que a desordem tem relação de causalidade com a criminalidade, pois
deve haver uma repressão imediata e severa das menores infrações [...],
com o escopo de deter o desencadeamento de grandes ações criminosas,
restabelecendo [...] um clima de ordem.
controle por parte do Estado para coibir tais condutas delinquentes, tanto para não
deixar que um direito se sobeje em relação a outro – no caso a liberdade de
expressão frente a um outro direito fundamental –, quanto para haver-se como uma
política preventiva – desconstruindo o estigma de anomia, e impedindo que o
ambiente virtual se afunile para um caos maior e se transforme em uma espécie de
cracolândia virtual.
Nesse sentido, a criminologia ainda trata a prevenção sobre dois enfoques, o
geral – em que a norma repressora, além de intimidar os indivíduos a não
cometerem condutas delinquentes, ainda conscientiza-os sobre valores relevantes,
os quais são tomados por bens jurídicos a serem defendidos –, e o especial – que,
com a repressão e a devida segregação do autor do delito com a sociedade, não só
trará a esse autor um caráter de reflexão sobre sua conduta delinquente para
quando retornar à sociedade, como o deixará impedido de cometer novos delitos,
enquanto preso.
Por conseguinte, o instrumento de maior rigor e eficácia que o Estado pode
usar para restaurar o sentimento de punibilidade e ordem entre os cidadãos da
sociedade são os tipos penais incriminadores, os quais terão força repressiva, bem
como cunho preventivo capaz de conscientizar a sociedade para a natureza ilícita de
atos delinquentes, tal como as fake news.
Entretanto, não se pode olvidar que, por se tratar de uma contenção de
garantia fundamental, a qual é protegida pela Constituição, e seguindo a cognição
de Hans Kelsen, no que tange o sentido lógico-positivo, a Constituição é a
disposição legal máxima de um ordenamento jurídico e guarnece no topo da
pirâmide das normas positivadas, todas as outras normas que estiverem abaixo dela
não poderá sobrepô-la. Como exemplo, uma norma do Código Civil.
Assim, o que permite o uso das normas incriminadoras do direito penal, para
o controle social da liberdade de expressão, não se encontra em outras normas, a
não ser, na própria Constituição, que elenca outros direitos e garantias
fundamentais, também essenciais ao ser humano. Desse modo, contribuindo e
salientando sobre esses juízos, Graça (2019, p.407) aduz que:
Logo, um dos fundamentos que se tem para o uso das normas penais, com
vista à aplicação na repressão às fake news, dissimulada na liberdade de expressão,
é o princípio da dignidade da pessoa humana. Trata-se de um fundamento
principiológico do Estado Democrático de Direito, que garante a todos os cidadãos o
direito de não apenas viver, mas de viver com uma qualidade de vida razoável, além
de assegurar aos cidadãos brasileiros um mínimo de direitos a serem respeitados
pelo Estado e pelos demais membros da sociedade, de forma a resguardar a
condição de ser humano.
Desse modo, partindo da premissa de que nem sempre o outro será anuente
com alguma ideologia de um de seus semelhantes, e a depender de sua formação
moral, é previsível que esse outro poderá não medir o mínimo de escrúpulos para
fazer prevalecer o seu ideal frente ao ideal de seu semelhante. Pois, em
oportunidades de manifestar opinião adversária, muitos fazem uso da liberdade de
expressão como uma mascará para destilar, de maneira baixa e covarde, um infame
discurso de ódio. Nessa ótica, tem-se o julgado do STF, citado por Lenza (2019,
p.1196), em que:
Outro direito fundamental, que ainda tem intrínseca relação com o princípio
anterior, é o da inviolabilidade da vida privada, da intimidade, da honra e da imagem
das pessoas. Tal direito, além de trazer, de antemão, a possibilidade de
responsabilização para violações, ainda dá notória fundamentação à flexibilização
da garantia assegurada, ao estabelecer, expressamente, a elementar
“inviolabilidade” no próprio inciso X, do artigo 5º da CF/88.
Quanto a esse direito, tem-se que ele abarca quatro perspectivas
relacionadas ao direito personalíssimo, as quais protegem tanto questões
relacionadas ao particular da pessoa, ou seja, a intimidade e a vida privada, quanto
a questões que ultrapassam a redoma do particular, honra e imagem, mas que ainda
devem ser mantidas positivas, ou ao menos neutras, diante dos demais.
14
3.2 Dos tipos penais incriminadores que podem subsumir-se às fake news e os
respectivos bens jurídicos tutelados por aqueles tipos incriminadores
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BINTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 26.ed. v.1. São Paulo:
Saraiva Educação, 2020, p.119.
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal – parte geral. 4.ed. v. único.
Salvador: JusPODVIM, 2016, p.84-5.
ESTEFAM, André. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120). 7.ed. v.1. São Paulo:
Saraiva Educação, 2018, p.102.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. 19.ed. v.1. Niterói: Impetus,
2017, p.177.
JESUS, Damásio de. Direito Penal parte especial: crimes contra a pessoa a crimes
contra o patrimônio - arts. 121 a 183 do CP. 36.ed. v.2. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020, p.288.
NAZARETH, Rodrigo Trisoglino. Saúde e mídia social: As fake News que matam.
Unisanta Law and Social Science, v. 7, n. 3, p. 593-604, 2019.
NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de direito constitucional. 3.ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2019, p.999.
21
WEBGRAFIA
AGUIAR, Tiago. Felipe Neto é novamente alvo de boato falso que o associa à
pedofilia. Jornal Estadão, [S.l.] 27 jul. 2020. Disponível em: <https://politica.estadao.
com.br/blogs/estadao-verifica/felipe-neto-e-novamente-alvo-de-boato-falso-que-o-
associa-a-pedofilia/>. Acesso em: 30 set. 2020.
BALEM, Isadora Forgiarini. O impacto das fake news e o fomento dos discursos
de ódio na sociedade em rede: a contribuição da Liberdade de expressão na
consolidação democrática. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E
CONTEMPORANEIDADE. 4., 2017, Santa Maria. Anais... Santa Maria: UFSM, 2017.
p. 1-15. Disponível em: <http://coral.ufsm.br/congressodireito/anais/2017/1-12.pdf>.
Acesso em: 18 set. 2020.
FORBES. 12 países com maior exposição a fake news. Forbes, [S.l] 25 jul.2018.
Disponível em: <https://forbes.com.br/listas/2018/06/12-paises-com-maior-exposicao
-a-fake-news/>. Acesso em: 24 set. 2020.
MOTA, Rejane Francisca dos Santos. Mídia e Direito Penal: Articulação e Influência
nos Direitos Fundamentais do Acusado. Revista Brasileira de Direitos e Garantias
Fundamentais, Salvador, v. 4, n. 1, p. 35 – 55, jan.-jun. 2018. Disponível em:
<https://www.indexlaw.org/index.php/garantiasfundamentais/article/view/3939/pdf>.
Acesso em: 05 set. 2020.
PENA, L. P. J. (2018). Fake news: uma breve análise acerca de sua trajetória
internacional, consequências políticas e perspectiva jurídica. Revista Dizer,
Ceará, Ano 3, n. 3, p 136-150, jan.-out. 2018. Disponível em: <http://www.periodicos.
ufc.br/dizer/issue/view/751/182>. Acesso em: 14 set. 2020.
SIRIUS, Albus [Bruna de Souza Elias]. Das fake news aos discursos de ódio: uma
análise à luz da constituição cidadã nas mídias sociais. In: PRÊMIO AMAERJ
PATRÍCIA ACIOLI DE DIREITOS HUMANOS, n.° 8, ano 2019, Rio de Janeiro.
Anais... Rio de Janeiro: AMAERJ, 2019. Disponível em: <https://amaerj.org.br/wp-
content/ uploads/2019/10/Fake-News.pdf>. Acesso em: 20 set. 2020.
VEJA. Notícias falsas motivaram ataque armada a pizzaria nos EUA. Veja, [S.l.],
07 juh. 16. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/mundo/noticias-falsas-
motivaram-ataque-armado-a-pizzaria-nos-eua/>. Acesso em: 20 set. 2020.