Resenha-Totem e Tabu Finalizada

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Resenha: Totem e Tabu

FREUD, S. Totem e tabu. In: FREUD, S. Totem e Tabu (1913[1912-13]). Edição


Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XIII.
Rio de Janeiro: Imago, 1986. p.11-164.

Aluna: Nayara Cristina Zagatto

A obra TOTEM e TABU de Sigmund Freud foi desenvolvida em quatro partes,


sendo elas:

PARTE I – O HORROR AO INCESTO (1912)


PARTE II – TABU E AMBIVALÊNCIA EMOCIONAL (1912)
PARTE III – ANIMISMO, MAGIA E A ONIPOTÊNCIA DE PENSAMENTOS (1913)
PARTE IV – O RETORNO DO TOTEMISMO NA INFÂNCIA (1913)

PARTE I – O HORROR AO INCESTO (1912)

Nesta primeira parte, da obra de Totem e Tabu, Freud, apresenta a nós


leitores costumes e ideologias dos tempos primórdios. A definição dos termos totem
e tabu foi sucintamente explicada no início do texto, porém ao decorrer da leitura é
possível obter melhor entendimento. Mas, resumidamente, Freud faz a comparação
entre o homem primitivo contemporâneo, por meio de seus estudos da Antropologia
Social da época, e a psicologia dos neuróticos trazida pela psicanálise. Assim,
estuda o material pesquisado sobre os aborígenes da Austrália, cuja organização
social se relaciona com a evitação de relações sexuais incestuosas. As instituições
religiosas e sociais que não possuíam, tinham em seu lugar o Totemismo.

Desta forma, são realizadas comparações entre o homem moderno e o


primitivo; isto proporciona ao leitor a reflexão do quão semelhante é dos seus
antepassados. Existem nos dias atuais costumes herdados, como a prevenção de
relações incestuosas. A partir disso, a característica comum, o autor conclui o texto
ressaltando que atualmente, o sujeito definindo como neurótico é aquele que não
supera os desejos proibidos na infância, o complexo de Édipo.

Na tentativa de explicar a minha percepção do texto, o totem seria o animal


comível e inofensivo ou perigoso e temido, raramente um vegetal ou fenômeno
natural que mantém relação peculiar com todo o clã. É o antepassado comum do clã
e seu espírito guardião e auxiliar. Ao clã (grupos menores da tribo) cabe não matar
nem destruir seu totem. O caráter totêmico é inerente não só ao animal ou entidade
individual, mas a todos de determinada classe. Nas festas imitam movimentos e
atributos do totem. O totem pode ser herdado tanto pela linhagem feminina como
masculina.

Há um certo tipo de provocação de Freud quando ele exige que haja


reconhecimento de suas semelhanças com homens selvagens. Mas, de certa forma,
o regulamento totêmico existente em tempos tão distintos ainda se aplica ao
cotidiano.

Desta maneira, como seria possível o homem primitivo a adotar os totens?


Isto é, como vieram eles a tornar o fato de descenderem de um animal ou de outro a
base de suas obrigações e restrições sociais? Existem várias teorias sem
concordância e Freud irá formular uma hipótese a partir da psicanálise.

Como explicado nesta primeira parte, o incesto era aplicado de forma mais
ampla, o que é compreensível, afinal a divisão da comunidade se dava por clãs nos
quais nem todos os indivíduos eram consanguíneos. Nos dias atuais a instituição
familiar representa o parentesco de sangue, o que restringe e limita a relação
incestuosa. Podemos perceber que os tempos mudaram, os homens evoluíram e o
incesto continua sendo tabu. Isto evidencia que tabu é atemporal e possui
dificuldade em quebrá-lo.

Durante a leitura, tive a sensação de que é intrigante que homens selvagens


pudessem ter concepções morais sobre certo e errado em uma comunidade. Devido
a uma certa selvageria, o incesto estava mais propenso a ocorrer no clã totêmico,
desse modo a evitação se fazia necessária. Se considerado que a evitação não
vigora na atualidade, a relação incestuosa continua sendo possível.

O Totemismo e a Exogamia foram observados ocorrendo conjuntamente,


dessa forma, existia a lei que proibia as relações sexuais, o casamento entre
pessoas do mesmo totem. Os totens são hereditários não mutáveis pelo casamento.

Estudiosos afirmam que o incesto é característica natural do ser humano,


contudo o mesmo é impulsionado a superá-lo. Neste quesito, há concordância com
o ponto de vista de Freud. A psicanálise determina a tentação das relações
incestuosas como inconsciente o que remete a algo natural do indivíduo, apesar
disso a prevenção do ato incestuoso é consciente e faz-se necessária.

Além disso, quando ocorre falha na superação do complexo de Édipo, o


sujeito é considerado neurótico, ou seja, possui infantilismo psíquico. Ao ler o
capítulo e aprofundar-se na psicanalise, pode-se concluir que o indivíduo possui o
superego comprometido, visto que este é herdado pelo complexo de édipo, e impõe
restrições de impulsos instintivos originados no Id. Através do texto, foi possível
compreender que uma melhor compreensão das relações grupais desde as
instituições tribais até as famílias contemporâneas, segundo a abordagem
psicanalítica. O autor proporciona uma viagem à época primitiva, estimula a
atividade reflexiva e o senso crítico do leitor.

PARTE II – TABU E AMBIVALÊNCIA EMOCIONAL (1912)

Nesta segunda parte, Freud inicia seu trazendo uma reflexão do registro
antropológico para ir, aos poucos, se deslocando para a neurose e, depois, retorna
ao social. E é neste contexto que emerge o estudo do tabu.

O autor atribui uma importância ao tabu por duas razões: por sugerir que o
mesmo pode se revelar esclarecedor para compreendermos a noção do “imperativo
categórico” e, também, por perceber a existência de uma íntima relação entre os
tabus primitivos e as proibições e convenções morais vigentes em nossa sociedade.
Porém, faz-se necessário notar que tabu nos remete à ideia de proteção e
prevenção contra eventuais ações que representem perigo ou ameaça. Neste
sentido, a violação de um tabu era, sem dúvida, motivo de punição ou castigo, o que
nos indica que “os primeiros sistemas penais humanos podem ser remontados ao
tabu” (FREUD [1913- 1914], p.17).

Ao transgredir um tabu, a pessoa efetora da ação será relegada a


ser o próprio tabu, confirmando que a transmissibilidade é
possível quando em contato com as pessoas ou coisas,
carregadas de um poder perigoso. “O fato mais estranho parece
ser que qualquer um que tenha transgredido uma dessas
proibições adquire, ele mesmo, a característica de ser proibido —
como se toda a carga perigosa tivesse sido transferida para ele”
(FREUD [1913- 1914], p.19).

É importante destacar que a característica que reside no tabu de contato


permeia, também, os neuróticos obsessivos, na fobia do tocar.

Dessa forma, então, o castigo prescrito pelo tabu, relativo ao contato com o
interditado, aparece como um meio de alçar o objeto desejado ao estatuto de um
objeto impossível. Esta expressão de desejo e, ao mesmo tempo, de temor, leva
Freud a acreditar que, assim como os povos primitivos sustentam esta atitude
ambivalente, no sujeito neurótico esse paradoxo também consiste.

Fica claro que a evidência mais marcante da articulação existente entre as


proibições neuróticas e as suscitadas pelo tabu, emerge, pois, da origem não
determinada e destituída de sentido em ambos os casos. Sendo assim, Freud
defende, que a origem do tabu aparece como algo imposto, em outra época, por
uma autoridade externa e não passível de demonstração ou clarificação. O interesse
do autor é orientado à verificação de que esses fatores, inerentes ao tabu, aparecem
e constituem, particularmente, os sintomas e medidas ambivalentes da neurose
obsessiva; estas últimas, entendidas como a dominância de tendências opostas e
contraditórias, que encerram a dimensão mais importante nos pacientes obsessivos.

As proibições obsessivas, segundo Freud, estão sujeitas ao deslocamento, isto


é, há um deslocar de um objeto para outro, que, quando eleito, torna-se igualmente
inacessível. A justificativa recai, novamente, ao fato de que a proibição reflete o
desejo e, portanto, ao tentar interditar o desejo que é de natureza inconsciente, tem-
se, cada vez mais, a aproximação com ele.

É importante salientar também que o percurso clínico e o discurso travado no


contexto da psicanálise revelam que um ponto determinante para a imposição da
proibição ocorre logo no início da mais tenra infância, e depois terá como resultado
mecanismos repressores que envolvem, por exemplo, a perda de memória. O
desejo, por outro lado, ainda que reprimido, permanece vívido no inconsciente,
ecoando e se fazendo presente sob a persistência da proibição.

Além disso, Freud retorna as fundamentais proibições, originados do tabu, e as


descreve como as leis básicas do totemismo:
I) não matar o animal totêmico e II) evitar relações sexuais com membros do
clã totêmico do sexo oposto. A exposição destes dois tabus, para os psicanalistas,
parece denunciar o ponto central dos desejos da infância e o núcleo das neuroses.

Desta forma, é possível, mencionar que há uma forte motivação inconsciente


para a ação proibida, originária do próprio tabu, que, em si mesmo, possui o poder
de transmissão e contágio do interdito, bem como a capacidade de produzir a
tentação ou mesmo de incentivar a imitação. A violação, nesse sentido, traduzida
por impulsos conscientes, deve ser vetada, visto que apresenta um perigo real para
a convivência em sociedade. É por essa razão que os membros de uma
comunidade devem estar avisados de seus transgressores e se vingarem, para que
a sociedade não esteja fadada à dissolução. Se a renúncia é necessária em prol da
obediência que deve ser destinada ao tabu, por outro lado, ela também é
compensatória, na medida em que impõe outra alhures. Os seres humanos são
extremamente ambivalentes em relação ao tabu, e ao realizar uma análise
pormenorizada das relações contraditórias existentes entre os povos primitivos.

A respeito da relação dos súditos com seus superiores (governantes), é


possível identificar os contrastes que existem em sua base. Embora o rei seja
autorizado a gozar de grandes privilégios, enquanto outros não o são, ao governante
são endereçados certos tabus que não são prescritos aos demais viventes.
Portanto, este dado confere validade à existência da ambivalência, na medida em
que, ao mesmo tempo, a expressão do mais profundo respeito por eles não passa
de um castigo, uma vingança de seus súditos. Não é de se admirar que suas vidas
se transformem num verdadeiro inferno, acabando por viver uma servidão maior do
que a de seus súditos.

Freud estabelece, nesse segundo capítulo, entre os selvagens e os neuróticos,


revelam, fundamentalmente, a presença de sentimentos ambivalentes e
contraditórios, que ora são hostis, ora são afetuosos. Este caráter ambíguo dos
impulsos revela que há, simultaneamente, satisfação em ambas as experiências,
encontradas nestes dois polos que, apenas aparentemente, são dissociáveis.

Por fim, o autor se aproxima do que mais tarde irá tratar sobre natureza e a
origem da “consciência moral”, compreendida como a condenação que o sujeito
sente ao agir influenciado por certos desejos. Do mesmo modo que o tabu, ela
parece também ser parida pela ambivalência afetiva, na qual uma parte da oposição
permanece inconsciente, através de alguns mecanismos psíquicos, enquanto a
outra se manifesta, explicando, assim, o seu caráter angustiante.

Além disso, alguns processos psíquicos inconscientes se diferem, quanto a


sua natureza, dos conscientes, desfrutando de certas liberdades negadas aos
últimos, tais como o deslocamento e a projeção (mecanismos de defesa), que
permitem à pulsão manifestar-se num lugar outro, que não aquele onde surgiu. O
autor nos chama a atenção para o conflito que se estabelece quando uma ordem
emitida pela consciência é violada, produzindo senso de culpa, cuja natureza está
intimamente ligada à ansiedade:

(...) se impulsos cheios de desejo forem reprimidos, sua


libido se transformará em ansiedade. E isto nos faz
lembrar que há algo de desconhecido e inconsciente em
conexão com a sensação de culpa, a saber, as razões
para o ato de repúdio. O caráter de ansiedade que é
inerente à sensação de culpa corresponde ao fator
desconhecido (FREUD [1913- 1914], p.47/48).

Freud defende a ideia de que por detrás de toda interdição há desejos


inconscientes ocultos, o autor recorre aos “Dez Mandamentos” para melhor ilustrar
esta situação. Ao fazer alusão ao mandamento Não matarás, ele explica que a
existência desse imperativo somente é pertinente, na medida em que o ser humano
carrega inconscientemente o desejo de matar, caso contrário, não haveria
necessidade de proibir algo que ninguém deseja fazer e “e uma coisa que é proibida
com a maior ênfase deve ser algo que é desejado” (FREUD [1913- 1914], p.48).

Freud discorre sobre diversas semelhanças encontradas entre o tabu e a


neurose obsessiva, porém, ele nos alerta de que é necessário lembrar de que o tabu
é uma formação social, gerada no bojo da cultura e, por isso mesmo, diferente da
neurose, que se caracteriza pela dominação e sobreposição dos componentes
sexuais aos sociais.

Discorrendo sobre a transgressão do tabu, é provável que ao sujeito que a


cometeu sejam incididas algumas punições que, na maioria das vezes, aparecem
como uma doença grave ou morte. Quando não são acompanhados de castigos, a
própria coletividade, inserida no contexto do transgressor, se responsabiliza por
aplicar as penalidades, visto que se sentem ameaçadas e temem o tabu de contato.
É possível reconhecer neste ponto os desejos recalcados no criminoso e naqueles
que estão encarregados de vingar a sociedade do crime cometido.

Na neurose obsessiva aparentemente agindo de forma altruísta, o neurótico,


ainda que acometido de impulsos de transgressão, quando defrontado com a
possibilidade de concretizar o ato proibido, recua e se detém. A justificava reside no
temor que ele sente de que alguém por quem ele tenha muito apreço sofra as
punições em seu lugar. Poder-se-ia supor uma “inesperada nobreza do neurótico”,
mas, o que Freud aponta é que, assim como o primitivo, ele também teme ser
castigado por seu desejo de morte contra a pessoa que lhe é cara. A diferença,
contudo, está no fato do neurótico recalcar esse desejo, que, por meio de
sucessivos deslocamentos, se transformou em temor de que a pessoa viesse a
falecer.

Deste modo, pode se concluir o porquê de os fatores sociais desaparecerem


nos casos de neurose, pois eles reaparecem tamponados, mascarados por uma
sobre compensação. O mundo no qual o neurótico se refugia é distante do mundo
real do qual ele foge, justamente porque num mundo imaginário ele não tem que se
deparar com uma realidade que não lhe oferece satisfações. Mas, ao se desviar
dessa realidade, adotando uma postura antissocial, o neurótico é destituído de sua
própria comunidade humana.

PARTE III – ANIMISMO, MAGIA E A ONIPOTÊNCIA DE PENSAMENTOS (1913)

Nesta terceira parte do texto, Freud se apoia sobre três grandes concepções
de mundo, a animista (mitológica), a religiosa e científica, cultivadas nas obras de
Taylor, Spencer, Frazer e Wundt e Marret.

O autor traz uma reflexão que os humanos, diante de suas necessidades,


criaram suas primeiras concepções de mundo em consonância com seus próprios
desejos. Inicialmente, na fase animista, atribuíram poder a si mesmos e
posteriormente, na fase religiosa, aos deuses, sem, contudo, abdicar do desejo de
influenciá-las para que agissem conforme seus respectivos desejos humanos. O
animismo, criado pelo primitivo, concebia o mundo como algo natural, regido pela
magia, que era considerada uma espécie de fio condutor por meio do qual o
primitivo pensava que poderia se apoderar do espírito dos homens, dos animais e
das coisas. Freud, em oposição à Taylor, defendia a ideia de que o que estava em
questão na magia eram os desejos humanos, os únicos responsáveis por induzir
uma superestimação dos processos de pensamento em relação à realidade.

Enfatizando o papel da magia na onipotência das ideias, o autor nos alerta para
o conceito fundamental da psicanálise que é a realidade psíquica, sustentada por
um desejo inconsciente. Os povos primitivos, por meio da imposição de suas
próprias leis psíquicas, externavam na realidade os seus reais desejos, a fim de que
os espíritos agissem conforme suas vontades. Sendo assim, essa mesma
característica que aparece no primitivo é também visível na criança, cujo psiquismo
conserva as mesmas condições de um selvagem, fazendo com que alucinem a
realização de seus desejos.

Dessa forma, o modo que o ser primitivo encara o mundo, isto é, à sua imagem
e semelhança, leva Freud a constatar uma associação que existe entre a
onipotência e o narcisismo, entendido como investimento libidinal em si próprio, em
que o outro existe somente enquanto objeto de satisfação, e não em sua alteridade.

Correlacionando o pensamento onipotente do primitivo e o narcisismo, permitiu


que Freud apontasse para as diferentes maneiras de conceber o mundo e o
desenvolvimento da libido individual. A fase animista estaria atrelada, deste modo,
ao narcisismo primário, a religião ao estágio no qual a libido se fixa nos pais e, por
fim, a ciência estaria ligada ao estado de maturidade no qual há uma renúncia, por
parte do sujeito, à exclusiva busca de prazer e subordina sua escolha de objeto às
exigências da realidade.

O autor não cessa suas analogias entre os sujeitos primitivos e os neuróticos.


Os neuróticos também hesitam para aceitar a realidade tal como ela é, atribuindo à
realidade externa, as suas próprias aspirações. Estes últimos, segundo o
psicanalista, possuem natureza mágica, isto é, tanto em seus atos quanto em suas
defesas, imperam a onipotência das ideias e o predomínio dos processos psíquicos
sobre a vida real. A transposição do animismo, da magia e da onipotência das ideias
para a esfera da religião, e depois da ciência, se concretizou devido à renúncia
pulsional exigida pela cultura.

Por fim, para concluir esta terceira parte, em nossa experiência cotidiana, é
possível identificar alguns resquícios do animismo presentes, por exemplo, nos
sonhos. Ao prosseguirmos com a leitura de Totem e Tabu, é visível que Freud ao
longo dos seus três primeiros textos desta obra, prepara o terreno para introduzir o
ato de nascimento de sua metapsicologia do social, por meio de sua hipótese acerca
da gênese da cultura.

PARTE IV – O RETORNO DO TOTEMISMO NA INFÂNCIA (1913)

Nesta última parte da obra Totem e Tabu, o totemismo é um sistema que


ocupa o lugar da religião entre certos povos primitivos da Austrália, da América e da
África e provê a base de sua organização social. O totem é, por um lado, um nome
de grupo e, por outro, um nome indicativo de ancestralidade. O texto vai trazer
hipóteses sobre a origem do Totemismo: Como foi que os homens primitivos vieram
a chamar-se a si mesmos e a seus clãs com nomes de animais, vegetais e objetos
inanimados? Dessa forma, Freud divide as teorias sobre a origem do totemismo em
três grupos:

1. Teorias nominalistas;

2. Teorias sociológicas;

3. Teorias psicológicas.

Sobre as teorias nominalistas, aquelas que justificam a origem do totem como


uma necessidade sentida pelos clãs de distinguirem-se entre si pelo uso de nomes.
O Totem seria uma marca de clã, depois um nome de clã e, finalmente, o nome de
algo adorado por um clã. O Totemismo, assim, teria surgido não das necessidades
religiosas dos homens, mas de suas necessidades práticas e cotidianas. Lang (1903
e 1904) citado por Freud, irá supor que a origem dos nomes (do totem) tinha sido
esquecida pelo homem primitivo que, ao despertar para o fato, pergunta-se: Que
outro vínculo poderia ser esse entre o homem primitivo e o animal totêmico, senão o
de parentesco de sangue? (Origem de superstições). Outra explicação do autor
seria por uma necessidade prática.
Referente as teorias sociológicas, para Durkheim (1912), citado por Freud, o
totem é “o representante visível da religião social entre os povos relacionados com
ele: corporifica a comunidade, que é o verdadeiro objeto de sua adoração. ”
(Freud,1974, p.139).

Para Frazer, também citado por Freud, “As realizações de cada clã traziam
vantagens para todos os outros. Uma vez que cada um deles não podia comer nada
ou apenas muito pouco de seu próprio totem, fornecia material valioso para os
outros clãs e, em troca, era abastecido com o que eles produziam como dever social
totêmico. ” (Freud, 1974 p.141).

Por fim, referente as teorias psicológicas, a primeira teoria psicológica de


Frazer, apud Freud, baseava-se na crença de uma “alma externa”. O totem, de
acordo com este ponto de vista, representava um lugar seguro de refúgio em que a
alma podia ser depositada, fugindo assim aos perigos que a ameaçavam. Dessa
forma o autor, abandonou essa teoria por achá-la demais complicada à organização
social nela envolvida. Os Aruntas (tribo), segundo Freud, eliminavam a vinculação
entre o ato sexual e a concepção, por conseguinte, a fonte suprema do totemismo
poderia ser a ignorância a respeito do processo de reprodução das espécies. Porém
esta teoria é abandonada pela distância dos Aruntas em relação aos primórdios do
Totemismo. Para Wundt, o totemismo está ligado diretamente à crença em
espíritos, ou seja, ao animismo.

Além disso, na teoria psicanalítica: Freud observa uma semelhança entre as


relações das crianças e dos homens primitivos com os animais. A fobia de animais
em crianças (pequeno Hans), o trabalho analítico mostra que “quando as crianças
em causa eram meninos, o medo, no fundo, estava relacionado com o pai e havia
sido simplesmente deslocado para o animal. ” (Freud,1974,p.155). “A criança se
alivia do conflito que surge dessa atitude emocional de duplo aspecto, ambivalente,
para com o pai deslocando seus sentimentos hostis e temerosos para um substituto
daquele. ” (Freud, 1974, p.156). Freud dá exemplo de um paciente de Ferenczi – um
menino de nome Árpád. (Freud, 1974, p.157).
Freud faz correlações de que se o animal totêmico é o pai, então as
observâncias do totemismo, proibições tabu, não matar o totem e não ter relações
sexuais com pessoas do sexo oposto do mesmo clã, formam, talvez, o núcleo das
psiconeuroses (como Freud denominava inicialmente as neuroses).

Assim, Freud discorre que a forma mais antiga de sacrifício era o de animais
cuja carne e sangue eram desfrutados em comum pelo Deus e seus adoradores.
Comer e beber com um homem constituía um símbolo e uma confirmação de
companheirismo e obrigações sociais mútuas. O sagrado mistério da morte
sacrificatória é justificado pela consideração de que apenas desta maneira pode ser
conseguido o vínculo sagrado que cria e mantém ativo um elo vivo de união entre os
adoradores e Deus. Um festival totêmico é um excesso permitido, ou melhor,
obrigatório, a ruptura solene de uma proibição. O sentimento festivo é produzido
pela liberdade de fazer o que via de regra é proibido.

“A psicanálise revelou que o animal totêmico é, na realidade, um


substituto do pai e isto entra em acordo com o fato contraditório de
que, embora a morte do animal seja em regra proibida, sua matança,
no entanto, é uma ocasião festiva – com o fato de que ele é morto e,
entretanto, pranteado (chorado, lamentado). A atitude emocional
ambivalente, que até hoje caracteriza o complexo-pai em nossos
filhos e com tanta frequência persiste na vida adulta, parece
estender-se ao animal totêmico em sua capacidade de substituto do
pai. ” (Freud, 1974, p. 169).

Juntando a interpretação psicanalítica do totem mais o fato da refeição


totêmica e a teoria de Darwin do estado primitivo da sociedade humana, Freud
constrói sua hipótese, a seguir: “Tudo que aí encontramos é um pai violento e
ciumento que guarda todas as fêmeas para si próprio e expulsa os filhos à medida
que crescem. ” (Freud, 1974, p.169).

De acordo com Freud, os desejos sexuais não unem os homens, mas os


dividem. Se quisessem viver juntos os irmãos teriam que instituir uma lei contra o
incesto. Assim, o sistema totêmico foi um pacto com o pai, no qual este prometia-
lhes tudo o que uma imaginação infantil pode esperar de um pai, proteção,
cuidado e indulgência, enquanto que, por seu lado, comprometiam-se a respeitar-lhe
a vida, isto é, não repetir o ato que causara a destruição do pai real. A religião
totêmica surgiu do sentimento filial de culpa num esforço para mitigar esse
sentimento e apaziguar o pai por uma obediência e ele que fora adiada. Também
servia como uma recordação do triunfo sobre o pai (ambivalência emocional).

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