58-Acidentes e Incidentes
58-Acidentes e Incidentes
58-Acidentes e Incidentes
introdução
Conforme a Lei n.º 8.213, de 24 de julho de 1991, no seu artigo 19, acidente do traba-
lho é conceituado da seguinte forma:
Analisando com mais atenção essa lei, é possível concluir que, na legislação brasilei-
ra, para que seja considerado acidente do trabalho, é necessário que tenha ocorrido
uma lesão em pelo menos uma pessoa. Essa pessoa machucada deve estar a serviço
da empresa, dentro ou fora das suas instalações, e em exercício do trabalho normal e
típico da sua função.
Outro ponto importante a ser destacado nesse conceito é o de que a lesão pode
ocasionar afastamento do trabalho para a sua recuperação, de forma temporária ou
definitiva, e, em última possibilidade, morte do acidentado. Porém, o efeito do acidente
pode ocasionar pequenas lesões, e o acidentado não precisa se afastar do trabalho
para a sua recuperação.
O acidente de trabalho sem afastamento é o tipo de acidente em que o
acidentado pode continuar trabalhando normalmente, no mesmo dia do
acidente ou no próximo, no horário normal de trabalho. Muitas vezes, as
empresas acabam liberando o trabalhador acidentado no dia do aciden-
te, mesmo quando não requer afastamento, devido ao susto causado.
Contudo, o funcionário retorna ao trabalho no dia seguinte.
Nos dois casos, cabe ressaltar que para ser considerada uma
doença do trabalho ou doença profissional obrigatoriamente ela
deve fazer parte da lista de doenças reconhecidas como tal.
Em seu artigo 21, a mesma lei, equipara acidente do trabalho com os seguintes eventos:
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua
capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua
recuperação;
IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:
c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta
dentro de seus planos para melhor capacitação da mão de obra, independentemente
do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;
O acidente do trabalho pode ser definido como uma ocorrência não progra-
mada, inesperada ou não, que interrompe ou interfere no processo normal de
uma atividade, ocasionando perda de tempo útil ou lesões aos trabalhadores e/
ou danos materiais. Portanto, mesmo ocorrências que não resultem lesões ou
danos materiais, devem ser encaradas como acidente do trabalho.
A legislação brasileira não define e não reconhece o termo incidente. Porém, é uma
boa prática adotada pela maioria das empresas, chamar de incidente ou quase aci-
dente, o evento ocorrido com potencial de causar lesão, mas que não tenha ocorrido
efetivamente. Para fins de realizar uma excelente gestão da segurança, é necessário e
muito importante estabelecer a mesma rotina de análise entre os dois tipos de eventos:
acidentes com lesão e incidentes.
A seguir, vamos trazer diversas definições necessárias para o entendimento do assunto.
Essas definições estão de acordo com a NBR 14280:2001, da associação brasileira de normas técnicas.
Acidente de trajeto
Acidente sofrido pelo empregado no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aque-
la, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do empregado, desde que
não haja interrupção ou alteração de percurso por motivo alheio ao trabalho.
Agente do acidente
Coisa, substância ou ambiente que, sendo inerente a condição ambiente de insegurança, tenha provo-
cado o acidente.
Fonte da lesão
Causa de acidente relativo ao comportamento humano, que pode levar a ocorrência do acidente ou a
prática de um ato inadequado.
Ato inadequado
É a causa do acidente que por ação ou omissão que, contrariando preceito de segurança, pode causar
ou favorecer a ocorrência de acidente.
Lesão pessoal
Qualquer dano sofrido pelo organismo humano, como consequência de acidente do trabalho.
Natureza da lesão
Localização da lesão
Lesão mediata
Lesão que não se manifesta imediatamente após a circunstância acidental da qual resultou.
Morte
Lesão pessoal que impede o acidentado de voltar ao trabalho no dia imediato ao do acidente ou
que resulte incapacidade permanente.
Lesão sem afastamento (lesão não incapacitante ou lesão sem perda de tempo)
Lesão pessoal que não impede o acidentado de voltar ao trabalho no dia imediato ao do acidente,
desde que não haja incapacidade permanente.
Redução parcial da capacidade de trabalho, em caráter permanente que, não provocando a morte
ou a incapacidade permanente total, é causa de perda de qualquer membro ou parte do corpo,
perda total do uso desse membro ou parte do corpo, ou qualquer redução permanente de função
orgânica.
Perda total da capacidade de trabalho de que resulte um ou mais dias perdidos, excetuadas a
morte, a incapacidade permanente parcial e a incapacidade permanente total.
Análise de acidente
Registro de acidente
Cadastro de acidentes
Típico
Este é o tipo de acidente mais comum. Ele acontece dentro da empresa e durante o ho-
rário de expediente.
Esse acidente está diretamente relacionado com a atividade do trabalhador e com os ris-
cos relacionados à função desempenhada.
De trajeto
Acontece durante o percurso do trabalhador até a sua casa ou até o local de trabalho.
Pode ocorrer no início, durante ou no final do expediente.
Esse acidente não está relacionado com a atividade desempenhada e com os riscos no
trabalho, mas sim com o deslocamento do funcionário fora do local de trabalho.
São os acidentes que acontecem dentro ou fora da empresa, devido ao exercício do tra-
balho. Assemelham-se aos acidentes típicos.
Atípicos são os eventos considerados como acidentes pela Lei n.º 8.213 e que constam
como doenças profissionais ou do trabalho, de acordo com a lista elaborada pela previ-
dência social.
Ao longo do tempo, inclusive desde o século passado, foram elaboradas
diversas teorias para analisar os acidentes ocorridos. O objetivo era buscar
ações e formas preventivas para inibir a ocorrência de acidentes, de forma
a reduzir as consequências.
Quando o trabalhador inicia em uma empresa, ele traz consigo a formação ad-
quirida ao longo do tempo; ou seja, com características de responsabilidade ou
irresponsabilidade, positivas ou negativas, podendo cometer ações inapropriadas
no trabalho ou mesmo criando condições inadequadas que causem acidentes.
Devidos aos traços negativos que o trabalhador pode apresentar, ele poderá co-
meter falhas, as quais poderão ocasionar acidentes do trabalho.
Essa pedra está ligada diretamente às condições de trabalho oferecidas pela em-
presa e que podem causar acidentes.
Nesse momento o fato já ocorreu. Portanto, a prevenção falhou, mas ainda existe
a possibilidade de evitar a repetição do fato.
Frank Bird, trabalhador de uma empresa siderúrgica, nos Estados Unidos, en-
tre os anos de 1950 e 1968, atuando como gestor dos programas de segurança
e saúde, foi responsável por atualizar a relação entre os acidentes, anterior-
mente proposta por Heinrich. Por meio da análise de 90.000 acidentes, ele
estabeleceu uma relação de 1:100:500. Ou seja, para cada acidente sério ou
fatal, ocorreriam 100 acidentes com lesões leves, e outros 500, com danos a
propriedade.
Fonte: <https://segurancaesaudeocupacional.wordpress.com/2014/11/11/cui-
dando-dos-incidentes-evitando-acidentes/ >. Acesso em: 05 set. 2017.
Fonte: <http://femass.wixsite.com/trabalhosemrisco/single-post/2015/09/11/A-
-Teoria-de-Heinrich-e-a-Pir%C3%A2mide-de-Frank-Bird >. Acesso em: 05 set.
2017.
Para realizar uma ótima investigação de acidente, todas as pessoas envolvidas devem ser con-
sideradas como testemunhas, tornando-se elementos da investigação.
Podemos realizar uma investigação de acidente de duas formas: direta ou indireta. Direta é
quando acontece diretamente no local do fato ocorrido, buscando todas as evidências na área
do acidente. Indireta é a forma realizada fora do local em que o acidente ocorreu, e os dados
são fornecidos por pessoas que presenciaram ou participaram do evento.
Devemos estar atentos ao fato de que os leitores do relatório não estão apropriados do
conhecimento adequado para entendê-lo, por isso é necessário que a explicação seja
objetiva, mas detalhada. Destacamos que ela precisa indicar que as conclusões estão
baseadas em evidências e em fatos.
Recomendações
As suas conclusões devem ser seguidas pelas suas recomendações que, na realidade,
são as medidas e as ações que devem ser implantadas para corrigir a situação e evitar
que o acidente volte a ocorrer. Essa etapa é considerada a mais importante, pois as
medidas e as ações devem ser bem específicas, com o objetivo de eliminar a raiz do
fato.
É preciso ter atenção para que as conclusões sejam de ordem geral, desta forma, re-
duzem tempo e esforço. Por exemplo, se você determinar que a causa de um fato foi
um corredor escuro, a recomendação não deve ser apenas em iluminar melhor esse
corredor, mas também verificar outros locais com pouca iluminação e corrigir esse de-
talhe em todos os lugares, dessa forma estaremos realmente agindo na prevenção de
acidentes de forma geral e não apenas corretiva e pontual.
Recomendações para ações disciplinares, caso tenha ocorrido um erro humano, ja-
mais deverão ocorrer, pois esse não é o papel da investigação. Portanto, não devem
constar no relatório.
Plano de ação
A melhor forma para realizar esse acompanhamento, é por meio da utilização de um plano de
ação. Este que é um documento normalmente elaborado em forma de tabela, na qual constam
diversos itens informativos sobre as ações, os quais permitem o acompanhamento da execução
de cada uma delas. Vamos analisar um modelo:
Administrativo
Quem fará?
Quando?
31/10/2017
Situação
Em andamento ou concluído
Nesta sugestão de plano de ação, é fácil monitorar e acompanhar a situa-
ção de cada uma das demandas. A primeira coluna corresponde à ação; ou
seja, a medida a ser implementada ou a recomendação de um relatório de
acidente. A segunda coluna será preenchida com o local da ação, que pode
ser um setor, uma área ou a empresa toda. Na terceira coluna, constará o
responsável por concluir a ação planejada. É primordial que essa pessoa
seja nominada, a fim de estabelecer a real responsabilidade de efetivação
do trabalho, podendo vir acompanhado pela função ou pela área a que
pertence o profissional. Na quarta coluna, vamos preencher com o prazo
final para instalar essa ação. Ele deve ser discutido com o responsável
para que seja real e adequado ao trabalho e aos resultados esperados. Por
fim, na quinta coluna, vamos acompanhar a execução desse planejamen-
to. Durante a execução podemos preencher com o termo em andamento,
acrescentado a porcentagem de finalização. Quando encerrada a implan-
tação, preenchemos, esta última coluna, com a palavra concluído.
Ciclo do PDCA
O ciclo do PDCA é um método gerencial para a promoção da melhoria contínua. Ele re-
flete, em suas quatro fases, na base da filosofia do melhoramento contínuo. Por ser uma
ferramenta bastante intuitiva, pode ser aplicada a qualquer tipo de projeto, dos mais sim-
ples aos mais complexos. É uma ferramenta que ajuda a direcionar, no sentido de obter
uma melhoria substancial nos trabalhos, pois ela identifica possíveis falhas e oportuni-
dades, as quais podem ser aprimoradas, tornando possível vislumbrar as implantações
das recomendações formuladas em qualquer análise de eventos danosos, podendo ser
de qualquer tipo e de qualquer área.
No caso específico da segurança no trabalho, essa ferramenta pode muito bem ser uti-
lizada para a prevenção de acidentes e para agir corretivamente; isto é, depois de ocor-
rido o acidente. Serve também para fazer o acompanhamento das ações implantadas,
verificando se os resultados esperados estão sendo alcançados.
• 1.ª Fase
Plan (planejamento)
Nessa fase é realizado todo o planejamento para implantar uma ação visando
eliminar um problema.
• 2.ª Fase
Do (execução)
Esta é a fase da implementação do planejamento.
• 3.ª Fase
Check (verificação)
É quando se verifica se o planejado foi consistentemente alcançado, por meio da
comparação dos dados.
• 4.ª Fase
Act (agir corretivamente)
Nessa fase existem duas alternativas: agir, se os resultados esperados não foram
alcançados, ou adotar como padrão o que foi planejado na primeira fase.
O ciclo do PDCA pode ser desdobrado em oito passos, sendo normalmente conhecido
como método de análise e solução de problemas. Esses oito passos estão representa-
dos a seguir:
Fonte: <http://www.portal-administracao.com/2014/08/ciclo-pdca-conceito-e-aplicacao.
html >. Acesso em: 5 set. 2017.
Círculo dividido em quatro partes iguais, demonstrando o ciclo do PDCA. Primeira par-
te identificada com a letra P, que significa plan (planejar), e dividida em quatro etapas:
identificação do problema, análise do fenômeno, análise do processo e plano de ação. A
segunda divisão do círculo apresenta a letra D, que significa do (executar), e neste es-
paço temos a etapa de execução. Na terceira parte, temos a letra C, que significa check
(verificar), com a etapa verificação contemplada. Na última parte, encontramos a letra A,
que significa action (agir); esta etapa está dividida em outras duas: ação e padronização.
Análise de acidentes
Seja totalmente imparcial durante a investigação e a coleta dos dados. Nunca interrom-
pa o funcionário ou a testemunha durante o relato e fotografe os locais, os instrumentos
utilizados, as máquinas, as ferramentas.
A seguir, apresentamos as explicações de cada uma das seis dimensões do diagrama do tipo espinha de
peixe:
Método
Abrange todas as possíveis causas do acidente que podem ser relacionadas com a forma de realização
da tarefa, por exemplo: procedimentos inadequados; desvios relacionados aos procedimentos devido a
períodos de alta produtividade; critério incorreto adotado nos treinamentos; falta de diálogo de seguran-
ça.
Medida
Abrange todas as possíveis causas do problema que podem ser mensuradas e que se relacionam com
o problema (por exemplo: calor; ruído; vibração de corpo inteiro e de mãos e braços; radiações; agentes
químicos).
Mão de obra
Abrange todas as possíveis causas do problema que podem ser relacionadas com a pessoa que está
envolvida na execução da tarefa. (por exemplo: desvios com relação ao procedimento; ações realizadas
por impulso; escolhas erradas; vida pessoal; atos inseguros).
Máquina
Abrange todas as possíveis causas do problema que podem ser relacionadas com uma máquina ou
com os dispositivos envolvidos na tarefa do problema. (por exemplo: verificação do funcionamento dos
sistemas de segurança; verificação da possibilidade de burla; verificação da manutenção da máquina.
Meio ambiente
Abrange todas as possíveis causas do problema que podem ser relacionadas com meio ambiente, saú-
de e segurança. (por exemplo: excesso de calor, ruído e vibração; falta de iluminação; alta concentração
de agentes químicos).
Material
Abrange todas as possíveis causas do problema que se relacionem com o material envolvido na tarefa
do problema.
Desenho em forma de espinha de peixe representando um diagrama de causa e efeito. À direita, temos
o nosso problema ou acidente, e, à esquerda, estão presentes seis ramificações. Cada uma delas repre-
senta uma linha de causa do nosso problema. São elas: método, mão de obra, medição, meio ambiente,
máquinas e matéria-prima.
Passo 4: plano de ação
Caso duas causas-raiz sejam constatadas, devem ser elaborados dois planos de
ação, um para cada uma delas. Neste passo, deve ser utilizada a ferramenta de
plano de ação que foi vista anteriormente.
Passo 5: execução
Passo 6: verificação
Registrar resultados
Coletar dados
Comparar os resultados com os dados coletados no passo 2. Caso não es-
tejam de acordo com a meta estabelecida, deve-se retornar ao passo 2 e
recomeçar toda a metodologia
Listar eventuais efeitos secundários
Passo 7: ação
Estabelecer, por meio de documento oficial da empresa, que, a partir desse mo-
mento, todo problema que apresentar essas características deverá ser tratado des-
sa forma. Consolidando, assim, um padrão.
Passo 8: padronização
Nesse momento, devemos ter consciência de que todo o processo utilizado para tra-
tar dos acidentes do trabalho também deve ser utilizado para os eventos que ocorram
e não sejam caracterizados como tal. Isso é, os que não causam lesão, mas apenas
danos ao patrimônio; os que poderiam causar lesões e também aqueles com potencial
para causar ferimentos nas pessoas.