Tabagismo - Tratado de Medicina Da Família e Comunidade
Tabagismo - Tratado de Medicina Da Família e Comunidade
Tabagismo - Tratado de Medicina Da Família e Comunidade
1) Aspectos-chave
a) O tabagismo é a principal causa de morte prevenível no mundo, segundo dados da Organização
Mundial da Saúde (OMS). A dependência ao tabaco (nicotina) é considerada uma doença
crônica, que, com frequência, exige repetidas intervenções e várias tentativas para se obter uma
abstinência prolongada.
b) É essencial que tanto médicos quanto equipes de Unidades Básicas de Saúde (UBS)
rotineiramente identifiquem e abordem todos os fumantes, aconselhando-os quanto à importância
da cessação do tabagismo e seus benefícios.
c) Aconselhamento e tratamento medicamentoso são eficazes, com a combinação de ambos
apresentando eficácia superior. Assim, recomenda-se a utilização dessa associação em todos os
fumantes que estão motivados para iniciar a cessação do tabagismo (exceto quando o tratamento
farmacológico estiver contraindicado, ou em populações específicas em que existe evidência
insuficiente quanto à sua eficácia – gestantes, tabagistas leves e adolescentes).
d) Pessoas com importante história de ansiedade ou depressão podem necessitar de
acompanhamento multiprofissional com psicólogo e/ou com psiquiatra. É prudente avaliar a
presença de sintomas nessas pessoas antes de se considerar tratamento para cessação de
tabagismo.
2) Do que se trata
O tabagismo, de acordo com a OMS, é a principal causa prevenível de morte e de doenças
no mundo, afetando mais de 1 bilhão de pessoas. É responsável por aproximadamente 6 milhões de
mortes por ano no mundo, devendo alcançar mais de 10 milhões de mortes anuais em 2030. Além disso,
também se estima que o tabagismo passivo seja responsável por cerca de 600 mil mortes anuais entre os
não fumantes. Atualmente, existe evidência indicando que um em cada dois fumantes morrerá em
decorrência direta de uma doença tabaco-relacionada.
O Brasil tem apresentado redução significativa na prevalência do tabagismo nas últimas
décadas. Em 1989, conforme dados provenientes da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição, a
prevalência total de fumantes no Brasil atingiu a impressionante taxa de 34,8%. Em 2009, um
levantamento realizado nos 107 maiores municípios do Brasil, com pessoas entre 12 e 65 anos de idade,
observou que 41,1% dos entrevistados reportaram ter utilizado produtos derivados de tabaco alguma vez
na vida, e 17,4% referiram uso diário (20,3%, homens, e 14,8%, mulheres)7 De acordo com o VIGITEL
(2014) – um programa de vigilância do Ministério da Saúde [MS], por meio de consulta telefônica, dos
fatores de risco do tabagismo e das doenças crônicas —, realizado nas capitais do país, identificou-se
que a prevalência de fumantes diários (≥ 18 anos) foi de 10,8%, sendo maior no sexo masculino (12,8%)
do que no sexo feminino (9,0%).
3) O que fazer
Inicialmente, deve-se realizar uma entrevista junto à pessoa, com foco na sua história
tabagística. Nesse momento, o profissional deve tentar estabelecer a maior empatia possível com a
pessoa, de modo a deixá-la confortável durante a entrevista, aumentando, assim, o seu envolvimento. As
seguintes informações devem ser avaliadas:
a) Níveis de escolaridade e socioeconômico
Vários estudos demonstraram que pessoas com menor grau de instrução e menor nível
socioeconômico apresentam menores taxas de sucesso de cessação do tabagismo, além de terem
naturalmente maior dificuldade de acesso às medicações antitabagismo.
✓ Uso recorrente do tabaco em situações em que há exposição a risco (p. ex., fumar na cama)
✓ Presença de tolerância, definida como perda ou diminuição da sensibilidade aos efeitos iniciais do
tabaco, levando à necessidade de consumir tabaco em quantidades cada vez maiores para que se
obtenham os mesmos resultados
2. Você acha difícil não fumar em lugares proibidos, como igrejas, bibliotecas, cinemas, ônibus?
➢ Sim (1 ponto)
➢ Não (0 ponto)
6. Você fuma mesmo doente, quando precisa ficar de cama a maior parte do tempo?
➢ Sim (1 ponto)
➢ Não (0 ponto)
Uma soma acima de 6 pontos indica que, provavelmente, o indivíduo terá desconforto significativo
(síndrome de abstinência) ao deixar de fumar.
I. Primeiro encontro
Após a entrevista inicial, é recomendado que o profissional, antes de iniciar a sessão, já tenha
em mãos diversas informações de cada fumante (idade, número de cigarros fumados por dia, grau de
dependência à nicotina, número de tentativas prévias para cessação de tabagismo, comorbidades,
antecedentes psiquiátricos, medicamentos em uso, etc.). O objetivo dessa sessão é preparar as pessoas
para parar de fumar. Costuma-se perguntar a razão principal pela qual cada indivíduo deseja parar de
fumar, uma vez que isso pode ajudar, em determinadas situações, a aumentar a motivação das pessoas.
Deve-se explicar aos fumantes que a nicotina é uma substância psicoativa, que pode resultar
em dependência física, psicológica e comportamental. É interessante explicar que a nicotina, após ser
inalada, age rapidamente no sistema nervoso central (SNC), atingindo-o em aproximadamente 10
segundos. Sua ação nos receptores nicotínico-colinérgicos leva à liberação de neurotransmissores, como
dopamina, serotonina, norepinefrina e acetilcolina, o que resulta em sensação de prazer, diminuição da
ansiedade e aumento da atenção e da memória.
É importante que os fumantes entendam que evitar situações de risco e utilizar estratégias é
essencial para o sucesso no tratamento. Assim, recomenda-se evitar possíveis gatilhos relacionados com
o cigarro, o que varia de fumante para fumante, sendo os mais comuns ingerir bebidas alcoólicas, tomar
café, sentar ao computador, etc.
A pessoa deve ser alertada para o fato de que, ao parar de fumar, experimentará episódios
de forte vontade de fumar (fissuras). Nesses momentos, o fumante deve ser orientado a realizar
atividades que possam distraí-lo (caminhar, ler um livro, etc.), também se destacando como opções o
consumo de gomas de mascar ou ingerir água (de preferência, gelada). Salienta-se que esses episódios
de vontade intensa de fumar têm duração de aproximadamente 5 minutos e se tornam cada vez mais
fracos e raros com o decorrer do tratamento. Nesse momento, é importante explicar o que é a síndrome
de abstinência, que tem início aproximadamente 8 horas após o último cigarro, atingindo um pico com
72 horas de abstinência. Sua duração é de aproximadamente 3 a 4 semanas. Ela é marcada por um forte
e persistente desejo de fumar, humor deprimido, insônia ou sonolência diurna, irritabilidade, frustração
ou raiva, ansiedade, dificuldade de concentrar-se, inquietação, diminuição da frequência cardíaca (FC)
e da pressão arterial (PA) e aumento do apetite ou ganho de peso.
É prudente enfatizar que os medicamentos têm como objetivo diminuir os sintomas
relacionados à abstinência, oferecendo maior chance de sucesso, mas a mudança de comportamento é a
chave para uma vida sem cigarros. Recomenda-se explicar sucintamente os principais medicamentos
antitabagismo disponíveis, como agem, enfatizando as vantagens e desvantagens de cada um.
Após a introdução desses conceitos, cada fumante deve ser estimulado a marcar uma data
para parar de fumar (“dia D”). Recomenda-se a parada abrupta, em vez da redução progressiva do
número de cigarros fumados por dia. O profissional pode auxiliar na escolha da data orientando a pessoa
a escolher entre um dia da semana ou de fim de semana, observando se existe diferença de consumo de
acordo com os gatilhos relatados.
A cada encontro, também é importante avaliar o progresso dos indivíduos (questionar sobre
o número de cigarros fumados por dia) e se houve lapsos ou recaídas, bem como a ocorrência de efeitos
colaterais associados às medicações prescritas (ver seção “Tratamento farmacológico”) e monitorar
periodicamente o peso.
❖ Observações
Para pessoas que apresentam, na entrevista inicial ou durante o acompanhamento, quadro
sugestivo de ansiedade ou mesmo de depressão, é importante que se considere, nem que seja
temporariamente, a prescrição de ansiolíticos e antidepressivos, avaliando também a necessidade de
referenciamento para psicólogo e/ou psiquiatra. Para essa situação, recomenda-se avaliar cada caso
individualmente.
De forma geral, 1 em cada 10 fumantes pode ganhar mais de 10 kg após parar de fumar, com
a média de ganho de peso situando-se entre 2 a 4 kg. Vale ressaltar que nem todos os indivíduos ganham
peso, com alguns podendo até emagrecer. A maior parte do ganho ponderal ocorre, em média, nos
primeiros 6 meses após a cessação, estabilizando-se após 1 ano da cessação do tabagismo. Em ganhos
superiores a 3 a 4 kg, solicitar à pessoa maior atenção na dieta e a realização de exercícios físicos; caso
ocorra ganho persistente, referenciar para nutricionista e/ou endocrinologista.
Pessoas que, por acaso, não interromperem totalmente o tabagismo, podem, caso tenham
interesse, reiniciar o tratamento, sendo, por exemplo, realocados para um novo grupo de cessação de
tabagismo.
III. Manutenção
Ao término do programa, os indivíduos que se encontrarem abstinentes do fumo podem ser
encaminhados para a fase de manutenção, que consiste, geralmente, em encontros mensais até se
completar 12 meses de acompanhamento. Para as pessoas que evoluírem com recaídas durante o
acompanhamento, discutir a programação de uma nova tentativa, de modo semelhante a todo o processo
descrito, como se fosse iniciar o tratamento pela primeira vez.
2. Abordagem individual. É aplicada na forma de uma consulta e deve englobar o mesmo conteúdo
descrito na abordagem em grupo. Nessa modalidade, a entrevista inicial pode conter o processo de
preparação para parar de fumar, sendo o primeiro retorno após a data de parada.
6) Tratamento farmacológico
De acordo com o Consenso Abordagem e Tratamento do Fumante, o uso de medicamentos
antitabagismo está indicado nas seguintes situações:
➢ Fumantes moderados, ou seja, que fumam 20 ou mais cigarros por dia.
➢ Fumantes que fumam o primeiro cigarro até 30 minutos após acordar e fumam, no mínimo, 10
cigarros por dia.
➢ Fumantes com escore do teste de Fargerström igual ou maior do que 5, ou avaliação individual, a
critério do profissional.
➢ Fumantes que já tentaram parar de fumar apenas com TCC.
➢ Fumantes que não possuem contraindicações clínicas.
➢ Decisão a critério do profissional.
❖ Goma de mascar
Encontra-se disponível em tabletes de 2 e 4 mg, contendo nicotina tamponada em pH
alcalino, o que facilita a sua absorção pela mucosa oral. Deve-se mascá-la até o surgimento de um gosto
característico na boca, o que indica a liberação de nicotina, devendo, em seguida, ser posicionada no
sulco gengival por alguns minutos até adquirir consistência mais firme; em seguida, mascar novamente
e reiniciar o processo anterior por, em média, 30 minutos, quando, então, a goma deve ser descartada.
Não ingerir alimentos ou bebidas 15 minutos antes ou durante o uso, uma vez que pode interferir na
absorção da nicotina.
Ela age, em média, por 20 a 30 minutos, com seu pico de concentração em torno de 20
minutos. Pode ser usada também como monoterapia, o que requer, em média, 8 a 12 gomas/dia, não
devendo ser utilizada mais do que 24 unidades/dia; além de essa abordagem mostrar-se pouco prática e
onerosa, também pode associar-se a efeitos colaterais, como fadiga muscular no maxilar. Outra
possibilidade consiste no uso combinado com outros medicamentos antitabagismo, em especial com os
adesivos transdérmicos de nicotina (ver a seguir). Nessa situação, a goma é mais utilizada como
medicamento “emergencial” nos momentos de fissura no decorrer do dia.
As reações adversas mais comuns incluem problemas dentais, dor na articulação
temporomandibular (ATM), dentes amolecidos, soluços, adesão à dentadura, irritação da boca ou da
garganta, úlceras orais, hipersalivação e dispepsia.
❖ Pastilhas
As pastilhas são mais rapidamente absorvidas pela mucosa oral do que as gomas de mascar,
sendo mais práticas de usar, pois não costumam associar-se com dor na ATM. São disponíveis na dose
de 2 ou 4 mg. De modo semelhante à goma, podem ser usadas como monoterapia (mínimo de 9 e máximo
15 pastilhas/dia) ou para alívio das fissuras, em combinação com outros medicamentos, como os
adesivos transdérmicos.
❖ Adesivos transdérmicos
Estão disponíveis em dosagens de 7, 14 e 21 mg de nicotina ativa. Promovem liberação
contínua de nicotina, promovendo absorção correspondente a 75% da dosagem total contida nos
adesivos. Eles devem ser aplicados pela manhã, ao acordar, em área coberta sem pelos (entre o pescoço
e a cintura), sendo trocados a cada 24 horas, com a orientação de se alternarem os locais de aplicação.
Recomenda-se utilizar doses decrescentes de nicotina, começando-se geralmente com o adesivo de 21
mg e finalizando com o de 7 mg. Costumam-se usar duas a quatro caixas de 21 mg e, em sequência,
duas a quatro caixas de 14 mg e uma a duas caixas de 7 mg. Dependendo do grau de dependência e do
progresso da pessoa, pode-se prolongar ou abreviar o uso desses medicamentos. A dose máxima é de 42
mg/dia (2 adesivos de 21 mg), e a data para parar de fumar deve coincidir com o início do tratamento.
Os efeitos adversos mais comuns são: irritação cutânea, que pode resultar em eritema,
prurido, edema e bolhas (o que responde ao uso de corticoide tópico), além de insônia, hipersalivação,
náuseas e vômitos.
➢ Observações
✓ Segundo a revisão sistemática da Cochrane, todas as formulações de reposição de nicotina
contribuem para o aumento da chance de cessação de tabagismo em fumantes motivados. A mesma
revisão mostrou que o uso da TRN aumentou, nos estudos avaliados, a taxa de abstinência tabagística
em 50 a 70%, independentemente da definição utilizada para caracterizar abstinência.
✓ Recomenda-se que gomas e pastilhas sejam usadas por até 12 semanas, e os adesivos, de preferência,
até 8 a 10 semanas. Naturalmente, o uso desses medicamentos pode ser prolongado conforme critério
médico.
✓ Deve-se evitar, dentro do possível, o consumo de cigarros durante a utilização de TRN, pois pode
resultar na absorção diária de doses maiores de nicotina do que a pessoa vinha habitualmente
utilizando antes de iniciar o tratamento antibagismo. Isso pode acarretar cefaleia, mal-estar, náuseas
e mesmo piora da PA, caso isso ocorra, é necessário avaliar o grau de motivação do fumante.
✓ A TRN deve ser utilizada com cautela em pessoas portadoras de coronariopatias (especialmente nos
primeiros 14 dias após infarto agudo do miocárdio [IAM]) ou em portadores de arritmias graves.
Estudos prévios já indicaram que a TRN pode ser, de fato, utilizada com segurança em indivíduos
cardiopatas crônicos, não aumentando a gravidade da doença cardiovascular.
b) Bupropiona
Medicamento antitabagismo de primeira escolha, que corresponde a um antidepressivo
atípico inibindo a recaptação da dopamina e da norepinefrina no SNC. O mecanismo pelo qual auxilia
na cessação do tabagismo não está totalmente esclarecido, mas se acredita que promova aumento dos
níveis dos neurotransmissores supracitados no núcleo accumbens, proporcionando redução da
compulsão de fumar.
Encontra-se disponível em comprimidos de 150 mg, com caixas de 30 ou 60 comprimidos.
É rapidamente absorvida após a ingestão, atingindo pico plasmático em 3 horas, com meia-vida de 19
horas. A metabolização é principalmente hepática, com excreção renal. A dose inicial é de 150 mg/dia
durante os 3 primeiros dias; a partir do 4o dia até o final do tratamento, aumenta-se a dose para 300
mg/dia, divididos em duas tomadas diárias, com intervalo mínimo de 8 horas. Não ingerir a segunda
dose após as 19 horas, devido ao risco de insônia. Em pessoas idosas com insuficiência renal ou hepática,
a dose plena pode ser reduzida para 150 mg/dia. O dia “D” deve ser programado entre 10 e 14 dias após
o início da bupropiona, recomendando-se o seu uso por até 12 semanas. Possui diversas
contraindicações:
Os efeitos adversos mais comuns são: sensação de boca seca e insônia, cefaleia, tontura e
aumento da PA; outros menos frequentes: convulsões, náuseas, vômitos, enxaqueca, dor abdominal e
constipação.
c) Vareniclina
É também considerada terapia de primeira escolha para cessação do tabagismo. O
mecanismo de ação envolve a ligação aos receptores nicotínicos α4β2, o que resulta na liberação de
dopamina, porém em quantidades menores do que a nicotina, agindo, desse modo, como um agonista
parcial. Como a ligação aos receptores nicotínicos impede a ação da nicotina no SNC, considera-se que
esse medicamento também possui ação antagonista com relação à nicotina.
Em um estudo prévio, comparou-se a eficácia clínica da vareniclina com o placebo e a
bupropiona de liberação prolongada. É um estudo randomizado, duplo-cego, com a inclusão de 1.027
pessoas, das quais 35% completaram o estudo. Além dos medicamentos, todas as pessoas receberam
abordagem breve para cessação do tabagismo. Nas semanas 9 a 12, a taxa de abstinência contínua com
a vareniclina foi de 43,9% contra 17,6% no grupo placebo (odds-ratio [OR]: vareniclina vs. placebo =
3,85; IC 95%: 2,69-5,50; p < 0,001); no grupo da bupropiona, a taxa de abstinência contínua foi de
29,8% (OR: vareniclina vs. bupropiona = 1,90; IC 95%: 1,38-2,62; p < 0,001).
Disponível nas seguintes apresentações: kit início de tratamento (caixas com 11 cp. de 0,5
mg e 42 cp. de 1 mg); kit manutenção de tratamento (caixas com 112 cp. de 1 mg); kit reforço de
tratamento (caixas com 168 cp. De 1 mg); kit tratamento completo (caixas com 11 cp. De 0,5 mg e 154
cp. de 1 mg).
Deve-se utilizar o seguinte esquema de tratamento: 1 cp, de 0,5 mg, 1 vez ao dia (do 1 o ao
3o dia); 1 cp., de 0,5 mg, de 12/12 horas (do 4o ao 7o dia); por último, 1 cp. (1 mg) de 12/12 h (a partir
do 8o dia até o final do tratamento). A pessoa deve programar o dia “D” uma semana após o início da
vareniclina. Recomenda-se o uso por 12 semanas.
A extensão do tratamento por mais 12 semanas (totalizando 24 semanas de tratamento) pode
reduzir o risco de recaídas. De acordo com estudo prévio: uso de vareniclina, 1 mg, duas vezes ao dia,
aumentou a probabilidade de abstinência tabagística entre as semanas 13 a 24 (70 vs. 50%; p < 0,0001
vs. placebo) e durante 28 semanas de seguimento pós-tratamento (41 vs. 35%; p = 0,0394 vs. placebo)
em indivíduos que cessaram o tabagismo após tratamento prévio de 12 semanas com a vareniclina.
Com relação aos efeitos colaterais, a náusea é a mais frequente, relatada em até um terço das
pessoas, resultando em interrupção do tratamento em 3% dos casos. Tende a ser mais intensa nas
primeiras semanas, com a grande maioria dos casos sendo leves a moderados, desaparecendo com a
continuidade do tratamento ou com o uso de antieméticos. Outros efeitos colaterais (> 10%): aumento
do apetite, sonolência, tontura, mudança no paladar, vômitos, constipação, diarreia, distensão abdominal,
desconforto estomacal, flatulência, boca seca, fadiga, dispneia e rinorreia. Há relatos de ocorrência de
sonhos vívidos, humor depressivo, agitação, ideação e comportamento suicida, sobretudo em pessoas
com antecedentes psiquiátricos. Caso isso ocorra, suspender a medicação imediatamente. Em termos de
contraindicações, destaca-se hipersensibilidade à vareniclina e insuficiência renal grave. Não há estudos
sobre a segurança do fármaco em gestantes, nutrizes e adolescentes.
➢ Observação
Em junho de 2011, a Food and Drug Administration (FDA) publicou uma advertência sobre
o uso da vareniclina em pessoas com doença cardiovascular prévia, que pode associar-se a risco pequeno,
mas clinicamente relevante, de eventos cardiovasculares. O principal estudo clínico que a FDA se baseou
envolveu cerca de 700 pessoas de 35 a 75 anos com doença cardiovascular prévia (excetuando-se
hipertensão arterial), diagnosticada há pelo menos 2 meses. Os indivíduos que fizeram uso da vareniclina
apresentaram, entre as semanas 9 a 12, taxa de abstinência contínua significativamente maior comparada
ao placebo (47,0 vs. 13,9%; p < 0,0001). Porém, alguns eventos cardiovasculares foram mais observados
no grupo da vareniclina em relação ao placebo durante o período de acompanhamento de 52 semanas,
como a ocorrência de infarto do miocárdio não fatal (2,0 vs. 0,9%) e necessidade de realização de
procedimento de revascularização miocárdica (2,3 vs. 0,9%).
d) Nortriptilina
Antidepressivo tricíclico que promove o bloqueio da recaptação de norepinefrina no SNC,
aumentando, assim, os seus níveis na fenda sináptica. A sua ação como medicação antitabagismo ainda
não está totalmente esclarecida, mas as evidências sugerem que é independente da sua ação
antidepressiva. É considerado medicamento de segunda escolha para cessação do tabagismo.
Encontra-se disponível em caixas de 20 cápsulas de 25, 50 ou 75 mg. A dose recomendada
é de 75 a 100 mg/dia, em geral por 8 a 12 semanas. A dose deve ser iniciada com 25 a 50 mg/dia, de
preferência à noite, e aumentada, gradualmente, se necessário e conforme a tolerância do fumante.
Os principais efeitos colaterais são boca seca, sonolência e, eventualmente, retenção urinária.
Exige cautela ao ser prescrito para cardiopatas e portadores de arritmias, podendo promover taquicardia
sinusal e prolongamento do intervalo QT.
Pode ser uma opção interessante ao ser usado em combinação com o adesivo, pois, além da
ação antitabagismo combinada, contribui para redução dos níveis de ansiedade.
e) Clonidina
É um medicamento anti-hipertensivo devido ao seu efeito agonista sobre os receptores
adrenérgicos α2. Acredita-se que seu efeito antitabagismo esteja relacionado ao alívio dos sintomas da
síndrome de abstinência. É pouco utilizado atualmente como medicamento antitabagismo.
Encontra-se disponível em caixas de 30 cápsulas de 0,100; 0,150 ou 0,200 mg. A dose
recomendada é de 0,1 mg/dia, com incremento gradual até 0,4 mg/dia. A pessoa deve ser orientada a
parar de fumar 2 a 3 dias após o início da medicação, que deve ser prescrita por até 3 a 4 semanas.
Os efeitos colaterais mais comuns incluem sedação e hipotensão arterial; sua suspensão
abrupta pode resultar em efeito rebote com crises hipertensivas.
f) Outros métodos
Vários outros métodos vêm sendo preconizados para a cessação do tabagismo, como
hipnose, acupuntura, cigarros artificiais sem droga, aromaterapia, entre outros. Não existem, no entanto,
evidências científicas suficientes para comprovar a eficácia desses métodos. Dessa forma, nenhum
desses métodos é recomendado para a cessação do tabagismo.