Percepção Ambiental E Estudo Do Meio para Experiências em Educação Ambiental
Percepção Ambiental E Estudo Do Meio para Experiências em Educação Ambiental
Percepção Ambiental E Estudo Do Meio para Experiências em Educação Ambiental
Resumo
A Educação Ambiental (EA) apresenta diversas vertentes e concepções que podem ser
trabalhadas no âmbito escolar, relacionadas à consciência ambiental. Um dos conceitos
disparadores do trabalho com a Educação Ambiental, amplamente utilizado neste trabalho, é o
da percepção ambiental, sempre pensando em alcançar a sua definição e o reconhecimento do
meio ambiente. O educar ambiental na sala de aula, aliado ao caminho da percepção, traçados
neste trabalho são fruto das experiências vivenciadas na Escola Municipal Professor Herley
Mehl (Curitiba - PR) pelos bolsistas do Programa Institucional de Bolsas para Iniciação à
Docência (PIBID) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), feitos de maneira
interdisciplinar por contar com bolsistas e professoras de áreas diferentes. Sendo assim, as
atividades foram construídas com o intuito de valorizar o conhecimento dos alunos em
conjunto com os saberes dos profissionais que convivem com eles, permitindo atividades em
que a percepção serviria como condutora dos alunos a um conhecimento sobre o papel do ser
humano, da natureza e da sociedade no meio ambiente que os cerca. Outro ponto importante,
e base para a realização deste trabalho, foi o estudo do meio. Ambos possibilitaram uma
experiência muito valorativa com os alunos, auxiliando a compreensão dos mesmos quanto ao
conceito de meio ambiente, que engloba as relações entre os diversos seres e ambientes que o
constituem. As atividades foram realizadas a partir de questionários, discussões, aulas
expositivas e dialogadas, e, aliando teoria e prática, momentos de saída a campo, com todo o
1
Graduanda do Curso de Pedagogia da UFPR. Email: kellenmachioski@hotmail.com.
2
Graduanda do Curso de Artes Visuais da UFPR. Email: cssgabriela@gmail.com.
3
Graduanda do Curso de Geografia da UFPR. Email: euniceccorolo@gmail.com.
4
Mestre em Ecologia e Conservação pela UFPR Professora de Ciências da Rede Municipal de Ensino de
Curitiba – PR. E-mail: haliheyse@gmail.com.
5
Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR. Professora do Setor de Educação da UFPR. Email:
cristinatufpr@gmail.com
6
Responsável pelo pagamento de bolsas aos participantes do PIBID.
7
Programa Institucional de Bolsas para Iniciação à Docência da Universidade Federal do Paraná (PIBID -
UFPR).
ISSN 2176-1396
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seu preparo, condução e resultados, trazidos neste trabalho, além de breve conhecimento e
teoria sobre a percepção ambiental e o seu papel na Educação Ambiental.
Introdução
reconhecimento pessoal dos alunos para o meio que os cerca e do qual faz parte da ideia do
que vem a ser meio ambiente.
Referencial Teórico
ambiente: a história, a cultura, as relações sociais, a natureza, etc., estas fundamentais para a
construção de um saber ambiental.
Quanto à percepção, principal conceito abordado neste trabalho, Tuan (2012, p.30) a
considera como sendo “uma atividade, um estender-se para o mundo” e destaca o fato da sua
abrangência não ser total, ou seja, nós não percebemos tudo que nos cerca:
percepção é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos como atividade
proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros
retrocedem para a sombra ou são bloqueados. Muito do que percebemos tem valor
para nós, para a sobrevivência biológica, e para propiciar algumas satisfações que
estão enraizadas na cultura”. (TUAN, 2012, p. 18).
qualquer objeto estável que capta nossa atenção. Quando olhamos uma cena
panorâmica, nossos olhos se detêm em pontos de interesse. Cada parada é tempo
suficiente para criar uma imagem de lugar que, em nossa opinião,
momentaneamente parece maior. A parada pode ser de tão curta duração e de
interesse tão fugaz, que podemos não estar completamente conscientes de ter detido
nossa atenção em nenhum objeto em partícula; acreditamos que simplesmente
estivemos olhando a cena em geral. Entretanto, estas paradas aconteceram. Não é
possível olhar uma cena de uma só vez; nossos olhos continuam procurando pontos
onde repousar a vista [...] Muitos lugares, altamente significantes para certos
indivíduos e grupos, tem pouca notoriedade visual. São conhecidos emocionalmente,
e não através do olho crítico ou da mente.
Ao passo em que os lugares são esses referenciais, despertar os sentidos dos alunos em
relação ao seu meio ambiente é uma forma de ampliar seu conhecimento do espaço onde
vivem, pois passarão a perceber elementos que até então não viam.
Lestinge e Sorrentino (2008, p. 603) expõem uma crítica ao distanciamento cada vez
maior entre as pessoas da sua realidade cotidiana e colocam a necessidade de reconhecimento
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socioambiental, da sua inserção nesse meio e grupo social bem como as responsabilidades
perante as problemáticas da contemporaneidade.
Sendo assim, atividades baseadas na metodologia de estudo do meio e na percepção
funcionam como ferramentas de aprendizagem e também respondem ao desafio de
desenvolver um trabalho de educação ambiental verdadeiramente aplicado na realidade do
aluno, válido no nível de ensino, válido para a vida.
Enquanto a percepção nos serve como receptora das impressões compreendidas pelos
sentidos, a arte é um modo de expressá-las. Advinda da palavra latina “ars”, compreendida
como técnica ou saber, a Arte é principalmente um meio de exteriorizar as experiências
humanas. Desta maneira, a vivência é algo fundamental no processo de criação artístico, pois
é a partir do que percebemos, e a Arte e a experiência estética em si, nesse sentido, tornam-se
um “campo de experiências possíveis, de encontro com as coisas e com os outros e de
possibilidade de criação de novos modos de viver e de novas subjetividades” (MARIN;
KASPER, 2009, p. 268), auxiliando a nossa comunicação com o mundo.
Deste modo, foram aplicados os ideais do educador e filósofo norte-americano John
Dewey (1859-1952) ao projeto. Expoente do pragmatismo americano, Dewey pregava a
importância do conhecimento processual e a transmissão dos saberes para além da sala de
aula, ou seja, para a vida do aluno. Nesse sentido, a visão pragmática de John Dewey possui
afinidades com o estudo do meio, já que o segundo concebe um método de ensino
interdisciplinar voltado para as atividades em campo, ao viver social e à interação com o
mundo. Como cita Fernandes (2012, p. 58), “a importância de um estudo do meio, para além
da formação do espírito científico, deve-se à perspectiva da transposição de um conteúdo
estático e cristalizado para a vida”.
A obra de Dewey usada como principal referência para estabelecer a relação entre arte
e percepção neste trabalho é intitulada “Arte como experiência”, e foi escolhida
particularmente por essa ligação entre uma filosofia da arte com a experiência da vida
cotidiana. Ainda, para o filósofo, a interação do ser humano com o mundo se fia em uma
relação de altos e baixos, buscando sempre um equilíbrio que seria a raiz da experiência
estética. Dessa forma, Dewey (2010, p. 80) conclui que “a harmonia interna só é alcançada
quando se chega de algum modo a um entendimento com o meio” e a arte seria a maneira de
valorizar ao máximo essa harmonia.
A percepção na área da educação se apresenta na concepção problematizadora,
segundo Freire (1987, p. 41):
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Portanto, as reflexões sobre o externo trazem questões sobre o pessoal, e o que era
percebido por um ou outro como secundário, é trazido para discussão e problematização.
Podem auxiliar na compreensão geral do meio ambiente e proporcionar uma aproximação dos
educandos com o conteúdo.
As percepções estiveram sempre presentes, guiando o trabalho, as aulas e temas a
serem abordados. Assim, os estudos em Educação Ambiental foram desenvolvidos na
perspectiva de ensino - aprendizagem, pois aprendemos e ensinamos, da mesma forma que os
alunos ensinam e aprendem. Isso se tornou real, pois estamos estudando, analisando,
trabalhando o espaço que faz parte da realidade dos alunos e conduzindo as atividades de
forma a observar as ações e ocupações da natureza e do homem, das relações existentes nesse
meio.
Metodologia
(através de questionários, desenhos e mapas) e quais eram seus sentimentos e sensações com
relação ao que observavam.
Anteriormente à atividade de campo, que será detalhada em seguida, foram realizadas
duas atividades no ambiente escolar:
a) atividade de conhecimento da planta da escola e representação dos elementos
naturais e dos lugares de convívio queridos ou não pelos alunos. Esta atividade
ocorreu em 2014 e teve como público alvo duas turmas de sétimos anos, servindo
para testar o nível de percepção do espaço dos alunos. Ela contou com duas
etapas: na primeira, os alunos deveriam desenhar em uma folha sulfite os objetos
da sala de aula, tais como o quadro negro, as janelas, a porta, e o lugar onde se
sentavam, tendo em mente que a folha era o “croqui” da sala; na segunda etapa,
com a planta da escola demarcada anteriormente, os alunos foram reunidos em
grupos e teriam de localizar e marcar onde estavam a sala de aula deles, os
banheiros e os locais de entrada e saída da escola, além de marcar os lugares que
mais e menos gostavam. Nessas atividades os alunos apresentaram facilidade
enquanto estavam na primeira etapa, e maior dificuldade na segunda, mas
demonstraram interesse e participação em ambas;
b) atividade de campo dentro da escola fazendo o reconhecimento dos espaços
representados no exercício com a planta. Nesta atividade, dando continuidade à
primeira, os alunos tiveram de mostrar a escola para os bolsistas, como se fossem
guias turísticos, testando a habilidade de apresentação e conhecimento do espaço
que frequentam. Além da utilização das plantas anteriormente demarcadas, os
alunos tiveram acesso a câmeras fotográficas para o registro da atividade.
Já numa escala de abrangência um pouco maior, foram desenvolvidas duas outras
atividades em relação ao bairro e ao entorno da escola, e são elas:
c) questionário de percepção ambiental, o qual os alunos levaram para casa e tiveram
algum tempo para observar nos seus espaços de vivência: aspectos naturais (se
havia vegetação, rios); o uso de espaços públicos como praças e parques; os
detalhes do que os alunos gostavam e não gostavam. Nesta atividade, mesmo sem
direcionamentos sobre possíveis respostas, vieram muitas respostas vinculadas
aos sentidos, como, por exemplo, no item “coisas que você não gosta”, respostas
como barulho, poeira e pichações;
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d) mapa mental, o qual eles desenharam o percurso das suas casas até a escola,
contendo os elementos que eles consideravam importantes.
Relacionado à parte artística, o brasileiro Newton Goto serviu de referência para essa
atividade. Ele se utiliza bastante dos mapas e da cartografia e foi com esse propósito
cartográfico que a atividade foi realizada, desta vez em 2015, envolvendo as quatro turmas de
oitavos anos. Após responderem o questionário sobre a percepção ambiental do bairro em que
moram, os alunos foram apresentados à uma das obras de Newton Goto, cuja proposta era
uma série de placas de acrílico sobrepostas umas às outras com mapas feitos por diversos
passageiros de um terminal de ônibus na cidade de Curitiba. Esses mapas eram mapas de
memória, ou mapas mentais, do caminho de casa para o terminal e qualquer um poderia fazer
o seu. A partir dessa obra, os alunos teriam de fazer seus próprios mapas mentais do caminho
de casa para a escola, colocando pontos que eles achassem importantes. Esses mapas
envolveram tanto a percepção que os alunos tinham do caminho de casa, quanto uma
construção artística desse caminho.
Por fim, realizamos a atividade de campo: “Expedição pelo bairro”. Ela contou com
três etapas: o pré campo, o campo e o pós-campo, elaboradas nos tópicos abaixo:
Pré Campo
Campo
A atividade de campo foi realizada durante a parte da manhã, no horário de aula dos
alunos, e consistiu em uma caminhada/excursão pelo bairro onde está localizada a escola.
As quatro turmas foram divididas em dois grupos com cerca de cinquenta a sessenta
alunos. Os grupos foram guiados pela professora regente das turmas e supervisora do nosso
projeto, os bolsistas e a orientadora do projeto, contando também com a ajuda da Guarda
Municipal.
Antes da saída da escola, foram entregues uma cópia do mapa e o pequeno saco
plástico para os alunos e explicado a eles sobre a caminhada pelo bairro, com paradas em
alguns pontos específicos que seriam importantes para o conhecimento das condições
ambientais, históricas e sociais do local.
Durante o trajeto os alunos foram conversando e informando aos bolsistas sobre o
bairro, sobre os lugares que conheciam. Eles iam percebendo as casas, a condição das ruas e
das calçadas, da natureza e dos locais de comércio, por exemplo.
Pós-campo
O trabalho eficaz, nessa perspectiva, não depende somente do campo. Mas também da
ativação dos estímulos sensoriais referentes aos sentidos em relação ao ambiente, do debate e
de outras atividades onde possam ser afirmadas e registradas as observações em relação ao
meio.
Deste modo, retornando à escola, foi pedido aos alunos que eles fizessem um cartão
postal representando o bairro, ilustrando as paradas do trajeto ou até mesmo outros pontos que
eles conhecessem e considerassem marcantes.
Em momento seguinte à expedição, foi realizada no horário de aula com o objetivo de
retomar o passeio e obter o retorno dos alunos sobre os objetos colhidos. Esta atividade foi
mais reflexiva e aconteceu por meio de um bate-papo acompanhado de slides com as fotos do
passeio. Foram feitas perguntas sobre a expedição, se eles tinham achado cansativo, se
passaram por lugares que já conheciam ou o inverso, se encontraram plantas ou árvores
diferentes no caminho, etc.
Acrescentando a ideia de percepção, foi utilizado o exemplo do artista francês Claude
Monet (1840-1926), impressionista e precursor da pintura ao ar livre. A percepção do artista
mudava a cada quadro por conta de uma série de fatores naturais, como a luz e a temperatura,
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e também porque a visão dele mudara com o passar dos anos. Deste modo, mesmo que ele
pintassse o mesmo local várias vezes, a cena nunca seria a mesma. Com isso, foi demonstrado
que a percepção é bastante subjetiva e dependente dos sentidos, de modo que em um mesmo
espaço pode ser visto de diferentes maneiras, pois cada um o percebe de um jeito.
Resultados e Discussões
Com relação à atividade de campo, o resultado foi bastante positivo porque, a partir
dela, os alunos conseguiram visualizar e compreender que o espaço escolar também é
considerado meio ambiente, do mesmo modo que o bairro. Ainda, a percepção de que eles
agem no ambiente ao mesmo tempo em que fazem parte dele se tornou ainda mais clara para
os alunos.
Além disso, os alunos trouxeram percepções importantes sobre a expedição (barulho,
calçadas, subidas e descidas das ruas, lixo, etc), principalmente com relação aos objetos
coletados. A escolha desses objetos foi bem diversificada, não se atendo apenas a “objetos
naturais” como folhas e flores, mas também ao lixo em geral, bitucas de cigarro, isqueiros,
papéis de bala, etc. Isso serviu para desmistificar a idealização do meio ambiente como algo
idílico e intocado, gerando a discussão acerca da influência do homem na natureza e, assim,
contribuindo para a formação de um saber sobre a relação entre sociedade e natureza, objetivo
da Educação Ambiental.
Conclusão
Por fim, o projeto ainda está em andamento e terá continuidade no segundo semestre
de 2015. Apesar disso, os resultados alcançados foram bastante significativos, principalmente
quanto à apropriação do conceito de meio ambiente por parte dos alunos. Como apresentado
ao longo do trabalho, essa apropriação envolveu as relações entre o social e o natural e o
envolvimento dos diversos fatores que nos cercam.
Uma das propostas na continuação do programa se refere à ampliação da escala
geográfica, tentando manter a relação do bairro com essas outras instâncias e fazendo
constatações e comparações de dados. A tentativa de ampliação de escala possivelmente será
feita através da lógica administrativa: bairro – município – região metropolitana – estado –
país – globo, bem como pela perspectiva de bacias hidrográficas, para que seja entendido que
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essa flexão de escala pode seguir a lógica humana e também da natureza, constituindo ao
mesmo tempo aquilo que chamamos de meio ambiente.
REFERÊNCIAS
DEWEY, John. A Criatura Viva. In: Arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes,
2010.
MARIN, Andrea Aparecida; KASPER, Kátia Maria. A natureza e lugar habitado como
âmbitos de experiência estética: novos entendimentos da relação ser humano - ambiente.
Educação em revista. v. 25 n. 2 Belo Horizonte Aug. 2009. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982009000200012>.
Acesso em: 18 jul. 2015.