Potência Libertária Do Estudo

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A POTÊNCIA LIBERTÁRIA DO ESTUDO

Ciro Bezerra
ciro.ufal@gmail.com

“O que fazemos, isso somos, nada mais”


Pe. António Vieira

Uma vida não questionada não merece ser vivida.


Platão

Quem não vê bem uma palavra não vê bem uma alma.


Fernando Pessoa

A filosofia não é uma habilidade para exibir em público, não se


destina a servir de espetáculo; a filosofia não consiste em
palavras, mas em ações. O seu fim não consiste em fazer-nos
passar o tempo com alguma distração, nem em libertar o ócio do
tédio. O objetivo da filosofia consiste em dar forma e estrutura à
nossa alma, em ensinar-nos um rumo na vida, em orientar os
nossos atos, em apontar-nos o que devemos fazer ou pôr de lado,
em sentar-se ao leme e fixar a rota de quem flutua à deriva entre
escolhos.
Sêneca

Assim Falou Zaratustra: De tudo o que se escreve, aprecio


somente o que alguém escreve com o próprio sangue. Escreve
com sangue e aprenderás que o sangue é espírito.
Nietzsche

Para muitos pensar é uma tarefa fastidiosa. Para mim, nos meus
dias felizes, uma festa e uma Orgia.
Nietzsche

Que nos deixem em paz quando escrevemos.


Foucault

A filosofia mesma em seu exercício criador aberto não é


considerada.
Dante A. Galeffi
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O presente artigo é um dos resultados do projeto de pesquisa


Formação de Si: Efeitos da leitura imanente dos estudos éticos de Foucault &
teóricos e epistemológicos de Bourdieu, desenvolvido no pós-doutoramento
em filosofia social e filosofia da educação, sob a supervisão do Prof. Dr.
Alexandre Simão de Freitas, no Programa de Pós-graduação de
Educação, da Universidade Federal de Pernambuco. Tal resultado
decorre, naturalmente, dos objetivos perseguidos na pesquisa.

Encontram-se neste artigo um breve relato das atividades de


nosso percurso. Nestas atividades de pesquisa trabalhamos a hipótese de
que o estudo contribui, efetivamente, com a formação de si. Um tipo de
formação referenciado na formação humana e fundamentada nas
filosofias helênicas: socrática, epicurista, estoica e cética (cínica). Pelo fato
de ser uma formação comprometida com a ética das virtudes e a estética
da existência, admite-se que o estudo potencializa as capacidades latentes
do intelecto: a criatividade, a imaginação e as mudanças profundas nos
campos dos sentidos e percepções (interioridade humana), seus efeitos na
subjetividade e/ou disposições subjetivas são absolutamente diversos e
contrários a qualquer tipo de ensino e a qualquer tipo de qualificação
profissional. Se o estudo está comprometido com a formação humana e a
conquista da autonomia intelectual o ensino e a qualificação profissional
estão comprometidos com a alienação e a coisificação humana. O estudo
está ancorado na ética das virtudes e o ensino e a qualificação profissional
na ética deontológica.

Os efeitos do estudo e da formação de si são perceptíveis e


possíveis de identificação e análise, quando vividos como atividade
regular com o método da leitura imanente. Método de estudo que além
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de aprimorar a leitura e a escrita dos estudiosos, transforma o leitor em


escritor. A leitura imanente tem o poder de territorializar
desterritorializando os campos de sentidos e percepções humanas,
repovoando a memória com novas categorias, conceitos, ideias e
vocabulários específicos, que se encontram nos trabalhos acadêmicos e
livros didáticos. Trabalhos e livros utilizados nos diferentes países para
socialização de conteúdos, estudo e investigação, nos sistemas nacionais
de ensino escolares e universitários.

No caso desta pesquisa a memória do estudioso (que sou eu) foi


repovoada e territorializada com o [1] complexo categorial das filosofias
helênicas, [2] da filosofia de Pierre Hadot, [3] dos estudos éticos de
Foucault e [4] da teoria e epistemologia de Bourdieu. Mas é preciso
considerar também que a escrita dos livros e deste artigo mobilizaram
nossos conhecimentos pregressos. A mente de um idoso não é a mente
de um bebê, é povoada de linguagens referenciadas no cosmos, na
humanidade e na natureza. É portadora de muitas dúvidas sobre tudo,
sobre questões existenciais, questões religiosas e questões científicas.
Tais complexos categoriais se acomodaram ao complexo marxiano que
habitava nossa memória há tempos.

Na teoria do método da leitura imanente, fundamentado,


sobretudo, nas filosofias helênicas, a formação de si e sua ética das virtudes,
comprometidas em forjar a estética da existência, se contrapõe
radicalmente à formação profissional e a sua ética deontológica e utilitarista.
A modernidade capitalista restringiu toda formação possível à grade
curricular, imposta pelos-e-nos complexos sistemas de ensino: infantil,
básico (fundamental e médio), superior e pós-graduação. Estes sistemas
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foram submetidos aos requerimentos do mercado de trabalho, cujo


princípio é a minimização dos custos e maximização dos resultados. Isto,
em termos pedagógicos e educacionais, pode ser traduzido na seguinte
proposição formulada por Hilton Japiassu (2012): “profissional é aquele que
sabe muito pouco de coisa nenhuma ... é o boia fria do saber”. Essa tradução se
justifica se considerarmos que o objetivo e horizonte de todos os sistemas
nacionais de ensino no capitalismo estão comprometidos com a formação
de cidadãos profissionais.

Nesta modernidade, regulada por este objetivo e legitimada pelos


sistemas de ensino, os processos de ensino funcionam de acordo com as
exigências da racionalidade do capital. Esta racionalidade ganha
materialidade na administração pública e privada e na contabilidade das
partidas dobradas. São princípios desta racionalidade: eficiência,
competências e habilidades.

Ora, a vida moderna e pós-moderna é conformada, estruturada e


determinada à produtividade racional capitalista, e dentro daqueles
princípios. De tempos em tempos esses princípios mudam a forma, mas
mantém seus conteúdos. O que persiste são as metas de produtividade
impostas pela tecnoburocacia das organizações governamentais e das
organizações econômicas privadas. O grande paradoxo é que as igrejas
pentecostais e católicas também funcionam subordinadas a este tipo de
administração racional e legal. Mais paradoxal ainda: os sistemas
nacionais de ensino também estão subordinados a essa racionalidade e a
administração racional e legal. Estes se constituíram, mesmo, no coração
do sistema burocrático e racional, desde o século XIX.
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Podemos admitir, com toda segurança, que escolas e universidades


se constituíram, hoje, em instituições vitais para civilização moderna
e/ou pós-moderna. Não há mais como as sociedades prescindirem dos
sistemas nacionais de ensinos, senão aperfeiçoá-los e reformulá-los
continuamente, de acordo com as mudanças do mundo capitalista. Vale
dizer: as instituições e atividades de ensino, como toda e qualquer
instituição social, são reconhecidas pelo Estado de Direito como
impessoais e imparciais. Tal impessoalidade e imparcialidade são
extensivas aos currículos, formações de professores, avaliações e
concursos “públicos”, que só aparentemente e abstratamente privilegiam
o mérito.

Ora, são públicos os sintomas de adoecimento psicológico e


psiquiátrico dos professores e muitos trabalhadores da educação que
laboram em instituições de ensino, que funcionam sob esta racionalidade
técnica, administrativa e instrumental (Weber e a Teoria Crítica
frankfurtina demonstraram cabalmente este fato). Como os alunos vivem,
como eles promovem a sua formação, a formação de si, neste manicômio
em que a escola e a universidade se transformaram, de acordo com a
dinâmica do capital? Em que medida um ser doente dos nervos, paixões,
afetos, emoções e nobres sentimentos (a tranquilidade, por exemplo)
pode educar um ser sensível e saudável?

Reagindo a esta realidade nossa pesquisa propõe um conjunto de


procedimentos metodológicos que trans-formam as relações e formas
sociais entre os atores pedagógicos, pretendendo que eles se transfigurem
em estudiosos: sujeitos de seus estudos e pesquisas, cujos temas, referenciais e
tempo dedicado aos estudos e pesquisas sejam definidos por eles próprios. O
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objeto da leitura imanente, sobre o qual seus estudiosos atuam, é o


mundo-mente-corpo. O objetivo de atuar neste objeto é porque se
objetiva promover a formação de si referenciada na formação humana.

O método de estudo da leitura imanente sugere que as pessoas


reinventem seus modos de existir, ser, sentir e pensar no e sobre o mundo
cósmico, natural e humano, nos vários campos de conhecimentos que os
constitui. Ele faz as pessoas mudarem a forma de existirem no mundo,
porque além de lhes questionar as atividades de que se ocupam, o método
postula que os posicionamentos ocupacionais provocam efeitos sociais
horizontais e/ou espaciais. Isto é, não apenas numa hierarquia vertical e
econômica, mas também numa hierarquia horizontal e geográfica,
territorial e/ou espacial.

As posições das pessoas nas sociedades não configuram apenas


uma economia política (distribuição do poder e riquezas entre classes), mas
uma geografia social (apropriação das comodidades e recursos existentes
numa cidade; por exemplo, residências localizadas em determinados
bairros – e, não esqueçamos, que cada bairro oferece a seus moradores
uma certa qualidade de vida: salas de cinema, hospitais e postos de saúde,
escolas, universidades, transportes, praças, etc.). As desigualdades
urbanas provocam segregações metropolitanas, desigualdades
socioterritoriais e, por conseguinte, isolamento cultural. Nega recursos e
equipamentos urbanos às populações marginalizadas. Por conseguinte,
nega o direito a cidade às classes subalternas. É necessário enfatizar que
os sistemas escolares e universitários de ensino são constitutivos da
urbanização. Se se nega urbanização às classes subalternas, se nega, da
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mesma forma, a essas classes, o direito e a liberdade ao estudo e a


pesquisa.

Portanto, as ocupações das atividades pelas pessoas, mesmo no


mundo da vida, não ocorrem de forma natural e espontânea, mas sob
conflitos, tensões e lutas que ferem a alma e a carne. Normalmente, em
nossas sociedades capitalistas, as pessoas vão sendo posicionadas no
processo de escolarização, até se conformar a uma posição definitiva
conforme o grau de escolaridade, que depende do poder aquisitivo de cada
família. Mas essas ocupações, desta forma, ocorrem
socioterritorialmente. Da mesma forma, as pessoas não ocupam
atividades laborais conforme suas vocações e aptidões, elas são
determinadas geoeconômicopolíticamente. É esta determinação e este
processo que define como as pessoas organizam e/ou dispõem de suas
vidas na cidade, em situações conflitivas, e governada pelo capital. Trata-
se, portanto, de um processo social, vivido por diferentes classes sociais
e populações de trabalhadores, submersas às dinâmicas da apropriação
do território pelo capital. Esta apropriação tem o poder de distribuir e
posicionar as pessoas, territorialmente, conforme as origens de classe.

A questão ou problema é que as determinações das atividades do


mundo da vida e das ocupações laborais também determinam as formas
e modos de existir, ser, sentir e pensar no mudo, vivendo com as pessoas.
Enfim, determinam os modos de vida de cada pessoa e dos grupos sociais
onde elas existem concretamente.

Toda e qualquer ocupação e atividade provocam mudanças nas


disposições subjetivas e nas latentes potencialidades humanas. Não é
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diferente com as atividades intelectuais. Cabe então indagar: em que


medida estas atividades mudam as pessoas nas cidades onde existem?
Quais são as características relevantes do seu poder trans-formardor?
Como podemos, individual e/ou coletivamente, intervir e reorientar
essas mudanças, com autonomia, independência e soberania? Como
podemos governar essas mudanças, já que elas ocorrem em nossos
mundos-corpos-e-mentes? Que condições e possibilidades são
necessárias para dirigirmos tais mudanças em benefício de nosso ser, na
formação de si desse ser? Em que as atividades intelectuais mudam
nossos campos de sentidos e percepções e nossas posições teleológicas no
mundo em que vivermos? Mudam o quê? Ora, elas mudam muitas coisas:
nossos êthos, percepções e sentidos do mundo, situações socioculturais e
toda a configuração de nossa interioridade que envolve o Self, o Si e o Eu.
Por sua vez, estas mudanças estão imbricadas fortemente no estudo, e
são operadas por ele. As pessoas não se permitem ou são impedidas de
viver o estudo como tal, porque é o dinheiro e o trabalho que importa no
capitalismo.

As capacidades intelectuais, despertadas no estudo, produzem


diversos efeitos nos atores pedagógicos estudiosos. Porque esse
despertar institui um modo de ser ético e simultaneamente estético, além
de promover a maioridade psíquico-intelectual do estudioso, elevando a
autoridade de si e, por conseguinte, ao reconhecimento público e social.
A dedicação regular, sistemática e metódica ao estudo tende a igualar
intelectualmente leitor e escritor. Essa igualdade desfaz a relação vertical
e o leitor conquista uma relação horizontal, efetiva, com o escritor
estudado, que é transformado em interlocutor no método de estudo da
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leitura imanente. Subjacente a estas figuras sociais: aos escritores e aos


leitores, age silenciosamente o princípio educativo da amizade. Portanto,
são muitos os elementos implicados na atividade humana sensível do
estudo, quando praticado pelo método de estudo da leitura imanente:
organização do espaço para realização do estudo; utilização de técnicas e
tecnologias; canetas, lápis, papel, caderno, livros; pressupõe o tempo
socialmente dedicado ao estudo; alimentos nos intervalos; silêncio no
ambiente; no-e-pelo estudo agem a ética das virtudes e a estética da
existência; também age em silêncio o princípio educativo da amizade,
entre outros elementos.

Essa cadeia de elementos postos em movimento pelos corpos dos


estudiosos tem um efeito reflexo em seus próprios corpos: forja habitus e
disposições subjetivas e psicológicas. Essas disposições são radicalmente
distintas das disposições geradas e referenciadas em outras atividades
subordinadas mais diretamente à administração e a contabilidade
racional dos resultados do trabalho humano. Estas atividades estão
assentadas em outra matriz ética e estética. Weber sinaliza que o
protótipo ético dessas atividades é “a ética protestante e o espírito
capitalista”. A base dessa matriz e protótipo é movida pelo espírito cristão
e pelo espírito do homo oiconomicus.

Na teoria da leitura imanente temos chamado a atenção para o fato


de a ética, estética e o princípio educativo imanente à categoria estudo
estarem comprometidos com a formação de si. E que esta formação
potencializa as forças da interioridade humana. Já a estética e princípio
educativo das atividades submetidas a administração e contabilidade
racional estão referenciados na ética deontológica ou profissional e
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comprometidos em potencializar a pedagogia da prosperidade e os


ganhos monetários. Portanto, estamos diante de lógicas e dinâmicas
sociais antagônicas, convivendo no âmbito de uma mesma sociedade: a
sociedade capitalista.

Em quaisquer circunstâncias geohistóricas e independente das


perspectivas teóricas e filosóficas, nas atividades intelectuais estão
implicados, simultaneamente, elementos que envolvem mundo-corpo-e-
mente. Nestas “atividades”, que são “humanas” e “sensíveis”, burilamo-
nos com a exterioridade e a interioridade humana. E nesse burilar
fazemos e refazemos espiritualidades presentes.

Não é só matéria que existe implicada no “trabalho de si, em si, por


si e para si”, do estudo, mas o espírito dos atores pedagógicos (professores
e alunos). Além de palavras e sentidos, os livros são portadores de alma
e espiritualidade, é por isso que eles provocam sentimentos e emoções.
Nas palavras que se lê de um livro, lê-se também a espiritualidade e a
alma do escritor. É todo o campo de percepções e de sentidos que é
revolvido no estudo. E é por isso que não podemos trata-lo como uma
atividade banal, só porque não gera mercadorias que circulam no
mercado. Se bem que o livro na nossa sociedade também é mercadoria.
E, por isso, sofre os efeitos da dupla face do valor: é valor de troca e valor
de uso. Mas muitas vezes preserva os efeitos de contemplação que
possuía no mundo antigo, nas sociedades gregas e romanas, nas
sociedades pagãs e pré-judaico-cristãs. As sociedades judaico-cristãs
elegeram apenas um livro como livro legível, e em nome desse livro e da
sublime honra, o clero da cristandade deu ordem para os cristãos porem
fogo nas bibliotecas helênicas. Depois não queimaram apenas bibliotecas,
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mas, na Idade Média, puseram na fogueira mulheres bruxas e homens


hereges. Hoje, em 2021, são os comunistas e pagãos que os cristãos
elegeram como inimigos de Deus e suas crenças e, portanto, devem ser
levados pelos corações e mentes da cristandade à morte. E dizem que
fogo é coisa de diabo! De modo que as Igrejas judaicas e cristãs sempre
repudiaram as filosofias pagãs. Seus dirigentes, o clero, sempre estiveram
mancomunados com o poder dos governos e da governamentalização.

Mas o que nos interessa saber é como os estudiosos viviam na


antiguidade clássica. Como todos aqueles elementos que indicamos
anteriormente se articulavam entre socráticos, epicuristas, estoicos e
cínicos? Será que podemos viver tudo aquilo que os filósofos helênicos
viveram em plena modernidade contemporânea? Será que podemos
difundir o modo de vida que os filósofos antigos, pagãos, nos deixaram
como legado filosófico? E se for possível, como o é concretamente, de que
modo podemos vivê-lo e demonstrar à luz do dia para todas as pessoas
que podemos fazê-lo? Mas os modernos com suas indústrias, ciências e
urbanização não são mais avançados do que os antigos? E se o são, não o
seriam também em termos do estudo? Em que medida a indústria, a
ciência e a urbanização impedem que vivamos o estudo como os filósofos
da antiguidade clássica o viveram? Em que este modo de viver o estudo
é antagônico e contraditório com o modo de ver nas sociedades
capitalistas em que vivemos? Em que os sistemas escolares e
universitários de ensino, o modo de vida dos professores e estudantes,
docentes e discentes, são antagônicos ao modo de vida dos filósofos
antigos? Em que os intelectuais modernos (professores e estudantes do
ensino básico e das universidades, sobretudo as públicas) diferem dos
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filósofos antigos? São essas as questões norteadoras que tencionam e que


nos desconfortam o tempo todo nestes nossos estudos e reflexões sobre
esta categoria mágica que é o estudo.

As filosofias helênicas e socráticas postulam que nas atividades


intelectuais podemos nos tornar sujeitos de nós mesmos e de nossas
vidas. As atividades intelectuais ampliam num tempo socialmente
extenso, e se vividas regularmente, o campo dos sentidos e percepções
humanas. Esses traços da formação de si são inconciliáveis e antitéticos
à qualificação profissional e ao produtivismo acadêmico.

Nesses nossos estudos, que elevam a categoria formação de si a


objeto de análise e investigação, desvencilhamo-nos conscientes e
radicalmente das categorias qualificação profissional, especialização e/ou
ensino-aprendizagem de competências e habilidades.

Na formação de si, comprometida com o governo de si, como em


qualquer tipo de formação comprometida com o governo dos outros, nos
forjamos em outros de nós mesmos, forjamos outros de nossa carne,
sangue e espírito. O que pressupõe a viver com outros no mundo (outras
pessoas). E o fazemos com nossas próprias mãos, iniciativa e vontade
própria. Mas pode acontecer que façamos a mesma coisa submetidos a
vontade alheia, por exemplo, sob o domínio das grades curriculares,
escolares e universitárias. Nestas grades a vontade alheia age
ocultamente, silenciosamente, profissionalizando, formatando e
coisificando pessoas em profissionais. Desta forma, muitas vezes
ignorando as implicações e consequências que fazemos com nossas vidas,
quando postas em formação, certamente fazendo contrariados, alienamos
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nossa pessoa e personalidade em formas sociais que mais nos escravizam


do que nos libertam. O fato é que somos nós que agimos em nossos
corpos-mentes-e-mundos. Isso acontece quando realizamos estudos
alienados e estranhados de nós mesmos, quando o estudo é vivido de
forma banal, secundária e indiferente. Portanto, vivemos
autonomamente no primeiro caso e nos embrutecendo e banalizando
refratariamente no segundo. O estudo é uma iniciação para aprendermos a
viver autônomos e em liberdade a vida plena com os outros no mundo. Isto foi
o que os filósofos antigos nos legaram!

A teoria da leitura imanente possibilita tomarmos consciência das


trans-formações subjetivas que ocorrem no estudo e na pesquisa, na
medida em que, na condição de sujeitos de nossos estudos, nos propomos
e nos abrimos à autoanálise de nós mesmos. O que significa que
trabalhamo-nos e concebemo-nos como objeto de investigação e
investigamo-nos a nós mesmos, no estudo.

Agindo assim, superamos a rigidez da dualidade epistemológica


kantiana, entre sujeito (homem) e objeto (natureza e cosmos). Nesta
reflexão crítica da formação de si conquistamos a consciência que
podemos nos investigar a nós mesmos, enquanto sujeitos-estudiosos; nos
elevando a objeto de investigação.

Essa é uma crítica presente, por exemplo, na filosofia da educação


de Paulo Freire. Foi o que o permitiu romper com a educação bancária
ou padrão liberal de educação, fundado, exclusivamente, na categoria
ensino, e assim proposto e postulado desde os jesuítas: os educadores do
cristianismo em tempos de colonização e escravidão.
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Pensando desta forma, com a teoria da leitura imanente,


estudiosos e pesquisadores não são mais abstraídos e neutralizados na
situação de pesquisa. Eles podem ser investigados nas pesquisas como
objetos de análise. Na verdade, de autoanálise.

Esta atitude desfaz a ideia de que os pesquisadores são neutros ou


corpos estranhos e estranhados (no sentido do conceito marxiano de
estranhamento), no âmbito do estudo e pesquisa. Isto é, as formas sociais
estudioso e pesquisador se fazem e refazem no processo de apropriação
de conhecimentos, reinventam suas disposições subjetivas no ato mesmo
de investigar a si mesmos, fazerem-se objetos de si mesmo. Bourdieu
propõe esta atitude de pesquisa como autoanálise intelectual. Portanto,
não há qualquer originalidade nessa nossa problematização e análise da
formação de si: quando elevamos a atividade intelectual à crítica radical
da reflexão socioeducativa. Essa atitude intelecto-analítica e,
simultaneamente, ético-política é uma forte recomendação da sociologia
reflexiva de Bourdieu (2011, 2005 e 1999).

A primeira implicação desta postulação bourdieuniana é que nesta


pesquisa de pós-doutorado esforçamo-nos para analisar a personificação
da forma social pesquisador-estudioso, conquistada na atividade de
escrever e reescrever as obras selecionadas para revisão bibliográfica,
usando o método da leitura imanente. O grande lance da leitura imanente
é registrar os efeitos dessas atividades que ocorrem em nossos corpos, no
diálogo crítico, isto é, identificar as disposições subjetivas que elas
provocam em nosso ser vivendo com os outros no mundo. Mormente no
campo da percepção e sentidos cognitivos. Identificar os insights,
intuições, ideias, sentimentos, emoções, entre outras disposições, no ato
15

mesmo em que estudamos as obras de Foucault e Bourdieu. E aí


passamos a estudar o registro desses efeitos, em nós, no diário
etnográfico.

No projeto proposto, nos propomos a estudar esta personificação


como objeto de observação e crítica (foi assim que nos observamos
criticamente como estudioso, e usufruímos de uma sensação única e
muitas vezes estranha).

Portanto, um dos procedimentos ou implicações desta nossa


pesquisa foi praticar o que Bourdieu compreende como autoanálise:
refletir e analisar os efeitos que as atividades de estudo e pesquisa
provocam e despertam nos nossos corpos-e-mentes-e-mundos; o que elas
acrescentaram à pessoa que éramos antes dessa investigação feita deste
modo. Mais interessante é perceber em que pessoa essas atividades nos
trans-formou. Com isso acreditamos, que praticamos, de fato, e desta
forma, o que Foucault nomeia de ontologia do presente. No estudo tecemos
e territorializamos nossas mentes com as diversas linguagens científicas,
de diferentes mundos, sobre as quais necessitamos para compreender e
intervir no mundo: mundo geográfico, filosófico, literário, biológico,
entre outros. E assim vivermos nossas metamorfoses com os outros no
mundo.

A segunda implicação é reconhecer que existe no trabalho


pedagógico em pesquisa, no estudo, uma potência latente, objetiva e
subjetiva, concebida pelos helênicos como catarse formativa, catarse
processada concretamente na formação de si, e nomeada de askesis.
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Os helênicos admitiam que a conquista da vida virtuosa – a


tranquilidade da alma em Sêneca; o prazer, a alegria e a terapia em
Epicuro; a existência incorruptível e irônica em Diógenes de Sinope –
pressupõe certas atitudes (para Sêneca: aprender a viver com o
necessário, não se deixar subordinar aos prazeres mundanos que
banalizam a vida, não temer aos deuses), certos exercícios de meditações,
exercícios espirituais ou técnicas de si, que aprimoram a existência das
pessoas. Pessoas comuns, que além de se dedicarem ao estudo, vivem
cotidianamente outras aventuras e afazeres com os outros no mundo. É
toda uma filosofia de vida que orienta e que é posta em questão. E que
prioriza o modo-de-saberfazerviver-no-estudo, harmonizando
espiritualidades, mentalidades e materialidades.

Os filósofos helênicos postulam, por exemplo, que é o modo de


vida e não as teorias filosóficas que torna as pessoas humanamente belas
e eticamente admiráveis (HADOT, 2017, 2016, 2014).

Para conquistar tal virtude e beleza é necessário ter a coragem


para negar as ocupações fúteis e banais, ainda que deveras prazerosas, e
com veemência; atividades que banalizam a vida e embrutecem as
pessoas, e que acabam comprometendo o governo de si e o cuidado de si.

Ao admitir o estudo como exercício espiritual e/ou como técnica


de si o que desejamos é vinculá-lo, necessariamente, à ética das virtudes
e a estética da existência. Já que entre os filósofos da antiguidade greco-
romana tal exercício e técnica são indissociáveis de tal ética e estética.
Em outros termos, é o horizonte ético e estético que posicionam os
filósofos antigos em tais exercícios e técnicas de si. Filosofar é viver
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intensamente uma conquista ética e estética, e simultaneamente. Nossa


tese é que o estudo (“trabalho de si, em si, por si e para si”, “atividade
humana sensível”, “cuidado de si”) é portador de todos esses ingredientes.
O que nos revela o caráter universal e transhistórico das técnicas de si e
dos exercícios espirituais. Mas para fazer todas essas potências do estudo
virem à tona na superfície do corpo humano é necessário um método que
ajude despertá-la, e esse método é o método de estudo da leitura
imanente.

Mas a situação em que nos encontrarmos, hoje, no ano de 2020, é


que a modernidade contrapôs e impôs a formação profissional à formação
humana ou Paideia, para assegurar a vigência dos interesses imediatos
do capital. E esta imposição foi feita por meio dos sistemas de ensino, e
territorialmente. De fato, o estudo foi posto em segundo plano em relação
às pedagogias bancárias ou liberais, que elevam a quintessência da
educação o ensino, as teorias didáticas de ensino-aprendizagem, que, a
princípio, profissionalizam os professores nas universidades.

Paratanto, a sala de aula passou a ser representada como lócus


prioritário e privilegiado da apropriação de conhecimentos. Foi neste
espaço da sala de aula que se tornou fácil à burguesia impor seu projeto
de sociedade, mediado pelas atividades intelectuais e pedagógicas, com
um duplo objetivo: formar cidadãos para votar e formar profissionais para
trabalhar. Votar e trabalhar são signos da democracia burguesa. Para
este projeto capitalista muito contribuiu o discurso da gestão
democrática e as políticas de estágios supervisionados curricularizados.
Por meio desta gestão e desta política se processou e se legitimou, no
Brasil, um intenso e extenso controle molecular das vidas das pessoas.
18

Um controle quase absoluto dos discursos dos professores sobre os


conteúdos que os currículos exigem que sejam socializados. E os
professores são controlados por diretores e todo tipo de função de gestão
escolar: supervisão, orientação, articulação, coordenação; e estas funções,
por sua vez, são exercidas pelos técnicos e burocratas educacionais, das
secretarias municipais e estaduais de educação. Mas também
encontramos estas funções nas escolas da educação básica e
universidades.

Foi desta forma e por esses motivos que a formação humana


perdeu sua majestade na modernidade e na pós-modernidade. Para estas
sociedades capitalistas tudo que passou a interessar na formação do
trabalhador é o ensino, a prática de ensino. E prática no sentido
instrumental: de treinamento e instrução. Nestas circunstâncias o estudo
e a pesquisa são negados como exercício espiritual e como técnicas de si.
Vale dizer, o estudo é sacralizado como meio de conseguir diplomas e
certificados de qualificação profissional, para seus portadores poderem
trabalhar como assalariados. Inclusive se habilitar a poder participar de
concurso público. Desaparece do campo de percepção dos atores
pedagógicos o objeto do estudo: corpo-mente-mundo, envolvidos no
processo de formação humana e formação de si. A ideia de que o estudo
está comprometido com a formação humana não tem mais razão de ser
na qualificação profissional, porque tudo que passa a importar é dinheiro
e mercadoria. A própria figura do profissional é uma mercadoria. Os
próprios atores pedagógicos, professores e alunos, são enquadrados como
mercadorias: os primeiros como profissionais da educação (boias frias do
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saber) e os segundos como clientes e consumidores de aulas, meros


espectadores, depósitos dos conhecimentos relativos dos professores.

A escolarização capitalista desterritorializou a perspectiva grega


de Paideia e territorializou a profissão como efeito derradeiro dos
sistemas de ensino básico e universitário. Inclusive nos Programas de
Pós-graduações, strictu sensu, espalhados pelo Brasil afora. Dois séculos e
meio de educação capitalista (bancária) foram suficientes para tornar
invisível a dimensão humana da formação de si pelo estudo e pesquisa. A
desvitalização da categoria estudo e pesquisa da memória das populações
de professores, docentes, estudantes e discentes tornou os sentidos
humanos da formação de si invisíveis e imperceptíveis aos próprios atores
pedagógicos.

Todas essas características são imanentes a qualificação mercantil-


profissional. Não é por acaso que a qualificação profissional se tornou
hegemônica no Brasil, desde a década de trinta, quando se apresentou a
urgência da constituição do operário brasileiro, o “operário padrão”, em
termos de uma qualificação padronizada pelo capital, pois este é o
pressuposto necessário de qualquer projeto de parque industrial,
urbanístico e científico (principais bandeiras do positivismo desde
Augusto Comte). Questão que se colocaram com força aos estados norte-
americanos desde 1870 e na França desde o final da Revolução Francesa
(RANCIÈRE, 2018). Marie Jean Antoine Nicolas de Caritat, o Marquês
de Condorcet (1743 - 1794), por exemplo, considerou em suas obras
educacionais a instrução como forma de diminuir as desigualdades
sociais. Nesse país se estruturou os primeiros sistemas de
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governamentalização do ensino pelo capital (governo das ações mentais:


individuais e coletivas).
A crítica aos sistemas de governamentalização do ensino escolar e
universitário, que inicia no século VIII e se consolida no século XIX,
persiste até hoje, no século XXI. Esta é a triste constatação e a profunda
mensagem deste relatório de pesquisa.
Mas critico não é ser contra, mas apresentar alternativa aos
fundamentos ontológicos do sistema de ensino capitalista. Propomos,
então, o método de estudo da leitura imanente como estratégia
pedagógica para fortalecer o governo de e possibilitar a conquista da
emancipação e autonomia intelectual. Temos plena consciência de que,
por desafiar a racionalidade do capital: contábil e administrativamente, o
método de estudo da leitura imanente jamais poderá vir a se constituir
em política pública nacional, para poder ser socializada e vivenciada por
todos os professores e alunos. Mas, então, por que insistir e “perder
tempo” em elaborar, aprimorar e fortalecer, teórica e
metodologicamente, a teoria do método da leitura imanente? Porque há
fissuras nas escolas e universidades que nos permitem adentrar, atuar e
revolucionar estas instituições de ensino por dentro delas, mediados pelo
estudo e pesquisa. E porque também existe as Escolas Comunitárias e
Universidades Populares em que podemos atuar.

Retomando nossa problemática: pesquisa e estudo, na


contemporaneidade, são também atividades capazes de despertar “os
mesmos efeitos”, éticos, políticos e estéticos, provocados pelos exercícios
espirituais, na antiguidade clássica, praticados, sobretudo, entre os
estoicos, epicuristas, cínicos e socráticos.
21

As virtudes e belezas conquistadas por eles, decorrentes dos


exercícios espirituais e das técnicas de si, também podem ser
conquistadas pelos estudiosos modernos e pós-modernos, que pululam
em escolas e universidades. Portanto, se admitirmos que as atividades
intelectuais são capazes de trans-formar as subjetividades das pessoas,
porque despertam disposições subjetivas adormecidas, e se tais atividades
podem ser concebidas como técnicas de si, por evocar potencialidades
humanas latentes – e o silêncio e atenção que o estudo requer são provas
cabais da similitude com as meditações que buscam o autoconhecimento
e o exame de consciência praticados, sobretudo, pelos estoicos –, então
podemos admitir que tanto as meditações (entre outras técnicas de si)
quanto os estudos na modernidade e/ou pós-modernidade, são atividades
que também evocam e despertam, nos corpos-e-mentes-e-mundos dos
estudiosos, disposições psíquicas, políticas, éticas e estéticas, que compõe as
subjetividades singulares dos praticantes das atividades intelectuais e dos
exercícios espirituais.

O objetivo geral de nossa pesquisa foi, tão somente, demonstrar


este fato: que o estudo e a investigação modernos são formas de cuidado
de si e podem ser vividos como exercícios espirituais. Como tal, podem
produzir os mesmos efeitos1 que produziam nos filósofos na antiguidade
clássica.

1
Por que na modernidade se perdeu a “humanidade” como objetivo da formação intelectual, nos sistemas
escolares e universitários de ensino? Porque a prioridade da formação na modernidade é transformar
pessoas em mercadorias ou profissionais, com o objetivo exclusivo de inseri-las, como coisas e não pessoas,
no mercado de trabalho. E, veja, não importa em que condições de trabalho ocorre tal inserção. Portanto, a
natureza da formação na modernidade mudou radicalmente seu horizonte teleológico. A pergunta que
norteou nossa pesquisa é a seguinte: é possível viver o estudo na modernidade como os antigos viveram a
filosofia? Nossa resposta é sim, o que nos exige demonstra-la racionalmente. E o fizemos com a formulação
do método de estudo da leitura imanente, que resgata o princípio educativo da filosofia antiga: a amizade.
22

Hoje, concretamente, a leitura imante tem provocado efeitos


espetaculares na vida intelectual de muita gente: professores e alunos: em
anexo, neste relatório, incluímos alguns depoimentos e relatos de
professores e alunos, sobre suas experiências e vivências com o método
da leitura imanente2. Penso que estas falas e textos matam a curiosidade
dos céticos que se perguntam: mas este método funciona? Tem algum
resultado que prove sua eficiência? Há provas concretas desses
resultados? Já foi aplicado em alguma escola ou universidade? Esse
método já foi avaliado por especialistas em educação? E o que esses
disseram?

A estética da existência e a autonomia intelectual, além da conquista


da “maioridade do pensamento”, proposta na conceituação kantiana de
Ilustração, são imanentes às práticas dos estudos, se admitirmos que a
atividade intelectual é uma forma de exercício espiritual e técnica de si.
O estudo está comprometido com a formação de si e referenciado na
formação humana. Quanto ao cuidado de si o estudar já é, em si mesmo,
concretamente, cuidar de si: uma atividade terapêutica que implica cuidar
de si mais profundamente do que qualquer outra atividade. Estudo é
ginástica intelectual. Forma de cuidar de si preventivamente. Quando
estudamos cuidamos de nossos corpos, mentes, mundos e espiritualidade.
Entre tantas qualidades o estudo, como Epicuro o viveu, é uma atividade
terapêutica.

Esta segunda implicação do estudo está relacionada ao que

Princípio estruturador da Paideia entre os filósofos, das mais diferentes escolas, onde conviviam uns com
os outros, tendo como horizonte a conquista das virtudes humanas.
2
No anexo, ponto 7 no sumário, compartilharemos alguns relatos textuais. Mas há também depoimentos
verbais de professores que podem ser visualizados no site: estudoevirtude.com.
23

Bourdieu concebe como socioanálise. Esta concepção converge com a


concepção foucaultiana de governo de si. Isto significa que se praticarmos
a autoanálise e a socioanálise, no trabalho pedagógico em pesquisa,
fortalecemos o que Foucault formulou como governo de si. Por outro lado,
como postulamos acima: estudar é cuidar! Cuidamos positivamente de nós
mesmos quando fazemos atividades comprometidas com a ética das
virtudes e a estética da existência, e descuidamos ou cuidamos negativamente
de nós quando realizamos atividades que banalizam, alienam e
embrutecem nossas vidas – morremos muitas vezes ao longo da vida até
o falecimento, e neste processo mórbido tornamo-nos senhores de nós
mesmos a cada dia, mês e ano ou submetemo-nos, cada vez mais
profundamente, ao governo dos outros, servindo voluntariamente ao
governo dos outros. Esta subalternidade, sujeição e servidão é vivida
contemporaneamente por populações inteiras e, paradoxalmente, são
desejadas profundamente por elas, as vezes com ardor, mas com muito
mais frequência, para nossa frustração e infelicidade, com alegria e
prazer.

Morrer é ato político que se concretiza a cada instante nas


atividades que realizamos, e na maioria das vezes solicitadas por outrem.
Normalmente as realizamos sem questionar, mesmo quando realizadas a
contragosto e contra nossos desejos e vontades. Estas são atividades de
que nos ocupamos nas cidades como obrigações. Em contrapartida somos
nós, em boa medida, que decidimos sobre o que fazer agora, neste
instante, no tempo livre, no presente. Decidimos quais atividades
priorizar e nos ocupar no tempo livre. Não é deus, o pastor, os
governantes, os pais ou professores que nos obrigam a fazer certas
24

atividades. E diante de um fato que nos tira a paz: decidimos morrendo,


caminhando para morte: eis a única certeza inconteste! Decidir viver
desta maneira também implica morrer desta maneira. Como postula
Sêneca: “toda a nossa vida pretérita a morte já o levou” (SÊNECA, 2018,
p. 1).

Morremos no tempo que passou, a milionésimos de segundos que


compõem os minutos, horas e dias. A morte está nos momentos do
passado remoto em que vivemos (no ensino remoto também!). Então
devemos estar atentos no que fazemos agora. Valorizar as atividades que
tornam a vida virtuosa e rejeitar aquelas que as banalizam e as alienam
de nós parece-nos atitudes plausíveis e sensatas de qualquer humano.

Portanto, estudar diariamente, de forma regular e sistemática, com


gosto e prazer, com o método da leitura imanente, convertendo o estudo em
modo de vida, afirma uma das condições e possibilidades mais radicais de
vivermos sentimentos genuínos de uma subjetividade comprometida
com os efeitos do cuidado de si e do governo de si. Foi dentro desse
espírito e “regime de verdade” que o pós-doutorado permitiu-nos viver o
estudo como Epicuro o viveu em seu Jardim: como terapia, prazer, alegria
e sabor.

Trabalhamos nossas mentes, sentidos e percepções intelectuais, no


estudo, como o ourives trabalha o ouro bruto. Lapidamos mente, corpo e
mundo como o diamante é lapidado: artesanalmente. Este “trabalho em si,
de si, por si e para si”, esta “atividade humana sensível”, esse trabalho de
esculpir a interioridade humana do nosso ser no mundo, é próprio das
atividades intelectuais: do estudo e da pesquisa. Corresponde a fazer de
25

si, de nossas vidas, sentidos e sentimentos uma obra de arte. Nesta


perspectiva o estudo é um modo de vida e, como tal, podemos dele nos
ocupar o dia inteiro. No estudo esculpimos artesanalmente nossos
corpos, mentalidades e espiritualidades.

O registro e demonstração deste fato encontra-se descrito no


segundo volume do livro Formação de Si: Estudo & Virtude. Este livro é
resultado de registros sistemáticos que ocorreram durante nossos
estudos. E mesmo em sonhos. Para redigi-los tivemos que privilegiar a
atividade intelectual em detrimento de outras atividades. Esse é um fato
que nos parece óbvio. O que se faz relevante e invisível a olhos nu,
imperceptível aos sentidos e, por isso, se faz necessário descobrir e
revelar para que todos saibam são as trans-formações em nossas
disposições subjetivas. As mudanças que ocorreram em nós mesmos, em
nossa pessoa e personalidade, provocadas pelo trabalho pedagógico nesta
pesquisa. Mudanças que nós temos clara consciência de ter ocorrido
como consequência de termos aplicado o método de estudo da leitura
imanente, nos trabalhos acadêmicos, escrito pelo escritor tomado para
estudo: eu mesmo.

Foi por isso que neste pós-doutorado conseguimos nos aprimorar


intelectualmente e, simultaneamente, aprimorar os quatro momentos da
leitura imanente. Antecipemos agora, brevemente, algumas
características desses momentos.

No primeiro momento da leitura imanente decompomos e/ou


recompomos os textos em suas unidades elementares. No segundo
construímos os mapas das unidades significativas, das unidades
26

epistemológicas e das questões norteadoras, além de identificarmos a


organização, estratégia de argumentação e os pontos que estruturam o
texto. No terceiro registramos todos os sentimentos, ideias, intuições,
insights e emoções gerados nos momentos anteriores. E no quarto
promovemos um movimento contrário, a composição de um texto
baseado na compreensão de nossas interpretações, um texto de nossa
autoria, autoria do leitor ou escritor em potencial, organizado em
introdução, desenvolvimento e conclusão.

Postulamos que esses procedimentos, em seu conjunto, evocam e


despertam subjetividades específicas, que referenciamos na filosofia
helênica, inspirados nos estudos éticos de Foucault, nos estudos da
filosofia antiga de Pierre Hadot e na teoria socioreflexiva de Bourdieu.
Pressupomos que, referenciado nesses escritores, o método da leitura
imanente faz os estudiosos tomarem consciência de que vivemos o estudo
tal como os filósofos helênicos viveram a filosofia. E agora, na
modernidade, no século XXI. O estudo desperta potencialidades
humanas latentes: imaginações, criatividades, intuições e insights
literários e intelectuais. Evoca essas forças que até então encontravam-
se mudas na vida concreta, na trama da vida concreta. O corpo passa a
ser tecido por essas forças das linguagens que agem no corpo-mente-e-
mundo em que vivemos concretamente. Todo esse processo é imanente
ao estudo. É por meio dele que despertamos as forças dos campos de
percepção e dos sentidos constitutivas de nossos corpos.

O estudo regular e sistemático, com o método da leitura imanente,


desterritorializa os complexos categoriais petrificados em nossas
memórias. Os novos complexos categoriais que passam a habitar e
27

vigorar em nossas mentes, e reconfigurar nossos sentidos e percepções


do mundo e de nós mesmos, são adquiridos no estudo regular,
sistemático e metódico. Esta forma de estudar se contrapõem às práticas
assistemáticas e arbitrárias de apropriação de conhecimentos, que
existem e se reproduzem, de forma persistente, nos sistemas de ensino
vigentes e tradicionais. Estes acabam constituindo o senso comum do
estudo, senso comum que encouraça o corpo e faz este reagir a novas
sensações, a novas formas de viver o estudo de forma libertária e
prazerosa.

Em diferentes sociedades, pouco importa sua natureza, se


capitalista ou socialista, os sistemas de ensino são vitais para o
funcionamento e racionalização das práticas sociais, que as legitimam e
facilitam a reprodução social. Os sistemas de ensino estão na base,
subjacentes ao conjunto ou totalidade articulada das atividades que as
pessoas laboram nas cidades onde vivem. Primeiro porque não há como
fazer qualquer coisa sem o saber. Segundo porque os saberes sociais e vitais
para as sociedades modernas foram suprassumidos pelas instituições de
ensino e pelas empresas.

O uso dos procedimentos da leitura imanente encorajou-nos a


assumir o estudo e a pesquisa como modo de vida. O que contribuiu para
desenvolver, com mais intensidade, rigor, precisão, atenção e
concentração as capacidades intelectuais de perguntar, questionar e
interrogar, de conversar com os escritores; mas também de depurar e
aprimorar a escrita, tornando-a mais artística e virtuosa, com mais
equilíbrio e segurança emocional. A busca de uma escrita poética
despertou sentimentos ignorados até então. Por exemplo: o prazer de
28

buscar a perfeição estética da escrita literária. Escrever como se


estivéssemos conversando com os leitores, eis o que perseguimos nos
Ensaios do livro Formação de Si. Sobretudo no Volume II: Estudo &
Virtude.

Mas os efeitos da leitura imanente não incidem apenas na leitura e


na escrita, eles reconfiguram (fazem e refazem) o campo dos sentidos e
percepções, com novos vocábulos e expressões. Por sua vez, esta
reconfiguração desperta novos sentimentos, sentidos e disposições
subjetivas. Há todo um processo, dialético, que é desencadeado com o
método da leitura imanente, e que precisamos estar atentos para percebe-
lo. Trata-se de uma objetividade imanente à subjetividade do estudioso,
no “trabalho de si, em si, por si e para si”, neste “exercício espiritual”,
nesta “atividade humana sensível”, como queiram, que é o estudo. Sejam
seus praticantes pesquisadores, docentes ou estudantes, pouco importa,
tal processo acontece desde que as pessoas se disponham a personificar a
forma social estudioso. Porque nada garante que professores,
pesquisadores e estudantes o sejam, a priori e/ou abstratamente.

Quem se faz profissional, certamente, não se conforma ou se


formata como estudioso. Aquele valoriza, necessariamente, a qualificação
técnicoprofissional, as técnicas instrumentais dos conhecimentos tácitos,
empíricos, funcionais à administração das organizações de trabalho
assalariado, as competências e as habilidades. Para constatar este fato
basta folhear os programas de governo, como a Base Nacional Comum
Curricular ou o Programa Residência Pedagógica. É uma outra forma de
ser e viver no mundo com os outros, e que afirmam a sujeição dos atores
pedagógicos, quase que naturalmente, e com ares imparciais, à servidão
29

voluntária e ao governo dos outros. Os profissionais lutam


desesperadamente para conquistarem o seu lugar nos ambientes onde
persistem, no tempo, as condições servis e subalternas de trabalho nas
empresas (estatais, privadas ou confessionais). É dentro do espírito da
subalternidade que toda e qualquer pessoa, que deseja ardentemente ser
profissional, é posicionada teleologicamente no horizonte das sociedades.
E com o desejo ardente em sê-lo.

Os aplicativos do método de estudo da leitura imanente instituem


uma outra e nova forma de ser, antípoda à forma profissional. Desperta
disposições subjetivas até então mudas e silenciadas, mas capazes de
engendrar novos habitus, êthos, ética, cultura e encoraja os atores
pedagógicos a conquistarem a autonomia e emancipação intelectual, o
governo de si, na cidade, vivendo com os outros no estudo.

O estudo das obras éticas de Foucault, filosóficas de Pierre Hadot


e teóricas e epistemológicas de Bourdieu, com o método da leitura
imanente, contribuiu para aprimorar o estudo crítico e sistemático do
processo de apropriação de conhecimentos, elevando nossa capacidade de
compreensão e interpretação e, como consequência, com mais confiança
na liberdade de pensar intervir na sociedade com autonomia.

Estes foram resultados significativos vivenciados nesta pesquisa.


Nem por isso desapareceram os problemas teóricos: é que muitos dos
resultados da formação de si não podem ser apenas mensurados em
quantidades, impossível de serem tão somente quantificados, porque o
dado, no fundo, é o próprio modo de vida das pessoas no estudo e na
pesquisa, que transcorre na realização das atividades intelectuais. Por
30

exemplo, os efeitos do estudo no campo dos sentidos, percepção e no


processo de revolver toda interioridade humana.

Outros resultados decorrerão de novos estudos e pesquisas, que


deverão ser realizados com a finalidade de complementarmos os estudos
realizados neste pós-doutoramento. Nesses novos estudos vislumbrados
a partir deste, certamente teremos que responder questões que emergirão
das revisões bibliográficas, feitas com a leitura imanente. Essas próximas
pesquisas ainda estão na forma de projetos e em construção e
amadurecimento. A pesquisa é, assim, portadora de uma dinâmica
própria. De uma pesquisa nascem inúmeras outras pesquisas, a priori
imprevisíveis, que vão delineando, uma após outra, uma linha de
pensamento singular e consistente. Porque as lacunas e os limites de uma
pesquisa apenas podem ser resolvidos e superados com o preenchimento
das descobertas e contribuições de outras pesquisas. De uma pesquisa
original desdobram-se, necessariamente, a necessidade de novas
pesquisas complementares.

Considerando esta característica da pesquisa, nossos estudos de


Pierre Hadot, Bourdieu e Foucault também projetaram e fomentaram
outros temas, bibliografias e escritores. Escritores que propõem novas
questões, propõem teorias outras que, mas que tivemos a oportunidade
de identificar, conhecer minimamente, e até interagir com algumas
leituras para dissipar minimamente nossa ignorância e nos acalmar. O
que ocorreu com a filosofia da linguagem, a filosofia da mente, a leitura
de trabalhos acadêmicos do campo das Letras e Literatura que exploram
a leitura e a escrita literária, e um conjunto de trabalhos acadêmicos sobre
a escrita.
31

Gostaríamos de compartilhar, ainda que brevemente, algumas


ideias de pesquisa que surgiram durante nossos estudos de Pierre Hadot,
Foucault e Bourdieu. Projetos de estudos, ainda prenhes, que emergiram
nesta pesquisa e que, para nós, revelam a sua atualidade contemporânea,
e o seu lugar no âmbito, mais amplos, dos problemas e temas das ciências
humanas contemporâneas.
32

REFERÊNCIAS

BOURDIEU
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Janeiro/Petrópolis: Vozes, 2013.
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34

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