Grua Certa

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A grua certa: fixa, móvel ou ascensional

Techne -Edição 71 - Fevereiro/2003

Soluções para subir e descer na obra.


Revista Téchne nº 55.
Ubiratan Leal
Viabilidade desse tipo de transporte vertical deve ser analisada por critérios
logísticos e de produtividade

Uma frase, muito comum no pensamento de alguns construtores, resume bem


como a grua é vista por boa parte do setor: "Não uso porque não tenho verba para
isso". Equipamento símbolo de obras grandiosas com orçamentos generosos, as
gruas acabaram não se disseminando mais justamente pela imagem que
possuem. Dissociaram-se de obras pequenas e médias, em que, supostamente,
não há recursos financeiros para esse tipo de "extravagância".

Excluir sumariamente as gruas, porém, pode ser uma medida antieconômica. E,


para se saber exatamente quais os ganhos e perdas decorrentes do uso de gruas,
é necessário realizar um correto cálculo do uso do equipamento. "Já vi engenheiro
de construtora grande dizer que comparou a grua com o custo de uma bomba que
levasse concreto ao último pavimento", conta Paulo Melo Alves de Carvalho,
diretor de gruas da Alec (Associação dos Locadores de Equipamentos à
Construção Civil). "Independente do resultado que ele obteve, o cálculo foi
equivocado por não considerar que a grua serve para transportar outras coisas
além do concreto."

A melhor forma de saber se a grua é ou não viável em uma determinada obra é


elaborando, antes da construção começar, um projeto de canteiro que inclua
logística, transportes internos, pontos de recebimento de materiais e acessos à
obra. Com isso em mãos, o construtor tem condições de saber o que a grua
movimentaria e fazer um comparativo de produtividade, perda de materiais e
velocidade de execução.

Também é importante analisar cada canteiro como algo único, evitando


generalizações, como uma muito corrente no setor que considera que uma grua
substitui 12 trabalhadores enquanto estiver operando. "Índices como esse não
devem ser aplicados sem que se baseiem nas condições reais do canteiro",
explica Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, professor da Poli-USP. "Dependendo do
caso, esse número pode ser muito maior ou muito menor."

Além das questões financeiras e gerenciais, há aspectos técnicos que podem ser
determinantes na escolha do meio de transporte vertical da obra. Por exemplo: se
o projeto prevê a adoção de componentes pesados como painéis, estruturas pré-
moldadas ou banheiro pronto, as gruas são obrigatórias. No sentido oposto, a
indisponibilidade desses equipamentos na região pode levar à escolha de outros
sistemas.

No canteiro
A fase de planejamento não termina aí. Caso a construtora defina o uso da grua,
deve informar o calculista. Essa necessidade se deve às cargas que esses
equipamentos transmitem ao corpo da estrutura. Uma grua ascensional pesa, em
média, 25 t. No caso de gruas com torres fixas, prendê-las às lajes resulta em um
aumento de cargas horizontais. Não são raros os casos de necessidade de reforço
- mesmo que temporário - da estrutura.

O consumo de energia também deve ser analisado. Cada grua consome, em


média, 35 kVA/h. Por isso, o uso de duas gruas na mesma obra pode aproximar a
demanda de energia do limite máximo de entrada instalada pela concessionária.
Nesses casos, a construtora deve avisar previamente a concessionária e fazer
uma outra entrada, do tipo estaleiro.

A última questão gerencial a se considerar é a contratação da mão-de-obra.


Alguns empreiteiros fazem o preço pela metragem do empreendimento,
desconsiderando que uma grua reduz a quantidade de trabalhadores no canteiro.
"Os benefícios financeiros obtidos com a redução da mão-de-obra vão direto à
empresa subcontratada", alerta Fábio Martins Garcia, diretor técnico da
construtora paulista Conceito. "É contraditório buscar um sistema pela economia
com mão-de-obra e repassar os ganhos."

Com o projeto de canteiro definido, já há subsídios para a especificação adequada


do equipamento. Em geral, é analisada a capacidade de carga e o comprimento da
lança. No Brasil, as gruas mais usadas em obras de edificação têm momento
máximo de 360 t.m e lanças que variam entre 20 e 60 m.

As duas características estão interligadas. Um dos fatores que compõe o cálculo


da capacidade de carga é o momento, resultado da multiplicação da capacidade
de carga pela distância da ponta da lança ao eixo central (a torre). Por isso, uma
grua pode erguer materiais mais pesados nas partes mais próximas da torre. No
entanto, a capacidade de carga também pode ser condicionada pela resistência do
conjunto polia-cabo. Os locadores e fabricantes devem fornecer manuais técnicos
que mostram a capacidade do equipamento em cada situação.

TIPOS DE GRUA

Ascensional

Características
Instalada no interior do prédio, passa por janelas abertas nas lajes ou pelo poço do
elevador. No primeiro caso, pode ser necessário executar elementos que
transfiram essa carga extra para os pilares. Normalmente, a grua tem torre de 6 a
12 m e fica presa em cerca de dois pavimentos abaixo do último pronto. Para
desmontar, é recomendável que se "deite" a lança sobre uma laje sem obstáculos
após a retirada da torre. Caso a lança fique suspensa sobre, por exemplo, uma
caixa d'água, será necessário o uso de guindastes para a retirada das peças.

Vantagens
Como necessita de menos peças que uma grua de torre fixa, o custo médio torna-
se menor. O posicionamento central na edificação permite um raio de ação global,
principalmente em empreendimentos com apenas uma torre. Além disso, serve-se
da própria fundação do edifício.

Desvantagens
Se o canteiro não for bem planejado, o elevador pode ser entregue sem que a grua
tenha sido desmontada. Outra questão é o tamanho da lança. Uma grua
ascensional com lança longa sobrecarrega a estrutura que a sustenta pelo
aumento do peso próprio do equipamento. Esse tipo de grua também exige maior
cuidado de impermeabilização. Muitas vezes, a janela em que é implantada
atravessa o local onde será executada a caixa d'água. Nesse ponto, haverá
concreto com idades diferentes e cuidados de compatibilização e
impermeabilização são importantes para evitar vazamentos.

Torre fixa com lança também fixa

Características
Posicionada no lado externo da edificação, deve ser estaiada ou presa ao corpo do
edifício. Para desmontar, deve haver espaço no canteiro para que toda a lança
fique no chão após a retirada das peças da estrutura.

Vantagens
Se comparada às ascensionais, pode ter maior capacidade de carga e tamanho de
lança, além de não interferir no andamento da obra nas lajes. Também pode ser
colocada entre duas torres para atender a ambas em empreendimentos com mais
de uma edificação.

Desvantagens
Por causa da relação entre peso e altura, necessita de fundação própria.
Dependendo do tamanho da lança, há mais risco de interferir nos imóveis vizinhos.
A carga horizontal provocada pelo estaiamento ou fixação da torre no prédio não
pode ser desconsiderada pelo calculista. Por fim, tem custo médio mais alto que as
ascensionais, já que possui mais peças.

Torre fixa com lança móvel

Características
Semelhante à de lança fixa, mas tem maior versatilidade por contar com lança
móvel para a realização de movimentos verticais.

Vantagens
Tem altura máxima maior que as de lança fixa. Além disso, a subida da lança pode
servir como manobra para evitar choques com edificações vizinhas. Por fim, a
distribuição de esforços com a lança levantada confere uma pequena vantagem
estrutural (redução do momento) em comparação com as gruas de lança fixa.

Desvantagens
Se comparadas às ascensionais, possuem as mesmas desvantagens de uma grua
de torre e lança fixas. Outra desvantagem é a resistência ao vento. A lança erguida
chega a alturas maiores, onde o vento é mais forte, aumentando
consideravelmente os esforços horizontais.

Torre móvel

Características
A torre desloca-se sobre rodas apoiadas em trilhos. A pequena "ferrovia" deve ser
convenientemente ancorada no solo.
Vantagens
Pode atender a diversos edifícios em condomínios com várias torres, como em
conjuntos habitacionais.

Desvantagens
Como não possui estaiamento, nem é presa no corpo dos edifícios, tem altura
limitada.

Recomendações de uso
Nem todas as condições de uso de gruas são determinadas pelo projeto do
canteiro. Por ser um equipamento que pode provocar acidentes, a grua tem um
capítulo próprio na NR-18 (Norma Regulamentadora das Condições e Meio
Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção Civil).

Veja as principais dicas de segurança:

 A ponta da lança e o cabo de aço de sustentação devem ficar no mínimo a 3 m de qualquer


obstáculo e ter afastamento da rede elétrica que atenda orientação da concessionária local

As medidas correspondem a margens de segurança adotadas para evitar choque entre a grua e
edificações ou a rede elétrica, já que o equipamento possui estrutura metálica.

 O primeiro estaiamento da torre fixa ao solo deve se dar necessariamente no 8o elemento e,


a partir daí, de cinco em cinco elementos

Esses são valores considerados suficientes para garantir um travamento adequado da torre do
equipamento com a edificação.

 É proibido qualquer trabalho sob intempéries ou outras condições desfavoráveis que


exponham a risco os trabalhadores da área. (...) A grua deve estar devidamente aterrada e,
quando necessário, dispor de pára-raios situado a 2 m acima da ponta mais elevada

Com estrutura metálica, a grua se transforma em um imenso pára-raios. Por isso, evita-se o
uso do equipamento durante as chuvas.

 É proibido o uso da grua para arrastar peças

O atrito causado pelo arrasto aumenta a carga da grua, podendo desestabilizá-la.


 É proibida a utilização de travas de segurança para bloqueio de movimentação da lança
quando a grua não estiver em funcionamento
Pelo formato e altura, a grua proporciona uma considerável resistência ao vento. Se estiver
desativada, a lança deve estar solta para girar a favor do vento, como uma biruta. Caso
contrário, a carga horizontal pode desestabilizar o equipamento.

 É obrigatória a instalação de dispositivos de segurança ou fins de curso automáticos como


limitadores de cargas ou movimentos, ao longo da lança

A própria grua não deve permitir sobrecarga, travando sempre que isso acontecer. Acidentes
graves podem ocorrer pela falha desse dispositivo de segurança, como a queda da carga.

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