Resenha - O Que Etnocentrismo

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Universidade do Estado da Bahia

Departamento de Educao Disciplina: Antropologia e Educao Semestre: 2006.1 Ano: 2006 Prof.: Jos Gustavo Sampaio Aluna: Juliana Carvalho Moreira Resenha: ROCHA. Everaldo P. G. O que etnocentrismo? So Paulo: Brasiliense, 2006. Coleo Primeiros Passos; 124

Construindo Conceituaes O que etnocentrismo? O autor, Rocha, j comea a redao do livro construindo conceituaes, fazendo pontuaes bem diretas sobre etnocentrismo. Segundo ele, Etnocentrismo uma forma de ver o mundo onde o grupo do eu e suas vises e prticas so tidas como centro, como padro. E que tudo que se interliga com as demais sociedades encarado como inferior, e pensados atravs de nossos modelos, padres e valores. O autor diz que no a propores temporais para o etnocentrismo, e que ele como fato quase unnime, ele encontrado durante toda a Histria tanto quanto facilmente encontrado no dia-a-dia. Para se entender o Etnocentrismo, devemos ver os choques entre os aspectos scio-culturais entre as diversas sociedades. O autor explica exemplificando de forma efetiva usando a nossa sociedade em relao a outra e qualquer sociedade. O grupo do eu, o nosso grupo, entra em choque ao ver o grupo do outro, um grupo diferente do nosso, que tem sua prpria forma e contedo. A partir desse choque, se advm o etnocentrismo, nas constataes das diferenas entre os grupos sociais e culturas. Da comparao direta entre as diversas culturas e sociedades, e das idias de que a sociedade do eu a ideal, a superior, a civilizada; e que a do outro desorganizada, falha, selvagem e atrasada. Na grande maioria das vezes, a representao do outro feita e regulada pelo eu, a partir de imagens distorcidas e sem base alguma. No damos ao outro a oportunidade do contato, da explanao e da autonomia sobre sua representatividade em outra cultura/sociedade. Temos estas representaes para ns, sem fazer com que se construa uma imagem crtica e essencialmente mais correta. Podemos mudar sua

influncia e fazer-nos acreditar nelas de acordo com objetos ideolgicos, j que temos o outro como mera imagem sem voz. Numa cincia que prope-se a discutir a diferena, a Antropologia, uma viso etnocntrica, segundo o autor, marca a Antropologia e formada a partir de vises do eu pura e simplesmente diretas e rotulativas em relao ao outro. A Antropologia no v estas diferenas como hierarquias ou chaves, mas como alternativas existncias por quais diversos grupos humanos dispunham e fizeram para que fosse possvel a vida. Houveram limites existenciais comuns, mas solues diferentes. O eu e alguns outros... Durante a histria da sociedade brasileira, a participao efetiva dos diversos grupos tnicos que habitam ou vieram a habitar o pas, extremamente desigual em valor dado pela populao. Tendo em vista o papel social do ndio, citado pelo autor, ele tido em trs fases diferentes: primeiramente na descoberta, como o selvagem, o primitivo, o pr-histrico, Mostrado em contrapartida aos colonizadores, que trariam a civilizao aos ndios; logo depois do incio da colonizao efetiva, os ndios, para viso da Santa Igreja, so agora gentios e a catequese iria os tornar protegidos; no terceiro papel, o de formador da etnia brasileira, que iria entrar no como selvagem ou inocente, mas agora como bravo, corajoso, e libertrio. Isso mostra que as diversas vises do outro por parte do eu, manipulada ardilosamente por formulaes ideolgicas e tem foco numa prpria auto-afirmao por do eu. A margem de enriquecimento exemplificativo, um outro outro na sociedade brasileira so os homens negros africanos, trazidos como escravos na primeira parte da poca colonial, para trabalhar nos engenhos e servir de fora trabalhadora. Durante um bom tempo se permanece assim, at o ato de abolio da escravido. Quando ocorre isto, h uma falsa idia de integrao social da totalidade dos negros libertos. Mas a sociedade d outros papis ao negro, o de marginal, fora dos padres... Depois, nestes tempos de reparao social, ele tido como injustiado socialmente, mas tambm ainda como marginal, devido enraizada prtica racista por grande parte da sociedade. Isso mostra e comprova sobre a manipulao ideolgica por parte do grupo do eu em relao imagem, papel e representao grupo do outro. Assim como

indgenas e negros, na sociedade brasileira, muitos so os outros, que a prtica enraizadamente cultural so formados por um juzo etnocntrico. Percurso antropolgico: O Novo Mundo O desbravamento e colonizao do Novo Mundo marcam profundamente a cincia que nem sequer est totalmente formada: a Antropologia. Segundo as prprias palavras do autor:
O mundo do eu se via obrigado, frente ao outro, a pensar a diferena. O que significaria o novo mundo? Seriam seres humanos os seus habitantes ou uma verso extraterrestre modelo sculo XVI? Tal como um E.T. o nativo do novo mundo teria alma? Lei? Poder? Poltica? Deus? Rei? Amor? Amizade? Casamento? (...)

De fato, havia seres diferentes dos europeus colonizadores no Novo Mundo, mas eram seres humanos, s que diferentes, mesmo assim, o grupo do eu no aceita como idntico a figura do outro. Mas a mostra-se um espanto, alm de uma pretenso do grupo do eu em ser o dono da verdade. Quanto se quebra isso, Ento, se inicia a procura por modelos que expliquem estas diferenas. Ento, a Antropologia no sc. XVI, feita para uma determinao e afirmar o grupo do eu carregada no Etnocentrismo, mas durante seu percurso, foge deste processo, indo a caminho do pensar a diferena. Percurso antropolgico: Evolucionismo O primeiro pensamento que prope-se a pensar as diferenas, segundo Rocha, o Evolucionismo. Ainda afirma que a teoria Evolucionista iria tornar-se base para toda uma grande fase da teoria antropolgica (...). Baseava-se na ligao orgnica da evoluo, feita na Biologia, com Darwin e a sua A Origem das Espcies. O evolucionismo torna-se um paradigma na grande maioria das cincias, e marca a Antropologia. O evolucionismo explicava a diferena do outro com uma proposio simples: o outro diferente porque possui um diferente grau de evoluo. Evoluo, na tica do autor, liga muito as cincias humanas s idias de progresso. Assim, do progresso, perpassa a diferena ao campo hierrquico, onde h sociedades atrasadas em relao a outras, mostrando o evolucionismo extremamente etnocntrico. Isso

influenciou toda uma gerao de antroplogos que se dispunham a escalonar as diversas sociedades em hierarquias. Mas, atrasadas e evoludas em relao a qu? Ento, quais os critrios que prediriam e mediriam o grau de avano das civilizaes? Seria ento que alguns estudos infundados trariam todas as sociedades a margem de dar conta dos problemas que tiveram de enfrentar, todas da mesma maneira, e assim, transpor quem seria primitivo, ou seja, que estaria numa fase por onde ns, do estagio civilizado, j passamos. O autor refere um dos grandes antroplogos da poca, Lewis Morgan, e diz que o mesmo se ps a escalonar as sociedades de acordo com o progresso evolutivo. Ele avaliou diversos itens culturais como governo, poder, famlia, religio... e acaba por dividir todas as civilizaes em trs perodos bsicos: Selvageria, Barbrie e Civilizao. Mas mesmo com todo o Etnocentrismo, no Evolucionismo h um primeiro passo rumo a alternativa, quando ele se prope a pensar o outro, mesmo que ainda o trate como coadjuvante. Percurso Antropolgico: Boas e o Relativismo Cultural. O autor, comea o 3 captulo indicando o sculo XX como o sculo que traz para a antropologia um conjunto vasto e complexo de novas idias formuladas por um grupo brilhante de pesquisadores. Logo depois, ele trata da importncia da relativizao no percurso antropolgico. O alemo Franz Boas e seu trabalho marcam a Antropologia, com a sua escola, o difusionismo, e com as suas idias sobre relativismo cultural. Esta relativizao na antropologia quebra as amarras do evolucionismo e mexe com as idias de cultura e histria. Ele iniciou uma discusso e uma reflexo sobre um conceito fundamental para a antropologia: o conceito de cultura. Ele trata da cultura, e faz com que o primeiro passo seja dado, para a sada da unicidade dos caminhos, como se tinha no evolucionismo, em direo ao pluralismo cultural, alm de emergir um processo de relativismo, tratando das culturas e sociedades de acordo com suas condies para o desenvolvimento, dando alternativas diferentes a situaes parecidas. Quando compreendemos o outro segundo seus prprios valores, padres, modelos e normas, somos relativistas, quando vemos que at as verdades, nas diferentes culturas so relativas, tomamos conscincia do que a antropologia trata: das diferentes alternativas que os seres humanos deram a diversas situaes vivenciadas.

Dos estudos da escola de Boas, est ntida a importncia dada a cultura no processo antropolgico. E ainda, a influncia dele em relao a criao de outras escolas, dentro do pensamento difusionista, que tambm privilegiavam a cultura. Sofreram com algumas problemticas, como o reducionismo, mas os seus passos foram significantemente grandes. Mas no s isso, ele, Boas, teve outra grande importncia. Ele, quando destaca a cultura e delimita uma pluralidade das culturas tirando a do eu do centro, e diz que no h uma Histria de toda a humanidade, que ela no linear, ele institui o particularismo histrico, ou seja, cada cultura humana tem a sua, especfica, uma histria que o autor chama de histria com h minsculo. , decerto, que a contribuio de Boas para a soluo antropolgica para o etnocentrismo foi enorme. Ento, o outro para a cincia da diferena, comea a faze-la buscar cada vez mais outras disciplinas e tornar o diferente algo a mais do que um estgio primitivo do eu. Trs grandes nomes fundamentais para a Antropologia Ocorre que na passagem do sculo XIX para o sculo XX, pelo dito do autor, aparecem trs grandes nomes para a cincia antropolgica: Durkheim, Malinowski e Radcliffe-Brown. O autor explica o porque desta definio e desse ttulo dado a estes grandes cientistas sociais. Comea com Radcliffe-Brown, e eu, aqui irei direto ao ponto, mostrando a importncia dele para o aparato terico da disciplina. Quando h a disputa entre o difusionismo e o evolucionismo, no se deve pensar que eles so totalmente divergentes na prtica. Eles, por mais que tenham idias, cortes e focos diferentes, tem um objetivo primordial comum: a Histria - por mais que no tivesse as idias sobre histria, de fato, semelhantes. Mas para Radcliffe-Brown, o presente no necessariamente deveria ser explicado pelo passado. Para ele um estudo funcional das sociedades contrastava enormemente com o estudo funcional das sociedades. Uma abordagem historiogrfica ou uma abordagem funcional? Radcliffe-Brown quebra as amarras da antropologia em relao a histria, e liberta ela com o funcionalismo. Um estudo sistemtico por parte de um trabalho de pesquisa antropolgica com uma abordagem funcional, obriga o pesquisador a ver as instituies, prticas e vises com os prprios valores, padres e formas da sociedade estudada.

Isso marca enormemente a antropologia, rompendo com o historicismo e com o mtodo evolucionista, que marcava o progresso das sociedades devido ao tempo histrico, e sua relao com a sociedade do eu, Ele institui conceitos marcantes para o estudo funcional, com o estudo sincrnico, que so: Processo social, que , de fato, corrente, acontece durante o estudo, e decerto o objeto de estudo da antropologia, a realidade concreta e encontra-se em todo e qualquer relao social; Estrutura Social, formas regulares, instituies significativas formadas das aes e interaes de processos sociais, que ao se tornar repetitivo formam redes complexas de relaes sociais envolvidas sistematicamente; e a Funo social, , basicamente a ao que encadeia logicamente o processo com a estrutura, complementando todo esse esquema. Ele formulou estas definies com influncia nas cincias naturais, e o autor exemplifica efetivamente com um processo biolgico. O corao desempenha a funo de bombear o sangue pelo corpo, mas se ele parar, termina o processo vital e a estrutura orgnica deixa de existir. 4 Outro grande colaborador para a antropologia, mile Durkheim e a sua idia de independncia clara dos fatos sociais em relao aos individuais, nem o todo pela parte. Para entender isso, como o autor, temos de pincelar algo esclarecedor sobre os Fatos Sociais. Os fatos sociais so: Coercitivos: pressiona o indivduo com sua autonomia que o submete a sua lgica, coage o indivduo a uma participao independente da sua vontade; Extensos: estende-se por todo o grupamento onde ele acontece, geral, e ao acontecer implica em todos os indivduos dentro do seu campo de ao; e Externos: externo ao poder e querer do indivduo Possui fora autnoma, manifestao prpria e no depende de ningum para acontecer. Ele trata, basicamente, da autonomia do social em relao aos outros fatos. Diz ter seu prprio caminho, mostra que o social particular e no confunde com o coletivo. E isso fez grande sua importncia para a liberdade e progresso da cincia antropolgica. Quando Durkheim deixou livre e confortvel o caminho e o contato com a diferena do outro, ao abrir a sociedade ao estudo direto e indiscriminado, Malinowski se fez rpido e passou a experimentao direta do relativismo. Ele introduz a via direta para o estudo sistemtico e o contato com as sociedades do outro, o trabalho de campo. Malinowski, como o autor deixou claro, se torna um viajante e vai estudar de perto, ou melhor, de dentro uma sociedade do Pacfico Sul, e l demonstra uma grande ousadia ao navegar pela diferena sem que use padres e valores da sua cultura. Ele se torna pioneiro na pesquisa de campo relativizadora, e por si, imparcial. Assim, ele

reflete sobre o outro, fechando um ciclo e acaba por repensar o prprio eu. Ele realiza comparaes esquematizadoras, e assim, estuda o eu e o outro quase simultaneamente, usando esta comparao relativizadora. Assim, ele torna indispensvel a ida ao outro, a pesquisa e o trabalho de campo antropolgico. Agora o outro mais uma alternativa possvel dentre as demais. Levi-Strauss: Cultura e Histria Assim como j houve o desvinculo entre a prpria cincia e a Histria, A questo central que a idia de Levi-Strauss levanta com relao ao mtodo antropolgico e a produo do seu conhecimento pura e simplesmente o desvinculo entre a Histria e a Cultura. Isso traria a independncia necessria e merecida por parte da Antropologia, e ainda assim, afirmaria as conquistas e avanos firmados pelos grandes pensadores j citados. Na cincia antropolgica, a histria deixa de ser essencial e ordenadora dos estgios civilizacionais e das culturas humanas e passa a ser particular de cada cultura e sociedade. E com Levi-Strauss, ela se independe, no condicionada pela histria, e o seu estudo se torna amplo e sem limites nos fatos histricos. Ento, com isso, a antropologia pode enfim ter aquela j dita independncia do estudo das culturas e sociedades, e agora o estudo do outro, como nunca antes, possvel havendo relativizaes e formas de pensar sem que haja um totalizador, ou um esquema, que o traria para a comparao direta com o grupo do eu, como antes era tido. Para Levi-Strauss no faz sentido a histria feita pelo eu ser prpria para especificar e pensar o outro, isso libertou a antropologia de uma vez das algemas do etnocentrismo, que havera sido construdo durante a formao da cincia antropolgica e era o paradigma central da cincia antropolgica.

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