Aula 13
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AULA
Ética na sala de aula
Meta da aula
Esclarecer o papel ético do professor, cuja interferência
é marcante para a formação moral dos alunos.
objetivos
INTRODUÇÃO
Realizar escolhas é eleger objetos para o desejo. O critério das
escolhas é sempre racional. O motivo é sempre emocional, ou seja,
impulsionados pelo desejo, movemo-nos em direção aos objetos.
Nesse sentido, a capacidade racional de realizar escolhas permite-nos
afirmar nossa condição de liberdade. O exercício da liberdade é
a capacidade de escolher. Nisso os humanos podem se desviar
do determinismo que rege o mundo da natureza. (...) É a escolha
que define o caráter de um ser humano. Suas virtudes se mani-
festam nas escolhas que realiza no curso de sua condição mortal
(GALLO, 2002, p. 55).
O professor deve esti- À medida que almeja promover uma educação crítica e libertária, a escola está
mular, na sala de aula, diretamente envolvida com a formação ética dos alunos. Independente da
a reflexão sobre con-
dutas e valores, assim questão do conteúdo a ser transmitido, a tarefa de refletir sobre as condutas e os
como estimulará uma
conduta ética por valores faz parte do cotidiano de uma instituição pedagógica. Para implementar
parte dos alunos.
o debate ético em sala de aula, somos levados a pensar tanto na existência de
uma disciplina específica quanto no desenvolvimento de estratégias que estejam
presentes no exercício cotidiano do magistério. Uma opção não invalida a outra,
mas faz-se necessário que fiquemos atentos para alguns fatores.
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Em primeiro lugar, o educador, além de ser responsável por facilitar a aquisição
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de conhecimentos, também acaba funcionando, inevitavelmente, como um
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agente transmissor de valores morais, notadamente de modo implícito, seja
na forma de expor seu saber, seja tomando a sua conduta como parâmetro
a ser seguido, ou expressando juízos a respeito da conduta dos alunos (o que
ocorre em termos disciplinares ou, simplesmente, na avaliação do desempenho
de cada um). Assim, a tarefa de apregoar os bons costumes ou o respeito à
autoridade não esgota as implicações éticas da postura do educador.
Em segundo lugar, não basta apresentar as diretrizes que norteiam determinada
teoria ética, querendo, com isso, incutir os fundamentos de uma reflexão
sistemática. Nos dois casos, corre-se o risco de fornecer elementos puramente
teóricos, ou seja, estranhos à experiência concreta dos alunos. É necessário que
o ensino da ética se vincule à realidade vivenciada pelos alunos. Será pouco
proveitoso transmitir, por exemplo, a ética de Sócrates, Platão, Kant etc.,
se esses conhecimentos não se articularem com a vida dos estudantes. É muito
mais interessante promover debates, em torno dessas teorias, que aludam às
vivências dos discentes.
Pensemos no caso dos sofistas, como Protágoras, que ensinavam que Protágoras
Filósofo natural de
“o homem é a medida de todas as coisas”. Com isso, sustentavam que não Abdera, contempo-
havia uma verdade universal, que cada indivíduo, conforme a sua necessidade, râneo de Sócrates,
famoso por sua tese
perspectiva ou situação, podia escolher a versão dos fatos que fosse de sua relativista do homo-
-mensura.
maior conveniência. Assim, por exemplo, se temos necessidade de passar Você já estudou, em
na prova, devemos escolher “colar”, já que é o mais proveitoso para nós. aulas anteriores, as
teses principais deste
Porém, não há outros valores que devem ser respeitados? Não haverá normas, filósofo.
de interesse geral, que devam ser acatadas? Se todos “colassem”, teria algum
sentido dar prova? No caso, poderíamos suprimir as provas?
É importante que os alunos possam se colocar diante desse exemplo concreto,
tão presente no seu cotidiano, promovendo uma reflexão ética que não se
reduz a um raciocínio abstrato.
Sugerimos, então, que discuta com seus colegas do pólo sobre o problema
ético envolvido no fato de “colar” ou não “colar” nas provas. Sintetize os
argumentos a favor e contra.
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Essa consideração, aplicada especificamente ao problema
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Reflexão de hoje:
da produção e da transmissão do conhecimento, também se mos-
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A ética na escola, com um
espaço dialógico de
tra bastante eficaz para o caso do ensino da ética, tendo em construção conjunta
vista que não basta o professor determinar previamente o
que é certo ou errado, para que os alunos sejam, num
segundo momento, capazes de distinguir o que
é moralmente correto do que não é. Limitar-se
a esse tipo de atuação pode ser tido como uma
forma de doutrinação, que facilmente conduziria
à rigidez ou, o que seria pior, à transformação
do discurso docente em um punhado de palavras vazias.
O educador cria condições para o desenvolvimento de ações éticas
ao manifestar um comportamento coerente e dialógico. Da mesma forma Dialógico
Relativo ao diálogo;
que há uma assimilação dos conteúdos por meio do que é dito, também em forma de diálogo.
há uma assimilação decorrente do modo como o educador age diante A educação dialógica
implica troca
de situações cotidianas. permanente entre
professor e alunos.
Em ambos os casos, não há como deixar de lado a tarefa de
repensar continuamente, e na medida do possível, a própria inserção
na prática pedagógica.
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ATIVIDADES
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Cazuza _________________________________________________________________
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Foi um cantor
popular que adotou _________________________________________________________________
uma postura _________________________________________________________________
transgressora e _________________________________________________________________
irreverente com
relação às convenções _________________________________________________________________
sociais. O que você _________________________________________________________________
acha dele? _________________________________________________________________
É um exemplo de
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indivíduo livre ou
trata-se apenas de um 2. Analise a relação que é estabelecida, na sua escola, entre os profes-
“rebelde sem causa”?
sores e os alunos. Há discussões sobre cidadania, direitos e deveres?
Promova a seguinte discussão, de grande atualidade, com os profes-
sores e os integrantes da sua turma: deve haver cotas reservadas, na
universidade, para negros e outros grupos geralmente discriminados?
As cotas reparam a discriminação ou, ao contrário, trata-se de uma
outra forma de discriminação? Sintetize, por escrito, os argumentos a
favor e contra as cotas na universidade, sem ultrapassar as 15 linhas.
Entre em contato com seus colegas do polo e compare suas respostas:
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A EDUCAÇÃO ÉTICA
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Para Sartre, a liberdade é o próprio fundamento do ser do homem.
Ela está na raiz de seu comportamento, porque sempre temos de
escolher. Nesse sentido, o homem é essencialmente livre, não pode
abdicar da liberdade, como disse Sartre, “o homem está condenado
a ser livre” (GALLO, 2002, p. 77).
Jean Paul
Como você viu, tornar-se um indivíduo ético não é algo que pode Sartre
(1905-1980)
ser simplesmente ensinado. O aprendizado da ética está diretamente
relacionado com a possibilidade de intensificar o grau de participação Filósofo francês que
colocou a liberdade
ativa dos alunos. Daí se poder afirmar que, para que isso ocorra, faz-se como uma questão
fundamental da
necessário transformar o ambiente de sala de aula num espaço que filosofia.
favoreça a manifestação do diálogo, criando a possibilidade de elaborar
conjuntamente o saber. Recorrendo mais uma vez a Paulo Freire:
“a situação do ensino constrói não apenas o aluno, mas também o
professor, pois (...) ele também é um sujeito em construção no processo”
(SILVA; TUNES, 1999, p. 45).
O principal objetivo de uma pedagogia orientada eticamente
consiste em proporcionar o desenvolvimento tanto da autonomia
intelectual quanto do pensamento crítico:
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ATIVIDADES FINAIS
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Esta atividade é muito importante para que você atinja os objetivos desta aula.
Realize-a com afinco e dedicação.
• Projetos interdisciplinares.
• Cotidiano escolar.
• Relação escola/comunidade.
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Você conseguiu avaliar até que ponto é eticamente desejável que todas as questões
abordadas em sala de aula tornem-se passíveis de discussão e questionamento?
Haveria, na sua opinião, limites para discutir e questionar? Por exemplo: a escola
visitada aceita que os alunos proponham conteúdos tais como: violência na cidade,
ecologia, política internacional etc.? E atividades como música, dança, teatro,
eventos religiosos etc.? ou isso depende exclusivamente do currículo estabelecido?
Os envolvidos no processo educativo dialogam com os alunos, aceitam discutir
as decisões adotadas ou apelam simplesmente para o respeito à autoridade para
justificar seus atos e as orientações dadas aos alunos?
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COMENTÁRIO
Se você abordou a maioria destas questões em seu texto, você conseguiu alcançar
os objetivos desta aula. Parabéns!
2. Leia esta matéria da Folha de S. Paulo e reflita sobre a postura ética de uma
professora que, em sala de aula, colocou fita crepe na boca dos seus alunos para
que se mantivessem calados; analise também a postura ética do diretor, que
encontra atenuantes para essa conduta, afirmando que a docente agiu “por
brincadeira”.
Em Várzea Paulista, crianças dizem que tiveram boca fechada. Professora é acusada de calar aluno
com fita crepe.
A mãe de uma criança de sete anos registrou boletim de ocorrência no qual acusa uma professora
de usar fita crepe para calar o aluno em sala de aula, na escola estadual Natanael Silva, em Várzea
Paulista (SP).
Outras duas mães de alunos da mesma classe – 1ª série de ensino fundamental – afirmam que seus
filhos também tiveram a boca fechada com fita crepe no mesmo dia (...) A professora, identificada
apenas como Maria Ivone, admitiu, por meio da diretoria da escola ter usado a fita crepe, mas diz
que agiu por brincadeira. Ela afirmou que os três alunos permaneceram três minutos com a fita.
O diretor da escola, Eduardo Mafassoli, disse ontem que a professora admitiu a ele ter feito a punição
por brincadeira. ‘Não posso tolerar esse tipo de atitude. Mas ela alega que fez por brincadeira, e
não podemos crucificá-la’. A professora disse que, mesmo depois de ter ‘calado’ os alunos, eles
continuaram zombando dela. Alegando à reportagem que errou, Maria Ivone afirmou que o caso
ocorreu em ‘um momento que a classe extrapolou’” (Folha cotidiano. São Paulo, Terça-feira, 7 de
dezembro de 2004).
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RESUMO
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AUTO-AVALIAÇÃO
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Você percebeu que no ensino da ética é importante que o professor esteja
disponível para interagir de forma aberta e sincera com os alunos? O quanto lhe
pareceu correto que tomar essa diretriz como objetivo a ser alcançado, sempre
que possível, evita não apenas que as decisões sejam tomadas de forma isolada,
o que gera inevitavelmente arbitrariedades, como também permite que haja
humanização das relações entre alunos e professores? Ficou claro que introduzir
a reflexão ética no processo pedagógico implica desenvolver a capacidade criativa
e incentivar os alunos a agirem de forma livre e autônoma? Se essas questões
ficaram claras para você, vá em frente!
Leituras recomendadas
LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e
profissão docente. São Paulo: Cortez, 2002.
LINHARES, Célia. A escola e seus profissionais. Rio de Janeiro: Agir, 1997.
SAVATER, Fernando. Ética para meu filho. São Paulo: Martins Fontes, 1996. Leia este instigante
texto, em que o autor espanhol se dirige a seu filho, de uma forma simples e direta, para transmitir
parâmetros éticos vinculados às experiências cotidianas.
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MOMENTO PIPOCA
Ao mestre com carinho, famoso filme com o ator negro Sidney Poitier no
papel de um professor que, mesmo discriminado pela sua cor, consegue,
por causa de seus conhecimentos, conduta, postura ética inquestionável
e com grande afeto pelos alunos, influenciar profundamente uma turma
que inicialmente o rejeitava.
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