A Chancelaria de D Manuel I Contribuicao

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 300

F AC U L D A D E D E LE T R A S

UNIVERSIDADE DO PORTO

Diogo Faria

2º Ciclo de Estudos em
História Medieval e do Renascimento

A CHANCELARIA DE D. MANUEL I
Contribuição para o estudo da burocracia régia e dos seus oficiais

2013

Orientador: Prof. Doutor Armando Luís de Carvalho Homem


Coorientador: Prof. Doutor Luís Miguel Duarte

Versão definitiva
RESUMO

Este estudo debruça-se sobre oito livros da Chancelaria de D. Manuel I relativos


a quatro anos intercalados do reinado deste monarca. Os objetivos fundamentais do
trabalho são: caracterizar, em função dos conteúdos, as espécies documentais que
integram estes volumes; definir as principais áreas de incidência governativa dos atos
registados; avaliar o papel do monarca na produção burocrática; identificar os ofícios
envolvidos na redação dos diplomas; analisar sociologicamente o grupo dos oficiais.
As abordagens à tipologia dos documentos e à configuração dos ofícios
privilegiam o confronto das disposições normativas com a realidade expressa pelos
registos da Chancelaria. O estudo da sociedade política tem no método prosopográfico
o seu recurso fundamental.

Palavras-chave: Chancelaria; D. Manuel I; burocracia régia; sociedade política;


prosopografia.

ABSTRACT

This study focuses on eight books of Chancelaria de D. Manuel I concerning


four intercalated year of this monarch‟s reign. The fundamental aims of this work are: to
characterize, according to its content, the documental species that constitute these
volumes; to define the major governmental areas of recorded acts; to evaluate the
monarch‟s role on the bureaucratic production; to identify the offices involved in the
writing of the diplomas; to sociologically analyse the officers‟ group.
The approaches to the documents‟ typology and configuration of offices
emphasize the clash of the normative provisions with the reality expressed by the
records of the Chancelaria. The study of the political society has in the
prosopographical method its key resource.

Keywords: Chancery; D. Manuel I; royal bureaucracy; political society; prosopography.

1
2
AGRADECIMENTOS

Uma primeira palavra de agradecimento é devida aos orientadores desta


dissertação, o Prof. Doutor Armando Luís de Carvalho Homem e o Prof. Doutor Luís
Miguel Duarte. A sua orientação é simultaneamente um fator de estímulo e de
responsabilidade. A ambos devo um acompanhamento atento e interessado do
desenvolvimento do trabalho e o esclarecimento de todas as dúvidas e problemas que
surgiram durante a sua elaboração. Infelizmente, não tenho como retribuir devidamente
tudo o que lhes fiquei a dever.
Todos os professores do Mestrado em História Medieval e do Renascimento
foram importantes para a minha formação. Agradeço, por isso, ao Prof. Doutor José
Augusto de Sotto Mayor Pizarro, à Prof.ª Doutora Paula Pinto Costa (uma diretora de
curso sempre presente e interessada), à Prof.ª Doutora Cristina Cunha e ao Prof. Doutor
Luís Carlos Amaral.
Ao longo dos últimos dois anos também beneficiei da colaboração de
professores e investigadores de outras universidades. Ao Prof. Doutor João Paulo
Oliveira e Costa, à Prof.ª Doutora Judite Gonçalves de Freitas, ao Doutor Mário Farelo
e ao Dr. Pedro Pinto agradeço todas as sugestões e comentários pertinentes e as sempre
úteis indicações de fontes e de bibliografia.
Ao Dr. Miguel Nogueira, agradeço o competente trabalho cartográfico que
desenvolveu.
A integração, desde o primeiro ano da Licenciatura em História, no Grupo
Informal de História Medieval tem contribuído imenso para a minha formação.
Agradeço, por isso, a todos os seus membros, mas particularmente ao Flávio Miranda e
à Joana Sequeira, dois amigos que têm acompanhado de perto o meu percurso nos
últimos tempos.
Agradeço ainda aos meus colegas de mestrado. Destaco o José Babo, que muitas
vezes me fez companhia na biblioteca, enquanto eu trabalhava nos microfilmes e ele
compulsava cartas de quitação.
A D. Laura e a Marlene também merecem que reconheça e agradeça a simpatia
com que sempre me receberam na biblioteca da FLUP.

3
A realização deste curso coincidiu com os dois anos em que tenho sido
Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto. A colaboração de vários membros das duas direções foi importante para que
conseguisse conciliar os papéis de estudante e dirigente associativo. Naturalmente,
distinguem-se a Sunamita e o Zé Miguel. Para além deles, a Clara, a Susana e a D.
Lurdes foram presenças importantes ao meu lado.
Alguns amigos fizeram comigo este percurso: a Carla e o Hélder, sempre
presentes e fundamentais; o André, a Cláudia, o Francisco, o Pedro Santos; as minhas
antigas professoras Alice Castro e Dália Dias. A todos devo um profundo
agradecimento.
Finalmente, os mais importantes: os meus pais, o meu irmão, os meus avós e a
Patrícia. Apoiaram-me sempre durante este percurso, e sei que vão continuar. Muito
obrigado.

Porto, 2 de agosto de 2013

Esta dissertação foi defendida em provas públicas no dia 13 de setembro de


2013, perante um júri que teve como arguente principal a Prof.ª Doutora Maria Helena
da Cruz Coelho. A preparação da versão definitiva deste trabalho beneficiou muito dos
seus apontamentos e sugestões, e por isso lhe agradeço profundamente.

Porto, 20 de setembro de 2013

4
SIGLAS E ABREVIATURAS

ACUP = SÁ, Artur Moreira de (ed.) – Auctarium Chartularii Universitatis


Portugalensis. 3 volumes. Lisboa: INIC, 1973-1979.

ANTT = Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Brasões = FREIRE, Anselmo Braancamp – Brasões da Sala de Sintra. 3 volumes.


Lisboa: INCM, 1973

CC = ANTT, Corpo Cronológico

CDM = ANTT, Chancelaria de D. Manuel I

cf. = confronte

coord. = coordenação

CrDG = GÓIS, Damião de – Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel. 4 volumes.


Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 1926.

CrGR = RESENDE, Garcia de – Crónica de D. João II e Miscelânea. Lisboa: INCM,


1991.

CUP = SÁ, Artur Moreira de; CAEIRO, Francisco da Gama; COSTA, António
Domingues de Sousa (eds.) – Chartularium Universitatis Portugalensis. Vols. VI-XV.
Lisboa: IAC, INIC, FCT, 1966-2004.

dir. = direção

ed. = edição

fl. = fólio

HGCRP = SOUSA, António Caetano de – História Genealógica da Casa Real


Portuguesa. 14 volumes. Coimbra: Atlântida, 1946-1955.

l. = livro

5
LL = Livro de Linhagens do século XVI. Introdução de António Machado de
Faria.Lisboa: Academia Portuguesa de História, 1956.

mç. = maço

n.º = número

OA = Ordenações Afonsinas. 5 volumes. Nota de apresentação de Mário Júlio de


Almeida Costa, nota textológica de Eduardo Borges Nunes. Lisboa: FCG, 1985.

OM1512-1513 = Ordenações Manuelinas. 5 volumes. Introdução de João José Alves


Dias. Lisboa: Centro de Estudos Históricos da UNL, 2002.

OM1521 = Ordenações Manuelinas. 5 volumes. Nota de apresentação de Mário Júlio


de Almeida Costa. Lisboa: FCG, 1984.

p. = página

Provas = SOUSA, António Caetano de – Provas de História Genealógica da Casa Real


Portuguesa. 2ª edição. 12 volumes. Coimbra: Atlântida, 1946-1954.

pt. = parte

r. = reais

Systema = SOUSA, José Roberto Monteiro de Campos Coelho e – Systema, ou


Colleção dos Regimentos Reaes. Lisboa: Oficina de Francisco Borges de Sousa, 1783.

tít. = título

v. = verso

vol. = volume

6
INTRODUÇÃO

O objeto de estudo desta dissertação é a Chancelaria de D. Manuel I. Não se


iluda, porém, o eventual leitor com a ambição do título. Como já se dará conta, a
contribuição deste trabalho para o conhecimento do Desembargo do Venturoso é
limitada e parcial, cingindo-se apenas a quatro anos intercalados e a alguns aspetos das
suas burocracia e oficialidade. Comece-se, no entanto, por verificar como se enquadra
esta dissertação na historiografia.

1. Antecedentes historiográficos

Armando Luís de Carvalho Homem considera a década de 1950 o grau zero da


historiografia portuguesa1. Foi a partir da reforma curricular das Faculdades de Letras
de 1957 que as investigações levadas a cabo pelos estudantes dos últimos anos das
licenciaturas em História, associadas ao desenvolvimento da história do direito,
acabariam por estar na génese da renovação da história política medieval portuguesa.
Contudo, seria necessário esperar pelos anos 80 para que surgissem importantes
abordagens inovadoras à história dos poderes da Idade Média2. Destacam-se, dessa
altura, os trabalhos de Carvalho Homem sobre O Desembargo Régio3, de Armindo de
Sousa sobre As Cortes Medievais Portuguesas4 e de Maria Helena da Cruz Coelho
sobre O Poder Concelhio5. O que mais interessa neste âmbito é o primeiro.
A dissertação que Carvalho Homem apresentou a provas de doutoramento situa-
se, segundo o próprio, “precisamente na confluência da diplomática régia com a história

1
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Central Power: Institutional and Political History in the
Thirteenth-Fifteenth Centuries”. In MATTOSO, José (dir.) – The Historiography of Medieval Portugal
(c. 1950-2010). Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, 2011. pp. 179-207, maxime p. 179. É este
balanço historiográfico que aqui mais se segue de perto.
2
Em relação a tempos anteriores, foi a monumental obra de Gama Barros que mais marcou o estudo da
história dos poderes na Idade Média. Cf. BARROS, Henrique da Gama – Historia da Administração
Publica em Portugal nos seculos XII a XV. 2ª edição, dirigida por Torquato de Sousa Soares. 11 volumes.
Lisboa: Sá da Costa Editora, 1945-1954.
3
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O Desembargo Régio (1320-1433). Porto: INIC, 1990.
4
SOUSA, Armindo de – As Cortes Medievais Portuguesas (1385-1490). 2 vols.Porto: INIC, 1990.
5
COELHO, Maria Helena da Cruz; MAGALHÃES, Joaquim Romero – O Poder Concelhio: das origens
às Cortes Constituintes. Coimbra: C.E.F.A., 1986.

7
das instituições superiores do Estado”6. Graças à análise e à classificação tipológica, em
função do conteúdo, de 7 693 diplomas régios, foi possível estabelecer os principais
departamentos da administração central e analisar o ritmo de funcionamento do seu
órgão burocrático mais relevante – a Chancelaria. Para além disso, através do recurso
ao método prosopográfico, foram biografados 240 redatores de cartas, procedendo-se ao
estudo sociológico deste grupo e à caracterização das suas carreiras.
O Desembargo Régio teria a devida sequência nas duas décadas posteriores.
Seguindo os mesmos pressupostos teóricos e metodológicos7, mas incorporando as
principais novidades internacionais dos domínios da diplomática, das sociedades
políticas e da prosopografia, foram desenvolvidos estudos sobre as Chancelarias de D.
Duarte, D. Afonso V e D. João II8.
Ultrapassando as fronteiras do estudo da burocracia régia, na linha do que tem
sido feito por setores importantes das historiografias europeia e americana, vários
medievistas portugueses têm-se debruçado sobre a problemática das origens medievais
do Estado Moderno. Na obra A Génese do Estado Moderno no Portugal Tardo-

6
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Da Diplomática régia à História do Estado dos fins da Idade
Média: um rumo de investigação”. Revista de História Económica e Social. N.º 8 (jul.-dez. 1982). pp. 11-
25, maxime p. 15.
7
Os aspetos essenciais da metodologia ensaiada nestes trabalhos foram expostos no artigo citado na nota
anterior e em: HOMEM, Armando Luís de Carvalho; FREITAS, Judite A. Gonçalves de – “A
prosopografia dos burocratas régios (séculos XIII-XV): da elaboração à exposição dos dados”. In
BARATA, Filipe Themudo (ed.) – Elites e Redes Clientelares na Idade Média. Lisboa: Colibri, 2001. pp.
171-210.
8
ALMEIDA, Ana Paula Pereira Godinho de – A Chancelaria Régia e os seus Oficiais em 1462.
Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 1996; BORLIDO, Armando Paulo – A Chancelaria
Régia e os seus Oficiais em 1463. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 1996; BRITO,
Isabel Carla Moreira de – A Burocracia régia tardo-afonsina: a administração central e os seus oficiais
em 1476. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 2001; CAPAS, Hugo Alexandre Ribeiro –
A Chancelaria Régia e os seus oficiais no ano de 1469. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP.
Porto: 2001; CARVALHO, António Eduardo Teixeira de – A Chancelaria Régia e os seus Oficiais em
1468. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 2001; DURÃO, Maria Manuela da Silva –
1471 – um ano “africano” no desembargo de D. Afonso V. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP.
Porto: 2001; FERREIRA, Eliana Gonçalves Diogo – 1473: um ano no desembargo do Africano.
Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 2001; FREITAS, Judite A. Gonçalves de – A
Burocracia do Eloquente (1433-1438). Os textos, as normas, as gentes. Cascais: Patrimonia, 1996;
FREITAS, Judite A. Gonçalves de – “Teemos por bem e mandamos”. A burocracia régia e os seus
oficiais em meados de Quatrocentos (1439-1460). Tese de doutoramento apresentada à FLUP. Porto:
1999; HENRIQUES, Isabel Bárbara de Castro – Os Caminhos do Desembargo: 1472, um ano na
burocracia do “Africano”. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 2001; MONTEIRO,
Helena Maria Matos – A Chancelaria Régia e os seus Oficiais: 1464-1465. Dissertação de mestrado
apresentada à FLUP. Porto: 1997; MOTA, Eugénia Pereira da – Do “Africano” ao “Príncipe Perfeito”
(1480-1483). Caminhos da burocracia régia. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 1989.
Também no estrangeiro foram desenvolvidos estudos baseados nos mesmos princípios teóricos e
metodológicos. Cf., por exemplo: MATTÉONI, Olivier – Servir le Prince. Les officiers des ducs de
Bourbon à la fin du Moyen Âge (1356-1523). Paris: Publications de la Sorbonne, 1998; CAÑAS
GÁLVEZ, Francisco de Paula – La Burocracia Regia durante el Reinado de Juan II de Castilla: estudio
prosopográfico e itinerario. Tese de doutoramento apresentada à Universidade Complutense de Madrid.
Madrid: 2005.

8
Medievo9 encontram-se contribuições relevantes sobre este tema, da autoria de
historiadores com interesses, à partida, muito diversificados. Recentemente, Judite
Gonçalves de Freitas publicou uma síntese problematizante sugestivamente intitulada O
Estado em Portugal (séculos XII-XVI). Modernidades Medievais10.
De que forma se enquadram a administração e a burocracia do Venturoso nesta
renovação da história política?
Não existe nenhum estudo de conjunto sobre a Chancelaria de D. Manuel I11.
Apesar disso, alguns trabalhos permitem-nos conhecer certos aspetos da documentação
exarada por este monarca, assim como alguns oficiais da sua administração.
Em 1969, Fernando Portugal publicou um artigo intitulado “A Chancelaria de D.
Manuel”, onde analisa, fundamentalmente, a história arquivística desta Chancelaria12.
Bernardo de Sá Nogueira estudou, em 1990, os 73 documentos enviados por D.
João II e D. Manuel I ao concelho de Montemor-o-Novo, conservados no seu Arquivo
Histórico Municipal. Nesse trabalho encontram-se informações sobre as entidades
emissoras dos diplomas (a Chancelaria e a Câmara do Rei), sobre a tipologia dos
documentos e sobre a sua estrutura interna13.
Em 2006, Maria Teresa Pereira Coelho defendeu uma dissertação de mestrado
onde reflete sobre a existência de um modelo de escrita típico do reinado de D. Manuel.
Esse estudo analisa, sob o ponto de vista da Paleografia, cerca de 2 800 documentos,
concluindo que é observável, a partir do ano 1500, um novo cânone gráfico, estabilizado
na década de 1510, cujas semelhanças com a escrita cortesã castelhana são evidentes14.
Dois oficiais da administração de D. Manuel I foram objeto de estudos
monográficos. Em 1991, Paulo Drumond Braga publicou um artigo sobre Rui Boto que,
entre outras funções, exerceu o ofício de Chanceler-mor durante grande parte do reinado

9
COELHO, Maria Helena da Cruz; HOMEM, Armando Luís de Carvalho (coord.) – A Génese do Estado
Moderno no Portugal Tardo-Medievo. Lisboa: Universidade Autónoma Editora, 1999.
10
FREITAS, Judite A. Gonçalves de – O Estado em Portugal (séculos XII-XVI). Modernidades
Medievais. Lisboa: Alêtheia Editores, 2011.
11
Num trabalho publicado em 2001, Armando Luís de Carvalho Homem deu conta do interesse que
poderiam ter estudos sobre esta Chancelaria. Cf.: HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Este reino a
que o Gama voltou… Em torno da «modernidade» do Portugal manuelino”. In MAGALHÃES, Joaquim
Romero; FLORES, Jorge Manuel (coor.) – Vasco da Gama. Homens, viagens e culturas. Lisboa:
CNCDP, 2001. pp. 495-512, maxime pp. 507-508.
12
PORTUGAL, Fernando – “A Chancelaria de D. Manuel”. Ethnos. Vol. VI (1969), pp. 261-270.
13
NOGUEIRA, Bernardo de Sá – “Cartas-missivas, Alvarás e Mandados enviados pelos reis D. João II e
D. Manuel ao Concelho de Montemor-o-Novo (Estudo diplomatístico)”. Almansor. 1ª série, n.º 8 (1990),
pp. 43-130.
14
COELHO, Maria Teresa Pereira – Existiu uma escrita manuelina? Estudo paleográfico da produção
gráfica de escrivães da Corte régia portuguesa (1490-1530). Dissertação de mestrado apresentada à
FLUL. Lisboa: 2006.

9
do Venturoso. Este trabalho debruça-se sobre a carreira de Rui Boto no Desembargo e
no Estudo Geral de Lisboa, onde foi lente e reitor15. Em 2006, Sara de Menezes
Loureiro elaborou uma dissertação de mestrado sobre Afonso Mexia, escrivão da
câmara de D. Manuel e de D. João III, traçando o seu percurso burocrático e analisando
os diplomas por si redigidos e subscritos16. Mais recentemente, num trabalho académico
sobre diplomática judicial e num estudo de conjunto sobre o Estudo Geral em Lisboa na
Idade Média, foram produzidas notas biográficas e prosopográficas de vários indivíduos
que integraram o Desembargo do Venturoso17.
Em síntese: a burocracia manuelina está pouco estudada e o conhecimento da
sociedade política deste tempo é lacunar. Apesar disso, já se escreveu bastante sobre a
administração de D. Manuel I, sendo as ideias fundamentais normalmente repetidas: a
publicação dos forais novos, a promulgação de múltiplos regimentos e das Ordenações
Manuelinas e a elaboração da Leitura Nova são transformações de tal modo profundas
que, associadas a outras que ocorreriam no tempo de D. João III, chegam a ser
classificadas como o “ciclo de reformas institucionais (…) mais importante até à
«revolução liberal» no século XIX”18.No fundo, verifica-se que se tem exaltado muito
frequentemente a modernidade da administração manuelina tendo como base,
essencialmente, a profusão de documentos normativos emitidos pelo monarca. O
confronto das conceções legais com a realidade expressa por outras fontes, assim como
a reflexão sobre o real alcance destas reformas19, continua, em grande medida, por
fazer20.

15
BRAGA, Paulo Drumond – “O Doutor Rui Boto, homem da burocracia régia e mestre do Estudo Geral
de Lisboa”. In Universidade(s): História, Memória, Perspetivas. Atas do I Congresso «História da
Universidade» (No 7º Centenário da sua Fundação). Vol. III. Coimbra: [s.n.],1991. pp. 99-106.
16
LOUREIRO, Sara de Menezes – Afonso Mexia, escrivão da câmara e da fazenda de D. Manuel I e de
D. João III. Reconstituição e análise da sua atividade como redator e escrivão de diplomas régios.
Dissertação de mestrado apresentada à FLUL. Lisboa: 2006.
17
TESTOS, Jorge André Nunes Barbosa da Veiga – Sentenças Régias em tempo de Ordenações
Afonsinas (1446-1512). Um estudo de Diplomática Judicial. Dissertação de mestrado apresentada à
FLUL. Lisboa: 2011; LEITÃO, André de Oliveira – “Prosopografia dos lentes, estudantes e oficiais do
Estudo de Lisboa”. In FERNANDES, Hermenegildo (coord.) – A Universidade Medieval em Lisboa,
séculos XIII-XVI. Lisboa: Tinta da China, 2013. pp. 409-563. Há dez anos, Susannah Charlton Humble
defendeu uma dissertação de doutoramento na John Hopkins University (Estados Unidos da América)
onde as cortes de D. Manuel I e Henrique VII de Inglaterra são comparadas. Provavelmente, esse estudo
apresenta contributos importantes para o conhecimento da sociedade política manuelina. Infelizmente,
não foi possível aceder-lhe.
18
MONTEIRO, Nuno Gonçalo – “Idade Moderna (séculos XV-XVIII)”. In RAMOS, Rui (coord.) –
História de Portugal. Lisboa: Esfera dos Livros, 2009. pp. 197-435, maxime pp. 227-249.
19
Joaquim Romero Magalhães e Luís Miguel Duarte constituem uma exceção neste quadro. Ao refletirem
sobre a reforma manuelina dos forais, estes autores relativizaram bastante o seu real contributo para a
“uniformização institucional” do reino. Cf. MAGALHÃES, Joaquim Romero – “D. Manuel, rei de muitas
fortunas”. In III Congresso Histórico de Guimarães. D. Manuel e a sua Época. Vol. III. Guimarães:

10
2. Objetivos

O maior propósito desta dissertação passa precisamente pelo que se acabou de


dizer: analisar os diplomas arquivados na Chancelaria de D. Manuel I e, a partir deles,
procurar conhecer melhor a sua administração e a sociedade política. Este conhecimento
será sempre, obviamente, muito parcial. Os objetivos específicos são:

a) Conhecer as linhas gerais da estrutura externa da Chancelaria de D. Manuel I;


b) Identificar, em função dos conteúdos, as espécies documentais que integram esta
Chancelaria;
c) Verificar que áreas de incidência governativa mais se destacam entre a
burocracia manuelina;
d) Avaliar a intervenção direta de D. Manuel na produção burocrática;
e) Identificar os ofícios da administração que se encontravam associados à redação
de diplomas21;
f) Caracterizar sociologicamente o grupo dos oficiais redatores, estudando a sua
inserção social, os seus níveis económico e cultural e as suas carreiras.

Espera-se que a concretização destas metas constitua um contributo, ainda que


modesto, para a reflexão sobre o caráter reformista da administração de D. Manuel I.

3. Opções metodológicas

A dimensão do objeto de estudo22 – a Chancelaria de D. Manuel I é constituída


por 46 livros – obrigou a que o corpus documental da dissertação fosse fortemente
restringido. À partida, a informação disponível no site da Torre do Tombo tornava

Câmara Municipal de Guimarães, 2004. pp. 425-432, maxime p. 428; DUARTE, Luís Miguel – “Os
«forais novos»: uma reforma falhada?”. Revista Portuguesa de História. N.º 36 (2004). pp. 391-404.
20
Não se quer colocar aqui em causa em o cariz reformista do reinado de D. Manuel I e a dimensão da
intervenção deste monarca no governo do reino. Apenas se pretende alertar para o facto de determinadas
ideias feitas sobre este período (que têm, sem dúvida nenhuma, sustentação documental: as normas
emitidas pelo monarca) ainda não terem sido devidamente testadas através do confronto com a realidade
expressa por outras fontes.
21
Tendo em conta o tempo disponível para a elaboração desta dissertação e o acréscimo em termos de
pesquisa que isso significaria, optou-se por não incluir neste estudo a oficialidade escrevente.
22
Que é, simultaneamente, a sua principal fonte.

11
viável que a análise se estendesse por mais do que um ano 23. Porventura, a solução mais
natural seria optar por estudar exaustivamente um curto período de tempo: os três ou
quatro primeiros anos do reinado, por exemplo. Não foi esse o caminho escolhido.
Optou-se antes por analisar a documentação de quatro anos não consecutivos do
governo de D. Manuel I: 1496, o primeiro ano completo do seu reinado; 1521, o último;
e 1504 e 1512, dois anos intermédios24. Esta decisão foi tomada com perfeita
consciência de que esta amostra, metodologicamente, não pode ser considerada
representativa da totalidade do reinado. Ainda assim, pareceu que seria interessante
conhecer bem a produção burocrática da administração central em quatro períodos
distintos, o que permite efetuar comparações, constatar transformações e esboçar linhas
de força.
Em síntese, os números são estes: quatro anos do reinado de D. Manuel, oito
livros da sua Chancelaria, 3157 diplomas25. Em relação a 1504, 1512 e 1521 a análise é
praticamente exaustiva, na medida em que são analisados todos os livros cuja
esmagadora maioria dos atos é relativa a esses anos. Quanto a 1496, são estudados dois
dos seis livros que contêm registos desse ano, o que corresponde a cerca de 30% dos
atos, sendo esta amostra estatisticamente válida à luz dos modelos matemáticos que têm
sido aplicados a documentação deste tipo26.

23
No site da Torre do Tombo existe um catálogo da documentação que integra a Chancelaria de D.
Manuel I que, não dispensando o recurso aos registos originais, é um instrumento de trabalho que torna a
classificação da tipologia dos diplomas (em função do conteúdo) uma tarefa menos morosa. Cf.:
PORTUGAL. Arquivo Nacional/Torre do Tombo – Chancelaria de D. Manuel I [em linha]. Lisboa:
AN/TT, 2008-…. [última consulta em 1 de agosto de 2013]. Disponível a partir de
http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=3859357.
24
A escolha dos anos intermédios poderia ter sido diferente. Uma vez que entre as duas datas extremas há
uma discrepância de 25 anos, para haver equilíbrio as datas intermédias deviam distar entre 8 a 9 entre si.
Como tal, a seleção teria de ser feita entre 1504 ou 1505 e 1512 ou 1513. Os registos da Chancelaria de
D. Manuel I são muito escassos para o ano de 1505 (existe apenas um livro de poucos fólios), ao contrário
do que acontece em relação a 1504 (existem três livros deste ano). A escolha de 1504 afigura-se, então,
evidente. Quanto a 1512 e 1513, existe um livro para cada um dos anos. A seleção acabou por ser
aleatória.
25
Em relação a cada livro, apenas foi estudada a documentação registada no respetivo ano dominante. A
inclusão na base de dados de documentos emitidos noutros anos para além de 1496, 1504, 1512 e 1521,
poderia levar a que as informações relativas a cada um desses anos se tornassem enviesadas.
26
Todos os seis livros relativos a 1496 cobrem, sensivelmente, a mesma cronologia, que pouco ultrapassa
a primeira metade do ano. A escolha dos dois livros a estudar teve em conta a quantidade de documentos
que cada um contém, por forma por forma a cumprir os critérios de validade estatística. Sobre isto, cf.
DUARTE, Luís Miguel – Justiça e Criminalidade no Portugal Medievo (1459-1481). Lisboa: FCG/FCT,
1999. p. 60.

12
4. Estrutura da dissertação

O primeiro capítulo desta dissertação é dedicado aos livros e aos documentos.


Primeiro, analisa-se sumariamente a evolução arquivística e a estrutura externa da
Chancelaria de D. Manuel I. De seguida, apresenta-se com algum detalhe os conteúdos
dos diplomas estudados. Termina-se com um balanço comparativo do peso de cada área
de incidência governativa na burocracia.
A figura do rei é o objeto de estudo do segundo capítulo. À caracterização geral
do poder régio no final da Idade Média e à síntese das marcas particulares da realeza
manuelina segue-se a análise da intervenção direta de D. Manuel I no quotidiano do
despacho.
No terceiro capítulo trata-se dos ofícios dos redatores de diplomas da
Chancelaria de D. Manuel I. Partindo-se, sempre que possível, das disposições
normativas, procura-se descrever as atribuições de cada um dos cargos e esclarecer
como se processava a sua intervenção na produção burocrática.
Finalmente, o quarto capítulo é dedicado ao estudo de um núcleo importante da
sociedade política manuelina: os homens que ocupavam os cargos analisados no
capítulo anterior. Pretende-se conhecer a sua inserção geográfica, a sua inserção social,
o seu nível económico, o seu nível cultural e a forma como se desenvolviam as suas
carreiras. Este capítulo baseia-se nas informações reunidas no catálogo prosopográfico,
que é apresentado como apêndice.

13
14
I. OS LIVROS E OS DOCUMENTOS

Este capítulo tem como objetivo apresentar os livros da Chancelaria de D.


Manuel I que foram estudados e os documentos que os integram. No que toca aos livros,
começar-se-á por analisar brevemente a evolução arquivística desta Chancelaria,
apresentando-se de seguida alguns aspetos gerais sobre os seus volumes. Quanto aos
documentos, privilegia-se claramente a análise dos seus conteúdos, por se acreditar que
essa é a melhor forma de compreender o âmbito e alcance político dos atos emanados
pelo poder central27: partindo do conhecimento das matérias dos diplomas e das
consequências dos atos administrativos que materializam, procurar-se-á apontar as
linhas de força da atividade burocrática; no fundo, tentar-se-á perceber que domínios da
governação passam pela Chancelaria e qual o seu peso. Os aspetos formais da
documentação serão apenas objeto de uma breve reflexão que, de alguma forma,
enquadrará olhar sobre os conteúdos que se lhe seguirá.

1. Os livros

“No contacto diário, continuado, com as «chancelarias», gera-se uma progressiva


familiaridade entre o investigador e a fonte. Todos o sentimos já uma vez ou outra, e temos
consciência de que essa „intimidade‟, se por vezes geradora de intuições e de perguntas,
pode, por outro lado, criar uma habituação que nos leva quase inconscientemente a aceitar
que tal livro, tal gaveta ou tal maço sempre tiveram aquela configuração externa, aquela
sequência interna, aqueles números de série.”28

Este ponto é dedicado à análise sumária da estrutura externa da Chancelaria de


D. Manuel I. Organizada em livros, alguns destes em cadernos, e todos contendo
centenas de atos emitidos em nome do Venturoso, importa tentar compreender até que
ponto o que chegou aos nossos dias é representativo do que em tempos foi produzido.

27
Não se coloca em causa a utilidade de metodologias enquadráveis no campo da Diplomática pura.
Procedimentos como análises detalhadas dos formulários dos documentos ou inquéritos exaustivos à
génese dos atos podem fornecer elementos importantes para o estudo do funcionamento das instâncias
burocráticas da Corte.
28
HOMEM, Armando Luís de Carvalho; DUARTE, Luís Miguel; MOTA, Eugénia Pereira da –
“Percursos na burocracia régia (séculos XIII-XV)”. In BETHENCOURT, Francisco; CURTO, Diogo
Ramada (eds.) – [Atas do colóquio] A Memória da Nação. Lisboa: Sá da Costa, 1991. pp. 403-423,
maxime p. 406.

15
Para além disso, uma vez que esta Chancelaria, cronologicamente, se situa no termo de
um século XV em que se assiste a um boom do número de registos da administração
central, impõe-se procurar perceber se a organização externa desta documentação é
reveladora de algum tipo de adaptação à nova realidade quantitativa da burocracia.

1.1. A Chancelaria de D. Manuel I do século XVI ao século XXI

Em 29 de janeiro de 1529, o rei D. João III deu ordem a Tomé Lopes, escrivão
da sua Câmara, para que entregasse a Fernão de Pina, Cronista-mor e Guarda-mor da
Torre do Tombo, todos os livros e escrituras que se encontrassem no arquivo do reino29.
O monarca também determinou que devia ser elaborado um inventário da
documentação, que começou a ser a preparado em 8 de fevereiro de 1529 e só estaria
pronto em dezembro de 1532, mais de três anos depois.
O inventário começa por assinalar os livros de registo do tempo de D. Manuel
que Fernão de Pina recebeu de Tomé Lopes: eram 71, sendo um de papel e os outros de
pergaminho, todos “encadernados, cubertos de coyro de vaca cortido”30. Atualmente,
encontram-se depositados na Torre do Tombo 46 livros da Chancelaria do Venturoso, o
que significa que, aparentemente, só temos acesso a cerca de 65% dos volumes de
documentação emitida por este monarca. Mas aparentemente porquê?
Tomé Lopes não se limitou a enumerar quantos tomos de cada rei entregou ao
Guarda-mor. O responsável pela livraria régia, no seu inventário, indicou os anos aos
quais os livros correspondiam e o respetivo número de fólios. É por aqui que começam
os problemas.
Tomemos como exemplo o ano de 1496. Tomé Lopes registou que entregou a
Fernão de Pina dois livros relativos ao primeiro ano completo do reinado de D. Manuel.
Atualmente, existem na Torre do Tombo seis volumes de documentação
maioritariamente referente a esse ano. Ou seja: como já se viu, entre 1532 e 2013 o
número de livros da Chancelaria de D. Manuel I diminuiu; no entanto, entre as mesmas
datas, a quantidade de volumes relativos a um ano em concreto aumentou! Como é que
isto se poderá explicar? Vamos por partes.

29
Documento registado em CDM, L. 18, fl. 131 e publicado em: PESSANHA, José – “Uma rehabilitação
historica. Inventários da Torre do Tombo no século XVI”. Archivo Historico Portuguez. Vol. III (1905).
pp. 287-303, maxime pp. 299-303. Sobre a evolução da Torre do Tombo durante os reinados de D.
Manuel I e D. João III, cf.: SILVA, Armando Malheiro da [et al.] – Arquivística – Teoria e Prática de
uma Ciência da Informação. 3ª ed. Porto: Edições Afrontamento, 2009. pp. 82-86.
30
PESSANHA, 1905, pp. 299-300.

16
Há vários fatores que podem ajudar a perceber por que motivo não chegaram até
nós todos os livros da Chancelaria de D. Manuel que foram efetivamente produzidos:

a) Há muitos documentos da própria Chancelaria do Venturoso transcritos na


Leitura Nova,cuja preparação se continuou no reinado do seu sucessor, o que
poderia levar a que, em determinados momentos, não se entendesse como
particularmente importante a preservação dos textos originais.
b) Segundo Pedro de Azevedo e Anselmo Braancamp Freire, houve livros da
Chancelaria régia que foram levados para Castela durante o período filipino;
Fernando Portugal já notou que “não se percebe bem que género de serviço
lá poderiam prestar”, mas provavelmente acabaram por conhecer em
Espanha “o destino entre nós dado às espécies pergamináceas, das eras de
Quatrocentos e Quinhentos […]: serviriam então para forrar códices e,
amiúde, nas diferentes fases do trabalho de encadernação”31.
c) O terramoto de 1755 fez ruir a Torre do Tombo, tendo-se perdido,
provavelmente, uma quantidade importante de documentação; não é de
excluir a hipótese de os livros da Chancelaria de D. Manuel terem sido
afetados por essa catástrofe.

Estes fatores podem contribuir para que percebamos por que razões não
chegaram até nós tantos livros de Chancelaria quantos os que existiam no século XVI.
No entanto, à primeira vista, não explicam que também tenha havido multiplicação de
volumes, como aconteceu em relação ao ano de 1496. Mas é só à primeira vista.
Como já se disse, Tomé Lopes, em 1532, para além indicar o número e os anos
dos livros de registos de cada monarca, apontou quantas folhas tinha cada volume. Os
dois tomos de 1496 perfaziam um total de 786 fólios. Os seis livros que atualmente se
conservam e dizem respeito a esse ano totalizam 679 folhas. Ou seja: houve uma
multiplicação dos livros, mas uma divisão da documentação por mais volumes. Na
origem disso pode ter estado o terramoto. Na sequência do sismo, vários tomos ficaram
bastante danificados, especialmente as suas encadernações. Nos anos seguintes, assistiu-
se a um processo de reorganização do arquivo em geral e de certa documentação em

31
No mesmo artigo onde refere isto, Fernando Portugal publica a transcrição de um fragmento de um
fólio da Chancelaria de D. Manuel I que foi encontrado a forrar um livro camarário no Arquivo
Municipal de Nisa. Cf. PORTUGAL, 1969, pp. 264-265, 269-270.

17
particular, não se tendo tido a preocupação de restituir aos diplomas a sua ordem
original32. Sendo assim, é bastante verosímil que por essa altura os livros ainda
existentes da Chancelaria de D. Manuel I tenham sido reencadernados e que os seus
cadernos tenham sido reagrupados em volumes de menor dimensão.
Em síntese: os tomos da Chancelaria do Venturoso, entre os séculos XVI e a
atualidade, foram alvos de um processo de subtração (que conduziu ao desaparecimento
de muita documentação) e de outro de divisão (que levou a que alguns livros fossem
divididos em outros mais pequenos). Tendo estes dois fatores em conta, verifica-se que
a quantidade de registos do reinado de D. Manuel I que chegou até nós é
consideravelmente inferior àquela que foi produzida entre 1495 e 152133.

1.2. Aspetos gerais sobre os livros da Chancelaria de D. Manuel I

A Chancelaria de D. Manuel I é constituída por 46 livros. A sua


ordenação/numeração atual não segue qualquer lógica que tenha sido possível detetar
(cronológica, temática, etc.), pelo que se considera que a sua estrutura interna revela
uma “desordem e destroço […] extraordinários”34.
O quadro que se segue sistematiza a distribuição cronológica da documentação
pelos 46 volumes desta Chancelaria.

Livro Ano dominante35 Livro Ano dominante


1 1501 24 1515
2 1502 25 1516
3 1510 26 1496
4 1502 27 1497
5 1508 28 1497

32
Cf. RIBEIRO, Fernanda – “Como seria a estrutura primitiva do Arquivo da Casa da Coroa (Torre do
Tombo)?”. In FONSECA, Luís Adão da; AMARAL, Luís Carlos; SANTOS, Maria Fernanda Ferreira
(coord.) – Os Reinos Ibéricos na Idade Média. Vol. 3. Porto: FLUP, 2003. pp. 1401-1414, maxime pp.
1401-1402.
33
Fernando Portugal fez as contas: segundo o inventário de Tomé Lopes, a Chancelaria de D. Manuel I
era constituída por 12 771 fólios; neste momento, restam menos de 5320 (Fernando Portugal contabilizou
os fólios de um livro de perdões que atualmente não integra o fundo da Chancelaria). Ou seja,
desapareceram mais de metade dos fólios onde foram registados os atos emitidos em nome do Venturoso.
PORTUGAL, 1969, p. 262.
34
PORTUGAL, 1969, p. 263.
35
O facto de em um livro predominar a documentação relativa a determinado ano não significa que lá
também não se encontre, e por vezes até em número considerável, diplomas emitidos noutros anos. Nos
casos em que a dispersão cronológica dos atos é muito acentuada optou-se por não indicar um ano
dominante.

18
Livro Ano dominante35 Livro Ano dominante
6 1502 29 1497
7 1512 30 1497
8 1511 31 1498
9 1517 32 1496
10 1517 33 1496
11 1514 34 1496
12 1500 35 Vários
13 1500 36 1520
14 1499 37 Vários
15 1514 38 Vários
16 1499 39 1521
17 1501 40 1496
18 1521 41 1511
19 1504 42 1513
20 1505 43 1496
21 1503 44 Vários
22 1504 45 1501
23 1504 46 1501
Quadro 1 – Distribuição cronológica da documentação pelos 46 livros da CDM

Um olhar pelo quadro permite constatar que existe pelo menos um livro da
Chancelaria referente à maior parte dos anos do reinado do Venturoso. Isso só não
acontece em relação a 149536, 1506, 1507, 1509, 1518 e 1519, apesar de se encontrarem
diplomas emitidos nestes anos dispersos por outros tomos. Os anos mais representados
são 1496, 1497, 1501, 1502 e 1504.
Não sendo possível olhar particularmente às características de cada livro, veja-se
pelo menos alguns dados fundamentais relativos aos oito volumes que foram a fonte
primordial desta dissertação37:

a) Livro 26 (1496): este tomo, com 120 fólios, integra 15 cadernos, tendo o
primeiro sido iniciado em Lisboa em 5 de setembro de 1498 e o último em
Setúbal em 25 de março de 1496; apesar de a esmagadora maioria dos atos
registados ter sido emitida em 1496, também se encontram neste volume
36
Ao que parece, não chegou a existir um livro de registos de 1495, o que se deve justificar pelo facto de
D. Manuel ter subido ao trono apenas no final de outubro desse ano. Alguns dos diplomas emitidos em
novembro e dezembro de 1495 encontram-se registados nos livros relativos a 1496.
37
Segue-se a ordem cronológica da documentação.

19
diplomas de 1495 e 1498; os documentos deste livro são tipologicamente muito
diversificados, notando-se um predomínio, no entanto, dos provimentos de
ofício.
b) Livro 43 (1496): este volume tem 88 fólios e dez cadernos (o primeiro foi aberto
em 20 de maio de 149638 e o último em 31 de maio do mesmo ano, em Palmela);
também neste livro a documentação é tipologicamente diversificada, surgindo
em maior quantidade os provimentos de ofício, as cartas de tabelião e as cartas
de perdão.
c) Livro 19 (1504): livro com 44 fólios; contém alguns diplomas de 1487, 1496,
1503, 1504 e 1505; 85% dos atos são doações39.
d) Livro 22 (1504): tomo com 124 fólios, que também integra atos de 1503 e 1505;
predominam os privilégios enquadráveis nos domínios da Graça e da
Administração Geral40.
e) Livro 23 (1504): volume de 58 fólios que inclui alguns documentos emitidos em
1498, 1502, 1503 e 1505; todos os atos são provimentos de ofícios ou licenças
para exercer determinadas profissões (cartas de cirurgia, cartas de físico e cartas
de tabelião)41.
f) Livro 7 (1512): com 51 fólios, neste livro estão registados os privilégios
despachados pelo Venturoso em 1512, destacando-se particularmente os de
natureza militar42.
g) Livro 18 (1521): com 122 fólios, cerca de 78% da documentação registada neste
livro corresponde a provimentos de ofício ou licenças de cariz profissional; é o
único volume em papel desta Chancelaria43.
h) Livro 39 (1521): volume com 119 fólios, que pertencem a 15 cadernos (o
primeiro aberto em Lisboa em 20 de fevereiro de 1521 e o último iniciado na
mesma cidade em 30 de março desse ano); predominam os provimentos de
ofício e as doações44.

38
A indicação do local de abertura do caderno encontra-se tapada por uma etiqueta escrita com letra do
século XVIII.
39
O livro é designado na abertura como “Lyvro dos registos das cartas das doações e mercees”.
40
O livro é designado na abertura como “Livro dos registos dos privilégios e liberdades e ligitimações e
outras cartas desta calidade”.
41
O livro é designado na abertura como “Lyvro dos offycyos de El Rey”.
42
O livro é designado na abertura como “Lyvro dos registos del Rey nosso senhor dos privilegios e
liberdades e apresentaçons e administraçons e quitações e outras cartas novas”.
43
Este livro não tem abertura.
44
Em 13 cadernos a abertura refere que contêm ofícios e padrões. Nos outros dois (os últimos) os
documentos registados são “privilégios e liberdades”.

20
Em todos os volumes há anotações à margem dos séculos XVI, XVII e XVIII
que não foi possível sistematizar, mas cuja análise muito poderia contribuir para
aumentar a compreensão da evolução arquivística deste conjunto documental.
Os dados já avançados permitem avançar algumas das novidades desta
Chancelaria:

a) Comparando os livros de 1496 com os de 1504, verifica-se que foi durante


este período que os volumes da Chancelaria se especializaram por
assuntos;enquanto no primeiro ano completo do reinado as espécies
documentais de cada tomo são muito diversificadas, em 1504 há um livro
para provimentos, um livro para doações e um livro para privilégios;
b) Progressivamente, os volumes da Chancelaria vão deixando de ser
constituídos por cadernos autónomos que eram cosidos e encadernados,
consistindo antes em livros únicos de registos onde eram anotados
determinados tipos de documentos45;
c) É com a Chancelaria de D. Manuel I, ainda que incipientemente e apenas no
último ano do seu reinado46, que se começa a registar os atos régios em
papel.

O principal dado a reter, porque revelador de uma transformação importante na


forma como os documentos eram registados e arquivados à medida que iam sendo
emitidos, é o facto de na sequência do boom documental a que se assistiu durante o
século XV, a progressiva especialização da Chancelaria ter-sematerializado na forma
como os seus livros se organizavam, evidenciando claramente diferentes áreas de
especialização burocrática.Nunca mais deixaria de ser assim.

45
A única exceção, para além dos livros relativos ao primeiro ano do reinado, é o Livro 39, de 1521.
Ainda assim, os cadernos deste livro encontravam-se organizados por assuntos, como já se deu conta na
nota anterior.
46
Será que o Livro 18, neste aspeto, constitui uma experiência?

21
2. Os documentos

A análise dos conteúdos dos documentos registados na Chancelaria de D.


Manuel I constitui o núcleo fundamental deste capítulo. No entanto, antes de se avançar
para aí, convém esclarecer minimamente de que formas se revestiam estes diplomas.

2.1. Relance sobre aspetos formais

Em termos formais, é a carta, termo que designa “non seulement les missives
[…], mais aussi des actes publics, ceux-ci adoptant le plus souvent la forme
épistolaire”47, o tipo de diploma que reina na Chancelaria.
O discurso destes documentos integra três partes distintas: protocolo, texto e
escatocolo. Destaca-se, na primeira, a identificação do autor (nestes casos, o rei),
geralmente expressa pela fórmula abreviada “D. Manuel etc.”48, e do destinatário do ato.
Na segunda, encontram-se os elementos essenciais que nos permitem conhecer o seu
conteúdo e alcance (a narratio e a dispositio). Por fim, na última parte são indicados a
data e o local de produção do documento, assim como o redator (caso exista) e o
escrivão responsáveis pela sua materialização e expedição. A redação do escatocolo
segue normalmente uma das seguintes fórmulas49:

a) “Dante em…, x dias de…, el-Rei o mandou, F. (escrivão) a fez, era mil e y
anos”. Nestes casos, considera-se que o diploma é de subscrição régia, o que
significa que “o autor em princípio transmitiu diretamente a sua vontade ao
escriba”50.
b) “Dante em…, x dias de…, el-Rei o mandou por F. (ou por F. e S.), seu(s)
vassalo(s)”, ou “seu(s) vassalo(s) e … (indicação do ofício)”, ou “seu(s)
vassalo(s) e do seu Desembargo”, “B. (escrivão) a fez, era de mil e y anos”.

47
CARCEL ORTÍ, Maria Milagros (org.) – Vocabulaire International de la Diplomatique. Valência:
Universitat de València, 1994.
48
Este etc., efetivamente, reduz a três letras uma longuíssima intitulação: a partir de 25 de agosto de
1499, D. Manuel I era designado como Rei de Portugal e dos Algarves d’aquém e d’além mar em África,
senhor da Guiné, e da conquista, da navegação e do comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia.
COSTA, João Paulo Oliveira e – D. Manuel I. Um príncipe do Renascimento. Lisboa: Temas e Debates,
2007. p. 157.
49
Judite Gonçalves de Freitas identificou uma outra fórmula na burocracia da primeira metade do reinado
de D. Afonso V, que implica a participação de um terceiro elemento na redação dos diplomas, não
detetada nos livros analisados da Chancelaria de D. Manuel I. FREITAS, 1999, vol. I, pp. 27-30.
50
HOMEM, 1990, p. 49.

22
Perante estas fórmulas, verifica-se que o autor se serviu de um intermediário,
o redator, para transmitir a sua vontade ao escriba51.

Refira-se, finalmente, que nem sempre os documentos são apresentados da


mesma forma. Se a maioria corresponde aos textos integrais (ou seja, integram a
generalidade das fórmulas e cláusulas do ato), um número significativo surge na forma
de ementa (no fundo, uma síntese dos conteúdos que se limita a apresentar os elementos
essenciais do diploma). Um exemplo:

Dom Mannoell etc. Item carta de celorgia em forma a mestre Abraham celorgiam morador em
Almeida. Feyta em Azeitam a xxiiii dias de março. Diogo de Lemos a fez. Anno do nacimento de
Noso Senhor Jhesus Christo de miill e iiiic LRbi. El Rey o mandou per Mestre Gill seu celorgiam
moor52.

2.2. Os conteúdos dos documentos

A análise dos documentos emitidos por D. Manuel I e registados nos livros da


sua Chancelaria nos anos em apreço baseia-se na classificação tipológica, em função do
conteúdo, de cada um dos seus atos.
A tipologia adotada neste trabalho foi proposta por Armando Luís de Carvalho
Homem em O Desembargo Régio53 e objeto de afinações em estudos posteriores54.
Também aqui são introduzidas algumas nuances face à matriz original55: não
propriamente por se ter detetado o surgimento de espécies documentais absolutamente
novas no reinado do Venturoso, antes por se ter feito um esforço para que a
classificação dos diplomas fosse tão reveladora quanto possível do seu conteúdo. Nesse
sentido, foram individualizados atos56 que noutros estudos eram enquadrados em
géneros de cariz mais abrangente57. Para além disso, certas cartas anteriormente
classificadas como de determinado tipo foram transferidas para outras rubricas, cujo

51
HOMEM, 1990, p. 49.
52
CDM, L. 26, fl. 85v.
53
HOMEM, 1990, pp. 63-95.
54
Destaca-se, neste aspeto, o já citado trabalho de Judite Gonçalves de Freitas sobre a burocracia do
Africano, onde são apontadas várias novas espécies documentais. FREITAS, 1999, vol. I, pp. 34-82.
55
São elas: carta de carreteiro; carta de cidadão; carta de conselheiro; concessão de título ou privilégio de
natureza nobiliárquica; e licença para andar em besta muar.
56
Desde que detetáveis em número igual ou superior a cinco.
57
Por exemplo, os privilégios de carreteiro e de cidadão de determinado concelho, noutros estudos
enquadráveis na rubrica Privilégios em geral, foram objeto de individualização.

23
nome foi ligeiramente modificado, por se julgar serem mais consonantes com os seus
conteúdos e objetivos58. Assim, procurou-se ao máximo esvaziar as espécies mais
compósitas e os indesejáveis, mas sempre inevitáveis, Diversos.
O quadro classificativo da documentação é o seguinte59:

A. GRAÇA
- Administração de capelas
- Aposentação
- Apresentação de clérigos a igrejas do padroado régio
- Carta de carreteiro
- Carta de cidadão
- Carta de conselheiro
- Carta de estalajadeiro
- Carta de legitimação
- Concessão de título ou privilégio de natureza nobiliárquica
- Confirmação de perfilhamento
- Coutada
- Licença para andar em besta muar
- Licença para ter manceba
- Licença para ter subalterno
- Privilégio em geral
- Privilégio, comportando escusa de determinações gerais

B. JUSTIÇA
- Carta de perdão

C. FAZENDA
- Carta de quitação
- Contrato de exploração
- Doação de bens e direitos

58
Por exemplo, os privilégios de besteiro do conto ou de espingardeiro, noutros trabalhos, eram
classificados como Privilégios em geral. Neste estudo, foram enquadrados na rubrica mais diretamente
ligada aos aspetos militares, cujo nome sofreu uma pequena alteração: de Defesa e regulamentação de
encargos militares passou a Defesa e privilégios de natureza militar.
59
Optou-se por não enquadrar os Diversos em qualquer categoria.

24
- Doação, comportando exercício de jurisdições e/ou poderes senhoriais
- Fiscalidade
- Provimento de ofício

D. ADMINISTRAÇÃO GERAL
- Carta de cirurgia
- Carta de físico
- Carta de tabelião
- Defesa e privilégios de natureza militar
- Regulamentação de jurisdições locais

Antes de se olhar à apresentação sumária de cada um dos tipos de carta


(ordenados por áreas de incidência burocrática e, no âmbito destas, alfabeticamente),
tenha-se em conta uma advertência: nem sempre é fácil classificar determinados atos, e
por vezes também se afigura problemático enquadrar alguns dos tipos nas categorias
gerais60; deve-se encarar, então, esta matriz como um instrumento de trabalho que
permite uma aproximação às linhas de força dos domínios de intervenção da atividade
burocrática, apesar de, por vezes, a necessidade de arrumação de cada espécie
documental ter conduzido a simplificações da realidade.

2.2.1. Documentos do domínio da Graça

2.2.1.1. Administração de capelas

Através destas cartas, o monarca concede a determinados indivíduos a


administração de capelas e dos seus bens, sendo assegurado o cumprimento das
vontades dos instituidores. Durante o reinado de D. Manuel I, este tipo de instituições
foi objeto de reformas, tendo-se procedido ao cadastro de capelas particulares, à
verificação da execução das disposições testamentárias61 de quem as instituiu, e à

60
Pense-se, por exemplo, nas Doações de bens e direitos: sendo atos englobáveis no domínio da Fazenda,
não acabam também por ser expressões da Graça régia?
61
A documentação coligida confirma a ideia de que uma das principais preocupações da Coroa em
relação às capelas era o integral cumprimento das disposições dos instituidores. Em 14 de agosto de 1512,
Rui de Andrade foi provido na administração de uma capela nos arredores de Viseu, em substituição de
Gonçalo Gonçalves, que era afastado porque não executara devidamente as vontades que o instituidor
definira no seu testamento. CDM, L. 7, fl. 34v.

25
regulamentação de um ofício, o de contador dos resíduos, cujo titular tinha como função
lidar com estas matérias62.
A presença destes diplomas na documentação analisada é reduzida, contando-se
apenas 14 cartas, emitidas em 1504 e 1512, correspondentes a 0,44% do total. Destas,
11 foram redigidas por duplas de Desembargadores do Paço e das Petições, enquanto as
outras três foram subscritas pelo rei.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
- - 6 0,78% 8 1,33% - - 14 0,44%
Quadro 2 – As cartas de administração de capelas na CDM

2.2.1.2. Aposentação

Remonta ao tempo de D. Fernando a norma que determina que “perteence a El


Rey soomente apousentar alguem por aver hidade de setenta annos”63. Diz essa lei que
os concelhos e os nobres estavam impedidos de conceder aposentações, quer fosse
devido à idade, quer fosse por qualquer outro motivo. Caso alguém, em virtude da sua
idade avançada, se quisesse aposentar, devia comparecer pessoalmente perante o
monarca ou os seus desembargadores. Estes, se achassem que essa pessoa “poderia
razoadamente aver hidade de setenta annos”64, ordenariam a realização de uma
inquirição local para averiguar a idade do indivíduo. Após serem ouvidas as
testemunhas, num processo que envolvia almoxarifes, escrivães locais e procuradores
concelhios, se confirmados os 70 anos, seria passada a “carta de pousado”65 ou “carta de
apousentado”66. Os privilégios de que o aposentado usufruía dependiam da sua
condição social, da sua profissão e, no fundo, da graça régia67.

62
ROSA, Maria de Lurdes – “O Estado manuelino: a reforma de capelas, hospitais, albergarias e
confrarias”. In CURTO, Diogo Ramada (dir.) – O Tempo de Vasco da Gama. Lisboa: Difel, 1998. pp.
205-210.
63
OA, L. II, tit. XXXVIII, pp. 309-310. Esta norma é reproduzida praticamente na íntegra EM OM1521,
L. II, tit. XXIV, pp. 103-104.
64
OA, L. II, tít. XXXVIII, p. 309.
65
OA,L. II, tít. XXXVIII, p. 310.
66
OM1521, L. II, tít. XXIV, p. 104.
67
Sobre a manutenção de privilégios a indivíduos aposentados em meados do século XV, cf.: SOUSA,
João Silva de – “Equiparação e manutenção de privilégios em meados do século XV”. Arquipélago. Série
Ciências Humanas. N.º 4 (janeiro 1982). pp. 245-288.

26
Nos oito livros analisados da Chancelaria de D. Manuel I a presença deste tipo
de diplomas é escassa: apenas se encontram 22, que representam 0,7% dos registos
compulsados. Estes documentos não confirmam a plena execução das disposições
normativas. Apesar de ser a idade que está na origem da maioria das aposentações,
também existem casos em que os serviços prestados68 e a condição física69 justificam a
concessão desse direito.
A responsabilidade pela subscrição destes atos divide-se entre o rei (oito), o
Anadel-mor (sete), o Monteiro-mor (cinco) e o Coudel-mor (duas).

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
10 1,08% 8 1,03% 3 0,5% 1 0,12% 22 0,69%
Quadro 3 – As cartas de aposentação na CDM

2.2.1.3. Apresentação de clérigos a igrejas do padroado régio

Este tipo de carta corresponde ao exercício da prerrogativa régia de indicar o


pároco das igrejas cujo direito de padroado pertencia à Coroa70. Estes documentos
foram escritos em Latim até ao último quartel do século XV71, algo que já não acontecia
no reinado de D. Manuel72.
Detetam-se diplomas deste tipo nos quatro anos estudados da Chancelaria de D.
Manuel I, ainda que atingindo sempre valores bastante escassos. Os responsáveis pela
redação destes atos foram o Chanceler-mor (15) e o rei (dois).

68
É o caso, por exemplo, de João Godinho, um escudeiro a quem foi concedida carta de aposentação em
10 de janeiro de 1501 “pollo serviço que tem feito a […] Ifante minha madre”. CDM, L. 7, fl. 1 v.
69
Em 25 de setembro de 1512, Fernão Afonso aposentou-se aos sessenta anos por ter problemas de visão.
CDM, L. 7, fl. 31v.
70
CASTRO, Armando – “Padroados (Idade Média)”. In SERRÃO, Joel (dir.) – Dicionário de História de
Portugal. Vol. III. Porto: Figueirinhas, 2006. p. 511.
71
Cf., por exemplo, BRITO, 2001, vol. I, p. 18.
72
Cf, por exemplo, CDM, L. 26, fl. 63.

27
1496 1504 1512 1521 Total
N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
2 0,22% 5 0,65% 6 1% 4 0,47% 17 0,54%
Quadro 4 – As cartas de apresentação de clérigos a igrejas do padroado régio na CDM

2.2.1.4. Carta de carreteiro

Os carreteiros eram indivíduos que conduziam carros de bois (carretas) e


transportavam diversos produtos em percursos reduzidos73. Através destes documentos,
eram-lhes concedidos privilégios, nem sempre especificados, semelhantes aos dos
almocreves74, que passavam pela isenção de impostos e de multas e pela possibilidade
de pararem em qualquer lugar para os seus bois pastarem e beberem75.
Apesar de o peso relativo destas cartas não ser muito significativo (0,73%,),
optou-se pela individualização destes atos, dada a especificidade da profissão a que são
associados. A redação destes 23 diplomas esteve a cargo de Desembargadores do Paço e
das Petições.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
3 0,32% 6 0,78% 12 2,00% 2 0,23% 23 0,73%
Quadro 5 – As cartas de carreteiro na CDM

2.2.1.5. Carta de cidadão

As cartas de cidadão eram documentos que conferiam a determinado indivíduo o


privilégio de ser cidadão de um concelho, o que se materializava, principalmente, na
possibilidade de participar no governo municipal. No caso do Porto (e, certamente, no
da generalidade dos concelhos do reino), um cidadão era:

73
SOUSA, João Silva de – “Os transportes na Idade Média”. Revista Triplov de Artes, Religiões e
Ciências. N.º 11 (2011). [consultado em 12/02/2013].Disponível online em:
http://novaserie.revista.triplov.com/numero_11/joao_silva_sousa/index.html.
74
MARQUES, A. H. de Oliveira – Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV. Vol. 4 deNova História de
Portugal, direção de A. H. de Oliveira Marques e Joel Serrão. Lisboa: Editorial Presença, 1987. p. 143.
75
Veja-se, por exemplo, CDM, L. 39, fl. 119v.

28
“um morador capaz de responsabilidade política na governação da cidade, indivíduo com um
mínimo de autonomia económica e pessoal, satisfatoriamente empenhado no bem comum e
notoriamente diligente em assistir e votar nas assembleias municipais. Dos cidadãos, […]
destacaram-se sempre, pelos tempos fora, alguns poucos. […] Eram esses poucos que decidiam,
em última análise, sobre os interesses e destinos da cidade” 76.

Este privilégio, não nobilitando, aproximava quem o detinha do estatuto da


nobreza77.
São 12 os documentos deste tipo que se encontram registados nos livros
analisados da Chancelaria de D. Manuel I, todos subscritos pelo rei. Através deles,
cinco indivíduos são feitos cidadãos de Lisboa, três do Porto, dois de Coimbra e outros
dois de Évora.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
- - 3 0,39% 9 1,5% - - 12 0,38%
Quadro 6 – As cartas de cidadão na CDM

2.2.1.6. Carta de conselheiro

As cartas de conselheiro eram os documentos através dos quais D. Manuel


nomeava os membros do Conselho Real. Tendo em conta a “bondade e discrição” do
indivíduo a quem era concedido o diploma, o monarca assegurava que o convocaria
para as reuniões com os seus conselheiros e que passaria a usufruir dos privilégios dos
membros do Conselho, que não eram descriminados.
Nos livros estudados da Chancelaria do Venturoso encontram-se dez cartas de
conselheiro, todas subscritas pelo rei.

76
SOUSA, Armindo de – “Tempos Medievais”. In RAMOS, Luís A. de Oliveira – História do Porto. 3ª
edição. Porto: Porto Editora, 2001. pp. 118-253, maxime pp. 233-234.
77
SILVA, Francisco Ribeiro da – “Tempos Modernos”. In RAMOS, Luís A. de Oliveira – História do
Porto. 3ª edição. Porto: Porto Editora, 2001. pp. 254-375, maxime p. 322.

29
1496 1504 1512 1521 Total
N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
- - - - 4 0,67% 6 0,70% 10 0,32%
Quadro 7 – As cartas de conselheiro na CDM

2.2.1.7. Carta de estalajadeiro

As cartas de estalajadeiro eram documentos em que o monarca outorgava a um


indivíduo licença para instalar uma estalagem em sua casa. A essa concessão estavam
associados privilégios e obrigações: entre os primeiros, incluem-se as isenções de
concessão de aposentadoria, de se ser besteiro do conto e de pagamento de encargos
concelhios78; quantos às segundas, passavam pelo dever de disponibilizar aos clientes
comida (pão, carne e peixe), vinho e camas, assim como palha e cevada para os
cavalos79; os estalajadeiros eram ainda responsáveis pela segurança e integridade dos
bens dos seus hóspedes80. Durante o reinado do Venturoso, os povos queixaram-se em
Cortes das condições das estalagens que “eram, geralmente, caras e más”81.
Nos livros estudados da Chancelaria de D. Manuel I foram encontradas 57
cartas de estalajadeiro. Dessas, 53 foram redigidas por Desembargadores do Paço e das
Petições, três pelo rei e uma por Desembargadores do Agravo.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
10 1,08% 13 1,68% 29 4,83% 5 0,59% 57 1,81%
Quadro 8 – As cartas de estalajadeiro na CDM

78
FREITAS, 1999, vol. I, p. 69.
79
BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond – “A circulação e a distribuição dos produtos”. In DIAS, João
José Alves (coord.) – Portugal do Renascimento à Crise Dinástica. Vol. 5 deNova História de Portugal,
direção de A. H. de Oliveira Marques e Joel Serrão. Lisboa: Editorial Presença, 1998. pp. 195-247,
maxime p. 200.
80
OM1521, L. V, tit. XXXIX, pp. 115-116.
81
TORRES, Rui d‟Abreu – “Estalagens”. In SERRÃO, Joel (dir.) – Dicionário de História de Portugal.
Vol. II. Porto: Figueirinhas, 2006. pp. 454-455, maxime p. 455.

30
2.2.1.8. Carta de legitimação

As cartas de legitimação82, presentes na documentação régia desde o século XIII,


eram diplomas através dos quais o monarca tornava legal a situação de um filho
bastardo, equiparando a sua posição jurídica à de um filho legítimo83. Desta forma, o
indivíduo que fosse beneficiado por um diploma deste tipo, normalmente emitido a
pedido do pai, passava a ter a possibilidade de herdar o património dos seus parentes.
Encontram-se 73 cartas de legitimação nos livros que foram estudados da
Chancelaria de D. Manuel I, todas exaradas em 1496 e em 1504. A maioria destes atos
diz respeito a filhos de clérigos e de mulheres solteiras. Há um exemplo paradigmático:
em 4 de maio de 1504 foram legitimados seis filhos de Martim Vaz, abade de Santa
Maria de Mozelos, e Isabel Fernandes, mulher solteira84.
A responsabilidade pela redação destes documentos recaiu quase sempre sobre
duplas de Desembargadores do Paço e das Petições (71 diplomas), tendo o monarca
subscrito apenas duas cartas.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
7 0,75% 66 8,54% - - - - 73 2,31%
Quadro 9 – As cartas de legitimação na CDM

82
Os documentos deste tipo emitidos entre 1433 e 1521 foram objeto de estudo de duas dissertações de
mestrado defendidas na FLUP. Nesses trabalhos encontram-se informações detalhadas sobre o conceito
jurídico de legitimação, os formulários-tipo destes atos, os ritmos de emissão destes diplomas, etc. Cf.
TEIXEIRA, Carla Maria de Sousa Amorim – Moralidade e Costumes na Sociedade de Além-Douro:
1433-1521 (a partir das legitimações). Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 1996.
TEIXEIRA, Sónia Maria de Sousa Amorim – A Vida Privada Entre Douro e Tejo: estudo das
legitimações (1433-1521). Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 1996.
83
HOMEM, 1990, p. 76; VENTURA, Leontina – “A família: o léxico”. In SOUSA, Bernardo
Vasconcelos e (coord.) – A Idade Média. Vol. I de História da Vida Privada em Portugal, direção de José
Mattoso. Lisboa: Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2010. pp. 98-125, maxime pp. 116-117.
84
CDM, L. 22, fl. 45.

31
2.2.1.9. Concessão de título ou privilégio de natureza nobiliárquica

Foram enquadradas nesta rubrica, naturalmente compósita, as cartas régias


através das quais é concedido um título nobiliárquico ou o privilégio de se pertencer a
uma das categorias da nobreza da época85.
Encontram-se 123 atos deste tipo, equivalentes a cerca de 4% da documentação
compulsada, nos livros estudados da Chancelaria de D. Manuel I, correspondentes a
situações que espelham a diversidade interna reinante no seio da aristocracia:
- concessão do título de Conde de Penela a D. João de Vasconcelos e Meneses,
primo de D. Manuel, em 26 de janeiro de 149686;
- concessão do privilégio de fidalgo87;
- concessão do privilégio de cavaleiro88;
- concessão do privilégio de escudeiro89.
O rei foi o principal responsável pela subscrição destes documentos (110),
registando-se ainda a intervenção redatorial dos Desembargadores do Paço e das
Petições (sete) e do Anadel-mor dos besteiros do conto (seis)90.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
10 1,08% 10 1,29% 78 12,98% 25 2,93% 123 3,9%
Quadro 10 – As cartas de concessão de título ou privilégio de natureza nobiliárquica na CDM

85
A hierarquia da aristocracia neste período não estava definida legalmente. As categorias da nobreza
apontadas nas cortes de 1481-82 eram: grandes, fidalgos, cavaleiros e escudeiros. Cf.PEREIRA, João
Cordeiro – “A estrutura social e o seu devir”. In DIAS, João José Alves (coord.) – Portugal do
Renascimento à Crise Dinástica. Vol. 5 deNova História de Portugal, direção de A. H. de Oliveira
Marques e Joel Serrão. Lisboa: Editorial Presença, 1998. pp. 277-336, maxime p. 298.
86
CDM, L. 26, fl. 32.
87
O conceito de fidalgo era “ambíguo”, na medida em que este estatuto podia depender da linhagem ou
da inscrição nos livros de matrícula dos monarcas, sendo transversal a todas as categorias da nobreza.
PEREIRA, 1998, p. 299.
88
Este é o privilégio que surge em maior número. Este conceito também era ambíguo, na medida em que
existiam diferentes tipos de cavaleiros: os da Casa Real; os feitos em Marrocos ou na Índia pelos
governadores locais e confirmados pelo monarca (encontram-se vários exemplos deste tipo de cavaleiros
na Chancelaria de D. Manuel I); os do Conselho; os das Ordens Militares. PEREIRA, 1998, pp. 299-300.
89
Um escudeiro era, normalmente, alguém que por nascimento teria acesso à categoria de cavaleiro mas
que ainda não a havia alcançado. Esta classificação abrangia escudeiros rasos, escudeiros de fidalgos e
escudeiros de linhagens. PEREIRA, 1998, p. 301.
90
Os diplomas redigidos por este oficial dizem respeito à concessão do privilégio de cavaleiro aos
besteiros do conto de determinado concelho.

32
2.2.1.10. Confirmação de perfilhamento

As confirmações de perfilhamento são atos em que o monarca certifica


instrumentos públicos que atestam que determinado indivíduo foi perfilhado, tornando-
se herdeiro do perfilhante (normalmente um familiar ou alguém que é servido pelo
perfilhado e não tem herdeiros).
A representatividade deste tipo de carta na Chancelaria de D. Manuel I é muito
escassa. Os cinco diplomas compulsados correspondem ao perfilhamento de netos,
enteados ou sobrinhos dos perfilhantes. O monarca subscreveu uma destas cartas,
enquanto as outras quatro foram redigidas por Desembargadores do Paço e das Petições.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
1 0,11% 1 0,13% 2 0,33% 1 0,12% 5 0,16%
Quadro 11 – As cartas de confirmação de perfilhamento na CDM

2.2.1.11. Coutada

As coutadas eram “terras em que só o seu proprietário tinha o privilégio de


exercer certos tipos de atividade, nomeadamente a caça, a apascentação de gado,
pesca”91. As Ordenações Manuelinas determinavam que só rei, através destas cartas,
poderia coutar uma propriedade92.
Encontram-se seis atos deste tipo nos livros estudados da Chancelaria de D.
Manuel I, tendo sido cinco subscritos pelo monarca e um redigido por uma dupla de
Desembargadores do Paço e das Petições.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
3 0,32% 3 0,39% - - - - 6 0,19%
Quadro 12 – As cartas de couto na CDM

91
TORRES, Rui d‟Abreu – “Coutadas”. In SERRÃO, Joel (dir.) – Dicionário de História de Portugal.
Vol. I. Porto: Figueirinhas, 2006. p. 220.
92
OM1521, L. V, tít. CXI, pp. 321-323.

33
2.2.1.12. Licença para andar em besta muar

A deslocação em bestas muares foi regulamentada por D. Fernando e D. João I,


através de leis que depois vieram a integrar as Ordenações Afonsinas. Esses monarcas
determinaram que os seus vassalos e acontiados deveriam possuir cavalos e utilizá-los
como meio de transporte preferencial93.
Apesar de as Ordenações Manuelinas não integrarem nenhuma disposição
quanto a esta matéria, não parece que estas normas tenham deixado de vigorar. Nos
livros estudados da Chancelaria de D. Manuel I encontram-se nove cartas em que
indivíduos são autorizados a deslocar-se em mula, na maior parte dos casos por não
terem cavalos94. Todos estes diplomas são subscritos pelo rei

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
- - - - - - 9 1,05% 9 0,29%
Quadro 13 – As cartas de licença para andar em besta muar na CDM

2.2.1.13. Licença para ter manceba

As licenças para ter manceba eram concedidas a indivíduos (habitualmente


clérigos, mas nem sempre95) que, devido à sua idade e/ou estado de saúde, tinham
necessidade de ter alguém que os servisse. Normalmente exigia-se que a mulher a
contratar tivesse mais de 50 anos, sendo expressamente proibido qualquer envolvimento
entre a manceba e o patrão96.
Entre a documentação compulsada acham-se dez diplomas deste tipo, todos
redigidos por Desembargadores do Paço e das Petições.

93
OA, L. V, tít. CXIX, pp. 395-404. Uma análise à concessão deste privilégio em meados do século XV é
feita em:SOUSA, João Silva de – “Das autorizações de porte de armas e de deslocações em besta muar,
em meados do século XV. Algumas notas para o seu estudo”. In Estudos de História de Portugal. Vol. I –
sécs. X-XV. Homenagem a A. H. de Oliveira Marques. Lisboa: Editorial Estampa, 1982 b). pp. 293-309,
maxime pp. 298-306.
94
A maioria trata-se de físicos e cirurgiões (5), mas também o bispo do Porto e os seus capelães e os
procuradores da Casa do Cível são privilegiados.
95
Num dos casos, a mulher do homem a quem esta licença era concedida tinha fugido de casa há cerca de
20 anos. CDM, L. 7, fl. 30.
96
Cf., por exemplo, CDM, L. 38, fl. 108v e CDM, L. 38, fl. 119.

34
1496 1504 1512 1521 Total
N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
- - 5 0,65% 2 0,33% 3 0,35% 10 0,32%
Quadro 14 – As cartas de licença para ter manceba na CDM

2.2.1.14. Licença para ter subalterno

Através destas cartas, o monarca autorizava um indivíduo a nomear um


subalterno que o auxiliasse e/ou substituísse no exercício das suas funções profissionais,
normalmente relacionadas com o domínio da escrita97.
Nos anos em apreço, encontram-se seis diplomas deste tipo na Chancelaria de
D. Manuel, todos subscritos pelo rei e emitidos em 1521.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
- - - - - - 6 0,7% 6 0,19%
Quadro 15 – As cartas de licença para ter subalterno na CDM

2.2.1.15. Privilégio em geral

Foram classificadas como privilégios em geral dois tipos de cartas: privilégios


não especificados; e privilégios que, sendo descriminados, não se enquadram em
nenhuma das rubricas individualizadas que integram atos do domínio da Graça98. São,
então, exemplos deste tipo de carta:
- confirmação de privilégios outorgados por monarcas anteriores99;
- isenção de pagamento de encargos concelhios;
- privilégio de natural do reino a indivíduos estrangeiros;

97
A situação mais comum era ser dada licença a um tabelião para nomear alguém que o substituísse ou
auxiliasse no seu trabalho. Nestes casos, a responsabilidade pela correta execução das funções públicas
continuava a ser do superior hierárquico, que poderia ser punido pelos erros do seu subalterno. Cf. CDM,
L. 18, fl. 61.
98
Por exemplo, aS cartas de Defesa e privilégios de natureza militar ou as cartas de Concessão de título
ou privilégio de natureza nobiliárquica.
99
Situação particularmente frequente no início do reinado, em 1496.

35
- privilégios concedidos a profissionais de determinado ofício (carniceiros,
carpinteiros, besteiros, etc.);
- privilégios a mercadores.
As 113 cartas de privilégio em geral compulsadas correspondem a cerca de 4%
dos diplomas registados nos oito livros estudados da Chancelaria de D. Manuel I. O
monarca foi responsável pela subscrição de 90 destes atos, tendo os restantes sido
redigidos por Desembargadores do Paço e das Petições (17), pelo Anadel-mor dos
besteiros do conto (três) e pelo Almotacé-mor (um).

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
40 4,31% 27 3,49% 40 6,66% 6 0,70% 113 3,58%
Quadro 16 – As cartas de privilégio em geral na CDM

2.2.1.16. Privilégio, comportando escusa de determinações gerais

Espécie compósita, esta rubrica enquadra documentos em que o monarca


concede a determinado indivíduo ou entidade um privilégio que constitui uma exceção
face ao quando legal vigente.
Nos livros estudados da Chancelaria de D. Manuel I encontram-se 16 cartas
deste tipo, que correspondem a situações como:
- licença para que instituições religiosas possuam, herdem ou adquiram
determinados bens;
- autorização para que clérigos comprem bens de raiz;
- privilégio para que os corregedores não entrem em certas terras;
- isenção das prescrições normativas que se aplicam a judeus, cristãos-novos e
mouros.
A subscrição destas cartas dividiu-se entre o rei (dez) e os Desembargadores do
Paço e das Petições (seis).

36
1496 1504 1512 1521 Total
N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
5 0,54% 5 0,65% 4 0,67% 2 0,23% 16 0,51%
Quadro 17 – As cartas de privilégio, comportando escusa de determinações gerais na CDM

2.2.2. Documentos do domínio da Justiça

2.2.2.1. Carta de perdão

Autor de uma dissertação de doutoramento que tem este tipo de documento


como fonte fundamental, Luís Miguel Duarte define da seguinte forma o que é uma
carta de perdão:

“É a consubstanciação, num diploma da chancelaria, de um ato de graça régia em matéria de


justiça, através do qual o monarca outorga o seu perdão a um ou mais súbditos, na sequência de
um crime, de um delito ou de uma suspeita de que os destinatários o tenham cometido; este ato
pode antecipar-se a qualquer sentença de qualquer instância e de qualquer meio, isto é, régio,
concelhio, senhorial laico ou eclesiástico, pode suspender a execução de uma sentença já
proferida, libertando o sentenciado de toda a pena, de parte dela ou comutando-lha por uma mais
leve. […] Em Portugal, é um ato exclusivo do rei […]”100.

A representatividade destes diplomas no cômputo geral da documentação régia


dos séculos XIV e primeiro terço do século XV é extremamente escassa101, fruto da
eliminação sistemática dos perdões das chancelarias reformadas102. O panorama muda
quando olhamos para os registos originais das chancelarias de D. Duarte103 e de D.
Afonso V104.
Em relação ao reinado de D. Manuel I, e tendo em conta os anos que são
estudados neste trabalho, verifica-se que apenas sobram cartas de perdão exaradas em
1496. Naturalmente, o Venturoso não terá deixado de emitir perdões a partir de
determinada fase do seu reinado. A especialização por matérias dos livros da

100
DUARTE, 1999, p. 36.
101
HOMEM, 1990, p. 77.
102
DUARTE, 1999, p. 59.
103
O que leva Judite de Freitas a considerar que as cartas de perdão eram documentos “em franca
ascensão” no reinado do Eloquente. Cf. FREITAS, 1996, p. 47.
104
Há 5025 cartas de perdão registadas nos livros da Chancelaria de D. Afonso V que cobrem o período
1459-1481 (DUARTE, 1999, p. 60).

37
Chancelaria, já verificável em 1504, terá implicado a existência de tomos próprios de
perdões. Nenhum dos volumes onde foram registadas as cartas deste tipo concedidas em
1504, 1512 e 1521 chegou até aos nossos dias. O seu desaparecimento e a manutenção
de livros com outro tipo de diplomas podem ter sido fruto das mais diversas
circunstâncias, até do acaso. Ou então, os mesmos motivos que fizeram com que Gomes
Eanes de Zurara ignorasse os perdões na reforma dos registos que protagonizou em
meados do século XV levaram a que, em algum momento, se tivesse feito desaparecer
estas manifestações da graça de D. Manuel.
Nos livros 26 e 43 da Chancelaria do Venturoso encontram-se 116 cartas de
perdão, equivalentes a 12,49% da documentação emitida em 1496 que foi objeto de
análise. A subscrição destes atos repartiu-se entre duplas de Desembargadores do Paço e
das Petições (111), pares de Desembargadores do Agravo (dois) e o rei (três).

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
116 12,49% - - - - - - 116 3,67%
Quadro 18 – As cartas de perdão na CDM

2.2.3. Documentos do domínio da Fazenda

2.2.3.1. Carta de quitação

Uma carta de quitação é um “documento comprovativo da entrega de dinheiro


ou objetos – os mais variados – recebidos em nome de outrem, do pagamento de uma
dívida ou salário, da restituição de haveres emprestados, etc.”105. Através deste ato, o
destinatário do diploma (assim como os seus sucessores) era dado como quite e livre
dos bens que havia recebido.
Encontram-se 38 cartas de quitação nos livros estudados da Chancelaria de D.
Manuel106, cuja subscrição se reparte entre o rei (37) e uma dupla Desembargadores do
Paço e das Petições (um).

105
GONÇALVES, Iria – “Quitação, carta de”. In SERRÃO, Joel (dir.) – Dicionário de História de
Portugal. Vol. III. Porto: Figueirinhas, 2006.
106
As cartas de quitação de D. Manuel I foram publicadas por Anselmo Braancamp Freire em diversos
fascículos do Archivo Historico Portuguez. Cf., por exemplo, FREIRE, Anselmo Braancamp (ed.) –

38
1496 1504 1512 1521 Total
N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
2 0,22% 10 1,29% 16 2,66% 10 1,17% 38 1,20%
Quadro 19 – As cartas de quitação na CDM

2.2.3.2.Contrato de exploração

Os contratos de exploração eram cartas através das quais proprietários,


enquadrados pelo regime enfitêutico, cediam a concessionários (perpetuamente ou
durante um período que poderia variar entre determinado número de anos ou vidas) o
domínio útil (ou seja, a capacidade de exploração) de determinado património, em troca
de uma renda (que também poderia variar bastante)107. Estes documentos108, que têm
origem no século XII, tornaram-se frequentes a partir do século XIII109, detetando-se a
sua presença na burocracia régia desde o tempo de D. Afonso III110.
Encontram-se, nos volumes estudados da Chancelaria manuelina, 72 contratos
de exploração, a maioria datada de 1504, correspondentes a 2,28% dos registos
analisados. As características dos contratos, a localização geográfica e a tipologia dos
bens aforados são diversificadas. Ainda assim, nota-se um relativo peso das
propriedades urbanas situadas em Lisboa111.
O rei e os Vedores da Fazenda (com 35 diplomas cada) são os principais
responsáveis pela subscrição destes documentos, registando-se ainda dois atos redigidos
pelo Vedor-mor das obras.

“Cartas de quitação del Rei D. Manuel”. Archivo Historico Portuguez. Vol. III (1905). pp. 75-80, 155-
160, 237-240, 313-320, 385-400, 471-480.
107
Sobre os contratos relativos a propriedades rurais e urbanas deste período veja-se: RODRIGUES, Ana
Maria S. S. – “A propriedade rural”. In DIAS, João José Alves (coord.) – Portugal do Renascimento à
Crise Dinástica. Vol. 5 de Nova História de Portugal, direção de A. H. de Oliveira Marques e Joel
Serrão. Lisboa: Editorial Presença, 1998. pp. 83-114, maxime pp. 91-102. DUARTE, Luís Miguel – “A
propriedade urbana”. In DIAS, João José Alves (coord.) – Portugal do Renascimento à Crise Dinástica.
Vol. 5 de Nova História de Portugal, direção de A. H. de Oliveira Marques e Joel Serrão. Lisboa:
Editorial Presença, 1998. pp. 114-160, maxime pp. 128-134. Sobre a origem do instituto enfiteutico, cf.:
COSTA, Mário Júlio Brito de Almeida – Origem da Enfiteuse no Direito Português. Coimbra: Coimbra
Editora, 1957.
108
Regulamentados, em alguns aspetos, pelas OA, L. IV, títs. LXXVII-LXXX e pelas OM1521, L. IV,
títs. LX-LXVI.
109
MARQUES, A. H. de Oliveira – Introdução à História da Agricultura em Portugal. 2ª edição. Lisboa:
Edições Cosmos, 1968. p. 101
110
HOMEM, 1990, p. 67.
111
O que não constitui, de forma alguma, uma surpresa, tendo em conta a significativa dimensão do
património da Coroa em Lisboa. DUARTE, 1998, pp. 138-139.

39
1496 1504 1512 1521 Total
N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
4 0,43% 56 7,24% - - 12 1,41% 72 2,28%
Quadro 20 – Os contratos de exploração na CDM

2.2.3.3. Doação de bens e direitos

O ato de doar era uma das principais manifestações da graça régia. Segundo as
Ordenações Manuelinas, deveriam passar pela Chancelaria as doações de vilas,
castelos, terras, jurisdições, rendas, direitos, reguengos e padroados de igrejas112.
Na Chancelaria de D. Manuel I encontram-se vários tipos de doações:
- de tenças em numerário113;
- de foros e rendas;
- de produtos diversos (cereais, escravos, especiarias, etc.);
- de bens imóveis (terras, vinhas, olivais, etc.).
As doações têm um peso significativo nos livros estudados, correspondendo a
cerca de 9% dos diplomas compulsados. A subscrição destes atos repartiu-se pelo rei
(255), Vedores da Fazenda (22), Desembargadores do Paço e das Petições (um) e
Corregedor da Corte (um).

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
50 5,38% 112 14,49% 1 0,17% 116 13,58% 279 8,84%
Quadro 21 – As doações de bens e direitos na CDM

2.2.3.4. Doação, comportando exercício de jurisdições senhoriais

Esta rubrica enquadra “as cartas que implicam a outorga de direitos ou poderes
sobre um quadro territorial determinado”114. Ou seja, para além da alienação de um

112
OM1521, L. II, tít. XVIII, pp. 91-94.
113
A maioria dos documentos compulsados corresponde a doações deste tipo.
114
HOMEM, 1990, p. 73.

40
bem, o monarca cedia rendas, direitos e jurisdições e o mero e misto império a ele
associados115.
Nos livros estudados da Chancelaria de D. Manuel I há 15 atos deste tipo,
normalmente tendo como destinatários indivíduos de elevada condição social (a rainha
D. Leonor, fidalgos da Casa Real e abades). Todos estes documentos foram subscritos
pelo rei.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
4 0,43% 5 0,65% - - 6 0,70% 15 0,48%
Quadro 22 – As doações comportando exercício de jurisdições senhoriais na CDM

2.2.3.5. Fiscalidade

As cartas de fiscalidadedizem respeito à isenção de pagamento de direitos


régios, nomeadamente as sisas.
Estes diplomas surgem em número muito escasso nos livros estudados da
Chancelaria de D. Manuel I: são apenas sete, correspondentes a 0,22% da
documentação compulsada. O rei foi responsável pela subscrição de todos estes atos.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
4 0,43% - - 3 0,5% - - 7 0,22%
Quadro 23 – As cartas de fiscalidade na CDM

2.2.3.6. Provimento de ofício

As cartas de provimento de ofício são documentos através dos quais o monarca


nomeia um indivíduo para o exercício de determinado cargo116. A heterogeneidade reina
entre estes diplomas, que para além dos elementos essenciais (a identificação do
beneficiado e da função de que será titular) podem ou não incluir diversos tipos de

115
HOMEM, 1990, p. 73.
116
Incluiu-se ainda nesta rubrica um escasso número de documentos que diz respeito à atualização de
remunerações e à exoneração de ofícios.

41
dados: o(s) motivo(s) da escolha, a remuneração, a duração do exercício, privilégios
associados ao cargo, etc.117.
O peso dos provimentos de ofício nos livros estudados da Chancelaria de D.
Manuel I é bastante significativo. Correspondendo a 37% da documentação
compulsada, este é o tipo de diploma mais representado, atingindo valores na casa dos
50 e 60% dos atos coligidos para os anos de 1496 e 1521 118. São muitos e bastante
diversificados os cargos que são providos de titular: magistrados dos tribunais
superiores, docentes da Universidade, escrivães dos contos, escrivães das sacas,
escrivães das sisas, almoxarifes, almotacés, meirinhos, vedores das obras, monteiros e
guardadores de matas, porteiros das sisas, juízes das sisas, etc.
A redação destes diplomas, para além do monarca (responsável direto por 308
cartas), passou por vários oficiais: Vedores da Fazenda (472), Chanceler-mor (321),
Coudel-mor (17),Monteiro-mor (15), Vedor das obras (nove), Corregedores da Corte
(três), Anadel-mor dos espingardeiros (um), Desembargadores do Agravo (um) e
Provedor-mor da rendição dos cativos (um).

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
447 48,12% 199 25,74% 2 0,33% 520 60,89% 1168 37%
Quadro 24 – As cartas de provimento de ofício na CDM

2.2.4. Documentos do domínio da Administração Geral

2.2.4.1. Carta de cirurgia

As cartas de cirurgia119, que remontam ao reinado de D. Afonso IV, eram


documentos através dos quais o monarca licenciava indivíduos sem formação

117
Veja-se a análise detalhada de uma carta de provimento de ofício feita por Luís Miguel Duarte em
DUARTE, 1999, pp. 170-171.
118
A escassa representação dos provimentos de ofício na documentação conhecida para 1512 deve-se,
certamente, ao desaparecimento do(s) livro(s) onde esses diplomas terão sido maioritariamente registados.
119
Num artigo que aqui se segue de perto, Iria Gonçalves estudou detalhadamente as cartas de cirurgia e
de físico emitidas pelos monarcas entre D. João I e D. João II: GONÇALVES, Iria – “Físicos e Cirurgiões
Quatrocentistas. As Cartas de Exame”. Do Tempo e da História. N.º 1 (1965), pp. 69-112.

42
académica na área da medicina a exercerem a profissão de cirurgião120. Estes
documentos eram emitidos após os clínicos, cujos conhecimentos eram obtidos de
forma empírica, através do contacto com mestres, se apresentarem perante um
examinador (o Cirurgião-mor), que aferia a sua aptidão para a prática da cirurgia em
geral ou da cura de determinadas doenças em particular121.
Nos quatro livros estudados da Chancelaria de D. Manuel I encontram-se 38
cartas de cirurgia, todas redigidas pelo Cirurgião-mor, confirmando-se a tendência
assinalada por Iria Gonçalves para estes atos surgirem em número superior ao das cartas
de físico122. Destas licenças, três referem-se à habilitação de mulheres123, e cinco à de
estrangeiros (três castelhanos, um navarro e um genovês).

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
2 0,22% 12 1,55% - - 24 2,81% 38 1,2%
Quadro 25 – As cartas de cirurgia na CDM

2.2.4.2. Carta de físico

O que foi dito em relação às cartas de cirurgia aplica-se quase por inteiro às
cartas de físico124: a sua origem radica no século XIV, e destinavam-se a habilitar
indivíduos que, não tendo formação universitária, haviam revelado num exame
conhecimentos suficientes para exercerem o ofício de físico125.
Nos anos em apreço foram emitidas 22 cartas de físico (uma grande parte surge
em forma de ementa), praticamente todas redigidas pelo Físico-mor (apenas uma é
subscrita pelo monarca). Entre os habilitados por estes documentos encontra-se apenas

120
Na “hierarquia médica” do século XV, o cirurgião situava-se abaixo do físico e acima do sangrador.
Encontram-se várias informações sobre o exercício desta profissão em: MARQUES, A. H. de Oliveira –
A Sociedade Medieval Portuguesa. Aspectos da Vida Quotidiana. 6ª edição. Lisboa: Esfera dos Livros,
2010. pp. 121-131.
121
Nas cartas de cirurgia que se encontram nos livros analisados da Chancelaria de D. Manuel I acham-se
licenças para curar “boubas” (CDM, L. 18, fl. 17), chagas, postas, o baço (CDM, L. 18, fl. 33v), hérnias e
quebrados (CDM, L. 23, fl. 26).
122
Cf. a rubrica seguinte deste trabalho eGONÇALVES, 1965, p. 83.
123
A primeira “médica” habilitada em Portugal foi Isabel Martins, que recebeu a licença em 1454.
Segundo Iria Gonçalves, tornou-se “relativamente vulgar” encontrar mulheres a exercer esta profissão no
século XVI. GONÇALVES, 1965, p. 86.
124
Continua-se a seguir o artigo de Iria Gonçalves.
125
Caracterizados por Iria Gonçalves como “médicos de «clínica geral»”. GONÇALVES, 1965, p. 84.

43
uma mulher e um estrangeiro (um judeu castelhano). A maioria destes indivíduos
habitava em cidades como Lisboa, Porto e Santarém, confirmando-se a perceção de José
Mattoso de que a “medicina empírica (…) raramente seria praticada fora de
aglomerados urbanos”126.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
5 0,54% 2 0,26% - - 15 1,76% 22 0,7%
Quadro 26 – As cartas de físico na CDM

2.2.4.3. Carta de tabelião

Através destas cartas, o monarca concedia a um indivíduo licença para fazer


sinal público em documentos, normalmente através do exercício do ofício de tabelião de
determinado local127.
Nos livros analisados da Chancelaria de D. Manuel I acham-se 298 cartas de
tabelião, correspondentes a cerca de 9% da documentação compulsada. O peso deste
tipo de diploma é mais significativo em 1496, dada a abundância de confirmações de
atos emitidos em anos anteriores que habitualmente caracteriza o primeiro ano de um
reinado. Entre estes documentos acham-se alguns exemplos de cartas de “se assim é”.
Entre os oficiais responsáveis pela redação destes atos destaca-se o Chanceler-
Mor (275), seguido do Corregedor da Corte (oito) e dos Vedores da Fazenda (três).
Registam-se ainda 12 casos de subscrição régia.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
168 18,08% 67 8,67% - - 63 7,38% 298 9,44%
Quadro 27 – As cartas de tabelião na CDM

126
MATTOSO, José – “O corpo, a saúde e a doença”. In SOUSA, Bernardo Vasconcelos e (coord.) – A
Idade Média. Vol. I de História da Vida Privada em Portugal, direção de José Mattoso. Lisboa: Círculo
de Leitores e Temas e Debates, 2010. pp. 348-374, maxime p. 369.
127
Estas cartas são seguidas da apresentação do sinal do tabelião que é privilegiado, desenhado pelo
próprio no caderno da Chancelaria.

44
2.2.4.4. Defesa e privilégios de natureza militar

Sob a designação, porventura algo genérica, de Defesa e privilégios de natureza


militar encontram-se documentos de conteúdo distinto, tais como:
- autorizações de porte de arma128, normalmente concedidas a indivíduos que se
sentiam ameaçados por alguém e tinham necessidade de se defender;
- nomeações de alcaides de castelos129 e de um capitão de fortaleza na Índia;
- nomeações de besteiros130, espingardeiros131 e bombardeiros132 e concessão ou
confirmação dos respetivos privilégios.
O peso do campo da Defesa na Chancelaria de D. Manuel I é significativo. Nos
livros analisados encontram-se 551 cartas enquadráveis nesta rubrica, correspondentes a
cerca de 17% do total de documentos. A importância destes atos é especialmente
relevante em 1504 e em 1512, quando representam 19 e 63%, respetivamente, do total
de diplomas emitidos nesses anos que se preservaram até aos nossos dias.
A redação destes documentos reparte-se pelo rei (374 exemplares), pelos
Anadéis-mores dos besteiros do monte e da câmara (170) e por duplas de
Desembargadores do Paço e das Petições (3). A nomeação de quatro bombardeiros

128
O porte de arma foi regulamentado pelas OA(Livro I, tít. XXXI, pp. 199-206) e pelas OM1521(L. I,
tít. LVII, pp. 394-298). João Silva de Sousa estudou a concessão deste privilégio em meados do século
XV: SOUSA, 1982b).
129
Função regulamentada pelas OA(L. I, tít. LXII, pp. 350-360) e pelas OM1521(L. I, tít. LV, pp. 370-
381).
130
Milícia criada no reinado de D. Dinis e constituída por indivíduos recrutados pelos concelhos, os
privilégios detidos pelos seus membros variaram ao longo do tempo, tendo passado pela isenção de
impostos, pelo usufruto da honra de cavaleiro quando envolvidos em questões judiciais, pelo benefício de
direitos relacionados com a caça, etc. Cf. MONTEIRO, João Gouveia – “De D. Afonso IV (1325) à
Batalha de Alfarrobeira (1449) – os desafios da maturidade”. In MATTOSO, José (coord.) – Nova
História Militar de Portugal. Volume 1, direção de Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira.
Lisboa: Círculo de Leitores, 2003. pp. 163-287,maxime, pp. 197-200.
131
Corpo de militares, organizado na segunda metade do século XV (apesar de já se encontrarem
espingardeiros em exércitos portugueses desde a campanha de Tânger de 1437), que combatiam com
armas de fogo portáteis. A Chancelaria de D. Manuel I revela que este monarca continuou o esforço
levado a cabo por D. João II de desenvolvimento desta força. DUARTE, Luís Miguel – “A marinha de
guerra. A pólvora. O Norte de África”. In MATTOSO, José (coord.) – Nova História Militar de Portugal.
Volume 1, direção de Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira. Lisboa: Círculo de Leitores,
2003. pp. 289-441, maxime pp. 371-372.
132
O primeiro corpo de bombardeiros do exército português, constituído por indivíduos alemães, surgiu no
reinado de D. João II. São os militares que aparecem em menor número nos livros estudados da
Chancelaria de D. Manuel I: apenas sete, quatro em 1512 e três em 1521. Os nomeados em 1512 eram
todos alemães, enquanto os de 1521 eram portugueses (dois naturais de Évora, um de Sacavém) e foram
escolhidos para integrarem o contingente de oito bombardeiros que trabalhava na Torre de Belém. Cf.
MARQUES, A. H. de Oliveira – Hansa e Portugal na Idade Média. 2ª edição. Lisboa: Editorial Presença,
1992. pp. 108-109. CDM, L. 7, fl. 6; L. 18, fls. 37, 44 e 67. Uma lista dos 36 bombardeiros alemães
registados na Chancelaria de D. Manuel I encontra-se em BRAGA, Paulo Drumond – Portugueses no
Estrangeiro, Estrangeiros em Portugal. Lisboa: Hugin, 2005. pp. 242-243.

45
alemães em 1512 é subscrita por D. Jorge de Vasconcelos, cujo ofício não é indicado
nas cartas nem foi possível apurar133.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
25 2,69% 144 18,63% 376 62,56% 6 0,7% 551 17,45%
Quadro 28 – As cartas de Defesa e privilégios de natureza militar na CDM

2.2.4.5. Regulamentação de jurisdições locais

Esta espécie compósita enquadra documentos que dizem respeito à intervenção


régia na vida concelhia. Como tal, acham-se exemplos de:
- regulamentação do exercício de ofícios na administração municipal;
- resolução de conflitos entre concelhos vizinhos;
- concessão de privilégios a concelhos;
- confirmação de decisões camarárias;
- elevação de uma vila a cidade134.
Este tipo, apesar de representado em todos os anos analisados, surge em escasso
número na Chancelaria de D. Manuel I: 23 diplomas, correspondentes a menos de 1%
do total da documentação compulsada. O monarca foi responsável pela subscrição de
todos estes atos.

1496 1504 1512 1521 Total


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo cartas relativo
5 0,54% 5 0,65% 3 0,5% 10 1,17% 23 0,73%
Quadro 29 – As cartas de regulamentação de jurisdições locais na CDM

2.2.5. Diversos

Foram incluídos nesta rubrica dois tipos de diplomas: i) documentos não


seriáveis, ou seja, “atos cuja singularidade impede o seu agrupamento em qualquer

133
É referido no escatocolo dos documentos apenas como “Fidalgo da Casa Real”.
134
Neste caso, Beja. Cf. CDM, L. 39, fl. 105v.

46
rubrica”135; ii) cartas que, apesar de corresponderem a tipos bem definidos, surgem em
número tão reduzido que a sua individualização não parece justificável. Nesta última
situação encontram-se exemplos de confirmação de contratos de casamento, cartas de
esmoler, resposta a capítulos de cortes, etc. Os “Diversos” correspondem apenas a sete
documentos.

2.2.6. Balanço: o boom da Fazenda

Na Chancelaria de D. Manuel I não há grandes novidades no que toca aos


conteúdos da documentação. Isso não é surpreendente, tendo em conta que a tendência
das últimas décadas do século XV apontava para o empobrecimento tipológico dos atos
da Chancelaria, impulsionado pela multiplicação de instâncias de registo e pela cada
vez maior especialização da burocracia. No entanto, durante este reinado assiste-se a
uma viragem na representatividade dos diferentes „departamentos‟ da administração no
seio do Desembargo régio.

700

600

500
Graça
400
Justiça

300 Fazenda
Administração Geral
200 Diversos

100

0
1496 1504 1512 1521

Gráfico 1 – Áreas de incidência governativa da documentação régia emitida em 1496, 1504, 1512 e 1521

A análise do gráfico permite constatar facilmente que a Fazenda era o


departamento da administração manuelina que mais se destacava: 50,02% da

135
HOMEM, 1990, p. 91.

47
documentação analisada enquadra-se neste âmbito. São as 1168 cartas de provimento de
ofícios registadas nos oitos livros compulsados que mais determinam a dimensão deste
valor. Este número torna-se ainda mais impressionante se for comparado com tempos
anteriores: entre os 20 655 documentos que Manuela Mendonça coligiu para o reinado
de D. João II, o peso da Fazenda não atingia sequer os 9%136.
Segue-se, em termos de importância quantitativa, a Administração Geral, que
representa perto de 30% dos atos exarados. É o domínio da Defesa que mais contribui
para este valor, sendo também assinalável a sua evolução desde o reinado de D. João II,
quando correspondia a cerca de 7% dos diplomas emitidos137.
A Graça, cujas espécies documentais totalizam cerca de 17% dos diplomas
coligidos, é um „departamento‟ cuja presença dos volumes da Chancelaria é constante,
sofrendo poucas variações: para cada um dos anos estudados há normalmente entre
cerca de 100 e 200 atos enquadráveis neste âmbito. Neste conjunto de atos, destacam-se
os privilégios de cariz social e familiar (correspondentes a cerca de 7% da
documentação total)138. Seguem-se em termos de importância quantitativa os privilégios
em geral (cerca de 5%)139, os privilégios de natureza profissional (3%)140 e os
privilégios relacionados com a Igreja (1%)141.
A Justiça é um setor da administração que se eclipsa dos registos Chancelaria
durante o reinado de D. Manuel I142. Se nos dois livros relativos a 1496 ainda se
encontram 116 cartas de perdão, nos outros seis volumes estudados não há uma única
para amostra. Ao que se deve este ocaso? Naturalmente, como já se disse, o Venturoso
não deixou de conceder perdões. O mais plausível é que as cartas deste tipo emitidas em
1504, 1512 e 1521 tenham sido registadas em livros próprios que não chegaram até nós.
Um olhar mais atento sobre outros volumes desta Chancelaria e a comparação com a
organização da Chancelaria de D. João III (que tinha livros só de perdões) poderão
contribuir para um esclarecimento mais cabal deste aspeto.

136
MENDONÇA, Manuela – D. João II. Um percurso humano e político nas origens da modernidade em
Portugal. 2ª edição. Lisboa: Editorial Estampa, 1995. p. 290.
137
MENDONÇA, 1995, pp. 290-291.
138
Incluem-se neste grupo as cartas de cidadão, as cartas de conselheiro, as cartas de legitimação, as
concessões de título ou privilégio de natureza nobiliárquica e as confirmações de perfilhamento.
139
Cartas de privilégio em geral, de privilégio comportando escusa de determinações gerais, de coutada,
de licença para andar em besta muar e de licença para ter subalterno ou manceba.
140
Cartas de aposentação, de carreteiro e de estalajadeiro.
141
Cartas de administração de capelas e de apresentação de clérigos a igrejas do padroado régio.
142
Quando em tempos anteriores era o que mais se destacava. Cf. as teses já citadas sobre o Desembargo
de Afonso V, para além de MENDONÇA, 1995, p. 290.

48
II. O REI

Os documentos estudados neste trabalho eram redigidos, expedidos e guardados


em nome de um rei. Como tal, impõe-se analisar, ainda que de forma breve, a
configuração dos poderes desse monarca e a sua intervenção direta na administração.
Nesse sentido, este capítulo divide-se em duas partes: na primeira, são apresentadas as
principais características do poder régio em Portugal no final da Idade Média; na
segunda, dá-se conta do papel do despacho no quotidiano de D. Manuel I e verifica-se
em que domínios de incidência governativa é que a sua ação direta mais se fazia sentir
ao nível da redação de diplomas.

1. O poder régio no final da Idade Média143

Nos séculos finais da Idade Média, a natureza da realeza transformou-se. O rei


desta altura já não é apenas um primus inter pares, é “a coluna vertebral do sistema”144,
“a mais importante” entre “todas as estruturas políticas portuguesas”145. É um monarca
dotado de poder absoluto, sendo que “«absoluto» não é total, é apenas livre de
constrangimentos que não sejam os impostos pela lei e pelos privilégios e foros que o
rei começava por jurar cumprir e fazer cumprir no momento da aclamação”146. O poder
régio dos séculos XV e XVI tinha uma origem bem definida, tinha direitos associados e
tinha limites. É disso que se dará conta de seguida.

143
Este ponto resulta da síntese do que sobre esta matéria se escreveu em: ALBURQUERQUE, Martim
de – O Poder Político no Renascimento Português. 2ª edição. Lisboa: Editorial Verbo, 2012; CAETANO,
Marcello – História do Direito Português (1140-1495). Lisboa: Editorial Verbo, 1981. pp. 461-
470;FREITAS, 2012, pp. 88-99; GUENÉE, Bernard – L’Occident aux XIVe et XVe siècles. Les États. 2ª
edição. Paris: Presses Universitaires de France, 1981. pp.133-159; HESPANHA, António Manuel –
História das Instituições. Épocas Medieval e Moderna. Coimbra: Almedina: 1982. pp. 302-332.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Rei e «estado real» nos textos legislativos da Idade Média
portuguesa”. En la España Medieval. N.º 22 (1999). pp. 177-185. MAGALHÃES, Joaquim Romero – “O
rei”. In MAGALHÃES, Joaquim Romero (coord.) – No Alvorecer da Modernidade. Vol. 3 de História de
Portugal, direção de José Mattoso. Lisboa: Editorial Estampa, 1997. pp. 61-71. MALTEZ, José Adelino –
“O Estado e as Instituições”. In DIAS, João José Alves – Portugal do Renascimento à Crise Dinástica.
Vol. 5 de Nova História de Portugal, direção de A. H. de Oliveira Marques e Joel Serrão. Lisboa:
Editorial Presença, 1998. pp. 337-412;MARQUES, 1987, pp. 286-289; SOUSA, Armindo de – “1325-
1480”. In MATTOSO, José (coord.) – A Monarquia Feudal. Vol. 2 de História de Portugal, direção de
José Mattoso. Lisboa: Editorial Estampa, 1997. pp. 261-466.
144
MALTEZ, 1998, p. 385.
145
SOUSA, 1997, p. 441.
146
MAGALHÃES, 1997, p. 62.

49
1.1. A origem do poder do rei

Dom Manuel pela graça de Deus rei de Portugal e do Algarve… A velha forma
do protocolo dos documentos régios é suficientemente esclarecedora: o poder dos
monarcas advinha de Deus147. No entanto, teólogos e juristas não foram unânimes a
desenvolver a teoria da origem divina do poder, destacando-se três correntes:

a) O poder era transmitido diretamente por Deus ao soberano (“potestatem


immediate a Christo habet”);
b) O papa intermediava a transmissão do poder entre Deus e o governante;
c) O Povo era mediador da outorga do poder (“a Deo per populum”).

Em Portugal, houve seguidores destas três teorias, mas a que teve mais adeptos
foi a terceira. Álvaro Pais escreveu sobre ela no século XIV148, e as Cortes de 1385, que
resultaram na designação de D. João I como rei de Portugal, aplicaram-na. No século
XVI, esta doutrina generalizou-se, e entre os principais teóricos que a sustentaram
encontravam-se Lourenço de Cáceres, Diogo de Sá, António Pinheiro, Manuel da Costa
e Jerónimo Osório149.

1.2. Os poderes do rei

Oliveira Marques escreveu que “o rei de meados de Trezentos era já rei


absoluto, legislador, juiz e administrador, representante consciente dos interesses do
reino”150. Os poderes dos monarcas (tal como os seus direitos reais151) eram extensos e
abrangiam essencialmente os domínios da Guerra, da Fazenda e da Justiça. Exercendo
“a suprema jurisdição em todo o reino” e tendo “o direito de exigir obediência plena por
parte dos súbditos”152, as principais competências dos reis eram: declarar e comandar a

147
A frase atribuída a S. Paulo “Non est potestas nisi a Deo” foi uma das que mais influenciou o
desenvolvimento das doutrinas políticas nas épocas medieval e moderna. ALBUQUERQUE, 2012, p. 27.
148
Período em que os textos legislativos portugueses afirmavam claramente a origem divina sem
mediadores do poder régio. HOMEM, 1999, pp. 178-179.
149
ALBUQUERQUE, 2012, pp. 27-59; CAETANO, 1981, pp. 461-462; HESPANHA, 1982, pp. 303-
309.
150
MARQUES, 1987, p. 287.
151
Regulamentados nas OA(L. II, tít. 24) e nas OM1521(L. II, tít. 15).
152
MARQUES, 1987, p. 287.

50
guerra; encabeçar a política externa; cunhar moeda; cobrar impostos; nomear os seus
oficiais; controlar e executar a justiça; elaborar legislação153.

1.3. Os limites à autoridade régia

Como já se viu, sendo absoluto, o poder régio não era ilimitado e encontrava-se
condicionado:

a) Pelo direito divino (ou seja, a lei que emanava de Deus e que implicava o
respeito pelos preceitos bíblicos);
b) Pelo direito natural (ligado “à constituição da sociedade e do poder e à ordem
jurídica «tradicional»”154);
c) Pelas leis do reino, promulgadas pelo próprio ou pelos seus antecessores155;
d) Pelas “limitações postas pelos direitos adquiridos ou radicados” (o que
implicava o respeito pelo dominium disposto por particulares sobre as suas
coisas, pelos contratos estabelecidos com os súbditos, pelos privilégios cedidos
na sequência de serviços prestados, pelos testamentos e pelas sentenças)156;
e) Pelos direitos dos particulares157.

António Manuel Hespanha considera que é o aspeto enunciado na alínea d que


mais representa uma verdadeira limitação prática ao exercício do poder régio, na
medida em que o respeito pelos direitos adquiridos tinha um cariz jurídico-
constitucional, enquanto os limites referidos nos itens anteriores se refletiam
essencialmente no plano na consciência do monarca.

153
CAETANO, 1981, pp. 464-466; FREITAS, 2012, pp. 95-96; MALTEZ, 1998, p. 386; MARQUES,
1987, p. 287.
154
HESPANHA, 1982, p. 320.
155
Diz Luís Miguel Duarte que era comum que textos emanados por monarcas como D. Manuel I
falassem da “não submissão do Rei ao direito positivo”, o que se justificaria pela possibilidade de o
príncipe, tal como Deus, se colocar à margem da legislação. No entanto, tais referências não passariam da
teoria, uma vez que “mandavam a sabedoria e a prudência que só excecionalmente, ou nunca, [se]
recorresse a essa faculdade”. DUARTE, 1999, pp. 72-73.
156
HESPANHA, 1982, pp. 323-325.
157
ALBUQUERQUE, 2012, pp. 227-239; CAETANO, 1981, pp. 467-468; FREITAS, 2012, pp. 96-97;
GUENÉE, 1981, pp. 151-159; HESPANHA, 1982, pp. 319-331MALTEZ, 1998, p. 386; MARQUES,
1987, pp. 286-287;

51
1.4. Ser rei: um ofício?

Uma grande parte deste trabalho consiste no estudo de ofícios e de oficiais


régios. Nesse sentido, parece pertinente questionar se o exercício da própria realeza não
corporizaria também um ofício. Questão que está longe de ser nova e sobre a qual
Martim de Albuquerque já se debruçou.
Durante a Idade Média e o Renascimento, a natureza do poder régio associava-se
fundamentalmente a dois conceitos: o de vicariato divino e o de ofício. O primeiro tem
origem na “ideia de que o rei é vigário de Deus”, desempenhando o seu papel e
executando a sua vontade na terra158. Mas é o segundo que mais interessa neste ponto. A
noção de que “o príncipe desempenha um cargo, tem uma função e consequentemente,
um dever a cumprir”, tendo origem na Idade Média, teve uma sobrevivência longa na
Península Ibérica159. Os elementos fundamentais desta conceção do poder régio são:

a) a existência de um rei tem um objetivo e o monarca deve agir em função dele;


b) ou seja, “o reino não existe para o monarca, o monarca existe para o reino”160;
c) cabe ao rei atuar em função do bem comum, e não de interesses próprios ou
particulares, umas vez que o seus poderes “não são direitos seus, mas sim
direitos da comunidade”161.

O autor que se tem vindo a seguir neste ponto demonstra claramente que os
próprios monarcas portugueses do século XV estavam convictos de que
desempenhavam um cargo. Numa carta enviada ao rei de Inglaterra Henrique VII,
insurgindo-se contra atos de pirataria praticados por ingleses, D. Manuel escreveu: “não
convem aos que tem ofício e cargo real serem piratas senão cavaleiros…”162. Fica claro,
portanto, que o exercício da realeza neste período era explicitamente encarado como um
ofício, ainda que certamente muito diferente daqueles que serão estudados no próximo
capítulo.

158
ALBUQUERQUE, 2012, p. 129.
159
ALBUQUERQUE, 2012, p. 133.
160
ALBUQUERQUE, 2012, p. 133.
161
ALBUQUERQUE, 2012, p. 135.
162
ALBUQUERQUE, 2012, pp. 135-138, maxime p. 138.

52
1.5. Características particulares da realeza manuelina163

Relativamente longo, o reinado de D. Manuel I coincidiu com um período de


importantes transformações no reino de Portugal que abrangeram a própria realeza. Não
que as conceções sobre a origem, os direitos e os limites do poder régio se tenham
alterado substancialmente, mas o impulso dado pela Expansão levou o Venturoso a
aumentar o seu título e a promover o desenvolvimento de uma iconografia própria.
Tudo inscrito na linha de um sonho imperial que provavelmente alimentou até ao fim
dos seus dias164.

1.5.1. Um título que impressiona

Dom Manuel, pela graça de Deus rei de Portugal e dos Algarves, daquém e
dalém mar em África, senhor da Guiné, da Conquista, Navegação e Comércio da
Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia.
Assim fixado desde 1499, o título do Venturoso, verdadeiramente
impressionante, reflete e anuncia um programa político. Vejamos cada uma das partes:

a) “Rei de Portugal e dos Algarves, daquém e dalém mar em África, senhor da


Guiné”
Este é o título que D. Manuel herdou de D. João II quando subiu ao trono em
outubro de 1495. Destaca-se o facto de o Algarve ser associado ao Norte de
África (na medida em que corresponderia ao “daquém mar” em África)165.
b) “Senhor da Conquista”
A referência, logo em 1499, à conquista de territórios no Oriente antecipa o
projeto que Afonso de Albuquerque desenvolveria a partir de 1503. Com este
título, D. Manuel “demonstrava aspirar mais à suserania imperial do que à
soberania real”166.

163
Este ponto baseia-se, fundamentalmente, nos seguintes estudos: ALVES, Ana Maria – Iconologia do
Poder Real no Período Manuelino. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1985; COSTA, 2007,
pp. 187-194 e 255-261.
164
Cf., sobre as representações de D. Manuel I na historiografia do seu tempo e na mais recente: SÁ,
Isabel dos Guimarães – “D. Manuel I revisitado: historiografia recente e novas (re)leituras”. In
GARRIDO, Álvaro; COSTA, Leonor Freire; DUARTE, Luís Miguel – Estudos em Homenagem a
Joaquim Romero Magalhães. Economia, Instituições e Império. Coimbra: Almedina, 2012. pp. 525-539.
165
ALVES, 1985, p. 24.
166
COSTA, 2007, p. 256.

53
c) “Senhor da Navegação e Comércio”
Este título é interpretado por Luís Filipe Thomaz (corroborado por João Paulo
Oliveira e Costa) como “um complemento político do programa económico”,
sendo o Venturoso “um caso único de um monarca que incluiu uma referência a
atividades comerciais na sua titulatura”167.

O título de D. Manuel I é classificado por Ana Maria Alves como “a afirmação


política mais otimista que alguma vez se fez em Portugal”, destacando-se pela sua
“ambição” e pelo “sentimento de triunfo” que lhe está associado168.

1.5.2. Uma iconografia própria

Uma das marcas do reinado do Venturoso foi o espetáculo do poder, analisado,


nas suas diversas manifestações (etiqueta de corte, alimentação, vestuário do monarca,
entradas régias, etc.), por Ana Maria Alves169. Mas esta autora dedicou-se sobretudo ao
estudo da iconografia relativa ao poder real presente em iluminuras manuelinas.
Debruçando-se, fundamentalmente, sobre os frontispícios dos livros da Leitura Nova, a
historiadora chegou, entre outras, às seguintes conclusões:

a) “A iluminura manuelina (…) é no essencial inspirada pela função litúrgica da


iluminura e nunca se separará por completo desta origem”;
b) O escudo régio, normalmente sustentado por anjos, é tratado da mesma forma
que os santos e a Virgem Maria na pintura do tempo;
c) Valores como a glória e a imortalidade são frequentemente representados através
de figuras grotescas;
d) Estas figuras, associadas à proliferação de joias e à decoração da página com
pintura de ouro, “tendem a significar, no seu conjunto, a glória deste Rei
terrestre, a sua riqueza e a paz e a justiça do seu reino”
e) Os frontispícios da Leitura Nova são “o melhor exemplo que encontramos da
transformação de uma «imagem de poder» por força de acontecimentos

167
COSTA, 2007, p. 256.
168
ALVES, 1985, p. 25.
169
Cf. ALVES, 1985, pp. 55-92.

54
históricos mas também, e significativamente, por força de uma decisão régia que
poderíamos, a justo título, qualificar de propaganda”170.

Em síntese, D. Manuel I esteve diretamente associado à renovação da forma


como o poder era graficamente representado em Portugal, tendo contribuído para a
“transposição da soberania do plano literário para o plano visual”171.

1.5.3. Uma ideia imperial

Na linha de estudos de Luís Filipe Thomaz, vários autores têm vindo a


demonstrar que D. Manuel I, sentindo-se “incumbido de uma missão universal para
manter a justiça, a paz e a supremacia da fé cristã”172, aspirou ao sonho de se tornar
imperador. João Paulo Oliveira e Costa, na biografia que escreveu do Venturoso,
sintetizou as principais características do projeto imperial manuelino 173, que de seguida
se apresentam.

1.5.3.1. O título de imperador

Tomando como referência o modelo de Afonso VII de Leão e Castela (1126-


1157), cedo se colocou a hipótese de D. Manuel assumir o título de imperador. Isso
refletiu-se em escritos de Valentim Fernandes (“rogo que pela sua Santíssima piedade
me deixe chegar ao tempo que possa ver a vossa poderosa senhoria acrescentada com
título imperial de toda a monarquia”174), D. Francisco de Almeida e Duarte Pacheco
Pereira, que se chegou a referir ao Venturoso como “César Manuel”.
Como já se salientou, os títulos de “Senhor da Conquista, da Navegação e do
Comércio”, assumidos por D. Manuel em 1499, tinham um cariz imperial, na medida
em que refletiam e projetavam a edificação de um império marítimo no Oriente, que se
concretizou. No entanto, a construção do império ao qual o Venturoso aspirava

170
ALVES, 1985, pp. 150-155.
171
ALVES, 1985, p. 155.
172
THOMAZ, Luís Filipe F. R. – De Ceuta a Timor. Lisboa: Difel, 1998. p. 196.
173
COSTA, 2007, pp. 255-261.
174
Valentim Fernandes citado por COSTA, 2007, p. 256.

55
implicava também a concretização de um programa religioso, que nunca chegou a ser
plenamente conseguido175.

1.5.3.2. O messianismo

João Paulo Oliveira e Costa refere que não podemos confinar D. Manuel “à
imagem de um idealista, meio ingénuo, que vivia apenas para a concretização de
objetivos predominantemente espirituais”. No entanto, tendo em conta o ambiente
místico em que foi educado e as correntes milenaristas tão em voga na Península Ibérica
do final do século XV, “é natural que o rei tenha acreditado que Deus o escolhera
especialmente para a realização de feitos memoráveis” e se tenha deixado envolver em
ideias messiânicas. Enquadrar-se-ia no âmbito dessas ideias a realização de uma cruzada
que libertasse o Mediterrâneo oriental do domínio islâmico, cuja não concretização
explica o facto de o Venturoso nunca se ter candidatado ao título de imperador perante o
papa176.

1.5.3.3. A cruzada

A libertação da Terra Santa foi um dos objetivos do reinado de D. Manuel I. Em


diferentes momentos, o monarca demonstrou o seu empenhamento na política
mediterrânica:

a) Em 1501, enviou uma esquadra para socorrer Veneza dos ataques otomanos;
b) Em 1506, propôs a Fernando de Aragão e a Henrique VII de Inglaterra a
organização de uma grande cruzada, que os problemas internos castelhanos e o
desinteresse papal inviabilizaram;
c) Em 1509, no âmbito de um novo projeto de cruzada, o Venturoso é citado como
um dos principais intervenientes;
d) Em 1517, D. Manuel voltou a enviar embaixadas a vários soberanos europeus a
propor a organização de uma expedição à Terra Santa, novamente sem
sucesso177.

175
COSTA, 2007, pp. 255-256.
176
COSTA, 2007, pp. 256-258.
177
COSTA, 2007, pp.259-260.

56
Como se vê, ao mesmo que tempo que construía um império marítimo e
comercial no Oriente, o Venturoso, imbuído de um espírito cruzadístico tipicamente
medieval, esforçou-se pela concretização de uma das grandes ambições da Cristandade
ocidental: a libertação da Terra Santa. Esta demanda imperial, associada a outras
características do poder de D. Manuel já mencionadas em pontos anteriores, confere um
caráter particular à realeza manuelina.

2. D. Manuel e o despacho

Neste ponto procurar-se-á atender à prática do poder régio, caracterizando a


intervenção direta de D. Manuel no domínio da burocracia. Num primeiro momento,
tendo como base um impressivo relato de Damião de Góis, dar-se-á conta do quotidiano
do monarca a despachar. De seguida, na linha do capítulo anterior, olhar-se-á à
interferência direta do monarca na redação de diplomas, apontando os domínios da
governação em que mais se fazia sentir.

2.1. O quotidiano do despacho

No antepenúltimo capítulo da Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, Damião de


Góis, para além de descrever fisicamente o monarca e de enunciar as suas qualidades,
presta algumas informações sobre “o modo de viver” do Venturoso178. Este é um
testemunho precioso, na medida que o autor viveu na Corte e serviu no paço durante os
últimos dez anos do reinado de D. Manuel, tendo tido oportunidade de observar in loco
várias das realidades que descreveu179. Infelizmente, o cronista não nos traça um retrato
tão detalhado do quotidiano régio ao ponto de nos permitir conhecer um horário de
trabalho do rei como o que foi possível reconstituir para D. Duarte180. Sobram-nos,
contudo, algumas notas que permitem ter certa noção de como o Felicíssimo trabalhava.
A sexta-feira, dia em que o monarca, até aos 40 anos, jejuava a pão e água, seria
o momento da semana privilegiado do despacho. Conta-nos o cronista que só quando

178
CrDG, vol. IV, pp. 197-203.
179
Para uma visão geral da vida e obra de Damião de Góis cf.: BUESCU, Ana Isabel – “GÓIS, Damião
de (1502-1574). In Enciclopédia Virtual da Expansão Portuguesa. Sl.: CHAM, 2005.[consultado em
20/07/2013]. Disponível online em: http://www.fcsh.unl.pt/cham/eve/content.php?printconceito=792.
180
Nem é líquido que D. Manuel tivesse um horário de trabalho definido. O de D. Duarte é analisado em:
DUARTE, Luís Miguel – D. Duarte. Requiem por um rei triste. Lisboa: Temas e Debates, 2007. pp. 239-
240.

57
esteve doente é que D. Manuel não aproveitou esse dia para se inteirar dos assuntos da
Casa da Suplicação, ouvindo presos e participando na elaboração de sentenças. Depois
de comer, despachava ordinariamente com os Desembargadores do Paço, sem nunca
deixar uma petição por desembargar. As petições da Câmara e da Fazenda eram levadas
ao monarca pelos respetivos escrivães. O momento em que o rei assinava os diplomas
tinha um cariz mais solene, e por vezes era público: ladeando o Venturoso, de joelhos,
sentavam-se o Escrivão da Puridade e um dos Vedores da Fazenda; à volta da mesa
onde o rei autografava os documentos, também de joelhos, encontravam-se os escrivães
da Câmara e da Fazenda.
Frequentemente, D. Manuel promovia audiências públicas, onde ouvia todos os
que lhe quisessem falar. Igualmente nestas ocasiões, era acompanhado pelo Escrivão da
Puridade e por um dos Vedores da Fazenda.
O monarca também aproveitava alguns momentos que poderiam ser de lazer
para despachar. Quando se passeava de galeota pelo rio, fazia-se acompanhar de um
oficial, com quem ia desembargando. Na altura de comer, partilhava com ele e com
todos os outros tripulantes da embarcação as frutas, as conservas, as coisas de açúcar, o
vinho e a água que lhe eram levados por Duarte Foreiro, um cavaleiro da sua casa.
A música estava constantemente presente no dia-a-dia do rei. D. Manuel
rodeava-se de cantores e tocadores de diversos instrumentos (alaúdes, cornetas, harpas,
rabecas, entre outros) nas mais diversas ocasiões: quando despachava, nas audiências
públicas, nas alturas da sesta e de se deitar, durante as refeições, enquanto passeava.
Apreciador das letras e entendido no Latim, em que havia sido instruído na juventude,
diz-nos Damião de Góis que o Venturoso “podia julgar entre stylo bom, & mao”.

2.2. O que era despachado pelo rei

Já se viu no capítulo anterior que no escatocolo dos documentos régios se


distinguem, essencialmente, duas fórmulas: “el-Rei o mandou…” e “el-Rei o mandou
por…”. Este ponto diz respeito aos diplomas onde se encontra a primeira destas
expressões, ou seja, aqueles que, em princípio, eram despachados diretamente pelo
monarca, sem intervenção de qualquer oficial redator.
Teoricamente, D. Manuel I foi responsável pela redação de 1319 dos 3157
documentos compulsados, ou seja, 41,78% do total. Na realidade, é pouco verosímil,
por exemplo, que o Venturoso tenha transmitido diretamente aos escribas centenas de

58
concessões do privilégio de espingardeiro ou de besteiro do monte que se encontram no
livro 7 da sua Chancelaria. É impossível distinguir, no entanto, os atos em que o rei
interveio diretamente daqueles em que isso não aconteceu, apesar não registarem
qualquer intervenção redatorial intermédia.

1000
800
600
Total de cartas
400
Cartas subscritas pelo rei
200
0
1496 1504 1512 1521

Gráfico 2 – Evolução do número de cartas de subscrição régia face ao número total de cartas expedidas

Principal responsável redatorial pelos documentos que eram emitidos em seu


próprio nome, verifica-se que, como é natural, foi nos anos em que o número de cartas
expedidas foi mais elevado que D. Manuel menos interveio na sua redação. Por sua vez,
o ano para o qual se coligiu menos documentação (1512), é aquele em que a fórmula
protocolar “el-Rei o mandou” tem mais peso, apesar das reservas que o seu altíssimo
valor (453 atos num total de 601) deve levantar.
Que tipo de atos é que o Venturoso subscrevia?

350
300
250 Graça
200 Justiça
150 Fazenda
100 Administração Geral
50 Diversos
0
1496 1504 1512 1521

Gráfico 3–Áreas de incidência governativa da documentação subscrita pelo rei

O gráfico demonstra que D. Manuel interveio diretamente na elaboração de


diplomas enquadráveis em todas as categorias documentais definidas no capítulo

59
anterior, mas muito mais numas do que noutras. Em termos absolutos, foi no domínio
da Fazenda que a interferência do rei mais se fez sentir, apesar de assumir um valor
quase insignificante em 1512181. Reflete-se, dessa forma, a crescente importância deste
setor da administração na Chancelaria, como que substituindo o peso que a Justiça
assumiu na documentação régia ao longo da maior parte do século XV e que, no reinado
de D. Manuel, era já muito baixo, como o gráfico reflete182. A subscrição de atos
relacionados com a Graça e a Administração Geral atinge em 1496, 1504 e 1521 valores
muito próximos. Em 1512, é elevadíssimo o número de cartas da Administração Geral
que supostamente foram emanadas diretamente do rei, correspondendo a maior parte
delas a privilégios de natureza militar.
Olhou-se até agora, ao valor absoluto de cartas de subscrição régia expedidas em
cada um dos anos estudados. O cenário é um pouco diferente se atendermos aos valores
relativos em função de cada categoria documental.

% de cartas de
N.º total de cartas Cartas de subscrição régia
subscrição régia
Graça 523 273 52,20%
Justiça 116 3 2,59%
Fazenda 1579 627 39,71%
Administração Geral 932 410 43,99%
183
Diversos 7 6 85,71%
Total 3157 1319 41,78%
Quadro 30 – Peso relativo das cartas de subscrição régia por área de incidência governativa

Foi no domínio da Justiça que a interferência direta do monarca na elaboração


dos diplomas menos se fez sentir: das 116 cartas de perdão coligidas, apenas três não
foram redigidas por intermédio de uma dupla de Desembargadores. O peso da
intervenção régia é relativamente equilibrado nos setores da Graça, da Fazenda e da
Administração Geral, variando entre os cerca de 40% e os 52%. No entanto, no âmbito
desse equilíbrio, há nuances que se distinguem daquilo que foi possível observar
quando se olhou aos valores absolutos. Sendo o “departamento” ao qual corresponde a

181
Nem podia ser de outra forma, uma vez que apenas 22 dos 601 documentos coligidos desse ano se
enquadram no domínio da Fazenda.
182
Cf. o que se disse no capítulo anterior a respeito do eclipse dos documentos da área da Justiça na
Chancelaria de D. Manuel I.
183
Por não constituírem propriamente uma categoria documental e por surgirem em número quase
insignificativo, não se terá os Diversos em conta na análise que se segue.

60
parte mais significativa dos atos emitidos diretamente pelo Venturoso, a Fazenda não é
o domínio da documentação em que o peso da interferência do rei mais se faz sentir. Era
no âmbito da Graça que a redação dos diplomas mais vezes dispensava a intervenção de
intermediários (52% do total). Tendo em conta que as cartas associadas a esse setor da
produção documental correspondiam, grosso modo, ao exercício da liberalidade do
monarca, não admira que assim fosse.
Em síntese: D. Manuel, quer fosse à sexta-feira depois de comer, quer fosse
enquanto se passeava num batel, sempre acompanhado por músicos, era um rei que
intervinha diretamente na preparação de cerca de 40% dos diplomas emitidos em seu
nome. Despachando um pouco de tudo, eram os atos relativos à Fazenda que mais vezes
mandava os escribas materializarem, apesar de ser no domínio da Graça que o peso
relativo da sua intervenção mais se fazia sentir.

61
62
III. OS OFÍCIOS

Neste capítulo procurar-se-á caracterizar os ofícios cujos titulares eram


responsáveis pela redação de documentos da Chancelaria de D. Manuel I. Começar-se-
á por apresentar uma síntese dos aspetos teóricos que envolviam os ofícios no final da
Idade Média, refletindo-se de seguida sobre o seu enquadramento jurídico. Analisados
os requisitos gerais para o desempenho de cargos públicos, olhar-se-á sucessivamente
aos ofícios dos domínios da Chancelaria e da Justiça, da Fazenda, da Defesa e da Caça
e da área da Física. Em relação a cada cargo, procurar-se-á confrontar o contexto
normativo com a realidade refletida pelos diplomas da Chancelaria redigidos pelos
respetivos titulares.

1. O conceito de ofício no final da Idade Média184

No final da Idade Média e na Época Moderna sobrepunham-se duas teorias,


contraditórias mas também complementares, sobre a natureza dos ofícios públicos: a
teoria feudal e a teoria do cargo público como uma função.
Segundo os princípios feudais, o exercício de funções públicas era uma das
obrigações dos vassalos régios que, em troca, recebiam terras. Na prática, o que
acontecia era que “o soberano concedia aos seus vassalos certas terras com a obrigação
de eles aí desempenharem as tarefas de administração pública”185. Esta conceção tinha
algumas implicações:

a) “a ideia de ofício anda estreitamente ligada à ideai de fidelidade pessoal”;


b) ou seja, “o ofício constitui também uma prova de confiança do soberano”;
c) o exercício de cargos públicos, por vezes, nobilita;
d) os ofícios são encarados como património dos oficiais, o que se reflete na
“venalidade, penhorabilidade e transmissibilidade dos ofícios por morte do
seu titular”186.

184
Este ponto sintetiza o que este respeito escreveu António Manuel Hespanha em: HESPANHA, 1982,
pp. 384-403.
185
HESPANHA, 1982, p. 386.
186
HESPANHA, 1982, pp. 386-388.

63
Em Portugal, apesar de a venda de ofícios ser teoricamente proibida, a natureza
patrimonial dos cargos públicos era significativa, tendo-se desenvolvido “um costume
doutrinal no sentido de os filhos terem direito aos ofícios dos pais”. Principalmente por
este motivo, esta conceção teórica dos cargos públicos era desfavorável ao poder régio,
sendo os reis obrigados a “transferir para oficiais de confiança pessoal (…) – e,
portanto, livremente substituíveis – as tarefas políticas sobre que queria[m] ter mais
domínio”187.
Convivia com a teoria feudal dos ofícios a ideia de que o desempenho de um
cargo público era uma função, que implicava “um conjunto de direitos e deveres
exercitáveis no interesse público”. São elementos desta conceção:

a) “a ideia de que cada cargo público está votado à realização de uma função, para
o que deve ser dotado de uma jurisdição própria e indisponível pelo soberano”;
b) a ideia de que o oficial deve ser particularmente competente para o desempenho
da missão que lhe é confiada;
c) a ideia de que o oficial pode ser responsabilizado perante a sociedade pelo
desempenho da sua missão;
d) a ideia de que cabia ao rei criar os ofícios e nomear os oficiais188.

As duas teorias enunciadas têm tudo para ser consideradas contraditórias: às


ideias de honra, fidelidade e patrimonialidade que caracterizam a primeira, opõem-se as
de função, competência e revocabilidade da segunda. Enquanto a primeira doutrina
aponta para uma “estrutura administrativa honorária e fixista”, a segunda aponta para
um caráter funcional e dinâmico da administração pública189. Apesar das contradições,
encontram-se elementos de ambas as teorias na forma como os cargos públicos eram
encarados por finais de Quatrocentos e inícios de Quinhentos. Segundo Luís Miguel
Duarte, “a evolução parece para apontar para um predomínio da conceção feudal, que
incorporaria alguns traços da conceção funcional”190.

187
HESPANHA, 1982, pp. 392-393.
188
HESPANHA, 1982, p. 394.
189
HESPANHA, 1982, p. 394.
190
DUARTE, 1999, p. 154.

64
2. Enquadramento jurídico dos ofícios públicos durante o reinado de D.
Manuel I191

Os ofícios públicos eram regulamentados através de leis. Durante o reinado de


D. Manuel I estiveram em vigor duas grandes coleções legislativas, as Ordenações
Afonsinas e as Ordenações Manuelinas. Para além disso, neste período foram
produzidos regimentos extravagantes de vários cargos. De seguida, serão apresentados
os aspetos gerais desta legislação.

2.1. As Ordenações Afonsinas

Apesar de terem antecedentes como as Ordenações de El-Rei D. Duarte, as


Ordenações Afonsinas foram a primeira coletânea oficial de leis portuguesas
promulgada enquanto tal. A sua elaboração, iniciada no reinado de D. João I, teve na
génese as reclamações de fidalgos e do povo em Cortes, que clamaram pela
sistematização das leis gerais em vigor. A execução do projeto esteve a cargo, num
primeiro momento, de João Mendes, Corregedor da Corte, que após falecer foi
substituído por Rui Fernandes, nomeado por D. Duarte. Concluída em julho de 1446, a
compilação foi submetida à revisão do próprio Rui Fernandes e de Lopo Vasques, Luís
Martins e Fernão Rodrigues. A sua aprovação terá acontecido no final desse ano ou no
início de 1447. A sua divulgação e efetiva entrada em vigor em todo o reino deve ter
sido demorada: terá ocorrido ao ritmo lento da elaboração e distribuição de cópias por
diversos pontos do território.
As Ordenações Afonsinas, sendo uma coletânea, tiveram como principais fontes
as leis vigentes (produzidas, essencialmente, a partir do reinado de D. Afonso III, apesar
de também terem sido incluídas algumas do tempo de D. Afonso II). Para além disso,
foram compilados: capítulos de Cortes; respostas a petições ou dúvidas; inquirições;
forais; costumes gerais e locais; um Tratado de processo; e textos de direito castelhano.
Em regra, a técnica legislativa das Ordenações Afonsinas foi a compilatória, o que
191
Este ponto baseia-se num artigo do Dicionário de História de Portugal e em três obras de história do
direito, complementadas pelas próprias fontes normativas e por outra bibliografia específica
oportunamente citada: CAETANO, 1981, pp. 529-551; COSTA, Mário Júlio de Almeida – “Ordenações”.
In SERRÃO, Joel (dir.) In SERRÃO, Joel (dir.) – Dicionário de História de Portugal. Vol. III. Porto:
Figueirinhas, 2006. pp. 441-446; COSTA, Mário Júlio de Almeida – História do Direito Português. 3ª
edição (8ª reimpressão). Coimbra: Almedina, 2007 b). pp. 271-288; SILVA, Nuno J. Espinosa Gomes da
– História do Direito Português. Fontes de Direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985. pp.
190-206.

65
significa que as fontes foram transcritas na íntegra. No entanto, no Livro I aplicou-se o
estilo decretório, “que consiste na formulação direta das normas sem referência às suas
eventuais fontes precedentes”192.
As Ordenações Afonsinas encontram-se divididas em cinco livros, e cada um
destes em títulos e em parágrafos193. O Livro I, o que mais interessa para este trabalho,
inclui os regimentos dos cargos públicos. Os quatro seguintes ocupam-se,
sucessivamente, de matérias político-constitucionais, do processo civil, do direito civil
substantivo e do direito e processo penal194. Apesar desta abrangência, as Ordenações
eram omissas em relação a certos aspetos. Nesses casos, dever-se-ia recorrer ao direito
romano e ao direito canónico, prevalecendo o romano, exceto nas situações em que do
seu cumprimento resultasse pecado.
As Ordenações Afonsinas são um marco fundamental na história do direito
português, na medida em que “constituem a síntese do trajeto que desde a fundação da
nacionalidade, ou, mais aceleradamente, a partir de Afonso III, afirmou e consolidou a
autonomia do sistema jurídico nacional no conjunto peninsular”195. Vigoraram até 1512,
quando foram substituídas pela primeira edição das Ordenações Manuelinas.

2.2. As Ordenações Manuelinas

Em 1999, Armando Luís de Carvalho Homem salientou a precocidade


portuguesa em termos de produção e compilação legal: “precoce no legislar dos nossos
reis, precoce nas primeiras tentativas de codificação, precoce no levar a bom termo de
uma primeira grande recolha de textos legais e precoce, finalmente, na substituição
plena dessa recolha, exatamente três quartos de século decorridos sobre a sua
conclusão”196.
Tinham passado 59 anos desde a conclusão das Ordenações Afonsinas quando,
em 1505, D. Manuel I encarregou Rui Boto, Rui da Grã e João Cotrim de procederem à

192
COSTA, 2007b), p. 277.
193
A divisão em parágrafos é da responsabilidade do editor do século XVIII. Cf. OA, p. XXVIII.
194
Cada um dos livros é analisado com algum detalhe em: DOMINGUES, José – As Ordenações
Afonsinas. Três Séculos de Direito Medieval [1211-1512]. Sintra: Zéfiro, 2008. pp. 242-444.
195
COSTA, 2007b), p. 278.
196
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Estado moderno e legislação régia: produção e compilação
legislativa em Portugal (séculos XIII-XV)”. In COELHO, Maria Helena da Cruz; HOMEM, Armando
Luís de Carvalho (coord.) – A Génese do Estado Moderno do Portugal Tardo-Medievo. Lisboa: UAL
Editora, 1999b). pp. 111-130, maxime p. 123.

66
reformulação das Ordenações197. São diversos os motivos que têm sido apontados para
a realização desta reforma: a insuficiente divulgação e colocação em prática por todo o
reino das Ordenações Afonsinas; a facilidade de difusão proporcionada pela invenção
da imprensa no final do século XV, que motivaria uma atualização do código vigente; a
vontade de D. Manuel ver o seu nome associado a um grande feito legislativo.
O processo de publicação das Ordenações Manuelinas foi atribulado. O que as
histórias do direito nos dizem é que em 1512 foi publicado o seu primeiro livro, em
1513 o segundo, e em 1514 já existia uma edição integral. Durante muito tempo se
discutiu se foi apenas em 1514 que surgiu uma edição completa destas Ordenações, ou
se poderiam ter sido publicados em anos anteriores mais volumes para além dos dois
primeiros. Recentemente a dúvida foi desfeita por João José Alves Dias, que publicou a
primeira edição integral das Ordenações Manuelinas, impressa por Valentim Fernandes
em 1512-1513, cujo único exemplar quase completo se encontra na Biblioteca Nacional
Central de Roma198.
Ainda mais recentemente, coube ao mesmo historiador constatar que, ao
contrário do que se pensava, entre o primeiro sistema destas Ordenações e o de 1521,
que se julgava o segundo e definitivo, houve um outro produzido algures entre 1516 e
1520. Esta descoberta foi proporcionada por fragmentos desse segundo sistema,
claramente diferente do anterior e do posterior, encontrados a encadernar um livro de
Garcia de Resende depositado na Biblioteca Nacional199.
A versão definitiva das Ordenações Manuelinas, o seu terceiro sistema,foi
publicada em 1521. Uma carta régia de 15 de março desse ano determinou que todas as
versões anteriores do código deveriam ser destruídas num prazo de três meses, de modo
a evitar confusões. No mesmo prazo, os concelhos deveriam adquirir a nova legislação.
Porventura, a principal inovação das Ordenações Manuelinas reside na técnica
legislativa: à exceção da Lei Mental, de D. Duarte, as normas são apresentadas segundo
o estilo decretório, que na compilação anterior só existia no Livro I. A estrutura externa
das Ordenações manteve-se, com a divisão em cinco livros, em títulos e em parágrafos.

197
Nas Cortes de 1498 os povos foram informados de que se encontrava em curso uma compilação de
legislação. Não se tem a certeza, no entanto, se nessa data já estaria efetivamente a decorrer a elaboração
de novas Ordenações. Cf. DIAS, João José Alves – “Introdução”. In Ordenações Manuelinas: Livros I a
V: Reprodução em fac-símile da edição de Valentim Fernandes (Lisboa – 1512-1513). Livro Primeiro.
Introdução e descrição codicológica por João José Alves Dias. Lisboa: Centro de Estudos Históricos,
Universidade Nova de Lisboa, 2002. pp. VII-XL, maxime p. XIII.
198
Sobre a história desta descoberta, cf. DIAS, 2002, pp. XXXIII-XXXIV.
199
Cf. DIAS, João José Alves – As Ordenações Manuelinas 500 anos depois: os dois primeiros sistemas
(1512-1519). Lisboa: CEH/UNL, BNP, 2012.

67
No essencial, a temática de cada um dos volumes não mudou, tendo havido ajustes
pontuais nas respetivas matérias. Como é natural, as normas que já não se praticavam
foram expurgadas. Em sentido inverso, foi compilada parte da legislação que entretanto
se produzira. Em geral, verifica-se que com as Ordenações Manuelinas “não houve uma
transformação radical ou profunda do direito português”200.

2.3.Os regimentos extravagantes

A atividade legislativa de D. Manuel I foi abundante e nem toda se encontra


espelhada nas Ordenações a que deu nome. Ao longo do seu reinado foram publicados
diversos regimentos avulsos, de entre os quais se destacam: o dos Oficiais, Vilas e
Lugares do Reino (1504); o das Casas da Mina e da Índia (1509); o dos Contadores das
Comarcas (1514); o das Ordenações da Fazenda (1516); o das Sisas (1519) e o da Índia
(1520)201. Interessa particularmente a este trabalho a lei citada em antepenúltimo lugar,
na medida em que incluía o regimento dos Vedores da Fazenda.
A legislação extravagante foi compilada, no século XVIII, em várias coleções de
caráter particular202.

2.4. Das Afonsinas às Manuelinas: tradição e novidade na regulamentação de ofícios

Armando Luís de Carvalho Homem203 e Judite Gonçalves de Freitas204 já


publicaram trabalhos onde analisam as principais transformações nos regimentos dos
ofícios ocorridas entre a publicação das Ordenações Afonsinas e as primeira e terceira
versões das Ordenações Manuelinas. Um olhar comparativo ao primeiro volume de
cada uma das compilações permitiu alcançar as seguintes conclusões:

200
COSTA, 2007b), p. 284.
201
MAGALHÃES, Joaquim Romero – “D. Manuel I”. In MAGALHÃES, Joaquim Romero (coord.) – No
Alvorecer da Modernidade. Vol. 3 de História de Portugal, direção de José Mattoso. Lisboa: Editorial
Estampa, 1997b). pp. 443-449, maxime p. 446. Uma lista mais alargada pode ser consultada em: SUBTIL,
José – “Modernidades e arcaísmos do Estado de Quinhentos”. In COELHO, Maria Helena da Cruz;
HOMEM, Armando Luís de Carvalho (coord.) – A Génese do Estado Moderno do Portugal Tardo-
Medievo. Lisboa: UAL Editora, 1999. pp. 317-370, maxime pp. 344-355.
202
Cf. os principais títulos em SILVA, 1985, p. 227.
203
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Ofício régio e serviço ao rei em finais do século XV: norma
legal e prática institucional”. Revista da Faculdade de Letras. História. II série, n.º 14 (1997). pp. 123-
137.
204
FREITAS, Judite A. Gonçalves de – “Tradição legal, codificação e práticas institucionais: um relance
pelo poder régio no Portugal de Quatrocentos”. Revista da Faculdade de Letras. História. III série, n.º 7
(2006). pp. 51-67.

68
a) o número de ofícios relacionados com a produção de atos escritos é mais
elevado nas Ordenações Manuelinas (22 no primeiro sistema, 26 no terceiro) do
que nas Ordenações Afonsinas (12);
b) o crescimento do número de ofícios está relacionado com o desdobramento de
cargos já existentes, pelo que são pouco acentuadas as novidades neste domínio
do código manuelino; no entanto, é um facto que as Ordenações Manuelinas
refletem a complexificação da estrutura da administração do reino;
c) a estrutura orgânica da administração central continua a ultrapassar as
Ordenações, não se regulamentando ofícios como o de Escrivão da Puridade;
d) ao nível dos procedimentos administrativos relacionados com a execução das
tarefas associadas a cada um dos cargos, as Ordenações Manuelinas revelam a
preocupação de se aumentar a eficácia do despacho, através da poupança de
tempo em certos trâmites burocráticos205.

Verifica-se, em suma, que nas Ordenações Manuelinas há novidades


respeitantes à regulamentação dos ofícios da administração central que não são
suficientes, porém, para transformar radicalmente o quadro tradicional traçado na
compilação anterior. Mas este é o cenário teórico, legal, e sabe-se que, frequentemente,
durante a Idade Média, a correspondência entre a lei e a prática nem sempre era muito
direta. Nos pontos seguintes, ao analisar-se a configuração teórica de cada cargo e ao
confrontá-la com a realidade prática expressa pelas fontes, ter-se-á oportunidade de,
pelo menos em parte, aferir o peso da tradição e da novidade na estrutura orgânica da
administração do Venturoso.

3. Os ofícios da Chancelaria e da Justiça

Optou-se por não distinguir neste trabalho os „departamentos‟ da Chancelaria e


da Justiça. Na realidade, face à documentação analisada, os ofícios que se enquadrariam
em cada uma destas repartições da administração acabavam por ser comuns a ambas
(Chanceler-mor e Desembargadores). A notável diminuição do peso da Justiça no seio
dos diplomas arquivados na Chancelaria do Venturoso justifica a escassez de atos

205
FREITAS, 2006, pp. 54-55; HOMEM, 1997, p. 128-131.

69
redigidos por oficiais diretamente (e quase exclusivamente) responsáveis pela
administração Justiça, como sobrejuízes, ouvidores e outros magistrados.

3.1. O Chanceler-mor

O Chanceler-mor, segundo ofício da Casa da Suplicação, era visto pelas


Ordenações Afonsinas como um mediador entre o rei e os homens, da mesma forma que
o capelão se encontrava entre o monarca e Deus206. Tendo em conta a importância do
cargo, que advinha do facto de sobre ele pender “muita parte da Justiça”, o seu titular
devia ser um homem “de boa linhagem, e bom siso, discreto, e letrado, e vertuoso, de sã
vontade, boa conciencia e justo, e de gracioso e boo acolhimento aas partes”207. Devia
ser alguém com boa memória, para que conseguisse reconhecer as falhas nos
documentos que lhe passassem pelas mãos e não validasse atos contraditórios entre si.
Devia guardar os segredos da Justiça e ser um exemplo na prática dos bons costumes e
da autoridade. Naturalmente, devia amar o rei e o seu Estado, a bem dos seus vassalos e
do povo208.
A principal função do Chanceler-mor consistia na verificação de todas as cartas
que eram emitidas pelo rei (diretamente ou através dos seus oficiais). Competia-lhe
conferir se o seu conteúdo não era contrário às Ordenações, ao direito em geral ou aos
interesses do monarca, do povo ou do clero. Caso os atos estivessem em conformidade
com todos os pressupostos, o Chanceler-mor validá-los-ia através da aposição do selo.
O detentor deste cargo devia conhecer todas as suspeições que recaíssem sobre
outros oficiais da administração central e, salvo algumas exceções, julgá-los. Era
também tarefa do Chanceler assegurar a publicação das leis e a sua divulgação em todo
o reino através dos Corregedores das comarcas.
Competia ainda ao Chanceler-mor despachar vários tipos de cartas: apresentação
de clérigos a igrejas do padroado régio; cartas de nomeação de tabeliães; cartas de
provimento de diversos tipos de escrivães; cartas de nomeação de oficiais da Casa da
Suplicação e da Casa do Cível, após terem sido examinados; cartas relacionadas com o
Estudo Geral; cartas de esmoler; cartas de nomeação, por se assim é, de oficiais locais

206
OA, L. I, tít. II, p. 15.
207
OM1521, L. I, tít. II, p. 33. As mesmas características são apontadas nas Ordenações Afonsinas e no
primeiro sistema das Manuelinas. O código afonsino especifica ainda que o Chanceler-mor devia saber
ler e escrever bem, tanto em Latim como em língua vulgar. OA, L. I, tít. II, p. 16.
208
OM1521, L. I, tít. II, p. 33.

70
de todos os lugares e vilas do reino que não forem cidades ou vilas notáveis (Santarém,
Leiria, Olivença e Guimarães); treslados de ordenações e de todos os documentos
emitidos pelo rei. O Chanceler também era responsável por dar juramento a vários
oficiais régios209.
As Ordenações Manuelinas foram inovadoras ao determinar como se
processaria a substituição deste oficial em caso de impedimento temporário. Se, por
qualquer motivo, o Chanceler-mor não se encontrasse no mesmo local onde estava a
Casa da Suplicação, deveria deixar os seus selos aos Desembargadores das Petições ou
do Agravo, que executariam as suas tarefas. Caso a ausência do Chanceler fosse
minimamente prolongada (alguns dias), caberia ao monarca decidir que oficial ocuparia
interinamente esse cargo210.

180

160

140

120
Graça
100
Fazenda
80
Administração geral
60
Diversos
40

20

0
1496 1504 1512 1521

Gráfico 4 – Áreas de incidência governativa da documentação redigida pelos Chanceleres-mores

A análise da documentação redigida pelos Chanceleres-mores durante os quatro


anos estudados não contraria os preceitos normativos, pelo contrário. O titular desse
ofício ou os seus substitutos temporários foram responsáveis pela redação de cerca de
19,7% dos diplomas coligidos. Foi nos domínios da Fazenda e da Administração Geral
que a sua ação mais se desenvolveu, destacando-se as centenas de cartas de tabelião e de
provimentos de ofícios (normalmente relacionados com a escrita) despachadas por

209
OA, L. I, tít. II, pp. 17-23; OM1512-1513, L. I, tít. II, fls. VIIv-XIv; OM1521, L. I, tít. II, pp. 35-47.
210
OM1512-1513, L. I, tít. II, fl. XI; OM1521, L. I, tít. II, pp. 45-46.

71
quem ocupava este cargo. No campo da Graça, coube ao Chanceler-mor subscrever as
cartas de apresentação de clérigos a igrejas do padroado régio.
O ofício de Chanceler-mor foi ocupado por Rui Boto durante a maior parte do
reinado de D. Manuel I (até julho de 1520). A carreira deste letrado na administração
central foi bastante longa: iniciou-a durante o reinado do Africano, quando foi nomeado
Desembargador da Casa da Suplicação em 1476; quando o Príncipe Perfeito subiu ao
trono, era Terceiro dos Agravos, e já tinha sido Ouvidor da Suplicação; foi durante esse
reinado que se tornou Chanceler-mor, antes de abril de 1494. Foi conselheiro dos dois
últimos monarcas que serviu e distinguiu-se por ter sido um dos responsáveis pela
reforma dos forais e das Ordenações.
Rui Boto foi substituído por Rui da Grã em abril de 1520, mas o novo titular não
sobreviveu muito mais tempo do que o seu antecessor. Em abril de 1521 foi nomeado
um novo Chanceler-mor, João de Faria. Nos dois livros de 1521 que foram analisados
não se encontra qualquer ato subscrito por Rui da Grã ou João de Faria, pelo que estes
oficiais não integram o catálogo prosopográfico.
Interinamente, foram Chanceleres-mores durante os anos estudados: Martim
Pinheiro (1496 e 1504), João Cotrim (1504) e Diogo Taveira (1521).

3.2.Os Desembargadores

Na documentação analisada surgem como redatores de diplomas dois tipos de


Desembargadores: os do Paço e Petições e os dos Agravos211. A progressiva distinção
entre estes dois tipos de magistrados é patente à medida que vão sendo preparados
novos códigos legislativos: nas Ordenações Afonsinas há um título sobre os
Desembargadores do Paço212; no primeiro sistema das Ordenações Manuelinas o
terceiro título é dedicado aos “Desembargadores do Paaço que conhecem das petiçoões
e agravos em nossa casa da sopricaçã”213; na edição definitiva do código do Venturoso
há um título sobre os Desembargadores do Paço e outro sobre os Desembargadores do
Agravo214. Uma vez que no escatocolo dos atos coligidos estão presentes as duas

211
Não foram encontrados exemplos de Desembargadores «tout court», aqueles que são membros do
Desembargo mas não desempenham nenhum cargo específico. Sobre esses oficiais, cf. HOMEM, 1990,
pp. 133-136.
212
OA, L. I, tít. IV, pp. 26-37.
213
OM1512-1513, L. I, tít. IV, fl. XVIv-XX.
214
OM1521, L. I, títs. III-IV, pp. 48-64.

72
designações, e tendo em conta que, normalmente, a nomes diferentes correspondem
coisas diferentes215, optou-se por, de seguida, tratar os dois ofícios em separado.

3.2.1. Os Desembargadores do Paço [e das Petições216]

Segundo o sistema definitivo das Ordenações Manuelinas, cabia aos


Desembargadores do Paço, que atuavam normalmente aos pares, despachar petições do
domínio da Graça. Eram, juntamente com o monarca, responsáveis pelo desembargo
dos perdões. Para além disso, podiam passar diversos tipos de cartas: privilégios e
liberdades (desde que não colidissem com os direitos, rendas e tributos régios);
legitimações; restituições de fama; fintas; provimentos de ofícios de sesmarias;
confirmações de eleições de juízes ordinários e dos órfãos; emancipações, entre
outras217. Nas Ordenações Afonsinas e na primeira edição do código de D. Manuel
previa-se ainda que deliberassem sobre os agravos de sentenças que a eles chegassem,
no que seriam auxiliados pelo Terceiro dos Agravos218.

120

100

80
Graça
60 Justiça
Fazenda
40
Administração Geral

20

0
1496 1504 1512 1521

Gráfico 5 – Áreas de incidência governativa da documentação redigida pelos Desembargadores do Paço

215
Sobre isto, cf. as observações de Luís Miguel Duarte em: DUARTE, 1999b), p. 136.
216
São frequentemente designados desta forma na documentação.
217
OM1521, L. I, tít. III, pp. 48-54.
218
OA, L. I, tít. IV, pp. 26-27; OM1512-1513, L. I, tít. IV, fl. XVIv. O Terceiro dos Agravos intervinha
em duas situações: quando os dois Desembargadores não concordavam quanto à deliberação a tomar,
desempatando; quando os dois Desembargadores acordavam revogar a sentença elaborada pela instância
anterior, confirmando essa decisão ou recorrendo dela para o Regedor da Casa da Suplicação.

73
Os Desembargadores do Paço foram responsáveis pela redação de 347 dos
diplomas coligidos, o que corresponde a cerca de 11% do total. A sua intervenção foi
particularmente relevante no domínio da Justiça, tendo subscrito 113 cartas de perdão
em 1496. De resto, a sua atividade burocrática vai de encontro às prescrições
normativas sobre o ofício: estes magistrados intervêm sobretudo no âmbito da Graça,
sendo os principais redatores de cartas de legitimação, estalajadeiro, carreteiro, entre
outras, e intervindo também na preparação de diplomas conferentes de privilégios de
diversa índole.
Nos anos estudados, distinguiram-se quatro duplas de Desembargadores do
Paço: Fernão Rodrigues e Pero Vaz, em 1496; Gonçalo de Azevedo e Pero Vaz, em
1504; Diogo Pinheiro e Pero Vaz, em 1512; e Diogo Pinheiro e Pedro de Meneses, em
1521. Excetuando Gonçalo de Azevedo, todos estes magistrados eram clérigos.

3.2.2. Os Desembargadores do Agravo

Aos Desembargadores do Agravo competia deliberar sobre os agravos de


sentenças proferidas por certos magistrados (Corregedores da Corte, Ouvidores e
Sobrejuízes)219. Como já foi referido, esta prerrogativa estava associada aos
Desembargadores do Paço e ao Terceiro dos Agravos nas Ordenações Afonsinas e no
primeiro sistema das Ordenações Manuelinas, tendo sido alvo de tratamento individual
na coletânea legislativa de 1521.
A intervenção redatorial dos Desembargadores dos Agravos na documentação
coligida é diminuta: subscrevem apenas quatro cartas, todas datadas de março de 1496 e
registadas no Livro 26 da Chancelaria de D. Manuel I. Este facto não é propriamente
estranho, tendo em conta que a estes magistrados competia fundamentalmente proferir
sentenças, espécie documental de que não se encontrou qualquer exemplo nos oito
livros estudados. A dupla de oficiais deste tipo constituída por Aires de Almada e
Fernão da Mesquita foi responsável pela redação de duas cartas de perdão, uma carta de
estalajadeiro e um provimento de ofício, tarefas teoricamente associadas aos
Desembargadores do Paço.

219
Sobre as possibilidades de agravo de sentenças, cf.: OM1521, L. III, tít. LXXVII, pp. 284-292;
TESTOS, 2011, pp. 75-78. Existiam Desembargadores do Agravo da Casa da Suplicação e
Desembargadores do Agravo da Casa do Cível, que desempenhavam funções equivalentes em cada um
dos tribunais. Cf. OM1512-1513, L. I, tít. XXIV, fl. LIII-LIIIv; OM1521, L. I, tít. XXXI, pp. 214-215.

74
3.3. Os Corregedores da Corte

O ofício de Corregedor da Corte é um dos que se desdobra entre a promulgação


dos códigos afonsino e manuelino: o cargo unipessoal das Ordenações do Africano dá
origem aos ofícios de Corregedor da Corte dos feitos crimes e Corregedor da Corte dos
feitos cíveis na coletânea do Venturoso. Vamos por partes.
Tradicionalmente, competia ao Corregedor da Corte desempenhar as mesmas
funções dos Corregedores das comarcas nos locais onde se encontrasse o monarca ou a
Casa da Suplicação. As suas atribuições eram extensas, e já foram sintetizadas por
Armando Luís de Carvalho Homem220. As principais eram: julgar diversos tipos de
feitos (os que não exigiam abertura de um processo; os que eram promovidos por
viúvas, órfãos ou pessoas miseráveis que a ele recorriam; os que estavam relacionados
com jogos de azar, usura, excomunhões, etc.); fiscalizar contas de concelhos,
albergarias, hospitais e órfãos; determinar o conserto de bens de concelhos, órfãos,
hospitais e albergarias que se encontrassem danificados; verificar o estado dos castelos;
nomear Corregedores e Meirinhos de comarcas; emitir diversos tipos de cartas221.
Com o desdobramento dos ofícios, passou a caber ao Corregedor da Corte dos
feitos crimes o julgamento de todos os crimes que ocorressem no local onde se
encontrasse a Casa da Suplicação e no perímetro de cinco léguas que a envolvia222. Ao
Corregedor da Corte dos feitos cíveis cabia desempenhar as funções do Corregedor da
comarca igualmente na zona onde se encontrasse a Corte223.
A intervenção destes oficiais na subscrição de diplomas registados nos livros
analisados da Chancelaria régia foi bastante escassa. Martim Pinheiro, Corregedor dos
feitos crimes, subscreveu em 1496 e em 1504 uma carta de tabelião e duas cartas de
provimento de ofício. João Cotrim, Corregedor dos feitos cíveis foi responsável pela
redação de uma carta de doação de bens e direitos em 1504.

4. Os ofícios da Fazenda

Pelo final do século XV, a Fazenda já era a área de incidência governativa que
mais se destacava no âmbito da Chancelaria, colocando um ponto final na supremacia

220
Cf. HOMEM, 1990, p. 115.
221
OA, L. I, tít. V, pp. 37-57.
222
OM1512-1513, L. I, tít. V, fl. XX-XXIIIv; OM1521, L. I, tít. V, pp. 64-76.
223
OM1512-1513, L. I, tít. VI, fl. XXIIIv-XXIVv; OM1521, L. I, tít. VI, pp. 76-79.

75
da Justiça. O crescimento deste domínio, no entanto, não implicou a criação de novos
ofícios superiores: o essencial do despacho relacionado com esta matéria continuou nas
mãos dos Vedores da Fazenda.

4.1. Os Vedores da Fazenda

O ofício de Vedor da Fazenda foi regulamentado por três normas diferentes


durante a cronologia abarcada por este estudo: pelas Ordenações Afonsinas224, pelo
primeiro sistema das Ordenações Manuelinas225 e por um regimento avulso,
promulgado em 1516226. Vejamos caso a caso e acompanhemos a complexificação desta
legislação.
O código afonsino determina que a ação dos Vedores da Fazenda incidia
particularmente sobre três domínios: o do “arrendamento dos direitos régios e das
rendas do Reino”; o do “conhecimento dos feitos das sisas”; e o da redação de vários
tipos de cartas (contratos de exploração, doações, quitações, provimentos de ofícios que
não fossem da área da Justiça, etc.)227.
O regimento contido na primeira edição das Ordenações Manuelinas começa
por enumerar as características que idealmente teriam os homens que desempenhassem
estas funções: “honrados e de bõas e saãs cõsciencias”, deveriam ter muito cuidado ao
olhar por todas as coisas que pertencessem ao rei. E tinham de ser ricos, para que não se
deixassem corromper nem tivessem necessidade de executar funções que os desviassem
do serviço ao monarca. De seguida, são indicadas as principais tarefas associadas ao
cargo, que não diferem muito das disposições das Ordenações Afonsinas. No entanto, o
código manuelino é muito mais detalhado no que toca à descrição dos procedimentos
administrativos. A principal inovação reside na determinação de que os Vedores da
Fazenda elaborassem “huum livro de tombo de todalas rendas e dereitos que pertencem
aa coroa do regno”228.
O regimento dos Vedores da Fazenda de 1516 foi de tal modo importante que
este cargo nem seria regulamentado no terceiro sistema do código manuelino. Os
requisitos para o exercício da função continuavam a ser os mesmos: queria-se homens

224
OA, L. I, tít. III, pp. 23-25.
225
OM1512-1513, L.I, tít. III, fl. XIv-XVI.
226
Publicado em: Systema, vol. I, pp. 1-36.
227
OA, L. I, tít. III, pp. 23-25. Cf. a síntese deste articulado em HOMEM, 1990, p. 120.
228
OM1512-1513, L. I, tít. III, fl. XIv-XVI.

76
honrados, de boa consciência, práticos a despachar e abastados. Uma vez mais, as
competências atribuídas a estes oficiais não são grandemente alteradas. Cabia-lhes:
controlar a fazenda régia (bens e rendas); superintender um conjunto alargado de
oficiais; desembargar vários tipos de cartas (relacionadas com tenças, mantimentos,
ordenados, dívidas, impostos, rendimentos de propriedades, etc.); prover inúmeros
ofícios (juízes, escrivães e recebedores das sisas, requeredores, porteiros, sacadores,
etc.); exercer a função de juiz em casos de apelação relacionados com a Fazenda. Uma
vez mais, neste documento é salientada a necessidade de ser elaborado um tombo de
todas as propriedades e direitos régios, que deveria ser concretizado pelos Contadores
das comarcas sob a orientação dos Vedores da Fazenda. Quando à complexificação dos
procedimentos administrativos, continua a aumentar, como Maria Leonor García da
Cruz teve oportunidade de demonstrar229.
Em 1520, D. Manuel emitiu um documento com extremo interesse para o
conhecimento do funcionamento da administração da Fazenda: a distribuição dos
negócios que competiriam a cada um dos Vedores230. Em linhas gerais, ficamos a saber
que ao Conde de Vimioso cabia tratar dos negócios do Oriente; o Barão de Alvito
tratava das matérias da mesa da fazenda régia, do mestrado da Ordem de Cristo, das
ilhas atlânticas e da costa ocidental africana; finalmente, Pedro de Castro era
responsável por fazer anotar e fiscalizar todas as rendas régias.

250

200

150
Graça

100 Fazenda
Administração Geral
50

0
1496 1504 1512 1521

Gráfico 6 – Áreas de incidência governativa da documentação redigida pelos Vedores da Fazenda

229
Cf. a síntese do regimento que esta autora publicou em: CRUZ, Maria Leonor García da – A
Governação de D. João III: a Fazenda Real e os seus Vedores. Lisboa: Centro de História da
Universidade de Lisboa, 2001. Maxime pp. 55-74.
230
Publicado em CRUZ, 2001, pp. 212-214.

77
Os Vedores da Fazenda foram responsáveis pela redação de 563 dos documentos
analisados, o que corresponde a cerca de 18% do total. Como é natural, a esmagadora
maioria da intervenção burocrática destes oficiais aconteceu no domínio da Fazenda,
sendo residual a sua participação na subscrição de atos enquadráveis no âmbito da
Graça régia ou da Administração Geral. Os principais tipos de cartas que passaram pelas
mãos destes oficiais são: contratos de exploração; doações de bens e direitos; e
provimentos de ofícios.
O leque de Vedores da Fazenda de D. Manuel não foi muito alargado: em 1496,
a tripla era constituída por Diogo Lobo, Diogo da Silva de Meneses (que era
simultaneamente Escrivão da Puridade) e Martinho de Castelo Branco; em 1504, Pedro
de Castro já tinha ocupado o lugar do antigo aio do Venturoso; em 1521, o cargo de
Martinho de Castelo Branco pertencia a Francisco de Portugal (que lho havia
comprado)231. No primeiro ano estudado, regista-se um caso de interinidade no
exercício desta função: Álvaro de Castro, Vedor do Príncipe Perfeito que entretanto
fora nomeado Governador da Casa do Cível, desempenha tarefas no domínio da
Fazenda por especial mandado durante todo o ano. Estes indivíduos faziam parte das
figuras mais destacadas da sociedade política manuelina.

4.2. O Almotacé-mor

O Almotacé-mor era um oficial que acompanhava sempre o monarca e o seu


séquito na sua itinerância. A sua principal função era garantir o abastecimento da Corte
de vinho, carne, peixe, pão e outros mantimentos. Para além disso, no espaço onde
exercia a sua jurisdição (o local onde se encontrava a Corte e o perímetro de cinco
léguas que a rodeava), competia-lhe: conceder privilégios de isenção de direitos de
circulação a quem contribuísse para o abastecimento real; fazer cumprir posturas sobre
esterqueiras, canos, chafarizes, fontes e poços; controlar a atividade dos almotacés;
fiscalizar os preços, os pesos e o tamanho do pão nos mercados e açougues; garantir a

231
Como se constata através do gráfico, não houve qualquer Vedor da Fazenda a intervir na
documentação exarada de 1512, o que se explica pela natureza do único livro de registos desse ano que se
preservou.

78
limpeza dos locais onde passaria o rei; mandar arranjar caminhos, calçadas e pontes por
onde o monarca circulasse232.
Limita-se à redação de uma carta a intervenção burocrática do Almotacé-mor
nos livros que foram estudados: em 1512, Nuno Manuel concedeu um privilégio a um
carniceiro da Corte.

4.3.O Vedor-mor das obras, terças e resíduos

O ofício de Vedor-mor das obras remonta ao reinado de D. João I. Segundo


Miguel Soromenho, este cargo tinha uma “projeção pouco mais do que honorífica”,
limitando-se a ação do seu titular à “manutenção dos paços reais”233. É verosímil, no
entanto, que não fosse tanto assim. Durante o século XV, existiram vedores das obras de
cidades e de comarcas. Nuns casos (por exemplo, o do Porto) esses oficiais eram
nomeados pelo concelho, noutros (como Braga no período de jurisdição régia) pelo
rei234. Era ao Vedor-mor das obras que competia o provimento desses cargos. Para além
disso, como já deu conta Saul Gomes, cabia a este oficial a gestão e fiscalização das
obras públicas em geral235.
A participação do Vedor-mor das obras, Nuno Martins da Silveira, na subscrição
de documentos da Chancelaria régia nos anos em apreço é escassa. Limita-se a 11
cartas, emitidas em 1504 e em 1521, todas englobáveis no domínio da Fazenda: dois
contratos de exploração e nove provimentos de ofício (todos de vedores ou escrivães
das obras).

5. Os ofícios da Defesa e da Caça

Num dos capítulos anteriores, já se teve oportunidade de verificar que a Defesa


tem um peso importante no âmbito da documentação analisada. No entanto, pelo facto

232
OM1512-1513, L. I, tít. XII, fl. XXXI-XXXVIv; OM1521, L. I, tít. XV, pp. 113-134; TORRES, Ruy
d‟Abreu – “Almotacé”. In SERRÃO, Joel (dir.) – Dicionário de História de Portugal. Vol. I. Porto:
Figueirinhas, 2006. p. 121.
233
SOROMENHO, Miguel – “A administração da arquitetura: o Provedor das Obras Reais em Portugal
no século XVI e na 1ª metade do século XVII”. Anuario del Departamento de Historia y Teoría del Arte
(U.A.M.). Vols. IX-X (1997-1998). pp. 197-209, maxime p. 197.
234
MELO, Arnaldo Sousa; RIBEIRO, Maria do Carmo – “Os construtores das cidades: Braga e Porto
(séculos XIV a XVI)”. In MELO, Arnaldo Sousa; RIBEIRO, Maria do Carmo – História da Construção.
Os Construtores. Braga: CITCEM, 2011. pp. 99-127, maxime p. 109.
235
GOMES, Saul António – D. Afonso V. O Africano. Lisboa: Círculo de Leitores, 2006. p. 121.

79
de muitas cartas enquadráveis nesse domínio serem ementas de subscrição régia, a
participação dos oficiais da Milícia na burocracia não é tão significativa como se
poderia supor.

5.1. Os Anadéis-mores

O ofício de Anadel-mor foi regulamentado pelas Ordenações Afonsinas. Num


dos raros exemplos de normas redigidas em estilo compilatório do Livro I deste código,
determina-se que a este oficial competia, fundamentalmente, o apuramento, o
provimento e a concessão de privilégios a diferentes tipos de besteiros (do monte, do
cavalo, da câmara).
Apesar do regimento deste ofício não se encontrar em nenhum dos sistemas das
Ordenações Manuelinas, na documentação analisada aparecem como redatores
Anadéis-mores: dos besteiros do monte (Diogo Álvares; Garcia de Melo); dos besteiros
do conto (Diogo de Mendonça); dos besteiros da câmara (Diogo Álvares, interinamente;
Rui Gil Magro); dos espingardeiros (João da Nova).

100
90
80
70
60
Graça
50
40 Fazenda
30 Administração Geral
20
10
0
1496 1504 1512 1521

Gráfico 7 – Áreas de incidência governativa da documentação redigida pelos Anadéis-mores

A intervenção burocrática destes oficiais não chega a abranger os 6% da


documentação compulsada. Como é evidente, a esmagadora maioria dos atos subscritos
pelos Anadéis-mores são privilégios de natureza militar, que se enquadram no âmbito
da Administração Geral. Para além disso, estes funcionários foram responsáveis pelo
desembargo de algumas cartas de aposentação, intervindo dessa forma no domínio da
Graça.
80
5.2.O Coudel-mor

Ao Coudel-mor, ofício regulamentado pelas Ordenações Afonsinas, cabia


fundamentalmente prover os coudéis (responsáveis por grupos de cavaleiros) e os
escrivães da coudelaria236.
Os atos subscritos por Francisco da Silveira, Coudel-mor, pelo menos, entre
1490 e 1530, confirmam as disposições normativas: este oficial foi responsável pela
redação de 17 provimentos de ofício e duas cartas de aposentação de indivíduos
integrados na esfera da coudelaria.

5.3. O Monteiro-mor

O Monteiro-mor era um oficial cujas atribuições se enquadravam no domínio da


caça. Competia-lhe nomear os monteiros das comarcas, das câmaras e do monte e
fiscalizar o exercício das suas funções, podendo também aposentá-los. Para além disso,
era responsável pela cobrança de multas pela invasão das matas régias237.

4
Graça
3
Fazenda
2

0
1496 1504 1512 1521

Gráfico 8 – Áreas de incidência governativa da documentação redigida pelos Monteiros-mores

Como facilmente se depreende através da análise do gráfico, a participação dos


Monteiros-mores na burocracia manuelina não era muito significativa em termos

236
OA, L. I, tít. LXXI, pp. 473-520; DURÃO, 2001, vol. I, p. 104.
237
OA, L. I, tít. LXVII, pp. 398-405; COSTA, Mário Alberto Nunes – “O Arquivo da Montaria-Mor do
Reino (1583-1833). Inventário preliminar”. Revista Portuguesa de História. Tomo XI (1964). pp. 151-
176, maxime p. 152. HENRIQUES, 2001, vol. I, p. 136.

81
quantitativos, mas era constante. Álvaro de Lima (1496), João de Lima (1504, 1512) e
Luís de Meneses (1521) intervieram na redação de cartas de provimento de ofício (de
monteiros locais) e de aposentação (também, naturalmente, de monteiros).

6. Os ofícios da área da Física

Em estudos anteriores sobre Chancelarias régias, a análise dos cargos de Físico-


mor e Cirurgião-mor tem sido remetida para rubricas com títulos semelhantes a “Ofícios
de intervenção residual”238. Neste trabalho, optou-se por uma designação mais concreta,
“ofícios da área da Física”, por dois motivos: porque a sua intervenção na redação de
diplomas em nome do Venturoso, não atingindo valores extraordinários, acaba por não
ser assim tão residual239; porque, apesar de não se poder considerar a Física
propriamente um „departamento‟ da administração central, não deixa de constituir uma
área de incidência governativa, enquadrável no âmbito da Administração Geral, dotada
de oficiais próprios que tinham competências burocráticas próprias.

6.1. O Físico-mor

O ofício de Físico-mor, ao que tudo indica, costumava ser regulamentado no


momento da nomeação titular240. O regimento passado a Diogo Lopes em fevereiro de
1521 determinava que lhe competia: examinar, através de provas teóricas e práticas,
todos os físicos que exercessem no reino (só eram dispensados de apresentação a
exames os licenciados ou doutores pelo Estudo Geral de Lisboa); emitir cartas de físico;
emitir licenças para que “curandeiros” (sem formação, mas com experiência) pudessem
curar em localidades onde não houvesse físicos; validar, através de exames, as
competências de físicos estrangeiros que viessem para Portugal; examinar boticários;
visitar boticas e fiscalizar as mezinhas que lá se encontrassem; exercer a jurisdição de
execução de penas a quem praticasse a Medicina sem cumprir os pressupostos
normativos241.

238
Cf., por exemplo, HENRIQUES, 2001, vol. I, p. 139.
239
É muito mais residual, por exemplo, a intervenção do Almotacé-mor na burocracia.
240
Aconteceu assim com Diogo Lopes, em 1521. Na sua carta de provimento diz-se que o seu antecessor,
Mestre Afonso, também havia tido um regimento próprio, ligeiramente diferente. Cf. CUP, vol. XII, p.
39.
241
CUP, vol. XII, pp. 39-44.

82
Nos registos consultados da Chancelaria do Venturoso só se encontra um tipo de
carta cuja redação era responsabilidade do Físico-mor, a carta de físico. Os Mestres
Afonso, António de Lucena e Rodrigo de Lucena, para além do Doutor Diogo Lopes,
subscreveram 21 atos deste género em 1496, 1504 e 1521.

6.2. O Cirurgião-mor

Não tendo sido encontrada qualquer prescrição normativa sobre o exercício do


ofício de Cirurgião-mor, resta caracterizá-lo tendo em conta os reflexos da sua ação na
atividade burocrática.
Ao que tudo indica, as funções deste oficial seriam em tudo semelhantes às do
Físico-mor: procederia ao exame dos cirurgiões e competir-lhe-ia emitir a carta que
confirmasse a sua aptidão para o exercício da profissão de cirurgião242.
A atividade burocrática dos Cirurgiões-mores era mais intensa do que a dos
Físicos-mores. Em 1496, 1504 e 1521, Mestre Gil I e Mestre Gil II emitiram 38 cartas
de cirurgia.

7. Balanço

A análise das normas que enformam os ofícios dos redatores de documentos da


Chancelaria de D. Manuel I243, associadaao seu confronto com a prática institucional
evidenciada pela atividade burocrática desses indivíduos, permitiu constatar que:

a) Descontando o desdobramento da Corregedoria da Corte em feitos cíveis e


crimes, não há ofícios novos na administração do Venturoso;
b) O Chanceler-mor, os Vedores da Fazenda e os Desembargadores do Paço são os
principais redatores de atos régios;
c) Não se encontra qualquer sinal de, durante o reinado de D. Manuel I, ter existido
um Vice-Chanceler, ofício nunca regulamentado mas com algum peso nas
Chancelarias de monarcas anteriores;

242
A carta de cirurgia, como já se disse num capítulo anterior, podia unicamente habilitar o examinado à
prática da cura de determinadas doenças.
243
Apenas não foi analisado o ofício de Provedor-mor da Rendição dos Cativos, devido à sua parca
intervenção burocrática e à ausência de prescrições normativas e de bibliografia sobre este cargo. Registe-
se, ainda assim, que o seu titular em 1504, Diogo Ortiz de Vilhegas, subscreveu uma carta de provimento
de ofício.

83
d) O ofício de Escrivão da Puridade, no que toca à produção burocrática registada
na Chancelaria, eclipsou-se244;
e) No domínio da Justiça, diminui o leque de magistrados com expressão no
despacho de atos da Chancelaria;
f) Na Fazenda, não havendo novidades no que à criação de novos ofícios diz
respeito, assiste-se à complexificação das funções dos Vedores.

Estes dados permitem corroborar ideias avançadas por Armando Luís de


Carvalho Homem em 1997, na sequência da análise do Livro I do terceiro sistema das
Ordenações Manuelinas:

a) Neste reinado não há “novidades acentuadas” no que toca à criação de


ofícios;
b) Continua em curso o empobrecimento tipológico dos atos que são registados
na Chancelaria régia; os documentos enquadráveis no domínio da Justiça
acabam por desaparecer, “por força da multiplicação, entretanto registada,
das instâncias de registo régias”;
c) No que toca aos “trâmites da burocracia”, nomeadamente no campo da
Fazenda, parece ter havido inovações, apesar de apenas um exame mais
aturado da documentação permitir confirmar as consequências práticas dos
novos procedimentos administrativos245.

244
Em 1496, houve atos redigidos por Diogo da Silva de Meneses que, para além de Vedor da Fazenda,
era Escrivão da Puridade. A natureza dos documentos, no entanto, leva a crer que a intervenção do Conde
de Portalegre na burocracia se devia apenas à sua condição de Vedor da Fazenda.
245
HOMEM, 1997, pp. 128-131.

84
IV. OS OFICIAIS246

Les progrès de l’État, à la fin du Moyen Âge, on fait naître un nouveau groupe social, qui sert la
chose publique et ce sert d’elle.
Bernard Guenée247

O objetivo deste capítulo é caracterizar sociologicamente a população de oficiais


redatores da Chancelaria de D. Manuel I em 1496, 1504, 1512 e 1521. A análise que se
segue baseia-se na sistematização e interpretação dos dados coligidos no catálogo
prosopográfico que acompanha esta dissertação e, como tal, segue as suas linhas gerais:
olhar-se-á, sucessivamente, à inserção geográfica, à inserção social, ao nível económico,
ao nível cultural e às carreiras destes indivíduos.
A população estudada é constituída por 38 por homens. Desses, 19 encontram-se
no escatocolo dos diplomas emitidos em 1496, 15 nos de 1504, nove nos de 1512 e 11
nos de 1521. Nenhum destes oficiais subscreve documentos nos quatro anos analisados:
a maioria, 26, só nos surge nos livros relativos a um ano; oito aparecem em atos de dois
anos e quatro em textos emitidos em três anos distintos. Segundo foi possível apurar, os
“recordistas de longevidade” nesta Chancelaria foram Diogo Lobo e Pedro de Castro,
ambos Vedores da Fazenda, cuja atividade burocrática, documentada para 1496, 1504 e
1521, revela que serviram o Venturoso ao mais alto nível ao longo de todo o seu
reinado.
Teoricamente, aos oficiais da administração central aplicavam-se determinadas
normas: não podiam ter menos do que 25 anos; não podiam vender ou transmitir os seus
cargos sem autorização do rei; não podiam renunciar ao ofício em caso de doença; não
podiam renunciar ou transmitir o cargo caso tivessem cometido erros que pudessem
implicar a sua perda; tinham obrigatoriamente de desempenhar as tarefas associadas ao
ofício, não podendo nomear alguém para servir por si; tinham de ser casados ou de casar
no prazo máximo de um ano após terem sido nomeados (se enviuvassem, tinham o

246
Este capítulo baseia-se, essencialmente, nas informações coligidas no catálogo prosopográfico. Optou-
se, para evitar sobrecarregar as próximas páginas com notas com informações que se podem achar noutro
lado, por não indicar aqui as fontes e/ou a bibliografia que fundamentam cada dado mencionado sobre os
indivíduos estudados. Remete-se essa fundamentação para as respetivas entradas do catálogo
prosopográfico.
247
GUENÉE, 1981, p. 284.

85
mesmo tempo para voltar a casar, a não ser que tivessem mais de 40 anos)248. Nas
páginas que se seguem, a análise dos elementos biográficos dos 38 oficiais estudados
permitirá confrontar este cenário teórico com a realidade prática da vida destes
elementos da sociedade política.

1. Inserção geográfica

Não abundam os dados sobre a inserção geográfica dos redatores da


Chancelariade D. Manuel. Se conhecemos um número relativamente significativo de
viagens efetuadas por estes indivíduos (18) e se conseguimos ter uma ideia da
localidade ou área de origem de alguns outros (12), são manifestamente escassas as
informações sobre os locais de domicílio e de sepultura destes homens. Apenas a
análise da distribuição geográfica das suas clientelas e do seu património fundiário nos
permite, com uma maior grau de probabilidade, indicar quais eram as regiões do reino
onde esta elite se encontrava mais implantada. Vamos por partes.

1.1. Origens, domicílios, implantação patrimonial

Olhando aos dados sobre os locais de origem dos redatores249, verifica-se que o
Sul do reino é a região mais representativa. Entre os indivíduos nascidos em Portugal,
apenas um era natural de uma cidade localizada a norte do Tejo: trata-se de Afonso
Anes, oriundo de Viseu. Se, para além deste, excetuarmos Aires de Almada e Mestre
Gil II, que devem ter nascido em Lisboa250, constata-se que todos os outros eram,
provavelmente, originários do Alentejo251 e do Algarve252. Havia três estrangeiros entre
os oficiais que serviram o Venturosonos anos em apreço, todos castelhanos: Diogo Ortiz
de Vilhegas, natural de Calçadilha, em Leão, João da Nova, que era galego, e Rodrigo
de Lucena.

248
OM1521, L. I, títs. LXXIII-LXXIV, pp. 552-556.
249
Como já foi dito, só foram encontradas informações enquadráveis neste item relativas a 12 dos
indivíduos estudados.
250
Ou, pelo menos, na sua diocese.
251
A cidade e a região de Évora assumem preponderância entre os locais de origem dos redatores naturais
do Alentejo. Tanto quanto se sabe, Francisco de Portugal, Nuno Martins da Silveira e Rui Boto devem ter
nascido por lá.
252
Neste caso, apenas Garcia de Melo, cuja família se encontrava solidamente implantada em ambas as
regiões.

86
As informações concretas sobre o local de domicílio destes homens são
bastantes escassas. É verosímil que vários deles acompanhassem D. Manuel na sua
(cada vez menor) itinerância; que outros, por serem lentes do Estudo Geral, passassem
pelo menos uma parte importante do seu ano em Lisboa; e que alguns se instalassem
frequentemente nos domínios de que eram senhores. Uma vez mais, o Sul e, em
concreto, o Alentejo, parecem ser os espaços privilegiados de implantação destes
indivíduos. Sabe-se, por exemplo, que quando o Conde de Vimioso, Francisco de
Portugal, após cerca de cinco décadas na Corte, se decidiu retirar da vida pública,
depois de um curto período em Belém, optou por residir em Évora.
A distribuição do património fundiário destes indivíduos253 permite detetar duas
zonas principais de implantação:

a) A primeira localiza-se na região da serra da Estrela e acompanha cerca de


metade do curso do Mondego, contando com algumas reminiscências no
espaço entre este rio e o Vouga;
b) A segunda, a que enquadra mais propriedades, estende-se sensivelmente
entre o curso do rio Tejo e o do Guadiana, abrangendo o Ribatejo e o Alto
Alentejo.

Comparando com os atuais distritos, poder-se-ia dizer que as unidades


patrimoniais dos oficiais redatores da Chancelaria de D. Manuel I se localizavam
essencialmente em Évora, Portalegre, Lisboa, Santarém e Guarda. Ou seja, as zonas do
reino que se encontrariam mais “livres”, se se tiver em conta que as ordens militares
conservavam grande parte dos territórios do Baixo Alentejo, que nobres como o Duque
de Bragança e o Marquês de Vila Real eram grandes proprietários no Norte e que os
monarcas detinham bastantes concelhos e reguengos.
A implantação territorial das redes clientelares destes indivíduos era muito
menos concentrada254, abrangendo regiões tão diversificadas como: o Minho; o Porto; a
Beira Alta e a serra da Estrela; o litoral da Estremadura; Lisboa; o Alto Alentejo; e o
Algarve. Ainda assim, assumiam particular destaque as zonas raianas do Alentejo e da
Beira e uma faixa da Beira Alta que se estende do litoral à fronteira, abrangendo a serra
da Estrela e uma grande parte do atual distrito da Guarda.

253
Cf., no final deste capítulo,os mapas 1 e 2.
254
Cf., no final deste capítulo, o mapa 3.

87
Não é líquido que a implantação patrimonial e a distribuição das clientelas
revelem a origem geográfica dos homens estudados neste trabalho. De qualquer forma,
isso nem é o mais importante. O mais significativo é que estes dados permitem perceber
em que regiões do reino é que a influência destes indivíduos (por serem senhores, meros
proprietários ou por controlarem oficiais locais) mais se fazia sentir: Beira Alta255,
Ribatejo e Alto Alentejo.

1.2. Viagens

Vários estudos desenvolvidos nas últimas décadas demonstram que o homem


medieval viajou bastante mais do que se poderia supor, tendo em conta o cariz
eminentemente rural da sociedade da Idade Média256. Apesar disso, as viagens, nesta
altura, “significavam mais ou menos longas ruturas com as práticas e os valores do
quotidiano familiar e social”, estando-lhes normalmente associadas motivações
religiosas e/ou comerciais257.
As deslocações ao estrangeiro realizadas pelos oficiais estudados da Chancelaria
de D. Manuel I confirmam estas ideias. Entre os 38 indivíduos que integram o catálogo
prosopográfico, sabe-se que pelo menos 11 (cerca de 29% do total) realizaram 18
viagens. Vejamos caso a caso, em função dos destinos.

Destino Número de viagens


Aragão e Castela 11
França 1
Inglaterra 3
Jerusalém 1
Roma 1
Sabóia 1
Total de viagens 18
Quadro 31 – Destinos das viagens realizadas pelos oficiais da CDM258

255
O destaque assumido por esta regiãopode justificar-se pelo facto de entre os clérigos do Desembargo
se encontrarem um bispo de Viseu, um bispo da Guarda e um deão de Coimbra.
256
Sobre este assunto e sobre a historiografia a que deu origem, cf. LOPES, Paulo – “Os livros de viagens
medievais”. Medievalista. N.º 2 (2006). [Consultado em 17/06/2013]. Disponível em:
http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA2/medievalista-viagens.htm#_ftn1. Atente-
se, particularmente, às obras citadas na nota 1.
257
LOPES, 2006.
258
Não se incluem aqui as participações destes oficiais em campanha militares no Norte de África ou na
Índia.

88
Mais de 50% das viagens realizadas teve como destino os reinos de Castela ou
Aragão. A maior parte dos oficiais que se deslocaram na Península Ibérica fê-lo
acompanhando o Venturoso em duas viagens: em 1498, entre abril e outubro, D.
Manuel circulou pelos domínios ibéricos dos Reis Católicos (e com ele foram Diogo da
Silva de Meneses, Francisco de Portugal, Nuno Manuel e Pero Vaz); no final de 1502, o
monarca foi em peregrinação a Santiago de Compostela (acompanhado por Diogo Lobo,
Nuno Manuel e Pero Vaz). Em missão diplomática, passaram por Castela Aires de
Almada (em 1493-1494, participando nas negociações do Tratado de Tordesilhas),
Diogo Lobo (em 1506, representando o rei numa embaixada enviada à Corunha) e
Diogo da Silva de Meneses (em 1496, participando na negociação do casamento do
Venturoso).
Aires de Almada dirigiu-se a Inglaterra em 1488, em representação de D. João II
num pleito judicial. Através de uma carta de quitação sabe-se, ainda, que Diogo
Pinheiro e Garcia de Melo, em 1497, viajaram pela Grã-Bretanha, presumivelmente,
também, em missão diplomática.
Há quatro destinos mais escassamente representados: Álvaro de Castro passou,
em peregrinação, por Roma e Jerusalém; Martinho de Castelo Branco acompanhou D.
Afonso V a França, em 1476-1477, e capitaneou a frota que levou a infanta D. Beatriz a
Sabóia em 1521.
Em síntese, um número significativo de oficiais da Chancelaria de D. Manuel I,
em momentos distintos das suas vidas e carreiras, deslocou-se por diferentes espaços da
Cristandade ocidental, normalmente acompanhando os monarcas em viagens ao
estrangeiro ou desempenhando missões diplomáticas.

2. Inserção social

Procurar-se-á neste ponto enquadrar os oficiais redatores da Chancelaria de D.


Manuel I na sociedade do seu tempo. Num primeiro momento, olhar-se-á à sua inserção
em três grupos sociais (nobres, letrados e clérigos) que, como se verá, correspondem
cada vez mais a designações pouco precisas, uma vez que não eram, de todo, estanques.
De seguida, analisar-se-ão sucessivamente as famílias destes homens, as suas clientelas
e as suas ligações ao(s) monarca(s).

89
2.1. Nobres, letrados e clérigos

Olhando ao enquadramento social dos redatores da Chancelaria do Venturoso


distinguem-se, à primeira vista, três grupos: o dos nobres, o dos letrados e o dos
clérigos. Estas categorias, apesar da sua operatividade, são redutoras e correspondem a
uma simplificação excessiva da realidade, uma vez que os clérigos e alguns nobres
também eram letrados, certos letrados tornaram-se nobres, havia clérigos (e, portanto,
letrados) que eram nobres… Tendo noção disto, analisar-se-á a constituição e o peso de
cada um dos grupos, anotando-se as suas particularidades e os casos que extravasam
esta classificação.

Nobres Letrados Clérigos


N.º de Peso N.º de Peso N.º de Peso
indivíduos relativo indivíduos relativo indivíduos relativo
18 47,37% 16 42,11% 4 10,53%
Quadro 32 – Nobres, letrados e clérigos na CDM 259

2.1.1. Nobres

No período estudado, pelo menos 18 elementos da aristocracia desempenharam


funções que os levaram a redigir documentos da Chancelaria de D. Manuel I, o que
corresponde a praticamente metade do total. Se se tiver em conta os homens letrados
que foram nobilitados no decurso da sua carreira, verifica-se que a maioria dos altos
servidores da burocracia do Venturoso foram, pelo menos a partir de determinado
momento da sua vida, nobres.
Mas há nobres e nobres, como já se teve oportunidade de dar conta no capítulo
sobre a tipologia dos documentos, ao falar sobre as cartas de concessão de título e

259
Nos casos em que um indivíduo se enquadrava em mais do que uma categoria, a classificação foi feita
segundo estes critérios:
1. Quando um homem era letrado e nobre ao mesmo tempo, foi classificado como letrado quando
o(s) ofício(s) que exerceu era(m) normalmente atribuído(s) a indivíduos qualificados (é o caso
dos Desembargadores, por exemplo).
2. Nas mesmas circunstâncias, foi classificado como letrado o indivíduo qualificado que, no
decurso da sua carreira, foi nobilitado.
3. Os indivíduos que eram simultaneamente clérigos e letrados foram classificados como clérigos
quando as suas funções eclesiásticas eram, normalmente, referidas no escatocolo dos
documentos que redigiam.

90
privilégios de natureza nobiliárquica. Entre os servidores desta Chancelaria encontra-se
um pouco de tudo: titulares, fidalgos da Casa Real e cavaleiros.
Foram identificados quatro nobres titulares entre os redatores de diplomas
manuelinos: Diogo Lobo, Barão de Alvito; Diogo da Silva de Meneses, Conde de
Portalegre; Francisco de Portugal, Conde de Vimioso; e Martinho de Castelo Branco,
Conde de Vila Nova de Portimão. À exceção de Diogo Lobo, que herdou o baronato de
Alvito da mãe, todos os outros indivíduos viram os respetivos títulos serem criados
durante o reinado do Venturoso260. Daí se depreende que o serviço ao rei,
particularmente para a nobreza, poderia ser bastante compensador261, como também se
verificará quando se analisar a evolução do património e dos rendimentos destes
indivíduos.
Já se disse que o conceito de fidalgo, para esta época, é ambíguo, tanto “podendo
depender da linhagem [como da] matrícula nos livros del-rei”, sendo frequentes os
casos em que “as duas filiações coincidiam”262. Entre os redatores da Chancelaria de D.
Manuel I encontram-se 12 fidalgos da Casa Real. A origem de cada um deles e o
momento em que se tornaram nobres é difícil de identificar. Ainda assim, sabe-se que
pelo menos três tinham antecedentes familiares muito próximos que integravam a
aristocracia titular: Álvaro de Castro era sobrinho do primeiro Conde de Monsanto;
Álvaro de Lima era filho do primeiro Conde de Vila Nova de Cerveira; Luís de
Meneses era filho do primeiro Conde de Tarouca.
Pedro de Castro, Vedor da Fazenda, pelo menos, entre 1482 e 1529, era
cavaleiro do Conselho, tendo, já no reinado de D. João III, sido agraciado com o título
de Conde de Monsanto. João Cotrim e Rui Gil Magro eram cavaleiros da Casa Real,
indivíduos que, independentemente da sua ascendência, eram fidalgos e transmitiam
esse estatuto aos seus descendentes263.

260
Sobre a criação de títulos durante a segunda dinastia cf. OLIVEIRA, Luís Filipe; RODRIGUES,
Miguel Jasmins – “Um processo de reestruturação do domínio social da Nobreza. A titulação na segunda
dinastia”. Revista de História Económica e Social. N.º 22 (1988). pp. 77-114. Na biografia de D. Manuel
I encontram-se três quadros que apresentam de forma clara a evolução da nobreza titular ao longo do
reinado do Venturoso. COSTA, 2007, pp. 392-396.
261
A importância do exercício de funções administrativas para a ascensão social de um burocrata foi
estudada em: CAETANO, Pedro Nuno Pereira – A Burocracia Régia como Veículo para a Titulação
Nobiliárquica. O caso do Dr. João Fernandes da Silveira. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP.
Porto: 2011.
262
PEREIRA, 1998, p. 299.
263
PEREIRA, 1998, p. 299.

91
Que ofícios eram detidos pelos nobres do Desembargo264? O de maior destaque
é, sem dúvida, o de Vedor da Fazenda, cujos seis titulares incluídos no catálogo
prosopográfico integravam a aristocracia. De resto, os nobres exerciam normalmente
funções relacionadas com as armas ou a caça (correspondentes aos ofícios de Anadel-
mor dos besteiros ou dos espingardeiros, Coudel-mor e Monteiro-mor). Registam-se
ainda os casos de Nuno Manuel e Nuno Martins da Silveira que foram, respetivamente,
Almotacé-mor e Vedor-mor das obras. Os ofícios cuja natureza mais administrativa
habitualmente implicava uma formação específica dos seus titulares (v.g. Chanceler-
mor, diferentes tipos de Desembargadores, etc.), não estavam tão associados à nobreza.
João Cotrim, cavaleiro da Casa Real que foi Desembargador, Corregedor, e chegou a
exercer interinamente o cargo de Chanceler-mor, constitui uma exceção.

2.1.2. Letrados

Os letrados eram indivíduos cuja formação superior265 tornava particularmente


aptos para o desempenho de determinadas funções no Desembargo. Os seus graus
académicos variavam (havia Licenciados, Mestres e Doutores) e os domínios das suas
formações eram essencialmente dois: as Leis e a Medicina.
A bipartição no âmbito das áreas de estudo dos letrados reflete-se no tipo de
ofícios de que eram titulares, destacando-se dois grupos: o dos que haviam estudado
Direito e que desenvolviam as suas carreiras exercendo funções de cariz eminentemente
administrativo e judicial (Chanceleres, Corregedores, Desembargadores), de longe o
maior; e o dos que, sendo especialistas em Medicina, eram Físicos ou Cirurgiões-mores.
Detetam-se no catálogo prosopográfico oito indivíduos que, sendo letrados,
integravam simultaneamente a aristocracia. Entre esses, alguns foram nobres devido ao
seu enquadramento familiar266, enquanto outros foram elevados ao grupo da nobreza no
decurso da sua carreira267.

264
Sobre os ofícios, a sua evolução e as funções que lhes estavam associadas, cf. o capítulo anterior.
265
A formação superior dos membros do Desembargo é analisada mais à frente, no ponto “Nível
cultural”, pelo que aqui se farão apenas referências muito sumárias.
266
São os casos de: António de Lucena, cavaleiro da Casa Real, cujo pai detinha o mesmo estatuto; Pedro
de Meneses, que se sabe que era nobre e filho de nobres; Rui Boto, que em 1465 era escudeiro da Casa
Real e cujo pai, Martim Esteves Boto, havia sido feito cavaleiro por D. Afonso V.
267
São, claramente, os casos de: Diogo Lopes, Físico-mor que foi feito fidalgo por D. João III em 1538; e
Mestre Gil II, que recebeu carta de brasão de armas de D. Manuel I.
Não foi possível apurar se os restantes letrados também identificados como nobres (Fernão da Mesquita,
cavaleiro-fidalgo; João Cotrim e Rodrigo de Lucena, ambos cavaleiros da Casa Real) ascenderam à
nobreza durante a sua carreira ou detiveram essa condição devido ao seu enquadramento familiar.

92
2.1.3. Clérigos

Já iam longe, no reinado de D. Manuel I, os tempos em que o peso, pelo menos


quantitativo, dos membros do clero no Desembargo era muito significativo268. Nos
quatro anos analisados da Chancelaria do Venturoso executam tarefas redatoriais quatro
clérigos seculares: Diogo Pinheiro, que foi bispo do Funchal; Diogo Ortiz de Vilhegas,
que foi bispo de Tânger, Ceuta e Viseu; Fernão Rodrigues, que foi deão de Coimbra; e
Pero Vaz, que foi bispo da Guarda269.
À exceção de Diogo Vilhegas270, estes indivíduos eram doutorados e integravam
a administração enquanto Desembargadores do Agravo ou do Paço e das Petições.

2.2. As famílias

Apesar da relativa abundância de informação sobre as famílias dos 38 servidores


de D. Manuel I abordados no catálogo prosopográfico, a amostra não deixa de ser
exígua e desequilibrada para que se teçam conclusões sobre estruturas familiares no
final da Idade Média271. Tem muito pouco significado dizer aqui que, tanto quanto se
sabe, pelo menos 21 destes homens eram casados272 e tinham, em média, 4,85 filhos,
mas fica dito. De resto, os objetivos deste ponto são tão-só apontar as principais
famílias que integravam o Desembargo273 e dar conta de ligações de parentesco no seio
da administração.
Comece-se, então, por referir os redatores de diplomas manuelinos que mais se
destacavam pela sua posição na hierarquia da sociedade e por enquadrar os seus
familiares (antecedentes e descendentes) no seio da administração.
Diogo Lobo, que em 1499 se tornou Barão da Alvito, foi Vedor da Fazenda
entre 1496 e 1525. Não foi o primeiro elemento da sua família a deter tal ofício, nem

268
Cf. HOMEM, 1990, pp. 176-179.
269
A carreira eclesiástica destes indivíduos não se cinge ao exercício das funções episcopais assinaladas,
sendo apresentada com maior detalhe no catálogo prosopográfico.
270
Não foram encontrados dados sobre a formação académica deste prelado, sendo certo que estaria
muito longe de ser parca, como bem demonstram as obras escritas que nos legou e as funções que
exerceu, principalmente, ao serviço de D. João II (cf. a respetiva entrada no catálogo prosopográfico).
271
Nem é esse, de todo, um dos objetivos deste trabalho.
272
Sendo que quatro casaram duas vezes.
273
Nesta qualificação de “principais famílias” enquadram-se dois tipos de famílias: aquelas que se
destacavam no seio da sociedade da época pela sua proximidade face à realeza (nobreza titular); e aquelas
que, por terem mais do que um membro no Desembargo, de gerações diferentes ou não, se encontravam
solidamente implantadas no seio da administração.

93
seria o último. O seu pai, João Fernandes da Silveira, havia sido Vedor da Fazenda e
Escrivão da Puridade de D. João II, enquanto o seu filho Rodrigo Lobo, para além do
título, herdaria do pai a função na administração. Diogo Lobo era ainda genro de Nuno
Martins da Silveira, Vedor-mor das obras do Venturoso.
Diogo da Silva de Meneses foi, a partir de 1498, o primeiro Conde de Portalegre.
Antes disso, havia desempenhado o importante papel de aio de D. Manuel durante
grande parte da sua juventude. Sem antecedentes familiares conhecidos pelo exercício
de funções privadas ou administrativas junto de monarcas, o panorama altera-se se
olharmos à sua descendência: João da Silva, segundo Conde de Portalegre, foi
Mordomo-mor de D. João III; D. Miguel, que para além de bispo de Viseu alcançaria a
dignidade cardinalícia, foi Escrivão da Puridade do Piedoso.
O primeiro Conde de Vimioso foi Francisco de Portugal, Vedor da Fazenda de
D. Manuel e primo do rei. Entre os seus filhos, destacaram-se Afonso de Portugal, que
exerceu o mesmo ofício que o pai, e Manuel de Portugal, que foi embaixador em
Castela.
Martinho de Castelo Branco foi Vedor da Fazenda de D. João II e D. Manuel I e
era oriundo de uma família com importância no Desembargo de D. Afonso V, uma vez
que o seu pai, Gonçalo Vasques de Castelo Branco, havia sido Almotacé-mor e Vedor
da Fazenda do Africano. Um dos seus filhos, Afonso, foi Meirinho-mor de D. João III.
Para além das casas titulares, destacavam-se no Desembargo algumas famílias
cuja integração na administração não era esporádica, na medida em que mais do que um
dos seus elementos, simultaneamente ou em alturas distintas, acabou por desempenhar
tarefas no âmbito da burocracia régia. São os seguintes os casos mencionados no
catálogo prosopográfico:

a) Mestre Afonso, que foi Físico-mor, teve um filho, Cristóvão da Costa, que foi
Desembargador;
b) O Licenciado Aires de Almada, que entre outros ofícios foi Desembargador dos
Agravos, teve um filho, João de Almada, que foi Desembargador da Casa da
Suplicação;
c) Álvaro de Castro, Vedor da Fazenda, foi sucedido no cargo pelo filho Fernando
de Castro;
d) Álvaro de Lima, Monteiro-mor, foi sucedido no ofício pelo filho João de Lima;

94
e) António de Lucena, Físico-mor, provavelmente, era filho do Mestre Rodrigo de
Lucena, a quem sucedeu no cargo; Diogo de Lucena, seu presumível irmão, foi
Desembargador da Casa da Suplicação;
f) Diogo Pinheiro, Desembargador dos Agravos, era irmão de Martim Pinheiro,
que foi Desembargador da Casa da Suplicação e Corregedor da Corte; o seu
filho Rui Gomes Pinheiro também foi Desembargador da Casa da Suplicação;
g) Diogo Taveira, que foi Corregedor e Chanceler-mor interino, teve um filho,
André Taveira, que foi Desembargador da Casa da Suplicação;
h) Francisco da Silveira, Coudel-mor, sucedeu ao pai nesse ofício; era sobrinho de
Diogo da Silveira, que foi Escrivão da Puridade de Afonso V, e primo de Nuno
Martins da Silveira, que foi Vedor-mor das obras;
i) Mestre Gil I, Cirurgião-mor, foi sucedido no cargo pelo filho Diogo de Faria;
j) Luís de Meneses, Monteiro-mor, foi sucedido no ofício pelo filho D. João de
Meneses;
k) Nuno Martins da Silveira era filho do já referido Diogo da Silveira, a quem
sucedeu como Escrivão da Puridade e Vedor-mor das obras; a partir de 1481
passou a exercer apenas o segundo cargo, que transmitiu aos filhos Luís e Simão
da Silveira;
l) Rui Boto, Chanceler-mor, teve um filho, Jorge Machado, que foi
Desembargador da Casa da Suplicação.

Os dados enunciados demonstram que durante o reinado de D. Manuel I (e os


imediatamente anteriores e seguinte) houve um conjunto importante de ofícios da
administração central que esteve concentrado nas mãos de um número não muito
alargado de famílias. Este fenómeno pode ser explicado pela proximidade de certos
indivíduos ao monarca (isso é mais patente entre os burocratas que integravam a
nobreza titular, sendo o caso de Diogo da Silva de Meneses o de maior realce), pela
tradição familiar (é claramente esse o caso dos cargos ligados ao exercício da Medicina,
em que mais do que uma vez ao Físico ou ao Cirurgião-mor sucede um filho), e pela
patrimonialização (em alguns casos real e concreta274; seria noutros apenas tácita?) e
consequente hereditariedade de certos ofícios.

274
Por exemplo, foi reconhecido a Francisco de Portugal o privilégio de o seu filho lhe suceder nos seus
ofícios.

95
2.3. Clientelas

Encontram-se nos livros da Chancelaria inúmeras referências a indivíduos que,


enquanto destinatários de uma carta (normalmente de provimento de ofício ou de
concessão de algum tipo de privilégio), são identificados, de alguma forma
(habitualmente enquanto “criados de” ou “escudeiros de”), como dependentes dos
servidores do Desembargo do Venturoso. Com diz Joaquim Romero Magalhães, “Os
poderosos são centros de distribuição de poder e riqueza”275. Neste ponto, procurar-se-á
anotar os servidores da administração de D. Manuel cujas redes clientelares mais se
destacavam (pela dimensão), identificar os laços de dependência entre grandes e clientes
e referir que benefícios é que estes obtinham em virtude da sua ligação a alguém
próximo do monarca. Esses dados encontram-se sintetizados no seguinte quadro:

Laços de dependência Total Mercês concedidas


Oficial de Provimentos
Criados Escudeiros Outros Privilégios Doações Outros
clientes de ofícios
Álvaro
1 1 1
Fernandes
Álvaro de
1 1 1
Lima
Diogo
5 10 1277 16 17 1 1278
Lobo276
Diogo
1 3 4 4
Mendonça
Diogo
5 6 11 12 1279
Pinheiro
Diogo
1 6 7 6 1280
Vilhegas
Fernão
2 2 2
Mesquita

275
MAGALHÃES, Joaquim Romero – “A sociedade”. In MAGALHÃES, Joaquim Romero (coord.) – No
Alvorecer da Modernidade. Vol. 3 de História de Portugal, direção de José Mattoso. Lisboa: Editorial
Estampa, 1997c). pp. 399-433, maxime p. 420.
276
A discrepância entre o número de clientes e o número de mercês concedidas deve-se ao facto de haver
situações em que o mesmo indivíduo foi beneficiado mais do que uma vez.
277
Trata-se de um colaço.
278
Trata-se de uma carta de perdão.
279
Trata-se da administração de uma capela.
280
Trata-se da administração de uma capela.

96
Laços de dependência Total Mercês concedidas
Oficial de Provimentos
Criados Escudeiros Outros Privilégios Doações Outros
clientes de ofícios
Fernão
1 1 1
Rodrigues
Francisco
3 1281 4 1 3
Portugal
Garcia de
2 2 1 1282
Melo
Gonçalo
2 2 2 1283
Azevedo
João de
1 1 1
Lima
Martim
5 5 4 1284
Pinheiro
Martinho
3 3 3
C. Branco
Nuno
2 1285 3 1 2
Manuel
Nuno M.
3 4 7 8 1
Silveira
Pedro de
4 6 10 10286
Castro

Pero Vaz 2 17 19 17 1 1 1287

Rui Boto 11 10 21 22 1

Total 53 64 3 120 114 6 4 6

Quadro 33 – Clientelas dos oficiais da CDM

Analisando o quadro, destacam-se as dimensões das clientelas de Diogo Lobo


(16 elementos), Pero Vaz (19) e Rui Boto (21). Somadas, representam cerca de 47% do
total de indivíduos dependentes dos redatores da Chancelaria do Venturoso. À primeira

281
Trata-se de um capelão.
282
Trata-se de uma carta de perdão.
283
Trata-se da administração de uma capela.
284
Neste caso, não se trata de uma mercê, antes da mera referência numa carta de perdão.
285
Trata-se de um amo.
286
Um dos casos trata-se da substituição num ofício, e não de um provimento.
287
Neste caso, não se trata de uma mercê, antes da mera citação num documento.

97
vista, não deixa de causar alguma estranheza que, se excetuarmos o caso do Barão de
Alvito, as clientelas dos nobres titulares não sejam particularmente alargadas.
Provavelmente, seriam muito mais significativas do que este quadro deixa transparecer,
mas não terão deixado tanto rasto nos registos da Chancelaria, fonte de informação
privilegiada para a reunião destes dados.
Diogo Lobo, Pero Vaz e Rui Boto são, então, os oficiais régios com maior
número de dependentes. Um Vedor da Fazenda, um Desembargador do Paço e das
Petições e um Chanceler-mor, todos com carreiras longas no Desembargo: cerca de 29,
23 e 44 anos, respetivamente. Faz sentido, portanto, que se destaquem entre os demais:
a permanência, durante tão longos períodos, no exercício de funções que implicavam
uma grande proximidade face ao monarca, ter-lhes-á permitido, por um lado,
desenvolver redes importantes de dependentes e, por outro, obter para esses indivíduos
que lhes estavam ligados ofícios, privilégios e doações.
Mas de que formas se revestiam os laços que existiam entre os membros da
administração central e os homens que deles dependiam? Eram essencialmente duas: os
clientes ou eram criados (44% do total), ou eram escudeiros (53%) do indivíduo ao qual
estavam ligados. Cada um dos conceitos merece ser explicado.
A noção de criado deste período e deste contexto tem pouco a ver com aquilo
que hoje associamos a esse termo. Eram “criados” os membros de determinada casa,
“indivíduos de condição muito diversificada” que dependiam de um determinado
senhor, “sem que este facto implique uma condição jurídica específica”. Uma das
principais características desta relação é a sua durabilidade: “uma vez estabelecida, esta
é uma ligação perdurável, para não dizer quase indissolúvel, apesar de o convívio e
proteção material que a materializam se terem eventualmente interrompido”288. É uma
prova disso a circunstância de na Chancelaria de D. Manuel I se encontrarem exemplos
de indivíduos que, ao serem nomeados para exercerem algum ofício ou ao serem de
alguma forma privilegiados, em momentos distintos (e por vezes até algo distantes) das
suas vidas, são sempre referidos como dependentes de fulano.
Os escudeiros também eram elementos da criação de um determinado senhor.
No entanto, o seu estatuto era distinto. Disso mesmo davam conta as Ordenações
Manuelinas, ao determinarem que nenhuma “de todas as sobreditas pessoas [entre

288
GOMES, Rita Costa – A Corte dos Reis de Portugal no Final da Idade Média. Lisboa: Difel, 1995. pp.
180-181. A autora reflete sobre este conceito ao analisar as relações entre os monarcas e os seus criados
no final da Idade Média. Tudo leva a crer as mesmas características se aplicassem aos laços de
dependência entre outros senhores e os seus criados.

98
outras, oficiais régios] nom dará Carta d‟Escudeiro a outras alguas pessoas, saluo a
aquelles que criarem, e verdadeiramente tirarem por Escudeiros, trazendo-os a caualo
em sua casa”289. O estatuto jurídico destes homens era equivalente ao dos escudeiros de
criação régia290.
A esmagadora maioria das mercês concedidas a dependentes dos oficiais do
Desembargo manuelino consistia em cartas de provimento de ofício (cerca de 88%). Os
cargos para os quais estes homens eram designados eram normalmente de natureza
administrativa e burocrática e exercidos em concelhos, notando-se a existência de
relações entre os ofícios detidos pelos senhores e os que seriam ocupados pelos
membros da sua criação291. Só estudos mais aprofundados o poderão confirmar, mas
fica a ideia de que uma parte muito significativa dos oficiais da administração régia
periférica seria recrutada entre as clientelas dos servidores da administração central
mais próximos do monarca.
Ainda que em menor número, os clientes dos grandes senhores do Desembargo
do Venturoso também eram agraciados com privilégios de natureza diversa (destacam-
se as cartas de cavaleiro), recebiam doações, eram designados para a administração de
capelas e obtinham cartas de perdão.
Como já se referiu, a implantação territorial das clientelas abrangia a
generalidade do território continental do reino e tinha reminiscências nos arquipélagos
dos Açores e da Madeira292. A região com maior densidade de clientes destes indivíduos
era a Beira Alta (entre Vouga e Mondego e zona da serra da Estrela). Pela negativa, o
Baixo Alentejo, espaço privilegiado de implantação das ordens militares, era a área
onde estes laços de dependência tinham menos expressão.

289
OM1521, L. II, tít. XXXVI, pp. 135-136.
290
OM1521, L. I, tít. XLIV, pp. 303-304.
291
Ou seja, por exemplo, criados ou escudeiros do Monteiro-mor eram nomeados monteiros e criados e
escudeiros do Chanceler-mor eram nomeados tabeliães ou escrivães.
292
O que se compreende, tendo em conta que os clientes destes oficiais eram nomeados para o
desempenho de cargos ao serviço do rei que abrangiam a generalidade do território nacional. Cf. mapa 3.

99
2.4. As ligações aos reis293

Estudar as ligações aos reis de um grupo dos seus oficiais é algo que tem um
cariz um pouco subjetivo. La Palice diria que se todos estes homens redigiam diplomas
em nome do Príncipe Perfeito ou do Venturoso era porque, obviamente, lhes estavam
de alguma forma ligados. No entanto, o que se pretende neste ponto é descortinar um
pouco mais da relação entre o monarca e os seus servidores, procurando identificar, para
além do mero vínculo formal, manifestações de maior proximidade em relação a certos
indivíduos. Proximidade a que nível? Pessoal? Política? Profissional? Provavelmente,
um pouco das três, que tais esferas, em muitas circunstâncias, são difíceis de
delimitar…
A morte de um homem, e particularmente de um rei, pode ser um momento
importante para que se iluminem certos aspetos da sua vida. Nessa medida, poderá
contribuir para o objetivo deste ponto anotar, de entre os membros do Desembargo, os
indivíduos que estavam junto de D. João II e de D. Manuel I na altura dos seus óbitos,
os que foram seus testamenteiros ou testemunhas dos seus testamentos e os que foram
indicados para integrarem uma eventual regência.

293
“Reis” surge aqui no plural porque, apesar de a maior parte dos dados reunidos dizer respeito ao
reinado de D. Manuel I, também foram anotadas as ligações dos oficiais estudados a D. João II e, em
menor medida, a D. Afonso V e a D. João III.

100
Enquadramento face às mortes de D. João II (X) e de D. Manuel I (O)
Presente no
Oficial Testemunha do Nomeado para
Testamenteiro momento da
testamento regência
morte
Álvaro
X X X X
Castro
Diogo
O O XO
Lobo
Diogo
X X
Vilhegas
Fernão
X
Rodrigues
Francisco
O O
Portugal
Martinho
O O O
C. Branco
Nuno
O
Manuel
Pedro
X
Castro
Rodrigo
X294
Lucena
Quadro 34 – Enquadramento de oficiais da CDMfaces às mortes de D. João II e D. Manuel I

A análise do quadro permite constatar que existia um núcleo restrito de oficiais


do Desembargo a quem era atribuído um papel importante nos testamentos dos
monarcas. Para o caso de D. Manuel, destacam-se Diogo Lobo, Francisco de Portugal e
Martinho de Castelo Branco. Os três eram nobres titulares e, para além de terem sido
nomeados para a regência do reino caso o Venturoso falecesse antes de o seu herdeiro
completar 20 anos de idade, estavam próximos do rei no momento da sua morte (tal
como Nuno Manuel). Acrescente-se a isso o facto de o primeiro e o terceiro terem sido
nomeados responsáveis pela execução das últimas vontades do soberano. Estes aspetos
são indicadores, acima de tudo, da grande confiança política que D. Manuel depositava
nestes indivíduos, não deixando de indiciar, contudo, uma proximidade entre estes
homens e o rei que, provavelmente, seria também pessoal.

294
Rodrigo de Lucena encontrava-se junto de D. João II nos seus momentos finais enquadrado no grupo
de físicos que o procuravam curar.

101
As crónicas e a bibliografia dão conta de outras situações reveladoras de
ligações particulares entre o Venturoso e alguns dos oficiais da sua administração.
Destacam-se dois casos.
Diogo da Silva de Meneses foi aio de D. Manuel enquanto este era Duque de
Beja. Segundo Damião de Góis, doutrinou-o “com muito cuidado e amor”295. A
proximidade ao monarca valeu-lhe várias doações, para além do exercício dos ofícios de
Escrivão da Puridade, Mordomo-mor e Vedor da Fazenda. Em 1498 foi nomeado
primeiro Conde de Portalegre. A sua estreita ligação ao Venturoso também terá
determinado que fosse um dos padrinhos do futuro D. João III.
Nuno Manuel era filho de um bispo de Évora e de Justa Rodrigues, que foi ama
de D. Manuel. Foi, portanto, colaço do futuro monarca, com quem deve ter convivido
de forma muito próxima durante a infância. A ligação entre ambos manteve-se durante o
reinado do Venturoso, tendo Nuno Manuel recebido várias doações e privilégios e
exercido os cargos de Almotacé-mor e Guarda-mor.
Um estudo aprofundado sobre as relações entre os monarcas e os seus oficiais
teria de passar, necessariamente, pela análise detalhada e comparativa da evolução da
inserção social e do nível económico destes homens296. Os dados que foram avançados
sobre a menção a membros do Desembargo nos testamentos régios e sobre ligações
particulares entre alguns desses indivíduos e os reis permitem verificar que entre os
servidores dos monarcas havia um núcleo de elementos mais restrito a quem eram
confiadas determinadas tarefas importantes, como a execução de disposições
testamentárias e o governo do reino em períodos de regência. Esses oficiais,
normalmente, eram nobres titulares, tendo alcançado tal estatuto em virtude de uma
relação próxima com o soberano. O mais difícil de descortinar, como já foi dito, é a
natureza destas ligações, sendo eviente que implicariam, certamente, uma grande dose
de confiança política, para além de, provavelmente, uma empatia pessoal que só em
poucos casos é possível assegurar.

2.5. O poder compensa? (I)

Os dados avançados sobre a inserção social dos 38 oficiais estudados da


Chancelaria de D. Manuel I já permitem avançar com o esboço de uma primeira

295
CrDG, vol. I, pp. 34-35.
296
Aspetos analisados noutros pontos deste trabalho.

102
resposta à questão formulada em epígrafe. E a resposta é clara: sim, o poder compensa.
Como já foi demonstrado, o enleamento destes homens nas teias da administração
permitiu a alguns deles:

1. O acesso a títulos nobiliárquicos;


2. A continuação, o reforço ou o desenvolvimento de laços familiares no seio
do Desembargo; o mesmo é dizer que algumas famílias controlavam
determinados ofícios ou tinham capacidade para distribuir vários dos seus
membros por diferentes esferas da administração;
3. O desenvolvimento de redes clientelares, algumas de considerável dimensão,
e a obtenção de ofícios, doações e privilégios para os dependentes dos
oficiais régios;
4. O estabelecimento de relações privilegiadas com o rei.

Apesar do que foi dito, ressalve-se que o papel destes indivíduos na


administraçãonão terá sido a única causa dos quatro aspetos agora anunciados. Em
relação alguns deles, poderá até ter sido uma consequência297.

3. Nível económico

O objetivo deste ponto é aferir e avaliar o nível económico dos 38 burocratas da


administração do Venturoso que foram estudados. Nesse sentido, serão analisados o seu
património fundiário e os seus rendimentos e remunerações.

3.1. Património298

No final do século XV, “a terra já não era tudo”, mas “permanecia garante de
riqueza, poder e preeminência social”299. Consultando o catálogo prosopográfico,
facilmente se verifica que os oficiais de D. Manuel I possuíram uma quantidade
significativa de bens patrimoniais. De seguida, procurar-se-á perceber: 1) que tipos de

297
Por exemplo: na maioria dos casos, é difícil determinar se um indivíduo tinha uma relação muito
próxima com o rei por exercer um ofício importante na administração, ou se, pelo contrário, a sua
presença no Desembargo era a consequência de uma ligação particularmente próxima ao monarca.
298
Este ponto fundamenta-se nos dados sistematizados nos mapas 1 e 2.
299
RODRIGUES, 1998, p. 83.

103
propriedades se encontravam nas mãos destes indivíduos; 2) de que forma é que essas
unidades patrimoniais foram adquiridas; 3) onde se localizavam estes bens.
A maioria das unidades patrimoniais detidas pelos servidores de D. Manuel I
tratava-se de senhorios, ou seja, territórios onde estes indivíduos exerciam o poder
senhorial. Localizados principalmente na zona da serra da Estrela, entre o Vouga e o
Mondego, no Ribatejo e no Alto Alentejo, os senhorios iam parar às mãos destes
homens, essencialmente, através de duas formas: ou eram herdados ou eram doados
pelo rei. Os direitos exercidos sobre cada território, assim como os rendimentos
proporcionados, podiam ser extremamente variados300.
Em muito menor número do que os senhorios, entre as principais unidades
patrimoniais dos oficiais do Venturoso seguiam-se as casas e as propriedades urbanas.
Como é natural, localizavam-se em três dos principais centros urbanos do reino: Lisboa,
Santarém e Évora. A doação régia também era a principal forma de aquisição deste tipo
de propriedade, registando-se ainda alguns casos de compra e de aforamento. Ao
contrário do que acontecia com os senhorios e com a generalidade do património rural,
“ser proprietário de casas na cidade podia não trazer grandes rendimentos, uma vez que
(…) os foros eram geralmente muito baixos”301.
Alguns dos burocratas de D. Manuel também detinham propriedades rurais
como quintãs, herdades e outros tipos de terrenos. Normalmente doadas pelo monarca,
estas unidades patrimoniais localizavam-se sobretudo no Ribatejo e no Alto Alentejo.
Finalmente, encontravam-se nas mãos de servidores do Venturoso três comendas
de Ordens Militares: Santa Maria do Carvoeiro, Arraiolos e Castro Marim.
Em síntese: estes homens possuíam diversos tipos de propriedades, concentradas
essencialmente em três regiões do reino (Beira Alta, Ribatejo e Alto Alentejo), que lhes
eram normalmente doadas pelos monarcas. Fonte de riqueza e de prestígio, a origem da
posse deste património contribuía para reforçar os laços de dependência entre os reis e
os seus oficiais. Os mais notáveis proprietários eram: Diogo Lobo, Diogo da Silva de
Meneses, Francisco de Portugal, Martinho Castelo Branco, Nuno Manuel, Nuno
Martins da Silveira e Pedro de Castro.

300
Sobre isto, cf. RODRIGUES, 1998, pp. 109-114.
301
DUARTE, 1998, p. 129.

104
3.2. Rendimentos

É extremamente difícil sistematizar os dados relativos aos rendimentos de cada


oficial representado no catálogo prosopográfico. A informação, ainda que relativamente
abundante, é bastante desequilibrada e, em relação a certos aspetos, lacunar. Umas
vezes, sabemos que a determinado homem foram atribuídas, em momentos diferentes, x
tenças, mas raramente conseguimos determinar se umas substituíram outras ou se
estavam todas em vigor ao mesmo tempo. Outras vezes, temos conhecimento de que
numa dada altura um indivíduo recebeu certo valor relativo a um rendimento em
concreto, mas não sabemos se tal quantia era relativa a um mês, a um quartel ou a um
ano. Também são abundantes os casos em que sabemos que alguém recebia
determinadas rendas, mas não temos como apurar a que valores é que isso correspondia.
Mais exemplos poderiam ser dados dos problemas que a análise destes dados levanta.
Pesando estes condicionalismos, optou-se por olhar isoladamente a cada tipo de
rendimento, caraterizando-o sumariamente e avançando com as contas possíveis.

3.2.1. Moradia

A moradia era um tributo pago pelos monarcas aos moradores da corte. Segundo
Rita Costa Gomes, “seria normalmente paga aos «da criação» do rei até que estes
tivessem atingido a condição de adultos e, de modo genérico, a todos quantos se
integrassem no séquito para desempenhar um qualquer ofício ou tarefa específica,
enquanto esse desempenho implicasse a efetiva presença”. A sua origem em Portugal
remonta ao reinado de D. Afonso IV e, nos primeiros tempos da sua existência, para
além de uma quantia em dinheiro, incluía uma certa quantidade de géneros302.
D. António Caetano de Sousa publicou, nas Provas da História Genealógica da
Casa Real Portuguesa, listas dos moradores e respetivas moradias nas casas de D. João
II (em 1484) e D. Manuel I (em 1518). Nesses documentos encontram-se referenciados
alguns dos oficiais redatores da Chancelaria do Venturoso, enquadrados em diferentes
estatutos sociais, conforme se dá conta no seguinte quadro:

302
GOMES, 1995, pp. 186-187. Os géneros eram, normalmente, cevada e roupas ou tecidos. No catálogo
prosopográfico encontra-se uma situação que, não sendo perfeitamente análoga, seria uma reminiscência
deste tipo de moradias. Em 27/01/1496 foi atribuída a Gonçalo de Azevedo uma tença de 32 620 reais
anuais, que correspondiam a 24 000 reais de moradia, 4 240 reais de vestiaria e 4 380 reais de cevada.

105
Valor da oradia
Redator Ano Estatuto
(mensal)
Mestre Afonso 1518 Físico 2 500r
Álvaro de Castro 1484 Cavaleiro Fidalgo 1 200r
1484
Diogo Lobo Cavaleiro do Conselho 5 000r
1518
Diogo Vilhegas 1518 Capelão 4 200r
Fernão da Mesquita 1484 Cavaleiro Fidalgo 750r
Francisco da Silveira 1518 Cavaleiro do Conselho 4 286r
1484 Cavaleiro Fidalgo 1 200r
Jorge de Vasconcelos
1518 Cavaleiro do Conselho 2 300r
Luís de Meneses 1518 Cavaleiro do Conselho 3 900r
Martinho Castelo Branco 1518 Cavaleiro do Conselho 6 500r
Nuno Manuel 1518 Cavaleiro do Conselho 5 000r
Nuno Martins da Silveira 1484 Cavaleiro do Conselho 4 286r
1484 4 286r
Pedro de Castro Cavaleiro do Conselho
1518 8 000r
Quadro 35 – Valores das moradias de oficiais da CDMem 1484 e 1518

Os dados da tabela espelham uma assinalável diversidade nos valores das


moradias recebidas por cada indivíduo. Mesmo entre os que se enquadravam no mesmo
estatuto, os montantes variavam e podiam até ser relativamente díspares: em 1518, tanto
Jorge de Vasconcelos como Martinho de Castelo Branco eram cavaleiros do conselho;
no entanto, enquanto a moradia do primeiro correspondia a 2 300 reais mensais, a do
segundo era de 6 500 reais.
Há três indivíduos cujo valor da moradia é conhecido para 1484 e para 1518.
Também entre estes há situações distintas: tanto Diogo Lobo como Pedro de Castro
eram, em ambos os anos, cavaleiros do conselho; no entanto, durante este período de 34
anos, enquanto a moradia do Barão de Alvito se manteve inalterada nos 5 000 reais
mensais, a do futuro Conde de Monsanto foi praticamente dobrada (passou de 4 286
para 8 000 reais); Jorge de Vasconcelos, cavaleiro fidalgo em 1484, era cavaleiro do
conselho em 1518, e a alteração no estatuto repercutiu-se na moradia (que de 1 200
passou para 2 300 reais).

106
3.2.2. Vestiaria

A vestiaria, ou o pagamento do “vestir”, é indissociável da origem e da evolução


das moradias, e “consistia provavelmente na entrega, em uma ou duas ocasiões anuais,
de panos e/ou vestuário já executado” aos membros da Corte303. É conhecida, para o
reinado de D. João II (1493), uma extensa lista de têxteis que deveriam ser entregues a
diversos moradores na casa régia, incluindo escravos, publicada por João Pedro
Ribeiro304. Tanto quanto foi possível apurar, no tempo D. Manuel a oferta destes
géneros foi substituída por pagamentos em dinheiro. As menções às vestiarias recebidas
pelos oficiais régios não são abundantes, pelo que não é de excluir a hipótese de, em
grande parte dos casos, se encontrarem incluídas no valor global das moradias305.

Oficial Ano Valor da vestiaria306


Mestre Afonso 1514 4 240r
Diogo Lobo 1510 3 000r307
1515
Mestre Gil II 1524 4 240r
1534
Martinho Castelo Branco 1506 5 000r
Rui Boto 1520 5 000r
Quadro 36 – Valores das vestiarias de oficiais da CDM

Os dados sobre as vestiarias isoladamente pagas enquanto tal a oficiais da


Chancelaria de D. Manuel I são bastante escassos, sendo pouco prudente que deles
sejam retiradas grandes conclusões. Ainda assim, note-se que a circunstância de Mestre
Gil II, em três anos distintos de um período de 19 anos, ter recebido sempre o mesmo
valor de vestiaria, aponta para uma tendência de estabilidade no valor deste tributo. O
facto de tanto Mestre Afonso e Mestre Gil II como Martinho de Castelo Branco e Rui
Boto receberem a mesma quantia de vestiaria (4 240r, os primeiros, e 5 000r, os outros)

303
GOMES, 1995, p. 187.
304
Encontram-se algumas referências a esses têxteis no “Catálogo de tecidos medievais portugueses”,
publicado em: SEQUEIRA, Joana Isabel Ribeiro – Produção Têxtil em Portugal nos Finais da Idade
Média. Dissertação de doutoramento apresentada à FLUP e à EHESS. Porto: 2012.
305
Rita Costa Gomes já assinalou a tendência para o termo “moradia” abranger todos os elementos de
retribuição aos moradores, “transformando-se num quantitativo global cuja principal característica é a sua
relação direta com a presença física do indivíduo na corte”. Cf. GOMES, 1995, p. 187.
306
Ao que tudo indica, estes valores seriam anuais.
307
Este valor incluía a vestiaria e parte do ordenado de Diogo Lobo, não se sabendo exatamente a que
valor corresponderia cada fração.

107
indica que estes valores poderiam ser relativamente padronizados, ao contrário da
grande diversidade de montantes que se regista em relação às moradias.

3.2.3. Tenças

As tenças constituíam, na generalidade dos casos, o principal rendimento de


quem delas beneficiava. Segundo Rita Costa Gomes, o “significado etimológico da
designação parece apontar para importância do caráter precário e revogável308 da
concessão”, sendo certa (e até comum) a existência de prestações vitalícias deste tipo.
Frequentemente, as tenças correspondiam à concessão de determinados rendimentos
régios, aos quais era associado um valor pré-definido309. Também era normal, no século
XV, que as tenças servissem “para remunerar serviços concretos no âmbito da corte”,
sendo muitas vezes impossível distinguir as diferentes partes que integram cada
pagamento310.

Data da Tipo de concessão Valor da tença


Oficial
concessão Confirmação Nova tença (anual)
20/06/1496 X 40 000r
Álvaro de Castro 13/02/1497 X 100 000r
4/02/1502 X 102 864r
18/02/1498 X 100 000r
5/04/1499 X 7 000r
13/09/1499 X 7 000r
30/12/1500 X 20 000r
Diogo Lobo
6/05/1502 X 15 000r
23/03/1513 X 1 650r
2/03/1514 X 55 000r
30/04/1517 X 30 000r
19/03/1526 X 20 000r
14/06/1526 X 20 000r
Diogo Lopes
13/04/1531 X 10 000r
24/04/1532 X 20 000r

308
Itálicos da autora.
309
Por exemplo: em 22/11/1497 foram atribuídas duas tenças a Diogo da Silva de Meneses, uma de
61066r e outra de 10 000r, que correspondiam às rendas da judiaria de Portalegre.
310
GOMES, 1995, pp. 196-197.

108
Data da Tipo de concessão Valor da tença
Oficial
concessão Confirmação Nova tença (anual)
15/03/1494 X 7 571r
Diogo de
1499 X 80 000r
Mendonça
11/03/1501 X 92 000r
29/04/1485 X 50 000r
1485 X 142 050r
1491 X 200 000r
Diogo da Silva de 27/11/1497 X 61 066r
Meneses 27/11/1497 X 10 000r
13/03/1498 X 200 000r
13/03/1498 X 50 000r
13/03/1498 X 250 000r
Diogo Taveira 3/01/1519 X 55 000r
3/03/1496 X 20 000r
3/03/1496 X 30 000r
Francisco da
16/06/1497 X 16 000r
Silveira
14/05/1499 X 150 000r
16/05/1499 X 20 000r
21/01/1496 X 20 000r
21/03/1499 X 30 000r
Garcia de Melo
1/10/1504 X 100 000r
7/12/1515 X 30 000r
Gonçalo de
27/01/1496 X 32 620r
Azevedo
20/03/1521 X 12 000r
João Cotrim
20/05/1523 20 000r
João de Lima 7/03/1502 X 50 000r
23/08/1512 X 100 000r
Luís de Meneses
7/04/1521 X 30 000r
Martim Pinheiro 26/05/1501 X 24 000r
Nuno Martins da
20/02/1501 X 60 000r
Silveira
Pedro de Castro 30/01/1499 X 40 000r
Quadro 37 – Tenças concedidas a oficiais da CDM

109
O quadro é revelador da realidade das tenças atribuídas pelos monarcas
portugueses nas últimas décadas do século XV e primeiras do XVI: eram muitas311,
abrangiam muita gente e os seus valores podiam variar bastante, sendo frequentemente
elevados.
As tenças eram atribuídas por vários motivos312. Desde logo, o que seria mais
comum, os serviços prestados pelo indivíduo ou por algum dos seus familiares ao rei ou
a um membro da família real. Por outro lado, como já se referiu, as tenças poderiam
corresponder aos rendimentos de um determinado senhorio ou a direitos régios cedidos
pelo monarca a algum dos seus servidores (rendas de judiarias, saboarias, etc.). Acham-
se ainda exemplos de tenças que foram compradas ou trespassadas aos oficiais da
Chancelaria por algum dos seus familiares.
Como já foi dito, por vezes é difícil apurar se uma tença atribuída num
determinado momento se acrescenta a outras tenças já recebidas pelo mesmo indivíduo
ou se as substitui (totalmente ou em parte), pelo que é complicado afiançar quanto é que
alguém recebia num dado momento313. Ainda assim, há casos em que a acumulação
destes tributos é evidente. No mesmo dia, em 1498, Diogo da Silva de Meneses viu
serem-lhe confirmadas três tenças: uma de 250 000r, que correspondia aos rendimentos
dos seus senhorios; outra de 200 000r, que D. Manuel, ainda duque, lhe havia atribuído
em 1491; e uma de 50 000r, que lhe havia sido concedida por D. João II. Ou seja, é
certo que o então Conde de Portalegre recebia do rei, anualmente, pelo menos 500 000r.
O antigo aio do Venturoso era, a par de Álvaro de Castro, Diogo Lobo, Diogo de
Mendonça, Francisco da Silveira, Garcia de Melo e Luís de Meneses, quer pela
quantidade de tenças atribuídas, quer pelos valores envolvidos, um dos indivíduos mais
beneficiados pela graça régia em matéria monetária.

311
Seriam muitas mais do que as assinaladas no quadro. No catálogo prosopográfico encontram-se dados
sobre o recebimento de outras tenças, que não foram integradas na tabela por não se saber em que
momento foram concedidas ou confirmadas. Para além disso, tenha-se em conta a quantidade
significativa de documentação, nomeadamente livros da Chancelaria, que não se preservou até aos nossos
dias, sendo verosímil que lá se encontrassem ainda mais cartas de concessão de tenças.
312
No catálogo prosopográfico encontram-se informações mais detalhadas sobre a atribuição de cada
tença.
313
Por exemplo, sabe-se que foram atribuídas a Diogo Lobo, entre 1498 e 1517, oito tenças que, somadas,
corresponderiam a 235 650r. O Barão de Alvito receberia esse valor anualmente a partir de 1517 ou
algumas das tenças haviam entretanto substituído outras?

110
Seria do maior interesse procurar perceber, em termos reais, a quanto é que, em
cada momento, correspondia o valor de uma tença314. A bibliografia permite avançar
com algumas equivalências:

 A tença de 50 000r atribuída a Diogo da Silva de Meneses em 1485 permitir-lhe-


ia adquirir, nesse ano, cerca de 520 a 666 almudes de vinho branco no Porto315.
 A tença de 20 000r atribuída a Francisco da Silveira em 1496 permitir-lhe-ia
comprar, nesse ano, 1 425 arráteis de carne de vaca e/ou boi em Loulé 316 e cerca
de 80 resmas de papel no Porto317.
 A tença de 40 000r atribuída a Pedro de Castro em 1499 permitir-lhe-ia comprar,
nesse ano, 1 600 alqueires de trigo (em todo o reino)318 ou cerca de 1 333
queijos em Montemor-o-Novo319; seria ainda suficiente para pagar a construção
de 7 forcas neste concelho alentejano320.
 A tença de 20 000r atribuída a Diogo Lobo em 1500 permitir-lhe-ia adquirir,
nesse ano, quatro escravos321.

Apesar dos problemas que a análise dos dados relativos às tenças levanta, parece
confirmar-se a ideia expressa por João Cordeiro Pereira em 1998: “No complexo em
expansão do Estado imperial no primeiro quartel do século XVI, o crescimento da
fazenda do rei refletiu-se na subida significativa da renda dos seus súbditos de maior
dignidade”322.

314
Algo extremamente difícil de fazer por quem não é especialista em história das finanças, da moeda,
dos preços e dos níveis de vida deste período. A dissertação de mestrado de Sérgio Carlos Ferreira, que
apresenta preços e salários de inúmeros produtos e ofícios dos séculos XIV e XV, constitui um sólido
ponto de partida para o estabelecimento de algumas equivalências. Cf. FERREIRA, Sérgio Carlos –
Preços e Salários em Portugal na Baixa Idade Média. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP.
Porto: 2007.
315
FERREIRA, 2007, p. 237.
316
FERREIRA, 2007, p. 240.
317
FERREIRA, 2007, p. 263.
318
FERREIRA, 2007, p. 230.
319
FERREIRA, 2007, p. 247.
320
FERREIRA, 2007, p. 299.
321
BRAGA, 1998, p. 225.
322
PEREIRA, 1998, p. 320.

111
3.2.4. Rendimentos de senhorios

Verificou-se, no ponto deste capítulo sobre o património dos oficiais da


Chancelaria de D. Manuel I, que muitos destes homens eram senhores de terras que
variavam muito em extensão e importância. A posse desses senhorios, para além dos
privilégios que implicava, seria uma importante fonte de rendimentos para os seus
detentores.
Apenas para o caso de Diogo da Silva de Meneses é possível avançar com
valores seguros de quanto lhe rendiam os seus senhorios: 97 950r da tença de 250 000r
que lhe fora atribuída em 1498 correspondiam às rendas e direitos de Celorico da Beira,
Vila Cova, Valozim e Santa Marinha.

3.2.5. Outros rendimentos

Os oficiais da Chancelaria do Venturoso dispunham de rendimentos muito


diversificados, para além dos já mencionados:

a) rendas de saboarias;
b) rendas de judiarias;
c) rendas de igrejas;
d) dízimos do pescado de determinados locais;
e) rendimentos do gado de determinados locais;
f) dízimo dos tributos da diocese de Tânger323 (recebido pelo bispo Diogo Ortiz de
Vilhegas);
g) bolsas de estudo324;
h) proveitos do comércio de especiarias.

Para além destes rendimentos, que teriam um cariz sistemático e prolongado no


tempo, alguns dos 38 homens estudados foram alvo de mercês pontuais, que tanto se
poderiam materializar na doação de uma determinada quantia em dinheiro como na
oferta de certa quantidade de açúcar, cereais ou especiarias.

323
Recebido pelo bispo Diogo Ortiz de Vilhegas.
324
Neste caso, trata-se de um rendimento normalmente recebido antes de o indivíduo iniciar a sua carreira
ao serviço do monarca. MORENO, Humberto Baquero – “Um aspeto da política cultural de D. Afonso V:
a concessão de bolsas de estudo”. Revista de Ciências Humanas. Vol. 3, n.º 1 (1970). pp. 177-205.

112
3.3. Remunerações325

Comecemos pelo léxico. Na documentação compulsada, os termos mais


utilizados para referir as remunerações são mantimento e ordenado. Sérgio Ferreira
define-os assim:

“Mantimento: Dos mais adotados e flexíveis, o conceito podia designar várias


realidades, sendo duas as mais comuns: a totalidade de um vencimento monetário ou apenas uma
de duas partes que compunham um vencimento e, nesse caso, o sustento alimentar, podendo este
ser traduzido em numerário ou em géneros. […] Devido a esta abrangência, a palavra
mantimento, embora característica de uma periodicidade mensal ou anual, podia designar o
pagamento de um serviço em qualquer período de tempo, bem como por qualquer pessoa.
[…]
Ordenado: Embora não tenha sido muito utilizado, este termo não foi estranho ao
homem medieval. Resultado da transformação da forma verbal, parece ter sido adotado
sobretudo pela administração pública e para designar a totalidade de certos vencimentos,
podendo estes ser compostos por duas parcelas, mantimento e vestuário, bem como numa ótica
de periodicidade mensal e, mais frequentemente, anual.” 326

Nos documentos analisados, mantimento e ordenado parecem significar o


mesmo: um vencimento, quase sempre exclusivamente monetário, pago trimestral ou
anualmente aos servidores da administração régia.
Infelizmente, as fontes desta época raramente respondem as todas as questões
que lhes gostaríamos de colocar. Seria bastante interessante conhecer as remunerações
de todos os oficiais da Chancelaria do Venturoso durante a totalidade das respetivas
carreiras, por forma a anotar a sua evolução e a efetuar várias comparações. Apesar de
isso não ser possível, os dados compilados permitem traçar um bom quadro de um
momento específico: o ano de 1501. O Corpo Cronológico da Torre do Tombo
conserva alguns documentos preciosos para o conhecimento das remunerações de parte
dos oficiais régios: os róis dos pagamentos aos magistrados da Casa da Suplicação e da

325
As remunerações são, obviamente, um rendimento. Optou-se por não integrar a sua análise no ponto
“rendimentos” para, de alguma forma, distinguir os proveitos obtidos diretamente pelo exercício de
determinado ofício daqueles cuja relação com as funções desempenhadas pelo indivíduo que os recebia
não fosse tão evidente.
326
FERREIRA, 2007, pp. 22-23.

113
Casa do Cível no primeiro quartel desse ano327; e os recibos que vários destes homens
passaram ao encarregado pelos pagamentos, João Rodrigues Mascarenhas.

Oficial Ofício Mantimento por quartel


Afonso Anes Desembargador C. Cível 7 500r
Aires de Almada Desembargador C. Suplicação 15 000r
Álvaro de Castro Governador da Casa do Cível 21 250r
Álvaro Fernandes Desembargador C. Suplicação 11 250r
Diogo Pinheiro Desembargador C. Suplicação 15 000r
Fernão da Mesquita Desembargador C. Suplicação 15 000r
Fernão Rodrigues Sobrejuiz C. Cível 7 500r
Gonçalo de Azevedo Desembargador C. Suplicação 15 000r
João Cotrim Corregedor do Cível 15 000r
João da Nova Alcaide-mor de Lisboa 3 000r
Martim Pinheiro Corregedor do Crime 15 000r
Pero Vaz Desembargador C. Suplicação 15 000r
Rui Boto Chanceler-mor 15 358r
Quadro 38 – Remunerações de oficias de D. Manuel I em 1501

Da análise do quadro, dois factos saltam à vista: 1) os magistrados da Casa da


Suplicação eram, em regra, muito mais bem pagos do que os da Casa do Cível 328; 2) no
seio da Casa da Suplicação, o valor dos ordenados variava pouco: os Desembargadores
ou recebiam 15 000r em cada quartel do ano ou 11 250r; o Chanceler-mor recebia um
pouco mais, 15 358r por quartel. Refira-se ainda que a ordem de pagamento aos
elementos da Casa da Suplicação foi dada em julho de 1501, enquanto a relativa aos
mantimentos dos oficias da Casa do Cível apenas foi emitida no final de fevereiro de
1502 (ou seja, com praticamente um ano de atraso). Segundo Luís Miguel Duarte, esta
realidade reflete as diferenças entre “um tribunal de elite”, cujos funcionários eram bem

327
Publicados por Luís Miguel Duarte em DUARTE, 1999, pp. 668-671. Também são conhecidos os róis
de pagamentos a oficiais da Casa do Cível do segundo e terceiro quartéis de 1501, cujas diferenças em
relação ao do primeiro quartel são pouco significativas. Estes dados foram objeto de análise pelo mesmo
autor em: DUARTE, Luís Miguel – “Órgãos e servidores do poder central: os «funcionários públicos» de
Quatrocentos”. In COELHO, Maria Helena da Cruz; HOMEM, Armando Luís de Carvalho – A Génese
do Estado Moderno no Portugal Tardo-Medievo (séculos XIII-XV). Lisboa: Universidade Autónoma de
Lisboa, 1999b). pp. 133-150.
328
Generalizando e não tendo em conta as variações dentro de cada tribunal, que mais do que neste
quadro podem ser observadas nos documentos publicados por Luís Miguel Duarte, verifica-se que,
normalmente, um Desembargador da Casa do Cível ganharia cerca de metade do mantimento de um
congénere da Casa da Suplicação. O mesmo não se verifica se olharmos ao ordenado dos mais altos
oficiais de cada um dos órgãos: recebiam ambos 21 250r em cada quartel do ano.

114
pagos e onde existiria, provavelmente, “um forte espírito de corpo”, e um “tribunal
claramente menos prestigiado e prestigiante”, onde se recebia muito menos e mais
tarde329.
Os dados relativos a remunerações após 1501 têm um cariz muito mais disperso:

Oficial Ofício Ano(s) Mantimento anual


Desembargador e 1511-1514 15 000r
Afonso Anes Procurador da Ordem
1525 20 000r
de Cristo
Diogo Lobo Vedor da Fazenda 1514 40 000r330
Corregedor no Funchal 1515-1518 100 000r
Chanceler-mor interino 1524 80 000r
Diogo Taveira
Desembargador e
1527 45 000r
Ouvidor
João Cotrim Desembargador 1517 60 000r
Martinho Castelo Provedor da casa da
1518 30 000r
Branco aposentadoria de Lisboa
1512 20 000r
Pedro de Castro Vedor da Fazenda
1514 20 000r331
Pedro Meneses Desembargador 1516 60 000r
Quadro 39 – Remunerações de oficiais de D. Manuel I após 1501

O quadro revela que Afonso Anes viu o seu mantimento anual reduzido face a
1501: nesse ano, enquanto Desembargador da Casa do Cível, recebeu 30 000r; entre
1511 e 1514, na qualidade de membro do Desembargo e de Procurador da Ordem de
Cristo recebeu 15 000r; em 1524, exercendo as mesmas funções, foi aumento para 20
000 reais anuais. Esta situação é dificilmente explicável, até porque não se conhecem
outros rendimentos que este homem pudesse acumular ao seu mantimento.
Os rendimentos de Diogo Taveira também evoluíram em sentido negativo,
apesar de ser mais fácil compreender esta situação. Entre 1515 e 1518, exercendo o
ofício de Corregedor na ilha da Madeira, recebeu 100 000r por ano, um salário superior
ao dos magistrados das casas da Suplicação e do Cível em 1501, verosimilmente
explicável pela insularidade do local de desempenho de funções. Em 1524, sendo
Chanceler-mor interino, recebeu 80 000r, e em 1527, enquanto Desembargador e

329
DUARTE, 1999 b), pp. 139-141.
330
Pagos através de dois escravos no valor de 20 000r cada um.
331
Pagos através de dois escravos no valor de 10 000r cada um.

115
Ouvidor, 45 000r. Esta diferença deve-se, provavelmente, à importância dos cargos
ocupados em cada um dos anos na hierarquia da administração pública. Deve-se ainda
ter em conta que Diogo Taveira, para além do mantimento, recebeu, a partir 1519, uma
tença de 55 000r anuais.
À primeira vista, os ordenados dos Vedores da Fazenda são surpreendentemente
baixos: num dos casos (Pedro de Castro), 20 000r anuais em 1512 e 1514; no outro
(Diogo Lobo), 40 000r em 1514. Tendo em conta a relevância do ofício e o nível social
dos seus titulares (um nobre titular e outro que viria a sê-lo) parecem ganhar pouco se os
mantimentos forem comparados, por exemplo, com os dos Desembargadores da Casa da
Suplicação em 1501 (parte dos quais recebia 60 000r anuais). No entanto, é necessário
ter em conta que os rendimentos destes homens estavam longe de se esgotar aqui:

a) Como já se constatou, Diogo Lobo viu serem-lhe atribuídas pelo menos oito
tenças entre 1498 e 1517; para além disso, em 1510 (e presumivelmente noutros
anos) recebia 3 000r anuais de vestiaria e em 1518 arrecadava 5 000r mensais de
moradia; junte-se a tudo isto os proveitos que lhe proporcionavam os seus
senhorios, cujas quantias desconhecemos;
b) Pedro de Castro beneficiou de uma tença anual de 40 000r a partir de 1499 e
recebia 8 000r por mês de moradia em 1518; encontrava-se ainda envolvido no
comércio das especiarias, para além de ser senhor de algumas terras que lhe
proporcionariam outros rendimentos.

Disse-se, no início deste ponto, que os vencimentos dos oficiais do Venturoso


eram quase exclusivamente pagos em dinheiro. No catálogo prosopográfico encontram-
se quatro exceções:

1. O mantimento de 40 000r do Vedor da Fazenda Diogo Lobo foi pago, em 1514,


através de dois escravos, cada um com o valor de 20 000r;
2. O também Vedor da Fazenda Pedro de Castro recebeu dois escravos no valor de
10 000r cada um, correspondentes ao seu ordenado de 20 000r;
3. Em 1512, outro Vedor da Fazenda, Martinho de Castelo Branco, recebeu um
quintal, duas arrobas, um arrátel e 13 onças de pimenta, correspondentes a uma
parte do seu ordenado que não foi possível quantificar;

116
4. Em 1518 e em 1519, Jorge de Vasconcelos recebeu duas arrobas de especiarias,
equivalentes a uma parte do seu mantimento que não foi possível apurar.
Estes pagamentos em géneros, sendo uma exceção ao panorama geral das
remunerações monetárias, eram, pelos produtos envolvidos, um reflexo do Portugal
imperial que se afirmava por esta altura.

3.4. O poder compensa? (II)

Ponderando as informações avançadas nos pontos anteriores, a resposta a esta


questão não pode deixar de voltar a ser afirmativa: pelo menos para uma parte
considerável dos oficiais da Chancelaria de D. Manuel, o exercício do poder e a
proximidade ao monarca foi economicamente recompensadora. Vejamos:

1. Vários destes homens foram detentores de conjuntos patrimoniais assinaláveis,


tendo beneficiado de várias doações em pleno exercício de funções;
2. Estes indivíduos, em geral, beneficiavam de um conjunto alargado e
diversificado de rendimentos, sucessivamente aumentado enquanto serviam o
monarca;
3. Os poucos dados obtidos sobre remunerações permitem constatar que uma parte
dos oficiais superiores do Venturoso era bastante bem paga.

Em síntese: enquanto serviam o monarca, vários oficiais enriqueceram ou


tornaram-se mais ricos.

4. Nível cultural

Pretende-se apresentar neste ponto o nível cultural dos oficiais da Chancelaria


de D. Manuel I, analisando as suas formações e carreiras universitárias e dando conta do
legado literário e bibliográfico de alguns destes homens.

117
4.1.Formações

Pelo menos 20 dos oficiais estudados (ou seja, 52,6% do total; são todos os
letrados e três dos clérigos332;) eram detentores de formação superior. Apesar de, em
regra, se conhecer os graus académicos destes homens, para a maioria dos casos não foi
possível apurar a universidade que frequentaram:

Oficial Grau académico Universidade(s) frequentada(s)


Afonso Anes Doutor
Mestre Afonso Doutor Montpellier
Aires de Almada Licenciado
Álvaro Fernandes Doutor
António de Lucena Doutor Florença
Diogo Lopes Doutor Montpellier
Diogo Pinheiro Doutor Siena e Pisa
Diogo Taveira Doutor
Fernão da Mesquita Doutor Siena
Fernão Rodrigues Doutor
Mestre Gil I Doutor
Mestre Gil II Doutor Paris, Montpellier
Gonçalo de Azevedo Doutor Siena e Pisa
João Cotrim Doutor
Martim Pinheiro Doutor
Pedro de Meneses Licenciado Paris
Pero Vaz Doutor
Rodrigo de Lucena Doutor
Rui Boto Doutor Lisboa
Quadro 40 – Formação universitária de oficiais da CDM

Facilmente se associa o grupo dos oficiais academicamente qualificados ao tipo


de ofícios que exerciam: eram os titulares de cargos de cariz mais burocrático e
administrativo (os Desembargadores e magistrados em geral), para além dos médicos,
que haviam passado pelas universidades.

332
É provável que o quarto clérigo, Diogo Ortiz de Vilhegas, também tivesse estudos superiores, mas não
se encontrou qualquer referência à sua formação ou ao seu grau académico.

118
Em que domínios se formavam estes homens? Em poucos casos é possível
indicar com exatidão os cursos frequentados pelos oficiais régios333, apesar de não ser
difícil deduzir quais seriam: os Desembargadores teriam, provavelmente, estudado
Direito Civil ou Canónico334; os Físicos seriam, certamente, formados em Medicina.
Entre as academias frequentadas, destacam-se estudos gerais franceses e
italianos, o que não é de estranhar335. Trabalhos já clássicos de Luís de Matos336,
Joaquim Veríssimo Serrão337 e Virgínia Rau338 demonstraram que era significativo o
número de estudantes portugueses em universidades como as de Paris, Montpellier,
Toulouse, Bolonha, Perúgia, Pisa e Siena. Destaca-se a formação obtida por Mestre
Afonso, Diogo Lopes e Mestre Gil II na Universidade de Montpellier, uma das mais
prestigiadas escolas de medicina da Europa medieval. É provável que alguns dos
oficiais cuja universidade frequentada é desconhecida se tenham formado, à imagem de
Rui Boto, no Estudo Geral de Lisboa.
Finalmente, refira-se que a maioria dos letrados da Chancelaria de D. Manuel
era titular do grau de Doutor, cuja principal diferença em relação ao de Licenciado, na
Idade Média, era o facto de habilitar para a docência magistral339.

4.2.Carreiras académicas

Quatro oficiais do Venturoso foram professores no Estudo Geral de Lisboa.

333
Na maioria dos casos só se tem mesmo conhecimento do grau académico do indivíduo, por isso se
optou por não incluir no quadro as disciplinas estudadas.
334
Pedro de Meneses, apesar de também ter estudado Leis, seria uma exceção: era Mestre em Artes e
Licenciado em Teologia pela Universidade de Paris.
335
Cf. o estudo onde Mário Farelo confronta as debilidades da universidade medieval portuguesa com a
capacidade de atração dos estudos gerais estrangeiros e a peregrinatio academica dos escolares
portugueses. FARELO, Mário – “Lisboa numa rede latina? Os escolares em movimento”. In
FERNANDES, Hermenegildo (coord.) – A Universidade Medieval em Lisboa. Lisboa: Tinta da China,
2013. pp. 235-265.
336
MATOS, Luís de – Les Portugais à l’Université de Paris entre 1500 et 1550. Coimbra: Biblioteca
Geral da Universidade de Coimbra, 1950.
337
SERRÃO, Joaquim Veríssimo – Les Portugais à l’Université de Toulouse (XIIIe-XVIIe siècles). Paris:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1970. SERRÃO, Joaquim Veríssimo – Les Portugais à l’Université de
Montpellier (XIIe-XVIIe siècles). Paris : Fundação Calouste Gulbenkian, 1971.
338
RAU, Virgínia – “Italianismo na cultura jurídica portuguesa do século XV”. Revista Portuguesa de
História. T. XII (1969). pp. 185-206. RAU, Virgínia – “Alguns estudantes e eruditos portugueses em
Itália no século XV”. Do Tempo e da História. Vol. V (1972). pp. 29-99.
339
Na Idade Média, o grau de Doutor era obtido pouco tempo após o estudante se ter tornado Licenciado,
através da realização de um exame público e de uma cerimónia solene. Para uma visão geral e sucinta
deste assunto, cf.: GOFF, Jacques Le – Os Intelectuais na Idade Média. Lisboa: Editorial Estúdios de
Cor, 1973. Maxime pp. 86-88.

119
Um Físico-mor, o Doutor Mestre Afonso, e um Cirurgião-mor, o Doutor Mestre
Gil II, deixaram marca no ensino médico olisiponense. O primeiro foi nomeado Lente
de Física em 1499, tendo renunciado às funções docentes em 1517 (Físico-mor havia
três anos), quando era responsável pela cadeira de véspera de Medicina. O segundo
tornou-se lente em 1517, e manteve-se na universidade portuguesa, pelo menos, até
1526, lecionando Medicina.
O Doutor Rui Boto teve uma curta carreira no Estudo Geral. Foi lente de Leis
(Direito Civil) apenas entre 1473 e 1476, tendo sido selecionado em dois concursos em
detrimento do Licenciado Rui da Grã.
Eleito em 1518, o Licenciado Pedro de Meneses foi lente de Filosofia Moral
durante um período que não foi possível apurar. No ano anterior havia-se candidatado,
sem sucesso, à cadeira de Lógica do Estudo Geral.

4.3.Produção cultural

O legado dos homens que têm vindo a ser estudados não se resumiu apenas aos
documentos que escreveram ou mandaram escrever. Entre os oficiais de D. Manuel
houve homens extremamente cultos, cuja obra ainda hoje pode ser apreciada.
Em 1516 foi publicada a primeira edição do Cancioneiro Geral, uma coletânea
de poesia palaciana organizada por Garcia de Resende. Entre poetas representados
(algumas centenas), encontram-se três servidores do Venturoso: o Barão de Alvito,
Diogo Lobo; o Conde de Vimioso, Francisco Portugal; e Francisco da Silveira. O
segundo, considerado um percursor, em alguns aspetos, do lirismo camoniano, foi ainda
autor de Sentenças, uma obra poética publicada postumamente por um dos seus netos.
Diogo Ortiz de Vilhegas, um clérigo de imensa ciência, foi Cosmógrafo-mor de
D. João II (e, como tal, um dos seus principais conselheiros em matérias de navegação)
e mestre de Gramática do príncipe D. João, futuro D. João III. Foi autor de, pelo menos,
duas obras: Cathecismo Pequeno, publicada em 1504, e Paixão de Jesus Cristo Nosso
Deus e Senhor assim como a escreveram os Evangelistas, dada à estampa
postumamente.
Não sendo autor, que se conheça, de qualquer obra de cariz literário, científico,
religioso ou moral, Diogo Taveira acabou por empreender uma ação de inegável valor
cultural. Enquanto, durante três anos, exerceu o ofício de Corregedor na ilha da
Madeira, esforçou-se por organizar e preservar a documentação antiga que se

120
encontrava naquele território. Apesar de, provavelmente, o ter feito apenas porque disso
beneficiaria o seu trabalho340, este ato de Diogo Taveira não deixa de ser assinalável,
sendo reconhecível a sua importância para a reconstituição da história da Madeira do
século XV.

5. As carreiras341

Olhar-se-á de seguida às carreiras dos oficiais redatores da Chancelaria de D.


Manuel I. Num primeiro momento, procurar-se-á perceber como começavam e
acabavam e quanto tempo duravam. Depois, dar-se-á conta das diferentes etapas das
carreiras (tentando descortinar a existência de um cursus honorum) e verificar-se-á que
outras funções, para além das ligadas ao Desembargo, eram desempenhadas por estes
homens.

5.1. Começar uma carreira…

Uma vez que não são conhecidas todas as cartas de provimento de ofício, nem
sempre é possível apurar o momento exato em que se iniciou uma carreira na
administração. No entanto, os perfis social e cultural dos titulares, associados à natureza
das funções desempenhadas, permitem apontar com alguma segurança os prováveis
motivos das nomeações. Há três razões de cariz um pouco genérico e, porventura,
retórico, que se encontram associadas à generalidade das escolhas dos monarcas:

a) a “bondade e descriçam”do nomeado;


b) os serviços prestados pelo indivíduo ou por um dos seus familiares ao rei ou
a um dos membros da família real;
c) no seguimento das anteriores, a vontade régia de “fazer graça e merçe”342.

340
E não propriamente porque se encontrava preocupado com os problemas que, em tempos posteriores,
alguém poderia vir a ter para aceder àquela documentação.
341
A análise deste ponto é, à partida, condicionada por uma limitação: as fontes manuscritas compulsadas
nesta dissertação cingem-se aos registos da Chancelaria de D. Manuel I e a alguns diplomas do Corpo
Cronológico. Como tal, as informações relativas às carreiras dos oficiais estudados antes do princípio e,
principalmente, após o termo do reinado do Venturoso são bastante mais restritas (cingem-se a fontes
impressas como o Chartularium Universitatis Portugalensis e o Livro de Linhagens do Século XVI e à
bibliografia), ressentindo-se da não exploração dos diplomas das Chancelarias do Príncipe Perfeito e do
Piedoso.
342
Cf., por exemplo, a carta de nomeação de Fernão Rodrigues enquanto Desembargador das Petições.
CUP, vol. VII, p. 530.

121
5.1.1. Os oficiais da Chancelaria e da Justiça

Os titulares dos ofícios da Justiça e da Chancelaria propriamente dita (os


Desembargadores, Corregedores, Chanceleres), são aqueles cujos registos de
provimento são mais abundantemente conhecidos. A preparação jurídica era o requisito
fundamental para o desempenho destas funções, como é claramente expresso na
nomeação de Rui Boto como Desembargador da Casa da Suplicação:

“…consirando nos como pera a casa da sobpricaçam he neçesario auer em ella boons
douctores e letrados pera em ella auerem de desembargar os fectos que a ella pertençeem
confijamdo nos da bondade e descriçam E boom emtemder do douctor Ruy Boto e que he assy
letrado em direitos que muy bem nos pode serujr em a dita casa e queremdo lhe fazer graça e
merçee temos por bem E o tomamos ora nouamente por nosso desembargador em a dicta nossa
casa da sobpricaçam…”343.

Expressões como “siençia[,] emtender e boa comçiemçia”344 e “lleteradura”345


também eram utilizadas para transmitir a mesma ideia: é essencialmente o saber (que
poderia estar ou não associado a uma certa tradição familiar) que determina o acesso às
carreiras nas áreas da Justiça e da burocracia „pura e dura‟. Não admira, portanto, que
indivíduos como Rui Boto ou Pedro de Meneses tenham iniciado o seu percurso na
administração no preciso ano em que concluíram os seus estudos.

5.1.2. Os oficiais da Fazenda

O acesso à carreira dos Vedores da Fazenda já foi tratado por Maria Leonor
García da Cruz346. Na generalidade dos casos, este ofício é ocupado por nobres titulares
(ou que em tal se tornam em exercício de funções), membros de famílias de prestígio e
próximas do rei. O fator determinante na escolha destes oficiais parece ter sido, então, o
seu meio familiar:

343
CUP, vol. VII, pp. 386-387.
344
CUP, vol. VII, p. 517.
345
CUP, vol. VIII, p. 94, 109.
346
CRUZ, 2001, pp. 37-51.

122
a) Álvaro de Castro era sobrinho do Conde de Monsanto. Foi Vedor da Fazenda
durante pouco tempo (1493-1496), tornando-se posteriormente Governador da
Casa do Cível.
b) Diogo Lobo era filho do primeiro Barão de Alvito, D. João da Silveira, que foi
Vedor da Fazenda e Escrivão da Puridade de D. João II. Tornou-se Vedor da
Fazenda em 1496, numa altura em que já era Mordomo-mor. Viria a ser, a partir
de 1499, o segundo Barão de Alvito.
c) É escassa a atividade registada por Diogo da Silva de Meneses enquanto Vedor
da Fazenda (cinge-se ao ano de 1496). O primeiro Conde Portalegre era muito
próximo do monarca, de quem também foi Escrivão da Puridade e Mordomo-
mor.
d) Francisco de Portugal, nomeado Conde de Vimioso em 1515, ocupou a Vedoria
da Fazenda a partir de 1516.
e) Martinho de Castelo Branco, feito Conde de Vila Nova de Portimão em 1504,
sucedeu ao pai, Gonçalo Vaz de Castelo Branco, enquanto Vedor da Fazenda.
f) Finalmente, Pedro de Castro, Vedor da Fazenda a partir de 1482 e nomeado
terceiro Conde de Monsanto em 1528, era neto do primeiro Conde de Monsanto.

O acesso à Vedoria da Fazenda do Conde de Vimioso reveste-se de


circunstâncias especiais: Francisco de Portugal comprou o ofício a Martinho de Castelo
Branco, tendo a transação sido confirmada por D. Manuel em 28/06/1516. A venda de
cargos, também designada venalidade, era proibida pelas Ordenações Manuelinas347,
mas foi prática comum, pelo menos, entre a segunda metade do século XV348 e o século
XVII. Segundo Francisco Ribeiro da Silva, estes processos não escapavam ao controlo
dos monarcas e, normalmente, não atingiam os ofícios mais elevados da
administração349. A transação entre os Condes de Vila Nova e de Vimioso constituiu,
portanto, uma exceção, apesar de não ser um caso isolado.

347
OM1521, L. IV, tít. XLI, pp. 100-101.
348
Luís Miguel Duarte referiu-se à venda de cargos neste período em DUARTE, 1999, pp. 165-166.
349
SILVA, Francisco Ribeiro da – “Venalidade e hereditariedade dos ofícios públicos em Portugal nos
séculos XVI e XVII. Alguns aspetos”. Revista de História. N.º 8 (1988). pp. 203-2013. Mais
recentemente, a venalidade e a transmissão de ofícios em geral entre os séculos XVI e XVIII foi objeto de
diversos estudos publicados em: STUMPF, Roberta; CHATURVEDULA, Nandini (orgs.) – Cargos e
Ofícios nas Monarquias Ibéricas: Provimento, Controlo e Venalidade (Séculos XVII e XVIII). Lisboa:
CHAM, 2012.

123
Olhando ao cargo de Almotacé-mor e ao seu titular entre 1498 e, pelo menos, o
início do reinado de D. João III, Nuno Manuel, um colaço do Venturoso, presume-se
que tenha sido a grande a proximidade ao monarca a determinar a sua nomeação.
Finalmente, o ofício de Vedor-mor das obras: Nuno Martins da Silveira foi
provido neste cargo (e no de Escrivão da Puridade), que era detido pelo seu pai, Diogo
da Silveira, ainda muito jovem, em 1464. Tomou posse efetiva do ofício apenas em
1477 ou 1478 e exerceu-o, pelo menos, até 1521.
Em geral, verifica-se que é o meio familiar dos indivíduos que mais determina o
seu acesso a ofícios do domínio da Fazenda.

5.1.3. Os oficiais da Milícia350

O exercício de altos cargos na Milícia dependeria essencialmente de dois fatores:


a família do indivíduo e a sua experiência militar.
Os titulares de ofícios de Anadel-mor (dos besteiros ou dos espingardeiros) eram
cavaleiros ou fidalgos da Casa Real, podiam ser alcaides-mores de castelos e, em
princípio, no momento da nomeação, já se teriam destacado no âmbito da Milícia,
apesar de isso só se comprovar em dois casos: Garcia de Melo participou em várias
campanhas em África; João da Nova integrou a guarda régia a partir de 1490 e serviu
em Marrocos e na Índia. A transmissão hereditária de um ofício é patente no caso de
Diogo de Mendonça, que herdou do irmão Duarte Furtado o cargo de Anadel-mor dos
besteiros do conto.
A transmissão familiar também parece ter tido peso nos outros ofícios
relacionados com a Milícia.
Francisco da Silveira foi Coudel-mor entre 1490 e, pelo menos, 1530, tendo
herdado o cargo do pai. Este ofício encontrava-se nas mãos da família Silveira desde
1449351.
Também se encontram no catálogo prosopográfico dois exemplos de transmissão
de pai para filho do cargo de Monteiro-mor: Álvaro de Lima, filho do primeiro
Visconde de Vila Nova de Cerveira, Monteiro-mor de D. Fernando (pai do Venturoso) e
de D. Manuel enquanto Duque de Beja, foi titular deste ofício até 1498, tendo-o
transmitido ao seu filho João de Lima. Quando este morreu, em 1516, foi substituído

350
Incluem-se aqui os ofícios relacionados com a caça.
351
BRITO, 2001, vol. I, p. 61.

124
por Luís de Meneses, um militar experiente, filho do primeiro Conde de Tarouca e
membro da Ordem de Cristo, que também transmitiria este cargo como herança a um
dos seus descendentes.

5.1.4. Físicos e cirurgiões

O acesso aos ofícios de Físico-mor ou de Cirurgião-mor parece depender de três


aspetos: a formação do indivíduo, a sua carreira prévia e a sua família. Vejamos cada
um.
Afigura-se evidente que o titular de um cargo de topo na área da Medicina
deveria ser detentor de formação superior. Como já se constatou em pontos anteriores,
estes indivíduos eram sempre Mestres ou Doutores, tendo desenvolvido os seus estudos
em universidades estrangeiras.
No entanto, a formação por si só não era suficiente. Ao contrário do que já se
verificou em relação aos oficiais da Justiça e da Chancelaria, que podiam entrar para o
Desembargo imediatamente após alcançarem os seus graus académicos, exigir-se-ia a
estes homens alguma experiência antes de atingirem lugares de relevo. Essa prática
consistiria, essencialmente, no exercício da Medicina ao serviço do rei (casos evidentes
de Mestre Afonso e de Rodrigo de Lucena) e/ou na lecionação no Estudo Geral (caso de
Mestre Gil II).
A tradição familiar também teria um peso importante nesta área e condicionaria
o acesso aos mais altos postos. Não admira, portanto, que se encontrem exemplos de
indivíduos que sucederam ao pai no exercício destes cargos: tal terá sido o caso de
António de Lucena, que sucedeu ao presumível progenitor Rodrigo de Lucena, e de
Mestre Gil I, que foi sucedido como Cirurgião-mor pelo filho Diogo de Faria.

***

Em síntese, eram fatores que poderiam estar na origem do acesso de


determinados indivíduos a carreiras na administração central:

a) A formação académica;
b) A experiência profissional;
c) O enquadramento familiar;

125
d) A proximidade ao monarca.

A distribuição dos ofícios pelos monarcas352 podia ser condicionada pela


patrimonialização de certos cargos e pela sua venda.

5.2. …e acabá-la

“Um oficial deixa de o ser quando morre ou quando se aposenta”, escreveu Luís
Miguel Duarte353. As carreiras dos oficiais redatores da Chancelaria de D. Manuel I
parecem confirmar esta ideia, apesar de ser difícil, em muitos casos, indicar em que
momento e por que motivo terminou o serviço ao rei.
Provavelmente, foi a morte que determinou o fim dos percursos na
administração da maior parte destes homens. Nem sempre é possível provar isso
cabalmente, mas a inexistência de cartas de aposentação ou de outras informações que
indiciem a retirada em vida dos oficiais apontam para aí. Mais claras são as situações
em que a nomeação do substituto de um oficial refere a morte do antecessor: tal é o
caso, por exemplo, do provimento de Diogo Lopes como Físico-mor, cargo “que
vaguou per falecimento do doctor mestre afonso”354.
Há dois oficiais cujo fim da carreira é conhecido e distinto da maioria dos
outros.
O primeiro trata-se de Martinho de Castelo Branco, Conde de Vila Nova de
Portimão. Como já foi referido, vendeu o seu cargo de Vedor da Fazenda a Francisco de
Portugal, Conde de Vimioso, em 1516. Terminou, dessa forma, a sua ligação direta à
administração da Fazenda do reino, apesar de ter continuado a servir os monarcas como
Camareiro-mor do príncipe e depois rei D. João.
Francisco de Portugal, Vedor da Fazenda a partir de 1516, exerceu esse ofício
até 1543. Nesse ano, retirou-se da vida pública, renunciando ao cargo e transmitindo-o
ao seu filho Afonso. Viveria ainda mais seis anos, passados em Évora, provavelmente a
escrever.

352
Uma faculdade que não lhes era contestada. DUARTE, 1999, p. 165.
353
Ressalva-se a existência de ofícios de ofícios temporários em que o serviço acaba com o final do
mandato. DUARTE, 1999, p. 203.
354
CUP, vol. XII, p. 39.

126
5.3. A duração das carreiras

Um aspeto essencial para caraterizar as carreiras ao serviço do monarca é saber


quanto tempo duravam. Optou-se por organizar os dados em função das áreas de
incidência governativa dos cargos exercidos por estes oficiais (os „departamentos‟)355 e
por agrupá-los em intervalos de dez anos.

Duração carreira
Até 10 anos 11–20 anos 21-30 anos Mais de 30 anos
Departamento
Justiça/Chancelaria 1 3 5 6
Fazenda 1 0 3 3
Defesa 7 2 0 1
Física 1 4 0 1
Total 10 9 9 10
Quadro 41 – Duração das carreiras dos oficiais da CDM 356

O quadro revela um grande equilíbrio no que toca à duração das carreiras dos
oficiais: à primeira vista, havia um número muito aproximado de carreiras curtas,
médias, longas e muito longas. O cenário muda se olharmos em particular a cada
departamento.
Os oficiais da Justiça/Chancelaria e da Fazenda quase permitem falar de uma
gerontocracia: no caso do primeiro departamento, 73% dos oficiais teve uma carreira
superior a 20 anos; no segundo, esse valor ascende aos 88%.
A situação dos titulares de cargos da Defesa é completamente oposta: 70%
destes homens teve uma carreira na administração inferior a dez anos.
Finalmente, os Físicos e Cirurgiões: em 67% dos casos a sua carreira durava
entre 11 e 20 anos.
O que justifica estas disparidades?

355
Quando um indivíduo desempenhou cargos enquadráveis em mais do que um departamento optou-se
por inseri-lo naquele em que permaneceu mais tempo. Um exemplo: Álvaro de Castro foi Vedor da
Fazenda durante cerca de três anos e Governador da Casa do Cível durante 32 anos; como tal, a sua
carreira foi enquadrada no departamento Justiça/Chancelaria.
356
Tenha-se em conta que os dados aqui apresentados dizem respeito à duração das carreiras que foi
possível apurar em função das fontes compulsadas. Provavelmente, algumas destas carreiras terão sido
mais longas do que foi possível aferir.

127
a) Como já se viu, era frequente que os titulares dos ofícios da Justiça/Chancelaria
iniciassem a sua carreira na administração pouco tempo após terem concluído a
sua formação universitária. Se se tiver em conta que, normalmente, o serviço ao
rei se prolongaria durante o resto da vida destes homens, facilmente se
depreende o principal motivo da tal gerontocracia.
b) Os Vedores da Fazenda eram homens muito próximos dos monarcas, que a
partir do momento em que os nomeavam neles depositavam confiança para que
exercessem os seus cargos até ao final da vida ou até que renunciassem a eles
voluntariamente.
c) Os oficiais da Defesa não teriam um perfil tão burocrático. Mais do que uma
carreira, a sua passagem pela administração (especialmente no caso dos
Anadéis-mores) corresponderia apenas a uma parte de um percurso mais
alargado ao serviço dos monarcas, em que se destacariam mais pelo exercício
das armas do que pela execução de tarefas administrativas. Daí, o significativo
número de carreiras curtas apontado no quadro.
d) Como também já se viu, o alcançar de cargos de topo por físicos e cirurgiões
estava dependente de uma certa experiência profissional (normalmente ao
serviço do monarca) após a obtenção do grau académico. Uma vez atingido tal
patamar no seio da administração, o titular manteria o seu ofício até à morte.
Tendo isso em conta, percebe-se que as carreiras burocráticas destes homens não
fossem tão longas como as dos oficiais da Justiça (nelas inseridos desde muito
cedo), nem tão curtas como as dos titulares de cargos da Milícia.

5.4. Havia um cursus honorum?

À boa maneira romana, impõe-se questionar se a carreira dos mais altos oficiais
da administração régia no final da Idade Média se desenvolvia segundo uma lógica
sequencial de algum modo fixa ou se existia uma grande diversidade de percursos na
burocracia. Uma vez mais, é necessário ter em conta as diferentes áreas de incidência
governativa.
Apenas no domínio da Justiça/Chancelaria é possível falar de algo semelhante a
um cursus honorum357. Como já se viu, a carreira destes oficiais iniciar-se-ia na

357
Na área da Medicina também se deteta uma certa lógica progressiva (formação em Física – experiência
profissional ao serviço do rei – ocupação de cargos de Cirurgião ou Físico-mor). No entanto, não se pode

128
sequência de uma formação superior em Leis. O percurso administrativo começaria com
um cargo de Desembargador (da Casa do Cível, da Casa da Suplicação ou tout court). A
partir daí, a progressão não era propriamente linear: como é natural, nem todos atingiam
o topo da carreira, e o tempo que mediava entre cada uma das etapas era variável. Os
passos seguintes passariam pela ocupação de ofícios diversificados, tais como os de
Ouvidor, Corregedor e Desembargador do Agravo. No topo encontrava-se o cargo de
Chanceler-mor, que muito poucos atingiram mas que vários exerceram interinamente. A
carreira administrativa de Rui Boto acaba por ser exemplar: doutorado em 1476, no
mesmo ano foi nomeado Desembargador da Casa da Suplicação; quatro anos depois,
herdou do sogro o ofício de Ouvidor do mesmo tribunal; pela mesma altura, surge como
Terceiro dos Agravos; em 1482 desempenha interinamente as funções de Chanceler-
mor; nomeado Desembargador do Paço em 1484, dez anos depois já era Chanceler-mor,
e sê-lo-ia pelo menos até abril de 1520.
Nos domínios da Fazenda e da Milícia parece existir uma distribuição muito
mais “avulsa” dos cargos. São a inserção familiar, a proximidade ao rei e o destaque
atingido em campanhas militares que mais condicionam as nomeações e ditam a
evolução das carreiras, não se detetando propriamente, em nenhum dos casos, qualquer
lógica progressiva.

5.5. Os oficiais e o Conselho régio

Na Idade Média, o Conselho régio englobava duas vertentes, “a da representação


da comunidade e a do assessoramento político do monarca”358. A natureza, o
funcionamento e a evolução deste organismo ainda não foram cabalmente esclarecidos,
uma vez que nunca foi verdadeiramente regulamentado e que são escassas as fontes que
lhe reportam diretamente359. Tanto quanto se sabe, ao longo do século XV, o número de
conselheiros de cada monarca não foi muito elevado, raramente ultrapassando os dez. A

falar propriamente de uma carreira na administração, e o fator familiar parece pesar tanto ou mais do que
o percurso académico e profissional.
358
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Conselho Real ou conselheiros do rei? A propósito dos
«privados» de D. João I”. Revista da Faculdade de Letras. História. II série, n.º 4 (1987). pp. 9-68,
maxime p. 45.
359
Uma síntese do atual estado dos conhecimentos sobre o Conselho régio encontra-se em FREITAS,
2012, pp. 157-166.

129
situação alterou-se no reinado do Venturoso: em 1518, eram cerca de 55 os conselheiros
régios360. De que forma isto se reflete na Chancelaria?
Através do escatocolo dos documentos facilmente se identifica um número
significativo de conselheiros. Normalmente, essa condição era invocada juntamente
com a identificação do ofício do redator361. Dos 38 indivíduos que integram o catálogo
prosopográfico, 23 foram membros do Conselho manuelino (61% do total). Trata-se de
titulares dos mais diversos cargos: o Chanceler-mor, os Vedores da Fazenda, vários
Desembargadores, o Coudel-mor, dois Monteiros-mores, etc362.
Tradicionalmente, competiria aos conselheiros o desempenho de relevantes
tarefas político-administrativas: receber embaixadores, assinar tratados, elaborar
legislação, testemunhar atos diplomáticos relevantes, para além de, obviamente,
aconselhar o monarca em todas as matérias que este considerasse relevantes363. No
entanto, o notável crescimento do Conselho durante o reinado de D. Manuel permite
supor que, sob a égide do Venturoso, este órgão terá assumido um papel de cariz mais
honorífico, que permitiu ao rei reforçar laços de patrocínio político que, em grande
medida, atingiram os oficiais da sua administração.

5.6. E para além da administração?

A carreira de uma parte significativa destes homens não se restringia ao


desempenho de funções burocráticas ao serviço do rei. De seguida, dar-se-á conta, de
forma breve, de outras facetas da vida pública e profissional deste conjunto de
servidores do Venturoso.

5.6.1. As armas

Entre os 38 servidores de D. Manuel estudados encontram-se participantes nos


principais conflitos militares em que Portugal se envolveu na segunda metade do século
XV e no princípio do século XVI.
360
FERREIRA, Susannah Humble – “Os castelos e o Conselho Real: patrocínio político em Portugal
(1495-1521)”. Revista de História da Sociedade e da Cultura.N.º 10 (2010).pp. 121-139, maxime p. 126.
361
Através da expressão: “El-rei o mandou por Fulano, do seu Conselho e seu Chanceler-
mor/Desembargador/…”.
362
Seria mais fácil olhar aos ofícios dos conselheiros pela negativa: basicamente, só os Físicos e
Cirurgiões-mores, para além de um Monteiro-mor, três Anadéis-mores e três oficiais da Justiça, é que não
foram conselheiros.
363
FREITAS, 2012, p. 160.

130
Tanto Diogo da Silva de Meneses como Rodrigo de Lucena combateram, em
1449, na batalha de Alfarrobeira. O primeiro, assim como Martinho de Castelo Branco,
participou ainda nas campanhas africanas e na incursão castelhana de Afonso V. O
futuro Conde de Portalegre também se destacou na conquista das Canárias.
Marrocos foi o principal palco de combate dos servidores do Venturoso, tendo
sido marcantes as conquistas de Safim (1508) e Azamor (1513). Por lá passaram
Francisco de Portugal, Garcia de Melo, João Cotrim, João da Nova e Luís de Meneses.
Os dois últimos distinguiram-se ainda na Índia, onde capitanearam navios e armadas.

5.6.2. A diplomacia

Nos séculos finais da Idade Média não existiam verdadeiros diplomatas, uma
vez que, se excetuarmos o caso italiano, eram raríssimos os casos de embaixadores
residentes. A generalidade dos monarcas europeus fazia-se representar no estrangeiro
através de missões ad hoc364, e os reis de Portugal que os homens estudados serviram
não fugiram a essa regra.
Pelo menos seis dos oficiais que integram o catálogo prosopográfico executaram
tarefas diplomáticas em nome do Príncipe Perfeito, do Venturoso e do Piedoso. Entre
eles, destacam-se claramente os Vedores da Fazenda: Álvaro de Castro, segundo Jean
Aubin, terá aproveitado as suas deslocações a Roma e à Terra Santa para obter
informações sobre o Oriente para D. João II365; Diogo Lobo encabeçou uma embaixada
enviada à Corunha em 1506; Diogo da Silva de Meneses (que para além de Vedor da
Fazenda foi Escrivão da Puridade), representou o Príncipe Perfeito perante o rei de Fez
em 1489 e negociou com os Reis Católicos o casamento de D. Manuel em 1496;
Francisco de Portugal intermediou conversações entre informadores de Marrocos e D.
João III em 1541, para além de ter sido legado do papa numa missão em 1527.
Para além dos Vedores da Fazenda, pelo menos dois oficiais ligados à Justiça,
por ventura em virtude da sua preparação jurídica, exerceram funções diplomáticas:
Aires de Almada, que foi enviado a Inglaterra em 1488 (para negociar a libertação do
Conde de Penamacor) e a Castela em 1493-1494 (para negociar o Tratado de

364
Sobre as características essenciais da diplomacia europeia nos finais da Idade Média cf.:
PÉQUIGNOT, Stéphane – “Les diplomaties occidentales, XIIIe-XVe siècle”. In Les Relations
Diplomatiques au Moyen Âge. Formes et enjeux. Paris: Publications de la Sorbonne, 2011. pp. 47-66.
365
AUBIN, Jean – Le Latin et l’Astrolabe.Études inédites sur le règne de D. Manuel I. Lisboa: Centro
Cultural Calouste Gulbenkian, 2006. p. 227.

131
Tordesilhas); e Gonçalo de Azevedo, que em datas que não foi possível determinar foi
embaixador em Castela.

5.6.3. Carreiras eclesiásticas

Num dos pontos anteriores, já se deu conta das principais funções eclesiásticas
desempenhadas por oficiais de D. Manuel I. No entanto, a carreira dos clérigos que
serviram o Venturoso não se limitou, obviamente, às posições episcopais. Vejamos caso
a caso.
Diogo Pinheiro foi nomeado reitor da igreja paroquial de S. Salvador de Pereira,
da diocese de Braga, em 1484. Em 1497, tornou-se vigário geral de Tomar da Ordem de
Cristo e administrador do mosteiro de Castro de Avelãs. Em 1514, o papa Leão X
nomeou-o bispo do Funchal. Foi ainda prior da Colegiada de Guimarães.
Diogo Ortiz de Vilhegas foi nomeado prior de S. Vicente de Fora em 1491. Para
além disso, foi bispo de Tânger (1491-1500), de Ceuta (1500-1504) e de Viseu (1504-
1519).
Fernão Rodrigues foi abade de Rorei e deão de Coimbra.
Pedro de Meneses foi reitor de pelo menos três igrejas paroquiais: S. Salvador,
da diocese de Évora; Santa Maria de Marialva, da diocese de Lamego; e S. Pedro de
Valongo, da diocese de Coimbra. Foi ainda prior de Águas Santas da Ordem do Santo
Sepulcro.
Finalmente, Pero Vaz: vigário de Tomar da Ordem de Cristo entre 1490 e 1497,
foi bispo da Guarda de 1497 a 1516.
Outros oficiais da Chancelaria do Venturoso, não tendo desenvolvido, que se
conheça, uma carreira no seio da Igreja, estiveram enquadrados no mundo eclesiástico:
Luís de Meneses tomou o hábito da Ordem de Cristo em 1512; Martim Pinheiro tirou
ordens menores, em Braga, em 1452; Rui Boto foi clérigo conjugado da diocese de
Évora.

5.6.4. A atividade comercial

São muito escassas as informações relativas ao envolvimento de oficiais da


Chancelaria de D. Manuel I na atividade comercial, mas os poucos dados existentes
apontam para que alguns destes homens tenham estado, de alguma forma, implicados na

132
transação de produtos provenientes do ultramar. O caso mais evidente é o de Nuno
Manuel que, tanto quanto Teresa Lacerda pôde apurar, participou no comércio das
especiarias orientais, tendo investido, com autorização do monarca, nas armadas de
1503, 1506, 1517, 1519, e 1520366.

5.6.5. Outras funções na Corte

Para além da administração central, da guerra e da diplomacia, vários dos


homens que têm sido estudados foram servidores da Corte de D. Manuel I, exercendo as
mais variadas funções. Seria fastidioso, e não se enquadraria nos objetivos deste
trabalho, caracterizar aqui todos os ofícios, pelo que são apenas enunciados: Armador-
mor (Jorge de Vasconcelos); Caçador-mor (Pedro de Castro); Capelão-mor (Diogo Ortiz
de Vilhegas e Pero Vaz); Camareiro-mor (Francisco de Portugal); Cosmógrafo-mor
(Diogo Ortiz de Vilhegas); Fronteiro-mor (Pedro de Castro); Guarda-mor (Nuno
Manuel); Mordomo-mor (Diogo da Silva de Meneses).
A ocupação deste tipo de cargos, vários deles com importância assinalável no
quotidiano cortesão e implicando uma grande proximidade face ao monarca, por
indivíduos que eram simultaneamente agentes importantes da burocracia régia, vem
infirmar a ideia tradicional, já posta em causa por Rita Costa Gomes, de que existiria
uma clara dicotomia entre dois tipos distintos de servidores régios: os funcionários e os
cortesãos367.

366
LACERDA, Teresa – Os Capitães das Armadas da Índia no reinado de D. Manuel I – uma análise
social. Dissertação de mestrado apresenta à FCSH/UNL. Lisboa: 2006. p. 102.
367
Cf. GOMES, 1995, pp. 212-220.

133
Mapa 1 – Património dos oficiais da CDM. Tipologia das propriedades

134
Mapa 2 – Património dos oficiais da CDM. Formas de aquisição

135
Mapa 3 – Clientelas dos oficiais da CDM. Implantação territorial

136
CONCLUSÃO

O reinado de D. Manuel I durou 26 anos. Um pouco mais do que um quarto de


século em que muita coisa mudou: muda sempre muita coisa num quarto de século.
Quando o Venturoso subiu ao trono, estava em curso o processo de
„descompartimentação do universo‟, que teve em Portugal uma das potências liderantes.
D. Manuel foi um participante ativo e importante nas transformações desse tempo, e não
um mero espectador atento que, felicíssimo na hora em que a Coroa que lhe fora parar
às mãos (na sequência da morte de oito herdeiros mais diretos do Príncipe Perfeito), se
limitara a deixar correr o que já estava em ação. Em 13 de dezembro de 1521 Portugal
era um reino maior, mais rico e mais poderoso do que em 25 de outubro de 1495. Mas
como é que estas mudanças se refletiram na Chancelaria, esse núcleo fundamental do
governo do país?
Apenas chegou aos nossos dias uma pequena parte da burocracia que foi
produzida no Desembargo de D. Manuel I: ao que tudo indica, menos de metade dos
registos. Apesar disso, o que se conhece é suficiente para que se constate que foi
durante o reinado do Venturoso que se operou uma transformação importante na forma
como os atos eram organizados e arquivados na Chancelaria: da elaboração de cadernos
em pergaminho, nos quais normalmente havia alguma coerência cronológica, que
depois eram cosidos e reunidos num volume relativo a determinado ano, passou-se para
a organização de tomos onde a maioria das cartas diz respeito a uma esfera importante
da atividade burocrática. Assim surgiram livros de ofícios, livros de privilégios, livros
de doações e livros de perdões (não sobra nenhum dos anos que foram analisados). Uma
resposta eficaz ao aumento exponencial do número de registos da Chancelaria que se
vinha verificando desde meados do século XV. Um reflexo evidente da progressiva
especialização dos diferentes „setores‟ da administração.
No que toca aos conteúdos dos diplomas, não há grandes novidades. Não surgem
novas espécies documentais, mas há alterações importantes na correlação de forças de
cada uma das áreas de incidência governativa no seio da Chancelaria. A Justiça eclipsa-
se, na medida em que desaparecem as sentenças e as cartas de perdão. Não que tenham
deixado de ser emitidas, mas devem ter sido copiadas para livros que não chegaram até
nós. Na Administração Geral, o peso da Defesa é cada vez maior. E a Graça continua a

137
atingir valor médios, não muito altos mas constantes, refletindo a liberalidade do
monarca que faz mercê aos seus súbditos. O „grande salto‟ acontece no domínio da
Fazenda: no tempo de D. João II, menos de 9% da documentação emitida enquadrava-se
neste „departamento‟; nos quatro anos estudados do reinado de D. Manuel, esse valor
atinge os 50%. Este é, como já se disse, um reino mais rico, em que a Chancelaria nos
revela mais um rei distribuidor de ofícios, de tenças e de propriedades do que um
monarca justiceiro.
Como era normal, D. Manuel interveio diretamente na preparação da burocracia
régia. Damião de Góis traça-nos dele o retrato de um homem que gostava de despachar
enquanto ouvia música e que tinha a preocupação de acompanhar diferentes momentos
do processo administrativo. Quando se reunia com os seus oficiais, não gostava de
deixar uma única petição por desembargar. O rei foi o responsável direto pela
elaboração de cerca de 42% da documentação que foi analisada, mas este valor levanta
reservas (como já se disse, é pouco provável que D. Manuel tenha transmitido
diretamente aos escribas a vontade de privilegiar as centenas de besteiros do monte que
surgem no Livro 7 da Chancelaria em forma de ementa). Em termos quantitativos, o
Venturoso desembargava mais no domínio da Fazenda. No entanto, em termos relativos,
é no âmbito da Graça que a intervenção direta do monarca mais se fazia sentir.
Relativamente aos cargos dos redatores da burocracia régia, não há novidades
importantes. O Chanceler-mor, os Vedores da Fazenda e os Desembargadores do Paço
são, para além do próprio rei, os principais responsáveis pela preparação dos diplomas.
Tanto quanto foi possível apurar, D. Manuel não teve um Vice-Chanceler, e a
participação do Escrivão da Puridade na redação de atos deixou de ser relevante. Ao que
tudo indica, houve mudanças significativas no processo administrativo associado ao
domínio da Fazenda, mas só um estudo aprofundado deste „departamento‟ do governo
manuelino poderá esclarecer isso cabalmente.
Os oficiais redatores da Chancelaria de D. Manuel I não constituíam um grupo
homogéneo. A origem geográfica, a inserção social, a condição económica e o nível
cultural destes homens eram muito diversificados, refletindo a heterogeneidade dos seus
cargos e das suas carreiras. Em termos gerais, verifica-se que a nobreza tinha um peso
significativo no seio da administração manuelina, que decorria da importância que a
Fazenda (todos os Vedores da Fazenda eram nobres) e a Defesa atingiriam no âmbito
desta burocracia. Os letrados e os clérigos continuaram a ocupar os principais cargos
enquadráveis nos domínios da Justiça e da Chancelaria propriamente dita. Pertencer ao

138
Desembargo era compensador: as funções burocráticas desempenhadas por alguns
homens contribuíram para que alcançassem títulos nobiliárquicos, desenvolvessem
redes clientelares, estabelecessem relações privilegiadas com o rei, aumentassem o seu
património e diversificassem os seus rendimentos. As carreiras, contudo, podiam ser
muito diferentes umas das outras. Dependendo do „setor‟ da administração que as
enquadrava, o seu início e evolução podia ser condicionado: pela formação académica
do indivíduo; pela sua experiência profissional; pelo seu enquadramento familiar; e pela
sua proximidade ao monarca. A duração dos percursos na burocracia também era
variável: nos domínios da Justiça e da Fazenda eram habitualmente longos e chegavam
a durar mais do que quatro ou cinco décadas; no quadro da Defesa as funções
burocráticas desempenhadas pelos oficiais tinham um cariz mais pontual, e isso refletia-
se na duração das carreiras. O serviço prestado por estes oficiais ao Venturoso não se
limitava aos cargos que exerciam no seio Desembargo: vários destes homens
participaram na guerra, executaram tarefas diplomáticas e ocuparam ofícios de cariz
mais privado.
O quadro traçado permite constatar que a Chancelaria de D. Manuel I, tendo
sofrido transformações, não foi palco de mudanças radicais. A sua estrutura externa foi
o que mais mudou e, de alguma forma, representa a transição entre o modelo medieval
de uma Chancelaria onde a organização dos livros é mais ou menos cronológica para
um sistema moderno em que a cada volume corresponde determinado tipo de cartas. No
que toca ao conteúdo dos documentos, não há novidades acentuadas, registando-se, no
entanto, que os diplomas enquadráveis no domínio da Fazenda surgem em valores
muito superiores ao que acontecia anteriormente. A estrutura da administração que é
possível traçar a partir dos atos da Chancelaria não espelha qualquer reforma
significativa.
Tenha o leitor em conta que tudo o que foi dito são conclusões baseadas na
análise de oito livros de uma Chancelaria quem tem 46, correspondentes a quatro anos
de um reinado que teve 26. As pistas que aqui são lançadas só poderão ser confirmadas
ou infirmadas por estudos mais sistemáticos, mais aprofundados e mais abrangentes.

139
140
APÊNDICE – CATÁLOGO PROSOPOGRÁFICO

141
142
NOTAS PRÉVIAS

Prosopography is the investigation of the common background characteristics of a group of actors in


history by means of a collective study of their lives.
Lawrence Stone368

1. A citação de Lawrence Stone espelha claramente o objetivo do método


prosopográfico: estudar coletivamente a vida de indivíduos que integram um
determinado grupo. Não se deve confundir prosopografia com biografia. À
partida, através do género biográfico pretende-se analisar o máximo de
dimensões que for possível da vida de um homem. Não é esse o objetivo da
prosopografia. Ao método prosopográfico está sempre associado um inquérito
fixo que é aplicado a toda a população que se quer conhecer. Sendo o
questionário mais ou menos abrangente, o que se propõe com esta metodologia é
identificar variáveis diretamente comparáveis (e, tanto quanto possível,
quantificáveis) da vida dos indivíduos e partir delas para a caracterização do
grupo. Desta forma, enquanto a biografia tem um cariz eminentemente
individual, a prosopografia é um método de estudo de grupos. Sendo duas
formas distintas de olhar, analisar e descrever a vida humana, biografia e
prosopografia podem e devem complementar-se369.

2. O inquérito prosopográfico seguido nesta dissertação foi introduzido na


historiografia portuguesa por Eugénia Pereira da Mota e baseado num
questionário-modelo da autoria de Hélène Millet370. Entretanto, já foi utilizado
em vários estudos desenvolvidos em Portugal sobre a oficialidade régia
medieval. Sendo extremamente abrangente, mas permitindo, ao mesmo tempo,
apreender de forma clara os elementos fundamentais para o estudo da sociedade
política, pareceu que faria sentido continuar a aplicar o mesmo modelo. As
alterações são muito pontuais: no campo “laços pessoais”, acrescentou-se um

368
STONE, Lawrence – “Prosopography”. Daedalus. N.º 100 (Inverno, 1971). pp. 46-79, maxime p. 46.
369
Sobre as relações que se podem estabelecer entre biografia e prosopografia, cf.: KEATHS-ROHAN,
K. S. B. – “Biography, identity and names: understanding the pursuit of the individual in prosopography”.
[consultado em 2/08/2013]. Disponível online em: http://prosopography.modhist.ox.ac.uk/
images/06%20KKR.pdf.pdf.
370
Cf. MOTA, 1989, vol. II, pp. 4-7.

143
item sobre a ligação do indivíduo ao rei; após o campo “carreira burocrática”,
incluiu-se um item sobre outros ofícios exercidos pelo oficial ao serviço do
monarca.

3. As fontes manuscritas deste catálogo são os registos dos livros da Chancelaria


de D. Manuel I. Foram ainda consultados vários documentos do Corpo
Cronológico da Torre do Tombo371.Para além disso, houve um conjunto de
fontes publicadas que se revelou fundamental: as crónicas de Damião de Góis e
de Garcia de Resende, o Livro de Linhagens do Século XVI e o Chartularium
Universitatis Portucalensis. Também se encontraram dados importantes sobre os
38 indivíduos estudados em vária bibliografia, distinguindo-se, para além de
trabalhos de cariz mais específico, os Brasões da Sala de Sintra.

4. Este catálogo tem limitações. Com mais tempo, poderia ter-se alargado o leque
de fontes (quer manuscritas, quer impressas) e bibliografia consultadas. A
principal restrição reside no facto de vários dos homens estudados terem tido
carreiras que ultrapassaram os limites do reinado de D. Manuel I. Uma vez que
as Chancelarias de D. João II e D. João III não se encontram publicadas, e não
tendo havido oportunidade para explorar convenientemente os índices existentes
na Torre do Tombo, não foi possível aceder a muita documentação que
provavelmente poderia esclarecer melhor a origem e continuação das carreiras
de muitos indivíduos.

371
Os documentos do Corpo Cronológico encontram-se digitalizados no site da Torre do Tombo. Através
do motor de pesquisa avançada deste site é possível aceder a todos os documentos do fundo que são
relativos a determinado indivíduo.

144
MATRIZ

1. Elementos cronológicos
2. Inserção geográfica
2.1.Origem
2.2.Domicílio
2.3.Local de sepultura
2.4.Viagens
3. Inserção social
3.1.Família
3.1.1. Geração precedente
3.1.2. Colaterais
3.1.3. Casamento
3.1.4. Descendência
3.2.Laços pessoais
3.2.1. De dependência
3.2.2. Clientelas
3.2.3. Ligação ao rei
3.3.Estatuto social
3.3.1. Da geração precedente
3.3.2. Do indivíduo
3.3.3. Da geração seguinte
3.3.4. Das famílias aliadas
4. Nível económico
4.1.Bens patrimoniais
4.2.Dote
4.3.Aquisições
4.4.Bens móveis
4.5.Rendimentos
4.6.Doações
4.7.Privilégios
4.8.Remunerações

145
5. Nível cultural
5.1.Universidade frequentada
5.2. Disciplinas estudadas
5.3.Grau universitário
5.4.Papel na produção cultural
6. Carreira universitária ou cultural
7. Carreira militar
8. Carreira diplomática
9. Carreira burocrática
9.1.Local
9.2.Central
9.3.Subscrição documental
10. Outros ofícios
11. Conselho
12. Carreira eclesiástica
13. Carreira mercantil
14. Vida pública
15. Vida privada

146
1. AFONSO ANES

1. 24/02/1496 – Era Ouvidor de Almada372;


15/07/1525 – Ainda membro do Desembargo e Procurador da Ordem de
Cristo373.

2.
2.1. Viseu374.

4.
4.8. Em 1501 recebeu, enquanto membro do Desembargo, 7 500 reais em cada
quartel do ano, como atestam dois recibos375.
Em 8/10/1511 foi aumentado de 10 000 para 15 000 reais de mantimento
anual, enquanto Procurador dos Feitos do Rei e da Ordem de Cristo376.
Em 14/04/1513 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 15 000 reais
de mantimento enquanto Desembargador da Casa da Suplicação 377. Este
rendimento mantinha-se em 1514378.
Em 18/07/1525 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 20 000 reais
de mantimento enquanto Desembargador e Procurador da Ordem de
Cristo379.

5.
5.3. Doutor.

9.
9.1. Ouvidor de Almada, pelo menos, entre 24/02/1496380 e 9/11/1504, quando
foi substituído por Fernão Rodrigues de Almeida, “pollas grandes ocupações
que tem de seus ofícios”381.

372
CDM, L. 26, fl. 63v.
373
CC, pt. II, mç. 46, n.º 114.
374
CDM, L. 14, fl. 49.
375
CC, pt. II, mç. 4, n.º 96; CC, pt. II, mç. 5., n.º 60.
376
CDM, L. 8, fl. 91.
377
CC, pt. II, mç. 38, n.º 7.
378
CC, pt. II, mç. 46, n.º 114.
379
CC, pt. II, mç. 126, n.º 117.
380
CDM, L. 26, fl. 63v.

147
9.2. Em 11/07/1499, após ser examinado pelo Doutor Rui Boto, recebeu licença
para ser procurador da Casa da Suplicação382.
Em 1501 era Sobrejuiz da Casa do Cível383.
Em 8/10/1511 era Procurador dos Feitos do Rei e da Ordem de Cristo384.
Em 4/04/1513 já era Desembargador da Casa da Suplicação385.
Em 18/07/1525 ainda era Procurador dos Feitos do Rei e da Ordem de Cristo
e membro do Desembargo386.
Exerceu interinamente o ofício de Chanceler-mor em diferentes períodos dos
anos de 1510387, 1511388, 1512389 e 1513390.
9.3. Subscreveu, em 1512, uma carta de apresentação de clérigos a igrejas do
padroado régio, enquanto membro do Desembargo, Procurador do Rei e
Chanceler-mor interino.

Assinatura391

381
CUP, vol. X, p. 197.
382
CDM, L. 14, fl. 49.
383
DUARTE, 1999, p. 670.
384
CDM, L. 8, fl. 91.
385
CC, pt. II, mç. 38, n.º 7.
386
CC, pt. II, mç. 126, n.º 117.
387
CDM, L. 3, fl. 38v-39.
388
CDM, L. 8, fl. 21, 85-93.
389
CDM, L. 7, fl. 44.
390
CDM, L. 42, fl. 74-89v.
391
CC, pt. II, mç. 4, n.º 96.

148
2. MESTRE AFONSO

1. 5/01/1499 – Já era físico de D. Manuel I;


1521 – Ano provável do falecimento392.

3.
3.1.
3.1.4. Pai de Cristóvão da Costa393 e Simão da Costa394.
3.3.
3.3.3. Cristóvão da Costa doutorou-se em Siena e foi membro do
Desembargo, pelo menos, entre 1520395 e 1537396.
Simão da Costa foi capelão de D. Manuel I397.

4.
4.5. Em 22/02/1514 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 4 240 reais
de vestiaria398.
Em 1518, recebia 2 500 reais por mês de moradia, enquanto Físico-mor399.

5.
392
A datação da morte de Mestre Afonso revela-se problemática. Em 25/02/1521 Mestre Afonso foi
substituído pelo Doutor Diogo Lopes como Físico-mor (CUP, vol. XII, pp. 39-44) e, num documento de
5/03/1521, Cristóvão Costa é referido como filho do Mestre Afonso que havia sido Físico-mor, o que
indicia deve ter falecido pelos primeiros meses desse ano (CDM, L. 35, fl. 90). No entanto, Metre Afonso
surge como redator de dois documentos em 9/07/1521 (CDM, L. 18, fl. 103) e em 24/08/1521 (CDM, L.
39, fl. 58). Tendo isto em conta, poder-se-ia pensar que Cristóvão da Costa teria sido filho de um outro
Mestre Afonso (Madeira) que foi Físico-mor de D. Afonso V.Há dois factos que contribuem para que esta
ideia seja refutada:
1. Afonso Madeira doutorou-se antes de 1451 e faleceu em 1475 (DURÃO, 2002, vol. II, pp. 9-11),
enquanto Cristóvão da Costa alcançou o mesmo grau em 1518, iniciando pouco depois a sua
carreira burocrática. Ou seja, mesmo que deduzamos que Cristóvão da Costa teria nascido no
último ano da vida de Afonso Madeira (o que, não sendo de todo impossível, não é o mais
provável), isso significaria que só se teria doutorado e começado o seu percurso ao serviço do rei
com cerca de 43 anos. A discrepância cronológica significativa entre a morte de um e o princípio
da vida profissional de outro indicia que não seriam, respetivamente, pai e filho.
2. Em 1518, na lista de moradores da casa de D. Manuel, é referido um Simão da Costa, filho do
então Físico-Mor Mestre Afonso (Provas, vol. II, p. 440). Tendo em conta o apelido, facilmente
se deduz que seria irmão de Cristóvão da Costa que, como tal, só poderia ser filho do Mestre
Afonso que foi físico do Venturoso.
393
CDM, L. 36, fl. 107.
394
Provas, vol. II, p. 440.
395
CDM, L. 36, fl. 107.
396
CUP, vol. XII, p. 52.
397
Provas, vol. II, p. 440.
398
CC, pt. II, mç. 45, n.º 49.
399
Provas, vol. II, p. 461.

149
5.1. Montpellier400.
5.3. Doutor, pelo menos, desde 1499401.

6. Em 10/03/1499, após recomendação régia402, foi nomeado lente da cadeira de


Física do Estudo Geral, substituindo o Doutor João do Rego403.
Em 24/12/1517 renunciou à cadeira da véspera de Medicina do Estudo Geral404.

9.
9.2. Em 21/11/1514 foi nomeado Físico-mor, substituindo o Doutor Mestre
António405.
Em 25/02/1521 foi substituído pelo Doutor Diogo Lopes406. No entanto,
continua a aparecer como redator de cartas, pelo menos, até 24/08/1521407.
9.3. Subscreveu, em 1521, enquanto Físico-mor, duas cartas de físico.

10. Físico do rei, pelo menos, desde 1499408.

400
SERRÃO, 1971, pp. 145-146.
401
CUP, IX, p. 353.
402
CUP, vol. IX, p. 353.
403
CDM, L. 16, fl. 22v, publicado em CUP, vol. IX, p. 360.
404
ACUP, vol. II, pp. 52-53.
405
CUP, vol. XI, p. 300.
406
CUP, vol. XII, pp. 39-44.
407
CDM, L. 39, fl. 58.
408
CUP, vol. IX, p. 353.

150
3. AIRES DE ALMADA

1. 21/10/1486 – Nomeado Sobrejuiz da Casa do Cível;


1512 – Já falecido409.

2.
2.1. Provavelmente, seria natural de Lisboa, onde o seu pai é dado como
morador na freguesia da Madalena em 1451410.
2.4. Deslocou-se a Inglaterra, em 1488411, e a Castela, em 1493-1494412.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Afonso de Almada413.
3.1.3. Casado com Catarina Gil414.
3.1.4. Pai de João de Almada415 e Luís de Almada416.
3.3.
3.3.1. Afonso de Almada era escudeiro da Casa Real417.
3.3.3. João de Almada doutorou-se e foi nomeado Desembargador da Casa
da Suplicação em 1532418.
Luís de Almada surge no rol dos escudeiros fidalgos de D. Manuel I
no primeiro quartel de 1518419.

4.

409
CUP, vol. VIII, pp. 187-188.
410
MOISÃO, Cristina – “Os hospitais medievais de Lisboa – hospital e albergaria da Madalena”.
Histórias de Lisboa Antiga. (8/11/2012a). [Consultado em 19/01/2013]. Disponível em:
http://lisboaantiga.
blogspot.pt/2012/11/os-hospitais-medievais-de-lisboa_8962.html.
411
CrGR, p. 108.
412
CrGR, pp. 243-244.
413
MOISÃO, 2012a.
414
CUP, vol. XV, p. 581.
415
CUP, vol. XII, pp. 351-352.
416
Provas, vol. II, p. 453.
417
MOISÃO, Cristina – “Hospitais medievais de Lisboa (2ª parte)”. Revista da Ordem dos Médicos. N.º
134 (outubro de 2012b). pp. 78-82, maxime p. 82.
418
CUP, vol. XIV, p. 593.
419
Provas, vol. II, p. 453.

151
4.6. Em 21/11/1497, foi nomeado terceira pessoa do emprazamento de umas
casas e dois quintais do Hospital de Santa Maria dos Inocentes, em
Santarém, por João de Sampaio, clérigo420.
4.8. Em 1501, enquanto membro do Desembargo, recebeu 15 000 reais em cada
quartel do ano, como atestam quatro recibos421.

5.
5.3. Licenciado.

8. Em 1488 foi enviado como embaixador do rei a Inglaterra, com o objetivo de


reclamar a libertação do Conde de Penamacor422.
Entre 1493 e 1494 foi embaixador em Castela, sendo um dos negociadores do
Tratado de Tordesilhas423.

9.
9.2. Em 21/10/1486 foi nomeado Sobrejuiz da Casa do Cível424.
Em 12/10/1487 foi nomeado Corregedor da Corte dos feitos cíveis, função
que ainda exercia em 1494, quando foi assinado o Tratado de Tordesilhas425.
Foi Desembargador dos Agravos, pelo menos, entre 19/03/1496 e
9/07/1504426.
Foi Juiz dos Feitos do Rei por especial mandado, pelo menos, entre
2/05/1497 e 18/05/1503427.
Antes de 13/08/1499, andou com alçada nas comarcas da Beira e da
Estremadura428.
Exerceu interinamente o ofício de Chanceler-mor em diferentes períodos dos
anos de 1497429, 1499430 e 1500431.

420
CDM, L. 28, fl. 4v.
421
CC, pt. II, mç. 4, n.º 12.
422
CrGR, p. 108.
423
CrGR, pp. 243-244.
424
CUP, vol. VIII, pp. 187-188.
425
Tratado de Tordesilhas e outros documentos. Dir. de Luís de Albuquerque. Lisboa: Publicações Alfa,
1989. p. 61.
426
TESTOS, 2011, p. 143.
427
TESTOS, 2011, p. 143.
428
CUP, vol. IX, pp. 390-391; TESTOS, 2011, p. 143.
429
CDM, L. 29, fl. 18; CDM, L. 30, fl. 19-20.
430
CDM, L. 14, fl. 63v-68v.

152
9.3. Subscreveu, em 1496, enquanto Desembargador dos Agravos, juntamente
com o Doutor Fernão da Mesquita, quatro diplomas: duas cartas de perdão,
uma carta de estalajadeiro e um provimento de ofício.

11. Membro do Conselho, pelo menos, desde 1494432.

14. Em 1490 fez a arenga de abertura das Cortes de Évora433.


O grupo dos negociadores do Tratado de Tordesilhas, do qual fazia parte, é
descrito por Garcia de Resende como “pessoas no reyno de muyto bom saber,
grande confiança e muyta autoridade”434.
Num documento de 1523 foi caracterizado como um “português e cristão
limpo”435.

Assinatura436

431
CDM, L. 12, fl. 46v-50v.
432
Tratado de Tordesilhas, 1989, p. 61.
433
CrGR, p. 103.
434
CrGR, p. 243.
435
LEITÃO, 2013, p. 483.
436
CC, pt. II, mç. 4, n.º 12.

153
4. ÁLVARO DE CASTRO

1. 1484 – Surge na lista dos cavaleiros fidalgos que integravam a casa de D. João
II437;
Setembro de 1528 – Faleceu438.

2.
2.4. Segundo Damião de Góis, viajou bastante439. Estão documentadas as suas
deslocações a Roma e Jerusalém440.

3.
3.1.
3.1.1. Filho segundo de D. Garcia de Castro e D. Brites da Silva441.
3.1.2. Irmão de D. Rodrigo, D. Fernando, D. Jorge, D. Filipa, D. Guiomar,
D. António, D. Francisco e D. Isabel442.
3.1.3. Casado com D. Leonor de Noronha443.
3.1.4. Pai de D. Fernando, D. João, que “morreo moço”, D. Inês, D. Brites,
D. Isabel444, D. Jerónimo, D. Bernardo, D. Joana e D. Garcia445.
3.2.
3.2.3. Segundo Damião de Góis, era um indivíduo em quem “elrei dõ Ioão
segundo cõfiava muito”446.
Foi uma das testemunhas do testamento de D. João II e um dos
conselheiros que deviam auxiliar D. Manuel a executar este
documento447.
Estava com o Príncipe Perfeito no momento da sua morte448.
3.3.

437
Provas, vol. II, p. 221.
438
Brasões, vol. II, p. 174.
439
CrDG, vol. III, p. 179.
440
CrDG, vol. III, p. 139.
441
LL, p. 96.
442
LL, p. 96.
443
LL, p. 97.
444
LL, p. 97.
445
GAYO, 1938-1941, vol. XI, p. 60.
446
CrDG, vol. III, p. 138.
447
Provas, vol. II, pp. 216-217.
448
CrGR, p. 285.

154
3.3.1. D. Garcia era irmão do primeiro Conde Monsanto449, senhor do paúl
de Boquilobo450 e membro do Conselho Real451.
3.3.2. Fidalgo da Casa Real452.
3.3.3. D. Fernando herdou a casa e o ofício do pai453 e casou com uma filha
do terceiro Conde de Monsanto454.
D. João foi Vice-Rei da Índia455.
3.3.4. Genro do Conde de Abrantes456.
Cunhado de Gomes Soares, Alcaide-mor de Torres Vedras457.
Cunhado de Aires da Silva, Regedor da Casa da Suplicação e
Camareiro-mor de D. João II458.
Sogro de D. Afonso Pacheco, fidalgo castelhano que era irmão do
Marquês de Vila Nova del Fresno459.
Segundo Jean Aubin, as principais famílias com as quais mantinha
relações próximas eram: Monsanto, Lima, Almeida e Coutinho460.

4.
4.1. Segundo Damião de Góis, “teve grande casa de criados, dõzellas e
escravos”461.
4.3. Em 9/09/1498 comprou a Clemente Fernandes, escudeiro de D. Diogo
Lobo, umas casas muito danificadas em Lisboa, por 35 000 reais. O rei
confirmou o contrato em 20/09/1498462.
4.5. Em 1484, enquanto cavaleiro-fidalgo da casa de D. João II, recebia 1 200
reais de moradia463.

449
LL, p. 96.
450
Brasões, II, p. 60.
451
MORENO, Humberto Baquero – A Batalha de Alfarrobeira. Antecedentes e significado histórico.
Lourenço Marques: Edição do autor, 1973. p. 768.
452
Provas, vol. II, p. 221.
453
Brasões, vol. II, p. 174.
454
LL, p. 97.
455
Brasões, vol. II, p. 174.
456
LL, p. 97.
457
LL, p. 96.
458
LL, p. 96.
459
GAYO, 1938-1941, vol. XI, p. 60.
460
AUBIN, 2006, vol. III, p. 227.
461
CrDG, vol. III, p. 139.
462
CDM, L. 29, fl. 124v.
463
Provas, vol. II, p. 221.

155
Em 20/06/1496 foi-lhe confirmada tença anual de 40 000 reais, tal como
tinha o seu pai D. Garcia464.
Em 13/02/1497 foi-lhe confirmada uma tença anual de 100 000 reais, que lhe
havia sido atribuída por D. João II em 30/09/1493465.
Em 20/05/1500 foi-lhe feita mercê da renda da saboaria preta de Lisboa, tal
como o seu pai a tinha466.
Em 21/05/1500 foi-lhe feita mercê da renda da judiaria de Lamego, tal como
o seu pai a tinha, o que equivalia a 55 000 reais anuais467.
Em 4/02/1502 foi-lhe atribuída uma tença anual de 102 864 reais, na qual se
estavam incluídos 85 000 reais do seu ordenado de Governador da Casa do
Cível468.
No espaço de dois dias, em maio de 1504, foram despachadas quatro
provisões para que lhe fossem pagas as seguintes tenças:
- 12/05/1514 – 100 000 reais469;
- 12/05/1514 – 100 000 reais470;
- 12/05/1514 – 40 000 reais471;
- 13/05/1514 – 30 000 reais472.
4.6. Em 1521, por altura do casamento da sua filha D. Brites, deu-lhe 20 000
dobras de dote473.
4.8. Recebeu, no primeiro quartel de 1501, enquanto Governador da Casa do
Cível, 21 250r474.

8. Jean Aubin avança que as viagens que Álvaro de Castro fez antes de ocupar
cargos importantes da administração, para além das suas motivações pias,
podiam estar relacionadas com a política de obtenção de informações sobre o
Oriente levada a cabo por D. João II475.

464
CDM, L. 13, fl. 34v.
465
CDM, L. 30, fl. 57.
466
CDM, L. 13, fl. 34.
467
CDM, L. 13, fl. 34v.
468
Brasões, vol. II, p. 174.
469
CC, pt. II, mç. 47, n.º 75.
470
CC, pt. II, mç. 47, n.º 76.
471
CC, pt. II, mç. 47, n.º 77.
472
CC, pt. II, mç. 47, n.º 85.
473
CDM, L. 18, fl. 59v.
474
DUARTE, 1999, p. 669.
475
AUBIN, 2006, vol. III, p. 227.

156
9.

9.2. Em 1493 ou 1494 foi nomeado Vedor da Fazenda, substituindo Martinho de


Castelo Branco, que havia sido nomeado Governador da Casa do Cível476.
Em 26/04/1496 foi nomeado Governador da Casa do Cível, substituindo
Martinho de Castelo Branco477, ofício que ocupou até à morte478.
Continuou na vedoria, após ter sido nomeado Governador, pelo menos, até
30/12/1496479.
9.3. Subscreveu, em 1496, enquanto Vedor da Fazenda, 84 diplomas: 79
provimentos de ofício, três contratos de exploração, uma carta de doação de
bens e direitos, uma carta de privilégio em geral e um documento
enquadrado na rubrica “diversos”.

11. Membro do Conselho, pelo menos, desde 9/01/1495480.

14. Foi encarregado por D. João II, juntamente com Aires da Silva, de informar D.
Manuel de que seria o seu sucessor481.
Também juntamente com Aires da Silva, foi responsável pelo restabelecimento
da ordem pública em Lisboa, na sequência das convulsões populares contra os
cristãos-novos de abril de 1506482.
Esteve presente na audiência com os principais nobres e membros da
administração promovida por D. Manuel I para justificar o seu casamento483.
Descrito por Damião de Góis como “muito cortesam, grande motejador, mui
eloquete no falar (…) muito valido nestes regnos”484.

15. Em 1512, por mandar açoitar violentamente um antigo criado seu que se
encontrava enamorado por uma escrava da sua casa, foi suspenso do seu ofício e

476
Brasões, vol. II, p. 174.
477
Brasões, vol. II, p. 174.
478
CrDG, vol. III, p. 138.
479
CDM, L. 33, fl. 80.
480
CDM, L. 33, fl. 81v.
481
CrDG, vol. III, pp. 135-139.
482
COSTA, 2007, pp. 208-209.
483
BUESCU, Ana Isabel – D. João III. 1502-1557. Lisboa: Temas e Debates, 2008. pp. 83-84.
484
CrDG, vol. III, p. 139.

157
mantido em prisão domiciliária. Este castigo manteve-se durante algum tempo, e
o rei só o levantou após intervenção da mulher de D. Álvaro485.

Assinatura486

485
CrDG, vol. III, pp. 139-141.
486
CC, pt. II, mç. 4, n.º 6.

158
5. ÁLVARO FERNANDES

1. 4/04/1497 – Se não houver confusão por homonímia, era capelão de D. Manuel


I487;
28/09/1535 – Ainda no Desembargo, enquanto Chanceler-mor488.

3.
3.1.
3.1.4. Pai de Fernão Gomes de Sousa489 e de D. Paula, que casou com D.
Brás Henriques490.
3.2.
3.2.2. Em 20/06/1528, Diogo Lopes, seu criado, foi nomeado tabelião de
Monsanto491.

4.
4.1. Em 3/09/1526 é referido como proprietário de um chão nas imediações do
Estudo Geral, em Lisboa492.
4.5. Em 20/11/1528, a rainha ordenou que lhe fossem pagos 127 800 reais
relativos a direitos de Chancelaria493.
Em 8/03/1530, enquanto Chanceler-mor do Infante D. Henrique, recebeu 3
000 reais de uma escrevaninha494.
4.8. Em 26/03/1501, quando foi nomeado Desembargador da Casa da
Suplicação, o seu salário foi fixado em 45 000 reais anuais495, valor
comprovado por recibos do mesmo ano496.

5.
5.3. Doutor.

487
CUP, vol. IX, p. 252.
488
CUP, vol. XV, p. 545.
489
CUP, vol. XV, p. 545.
490
LL, pp. 244-245.
491
CUP, vol. XIII, p. 395.
492
ACUP, vol. II, p. 391.
493
CC, pt. I, mç. 41, n.º116.
494
CC, pt. I, mç. 44, n.º 103.
495
CDM, L. 1, fl. 14.
496
CC, pt. II, mç. 4, n.º 33.

159
9.
9.2. Em 26/03/1501, foi nomeado Desembargador da Casa Suplicação497,
exercendo essas funções, pelo menos, até 5/11/1502498.
Foi Desembargador com alçada na ilha da Madeira, pelo menos, entre
8/07/1504 e 12/05/1505499.
Em 5/11/1512 era, por especial mandado, Desembargador do Paço500.
Foi Corregedor da Corte dos feitos crimes, pelo menos, entre 1515 e
1/04/1519501.
Exerceu interinamente o ofício de Chanceler-mor em diferentes períodos de
1515502, 1518503, 1527504, 1528505 e 1529506. Em 28/09/1535 era Chanceler-
mor507.
9.3. Subscreveu, em 1512, enquanto Desembargador do Paço, uma carta de
privilégio em geral.

10. Foi Chanceler-mor do Infante D. Henrique, pelo menos, a partir de 4/04/1519508.

11. Membro do Conselho, pelo menos, desde 28/09/1535509.

12. Se não houver confusão por homonímia, era capelão de D. Manuel I em


4/04/1497510.

497
CDM, L. 1, fl. 14.
498
TESTOS, 2011, p. 144.
499
TESTOS, 2011, p. 144.
500
CDM, L. 7, fl. 45v.
501
TESTOS, 2011, p. 144.
502
CDM, L. 15, fl. 191.
503
CDM, L. 44, fl. 84v; CC, pt. II, mç. 77, n.º 123.
504
CUP, vol. XII, p. 318.
505
CUP, vol. XIII, pp. 395-396.
506
CUP, vol. XIII, pp. 518-519.
507
CUP, vol. XV, p. 545.
508
TESTOS, 2011, p. 144.
509
CUP, XV, p. 545.
510
CUP, vol. IX, p. 252.

160
Assinatura511

511
CC, pt. II, mç. 4, n.º 33.

161
6. ÁLVARO DE LIMA

1. 6/02/1496 – Já era Monteiro-mor512;


4/01/1511 – Já tinha falecido513.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de D. Leonel de Lima e D. Filipa da Cunha514.
3.1.2. Irmão de D. João de Lima, Fernão de Lima, Duarte da Cunha, D.
Rodrigo de Melo, Pero Álvares de Lima de Soto Maior, D. Brites da
Silva, D. Maria de Lima, D. Isabel da Silva, D. Inês de Soto
Maior515.
3.1.3. Casado com D. Violante Nogueira516.
3.1.4. Pai de D. João de Lima, D. Afonso, D. Teresa de Lima, D. Filipa de
Lima, D. Catarina de Lima517 e D. Joana de Lima518.
3.2.
3.2.2. Em 25/02/1493, Rodrigo de Barros, seu escudeiro, foi nomeado
monteiro-mor de Óbidos e de Alcobaça519.
3.3.
3.3.1. D. Leonel de Lima foi o primeiro Visconde de Vila Nova de
Cerveira520.
3.3.2. Fidalgo da Casa Real.
3.3.3. D. João de Lima herdou o ofício do pai521.
3.3.4. Genro de Pedro Barreto, comendador de Castro Verde da Ordem de
Santiago522.
Cunhado de D. Garcia de Castro, irmão do Conde de Monsanto.

512
CDM, L. 26, fl. 46.
513
CC, pt. II, mç. 24, n.º 144.
514
LL, p. 256.
515
LL, p. 256.
516
LL, p. 259-260.
517
LL, p. 260.
518
GAYO, 1938-1941, vol. XVII, p. 127.
519
CDM, L. 37, fl. 10.
520
LL, p. 256.
521
LL, p. 260.
522
GAYO, 1938-1941, vol. XVII, p. 127.

162
Cunhado dos senhores de Celorico de Basto, de Baião, de Asseiceira,
de Regalados e Valadares e da Terra das Roças e de uma filha do
Conde de Abrantes523.

9.
9.2. Monteiro-mor, pelo menos, entre 25/02/1493524 e 23/12/1498525.
9.3. Subscreveu, em 1496, enquanto Monteiro-mor, seis cartas de provimento de
ofício.

10. Monteiro-mor do infante D. Fernando, pai de D. Manuel I526.

11. Membro do Conselho, pelo menos, desde 25/02/1493527.

523
LL, pp. 256-257.
524
CDM, L. 37, fl. 10.
525
CDM, L. 17, fl. 87.
526
LL, p. 259.
527
CDM, L. 37, fl. 10.

163
7. ANTÓNIO DE LUCENA

1. 1489 – Começou a estudar em Florença528;


21/11/1514 – Já tinha falecido, sendo substituído enquanto Físico-mor529.

3.
3.1.
3.1.1. Possivelmente, era filho do Doutor Mestre Rodrigo de Lucena, seu
antecessor como Físico-mor.
3.1.2. Caso fosse filho de Rodrigo de Lucena, era irmão do Doutor Diogo
de Lucena530 e de João de Lucena531.
3.3.
3.3.1. Rodrigo de Lucena era Cavaleiro da Casa Real532.
3.3.2. Cavaleiro da Casa Real.

5.
5.1. Florença (1489-1492)533.
5.3. Doutor.

9.
9.2. Foi Físico-mor, pelo menos, a partir de 28/08/1497534.
Em 21/11/1514, tendo já falecido, foi substituído pelo Doutor Mestre
Afonso535.
9.3. Subscreveu, em 1504, enquanto Físico-mor, duas cartas de físico.

528
FARELO, Mário – “The Portuguese peregrinatio medica in the Late Medieval Period: a possible
overview”. [versão não publicada]. (2011). pp. 15-16.
529
CUP, vol. XI, p.300.
530
TESTOS, 2011, p. 149.
531
MORENO, 1973, p. 1046.
532
MOTA, 1989, vol. II, p. 151.
533
FARELO, 2011, pp. 15-16.
534
CDM, L. 14, fl. 88.
535
CUP, vol. XI, p. 300.

164
8. DIOGO ÁLVARES

1. 4/03/1496 – Já era Anadel-mor dos besteiros do monte536;


21/07/1506 – Já tinha sido substituído por Garcia de Melo537.

3.
3.3.
3.3.2. Fidalgo da Casa do Rei.

9.
9.2. Foi Anadel-mor dos besteiros do monte, pelo menos, entre 4/03/1496538 e
31/01/1505539.
Em 21/07/1506 já tinha sido substituído por Garcia de Melo540.
9.3. Subscreveu, em 1496 e 1504, enquanto Anadel-mor dos besteiros, 103
diplomas: uma carta de aposentação e 102 cartas de defesa e privilégios de
natureza militar.

536
CDM, L. 40, fl. 89v.
537
CDM, L. 44, fl. 125v.
538
CDM, L. 40, fl. 89v,
539
CDM, L. 22, fl. 111v.
540
CDM, L. 44, fl. 125v.

165
9. DIOGO LOBO

1. Princípio da década de 1460 – Altura provável do nascimento541;


Final de 1525 – Faleceu542;

2.
2.1. Provavelmente, seria natural do Alentejo, onde se localizavam os senhorios
dos seus pais que viria a herdar.
2.4. Deslocou-se a Santiago de Compostela (1502), acompanhando o rei543, e à
Corunha (1506), enquanto embaixador544.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de D. João Fernandes da Silveira e D. Maria de Sousa Lobo545.
3.1.2. Irmão de João Fernandes, Fernão da Silveira546, D. Filipe de Sousa,
D. Martinho da Silveira e D. Isabel de Sousa547.
3.1.3. Casou duas vezes.
Primeiro, na sequência de um contrato assinado em agosto de 1483,
com D. Joana de Noronha, que morreu em 1508548.
Depois, em 1512 ou 1513, com D. Leonor de Vilhena549.
3.1.4. Pai, pelo primeiro casamento, de: D. João Lobo, D. Rodrigo, D.
António, D. Francisco, D. Filipe, D. Pedro, D. Leonor de Noronha e
D. Maria550.
Gerou, no segundo casamento, mais três filhos: D. Luís, D. Antónia e
D. Margarida551.

541
PELÚCIA, Alexandra – “A Baronia do Alvito e a expansão manuelina no Oriente ou a reação
organizada à política imperialista”. In COSTA, João Paulo Oliveira e; RODRIGUES, Vítor Luís Gaspar –
A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Atas do Colóquio Internacional. Lisboa: Universidade
Nova de Lisboa / Centro de História de Além-Mar, 2004. pp. 279-302.
542
Brasões, vol. III, p. 353.
543
COSTA, 2007, p. 178.
544
CrDG, vol. II, p. 43.
545
LL, pp. 307-308.
546
Estes dois eram, apenas, filhos do seu pai.
547
LL, pp. 307-308.
548
LL, p. 308; Brasões, vol. III, pp. 353-354.
549
LL, p. 309; Brasões, vol. III, p. 354.
550
LL, pp. 308-309.
551
LL, p. 309.

166
Teve, ainda, um filho bastardo: D. João Lobo552.
3.2.
3.2.2.
Em 26/05/1500 foi feita mercê, por “se assim é”, a António Vaz, seu
escudeiro, de metade da fazenda de uma mulher chamada
Godinha553.
Em 1/10/1500, João Mendes, seu criado, foi provido no ofício de
tabelião e escrivão da câmara de Viana do Alvito554.
Em 14/10/1500, o mesmo João Mendes foi nomeado tabelião de
Alvito555.
Em 20/10/1500, o mesmo João Mendes foi nomeado escrivão das
sisas do rei de Viana do Alvito556.
Em 10/02/1501, Pedro Álvares, seu escudeiro, foi perdoado por ter
dito que não cria em Deus557.
Em 26/04/1501, Nuno Martins, seu escudeiro, foi nomeado, por se
assim é, tabelião da vila de Mourão558.
Em 14/12/1502, João Fernandes, seu criado, foi nomeado tabelião de
Estremoz559.
Em 12/01/1504, João Roiz, seu criado, foi nomeado, por se assim é,
escrivão das sisas da vila de Avis560.
Em 9/10/1504, João Cansado, seu escudeiro, foi nomeado contador
dos feitos e custas e inquiridor das inquirições judiciais de Viana do
Alvito561.
Em 10/11/1506, Cristóvão Lopes, seu escudeiro, foi nomeado
tabelião de Lisboa e do seu termo562.
Em 11/05/1515, Gaspar Vaz, seu criado, foi nomeado tabelião da vila
de Vitória563.

552
LL, p. 309.
553
CDM, L. 13, fl. 4.
554
CDM, L. 12, fl. 47v.
555
CDM, L. 12, fl. 50.
556
CDM, L. 12, fl. 47.
557
CDM, L. 45, fl. 28.
558
CDM, L. 1, fl. 20.
559
CDM, L. 2, fl. 62.
560
CDM, L. 15, fl. 42.
561
CDM, L. 23, fl. 32.
562
CDM, L. 44, fl. 20.

167
Em 11/09/1515, Vicente Marques, seu escudeiro, foi nomeado vedor
dos panos da Covilhã564.
Em 5/10/1515, o mesmo Vicente Marques foi nomeado tabelião da
Covilhã565.
Em 12/11/1515, Bastião Álvares, seu criado, foi nomeado recebedor
dos direitos das terças apropriadas para as obras dos muros e
fortalezas da contadoria de Beja566.
Em 2/07/1516, João dos Santos, seu escudeiro, foi nomeado escrivão
das sisas de Vila Nova de Alvito567.
Em 4/08/1516, João Álvares, seu escudeiro, foi nomeado escrivão
das sisas de Fronteira568.
Em 19/07/1517, Luís Toscano, seu escudeiro, foi nomeado juiz das
sisas de Vila Nova de Alvito569.
Em 30/10/1518, Álvaro Martins, seu escudeiro, foi nomeado juiz das
sisas de Fronteira570.
Em 23/11/1520, Bastião Gonçalves, seu colaço, foi nomeado
escrivão do almoxarifado de Moura571.
3.2.3. Era um dos cavaleiros que se encontravam com D. João II no
momento da sua morte572.
Foi “um dos principais colaboradores e conselheiros no governo do
Vneturoso”573, sendo possível, no entanto, que a sua influência tenha
decrescido a partir de 1515574.
Foi designado no testamento de D. Manuel um dos elementos que
deviam integrar o governo do reino caso o príncipe D. João tivesse
menos de 20 anos no momento da sua morte575.

563
CDM, L. 24, fl. 42v.
564
CDM, L. 24, fl. 127v.
565
CDM, L. 24, fl. 124v.
566
CDM, L. 24, fl. 154.
567
CDM, L. 25, fl. 110v.
568
CDM, L. 25, fl. 99v.
569
CDM, L. 38, fl. 40v.
570
CDM, L. 44, fl. 31v.
571
CDM, L. 36, fl. 120.
572
CrGR, p. 285.
573
PELÚCIA, 2004, p. 284.
574
AUBIN, 2006, vol. III, p. 396.
575
Provas, vol. II, p. 427.

168
Encontrava-se presente junto de D. Manuel no momento da sua
morte576.
Em 10/03/1522 foi procurador de D. João III na assinatura do
contrato de casamento de D. Fernando com a filha do Conde de
Marialva e Loulé577.
3.3.
3.3.1. D. João da Silveira foi o primeiro Barão de Alvito e Vedor da
Fazenda e Escrivão da Puridade de D. João II578.
3.3.2. Barão de Alvito, a partir de agosto ou setembro de 1499579.
Segundo Anselmo Braancamp Freire, é possível que tenha sido feito
Conde de Alvito em 1522, mas a mercê nunca chegou a ser
publicada580.
3.3.3. D. Rodrigo Lobo foi Barão de Alvito e Vedor da Fazenda de D. João
III, sucedendo ao pai581.
3.3.4. Pelo primeiro casamento, foi genro do Conde de Abrantes582.
Pelo segundo casamento, foi genro de Nuno Martins da Silveira,
Senhor de Góis583.
Sogro de Diogo da Silva, embaixador no Concílio de Trento584.
Cunhado do primeiro Conde de Sortelha585.
Cunhado de um irmão do Conde de Cantanhede586.
Teve várias ligações a figuras de relevo da expansão na Ásia:
- era primo co-irmão de Lopo Soares de Albergaria, capitão-mor
de uma esquadra e terceiro Governador da Índia, sucedendo a Afonso
de Albuquerque;
- era primo como sobrinho de D. Aleixo de Meneses, capitão-mor
do mar da Índia;

576
BUESCU, 2008, p. 120.
577
BUESCU, 2008, p. 145.
578
LL, pp. 307-308.
579
Brasões, vol. III, p. 352.
580
Brasões, vol. III, p. 353.
581
LL, p. 309.
582
LL, p. 308.
583
LL, p. 309.
584
Brasões, vol. II, p. 62.
585
Brasões, vol. III, p. 354.
586
PELÚCIA, 2004, pp. 282-283.

169
- era sobrinho por afinidade de D. Guterre Monroy, indigitado
capitão de Goa;
- era sobrinho de D. João da Silveira, capitão de navio que liderou
várias expedições;
- era cunhado de Simão da Silveira, capitão de Cananor587.

4.
4.1. “Senhor da casa de seu pay”, herdou os senhorios de Alvito, Vila Nova,
Ribeira de Nisa, Aguiar e Oriola588.
4.3. Em 6/10/1501 aforou um lanço de muro junto às Portas da Ribeira, em
Lisboa, por 100 reais por ano, descontados de uma tença589.
Em 4/02/1514 adquiriu uma quintã e uma herdade em Oriola, tendo vendido
na mesma altura uma ribeira e um moinho590.
4.5. Em 1484, enquanto cavaleiro do conselho, recebia 5 000 reais de
moradia591.
Em 18/02/1498 foi-lhe atribuída uma tença anual de 10 000 reais, a partir do
início desse ano, paga pelos rendimentos da vila de Alvito592.
Em 5/04/1499 foi-lhe atribuída uma tença anual, a partir do início desse ano,
de 7 000 reais593.
Em 13/09/1499 foi-lhe confirmada uma tença anual de 7 000 reais,
trespassada por Francisco Lopes com autorização do rei594.
Em 3/06/1500 recebeu padrão de 11 000 reais, referentes a duas cartas de
padrão que lhe haviam sido trespassadas595.
Em 30/12/1500 foi-lhe atribuída uma tença anual de 20 000 reais até lhe
serem pagas as 2 000 coroas que a Condessa de Penamacor lhe havia
trespassado596.

587
PELÚCIA, 2004, p. 294.
588
LL, p. 308; MOTA, 1989, vol. II, p. 102.
589
CDM, L. 38, fl, 85; CDM, L. 17, fl. 105v.
590
CDM, L. 15,fl. 7.
591
Provas, vol. II, p. 217.
592
CDM, L. 41, fl. 97v.
593
CDM, L. 41, fl. 90.
594
CDM, L. 16, fl. 128.
595
CDM, L. 13, fl. 30v.
596
CDM, L. 41, fl. 119v.

170
Em 6/05/1502 foi-lhe confirmada uma tença anual de 15 000 reais, a partir
do início desse ano, comprada a João de Faria, alcaide-mor de Portel597.
Em 18/08/1512 recebeu 15 000 reais da sua tença em especiarias598.
Em 23/03/1513 foi-lhe confirmada uma tença anual de 1 650 reais, obtida
após um trespasse com a Condessa de Faro599.
Em 2/03/1514 foi-lhe atribuída uma tença de 55 000 reais por ano600.
Em 3/03/1514 foram-lhe atribuídas as rendas das saboarias pretas de Torres
Novas, Soure, Pombal, Alcaneda e Alcobaça e respetivos termos601.
Em 6/10/1516 foi-lhe passada uma carta de padrão de 6 000 reais de tença
anual e vitalícia602.
Em 30/04/1517 foi-lhe atribuída uma tença anual de 30 000 reais a partir do
primeiro dia desse ano603.
Em 1518, enquanto cavaleiro do conselho, recebia 5 000 reais por mês de
moradia604.
4.6. Em 12/08/1499 foram-lhe doadas umas casas na rua de Marvila, em
Santarém605.
Em 16/09/1499 foi-lhe doada a Quinta da Portela, junto a Sacavém606.
Em 17/10/1513 foi-lhe confirmada a doação, pela Câmara de Lisboa, de um
chão nessa cidade607.
4.7. Herdou os privilégios que haviam sido concedidos ao seu pai relativamente
à construção do castelo de Alvito608.
Em 4/09/1499 foram-lhe confirmados os privilégios que o seu pai detinha no
regimento das suas terras (semelhantes aos dos corregedores),
nomeadamente em matéria judicial609.
Em 10/03/1501 foi-lhe atribuído o privilégio de as pessoas presas por delitos
nas suas terras não serem levadas para as cadeias pela justiça régia610.

597
CDM, L. 4, fl. 21v.
598
CC, pt. II, mç. 33, n.º 202.
599
CDM, L. 42, fl. 39.
600
CDM, L. 15, fl. 17v.
601
CDM, L. 15, fl. 18.
602
CDM, L. 25, fl. 116.
603
CDM, L. 10, fl. 31.
604
Provas, vol. II, p. 441.
605
CDM, L. 41, fl. 104.
606
CDM, L. 41, fl. 13.
607
CDM, L. 42, fl. 113v.
608
CDM, L. 41, fl. 93; Brasões, vol. II, p. 352.
609
CDM, L. 41, fl. 110.

171
Em 19/02/1512 foi-lhe atribuído o privilégio de os cavaleiros não ficarem
isentos de pagar jugada nas suas terras611.
Em 19/05/1502 foi-lhe atribuído o privilégio de nem os nobres nem as outras
pessoas poderosas poderem adquirir bens de raiz nas vilas de Alvito, Vila
Nova de Aguiar e Oriola e seus termos612.
4.8. Em 17/07/1510 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 3 000 reais,
correspondentes à sua vestiaria e a uma parte do seu ordenado613.
Em 25/04/1514 foi despachada provisão para que se lhe desse dois escravos
de 20 000 reais relativos ao seu ordenado614.

5.
5.4. Autor de vários poemas incluídos no Cancioneiro Geral de Garcia de
Resende615.

8. Em 1506 representou D. Manuel numa embaixada enviada à Corunha, onde se


encontrou com D. Filipe e D. Joana616.

9.
9.2. Em 23/03/1496 foi nomeado Vedor da Fazenda, substituindo D. Lopo da
Cunha617. Exerceu este ofício até à sua morte, em 1525618.
9.3. Subscreveu, em 1496, 1504 e 1521, enquanto Vedor da Fazenda, 181
diplomas: oito cartas de doação de bens e direitos, 12 contratos de
exploração e 162 cartas de provimento de ofícios.

10. Foi Mordomo-mor de D. João II e D. Manuel I619.

11. Membro do Conselho, pelo menos, desde 1484620.

610
CDM, L. 6, fl. 7v.
611
CDM, L. 7, fl. 8v.
612
CDM, L. 6, fl. 8v.
613
CC, pt. II, mç. 22, n.º 124.
614
CC, pt. II, mç. 46, n.º 125.
615
FONSECA, Luís Adão da – D. João II. Lisboa: Temas e Debates, 2007. p. 293.
616
CrDG, vol. II, p. 43.
617
CDM, L. 26, fl. 105v.
618
CRUZ, 2001, p. 203.
619
ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins (coord.) – Nobreza de Portugal e do Brasil. Vol. II. Lisboa:
Editorial Enciclopédia, 1989. p. 268.

172
14. Em novembro de 1490 participou nas justas que se realizaram em Évora no
âmbito da receção à infanta D. Isabel621.
Em 1491 teve medo de ir a Belém representar o rei na saudação a uma nau que
partia e que tinha tido problemas de peste, o que desagradou ao monarca622.
Era partidário da solução D. Jorge para a sucessão de D. João II623.
Aquando da morte da rainha D. Maria, foi um dos elementos que transportaram
o seu ataúde para o interior do convento da Madre de Deus624.
Foi um interessado pela expansão ultramarina, defendendo uma reduzida
intervenção do Estado nessa empresa e sendo um dos principais opositores à
ideia imperial manuelina625.

Assinatura626

620
Provas, vol. II, p. 217.
621
CrGR, p. 186.
622
CrGR, p. 214.
623
PELÚCIA, 2004, p. 284.
624
SÁ, Isabel dos Guimarães – “Duas irmãs para um rei. Isabel de Castela (1470-1498) e Maria de
Castela (1482-1517)”. In SÁ, Isabel dos Guimarães; COMBET, Michel – Rainhas consortes de D.
Manuel I. Isabel de Castela, Maria de Castela, Leonor de Áustria. Lisboa: Círculo de Leitores, 2012.pp.
9-202, maxime p. 162.
625
PELÚCIA, 2004, pp. 285 e 293; COSTA, 2007, p. 248.
626
CC, pt. II, mç. 2, n.º 122.

173
10. DIOGO LOPES

1. 14/07/1508 – Já era médico de D. Manuel627;


25/09/1536 – Ainda era Físico-mor628.

3.
3.3.
3.3.2. Foi feito fidalgo, por D. João III, em 25/09/1536629.

4.
4.5. Em 28/03/1514 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 13 125
reais de tença, devidos desde o ano anterior630.
Em 28/09/1515 o rei fez-lhe mercê de 12 000 reais631.
Em 25/04/1525 o rei fez-lhe mercê da pescaria de Angra de Santana e Angra
dos Mouros632.
Em 19/03/1526 foi-lhe atribuída uma tença de 20 000 reais anuais pelos
serviços prestados à rainha D. Leonor633.
Em 14/06/1526 foi-lhe atribuída uma tença de 20 000 reais anuais634.
Em 13/04/1531 foi-lhe atribuída uma tença de 10 000 reais anuais635.
Em 24/04/1532 foi-lhe atribuída uma tença de 20 000 reais anuais636.

5.
5.1. Provavelmente, frequentou a Universidade de Montpellier637.
5.3. Doutor.

9.

627
CUP, vol. X, pp. 353-354.
628
CUP, vol. XV, p. 611.
629
CUP, vol. XV, p. 611.
630
CC, pt. II, mç. 45, n.º 124.
631
CC, pt. I, mç. 18, n.º 105.
632
CUP, vol. XII, p. 490.
633
CUP, vol. XIII, p. 55.
634
CUP, vol. XIII, pp. 110-111.
635
CUP, vol. XIV, p. 130.
636
CUP, vol. XIV, p. 411.
637
FARELO, 2011, p. 15.

174
9.2. Foi nomeado Físico-mor em 25/02/1521, substituindo o Doutor Mestre
Afonso638. Ainda exercia esse ofício em 25/09/1536639.
9.3. Subscreveu, em 1521, enquanto Físico-mor 13 cartas de físico.

12. Foi cavaleiro da Ordem de Santiago640 e freire da Ordem de Cristo641.

14. Deve ter sido muito próximo da família real, que serviu durante cerca de 40
anos, como provam a tença que a rainha D. Leonor lhe deixou em testamento e a
honra de fidalgo que lhe foi atribuída por D. João III.

638
CUP, vol. XII, pp. 39-44.
639
CUP, vol. XV, p. 611.
640
CUP, vol. X, pp. 353-354.
641
CUP, vol. XII, p. XX.

175
11. DIOGO DE MENDONÇA

1. 22/08/1476 – Nomeado alcaide-mor de Mourão642;


10/07/1516 – Já tinha falecido643.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Afonso Furtado644.
3.1.2. Irmão de Nuno Furtado e Duarte Furtado645.
3.1.3. Casado com D. Brites Soares646.
3.1.4. Pai de Francisco de Mendonça, Pedro de Mendonça, António de
Mendonça, Cristóvão de Mendonça, Margarida de Mendonça e D.
Joana. Tinha ainda uma outra filha, cujo nome não é identificado647.
3.2.
3.2.2. Em 21/05/1497, André Gomes de Valadares, seu escudeiro, foi
nomeado escrivão das sisas da vila de Mourão648.
Em 9/03/1500, Lopo da Rocha, seu escudeiro, foi nomeado alcaide
das sacas da vila de Mourão649.
Em 30/03/1500, Rui Colaço, seu criado, foi nomeado escrivão das
sacas de Mourão650.
Em 30/05/1503, Esteves Anes, seu escudeiro, foi nomeado juiz dos
órfãos de Mourão651.
3.3.
3.3.1. Afonso Furtado era comendador de Cardiga da Ordem de Cristo652.
3.3.2. Fidalgo653.
3.3.3. Pedro de Mendonça herdou a alcaidaria do pai654.

642
Brasões, vol. III, p. 173.
643
CDM, L. 9, fl. 4v.
644
LL, p. 275.
645
LL, p. 275.
646
LL, p. 275.
647
LL, p. 275.
648
CDM, L. 30, fl. 76.
649
CDM, L. 12, fl. 6.
650
CDM, L. 12, fl. 11.
651
CDM, L. 35, fl. 44.
652
LL, p. 275.
653
Brasões, vol. III, p. 173.

176
D. Joana foi Duquesa de Bragança655.
3.3.4. Genro do Senhor do Prado.
Sogro do Senhor de Cheles, nobre castelhano.
Sogro de Jorge de Melo, Monteiro-mor de D. João III.
Sogro do terceiro Duque de Bragança.
Sogro de D. Lopo de Almeida, Vice-Rei da Índia656.

4.
4.1. Possuía um terreno baldio na vila de Mourão, arrendado durante metade de
cada ano para o gado do concelho aí pastar, comer e beber657.
4.5. Em 15/03/1494 foi-lhe atribuída uma tença anual de 7 571 reais, a partir do
início desse ano658.
Usufruiu de uma tença vitalícia de 80 000 reais a partir de 1499659.
Em 11/03/1501 foi-lhe atribuída uma tença anual de 92 000 reais, a partir do
início desse ano660.
Em 13/01/1511 trespassou 42 000 reais da sua tença para o seu filho Pedro
de Mendonça661. Na mesma data, o rei confirmou-lhe que passaria a receber
50 000 reais de tença662.
4.7. Em 28/03/1512 foi privilegiado com a isenção do pagamento de 15 000
reais para a defesa de Mourão663.

7. Foi alcaide-mor de Mourão a partir de 22/08/1476664.

9.
9.2. Em 15/03/1494 sucedeu ao irmão Duarte Furtado como Anadel-mor dos
besteiros do conto665. Exerceu esse ofício, pelo menos, até 8/02/1498666.

654
LL, p. 276.
655
LL, p. 4.
656
LL, p. 275.
657
CDM, L. 15, fl. 81v.
658
CDM, L. 33, fl. 30v.
659
Brasões, vol. III, p. 174.
660
CDM, L. 13, fl. 60.
661
CDM, L. 8, fl. 34v.
662
CDM, L. 8, fl. 29v.
663
CC, pt. I, mç. 15, n.º 47.
664
Brasões, vol. III, p. 173.
665
Brasões, vol. III, p. 173.

177
9.3. Subscreveu, em 1496, enquanto Anadel-mor dos besteiros do conto, seis
diplomas: uma carta de privilégio em geral e cinco cartas de concessão de
título ou privilégio de natureza nobiliárquica.

11. Membro do Conselho, pelo menos, desde, 29/03/1496667.

666
CDM, L. 28, fl. 61.
667
CDM, L. 26, fl. 117.

178
12. DIOGO ORTIZ DE VILHEGAS668

1. Cerca de 1454 – Altura do nascimento669;


1519 – Ano da morte670.

2.
2.1. Nasceu em Calçadilha, no reino de Leão, tendo-se mudando para Portugal
em 1476671.
2.3. Encontra-se sepultado no convento de Santa Maria da Serra672.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de D. Afonso Ortiz de Vilhegas e de D. Maria da Silva673.
3.1.2. Irmão de Fernão de Vilhegas674.
3.2.
3.2.2. Em 13/12/1499, Lopo de Andrade, seu escudeiro, foi nomeado
escrivão dos órfãos de Santarém675.
Em 29/03/1499, foi atribuída a Sebastião Álvares, seu escudeiro, a
administração de uma capela em Arronches676.
Em 1/08/1506, Diogo Velho, seu escudeiro, foi nomeado escrivão
das sisas de Guimarães677.
Em 4/11/1511, Bastião Sanches, seu escudeiro, foi nomeado
mamposteiro-mor da rendição dos cativos da Guarda678.
Em 15/02/1513, Diogo Velho, seu escudeiro, foi nomeado recebedor
das sisas de Guimarães679.

668
D. Diogo Ortiz de Vilhegas é frequentemente confundido com o seu sobrinho homónimo, que também
foi clérigo. Sobre este aspeto e outras informações contraditórias sobre este indivíduo, cf. BUESCU,
2008, pp. 35-36.
669
CRISTÓVÃO, Francisco da Silva – “O Cathecismo Pequeno de D. Diogo Ortiz de Vilhegas”.
Humanitas. N.º 50 (1998), pp. 687-700,maxime p. 687.
670
CRISTÓVÃO, 1998, p. 688
671
CRISTÓVÃO, 1998, pp. 687-688.
672
CRISTÓVÃO, 1998, p. 690.
673
CRISTÓVÃO, 1998, p. 687.
674
CRISTÓVÃO, 1998, p. 689.
675
CDM, L. 14, fl. 78.
676
CDM, L. 16, fl. 23v.
677
CDM, L. 44, fl. 14v.
678
CDM, L 8, fl. 95.

179
Em 18/04/1513, Baltasar Sequeira, seu escudeiro, foi nomeado
escrivão da armação dos atuns de Tavira680.
Em 10/06/1515, Gaspar Mendes, seu criado, foi nomeado tabelião de
Lafões681.
3.2.3. Conheceu pessoalmente D. Afonso V, D. João II, D. Manuel I e D.
João III (ainda príncipe)682.
Esteve próximo de D. João II enquanto este se encontrava doente e
no momento da sua morte683.
Foi nomeado pelo Príncipe Perfeito para ajudar D. Manuel a
executar as disposições testamentárias relativas à salvação da sua
alma684.
Foi um dos indivíduos indicados no testamento de D. Manuel que
deviam assumir a governação do reino caso o monarca falecesse
antes de o príncipe D. João atingir os 20 anos de idade685.

4.
4.5. Em 5/01/1496, enquanto bispo de Tânger, foi-lhe feita mercê do dízimo dos
tributos que os mouros das terras desta diocese pagavam686.
Em 1518, enquanto capelão da Casa do Rei, recebeu 4 200 reais mensais de
moradia687.

5.
5.4. Foi autor de obras como Cathecismo Pequeno (1504) e Paixão de Jesus
Cristo Nosso Deus e Senhor assim como a escreveram os Evangelistas
(publicada postumamente).

9.

679
CDM, L. 42, fl. 10.
680
CDM, L. 35, fl. 24.
681
CDM, L. 24, fl. 83v.
682
CRISTÓVÃO, 1998, p. 687.
683
CRISTÓVÃO, 1998, pp. 689-690.
684
Provas, vol. II, p. 216.
685
Provas, vol. II, p. 427.
686
CDM, L. 32, fl. 114v.
687
Provas, vol. II, p. 439.

180
9.2. Foi Provedor-mor da Rendição dos Cativos, pelo menos, entre
18/05/1496688 e 5/04/1516689.
9.3. Subscreveu, em 1504, enquanto Provedor-mor da Rendição dos Cativos,
uma carta de provimento de ofício.

10. Foi confessor de D. Joana (a Excelente Senhora)690, cosmógrafo e capelão-mor


de D. João II691, mestre de gramática e deão da capela do príncipe D. João692 e
capelão-mor da infanta D. Isabel693.

11. Foi membro do Conselho Real.

12. Em 1491 foi nomeado prior de S. Vicente de Fora694.


Foi bispo de Tânger ente 1491 e 1500, de Ceuta entre 1500 e 1504 e de Viseu
entre 1504 e 1519695.

14. Enquanto cosmógrafo-mor de D. João II foi um dos principais conselheiros


deste monarca em matérias de navegação, sendo responsável por importantes
pareceres (por exemplo, sobre a proposta de Cristóvão Colombo de descoberta
do caminho marítimo para a Índia pelo Ocidente)696.
Em 1499, proferiu o elogio fúnebre do Príncipe Perfeito697.
Celebrou diversas missas em momentos importantes do reinado de D. Manuel I
(por exemplo, antes da partida da armada de Pedro Álvares Cabral para a
Índia)698.
Enquanto bispo, foi responsável por importantes transformações urbanísticas em
Viseu699.

688
CDM, L. 34, fl. 81.
689
CDM, L. 25, fl. 40v.
690
CRISTÓVÃO, 1998, p. 688.
691
VALE, Alexandre de Lucena – D. Diogo Ortiz de Vilhegas. Gaia: s.n., 1934. p. 98.
692
CRISTÓVÃO, 1998, p. 689; BUESCU, 2008, p. 62
693
CDM, L. 10, fl. 33.
694
VALE, 1934, pp. 89-92.
695
CRISTÓVÃO, 1998, p. 690.
696
VALE, 1934, p. 12.
697
CRISTÓVÃO, 1998, p. 689.
698
CRISTÓVÃO, 1998, p. 689.
699
CRISTÓVÃO, 1998, p. 689.

181
Assinatura700

700
CC, pt. I, mç. 23, n.º 105.

182
13. DIOGO PINHEIRO

1. 1465 – Ano provável do nascimento701;


27/07/1525 – Já tinha falecido702.

2.
2.3. Foi sepultado na capela-mor da igreja de Santa Maria dos Olivais, em
Tomar703.
2.4. Deslocou-se, em 1497, a Inglaterra704.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Pedro Esteves e de Isabel Pinheiro705.
3.1.2. Martim Pinheiro706.
3.1.4. Rui Gomes Pinheiro707.
3.2.
3.2.1. Foi criado em casa do Duque de Bragança708.
3.2.2. Em 21/07/1492, João de Barcelos, seu criado, foi nomeado escrivão
das sisas de Barcelos709.
Em 12/05/1496, João Gomes, seu criado, foi nomeado procurador do
número de Vilarinho de Castanheira710.
Em 20/05/1496, Pedro de Guimarães, seu criado, foi nomeado
tabelião de Barcelos711.
Em 20/08/1499, o mesmo Pedro de Guimarães foi nomeado tabelião
do Porto712.

701
ALMEIDA, Fortunato de – História da Igreja em Portugal. Vol. II. Porto: Portucalense Editora, 1967.
p. 696.
702
CC, pt. I, mç. 32, n.º 78.
703
MACHADO, Diogo Barbosa – Bibliotheca Lusitana… Tomo IV. Lisboa: 1759.
704
CDM, L. 28, fl. 51v.
705
TESTOS, 2011, p. 150.
706
TESTOS, 2011, p. 150.
707
CUP, vol. XIII, p. 93.
708
CrGR, pp. 64-65.
709
CUP, vol. IX, p. 68.
710
CUP, vol. IX, p. 220.
711
CUP, vol. IX, pp. 223-224.
712
CDM, L. 14, fl. 58v.

183
Em 5/08/1501, o mesmo Pedro de Guimarães foi nomeado, por se
assim é, recebedor das sisas de Barcelos713.
Em 2/05/1502, Gomes Martins, seu escudeiro, foi nomeado juiz das
sias de Braga714.
Em 7/10/1506, Diogo Gomes, seu escudeiro, foi nomeado escrivão
da alfândega de Vila do Conde715.
Em 6/02/1512, a António do Canto, seu criado, foi confiada a
administração de uma capela na ilha da Madeira716.
Em 15/10/1515, João Bocarro, seu escudeiro, foi nomeado tabelião
de Lisboa717.
Em 12/05/1517, Simão Fernandes, seu escudeiro, foi nomeado
contador dos órfãos e resíduos de Santarém718.
Em 26/03/1518, Francisco Álvares, seu escudeiro, foi nomeado
procurador do número do Funchal719.
Em 28/01/1521, Francisco Álvares, seu criado, foi nomeado contador
dos feitos e custas e inquiridor das inquirições judiciais de Vila do
Conde720.
Em 31/05/1521, Francisco Barroso, seu escudeiro e criado, foi
nomeado meirinho perante o juiz de fora de Castelo de Vide721.
3.3.
3.3.1. Pedro Esteves era Doutor e membro do Conselho Régio. Foi ouvidor
das terras do Duque de Bragança722.
3.3.3. Rui Gomes Pinheiro doutorou-se e foi Desembargador da Casa da
Suplicação723. Foi bispo de Angra e deputado no Conselho Geral do
Santo Ofício724.

713
CDM, L. 1, fl. 38.
714
CDM, L. 2, fl. 27.
715
CDM, L. 44, fl. 20v.
716
CDM, L. 7, fl. 11.
717
CDM, L. 24, fl. 142v.
718
CDM, L. 10, fl. 35.
719
CDM, L. 10, fl. 142.
720
CDM, L. 39, fl. 73.
721
CDM, L. 39, fl. 79v.
722
TESTOS, 2011, p. 150.
723
CUP, vol. XIII, p. 93.
724
CUP, vol. XIII, p. 466.

184
4.
4.8. Em 12/04/1484, ao ser nomeado Desembargador, o seu salário foi fixado
em 40 000 reais anuais725.
Recebeu, em cada quartel do ano de 1501, 15 000 reais, como provam quatro
recibos726.

5.
5.1. Frequentou as universidades de Siena e de Pisa727.
5.3. Doutorou-se em Pisa, em 1478728.

9.
9.2. Em 12/04/1484 foi nomeado Desembargador729.
Foi Desembargador dos Agravos da Casa da Suplicação, pelo menos, entre
10/03/1496 e 14/12/1509.
Em 26/02/1501 era referido como Desembargador dos feitos das capelas,
hospitais, resíduos e órfãos.
Foi Desembargador do Paço, pelo menos, entre 13/01/1510 e 14/06/1521730.
9.3. Subscreveu, normalmente em parceira com D. Pero Vaz ou D. Pedro de
Meneses, em 1512 e 1521, enquanto Desembargador do Paço, 79 diplomas:
uma doação de bens e direitos, uma carta de defesa e privilégios de natureza
militar, duas cartas de perfilhamento, quatro cartas de concessão de título ou
privilégio de natureza nobiliárquica, cinco cartas de licença para ter
manceba, seis cartas de provimento de ofício, sete cartas de administração de
capelas, nove cartas de privilégio em geral, 13 cartas de carreteiro e 31 cartas
de estalajadeiro.

11. Membro do Conselho, pelo menos, desde 1501731.

725
CUP, vol. VIII, p. 94.
726
CC, pt. II: mç. 5, n.º 22; mç. 4, n.º 50; mç. 4, n.º 119; mç. 5, n.º 82.
727
TESTOS, 2011, p. 150.
728
TESTOS, 2011, p. 150.
729
CUP, vol. VIII, p. 94.
730
TESTOS, 2011, p. 150.
731
TESTOS, 2011, p. 150.

185
12. Em 4/07/1484 o papa Sisto IV atribuiu-lhe a igreja paroquial de S. Salvador de
Pereira, na diocese de Braga732.
Em 12/09/1497 foi nomeado vigário geral de Tomar da Ordem de Cristo733.
Em 28/10/1497 foi nomeado administrador do mosteiro de Castro de Avelãs734.
Em 9/04/1499 o papa Alexandre VI atribuiu-lhe a comenda de Santa Maria do
Carvoeiro, na diocese de Braga735.
Em 12/06/1514 o papa Leão X nomeou-o primeiro bispo do Funchal736.
Foi ainda prior da Colegiada de Guimarães, nomeado pelo Duque de Bragança
D. Jaime, e comendatário de S. Simão da Junqueira737.

14. Foi procurador do Duque de Bragança durante o seu julgamento.


Garcia de Resende descreveu-o como “homem fidalgo, e de muyto boas letras, e
bom saber, e da criação do Duque”738.
Fortunato de Almeida referiu-se a ele como um “homem de grande ilustração,
mas de génio arrogante, violento e ambicioso”739.

Assinatura740

732
CUP, vol. VIII, pp. 107-109.
733
CUP, vol. IX, p. 273.
734
CUP, vol. IX, p. 276.
735
CUP, vol. IX, pp. 365-366.
736
CUP, vol. XI, pp. 270-271.
737
MACHADO, 1759, p. 102.
738
CrGR, pp. 64-65.
739
ALMEIDA, 1967, vol. II, p. 696.
740
CC, pt. II, mç. 4, n.º 119.

186
14. DIOGO DA SILVA DE MENESES

1. Cerca de 1425 – Altura provável do nascimento741;


20/02/1504 – Data da morte742.

2.
2.4. Castela, em 1496 e 1498743.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Rui Gomes da Silva e de D. Isabel de Meneses744.
3.1.2. Irmão de Pedro Gomes, Fernão da Silva745, Santa Beatriz da Sila e
Frei Amadeu da Silva746.
3.1.3. Casou, nas Canárias, com D. Maria de Ayala747.
3.1.4. Pai de D. João da Silva, D. Miguel da Silva, D. Inês de Ayala, D.
Joana, D. Francisca748 e Diogo da Silva749. Teve ainda outras filhas
que foram freiras750.
3.2.
3.2.3. Foi aio de D. Manuel enquanto duque, tendo-o doutrinado “com
muito cuidado e amor”751.
Foi um dos padrinhos do futuro D. João III752.
3.3.
3.3.1. Rui Gomes da Silva foi alcaide-mor de Campo Maior e Ouguela.
D. Isabel de Meneses era filha bastarda de D. Pedro de Meneses,
primeiro Conde de Vila Real753.
3.3.2. Tornou-se, em 5/02/1498, o primeiro Conde de Portalegre754.

741
MORENO, 1973, p. 873.
742
Brasões, vol. III, p. 350.
743
COSTA, 2007, p. 120;CrGR, p. 298.
744
LL, pp. 120 e 168.
745
LL, p. 120.
746
COSTA, 2007, p. 120.
747
LL, p. 120; Brasões, vol. III, p. 350.
748
LL, p. 120.
749
CUP, vol. XIV, p. 617.
750
LL, p. 120.
751
CrDG, vol. I, pp. 34-35.
752
BUESCU, 2008, p. 22.
753
LL, p. 118.

187
3.3.3. D. João foi Conde de Portalegre e mordomo-mor de D. João III755.
D. Miguel foi Escrivão da Puridade de D. João III, bispo de Viseu,
abade de Santo Tirso e cardeal756.
Inês de Ayala foi Condessa de Monsanto757.
Diogo da Silva foi confessor de D. João III, bispo de Ceuta,
inquisidor-mor do Santo Ofício e Desembargador758.
D. Joana foi Condessa de Linhares759.
3.3.4. Genro de Diogo Ferreira, senhor das Ilhas Canárias.
Sogro de D. Maria Manuel, filha do senhor do condado de Tentúgal e
sobrinha do Duque de Bragança760.
Sogro do Conde de Monsanto761.
Sogro do Conde de Linhares762.
Sogro de João Gonçalves da Câmara, quarto capitão da Ilha da
Madeira763.

4.
4.1. Foi senhor de Celorico, Gouveia e S. Romão764. Foram-lhe ainda doados a
lezíria e o reguengo de Valada (Cartaxo) e terras na ilha de S. Miguel765.
4.2. Teve como dote quatro duodécimos das rendas de Forte Ventura e
Lançarote, nas Canárias, que equivaliam a 300 000 reais anuais766.
4.5. Em 1485 foram-lhe atribuídas duas tenças anuais, uma de 50 000 reais e
outra de 142 050 reais767.
Em 1491 foi-lhe atribuída uma tença de 200 000 reais768.

754
LL, p. 120; Brasões, vol. III, p. 349.
755
LL, p. 120.
756
LL, p. 121.
757
LL, pp. 94-95.
758
CUP, vol. XIV, p. 617.
759
LL, p. 120.
760
LL, p. 120.
761
LL, pp. 94-95.
762
LL, p. 120.
763
LL, p. 120.
764
LL, p. 120; CDM, L. 32, fl. 24; CDM, L. 31, fl. 9.
765
SILVÉRIO, Silvana – “Diogo da Silva de Meneses e as política régia ultramarina”. In COSTA, João
Paulo Oliveira e; RODRIGUES, Vítor Luís Gaspar – A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia.
Atas do Colóquio Internacional. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa / Centro de História de Além-Mar,
2004. pp. 239-257, maxime p. 250.
766
SILVÉRIO, 2004,p. 244.
767
SILVÉRIO, 2004, p. 245.
768
SILVÉRIO, 2004, p. 246.

188
Em 27/11/1497 foram-lhe atribuídas duas tenças, uma de 61 066 reais anuais
e outra de 10 000 reais anuais, correspondentes às rendas da judiaria de
Portalegre769.
Em 13/03/1498 foi-lhe confirmada uma tença de 200 000 reais anuais que
lhe havia sido concedida por D. Manuel, enquanto duque, em 23/03/1491770.
Na mesma data, foi-lhe confirmada uma outra tença de 50 000 reais anuais
que D. João II lhe havia concedido em 29/04/1485771.
Novamente no mesmo dia, foi-lhe confirmada uma tença de 250 000 reais
anuais. Desse montante, 97 950 reais correspondiam às rendas de Celorico,
Vila Cova, Valozim, Sampaio e Sta. Marinha772.
Em 30/03/1498 foi-lhe atribuída a dízima do pescado de S. João da Foz e
Matosinhos773 e a renda do gado da ilha de S. Nicolau774.
4.6. O senhorio de Celorico da Beira foi-lhe concedido por D. Manuel, enquanto
duque, com autorização de D. João II775.
Em 17/05/1486, D. Beatriz doou-lhe a alcaidaria de Almada, confirmada por
D. Manuel em 13/03/1498776.
Em 6/02/1498 foi-lhe confirmada a doação das vilas de Celorico, Gouveia e
S. Romão, para além da sexta parte do montado da serra da Estrela, de
Valozim e de Vila Cova e da colheita de Santa Marinha. Na mesma data, foi-
lhe doada a alcaidaria-mor do castelo de Portalegre, com todas as suas
rendas, foros e direitos777.
Em 30/03/1498 foi-lhe doado o reguengo de Valada, no termo de
Santarém778.
Em 1498, foram-lhe doados os rendimentos do gado da ilha de S. Nicolau779.
Em 1501 foram-lhe doadas “terras maninhas” na ilha de S. Miguel780.
Em 18/02/1503 foi-lhe doado um chão na praia, em Lisboa781.

769
CDM, L. 31, fls. 21v-22.
770
CDM, L. 32, fl. 24.
771
CDM, L. 32, fl. 24.
772
CDM, L. 32, fl. 24.
773
Brasões, vol. III, p. 350.
774
SILVÉRIO, 2004, p. 250.
775
CrDG, vol. I, pp. 34-35.
776
CDM, L. 40, fl. 16v.
777
CDM, L. 31, fl. 9-9v.
778
MORENO, 1973, p. 873.
779
COSTA, 2007, p. 220.
780
SILVÉRIO, 2004, p. 250.

189
7. Participou, ao lado de D. Afonso V, na batalha de Alfarrobeira. Serviu o mesmo
monarca nas guerras em Castela e em África, tendo ficado cativo em Tânger em
1464782.
Em 1466 participou, como capitão de uma frota, na conquista das Ilhas
Canárias783.
Foi alcaide-mor de Assumar e de Almada784.

8. Em 27/08/1489 foi enviado por D. João II a Marrocos, juntamente com Rui de


Sousa e o Mestre de Alcântara, para confirmar um acordo de paz com o rei de
Fez785.
Em 1496 foi enviado como embaixador a Castela para negociar com os Reis
Católicos o casamento de D. Manuel786.

9.
9.2. Foi Vedor da Fazenda, pelo menos, desde o princípio do reinado de D.
Manuel até 5/09/1496787.
9.3. Subscreveu, em 1496, enquanto Vedor da Fazenda, seis diplomas: um
contrato de exploração, uma carta de doação de bens e direitos e quatro
provimentos de ofício.

10. Foi Escrivão da Puridade e Mordomo-mor de D. Manuel enquanto duque e


enquanto rei788.

11. Foi nomeado conselheiro em 1485789.

14. Em 1483, fez parte do júri que julgou o Duque de Bragança790.


Descrito por Garcia de Resende como “homem de nobre sangue, e de muyto
bom siso, e saber, e de bom conselho”791.

781
CDM, L. 21, fl. 4.
782
MORENO, 1973, p. 870.
783
CDM, L. 31, fl. 9; Brasões, vol. III, 350.
784
Brasões, vol. III, p. 349; SILVÉRIO, 2004, p. 246.
785
CrGR, p. 126.
786
COSTA, 2007, p. 120.
787
COSTA, 2007, p. 189; CDM, L. 26, fl. 11v.
788
LL, p. 120.
789
SILVÉRIO, 2004, p. 245.
790
MORENO, 1973, p. 871.

190
15. Era muito próximo dos observantes franciscanos792.

Assinatura793

791
CrGR, p. 293.
792
COSTA, 2007, p. 77.
793
CC, pt. I, mç. 3, n.º 10.

191
15. DIOGO TAVEIRA

1. Cerca de 1498 – Já andava pela Corte794;


1544 – Ainda pertencia ao Desembargo795.

3.
3.1.
3.1.4. Pai de Pero Taveira796, André Taveira e Diogo Taveira797.
3.3.
3.3.3. Pero Taveira foi Fidalgo da Casa do Rei798.
André Taveira foi Doutor em Cânones e Desembargador da Casa da
Suplicação799.
Diogo Taveira foi Bacharel em Cânones pela Universidade de
Salamanca800.

4.
4.5.Em 3/01/1519 foi-lhe atribuída uma tença de 55 000 reais801.
Em 18/03/1536 a sua tença anual de 30 000 reais foi reduzida para 10 000
reais, tendo os restantes 20 000 reais sido trespassados para o seu filho Pero
Taveira802.
4.8. Entre 1515 e 1518, enquanto Corregedor enviado ao Funchal, recebia 100
000 reais anuais de mantimento803.
Em 26/07/1524 recebeu 80 000 reais de mantimento enquanto Chanceler-
mor interino804.
Em 7/02/1527 passou a receber 45 000 reais enquanto Desembargador e
Ouvidor da Casa da Suplicação805.

794
O próprio referiu numa carta de 1544 que frequentava a Corte há 46 anos. Cf. CARDOSO, Jerónimo –
Obra Literária. Prosa Latina. Vol. I. Estabelecimento do texto latino, introdução, tradução e comentários
de Telmo Corujo dos Reis. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009. p. 373 (nota 689).
795
CARDOSO, 2009, p. 373 (nota 689).
796
CUP, vol. XV, pp. 588-589.
797
CARDOSO, 2009, p. 365 (nota 606).
798
CUP, vol. XV, p. 588.
799
CARDOSO, 2009, p. 365 (nota 606).
800
CARDOSO, 2009, p. 373 (nota 689).
801
CDM, L. 44, fl. 31v.
802
CUP, vol. XV, pp. 588-589.
803
CC, pt. II, mç. 19, n.º 141.
804
CC, pt. II, mç. 117, n.º 76.

192
5.
5.3. Doutor.
5.4. Enquanto exerceu funções na Madeira, preocupou-se com a organização e
preservação da documentação antiga que lá se encontrava806.

9.
9.2. Em 2/01/1501 foi nomeado Procurador da Corte e da Casa da Suplicação807.
Em 7/01/1512 foi nomeado Corregedor da Comarca de Entre Tejo e
Odiana808.
Foi Chanceler-mor interino, pelo menos, entre 7/11/1520809 e 23/12/1521810.
Em 26/07/1524 era Chanceler-mor interino.
Em 17/05/1532 era Corregedor dos feitos crimes da Corte811.
9.3. Subscreveu, em 1521, enquanto Chanceler-mor interino, 202 diplomas: um
documento cujo tipo é impossível determinar, pois só tem escatocolo, quatro
cartas de apresentação de clérigos a igrejas do padroado régio, 56 cartas de
tabelião e 139 cartas de provimento de ofício.

14. Descrito por Jerónimo Osório como um homem “muito culto e íntegro”812.

Assinatura813

805
CUP, vol. XIV, p. 211.
806
COSTA, José Pereira da – “Prefácio”. In Vereações da Câmara Municipal do Funchal. Século XV.
Leitura paleográfica, introdução e notas de José Pereira da Costa. Funchal: Centro de Estudos de História
do Atlântico, 1994. p. XIII.
807
CDM, L. 1, fl. 68v.
808
CDM, L. 8, fl. 104v.
809
CDM, L. 36, fl. 96v.
810
CDM, L. 18, fl. 122.
811
CUP, vol. XIV, p. 437.
812
OSÓRIO, 2009, p. 238.
813
CC, pt. I, mç. 74, n.º 1.

193
16. FERNÃO DA MESQUITA

1. 1474 – Frequentava a Universidade de Siena814;


15/02/1508 – Já tinha falecido815.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Martim Gonçalves Pimentel816.
3.1.3. Casado com Joana de Lucena817.
3.1.4. Pai de Álvaro da Mesquita, Diogo da Mesquita, Brites da Mesquita,
D. Ana Isabel da Mesquita e Inigo da Mesquita818.
3.2.
3.2.2. Em 27/02/1483, Lopo Álvares, seu criado, foi nomeado tabelião das
notas de Arronches819.
Em 16/11/1504, Francisco de Macedo, seu criado, foi nomeado
tabelião de Basto e de Gouveia820.
3.3.
3.3.2. Em 1484 era cavaleiro-fidalgo821.
3.3.4. Eventualmente, terá sido genro do Dr. Vasco Fernandes de Lucena
ou do Mestre Rodrigo de Lucena822.

4.
4.1. Foi Senhor de Sovereira e de Sousel823.
4.5. Em 1484, enquanto cavaleiro-fidalgo, recebeu 750 reais mensais de
moradia824.
4.8. Quando foi nomeado Desembargador do Paço e das Petições, em 1490,
passou a receber 50 000 reais anuais de mantimento825.

814
RAU, 1972, p. 49.
815
CDM, L. 5, fl. 5.
816
GAYO, 1938-1941, vol. XX, p. 73.
817
CDM, L. 5, fl. 5.
818
GAYO, 1938-1941, vol. XX, p. 73.
819
CUP, vol. VIII, p. 56.
820
CDM, L. 23, fl. 38.
821
Provas, vol. II, p. 220.
822
GAYO, 1938-1941 vol. XX, p. 73.
823
GAYO, 1938-1941 vol. XX, p. 73.
824
Provas, vol. II, p. 220.

194
Recebeu, no segundo quartel de 1501, 15 000 reais de mantimento enquanto
Desembargador da Casa da Suplicação826.

5.
5.1. Em 1474, frequentava a Universidade de Siena827.
5.3. Doutor, pelo menos, desde 1476828.

9.
9.2. Membro do Desembargo, pelo menos, desde 29/11/1476829.
Em 29/01/1490 foi nomeado Desembargador do Paço e das Petições830.
Em 30/08/1491 era Chanceler-mor interino831.
Foi Desembargador dos Agravos, pelo menos, entre 19/03/1496 e
17/08/1499832.
Em 1499 era Desembargador com alçada na Comarca de Entre Douro e
Minho e Trás-os-Montes833.
Em 1501 era Desembargador da Casa da Suplicação834.
9.3. Subscreveu, em 1496, enquanto Desembargador dos Agravos, em parceria
com o Licenciado Aires de Almada, quatro diplomas: uma carta de
estalajadeiro, um provimento de ofício e duas cartas de perdão.

825
TESTOS, 2011, p. 152.
826
DUARTE, 1999, p. 669.
827
RAU, 1972, p. 49.
828
TESTOS, 2011, p. 152.
829
TESTOS, 2011, p. 152.
830
TESTOS, 2011, p. 152.
831
MOTA, 1989, vol. II, p. 66.
832
TESTOS, 2011, pp. 152-153.
833
TESTOS, 2011, p. 153.
834
DUARTE, 1999, p. 669.

195
17. FERNÃO RODRIGUES

1. 17/04/1475 – Já pertencia ao Desembargo835;


16/10/1509 – Ainda no Desembargo836.

3.
3.1.
3.1.4. Pai de uma filha ilegítima, Isabel, legitimada em 25/01/1504837.
3.2.
3.2.2. Em 8/03/1516, Nicolau Teixeira, seu criado, foi nomeado escrivão
das sisas de Aguiar de Pena e Jales838.
3.2.3. Foi um dos clérigos escolhidos por D. João II para auxiliarem D.
Manuel na execução das suas disposições testamentárias relativas à
salvação da alma839.

4.
4.8. Recebeu, no primeiro quartel de 1501, 7 500 reais enquanto Sobrejuiz da
Casa do Cível840.

5.
5.3. Doutor.

9.
9.2. Integrava o Desembargo, pelo menos, desde 17/04/1475841.
Em 29/10/1480 foi nomeado Desembargador do Paço e das Petições842.
Em 1501 era Sobrejuiz da Casa do Cível843.
Em 16/10/1509 ainda pertencia ao Desembargo844.

835
TESTOS, 2011, p. 153.
836
CDM, L. 36, fl. 37v.
837
CDM, L. 22, fl. 2. Há pelo menos um indício de que deve ter tido mais filhos: em 15/07/1504, Diogo
Leite, seu neto (não sabemos de quem era filho), foi agraciado com uma doação concedida tendo em
consideração os serviços prestados pelo avô. Cf. CDM, L. 19, fl. 14.
838
CDM, L. 25, fl. 41.
839
Provas, vol. II, p. 216.
840
DUARTE, 1999, p. 670.
841
TESTOS, 2011, p. 153.
842
CUP, vol. VII, p. 530.
843
DUARTE, 1999, p. 670.

196
9.3. Subscreveu, em 1496, enquanto Desembargador do Paço e das Petições, em
colaboração com Pero Vaz ou Gonçalo de Azevedo, 156 diplomas: uma
confirmação de perfilhamento, uma carta de defesa e privilégios de natureza
militar, uma carta de quitação, duas cartas de concessão de título ou
privilégio de natureza nobiliárquica, três cartas de carreteiro, quatro cartas de
privilégio em geral, seis cartas de privilégio comportando escusa de
determinações gerais, oito cartas de provimento de ofício, nove cartas de
estalajadeiro, dez cartas de legitimação e 111 cartas de perdão.

11. Integrou o Conselho, pelo menos, a partir de 1486845.

12. Foi deão de Coimbra e abade de Rorei846.

844
CDM, L. 36, fl. 37v.
845
TESTOS, 2011, p. 152.
846
LL, pp. 28-29.

197
18. FRANCISCO DE PORTUGAL

1. 1483 – Ano provável do nascimento847;


8/12/1549 – Data da morte848.

2.
2.1. Nasceu em Évora849.
2.2. Após a retirada da vida pública viveu, primeiro em Belém e, depois, em
Évora850.
2.3. Foi sepultado no convento de Nossa Senhora da Graça, em Évora851.
2.4. Foi, em 1498, a Castela e a Aragão.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de D. Afonso, bispo de Évora852, e de D. Filipa de Macedo,
uma mulher solteira853.
3.1.2. Irmão de D. Martinho Portugal854 e de D. Beatriz de Portugal855.
3.1.3. Casou duas vezes. Primeiro, com D. Brites de Vilhena. Em 1515,
com D. Joana de Vilhena856.
3.1.4. Teve uma filha do primeiro casamento, D. Guiomar de Portugal e
Vilhena, e três do segundo: D. Afonso (que nasceu em 1516), D.
João (1517) e D. Manuel (1521)857.
3.2.

847
Brasões, vol. III, p. 378.
848
Brasões, vol. III, p. 379.
849
TOCCO, Valeria – “D. Francisco de Portugal, 1º Conde de Vimioso: documentos para uma biografia”
e “A obra do Conde de Vimioso”. In PORTUGAL, Francisco de – Poesias e Sentenças. Fixação do texto,
introdução e notas por Valeria Tocco. Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração dos
Descobrimentos Portugueses, 1999. pp. 9-35 e 39-72,maxime, p. 12.
850
TOCCO, 1999, p. 19.
851
PELÚCIA, Alexandra – “PORTUGAL, D. Francisco de (c. 1483-1549)”. In Enciclopédia Virtual da
Expansão Portuguesa. S.l.: CHAM, 2005. Disponível online em: http://www.fcsh.unl.pt/cham/
eve/content.php?printconceit=1047 [última consulta: 14/03/2013].
852
Brasões, vol. III, p. 378.
853
PELÚCIA, 2005.
854
LL, p. 3.
855
CrGR, p. 87.
856
Brasões, vol. III, p. 379.
857
TOCCO, 1999, pp. 13-14.

198
3.2.2. Em 23/04/1520, Gabriel Rodrigues, seu criado, recebeu carta de
cavaleiro858.
Em 23/05/1520, Luís Vieira, seu criado, viu confirmada uma carta de
cavaleiro859.
Em 20/01/1520, João Gomes, seu criado, foi provido como escrivão
da alfândega de Bragança860.
Em 20/01/1530, João Martins, seu capelão, recebeu autorização para
meter um escravo na tripulação de um navio que navegaria de S.
Tomé para S. Jorge da Mina861.
3.2.3. Foi um dos elementos indicados por D. Manuel para integrar a
regência do reino caso o monarca falecesse antes de D. João
completar 20 anos862.
Estava junto de D. Manuel no momento da sua morte863.
3.3.
3.3.1. D. Afonso era filho bastardo de D. Afonso, quarto conde de Ourém e
primeiro Marquês de Valença864. Era primo do rei e foi e bispo de
Évora865.
3.3.2. Primo de D. Manuel I, foi feito Conde de Vimioso em 2/02/1515866.
3.3.3. D. Afonso de Portugal foi o segundo Conde de Vimioso e Vedor da
Fazenda de D. João III.
D. João foi Bispo da Guarda.
D. Manuel foi embaixador em Castela e comendador de Vimioso na
Ordem de Cristo867.
3.3.4. Pelo primeiro casamento, era genro do senhor de Unhão e Mordomo-
mor das rainhas D. Maria e D. Leonor.
Pelo segundo casamento, era cunhado do Conde de Tentúgal868.

858
CDM, L. 36, fl. 128.
859
CDM, L. 39, fl. 116.
860
CDM, L. 36, fl. 94v.
861
CC, parte II, maço 161, n.º 27.
862
Provas, pp. 426-427.
863
BUESCU, 2008, p. 119.
864
PELÚCIA, 2005.
865
Brasões, III, p. 378.
866
CDM, L. 24, fl. 12v.
867
TOCCO, 1999, pp. 13-14.
868
Brasões, III, p. 379.

199
4.
4.1. Foi senhor de Vimioso e de Aguiar da Beira e comendador de Arraiolos da
Ordem de Cristo869.
4.3. Em 28/09/1524 comprou 120,5 onças de peso mourisco de prata870.
4.5. Em 6/07/1515, foi despachada provisão para que se lhe pagasse 15 000 reais
de “graça separada”, devidos desde o ano anterior871.
Na mesma data, foi despachada outra provisão para que se lhe pagasse 40
000 reais de tença, também devidos desde 1514872.
Em 14/10/1515, um alvará régio autorizou-o a cobrar a renda da igreja de
Arraiolos, que lhe havia sido provida pelo papa873.
Em 16/02/1521, recebeu de Heitor Machado, recebedor da Chancelaria, 22
216 reais, relativos à parte que lhe cabia dos ofícios da Chancelaria874.
Em 17/08/1530, o assentamento de Conde valeu-lhe 270 000 reais875.
Em período não determinado, recebia as rendas das saboarias do Porto, cujo
valor não se conhece876.
4.6. Em 1514 foi-lhe doada a comenda de Arraiolos da Ordem de Cristo877.
Em 13/02/1515, foi-lhe doado o senhorio da vila de Vimioso878.
Em 27/03/1534 foi-lhe doado, em sua vida, o senhorio de Aguiar da Beira879.
4.7. Em 24/04/1534 foi feita mercê ao seu filho D. Afonso de lhe suceder no
título, ofícios, senhorios e rendimentos880.
Em data não especificada, “é-lhe concedida isenção do pagamento da décima
sobre os produtos provenientes do estrangeiro”881.

5.
5.4. Poeta representado no Cancioneiro Geral882, a quem Gil Vicente dedicou
trovas883, também escreveu em castelhano884.

869
Cf. ponto 4.6.
870
CC, pt. II, mç. 119, n.º 121.
871
CC, parte II, mç. 58, n.º 188.
872
CC, parte II, mç. 58, n.º 189.
873
CC, parte I, mç. 19, n.º 11.
874
CC, parte II, mç. 94, n.º 66.
875
Brasões, III, p. 378.
876
Brasões, III, p. 378.
877
TOCCO, 1999, p. 16.
878
Brasões, III, p. 378.
879
Brasões, III, p. 378.
880
Brasões, III, p. 378.
881
TOCCO, 1999, pp. 18-19.

200
Autor de Sentenças, “espécie de aforismos em prosa e versos”885.
O interesse das suas peças líricas deve-se à sua “tensão emocional” e a “um
apuramento formal verdadeiramente lapidar”. Foi, em alguns aspetos,
percursor de obras líricas de Camões886.
Era um indivíduo “profundamente embrenhado na vida cortesã” respeitando
e refletindo, como tal, os valores da época887.

7. Entre 1509 e 1510 foi fronteiro em Arzila888.


Em 1513 participou na conquista de Azamor, chegando a assumir o governo da
praça889.
Foi alcaide-mor de Tomar, Vimioso e Pias890.

8. Em 12/07/1527 foi nomeado legado de latere do papa Clemente VII para uma
missão891.
A partir de 1541, foi “intermediário entre os informadores de Marrocos ao
serviço de Portugal e o rei”892.

9.
9.2. Em 28/06/1516 foi confirmado como Vedor da Fazenda, após ter comprado
o ofício ao Conde de Vila Nova893.
Em 1543 retirou-se da vida pública, sendo substituído no seu ofício pelo
filho D. Afonso894.
9.3. Subscreveu, em 1521, enquanto Vedor da Fazenda, 185 diplomas: duas
cartas de tabelião, cinco cartas de doação de bens e direitos, cinco contratos
de exploração e 173 provimentos de ofício.

882
TOCCO, 1999, p. 39.
883
TOCCO, 1999, p. 20.
884
TOCOO, 1999, p. 65.
885
TOCCO, 1999, p. 20.
886
SARAIVA, António José; LOPES, Óscar – História da Literatura Portuguesa. 17ª edição. Porto:
Porto Editora, 1996. pp. 158-159.
887
TOCCO, 1999, p. 22.
888
CrDG, III, p. 36-37.
889
PELÚCIA, 2005.
890
PELÚCIA, 2005.
891
CUP, XIV, p. 259.
892
TOCCO, 1999, p. 16.
893
CDM, L. 25, fl. 133v.
894
TOCCO, 1999, p. 19.

201
10. Foi Camareiro-mor de D. Manuel e do príncipe D. João895.

11. Integrou o Conselho Régio.

14. Descrito por Garcia de Resende como “homem de muyto credito, e autoridade,
muy sesudo, e prudente, e de muyto bom conselho”896.
Entrou para a Corte no final do reinado de D. João II, por volta 1494897.
Foi um grande interessado pelas matérias ultramarinas, distanciando-se por
vezes das posições do D. João III898. A sua importância política foi muito
relevante até ao início dos anos 40899.
Em 1542, foi o procurador de D. João III na assinatura dos contratos
matrimoniais da infanta D. Maria e do príncipe D. João900.
Deixou a Corte em 1544901. Nos últimos anos da vida distinguiu-se como
benemérito, fazendo importantes doações à Misericórdia de Lisboa e à Ordem de
Santa Catarina902.

15. Em 15/02/1505 foi legitimado por D. Manuel903. A legitimação seria confirmada


por D. João III em 1534904.
No século XVIII, o seu casamento com D. Joana de Vilhena era apontado como
exemplar905.

895
PELÚCIA, 2005.
896
CrGR, 1991, p. 87.
897
TOCCO, p. 13.
898
PELÚCIA, 2005.
899
BUESCU, 2008, p. 244.
900
BUESCU, 2008, p. 245
901
BUSESCU, 2008, p. 245.
902
TOCCO, 1999, pp. 19-20.
903
Brasões, III, p. 378.
904
TOCCO, 1999, p. 13.
905
FERNANDES, Maria de Lurdes Correia – Espelhos, Cartas e Guias. Casamento e espiritualidade na
Península Ibérica. 1450-1700. Porto: Instituto de Cultura Portuguesa, 1995. p. 302.

202
Assinatura906

906
CC, pt. II, mç. 114, n.º 30.

203
19. FRANCISCO DA SILVEIRA

1. 1490 – Sucedeu ao pai como Coudel-mor907;


30/05/1530 – Ainda era Coudel-mor908.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Fernão da Silveira e de uma filha de D. Fernando
Henriques909.
3.1.2. Irmão de Jorge da Silveira, Diogo da Silveira, D. Violante e D.
Maria. Teve ainda outra irmã, que foi casada com o Conde do
Prado910.
3.1.3. Casou com uma filha de D. João de Noronha911.
3.1.4. Pai de Fernão da Silveira, Manuel da Silveira, Bernardim da Silveira,
D. Violante, D. Isabel e D. Cecília. Teve ainda outro filho, que
morreu na Índia912.
3.3.
3.3.1. Fernão da Silveira era Fidalgo da Casa Real 913 e foi Coudel-mor e
Regedor da Casa da Suplicação914.
3.3.2. Fidalgo da Casa Real.
3.3.4. Sobrinho de Diogo da Silveira, Escrivão da Puridade de D. Afonso V
e senhor de Recardães e Seguachães915.
Primo de Nuno Martins da Silveira, que foi Vedor-mor das obras916.
Sogro de D. Pedro de Noronha, senhor de Vila Verde917.

4.
4.1. Foi senhor de Sarzedas e e Sovereira Formosa918.

907
Brasões, vol. III, p. 147.
908
CC, pt. II, mç. 163, n.º 41.
909
LL, p. 304.
910
LL, p. 304.
911
LL, p. 304.
912
LL, p. 305.
913
MOTA, 1989, vol. II, p. 70.
914
LL, p. 304.
915
LL, pp. 300-301.
916
LL, p. 301.
917
LL, p. 305.

204
4.2. Em 22/09/1516 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 57 820
reais que lhe eram devidos do seu casamento919.
4.5. Em 3/03/1496 foi-lhe atribuída uma tença de 20 000 reais anuais a partir do
início desse ano920.
Na mesma data, foi-lhe atribuída uma outra tença de 30 000 reais anuais a
partir do início do ano921.
Em 16/06/1497 foi-lhe atribuída uma tença anual de 16 000 reais até lhe
serem pagas 2 000 coroas922.
Em 14/05/1499 foi-lhe atribuída uma tença anual de 150 000 reais923.
Em 16/05/1499 foi-lhe atribuída uma tença anual de 20 000 reais924.
Em 1518, enquanto Cavaleiro do Conselho, recebia 4 286 reais mensais de
moradia925.
4.6. Em 22/02/1496 foi-lhe confirmada a doação do senhorio de Serzedas e
Sovereira Fromosa, tal como o tinha o seu pai926.
Em 18/10/1503 foi-lhe confirmada a doação dos câmbios Évora, que haviam
sido vendidos ao seu pai pelo Conde de Penela927.
Em 9/11/1520 foi-lhe doado um chão em Évora928.
4.7. Em 21/07/1497 foi autorizado a escambar terras929.
Em 13/03/1504 foi privilegiado (assim como os seus caseiros e lavradores)
com a escusa de pagar os habituais encargos concelhios930.

5.
5.4. Poeta representado no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende931.

9.
918
CDM, L. 26, fl. 78.
919
CC, pt. II, mç. 66, n.º 55.
920
CDM, L. 26, fl. 77v.
921
CDM, L. 26, fl. 78.
922
CDM, L. 30, fl. 112.
923
CDM, L. 41, fl. 96.
924
CDM, L. 41, fl. 95v.
925
Provas, vol. II, p. 441.
926
CDM, L. 26, fl. 78.
927
CDM, L. 21, fl. 25-26v.
928
CDM, L. 36, fl. 89.
929
CDM, L. 29, fl. 84.
930
CDM, L. 22, fl. 60.
931
RESENDE, Garcia de – O Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. 6 volumes. Fixação do texto e
estudo por Aida Fernanda Dias. Lisboa: INCM, 1990-2003.

205
9.2. Tornou-se Coudel-mor em 1490, sucedendo ao pai932. D. Manuel
confirmou-lhe este ofício em 15/02/1496933.
Ainda era Coudel-mor em 30/05/1530934.
9.3. Subscreveu, em 1496, enquanto Coudel-mor, 17 diplomas: duas cartas de
aposentação e 17 cartas de provimento de ofício.

11. Foi membro do Conselho Real.

932
Brasões, vol. III, p. 147.
933
CDM, L. 26, fl. 78.
934
CC, pt. II, mç. 163, n.º 41.

206
20. GARCIA DE MELO

1. 21/01/1496 – Foi-lhe atribuída uma tença935;


20/06/1517 – Ainda era Anadel-mor dos besteiros936.

2.
2.1. A família de Garcia de Melo, durante o século XV, encontrava-se
“solidamente implantada no Alentejo e no Algarve”937.
2.2. Se não houver confusão por homonímia, morava em Évora em 1510938.
2.4. Deslocou-se a Inglaterra em 1497939.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Vasco Martins de Melo940 e de Isabel de Melo941.
3.1.2. Irmão de Duarte de Melo, Diogo de Melo, Jorge de Melo, Simão de
Melo, João Álvares Pereira, Maria, Leonor, Filipa de Melo942 e D.
Grimanesa943.
3.1.3. Casou com D. Guiomar944.
3.1.4. Pai de António de Melo, Jerónimo de Melo, Heitor de Melo, D.
Filipa Henriques e D. Leonor Henriques945.
3.2.
3.2.2. Em 28/07/1501 foi passada uma carta de perdão a João Alcoutim, seu
criado946.

935
CDM, L. 32, fl. 104.
936
CDM, L. 9, fl. 4v.
937
DUARTE, Luís Miguel – “Garcia de Melo em Castro Marim (a atuação de um alcaide-mor no início
do século XVI)”. Revista da Faculdade de Letras. História. Série II, n.º 5 (1988), pp. 131-149,maxime p.
143.
938
CDM, L. 46, fl. 133.
939
CDM, L. 28, fl. 51v.
940
DUARTE, 1989, p. 136.
941
CUP, vol. IX, p. 371.
942
VASCONCELOS, António Maria Falcão Pestana de – Nobreza e Ordens Militares. Relações Sociais e
de Poder (séculos XIV a XVI). Vol. II. Dissertação de Doutoramento apresentada à FLUP. Porto: 2008. p.
206.
943
Que era apenas filha da sua mãe. CUP, vol. IX, p. 228.
944
LL, p. 246.
945
DUARTE, 1989, p. 136.
946
CDM, L. 46, fl. 40.

207
Em 23/12/1517, Francisco de Vila Lobos, seu criado, foi nomeado
escrivão das sisas de Castro Marim947.
3.3.
3.3.1. Vasco Martins de Melo era alcaide-mor de Castelo de Vide948.
3.3.2. Fidalgo da Casa Real949.
3.3.3. Uma das suas filhas casou com o camareiro-mor do infante D.
Fernando e alcaide-mor de Castelo de Vide950.
3.3.4. Genro de D. Afonso Henriques, senhor de Barbacena e alcaide-mor
de Portalegre951.
Cunhado de António Borges, senhor de Carvalhais952.
A família de Garcia de Melo tinha ligações estreitas com:
- as alcaidarias de Évora, Santarém, Castelo de Vide, Olivença,
Barbacena, Arronches, Elvas, Serpa, Sousel, Casável, Mourão, Faro,
Tavira e Vila Viçosa;
- os condados de Atalaia, Penamacor, Monsanto, Olivença, Viana
da Foz do Lima e Viana de Alvito;
- o ducado de Bragança;
- os senhorios das Alcáçovas e Barbacenas953.

4.
4.1. Foi comendador de Castro Marim da Ordem de Cristo954.
4.5. Em 21/01/1496 foi-lhe atribuída uma tença anual de 20 00 desde o início do
ano955.
Em 21/03/1499, se não houver confusão por homonímia, foi-lhe atribuída
uma tença anual de 30 000 reais956.
Em 1/10/1504 foi-lhe atribuída uma tença anual de 100 000 reais957.

947
CDM, L. 39, fl. 35.
948
DUARTE, 1989, p. 136.
949
VASCONCELOS, 2008, vol. II, p. 133.
950
LL, p. 306.
951
LL, pp. 245-246.
952
LL, p. 246.
953
DUARTE, 1989, p. 142.
954
VASCONCELOS, 2008, vol. II, p. 133.
955
CDM, L. 32, fl. 104.
956
CDM, L. 41, fl. 84v.
957
CDM, L. 20, fl. 4.

208
Em 7/12/1515 foi-lhe atribuída uma tença anual de 30 000 reais a partir do
início do ano seguinte958.
4.6. Em 25/04/1499 foi-lhe confirmada a doação de 3 500 coroas que eram
devidas à sua mãe959.
Em 17/11/1508, encontrando-se em Arzila, foi-lhe feita mercê de 100
cruzados960.
4.7. Em 28/04/1506 foi-lhe atribuído o privilégio de, enquanto anadel-mor,
substituir os desembargadores da relação no julgamento de besteiros do
monte961.
Em 14/12/1510, se não houver confusão por homonímia, os seus caseiros
foram privilegiados e escusados962.

7. Em 1504 participou em combates navais no Estreito de Gibraltar.


Em 1505 participou na fundação da fortaleza de Santa Cruz do Cabo da Gué.
Entre 1507 e 1508 participou na conquista de Safim.
Em 1513 participou na conquista de Azamor.
Em 1515 foi derrotado na expedição à barra da Mamora.
Em 1516 chefiou uma expedição a Arzila.
Entre 1526 e 1528 ou 1529 foi capitão de Safim.
Foi alcaide-mor de Castro Marim963.

9.
9.2. Foi Anadel-mor dos besteiros do monte, pelo menos, entre 21/07/1506964 e
20/06/1517965.
9.3. Subscreveu, em 1512, enquanto Anadel-mor dos besteiros do monte, 67
diplomas: uma carta de concessão de título ou privilégio de natureza
nobiliárquica, duas cartas de privilégio em geral e 67 cartas de defesa e
privilégio de natureza militar.

958
CDM, L. 25, fl. 17v.
959
CUP, vol. IX, p. 371.
960
CC, pt. I, mç. 7, n.º 61.
961
CDM, L. 5, fl. 20.
962
CDM, L. 46, fl. 133.
963
DUARTE, 1989, pp. 136-137.
964
CDM, L. 44, fl. 125v.
965
CDM, L. 9, fl. 4v.

209
14. A sua atuação enquanto alcaide-mor de Castro Marim foi duramente criticada
numa carta endereçada a D. Manuel I, sendo-lhe feitas as seguintes acusações:
- apropriação de direitos alfandegários régios e da Ordem de Cristo;
- controlo e intimidação dos oficiais concelhios;
- apropriação de rendas do concelho;
- utilização indevida de terras do concelho;
- abuso da violência966.

Assinatura967

966
DUARTE, 1989, pp. 138-139.
967
CC, pt. II, mç. 16, n.º 41.

210
21. MESTRE GIL I

1. 28/02/1493 – Já era Cirurgião-mor968;


17/07/1511 – Já tinha falecido969.

3.
3.1.
3.1.3. Casado com Guiomar de Faria970.
3.1.4. Pai de Inês de Faria971, Diogo de Faria972 e Francisco de Faria973.
3.3.
3.3.3. Diogo de Faria foi Cirurgião-mor974.
Francisco de Faria era Cavaleiro da Casa Real975.

4.
4.5. Em 20/04/1496 foi-lhe outorgado um padrão anual de 4 000 reais976.
Em 15/03/1498 foram-lhe retirados, a seu pedido, dos 13 663 reais que
recebia, 10 000 reais para a sua filha Inês de Faria977.
Em 12/04/1502 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 5 173 reais
relativos às suas tenças978.
Em 4/05/1503 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 8 014 reais
de tença979.
Recebia as rendas da saboaria de Palmela e um tença anual de 23 moios de
pão meado980.

5.
5.3. Doutor.

968
CDM, L. 37, fl. 8.
969
CDM, L. 8, fl. 68.
970
CDM, L. 8, fl. 68.
971
CDM, L. 31, fl. 63v.
972
CDM, L. 15, fl. 163.
973
CDM, L. 8, fl. 68.
974
CDM, L. 42, fl. 21v.
975
CDM, L. 8, fl. 68.
976
CDM, L. 33, fl. 110v.
977
CDM, L. 31, fl. 63v.
978
CC, pt. II, mç. 6, n.º 12.
979
CC, pt. II, mç. 6, n.º 37.
980
CDM, L. 8, fl. 68.

211
9.
9.2. Foi Cirurgião-mor, pelo menos, ente 28/02/1493981 e a altura da sua morte,
ocorrida antes de 17/07/1511982.
9.3. Subscreveu, em 1496 e 1504, enquanto Cirurgião-mor, 14 cartas de cirurgia.

981
CDM, L. 37, fl. 8.
982
CDM, L. 8, fl. 70v.

212
22. MESTRE GIL II

1. 1477 – Altura provável do nascimento983;


1537 – Ainda era Cirurgião-mor984.

2.
2.1. Era natural da diocese de Lisboa985.

3.
3.3.
3.3.2. Recebeu carta de brasão de armas de D. Manuel I986.

4.
4.5. Em 2/10/1515987, 1/09/1524988 e 3/10/1534989 foram despachadas provisões
para que se lhe pagasse 4 240 reais relativos à vestiaria dos respetivos anos.

5.
5.1. Frequentou as universidades de Paris e de Montpellier990.
5.3. Na Universidade de Paris alcançou o grau de Mestre em Artes em 1504-
1505. Na Universidade de Montpellier alcançou, sucessivamente, os graus
de Bacharel, Licenciado e Doutor em Medicina (1510)991.

6. Em 1511 começou a sua ligação ao Estudo Geral de Lisboa, tornando-se lente


em 1517992.
Em 10/03/1518 foi eleito para a cadeira de véspera de Medicina do Estudo
Geral993.

983
SERRÃO, 1970. p. 102.
984
CUP, vol. XIII, p. 27.
985
SERRÃO, 1970, p. 145.
986
TAVARES, Pedro Vilas Boas – “Manuel Gomes de Lima Bezerra: o discurso ilustrado pela
dignificação da cirurgia”. Península. Revista de Estudos Ibéricos. N.º 5 (2008), pp. 83-91,maxime p. 89.
987
CC, pt. II, mç. 60, n.º 190.
988
CC, pt. II, mç. 118, n.º 132.
989
CUP, vol. XV, p. 391.
990
SERRÃO, 1970, p. 100.
991
SERRÃO, 1970, pp. 100-101.
992
CUP, vol. XII, p. 25.
993
ACUP, vol. II, pp. 75-76.

213
Em 31/01/1526 foi nomeado Catedrático de Medicina da hora de prima994.
Em 3/03/1526 foi substituído pelo Mestre Diogo Fraco como lente de Física da
hora da tarde, por ter sido eleito para a cadeira de prima de Física995.

9.
9.2. Foi Cirurgião-mor, pelo menos, entre 11/10/1519996 e 1537997.
9.3. Subscreveu, em 1521, enquanto Cirurgião-mor, 24 cartas de cirurgia.

12. Foi freire da Ordem de Cristo998.

14. Joaquim Veríssimo Serrão caracterizou Mestre Gil como “un des plus célèbres
medecins de la Renaissance portugaise”999.

994
ACUP, vol. II, pp. 360-361.
995
CUP, vol. XIII, pp. 37-38.
996
CDM, L. 36, fl. 63.
997
CUP, vol. XII, p. 27.
998
CUP, vol. XV, p. 391.
999
SERRÃO, 1970, p. 100.

214
23. GONÇALO DE AZEVEDO

1. 1482 – Doutorou-se em Pisa1000;


6/07/1517 – Já tinha falecido1001.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Vasco Fernandes de Lucena e de Violante de Alvim1002.
3.1.3. Casado com D. Leonor de Castro1003.
3.1.4. Pai de André de Azevedo Lucena, Francisco de Azevedo e Meneses e
Isabel de Castro1004.
3.2.
3.2.2. Em 18/11/1506, Diogo Fernandes, seu criado, foi nomeado escrivão
das sisas de Avis1005.
Em 26/10/1510, João Veloso, seu criado, foi nomeado administrador
de uma capela em Linhares1006.
Em 5/07/15113, o mesmo João Veloso foi nomeado escrivão dos
órfãos e tabelião da vila de Ponte de Sor1007. Na mesma data, o
mesmo indivíduo foi ainda nomeado escrivão das sisas dessa vila1008.

4.
4.1. Foi senhor de Ponte de Sor1009.
4.5. Em 27/01/1496 foi-lhe atribuída uma tença de 32 620 reais (24 000 de
moradia, 4 240 de vestiaria e 4 380 de cevada)1010.
Recebia as rendas das saboarias de Alcácer do Sal e Torrão1011.
4.6. Em 36/02/1499 foi-lhe doado o senhorio da vila de Ponte de Sor1012.

1000
CUP, vol. X, p. 307.
1001
CUP, vol. XI, p. 482.
1002
TESTOS, 2011, p. 154.
1003
CUP, vol. XI, p. 482.
1004
VASCONCELOS, 2008, vol. II, p. 42.
1005
CDM, L. 44, fl. 20v.
1006
CDM, L. 41, fl. 26.
1007
CDM, L. 42, fl. 71.
1008
CDM, L. 42, fl. 106.
1009
CDM, L. 41, fl. 77.
1010
CDM, L. 32, fl. 49.
1011
CUP, vol. XI, p. 482.

215
Em 18/08/1502 foi-lhe doado um moinho na ribeira de Longomel, no termo
de Ponte de Sor1013.
Em 17/01/1504 foi-lhe dado o paul de Biçousa, no termo de Ponte de Sor1014.
4.8. Dois recibos atestam que em 1501 recebeu 15 000 reais de ordenado em
cada quartel do ano1015.

5.
5.1. Estudou em Siena e em Pisa1016.
5.3. Doutorou-se em Leis, em Pisa, em 14821017.

7. Foi alcaide-mor de Sintra1018.

8. Foi embaixador em Castela1019.

9.
9.2. Foi Desembargador do Paço e das Petições, pelo menos, entre 28/05/1496 e
17/01/15161020.
Foi Desembargados dos Agravos da Casa da Suplicação, pelo menos, entre
6/05/1502 e 30/12/15091021.
Em 15/06/1507 era Chanceler-mor interino1022.
9.3. Subscreveu, em 1496 e em 1504, enquanto Desembargador do Paço e das
Petições, maioritariamente em parceria com Fernão Rodrigues ou Pero Vaz,
146 diplomas: uma carta de privilégio em geral, uma carta de concessão de
título ou privilégio de natureza nobiliárquica, uma carta de confirmação de
perfilhamento, uma carta de defesa ou privilégio de natureza militar, duas
cartas de privilégio comportando escusa de determinações gerais, quatro
cartas de administração de capelas, cinco cartas de licença para ter manceba,

1012
CDM, L. 41, fl. 77.
1013
CDM, L. 6, fl. 95v.
1014
CDM, L. 19, fl. 3.
1015
CC, pt. II, mç. 4, n.º 126; CC, pt. II, mç. 5, n.º 27.
1016
CUP, vol. X, p. 307.
1017
CUP, vol. X, p. 307.
1018
GAYO, 1938-1941 vol. III, p. 158.
1019
GAYO, 1938-1941 vol. III, p. 158.
1020
CDM, L. 11, fl. 136.
1021
TESTOS, 2011, p. 155.
1022
CDM, L. 38, fl. 44v.

216
seis cartas de carreteiro, oito cartas de provimento de ofício, 17 cartas de
estalajadeiro, 28 cartas de perdão e 69 cartas de legitimação.

10. Em 1490 era Chanceler-mor da rainha D. Leonor1023.

11. Integrou o Conselho Real, pelo menos, a partir de 15001024.

Assinatura1025

1023
CUP, vol. VIII, p. 414.
1024
TESTOS, 2011, p. 155.
1025
CC, pt. II, mç. 4, n.º 126.

217
24. JOÃO COTRIM

1. 12/04/1496 – Já integrava o Desembargo1026;


1524 – Integrava o Conselho Real1027.

3.
3.3.
3.3.2. Era Cavaleiro da Casa do Rei1028.

4.
4.1. Foi proprietário de casas em Catequefarás, em Lisboa1029.
4.5.Em 16/04/1515 e em 16/04/1516 foram despachadas provisões para que se
lhe pagasse 4 000 reais de vestiaria1030.
Em 6/05/1516 recebeu 4 120 reais do feitor de D. Manuel em Safim para
mantimento de gente de guerra1031.
Em 20/03/1521 foi-lhe atribuída uma tença anual de 12 000 reais1032.
Em 20/05/1523 surge no livro de tenças de D. João III beneficiando de duas
tenças: uma de 12 000 reais e outra de 20 000 reais1033.
Em 7/06/1524 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 12 000 reais
de tença1034.
Em 19/07/1524 passou uma procuração a Gonçalo Lopes para que este
cobrasse ao recebedor da Chancelaria 12 000 reais da sua tença que lhe eram
devidos1035.
4.8. Em 28/11/1500, ao ser nomeado Corregedor, a sua remuneração foi fixada
em 60 000 reais de mantimento e 4 000 reais de vestiaria1036.
Quatro recibos de 1501 atestam que recebeu 15 000 reais em cada quartel
desse ano1037.

1026
TESTOS, 2011, p. 157.
1027
TESTOS, 2011, p. 157.
1028
CC, pt. I, mç. 8, n.º 17.
1029
CUP, vol. XII, p. 61.
1030
CC, pt. II, mç. 56, n.º 82; CC, pt. II, mç. 81, n.º 56.
1031
CC, pt. II, mç. 64, n.º 113.
1032
CUP, vol. XII, p. 60.
1033
CUP, vol. XII, p. 281.
1034
CUP, vol. XII, p. 422.
1035
CC, pt. II, mç. 117, n.º 38.
1036
CUP, vol. IX, p. 447.

218
Em 25/05/1517, ao ser nomeado Desembargador do Agravo, o seu
mantimento foi fixado em 60 000 reais1038.

5.
5.3. Em 1496 era Bacharel1039.
Em 1507 já era Doutor em Leis1040.
5.4. Juntamente com o Doutor Rui da Grã, foi um dos coadjutores do Doutor Rui
Boto na preparação das Ordenações Manuelinas1041.
Foi um dos quatro Desembargadores encarregues de assinar e autenticar os
livros da terceira edição das Ordenações Manuelinas1042.

7. Presume-se que tenha passado por Safim em 15161043.

9.
9.2. Integrava o Desembargo, pelo menos, desde 12/04/14961044.
Em 28/11/1500 foi nomeado Corregedor dos feitos cíveis da Corte1045.
Foi Chanceler-mor interino, pelo menos, entre 17/09/1504 e 27/10/15041046.
Em 25/05/1517 foi nomeado Desembargador dos Agravos da Casa da
Suplicação1047.
9.3. Subscreveu, em 1504, enquanto Corregedor e/ou Chanceler-mor interino, 12
diplomas: uma carta de doação de bens e direitos, cinco cartas de provimento
de ofício e seis cartas de tabelião.

11. Integrou o Conselho, pelo menos, a partir de 15241048.

1037
CC, pt. II, mç. 4, n.º 29; CC, pt. II, mç. 4, n.º 165; CC, pt. II, mç. 4, n.º 124; CC, pt. II, mç. 6, n.º 155.
1038
CDM, L. 10, fl. 42v.
1039
TESTOS, 2011, p. 157.
1040
CUP, vol. IX, p. 60; ACUP, vol. I, p. 18.
1041
FREITAS, 2006, p. 59.
1042
OM, L. V, p. 347.
1043
CC, pt. II, mç. 64, n.º 113.
1044
TESTOS, 2011, p. 157.
1045
CUP, vol. IX, p. 447.
1046
CDM, L. 23, fl. 28v-35v.
1047
CDM, L. 10, fl. 42v.
1048
TESTOS, 2011, p. 157.

219
Assinatura1049

1049
CC, pt. II, mç. 4, n.º 29.

220
25. JOÃO DE LIMA

1. 2/01/1500 – Já era Monteiro-mor1050;


30/07/1516 – Já tinha falecido1051.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de D. Álvaro de Lima e D. Violante Nogueira1052.
3.1.2. Irmão de D. Afonso, D. Teresa de Lima, D. Filipa de Lima e D.
Catarina de Lima1053.
3.1.3. Casado com D. Maria d‟Anhaya1054.
3.1.4. Pai de D. Álvaro de Lima, D. Duarte de Lima, D. Catarina de Lima,
D. Afonso de Lima (bastardo)1055 e D. António de Lima1056.
3.2.
3.2.2. Em 8/10/1501, João Martins, seu escudeiro, foi nomeado monteiro-
mor da montaria de Alenquer1057.
3.3.
3.3.1. D. Álvaro de Lima foi Monteiro-mor do infante D. Fernando e de D.
Manuel I1058.
3.3.2. Fidalgo da Casa Real1059.
3.3.4. Sobrinho do Visconde de Vila Nova de Cerveira.
Cunhado de Pedro de Mendonça, alcaide-mor de Mourão1060.
Sogro de Rui Brito Patalim, primeiro capitão de Malaca1061.

4.

1050
CDM, L. 16, fl. 141v.
1051
CDM, L. 25, fl. 87v.
1052
LL, pp. 259-260.
1053
LL, p. 260.
1054
LL, p. 260.
1055
LL, p. 260.
1056
GAYO, 1938-1941, vol. XVII, p. 127.
1057
CDM, L. 1, fl. 56.
1058
LL, p. 259.
1059
CDM, L. 12, fl. 55v.
1060
LL, pp. 259-260.
1061
GAYO, 1938-1941, vol. XVII, p. 127.

221
4.5. Em 7/03/1502 foi-lhe atribuída uma tença anual de 50 000 reais, tal como
tinha o seu pai1062.
Em 4/06/1515 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 43 800 reais
de parte da sua tença1063.
Em 6/07/1515 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 30 600 reais
de parte da sua tença1064.
4.6. Em 11/06/1510 foi-lhe feita mercê de dez moios de trigo e dois de milho1065.
Em 18/08/1511 foi-lhe feita mercê de oito moios de trigo1066.

9.
9.2. Foi Monteiro-mor, pelo menos, entre 2/01/15001067 e 27/03/15161068. Já
falecido, foi substituído por Luís de Meneses em 30/07/15161069.
9.3. Subscreveu, em 1504 e 1512, enquanto Monteiro-mor, dez diplomas: cinco
cartas de aposentação e cinco cartas de provimento de ofício.

11. Integrou o Conselho, pelo menos, a partir de 15061070.

1062
CDM, L. 4, fl. 14v.
1063
CC, pt. II, mç. 58, n.º 17.
1064
CC, pt. II,mç. 58, n.º 194.
1065
CC, pt. I, mç. 9, n.º 21.
1066
CC, pt. I, mç. 10, n.º 82.
1067
CDM, L. 16, fl. 141v.
1068
CDM, L. 9, fl. 5.
1069
CDM, L. 25, fl. 87v.
1070
CDM, L. 38, fl. 62v.

222
26. JOÃO DA NOVA

1. 1490 – Integrava a guarda do rei;


Junho de 1509 – Morreu em Cochim1071.

2.
2.1. Era galego1072.

3.
3.3.
3.3.2. Fidalgo da Casa Real1073.
3.3.4. Era compadre de Tristão da Cunha1074.

4.
4.5. Em 10/07/1514 foi feita mercê de 200 000 reais aos seus herdeiros1075.
4.8. Em 1501 e 1503, enquanto Cavaleiro da Casa Real e alcaide de Lisboa,
recebia 12 000 reais anuais de mantimento1076.

7. Em 1490 integrava a guarda do rei.


Em 1501 foi capitão-mor da armada que foi à Índia.
Em 1505 foi capitão de um navio da armada, dirigida por Francisco de Almeida,
que foi à Índia1077.
Em datas que desconhecemos, serviu em África e foi alcaide menor de
Lisboa1078.

9.
9.2. Foi Anadel-mor dos espingardeiros, pelo menos, entre 15/01/15041079 e
30/12/15041080.

1071
LACERDA, 2006, p. 233.
1072
CrDG, vol. I, p. 155.
1073
LACERDA, 2006, p. 233.
1074
LACERDA, 2006, p. 233.
1075
CC, pt. II, mç. 49, n.º 44.
1076
DUARTE, 1999, p. 670; CDM, L. 21, fl. 28.
1077
LACERDA, 2006, p. 233.
1078
CrDG, vol. I, p. 155.
1079
CDM, L. 22, fl. 1v.

223
9.3. Subscreveu, em 1504, enquanto Anadel-mor dos espingardeiros, uma carta
de provimento de ofício.

1080
CDM, L. 23, fl. 47v.

224
27. JORGE DE VASCONCELOS

1. 1484 – Integrava a casa de D. João II1081;


12/04/1525 – Ainda era vivo1082.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Luís Mendes de Vasconcelos1083.
3.1.3. Casado com D. Leonor de Meneses1084.
3.3.
3.3.1. Luís Mendes de Vasconcelos foi criado do Infante D. Henrique1085.
3.3.2. Fidalgo da Casa Real1086.
3.3.4. Genro de Henrique de Sá, senhor das terras de Baltar e Paiva1087.

4.
4.5. Em 1484, enquanto Cavaleiro Fidalgo, recebia 1 200 reais mensais de
moradia1088.
Em 16/05/1501 foi-lhe feita mercê da dízima do pescado da Berlenga1089.
Em 6/03/1512 recebia 30 000 reais de tença1090. Esse valor mantinha-se em
18/10/15141091.
Em 30/07/1517 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 10 moios de
trigo de tença1092.
Em 1518, enquanto Cavaleiro do Conselho, recebia 2 300 reais mensais de
moradia1093.
Em 20/10/1519 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 20 moios de
trigo de tença1094.

1081
Provas, vol. II, p. 221.
1082
CC, pt. II, mç. 125, n.º 14.
1083
CDM, L. 41, fl. 101v.
1084
LL, p. 315.
1085
CDM, L. 41, fl. 101v.
1086
CDM, L. 41, fl. 101v.
1087
LL, p. 314.
1088
Provas, vol. II, p. 221.
1089
CDM, L. 37, fl. 43v.
1090
CC, pt. II, mç. 35, n.º 6.
1091
CC, pt. II, mç. 52, n.º 112.
1092
CC, pt. II, mç. 70, n.º 157.
1093
Provas, vol. II, p. 444.

225
Em 4/07/1524 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 20 000 reais
de tença1095.
4.6. Em 14/03/1498 foram-lhe confirmadas as doações do lugar do Baleal1096 e
da ilha da Berlenga1097.
4.8. Em 8/03/1518 e em 6/06/1519 recebeu duas arrobas de especiarias,
correspondentes a uma parte do seu ordenado1098.

9.
9.3. Subscreveu, em 1512, três cartas de defesa e privilégios de natureza
militar1099.

10. Foi Armador-mor1100.


Em 27/11/1501 foi nomeado “superintendente na construção e aviamento das
naus e navios do trato das Índias e da Guiné”, um ofício novo1101.

Assinatura1102

1094
CC, pt. II, mç. 85, n.º 94.
1095
CC, pt. II, mç. 116, n.º 128.
1096
CDM, L. 41, fl. 101v.
1097
CDM, L. 20, fl. 9v.
1098
CC, pt. II, mç. 73, n.º 180; CC, pt. II, mç. 82, n.º 73.
1099
Em nenhuma dessas cartas Jorge de Vasconcelos é associado a qualquer ofício, sendo apenas
designado como Fidalgo da Casa Real.
1100
LL, p. 315.
1101
COSTA, 2007, p. 238.
1102
CC, pt. I, mç. 17, n.º 87.

226
28. LUÍS DE MENESES

1. 1512 – Era fronteiro em Safim1103;


1524 – Morreu, ao regressar da Índia1104.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de D. João de Meneses e D. Joana de Vilhena1105.
3.1.2. Irmão de D. Duarte, D. Henrique, D. Maria, D. Leonor e D.
Isabel1106.
3.1.3. Casado com D. Leonor Pereira1107.
3.1.4. Pai de D. João, D. Brites, D. Antónia, D. Maria e D. Francisca1108.
3.3.
3.3.1. D. João de Meneses foi o primeiro Conde de Tarouca, Prior do Crato,
capitão de Tânger e comendador de Sesimbra1109.
3.3.2. Fidalgo da Casa Real1110.
3.3.3. D. João herdou os ofícios e senhorios do pai1111.
3.3.4. Cunhado de D. Lopo de Almeida, terceiro Conde de Abrantes.
Cunhado de João Gonçalves da Câmara, capitão da ilha da Madeira.
Cunhado de D. Manuel Pereira, terceiro Conde da Feira.
Sogro de António de Melo, alcaide-mor de Elvas.
Genro do Conde da Feira1112.

4.
4.1. Senhor de Santa Comba, Pinhanços, Gramaços e Lita (em África)1113.

1103
CrDG, vol. III, p. 136.
1104
LL, p. 113.
1105
LL, p. 112.
1106
LL, p. 112.
1107
LL, p. 113.
1108
LL, p. 113.
1109
LL, p. 112
1110
CDM, L. 42, fl. 41.
1111
LL, p. 113.
1112
LL, pp. 112-113.
1113
LL, p. 113.

227
4.5. Em 23/08/1512 foi-lhe atribuída uma tença anual de 100 000 reais, a partir
do início do ano seguinte, que correspondia a metade do que recebia o seu
pai1114.
Em 1518, enquanto Cavaleiro do Conselho, recebia 3 900 reais mensais de
moradia1115.
Em 7/04/1521 foi-lhe trespassada pelo pai uma tença anual de 30 000 reais, a
partir do início do ano seguinte1116.

7. Em 1512 era fronteiro em Safim1117.


Em 1513 participou na conquista de Azamor1118.
Entre 1521 e 1524 foi capitão-mor do mar da Índia1119.
Foi durante, durante um período que não conhecemos do reinado de D. Manuel,
alferes-mor1120.

9.
9.2. Em 30/07/1516 foi nomeado Monteiro-mor, substituindo D. João de
Lima1121. Exerceu essa função, pelo menos, até 30/03/1521.1122
9.3. Subscreveu, em 1521, enquanto Monteiro-mor, quatro cartas de provimento
de ofício.

12. Tomou o hábito da Ordem de Cristo em 15121123.

1114
CDM, L. 42, fl. 41.
1115
Provas, vol. II, p. 442.
1116
CDM, L. 18, fl. 26v.
1117
CrDG, vol. III, p. 136.
1118
LACERDA, 2006, p. 229.
1119
CC, pt. II, mç. 99, n.º 11; CC, pt. II, mç. 117, n.º 31.
1120
LL, p. 113.
1121
CDM, L. 25, fl. 87v.
1122
CDM, L. 37, fl. 88.
1123
LACERDA, 2006, p. 229.

228
Assinatura1124

1124
CC, pt. II, mç. 100, n.º32.

229
29. MARTIM PINHEIRO

1. Cerca de 1433 – Altura do nascimento1125;


24/06/1511 – Já tinha falecido1126.

3.
3.1.
3.1.1. Filho do Doutor Pedro Esteves e de Isabel Pinheiro1127.
3.1.2. Irmão de Diogo Pinheiro1128.
3.1.3. Casado com D. Catarina Pinto1129.
3.1.4. Pai de D. Simoa1130 e Francisco Pinheiro1131.
3.2.
3.2.2. Em 22/08/1491, Pedro de Freitas, seu criado, foi mencionado numa
carta de perdão1132.
Em 24/01/1492, João Rodrigues, seu criado foi nomeado tabelião de
Bragança e seu termo1133.
Em 10/04/1496, Gonçalo Dias, seu criado, foi nomeado escrivão dos
vinhos de Bragança1134.
Em 27/11/1499, Pero Barroso, seu criado, foi nomeado tabelião de
Lagos e seu termo1135.
Em 3/06/1506, Filipe Anes, seu criado, foi nomeado carcereiro da
cadeia da Corte1136.

4.
4.1. Em 1491 foi-lhe renovado o prazo da quintã de Revereda, em Santa Maria
do Salto1137.

1125
SOVERAL, Manuel Abranches de – “Reflexões sobre a origem dos Pinheiro, de Barcelos”. (2007).
[Consultado em 20/04/2013]. Disponível em: www.soveral.info/mas/Pinheiro.htm.
1126
CC, pt. II, mç. 27, n.º 53.
1127
TESTOS, 2011, p. 165.
1128
Cf. entrada sobre Diogo Pinheiro neste catálogo prosopográfico.
1129
CC, pt. II, mç. 27, n.º 53.
1130
LL, p. 322.
1131
TESTOS, 2011, p. 166.
1132
CUP, vol. IX, p. 36.
1133
MOTA, 1989, vol. II, p. 127.
1134
CDM, L. 33, fl. 95v.
1135
CDM, L. 14, fl. 71v.
1136
CDM, L. 44, fl. 101.

230
4.5. Em 1453 foi-lhe atribuída uma tença anual de 4 800 reais para estudar.
Em 1466 foi-lhe atribuída uma tença anual de 6 000 reais para estudar1138.
Em 26/05/1501 foi-lhe atribuída uma tença anual de 24 000 reais1139.
4.8. Em 3/09/1487 foi-lhe atribuído um mantimento de 50 000 reais anuais,
enquanto membro do Desembargo e Corregedor da Corte1140.
Em 20/12/1499 foi-lhe atribuído um mantimento de 24 000 reais anuais,
enquanto ouvidor das terras da rainha D. Isabel1141.
Três recibos de 1501 atestam que recebeu, enquanto Corregedor da Corte, 15
000 reais em cada quartel desse ano1142.

5.
5.3. Doutor, pelo menos, desde 14801143.

9.
9.2. Em 22/06/1480 já integrava o Desembargo.
Em 5/02/1482 foi nomeado Desembargador da Casa da Suplicação.
Em 20/12/1499 foi nomeado ouvidor das terras da rainha D. Isabel1144.
Foi Corregedor da Corte dos feitos crimes, pelo menos, entre 3/09/1487 e
23/02/15071145.
Exerceu interinamente o ofício de Chanceler-mor em diferentes períodos dos
anos de 14961146, 14971147, 14981148, 15051149 e 15071150.
9.3. Subscreveu, em 1496 e em 1504, enquanto Chanceler-mor interino e
enquanto Corregedor da Corte, 12 diplomas: sete cartas de tabelião e seis
cartas de provimento de ofício.

1137
SOVERAL, 2007.
1138
TESTOS, 2011, p. 166.
1139
CDM, L. 37, fl. 45v.
1140
CUP, vol. VIII, p. 261.
1141
CDM, L. 14, fl. 86.
1142
CC, pt. II, mç. 4, n.º 16; CC, pt. II, mç. 4, n.º 109; CC, pt. II, mç. 5, n.º 88.
1143
TESTOS, 2011, p. 166.
1144
CDM, L. 14, fl. 86.
1145
TESTOS, 2011, p. 166.
1146
CDM, L. 26, fl. 112; CDM, L. 33, fl. 13.
1147
CDM, L. 30, fl. 123.
1148
CDM, L. 28, fl. 66.
1149
CDM, L. 38, fl. 57v.
1150
CDM, L. 38, fl. 61v.

231
11. Integrou o Conselho, pelo menos, a partir de 15011151.

12. Tirou ordens menores, em Braga, em 14521152.

Assinatura1153

1151
TESTOS, 2011, p. 166.
1152
TESTOS, 2011, p. 166.
1153
CC, pt. II, mç. 3, n.º 15.

232
30. MARTINHO DE CASTELO BRANCO

1. 1476 – Participou na batalha de Toro1154;


1527 – Ano do falecimento, antes de 14 de novembro1155.

2.
2.4. Acompanhou D. Afonso V a França (1476-177)1156 e D. Manuel I a Castela
(1498)1157. Em 1521 acompanhou a Infanta D. Beatriz a Sabóia1158.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Gonçalo Vaz de Castelo Branco e de Brites Valente1159.
3.1.2. Irmão de D. Pedro, D. João, D. Filipa de Abreu e D. Isabel Pereira.
Teve ainda mais duas irmãs, cujo nome desconhecemos1160.
3.1.3. Casado com D. Mécia de Noronha1161.
3.1.4. Pai de D. Gonçalo, D. Francisco, D. João, D. António, D. Afonso, D.
Camila, D. Guiomar, D. Leonor, D. Francisca de Noronha, D. Maria
de Noronha, D. Helena1162, D. Pedro e D. Brites de Noronha1163.
3.2.
3.2.2. Em 24/08/1497, Fernão Lopes, seu criado, foi nomeado homem do
armazém do rei e tercenas de Lisboa1164.
Em 6/12/1497, Pero Álvares, seu criado, foi provido no mesmo ofício
que Fernão Lopes1165.
Em 30/10/1500, Fernão do Eirado, seu criado, foi nomeado escrivão
das sisas e dízima da vila de Caminha1166.

1154
Brasões, vol. III, p. 373.
1155
Brasões, vol. III, p. 376.
1156
Brasões, vol. III, p. 373.
1157
CrGR , p. 298.
1158
CrDG, vol. IV, p. 185.
1159
LL, pp. 280-281.
1160
LL, p. 281.
1161
LL, p. 281.
1162
LL, pp. 281-282.
1163
GAYO, 1938-1941, vol. XI, p. 18.
1164
CDM, L. 30, fl. 47.
1165
CDM, L. 28, fl. 81.
1166
CDM, L. 12, fl. 48v.

233
3.2.3. No reinado de D. João II, quando tentou interceder junto do rei a
favor do seu irmão, foi repreendido pelo monarca1167.
Foi testemunha do testamento de D. João II1168.
Estava junto do Príncipe Perfeito no momento da sua morte1169.
Foi um dos testamenteiros de D. Manuel I1170.
Foi designado por D. Manuel para integrar a regência do reino caso o
monarca falecesse antes de D. João atingir a maioridade1171.
Estava junto de D. Manuel no momento da sua morte1172.
Desempenhou um papel importante nas cerimónias de aclamação e
entronização de D. João III1173.
3.3.
3.3.1. Gonçalo Vaz de Castelo Branco foi senhor de Vila Nova de Portimão
e Escrivão da Puridade, Almotacé-mor, Vedor da Fazenda e
Governador da Casa do Cível1174.
3.3.2. Foi nomeado Conde de Vila Nova de Portimão em 1504, com efeito
a partir de 15081175.
3.3.3. D. Francisco herdou a casa e o morgado do pai.
D. António foi deão de Lisboa.
D. João foi comendador de Aljezur.
D. Afonso foi meirinho-mor de D. João III1176.
3.3.4. Genro de João Gonçalves da Câmara de Lobos, segundo capitão da
ilha da Madeira.
Cunhado do alcaide-mor de Muja, D. Jorge de Eça.
Cunhado de D. Goterre Coutinho, comendador de Sesimbra.
Cunhado de Jorge de Melo, mestre-sala de D. Manuel.
Cunhado de Simão Gomes da Câmara de Lobos, terceiro capitão da
ilha da Madeira.

1167
CrGR, p. 260.
1168
Provas, vol. II, p. 217.
1169
CrGR, p. 283.
1170
Provas, vol. II, p. 414.
1171
Provas, vol. II, p. 427.
1172
BUESCU, 2008, pp. 119-120.
1173
BUESCU, 2008, pp. 130-132.
1174
LL, pp. 280-281.
1175
Brasões, vol. III, p. 373.
1176
LL, pp. 281-283.

234
Sogro de D. Rodrigo de Eça, alcaide-mor de Moura.
Sogro de D. Bernardo Manuel, camareiro-mor de D. Manuel.
Sogro de D. Nuno Álvares de Noronha, irmão do Marquês de Vila
Real D. Pedro de Meneses1177.

4.
4.1. Herdou do pai o senhorio de Vila Nova de Portimão, os direitos reais de
Santarém e o reguengo de Chantas1178.
4.5. Tinha as rendas da dízima nova do pescado de Sines e Milfontes que, em
1500, foram dadas a Vasco da Gama1179.
Em 8/11/1495 foi-lhe confirmada a dízima e redízima de Vila Nova de
Portimão, tal como tinha o seu pai1180.
Em 29/01/1498 foi-lhe confirmada a doação da dízima nova do pescado de
Sines e Milfontes e dos foros da defesa de Elvas1181.
Em 18/04/1504 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 20 000 reais
de tença1182.
Em 20/02/1506 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 30 000 reais
de tença1183.
Em 21/02/1506 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 5 000 reais
de vestiaria1184.
Em 22/02/1506 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 30 000 reais
de tença1185.
Em 28/05/1507 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 30 000 reais
em açúcar1186.
Em 3/07/1509 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 17 500 reais,
correspondentes a metade da sua tença1187.

1177
LL, pp. 281-282.
1178
Brasões, vol. III, p. 375.
1179
Brasões, vol. III, p. 383.
1180
CDM, L. 27, fl. 24.
1181
CDM, L. 31, fl. 104.
1182
CC, pt. II, mç. 8, n.º 64.
1183
CC, pt. II, mç. 10, n.º 119.
1184
CC, pt. II, mç. 10, n.º 122.
1185
CC, pt. II, mç. 10, n.º 125.
1186
CC, pt. I, mç. 6, n.º 31.
1187
CC, pt. II, mç. 18, n.º 2.

235
Em 30/06/1510 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 150 000
reais de tença1188.
Em 13/10/1513 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 72 000
reais, correspondentes a parte dos 300 000 reais em pimenta que tinha na
Casa da Índia1189.
Em 1518, enquanto Cavaleiro do Conselho, recebia 6 500 reais mensais de
moradia1190.
4.6. Em 3/01/1502 foi-lhe doada uma terra no termo de Azambuja, ficando com
a obrigação de pagar ao rei o terço da novidade do pão1191.
4.7. Em 8/11/1495 foi-lhe concedido o privilégio de nomear os oficiais da
administração local de Vila Nova de Portimão1192.
Em 6/05/1516 foi-lhe concedida a exclusividade da mancebia de Portimão,
usufruindo dos respetivos rendimentos1193.
Em 4/06/1516 foi-lhe concedido o privilégio de, após o seu falecimento, um
dos seus filhos ficar com o ofício de camareiro-mor do príncipe D. João ou,
em alternativa, com uma tença de 300 000 reais anuais1194.
4.8. Em 29/08/1511, ao ser nomeado provedor e procurador da Casa da
Aposentadoria de Lisboa, o seu mantimento foi fixado em 30 000 reais
anuais1195.
Um recibo atesta que em 7/06/1512 recebeu um quintal, duas arrobas, um
arrátel e 13 onças de pimenta, correspondentes a uma parte do seu ordenado
anual enquanto Vedor da Fazenda1196.

7. Participou na batalha de Toro1197.


Foi enviado por D. João II a Graciosa, juntamente com Fernão Martins de
Mascarenhas e D. Diogo de Almeida, para avaliarem a situação militar da
praça1198.

1188
CC, pt. II, mç. 22, n.º 52.
1189
CC, pt. II, mç. 42, n.º 159.
1190
Provas, vol. II, p. 441.
1191
CDM, L. 6, fl. 6v.
1192
CDM, L. 27, fl. 24.
1193
Brasões, vol. III, p. 221.
1194
CC, pt. II, mç. 65, n.º 101.
1195
CDM, L. 42, fl. 12v.
1196
CC, pt. II, mç. 33, n.º 29.
1197
Brasões, vol. III, p. 373.
1198
CrGR, p. 122.

236
9.
9.1. Em 29/08/1511 foi nomeado provedor e procurador da Casa da
Aposentadoria de Lisboa.
9.2. Em 23/02/1481 foi nomeado Vedor da Fazenda, em substituição do pai (já
tinha exercido interinamente esse ofício em momentos anteriores)1199.
Em 28/06/1516 vendeu o seu ofício a D. Francisco de Portugal1200.
9.3. Subscreveu, em 1496 e 1504, enquanto Vedor da Fazenda, 35 diplomas:
uma carta de tabelião, duas cartas de doação de bens e direitos, quatro
contratos de exploração e 28 cartas de provimento de ofício.

10. Durante o reinado de D. João II foi Governador da Casa do Cível1201 e


Almotacé-mor interino1202. Em 1516 foi nomeado camareiro-mor do príncipe D.
João, continuando a exercer essa função quando este subiu ao trono1203.

11. Integrou o Conselho, pelo menos, a partir de 18/04/14891204.

14. Foi responsável pela organização das festas de receção à princesa D. Isabel,
aquando da sua vinda para Portugal para casar com o príncipe D. Afonso1205.
Em 1509 foi um dos grandes do reino que transportaram o ataúde da rainha D.
Maria para dentro da igreja do convento da Madre de Deus1206.
Fazia parte da comitiva, liderada pelo Duque de Bragança, que recebeu D.
Leonor quando esta chegou a Portugal1207.
Em 1521 foi o capitão da frota que levou a infanta D. Beatriz a Sabóia1208.
Era um dos adeptos dos ideais cruzadísticos de D. Manuel I1209, tendo sido “um
dos homens influentes” da sua corte1210.

1199
MOTA, 1989, vol. II, p. 129.
1200
CDM, L. 25, fl. 133v.
1201
CrGR, p. 93.
1202
MOTA, 1989, vol. II, p. 130.
1203
LL, p. 281; CC, pt. II, mç. 65, n.º 104.
1204
MOTA, 1989, vol. II, p. 130.
1205
CrGR, p. 156.
1206
BUESCU, 2008, p. 75.
1207
BUESCU, 2008, pp. 90-91.
1208
CrGR, p. 93.
1209
COSTA, 2007, p. 394.
1210
COUTINHO, Valdemar – “O condado de Vila Nova de Portimão”. In COSTA, João Paulo Oliveira e;
RODRIGUES, Vítor Luís Gaspar – A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Atas do Colóquio
Internacional. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa / Centro de História de Além-Mar, 2004. pp. 227-
238, maxime p. 230.

237
Perdeu protagonismo durante o reinado de D. João III, apesar de não ter sido
afastado ou hostilizado1211.

15. Era muito amigo de Afonso de Albuquerque1212.

Assinatura1213

1211
BUESCU, 2008, p. 152.
1212
Brasões, vol. III, p. 200.
1213
CC, pt. II, mç. 125, n.º 187.

238
31. NUNO MANUEL

1. 1475 – Foi legitimado por D. Afonso V1214;


30/01/1524 – Já tinha falecido1215.

2.
2.3. Foi sepultado na igreja de Jesus de Lisboa1216.
2.4. Acompanhou D. Manuel a Castela em 14981217 e 15021218.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de D. João, que foi bispo de Évora, e de Justa Rodrigues1219.
3.1.2. Irmão de João Manuel1220.
3.1.3. Casou duas vezes. Primeiro, com D. Lourença de Ataíde 1221. Depois,
com D. Leonor de Milão1222.
3.1.4. Do primeiro casamento, teve os seguintes filhos: D. Fradique
Manuel, D. João Manuel, D. Francisco Manuel de Aragão, D. Jorge
Manuel, D. Afonso Manuel, D. Leonor de Milão, D. Maria de
Aragão e D. Joana de Aragão1223.
3.2.
3.2.2. Em 6/02/1511, Tomás do Campo, seu criado, foi nomeado tabelião e
escrivão dos órfãos, da câmara e da almotaçaria de Salvaterra de
Magos1224.
Em 9/04/1513, Martim do Pico, seu criado e provedor do hospital e
recebedor dos defuntos da fortaleza de Malaca, recebeu 1 100 reais
que pertenciam a Fernão Parente, que tinha falecido1225.

1214
HGCRP, vol. XI, p. 421.
1215
CC, pt. II, mç. 113, n.º 40.
1216
HGCRP, vol. XI, p. 424.
1217
CrGR, p. 299.
1218
HGCRP, vol. XI, p. 422.
1219
Brasões, vol. III, p. 26.
1220
Brasões, vol. III, p. 26.
1221
LL, p. 241.
1222
HGCRP, vol. XI, p. 425.
1223
HGCRP, vol. XI, pp. 432-435.
1224
CDM, L. 8, fl. 42v.
1225
CC, pt. II, mç. 38, n.º 28.

239
Em 28/08/1517, foi feita mercê a Afonso Antão, seu amo da fazenda
de Violante Afonso, que mandara matar o seu marido1226.
3.2.3. Foi colaço de D. Manuel1227.
Estava com o Venturoso no momento da sua morte1228.
3.3.
3.3.1. D. João foi bispo de Évora.
Justa Rodrigues foi ama de D. Manuel1229.
3.3.2. Fidalgo da Casa Real1230.
3.3.3. D. Fradique Manuel foi senhor de Salvaterra de Magos.
D. João Manuel foi comendador de Idanha-a-Velha da Ordem de
Cristo.
D. Francisco Manuel foi moço fidalgo de D. Manuel e serviu Carlos
V.
D. Jorge Manuel foi comendador de S. Vicente da Ordem de Cristo e
capitão e governador da Mina.
D. Afonso Manuel foi comendador de Santa Cristina da Ordem de
Cristo1231.
3.3.4. Pelo primeiro casamento, genro de D. João de Vasconcelos de
Meneses, segundo Conde de Penela1232.
Pelo segundo casamento, genro de D. Jaime de Milão, Conde de
Albayda, e de D. Leonor de Aragão, filha do Mestre de Calatrava.
Sogro de uma filha do Conde de Sortelha.
Sogro do alcaide-mor de Faro.
Sogro do senhor de Valençuella.
Sogro do senhor de Quarteira e de Ludo1233.

4.
4.1. Senhor de Salvaterra de Magos, Águias e Erra1234.

1226
CDM, L. 10, fl. 79.
1227
HGCRP, vol. XI, p. 421.
1228
BUESCU, 2008, p. 120.
1229
Brasões, vol. III, p. 26.
1230
CDM, L. 30, fl. 21.
1231
HGCRP, vol. XI, pp. 432-436.
1232
LL, p. 241.
1233
HGCRP, vol. XI, pp. 432-435.
1234
HGCRP, vol. XI, p. 424.

240
4.3. Em 1498, comprou a D. Manuel a herdade de Pão, em Monsaraz, por 152
000 reais1235.
Em 27/03/1507 comprou a Pedro Correia o senhorio de Salvaterra de Magos.
Em 1520 comprou a André do Campo os senhorios de Aguias e Erra1236.
4.5. Em 23/02/1502 recebia 6 400 reais das rendas da vila de Monsaraz1237.
Em 2/02/1508 foram-lhe confirmadas todas as rendas e direitos de Salvaterra
de Magos1238.
Em 17/04/1509 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 29 230 reais
de sua tença1239.
Em 8/07/1511 foi despachado alvará para que se lhe pagasse 200 000 reais
pela pimenta que tinha na Casa da Índia1240.
Em 27/09/1513 foi-lhe passada carta de padrão de tença de 40 000 reais, na
sequência de duas cartas de padrão de 20 000 reais adquiridas a Fernando
Coutinho1241.
Em 1518, enquanto Cavaleiro do Conselho, recebia 5 000 reais mensais de
moradia1242.
4.6. Em 7/01/1501 foi-lhe confirmada a doação das saboarias pretas e brancas da
comarca de Trás-os-Montes1243.
Em 1510 D. Manuel doou-lhe uma sesmaria no termo de Coruche1244.
Em 27/08/1511 foram-lhe doados 50 quintas de cravo1245.
4.8.Em 6/07/1517 foi despachado alvará para que se lhe desse 100 000 reais
pelos serviços que prestara nos anos anteriores enquanto Almotacé-mor e
Guarda-mor1246.

7. Foi alcaide-mor de Idanha-a-Nova1247.

1235
CDM, L. 41, fl. 76v.
1236
HGCRP, vol. XI, p. 424.
1237
CDM, L. 4, fl. 9v.
1238
CDM, L. 15, fl. 12v.
1239
CC, pt. II, mç. 17, n.º 16.
1240
CC, pt. I, mç. 10, n.º 57.
1241
CDM, L. 15, fl. 17v.
1242
Provas, vol. II, p 441.
1243
CDM, L. 38, fl. 87v.
1244
HGCRP, vol. XI, p. 424.
1245
CC, pt. I, mç. 10, n.º 88.
1246
CC, pt. I, mç. 22, n.º 22.
1247
HGCRP, vol. XI, p. 424.

241
9.
9.1. Em 16/09/1497 foi nomeado alcaide das sacas da vila de Monsaraz,
recebendo licença para que fosse um escudeiro seu a exercer efetivamente
essa função1248.
9.2. Foi Almotacé-mor, pelo menos, a partir de 4/03/1498, continuando a
exercer essa função no reinado de D. João III1249.
9.3. Subscreveu, em 1512, enquanto Almotacé-mor, uma carta de privilégio em
geral.

10. Foi guarda-mor de D. Manuel e D. João III1250.

11. Integrou o Conselho a partir de 15101251.

13. Participou, com autorização de D. Manuel, no comércio das especiarias


orientais, investindo nas armadas de 1503, 1506, 1517, 1519 e 15201252.

15. Foi legitimado por D. Afonso V em 14751253.

Assinatura1254

1248
CDM, L. 30, fl. 21.
1249
HGCRP, vol. XI, pp. 422-423.
1250
HGCRP, vol. XI, pp. 421-423.
1251
HGCRP, vol. XI, p. 424.
1252
LACERDA, 2006, p. 102.
1253
HGCRP, vol. XI, p. 421.
1254
CC, pt. II, mç. 73, n.º 166.

242
32. NUNO MARTINS DA SILVEIRA

1. 1457 – Ano provável do nascimento1255;


13/11/1528 – Ainda era vivo1256.

2.
2.1. A sua família encontrava-se muito implantada em Évora1257.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Diogo da Silveira e D. Brites da Cunha de Góis1258.
3.1.2. Irmão de Henrique da Silveira e Martim da Silveira1259.
3.1.3. Casado com D. Filipa de Vilhena1260.
3.1.4. Pai de Luís da Silveira, Simão da Silveira, João da Silveira, D.
Leonor, D. Isabel e António da Silveira1261.
3.2.
3.2.2. Em 11/02/1501, Pero Afonso, seu escudeiro, foi nomeado tabelião de
Góis e Salaviça1262.
Em 24/08/1503, Pero Leal, seu escudeiro, foi nomeado almoxarife de
Seia1263.
Em 28/04/1504, Fernão Talesso, seu escudeiro, foi nomeado tabelião
de Canas de Senhorim e Aguieira1264.
Em 15/05/1511, Nuno Fernandes, seu criado, foi feito cavaleiro1265.
Em 13/03/1517, Pero Leal, seu escudeiro, foi nomeado juiz dos
órfãos de Seia1266.

1255
MOTA, 1989, vol. II, p. 135.
1256
CC, pt. I, mç. 37, n.º 160.
1257
MOTA, 1989, vol. II, p. 135.
1258
LL, pp. 300-301.
1259
LL, p. 301.
1260
LL, p. 301. O contrato de casamento foi assinado em 22/07/1482. Cf. MOTA, 1989, vol. II, p. 135.
1261
LL, p. 301.
1262
CDM, L. 1, fl. 2v.
1263
CDM, L. 35, fl. 48v.
1264
CDM, L. 23, fl. 12.
1265
CDM, L. 41, fl. 40v.
1266
CDM, L. 10, fl. 15.

243
Em 2/01/1518, Simão Fernandes, seu criado, foi nomeado recebedor
das sisas de Oliveira do Conde e Currelos1267.
Em 9/01/1518, o mesmo Simão Fernandes foi nomeado recebedor
das sisas de S. João de Areias1268.
Em 10/03/1518, Diogo de Lemos, seu criado, foi nomeado recebedor
das sisas de Águeda e de Recardães1269.
Em 21/06/1521, o mesmo Diogo de Lemos foi nomeado escrivão dos
órfãos do arcediagado do Vouga1270.
3.3.
3.3.1. Diogo da Silveira foi Escrivão da Puridade de D. Afonso V, Vedor-
mor das obras e senhor de Recardães e Segadães1271.
3.3.2. Fidalgo da Casa Real1272.
3.3.3. Luís da Silveira foi Conde de Sortelha e Vedor-mor das obras.
Simão da Silveira foi Vedor-mor das obras.
António da Silveira foi capitão no Oriente (entre outros locais, em
Diu, Ormuz e Goa)1273.
3.3.4. Sogro de D. Diogo Lobo, Barão de Alvito.
Sogro de Nuno da Cunha, governador da Índia e Vedor da Fazenda
de D. João III1274.

4.
4.1. Foi senhor de Recardães, Segadães, Góis, Penalva e Brunhido e do julgado
de Oliveira do Conde1275.
Tinha terras (Magalhães e Carregueira) próximas do mosteiro de Santa
Maria das Virtudes (Azambuja)1276.
Tinha quintas na Lousã e em Oliveira de Currelos e casas em Évora1277.

1267
CDM, L. 44, fl. 88.
1268
CDM, L. 44, fl. 88.
1269
CDM, L. 44, fl. 27-27v.
1270
CDM, L. 39, fl. 72.
1271
LL, pp. 300-301.
1272
MOTA, 1989, vol. II, p. 135.
1273
LL, pp. 301-303.
1274
LL, p. 301.
1275
LL, pp. 300-301; CDM, L. 39, fl. 51v; CDM, L. 12, fl. 38v; CDM, L. 39, fl. 51v.
1276
CDM, L. 17, fl. 37v.
1277
CDM, L. 39, fl. 52v; MOTA, 1989, vol. II, p. 136.

244
4.2. Recebeu como dote 12 000 dobras de 120 reais e propriedades em Évora,
Alverca e Lisboa1278.
4.5. Em 1484, enquanto Cavaleiro do Conselho, recebia 4 286 reais de
moradia1279.
Em 20/02/1501 foi-lhe atribuída uma tença anual de 60 000 reais, a partir do
início do ano1280.
Em 20/04/1515 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 60 000 reais
de sua tença1281.
Em 20/04/1516 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 15 000 reais
de sua tença1282.
Em 21/04/1516 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 17 135 reais
de sua tença1283.
4.7. Em 7/11/1497 foi concedido o privilégio de coutada às suas terras de
Magalhães e Carregueira1284.
4.8. Em 23/07/1483, ao ser nomeado Vedor-mor das obras, foi-lhe atribuído o
mantimento anual de 50 000 reais1285.

9.
9.2. Em 5/04/1464 foi nomeado Vedor-mor das obras, sacas e resíduos e
Escrivão da Puridade. Tomou posse efetivas desses ofícios em 1477 ou
1478.
Deixou de ser Escrivão da Puridade com a subida ao trono de D. João II, mas
em 23/07/1483 foi confirmado como Vedor-mor das obras, tendo ocupado
esse ofício, pelo menos, até 26/10/15211286.
9.3. Subscreveu, em 1504 e 1521, enquanto Vedor-mor das obras, 11 diplomas:
dois contratos de exploração e nove cartas de provimento de ofício.

10. Foi mordomo-mor da rainha D. Catarina1287.

1278
MOTA, 1989, vol. II, p. 136.
1279
Provas, vol. II, p. 218.
1280
CDM, L. 37, fl. 7
1281
CC, pt. II, mç. 56, n.º 124.
1282
CC, pt. II, mç. 64, n.º 72.
1283
CC, pt. II, mç. 64, n.º 73.
1284
CDM, L. 17, fl. 73v.
1285
MOTA, 1989, vol. II, p. 136.
1286
MOTA, 1989, vol. II, p. 136; CDM, L. 18, fl. 49v.

245
11. Integrou o Conselho, pelo menos, a partir de 6/01/14801288.

Assinatura1289

1287
LL, p. 301.
1288
MOTA, 1989, vol. II, p. 137.
1289
CC, pt. I, mç. 36, n.º 140.

246
33. PEDRO DE CASTRO

1. 1482 – Já era Vedor da Fazenda1290;


1529 – Ano da morte1291.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de D. João de Noronha e D. Joana de Castro1292.
3.1.2. Irmão de D. Simão, D. Jorge, D. Brites, D. Margarida, D. Guiomar e
de algumas freiras cujos nomes desconhecemos1293.
3.1.3. Casou duas vezes. Primeiro, com D. Joana de Meneses, que morreu
em 1497. Depois, com D. Inês de Ayala1294.
3.1.4. Teves os seguintes filhos, todos do segundo casamento: D. Luís de
Castro, D. Luísa, D. Maria e D. Maria, “a Beca”1295.
3.2.
3.2.2. Em 8/05/1482, Fernão Dias, seu escudeiro, foi nomeado escrivão da
Chancelaria e escrivão perante o corregedor da comarca da Beira.
Em 18/06/1482, Diogo Reimão, seu escudeiro, foi nomeado meirinho
das cadeias da Corte.
Em 7/04/1483, João Álvares, seu escudeiro, foi nomeado contador
dos feitos e escrituras de Évora1296.
Em 16/10/1502, João Fernandes, seu escudeiro, foi nomeado tabelião
de Lisboa1297.
Em 5/05/1503, Garcia Machado, seu escudeiro, foi nomeado juiz das
sisas de Lafões1298.
Em 14/12/1503, Gregório da Reboreda, seu criado, foi nomeado
recebedor da sisa da maçaria de Lisboa1299.

1290
MOTA, 1989, vol. II, p. 140.
1291
CRUZ, 2001, p. 206
1292
LL, p. 94.
1293
LL, p. 94.
1294
LL, p. 95; MOTA, 1989, vol. II, p. 140.
1295
LL, p. 95.
1296
MOTA, 1989, vol. II, p. 140-141.
1297
CDM, L. 2, fl. 56.
1298
CDM, L. 35, fl. 33v.
1299
CDM, L. 35, fl. 69.

247
Em 25/02/1513, Duarte Gomes, seu escudeiro, foi nomeado guarda
da porta de Santo Antão de Lisboa1300.
Em 24/04/1513, Estêvão de Sequeira, seu criado, foi nomeado
escrivão do almoxarifado de Lagos1301.
Em 2/08/1514, Gonçalo Madureira, seu criado foi substituído como
escrivão dos contos dos Açores1302.
Em 20/07/1517, Francisco Rodrigues, seu criado, foi nomeado juiz
das sisas de Gondomar1303.
3.2.3. Estava junto de D. João II no momento da sua morte1304.
3.3.
3.3.1. D. Joana de Castro era filha do primeiro Conde de Monsanto, D.
Álvaro de Castro, e, já viúva, herdou a casa paterna, na sequência da
morte do seu irmão D. João, que não deixou descendência1305.
3.3.2. Foi o terceiro Conde de Monsanto, nomeado em 19/08/15281306.
3.3.3. D. Luís herdou a casa do pai, mas não o título1307.
3.3.4. Cunhado de D. Diogo Pereira, segundo Conde da Feira.
Cunhado de Francisco da Silveira, Coudel-mor.
Cunhado de D. Henrique de Noronha, comendador-mor de Santiago.
Pelo primeiro casamento, genro de D. Fernando de Meneses.
Pelo segundo casamento, genro do primeiro Conde de Portalegre.
Sogro de D. João de Meneses, capitão de Tânger.
Sogro de D. Fernando de Castro, governador de Lisboa.
Sogro de Pedro da Cunha, senhor de Gestaço1308.

4.
4.1. Foi senhor de Cascais, Monsanto, Lourinhã, Castelo Mendo e Pereira da
Jusã1309.

1300
CDM, L. 42, fl. 28v.
1301
CDM, L. 42, fl. 58.
1302
CDM, L. 15, fl. 108.
1303
CDM, L. 10, fl. 62.
1304
CrGR, p. 285.
1305
LL, p. 94.
1306
LL, pp. 94-95; Brasões, vol. III, p. 393.
1307
LL, p. 95.
1308
LL, pp. 93-94.
1309
CDM, L. 44, fl. 114v; MOTA, 1989, vol. II, p. 141.

248
4.2. O ofício de Vedor da Fazenda fez parte do seu dote1310.
4.5. Em 1484, enquanto Cavaleiro do Conselho, recebia 4 286 reais de
moradia1311.
Em 30/01/1499 foi-lhe atribuída uma tença anual de 40 000 reais1312.
Em 26/06/1500 passou a receber as rendas, foros e direitos da alcaidaria-mor
de Lisboa1313.
Em 25/05/1512 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 5 600 reais
relativos à pimenta que o rei lhe havia comprado1314.
Em 13/06/1512 recebeu 13 000 reais do tesoureiro das especiarias1315.
Em 18/03/1513 recebeu 5 641 reais do tesoureiro das especiarias1316.
Em 3/08/1517 recebeu 3 arrateis de canela do tesoureiro das especiarias1317.
Em 1518, enquanto Cavaleiro do Conselho, recebia 8 000 reais mensais de
moradia1318.
Em 27/06/1523 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 141 666
reais que lhe eram devidos da sua moradia1319.
Em 26/07/1525 recebeu 5 760 reais do almoxarife de Sintra1320.
4.6.Em 24/05/1503 foram-lhe doadas as rendas do sangue de Lisboa e do seu
termo1321.
Em 15/11/1511 foi-lhe feita mercê de 10 moios de trigo1322.
Em 29/08/1513 foi-lhe feita mercê de 12 de moios de trigo1323.
Em 22/10/1513 foi-lhe dado um escravo de 8 000 reais1324.
Em 27/06/1523 foi-lhe feita mercê de 50 000 reais1325.
4.7. Em 3/03/1520 foi-lhe confirmado o privilégio de os seus caseiros, foreiros e
lavradores serem escusos de vários encargos1326.

1310
GAYO, 1938-1941, vol. XI, p. 58.
1311
Provas, vol. II, p. 218.
1312
CDM, L. 41, fl. 74.
1313
CDM, L. 13, fl. 60.
1314
CC, pt. II, mç. 62, n.º 168.
1315
CC, pt. II, mç. 33, n.º 44.
1316
CC, pt. II, mç. 42, n.º 185.
1317
CC, pt. II, mç. 71, n.º 7.
1318
Provas, vol. II, p. 440.
1319
CC, pt. II, mç. 108, n.º 116.
1320
CC, pt. II, mç. 126, n.º 146.
1321
CDM, L. 21, fl. 16.
1322
CC, pt. II, mç. 5, n.º 38.
1323
CC, pt. I, mç. 4, n.º 33.
1324
CC, pt. I, mç. 13, n.º 77.
1325
CC, pt. II, mç. 108, n.º 112.

249
Em 15/03/1520 foi-lhe concedido o privilégio de só haver dois monteiros na
sua vila de Cascais1327.
4.8. Em 14/01/1512 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 20 000
reais do seu ordenado1328.
Em 24/05/1514 foi despachada provisão para que se lhe desse dois escravos
de 10 000 reais cada, relativos ao seu ordenado1329.

7. Foi alcaide-mor de Lisboa1330.

9.
9.2. Foi Vedor da Fazenda, pelo menos, entre 14821331 e 15291332.
9.3. Subscreveu, em 1496, 1504 e 1521, 68 diplomas: um contrato de
exploração, cinco cartas de doação de bens e direitos e 62 cartas de
provimento de ofício.

10. Foi Couteiro-mor das perdizes de Lisboa1333, Caçador-mor e Fronteiro-mor1334.

11. Integrou o Conselho, pelo menos, a partir de 31/09/14821335.

Assinatura1336

1326
CDM, L. 44, fl. 144v.
1327
CDM, L. 44, fl. 114.
1328
CC, pt. II, mç. 30, n.º 55.
1329
CC, pt. II, mç. 47, n.º 141.
1330
CDM, L. 13, fl. 60.
1331
Brasões, vol. III, p. 393.
1332
CRUZ, 2001, p. 206.
1333
CDM, L. 2, fl. 1.
1334
Brasões, vol. III, p. 393.
1335
MOTA, 1989, vol. II, p. 142.
1336
CC, pt. II, mç. 102, n.º 133.

250
34. PEDRO DE MENESES

1. 1507 – Já frequentava a Universidade de Paris1337.


26/11/1523 – Papa renovou-lhe o canonicato e prebenda de Évora1338.

3.
3.3.
3.3.1. Ambos os pais eram nobres1339.
3.3.2. Era nobre1340.

4.
4.5. Em 15/01/1513 foi despachado um alvará para que o feitor da Flandres lhe
desse 46 080 reais para que continuasse a estudar em Paris1341.
Em 15141342, 15151343 e 15161344recebeu 46 080 relativos à sua moradia em
Paris.
4.7. Em 1/09/1507, o Papa Júlio II autorizou-o a receber os rendimentos da
igreja de S. Salvador de Évora sem obrigação de residência pessoal enquanto
estivesse no estrangeiro a estudar ou na cúria romana1345.
4.8. Em 16/09/1516, quando foi nomeado Desembargador do Paço e das
Petições, o seu mantimento anual foi fixado em 60 000 reais anuais1346.

5.
5.1. Frequentou a Universidade de Paris, pelo menos, entre 1507 e 15161347.
5.2. Direito Civil1348.
5.3. Mestre em Artes e Licenciado em Teologia1349.

1337
MATOS, 1950. p. 17.
1338
CUP, vol. XII, pp. 344-345.
1339
CUP, vol. XI, p. 528. Seria, provavelmente, aparentado com a família dos marqueses de Vila Real.
Cf. LEITÃO, 2013, p. 522.
1340
CUP, vol. X, pp. 317-318.
1341
CC, pt. I, mç. 12, n.º 59.
1342
CC, pt. II, mç. 46, n.º 137.
1343
CC, pt. II, mç. 56, n.º 199.
1344
CC, pt. II, mç. 63, n.º 185.
1345
CUP, vol. X, pp. 318-319.
1346
CUP, vol. XI, p. 415.
1347
MATOS, 1950, p. 17; CC, pt. II, mç. 63, n.º 185.
1348
CUP, vol. X, pp. 312-313.
1349
CUP, vol. X, pp. 312-313, 530.

251
6. Em 1517 foi oponente à cadeira de Lógica do Estudo Geral.
Em 1518 foi eleito para a cadeira de Filosofia Moral do Estudo Geral1350.

9.
9.2. Foi nomeado Desembargador do Paço e Petições em 16/09/15161351.
Desempenhou essas funções, pelo menos, até 12/08/15211352.
9.3. Subscreveu, em 1521, enquanto Desembargador do Paço e das Petições, em
parceria com Diogo Pinheiro, quatro cartas de provimento de ofício.

11. Foi nomeado conselheiro em 24/03/15181353.

12. Em 1/09/1507 era reitor da igreja de S. Salvador, da diocese de Évora1354.


Em 15/01/1518 era reitor da igreja de Santa Maria de Marialva, da diocese de
Lamego. Nessa data, recebeu de Diogo Lopes o priorato de Águas Santas da
Ordem do Santo Sepulcro1355.
Em 25/04/1519 era reitor da igreja de S. Pedro de Valongo, da diocese de
Coimbra1356.
Em 26/11/1523 o Papa Clemente VII renovou-lhe o canonicato e prebenda de
Évora1357.

Assinatura1358

1350
CUP, vol. XI, p. 530.
1351
CUP, vol. XI, p. 415.
1352
CDM, L. 18, fl. 87v.
1353
CUP, vol. XI, p. 554.
1354
CUP, vol. X, p. 317.
1355
CUP, vol. XI, p. 528.
1356
CUP, vol. XI, pp. 656-657.
1357
CUP, vol. XII, pp. 344-345.
1358
CC, pt. II, mç. 56, n.º 199.

252
35. PERO VAZ

1. 1464 – Era estudante1359;


21/03/1518 – Ainda pertencia ao Desembargo1360;

2.
2.4. Acompanhou D. Manuel a Castela e Aragão, em 1498, e na peregrinação a
Santiago de Compostela, em 15021361.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Gonçalo Vaz Pinto1362.
3.2.
3.2.2. Em 19/04/1492, João Fernandes, seu escudeiro, foi perfilhado1363.
Em 18/05/1502, Miguel Rodrigues, seu escudeiro, foi nomeado
escrivão dos órfãos da Covilhã1364.
Em 27/01/1503, Luís de Figueiredo, seu criado, foi nomeado
recebedor da alfândega de Almeida1365.
Em 20/03/1503, João Gonçalves Penteado, seu escudeiro, foi
nomeado alcaide das sacas de Vila Velha de Ródão1366.
Em 10/01/1504, João Pereira, seu escudeiro, foi nomeado tabelião de
Tavira1367.
Em 15/02/1504, Álvaro Fernandes, seu escudeiro, foi nomeado
escrivão dos sobrejuizes da Casa do Cível1368.
Em 17/04/1504, Duarte Limpo, seu escudeiro, foi nomeado avaliador
e repartidor dos órfãos de Moura1369.

1359
CUP, vol. VI, p. 307.
1360
TESTOS, 2011, p. 172.
1361
ALMEIDA, 1967, vol. II, p. 625.
1362
CUP, vol. VI, p. 307.
1363
CUP, vol. IX, p. 62.
1364
CDM, L. 2, fl. 28.
1365
CDM, L. 35, fl. 8v.
1366
CDM, L. 35, fl. 17v.
1367
CDM, L. 35, fl. 67.
1368
CDM, L. 23, fl. 2.
1369
CDM, L. 23, fl. 10v.

253
Em 13/08/1506, João Sanches, seu escudeiro, foi nomeado vedor das
obras de Marvão1370.
Em 15/05/1511, Luís de Figueiredo, seu escudeiro, foi nomeado juiz
dos órfãos de Castelo Bom1371.
Em 26/03/1512, Francisco Dias, seu criado, foi citado num alvará de
D. Manuel dirigido ao feitor de Cochim1372.
Em 7/12/1513, João Rodrigues, seu escudeiro, foi nomeado contador
dos feitos e custas de Penafiel e Aguiar de Sousa1373.
Em 10/03/1514, Álvaro Fernandes, seu escudeiro, foi nomeado
tabelião de Elvas1374.
Em 8/08/1514, Manuel de Matos, seu criado e escudeiro, foi
nomeado juiz dos órfãos de Castelo de Vide1375.
Em 29/09/1514, a João Fernandes França, seu escudeiro, foi feita
mercê de 3 000 reais anuais de mantimento anual enquanto juiz dos
órfãos do Machico1376.
Em 1/11/1514, João Nunes, seu escudeiro, foi nomeado escrivão da
alfândega de Elvas1377.
Em 10/05/1515, Belchior Álvares de Campos, seu escudeiro, foi feito
cavaleiro1378.
Em 10/12/1515, João Leite, seu escudeiro, foi nomeado escrivão dos
órfãos de Cabeceira de Basto1379.
Em 1/04/1516, João Homem, seu escudeiro, foi nomeado juiz dos
órfãos de Belmonte1380.
Em 3/04/1516, o mesmo João Homem foi nomeado juiz das sisas de
Belmonte e Valhelhas1381.

1370
CDM, L. 44, fl. 17.
1371
CDM, L. 8, fl. 52.
1372
CC, pt. I, mç. 11, n.º 46.
1373
CDM, L. 42, fl. 128.
1374
CDM, L. 15, fl. 178.
1375
CDM, L. 15, fl. 110.
1376
CDM, L. 15, fl. 169.
1377
CDM, L. 15, fl. 152.
1378
CDM, L. 11, fl. 95.
1379
CDM, L. 25, fl. 15.
1380
CDM, L. 25, fl. 49.
1381
CDM, L. 25, fl. 49.

254
Em 6/02/1496, Luís Álvares, seu escudeiro, foi nomeado escrivão
das sisas de Trancoso1382.
3.3.
3.3.1. Gonçalo Vaz Pinto era, em 1464, Cavaleiro da Casa do Rei1383.

4.
4.1. Era proprietário de uma estrebaria na vila de Almeirim1384.
4.5. Em 8/06/1464 foi-lhe atribuído um mantimento de 4 826 reais anuais para
estudar1385.
4.8. Quatro recibos de 1501 atestam que recebeu 15 000 reais em cada quartel
desse ano1386.

5.
5.3. Doutor, pelo menos, desde 14901387.

9.
9.2. Foi Desembargador do Paço e das Petições, pelo menos, entre 27/11/1495 e
21/03/15181388.
Em 1495 exerceu interinamente o ofício de Chanceler-mor1389.
9.3. Subscreveu, em 1496, 1504 e 1512, em conjunto com Diogo Pinheiro,
Fernão Rodrigues e Gonçalo de Azevedo, enquanto Desembargador do Paço
e das Petições, 275 diplomas: uma carta de quitação, três cartas de defesa e
privilégios de natureza militar, quatro cartas de confirmação de
perfilhamento, seis cartas de privilégio comportando escusa de
determinações gerais, sete cartas de licença para ter manceba, sete cartas de
concessão de título ou privilégio de natureza nobiliárquica, dez cartas de
provimento de ofício, 11 cartas de administração de capelas, 14 cartas de
privilégio em geral, 19 cartas de carreteiro, 40 cartas de estalajadeiro e 82
cartas de perdão.
1382
CDM, L. 26, fl. 36.
1383
CUP, vol. VI, p. 307.
1384
CDM, L. 10, fl. 123v.
1385
CUP, vol. VI, p. 307.
1386
CC, pt. II, mç. 5, n.º 17.
1387
TESTOS, 2011, p. 172.
1388
TESTOS, 2011, p. 172.
1389
CDM, L. 40, fl. 52v.

255
10. Foi capelão-mor de D. Manuel1390.

11. Integrou o Conselho, pelo menos, a partir de 14961391.

12. Em 1490 foi nomeado vigário de Tomar1392.


Em 22/06/1496 foi nomeado coadjutor do bispo da Guarda pelo papa Alexandre
VI1393.
No final de 1496 foi nomeado bispo da Guarda, sendo confirmado pelo papa em
14971394. Ocupou esse cargo até 1516.
Em 12/09/1497 foi substituído por Diogo Pinheiro enquanto vigário de
Tomar1395.

Assinatura1396

1390
ALMEIDA, 1967, vol. II, p. 625.
1391
TESTOS, 2011, p. 172.
1392
TESTOS, 2011, p. 172.
1393
CUP, vol. XI, p. 231.
1394
ALMEIDA, 1967, vol. II, p. 625.
1395
TESTOS, 2011, p. 172.
1396
CC, pt. I, mç. 14, n.º 37.

256
36. RODRIGO DE LUCENA1397

1. 1449 – Participou na batalha de Alfarrobeira1398;


10/05/1496 – Ainda era Físico-mor1399.

2.
2.1. Era natural de Castela, de onde se terá mudado para Portugal durante o
reinado de D. Duarte1400.

3.
3.1.
3.1.2. Irmão do Doutor Vasco Fernandes de Lucena e de Mestre Afonso.
Teve, pelo menos, mais uma irmã1401.
3.1.4. Pai de Diogo de Lucena1402 e, provavelmente, de António de Lucena.
3.2.
3.2.3. Foi um dos físicos que procuravam curar D. João II nos momentos
que antecederam a sua morte1403.
3.3.
3.3.2. Cavaleiro da Casa do Rei1404.
3.3.3. Diogo de Lucena doutorou-se e foi Desembargador da Casa da
Suplicação1405.
António de Lucena foi o seu sucessor enquanto Físico-mor1406.

4.
4.3. Em 12/07/1491, por mecanismos que desconhecemos, era credor de uma
dívida de um João Aires1407.

1397
A identificação de Rodrigo de Lucena nem sempre é fácil, devido à profusão de homónimos. Sobre
isto, cf. MORENO, 1973, pp. 1044-1045.
1398
MORENO, 1973, p. 1045.
1399
CDM, L. 40, fl. 104v.
1400
MORENO, 1973, p. 1044.
1401
MORENO, 1973, p. 1044.
1402
CUP, vol. VIII, p. 13.
1403
CrGR, p. 285.
1404
CDM, L. 33, fl. 97v.
1405
CUP, vol. VIII, p. 13.
1406
Cf. a respetiva entrada neste catálogo prosopográfico.
1407
CUP, vol. IX, pp. 32-33.

257
4.5. Em 1451, enquanto vedor das obras do mosteiro da Batalha, recebia 15 000
reais anuais de tença1408.
Em 7/01/1496 foi-lhe confirmada uma tença de 38 632 reais anuais, que já
recebia no tempo de D. João II1409.

5.
5.3. Doutor.

7. Combateu na batalha de Alfarrobeira1410.

9.
9.2. Em 13/09/1475 foi nomeado Físico-mor, substituindo o Doutor Afonso
Madeira1411. Exerceu essa função, pelo menos, até 10/05/14961412.
9.3. Subscreveu, em 1496, enquanto Físico-mor, quatro cartas de físico.

10. Supõe-se que tenha sido físico dos infantes D. Fernando e D. Pedro e vedor das
obras do mosteiro da Batalha. Foi físico do príncipe D. João1413.

1408
MORENO, 1973, p. 1045.
1409
CUP, vol. IX, p. 186.
1410
MORENO, 1973, p. 1045.
1411
MORENO, 1973, p. 1045.
1412
CDM, L. 40, fl. 104v.
1413
MORENO, 1973, p. 1045.

258
37. RUI BOTO

1. 1465 – Era estudante1414;


5/07/1520 – Já tinha falecido1415.

2.
2.1. A sua família, no século XV, estaria muito implantada em Évora, onde o seu
pai tinha casas e onde vivia uma sua irmã1416.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Martim Esteves Boto1417.
3.1.3. Casado com Catarina Machado1418.
3.1.4. Pai de Jorge Machado1419, D. Guiomar1420, Rui Boto1421, Pero
Boto1422, Fernão Boto e Francisco Machado1423.
3.2.
3.2.2. Em 5/02/1496, Gonçalo Fernandes, seu criado, foi nomeado tabelião
de Gouveia1424.
Em 26/04/1496, o mesmo Gonçalo Fernandes foi nomeado tabelião
das terras do infantado de Seia, Santa Marinha e Gouveia1425.
Em novembro de 1496, Lopo Nunes, seu escudeiro, foi nomeado
inquiridor do número de Évora1426.
Em 8/06/1497, André Afonso, seu criado, foi nomeado escrivão das
sisas de Pampilhosa1427.

1414
CUP, vol. VI, p. 333.
1415
TESTOS, 2011, p. 174.
1416
MOTA, 1989, vol. II, p. 152.
1417
MOTA, 1989, vol. II, p. 152.
1418
TESTOS, 2011, p. 173.
1419
CUP, vol. XI, p. 225.
1420
LL, p. 86.
1421
LL, p. 288.
1422
CDM, L. 35, fl. 73.
1423
Provas, vol. II, p. 445.
1424
CDM, L. 43, fl. 70.
1425
CDM, L. 33, fl. 91v.
1426
CDM, L. 43, fl. 33.
1427
CDM, L. 30, fl. 95v.

259
Em 15/06/1497, o mesmo André Afonso foi nomeado tabelião de
Pampilhosa1428.
Em 4/11/1499, Lopo Dinis, seu escudeiro, foi nomeado escrivão das
sisas da vila de Álvaro1429.
Em 13/08/1502, Álvaro Dias, seu escudeiro, foi nomeado contador
dos feitos e custas de Évora1430.
Em 10/10/1502, Lopo Dias, seu criado, foi nomeado procurador do
número de Álvaro e Pampilhosa1431.
Em 14/02/1503, António Mendes, seu criado, foi nomeado tabelião
da Covilhã1432.
Em 28/02/1503, Cristóvão Fernandes, seu criado, foi nomeado
escrivão dos feitos e sisas de Alcácer do Sal1433.
Em 13/07/1503, Francisco Veiga, seu criado, foi nomeado tabelião
da vila de Alfaiate1434.
Em 3/09/1503, Gaspar Fonseca, seu criado, foi nomeado tabelião de
Trancoso1435.
Em 30/08/1504, João Serrão, seu escudeiro, foi nomeado, por se
assim é, tabelião de Lamego1436.
Em 6/02/1513, António Gomes, seu escudeiro, foi nomeado
tabelião1437.
Em 10/03/1513, António Fonseca, seu escudeiro, foi nomeado
tabelião de S. João da Pesqueira1438.
Em 10/05/1513, Marcos de Faria, seu criado, foi nomeado tabelião de
Freixo de Espada à Cinta1439.
Em 13/07/1513, Francisco Anojo, seu criado, foi nomeado
tabelião1440.

1428
CDM, L. 30, fl. 95.
1429
CDM, L. 14, fl. 89v.
1430
CDM, L. 2, fl. 58v.
1431
CDM, L. 2, fl. 57v.
1432
CDM, L. 35, fl. 36v.
1433
CDM, L. 35, fl. 13.
1434
CDM, L. 35, fl. 36.
1435
CDM, L. 35, fl. 60.
1436
CDM, L. 23, fl. 30.
1437
CDM, L. 42, fl. 20.
1438
CDM, L. 42, fl. 32.
1439
CDM, L. 42, fl. 60.

260
Em 2/02/1514, Filipe Dias, seu escudeiro, foi nomeado tabelião de
Aveiro1441.
Em 24/03/1514, Marcos Varela, seu escudeiro, foi nomeado tabelião
de Leiria1442.
Em 20/11/1514, Diogo Fernandes, seu escudeiro, foi nomeado
tabelião de Aveiro1443.
Em 27/11/1514, Cristóvão Nunes, seu escudeiro, foi nomeado
escrivão da câmara e almotaçaria de Sabugal1444.
Em 7/02/1515, Pero Cabral, seu criado, foi nomeado tabelião de
Seia1445.
Em 23/04/1520, Rui Dias, seu criado, foi feito cavaleiro1446.
3.3.
3.3.1. Martim Esteves Boto recebeu carta de brasão de armas em 1462 e foi
feito cavaleiro por D. Afonso V1447.
3.3.2. Era, em 1465, Escudeiro da Casa Real1448.
3.3.3. Jorge Machado doutorou-se, foi Desembargador da Casa da
Suplicação e fidalgo da casa da rainha D. Leonor1449.
Pero Boto foi Fidalgo da Casa Real1450.
Garcia de Resende era seu sobrinho pelo lado materno1451.
3.3.4. Genro de Pedro Machado, que foi ouvidor da Casa da Suplicação1452.

4.
4.3. Em 20/04/1501 foi-lhe validada a compra a Mestre Fernando de umas casas
na Vila Nova, por 40 000 reais1453.

1440
CDM, L. 42, fl. 76.
1441
CDM, L. 15, fl. 178v.
1442
CDM, L. 15, fl. 34.
1443
CDM, L. 15, fl. 163v.
1444
CDM, L. 15, fl. 166.
1445
CDM, L. 24, fl. 5v.
1446
CDM, L. 36, fl. 128.
1447
MOTA, 1989, vol. II, p. 152.
1448
MOTA, 1989, vol. II, p. 152.
1449
CUP, vol. XI, p. 225.
1450
CDM, L. 35, fl. 73.
1451
MOTA, 1989, vol. II, p. 153.
1452
CUP, vol. VI, p. 520.
1453
CDM, L. 17, fl. 30v.

261
4.5. Em 28/05/1465 foi-lhe atribuída uma tença anual de 4 000 reais, a ser paga
a partir do início do ano seguinte, para que se mantivesse a estudar1454.
Ainda recebia essa tença em 14731455.
Em 15/04/1520 foi despachada provisão para que se lhe pagasse 5 000 reais
de vestiaria1456.
4.8. Enquanto Terceiro dos Agravos, devia receber 4 400 reais anuais, que era o
mesmo que passou a receber o Licenciado Rui da Grã quando o substituiu
em 14861457.
Recebeu, no primeiro quartel de 1501, enquanto Chanceler-mor, 15 358
reais1458.

5.
5.1. Estudo Geral de Lisboa1459.
5.2. Leis.
5.3. Doutor, pelo menos, a partir de 15/11/14761460.

6. Em 6/04/1473 foi confirmada a sua eleição para lente da cadeira da terça de Leis
do Estudo Geral1461.
Em 17/07/1473 foi confirmada a sua eleição para lente de Leis da hora da
véspera do Estudo Geral1462.

9.
9.2. Em 15/11/1476 foi nomeado Desembargador da Casa da Suplicação1463.
Em 26/06/1480 herdou do sogro o ofício de Ouvidor da Casa da
Suplicação1464.
Em 2/12/1480 já era Terceiro dos Agravos, tendo sido substituído pelo
Licenciado Rui da Grã em 10/04/14861465.

1454
CUP, vol. VI, p. 333.
1455
BRAGA, 1991, p. 100.
1456
BRAGA, 1991, p. 104.
1457
MOTA, 1989, vol. II, p. 153.
1458
DUARTE, 1999, p. 668.
1459
BRAGA, 1991, p. 100.
1460
MOTA, 1989, vol. II, p. 153.
1461
CUP, vol. VII, pp. 147-148.
1462
CUP, vol. VII, pp. 165-166.
1463
CUP, vol. VII, pp. 386-387.
1464
CUP, vol. VI, pp. 517-518.

262
Em 1482 exerceu interinamente o ofício de Chanceler-mor1466.
Em 6/07/1484 foi nomeado Desembargador do Paço1467.
Em 5/04/1494 já era Chanceler-mor, ofício que ainda detinha em
19/04/1520. Foi substituído pelo Licenciado Rui da Grã em 5/07/15201468.
9.3. Subscreveu, em 1496, 1504 e 1512, enquanto Chanceler-mor, 400 diplomas:
uma carta de privilégio em geral, dez cartas de apresentação de clérigos a
igrejas do padroado régio, 174 cartas de provimento de ofício, 214 cartas de
tabelião e uma carta enquadrável na rubrica “diversos”.

11. Integrou o Conselho, pelo menos, a partir de 14911469.

12. Em 11/07/1498 é referido como clérigo conjugado da diocese de Évora1470.

14. Foi um dos responsáveis pela reforma dos forais e pela elaboração das
Ordenações Manuelinas1471.

Assinatura1472

1465
TESTOS, 2011, p. 174.
1466
BRAGA, 1991, p. 102.
1467
CUP, vol. VIII, p. 109.
1468
TESTOS, 2011, p. 174.
1469
TESTOS, 2011, p. 174.
1470
CUP, vol. IX, p. 330.
1471
BRAGA, 1991, pp. 103-104.
1472
CC, pt. II, mç. 47, n.º 31.

263
38. RUI GIL MAGRO

1. 20/04/1491 – Foi nomeado Anadel-mor dos besteiros1473;


13/10/1514 – Era recebedor do tesouro do rei e pagador das moradias1474.

3.
3.1.
3.1.1. Filho de Gil Gonçalves Magro1475.
3.1.2. Irmão de Diogo Gil Magro e Maria Gil Magra1476.
3.3.
3.3.2. Cavaleiro da Casa Real1477.

4.
4.5. Em 13/10/1514 foi-lhe passada uma carta de quitação de 60 183 750 reais
relativos a tudo o que recebeu e despendeu nos quatro anos anteriores
enquanto pagador das moradias e recebedor do tesouro1478.
4.6. Recebeu de Antão de Figueiredo um colar que havia pertencido a D. João II,
mencionado numa carta de quitação de 14981479.
4.7. Em 22/01/1497 foram-lhe confirmados os privilégios de que gozavam os
moradores de Lisboa1480.

9.
9.2. Já era capitão e Anadel-mor dos besteiros em 20/04/1491, tendo sido
confirmado nesse ofício em 18/01/14971481. Exerceu-o, pelo menos, até
21/06/14981482.

1473
Brasões, vol. II, p. 315.
1474
CDM, L. 11, fl. 115.
1475
Brasões, vol. II, p. 315.
1476
CrGR, p. 94; Brasões, vol. II, p. 315.
1477
CDM, L. 27, fl. 14v.
1478
CDM, L. 11, fl. 115.
1479
Descobrimentos Portugueses. Documentos para a sua História. Ed. preparada por João Martins da
Silva Marques. Vol. III. 2ª edição. Lisboa: INIC, 1989. pp. 486-487.
1480
CDM, L. 27, fl. 13.
1481
Brasões, vol. II, p. 315; CDM, L. 27, fl. 14v.
1482
CDM, L. 32, fl. 19v.

264
9.3. Subscreveu, em 1496, enquanto Anadel-mor dos besteiros, dez diplomas:
quatro cartas de defesa e privilégios de natureza militar e seis cartas de
aposentação.

10. Foi recebedor do tesouro real e pagador das moradias1483.

14. Matou, juntamente com o irmão e outros cavaleiros, Lopo Vaz de Castelo
Branco, por ordem de D. João II1484.

1483
Descobrimentos Portugueses, vol. III, p. 396; CDM, L. 11, fl. 115.
1484
CrGR, p. 24.

265
266
FONTES MANUSCRITAS

Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Chancelarias régias

Chancelaria de D. Manuel I:Livros 1 a 46.

Corpo Cronológico

Parte I: mç. 3, n.º 10; mç. 4, n.º 33; mç. 6, n.º 31; mç. 7, n.º 61; mç. 8, n.º 17;
mç. 9, n.º 21; mç. 10, n.º 57, 82, 88; mç. 11, n.º 46; mç. 12, n.º 59; mç. 13, n.º 77; mç.
14, n.º 37; mç. 15, n.º 47; mç. 17, n.º 87; mç. 18, n.º 105; mç. 19, n.º 11; mç. 22, n.º 22;
mç. 23, n.º 105; mç. 32, n.º 78; mç. 36, n.º 140; mç. 37, n.º 160; mç. 41, n.º 116; mç. 44,
n.º 103
mç. 47, n.º 31; mç. 74, n.º 1.
Parte II: mç. 2, n.º 122; mç. 3, n.º 15; mç. 4, n.º 6, 12, 16, 29, 33, 50, 96, 109,
119, 124, 126, 165; mç. 5, n.º 17, 22, 27, 38, 60, 82, 88; mç. 6, n.º 12, 37, 155; mç. 8, n.º
64; mç. 10, n.º 119, 122, 125; mç. 16, n.º 41; mç. 17, n.º 16; mç. 18, n.º 2; mç. 19, n.º
141; mç. 22, n.º 52, 124; mç. 24, n.º 144; mç. 27, n.º 53; mç. 30, n.º 55; mç. 33, n.º 29,
44, 202; mç. 35, n.º 6; mç. 38, n.º 7, n.º 28; mç. 42, n.º 159, 185; mç. 45, n.º 49, 124;
mç. 46, n.º 114, 125, 137; mç. 47, n.º 75, 76, 77, 85, 141; mç. 49, n.º 44; mç. 52, n.º
112; mç. 56, n.º 82, 124, 199; mç. 58, n.º 17, 188, 189, 194; mç. 60, n.º 190; mç. 62, n.º
168; mç. 63, n.º 185; mç. 64, n.º 72, 73, 113; mç. 65, n.º 101; mç. 66, n.º55; mç. 70, n.º
157; mç. 71, n.º 7; mç. 73, n.º 166, 180; mç. 82, n.º 73; mç. 81, n.º 56; mç. 85, n.º 94;
mç. 94, n.º 66; mç. 99, n.º 11; mç. 100, n.º 32; mç. 102, n.º 133; mç. 108, n.º 112, 116;
mç. 113, n.º 40; mç. 114, n.º 30; mç. 116, n.º 128; mç. 117, n.º 31, 38; mç. 118, n.º 132;
mç. 119, n.º 121; mç. 117, n.º 76; mç. 125, n.º 187; mç. 126, n.º 117, 146; mç. 125, n.º
14; mç. 161, n.º 27; mç. 163, n.º 41.

267
FONTES IMPRESSAS

ALBUQUERQUE, Luís (dir.) – Tratado de Tordesilhas e outros documentos. Dir. de


Luís de Albuquerque. Lisboa: Publicações Alfa, 1989.

CRUZ, Maria Leonor García da – “Apêndice documental”. In CRUZ, Maria Leonor


García da – A Governação de D. João III: a Fazenda Real e os seus Vedores. Lisboa:
Centro de História da Universidade de Lisboa, 2001. pp. 195-325.

DUARTE, Luís Miguel – “Apêndice documental”. In DUARTE, Luís Miguel – Justiça


e Criminalidade no Portugal Medievo (1459-1481). Lisboa: FCG/FCT, 1999. pp. 567-
743.

FREIRE, Anselmo Braancamp – “Cartas de quitação del Rei D. Manuel”. Archivo


Historico Portuguez. Vol. III (1905). pp. 75-80, 155-160, 237-240, 313-320, 385-400,
471-480.

GÓIS, Damião de – Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel. 4 volumes. Coimbra:


Imprensa da Universidade de Coimbra, 1926.

Livro de Linhagens do século XVI. Introdução de António Machado de Faria. Lisboa:


Academia Portuguesa de História, 1956.

MARQUES, João Martins da Silva Marques (editor) – Descobrimentos Portugueses.


Documentos para a sua História. 2ª edição. Vol. III. Lisboa: INIC, 1989.

Ordenações Afonsinas. 5 volumes. Nota de apresentação de Mário Júlio de Almeida


Costa, nota textológica de Eduardo Borges Nunes. Lisboa: FCG, 1985.

Ordenações Manuelinas. 5 volumes. Nota de apresentação de Mário Júlio de Almeida


Costa. Lisboa: FCG, 1984.

268
Ordenações Manuelinas. 5 volumes. Introdução de João José Alves Dias. Lisboa:
Centro de Estudos Históricos da UNL, 2002.

PESSANHA, José – “Uma rehabilitação historica. Inventários da Torre do Tombo no


século XVI”. Archivo Histórico Portuguez. Vol. III (1905). pp. 287-303.

RESENDE, Garcia de – O Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. 6 volumes.


Fixação do texto e estudo por Aida Fernanda Dias. Lisboa: INCM, 1990-2003.

RESENDE, Garcia de – Crónica de D. João II e Miscelânea. Lisboa: INCM, 1991.

SÁ, Artur Moreira de; CAEIRO, Francisco da Gama; COSTA, António Domingues de
Sousa (eds.) – Chartularium Universitatis Portugalensis. Vols. VI-XV. Lisboa: IAC,
INIC, FCT, 1966-2004.

SÁ, Artur Moreira de (ed.) – Auctarium Chartularii Universitatis Portugalensis. 3


volumes. Lisboa: INIC, 1973-1979.

SOUSA, António Caetano de – Provas de História Genealógica da Casa Real


Portuguesa. 2ª edição. 12 volumes. Coimbra: Atlântida, 1946-1954.

SOUSA, José Roberto Monteiro de Campos Coelho e – Systema, ou Colleção dos


Regimentos Reaes. Lisboa: Oficina de Francisco Borges de Sousa, 1783.

269
INSTRUMENTOS AUXILIARES DE TRABALHO

MARQUES, A. H. de Oliveira – Guia do Estudante de História Medieval Portuguesa.


3ª edição. Lisboa: Editorial Estampa, 1988.

PORTUGAL. Arquivo Nacional/Torre do Tombo – Chancelaria de D. Manuel I [em


linha]. Lisboa: AN/TT, 2008-…. [última consulta em 1 de agosto de 2013]. Disponível
a partir de http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=3859357.

VITERBO, Joaquim de Santa Rosa – Elucidario das palavras, termos e frases quem em
Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram. 2 volumes. 2ª
edição. Lisboa: A. J. Fernandes Lopes, 1865.

270
BIBLIOGRAFIA CITADA

ALBURQUERQUE, Martim de – O Poder Político no Renascimento Português. 2ª


edição. Lisboa: Editorial Verbo, 2012.

ALMEIDA, Ana Paula Pereira Godinho de – A Chancelaria Régia e os seus Oficiais em


1462. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 1996.

ALMEIDA, Fortunato de – História da Igreja em Portugal. Vol. II. Porto: Portucalense


Editora, 1967.

ALVES, Ana Maria – Iconologia do Poder Real no Período Manuelino. Lisboa:


Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1985.

AUBIN, Jean – Le Latin et l’Astrolabe. Études inédites sur le règne de D. Manuel I.


Lisboa: Centro Cultural Calouste Gulbenkian, 2006.

BARROS, Henrique da Gama – Historia da Administração Publica em Portugal nos


seculos XII a XV. 2ª edição, dirigida por Torquato de Sousa Soares. 11 volumes. Lisboa:
Sá da Costa Editora, 1945-1954.

BORLIDO, Armando Paulo – A Chancelaria Régia e os seus Oficiais em 1463.


Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 1996.

BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond – “A circulação e a distribuição dos produtos”.


In DIAS, João José Alves (coord.) – Portugal do Renascimento à Crise Dinástica. Vol.
3 deNova História de Portugal, direção de A. H. de Oliveira Marques e Joel Serrão.
Lisboa: Editorial Presença, 1998. pp. 195-247.

BRAGA, Paulo Drumond – “O Doutor Rui Boto, homem da burocracia régia e mestre
do Estudo Geral de Lisboa”. In Universidade(s): História, Memória, Perspetivas. Atas

271
do I Congresso «História da Universidade» (No 7º Centenário da sua Fundação). Vol.
III. Coimbra: [s.n.],1991. pp. 99-106.

BRAGA, Paulo Drumond – Portugueses no Estrangeiro, Estrangeiros em Portugal.


Lisboa: Hugin, 2005. pp. 242-243.

BRITO, Isabel Carla Moreira de – A Burocracia régia tardo-afonsina: a administração


central e os seus oficiais em 1476. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto:
2001.

BUESCU, Ana Isabel – “GÓIS, Damião de (1502-1574). In Enciclopédia Virtual da


Expansão Portuguesa. Sl.: CHAM, 2005.[consultado em 20/07/2013].Disponível online
em: http://www.fcsh.unl.pt/cham/eve/content.php?printconceito=792.

BUESCU, Ana Isabel – D. João III. 1502-1557. Lisboa: Temas e Debates, 2008.

CAETANO, Marcello – História do Direito Português (1140-1495). Lisboa: Editorial


Verbo, 1981.

CAETANO, Pedro Nuno Pereira – A Burocracia Régia como Veículo para a Titulação
Nobiliárquica. O caso do Dr. João Fernandes da Silveira. Dissertação de mestrado
apresentada à FLUP. Porto: 2011.

CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula – La Burocracia Regia durante el Reinado de


Juan II de Castilla: estudio prosopográfico e itinerario. Tese de doutoramento
apresentada à Universidade Complutense de Madrid. Madrid: 2005.

CAPAS, Hugo Alexandre Ribeiro – A Chancelaria Régia e os seus oficiais no ano de


1469. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 2001.

CARCEL ORTÍ, Maria Milagros (org.) – Vocabulaire International de la


Diplomatique. Valência: Universitat de València, 1994.

272
CARDOSO, Jerónimo – Obra Literária. Prosa Latina. Vol. I. Estabelecimento do texto
latino, introdução, tradução e comentários de Telmo Corujo dos Reis. Coimbra:
Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009.

CARVALHO, António Eduardo Teixeira de – A Chancelaria Régia e os seus Oficiais


em 1468. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 2001;

COELHO, Maria Helena da Cruz; MAGALHÃES, Joaquim Romero – O Poder


Concelhio: das origens às Cortes Constituintes. Coimbra: C.E.F.A., 1986.

COELHO, Maria Helena da Cruz; HOMEM, Armando Luís de Carvalho (coord.) – A


Génese do Estado Moderno no Portugal Tardo-Medievo. Lisboa: Universidade
Autónoma Editora, 1999.

COELHO, Maria Teresa Pereira – Existiu uma escrita manuelina? Estudo paleográfico
da produção gráfica de escrivães da Corte régia portuguesa (1490-1530). Dissertação
de mestrado apresentada à FLUL. Lisboa: 2006.

COSTA, João Paulo Oliveira e – D. Manuel I. Um príncipe do Renascimento. Lisboa:


Temas e Debates, 2007.

COSTA, José Pereira da – “Prefácio”. In Vereações da Câmara Municipal do Funchal.


Século XV. Leitura paleográfica, introdução e notas de José Pereira da Costa. Funchal:
Centro de Estudos de História do Atlântico, 1994.

COSTA, Mário Alberto Nunes – “O Arquivo da Montaria-Mor do Reino (1583-1833).


Inventário preliminar”. Revista Portuguesa de História. Tomo XI (1964). pp. 151-176.

COSTA, Mário Júlio Brito de Almeida – Origem da Enfiteuse no Direito Português.


Coimbra: Coimbra Editora, 1957.

COSTA, Mário Júlio de Almeida – “Ordenações”. In SERRÃO, Joel (dir.) In SERRÃO,


Joel (dir.) – Dicionário de História de Portugal. Vol. III. Porto: Figueirinhas, 2006. pp.
441-446.

273
COSTA, Mário Júlio de Almeida – História do Direito Português. 3ª edição (8ª
reimpressão). Coimbra: Almedina, 2007 b).

CRUZ, Maria Leonor García da – A Governação de D. João III: a Fazenda Real e os


seus Vedores. Lisboa: Centro de História da Universidade de Lisboa, 2001.

COUTINHO, Valdemar – “O condado de Vila Nova de Portimão”. In COSTA, João


Paulo Oliveira e; RODRIGUES, Vítor Luís Gaspar – A Alta Nobreza e a Fundação do
Estado da Índia. Atas do Colóquio Internacional. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa
/ Centro de História de Além-Mar, 2004. pp. 227-238.

CRISTÓVÃO, Francisco da Silva – “O Cathecismo Pequeno de D. Diogo Ortiz de


Vilhegas”. Humanitas. N.º 50 (1998), pp. 687-700.

DIAS, João José Alves – “Introdução”. In Ordenações Manuelinas: Livros I a V:


Reprodução em fac-símile da edição de Valentim Fernandes (Lisboa – 1512-1513).
Livro Primeiro. Introdução e descrição codicológica por João José Alves Dias. Lisboa:
Centro de Estudos Históricos, Universidade Nova de Lisboa, 2002. pp. VII-XL.

DIAS, João José Alves – As Ordenações Manuelinas 500 anos depois: os dois
primeiros sistemas (1512-1519). Lisboa: CEH/UNL, BNP, 2012.

DOMINGUES, José – As Ordenações Afonsinas. Três Séculos de Direito Medieval


[1211-1512]. Sintra: Zéfiro, 2008.

DUARTE, Luís Miguel – “Garcia de Melo em Castro Marim (a atuação de um alcaide-


mor no início do século XVI)”. Revista da Faculdade de Letras. História. Série II, n.º 5
(1988), pp. 131-149.

DUARTE, Luís Miguel – Justiça e Criminalidade no Portugal Medievo(1459-1581).


Vol. II1485. Tese de doutoramento apresentada à FLUP. Porto: 1993.

1485
Este volume não foi incluído na edição da mesma obra de 1999.

274
DUARTE, Luís Miguel – “A propriedade urbana”. In DIAS, João José Alves (coord.) –
Portugal do Renascimento à Crise Dinástica. Vol. 5 deNova História de Portugal,
direção de A. H. de Oliveira Marques e Joel Serrão. Lisboa: Editorial Presença, 1998.
pp. 114-160.

DUARTE, Luís Miguel – Justiça e Criminalidade no Portugal Medievo (1459-1481).


Lisboa: FCG/FCT, 1999.

DUARTE, Luís Miguel – “Órgãos e servidores do poder central: os «funcionários


públicos» de Quatrocentos”. In COELHO, Maria Helena da Cruz; HOMEM, Armando
Luís de Carvalho – A Génese do Estado Moderno no Portugal Tardo-Medievo (séculos
XIII-XV). Lisboa: Universidade Autónoma de Lisboa, 1999b). pp. 133-150.

DUARTE, Luís Miguel – “A marinha de guerra. A pólvora. O Norte de África”. In


MATTOSO, José (coord.) – Nova História Militar de Portugal. Volume 1, direção de
Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira. Lisboa: Círculo de Leitores, 2003.
pp. 289-441.

DUARTE, Luís Miguel – “Os «forais novos»: uma reforma falhada?”. Revista
Portuguesa de História. N.º 36 (2004). pp. 391-404.

DUARTE, Luís Miguel – D. Duarte. Requiem por um rei triste.Lisboa: Temas e


Debates, 2007.

DURÃO, Maria Manuela da Silva – 1471 – um ano “africano” no desembargo de D.


Afonso V. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 2001.

FARELO, Mário – “The Portuguese peregrinatio medica in the Late Medieval Period: a
possible overview”. [versão não publicada, 2011].

FARELO, Mário – “Lisboa numa rede latina? Os escolares em movimento”. In


FERNANDES, Hermenegildo (coord.) – A Universidade Medieval em Lisboa. Lisboa:
Tinta da China, 2013. pp. 235-265.

275
FERNANDES, Maria de Lurdes Correia – Espelhos, Cartas e Guias. Casamento e
espiritualidade na Península Ibérica. 1450-1700. Porto: Instituto de Cultura
Portuguesa, 1995.

FERREIRA, Eliana Gonçalves Diogo – 1473: um ano no desembargo do Africano.


Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 2001.

FERREIRA, Sérgio Carlos – Preços e Salários em Portugal na Baixa Idade Média.


Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 2007.

FERREIRA, Susannah Humble – “Os castelos e o Conselho Real: patrocínio político


em Portugal (1495-1521)”. Revista de História da Sociedade e da Cultura. N.º 10
(2010).pp. 121-139.

FONSECA, Luís Adão da – D. João II. Lisboa: Temas e Debates, 2007.

FREIRE, Anselmo Braancamp – Brasões da Sala de Sintra. 3 volumes. Lisboa: INCM,


1973.

FREITAS, Judite A. Gonçalves de – A Burocracia do Eloquente (1433-1438). Os


textos, as normas, as gentes. Cascais: Patrimonia, 1996.

FREITAS, Judite A. Gonçalves de – “Teemos por bem e mandamos”. A burocracia


régia e os seus oficiais em meados de Quatrocentos (1439-1460). Tese de doutoramento
apresentada à FLUP. Porto: 1999.

FREITAS, Judite A. Gonçalves de – “Tradição legal, codificação e práticas


institucionais: um relance pelo poder régio no Portugal de Quatrocentos”. Revista da
Faculdade de Letras. História. III série, n.º 7 (2006). pp. 51-67.

FREITAS, Judite A. Gonçalves de – O Estado em Portugal (séculos XII-XVI).


Modernidades Medievais. Lisboa: Alêtheia Editores, 2011.

276
GAYO, Felgueiras – Nobiliário de Famílias de Portugal. 17 volumes. Braga:
Agostinho de Azevedo Meirelles, Domingos de Araújo Afonso, 1938-1941.

GOFF, Jacques Le – Os Intelectuais na Idade Média. Lisboa: Editorial Estúdios de Cor,


1973.

GOMES, Rita Costa – A Corte dos Reis de Portugal no Final da Idade Média. Lisboa:
Difel, 1995.

GOMES, Saul António – D. Afonso V. O Africano. Lisboa: Círculo de Leitores, 2006.

GONÇALVES, Iria – “Físicos e Cirurgiões Quatrocentistas. As Cartas de Exame”. Do


Tempo e da História. N.º 1 (1965), pp. 69-112.

GONÇALVES, Iria – “Quitação, carta de”. In SERRÃO, Joel (dir.) – Dicionário de


História de Portugal. Vol. III. Porto: Figueirinhas, 2006.

GUENÉE, Bernard – L’Occident aux XIVe et XVe siècles. Les États. 2ª edição. Paris:
Presses Universitaires de France, 1981.

HENRIQUES, Isabel Bárbara de Castro – Os Caminhos do Desembargo: 1472, um ano


na burocracia do “Africano”. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto:
2001.

HESPANHA, António Manuel – História das Instituições. Épocas Medieval e


Moderna. Coimbra: Almedina: 1982.

HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Da Diplomática régia à História do Estado dos
fins da Idade Média: um rumo de investigação”. Revista de História Económica e
Social. N.º 8 (jul.-dez. 1982). pp. 11-25.

HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Conselho Real ou conselheiros do rei? A


propósito dos «privados» de D. João I”. Revista da Faculdade de Letras. História. II
série, n.º 4 (1987).

277
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O Desembargo Régio (1320-1433). Porto:
INIC, 1990.

HOMEM, Armando Luís de Carvalho; DUARTE, Luís Miguel; MOTA, Eugénia


Pereira da – “Percursos na burocracia régia (séculos XIII-XV)”. In BETHENCOURT,
Francisco; CURTO, Diogo Ramada (eds.) – [Atas do colóquio] A Memória da Nação.
Lisboa: Sá da Costa, 1991. pp. 403-423.

HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Ofício régio e serviço ao rei em finais do


século XV: norma legal e prática institucional”. Revista da Faculdade de Letras.
História. II série, n.º 14 (1997). pp. 123-137.

HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Rei e «estado real» nos textos legislativos da
Idade Média portuguesa”. En la España Medieval. N.º 22 (1999). pp. 177-185.

HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Estado moderno e legislação régia: produção e


compilação legislativa em Portugal (séculos XIII-XV)”. In COELHO, Maria Helena da
Cruz; HOMEM, Armando Luís de Carvalho (coord.) – A Génese do Estado Moderno do
Portugal Tardo-Medievo. Lisboa: UAL Editora, 1999b). pp. 111-130.

HOMEM, Armando Luís de Carvalho; FREITAS, Judite A. Gonçalves de – “A


prosopografia dos burocratas régios (séculos XIII-XV): da elaboração à exposição dos
dados”. In BARATA, Filipe Themudo (ed.) – Elites e Redes Clientelares na Idade
Média. Lisboa: Colibri, 2001. pp. 171-210.

HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Este reino a que o Gama voltou… Em torno
da «modernidade» do Portugal manuelino”. In MAGALHÃES, Joaquim Romero;
FLORES, Jorge Manuel (coor.) – Vasco da Gama. Homens, viagens e culturas. Lisboa:
CNCDP, 2001. pp. 495-512.

HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Central Power: Institutional and Political


History in the Thirteenth-Fifteenth Centuries”. In MATTOSO, José (dir.) – The
Historiography of Medieval Portugal (c. 1950-2010). Lisboa: Instituto de Estudos
Medievais, 2011. pp. 179-207.

278
KEATHS-ROHAN, K. S. B. – “Biography, identity and names: understanding the
pursuit of the individual in prosopography”. [consultado em 2/08/2013]. Disponível
online em: http://prosopography.modhist.ox.ac.uk/images/06%20KKR.pdf.pdf.

LACERDA, Teresa – Os Capitães das Armadas da Índia no reinado de D. Manuel I –


uma análise social. Dissertação de mestrado apresenta à FCSH/UNL. Lisboa: 2006.

LEITÃO, André de Oliveira – “Prosopografia dos lentes, estudantes e oficiais do


Estudo de Lisboa”. In FERNANDES, Hermenegildo (coord.) – A Universidade
Medieval em Lisboa, séculos XIII-XVI. Lisboa: Tinta da China, 2013. pp. 409-563.

LOPES, Paulo – “Os livros de viagens medievais”. Medievalista. N.º 2 (2006).


[Consultado em 17/06/2013]. Disponível em: http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/
MEDIEVALISTA2/medievalista-viagens.htm#_ftn1.

LOUREIRO, Sara de Menezes – Afonso Mexia, escrivão da câmara e da fazenda de D.


Manuel I e de D. João III. Reconstituição e análise da sua atividade como redator e
escrivão de diplomas régios. Dissertação de mestrado apresentada à FLUL. Lisboa:
2006.

MACHADO, Diogo Barbosa – Bibliotheca Lusitana… Tomo IV. Lisboa: 1759.

MAGALHÃES, Joaquim Romero – “O rei”. In MAGALHÃES, Joaquim Romero


(coord.) – No Alvorecer da Modernidade. Vol. 3 de História de Portugal, direção de
José Mattoso. Lisboa: Editorial Estampa, 1997. pp. 61-71.

MAGALHÃES, Joaquim Romero – “D. Manuel I”. In MAGALHÃES, Joaquim


Romero (coord.) – No Alvorecer da Modernidade. Vol. 3 de História de Portugal,
direção de José Mattoso. Lisboa: Editorial Estampa, 1997b). pp. 443-449.

MAGALHÃES, Joaquim Romero – “A sociedade”. In MAGALHÃES, Joaquim


Romero (coord.) – No Alvorecer da Modernidade. Vol. 3 de História de Portugal,
direção de José Mattoso. Lisboa: Editorial Estampa, 1997 c). pp. 399-433.

279
MAGALHÃES, Joaquim Romero – “D. Manuel, rei de muitas fortunas”. In III
Congresso Histórico de Guimarães. D. Manuel e a sua Época. Vol. III. Guimarães:
Câmara Municipal de Guimarães, 2004. pp. 425-432.

MALTEZ, José Adelino – “O Estado e as Instituições”. In DIAS, João José Alves –


Portugal do Renascimento à Crise Dinástica. Vol. 5 de Nova História de Portugal,
direção de A. H. de Oliveira Marques e Joel Serrão. Lisboa: Editorial Presença, 1998.
pp. 337-412.

MARQUES, A. H. de Oliveira – Introdução à História da Agricultura em Portugal. 2ª


edição. Lisboa: Edições Cosmos, 1968.

MARQUES, A. H. de Oliveira – Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV. Vol. 4


deNova História de Portugal, direção de A. H. de Oliveira Marques e Joel Serrão.
Lisboa: Editorial Presença, 1987.

MARQUES, A. H. de Oliveira – Hansa e Portugal na Idade Média. 2ª edição. Lisboa:


Editorial Presença, 1992.

MARQUES, A. H. de Oliveira – A Sociedade Medieval Portuguesa. Aspectos da Vida


Quotidiana. 6ª edição. Lisboa: Esfera dos Livros, 2010.

MATOS, Luís de – Les Portugais à l’Université de Paris entre 1500 et 1550. Coimbra:
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1950.

MATTÉONI, Olivier – Servir le Prince. Les officiers des ducs de Bourbon à la fin du
Moyen Âge (1356-1523). Paris: Publications de la Sorbonne, 1998.

MATTOSO, José – “O corpo, a saúde e a doença”. In SOUSA, Bernardo Vasconcelos e


(coord.) – A Idade Média. Vol. I de História da Vida Privada em Portugal, direção de
José Mattoso. Lisboa: Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2010. pp. 348-374.

MELO, Arnaldo Sousa; RIBEIRO, Maria do Carmo – “Os construtores das cidades:
Braga e Porto (séculos XIV a XVI)”. In MELO, Arnaldo Sousa; RIBEIRO, Maria do
Carmo – História da Construção. Os Construtores. Braga: CITCEM, 2011. pp. 99-127.
280
MENDONÇA, Manuela – D. João II. Um percurso humano e político nas origens da
modernidade em Portugal. 2ª edição. Lisboa: Editorial Estampa, 1995.

MOISÃO, Cristina – “Os hospitais medievais de Lisboa – hospital e albergaria da


Madalena”. Histórias de Lisboa Antiga. (8/11/2012a). [Consultado em 19/01/2013].
Disponível em: http://lisboaantiga.blogspot.pt/2012/11/os-hospitais-medievais-de-
lisboa_8962.html.

MOISÃO, Cristina – “Hospitais medievais de Lisboa (2ª parte) ”. Revista da Ordem dos
Médicos. N.º 134 (outubro de 2012b). pp. 78-82.

MONTEIRO, Helena Maria Matos – A Chancelaria Régia e os seus Oficiais: 1464-


1465. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto: 1997.

MONTEIRO, João Gouveia – “De D. Afonso IV (1325) à Batalha de Alfarrobeira


(1449) – os desafios da maturidade”. In MATTOSO, José (coord.) – Nova História
Militar de Portugal. Volume 1, direção de Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano
Teixeira. Lisboa: Círculo de Leitores, 2003. pp. 163-287.

MONTEIRO, Nuno Gonçalo – “Idade Moderna (séculos XV-XVIII)”. In RAMOS, Rui


(coord.) – História de Portugal. Lisboa: Esfera dos Livros, 2009. pp. 197-435.

MORENO, Humberto Baquero – “Um aspeto da política cultural de D. Afonso V: a


concessão de bolsas de estudo”. Revista de Ciências Humanas. Vol. 3, n.º 1 (1970). pp.
177-205.

MORENO, Humberto Baquero – A Batalha de Alfarrobeira. Antecedentes e significado


histórico. Lourenço Marques: Edição do autor, 1973.

MOTA, Eugénia Pereira da – Do “Africano” ao “Príncipe Perfeito” (1480-1483).


Caminhos da burocracia régia. Dissertação de mestrado apresentada à FLUP. Porto:
1989.

281
NOGUEIRA, Bernardo de Sá – “Cartas-missivas, Alvarás e Mandados enviados pelos
reis D. João II e D. Manuel ao Concelho de Montemor-o-Novo (Estudo
diplomatístico)”. Almansor. 1ª série, n.º 8 (1990), pp. 43-130.

OLIVEIRA, Luís Filipe; RODRIGUES, Miguel Jasmins – “Um processo de


reestruturação do domínio social da Nobreza. A titulação na segunda dinastia”. Revista
de História Económica e Social. N.º 22 (1988). pp. 77-114.

PELÚCIA, Alexandra – “A Baronia do Alvito e a expansão manuelina no Oriente ou a


reação organizada à política imperialista”. In COSTA, João Paulo Oliveira e;
RODRIGUES, Vítor Luís Gaspar – A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia.
Atas do Colóquio Internacional. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa / Centro de
História de Além-Mar, 2004. pp. 279-302.

PELÚCIA, Alexandra – “PORTUGAL, D. Francisco de (c. 1483-1549)”. In


Enciclopédia Virtual da Expansão Portuguesa. S.l.: CHAM, 2005.[última consulta:
14/03/2013].Disponível online em: http://www.fcsh.unl.pt/cham/eve/content.php?print
conceit=1047.

PÉQUIGNOT, Stéphane – “Les diplomaties occidentales, XIIIe-XVe siècle”. In Les


Relations Diplomatiques au Moyen Âge. Formes et enjeux. Paris: Publications de la
Sorbonne, 2011. pp. 47-66.

PEREIRA, João Cordeiro – “A estrutura social e o seu devir”. In DIAS, João José Alves
(coord.) – Portugal do Renascimento à Crise Dinástica. Vol. 5 da Nova História de
Portugal, direção de A. H. de Oliveira Marques e Joel Serrão. Lisboa: Editorial
Presença, 1998. pp. 277-336.

PORTUGAL, Fernando – “A Chancelaria de D. Manuel”. Ethnos. Vol. VI (1969), pp.


261-270.

RAU, Virgínia – “Italianismo na cultura jurídica portuguesa do século XV”. Revista


Portuguesa de História. T. XII (1969). pp. 185-206.

282
RAU, Virgínia – “Alguns estudantes e eruditos portugueses em Itália no século XV”.
Do Tempo e da História. Vol. V (1972). pp. 29-99.

RODRIGUES, Ana Maria S. S. – “A propriedade rural”. In DIAS, João José Alves


(coord.) – Portugal do Renascimento à Crise Dinástica. Vol. 5 deNova História de
Portugal, direção de A. H. de Oliveira Marques e Joel Serrão. Lisboa: Editorial
Presença, 1998. pp. 83-114.

SÁ, Isabel dos Guimarães – “D. Manuel I revisitado: historiografia recente e novas
(re)leituras”. In GARRIDO, Álvaro; COSTA, Leonor Freire; DUARTE, Luís Miguel –
Estudos em Homenagem a Joaquim Romero Magalhães. Economia, Instituições e
Império. Coimbra: Almedina, 2012. pp. 525-539.

SÁ, Isabel dos Guimarães – “Duas irmãs para um rei. Isabel de Castela (1470-1498) e
Maria de Castela (1482-1517)”. In SÁ, Isabel dos Guimarães; COMBET, Michel –
Rainhas consortes de D. Manuel I. Isabel de Castela, Maria de Castela, Leonor de
Áustria. Lisboa: Círculo de Leitores, 2012b). pp. 9-202.

SARAIVA, António José; LOPES, Óscar – História da Literatura Portuguesa. 17ª


edição. Porto: Porto Editora, 1996.

SEQUEIRA, Joana Isabel Ribeiro – Produção Têxtil em Portugal nos Finais da Idade
Média. Dissertação de doutoramento apresentada à FLUP e à EHESS. Porto: 2012.

SERRÃO, Joaquim Veríssimo – Les Portugais à l’Université de Toulouse (XIIIe-XVIIe


siècles). Paris: Fundação Calouste Gulbenkian, 1970.

SERRÃO, Joaquim Veríssimo – Les Portugais à l’Université de Montpellier (XIIe-


XVIIe siècles). Paris : Fundação Calouste Gulbenkian, 1971.

SILVA, Armando Malheiro da [et al.] – Arquivística – Teoria e Prática de uma Ciência
da Informação. 3ª ed. Porto: Edições Afrontamento, 2009.

283
SILVA, Francisco Ribeiro da – “Venalidade e hereditariedade dos ofícios públicos em
Portugal nos séculos XVI e XVII. Alguns aspetos”. Revista de História. N.º 8 (1988).
pp. 203-2013.

SILVA, Francisco Ribeiro da – “Tempos Modernos”. In RAMOS, Luís A. de Oliveira –


História do Porto. 3ª edição. Porto: Porto Editora, 2001. pp. 254-375.

SILVA, Nuno J. Espinosa Gomes da – História do Direito Português. Fontes de


Direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985.

SILVÉRIO, Silvana – “Diogo da Silva de Meneses e as política régia ultramarina”. In


COSTA, João Paulo Oliveira e; RODRIGUES, Vítor Luís Gaspar – A Alta Nobreza e a
Fundação do Estado da Índia. Atas do Colóquio Internacional. Lisboa: Universidade
Nova de Lisboa / Centro de História de Além-Mar, 2004. pp. 239-257.

SOROMENHO, Miguel – “A administração da arquitetura: o Provedor das Obras Reais


em Portugal no século XVI e na 1ª metade do século XVII”. Anuario del Departamento
de Historia y Teoría del Arte (U.A.M.). Vols. IX-X (1997-1998). pp. 197-209.

SOUSA, António Caetano de – História Genealógica da Casa Real Portuguesa. 14


volumes. Coimbra: Atlântida, 1946-1955.

SOUSA, Armindo de – As Cortes Medievais Portuguesas (1385-1490). 2 vols.Porto:


INIC, 1990.

SOUSA, Armindo de – “1325-1480”. In MATTOSO, José (coord.) – A Monarquia


Feudal. Vol. 2 de História de Portugal, direção de José Mattoso. Lisboa: Editorial
Estampa, 1997. pp. 261-466.

SOUSA, Armindo de – “Tempos Medievais”. In RAMOS, Luís A. de Oliveira –


História do Porto. 3ª edição. Porto: Porto Editora, 2001. pp. 118-253.

SOUSA, João Silva de – “Equiparação e manutenção de privilégios em meados do


século XV”. Arquipélago. Série Ciências Humanas. N.º 4 (janeiro 1982). pp. 245-288.

284
SOUSA, João Silva de – “Das autorizações de porte de armas e de deslocações em besta
muar, em meados do século XV. Algumas notas para o seu estudo”. In Estudos de
História de Portugal. Vol. I – sécs. X-XV. Homenagem a A. H. de Oliveira Marques.
Lisboa: Editorial Estampa, 1982. pp. 293-309.

SOUSA, João Silva de – “Os transportes na Idade Média”. Revista Triplov de Artes,
Religiões e Ciências. N.º 11 (2011).[consultado em 12/02/2013]. Disponível online em:
http://novaserie.revista.triplov.com/numero_11/joao_silva_sousa/index.html.

SOVERAL, Manuel Abranches de – “Reflexões sobre a origem dos Pinheiro, de


Barcelos”. (2007). [consultado em 20/04/2013]. Disponível em: www.soveral.info/
mas/Pinheiro.htm.

STONE, Lawrence – “Prosopography”. Daedalus. N.º 100 (Inverno, 1971). pp. 46-79.

STUMPF, Roberta; CHATURVEDULA, Nandini (orgs.) – Cargos e Ofícios nas


Monarquias Ibéricas: Provimento, Controlo e Venalidade (Séculos XVII e XVIII).
Lisboa: CHAM, 2012.

SUBTIL, José – “Modernidades e arcaísmos do Estado de Quinhentos”. In COELHO,


Maria Helena da Cruz; HOMEM, Armando Luís de Carvalho (coord.) – A Génese do
Estado Moderno do Portugal Tardo-Medievo. Lisboa: UAL Editora, 1999. pp. 371-370.

TAVARES, Pedro Vilas Boas – “Manuel Gomes de Lima Bezerra: o discurso ilustrado
pela dignificação da cirurgia”. Península. Revista de Estudos Ibéricos. N.º 5 (2008), pp.
83-91.

TEIXEIRA, Carla Maria de Sousa Amorim – Moralidade e Costumes na Sociedade de


Além-Douro: 1433-1521 (a partir das legitimações). Dissertação de mestrado
apresentada à FLUP. Porto: 1996.

TEIXEIRA, Sónia Maria de Sousa Amorim – A Vida Privada Entre Douro e Tejo:
estudo das legitimações (1433-1521). Dissertação de mestrado apresentada à FLUP.
Porto: 1996.

285
TESTOS, Jorge André Nunes Barbosa da Veiga – Sentenças Régias em tempo de
Ordenações Afonsinas (1446-1512). Um estudo de Diplomática Judicial. Dissertação de
mestrado apresentada à FLUL. Lisboa: 2011.

TOCCO, Valeria – “D. Francisco de Portugal, 1º Conde de Vimioso: documentos para


uma biografia” e “A obra do Conde de Vimioso”. In PORTUGAL, Francisco de –
Poesias e Sentenças. Fixação do texto, introdução e notas por Valeria Tocco. Lisboa:
Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 1999. pp. 9-
35 e 39-72.

THOMAZ, Luís Filipe F. R. – De Ceuta a Timor. Lisboa: Difel, 1998.

TORRES, Ruy d‟Abreu – “Almotacé”. In SERRÃO, Joel (dir.) – Dicionário de


História de Portugal. Vol. I. Porto: Figueirinhas, 2006. p. 121.

TORRES, Rui d‟Abreu – “Coutadas”. In SERRÃO, Joel (dir.) – Dicionário de História


de Portugal. Vol. I. Porto: Figueirinhas, 2006. p. 220.

TORRES, Rui d‟Abreu – “Estalagens”. In SERRÃO, Joel (dir.) – Dicionário de


História de Portugal. Vol. II. Porto: Figueirinhas, 2006. pp. 454-455.

VALE, Alexandre de Lucena – D. Diogo Ortiz de Vilhegas. Gaia: s.n., 1934.

VASCONCELOS, António Maria Falcão Pestana de – Nobreza e Ordens Militares.


Relações Sociais e de Poder (séculos XIV a XVI). 2 volumes. Dissertação de
Doutoramento apresentada à FLUP. Porto: 2008.

VENTURA, Leontina – “A família: o léxico”. In SOUSA, Bernardo Vasconcelos e


(coord.) – A Idade Média. Vol. I de História da Vida Privada em Portugal, direção de
José Mattoso. Lisboa: Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2010. pp. 98-125.

ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins (coord.) – Nobreza de Portugal e do Brasil. Vol.


II. Lisboa: Editorial Enciclopédia, 1989.

286
ÍNDICE DE GRÁFICOS, MAPAS E QUADROS

Gráfico 1 – Áreas de incidência governativa da documentação emitida em 1496, 1504, 1512 e 1521 47

Gráfico 2 – Evolução do n.º de cartas de subscrição régia face ao número total de cartas expedidas59

Gráfico 3 – Áreas de incidência governativa da documentação subscrita pelo rei 59

Gráfico 4 – Áreas de incidência governativa da documentação redigida pelos Chanceleres-mores71

Gráfico 5 – Áreas de incidência governativa da documentação redigida pelos Desembargadores do Paço e


Petições 73

Gráfico 6 – Áreas de incidência governativa da documentação redigida pelos Vedores da Fazenda77

Gráfico 7 – Áreas de incidência governativa da documentação redigida pelos Anadéis-mores80

Gráfico 8 – Áreas de incidência governativa da documentação redigida pelos Monteiros-mores81

Mapa 1 – Património dos oficiais da CDM. Tipologia de propriedades 134

Mapa 2 – Património dos oficiais da CDM. Formas de aquisição 135

Mapa 3 – Clientelas dos oficiais da CDM. Implantação territorial 136

Quadro 1 – Distribuição cronológica da documentação pelos 46 livros da CDM 18

Quadro 2 – As cartas de administração de capelas na CDM 26

Quadro 3 – As cartas de aposentação na CDM 27

Quadro 4 – As cartas de apresentação de clérigos a igrejas do padroado régio na CDM 28

Quadro 5 – As cartas de carreteiro na CDM 28

Quadro 6 – As cartas de cidadão na CDM 29

Quadro 7 – As cartas de conselheiro na CDM 30

Quadro 8 – As cartas de estalajadeiro na CDM 30

Quadro 9 – As cartas de legitimação na CDM 31

Quadro 10 – As cartas de concessão de título ou privilégio de natureza nobiliárquica na CDM 32

287
Quadro 11 – As cartas de confirmação de perfilhamento na CDM 33

Quadro 12 – As cartas de coutada na CDM 33

Quadro 13 – As cartas de licença para andar em besta muar na CDM 34

Quadro 14 – As cartas de licença para ter manceba na CDM 35

Quadro 15 – As cartas de licença para ter subalterno na CDM 35

Quadro 16 – As cartas de privilégio em geral na CDM 36

Quadro 17 – As cartas de privilégio, comportando escusa de determinações gerais na CDM 37

Quadro 18 – As cartas de perdão na CDM 38

Quadro 19 – As cartas de quitação na CDM 39

Quadro 20 – Os contratos de exploração na CDM 40

Quadro 21 – As cartas de doação de bens e direitos na CDM 40

Quadro 22 – As cartas de doação, comportando exercício de jurisdições senhoriais na CDM 41

Quadro 23 – As cartas de fiscalidade na CDM 41

Quadro 24 – As cartas de provimento de ofício na CDM 42

Quadro 25 – As cartas de cirurgia na CDM 43

Quadro 26 – As cartas de físico na CDM 44

Quadro 27 – As cartas de tabelião na CDM 44

Quadro 28 – As cartas de defesa e privilégios de natureza militar na CDM46

Quadro 29 – As cartas de regulamentação de jurisdições locais na CDM46

Quadro 30 – Peso relativo das cartas de subscrição régia por área de incidência governativa60

Quadro 31 – Destinos das viagens realizadas pelos oficiais da CDM 88

Quadro 32 – Nobres, letrados e clérigos na CDM 90

Quadro 33 – Clientelas dos oficiais da CDM 96

Quadro 34 – Enquadramento de oficiais da CDMfaces às mortes de D. João II e D. Manuel I101

Quadro 35 – Valores das moradias de oficiais da CDMem 1484 e 1518 106

Quadro 36 – Valores das vestiarias de oficiais da CDM 107

288
Quadro 37 – Tenças concedidas a oficiais da CDM 108

Quadro 38 – Remunerações de oficias de D. Manuel I em 1501 114

Quadro 39 – Remunerações de oficiais de D. Manuel I após 1501 115

Quadro 40 – Formação universitária de oficiais da CDM 118

Quadro 41 – Duração das carreiras dos oficiais da CDM 127

289
290
SUMÁRIO DO APÊNDICE

NOTAS PRÉVIAS 143

MATRIZ 145

1. Afonso Anes 147


2. Mestre Afonso 149
3. Aires de Almada 151
4. Álvaro de Castro 154
5. Álvaro Fernandes 159
6. Álvaro de Lima 162
7. António de Lucena 164
8. Diogo Álvares 165
9. Diogo Lobo 166
10. Diogo Lopes 174
11. Diogo de Mendonça 176
12. Diogo Ortiz de Vilhegas 179
13. Diogo Pinheiro 183
14. Diogo da Silva de Meneses 187
15. Diogo Taveira 192
16. Fernão da Mesquita 194
17. Fernão Rodrigues 196
18. Francisco de Portugal 198
19. Francisco da Silveira 204
20. Garcia de Melo 207
21. Mestre Gil I 211
22. Mestre Gil II 213
23. Gonçalo de Azevedo 215
24. João Cotrim 218
25. João de Lima 221
26. João da Nova 223

291
27. Jorge de Vasconcelos 225
28. Luís de Meneses 227
29. Martim Pinheiro 230
30. Martinho de Castelo Branco 233
31. Nuno Manuel 239
32. Nuno Martins da Silveira 243
33. Pedro de Castro 247
34. Pedro de Meneses 251
35. Pero Vaz 253
36. Rodrigo de Lucena 257
37. Rui Boto 259
38. Rui Gil Magro 264

292
SUMÁRIO

RESUMO/ABSTRACT 1

AGRADECIMENTOS 3

SIGLAS E ABREVIATURAS 5

INTRODUÇÃO 7
1. Antecedentes historiográficos 7
2. Objetivos 11
3. Opções metodológicas 11
4. Estrutura da dissertação 13

I. OS LIVROS E OS DOCUMENTOS 15

1. Os livros 15
1.1. A Chancelaria de D. Manuel I do século XVI ao século XXI 16
1.2. Aspetos gerais sobre os livros da Chancelaria de D. Manuel I 18

2. Os documentos 22
2.1. Relance sobre aspetos formais 22
2.2. Os conteúdos dos documentos 23
2.2.1. Documentos do domínio da Graça 25
2.2.1.1. Administração de capelas 25
2.2.1.2. Aposentação 26
2.2.1.3. Apresentação de clérigos a igrejas do padroado régio 27
2.2.1.4. Carta de carreteiro 28
2.2.1.5. Carta de cidadão 28
2.2.1.6. Carta de conselheiro 29
2.2.1.7. Carta de estalajadeiro 30
2.2.1.8. Carta de legitimação 31

293
2.2.1.9. Concessão de título ou privilégio de natureza nobiliárquica 32
2.2.1.10. Confirmação de perfilhamento 33
2.2.1.11. Coutada 33
2.2.1.12. Licença para andar em besta muar 34
2.2.1.13. Licença para ter manceba 34
2.2.1.14. Licença para ter subalterno 35
2.2.1.15. Privilégio em geral 35
2.2.1.16. Privilégio, comportando escusa de determinações gerais 36
2.2.2. Documentos do domínio da Justiça 37
2.2.2.1. Carta de perdão 37
2.2.3. Documentos do domínio da Fazenda 38
2.2.3.1. Carta de quitação 38
2.2.3.2. Contrato de exploração 39
2.2.3.3. Doação de bens e direitos 40
2.2.3.4. Doação, comportando exercício de poderes e/ou jurisdições
senhoriais 40
2.2.3.5. Fiscalidade 41
2.2.3.6. Provimento de ofício 41
2.2.4. Documentos do domínio da Administração Geral 42
2.2.4.1. Carta de cirurgia 42
2.2.4.2. Carta de físico 43
2.2.4.3. Carta de tabelião 44
2.2.4.4. Defesa e privilégios de natureza militar 45
2.2.4.5. Regulamentação de jurisdições locais 46
2.2.5. Diversos 46
2.2.6. Balanço: o boom da Fazenda 47

II. O REI 49

1. O poder régio no final da Idade Média 49


1.1. A origem do poder do rei 50
1.2. Os poderes do rei 50
1.3. Os limites à autoridade régia 51
1.4. Ser rei: um ofício? 52

294
1.5. Características particulares da realeza manuelina 53
1.5.1. Um título que impressiona 53
1.5.2. Uma iconografia própria 54
1.5.3. Uma ideia imperial 55
1.5.3.1. O título de imperador 55
1.5.3.2. O messianismo 56
1.5.3.3. A cruzada 56

2. D. Manuel e o despacho 57
2.1. O quotidiano do despacho 57
2.2. O que era despachado pelo rei 58

III. OS OFÍCIOS 63

1. O conceito de ofício no final da Idade Média 63

2. Enquadramento jurídico dos ofícios durante o reinado de D. Manuel I 65


2.1. As Ordenações Afonsinas 65
2.2. As Ordenações Manuelinas 66
2.3. Os regimentos extravagantes 68
2.4. Das Afonsinas às Manuelinas: tradição e novidade na regulamentação de
ofícios 68

3. Os ofícios da Chancelaria e da Justiça 69


3.1. O Chanceler-mor 70
3.2. Os Desembargadores 72
3.2.1. Os Desembargadores do Paço [e das Petições] 73
3.2.2. Os Desembargadores do Agravo 74
3.3. Os Corregedores da Corte 75

4. Os ofícios da Fazenda 75
4.1. Os Vedores da Fazenda 76
4.2. O Almotacé-mor 78
4.3. O Vedor-mor das obras, terças e resíduos 79

295
5. Os ofícios da Defesa e da Caça 79
5.1. Os Anadéis-mores 80
5.2. O Coudel-mor 81
5.3. O Monteiro-mor 81

6. Os ofícios da área da Física 82


6.1. O Físico-mor 82
6.2. O Cirurgião-mor 83

7. Balanço 83

IV. OS OFICIAIS 85

1. Inserção geográfica 86
1.1. Origens, domicílios, implantação patrimonial 86
1.2. Viagens 88

2. Inserção social 89
2.1. Nobres, letrados e clérigos 90
2.1.1. Nobres 90
2.1.2. Letrados 92
2.1.3. Clérigos 93
2.2. As famílias 93
2.3. Clientelas 96
2.4. As ligações aos reis 100
2.5. O poder compensa? (I) 102

3. Nível económico 103


3.1. Património 103
3.2. Rendimentos 105
3.2.1. Moradia 105
3.2.2. Vestiaria 107
3.2.3. Tenças 108
3.2.4. Rendimentos de senhorios 112

296
3.2.5. Outros rendimentos 112
3.3. Remunerações 113
3.4. O poder compensa? (II) 117

4. Nível cultural 117


4.1. Formações 118
4.2. Carreiras académicas 119
4.3. Produção cultural 120

5. As carreiras 121
5.1. Começar uma carreira… 121
5.1.1. Os oficiais da Chancelaria e da Justiça 122
5.1.2. Os oficiais da Fazenda 122
5.1.3. Os oficiais da Milícia 124
5.1.4. Físicos e cirurgiões 125
5.2. …e acabá-la 126
5.3. A duração das carreiras 127
5.4. Havia um cursus honorum? 128
5.5. Os oficiais e o Conselho régio 129
5.6. E para além da administração? 130
5.6.1. As armas 130
5.6.2. A diplomacia 131
5.6.3. Carreiras eclesiásticas 132
5.6.4. A atividade comercial 132
5.6.5. Outras funções na corte 133

CONCLUSÃO 137

APÊNDICE – CATÁLOGO PROSOPOGRÁFICO 141

FONTES MANUSCRITAS 267

FONTES IMPRESSAS 268

297
INSTRUMENTOS AUXILIARES DE TRABALHO 270

BIBLIOGRAFIA CITADA 271

ÍNDICE DE GRÁFICOS, MAPAS E QUADROS 287

SUMÁRIO DO APÊNDICE 291

298

Você também pode gostar

pFad - Phonifier reborn

Pfad - The Proxy pFad of © 2024 Garber Painting. All rights reserved.

Note: This service is not intended for secure transactions such as banking, social media, email, or purchasing. Use at your own risk. We assume no liability whatsoever for broken pages.


Alternative Proxies:

Alternative Proxy

pFad Proxy

pFad v3 Proxy

pFad v4 Proxy