Aula - 1 - Prof Cassio Scarpinella Bueno - 06 - 02 - 2018 - Pre-Aula

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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL

MÓDULO TEORIA GERAL E PROCESSO DE CONHECIMENTO

Professor: Cassio Scarpinella Bueno

1. Material pré-aula

a. Tema:

Visão Constitucional do processo. Normas fundamentais do processo


civil. Função Jurisdicional (Ação. Jurisdição. Competência)

b. Noções Gerais

Visão Constitucional do processo. Normas fundamentais do


processo civil.

Conforme o art. 1º do nosso CPC, o “processo civil será ordenado,


disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas
fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa
do Brasil” (art. 1º, CPC/2015), bem como traz os princípios
fundamentais, quais sejam, dispositivo e impulso oficial (art. 2º,
CPC/2015), direito de ação e tutela eficiente (arts. 3º e 4º,
CPC/2015), solução extrajudicial dos conflitos (§§ 1º a 3º, do art. 3º,
CPC/2015), igualdade (art. 7º, CPC/2015), lealdade e boa-fé (arts. 5º
e 6º, CPC/2015), fim social do processo (art. 8º, CPC/2015),
contraditório e ampla defesa (arts. 9º e 10, CPC/2015), publicidade e
motivação (art. 9º CPC/2015), reforçando princípios já estabelecidos
na Constituição Federal e que serão analisados mais adiante.

Acesso formal à justiça. Inafastabilidade da jurisdição


De acordo com Constituição Federal, a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. 5.º,
XXXV, da CF).
Conforme o Prof. Cassio Scarpinella Bueno:
A compreensão de que nenhuma lei excluirá ameaça ou lesão a
direito da apreciação do Poder Judiciário deve ser entendida no
sentido de que qualquer forma de “pretensão”, isto é, “afirmação
de direito” pode ser levada ao Poder Judiciário para solução. Uma
vez provocado o Estado-juiz tem o dever de fornecer àquele que
bateu às suas portas uma resposta, mesmo que seja negativa, no
sentido de que não há direito nenhum a ser tutelado ou, bem
menos do que isso, uma resposta que diga ao interessado que
não há condições mínimas de saber se existe, ou não, direito a
ser tutelado, isto é, que não há condições mínimas de exercício
da própria função jurisdicional, o que poderá ocorrer por diversas
razões, inclusive por faltar o mínimo indispensável para o que a
própria CF exige como devido processo legal.1

Não se limita o texto constitucional a obstar que alguma lei impeça


o acesso à jurisdição, mas vai além, para assegurar o direito de
exigir do Estado a tutela jurisdicional.

Tal comando não se dirige apenas aos órgãos legiferantes, mas


também ao órgão encarregado de aplicar a lei por eles criada.
Ao referir-se tanto à lesão quanto à ameaça, deixa claro a
Constituição que a jurisdição deve realizar o Direito, restaurando a
ordem jurídica violada ou evitando que tal violação ocorra, através
de procedimento ordenado para esse fim.

Dignidade da pessoa humana

A Constituição estabelece a dignidade da pessoa humana como um


dos fundamentos da República Federativa do Brasil (cf. art. 1.º, III
da CF.

Nos termos do art. 8.º do CPC/20, o juiz deve orientar-se pela


defesa e promoção da dignidade da pessoa humana. Trata-se de

1
SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil – Lei nº 13.105, de 16.03.2015 – Vol.
único. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p 48.
reprodução, na lei processual, de comando previsto na referida
norma constitucional.

Assim, o indivíduo merece ter direito a receber uma resposta


efetiva e célere do Estado quando se sentir lesado em suas
prerrogativas.

O conteúdo desse fundamento é compreendido a partir de outros


princípios e garantias existentes na própria Constituição, bem como
nas disposições que inspiraram o constituinte.

Legalidade

O princípio da legalidade tem desdobramentos na proteção ao


direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada (art. 5.º,
XXXVI, da CF), p. ex., é corolário do princípio da legalidade.

Conforme José Miguel Garcia Medina:


Temos estudado o princípio da legalidade à luz da ideia de
liberdade. No estado constitucional, o direito fundamental à
liberdade não é visto apenas como proteção contra o Estado
(status negativus), no sentido referido no inc. II do art. 5.º da
CF. Liberdade deve ser vista também como direito a
procedimentos que assegurem a própria liberdade (status
2
activus).

Conforme Celso Antônio Bandeira de Mello:


A legalidade é um princípio próprio do Estado de Direito, sendo
justamente o que lhe caracteriza e lhe dá identidade própria. É a
tradução jurídica do próprio político de submeter todos aqueles
que exercem algum tipo de poder a normas que impeçam
3
favoritismos, perseguições ou desmandos.

O nosso CPC seguindo a ideia do modelo constitucional do processo


adotou o princípio da legalidade no art 8º, o qual busca explicitar

2
MEDINA, José Miguel Garcia. Direito Processual Civil Moderno. Ed. RT. 2016.
3
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, 29º edição. Ed Malheiros, 2011.
que o juiz também está vinculado as normas que o ordenamento
jurídico contém, cabendo a ele decidir nos moldes desta.

Fins sociais do direito e bem comum

De acordo com o art. 8.º do CPC/2015, deve o juiz atender "aos


fins sociais e à exigência do bem comum" ao aplicar o direito.

Tal artigo ajusta-se ao que dispõe à Constituição, que, além de


erigir a dignidade da pessoa humana como fundamento da
República Federativa do Brasil (art. 1.º, III, da CF), dispõe que um
de seus objetivos é o de "construir uma sociedade livre, justa e
solidária" (art. 3.º, I, da CF). Não se trata de exceção ou
temperamento ao princípio da legalidade. Afinal, a lei tem escopo
social e deve servir ao bem comum. Trata-se, pois, de dar
concretude ao que impõe a norma constitucional.

Proporcionalidade e razoabilidade

O art. 8.º do CPC/2015 dispõe que o juiz deve observar a


proporcionalidade e a razoabilidade.

De acordo com a regra da proporcionalidade, deve haver uma


"relação adequada entre um ou vários fins determinados e os
meios com que são levados a cabo", compreendendo a regra os
seguintes elementos: o meio escolhido deve ser adequado; ainda,
deverá ser necessário, "não excedendo os limites indispensáveis à
conservação do fim legítimo que se almeja"; por fim, deve-se
realizar a ponderação entre os bens ou interesses em jogo, a fim
de que o sacrifício imposto a um dos interesses seja efetivamente
necessário e justificável.

Razoabilidade, de sua vez, diz respeito à compatibilidade entre


meios e fins de uma medida.

A regra da proporcionalidade, no entanto, opera ao lidar-se com


direitos fundamentais cotejados, no contexto da criação da solução
jurídica.
Eficiência

Conforme previsto no art 8.º do CPC/2015, o juiz deve observar a


eficiência, o que reproduz em parte algo que, na Constituição,
encontra-se destacado em Capítulo dedicado à Administração
Pública (art. 37 da CF).

O CPC/2015 dispôs que incumbe o juiz de ordenar as causas, a fim


de que seja respeitada determinada ordem de julgamento (cf. art.
12 do CPC/2015). Nesse ponto, tal como um administrador, deve
ele se organizar e realizar os atos de modo a alcançar o melhor
resultado possível com os meios disponíveis.

A ideia de eficiência aspira a que algo seja realizado de modo a


propiciar um grau máximo de satisfação.

Devido processo legal

Conforme o Prof. Cassio Scarpinella Bueno:


Se o princípio do acesso à Justiça representa,
fundamentadamente a ideia de que o Judiciário está aberto,
desde o plano constitucional a quaisquer situações de ameaças
ou lesões de direito, o princípio do devido processo legal volta-se,
basicamente, a indicar as condições mínimas em que o
desenvolvimento do processo, isto é, o método de atuação do
Estado –juiz para lidar com a afirmação de uma ameaça ou lesão
de direito, deve se dar.4

Entre as garantias fundamentais, a Constituição Federal estabelece


o direito à inafastabilidade da tutela jurisdicional (art. 5.o, XXXV),
à ampla defesa e ao contraditório (art. 5.o, LV), à duração razoável
do processo (art. 5.o, LXXVIII) e, em outras disposições, refere-se
a mais princípios, como o da motivação das decisões judiciais (art.
93, IX). Há ainda princípios que, embora não digam respeito
exclusivamente ao processo, mostram-se, nesta seara, fecundos
de consequências, tal como ocorre com o princípio da isonomia

4
SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil – Lei nº 13.105, de 16.03.2015 – Vol.
único. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p 49.
(art. 5.o, caput, I da CF). Esses princípios e garantias, como se
disse, decorrem da cláusula do devido processo legal, também
textualmente referida no art. 5.o, LIV da CF. O CPC/2015 reproduz
muitas dessas disposições, em seus primeiros artigos.

Inércia da jurisdição, demanda e impulso oficial

Tendo-se iniciado por provocação das partes, o processo


desenvolve-se "por impulso oficial" (art. 2.º do CPC/2015).

O início do processo é condicionado à demanda da parte. Está-se,


aqui, diante de uma das relações de status: confere-se à pessoa a
faculdade de agir em juízo, condicionando-se o início da atividade
jurisdicional e, ao exercer o direito de demandar, a parte reclama a
prestação jurisdicional que lhe deve ser conferida pelo Estado.

Contraditório

Está-se diante de decorrência do princípio da isonomia (art.


5.º, caput e II da CF; art. 7.º do CPC/2015), já que, se o
juiz decidir apenas com base no que uma das partes tiver
argumentado, dará a elas tratamento desigual.

A garantia do contraditório, no entanto, é mais ampla, e


compreende também o direito de influir decisivamente nos destinos
do processo. Há, pois, o direito de se manifestar, de ser ouvido,
mas, também, o de ter suas manifestações levadas em
consideração. Veda-se, nesse contexto, a prolação de decisões com
surpresa para as partes, disso tratando o art. 10 do CPC/2015.

Conforme o Prof. Cassio Scarpinella Bueno:


O modelo de processo estabelecido pelo CPC de 2015, bem compreendido
e em plena harmonia com o modelo constitucional é inequivocamente de
um processo cooperativo em que todos os sujeitos processuais (as partes,
eventuais terceiros intervenientes, os auxiliares da justiça e o próprio
magistrado) cooperem ou colaborem entre si com vistas a uma finalidade
comum: a prestação da tutela jurisdicional.5

5
Ibidem, p.51
Sustentamos que às partes deve ser reconhecido o direito de
participar ativamente no procedimento de tomada da decisão
judicial. Tal participação consiste em poder influir decisivamente
nos destinos do processo.

Assim, o princípio do contraditório concretiza-se através da


participação das partes no processo, e do diálogo que deve ter o
órgão jurisdicional com as partes.

Como uma das consequências do princípio, o órgão jurisdicional


não pode proferir decisão com surpresa para as partes.

Isonomia processual

Rege-se o processo pelo princípio constitucional da isonomia (art.


5.º, caput e I, da CF), devendo o juiz assegurar às partes
igualdade de tratamento (art. 139, I, do CPC/2015).

Liga-se o princípio de um lado, à ideia de que o juiz deve atuar de


modo imparcial, em relação às partes.

O CPC/2015, a respeito, dispõe que é assegurada às partes


paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e
faculdades processuais (art. 7. o).

Boa-fé objetiva

A proteção à boa-fé objetiva é postulado ético imposto pelo


sistema normativo, estendendo-se por todas as áreas do direito.
Trata-se de uma "norma de conduta", em razão da qual se impõe
àqueles que participam de uma relação jurídica "um agir pautado
pela lealdade".

Como corolário da proteção à boa-fé objetiva, o exercício abusivo


de uma posição jurídica deve ser reprimido. O abuso ocorre quando
se excederem manifestamente os limites próprios do exercício de
um direito.
O princípio deve ser observado também pelo órgão jurisdicional. É
que, agindo em desconformidade à boa-fé objetiva, viola-se o
princípio da confiança no tráfego jurídico, já que, uma vez
despertada a legítima confiança, espera-se um comportamento em
sintonia com o procedimento até então manifestado.

Economia processual

De acordo com o princípio deve-se obter o máximo de resultado na


atuação do direito com o mínimo emprego possível de atividade
jurisdicional.

Razoável duração do processo

Assegura-se o direito à razoável duração do processo, bem como a


meios que garantam que sua tramitação se dê celeremente (CF,
art. 5.º, LXXVIII e CPC/2015, art. 4.º). Só pode ser considerada
eficiente a tutela jurisdicional se prestada tempestivamente, e não
tardiamente.

A garantia de razoável duração do processo constitui


desdobramento do princípio estabelecido no art. 5.o, XXXV da CF,
já que a tutela a ser realizada pelo Poder Judiciário deve ser capaz
de realizar, eficientemente, aquilo que o ordenamento jurídico
material reserva à parte.

Publicidade

A publicidade dos atos processuais é garantia prevista no art. 5.o,


LX, da Constituição, segundo o qual "a lei só poderá restringir a
publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou
o interesse social o exigirem". Esse comando é repetido de modo
mais detalhado no art. 93, IX, da CF, que estabelece que pode "a
lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a
seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a
preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não
prejudique o interesse público à informação".
A ressalva constante do final do art. 93, IX, da CF diz respeito aos
limites do direito de preservação da intimidade (art. 5.º, X, da CF),
que poderá ceder quando houver "interesse público à informação",
a que se refere também o art. 5.º, XIV, da CF.

No CPC/2015, o tema é versado nos arts. 11 e 189, dentre outros.


Ressalte-se que a própria CF admite que a lei venha a restringir a
publicidade dos atos processuais com relação a terceiros estranhos
ao processo, quando o exigirem a defesa da intimidade ou o
interesse processual (art. 5, LX).

Ação

Conforme o art. 5.º, XXXV, da CF, “a lei não excluirá da apreciação


do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

Desta forma, a norma constitucional não se limita a obstar que


alguma lei impeça o acesso à jurisdição, mas vai além, para
assegurar o direito de exigir do Estado a tutela jurisdicional.

O Prof. Cassio Scarpinella Bueno assim definiu:


Nesse contexto, a ação só pode ser compreendida como o direito
subjetivo público ou, mais que isso, o direito fundamental de
pedir tutela jurisdicional ao Estado-juiz, rompendo a inércia do
Poder Judiciário, e de atuar, ao longo do processo para a
obtenção daquele fim.6

E continua ainda o Prof. Cassio Scarpinella Bueno:


A ação é, assim, um direito exercitável contra o Estado, uma
verdadeira contrapartida da vedação de se fazer “justiça pelas
próprias mãos. É o Estado que, historicamente, chama, para si, o
dever (e a correlata responsabilidade) de distribuir justiça,
criando os mecanismos e as técnicas que garantam o seu
atingimento.

6
SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil – Lei nº 13.105, de 16.03.2015 – Vol.
único. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p 73.
Modernamente, tem-se pensado em tutela jurisdicional não apenas
como resultado, mas também para designar os meios tendentes à
sua consecução.

Assim, também a configuração processual do direito de ação deve


ajustar-se ao direito material.

A inexistência, no plano processual, de tutela correspondente à


reclamada pelo direito material, significaria tornar inexistente o
próprio direito substantivo. O direito de ação, assim, compreende
não apenas o direito à tutela jurisdicional adequada, mas
também a um processo adequado.

Afirma Alfredo Rocco:


O direito de ação é um direito subjetivo “que corresponde a cada
ciudadano como tal”, “un derecho subjetivo público del ciudadano
con el Estado, y sólo con el Estado”, e que compreende em si
“todas las facultades que corresponden a las partes en el
procedimiento y el ejercicio de aquel derecho como
compreendiendo todos los actos procesales de las
partes”. Fazendo referência a “una cantidad de facultades,
reconocidas y disciplinadas por el derecho procesal objetivo”, faz
Alfredo Rocco desenvolvimento semelhante, embora sem se
7
referir às categorias de status acima mencionadas.

Assim, o direito de ação compreende o dever do Estado de prestar


a tutela jurisdicional.

Conforme José Miguel Garcia Medina:


O direito de ação pode ser considerado, também, sob outro
prisma, que é o de condicionante do início da atividade
jurisdicional (art. 2.º do CPC/2015). Sob esta perspectiva, o
direito de ação encerra também uma faculdade que é
manifestação da esfera de liberdade individual frente ao Estado
8
(status libertatis).

7
ROCCO, Principi di diritto processuale generale. Torino: G. Giappichelli, 1995.
8
MEDINA, José Miguel Garcia. Direito Processual Civil Moderno. Ed. RT. 2016.
O Estado somente pode atuar após a livre manifestação de vontade
do indivíduo.

O art. 17 do CPC/2015 refere-se apenas a “interesse e


legitimidade”, que devem estar presentes para se postular em
juízo. Esses são requisitos da ação.

Há interesse processual quando presentes a necessidade e a


utilidade (ou adequação) da ação com o intuito de prevenir ameaça
ou reprimir lesão a direito.

Diz o art. 19, I, do CPC/2015 que o interesse do autor pode limitar-


se à declaração da existência, da inexistência ou do modo de ser
de uma relação jurídica.

Legítimas são as partes para a causa, por sua vez, quando a ação
lhes seja pertinente. A legitimidade é “aferida em função de ato
jurídico realizado ou a ser praticado”.

Confere-se a legitimidade, assim, em razão da titularidade do


direito afirmado.

A doutrina divide as ações em: (a) de conhecimento; (b) de


execução; (c) cautelares. As ações de conhecimento, seguindo esta
linha, se dividiriam em declaratórias, constitutivas e condenatórias.
No caso da ação declaratória, por exemplo, são legítimas as partes
em relação às quais se afirma existir ou inexistir dada relação ou
situação jurídica.

Em ação condenatória, por sua vez, “revela-se necessário aferir


com quem, efetivamente, restou estabelecida a relação jurídica
material”.

Leciona Marcos Bernardes de Mello:


A legitimidade para a causa se refere à titularidade da pretensão
(ativa) ou da obrigação (passiva) controvertidas em juízo;
relaciona-se à res in iudicio deducta, não à capacidade de ser
parte. É verdade que, para que alguém possa exercer sua
capacidade de ser parte com êxito (= possa obter a prestação
jurisdicional com a prolação da sentença de mérito) é necessário
que as partes no processo tenham legitimação processual
(legitimatio ad processum) e também legitimação para a causa
9
(legitimatio ad causam)”.

Segunda Arruda Alvim:


A legitimidade ad causam, uma das condições da ação – em face
do direito positivo brasileiro – é definida em função de elementos
fornecidos pelo direito material (apesar de ser dele,
existencialmente desligada). A legitimatio ad causam é a
atribuição, pela lei ou pelo sistema, do direito de ação ao autor,
possível titular ativo de uma dada relação ou situação jurídica,
bem como a possível sujeição do réu aos efeitos jurídico-
processuais e materiais da sentença. Normalmente, no sistema
do Código, a legitimação para a causa é do possível titular do
direito material (art. 18 do CPC/2015). Pode-se dizer que as
condições da ação têm a posição de um direito, mas não podem
ser havidas propriamente como integrantes da categoria dos
direitos; vale dizer, são consideradas como se direito fossem.10

Jurisdição

A palavra jurisdição vem do latim “juris dictio”, que significa “dizer o


direito”.

Cabe ao Poder Judiciário a composição dos litígios nos casos


concretos. Assim, a função de declarar e realizar o Direito compondo
os litígios dá-se o nome de jurisdição.

O Prof. Cassio Scarpinella Bueno assim definiu: “A Jurisdição,


primeiro instituto fundamental do direito processual civil deve ser
compreendida como a parcela de poder exercida pelo Estado-juiz, o
Poder Judiciário, a sua função típica”.11

9
MELLO, Marcos Bernardes de. Achegas para uma teoria das capacidades em direito. Revista de Direito
Privado, v. 3, p. 9, jul. 2000.
10
ALVIM, Arruda. Manual de Direito Processual Civil. Ed. RT. 2017.
11
SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil – Lei nº 13.105, de 16.03.2015 –
Vol. único. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p 72.
Segundo Elpídio Donizetti:
Jurisdição, portanto, é o poder, a função e a atividade exercidos e
desenvolvidos, respectivamente, por órgãos estatais previstos em
lei, com a finalidade de tutelar direitos individuais e coletivos. Uma
vez provocada, atua no sentido de, em caráter definitivo, compor
litígios ou simplesmente realizar direitos materiais previamente
acertados, o que inclui a função de acautelar os direitos a serem
definidos ou realizados, substituindo, para tanto, a vontade das
pessoas ou entes envolvidos no conflito.12

Acerca da jurisdição civil, está “será regida pelas normas processuais


brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em
tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja
parte” (art. 13, do CPC/2015)

O CPC/2015 ainda estabelece que a norma processual não retroagirá


e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitando
os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas
sob a vigência da norma revogada (art. 14, do CPC/2015), além de
dispor expressamente sua aplicação supletiva e subsidiária aos
processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, na ausência de
normas regulatórias (art. 15, do CPC/2015). São duas as espécies de
jurisdição: contenciosa e voluntária.

Nos termos do art. 16, do CPC/2015, “a jurisdição civil é exercida


pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme
as disposições deste Código”.

A jurisdição contenciosa é aquela exercida com o objetivo de compor


litígios e a jurisdição voluntária é aquela relacionada à integração e
fiscalização de negócios jurídicos particulares. Competência é medida
da jurisdição, a limitação da atuação de cada órgão jurisdicional, foro,
vara, tribunal, demarcando-se os limites em que cada juízo pode
atuar.

12
DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. Ed. 20º ed. Atlas, 2017.
Competência

Considera-se absoluta a competência, relacionada à matéria, à


pessoa ou a função, e relativa, quando determinada em razão do
valor e do território.

A competência é determinada em atenção aos seguintes critérios:


objetivo (em razão da pessoa, da matéria ou do valor da causa),
funcional e territorial, e pode ser absoluta ou relativa, sendo que “a
competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da
função é inderrogável por convenção das partes” (art. 62, do
CPC/2015), porém “as partes podem modificar a competência em
razão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação
oriunda de direitos e obrigações” (art. 63, do CPC/2015).

Segundo o Prof. Cassio Scarpinella Bueno: “A distinção principal entre


aqueles dois critérios é a presença, ou não, do interesse público que
justifica a sua fixação.”13

Continua ainda o Prof. Cassio Scarpinella Bueno:


A competência absoluta é passível de apreciação de ofício, isto é,
sem provocação das partes, pelo que ela pode ser questionada a
qualquer tempo (art. 64, parágrafo 1º) e, por isso mesmo, não há
preclusão quanto à ausência de sua alegação, porque ela não se
“prorroga” em nenhum caso, isto é, ela não pode ser modificada
nem mesmo por vontade das partes. (arts. 54 e 62). A competência
relativa, de seu turno, não pode ser considerada pressuposto de
validade do processo. Ela está sujeita a modificações (art. 54),
inclusive pela vontade das partes pela chamada cláusula de “eleição
de foro” (art. 63) ou pela inércia do réu em argui-la a tempo em
preliminar de contestação (art. 64, caput). Ela não é passível de
declaração de ofício. Seu reconhecimento depende, por isso mesmo,
de manifestação de vontade do réu, vedada a sua apreciação de
ofício (art. 337, parágrafo 5º). Sua não observância não autoriza a
rescisão da decisão após o trânsito em julgado.

13
SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil – Lei nº 13.105, de 16.03.2015 –
Vol. único. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017,p 132.
A competência relativa será prorrogada se o réu não alegar a
incompetência em preliminar de contestação. Ação é o meio de se
provocar a tutela jurisdicional. Os elementos subjetivos da ação são
as partes e os elementos objetivos são o pedido e a causa de pedir. A
ausência de um dos elementos da ação acarreta o indeferimento da
petição inicial, nos termos do artigo 330, I e § 1º, do CPC/2015, com
a extinção do processo sem que o juiz resolva o mérito, nos termos
do artigo 485, I, do CPC/2015.

Como regra geral, deverá a ação ser proposta no foro do domicílio


do réu (art. 46 do CPC/2015), salvo se houver regra específica.

Conforme o art. 47 do CPC/2015, nas "ações fundadas em direito


real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa".
Prossegue-se, afirmando no § 1.º, que "o autor pode optar pelo
foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição" caso a ação não
diga respeito, p.ex., à propriedade sobre o bem.

Acerca deste tema se manifestou José Miguel Garcia Medina:


Tem-se, assim, que, nas hipóteses que enuncia a primeira parte
do dispositivo, a norma trata de competência absoluta; nos
demais casos, de competência relativa. Naquele caso, pode-se
dizer que há critério de competência funcional. A doutrina, de
modo geral, reporta-se à lição de Chiovenda para indicar haver,
no caso, tal critério. Afirmava o autor italiano que haveria
competência funcional também quando atribuída "al giudice di un
determinato territorio pel fatto che la sua funzione sarà ivi piu
facile o piu efficace". Por semelhantes razões, o § 2.º do art. 47
do CPC/2015 dispõe que "a ação possessória imobiliária será
proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem
14
competência absoluta".

É necessário também verificar a legitimidade e o interesse


processual, pois, na ausência dessas condições, o processo também
será extinto sem resolução de mérito, nos termos do artigo 485, VI,
do CPC/2015. Conforme explica Elpídio Donizetti.

14
MEDINA, José Miguel Garcia. Direito Processual Civil Moderno. Ed. RT. 2016.
No novo Código, entretanto, não há mais a referência à “possibilidade
jurídica do pedido” como hipótese geradora da extinção do processo
sem resolução do mérito, seja quando enquadrada como condição da
ação ou como causa para o indeferimento da petição inicial.

É que o CPC de 1973 também contemplava a possibilidade jurídica do


pedido como uma das causas que geravam a inépcia da petição inicial
e, consequentemente, o seu indeferimento (art. 295, parágrafo único,
III, CPC/73). Essa causa de inépcia já era bastante discutida na
doutrina, já que muitos estudiosos, inclusive Enrico Tulio Liebman,
entendiam-na como causa que, se inexistente, levava à
improcedência da pretensão deduzida em juízo.

De acordo com a nova redação, consagra-se o entendimento de que a


possibilidade jurídica do pedido é causa para resolução do mérito da
demanda e não simplesmente de sua inadmissibilidade. Com relação
às outras “condições”, o texto do novo art. 17 estabelece que “para
postular em juízo é necessário interesse e legitimidade”. O art. 485,
VI, por sua vez, prescreve que a ausência de qualquer dos dois
requisitos, passíveis de serem conhecidos de ofício pelo magistrado,
permite a extinção do processo, sem resolução do mérito. Como se
pode perceber, o Código não utiliza mais o termo “condições da
ação”. (...)

c. Legislação

Lei nº. 13.105/2015 – Novo Código de Processo Civil (artigos 1º a 69,


330 e 485)
Constituição Federal (artigo 1º, 3º 5º, I, XXXV, LIII, LIV, LV, LVI, LX,
LXXVIII, 37 e 93, IX)

d. Julgados/Informativos

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. DECISÃO


MONOCRÁTICA DE RELATOR DO TRIBUNAL A QUO. AUSÊNCIA DE
INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO REGIMENTAL. NÃO ESGOTAMENTO DA
INSTÂNCIA ANTECEDENTE. RECURSO IMPROVIDO.
1. A provocação da jurisdição de Corte Superior exige o prévio
exaurimento da instância antecedente, de modo que correta a
decisão que indeferiu liminarmente o habeas corpus que ataca
decisão monocrática de relator não impugnada por recurso cabível.
2. Caberia à defesa a interposição de agravo regimental, de modo a
submeter a decisão singular à apreciação pelo órgão colegiado
competente e não inaugurar, per saltum, a via recursal no Tribunal
Superior.
3. Ademais, não há se falar em superação da Súmula 691/STF, tendo
em vista que o indeferimento liminar do writ não ocorreu com
fundamento no citado enunciado sumular.
4. Agravo regimental improvido.
(STJ,AgRg no HC 417354 / PR, Ministro NEFI CORDEIRO, T6 - SEXTA
TURMA, 14/11/2017)

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. CONFIRMAÇÃO DE


TESTAMENTO PARTICULAR. ARTIGO 17 DA LEI DE INTRODUÇÃO
ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. ART. 23, II, DO
CPC/2015. JURISDIÇÃO BRASILEIRA EXCLUSIVA. SOBERANIA
NACIONAL. 1. Caso em que a sentença estrangeira
confirmou testamento particular em que o de cujus dispôs de todo o
seu patrimônio, o qual incluía bens situados no Brasil. Ao lado disso,
as partes interessadas não manifestaram concordância.
2. Nos termos do artigo 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, constitui requisito indispensável ao deferimento da
homologação que o ato jurisdicional homologando não ofenda a.
"soberania nacional". 3. Hipótese em que o art. 23, II, do Código de
Processo Civil de 2015 não admite jurisdição estrangeira.
4. Pedido de homologação indeferido.
(STJ, SEC 15924 / EX, Ministro BENEDITO GONÇALVES, Ministro
BENEDITO GONÇALVES, 18/10/2017

RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE GUARDA.


EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO. ALTERAÇÃO DE DOMICÍLIO DA CRIANÇA.
PRINCÍPIO DA PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO. PREVALÊNCIA.
HIPÓTESE CONCRETA. PECULIARIDADES. MOMENTO DA
PROPOSITURA DA AÇÃO. JUÍZO COMPETENTE. 1.
A competência é fixada no momento da propositura da ação (art. 87
do CPC/1973) e, à luz do Código de Processo Civil de 2015, no
instante do registro ou da distribuição da petição inicial (art. 43 do
CPC/2015).
2. A modificação da competência relativa não pode ocorrer de ofício
Pelo juiz em virtude da regra da perpetuação da jurisdição.
3. O princípio do juiz imediato está consagrado no art. 147, I e II, da
ECA, segundo o qual o foro competente para apreciar e julgar as
medidas, ações e procedimentos que tutelam interesses, direitos e.
Garantia positivada no Estatuto é determinado pelo domicílio dos
Pais ou responsável e pelo lugar onde a criança ou o adolescente
Exerce, com regularidade, seu direito à convivência familiar e
comunitária.
4. A jurisprudência do STJ firmou a aplicação subsidiária do art. 87 do
CPC/1973 diante da incidência do art. 147, I e II, da ECA, no sentido
de que deve prevalecer a regra especial em face da geral,
Respeitadas as peculiaridades do caso concreto.
5. Na hipótese dos autos, há circunstâncias aptas a manter a
competência do juízo do momento da propositura da ação, pois o que
pretende o recorrente, por vias indiretas, é o acolhimento Da.
Exceção de suspeição previamente rejeitada pelas instâncias de
origem, agindo com o intuito de procrastinar a ação de guarda dos
filhos do excelas ajuizada pela recorrida.
6. Recurso especial não provido.
(STJ, Resp. 1576472 / RJ, Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
T3 - TERCEIRA TURMA, 13/06/2017).

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.


CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. LEI N. 10.259/001. JUIZADOS CIVEIS
E CRIMINAIS NO ÂMBITO DA JUSTIÇA FEDERAL. COMPETÊNCIA
ABSOLUTA. EXCEÇÃO. ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO.
ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO
ATACADA. AGRAVO INTERNO CONTRA DECISÃO FUNDAMENTADA
NAS SÚMULAS 83 E 568/STJ (PRECEDENTE JULGADO SOB O REGIME
DA REPERCUSSÃO GERAL, SOB O RITO DOS RECURSOS
REPETITIVOS OU QUANDO HÁ JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA SOBRE O
TEMA). MANIFESTA IMPROCEDÊNCIA.
APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 2015. CABIMENTO.
I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão
realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela
data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. In caso,
aplica-se o Código de Processo Civil de 2015.
II - A Lei n. 10.259/01, que instituiu os Juizados Cíveis e Criminais no
âmbito da Justiça Federal, estabeleceu que a competência desses
Juizados tivesse natureza absoluta e que, em matéria cível obedece
como regra geral a do valor da causa.
III - O acórdão recorrido adotou entendimento consolidado nesta
Corte, segundo o qual a mencionada regra poderá ser afastada, com
Base no art. 3º, § 1º, III, da Lei n. 10.259/01, desde que a pretensão
inicial vise diretamente à anulação do ato administrativo, o que não é
a hipótese dos autos, já que eventual invalidação ocorrerá de
maneira reflexa.
IV - Não apresentação de argumentos suficientes para desconstituir a
Decisão recorrida.
V - Em regra, descabe a imposição da multa prevista no art. 1.021,
§.
4º, do Código de Processo Civil de 2015 em razão do mero
provimento do Agravo Interno em votação unânime, sendo
necessária a configuração da manifesta inadmissibilidade ou
improcedência do recurso a autorizar sua aplicação.
VI - Considera-se manifestamente improcedente e enseja a aplicação
Da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de Processo Civil
de 2015 nos casos em que o Agravo Interno foi interposto contra
decisão fundamentada em precedente da 1ª Seção.
VII - Agravo Interno improvido, com aplicação de multa de 1% (um
portento) sobre o valor atualizado da causa.
(STJ, Agente no Resp. 1695271 / SP, Ministra REGINA HELENA
COSTA, T1 - PRIMEIRA TURMA, 12/12/2017).

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. COMPETÊNCIA PARA


JULGAMENTO DE DEMANDAS CÍVEIS ILÍQUIDAS CONTRA MASSA
FALIDA EM LITISCONSÓRCIO COM PESSOA JURÍDICA DE DIREITO
PÚBLICO. JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA SEÇÃO DESTE STJ
QUANTO AO PRIMEIRO ASPECTO DA DISCUSSÃO. INCIDÊNCIA DO
ART. 6º, § 1º, DA LEI N. 11.101/2005. COMPETÊNCIA DO JUÍZO
CÍVEL COMPETENTE PARA O EXAME DA AÇÃO DE CONHECIMENTO.
EXCEÇÃO AO JUÍZO UNIVERSAL DA FALÊNCIA. CONSTANDO DO
POLO PASSIVO DE DEMANDA ILÍQUIDA, ALÉM DA MASSA FALIDA,
PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO, DEVE SER FIXADA A
COMPETÊNCIA EM FAVOR DO JUÍZO DA FAZENDA PÚBLICA,
SEGUNDO AS NORMAS LOCAIS DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. RECURSO JULGADO SOB A
SISTEMÁTICA DO ART. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015, C/C O
ART. 256-N E SEGUINTES DO REGIMENTO INTERNO DO STJ.
1. O fundamento essencial desta demanda diz respeito à
competência para julgar demandas cíveis ilíquidas contra a massa
falida, quando no polo passivo se encontram, como litisconsortes
passivos, pessoas de direito público, no caso, o Estado de São Paulo e
o Município de São José dos Campos. Assim, este feito que, em tese,
estaria na jurisdição da Segunda Seção deste STJ, caso o litígio fosse
estabelecido apenas entre a massa falida e uma pessoa de direito
privado, foi deslocado para esta Primeira Seção, em vista da
presença no polo passivo daquelas nominadas pessoas jurídicas de
direito público.
2. A jurisprudência da Segunda Seção desta STJ é assente no que
Concerne à aplicação do art. 6º, § 1º, da Lei n. 11.101/2005 às ações
cíveis ilíquidas - como no caso em exame -, fixando a competência
em tais casos em favor do juízo cível competente,
Excluído o juízo universal falimentar. Precedentes: CC 122.869/GO,
Rel. Ministro Luís Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em.
22/10/2014, De 2/12/2014; CC 119.949/SP, Rel. Ministro Luís Felipe
Salomão, Segunda Seção, julgado em 12/9/2012, De 17/10/2012.
3. A Quarta Turma desta Corte Superior, por ocasião do julgamento
do Agrega no Resp. 1.471.615/SP, Rel. Ministro Marco Búzio, julgado
em 16/9/2014, De 24/9/2014, assentou que se fixa a competência
do juízo cível competente, por exclusão do juízo universal falimentar,
tenha sido, ou não, a demanda ilíquida interposta antes da
decretação da quebra ou da recuperação judicial: "A decretação da
falência, a despeito de instaurar o juízo universal falimentar, não
acarreta a suspensão nem a atração das ações que demandam
quantia ilíquida: se elas já tinham sido ajuizadas antes, continuam
tramitando no juízo onde foram propostas; se forem ajuizadas
depois, serão distribuídas normalmente segundo as regras gerais de
competência. Em ambos os casos, as ações tramitarão no juízo
respectivo até a eventual definição de crédito líquido".
4. Aplicada à jurisprudência da Segunda Seção desta Corte Superior,
No que concerne à relação jurídica prévia - competência para
Resolver sobre demandas cíveis ilíquidas propostas contra massa
Falida -, a resolução da segunda parte da questão de direito se revela
simples. É que, tratando-se de ação cível ilíquida na qual, além da
massa falida, são requeridos o Estado de São Paulo e o Município de
São José dos Campos, pessoas jurídicas de direito público, será
competente para processar e julgar o feito o juízo cível competente
para as ações contra a Fazenda Pública, segundo as normas locais de
organização judiciária.
5. Tese jurídica firmada: A competência para processar e julgar
demandas cíveis com pedidos ilíquidos contra massa falida, quando
em litisconsórcio passivo com pessoa jurídica de direito público, é do
Juízo cível no qual for proposta a ação de conhecimento, competente.
Para julgar ações contra a Fazenda Pública, de acordo as respectivas.
Normas de organização judiciária.
6. Recurso especial conhecido e provido.
7. Recurso julgado sob a sistemática do art. 1.036 e seguintes do
CPC/2015 e art. 256-N e seguintes do Regimento Interno deste STJ.
(STJ, Resp. 1643856 / SP, Ministro OG FERNANDES, S1 - PRIMEIRA
SEÇÃO, 13/12/2017).

e. Leitura sugerida

- MEDINA, José Miguel Garcia. Direito Processual Civil Moderno. Ed.


RT. 2016.

- NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil


Comentado artigo por artigo. 1ª ed. Salvador: Editora JusPodivm,
2016.

- SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil –


Lei nº 13.105, de 16.03.2015 – Vol. único. 3ª ed. São Paulo: Saraiva,
2017. (Capítulos 1 e 2).
- SCARPINELLA BUENO, Cassio. Comentários ao Código de Processo
Civil – Vol. I. São Paulo: Saraiva, 2017.

- THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil –


Vol. I. 56ª edição. São Paulo: Editora Forense, 2015 (Capítulo III –
Da função jurisdicional).

f. Leitura complementar

- HELLMAN, Rene Francisco. O duplo grau de jurisdição e a


jurisprudência defensiva. In Empório do Direito. 2018.
http://emporiododireito.com.br/leitura/o-duplo-grau-de-jurisdicao-e-
a-jurisprudencia-defensiva-por-rene-francisco-hellman. Acesso em
27/01/2018.

- LEITE, Gisele. Jurisdição, Ação e Condições da Ação no Novo CPC.


In Jusbrasil. 2015.
https://professoragiseleleite.jusbrasil.com.br/artigos/175609099/juris
dicao-acao-e-condicoes-da-acao-segundo-o-novo-cpc.
Acesso em 27/01/2018.

- NUNES, Jorge Amaury Maia . NÓBREGA, Guilherme Pupe da . A


Clássica Teoria Geral do Processo e o Novo CPC. A arbitragem cabe
no conceito de jurisdição? in Migalhas. 2016.
http://www.migalhas.com.br/ProcessoeProcedimento/106,MI239728,
61044A+classica+teoria+geral+do+processo+e+o+novo+CPC+A+ar
bitragem+cabe+no . Acesso em 27/01/2018.

- OTTONI, Maria Clara Góis Campos. O acesso à Justiça sob a


perspectiva do novo Código de Processo Civil. 2016.
http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,o-acesso-a-justica-sob-a-
perspectiva-do-novo-codigo-de-processo-civil,55842.html. Acesso em
27/01/2018.

- SCARPINELLA BUENO, Cassio. Ainda sobre a Revisão do Novo


CPC.2015.In Jota. Acesso em 27/01/2018.
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/ainda-sobre-a-
revisao-do-novo-cpc-14032015

- TAPOROSKY FILHO, Paulo Silas. O direito comparado na jurisdição


constitucional contemporânea. In Empório do Direito. 2017.
http://emporiododireito.com.br/leitura/direito-comparado-na-
jurisdicao-constitucional-contemporanea-por-larissa-tomazoni-e-
paulo-silas-taporosky-filho. Acesso em 27/01/2018.

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