Contestação

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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 25ª VARA CÍVEL DA COMARCA


DA CAPITAL/RJ.

TJRJ CAP CV25 201900880642 08/02/19 08:17:56137286 PROGER-VIRTUAL


Processo nº: 0276497-39.2018.8.19.0001

VIAÇÃO NOSSA SENHORA DE LOURDES S/A, empresa


concessionária de serviço de transporte urbano de passageiros, com sede
na Rua Salviano Valente, 85, Penha Circular, nesta cidade do Rio de
Janeiro, inscrita no CNPJ/MF sob o n.º 33.474.065/0001-28, nos autos da
Ação Indenizatória proposta por JOSÉ ITAMAR DINIZ SOUZA, vem por
seus advogados, com fundamento nos arts. 335 e seguintes do Código de
Processo Civil, oferecer sua

CONTESTAÇÃO

aos pedidos elaborados pela Autora, aduzindo, para tanto, as seguintes


razões de fato e de direito.

Síntese da Inicial

Alega a parte autora que, no dia 13/10/2016, por volta das


22h40min, encontrava-se no interior do coletivo pertencente a primeira ré,
que fazia a linha 342 (Jardim América x Castelo), quando na altura da
Avenida Presidente Vargas, na Cidade Nova, este se envolveu numa colisão
com outro coletivo também pertencente a 1ª ré, de número de ordem
B32738.
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Sustenta que, após o impacto, foi socorrido pelos bombeiros e


encaminhado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, onde realizou exames
e foi diagnosticada fratura exposta dos ossos do ante braço direito,
necessitando realizar cirurgia, sendo medicado e recebendo alta no dia
17/10/2016.

Por tais fatos, requereu o Autor a condenação das Rés,


solidariamente, ao pagamento de lucro cessante, pensão vitalícia, dano
estético, custeio de todo e qualquer tratamento estético necessário, custas
processuais e honorários advocatícios.

Preliminarmente - Da Ilegitimidade Passiva ad causam da 2ª Ré


(art. 485, VI do CPC)

Acerca da legitimidade ad causam, lecionam Luiz Rodrigues


Wambier, Flávio Renato Correa de Almeida e Eduardo Talamini:

“(...) como regra geral, é parte legítima para exercer o


direito de ação aquele que se afirma titular de determinado
direito que precisa da tutela jurisdicional, ao passo que será
parte legítima, para figurar no polo passivo, aquele a quem
caiba a observância do dever correlato àquele hipotético
direito (in Curso Avançado de Processo Civil. 9ed. São Paulo:
RT, 2007, p.139).”

E ainda, Vicente Greco Filho:

“Consiste a legitimatio ad causam na pertinência subjetiva da


ação, no dizer de Alfredo Buzaid, isto é, no fato de estar,
aquele que pede, autorizado a demandar sobre o objeto da
demanda. Normalmente, tem legitimidade para a causa
aquele que é titular ou sujeito da relação jurídica objeto do
processo e sofreu a lesão de direito. Diz-se, então, nesse
caso, que a legitimação é ordinária (...).”

E mais adiante continua:

“A legitimação, para ser regular, deve verificar-se no pólo


ativo e no pólo passivo da relação processual. O autor deve
estar legitimado para agir em relação ao objeto da demanda
e deve ele propô-la contra o outro pólo da relação jurídica
discutida, ou seja, o réu deve ser aquele que, por força da
ordem jurídica material, deve, adequadamente, suportar as
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conseqüências da demanda (in Direito Processual Civil


Brasileiro. V.1. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 43).”

Veja-se que a legitimidade de parte deve ser analisada com


base nos elementos da lide, com relação ao próprio direito de ação,
afastando-se do conteúdo da relação jurídica material deduzida, dado que o
direito de estar em juízo caracteriza-se pela autonomia e abstração.
Portanto, basta à parte afirmar seu direito contra quem, supostamente,
deve suportá-lo e resiste à pretensão.

Trata-se da denominada teoria da asserção, acolhida pelo


ordenamento jurídico brasileiro, conforme entendimento do c. STJ:

“A teoria da asserção, adotada pelo nosso sistema legal,


permite a verificação das condições da ação com base nos
fatos narrados na petição inicial (STJ - REsp 753.512 -
(2005/0085707-8) - 4ª T. - Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO
DE NORONHA - DJe 10.08.2010 - p. 1356).”

Assim, as condições da ação são vistas in status assertionis


("teoria da asserção"), ou seja, conforme a narrativa feita pelo
demandante, na petição inicial.

Com efeito, se o evento ocorreu da forma como


noticiado, resta claro, conforme esclarecido pelo próprio Autor na
exordial, que não houve qualquer contribuição, ainda que mínima,
da Viação Nossa Senhora de Lourdes S/A.

Comprovado nos autos que a linha de ônibus na qual


ocorreu o infortúnio a ensejar o pedido indenizatório de origem é
operada pela VIAÇÃO PAVUNENSE SA, ora 1ª Ré, não se justifica
que a empresa Viação Nossa Senhora de Lourdes seja chamada a
responder pela demanda.

Deste modo, a 2ª Ré é parte ilegítima para figurar no


pólo passivo da presente demanda, haja vista que o coletivo
causador do acidente não pertence à esta Contestante, mas sim à
VIAÇÃO PAVUNENSE SA, conforme alegado pelo próprio Autor na
exordial.
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Assim, ante a ausência de ato ilícito praticado pela 2ª Ré,


inexiste o nexo causal, o que justifica o não acolhimento dos pedidos
iniciais, porque também não há qualquer liame com a conduta que,
supostamente, causou o evento.

Ora, o simples fato da 2ª Ré integrar o consórcio


responsável pela prestação dos serviços de transporte de
passageiros na região norte da Cidade do Rio de Janeiro não
justifica sua manutenção no polo passivo da demanda, visto que é a
VIAÇÃO PAVUNENSE SA a empresa responsável pela
operacionalização da linha de ônibus que causou o infortúnio
alegado.

Cumpre esclarecer ainda que as transportadoras que


participam do Consórcio não respondem solidariamente pela prestação do
serviço de transporte coletivo por ônibus, porquanto cada consorciada
opera individualmente os serviços, havendo tão-só solidariedade
em relação ao Poder Concedente (art. 19, § 2º, da Lei 8.987/95).

Este entendimento pode ser extraído da análise do art. 19, §


2°, da Lei nº 8.987/95, eis que a solidariedade entre empresas
consorciadas se mostra apenas perante a Administração Pública, que pode
exigir de qualquer delas o adimplemento das obrigações assumidas
perante o Poder Público, não havendo fundamento jurídico para que se
cogite de solidariedade das obrigações perante terceiros.

Neste sentido é a referida regra, in verbis:

“Art. 19. Quando permitida, na licitação, a participação de


empresas em consórcio, observar-se-ão as seguintes
normas:
(...) § 2o A empresa líder do consórcio é a responsável
perante o poder concedente pelo cumprimento do
contrato de concessão, sem prejuízo da responsabilidade
solidária das demais consorciadas.“

Além disso, a simples constituição de consórcio não gera


automaticamente a solidariedade entre as consorciadas, sendo necessária a
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previsão contratual para que respondam solidariamente, nos termos do art.


278 da Lei nº 6.404/76, in verbis:

“Art. 278. As companhias e quaisquer outras sociedades,


sob o mesmo controle ou não, podem constituir consórcio
para executar determinado empreendimento, observado o
disposto neste capítulo.
§ 1o O consórcio não tem personalidade jurídica e as
consorciadas somente se obrigam nas condições previstas
no respectivo contrato, respondendo cada uma por suas
obrigações, sem presunção de solidariedade.“

Assim, para que haja solidariedade entre empresas


consorciadas, necessária cláusula expressa no contrato de constituição do
consórcio ou existência de norma legal que a imponha (art. 264 do Código
Civil), como ocorre especificamente nas obrigações tributárias, ante a
edição da Medida Provisória nº 510/10.

Frise-se que a cláusula 4ª do Contrato de Constituição do


consórcio não impõe a aplicação da responsabilidade solidária prevista no
art. 265 do Código Civil.

Com efeito, aduz a referida clausula contratual:

“4.1. As consorciadas comprometem-se desde já a empregar


todos os seus esforços para a perfeita execução do objeto
contratual e responderão solidariamente pelos atos
praticados em CONSÓRCIO, tanto na fase de licitação
quando na execução do contrato.”

Nota-se, analisando a referida cláusula do Contrato de


Constituição do Consórcio, que a aduzida responsabilidade solidária é
encontrada apenas nos atos praticados em Consórcio, e não naqueles
praticados individualmente por cada empresa na execução do
serviço.

No intuito de corroborar tal alegação, importante trazer à baila


outra cláusula contratual neste sentido:

“10.3. (...)
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f) cada uma das consorciadas será responsável, com relação


a seus empregados, agentes e representantes, pelo
cumprimento das respectivas obrigações legais, incluindo,
mas não se limitando, às responsabilidades de cunho
trabalhista, tributário, previdenciário, fiscal e àquelas
relativas a outros Contratos, que não o de concessão.
(grifos nossos)”

Verifica-se, diante da cláusula 10.3.f, que as empresas


consorciadas não são solidárias nas obrigações “relativas a outros
Contratos”, como aquele celebrado com o consumidor final, mas
somente respondem solidariamente PERANTE O PODER PÚBLICO
SOBRE ATOS PRATICADOS EM CONSÓRCIO.

Daí que, inexistindo norma legal que imponha a


responsabilidade solidária especificamente na execução do serviço de
transporte coletivo de passageiros por ônibus entre as empresas
consorciadas, impossível que se mantenha a 3ª Ré no polo passivo da
presente demanda.

A operação do serviço de transporte é ato individual que cada


empresa consorciada pratica, isolada e individualmente, não podendo ser
considerado “ato praticado em consórcio”.

Há muito o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, diante da


larga experiência mineira na criação e gestão de consórcios, vem se
posicionando no sentido de inexistir solidariedade em casos como o
presente, conforme demonstrado no aresto abaixo:

“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - RESCISÃO DE CONTRATO -


RESTITUIÇÃO DO PAGAMENTO- RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA - INEXISTÊNCIA - ART. 265 DO NOVO CÓDIGO
CIVIL - SENTEÇA REFORMADA
São duas as fontes da responsabilidade solidária no
Direito Civil brasileiro, conforme disposto no artigo
265 do novo Código Civil, quais sejam, a lei e o
contrato. Se nem por lei e, tampouco, por contrato está a
construtora solidariamente com a administradora de
CONSÓRCIO obrigada à restituição das parcelas pagas pelos
consorciados, por não constar na escritura pública de cessão
de direitos creditícios, a cota pertencente aos consorciados
porventura ressarcidos, afastada resta a hipótese de
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SOLIDARIEDADE. (...) Dispõe o artigo 265 do Novo Código


Civil , o seguinte: "Art. 265. A SOLIDARIEDADE não se
presume; resulta da lei ou vontade das partes."
Compulsando detidamente os autos, não constatei a alegada
SOLIDARIEDADE entre a apelante e a empresa AF
Administradora de Consórcios Ltda, pelo que não há que se
falar em responsabilidade da apelante à restituição dos
valores pagos a título de CONSÓRCIO aos
consorciados/apelados, conforme entendimento adotado
pelo douto Juiz monocrático quando da prolação da sentença
combatida.
E isso porque, segundo ensinamento da ilustre Maria Helena
Diniz: "em nosso direito será inadmissível a
SOLIDARIEDADE presumida, resultado ela da lei ou de
vontade das partes, por importar um agravamento da
responsabilidade dos devedores, que passarão a ser
obrigados pelo pagamento total da prestação. Os vários
credores ou vários devedores acham-se unidos ou por força
da lei ou por ato de vontade para a consecução de um
objetivo comum. A SOLIDARIEDADE ativa é sempre
convencional, sendo oriunda de contrato ou de testamento,
logo não pode ser instituída por lei. Se a lei não o impuser
ou o contrato não a estipular, não se terá a
SOLIDARIEDADE". (Código Civil Anotado, Maria Helena
Diniz, editora Saraiva, pg. 240). (...) Ante a tudo exposto,
não há como manter condenação da apelante à restituição
dos valores pagos pelos consorciados, uma vez que a
SOLIDARIEDADE não restou configurada.
Apelação Cível nº 4479558-51.2000.8.13.0000, da 12ª CC
do TJMG, relator Des. NILO LACERDA.”

Cumpre informar ainda que, já houve decisão publicada em


caso semelhante (processo nº 0009474-74.2011.8.19.0205 - Oseas dos
Santos de Paula x SANTA CRUZ TRANSPORTES S/A e Auto Viação Jabour
Ltda.), na qual a empresa líder do Consórcio foi excluída do pólo passivo
da ação em razão de sua ilegitimidade para figurar na demanda,
não sendo vislumbrada a responsabilidade solidária pelo evento
ocorrido com a efetiva operadora, senão vejamos:

“(...) Ao pregão, presente o autor e seu patrono, ausente a


primeira ré que sequer foi citada, pois segundo a
documentação acostada pela 2ª ré as fls.66/69, informa que
o consórcio visa apenas a responsabilidade administrativa,
na divisão de áreas pelo poder concedente. (...)Pelo MM. Dr.
Juiz foi proferido o seguinte despacho: ´A ré Santa Cruz
Transportes S/A indicada pelo autor é pessoa jurídica
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inexistente e não é representada pelo Expresso Pégaso Ltda,


que apenas é empresa líder do consórcio Santa Cruz, para a
celebração da concessão dos serviços de transportes
coletivos da cidade do RJ, mas a prestadora de serviço
mantém a sua personalidade jurídica independente e
responde pelos seus passageiros e terceiros pelos danos
eventualmente causados. Da narrativa da inicial deflui-se
que o autor foi atingido por um veiculo da Auto viação Ltda,
que não nega o fato, sendo via de conseqüência o autor
carecedor da ação em relação a empresa inexistente Santa
Cruz Transporte S/A e da indicada representa Expresso
Pegaso Ltda, pois a ilegitimidade passiva é evidente,
acarretando a extinção do processo sem a resolução do
mérito nos termos do artigo 267, VI do CPC. “

Isso demonstra que os tribunais já vêm reconhecendo a


ilegitimidade dos Consórcios e empresas consorciadas para figurar em tais
demandas, uma vez que, os Consórcios não têm ingerência na execução do
serviço, que cabe exclusivamente (e individualmente) a cada empresa, que
se torna, a partir do recebimento das linhas, responsável por todas as
obrigações advindas da operação do serviço.

Logo, considerando os fatos narrados e os argumentos


jurídicos apresentados, resta claro que a 3ª Ré não poderá ser obrigada a
realizar obrigação impossível, posto que não pode interferir na forma de
execução do serviço prestado pela 1ª Ré, diante do que aduz os contratos
de constituição dos consórcios.

Nestas condições, o processo deve ser extinto em


relação a Viação Nossa Senhora de Lourdes, ora 2ª Ré, sem
resolução de mérito, em razão da ausência de condições da ação.

Desta forma, requer a Ré o acolhimento da preliminar arguida


para que seja extinta a presente ação por sua manifesta ilegitimidade
passiva, nos moldes do artigo 485, inciso VI do CPC.

Da Realidade dos Fatos

Na remotíssima hipótese de V. Exa. não acolher a preliminar


suscitada, o que somente se aceita ad argumentandum e pelo princípio da
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eventualidade, no mérito, o fato é que a presente ação não merece


prosperar.

Excelência, data venia, o acidente narrado na inicial não se


encontra nos registros da 3ª Ré e sequer envolveu um de seus veículos ou
prepostos.

O fato noticiado é alheio ao serviço prestado pela 2ª Ré,


visto que o mesmo se deu por fato de terceiro, sendo o Autor
consumidor de fato da VIAÇÃO PAVUNENSE SA, ora 1ª Ré, que
nenhuma ligação tem com esta Contestante, o que significa que
pretende o Autor imputar à Suplicada responsabilidade que não é
sua, pois sequer havia um coletivo da 2ª Ré no local do evento.

Assim, ainda que se lamente o ocorrido, não há como se


amparar os pleitos indenizatórios trazidos na exordial, sendo inconcebível
responsabilizar a 2ª Ré por fato no qual não participou para sua ocorrência,
impondo-se a improcedência do pedido, haja vista o rompimento do nexo
de causalidade entre a conduta desta Ré e os danos sofridos pelo Autor.

Cumpre à Ré ressaltar, Excelência, que conforme se


verifica na dinâmica do fato contida na exordial, o coletivo
envolvido no acidente pertencia à empresa VIAÇÃO PAVUNENSE SA
(1ª Ré).

Desta maneira, nenhuma responsabilidade poderá ser


imputada à 2ª Ré, inexistindo nexo de causalidade entre a conduta da
Demandada e os danos sofridos pelo Autor, não podendo ser
responsabilizada direta ou indiretamente por qualquer dano, sendo a
improcedência do pedido medida de justiça.

Dos Lucros Cessantes

Requer a Autora a condenação das Rés ao pagamento de


lucros cessantes pela incapacidade total e temporária de 100% (cem por
cento).
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Não há que se cogitar a ocorrência de lucros cessantes, uma


vez que a parte autora não juntou aos autos contra cheque do referido mês
do acidente para comprovar que houve o desconto de tal dia de sua
remuneração.

Como é cediço, lucros cessantes não se presumem,


constituindo sua comprovação pressuposto indispensável da obrigação de
indenizar, o que não restou evidenciado. Em outras palavras: não há
relação jurídica concreta no presente caso a justificar a condenação da Ré
em lucros cessantes, uma vez que é incapaz de demonstrar sua ocorrência.

A parte autora não fez prova cabal de fato constitutivo de seu


direito, não merecendo a pretensão reparatória por danos materiais a
chancela judicial.

A dúvida ou insuficiência de prova quanto a fato constitutivo


milita contra aquele que a alega, parte autora a luz do que prevê o artigo
373, inciso I, do CPC.

Sobre a questão, assim se pronunciou Sérgio Cavalieri Filho:

Consiste, (...), o lucro cessante na perda do ganho


esperável, na frustração da expectativa de lucro, na
diminuição potencial do patrimônio da vítima. Pode decorrer
não só da paralisação da atividade lucrativa ou produtiva da
vítima, como, por exemplo, a cessação dos rendimentos que
alguém já vinha obtendo da sua profissão, como, também,
da frustração daquilo que era razoavelmente esperado. O
cuidado que o juiz deve ter neste ponto é para não confundir
lucro cessante com lucro imaginário, simplesmente hipotético
ou dano remoto, que seria apenas a consequência indireta ou
mediata do ato ilícito.

Adiante, assevera que:

O nosso Código Civil, no já citado art. 402, consagrou o


princípio da razoabilidade ao caracterizar o lucro cessante,
dizendo ser aquilo que razoavelmente se deixou de lucrar.
Razoável é aquilo que o bom-senso diz que o credor lucraria,
apurado segundo um juízo de probabilidade, de acordo com o
normal desenrolar dos fatos. Não pode ser algo meramente
hipotético, imaginário, porque tem que ter por base uma
100

situação fática concreta" (in Programa de Responsabilidade


Civil, 7ª edição, São Paulo: Atlas, 2007, n° 18.2, pág. 72, e
n° 18.3, pág. 73).

Esse é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.


AMPLIAÇÃO DE PARQUE INDUSTRIAL COM RECURSOS DO
FCO (FUNDO CONSTITUCIONAL DO CENTRO-OESTE) E DO
BNDES (BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO E SOCIAL). AUSÊNCIA DE REPASSE DOS
RECURSOS PELO BANCO RÉU, AGENTE FINANCEIRO.
AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DOS LUCROS CESSANTES,
QUE NÃO PODEM SER CARACTERIZADOS COMO DANOS
HIPOTÉTICOS E SEM SUPORTE NA REALIDADE CONCRETA
EM EXAME. I - Correspondem os lucros cessantes a tudo
aquilo que o lesado razoavelmente deixou de lucrar, ficando
condicionado, portanto, a uma probabilidade objetiva
resultante do desenvolvimento normal dos acontecimentos. A
condenação a esse título pressupõe a existência de previsão
objetiva de ganhos na data do inadimplemento da obrigação
pelo devedor. No caso, os lucros alegados decorrem de
previsões baseadas em suposta rentabilidade de uma
atividade empresarial que nem mesmo se iniciou. Assim
sendo, não se pode deferir reparação por lucros cessantes se
estes, em casos como o dos autos, configuram-se como dano
hipotético, sem suporte na realidade em exame, da qual não
se pode ter a previsão razoável e objetiva de lucro, aferível a
partir de parâmetro anterior e concreto capaz de configurar a
potencialidade de lucro.
II - Recurso Especial parcialmente provido. (REsp 846455 /
MS – Recurso Especial 2006/0124674-4 – Terceira Turma –
Rel.: Ministro CASTRO FILHO – Julgamento: 10/03/2009 –
Data da Publicação/Fonte: DJe 22/04/2009). Grifei.

Sobre o assunto, vem se pronunciando assim a jurisprudência


os Tribunais pátrios:

“In casu, não houve a comprovação do lucro cessante e


o dano emergente não restou integralmente
comprovado, de modo que não há como o réu ser
condenado nos termos pretendidos pelo autor.” (TJMS –
Apelação Cível n. 2006.003237-3, Rel. Des. Paulo Alfeu
Puccinelli, 3ª Turma Cível, j. 10.04.2006)
“Precedentes deste Tribunal e do STJ. Inexistência de
prova de prejuízo efetivo, pelo que impossível a
condenação da sociedade de economia mista ao
101

pagamento de lucros cessantes. Caracterização de


sucumbencia recíproca, não havendo que se falar em
condenação de qualquer uma das partes ao pagamento dos
onus da sucumbência. Sentença integralmente mantida.
Recursos não providos.” (TJRJ – Apelação Cível n.
2005.001.28213, Rel. Des. Nanci Mahfuz, 12ª Câmara Cível,
j. 25/11/2008)

Portanto, à míngua de provas e com supedâneo no


entendimento jurisprudencial, resta patente a improcedência do pleito
quanto aos lucros cessantes pretendidos.

Da Inexistência de Pensionamento

A parte Autora formulou pedido de condenação das Rés ao


pagamento de pensionamento vitalício.

Como se sabe, o ressarcimento do dano material objetiva a


recomposição do patrimônio do lesado, cuja apreciação deve partir de uma
lesão concreta. Nestas condições, caberia à parte autora comprovar que,
em razão do acidente, teve o seu rendimento diminuído, já que o objetivo
da verba reparatória é devolver ao lesado o status quo em que se
encontrava antes do evento.

Ocorre que a parte Autora não demonstra nos autos qualquer


tipo de perda salarial ou até mesmo que o demandante esteja afastado de
suas atividades laborativas devido ao acidente narrado, o que não justifica o
acolhimento do pleito de pensionamento.

Em momento algum restou comprovada a incapacidade


laborativa da parte Autora, ainda que parcial ou temporária. E, ainda, se
comprovada estivesse, não existe comprovação do nexo causal entre
esta, o suposto evento danoso e a conduta da Consorciada Ré.

Diante de tais fatos, uma vez que não comprovada a


incapacidade laborativa da Demandante, bem como o nexo causal, ou ainda
perda real de rendimentos, não há o que se falar em indenização material a
título de pensionamento mensal.
102

Dessa forma, na remota hipótese da concessão desta por


incapacidade, SE ATESTADO POR EXAME PERICIAL, ainda sim tal verba não
é devida, diante da ausência de comprovação da diminuição da condição
financeira da parte autora.

Pelo exposto, não havendo incapacidade laborativa


comprovada ou perda salarial, nem mesmo comprovação do nexo causal
entre estas e a conduta da Ré, a improcedência deste pedido é de rigor.

Do Dano Estético

A parte Autora formulou, também, pedido de condenação das


Rés ao pagamento de dano estético.

Ocorre que a parte autora não comprovou nos autos o efetivo


dano, devendo este ser comprovado através de perícia não somente pela
simples narrativa.

Pelo exposto, não havendo comprovação do dano estético


alegado, requer a improcedência deste pedido é de rigor.

Do Custeio dos Tratamentos Médicos Necessários ao


Restabelecimento da parte Autora

A parte Autora requereu a condenação das Rés ao pagamento


dos valores gastos com tratamentos médicos e congêneres.

O ponto de partida para a obtenção de qualquer espécie de


ressarcimento é a comprovação, por aquele que o pleiteia, de que sofreu
um dano e, naturalmente, que este dano foi provocado por aquele
contra quem é pleiteada a indenização. Aliás, esta é a regra geral,
mesmo para as ações com objetos diversos, não necessariamente
indenizatórias, tal qual disciplinado pelo Código de Processo Civil.

Como se percebe facilmente pela leitura da Inicial, a pretensão


autoral de obter indenização por dano material é inteiramente descabida,
103

tanto pela própria narrativa dos fatos, como pelos documentos por ela
anexados.

A parte autora não logrou êxito, em momento algum, em


comprovar a existência da prática de ato ilícito por parte da 2ª Ré, bem
como do nexo de causalidade entre a conduta da 2ª ré e o suposto
evento danoso.

Não há como se cogitar a pretensão de ressarcimento sem a


comprovação cabal de tais elementos, sendo certo que a premissa maior
para autorizar a reparação de danos está assentada na prática de um ato
ilícito, omissivo ou comissivo.

Do mesmo modo, tanto a doutrina quanto a jurisprudência


reconhecem que a responsabilidade civil de natureza objetiva, por força do
art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, exige a demonstração do nexo
de causalidade e do dano sofrido, requisitos que não estão presentes no
caso sub oculi.

Em casos como o presente, o Magistrado deve analisar, com


cautela, a documentação existente a comprovar as alegações de perda
patrimonial em razão de acidente, sob pena de gerar verdadeiro
enriquecimento sem causa.

Portanto, para que o pleito de ressarcimento pelos danos


materiais seja acolhido tal como pleiteado, deverá restar demonstrado,
através de exame pericial, que a parte Autora necessita de tratamento
médico.

Assim, tendo em vista que o dano material deve partir de uma


lesão concreta, necessária comprovação dos valores desprendidos, sob pena
de não acolhimento do pleito de reparação material, no que tange ao pedido
de pagamento de todas as despesas necessárias ao seu pronto
restabelecimento.

Frise-se que os gastos médicos futuros serão avaliados de


acordo com as conclusões da perícia, não havendo forma de concretizar um
104

pleito que passará por avaliação de profissional capacitado e da confiança


do juízo.

Daí que a verba reparatória material deve ser restringida ao


que o lesado efetivamente desembolsou, caso contrário estaria se
locupletando de forma ilícita. Dessa forma, não se vislumbra qualquer falha
grave ou ato ilícito cometido pela empresa 2ª ré.

Assim, deverá ser julgado improcedente o pedido de


ressarcimento aos valores gastos com tratamentos médicos e congêneres a
título de indenização por danos materiais.

Dos Honorários Advocatícios

A parte Autora requereu a condenação da Ré ao pagamento de


20% sobre o valor da condenação, a título de honorários advocatícios.

Porém, o art. 85 do CPC, em seu §2º, determina que para a


fixação da mencionada verba deve ser observado, dentre outros elementos,
a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o
tempo exigido para o seu serviço.

Tratando-se de ação baixa complexidade, como a presente,


não se justificaria, na remota hipótese de condenação, a fixação de
honorários advocatícios em grau máximo, como pretende a Autora.

CONCLUSÃO

Inicialmente, requer seja julgado extinta a presente


demanda, sem resolução de mérito, na forma do art. 485, VI, do CPC,
ante a inequívoca ilegitimidade passiva da Viação Nossa Senhora de
Lourdes S/A para figurar no polo passivo da demanda, uma vez que não
tem qualquer ingerência na operação do serviço de transporte coletivo de
passageiros por ônibus prestado pela 1ª Ré;

Pelo exposto, pede e espera que Vossa Excelência julgue


improcedentes os pedidos autorais, como forma da mais salutar justiça.
105

Protestará a Ré pela produção de provas em momento


oportuno, uma vez que a presente ação corre pelo rito comum.

Por fim, para satisfação do art. 77, V do CPC, informa que seus
patronos receberão intimações na Rua Salviano Valente, 85, Penha Circular,
Rio de Janeiro, devendo as publicações futuras serem feitas em nome de
Marcos Antonio dos Santos Pereira, inscrito na OAB/RJ sob o nº.
150.212, sob pena de nulidade.

Rio de Janeiro, 08 de Fevereiro de 2019.

Larissa Moreira
Aux. Jurídico

Marcos Antonio dos Santos Pereira


OAB/RJ 150.212

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