Ectoplasmia e Clarividencia
Ectoplasmia e Clarividencia
Ectoplasmia e Clarividencia
2 – Gustave Geley
Ectoplasmia e Clarividência
Lançamento original:
L’Ectoplasmie et Clairvoyance
108, Boulevard Saint Germain, 108
Libraire Félix Lacan
Paris — 1924
Versão digitalizada
© 2022
Distribuição gratuita:
Ectoplasmia
e
Clarividência
Observação e experiências pessoais
* * *
Com 51 gravuras de texto e 103 figuras
Paris
Libraire Félix Lacan
108, Boulevard Saint Germain, 108
1924
4 – Gustave Geley
Sumário
Gustave Geley — pág. 8
Prefácio — pág. 12
Prólogo — pág. 16
PRIMEIRA PARTE
CLARIVIDÊNCIA
Introdução — pág. 46
SEGUNDA PARTE
ECTOPLASMIA
III. Atas por extenso de algumas das sessões realizadas em meu laboratório
Sessão de 11 de janeiro de 1918, às dezessete
Sessão de 15 de janeiro de 1918, às vinte e trinta
Sessão de 7 de fevereiro de 1918
Sessão de 12 de fevereiro de 1918, às dezessete
Sessão de 26 de fevereiro de 1918, às dezessete
Sessão de 1° de março de 1918
Sessão de 5 de março de 1918, às dezessete
Sessão de 8 de março, às dezessete
Sessão de 11 de março de 1918, às dezessete
Gustave Geley
(1868 - 1924)
Prefácio
2Chéroux, Clément et alii. The perfect médium. Photography and the occult. New Haven
and London: Yale University Press. 2005. 288p.
14 – Gustave Geley
33Foi dirigente da Federação Espírita Brasileira: Diretor, março de 2004 a março de 2012;
vice-presidente, de março de 2012 a março de 2013; presidente interino, de maio de 2012
a março de 2013; presidente efetivo, de março de 2013 a março de 2015 — Nota do Editor.
16 – Gustave Geley
Prólogo
II. — O médium.
penosa para ele, e sua desconfiança será maior quanto mais ignorante
ele for.
Um exemplo simples mostrará como é legítima essa
desconfiança:
Nada mais frequente em uma sessão de ectoplasmia do que o caso
de um experimentador imprudente que puxa uma lâmpada elétrica do
bolso abruptamente e projeta a luz sobre o médium.
O que acontece nesse caso? O médium acorda, saindo do transe
brutalmente. Se havia ectoplasma, ocorre uma entrada abrupta, sem
transição, da substância exteriorizada, no organismo do médium.
Esta reintegração brusca é sempre acompanhada por uma
comoção nervosa muito acentuada, dolorosa e enervante. Um
incidente dessa ordem cansa infinitamente o médium e
frequentemente suprime suas faculdades por vários dias. Notemos de
passagem que o choque doloroso ocorre em função, não da
intensidade da luz projetada, mas de sua duração. Um relâmpago
deslumbrante de magnésio, que dura uma fração de segundo, afeta o
médium muito menos do que a projeção de uma simples lâmpada de
bolso, que não poderia ser instantânea, pois seu objetivo é permitir
que o sujeito seja observado. Mas é preciso ter conhecimento disso, e
os experimentadores novatos o ignoram completamente.
Com mais razão, explorações brutais ou pegar as formas
materializadas com a mão, repercutem no sistema nervoso do
médium como golpes extremamente dolorosos.
Se o médium, com ou sem razão, teme que aconteçam essas
manobras ou outras semelhantes, adormece mal ou não adormece. O
transe é muito incompleto ou nulo e a sessão fracassa.
d) O médium deve estar confortável — A verificação, mesmo
sendo efetiva e plenamente satisfatória, não deve causar desconforto
ao médium, muito menos dor que o impeça de adormecer. O estado de
“transe” ectoplásmico consiste em um estado hipnótico pouco
profundo e muito instável, que qualquer manobra inoportuna ou
desajeitada dos experimentadores pode aniquilar.
É sempre bom, tanto para a verificação quanto para o conforto do
29 – Ectoplasmia e Clarividência
médium (aqui as duas considerações vão unidas), que ele seja despido
antes da sessão e vestido com uma roupa quente e ampla. A
temperatura da sala deve ser elevada sem exagero.
As outras condições podem variar de acordo com os costumes do
sujeito. Alguns dormem melhor com o estômago vazio e outros depois
de comer. No que diz respeito às condições secundárias, é importante,
sobretudo, ter em consideração os modos habituais de conduta do
sujeito examinado.
IV. — Os experimentadores.
V. — Vigilância e verificação.
truques de prestidigitação.
Quais são, então, as condições necessárias para uma boa
prestidigitação? Elas são três:
1. Liberdade de movimento do prestidigitador;
2. Sala ou objetos manipulados;
3. Cumplicidade.
As duas últimas condições são eliminadas pelo fato de o médium
trabalhar com sábios em um laboratório ou em uma sala segura.
Um truque improvisado (fios amarrados, etc.) não é fácil de
esconder e, mesmo conseguindo-o, nada poderia dar além de
resultados muito medíocres.
Em qualquer caso, o médium não deve entrar na sala de
experiências antes do início da sessão e sempre com os
experimentadores.
A vigilância pessoal do médium é muito simples de realizar
quando não há que temer o uso de dispositivos falsos ou a
cumplicidade.
Em primeiro lugar, o médium deve ser despido e depois vestido
com um traje dos experimentadores, previamente verificado por eles.
Não é, de forma alguma, necessário, em minha opinião, que seja uma
malha; um pijama sem bolsos, amplo e quentinho, parece-me
suficiente.
Deve vestir-se na presença de pelo menos dois
experimentadores.
Na sala onde são realizadas as sessões, a vigilância principal, ou
melhor, essencial, do médium é feita segurando suas mãos. Digo as
mãos, e não os pulsos, por dois motivos: primeiro, os dedos livres
podem executar alguns movimentos fraudulentos; segundo, o famoso
truque de substituição das mãos não é realizável quando os dedos do
médium são segurados. Na verdade, é fácil para o médium fraudulento
fazer passar seu pulso direito pelo esquerdo e vice-versa.
É impossível, por pouca que seja a atenção dos vigias, fazer passar
uma mão direita por mão esquerda, nem o polegar pelo dedo mínimo.
Segurar as mãos do médium torna impossível qualquer fraude de
37 – Ectoplasmia e Clarividência
importância.
Com os pés ou com a cabeça, um sujeito um tanto preparado em
acrobacia ou prestidigitação só pode produzir fenômenos
elementares que, em caso de dúvida, devem ser ignorados.
No entanto, é sempre bom ficar de olho nas pernas e nos pés.
Geralmente isso é conseguido sem dificuldades sérias.
Deve-se notar que não falo em medidas de vigilância
instrumental: jaula, ligaduras, correntes, selos, lacres, bolsas e redes
envolvendo o médium, fios elétricos, etc.
Em minha opinião, esses meios instrumentais devem ser
rejeitados, exceto, é claro, em certas sessões de demonstração pura,
como aquelas do I. M. I. com Guzik.
Eu rejeito na experimentação metapsíquica, como medida geral,
todos esses procedimentos duros, por dois motivos:
a) Eles são para o médium uma causa muito séria de desconforto,
suscetível de impedir ou limitar o transe. Do ponto de vista moral,
são deprimentes e enervantes: a desconfiança brutalmente
exposta arrisca a inibição das delicadas faculdades supranormais.
b) Nenhum desses meios, exceto as ligaduras seladas ou as
redes precintadas, dá uma verdadeira segurança. (É sabido que
certos prestidigitadores sabem como se libertar das ligaduras
mais sutis.) Nenhum deles equivale a simplesmente segurar as
mãos.12
VII. — Fraudes.
12 Acho inútil falar em exame retal ou vaginal, que são procedimentos excepcionais,
aplicáveis aos casos especiais.
38 – Gustave Geley
consciente e inconscientemente.
A vigilância, tal como a descrevemos, certamente impede a fraude
consciente.
Como Ochorowicz escreveu, “a fraude consciente não pertence à
ciência. É fácil de verificar geralmente, quando não se trata de uma
exibição pública observada de longe. Um registro bem feito antes e
depois da sessão, a eliminação de cúmplices e uma vigilância ativa dos
movimentos do prestidigitador, com conhecimento dos truques
profissionais, é suficiente. Em casos simples (sem aparelhos), podem,
no entanto, serem confundidas como fraude inconsciente”.
Eu afirmo que em minhas experiências com Eva C..., com Kluski e
com Guzik, a fraude consciente era impossível e nunca existiu.
A questão da fraude inconsciente é mais complexa porque o
estudo desta fraude duplica-se com um estudo de psicologia.
Todos os metapsiquistas sabem o que é fraude inconsciente; mas
para os leigos ou novatos que leem estas linhas, devo entrar em
algumas explicações:
Em primeiro lugar, pode-se declarar que a fraude inconsciente
não é fraude. É fruto do automatismo, que é a primeira fase e a própria
condição da mediunidade.
Eis aqui alguns exemplos de fraude inconsciente — é preciso
manter esta designação, na falta de outra melhor — confusa e
elementar, o que imediatamente fará com que a questão seja
entendida melhor do que qualquer explicação teórica:
Em uma sessão de Kluski, em Varsóvia, uma vez aconteceu o
incidente seguinte: uma lâmpada elétrica vermelha estava acesa.
Geralmente, o primeiro fenômeno obtido era a extinção da lâmpada
por ação telecinética sobre o interruptor. Naquela noite, o fenômeno
demorava a ocorrer. Um experimentador impaciente, dirigindo-se à
força em jogo, ordenou: "Apague a lâmpada!" A lâmpada permaneceu
acesa. Três vezes, com energia crescente, repetiu: "Apague a
lâmpada." Em seguida, automaticamente, o médium em transe
levantou-se, levando consigo os dois vigilantes, surpresos e
interessados. Sem hesitar, foi até a lâmpada, girou o interruptor... e
39 – Ectoplasmia e Clarividência
PRIMEIRA PARTE
A CLARIVIDÊNCIA
Introdução
Capítulo I
O... falou: "Vejo muita água". (Eu digo a ele: muito bem.) É uma
coisa difícil; não é uma questão; é uma sua ideia o que você pegou. (Eu
digo a ele: muito bem, muito bem.)
O mar nunca foi tão grande quanto... Não posso unir isto. (Eu digo:
Perfeitamente; admirável.)
O mar é tão grande que ao lado de seus movimentos...
O professor então escreveu um número de quatro dígitos, que foi
lido sem erro (também sob envelope fechado).
O professor colocara dentro de dois envelopes lacrados e iguais
duas cartas que acabara de receber. Tirou uma delas do bolso, ao
acaso, e deu-a para o Sr. O... Mas ele estava cansado, não disse nada
específico e pediu ao professor para adiar a experiência.
O professor, que deveria partir dali no dia seguinte, entregou-me
a carta sem me dizer o que ela continha.
Terceira sessão, feita por mim mesmo, na casa do Sr. O... no dia 1º
de maio de 1921.
Primeira experiência: entrego ao médium a carta fechada que o
professor Richet me deu. Eis as suas palavras, registradas do modo
como saíram:
Imediatamente, e sem hesitar, disse: “Fala-se aqui de uma
senhora Berger.” “É um senhor de cinquenta anos quem escreve esta
carta, que é resposta a uma carta do professor Richet. Esta carta não
vem de Paris; vem de um lugar que fica à beira-mar. Fala de assuntos
diversos. É um convite. Há algo sobre uma Sra. Berger. Esta senhora
tem trinta anos. É casada. Não posso ler. Foi escrita muito às pressas,
sem ordem, tudo disperso. É um homem musical (sic) quem a
escreveu.”
Em todo este longo monólogo há um único erro “que é a beira do
mar”. A carta vem de Berlim. O resto é exato. É um convite para dar
palestras em nome de uma série de Sociedades de títulos diferentes.
Nela se diz: “O senhor será hóspede de honra da Sra. Berger.” A carta
traz esta menção: "Muito urgente." Está muito mal escrita e é bastante
incoerente. A idade e as características do Sr. e da Sra. Berger são
exatas.
57 – Ectoplasmia e Clarividência
Segunda experiência:
Estou sentado na frente do médium. Entre os dois existe uma
ampla mesa retangular. Não há espelho ou qualquer superfície de
reflexão atrás de mim.
Escrevo em uma carta, embaixo da mesa, sem mover o braço
(apoiado em um livro que tenho sobre os joelhos), o seguinte: "Nada
mais comovente do que o chamado à oração pelos muezins." Coloco
este escrito em um envelope forte e muito opaco (tudo isso embaixo
da mesa). Fecho o envelope e o entrego ao médium, que o pega e o
esfrega com a mão.
Eis as suas palavras:
“Não é uma pergunta. São suas próprias ideias. Há algo de... um
sentimento de oração, algo muito profundo... um chamado... homens
mortos, feridos... não, não é isso... algo delicado, de emoção.”
Então, de uma vez, o médium diz:
“Nada causa mais emoção do que o apelo à oração; não há nada
mais tenro na vida, que mova a alma como uma prece... para... que...
quem... é uma certa casta de homens niazzi... madz... uma casta. Eu não
vejo mais nada.”
1ª EXPERIÊNCIA
12 de setembro de 1921, por volta das onze da noite.
Depois de uma refeição íntima na casa de amigos em comum,
apresento ao Sr. Ossowiecki, diante dos convidados reunidos no salão,
o pacote de cartas preparado com antecedência e que eu carregava
59 – Ectoplasmia e Clarividência
comigo.
São oito envelopes lacrados, dos quais dois são meus, e eu sei o
que eles contêm; um é do Sr. Sudre, um é do Sr. Magnin e quatro são
da Sra. Geley. Ignoro, absolutamente, o conteúdo desses seis últimos.
Entrego o pacote ao clarividente; ele tira, aparentemente sem
escolher, um dos envelopes. Eu sei que é do Sr. Sudre ou do Sr. Magnin
porque os dois envelopes são diferentes dos outros. Porém, não sei
mais nada.
O Sr. O... tem o envelope na mão. Passeia a grandes passos pela
sala de estar. Senta-se, levanta-se. Faz um esforço visível de
pensamento. Acaba por dizer as seguintes palavras, que anota à
medida que as pronuncia:
"É muito curto... algumas palavras."
(Alguns minutos de silêncio.)
“Um homem foi quem escreveu.”
(Curto silêncio.)
"É sobre a Polônia."
(Silêncio muito curto.)
"É uma felicitação."
(Silêncio muito curto.)
“Nada mais. Não está assinado.”
Eu rasgo o envelope e leio, em uma folha dobrada em quatro
dobras, escrito no centro:
"Tenha um bom sucesso em Varsóvia."
Devo acrescentar que eu pensava em qualquer coisa menos
naquela simples felicitação. O escrito era do Sr. Magnin.
2ª EXPERIÊNCIA
14 de setembro de 1931, na casa do príncipe Lubomirski,
às seis horas da tarde.
Após uma sessão de materialização com Guzik, entrego ao Sr.
Ossowiecki o pacote de cartas que trouxe comigo. Pega um envelope,
que reconheço como sendo do Sr. Sudre. Ignoro absolutamente o
60 – Gustave Geley
conteúdo.
Aqui está, cara a cara, o escrito contido no envelope, que é aberto
após a experiência, e as palavras do Sr. Ossowiecki tomadas ao ouvido:
CARTA FECHADA
O homem é apenas uma cana, a mais débil da natureza, mas é uma cana
que pensa. (Pascal.)
PALAVRAS DO SR. O...
É sobre a humanidade; melhor dito, sobre o homem.
É a criatura mais animal. É algo do homem. Eu tenho a intuição da
animalidade. É um provérbio. São ideias de um dos homens mais importantes do
passado... Acho que é Pascal... o homem é débil; uma débil cana, mas…
debilidade... e também a cana mais pensativa (sic).
Essas duas primeiras experiências ofereceram um duplo
ensinamento:
1º. Eu disse ser absolutamente ignorante do conteúdo dos
escritos que me foram confiados pelos Srs. Magnin e Sudre.
O clarividente, portanto, não pôde conhecê-los lendo meu
pensamento. Já que, por outro lado, meus colaboradores são
desconhecidos do Sr. Ossowiecki, a hipótese da comunhão mento-
mental como origem de sua lucidez fica consideravelmente
complicada.
2º. Essas duas experiências também parecem demonstrar que no
caso do Sr. Ossowiecki não se trata de leitura através de corpos
opacos.
Na verdade, o clarividente tem a noção essencial do conteúdo dos
envelopes; mas essa noção não é rigorosamente coincidente com o
texto escrito. É uma interpretação notavelmente fiel, mas falta pouco
para ter erros, ou os tem. Este duplo caráter da lucidez do Sr.
Ossowiecki é afirmado nas seguintes experiências.
3ª EXPERIÊNCIA
Em 21 de setembro, na casa do príncipe Lubomirski, nas mesmas
condições da experiência nº. 2
61 – Ectoplasmia e Clarividência
(Fig. 3.)
Por que perfumes?
Por que a Polônia?
Existe uma numeração: 1 º, 2 º, 3º, 4º, 5º.
Depois do número. 2 não há nada escrito...
Algo da natureza...
Não vejo nada mais...
Acima de tudo, entre as cinco ideias diferentes contidas neste
trecho, o Sr. Ossowiecki percebeu exatamente aquelas com os
62 – Gustave Geley
números 2, 4 e 5.
Não percebeu nada da ideia n.º 3 e muito incompletamente a
ideia nº 1.
Ele teve uma ideia clara, imperiosa, obsessiva, do peixe; mas,
engraçado, o desenho dele não é parecido com o meu. Seu peixe é largo
e olha para a esquerda. O meu era comprido e olhava para a direita.
Do nº 3 percebeu perfumes deliciosos sem especificar que era a
mimosa.
A ideia nº 5 foi totalmente exposta.
Ao longo da tarde que passamos juntos, o Sr. Ossowiecki ficou
obcecado com o desenho do peixe.
4ª, 5ª e 6ª EXPERIÊNCIAS
Por ocasião do Congresso Internacional de Medicina de Varsóvia,
vários membros do Congresso, que ouviram falar do dom de
Ossowiecki, pediram para fazer um teste. Oito deles aceitaram o
convite do Príncipe S. Lubomirski, e na sala de sua casa eles se
reuniram (esqueci de anotar a data) por volta das sete da tarde.
O Sr. Ossowiecki, muito impressionável, como todos sensitivos,
parecia conturbado por comparecer diante deste areópago de
médicos. Ele estava, certamente, com medo. Daí, sem dúvida, o quase
fracasso da 4ª experiência e o fracasso total da 5ª.
O Dr. Piery, de Lyon, deu ao Sr. Ossowiecki um papel dentro de
um envelope lacrado, que ele mesmo preparara, sozinho, em uma sala
imediata. O papel dizia, como vimos após a experiência:
A China é um país encantador.
O Sr. Ossowiecki passou um mau bocado. Demorou cerca de dez
minutos para dizer:
"É muito curto..."
"Não é uma pergunta, mas a sua opinião."
"É sobre a Polônia..."
“A Polônia é um país encantador.”
O Sr. Ossowiecki, questionado sobre a causa desta confusão entre
63 – Ectoplasmia e Clarividência
7ª EXPERIÊNCIA
24 e 25 de setembro.
No restaurante, depois de almoçar, dou ao Sr. Ossowiecki uma
das cartas preparadas pela Sra. Geley, cujo conteúdo eu ignorava. Ele
disse: “É de uma senhora. É de sua mulher. É uma felicitação e um
convite... Amanhã vou especificá-lo. Guarde esta carta.”
No dia seguinte, na casa do Príncipe Lubomirski, dou a ele de
novo o documento.
Aqui estão, um ao lado da outra, o conteúdo e a cópia do que foi
dito pelo Sr. Ossowiecki:
64 – Gustave Geley
8.ª EXPERIÊNCIA
ambos.
O Sr. Sudre havia enviado para mim outra carta fechada, cujo
conteúdo eu ignorava. Advertia-me apenas de que era uma
experiência inédita.
Dou a carta ao Sr. Ossowiecki.
Ele, após dez minutos diz, tendo a carta apertada em sua mão:
“Isso me interessa. É alguém que gostaria de me conhecer. – (Longo
silêncio, enervado.)”
O Sr. O. realiza esforços intensos. Continua após dez ou quinze
minutos: “Hoje está muito difícil... há algo muito... não consigo ver,
porque tenho a sensação de que está impresso. Eu estava errado um
momento atrás. Não era sobre mim; mas quem mandou a carta
pensava em mim enquanto a preparava; daí o meu erro... Ele queria
ver se eu ia conseguir ler isso sendo impresso. Eu não posso ler
impressos...”
“Isto acontecia (a preparação da carta) às seis ou sete horas da
tarde. Ele estava sentado a uma mesa. Ao lado dele havia uma
mulher...”
“Isso está impresso em letras muito pequenas.”
Rasguei o envelope e encontrei uma folha arrancada de um livro,
no qual estavam impressos, em minúsculas, alguns versos.
Eu então disse ao Sr. O...: “Descreva-me o homem e a mulher que
você viu.”
O... disse:
“É um segundo andar à esquerda. Ele não tem barba, só um
bigode pequeno. É um homem de trinta e oito a quarenta anos,
bastante magro, fino. Ele não é careca (sic). Penteia-se com uma
divisão.
Ela é gorda, não muito alta. Não é loira. Ela foi quem deu a ideia
deste teste. Eles têm dois filhos, menino e menina.”
Eu disse: “Tudo isso é exato15; mas há somente um filho nascido,
15 De acordo com minhas informações posteriores, é inexato que fosse da Sra. Sudre a ideia
9ª EXPERIÊNCIA
27 de setembro, às dezoito horas, na casa do príncipe Lubomirski.
Entrego ao Sr. Ossowiecki a segunda das cartas preparadas por
mim. Portanto, eu conhecia o conteúdo, que era este:
“Um elefante, que se banhava no Ganges, foi atacado por um
crocodilo, que cortou sua tromba.”
Para ver se meu pensamento consciente pode influenciar na
clarividência do Sr. O..., facilitando-a, faço um esforço mental para me
representar com intensidade a cena descrita. O resultado é
completamente oposto. O Sr. O... nota uma dificuldade evidente; ele
passeia para um lado e para o outro muito enervado e demora cerca
de vinte minutos para dizer:
“Tenho a impressão de que estou num jardim zoológico... É uma
luta...”
“Tenho a impressão de um jardim zoológico. Eu vejo um animal
muito grande. É um elefante... Esse elefante não está na água? Eu o vejo
nadando... Há uma história com sua tromba... Eu vejo sangue...”
Naquele momento o Sr. O..., muito cansado e enervado, pergunta-
me: “Há alguma outra coisa?”
Eu respondo: “Está tudo bem, mas não completo.”
O Sr. Ossowiecki exclama: “Espere! Ele não está ferido na
tromba?”
Eu digo a ele: “Muito bem”, e acrescento: “Você falou em uma luta,
e isso é exato...” O senhor O... me interrompe e diz: “Sim, com um
crocodilo...!
67 – Ectoplasmia e Clarividência
10ª EXPERIÊNCIA
Esta última é aquela feita com um tubo de chumbo. Pertence esta
ideia e sua realização ao conde Guy du Bourg de Bozas.
Ele mandou fabricar um tubo de chumbo com paredes de três
centímetros de espessura. Pediu a um dos nossos amigos, o Sr.
Stanislas de Jelski, que inserisse no tubo uma carta, secreta para todos,
por meio de uma terceira pessoa, que foi uma senhora que partia de
Varsóvia naquele mesmo dia. Ele fez soldar a boca e me deu o tubo.
A primeira tentativa ocorreu em 28 de setembro, no restaurante,
após um copioso almoço.
Eis aqui o que o Sr. OSSOWIECKI disse então:
“Uma mulher foi quem escreveu.
“É algo que diz respeito à natureza em relação com o homem e o
sentimento. É em meio à Criação. Foi escrito em condições muito
originais.”
Perguntei ao clarividente: “Vamos cortar o tubo?” Respondeu:
“Não; espere, eu não estou satisfeito. Desejo uma nova sessão.”
Esta segunda sessão teve lugar na casa do príncipe Lubomirski,
às dezoito horas do dia 30 de setembro, na presença do conde
Tarnowski, da condessa Tarnowska, do Dr. Geley, do major Stabile, do
médico idoso Camus e do Sr. Stanislas de Jelski.
Com muita dificuldade no início, depois com mais facilidade, o Sr.
Ossowiecki disse:
“A Criação... a grande Criação... a natureza.” (Longo silêncio.)
“É sobre um homem poderoso... Está no sentimento do povo que
ele é um dos grandes homens deste século...
“Eu não posso compreender. Vejo duas coisas: algo escrito,
escrito por uma mulher. E há um desenho.
“O desenho representa um homem que tem grandes bigodes e
sobrancelhas grandes; não existe nariz…
“Veste uniforme militar.
“Parecido com Pildzuski.
“Está escrito em francês. Ali diz:
68 – Gustave Geley
Outra dificuldade:
Se é leitura de pensamento, por que o Sr. O... não pode conhecer
o que diz uma carta escrita em um idioma que ele ignora?
E por que não pode "ler" o que está impresso? Na experiência
número 8 ninguém conhecia o conteúdo da página impressa. O Sr.
Sudre guardara no envelope, no escuro e sem saber o que continha,
uma página arrancada ao acaso de um volume de poesia.
Pode-se pensar, portanto, que o Sr. O... não poderia "ler" porque
o conteúdo do envelope não estava no pensamento do Sr. Sudre. Mas
outros fatos desmentem essa opinião simplista.
Um dos nossos amigos, por exemplo, deu ao Sr. O... em minha
presença, um envelope lacrado contendo uma carta que ele mesmo
havia datilografado.
O experimentador, portanto, conhecia o conteúdo. Apesar disso o
fracasso foi completo. O Sr. Ossowiecki disse simplesmente: “É uma
carta datilografada. Só posso ler a escrita viva!”
Vê-se, então, que a hipótese da leitura do pensamento não é tão
simples ou tão conclusiva quanto pode parecer à primeira vista.
Então, é pura clarividência? Essa pergunta é muito difícil de
responder.
A clarividência parece ser uma faculdade acima de todas as
contingências de tempo, espaço ou obstáculos materiais,
ultrapassando todas as leis físicas e psíquicas, como uma sorte de
onisciência; em uma palavra, um dom divino...
Desnecessário dizer que a clarividência do Sr. Ossowiecki não
tem essa amplitude nem esse poder. Vimos que, apesar de sua
habilidade maravilhosa, ele é limitado por condições às vezes sem
importância, como as contingências da escrita em língua estrangeira
ou da escrita impressa.
Na verdade, a clarividência do Sr. O... é sem dúvida uma variedade
daquela clarividência restrita a que foi dado o nome de psicometria. O
processo de suas visões pode ser dividido assim:
1º - Existe uma certa noção do que foi escrito. Não há leitura
72 – Gustave Geley
EXPERIÊNCIA I
Na quarta-feira, 19 de abril, em Varsóvia, estamos
experimentando, no meu quarto de hotel na Europa, Geley, O... e eu.
O... está com os olhos vendados e Geley desenha um objeto. O...
faz vãos esforços para reproduzi-lo. Mas não insistimos; porque
declaramos a O... que esta experiência (uma venda nos olhos), que lhe
aconselharam fazer para testar a lucidez, nada prova, mesmo que dê
bons resultados, pois nunca existe a certeza de os olhos vendados
ficarem totalmente obliterados. Melhor operar com envelopes
lacrados.
Então, O… pede-me para fazer, longe dele, um desenho e fechá-lo
em um envelope. Vai até o final da sala (seis metros de comprimento).
Eu fico no outro extremo. Geley está entre os dois.
Estou de costas para O... e desenho num papel, com minha caneta-
18 Outras experiências foram feitas por Geley após minha partida de Varsóvia. Elas não são
nem mais nem menos conclusivas do que as minhas. Há igual certeza nelas. Deixo para
Geley o cuidado de publicá-las com todos os seus detalhes.
19 Ver Revue Métapsychique, 1921, números 5 e 8.
74 – Gustave Geley
tinteiro, um desenho que me ocorre (ver fig. 5). Nada antes o havia
evocado. No máximo, do lugar onde O… estava, é possível saber que
demorei cerca de vinte e cinco segundos para escrevê-lo. Ainda de
costas, dobro o papel em quatro dobras (o desenho ficava em um dos
quatro quadrados desse papel, de modo que não ficava dobrado sobre
si mesmo). Então, sempre longe de O... e separado de O... por Geley,
pego o papel dobrado, coloco-o em um envelope, fecho-o
cuidadosamente e entrego-o a O... Após cerca de um minuto, depois de
esfregá-lo bem, diz que é uma cruz. Eu digo: "Muito bem." Ele
acrescenta: “É uma cruz com pontos, estrelas; eu vou fazer o desenho."
E desenha a figura aqui representada (fig. 6). Pego o envelope, que
ainda está perfeitamente intacto, abro e verifico a identidade dos dois
desenhos.
EXPERIÊNCIA II
A experiência a seguir é muito notável e provoca comentários
importantes.
A Sra. A. de Noailles enviara para minha casa em Paris, no dia da
minha partida para Varsóvia, três envelopes (selados com a cola dos
envelopes comuns) opacos, contendo algumas linhas de sua mão, e
cujo conteúdo eu desconhecia totalmente. Número 1, Número 2 e
Número. 3. Eu os apresento a O... em 19 de abril e ele escolhe o número
3, dizendo que naquela noite não poderia fazer nada. Guardo os três
envelopes em minha carteira até o dia seguinte, 20 de abril, quando
entrego a ele a carta nº. 3.
O... esfrega a carta febrilmente por algum tempo, sem Geley ou eu
tirarmos os olhos do envelope. Ele sabe que é uma carta da Sra. de
Noailles, mas não conhece em absoluto esta senhora.
Então ele da, sobre a Sra. de N... e as condições em que a carta foi
escrita, vários detalhes, que são, em geral, exatos, mas que não
ultrapassam em muito o discernimento de uma pessoa inteligente.
A experiência é realizada na presença da Sra. A., do Sr. e a Sra. Z...
(a Sra. Z... e Sra. A... são irmãs, e a Srta. A... é a noiva de O...) em seu
quarto no Hotel de Europa.
Depois de três quartos de hora esfregando a carta, ela ainda
estava cuidadosamente fechada, sem Geley e eu perdermos de vista
O... e a carta. Aqui estão as palavras de O..., coletadas exatamente:
“Não há nada para mim (o que significa: Não é sobre mim esta
carta). É algo de um grande poeta francês; algo da Natureza. É uma
inspiração de um grande poeta francês. Eu diria que é Rostand, algo
de Chantecler. Quando fala sobre Chantecler, ele escreve algo sobre o
galo. Existe uma ideia da luz durante a noite. Eu vejo uma grande luz
76 – Gustave Geley
20Por curiosidade, aqui estão as frases escritas, como em uma espécie de torneio com O...
pelas cinco pessoas presentes: 1º A crítica é fácil e a arte é difícil; 2º Eu gostaria de voltar
para Menton; 3° Não se deve estar muito feliz ou muito insatisfeito consigo mesmo; 4º
Como é triste que os objetos durem mais do que os homens; 5º É uma verdadeira alegria
ser amigo de Stephan Ossowiecki.
77 – Ectoplasmia e Clarividência
ter pensado em fraude. Mas ele sabe muito bem que, em tais casos, é
conveniente refutá-la de uma maneira diferente da improbabilidade
moral.
Também não faço valer outras belas experiências feitas
anteriormente por O..., que levaram todas à mesma conclusão; a saber:
uma clarividência criptestésica extraordinária.
Acrescento que os nossos sentidos estavam perfeitamente
despertos, nossa atenção era irrepreensível, nossa vigilância estava
superexcitada. A objeção de uma alucinação ou ilusão nossa é
inadmissível.
Portanto, permanecem duas hipóteses: o acaso ou uma
hiperestesia especial, inexplicável, que na terminologia atual
chamamos de criptestesia, que é um fenômeno de ordem
metapsíquica.
Para eliminar a hipótese de acaso, vamos analisar metodicamente
a probabilidade.
1º. Primeiro, era pouco provável que a frase incluída na carta
fosse uma citação de um verso.
Vamos admitir 1/2 de probabilidade.
Pode-se supor aproximadamente em 1/100 que fosse um verso
de Rostand.
1/10 de probabilidade para o verso ser de Chantecler.
1/2000 de probabilidade para o verso ser la nuit et la lumière.
1/100 de probabilidade de haver o nome de Rostand abaixo da
citação, seguido por duas linhas.
1/100 de probabilidade de que essas duas linhas falassem de
Chantecler e do galo.
Assim, chegamos a uma probabilidade da décima primeira
potência de 1/10, que é igual a certeza moral.
EXPERIÊNCIA III
A seguinte experiência não é menos decisiva e, além disso,
contém muitos dados extremamente preciosos sobre as condições e
79 – Ectoplasmia e Clarividência
modalidades da criptestesia.
A meu pedido (por telégrafo), Sarah Bernhardt envia-me, a
Varsóvia, uma carta para O... ler sem abri-la.
Esta carta é recebida por mim diretamente de mãos do carteiro,
no saguão do Hotel de Europa. Eu não a abro; entrego-a a O..., dizendo
a ele que é de Sarah Bernhardt.
Esta leitura foi muito difícil e durou cerca de duas horas e meia.
Ele primeiro dá alguns detalhes, que não são característicos e que
não excedem a sagacidade comum, a respeito de Sarah Bernhardt e as
condições em que a carta foi escrita.
Por outro lado, o que ele diz da carta é muito preciso: “A vida... a
vida... a vida (repete essas palavras três vezes). Há quatro ou cinco
linhas e, abaixo assina Sarah Bernhardt, uma assinatura que sobe.”
Exato; mas talvez ele tivesse visto em qualquer revista o fac-símile da
assinatura de Sarah B.
“A vida parece humilde (repete duas ou três vezes a palavra
humilde); existe aqui a vida e a humanidade, mas a palavra
humanidade não está escrita. Existe uma ideia ligada à ideia de vida e
de humanidade... porque existe muito ódio. Não, não há ódio; só
existe... só... é uma palavra muito difícil, tão francesa que não consigo
dizê-la; é uma palavra de oito letras. Ponto de exclamação.”
Então, antes de abrir a carta, que continua completamente
fechada, e cuja opacidade absoluta eu verifiquei na luz refletida, na luz
direta e contra a luz, escrevo o seguinte, que dá fé como conclusão
definitiva de O...;
“A vida parece humilde porque só existe ódio” (não é ódio, mas
uma palavra de oito letras não compreendida); assinado Sarah
Bernhardt.
As seguintes palavras, cujo fac-símile eu acompanho (fig. 8), são
as contidas na carta:
80 – Gustave Geley
EXPERIÊNCIA IV
* * *
21 Tanto mais que O... não consegue dizer nada (mesmo sem se ter estabelecido com
certeza ainda) no caso de existirem caracteres impressos ou datilografados no envelope.
Isso merece confirmação.
85 – Ectoplasmia e Clarividência
(Fig. 9.) O professor Carlos Richet é tão grande pelas qualidades sublimes de seu
coração quanto por sua genialidade cientista.— Ana de Noailles.
“Pelo presente, certifico que o documento anexo, isto é, uma
fórmula do jogo de xadrez escrita pelo chefe de Estado, o Sr. marechal
Pildzuski, fórmula que só ele conhecia, fechada dentro de um envelope
pelo próprio marechal em pessoa e lacrada com o selo dado pelo
ministro da Guerra, general Sosukowski, foi lido no espaço de quinze
a vinte minutos pelo Sr. Stephan Ossowiecki.
nuvem de pessoas que desejam consultá-lo, pedir sua opinião sobre coisas
perdidas, sobre homens perdidos na guerra, etc., etc. E este homem, tão
modesto e tão extraordinário, investe seu tempo e se sobrecarrega de
trabalho com tanto prazer e com tão completo desinteresse! Ele é um
verdadeiro vidente, que faz muito bem com o seu talento, sem qualquer
lucro pessoal. Peço- lhe desculpas, senhor, por este relato, talvez um pouco
prolongado; no entanto, eu queria torná-lo o mais exato possível.
Não se zangue comigo por causa da minha linguagem defeituosa.
Receba, senhor, a garantia da minha mais alta estima.
Aline de Glass, nascida de Bondy.
(Esposa do Juiz do Supremo Tribunal da Polônia.)
Visto e aprovado: Arthur de Bondy.
Engenheiro.
O Sr. Ossowiecki escreveu-nos uma carta confirmando ponto por
ponto o depoimento da Sra. de Glass e do Sr. Arthur de Bondy.
Ele declara que não conhecia o homem que tinha encontrado o
broche, que nunca o tinha visto antes, e o identificou apenas por sua
visão na sessão com a Sra. de Glass.
27 O Sr. S. Ossowiecki, até agora, não quis lançar a público a história de sua vida. Ele
recentemente (e de modo espontâneo) decidiu mudar de ideia (exclusivamente para
servir à causa da metapsíquica) e teve a bondade de reservar para mim a publicação de
suas memórias, isso será feito em breve. (Nota do Dr. Chauvet.)
28 Todos os detalhes que vou indicar são necessários para apreciar os acontecimentos
ulteriores.
101 – Ectoplasmia e Clarividência
sua saúde, você chegará a realizar seu destino; mas não deve se matar
como você faz. Acho que sua saúde pode melhorar. Quero ajudá-lo
com isso. Eu percebo o que você tem; deixe-me tocar sua cabeça; vou
dizer-lhe o que lhe aconteceu e onde dói tanto.” Com a minha
aquiescência, o Sr. Ossowiecki tocou minha cabeça com as duas mãos
e sentiu particularmente a região do pescoço e a occipital; isso diante
de várias pessoas que haviam voltado e formado um círculo ao nosso
redor. O Sr. Ossowiecki estava nervoso; suas mãos tremiam, seu olhar
se perdia em uma remota imprecisão. Muito rapidamente pronunciou:
“Aqui está, estou vendo o que você tem. Você foi ferido na guerra por
um casco de granada; esteve às portas da morte, espere, espere; vou
dizer-lhe onde você foi ferido; aqui, no pescoço, e você sofre muito aí;
há muito congestionamento e espessura nesse local. É aí onde se deve
operar, aí.” E ele indicou a baixa região occipital.
Confesso que fiquei paralisado, deixando à parte, com efeito, as
avaliações do Sr. S. Ossowiecki sobre a qualidade da minha psique e
suas previsões: tudo o que ele acabara de me dizer era rigorosamente
exato.
Agora, o Sr. Ossowiecki não me conhecia, nem tinha ouvido falar
de mim; ele nem sabia que iria se encontrar comigo naquela noite;
ninguém o documentou sobre mim (imediatamente fiz uma minuciosa
investigação); em suma, não podia ser guiado por uma cicatriz visível,
pois fui ferido por um casco de granada que penetrara muito pouco,
atuando apenas por efeito do impacto, restando atualmente apenas
uma cicatriz bem pequena, de resto escondida pela gola da camisa. Por
outro lado, fiquei sabendo, ao interrogar sua companheira da direita
alguns minutos depois, que o Sr. Ossowiecki havia perguntado a ela,
assim como ao seu vizinho do outro lado, quem eu era e que ela não
tinha podido informar ele; ela também me disse que a partir daquele
momento o Sr. S. Ossowiecki não parava mais de me olhar29, de falar
com ela sobre mim, de dizer que eu sofria muito, que ele "conhecia
29Já disse que estando muito interessado no Professor Vallée, eu não olhava na direção do
Sr. S. Ossowiecki. Então, eu não percebi que ele estava olhando para mim sem parar.
104 – Gustave Geley
todo o meu cérebro", que ele queria me conhecer e etc. Por isso foi que
ele parou na porta e esperou por mim.
Aconteceu que quando o Sr. Ossowiecki estava me expondo o que
mencionei acima, o Dr. Geley veio dizer-lhe que todas as pessoas
estavam reunidas no andar de baixo e que o esperavam
impacientemente.
Mas o Sr. S. Ossowiecki, muito agitado, não quis prestar atenção e
respondeu: “Não, não; deixe-me um momento. Tenho grande simpatia
por este homem e quero primeiro ter uma experiência com ele.”
Outras pessoas, incluindo a gentil e muito distinta Sra.
Ossowiecka, insistiram depois, sem melhor resultado. Bruscamente o
Sr. S. Ossowiecki disse-me: "Dê-me o seu cartão." Eu dei-o a ele, ele o
leu, depois o devolveu a mim dizendo: “Pegue-o, esfregue-o bastante
com suas mãos; muito bem, agora vá para a sala imediata e faça um
desenho neste cartão. Aí você vai colocá-lo em um envelope, vai fechá-
lo e depois vai me chamar. Eu fico aqui.”
Eu, por conseguinte, fui para uma sala próxima, onde havia um
serviçal, a quem pedi um envelope. Então fiquei sozinho e comecei a
traçar um desenho rápido. Infelizmente, é fato verdadeiro que a gente
nunca está tão vazia de ideias como quando precisa escrever
instantaneamente qualquer dedicatória ou, mais simplesmente,
encontrar uma frase para testar uma caneta-tinteiro, por exemplo.
Além disso, eu ouvia do outro lado da porta que acabava de fechar, o
Sr. Ossowiecki gritando para mim: “Ande logo, doutor, ande logo; eles
vêm me buscar; pedem para eu descer; faça uma coisa qualquer, pois
é uma experiência privada entre nós dois.” E dois segundos depois, ele
voltou: “Termine; adicione uma frase pessoal ao desenho.” Com
pressa, sem tempo para refletir, constantemente atormentado, eu
estava atordoado; tanto que tudo aquilo que o Sr. Ossowiecki me
falava, só conseguia me distrair a cada passo. Pensei primeiro em
desenhar um barco, para ter um desenho simples, característico e fácil
de reproduzir para o caso do Sr. Ossowiecki não ser muito hábil no
manejo do lápis.
Com efeito, nada pior (do ponto de vista experimental) do que
105 – Ectoplasmia e Clarividência
Muito rápido ele me disse: “Começo a ver; isso vai dar certo; rápido
rápido.” Mas quando pronunciava essas palavras, vieram novamente
suplicar-lhe que descesse onde os convidados estavam. Ele respondeu
primeiro: “Mas, se eu estou fazendo uma experiência com o doutor; é
apenas um instante; deixe-me.” Em seguida, concordou em descer,
entregando-me primeiro o envelope, em vista de que era objetado:
“Venha, estão à sua espera; mais tarde poderá acabar essa experiência
com o doutor. Venha só um instante.”
No salão do Instituto ele foi apresentado a inúmeras pessoas, e
respondeu muito amavelmente a todo o mundo. Mas, na realidade, e
isso era visível, estava "ausente". Momentos depois, o Dr. Geley
apresentou-o a Marcel Prévost, que segurava na mão uma sacolinha
misteriosa, e pediu-lhe que fizesse o favor de tentar um experimento
com um dos documentos contidos na sacolinha, mas o Sr. S.
Ossowiecki recusou-se naquela hora e também depois, de sorte que a
sacolinha guardou sempre o seu segredo.
De passagem, é de se notar um aspecto bastante curioso deste
mutável médium. Quando ele se sente cansado, ou simplesmente
quando não está de bom humor (nesse sentido, ele é influenciado, ao
extremo, pela impressão que certas pessoas lhe causam), ou, por
último, quando quer fazer uma experiência com alguma pessoa
presente, e mais ainda, quando já começou a obter resultados
positivos com essa pessoa e sente que não esgotou tudo o que ela pode
produzir-lhe, não é possível se tentar nada com este homem
extremamente gentil (e que trata, no entanto, de fazer um favor ou
agradar a todo o mundo) para fazê-lo mudar de ideia e decidi-lo a
tentar uma experiência com outra pessoa. Foi assim como no decorrer
de outra reunião que contarei mais tarde, ele "aderiu" durante toda a
sessão a um único convidado, o Sr. d'Anglars, e não quis experimentar
com mais ninguém.
Assim, aos amáveis pedidos do Dr. G. Geley o Sr. Ossowiecki
respondeu que primeiro queria fazer a experiência comigo. Com
efeito, ele de repente se eclipsou após acenar para mim e foi para
108 – Gustave Geley
outra sala. Temendo que essa experiência fosse a única da noite, o Dr.
G. Geley me pediu para permitir que várias pessoas assistissem. Isso
me incomodou um pouco, porque meu desenho e minha escrita eram
feitos para um ensaio estritamente pessoal, e não para uma
experiência oficial. Não obstante, o Sr. Ossowiecki estava impaciente
por chegar a um resultado e não queria que eu perdesse tempo em
mudar o documento. Por outro lado, refleti que não tinha o direito de
privar daquela experiência a causa científica que nos interessava, se
resultasse positiva, sob o pretexto de que se tratava de fatos pessoais
que eu não desejava divulgar. Portanto, resignei-me e aceitei a
exigência do Dr. Geley. De resto, confesso que tinha uma esperança.
Estava eu, de fato, persuadido, ou quase persuadido, de que o Sr.
Ossowiecki não poderia ver o que eu havia traçado! Uma vez de
acordo nisso, o Sr. S. Ossowiecki não queria um público numeroso; no
início, ele aceitou apenas o professor Vallée; depois, o Dr. Osty. Ele
ficara muito intimidado quando chegou ao salão pela afluência de
convidados, afluência que não esperava.
Ainda sob os efeitos dessa emoção, ele não se sentia confortável
e queria poucas pessoas com ele. Portanto, foi preciso insistir para que
o Sr. Prévost pudesse ser um de nós, enquanto ele próprio reclamava
a presença do Dr. G. Geley.
Quando essas idas e vindas, que deprimiam o médium,
terminaram, ele me pediu o envelope e imediatamente o colocou às
costas; depois caminhou para cá e para lá na sala. Seu rosto estava em
congestão, com sinais de ansiedade; as veias temporais se projetavam
fortemente; os olhos assumiram uma expressão singular; as mãos
tremiam um pouco. Como estávamos em silêncio, ele suspendeu sua
concentração cerebral por um instante para dizer: “Falem vocês, e em
voz alta; não me incomoda; fico irritado quando estão em silêncio e
ainda mais quando me olham nos olhos. Isso me intimida e me impede
de abstrair para "ver em mim mesmo", para "ver idealmente".
A partir de então, sem deixar de acompanhar seus movimentos,
continuamos conversando.
A seguir, o Sr. Ossowiecki nos disse: “Aqui está; eu vejo sim, eu
109 – Ectoplasmia e Clarividência
vejo. Você queria fazer outro desenho. Não o fez (era exato) mas fez
outro. É um desenho curioso. Uma cruz que não é como uma cruz
normal. Dê-me um lápis, vou desenhá-la. Já de posse de papel branco
e lápis Sr. S. Ossowiecki, sem hesitar, desenhou toda a parte vertical
da cruz, depois os dois braços horizontais. Nesse momento, teve uma
hesitação e disse: “Nem tudo está; não é como de costume; parece-me
que isto atravessa; sim, atravessa assim”, e juntou a linha superior dos
dois braços com outra que atravessava o madeiro vertical; a seguir,
ele começou a fazer a mesma coisa com a linha inferior. Feito isso,
pegou o envelope de novo, virou-o na mão e disse: “Debaixo da cruz
há uma frase de duas palavras; não, de três palavras; não são palavras;
dir-se-ia que são letras; está mal escrito; parece que existe uma
palavra composta por uma única letra; não, não é isso; não posso vê-
lo; não está suficientemente claro.”
Terminada a experiência, arrebentei o fio e abri a carta. No meu
cartão havia, absolutamente semelhante à desenhada pelo Sr.
Ossowiecki (e de igual tamanho), uma cruz perfurada.
Basta olhar a fotografia dos documentos que colei, um ao lado do
outro, e que são representados em tamanho natural (sem nenhum
retoque), para verificar essa semelhança (Foto 111, fig. 13 e 14).
Observar-se-á também que o Sr. S. Ossowiecki indicou a linha inferior,
sem terminá-la, não por não ter certeza (pois acabava de traçar, sem
hesitação, a linha superior), mas por uma espécie de preguiça, como é
habitual em muitos pintores que, bosquejando rapidamente um
croqui, contentam-se em indicar sumariamente um movimento ou
uma linha. Referindo-se, por outro lado, à linha superior que acabava
de traçar, o Sr. Ossowiecki disse, após iniciar a linha inferior: "... e aqui
também ..." no sentido de: aqui também atravessa.
Quanto à frase que eu escrevera com pressa, nas condições
citadas acima, devo dizer que várias pessoas que presenciavam a
experiência não conseguiram decifrá-la. Portanto, não é de
surpreender que o Sr. Ossowiecki não conseguisse lê-la. Por outro
lado, no decorrer das experiências ulteriores, com textos melhor
110 – Gustave Geley
Pode-se verificar:
1° que os dois desenhos são idênticos e sensivelmente do mesmo
tamanho;
2° que o desenho a ser reproduzido era muito difícil, tanto mais
quanto que sua execução deixava muito a desejar;
3° que o chapéu, conforme explicado pelo Sr. S. Ossowiecki, é um
híbrido de chapéu tirolês e boné, cuja concepção e execução,
pouco precisas, ofereciam grande dificuldade para o Sr. S.
Ossowiecki;
4° por último, é de se notar que antes de executar este desenho,
o Sr. d'Anglars havia pensado em desenhar alguns triângulos
entrelaçados.
Depois dessa bela experiência, tornou a acontecer naquela noite
o que já havia acontecido três dias antes com a Sra. X... e comigo. O Sr.
S. Ossowiecki declarou ao Sr. d'Anglars que além daquilo ele também
poderia revelar-lhe outras coisas e não quis mais se separar dele. A
Sra. Ossowiecki, o Dr. G. Geley e várias pessoas pediram-lhe em vão
que fizesse o favor de ter outra experiência com outra pessoa. Embora
muito gentil, ele se fez de surdo.
Provavelmente nesse caso talvez ele sinta confusamente que está
em uma espécie de comunicação psíquica, misteriosa, com o
experimentador e está na segurança de conseguir novos sucessos; por
isso, ele tende a continuar... como um escritor que se sente inspirado
e não consegue se separar de suas folhas de papel. Seja como for, ele
se isolou com o Sr. d'Anglars e por mais de meia hora contou-lhe uma
série de fatos sobre o passado, o presente e o futuro. Quanto aos fatos
preditos para o futuro, ainda não é chegado o tempo que permita
comprovar sua exatidão.
Os do passado e os do presente, o Sr. d'Anglars não pôde revelá-
los aos presentes por causa de sua natureza íntima, mas declarou que
eram todos exatos e que isso era tanto mais surpreendente porque
alguns “não poderiam ser conhecidos por ninguém mais, além dele
próprio”.
117 – Ectoplasmia e Clarividência
O... continua:
“Antes do ano, há uma data ou uma cidade... é uma escrita mais
de mulher do que de homem.”
O Dr. Schrenck pergunta: “Em que língua? ...”
O... responde: "em francês" e adiciona:
“A garrafa está ligeiramente inclinada. Não tem rolha. É feita com
várias linhas finas.
“O pacote é formado assim:
1º. um envelope cinza, no exterior;
2º. um envelope escuro, esverdeado;
3º. um envelope vermelho.
“Depois, um papel branco, dobrado em dois, com o desenho em
seu interior.”
Decidimos, apesar de nossa impaciência, devolver o documento
intacto e sem ser aberto ao Sr. Dingwall, o que o Dr. de Schrenck fez
naquela mesma noite.
O ENVELOPE FECHADO
Preparei o pacote lacrado na tarde de 22 de agosto de 1923.
Ninguém viu essa operação e ninguém ficou sabendo o que eu havia
escrito e desenhado no papel que continha.
O papel media 17,5 por 11 centímetros. Escrevi as seguintes
palavras no topo da folha, antes de colocá-la no primeiro envelope:
"Os vinhedos do Reno, do Mosela e da Borgonha produzem um vinho
excelente."
Tracei na parte inferior da folha, um croqui bem primitivo com a
intenção de dar a ideia de uma garrafa, sem traçar exatamente a
imagem. Emoldurei-o com três linhas, a quarta formada pelo lado
esquerdo do papel. Em seguida, escrevi no canto inferior direito: Aug.
22 de 1923. A folha foi então dobrada com a escrita voltada para fora
e colocada em um envelope de papel vermelho opaco, medindo
aproximadamente 11,5 por 9 cm. A folha foi colocada de tal modo, que
a escrita ficava na parte inteira do envelope e o croqui na parte do
fecho. Este envelope vermelho não estava fechado e, por sua vez, foi
inserido pelo lado do fecho em um envelope preto opaco. Não havia
jogo entre os dois envelopes. Este segundo envelope, sem fechar, foi
então colocado pelo lado do fecho em um envelope de papel cinza, e,
por último, este foi fechado e lacrado na parte inferior. Quatro furos
foram feitos nos cantos do pacote, que foi guardado até a partida para
Varsóvia. Lá, o documento ficou trancado à chave na minha mala, ou
122 – Gustave Geley
era carregado por mim no bolso do meu paletó, preso entre as páginas
do meu passaporte.
Assim, até o momento em que eu o entreguei ao barão de
Schrenck-Notzing para a experiência.
caixa por uma mulher magra que adora música. A caixa estava em um
local próximo à rua Chmielna, em Varsóvia; mas vem de fora, da
Alemanha me parece. Na tampa há uma etiqueta que tem uma coisa
de estilo egípcio. Vejo uma fábrica... um local... muitas jovens que
trabalham ao redor dessas caixas. Há um montão delas...; agora não há
placas na caixa; contém uma coisa que não tem nada a ver com elas...;
um objeto cinza... de vidro, não, de argila...; eu vejo fogo...; não é um
objeto, mas um fragmento, uma parte... ah, como ele é antigo! Tem
centenas e centenas de anos...; é um fragmento de uma urna pré-
histórica... quebrada... eu a vejo; eis a sua forma (o Sr. Ossowiecki
descreve a forma por meio de movimentos das mãos). Foi encontrada
cavando o chão...; sim... vejo areia, pessoas que cavam. Ah! Há algo
mais na caixa também... uma coisa branca...; não entendo que relação
pode haver entre este objeto e a farmácia...; vejo onde fica... aqui em
Varsóvia, rua Marszalkowska...; uma senhora comprou esta coisa.”
Então o Sr. Ossowiecki interrompeu-se, declarando que estava
cansado.
A sessão, contando os intervalos e a conversa, durou cerca de
cinquenta minutos. Antes de abrir a caixa, o Sr. Ossowiecki desenhou
para nós com a caneta o contorno do objeto que ela devia conter.
Tiramos então o barbante, o papel do embrulho e uma caixa preta
apareceu à nossa vista, na qual meses antes eu havia recebido as
diapositivas da casa Szalay, que fica na rua Chmielna, em Varsóvia.
Elas me foram remetidas por uma das empregadas do armazém, uma
senhora magra, que mais tarde descobri que gosta muito de música. A
caixa continha uma dúzia de placas diapositivas de 8 1/3 x 8½. Não
foi possível descobrir quem havia pegado as placas depois, ou se uma
delas estava quebrada. As placas provinham da fábrica da Ernemann
em Dresden, Alemanha. A etiqueta representa uma cabeça de mulher
que lembra a cabeça de Ísis entre duas colunas de estilo egípcio. Na
caixa encontramos um fragmento de uma urna rodeada de algodão e
um papel com o número 2. Após abrir o envelope marcado com o
mesmo número, lemos nele a seguinte descrição, assinada pelo Sr.
Wawrzeniecki:
125 – Ectoplasmia e Clarividência
Capítulo II
Eis o curto relato que você me pede: observe que tudo isso
aconteceu alguns anos antes da guerra e que eu não escrevi, como
deveria, uma anotação ao sair da casa da Sra. B... Naquele momento,
131 – Ectoplasmia e Clarividência
não dei qualquer importância ao que ela predisse para mim e eu não
entendia nada daquilo. Até um ano depois não surgiu em minha
memória a estranha previsão da Sra. B…, quando minha irmã
sucumbiu em plena juventude e saúde, como resultado do sarampo.
Fui vê-la, instigado por alguns amigos que falaram muito bem
dela para mim. Era absolutamente impossível que ela soubesse quem
eu era. A ninguém eu comunicara minha intenção de ir falar com ela.
Eis o que ela me disse, particularmente notável:
“Vejo ao seu lado uma pessoa jovem, muito chegada a você, que
vai morrer, e vejo um grupo de pessoas que falam uma língua
estrangeira e se preparam para recebê-la, para recebê-la no além.
Há, principalmente, uma velhinha, linda, com uma touca” (aqui
ela me descreveu uma touca especial que minha avó, de origem russa
(Crimeia), usava, e que pode ser vista em um retrato a óleo que no
momento atual está em casa da minha mãe).
Várias vezes, a Sra. B..., que parecia escutar algo com muita
atenção, me repetiu: "Estou desolada, ela fala uma língua estrangeira...
não entendo o que ela diz..." Saí de lá muito cético... convencido de que
tudo isso não merecia minha atenção... Um ano depois, minha irmã
mais nova, casada há poucos meses, sucumbiu a um sarampo maligno
e por causa de seu estado de gravidez.
Foi quando me lembrei e entendi a previsão da Sra. B... Minha avó
conhecera a minha irmã, e ela era sua neta favorita.
P. S. - A uma pergunta nossa, o Dr. Iscovesco responde sem
reservas, que a descrição dada pela Sra. B... da touca de sua avó era
altamente característica. Essa touca, muito especial, não lembra touca
alguma da França ou de qualquer outro país. O incidente da língua
estrangeira, que a Sra. B... não entendeu, também é digno de ser
notado.
O Dr. Iscovesco também afirma que sua jovem irmã estava, no
momento da terrível previsão, em plena e perfeita saúde, e era
impossível conceber temor algum a respeito disso.
132 – Gustave Geley
Biografia da Sra. B…
Resultados negativos
disso algumas aparições são formadas por mim e não por ela. Tenho
uma missão a cumprir, a continuar (na ordem moral e intelectual); sou
instigado a fazê-lo por cinco ou seis figuras que ela vê atrás de mim, à
minha direita, figuras de homens idosos (brevemente esboçados,
depois melhor descritos: um calvo, o outro barbudo, etc.), figuras que
apareceram quando eu entrei na sala, e aí permanecerão, apesar de
outras intervenções posteriormente surgidas; mas então atrás, em um
segundo plano. Tendo a notícia desta missão me deixado insensível,
acrescenta que devo me apressar. Estou cansado: “Não tenho
alterações cardíacas?” “Não sei se existe uma lesão no coração. Devo
ter o coração e os vasos gastos de um homem de idade; nada especial.”
“Mas sem ter uma doença cardíaca, você não sofre disso?” “Não.” “Você
não teve recentemente uma doença grave?” “Não.”
Outra aparição surge; segundo a Sra. B... alta, magra, jovem muito
bonita, mãos lindas, morena, ou melhor, ela se retifica, cabelo
castanho escuro, ligeiramente cacheado...
Descreve com a mão (a aparição) um M, MA... Ela deve ter
morrido há dez ou onze anos. “Não perdi uma jovem mulher em minha
família que respondesse a esses sinais e seu nome era Margarida?”
“Não.” “Mas de uma família amiga, de condição social (eu acho que ela
falou isso) um pouco inferior, que estava muito grata a mim pelos
grandes favores feitos? Ela pronuncia o nome de Luiz; Isso serve como
lembrança? Depois o de Jorge. Ela é muito "pálida", como os doentes
do peito.”
Eu disse a ela que não encontrei nada em minhas lembranças que
me permitisse situar a silhueta percebida em minha vida familiar,
sentimental ou afetuosa.
Ela permanece, no entanto, apesar das interrupções da sessão, as
pausas da Sra. B..., nossas conversas, o entreabrir da janela a pedido
do médium, fato que costuma causar o desaparecimento dos
espectros. E, finalmente, surge uma figura com o meu parecido exato,
mas com vinte e cinco anos menos, eu aos vinte e cinco anos! Eu
pergunto se é meu duplo. “Não.”
138 – Gustave Geley
Esse fenômeno, por sinal muito raro, acontece, mas meu duplo
seria da minha idade, não de outra. Não é, portanto, eu. “Vejo quem
pode ser?” “Não.”
A sessão propriamente dita termina definitivamente após cerca
de quarenta minutos; mas a Sra. B... me retém até as onze horas,
contando anedotas um tanto confusas, nas quais há membros de sua
família e o seu filho, também dotado de poderes, mas de ordem
diferente. Ela me pede espontaneamente, sem qualquer sugestão
minha, para voltar na manhã da terça-feira às nove horas.
Ela me garante que não vai tirar proveito disso para fazer
indagações sobre mim (do qual em casos semelhantes foi acusada
algumas vezes).
Garanto a ela não temer nada semelhante, o qual, por outro lado,
daria um resultado incompleto, porque saber o meu nome, a minha
profissão, etc., não bastaria para conhecer as características
verdadeiramente interessantes da minha vida.
Apesar de ser pouco interessante, reproduzi esta sessão
minuciosamente e em detalhes, porque não sei se pesquisas futuras
poderiam tornar úteis certos pontos de comparação.
Não quero expor, porque isso seria abusar de vocês, o por quê de
não ter conseguido encontrar uma “missão” em minha vida. Ela não
existe. Mas adivinho bem que os místicos, os enfatuados, os subjetivos,
podem sempre justapor, a uma situação, uma ação ou um fato de sua
vida, um rótulo desse tipo. Persuadir ou tentar fazer com que um
sobrinho não devore sua fortuna com uma aventureira e reserve um
pouco para outros fins pode ser uma missão e, em uma ordem
superior, poderia, seguindo o fio, encontrar vagas analogias.
Da mesma forma com relação à aparição de uma jovem ou
mulher. Uma muito alta, muito magra, muito bonita, com mãos
admiráveis, que não vive, muito pálida (hemorragia, anemia profunda
por vários anos), esteve intimamente ligada à minha vida. Amigos de
infância, muito afeto mútuo, a mãe da jovem que se tornou minha tia
por um segundo casamento, etc. Portanto, bastantes pontos idênticos,
mas...
139 – Ectoplasmia e Clarividência
Maria (?).
Dada minha observação de que não conheço ninguém em minha
família com nenhum desses três nomes, a Sra. B... parece consultar-se
e renova sua declaração de que não está em condição de ter visões
naquela manhã; mas um momento depois ela desenha um H na mesa
e, após longas tentativas, pronuncia o nome de Enrique (Henri).
Enrique parece estar ao lado de Juan, com quem mantém uma
grande amizade; mas enquanto Juan aparece à vidente desfigurado
pelo ferimento na cabeça, Enrique, muito mais branco e distante,
parece intacto. (Veremos mais adiante a importância desta visão.)
Ambos, segundo ela, zelam fraternalmente por outra pessoa cujo
nome escreve, primeiro a inicial S, depois o nome Susana! A Sra. B...
descreve a fisionomia de Enrique e a de Juan; mas as indicações que
ela dá são confusas, e essa confusão parece se reproduzir quando fala
da mãe de um desses jovens, que, muito cansada e debilitada pela dor,
em breve irá se juntar ao filho; não chego a distinguir se no
pensamento da Sra. B... essa previsão é aplicável à mãe de Enrique ou
à de Juan.
A vidente, depois de me pedir para abrir a janela e após repousar
um pouco, diz que está pronta para continuar a sessão.
Renova as suas afirmações sobre a presença, entre os mortos que
velam por Susana e por mim, de um certo Luiz ou José (?), de cerca de
setenta e dois anos e não é parente nosso.
Ela declara que Susana deve esperar para se casar e que seu novo
casamento deve ser de afeto e não de conveniência.
Ela também vê uma senhora idosa ao lado de Enrique, que afirma
ser parente dele, mas sem especificar, e em nome da qual tinha uma
comunicação para mim. É a minha mãe?
No decorrer da sessão, perguntei à Sra. B... se, em vez de se limitar
a citar nomes, ela não poderia dizer o sobrenome das pessoas que
declara ver.
No final, quando eu me levanto para me despedir, ela desenha na
mesa um grande C; mas não pode fazer ou dizer mais.
Eu não tinha contado à Sra. B... meu nome ou o de meus pais.
143 – Ectoplasmia e Clarividência
Ela. — Ora! Você diz que não, mas como! se o nome do seu irmão
é André. É com ele que seu pai se preocupa. André tem um filho muito
fraco e delicado. Sua saúde preocupa muito seu pai.
(Rigorosamente exato. Eu não dissera uma palavra.)
(Estou tão interessada, tão captada, que a partir deste momento
deixo de estar à defensiva. Ajudo um pouco a médium, como se verá,
para obter mais.)
Ela. — Ao lado de seu pai há uma menina muito luminosa, morta
muito jovem. É sua irmã. (Exato.)
Ela. — Também vejo um jovem, na casa dos trinta, ferido na
cabeça. Seu nome começa com E.
Eu. — (Rapidamente.) Sim, meu irmão Edmundo, morto na
guerra.
Ela. — Ele amava muito você e sua mãe. Ele sente falta da vida,
que para ele era bela e interessante. Ele também lamenta não ter se
preocupado mais com a Vida no Além durante sua existência. Ele
protege muito uma garota de sua família. Ele a ama muito, ele a
considera quase como sua própria filha.
Eu. — Minha pequena Lisa, talvez?
Ela. — Eu não sei. Ela tem de onze a doze anos, é alta, loira, bonita,
muito inteligente. Você a ama muito. Espere um pouco. Seu nome
começa com S.
Eu. — Você descreveu minha sobrinha Simona.
Ela. — Seu pai volta. Ele pensa muito em uma mulher cujo nome
começa com H.
Eu. — É mamãe Hermância.
Ela. — Ela é muito velha, pelo menos setenta e cinco anos. Chorou
muito, sofreu muito. Ela é baixinha, muito encurvada, com olhos
negros brilhantes. (Muito exato.)
Em suma, apesar de alguns erros, notados principalmente no
início da sessão, e do uso abusivo, naquele momento, do jogo de
nomes, a sessão é verdadeiramente notável. As exatidões, ao meu
entender, foram prodigiosas.
145 – Ectoplasmia e Clarividência
Eis o relatório que você me pediu sobre a minha visita à Sra. B...
Apenas substituí os verdadeiros nomes que a Sra. B... me disse por
nomes convencionais, e silenciei, infelizmente, mas para não me
alongar demais, muitos pequenos detalhes bastante significativos.
Eu sou, direta e indiretamente, totalmente desconhecido para a
Sra. B... Depois de alguns minutos, não vendo ninguém ao meu redor,
desculpando-se por não ter conseguido nada hoje, repentinamente ela
exclama:
“Há alguém aqui... uma jovem (faz a descrição)... cerca de trinta
anos, falecida há menos de um ano, após uma cirurgia de fígado, em
consequência do nascimento do seu quinto filho. Ela só tem um filho...
Não é sua irmã?”, etc. ...
Ela não é minha irmã, mas minha cunhada, falecida há onze
meses. O retrato físico e moral que a Sra. B... fez dela, os menores
149 – Ectoplasmia e Clarividência
detalhes que ela me deu sobre ela, são de rigorosa exatidão. Mas como
eu dissesse à Sra. B... que não tenho irmãs, ela respondeu:
“Sim, é irmã espiritual, assim como do seu irmão Pedro, com
quem ela quer casar... Ela adorava José, o seu marido, não é isso?...
Quem se chama, então, Susana? Quando estava viva queria casar com
o Pedro, teu irmão... Diz que não tem que casar com a Susana, nunca!
Nunca! Por este ou aquele motivo”, etc. ...
Os nomes dos dois irmãos, o desta Susana, as preocupações da
minha cunhada quando era viva, os motivos agora invocados para
impedir o casamento, são todos extraordinariamente precisos e exatos,
e estava eu muito longe de pensar nessas coisas.
Depois de algumas predições detalhadas sobre mortes que
devem ocorrer ao meu redor, a Sra. B...
Disse: “Aqui está uma velhinha que se apoia em sua cunhada
(descrição minuciosa da velhinha... Faz constantemente o mesmo
movimento com a mão (a Sra. B... imita o movimento) para fazer notar
seu anel... Ela escreve ‘Magdalena’... É sua avó? Ela faz sinais de que é”,
etc.
O retrato físico, com o toucado e as roupas, a descrição do anel,
os gestos imitados pela Sra. B... para fazê-la adivinhar o nome
"Magdalena", são a identificação inequívoca da minha avó, que, com
efeito, costumava apoiar-se no braço de minha cunhada, já que ambas
professavam-se grande afeto mútuo.
A Sra. B... me dá muitos outros detalhes que só alguém que viveu
na privacidade da minha família poderia conhecer, detalhes nos quais
eu não estava pensando de jeito nenhum.
A Sra. B…, mais tarde, enxerga ao meu redor, parentes há muito
falecidos, que posso identificar unicamente a partir de informações
posteriores.
Outros nomes dados pela Sra. B..., outras descrições fornecidas,
são, em troca, impossíveis de serem comprovados.
Devo referir aqui uma experiência feita recentemente por um
amigo meu, o Sr. M..., que tinha ido consultar a Sra. B...
150 – Gustave Geley
SRA. B...
“Escreve um A… Alberto, que ainda está vivo.
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Eu tenho um parente próximo com este nome.
SRA. B...
“JORGE (com violência) grita: “Eu gostaria de ver a anciã de cabelo
branco.”
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Isso se aplica ao meu filho.
SRA. B...
“Você verá Enrique em uma fotografia no Instituto Metapsíquico; ele olha
para você com doçura.
“E com lágrimas — fala de uma mulher. Você estava pensando nele
enquanto vinha aqui?
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Não, e eu esperava outra coisa, ignorando o caráter espiritoide que a
sessão iria tomar.
SRA. B...
“André? Doente?
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Tenho um cunhado com este nome.
SRA. B...
“Precisa cuidar da garganta e do peito.
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Segundo o gesto da Sra. B...
SRA. B...
“Ele me cansa muito com sua pressa.
“Ele fala: 'ceder' (a Sra. B... pergunta: “É para ceder ou não?” Não há
resposta).”
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Eu tenho neste momento uma greve que me preocupa.
155 – Ectoplasmia e Clarividência
SRA. B...
O médium, cansado, diz que não quer encarnação; sofre e põe a mão no
peito; fala que Enrique deve ter o esterno afundado.
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Ele morreu sem recuperar a consciência por vários dias; fratura da base
do crânio, um maxilar e um braço.
SRA. B...
O médium acrescenta:
“Vá embora, sim; você me machuca.”
E para mim: “Raramente vi isso; isso é por causa de você. Você é muito
nervoso?
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Sim.
SRA. B...
“Tenha a bondade de abrir a janela.
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Faço isso.
SRA. B...
“Eles foram embora.
“Enrique teve de ficar muito tempo unido à terra por causa de você.
SRA. B...
“Diz muitas outras coisas que eu não percebo por causa da grande pressa
que ele tem em se comunicar.
Diz: “Papai, Papai”. Faz um A grande; não é André — ele se apoia em uma
mulher de cinquenta a cinquenta e dois anos. (É engraçado; com todos vocês,
senhores do Instituto Metapsíquico, os seres todos tratam de dar provas de
sua identidade. — É o que vocês querem?)
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Trocamos algumas palavras sobre este assunto, e eu digo que considero
ser preocupação legítima do consulente saber de quem vem um aviso, a fim de
melhor apreciar seu valor.
SRA. B...
“A mulher tenta se fazer entender; morreu há muito tempo; seu penteado
é como era usado há trinta ou mais anos, em bandeaux, o corpete abotoado até
o alto; diz "mãe", apontando para você; seu aspecto é radiante; deve parecer
mais jovem do que a sua idade; com olhos brilhantes, mãos não muito longas,
que cruza (ela era piedosa?); fala que já disse seu nome, L.; muito boa, agradece
a você (o por quê, não sei).
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Tudo isso refere-se bem, em efeito, à minha mãe, em que eu não estava
pensando agora.
SRA. B...
“Ao lado dela está uma pessoa ... Maria Luísa?...
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Que eu saiba, não.
SRA. B...
“Jovem, vinte e cinco a trinta anos... apaga-se — tudo se apaga —; sinto
como uma angústia. Você tem alguém com problema de coração?
“Sua esposa deve ter algo no coração ou no peito…
“Quem é esta mulher? Não são os mesmos fluidos que os de sua família.
(Tudo é logo apagado com você.)
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Nome de minha sogra, que não cheguei a conhecer.
158 – Gustave Geley
SRA. B...
“Ela morreu lentamente; tem os cabelos castanho-escuros...
“Uma senhora idosa, morta, acaba de se erguer e gritar: "Enriqueta"...
“Ela não pode ficar aqui, porque está pronta para reencarnar.
“Uma criança pequena de três a quatro anos anda por aí.
MINHAS OBSERVAÇÕES PESSOAIS
Não perdi nenhum filho pequeno.
SRA. B...
“Um ancião aparece encurvado; não posso descrevê-lo (é do parentesco
da sua esposa).
A Sra. B... fez-me a descrição das pessoas que ela pretendia ver ao
meu redor, e que não correspondem em nada a amigos ou parentes
vivos ou mortos, ou a memórias latentes em mim.
Enquanto a sessão prolongava-se infrutuosamente, fiz a ela a
seguinte pergunta: “Tive a grande dor de perder o meu filho na guerra.
Você o vê?”
Após alguns momentos de concentração, ela respondeu:
“Eles o mataram, de um ferimento na cabeça...
“Ele caiu de cima, de muito alto…
“Mas ele estava na aviação!... O avião dele caiu. Foi destruído. Eu
vejo chamas ao redor de seu corpo, que deve ter sido consumido,
queimado em parte.” 32
Depois de uma pausa, ela acrescentou:
“Não posso ler bem o nome dele; existem como névoas, nuvens,
que me impedem. Só vejo a primeira inicial, S, e depois o final do
sobrenome ...mont...” Ela repetiu várias vezes: "S... ...mont."
O nome do meu filho era Sancho.
Depois ela fez uma descrição aproximada e bastante indefinida
do meu filho, sem nada característico; mas dizendo que tinha bigode,
o que acho inexato, porque meu filho usava o bigode inteiramente
raspado de há vários anos.
Depois disse que ele estava usando uma espécie de capacete, e o
cabelo coberto por um pano preto; isso corresponde, em efeito, ao
traje de aviador que usou no combate onde encontrou a morte.
Arnaud de Gramont
Doutor em Ciências.
Vice-presidente do Instituto Metapsíquico.
dizendo-me: “No entanto, ele faz sinais de que caiu deste modo em
morte súbita, instantânea.” Neste ponto eu respondi: “É assim mesmo,
meu filho morreu de um raio.”
Ela continuou: “Agora posso vê-lo claramente. Ele é parecido com
você na parte alta do rosto; não na boca, e ele tem mais de você do que
do pai.” Era verdade. “Ele ama muito você; você e a esposa são suas
grandes afeições; ele está feliz pelo fato de você se entender melhor
com ela do que quando ele estava vivo.” Aí a Sra. B... me falou coisas
exatas, muito íntimas e que ninguém sabe. Ela continuou: “Ele deixou
três filhos, dois meninos e uma menina pequenina.” (É exato.)
Depois perguntei à Sra. B... se seria possível ver uma avó que eu
amava com muita ternura. Passados alguns instantes, disse-me:
“Estou a vê-la, parece muito velha; mas seus olhos são vivos e
cintilantes. Faz sinais de que escrevia muito.” Com efeito, minha avó
passava parte do tempo coletando lembranças e cartas de família e de
seus amigos, das quais deixou vários livros.
A Sra. B... também diz: “Ela gosta de ver você rodeada dos escritos
dela e de todos os objetos que a cercavam. Ela amava você de paixão e
está sempre com você; vejo ao longe uma forma borrosa de uma
mulher jovem e delicada; morta há muito tempo; também está perto
de você.”
Depois de refletir, reconheci que o retrato correspondia à
silhueta de minha mãe quando eu era criança. Antes de terminar, a
Sra. B... me disse: “Você tem uma amiga entre as pessoas do seu
relacionamento que vai precisar ser amparada e consolada, porque
ela vai ter um grande desgosto.”
Naquele momento, não havia pensado em nenhuma de minhas
amigas. No dia seguinte, uma mulher que vejo com frequência, mas
que geralmente não me fala sobre seus assuntos íntimos,
confidenciou-me estar em grande tristeza e sofrendo cruelmente.
Devo dizer que esta extraordinária clarividência não tem como
causa a telepatia. Seguindo as instruções, meu cérebro era uma página
em branco e fiquei transtornada quando ela me falou sobre meu filho
164 – Gustave Geley
e sua morte horrível. Por último, eu não estava pensando nos escritos
de minha avó e o mesmo aconteceu com todos os assuntos tratados
por ela. Esta entrevista durou apenas meia hora e a Sra. B... estava tão
exausta que faltou pouco para ela passar mal.
Marquesa de Montebello.
FATOS EXATOS
1. “Você teve uma irmã, que faleceu por volta de 1875, chamada
Maria.”
Exato, só que ela era uma cunhada.
2. “Vejo um senhor, aparência doentia, cerca de quarenta e cinco
anos, moreno, cabelo comprido penteado para trás, grandes bigodes
retorcidos; diz: “Alexandre pai”.
A descrição responde a um irmão, que morreu perto dos quarenta
e cinco anos; o nome de nosso pai era Alejandro.
FATOS INEXATOS
1º. (Um sábio chamado Nicolás está interessado no meu trabalho;
ele morreu de câncer.
Nicolás, desconhecido.
2º. Eu irei descobrir um remédio para curar a tuberculose.
???
OBSERVAÇÕES
1ª. A Sra. B... opôs-se a que eu anotasse qualquer coisa por escrito.
2ª. Como ela não estava pronta, conversamos primeiro sobre
coisas indiferentes por cerca de um quarto de hora; então ela me
contou sobre Maria e Alejandro pai.
Longo intervalo de novo; como eu acreditava que a sessão estava
terminada, com certeza falei de nossas ocupações e do gênero de
pesquisas a que eu me dedico. Aí foi quando ela falou dos meus
professores.
Em resumo, únicos fatos a reter:
1º. O nome e a data da morte da minha cunhada Maria.
2º. Descrição do meu irmão.
3º. Nome do meu pai.
Doutor Marage.
recomendações para os meus dois filhos, "para nós três". Tudo isso
era íntimo demais para que me seja permitido detalhar.
Direi apenas que as palavras repetidas pela Sra. B... eram
justamente aquelas que meu marido teria dito. As próprias frases
eram suas frases familiares, as usadas em suas cartas íntimas.
Uma frase que me comoveu especialmente era a mesma,
textualmente, em uma de suas últimas cartas: “Eu tinha dado a ele —
dizia — a felicidade absoluta.”
Terceira visão.- Após uma pausa, a Sra. B... descreve outro homem
falecido recentemente. Ele se parece comigo, mas seu rosto é mais
estreito. “Seu nome começa com S..., é o seu nome de família.” Bem,
meu pai, que morreu recentemente, era de fato chamado S... A
descrição física é exata.
A Sra. B... continua: “Ele quer que digam a você que é para não ter
nenhuma preocupação por causa de dinheiro.” Bom, é fato que, depois
da morte do meu pai, e principalmente do meu marido, tive grandes
dificuldades financeiras, das quais ainda não estou livre.
Quarta visão. – A Sra. B... descreve, por último, e com fidelidade,
a minha sogra, repetindo-me palavras familiares que ela havia me
dito, agradecendo-me pela felicidade proporcionada a seu filho, etc.
Detalhe incrível: A Sra. B... dá-me, da parte dela, o nome Gabi, pelo qual
minha sogra sempre me chamava e que somente ela usava.
Eu falei apenas sobre os traços característicos das visões da Sra.
B… mas ela me contou uma infinidade de coisas exatas, expostas,
segundo ela, por seus interlocutores invisíveis, sobre minha mãe,
meus filhos e seus caracteres e sobre minhas preocupações. Esses
detalhes são de tal modo verdadeiros, tão de acordo com meus
pensamentos, que poderíamos acreditar que ela os leu.
7 de junho de 1920.
Cheguei às dez horas, e depois de esperar cerca de quinze minutos, fui
recebido pela Sra. B..., que tendo-me ordenado que me sentasse à sua mesa,
disse: “Você é o Sr. Black ou Blech; eu fui avisada há oito dias por um ser
luminoso, vestido ao estilo oriental, da sua visita. Ele tornou a me confirmar
isso esta manhã, e quando você bateu na porta, eu imediatamente disse para
mim mesma: "É ele".
A Sra. B... me disse depois o que ela enxergava luminoso ao meu redor,
etc.; mas isso é pouco importante; ela me citou alguns nomes ou algumas
iniciais de pessoas; mas de pessoas que não são muito próximas de mim. Todo
mundo conhece uma Cecília, um Juan, etc.
Depois de me perguntar o que eu era na vida civil e, sabendo que eu era
secretário geral da Sociedade Teosófica mencionou, logo após, os nomes de
duas pessoas, damas da S. T, das quais uma, Matilde, ia, disse ela, morrer muito
em breve; e a outra, Emília, estava muito doente. Mas ontem fiquei sabendo
que a Sra. B... tinha visto várias vezes a pessoa designada como Emília;
consequentemente, há uma associação de ideias com a S. T. Ela citou depois o
Dr. Deffaut, falecido há seis anos, membro da S. T.; e ela não sabia de sua morte.
Ela não viu ao meu redor as minhas irmãs ou meu falecido amigo
Ostermann.
Conto a ela alguns episódios da minha vida; então fala que vê ao meu lado
duas meninas falecidas em 1899, brilhantes de luz; depois, o meu amigo
Ostermann, que ela descreve fielmente; velho, cabelos longos, barba grisalha,
etc., que me incentiva com sua fala a perseverar na minha linha de conduta...
Mas tudo isso não prova lá grande coisa.
Se, pelo contrário, ela realmente encontrou em suas visões o nome do seu
visitante desconhecido, seria uma prova muito interessante. De todos modos,
ela fez que me parecesse assim.
A Sra. B... acrescentou: “Você ainda tem cinco anos de trabalho continuo
a ser dedicado à sua obra.” Eu respondo: “É possível, mas estou velho e bem
171 – Ectoplasmia e Clarividência
belo, com uma túnica branca. Usa turbante. Quanta força sai dele! e
também bondade, doçura. Meu amigo, fale!
“Diz que está unido a você há milhares de anos, em muitas
encarnações; segue você, espera você. Ele me mostra algumas coisas...;
é estranho...; não compreendo. Diz que você está assinalada. E eu vejo
em você uma estrela na testa... O que isso significa? Também me
mostra um caminho reto e luminoso que termina em um triângulo.35
Sim é isso; uma espécie de triângulo formado por três pontos.
Mas ao lado dele há outro caminho que faz assim (ela traça algumas
espirais com a mão); forma bifurcações. Você ficou para trás em suas
vidas passadas. Vejo algumas quedas. Ele ultrapassou você, mas se
juntará a você quando chegar a hora. Você sofreu muito nesta vida,
física e moralmente. Oh, quanto sofrimento!... Até dramas. E seu corpo
frequentemente protesta quando você age.
“Você perdeu amigos em seu caminho espiritual; outros têm se
afastado...; você está "desamparada" sob muitos aspectos. No entanto,
vejo que muitas almas estão unidas a você.
“A família terrestre não desempenhou um grande papel em sua
vida. Você teria outra missão? Mas quanto você sofreu em qualquer
caso! Era preciso, para chegar onde está...
“ Vejo que você escreve um nome... Annie? Anna?... Annie?36
Quem é? Você conhece essa pessoa? Tem desempenhado um
grande papel em sua vida. Ele a tem ajudado, vai ajudá-la ainda mais
depois de sua morte. Porque o guia de você me disse que ela morrerá
muito em breve, mas você a verá ainda antes... Muito em breve sua
obra deverá ser continuada.
“Vejo você associada aum homem grisalho... Mas... é que vocês
chefiam um movimento!...37
“Vocês evoluirão ainda nas vidas futuras. Conhecerão uma
grande parte da verdade, não toda a verdade ainda. Eu vejo o hindu
fazer o gesto de abrir a testa a você e extrair... Então você verá e saberá
35 A estrela e o triângulo são representações simbólicas, muito conhecidas na teosofia.
36 Annie Besant.
37 Todos os detalhes sobre o passado são muito exatos.
173 – Ectoplasmia e Clarividência
outra coisa.
“Annie fará você mudar de roteiro. Vejo bifurcações; mas algumas
fazem parte de seu destino; você não podia alterá-las. Eles o
obrigaram a fazer coisas que seriam úteis para você.
Agora vejo uma jovem luminosa. Você perdeu alguém, uma
amiga, vinte e cinco ou trinta anos atrás, que poderia ser esta jovem?
Ela escreve o nome de Pedro. Você sabe quem é? Ele corre um perigo
mais moral do que físico; também vejo que escrevem Juan… depois
Isabel. Você lida com literatura. Você é autora, deve continuar. Eles
não fazem você escrever senão o que irá ser útil. Você está inspirada
muitas vezes.
“Onde é que eu vi este guia, este hindu? Eu o vi pouco tempo atrás,
duas ou três vezes... Ah, agora eu sei! Não! a porta se fecha... procuro...
não vejo quando foi que ele veio.
“Pronuncia palavras em um idioma que não conheço. Diria que
atua sobre a minha boca para me fazer pronunciá-las. Não posso!
Faça-me entender, meu amigo!... Quase não entendo o sentido das
palavras. Que pena! Teria coisas tão interessantes para dizer!
“... Ah, toda essa luz que está em torno a você! E essa estrela, e
esse triângulo que eu continuo vendo! Eu não entendo o que você quer
dizer, meu amigo! Oh, bem que eu eu gostaria! Só entendo que você
não é como todo mundo e que...”
Eu. — Você vê minha morte como sendo próxima?
Ela. — Não antes de sete ou oito anos. Foi adiada por causa de sua
missão.
Eu. — Mas eu poderia continuar até o fim?
Ela. — Sim. Você vai sofrer, mas vai agir, mesmo assim. Viver é
seu sacrifício. É mais abençoado ser liberado... Oh! a porta abre-se
novamente. Vejo um nome escrito: Blech.
Eu. — Esse é o meu nome.
(Ela dá um grito de alegria.) — Ah, agora entendo! O oriental
havia me anunciado a visita de um Sr. Blech!
Eu. — Ele é meu irmão.
174 – Gustave Geley
Após esta sessão, a segunda irmã do Sr. Blech, Sra. Zelma Blech,
que não se parece com seu irmão nem com sua irmã, foi ver a Sra. B...
sozinha, sem apresentação, mantendo absoluto sigilo, mesmo sem
avisar seus parentes ou o Instituto sobre essa gestão. Ora, eis o que
aconteceu:
Recém sentada, a Sra. B... exclamou: — “Como isto é curioso.
Também vejo um triângulo em você. Você é teosofista? Vejo um
oriental ao seu lado, mas não é o mesmo que vi em outras ocasiões.
Ele escreve: “Srta. Blech: Você a conhece, sem dúvida...”
A Sra. Zelma Blech, perplexa, não escondeu mais sua identidade.
“Você tem uma filha que é muito apta para a música; quanto ao
seu menino, não tema nada, ele será quase um homem de gênio.
“Você serve como laço de união para toda a sua família. Eles
gostam de te pedir conselhos e te procuram quando há um
aborrecimento, uma dificuldade.
“Você quer me fazer perguntas?”
Eu. — Você pode me falar sobre Enrique?
Sra. B... — Enrique, não; não posso, não vejo.
Eu. — Onde meu marido foi ferido?
Sra. B... — Não vejo ferida, é incrível, porque sempre as vejo; não
vejo sangue; ele deve ter sofrido uma hemorragia interna.
“Mais que luminosos são esses três seres que rodeiam você;
nunca vi seres tais; deviam ser de uma lealdade e franqueza sem igual.
“Você tem outros seres ao seu redor, mas aqueles, em particular
o Gabriel, ocupam tudo e mal posso vê-los.
“Margarida, uma mulher que me diz ter amado muito você e seu
marido.
“Maurício. Mas este não está morto.”
Conclusões e ensinamentos39
objetiva do ser como ele era quando vivia. Com efeito, é necessário
deixar aos humoristas a opinião de que os "Espíritos" ficam, no Além,
vestidos como estavam no dia da sua morte; de modo que "o mundo
do Além deve se assemelhar a um imenso baile de trajes".40
As manifestações aparentes de que se trata não são, com toda
evidência, repetiremos, senão o resultado de um processo
ideoplástico indispensável para as identificações. Pode-se presumir
que esse processo ideoplástico pertence a entidades distintas e
autônomas, a "Espíritos"; mas pode também logicamente ser
localizado no subconsciente da Sra. B…
A descrição exata dos caracteres físicos feita pela vidente, não
poderia, por conseguinte, ser considerada como evidência suficiente a
favor da hipótese espírita.
A visão dos caracteres psíquicos, a revelação de peculiaridades
íntimas individuais, deixam-nos ainda mais perplexos.
É bem verdade que as entidades parecem mostrar autonomia
revelando uma atividade extrínseca que não pode ser facilmente
reduzida ao limite dos clichês mentais percebidos pela Sra. B... Mas
aqui também a prova irrefutável desvanece-se.
A hipótese da clarividência pura sempre pode ser invocada para
explicar tudo, até mesmo as revelações ignoradas do pesquisador,
como no caso do Dr. Z...
Julgamos prudente, em qualquer caso, nos reservarmos uma
opinião sobre esta matéria. Evidentemente, a questão da realidade ou
não realidade dos “comunicadores” não pode nem mesmo ser
proposta em nossa breve investigação.
A solução do formidável e grandioso problema da sobrevivência
não poderia ser tentada em um trabalho metapsíquico parcial e
fragmentário. Em qualquer caso, não pode ser concebido senão como
o coroamento final do edifício metapsíquico.
Capítulo III
Um caso notável de
auto-premonição de morte41
41O relato deste caso foi publicado no Annales des Sciences Psychiques de agosto-setembro
de 1916.
185 – Ectoplasmia e Clarividência
Não está mais lá! Se você tivesse visto como ele sorriu para Ray,
quando Ray passou ao lado dele! Ray vai ir embora com ele; mas não
você tem que chorar, mamãe!”
O garoto morreu, em efeito, de uma doença repentina, dois meses
depois de seu irmão.
CASO NORRIS
Uma senhora chamada Norris teve a visão de uma amiga falecida
que anunciou que ela morreria no dia seguinte. Ele fez seus últimos
preparativos e morreu na hora indicada.
sono ou na vigília.
CASO LUKAWSKI
O Sr. Lukawski, alto funcionário da marinha russa, teve, no início
do ano 1895, um sonho terrível: via-se a bordo, no mar. O navio era
abordado por outro. Ambos os navios estavam afundando. Em meio
ao pânico geral, ele próprio estava lutando com outro passageiro pela
posse de uma boia de resgate; finalmente ele caía na água e se afogava.
Com efeito, ele morreu em junho de 1895, afogado no Mar Negro,
a consequência de uma colisão do navio onde ele estava, com outro
navio. Todos os detalhes da visão foram exatos.
Quando o Sr. Lukawski teve que embarcar, ele reconheceu o
navio visto em sonhos e tinha a certeza do que o esperava.
CASO DE MESSINA
(Relatado pelo doutor Calderone.)
O Sr. Domênico Fleres, conselheiro da Audiência de Palermo,
estava de férias em Banso com sua esposa, sua filha e sua netinha. As
duas últimas, que moravam em Messina, voltaram a esta cidade no
final das férias. Ao se despedir, a menina, beijando a avó, disse-lhe com
insistência que "não a veria mais". Pouca importância foi dada às
palavras da garota.
Na tarde de 27 de dezembro, a menina colocava o toucado
noturno, ajudada por sua mãe. Quando a mãe estava calçando as
meinhas nela, a menina disse: "Mãe, você está colocando as meias da
193 – Ectoplasmia e Clarividência
CASO DE EDIMBURGO
(De Vesme: “Histoire du Spiritisme”.)
Um menino de oito anos cujos pais viviam em um castelo nos
arredores de Edimburgo, brincava um dia tranquilamente, quando de
repente o viram empalidecer e permanecer imóvel. Após alguns
instantes, a criança disse as seguintes palavras: “Vejo um menino
dormindo, deitado em uma caixa de veludo com uma colcha de seda
branca; ao redor há grinaldas e flores. Por que meus pais estão
chorando?... Esse menino sou eu!”
Depois o menino volta a si, continua brincando, esquecido do
anterior e surpreendido ao ver a emoção dos pais. Uma semana
depois, o garoto se afogou em um pequeno lago próximo ao qual
brincava no parque.
Capítulo IV
distante.”
Como funcionam os objetos para que a clarividência apareça ?
Sabe-se que os "psicometristas" emitiram a hipótese, aliás,
perfeitamente inverossímil, de que o objeto conserva, como
fotografados nele, os eventos do ambiente em que tinha figurado.
Segundo Osty, os fatos têm refutado essa hipótese. Cenas
evocadas na vida de uma pessoa ocorreram muitas vezes longe do
ambiente do objeto, em ocasiões quando o objeto não estava na posse
daquela pessoa há muito tempo atrás.
De todas as suas pesquisas, Osty deduz o seguinte:
“O papel do objeto colocado nas mãos dos sujeitos não é o de
fornecer diretamente a matéria misteriosa de seus relatórios. O objeto
aparece como um meio, temporariamente necessário para alguns, não
necessário para outros, de alcançar a verdadeira fonte de informação.”
Na verdade, o objeto não é mais do que um simples localizador do
trabalho lúcido e não um registrador de eventos. Ocorre como se o
vidente, ao entrar em contato com o objeto, estivesse na presença da
pessoa objeto da experiência.
Esta lei porventura permite compreender (seja-me permitido
fazê-lo observar, de passagem) algumas das experiências de Stephan
Ossowiecki.
4.º OS ERROS
Não haveria razão para nos determos em falar sobre os erros nos
sujeitos lúcidos, erros naturalmente muito frequentes, se o seu estudo
204 – Gustave Geley
Capítulo V
esta textualmente:
“Casimiro Perier é eleito Presidente da República por 451 votos!”
Isso acontecia, como eu disse, antes da reunião do Congresso.
Observar-se-á que a frase, cuja nítida memória o Dr. Gallet conserva,
oferece a curiosidade de indicar o presente e não o futuro. Gallet,
estupefato, chamou a atenção de seu companheiro Varay e entregou-
lhe o papel que acabara de escrever. Varay leu, deu de ombros e, como
seu amigo insistisse com interesse, declarando que acreditava na
realidade dessa premonição, pediu a ele quase de maus modos que o
deixasse trabalhar em paz.
Depois do almoço, Gallet saiu para assistir uma aula na Faculdade.
No caminho, ele encontrou dois outros estudantes: o Sr. Bouchet,
atualmente médico em Cruseilles (Haute Savoie), e o Sr. Deborne, hoje
farmacêutico em Thonon. Gallet anunciou a eles que Casimiro Perier
seria eleito por 451 votos. Apesar das risadas e zombarias de seus
companheiros, ele continuou a afirmar repetidamente sua convicção.
No final da aula os quatro amigos reuniram-se e foram se
refrescar no terraço de um café próximo.
Naquele momento os vendedores de jornais vieram com os
extraordinários que anunciavam o resultado da eleição presidencial.
Gallet correu para comprar um número e deu-o aos amigos; eles
ficaram mudos de estupor quando leram:
Casimiro Perier, eleito por 451 votos.
Este relato foi escrito a ditado do Dr. Gallet, cujas lembranças,
repetimos, são extremamente claras e precisas.
Eis agora os depoimentos das testemunhas:
1º. “Testemunho do Dr. Varay, ex-estagiário dos hospitais de
Lyon:
“Declaro ser absolutamente exato o relato feito pelo médico Gallet ao Dr.
Geley em sua premonição sobre a eleição presidencial de Casimiro Perier por
451 votos.
Annecy, 15 de julho de 1910.
Doutor Varay.”
208 – Gustave Geley
50Eis o resultado oficial do escrutínio: Sufrágios emitidos = 845; Maioria absoluta = 423.
Obtiveram: Casimiro Perier = 451 votos, eleito; Brisson = 195; Dupuy = 97; General
Février = 53 ; Arago = 27; Vários = 22.
210 – Gustave Geley
por provável.
Além disso, torno a repetir, Gallet jamais pensou nessa eleição.
Ele não estava pensando nela em absoluto quando a premonição
ocorreu, fora de qualquer reflexão consciente.
Por último, esta premonição prevaleceu imediatamente na
imaginação de Gallet com um caráter de certeza absoluta. Não teve
dúvidas durante a espera do resultado e foi o único que não se
surpreendeu ao conhecê-lo.
São argumentos muito sérios a favor da hipótese de lucidez.
Por outro lado, Gallet teve outras muitas vezes premonições
realizadas.
Um dia, por exemplo, suas faculdades de lucidez manifestaram-
se de uma forma igualmente inesperada e perfeita. (Este caso não está
apoiado, infelizmente, como o anterior, com depoimentos
indiscutíveis.)
Estava ele nas corridas de Lyon, ainda estudante, quando teve
seis vezes consecutivas, antes da largada dos cavalos, a "visão mental"
de um número que a cada vez foi o do cavalo vencedor.
Ele anunciou isso com antecedência, todas as seis vezes, para um
colega de classe estupefacto e entusiasmado.51
Gallet, no entanto, tentou em vão em outras ocasiões renovar
suas premonições. Nunca conseguiu fazer que nascessem quando ele
as evocou.
Já aconteceu com ele durante uma viagem ter de forma
surpreendente a sensação do "já visto".
Na época em que ocorreu a premonição relativa a Casimiro
Perier, ele costumava fazer com seus colegas de classe algumas
experiências elementares de mediunidade física muito bem-
sucedidas. Ele possui, em minha opinião, faculdades mediúnicas
evidentes, embora não desenvolvidas.
Apresenta muito claro o sinal de Maxwell (manchas na íris).
De tudo o que foi exposto, acho que posso deduzir que o caso do
51 O Dr. Gallet, infelizmente, não sabe o que foi feito desse seu colega de classe.
211 – Ectoplasmia e Clarividência
52Esta previsão foi comunicada a Paris, muito antes da realização dos eventos, a Jules
Roche e ao médico Geley.
214 – Gustave Geley
1920.
* * *
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* * *
MENSAGEM DE 21 DE JULHO
“Um visitante de Paris produz uma mudança inesperada para
vocês. Seu patriotismo, seu heroísmo o impressionam muito.
“Grandes mudanças no mês de agosto.
“Sua força é a vitória de Kowel e Kovno.
“Um desacordo entre os líderes bolcheviques e grande mudança
inesperada.
“Vocês irão recuperar não apenas suas terras abandonadas, mas
também tomarão seus canhões e uma multidão de prisioneiros. Uma
grande vitória perto de Wilna e Lida. Wilna será ocupada por suas
tropas ainda mais rápido do que foi abandonada.”
ACONTECIMENTOS REALIZADOS
Todos esses eventos aconteceram. Após a vitória do Vístula,
vieram as vitórias de Kowel e de Kovno, de Wilna e de Lida.
A derrota dos bolcheviques foi completa. Eles perderam a maior
parte de sua artilharia e abandonaram mais de 100.000 prisioneiros.
216 – Gustave Geley
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* * *
13 DE AGOSTO DE 1920
(No momento mais angustiante, falava-se em Zakopane que
Varsóvia já estava ocupada pelo inimigo.)
“Grandes mudanças. A França envia ajuda. Os bolcheviques foram
expulsos da cidade de Przsnyss. Seu velho chefe pega em armas e leva
vocês à vitória. É a segunda-feira depois de 15 de agosto. O inimigo
217 – Ectoplasmia e Clarividência
* * *
* * *
ACONTECIMENTOS REALIZADOS
Impossível ser mais exato e preciso. Tudo, absolutamente tudo, é
verdade; os detalhes e fases da batalha do Vístula.
A tentativa sobre Lemberg, a cumplicidade dos prussianos em
Soldan ao deixar as hordas passarem derrotadas pela Prússia Oriental.
Observe-se a ordem inversa deste último episódio descrito em
primeiro lugar.
* * *
* * *
53As notas sobre este notável documento foram coletadas pela Sociedade Polonesa de
Estudos Psíquicos.
219 – Ectoplasmia e Clarividência
SEGUNDA PARTE
A ECTOPLASMIA
Introdução
costas. Eu estava sentado atrás dele e podia vê-lo muito bem, mas não
pude distinguir o agente que estava operando.
“As teclas de um piano também desceram sem contato visível.
“Essas curiosas protuberâncias, mais frequentemente sentidas
do que vistas, intrigaram muito o professor Richet, como fisiologista
que é, e foi ele quem provisoriamente as chamou de ectoplasma.
"Este nome não foi dado por ele à própria substância que os
forma."
O curioso é que nessas observações não se havia estabelecido a
relação sistemática e constante que existe entre o ectoplasma
esboçado e a materialização realizada. Para estabelecer esta
dependência, foram necessários estudos feitos com a médium Eva C.,
que exterioriza a substância amorfa, sob o seu aspecto sólido, com
uma profusão excepcional.
Nesse sentido, a Sra. Bisson, que tem trabalhado continuamente
com Eva por doze anos, legitimamente pôde reivindicar no Congresso
de Copenhague a descoberta da "Substância".
Ela me fez a honra de invocar meu testemunho, dado
espontaneamente, pela primeira vez, em minha palestra no Colégio da
França, sobre "a fisiologia dita supranormal". Eis alguns fatos sobre o
histórico das experiências da Sra. Bisson:
Em 1909 ela conheceu Eva e começou a trabalhar com ela.
Desde o início constatou-se que o sujeito durante as sessões
frequentemente tinha a cabeça e o rosto cobertos por uma espécie de
substância branca que a transfigurava. Essa foi a origem das
investigações ulteriores.
“Em 1910 — disse a Sra. Bisson no Congresso de Copenhague —
o professor De Schrenck-Notzing foi apresentado a mim. Em cada uma
de suas viagens à França, ele esteve presente nas sessões e contribuiu
para os trabalhos cujos resultados foram publicados com seu nome na
Alemanha, ao mesmo tempo que eu os publicava na França com o
meu.”
O qualificativo de substância foi escolhido uma noite em sessão.
224 – Gustave Geley
Capítulo I
Fig. 35 - Cabeça de mulher com uma espécie de corpo embrionário, formado por
uma massa de substância que termina no canto da boca.
Fig. 32. Cabeça de mulher de dimensões reduzidas. A parte inferior do rosto está
materializada melhor do que a superior.
Fig. 36. A mesma da Fig. 35. Fotografia tirada um instante depois. A figura
estava por cima e à direita do médium, na abertura da cortina.
239 – Ectoplasmia e Clarividência
palavras que ela me disse ao chegar: “Há vinte e quatro horas venho
notando a presença de uma mulher que quer se mostrar.”
Assim que adormece entra em transe: emite longos gemidos e
gritos semelhantes aos de uma mulher no ato de dar à luz. Depois vai
se acalmando, aos poucos, sem que nada apareça. Naquele momento
eu penso que a sessão irá ser negativa.
De repente, a Sra. Bisson exclama: "Aí está... na cortina."
Com efeito, acima da cabeça da médium, entre as cortinas, vinda
do lado direito, avista-se uma cabeça de mulher. Está à altura normal
de uma mulher em pé; apenas a cabeça é visível, emergindo entre as
cortinas. A materialização desta cabeça é perfeita. Ela tem um rosto
vivo, de dimensões normais, com olhos expressivos e cor fresca. Este
rosto é muito bonito e as pessoas ao seu redor o contemplam,
comunicando suas reflexões de admiração em voz baixa.
Empolgado e surpreso, esqueço de apertar a pera de caucho
destinada a produzir a explosão para a fotografia. Não penso nisso até
o momento em que a aparição, sem dúvida perturbada pela luz, ou por
nossa atenção focalizada nela, retira-se para trás das cortinas. Essa
cena, tão clara, foi muito curta: alguns segundos.
A seguir, por um quarto de hora, a mesma cabeça aparece e
desaparece, às vezes em tamanho natural, outras vezes de dimensões
mais reduzidas, mas sempre muito claramente. Não consigo o
momento certo para produzir a explosão.
Por fim, a cabeça, reduzida a dois terços do tamanho natural, vem
situar-se diante do peito de Eva, de perfil, e eu pressiono a pera de
caucho. A luz explode. (Lâm. VII, figs. 24 e 25.)
Após a explosão, vejo a cabeça sobre os joelhos de Eva por um
momento. Não vi nada do busto; depois tudo desaparece
instantaneamente.
É de se observar que nesta sessão não vi a substância
ectoplásmica original, nem testemunhei a formação progressiva da
cabeça fotografada. Esta cabeça apareceu de repente, totalmente
materializada, entre as duas cortinas.
Destacam-se também as variações no tamanho da cabeça, ora de
249 – Ectoplasmia e Clarividência
Capítulo II
Minhas experiências
de materializações com
o Sr. Franek Kluski
Fig. 52, 53, 54: A finura extrema dos moldes aparece nas figs. 50, 51, 52, 53. Os
moldes 45, 46 ,47, 48 foram recheados com gesso antes de serem fotografados.
Os moldes 50, 51, 52, 53, foram fotografadas as faces dorso e palma.
Fig. 57. Dorso. e Fig. 58. Palma e a Fig. 59. Dorso e Fig. 60. Palma.
Fig. 68. Palma. (O defeito observado na borda externa é devido a uma depressão
da parafina após a retirada do pé materializado.)
Fig. 70. Simulacro produzido com uma mão de caucho. Na base, defeitos devidos
à irrupção de água quente por entre a luva de parafina e a mão de caucho.
261 – Ectoplasmia e Clarividência
Fig. 89. Fig. 90. Fig. 91. Fig. 92 . Fig. 93. Fig. 94.
265 – Ectoplasmia e Clarividência
permitem. Por isso organizamos o seguinte sistema, que nos tem dado
bons resultados: Uma lâmpada vermelha de 50 bugias, suportada por
um pé de base, muito estável mas fácil de deslocar e extensível em
altura. A lâmpada pode ser orientada à vontade e está equipada com
um refletor que direciona a luz na direção conveniente. Possui um
reostato intercalado ao alcance de um dos vigilantes, que pode ajustar
facilmente a intensidade entre 0 e 50 bugias.
Além da luz vermelha, temos utilizado grandes abajures com
sulfeto de zinco. Esses abajures possuem uma alça que permite serem
manuseados com facilidade. A luminosidade dos abajures oferece a
característica preciosa e singular de ser suportada pelas formas
materializadas muitíssimo melhor do que a luz vermelha. Além disso,
sua fosforescência é muito semelhante à emitida por essas formas em
si mesmas.
Sabe-se que Crawford já havia observado que os abajures de
sulfeto de zinco são suscetíveis de prestarem grandes serviços e
prejudicam só muito levemente a produção dos fenômenos.
No entanto, esses abajures têm um grande inconveniente, e é que
eles iluminam apenas os objetos próximos a eles que, além disso,
também fiquem localizados em sua radiação. Ou seja, são ótimos para
favorecer a fraude. Portanto, eles só devem ser usados com a maior
consciência. É essencial que a fraude seja impossibilitada através da
vigilância do médium; da mesma forma, a total ausência de conluio e
a experimentação em laboratório especial, ou pelo menos em uma sala
bem fechada e segura.
Acima de tudo, os abajures são apenas acessórios para
comodidade, mas não instrumentos essenciais.
Diremos previamente e com clareza que, além da iluminação
intermitente dos abajures, temos utilizado nestas sessões apenas uma
fraca iluminação de luz vermelha, e isso pelo motivo de o médium se
encontrar num estado de cansaço que exigia as maiores precauções.
Além disso, a própria natureza de nossas experiências, que levamos
tanto mais longe quanto possível, não permitia outra coisa.
Com efeito, temos procurado obter moldes de mãos
277 – Ectoplasmia e Clarividência
qualquer truque, cujo acesso era proibido a ele entre sessão e sessão,
sem possível conluio e com ambas as mãos seguradas!
No que se referem as ligaduras, lacres, correntes ou qualquer
outro preparativo análogo, sabe-se que não conferem segurança real.
Nada é tão seguro, digamos isto mais uma vez, como uma inspeção
bem feita das mãos.
Sempre fizemos "a corrente" durante as sessões, não deixando
nenhum experimentador fora dela.
Em geral as sessões decorriam assim: tomávamos posições no
lugar correspondente, fazíamos a corrente e os dois vigilantes
conferiam com boa luz se um segurava de fato a mão direita e o outro
a esquerda do médium. Então a luz vermelha era reduzida
consideravelmente e esperávamos conversando. Os fenômenos
começavam quase imediatamente quando a sessão era boa;
prolongavam-se por meia hora; depois, o médium, cansado, pedia um
pouco de descanso. Suspendíamos a sessão por um quarto de hora,
durante a qual Franek bebia grandes xícaras de chá; depois,
continuávamos. Em várias ocasiões, houve três intervalos de descanso
na mesma sessão. As reações do médium eram do modo seguinte: ele
não se queixava, não lançava gemidos nem suspiros, suas mãos
permaneciam sensíveis e quentes. Apenas seu pulso e respiração
aceleravam um pouco. Em poucas palavras: Franek não oferece quase
nenhuma das manifestações sensoriais, motoras ou vasomotoras
imediatas comprovadas na maioria dos médiuns e tão assinaladas, por
exemplo, em Eva. Pelo contrário, a reação consecutiva às sessões é
muito forte. Ele nunca é hipnotizado; imediatamente, por si mesmo,
ele cai em um estado de semi-transe, durante o qual permanece ciente
do que está acontecendo. Em raras ocasiões o transe é completo e
então a inconsciência é absoluta.
Em um estado de semi-transe, Franek precisa manter uma
passividade total; ele pode observar os fenômenos, mas o menor
esforço de atenção ativa e o menor ato de vontade de sua parte faz
com que eles cessem imediatamente. Ele prefere o semi-transe ao
280 – Gustave Geley
transe total por causa do interesse pessoal que ele coloca nas sessões;
mas certamente as manifestações no segundo estado são muito mais
poderosas do que no primeiro.
Ele volta em si espontaneamente quando a iluminação é
bruscamente aumentada; então fica cansadíssimo; sua prostração é
tal que precisa deitar em um divã, totalmente esticado, como em
iminência de uma síncope, sem fazer o menor movimento; ocorre um
suor leve, às vezes alguns momentos de penosas palpitações. Uma
sede ardente obriga-o a beber água em abundância; mais tarde ele vai
se recuperando aos poucos.
Após as sessões, Franek mostra sinais de esgotamento nervoso e
ao mesmo tempo de sobre-excitação. Como regra geral, segue-se a
insônia; às vezes, vômitos repetidos de sangue impõem longas
interrupções na prática de sua mediunidade.
Os experimentadores também observam, após as sessões,
sintomas de fadiga e enervação, mas é difícil separar qual parte desta
fadiga corresponde ao esgotamento da força vital e qual à atenção.
se pontinhos brilhantes.
Em outros casos, eram massas de luz aparentemente isoladas.
Muitas vezes assumiam a forma de discos e seu tamanho era o de uma
moeda de dois e até cinco francos. Esses discos não eram homogêneos;
eram formados por um vapor luminoso, como uma pequena nebulosa
circular em que predominavam dois ou três pontos brilhantes.
O brilho dessas massas de luz era comparável em intensidade à
fosforescência dos vermes de luz. Elas flutuavam em torno do
médium; mas às vezes afastavam-se muito dele; já vi algumas que
subiam ao teto da cabine, a 2,50 metros de altura, que ficava bastante
iluminado.
Muitas vezes pude observar que essas luminosidades eram
bosquejos de formação de órgãos. Eu vi, por exemplo, algumas pontas
de dedos bem definidas; ao toque e à visão elas davam tal impressão.
Observei especialmente na sessão de 21 de dezembro que “cada vez
que os vigilantes eram tocados, eu claramente via uma luz se
aproximando deles e justamente no momento do contato dessa luz é
quando eles exclamavam: “Fui tocado.”
Na sessão de 12 de novembro, duas grandes massas luminosas
como meias luas de pequena dimensão vão ao encontro mútuo; elas
se juntam, formam uma massa única e depois extinguem-se.
Na sessão de 14 de novembro, produzem-se luminosidades que
aumentam rapidamente de intensidade. São abundantes,
principalmente junto do professor Richet, que não pode vê-las muito
bem por causa das cortinas da cabine. Uma dessas luminosidades é
muito interessante, é como uma nebulosa vagamente luminosa;
parece-me que é um rosto em processo de materialização; tem essa
forma e dimensões, está à altura de um homem, atrás do médium e à
sua esquerda, à direita do professor que vigia a mão esquerda. Dura
longo tempo, quase meio minuto. A visibilidade aumenta e diminui
sucessivamente.
Na sessão de 27 de dezembro, as massas luminosas são iguais às
descritas nas sessões anteriores: nebulosas, vapores fosforescentes,
pontos luminosos muito brilhantes, grandes bolas luminosas, etc.
283 – Ectoplasmia e Clarividência
simulação dos fenômenos por nós observados não teria sido possível:
a distância, a multiplicidade, as alternativas de aumentar ou diminuir
a visibilidade, o formato do rosto, tudo isso não poderia ser imitado
com o uso de uma única mão livre.
os mesmos contatos.
Sessão de 20 de novembro. — (A vigilância era feita pelo Sr.
Flammarion à direita, e à esquerda por mim.) Os contatos se
multiplicaram sobre os dois vigilantes. O Sr. Flammarion cedeu o lugar
à esposa, que percebeu as mesmas sensações.
Eis o que a Sra. Flammarion escreve sobre isso:
“Afirmo que durante todo o tempo que estive à direita do
médium, nem um só momento foi separado o dedo mínimo da sua mão
direita do da minha mão esquerda, agarrado fortemente ao dele como
um gancho.
“Meu marido foi tocado por uma mão invisível, primeiro no braço
esquerdo, depois no ombro, quando estava à direita da médium.
Quase imediatamente, depois de me sentar em seu lugar, fui tocada
por minha vez. Uma mão invisível correu pelo meu corpo, começando
pelo lado esquerdo e passando muito rápido para o lado direito...
Várias vezes tive a sensação de que uma forma se aproximava de mim;
sentia como ela chegava e me tocava... Na segunda parte da sessão os
toques pelo meu corpo recomeçaram. Percebi claramente que uma
coisa invisível vinha em minha direção; uma mão passou pela minha
cabeleira, mexeu nos enfeites, não os pegou, mas me despenteou
completamente. Ao mesmo tempo, senti batidas de baixo para cima,
sob minha cadeira. Tive a sensação de que havia alguém à minha
esquerda; uma mão avançou arranhando a mesa, parecendo procurar
algo... Insisto no fato de que antes de ser tocada eu sempre percebia
que algo ou alguém se aproximava, de modo que não me surpreendia
porque estava avisada de que iria notar um contato.”
Na mesma sessão, o conde Potocki viu passar diante de seus olhos
várias vezes uma mão, que depois apoderava-se da minha e a apertava
amistosamente.
Na sessão de 23 de novembro de 1920, assim como na sessão do
dia 15, consegui ter as duas mãos do médium sob minha mão
esquerda e, ao mesmo tempo, a mão do outro vigilante. Reparei no
seguinte: “Nessas condições fui tocado no braço esquerdo e na cabeça
por uma mão bem formada, durante um bom espaço de tempo. Em
289 – Ectoplasmia e Clarividência
dado momento, uma mão agarrou meu braço e, com muita violência,
puxou-o para trás, chegando a afastá-lo do contato do médium.”
As mãos materializadas às vezes manifestam-se de maneira
diferente da vista e do contato.
Na sessão de 20 de novembro, ao final, houve manifestações de
ordem intelectual, das quais falaremos mais tarde.
Tivemos algumas comunicações muito claras por meio de
batidas. Em uma dessas comunicações, fomos convidados a cantar. Em
vista disso, cantamos A Marselhesa a meia voz. Quando a primeira
estrofe terminou, houve sonoros aplausos dentro do gabinete, atrás
do médium. Cada estrofe foi igualmente aplaudida. O mesmo
fenômeno reproduziu-se na sessão de 27 de dezembro.
3°. Moldagem de membros humanos materializados. — Pudemos
obter uma prova formal objetiva, com garantia absoluta, da
materialização de membros humanos pelo processo de moldagem em
parafina. O procedimento é conhecido. (Ver Aksakof: Animismo e
Espiritismo e Delanne: Les apparitions matérialisées).
Nossas experiências diferem das de nossos antecessores pelo fato
de termos obtido a certeza da autenticidade metapsíquica das
moldagens e de sua produção durante nossas sessões. Para isso,
utilizamos um procedimento inédito de monitoramento e verificação.
Sendo este capítulo de nossas experiências um dos mais
importantes, a ele dedicaremos grande parte de nossa narração; mas
primeiro devemos, como já fizemos com relação aos fenômenos
luminosos, perguntarmo-nos se nossas impressões, por meio da visão
e do tato de órgãos materializados, podem ser explicadas como o
resultado de uma fraude.
Nas condições em que operávamos, em nosso próprio
laboratório, protegidos de todos os truques premeditados e de todos
os conluios, só uma fraude era possível, aquela que já consideramos, a
substituição de mãos: uma das mãos do médium, habilmente liberada,
teria produzido todos os fenômenos.
Já dissemos que a nossa vigilância, sob este aspecto, era de tal
290 – Gustave Geley
contato, eram tão perfeitos que decidimos tentar obter uma prova
documental deles sob condições de vigilância e verificação
indiscutíveis.
Outro motivo nos decidira a fazê-lo: em nossas experiências
anteriores de materialização não havíamos conseguido obter essas
provas documentais. Todas as nossas tentativas de obter impressões
de mãos materializadas foram infrutuosas.
Portanto, era indicado repetir essas provas com Franek em
diferentes condições. Recorremos ao antigo procedimento da parafina
fundida, amplamente descrito por Aksakof (Animismo e
Espiritismo).59 Este procedimento é o único que conhecemos que
permite obter moldes muito rápidos e ao mesmo tempo completos. É
também o único que se adapta bem às condições tão especiais da
materialização metapsíquica. Outros procedimentos são bem
inferiores: o uso de substâncias plásticas, do negro de fumo, pode dar
bons resultados, mas necessariamente parciais. O gesso não serve
para isso, porque não se pode prever em que momento o fenômeno
ocorrerá e porque o gesso "endurece" muito lentamente.
Lembraremos em que consistem os moldes de parafina: Um
recipiente contém parafina derretida flutuando em água quente. É
colocado próximo ao médium durante a sessão. Pede-se à "entidade"
materializada para mergulhar uma mão, um pé ou uma parte de seu
rosto, várias vezes, na parafina. Quase instantaneamente, um molde é
formado exatamente aplicado ao referido membro. Este molde
endurece rapidamente no ar ou em contato com água fria contida em
outro recipiente próximo. Em seguida, a parte orgânica em funções
desmaterializa-se e deixa uma luva em mãos dos experimentadores.
Posteriormente, é possível verter gesso na referida luva e retirar
a parafina, mergulhando-a em água fervente. Fica então um modelo
que reproduz todos os detalhes da parte materializada.
59Este método foi inventado em 1875, na América, por M. Denton, professor de Geologia.
Mais tarde, foi usado em Londres pelos Sres. Reimers e Oxley. Desde então, nenhum outro
médium (pelo menos que eu conheça) havia se revelado, até estes últimos tempos, como
capaz de produzir tais moldes.
292 – Gustave Geley
O arranjo usado por nós era de acordo com este método; mas não
utilizamos a vasilha de água fria para o resfriamento dos moldes, a fim
de simplificar e para segurança na vigilância.
Portanto, não tínhamos nada além de uma vasilha com água
quente e parafina. Este recipiente era de 0,30m de diâmetro. Um quilo
de parafina flutuava na superfície da água quente, formando uma
camada de cerca de 10 centímetros de espessura. (Na verdade, a
vasilha era muito pequena e a quantidade de parafina também, o que
gerava dificuldades e defeitos que devem ser evitados no futuro, como
veremos adiante.)
O recipiente era colocado em um aquecedor elétrico; mas o calor
da parafina era tanto que precisávamos desligá-lo antes de iniciar as
sessões. O resfriamento da parafina ocorria aos poucos; às vezes cedo
demais. A partir de agora usaremos um aquecedor que dê uma
temperatura moderada e constante.
Vasilha e aquecedor foram colocados sobre uma mesa em frente
ao médium, a 60 centímetros dele. Como dissemos, os
experimentadores formavam uma corrente ao redor da mesa, e dois
deles pegavam, um da mão direita e o outro da esquerda de Franek.
Uma fraca luz vermelha deixava ver a silhueta, sempre imóvel, do
médium.
Obtivemos no I. M. I. nove moldes no total, dentre eles sete
moldes de mãos, um de um pé e outro da parte inferior de um rosto
(lábios e queixo). O último é de dimensão normal; os oito restantes
são menores do que o natural e parecem reproduzir as mãos de uma
criança entre cinco e sete anos.
As moldagens eram feitas a pedido, durante a sessão. Geralmente,
a operação começava depois de um tempo bastante longo (vinte
minutos, em média) e era muito rápida (um a dois minutos, às vezes
menos). Essa rapidez não deixa de nos surpreender, porque a
parafina, em temperatura ambiente, não solidifica tão depressa.
Parece, segundo o médium, que as entidades que operam podem
modificar à vontade a temperatura do membro materializado e esfriá-
lo consideravelmente para acelerar a solidificação da parafina com a
293 – Ectoplasmia e Clarividência
retraídos (fig. 49). A mão está completa até o punho. Há muita parafina
pelo chão e nas roupas do médium.
"O peso que falta no recipiente é de 85 gramas e o molde pesa 25
gramas."
que nos moldes. Eles são suficientes para se ter a certeza de que estes
últimos constituem uma representação perfeita da mão humana.
Temos levado nossas investigações mais a fundo; primeiro,
verificamos que esses sulcos e linhas nada têm em comum com os das
mãos do médium.
Na mão direita do médium, a linha que os quiromantes chamam
da vida e a chamada linha da cabeça têm uma característica muito
marcante: as duas linhas estão claramente separadas em sua base por
um espaço de 2 a 3 milímetros. Nos moldes, as duas linhas se
confundem em sua base. As unhas não são semelhantes às do médium
e o comprimento relativo dos dedos é diferente.
Feita esta verificação, achamos interessante submeter alguns dos
nossos moldes ao ilustre chefe do serviço judicial de identidade da
Prefeitura de Polícia, Sr. Bayle, ao mesmo tempo que as impressões
das mãos do médium e das minhas.
Esse exame antropométrico, aliás, não tinha como objeto
essencial uma verificação, que era supérflua pelo fato de os moldes
serem de membros de crianças e não haver crianças entre nós.
Achamos simplesmente útil saber claramente se o suposto processo
ideoplástico em ação tinha conseguido reproduzir as impressões
digitais do médium ou as minhas.
O Sr. Bayle experimentou alguma dificuldade porque as
impressões das extremidades digitais dos moldes são menos
marcadas do que os sulcos cutâneos da palma da mão e,
principalmente, da face dorsal.
Além disso, foi necessário eliminar todos aqueles de nossos
moldes que tinham os dedos dobrados, enlaçados, etc.; ou seja, a
maior parte. Apesar dessas dificuldades, o exame antropométrico foi
conclusivo.
Não há relação alguma entre as impressões digitais do médium e
as dos moldes.
Eis a nota do Sr. Bayle:
301 – Ectoplasmia e Clarividência
63 Gelo muito frio também poderia ser usado (ver mais à frente).
319 – Ectoplasmia e Clarividência
parafina uma espessura pelo menos três ou quatro vezes maior que a
das nossas.
Com esse procedimento não conseguimos obter luvas tão finas
quanto as nossas, pois elas sempre se rompiam durante as tentativas
de retirar a mão.
Vamos ignorar essa dificuldade, que não é uma impossibilidade,
e supor que Franek tenha usado esse procedimento.
Ele não poderia ter feito isso, em nenhum caso, a não ser em sua
casa, pois alguns dos nossos moldes correspondem em dimensão às
mãos de uma criança entre cinco e sete anos, e nenhuma criança
compareceu às sessões. As luvas obtidas de forma fraudulenta teriam
sido, portanto, produzidas fora das sessões e sub-repticiamente
fornecidas pelo médium.
É inútil alegar que um molde duro da mão de uma criança poderia
ter sido usado durante a sessão. Já explicamos que não é possível
extrair um corpo duro, em forma de mão, de uma ganga de parafina
intimamente aderida e de um milímetro de espessura.
Para aqueles de nossos leitores que conservaram algumas
dúvidas, vamos estudar cuidadosamente as condições de tal fraude,
decompondo-as assim:
1° . O médium habilmente libera uma de suas mãos.
2° . Retira o molde duro do bolso (ou os dois moldes duros
representando mãos de criança).
3° . Mergulha o simulacro na parafina.
4° . Corta uma das bordas da luva obtida, desde a raiz dos dedos
até o punho.
5° . Destaca a luva com habilidade, retira-a do molde sem parti-
la ou deformá-la.
6° . Junta as pontas do corte e empapa a luva na parafina.
7° . Ele coloca a luva, ou luvas, sobre a mesa, guarda o molde de
volta no bolso e coloca a mão livre sob a mão do vigilante.
E isso não é tudo: essas múltiplas e complicadas operações devem
ser feitas em menos de dois minutos, sem o auxílio da visão e com
320 – Gustave Geley
apenas uma das mãos. Pois bem, nós não conseguimos fazer isso nas
nossas tentativas à luz do dia, com as duas mãos e dispondo de todo o
conforto e tempo.
Por outro lado, vários de nossos moldes em gesso denotam a
impossibilidade de uma trapaça por meio de um molde rígido. O
dobramento dos três dedos, por exemplo, com o indicador apontando
reto, prova que a luva de parafina não foi obtida com o auxílio de um
molde rígido, sendo a retirada do molde, neste caso, impossível com
qualquer subterfúgio utilizado.
O médium usou então, durante as sessões, o procedimento do
molde de substância solúvel e fusível? Isso não é admissível; não
tínhamos, repetiremos, o recipiente de água fria que teria sido
essencial para poder dissolver o simulacro, e o tempo necessário para
tal operação é extremamente longo.
Portanto, será permitido declararmos formalmente a seguinte
conclusão:
A única fraude possível e concebível, se fomos vítimas de uma
enganação feita pelo médium, é a seguinte: Franek teria preparado as
luvas de parafina com antecedência, levando-as consigo para as
sessões e colocando-as sub-repticiamente na mesa através de uma
escamoteação não percebida pelos nossos vigilantes.
A investigação nessas condições era concreta. Consistia em
adquirir e afirmar a certeza de que os moldes foram feitos durante
nossas sessões e com nossa parafina.
Foi então que utilizamos os meios de verificação descritos acima,
que consistiam, ou em colorir secretamente nossa parafina, ou em
incorporar a colesterina facilmente determinável em um fragmento
do molde obtido, pela reação do ácido sulfúrico.
Esses dois recursos produziram resultados positivos. Eles nos
permitem, portanto, mais uma vez, afirmar categoricamente o
seguinte:
Os moldes 50, 51, 55 e 70 foram obtidos, com total segurança, em
nossas sessões e com nossa parafina.
É claro que os moldes precedentes e seguintes, produzidos nas
321 – Ectoplasmia e Clarividência
64 Este contraste já havia sido observado pelo Sr. Oxley em uma carta endereçada em
fevereiro de 1876 ao Sr. Aksakof. “Coisa curiosa — escrevia ele — os sinais distintivos da
idade e da velhice são sempre reconhecidos nestes moldes. Isso prova que os membros
materializados, embora conservando sua forma juvenil, apresentam peculiaridades que
acusam a idade do médium.”
323 – Ectoplasmia e Clarividência
comprovação.
Franek viera para me fazer o relato de sua vida. Eram onze horas
da noite e estava prestes a retirar-se quando de repente, movido por
um daqueles impulsos tão frequentes nos médiuns, manifestou o
desejo de fazer uma sessão.
Pedi então à Sra. Geley e à Sra. G..., que tinham acompanhado o
médium, que me ajudassem. A vigilância foi perfeita durante toda a
sessão. A Sra. Geley e eu seguramos as mãos de Franek. Leve
iluminação de luz vermelha.
“Forma-se a corrente; todos estão de mãos dadas. Algumas luzes
aparecem ao redor do médium como nas sessões anteriores, porém
mais volumosas. Existem também como que jatos de luz.
“Percebo contatos de mãos em meus braços e na minha cabeça,
um véu roça meu rosto.
“Os abajures fosforescentes colocados sobre a mesa levantam-se
e elevam-se várias vezes no ar. Eles chegam quase ao contato com os
rostos; aparecem por trás do médium e iluminam-se vivamente. A
mais clara dessas visões é a seguinte: elevado o abajur por uma mão
invisível, ele é transportado atrás do médium, cerca de 0,50 m. acima
de sua cabeça, um pouco à sua direita, ao meu lado. Eu vejo uma
cabeça humana completa. Está recoberta com um tecido, espécie de
véu ou turbante. É muito expressiva. Tem um nariz curvo, não tem
barba, mas sim um pequeno bigode. Após alguns segundos desaparece
e o abajur é jogado com bastante violência sobre a mesa.
“A sessão é interrompida devido ao cansaço do médium. Retoma-
se após vinte minutos nas mesmas condições.
“Forma-se um rosto e ilumina-se com um abajur, à direita e acima
do médium. É o rosto de uma idosa, desdentada, com rugas; um lenço
cobre sua testa, amarrado por baixo da face direita. Os traços são bem
determinados. Desaparece rapidamente, mas materializa-se de novo
pouco depois, um pouco mais para trás na pequena câmara. Desta vez,
ele é visto de perfil olhando para a direita. Permanece bastante tempo:
cerca de dez segundos. Suspende-se a sessão por segunda vez...
Ao recomeçar, aparecem luzes volumosas, jatos de luz, contatos...;
335 – Ectoplasmia e Clarividência
pessoais.
65Meu primo era entusiasta e exuberante. Eram batidas que soavam fortemente no meu
ombro e que todos os presentes ouviam.
337 – Ectoplasmia e Clarividência
conde Potocki.)
Há algo verdadeiramente impressionante nesta espécie de
diálogo, registrado por conduto do médium como se fosse um
fonógrafo. Acontece como se esse diálogo realmente acontecesse
entre várias entidades invisíveis que às vezes expressam sua surpresa
mútua ao verem seu parente novamente, e às vezes se dirigem a ele
com hesitação.
Há nesta manifestação um selo de verdade, um realismo
espiritoide inegável.
Se isso é resultado de uma comédia do subconsciente, deve-se
confessar que é profundamente desconcertante!
Como se vê, a mediunidade de Franek Kluski é tão variada quanto
poderosa. Seriam necessários longos anos de estudo, prosseguidos
sem descanso, para obter dela o máximo possível. Infelizmente, a
situação profissional e familiar de nosso amigo não lhe permite
consagrar-se à sua mediunidade.
Esperemos ao menos que tenha a bondade, quando para ele for
possível, de nos dedicar alguns meses que seriam estritamente
indispensáveis.
Entretanto, agradecemos mais uma vez e de todo o coração pelo
grande serviço que tem prestado à ciência metapsíquica. O interesse
que as atas de nossas experiências tem despertado em todos os
lugares é a primeira recompensa por sua abnegação.
materializadas.
mesma sala.
Era usado um aparelho comum de 13x18. As operações
fotográficas eram realizadas pelo tenente Dluzynski e pelo coronel
Okolowicz.
Observação importante: o médium geralmente conservava a
consciência do que estava acontecendo; ele observava os fenômenos,
mas devia manter uma passividade mental absoluta, sob pena de, por
assim dizer, aspirar as formas e fazê-las entrar novamente nele. As
atas, lavradas imediatamente após as sessões, são assinadas por todos
os presentes.
69 Ver, para aquilo que se refere à ação de Kluski na bússola, a edição de setembro-outubro
que se deixou ver de forma mais clara, foi uma que já era conhecida
dos presentes, tendo aparecido em sessões anteriores.
Era um ser do tamanho de um homem adulto, muito peludo, longa
cabeleira e barba emaranhada, revestido de uma espécie de pele. Sua
aparência lembrava uma besta ou um homem primitivo. Ele não
falava, mas emitia sons roucos com os lábios, estalava a língua, rangia
os dentes e tentava em vão se fazer entender. Quando chamado, ele se
aproximava, deixando acariciar sua pele aveludada; tocava as mãos
dos assistentes e as arranhava com algo mais parecido com garras do
que com unhas. Obedecia à voz do médium e não fazia mal aos
assistentes, a quem tocava suavemente. Isso já era um progresso, pois
nas sessões anteriores este ser manifestava grande violência e
brutalidade. Ele tinha uma inclinação franca e tenaz para lamber as
mãos e os rostos do público, que tentava evitar essas carícias tão
desagradáveis. Ele obedecia a cada ordem dada pelo médium, não
apenas quando a ordem era expressa verbalmente, mas também
quando era expressa apenas através do pensamento.
Vimos então a materialização de um homem que dizia chamar-se
Carlos e que, aproximando-se do coronel Okolowicz, cumprimentou-
o dando-lhe três tapas nas mãos. Pediu corresponder
tiptologicamente e disse que havia morrido há treze anos, mas não
quis se deixar fotografar, alegando que o médium não permitia. Como
o médium retrucasse bruscamente que ele estava mentindo, ouviram-
se umas fortes bofetadas e o médium sentiu uma mão bem formada
golpeá-lo na cabeça, nas mãos e nas costas. Perguntou a Carlos quem
era o ser tão peludo que acabava de se manifestar e ele respondeu que
não sabia.
A seguir, uma após outra, houve duas aparições de mulheres, com
rostos bem formados e um esboço do peito. Na primeira foi
reconhecida "Rheri", uma índia de Calcutá, que já havíamos visto em
sessões anteriores, e com quem conversávamos em inglês.
Em seguida, ouviram-se quatro pancadas, e preparamos o
magnésio para tirar uma foto. Naquele momento, e sem que ninguém
a tocasse, a lamparina de luz vermelha, colocada sobre a mesa,
351 – Ectoplasmia e Clarividência
várias pessoas são tocadas por mãos bem formadas. Dr. Sokolowski
pede que sejam moldadas em parafina. Especifica mais: moldes de
mãos com dedos cruzados e molde de um pé. Logo ouvem-se ruídos
na vasilha da parafina e logo depois, às onze horas, a sessão é
encerrada.
Três moldes foram obtidos: duas mãos bastante grandes, uma
delas com os dedos dobrados, e o molde de um pé de criança.
Capítulo III
71São, na realidade, trinta e cinco. Mas um primeiro erro tipográfico popularizou este
documento sob o título de: Manifesto dos trinta e quatro.
360 – Gustave Geley
Sessão de 15 de dezembro.
Vigilantes: Marcel Prévost e Sra. S...
Assistem: Sra. P..., Dr. Fontoynont. Sra. S..., Sr. Cornillier e Sra. X...
Considero-me no dever de expor aqui o ditame pessoal do Dr.
Fontoynont. Iremos ver que suas impressões coincidem com as
minhas.
382 – Gustave Geley
dez minutos.
A sessão foi encerrada. Ainda permanecia em minha face a
impressão daqueles beijos.
É verdade que não achamos útil amarrar suas pernas; mas houve
as seguintes razões para isso:
a) Os paus da cadeira do médium, as cadeiras dos vigilantes e as
pernas destes formavam uma barreira intransponível por trás das
pernas de Guzik.
b) Os vigilantes nunca perderam o contato com as pernas do
médium; elas estavam tão fortemente apertadas entre as deles
que Guzik, depois de algumas sessões, apresentava equimoses
cutâneas ao nível dos côndilos internos do fêmur.
c) O médium mantinha uma imobilidade absoluta e existe a
segurança de que não executou nenhum dos movimentos complexos
que seriam essenciais para projetar uma de suas pernas para trás.
d) Mesmo admitindo que, por um impossível, Guzik tivesse deixado
livre uma de suas pernas, jamais ele teria produzido por este meio
outra coisa senão fenômenos muito elementares, como, por
exemplo, contatos nas pernas ou braços de seus vigilantes ou
movimentos de objetos colocados muito perto dele.
Por conseguinte, mesmo com essa hipótese, a grande maioria dos
fenômenos continuaria sendo inexplicável.
Consideramos apenas útil citar a seguir as sessões realizadas sob a
vigilância absoluta descrita no ditame dos 34.
Nesta série de sessões, os fenômenos foram relativamente menos
importantes do que nas sessões de inverno, por causa do frágil estado
de saúde de Guzik (atacado de bronquite com febre e anemia
profunda). Nem por isso eles têm sido menos probatórios.
Para não incorrer no reproche que nos foi feito de não
publicarmos os nossos documentos na íntegra e de nos contentarmos
com uma seleção, publicaremos as nossas atas como elas são. Pedimos
apenas ao leitor que desculpe a chatice desta publicação. Não depende
de nós evitá-lo.
72 É uma jaula preparada para, eventualmente, encerrar o médium nela. Não a usamos nas
392 – Gustave Geley
Assistem: Dr. Osty, Sra. O..., Dr. H..., Dr. Geley, Sra. G..., Sr. Cornillier
e Sr. De Jelski.
1ª parte. – Vigilante da esquerda, Dr. Osty.
Vigilante da direita, Dr. H...
Longa espera. Conversa trivial.
Logo após, contatos com o doutor H... Ele se sente tocado no peito,
na cabeça, na perna esquerda. Ele declara que sua vigilância do
médium é perfeita: a perna esquerda do médium está ao lado da sua.
2ª parte. – O Doutor H... está ausente.
Vigilante da esquerda, Dr. Osty.
Vigilante da direita, Sra. O...
Após uma breve espera, manifestação de uma forma animal, com
seu cheiro característico.
Os dois vigilantes têm a impressão muito exata da presença de
um cachorrinho que pula para sua cadeira, depois para os joelhos,
esfrega-se neles e os acaricia, parece estar brincando com sua cadeira,
etc.
os joelhos.
Ela nota que alguém pega e leva a referida carteirinha. Após a
sessão, ela é encontrada no chão a 1,50m atrás da Sra. S... e à sua
direita. (A Sra. S... estava, portanto, entre o médium e a carteirinha de
mão.)
direita) com as mãos amarradas com uma fita lacrada com um selo,
impossível de ser desamarrada. Eu havia verificado que o lacre era
forte e que a fita não podia ser removida, tanto na mão direita quanto
na mão esquerda de G... Ele não faz nenhum movimento, nenhum. Meu
joelho ao lado do dele. Da mesma forma com Adela. As outras pessoas
presentes estão amarradas com correntinhas fechadas com cadeado.
Ouvimos então certos barulhos atrás de G... É como se alguém
tocasse a mesa por trás de nós.
Então, de repente, uma cadeira é transportada sobre a mesa
(cadeira bem pesada, grossa); minha filha sentiu como passava entre
ela e Guzik. Quanto pesa esta cadeira? (5 kg).
Havia alguns traços de lápis nos papéis atrás de nós. Antes da
sessão, tínhamos verificado que não havia nenhum vestígio de escrita.
73 São os alicates de selagem, a caixa cheia de fusíveis perfurados, tesouras e fitas, tudo
isso destinado à vigilância do médium.
401 – Ectoplasmia e Clarividência
Sessão nula.
2ª parte. – Vigilantes: Sra. Le Bert e Dr. Lassabliére.
Batidas e contatos nos vigilantes. Tapas bem fortes no rosto.
Batidas rítmicas à distância.
nos ombros, depois nas costas, e que sua mão foi agarrada pelo
médium e levada para trás, como havia feito comigo. Ela notou com a
palma da sua mão uma cabeça dura e redonda de cabelo curto.
«Aproximou-se muito do meu rosto e falou; senti um bafejo cálido; ele
também desarrumou meu chapéu»- disse a Sra. De C...
No final, Guzik, em vez de partir imediatamente como costumava
fazer, ficou e nos mostrou como havia levantado minha mão para me
fazer tocar a cabeça do ser. Ele também percebeu que havia sinais no
papel. Parecia significativamente mais satisfeito com o resultado
desta sessão do que com o das outras. Em geral, ele parece triste; desta
vez ele se animou e quase foi sociável.
A voz, que todos puderam ouvir, era muito curiosa; chegou muito
perto do meu ouvido. A Sra. De C... disse que a mesma voz veio falar
bem perto do ouvido dela, mas não sei se ela conseguiu entender as
palavras pronunciadas. (Eu só entendi «votre nom» repetido três
vezes com acento interrogador - disse a Sra. De C...)
Havia ruídos na sala como se alguém estivesse mexendo-se em
um canto a cerca de três jardas de distância. Sentia-se inegavelmente
a presença de alguém.
Estávamos todos ligados por correntinhas; lá, decerto, não havia
mais ninguém. As portas estavam lacradas e era dia, de forma que, se
alguma porta se abrisse, a luz entraria em torrentes.
Esta sessão foi a mais interessante de todas as que presenciei.
Parece que em outras sessões algumas notas soaram no piano.
Tentamos obter o mesmo resultado na minha presença, mas sem
sucesso.
Uma sensação estranha é ouvir como algo se move fora do círculo
que formamos; ouvir ruídos atrás de nós, móveis que se deslocam!
Certa vez, o barulho parecia vir do canto mais afastado da sala,
atrás de uma mesa que estava às costas de Geley. Quando a luz foi
acesa, nada foi visto. Os movimentos eram objetivos e o objeto movido
ficava no lugar para onde tinha sido levado quando deslocado. Que
ninguém estivesse lá quando a luz foi acesa não prova nada: quando
estávamos lá, no escuro, na mesmo sala, havia um ser.
411 – Ectoplasmia e Clarividência
seu bolso.
Barulho de lápis em cima da mesa grande atrás do médium.
Após a sessão, traços de serragem são encontrados nos locais
onde o Sr. Ginisty percebeu contatos, principalmente nas costas.74
Algumas pegadas no chão como que de patas de um cachorro de
tamanho médio.
No papel branco que está na mesa grande, há um grande S
maiúsculo traçado a lápis.
e Dr. Geley.
Preparação habitual do médium, dos experimentadores e da sala.
Vigilante da direita, Dr. Bour.
Vigilante da esquerda, Sra. B...
O Dr. Bour fez o médium mudar de lugar.
1ª parte. – Contatos na Sra. B..., de leve. Ruído de passos.
A mesa de madeira, localizada atrás do médium a 1,20m, é
lançada violentamente ao chão a mais de dois metros à direita do
médium, atrás do Dr. Bour.
Este movimento telecinético é verdadeiro; porque o médium não
podia alcançar as pernas da mesa com seus pés.
Se ele tivesse podido fazer tal coisa, no máximo a teria puxado ou
empurrado, mas não poderia tê-la arremessado derrubando-a.
Esta mesa é muito estável (quatro pernas) e não pode ser
derrubada sem um esforço sobre o tampo ou, mais dificilmente, com
uma mão empurrando o topo de uma das pernas.
O estrépito produzido acordou o médium.
2ª parte. – Contatos múltiplos da Sra. B..., que está inquieta.
Ruído de passos com impressionante nitidez.
O médium acorda (por um acesso de tosse), mas a força ainda
está presente. Numerosas e precipitadas batidas na Sra. B…, em seu
braço, levado para trás e tornado a levar para a frente por uma mão
apoiada em seu braço. O médium faz a mão do Dr. Bour passar à sua
frente para fazê-lo sentir os contatos.
O Dr. Bour fica emocionado. De repente, ele percebe como que
uma mordida em seu dedo. Contudo, a cabeça do médium ainda estava
apoiada em seu braço. Durante a sessão, duas vezes a Sra. B... ouviu
um cochicho longe do médium, cuja respiração ela percebia.
Mas ela não pôde entender o que diziam. Ela e o Dr. Bour ouviam
a respiração do médium e simultaneamente uma outra respiração.
Assistem: Dr. Bour, Sr. Xavier Leclainche, Sra. O..., Sra. B... e Dr.
Geley.
Inspeção costumeira do médium, dos experimentadores e da sala.
Vigilante da direita, Dr. Bour.
Vigilante da esquerda, Sra. B...
1ª parte. – Contatos múltiplos na Sra. B ... A mesa, localizada um
metro atrás do médium, é empurrada para a direita da sala, atrás da
Sra. B...
2ª parte. – Iguais contatos. A cadeira da Sra. B... muda
violentamente de lugar. Ao mesmo tempo em que acorda, o médium
leva as mãos de seus vigilantes, com os braços estendidos, o mais
longe possível dele; em seguida, eles recebem tapinhas e contatos no
braço e antebraço.
Após a sessão, o Dr. Bour senta-se no lugar do médium para ver o
que ele poderia fazer com seus pés. Comprova que a cadeira do
médium, as dos guardas e as pernas destes formam uma barreira
intransponível e constituem um obstáculo absoluto para uma fraude
com os pés. Além disso, suas pernas e as da Sra. B... estiveram em
contato permanente com as do médium.
Durante a primeira parte, a Sra. B... por três vezes diferentes
ouviu algumas palavras junto ao seu ouvido. Pois bem, ao mesmo
tempo o médium estava com sua cabeça próxima à do Dr. Bour, que
sentia a respiração dele em sua face.
A Sra. B... entendeu apenas as seguintes palavras, faladas em
russo: "Eu não posso". Ela pedira em russo que uma cadeira fosse
colocada sobre a mesa à nossa frente.
Capítulo IV
Os fenômenos luminosos
do médium Erto
Capítulo V
As luzes metapsíquicas
mãos por cima desta luz sem conseguir velá-la; então sentou-se sem
dizer uma palavra...
“Uma de minhas irmãs também viu naquele momento uma
grande luz azul em forma de globo apoiada na cabeça de nossa mãe;
mas foi a única em vê-la. Ela nos disse que o interior daquele globo
parecia-lhe estar em movimento; pouco a pouco foi passando a violeta
escuro e se desvaneceu.
“Os lábios da minha mãe entreabriram-se naquela tarde por volta
das sete, e daquele momento em diante vimos um espesso vapor
branco formar-se sobre a sua cabeça e espalhar-se sobre a cabeceira
da cama; saía do vértex; era como uma nuvem de vapor branco, às
vezes tão densa que mal enxergávamos as grades da cama; mas seu
aspecto variava continuamente, embora o movimento que a animava
fosse quase imperceptível.79 Minhas cinco irmãs e eu estávamos
presentes com meu irmão e um cunhado; todos eles a viram
perfeitamente. As luzes azuis continuavam a ser vistas na sala e
relâmpagos amarelos mostravam-se de tempos em tempos. Enquanto
isso, o maxilar inferior de minha mãe pendia um pouco. As coisas
continuaram assim sem grandes mudanças por algumas horas, exceto
por uma aura de raios amarelo-claro produzida ao redor da cabeça.
Eram sete; seu comprimento variava de 30 a 50 centímetros. Por volta
da meia-noite, tudo havia desaparecido; mas o falecimento não
ocorreu até a manhã do dia 2 de janeiro, às sete e dezessete...
Extinguiu-se tão docemente, que sua respiração, que nos últimos
momentos tornara-se um pouco mais forte, acabou sem qualquer
esforço.
“Cumprimos os últimos deveres para com ela e cobrimos seu
corpo com um lençol. O vapor violeta que tínhamos visto antes estava
suspenso acima dela. Então saímos da câmara.
Dorothy Monk.”
Secreção luminosa
Tenho observado em diferentes vezes a secreção luminosa.
A primeira vez foi em uma das sessões da Sra. S... Uma coluna
vagamente fosforescente apareceu por um momento ao meu lado.
Dela saiu uma mão luminosa de forma perfeita e tamanho natural. Os
cinco dedos, principalmente, estavam iluminados. Esta mão tocou
meu antebraço amigavelmente repetidas vezes. No momento desse
leve choque, uma gota de líquido luminoso caiu em minha manga e ali
brilhou por quinze ou vinte segundos após o desaparecimento da mão.
A manifestação mencionada era inesperada para mim e não
deixou de me desconcertar um pouco (na época, eu era ignorante dos
trabalhos do professor Raphael Dubois sobre as secreções
luminosas). Não podia eu duvidar da autenticidade metapsíquica do
fenômeno, mas não o entendia.
No entanto, nada mais simples e natural.
Observei uma manifestação totalmente idêntica com o Sr. Kluski:
Em uma das primeiras sessões realizadas no Instituto, quando as duas
mãos do médium estavam seguradas com muito cuidado, vimos nas
calças do médium uma grande mancha luminosa que durou cerca de
trinta segundos; depois desapareceu. Essa mancha muito intensa
ainda persistia um instante depois, quando, terminada a sessão, a luz
elétrica foi acesa. Também desta vez, apesar da minha confiança em
Kluski e da certeza que o nosso procedimento de vigilância me deu,
fiquei espantado. Por último, observei também a secreção luminosa
com Guzik, uma vez que minha testa ficou marcada com uma mancha
fosforescente por alguns momentos, após o contato com uma
"entidade" materializada e luminosa.
454 – Gustave Geley
óleo fosforado ou outros meios. Mais ainda: muitas dessas luzes eram
de tal natureza que não fui capaz de chegar a imitá-las por meios
artificiais.
“Sob as mais rigorosas condições de vigilância, eu vi um corpo
sólido, luminoso por si mesmo, com o volume e a forma aproximados
de um ovo de peru flutuar silenciosamente atravessando a sala,
elevar-se mais alto do que qualquer um dos presentes poderia ter
feito, mesmo ficando na ponta dos pés e, em seguida, descer
suavemente sobre o pavimento. Este objeto ficou visível por mais de
dez minutos e, antes de desaparecer, atingiu a mesa três vezes com
um ruído semelhante ao de um corpo duro e sólido. Durante todo esse
tempo, o médium esteve deitado em uma chaise longue e parecia
completamente insensível…
“Tenho visto pontos de luz brotando de um lado e do outro e
repousar na cabeça de diferentes pessoas; tive respostas a perguntas
que fiz, através de faíscas de luz brilhante, que ocorreram diante do
meu rosto e no número de vezes pedido por mim. Já vi faíscas de luz
subirem da mesa até o teto e depois caírem de volta na mesa com um
ruído muito perceptível. Já obtive uma comunicação alfabética por
meio de relâmpagos que eram produzidos no ar à minha frente, e no
meio dos quais eu passava minha mão; já vi uma nuvem luminosa
passear por sobre uma pintura. Também sob as condições da mais
rigorosa vigilância aconteceu-me mais de uma vez que um corpo
sólido, fosforescente, cristalino, foi colocado em minha mão por uma
mão que não pertencia a nenhuma das pessoas presentes. Em plena
luz, vi uma nuvem luminosa pairar sobre um heliotrópio localizado em
uma mesa ao nosso lado, quebrar um galho e dá-lo a uma senhora; e
em algumas circunstâncias eu vi uma nuvem semelhante condensar-
se diante de nossos olhos, tomando a forma de uma mão e transportar
pequenos objetos…
“Já vi mais de uma vez um objeto que a princípio desloca-se,
depois uma nuvem luminosa que parecia formar-se ao seu redor e, por
fim, a nuvem condensava-se, tomava forma e se transformava em uma
456 – Gustave Geley
mão perfeitamente feita. Essa mão nem sempre é uma simples forma;
às vezes parece animada e muito graciosa; os dedos movem-se e a
carne parece tão humana quanto a de todas as pessoas ali presentes.
No punho ou no braço torna-se vaporosa e perde-se em uma nuvem
luminosa.
“Ao toque, essas mãos parecem, às vezes frias como gelo e
mortas; outras vezes, elas pareceram-me quentes e vivas e apertaram
as minhas com o apertão de um velho amigo.” Em outro lugar, Crookes
relata:
“Uma mão luminosa desceu do teto da sala e, depois de pairar ao
meu lado por alguns segundos, tirou o lápis da minha mão, escreveu
rapidamente em uma folha de papel, largou o lápis e imediatamente
subiu acima de nossas cabeças e perdeu-se na escuridão.”
Myers, em seu estudo sobre a mediunidade de Stainton Moses,
cita muito numerosas observações de fenômenos luminosos:80
“Durante uma imponente manifestação de «Imperator», guia do
médium, todos os presentes (eram três) enxergavam de vez em
quando um vapor luminoso que ia e vinha em volta das pilastras da
mesa. Em outros casos, eram pequenos globos luminosos que
brilhavam com resplendor contínuo e circulavam pela sala. Essas
luzes não irradiavam, ou seja, não iluminavam o espaço circundante.
“Encontramos na descrição da sessão de 11 de agosto esse
mesmo detalhe característico de que as luzes estão circundadas por
véus.
“Mentor”, um dos guias, fez o Dr. Speer notar uma veste luminosa
e por duas vezes apresentou ante seu rosto uma luz grande e brilhante
do volume de um globo de lâmpada.
“Em outra circunstância é um vapor luminoso que envolve um
anel que está no meio da mesa. Tendo a Sra. Speer aproximado sua
mão, ela a retirou toda luminosa.”
Os experimentadores de Eusápia observaram fenômenos
semelhantes, embora menos intensos (o médium estava
“...Vejo então ali, ao meu lado, uma forma humana, iluminada por
um foco luminoso que sai do seu peito, luz muito azulada. A cabeça,
coberta com um tecido, parece-me muito pequena, apenas como uma
maçã. Depois cresce. Eu vejo um rosto de mulher completamente
formado, inclinando-se em minha direção, olhando para mim. É Katie,
sim, com certeza é ela. Eu vejo seu queixo. Parece-me menor do que
eu costumava pintá-lo. Reencontro o modelo de seu sorriso angelical,
cheio de doçura. Sim! É, na verdade, Katie! Seu colo, tão pequeno, vê-
se por entre o tecido que cai sobre o peito. Depois, nada…
“Os meus companheiros ao lado, vendo a materialização do rosto,
exclamavam:
“— Oh! What a sweet face! How pretty! ! Oh, que doce rosto! Que
linda ela é!
“Eis aqui Katie, que reaparece, desta vez mais visível. É realmente
uma pessoa de aparência viva o que tenho diante de mim. O rosto é
azulado, como se iluminado pela lua. Sim, de fato, é minha Katie! Mas
ela desaparece antes que eu pudesse ver a iluminação das mãos.
“Após alguns instantes ela volta, e então eu observo tudo muito
bem. As duas mãos juntas parecem segurar um cristal luminoso,
iluminado como pela eletricidade acumulada na região do estômago.
A figura desaparece. Será que isso acabou? Então, uma luz mostra-se
à minha direita; agora é a forma de um homem, moreno, corado, lábios
vermelhos, barba negra, com uma musselina branca envolvendo a
cabeça como um turbante e caída sobre o corpo. Em sua mão ele
segura um corpo luminoso que a ilumina. Ele passa à minha esquerda,
atrás de mim, depois atravessa a sala à nossa frente, mostra-se às
pessoas à direita e desaparece no assoalho. Eles acreditam que é
Ernesto, aquele que dirige, ou melhor, o guia do médium.
“Alguns momentos se passam esperando e a conversa
languidesce.
“— Duas luzes ao seu lado, Sr. Tissot, duas formas ... Oh, que
lindo!...
batidas.
Pode ser transformado em energia luminosa; daí a produção de
luz viva inteiramente análoga à luz viva normal. Umas vezes a energia
da luz parece se condensar neste ou naquele organismo materializado
ou em vias de materialização; outras vezes, depende de uma secreção
fosforescente, suscetível de se aglomerar e formar verdadeiras
lâmpadas vivas; em outras, por último, ela se manifesta na forma de
descargas ou relâmpagos.
A mesma energia vital que se manifesta pela telecinesia e
bioluminescência pode chegar a organizar ectoplasmas amorfos.
Então, ela cria positivamente seres ou fragmentos de seres vivos
efêmeros. As materializações perfeitas constituem a fase terminal e
superior da ectoplasmia.
Essas fases essenciais da ectoplasmia precisam ser submetidas
agora a uma análise minuciosa e detalhada.
Talvez sejamos censurados por não termos, antes de mais nada,
recorrido a tal análise.
Responderemos simplesmente que o estudo analítico
indispensável será singularmente facilitado pelo nosso conhecimento
sintético do maravilhoso processo; entretanto, e sem este último,
teria plausivelmente nos levado a inúmeras provações, ilusões
fracassadas ou erros desastrosos.
P. S. – Tivemos ocasião de falar frequentemente em nossas atas
das variações alternativas no brilho das luminosidades
metapsíquicas. O fenômeno também é observado nas luzes vivas
normais. Eis um exemplo notável citado por Raphael Dubois:
“Foram retirados das profundezas do Golfo da Gasconha, entre
outros, exemplares pertencentes à família das Gorgônias que devem
ter formado verdadeiras florestas luminosas no fundo do mar, porque
estes políporos podem atingir até dois metros de altura. Içados sobre
a ponte do Talismã, que os tinha pescado, eles produziam jogos de luz
cujo resplendor era atenuado, depois reavivado, passando do violeta
ao púrpura, do púrpura ao vermelho, ao laranja, ao azul e a diferentes
462 – Gustave Geley
tons de verde; às vezes até o vermelho - branco, e esta não é uma das
peculiaridades menos curiosas da luz fria fisiológica. A claridade era
tão viva que era possível ler a uma distância de seis metros.” (La Vie
et la Lumière.)
463 – Ectoplasmia e Clarividência
Capítulo VI
87 Redigido por Jules Courtier e publicado sob o título Documents sur Eusapia Paladino.
464 – Gustave Geley
BATIDAS
As batidas têm sido frequentes nas sessões do Instituto Geral
Psicológico.
Eis aqui, a título de exemplo, alguns trechos das atas:
O mais frequente é que os golpes ocorram depois que Eusápia fez
simulação deles.
(1905-IV-6).88 – O Sr. D'Arsonval vigia a mão esquerda e os
joelhos de Eusápia; o Sr. Ballet vigia a mão direita.
Eusápia da batidas no ar; respondem batidas na mesa.
O Sr. Ballet dá três batidas na mesa; ouve-se repetir as três
batidas. O Sr. D'Arsonval rasca na mesa duas vezes; respondem
rascando na mesa. O Sr. Ballet arranha a mesa; um ruído semelhante
é ouvido pouco depois.
(1915-X-4). – Eusápia bate com a mão esquerda no ombro do Sr.
Curie, e batidas correspondentes são ouvidas na mesa. (Vigilantes: do
lado esquerdo, Sr. Yourievitch; do lado direito Sr. Curie.)
(1905-X-8). – Eusápia rasca na mão do Sr. Curie; e ouve-se rascar
na mesa. (Os mesmos vigilantes.)
(1907-II-8). – Eusápia diz que quer bater com a cabeça na mesa;
e inclina sua cabeça para a mesa três vezes e três fortes batidas são
ouvidas na mesa. (Vigilantes: à esquerda, Sra. Curie; à direita, Sr.
Debierne.)
(1906-V-5). – Várias vezes ouvem-se batidas na mesa a pedido
dos vigilantes, todas as vezes que eles pedem. (Vigilantes: à esquerda,
Sr. Curie; à direita, Sr. Richet.)
(1907-V-3). – Eusápia, a distância da mesa, faz um gesto de bater
e ouvem-se batidas na mesa que está na cabine. Simula dois golpes,
depois quatro, e eles são ouvidos repetidos o mesmo número de vezes
atrás da cortina. (Vigilantes: à esquerda, Sra. Curie; à direita, Sr.
Perrin.)
(1905-V-4). – Eusápia dá um soco no tampo da mesa e pede ao Sr.
88Os algarismos romanos que seguem à designação do ano indicam o número da sessão;
as cifras arábicas a seguir, marcam a página do registro taquigráfico.
465 – Ectoplasmia e Clarividência
Charpentier que coloque a mão ali. O Sr. Charpentier sente sob sua
mão como um soco dado no tampo. (Vigilantes: à esquerda, Sr.
Charpentier; à direita, Sr. Bergson.)
(1905-IV-12). – Eusápia dá leves tapas nas costas do Sr. Ballet, e
o mesmo número de batidas repetem-se sob a mão do Sr. D'Arsonval,
colocada na mesa pedestal, um metro à esquerda do sujeito.
(Vigilantes: à esquerda, Sr. D’Arsonval; à direita, Sr. Gilbert Ballet.)
Se o leitor agora consultar os relatos de experiências do I. M. I.,
perceberá imediatamente, ao lado de inúmeras analogias, uma
diferença notável: em seu segundo estado durante as sessões, Eusápia
parecia ter uma direção bem nítida na produção das batidas que à sua
vontade ou sob seu comando eram produzidas.
Pelo contrário, com o Sr. Franek Kluski nunca houve batidas em
nossas sessões, a não ser em casos de transe completo do médium,
com absoluta imobilidade e inconsciência.
Além disso, com Eusápia as batidas eram geralmente produzidas
nas proximidades da médium. No caso de Kluski, às vezes são ouvidas
muito longe dele (até vários metros de distância).
Em Eusápia, aos batidas eram, principalmente, uma manifestação
mecânica. Em Kluski, elas constituem uma manifestação de ordem
intelectual. Elas são o principal meio de comunicação com as
"entidades" produtoras dos fenômenos.
TELECINESIA
Os movimentos sem contato têm sido, com muita diferença, o
fenômeno mais frequente nas sessões de Eusápia. Aqui estão alguns
exemplos retirados da memória oficial:
(1906-III-3). 3 de abril, às cinco e trinta e quatro. – As madeiras
das duas janelas da sala de experiências estão abertas. (Vigilantes: à
esquerda, Sr. Yourievitch; à direita, Sr. D’Arsonval.)
Eusápia pergunta se o Sr. Bergson (que está fora da corrente) está
vendo seus joelhos.
Sr. Bergson: — Muito bem.
466 – Gustave Geley
joelhos de Eusápia.
(1906-IV-3). – A mesa eleva-se, primeiro de duas, depois das
quatro pernas; uma das mãos de Eusápia está em cima da mesa e a
outra em uma mão do Sr. Curie. Os pés de Eusápia estão colados às
pernas da cadeira em que está sentada. (Vigilantes: à esquerda, Sr.
Curie; à direita, Sr. Feilding.)
(1905-IV-9). – Eusápia pede que o peso maior seja colocado em
cima da mesa. Colocam o peso de 10 quilos.
A mesa, carregada com esse peso, eleva-se das quatro pernas. Os
senhores Ballet e D'Arsonval vigiavam perfeitamente (além das mãos)
os pés e joelhos de Eusápia. Não houve contato com as pernas da mesa.
Eusápia diz que está calma, que não se sente mais nervosa.
A mesa eleva-se pela segunda vez das quatro pernas com a mão
do Sr. Ballet em cima e permanece no ar por bastantes segundos.
O Sr. D'Arsonval vigiou a mão esquerda, os joelhos e os pés.
(1906-II-8). – Eusápia pede para ninguém tocar na mesa. O Sr.
Curie segura a mão esquerda dela e Sr. Courtier a mão direita; o Sr.
Yourievitch segura os pés de Eusápia sob a mesa.
A mesa eleva-se das quatro pernas em tais condições de
vigilância.
(1905-VII-22). – Eusápia pede para todo mundo se levantar e que
o conde Dr. Gramont venha segurar suas pernas.
Eusápia está em pé sobre a balança de Marey. O Sr. De Gramont
segura as duas pernas. Todos os assistentes, Sres. D’Arsonval,
Courtier, L. Favre, Vaugeois e Yourievitch, em pé, formam a corrente.
O Sr. D'Arsonval vigiava a mão esquerda e o Sr. Yourievitch a mão
direita de Eusápia.
A mesa eleva-se tão alto que as pernas 1 e 2 quase saem dos
estojos que as contêm a modo de bainhas (ver foto VII).
Às dez e cinquenta e três. – Mesma vigilância das mãos e pernas.
A mesa eleva-se outra vez. Eles dizem: "Mais acima, para fora dos
estojos!" A mesa sobe muito e cai fora deles (ver gráfico 20).
Alguns objetos leves foram colocados na cabine numerosas
468 – Gustave Geley
CONTATOS
A mesma notável analogia no tocante aos contatos. Basta-nos
citar algumas atas do Instituto Geral Psicológico.
Pessoas localizadas nas proximidades da cabine frequentemente
notam tocamentos nos braços, ombros e cabeça, exercidos como que
por mãos invisíveis que às vezes julgam ser grandes e outras
pequenas.
(1905-IV-11). Sr. D’Arsonval. — “Senti uma pressão na minha
473 – Ectoplasmia e Clarividência
FENÔMENOS LUMINOSOS
Os fenômenos luminosos foram da mesma natureza nas sessões
de Eusápia e nas de Kluski; mas os de Kluski são incomparavelmente
mais notáveis.
Não houve "nebulosas" humanas ou "fantasmas luminosos" no
Instituto Geral Psicológico. Mas essa diferença entre os fenômenos
dos dois médiuns não é uma diferença fundamental nem essencial. É
de ordem quantitativa: Kluski está educado para os fenômenos
complexos da ectoplasmia, enquanto Eusápia está especialmente
educada para os da telecinesia.
475 – Ectoplasmia e Clarividência
MATERIALIZAÇÕES
A principal diferença entre as sessões de Eusápia e as de Franek
Kluski reside na mediocridade das materializações, completas no
primeiro médium, especialmente em face dos formidáveis fenômenos
de Franek Kluski.
No entanto, veremos nas citações que se seguem que as
manifestações de Eusápia aparecem nitidamente como um bosquejo
daquelas de Kluski.
Os fenômenos luminosos que ocorrem nas proximidades de
Eusápia costumam ter formas mais ou menos precisas.
(1905-VI-11). — Uma mão aparece acima da cabeça de Eusápia,
nas junturas das cortinas.
Sr. Courtier.— Os dedos se aproximaram, depois levantaram-se e
eu vi a palma de uma mão.
Sr. D'Arsonval. — Eu vi uma mão fechada que se abriu.
(Vigilantes, à esquerda: Sr. D'Arsonval; à direita, Sr. Krebs.)
(1905-XI-24). — O Sr. Yourievitch vê uma mão que coloca quatro
dedos na cabeça de Eusápia. O Sr. De Gramont também a viu. A Sra.
Gramont viu uma, ao parecer, mão branca pousando na cabeça de
477 – Ectoplasmia e Clarividência
Eusápia. O Sr. Yourievitch sente uma mão agarrar sua cabeça. O Sr. de
Gramont viu a mão sair da cortina e pousar na cabeça do Sr.
Yourievitch. (Vigilantes: à esquerda, Sr. Curie; à direita, Sr.
Yourievitch.)
(1907-VI-14). — Eusápia diz que quer fazer duas mãos ao mesmo
tempo, uma que bata e a outra que seja visível.
A Sra. Curie e os Sres. Courtier e Debierne enxergam uma forma
de mão, não muito precisa, mas luminosa; o Sr. Yourievitch sente que
é tocado duas vezes.
Sr. Perrin. — Não posso dizer que isso era uma mão.
Sr. Debierne. — Uma mão de verdade, não, mas o bosquejo de
uma mão.
(Vigilantes: à esquerda, Sr. Yourievitch; à direita, Sr. Debierne.)
Outras vezes, percebem-se como que braços escuros, como
silhuetas de sombras chinesas.
(1905-X-12). — Vê-se um como que braço preto bem próximo ao
cotovelo do Sr. Komyakoff; os Sres. Curie e o Sr. Yourievitch viram
isso claramente.
Vê-se novamente algo como um braço preto que, do lado
esquerdo da cortina, aproximou-se várias vezes e tocou fortemente o
Sr. Komyakoff no ombro. Foi visto pelos Sres. Curie, Bergson, De
Gramont, Komyakoff e Yourievitch.
(Vigilantes: à esquerda, Sr. Komyakoff; à direita, Sr. Curie.)
(1906-VIII-13).— Nesta sessão, Eusápia, amarrada a uma chaise
longue, como dissemos anteriormente, estava sozinha dentro da
cabine. A corrente estava formada fora da cabine, em torno da mesa.
Os presentes viram aparecer por um momento, na juntura das
cortinas, algo como uma cabeça escura e um busto de homem cobertos
com um pano branco.
A VIGILÂNCIA DO MÉDIUM
A vigilância do médium era essencialmente a mesma no Instituto
Geral Psicológico e no I. M. I. Consistia, acima de tudo, em segurar suas
478 – Gustave Geley
duas mãos.
Mas essa operação era muito mais fácil de realizar de modo
seguro com Kluski do que com Eusápia.
De fato, enquanto Eusápia estava em perpétua agitação, Kluski,
mergulhado em verdadeira letargia, não fazia movimento algum;
nessas condições, a vigilância de suas mãos e de todo o seu corpo era
extremamente simples e deixava completa satisfação. Nunca, em caso
algum, Kluski poderia ter feito o menor movimento não percebido.
No Instituto Geral Psicológico, a verificação instrumental era
muito utilizada, o que tem sido um grande auxílio para a vigilância
pessoal.
No I. M. I. utilizamos um procedimento inédito para verificar as
fundições: o dos corantes e substâncias químicas, secretamente
misturadas à parafina.
Acima de tudo, tentamos obter fenômenos de impossível
trucagem nas condições experimentais em que operamos, e isso foi
conseguido plenamente.
Como se vê, a comparação entre os documentos do Instituto Geral
Psicológico e os do I. M. I. é muito instrutiva.
Chamamos a atenção de nossos adversários de boa fé para essa
analogia.
479 – Ectoplasmia e Clarividência
Capítulo VII
Experiências de demonstração do
doutor de Schrenck-Notzing
sessões).
Sr. Sichler, Bibliotecário Nacional em Berna (duas sessões).
Professor Doutor Bastian Schmid, Psicologia Animal, Munique
(uma sessão).
Alfred Schuler, professor particular, Munique (25 sessões).
Doutor Ludwig Klages, ex-professor da Filadélfia em Munique
(uma sessão).
General Peter, escritor (Parapsicologia) em Munique (25
sessões).
Doutor Offner, diretor de ginásio em Günzbourg do Danúbio
(uma sessão).
Hutchinson, escritor, anteriormente em Munique (uma sessão).
Pearse, ocultista e escritor inglês (três sessões).
Por último, a Comissão da Sociedade Inglesa de Pesquisas
Psíquicas, composta pelos Sres. Dingwall e Price (três sessões).
O professor Sr. Karl Grüber, um colaborador do Dr. De Schrenck-
Notzing, teve a bondade de me enviar o seguinte resumo sintético
sobre essas belas e decisivas experiências:
A objetividade e a própria natureza da telecinesia e da
materialização são, na atualidade, asperamente contestadas na
Alemanha por causa das experiências realizadas há mais de um ano
por Schrenck-Notzing e seus colaboradores com o médium Willy Sch.
O que constitui a importância dessas experiências e as distingue
das anteriores pode ser resumido em duas conclusões:
1ª. A vigilância e verificação foram tão perfeitas e a preparação
do médium por Schrenck-Notzing foi feita com tal inteligência do
necessário, que foi possível realizar experiências decisivas e
inatacáveis.
2ª. Um grande número de acadêmicos alemães e estrangeiros
colaboraram com o Dr. De Schrenck-Notzing e forneceram seus
testemunhos. Como este último disse na segunda edição do seu
Fènoménes de Matèrialisation, que acaba de ser publicado, 94 pessoas
participaram das sessões desde 3 de dezembro de 1921 a 1 de julho
de 1922. Entre elas, 23 professores do ensino superior, 18 médicos e
483 – Ectoplasmia e Clarividência
médium, pega suas mãos e segura suas pernas entre os joelhos. Cada
um desses vigilantes pode observar Willy livremente, assim como
seus outros colegas. O médium e os presentes ficam separados dos
objetos destinados a serem movidos telecineticamente por um
biombo de gaze em forma de jaula.
Mesmo supondo que o médium conseguisse libertar um braço ou
uma perna, o que, aliás, é impossível com a vigilância exercida, isso
seria imediatamente advertido graças ao uso das fitas luminosas; a
parede de gaze o impediria de operar uma telecinesia fingida. A
vigilância, exercida mais estritamente de sessão em sessão, até agora
não evitou que o fenômeno ocorresse. Em muitos casos, não exerceu
influência inibitória. Em outros, o impedimento momentâneo sempre
pôde ser superado. A escuridão quase nunca é total; a iluminação para
as experiências de telecinesia é geralmente fornecida por um lustre
com várias luzes vermelhas, com cuja luz se distingue claramente a
silhueta dos presentes.
As últimas observações têm permitido comprovar que do quadril
direito do médium um corpo rígido parece emergir. A cerca de 75
centímetros do solo, ele atravessa a parede de gaze, separando
algumas malhas do tecido, e vai deslocar os objetos a 80 centímetros
ou um metro de distância do médium. Parece que o médium tem que
fazer um certo esforço para conseguir passar esse membro fluido
através da parede de gaze. Mas aqui também parece que o exercício
faz chegar a superar o obstáculo.
Até o momento não foi possível se obter nenhuma materialização
empregando a parede de gaze para circunscrever o raio de ação do
médium. No entanto, as materializações, que foram observadas com
extraordinária frequência, ocorriam a um metro ou 1,20 metros do
médium em condições que excluem qualquer erro.
Eu fui, na maioria das sessões que frequentei, um dos vigilantes,
e por meio de uma lamparina vermelha pude observar com grande
frequência o aparecimento de uma pequena mão, mais ou menos
formada. Eu vi, e muitas outras testemunhas comigo, a sombra dos
dedos de uma mão projetada sobre um disco luminoso. Também pude
485 – Ectoplasmia e Clarividência
Capítulo VIII
declara que "isso vem", "que está aqui" e pergunta várias vezes "se é
visto" e "se é sentido próximo ao seu ombro esquerdo"; depois pede
para fechar as cortinas. Por sugestão da Sra. Bisson, desabotoa e
abaixa o traje de malha até o peito ficar descoberto; não há nada ali. É
a primeira vez, observa a Sra. Bisson, que quando o médium declara
que isso vem por um determinado lugar, nada é produzido. Em certo
instante Eva deposita saliva em seu braço esquerdo e a reabsorve
imediatamente. Às 19h10 ela não sente mais nada; a Sra. Bisson e o
Professor Pieron a acompanham para ela se despir. Já vestida sua
camisa, ela diz que está cansada; senta-se e declara que o fenômeno
retorna. Levada de novo para a sala de experiências, ela novamente
manifesta a respiração ansiosa com estertores e gritos; logo depois,
ela aproxima a cabeça na cortina e a Sra. Bisson, por trás da cortina, a
segura. Então ela é vista mastigando, mantendo a boca próxima ao
braço esquerdo, e por alguns instantes uma substância mole sai de
entre seus lábios, que sobressai apenas alguns milímetros; então ela a
recolhe, sai novamente e a reabsorve. Pede então que “chamem”.
Porém, nada mais se manifesta.”
Até agora, nunca a mediunidade de Eva foi tão fraca.
Não há, portanto, nenhuma surpresa na seguinte conclusão
emitida pelos sábios experimentadores:
“Em conclusão, seja-nos permitido render plenamente
homenagem à boa fé e ao ardor científico da Sra. Bisson. De qualquer
jeito, e contra suas esperanças:
“No tocante à existência de um ectoplasma, que seria inexplicável
com os dados atuais da fisiologia, nossas experiências levaram a
resultados que não temos como não considerar completamente
negativos.
Adendo.
“A Sra. Bisson, a quem comunicamos este ditame, teve a bondade
de declarar-nos que não tinha objeção alguma a nos apresentar. Ela
compreende que, segundo as nossas observações, não podíamos dar
488 – Gustave Geley
89 É indispensável fazer observar que o Sr. Lapicque esteve presente em apenas uma
sessão, negativa; Sr. Dumas, em oito sessões, e Sr. Pieron, em 13.
489 – Ectoplasmia e Clarividência
Não insistamos...
Na publicação do Professor Langevin e seus colegas não há, de
fato, nada mais do que um argumento impressionante; bem
entendido, só para quem não conhece a instabilidade da
fenomenologia metapsíquica.
Os fenômenos cessaram após a inauguração de uma vigilância
por cordões luminosos fixados nas pernas da médium.
Houve, de fato, após essa inovação, quatro sessões negativas.
Mas isso não prova nada. Eu mesmo tive até sete sessões
consecutivas totalmente nulas com Guzik. Seu mau estado de saúde
foi a causa disso.
Vejamos se o ditame faz alusão ao seu estado de saúde:
justamente a ata informa que as sessões tiveram que ser interrompidas
entre 27 de novembro e 3 de dezembro por causa de um flegmão
dentário do médium.
Esse abscesso dentário, portanto, ocorreu no meio da série
negativa. É possível, senão provável, que a falta de resultados fosse
devida principalmente ao estado doentio de Guzik e às suas dores
faciais.
Resumindo: nenhuma evidência de fraude, fatos em contradição
com a hipótese de fraude. Eis aqui o que resulta dos processos verbais.
Nessas condições, o mínimo que se pode dizer sobre as
conclusões do professor Langevin e seus colegas é que elas não têm
497 – Ectoplasmia e Clarividência
Capítulo IX
Pseudomaterializações e
pseudomédiuns
fosforescentes, cujo face luminosa está voltada para o chão. Uma caixa
de música arrulha os assistentes ao ato, enquanto um perfume sutil se
espalha pela sala.
O hipnotizador adormece o sujeito e abandona-o em seu lugar.
Aguarda-se com paciência. Quando o transe é profundo o suficiente (e
quando a fosforescência dos abajures é suficientemente atenuada), os
fenômenos começam.
Os abajures levantam-se; a face luminosa volta-se para os
presentes. Descrevem no ar circuitos variados. Afastam-se mais ou
menos um do outro (para bem mostrar que são vários os "espíritos"
que operam). Algumas flores caem sobre os espectadores. O papel
branco da mesa pedestal enche-se de escrita. Por último, às vezes os
abajures se aproximam; iluminam muito vagamente algo impreciso,
que parece coberto por um véu ou musselina; com um pouco de boa
vontade, às vezes uma face humana pode ser distinguida. Quando o
nível geral de confiança ingênua da assembleia permite, o "fantasma"
se aproxima do público e revela uma "materialização" perfeita e
completa; perfeita e completa demais...
Este é o cenário geral das sessões, que se repete, salvo incidentes
excepcionais, com a monotonia mais desconcertante.
Como pode ser possível essa comédia lamentável? Por duas
razões: a incompetência dos organizadores e a ausência de espírito
crítico da assembleia.
A incompetência dos organizadores dessas sessões geralmente
ultrapassa todos os limites. Eis a linguagem que um deles me falou um
dia:
“Médiuns de materialização, eu encontro tantos quanto eu quiser.
Eu utilizo qualquer pessoa, homem ou mulher, qualquer que seja sua
condição social e idade, desde que seja hipnotizável. Para desenvolver
meu médium, coloco-o no próprio quadro das sessões, com flores,
perfumes e música; faço-o adormecer, descrevo-lhe o trabalho dos
espíritos; o espírito levanta o abajur; o espírito passeia com o abajur;
o espírito dá flores aos presentes; o espírito escreve, etc.
“Esta educação facilita muito a possessão, pelo espírito, do corpo
501 – Ectoplasmia e Clarividência
Conclusão