KHSpyjd PPJ KJN FJVD HVLKRZ
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2 Ibid., p. 304-306. Segundo Kaufmann, a criação seria apenas uma ideia embrionária e pouco
documentada no corpus nietzschiano.
3 Cf. RICHTER, C. Nietzsche et les théories biologiques contemporaines. Paris: Mercure de
France, 1911, p. 143. Entre as leituras extra-acadêmicas que associaram precocemente
Nietzsche ao eugenismo, pode-se citar a de Alexander Tille, cujo objetivo reivindicado era de
“aplicar a todos os domínios da vida moral assim como à existência popular os dois princípios
da seleção social e da exclusão social” (cf. TILLE, A. Von Darwin bis Nietzsche. Ein Buch
Entwicklungsethik. Leipzig: C. G. Naumann, 1895, p. vii-viii, trad. francesa E. Salanskis e
trad. para o português E. Corbanezi, e ASCHHEIM, S. The Nietzsche Legacy in Germany
1890-1990. University of California Press, 1992, p. 123-125). Para outras recepções
eugenistas na Inglaterra, ver STONE, D. Breeding Superman: Nietzsche, Race and Eugenics
in Edwardian and Interwar Britain, Liverpool University Press, 2002.
4 Cf. MOORE, G. Nietzsche, Biology and Metaphor. Cambridge University Press, 2002, p. 128-
138; GAYON, J. Nietzsche and Darwin. In: MAIENSCHEIN, J./RUSE, M. (ed.) Biology and the
Foundation of Ethics. Cambridge University Press, p. 154-197, 1999, em particular p. 173-185;
HOYER, T. Nietzsche und die Pädagogik: Werk, Biografie und Rezeption. Würzburg: Königshausen
/ Neumann, 2002, p. 634-642; SALANSKIS, E. La dimension eugéniste de la “grande politique”
de Nietzsche. In: Nietzsche, penseur de la politique? Nietzsche, penseur du social ? In: CAMPIONI,
G. / DENAT, C. / PIAZZESI, Ch. / WOTLING, P. (Org.) Nietzsche, penseur de la politique ?
Nietzsche, penseur du social ? Pisa: ETS 2013, p. 163‑178 (no prelo), p. 163‑178.
5 Cf. JGB/BM 208, KSA 5.140 e 251, KSA 5.195; EH/EH, Por que sou um destino 1,
KSA 6.366; e, sobretudo, Nachlass/FP 1888, 25[1], KSA 13.637.
London: Macmillan, 1869. Lembremos que Nietzsche menciona essa outra obra em uma
carta de 8 de dezembro de 1888 a August Strindberg.
14 Cf. LENAY, Ch. Francis Galton: inné et acquis chez les grands hommes de la Société
Royale de Londres. In : Bulletins et Mémoires de la Société d’anthropologie de Paris. Tomo 6,
Fascículo 1-2, 1994, p. 135-150.
15 Ibid., p. 137.
16 Cf. GALTON, F. Inquiries..., p. 2. Na segunda parte, nós retornaremos ao argumento
filantrópico que é apresentado aqui.
17 Cf. TORT, P. L’Effet Darwin: sélection naturelle et naissance de la civilisation. Paris: Seuil,
2008, p. 30, e DARWIN, Ch. A origem do homem e a seleção sexual. Curitiba: Hemus, 2002
(doravante A origem do homem), p. 162.
18 Cf. DARWIN, Ch. A origem do homem, p. 162: “exceto no caso do próprio homem, quase
ninguém é tão ignorante a ponto de permitir aos seus piores animais se reproduzirem” (trad.
modificada).
19 Cf. PICHOT, A. Id., p. 1.
20 Ibid., p. 25-26.
21 Cf. PAUL, D. Controlling Human Heredity..., p. 4.
22 Ibid., p. 4.
23 Sobre essa distinção convencional surgida no início do século 20, cf. GAYON, J. Le mot
‘eugénisme’ est-il encore d’actualité? Op. cit., p. 125‑126. A eugenia positiva visa favorecer
a reprodução de indivíduos julgados mais bem dotados ou a transmissão hereditária de
caracteres desejáveis. A eugenia negativa, inversamente, procura prevenir a reprodução de
indivíduos tidos por deficientes ou a transmissão de deficiências hereditárias.
24 Cf., respectivamente, GALTON, F. Hereditary Talent and Character. Op. cit., p. 165, e
Inquiries..., p. 307-309. Nós traduzimos “merciful” por “clemente”.
25 Cf. PAUL, D. Controlling Human Heredity..., p. 88-90. Diane Paul nota que a cláusula
de voluntariado poderia não ter sido uma grande restrição do ponto de vista prático. Ela foi,
por outro lado, suprimida a partir de 1934. Mas geralmente se incorre em engano quando se
pensa que as coisas não poderiam ter sido piores.
26 Cf. LOSURDO, D. Nietzsche philosophe réactionnaire. Pour une biographie politique. Trad.
A. Monville / L.-A. Sanchi, Paris: Delga, 2007, p. 102-105.
27 Cf. RUSE, M. Monad to Man: The Concept of Progress in Evolutionary Biology. Harvard
University Press, 2009, p. 145. O título do livro de Ruse, “da mônada ao homem”, faz referência
a esse conceito transversal de progresso enquanto complexificação orgânica. Darwin raciocina
como lamarckiano em várias passagens importantes do caderno B: cf., em particular, DARWIN,
Ch. Notebook B: Transmutation of species (1837-1838), p. 18 e p. 108-109.
28 Cf. DARWIN, Ch. A origem das espécies através da selecção natural ou a preservação das
raças favorecidas na luta pela sobrevivência. Trad. Ana Alfonso. Leça da Palmeira: Planeta
Vivo, 2009, p. 316.
29 Cf. DARWIN, Ch. A origem do homem, p. 169. As faculdades intelectuais e morais são
tratadas por Darwin como um equivalente humano da complexidade orgânica. Nietzsche
retoma esse quadro de reflexão em um dos fragmentos “Anti-Darwin” de 1888: cf. Nachlass/
FP, 14[123], KSA 13.303.
30 Cf. DARWIN, Ch. A origem do homem, p. 169.
31 Cf. PAUL, D. Controlling Human Heredity..., p. 77-78.
32 Sobre Julian Huxley, cf. PICHOT, A. Id., p. 19-20.
1. Os textos
34 Segundo a edição Colli-Montinari, esse fragmento data de outubro de 1888. Ele é, portanto,
anterior ao envio do manuscrito de Ecce homo a Naumann. Ver igualmente dois fragmentos
muito similares datados da primavera de 1888: Nachlass / FP 1888, 15[3], KSA 13.401-402,
e 15[13], KSA 13.412-414.
35 Cf. supra, p. 4, e PICHOT, A. Id., p. 19-20. Referindo-se a Galton, Julian Huxley escreverá
em 1941 em Man stands alone: “A eugenia não é meramente uma saída sã para o altruísmo
humano, mas, entre todas as saídas para o altruísmo, aquela que é a mais geral e a de maior
alcance” (Cf. HUXLEY, J. Man stands alone. New York: Harper, 1941, p. 34).
36 Cf. GD/CI, Incursões de um extemporâneo 36, KSA 6.134; EH/EH, Aurora 2, KSA 6.331,
e AC/AC, O anticristo 2, KSA 6.170. Nós retornaremos na terceira parte a essa diferença
característica de precisão entre os textos publicados e os fragmentos póstumos.
humanidade: por isso conserva o que degenera – a este preço ele a do-
mina (EH/EH, Aurora 2, KSA 6.331)37.
40 Isso é compatível com o recurso a outros instrumentos mais culturais para excluir os fracos,
como o pensamento do eterno retorno. Sabe-se que Nietzsche apresentou essa doutrina
como seu “grande pensamento criador” (der große züchtende Gedanke) em vários fragmentos
póstumos de 1884: cf. Nachlass / FP 1884, 25[211], KSA 11.69, 25[227], KSA 11.73, 26[376],
KSA 11.250. Com isso, ele queria notadamente dizer que esse pensamento “dá a muitos o
direito de se suprimirem” (25[227]) e que “as raças que não o suportam estão condenadas”
(26[376]): o que tornaria possível uma forma de eugenia não coercitiva, no domínio cultural,
que de algum modo levaria os fracos ao suicídio. O que quer que se pense sobre esse projeto,
Nietzsche ultrapassa os seus limites em vários textos de 1888 nos quais ele não descarta
a ideia de uma coerção eugenista. Sobre o eterno retorno enquanto pensamento seletivo,
cf. WOTLING, P. Nietzsche et le problème de la civilisation. Paris: PUF, 1995, p. 353-382.
41 Sobre esse ponto, nós não partilhamos a leitura de Éric Blondel em sua edição de O
anticristo (cf. NIETZSCHE, F. L’Antéchrist. Trad.: É. Blondel, Paris: GF Flammarion, 1994,
nota 19, p. 138-139). Segundo Éric Blondel, nessa passagem Nietzsche falaria apenas em
sentido abstrato ou metafórico, de modo que “não [seria] questão de eugenismo em ato”. Mas
pode-se compreender a amputação preconizada em Ecce homo como uma simples metáfora?
E a mesma observação se aplicaria a fortiori às castrações evocadas no fragmento 23[1].
42 Cf. MOORE, G. Nietzsche, Biology and Metaphor. Op. cit., p. 135.
2. As fontes
Races and the Antiquity of Man Deduced from the Theory of “Natural Selection”. In: Journal
of the Anthropological Society of London. Vol. 2., 1864, p. clviii‑clxxxvii, especialmente
p. clxix.
45 Cf. TORT, P. L’Effet Darwin. Op. cit., p. 72‑73. De maneira geral, é imperativo distinguir
entre o racialismo, a concepção antropológica que reconhece a existência de raças humanas
enquanto tipos psicobiológicos hereditários, e o racismo, que incita à violência ou à
discriminação de raças particulares. O primeiro não implica necessariamente o segundo.
46 Cf. Schopenhauer, A. Sämtliche Werke, Leipzig: Brockhaus, 1873, 3. Band, Die Welt als
Wille und Vorstellung, Ergänzungen zum vierten Buch, §43 p. 604. (A página em questão foi
dobrada como referência na edição pessoal de Nietzsche, provável sinal de interesse).
e não esconde sua admiração. Mas, dado que mais de uma vez ele
revisou sua opinião sobre autores que estimava, isso não seria em
si um índice suficiente. Isso nos conduz ao segundo testemunho, o
de Josef Paneth, que emprestou e depois ofereceu o livro de Galton
a Nietzsche em março de 1884, e que relata as conversas de ambos
a esse respeito. É sobre o princípio de uma criação do homem que
Nietzsche e Paneth estão em desacordo: se Nietzsche o defende,
Paneth objeta “que não existe ninguém que tenha o direito de rei-
nar sobre o homem como o criador de bovinos reina sobre seus
bovinos e que esse fim não pode ser definido”53. Essa conversa
mostra bem que Nietzsche não tem nenhuma objeção de princípio
contra uma criação humana compreendida no sentido zoológico.
Ao contrário, veremos na terceira parte que ele procura justificar
esse projeto de maneira consequencialista. A sequência do relato
de Paneth lança luz sobre a face negativa da criação nietzschiana.
Paneth desempenha de uma certa maneira o papel de advogado
do diabo, observando que certas instituições humanas poderiam
entravar a luta pela existência, proteger os fracos e assim “dete-
riorar a raça”. Sem contestar essa análise, Nietzsche “ao contrá-
rio concordou inteiramente e disse que isso ainda era um resto de
cristianismo, com seu desprezo a tudo o que serve e convém a esse
mundo”54. Nessa resposta se reconhece a crítica à compaixão cristã
que, associada à exclusão reprodutiva dos fracos, caracteriza os
textos de 1888 precedentemente citados.
die darin behandelten Probleme und errungenen Resultate auf dem Gebiet der Vererbung
und Entwicklung im Anschluss an Darwin und in teilweiser Widerlegung seiner Theorien.
Nach diesem fesselnden Privätissimum über das Werk dieses von ihm sehr bewunderten
englischen Forschers, nahm er das Buch wieder an sich”. Sobre as razões pelas quais
Nietzsche julga que Galton refuta parcialmente Darwin, cf. SALANSKIS, E. La dimension
eugéniste de la “grande politique” de Nietzsche. Op. cit., p. 172‑175.
53 Cf. FRANK KRUMMEL, R. Joseph Paneth über seine Begegnung mit Nietzsche in der
Zarathustra‑Zeit”. Op. cit., p. 490.
54 Ibid.
3. Objeções filosóficas
69 Cf. ASCHHEIM, S. The Nietzsche Legacy in Germany 1890-1990, Op. cit., p. 232-271.
70 Cf. KAUFMANN, W. Nietzsche. Philosopher, Psychologist, Antichrist. Op. cit., p. 304-306.
Kaufmann sustenta que a irmã de Nietzsche, Elisabeth Förster-Nietzsche, teria conferido
uma importância artificial à noção de criação (Züchtung) no pensamento de seu irmão. Dado
o antissemitismo de Elisabeth e suas simpatias ulteriores pelo nazismo, isso sugere que o
preço a pagar para desnazificar Nietzsche é o de minorar a noção de Züchtung.
71 Cf. FREZZATTI JUNIOR, W. A. Nietzsche contra Darwin. São Paulo: Discurso Editorial,
2001, p. 103, nota 137, e p. 113‑114.
72 Cf. KAUFMANN, W. Nietzsche. Philosopher, Psychologist, Antichrist. Op. cit., p. 284 e ss.
73 Cf. M/A 272, KSA 3.213, assim como Nachlass / FP 1875, 5[198], KSA 8.96 (sobre a
mistura racial grega) e Nachlass / FP 1885, 1[153], KSA 12.45 (com a máxima: “Lá onde as
raças são misturadas, a fonte de grande cultura”).
74 Galton não vê no reforço do tipo médio senão “a direção mais fácil em que uma raça pode
ser melhorada”: cf. Inquiries..., p. 14.
75 A partir de uma reflexão sobre a fecundação das orquídeas, Darwin conjectura ao contrário
“que um grande bem desconhecido decorre da união de indivíduos que foram mantidos
separados por muitas gerações”, cf. DARWIN, Ch. On the various contrivances by which
British and foreign orchids are fertilised by insects, and on the good effects of intercrossing.
London: John Murray, 1862, p. 360.
76 Cf. MOORE, G. Nietzsche, Biology and Metaphor. Op. cit., p. 136, e FREZZATTI JUNIOR,
W. A. Nietzsche contra Darwin. Op. cit., p. 103, nota 137.
77 Trad. Paulo César de Souza. Segundo O anticristo, o problema não é substituir uma outra
espécie à humanidade, mas criar conscientemente um tipo superior de homens (AC/AC 3,
KSA 6.170).
78 Galton pensa em melhorar, em um futuro próximo, a raça inglesa: cf. Inquiries..., p. 14
e p. 330-331. Para isso, ele deseja, ele também, criar uma aristocracia de indivíduos
superiores. Cf. Hereditary Talent and Character. Op. cit., p. 166: “A capacidade intelectual
geral de nossos dirigentes necessita ser elevada, e também ser diferenciada. Nós precisamos
de comandantes, homens de estado, pensadores, inventores e artistas mais capazes”.
79 Cf. Nachlass / FP 1876, 19[79], KSA 8.349, 1881, 11[276], KSA 9.547-548, 1885, 35[74],
KSA 11.541-542, 1885, 2[179], KSA 12.155. A Züchtung poderia ser indissociável de uma
Erd-Regierung, na medida em que ela exige que as massas sejam sacrificadas a uma elite.
80 Desde os escritos do período da Basiléia, Nietzsche medita sobre a articulação entre a
emergência do grande indivíduo e a vida de um povo ou de uma cultura. Cf., por exemplo,
Nachlass / FP 1872, 19[33], KSA 7.426.
81 Cf. GAYON, J. Nietzsche and Darwin. Op. cit., p. 175-176. Precisemos que Jean Gayon
cita essa objeção sem subscrevê-la.
82 Cf. WALLACE, A. R. Human Selection. In: Fortnightly Review, n.48, p. 325-337, 1890.
[...] ele disse que era tão avançado e tão cético em relação aos proble-
mas éticos, em relação à questão do que é bem e mal, que ele não poderia
de modo algum dizê-lo, assustar-se-ia com isso; podiam-se representar
um ponto de vista e metas pelos quais se deveriam reprimir seus bons
movimentos, sua compaixão, tendo em vista um fim superior83.
83 Cf. FRANK KRUMMEL, R. Joseph Paneth über seine Begegnung mit Nietzsche in der
Zarathustra‑Zeit. Op. cit., p. 490.
Essa tradução francesa, publicada em 1873, é a que Nietzsche possuía em sua biblioteca
pessoal: cf. DOMBOWSKY, D. Nietzsche’s Machiavellian Politics. New York: Palgrave
Macmillan, 2004, p. 199.
85 Cf. MACHIAVEL, N. Le Prince. Op. cit., p. 141.
86 Cf. DOMBOWSKY, D. Nietzsche’s Machiavellian Politics. Op. cit., p. 132 e p. 142.
A seção do Crepúsculo dos ídolos que tem por objeto “Os ‘me-
lhoradores’ da humanidade” ilustra bem essa estratégia. Nela,
Nietzsche compara dois tipos de morais que pretenderam melhorar
a humanidade no decorrer da história: uma moral do amansamento
(Zähmung), que se exerceu nas sociedades cristãs, e uma moral
da criação (Züchtung), da qual o sistema de castas hindu fornece
um exemplo privilegiado. Esse sistema de castas é apresentado
como uma instituição eugenista, na medida em que ele visa a criar
“não menos que quatro raças” (GD/CI, Os “melhoradores” da hu-
manidade 3, KSA 6.100. Trad. Paulo César de Souza). A questão
consiste, por conseguinte, em saber se Nietzsche aspira a consti-
tuir uma organização social similar. Ora, de modo notável, a seção
fornece sucessivamente índices pro e contra próprios para descon-
certar um leitor apressado. Nietzsche descreve primeiramente os
autores das Leis de Manu como “uma espécie de homem cem vezes
mais branda e mais razoável” que os sacerdotes cristãos (ibid.). Mas
em seguida ele evoca os terríveis prejuízos trazidos pelo código de
Manu aos indivíduos exteriores à casta, concluindo a esse respeito
que “o conceito de ‘sangue puro’ é o oposto de um conceito inócuo”
(GD/CI, Os “melhoradores” da humanidade 4, KSA 6.101). Certos
comentadores estimaram, por isso, que Nietzsche rejeitava tanto a
moral do amansamento quanto a moral da criação87.
Mas, para nós, essa leitura ignora o propósito maquiaveliano
do texto. O último parágrafo, que constitui uma reelaboração do es-
boço de Tractatus politicus, oferece uma chave para a compreensão
do conjunto da seção:
87 Cf., por exemplo, BROBJER, Th. The Absence of Political Ideals in Nietzsche’s Writings.
The Case of the Laws of Manu and the Associated Caste‑Society. In: Nietzsche-Studien, n.27,
p. 300-318, 1998.
88 Cf. AC/AC 56, KSA 6.239: “Afinal, a questão é para que finalidade se mente. O fato de
não haver finalidades ‘santas’ no cristianismo é a minha objeção aos seus meios” (trad. Paulo
César de Souza).
89 Cf. AC/AC 57, KSA 6.241: “Surpreendemos a não-santidade dos meios cristãos in
flagranti, se medimos a finalidade cristã pela finalidade do código de Manu – se colocamos
sob luz forte esse enorme contraste de finalidades”.
90 Cf. MACHIAVEL N. Discours sur la première décade de Tite-Live. In : Oeuvres complètes.
Diversos tradutores, Paris: Gallimard (Pléiade), 1992, I, 9, p. 405. Maquiavel aplica essa frase
ao assassinato de Remo por Rômulo, que tornou possível a fundação da República romana.
Conclusão
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