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1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6.
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Epílogo
Agrdecimentos
— Não vamos embora deste bar até você beijar alguém — Payton diz isso
como se estivéssemos no meio de uma conversa sobre eu beijar alguém. E não
estávamos.
Assinto mesmo assim, porque somos melhores amigas e estou acostumada
ao seu jeito repentino.
— Então você quer que eu beije alguém, depois podemos ir embora? —
Coloco meu copo no balcão do bar e me viro um pouco no assento, como se
analisasse o ambiente para procurar opções. Não estou analisando, não de
verdade, mas fico feliz em brincar com isso.
— É. Assim que você tiver pelo menos beijado alguém, podemos ir
embora.
— Pelo menos beijado? — Eu me volto para ela, rindo. — Até onde quer
que eu chegue? Em um bar? Com um estranho?
Estou rindo porque essa conversa é ridícula, mas ainda assim… a ideia me
atrai. A ideia de que eu posso escolher qualquer homem do bar e pedir que ele
me beije. Ou talvez até que me agarre no corredor. Talvez ele assuma o comando
e me pressione contra a parede. Coloque o joelho entre minhas coxas enquanto
me beija na mandíbula, e depois cubra meus lábios com os dele.
É, isso é estranhamente específico. Coloco uma mecha de cabelo atrás da
orelha e permito que meus olhos vejam, além de Payton, os dois homens
sentados do outro lado dela. Eu estive discretamente os observando a noite
inteira. Um deles tem sotaque britânico. Está bêbado e obcecado com uma
mulher com quem acabou de terminar. Ou que terminou com ele — não tenho
certeza e não me importo realmente. O objeto do meu desejo é o cara número
dois.
O cara número dois é perfeito. Tão perfeito, que nem consigo olhar para ele
diretamente, por isso os olhares discretos. É completamente fora da minha
alçada. Cabelo escuro despenteado, com uma onda. Perfeitamente cortado, e eu
simplesmente sei que seria macio sob meus dedos, e não cheio de produto
seboso de cabelo. Ele tem pelos faciais aparados, como se ele não conseguisse
decidir entre uma barba por fazer e uma barba de verdade; e os olhos castanhos
muito escuros, que me deixam com falta de ar quando encaram os meus. Seus
antebraços são bronzeados e delineados com músculos. Eles serão o foco das
minhas fantasias por, no mínimo, um mês.
Ele esfrega a ponta do polegar na ponta do dedo indicador enquanto seu
amigo fala, mas não de um jeito ansioso. Lentamente, como se fosse algo que ele
fizesse quando pensa, ou talvez seja algo que faz quando escuta. Suas unhas são
curtas e bem cortadas. Eu chutaria, com base em suas mãos, que ele trabalha em
um escritório, mas, diante do que posso ver de seu corpo, seu hobby é a
academia.
Seu dedo indicador se esfrega de novo, devagar, em seu polegar, e ah, Jesus
amado, estou imaginando algo totalmente diferente agora.
Preciso transar.
— Você precisa transar — Payton diz no exato instante em que o olhar do
homem se ergue do balcão do bar até meus olhos.
Morro dez mil vezes, mas Payton não percebe que acabei de morrer, então
continua falando sobre encontrar alguém para eu beijar antes de irmos embora.
Os olhos do sr. Perfeito ainda estão em mim.
— Eu cuido disso — ele diz.
Oh, meu Deus. Espere, ele está falando comigo? Isso está acontecendo?
Com certeza entendi mal. Entendi errado. Ele está conversando com alguém
atrás de mim, ou com o garçom ou com o cara britânico bêbado. Dou uma rápida
olhada por cima do ombro para ver quem está atrás de mim.
Não tem ninguém atrás de mim.
— Eu cuido disso — ele repete, e, por um segundo, meu cérebro sofre um
curto-circuito.
É um sim, é o que estou pensando. É um sim. Aonde vamos beijar? Não
quero que seja aqui, seria estranho. Não acho que deveríamos ir para a casa dele,
ele é um completo desconhecido. Ele poderia ir para minha casa. Isso. Payton
poderia passear na Target, ou algo assim, e nos dar privacidade. Penso se ele vai
se importar que só tenho uma cama de solteiro. Sabia que deveria ter comprado
uma cama maior, mas era mais dinheiro, e meu quarto é minúsculo — e eu
precisava de espaço para minha máquina de costura. Puta merda, isso vai
acontecer. Esse homem, que é gostoso demais para se olhar diretamente, quer
transar comigo.
Pisco e, então, ele termina de falar com um sorrisinho no rosto:
— Eu te beijo.
Oh. Certo. Não é como se ele estivesse tão atraído por mim — uma mulher
aleatória em um bar —, que quisesse fazer sexo comigo baseado em nada mais
do que ouvir minha amiga dizer que preciso transar. Burra. Sou muito idiota. Até
parece.
— Ela aceita — Payton diz e me expulsa do meu banquinho.
Na verdade, ela realmente me empurra, uma cena parecida com o que
imagino que mães façam com os filhos no primeiro dia de escola ao colocarem
as crianças para fora pela porta da frente. O homem se vira no banquinho, e o
observo me analisar agora que estou em pé. Seus olhos sobem lentamente por
minhas pernas nuas, e eu quero matar Payton por me trazer para esse bar.
Acabamos de passar o fim de semana nos mudando para nosso novo
apartamento e pensei que fôssemos sair para comer um hambúrguer, então estou
de short jeans e uma blusinha. Eu deveria ter percebido. Assim que saímos do
apartamento, Payton insistiu que precisávamos ver o que rolava ali, e aqui estou
eu, de short, com meus joelhos ossudos, observando um homem que parece
mandar em tudo me analisando.
Flexiono um joelho e bato os dedos no pé no chão enquanto penso se ele
estava mudando de ideia, mas então ele se levanta. Presumo que vá se aproximar
e me beijar bem ali, diante de todo mundo, mas não o faz. Em vez disso, ele para
à minha frente. Preciso jogar a cabeça para trás, a fim de encontrar seus olhos,
porque ele é meio metro mais alto que eu. No máximo, minha cabeça chega em
seus ombros.
Ele usa jeans e mocassins, com uma camisa com a manga enrolada até os
cotovelos. Desconfio que seus sapatos custem mais do que qualquer coisa que
possuo. Sinceramente, isso também vale para a calça e a camisa. Estou lutando
contra o desejo de enfiar as mãos nos bolsos de trás e me encolher sob seu olhar
quando ele fala.
— Como se chama?
— Lydia.
— Lydia — ele repete com os olhos nos meus.
Ouvi-lo dizer meu nome deve ser algum tipo de preliminar para mim,
porque meu coração está prestes a sair do peito. Sua voz é baixa e tranquila,
autoritária e sexy pra caramba.
— Aqui não — ele declara e pega minha mão na dele.
Sua mão está quente, envolvida na minha, e o simples contato provoca
arrepios em minha pele. Então ele se move, minha mão na dele, conforme nos
guia para além do bar.
— Brady, vou usar seu escritório por um minuto — ele grita para alguém
atrás do bar. Não para, a fim de esperar uma resposta, e, um instante mais tarde,
estamos sozinhos.
A primeira coisa que vejo é que o escritório é melhor do que eu esperava
para um bar. Há uma mesa grande arrumada, com um notebook fechado em cima
e uma única caneta ao lado. Um divã de couro com um ar caro, mas bem usado,
se encontra ao longo da parede.
A segunda coisa que percebo é o silêncio. Não era excessivamente
barulhento no bar, mas, por trás de uma porta fechada, percebo o quanto esse
escritório é silencioso sem o som de gelo e o encontro de garrafas. Apenas nossa
respiração e a batida do meu coração ecoavam em meus ouvidos.
Esse é todo o tempo que tenho para observar, porque ele se vira para me
encarar e ergue meu queixo com a ponta de seu dedo. Ok, chega de observar. O
cheiro dele é maravilhoso. Tem cheiro de alguém em quem quero me deitar com
a cabeça apoiada no peito enquanto ele enrola mechas de meu cabelo em seus
dedos. Sei que isso não é tecnicamente um cheiro, mas acredite em mim. Ele tem
cheiro de roupa limpa e especiarias e virilidade. Quero subir nele.
Seus olhos estão baixos, seu olhar se move de meus olhos para meus lábios
e volta com uma confiança calma. Não percebo que estou prendendo a
respiração até ele me lembrar de respirar. Sua expressão é uma combinação de
excitação e diversão.
Respiro e molho os lábios com a língua. Resisto a me balançar, mas quase o
faço. Há um sinal de sorriso em seus lábios quando ele segura minha mandíbula
com uma mão, a outra, se apoiando em minha cintura. Sua mão é tão quente
através do fino tecido de minha blusinha, que quase parece encostar em mim
diretamente. Então ele abaixa a cabeça em direção à minha e me beija.
Suavemente. A mão em minha cintura permanece ali. A pressão de seus
dedos é firme, segura. Uma âncora desnecessária, mas bastante apreciada,
porque não vou a lugar nenhum. Coloco a palma das mãos em seu peito,
emocionada com a sensação do tecido pressionado contra a ponta de meus
dedos. Com a firmeza de seu corpo, seus músculos e seu calor.
Seus lábios deixam os meus, mas apenas o suficiente para ele inclinar um
pouco a cabeça, e depois pressioná-los nos meus de novo. Seu polegar acaricia
minha face, e eu murmuro, ou gemo, em resposta. Não sei qual dos dois, mas
sou recompensada com outro beijo suave conforme seus lábios persuadem os
meus a se abrirem. Seus pelos faciais pinicam minha pele, e isso só me excita
mais. O leve arranhar contra minha pele faz minha atenção se focar em seus
lábios, em sua força, na potência de seu efeito em mim. Ele mordisca meu lábio
inferior entre os dentes e, então, me beija de novo; a pressão mais firme, as
línguas se encontrando, meus joelhos cedendo e o coração acelerando.
Quando ele se afasta, precisa me equilibrar, porque me inclinei tanto para
ele, que teria caído sem o apoio. Estou sem fôlego, como se tivesse acabado de
correr em volta do prédio. Com exceção de passar o polegar em seu lábio
inferior, ele parece não ter sido afetado. Ele dá um passo para trás e faz outra
análise lenta de mim, da cabeça aos pés, e eu me pergunto o que ele vê. Será que
vê uma mulher pela qual se sente atraído? Ou uma garota que ele beijou como
um favor? Ele parece centenas vezes mais centrado do que eu.
— Você teve seu beijo. Pode ir para casa agora, boa garota.
Na segunda de manhã, paro no estacionamento do Windsor, com muito frio
na barriga em relação ao meu primeiro dia de trabalho. Payton veio com outro
carro, porque está em um grupo diferente e não sabíamos se terminaríamos na
mesma hora ou não.
Então estou sozinha, assim como uma adulta de verdade, o que sou. Sou
adulta. Sorrio tanto, que tenho que morder a parte interna de minha bochecha
para controlar. Não que seja necessário, estou sozinha no carro, então ninguém
consegue me ver sorrindo como uma idiota.
Batuco a ponta dos dedos no volante conforme sigo as placas que me
indicam as áreas do estacionamento para funcionários. O resort abrirá em menos
de um mês, e novas contratações em massa começarão nas próximas quatro
semanas. Sou contratada para os bastidores, o que significa que não lidarei
diretamente com os hóspedes. Vou desaparecer na seção corporativa do resort na
qual você nunca pensa. Recursos humanos, jurídico, marketing, TI,
contabilidade: é tudo lá dentro, escondido da vista.
Encontrando uma vaga, estaciono e verifico de novo meu batom no espelho
retrovisor, depois tranco o carro e memorizo onde estacionei, para encontrar meu
carro depois do trabalho.
Ok, é isso. Primeiro dia, aí vou eu. Ocorre-me que será um grande ano de
primeiras coisas para mim. Primeiro apartamento de adulta. Primeiro emprego.
Primeiro pagamento do financiamento estudantil.
E vou absoluta e positivamente perder minha virgindade antes deste ano
terminar, então será uma grande primeira coisa para riscar da minha lista de vida.
Não que eu não tivesse tido chance de perdê-la antes, é só que não estava
interessada. Cresci com pais liberais em uma cidade conservadora, e eu fiquei
meio que presa no meio desses dois mundos. Além disso, eu simplesmente não
estava com muita pressa para isso. No primeiro ano, namorei um cara que não
gostava tanto por muito mais tempo do que deveria porque adorava seu gato. E,
não, não é um eufemismo para algo mais legal. Era um gato de verdade. Um
gato enorme, preto, de pelos compridos, com patas brancas como luva, que
atendia pelo nome de sr. McGee, e eu o amava.
O cara, não tanto. Não estou dizendo que tinha razão ou lógica, mas era
isso.
Ainda estava esperando alguma coisa, sabe? Alguma coisa que me fizesse
ter vontade de rasgar a calcinha, e esse sentimento nunca veio. Mas, que seja,
este é meu ano de rasgar a calcinha. Ou talvez seja meu ano de tirar a calcinha?
Provavelmente não vou rasgar minha calcinha, vou? Não, seria esquisito. Vou
tirá-la, com certeza. Estou aberta para um cara rasgá-la de mim, mas nunca usei
o tipo de calcinha que se rasgaria sob as mãos de um homem.
Caramba. Eu preciso de calcinha nova. Se este é meu ano, vou precisar da
calcinha adequada para quando acontecer. Faço uma nota mental para me dar de
presente novas calcinhas quando receber meu primeiro pagamento. Outro
primeiro! Meu primeiro pagamento como adulta! Uhuuu!
Entro no prédio pela entrada de funcionários, confiante de que embarcarei
no melhor ano da minha vida.
Uma hora mais tarde, tenho certeza disso.
Eu o vejo enquanto estou no tour pelo resort. Aquele cara. Aquele da outra
noite, que me beijou, mas cujo nome não peguei. Ele é simplesmente tão perfeito
quanto eu me lembrava. Faz meu coração acelerar e meu pulso bater ainda mais
rápido do que eu me lembrava. Puta merda, acho que ele deve trabalhar aqui. O
que, basicamente, significa que vou dormir com ele, certo? Certo. Vai acontecer,
certeza. É para acontecer. Está escrito. É o destino.
Se ele estiver interessado, claro. Mas ele me beijou, então deve estar
interessado em transar comigo. Eu acho. Não sei muito bem como funciona para
homens. Eu tinha beijado homens com quem não queria dormir, obviamente,
mas acho que homens são menos exigentes do que mulheres. Não são? Deus,
espero que ele seja menos exigente do que eu, porque ele é o cara certo.
É com ele que gostaria de transar, não o cara certo, certo mesmo. Não, claro
que não. Não sou tão louca que já estou planejando casamento e filhos com um
homem que não conheço baseado em um beijo perfeito. Ainda quero me
apaixonar pelo homem perfeito, quem quer que seja, e viver feliz para sempre
com ele. É só que não sei quando ele chegará, esse cara. E se eu fizer trinta anos
antes de ele aparecer? Não deveria ter que esperar até ter trinta para vivenciar o
sexo.
Então, não, não planejo me casar com ele. Só quero lhe dar minha
virgindade, porque acho realmente, com base naquele beijo perfeito, que ele
seria bom mesmo em me deflorar. Porque sinto algo quando o vejo. Algo com
que não estou familiarizada, mas que classificaria como luxúria desenfreada. Um
desejo. Um despertar, se me entende.
Deflorar. Que palavra ridícula. Faço uma nota mental de não a usar quando
pedir para ele transar comigo.
— Acho que vi aquele cara — conto à Payton quando a vejo na lanchonete
dos funcionários no almoço.
Com lanchonete, quero dizer a lanchonete mais pretensiosa em que já
estive. Há um balcão de saladas, uma estação de sanduíche, uma estação de
pizza e uma variedade de seleções quentes que parece que eles trocavam
diariamente, baseado no cardápio impresso. E é de graça! Louco, não é? Os
benefícios de funcionários são de primeira qualidade, o que foi parte do que me
atraiu para este emprego. Embora tenham sido mais a previdência privada
colaborativa e o plano de saúde do que os almoços gratuitos para funcionários,
mas mesmo assim. É um privilégio superlegal. A equipe inteira também tem
acesso a esta lanchonete. Os que ficam no balcão, nos bastidores, não importa. O
gerente geral e o camareiro, todos usam a mesma lanchonete, o que penso ser
maravilhoso e igualitário, e todas essas coisas. É um espaço enorme, mas como
um buffet, na verdade, que será necessário para acomodar a quantidade de
funcionários que trabalharão aqui assim que estivermos com todas as vagas
preenchidas.
— Que cara? — Payton pergunta antes de dar uma mordida gigante em um
pedaço de pizza.
Ela é magrela e pequena, porque, apesar de comer muito, tem o
metabolismo de um menino no ensino médio.
— O cara do bar. Da outra noite.
— Fala sério! — Ela deixa a pizza no prato e dá um sorriso que orgulharia
o gato de Cheshire. — Aqui? — ela pergunta, uma sobrancelha arqueada de
alegria com o potencial divertimento que isso lhe forneceria.
— Lógico que aqui. Não estive em mais nenhum lugar hoje, além de aqui.
— Corto o peito de frango da minha salada em pedacinhos, depois pego um com
o garfo, me certificando de pegar uma porção perfeita de alface e molho junto.
— Então ele trabalha aqui? Conversou com ele?
— Acho que sim, e não. Eu o vi quando estava andando pelo lobby do hotel
com meu grupo de orientação. É bem legar estar aqui antes de abrir, não é?
Realmente é superlegal. Você já esteve em um cassino em Vegas fechado?
Não. Não esteve, não, porque, uma vez que abrem, eles ficam abertos. Vinte e
quatro horas por dia, trezentos e sessenta e cinco dias por ano. Quantas pessoas
têm a oportunidade de ver um lugar como este antes de abrir? Não muitas,
aposto.
O lobby estava agitado. Trabalhadores da obra em andaimes fazendo ajustes
na iluminação enquanto outro grupo revestia uma fonte decorativa do tamanho
de uma piscininha. Entregas estavam sendo feitas nas lojas de varejo do lobby
conforme caixas de papelão vazias estavam sendo desmanchadas e descartadas.
O andar do cassino estava bem parecido. Mesas de aposta no lugar, mas
vazias. Fileiras de caça-níqueis estavam acesas, mas em silêncio, e o piso inteiro
estava vazio de pessoas, com exceção de um bar no centro, que ainda estava em
construção.
Sinto o cheiro de tinta e tapete novos, mas alguma outra coisa também. Tem
cheiro de primeiro dia. Tipo energia em potencial e guardada e a promessa
sussurrada de uma aventura iminente.
É estranhamente legal.
— Lydia, foco. — Payton chacoalha o gelo em seu copo, depois bebe um
gole. — Preciso de detalhes!
— Eu o vi no lobby. Acho que trabalha aqui? — digo, mas é mais uma
pergunta do que uma afirmação, porque não faço ideia. — Ele estava em pé
perto das portas da frente com mais dois caras. Estavam olhando para uma mesa
e apontando diferentes locais no teto do lobby. Oh! Talvez ele seja da segurança
ou algo assim? Caramba, não sei mesmo, mas ele parecia pertencer a este lugar.
Acho que é possível que ele seja um engenheiro e que eu nunca cruze com ele de
novo. — Enrugo o nariz e dou de ombros. Vai ser uma droga se aquela tiver sido
minha única chance e eu a tenha arruinado. Mesmo que ele trabalhe aqui, será
que nossos caminhos vão se cruzar? Este lugar é equivalente a uma cidadezinha.
Com milhares de empregados, haverá muita gente que raramente, se acontecer,
vou ver.
Oh, uau. Não achei que ela fosse querer. Ela quase não tinha dado opinião
sobre as coisas que compramos para nosso apartamento. Imagino se conseguirei
levá-la à Ikea comigo de novo.
Sobrevivi ao resto do dia, embora não tivesse ideia de como não morri ali
mesmo, só que morte por humilhação não deve ser um jeito rápido de ir.
Fiquei parada na sala de descanso com minha nova chefe enquanto ela
esclarecia que Rhys é o gerente geral — do resort inteiro.
Isso era ruim. Piorou. O resort é propriedade da Sutton Travel Corporation,
o que eu sabia — claro que eu sabia disso. Fiquei animada por conseguir um
emprego em uma empresa enorme com benefícios excelentes e fiz minha
pesquisa. Sutton tem sede na Grã-Bretanha e opera em mais de cinquenta países.
Hotéis, grupos turísticos, cruzeiros e agora um resort de luxo na Las Vegas Strip.
Eles estão no mercado há décadas. São conhecidos por desenvolver talentos e
promovê-los internamente.
A empresa foi fundada por William Sutton. O avô de Rhys. Então.
Então isso o torna sócio-proprietário, não é? Serei demitida.
Completamente demitida. Sou do Recursos Humanos e propus sexo ao chefe do
chefe da minha chefe. O que há de errado comigo? Sério. Sou melhor que isso.
Não sou esse tipo de garota. Sou boa! Coloco os pingos nos is e cruzo os tês!
Pago minhas contas antecipadamente. Reciclo! Não proponho sexo para meu
chefe. Aff. Sou nojenta.
Aperto os olhos toda vez que me lembro do desastre que eu era tentando
flertar. Minha primeira semana em meu primeiro emprego, e serei demitida.
Passo a tarde me perguntando se eu mesma devo me demitir. Será que
simplesmente devo seguir em frente e ajustar a papelada? Falamos sobre o
processo da empresa em cortar emprego de treinamento ontem, então sei como
fazê-lo.
Não sei o que fazer. Então levo minha caneca com qualquer coisa de leite
dentro pelo corredor até a sala de reunião 4C. Mantive os olhos para baixo
enquanto me sento para uma reunião com minha equipe sobre o treinamento que
começaria na segunda. Com a abertura do resort se aproximando, os
funcionários que lidavam diretamente com hóspedes estão escalados para
começar em grupos nas próximas três semanas. Significa papelada infinita.
Infinitos formulários que precisam ser preenchidos. Checklists longos
multiplicados por muitos milhares de novas contratações, as quais precisam
todas começar, teoricamente, ao mesmo tempo. Cedo o suficiente para garantir
que sejam treinados nos padrões da companhia, mas não tão cedo para que
tivéssemos funcionários na folha de pagamento antes que as portas se abrissem.
Fácil. Anoto tudo, minha mente cheia de uma legião de pensamentos, não todos
focados em regulamentações do estado e reuniões beneficentes.
Então volto à minha mesa, aguardando o machado cair. Pulo toda vez que
alguém passa por meu cubo, esperando que seja Bethany com um sorriso triste
no rosto enquanto pergunta se pode dar uma palavrinha comigo.
Não aconteceu. Até fico meia hora a mais para dar a ela toda oportunidade
de me despedir antes do fim de semana. Sabe, no caso de ela estar atrasada na
agenda? Mas, em certo momento, percebo que a luz de seu escritório está
apagada, então presumo que ela foi embora e, se eu ia ser demitida, não
aconteceria até segunda-feira. Pego minha bolsa e deixo minha caneca suja em
cima da mesa para o fim de semana todo, porque só de pensar em voltar para a
sala de descanso me dá um estresse pós-traumático. Estressa um pouco deixar
uma caneca suja em cima da minha mesa também, mas você precisa escolher
suas batalhas.
Assim que estou seguramente trancada em meu carro, envio uma
mensagem à Payton e digo que tenho tarefas a fazer e chegarei em casa em
algumas horas. Preciso de tempo em meu lugar feliz antes de me preparar para
falar sobre o dia de hoje.
Então, no celular, abro o aplicativo para procurar uma Goodwill em Las
Vegas. Percebo que não é o lugar feliz costumeiro para uma mulher de vinte e
dois anos, mas não sou como a maioria das mulheres de vinte e dois anos.
Só demoro um instante para perceber que me mudei para a terra sagrada das
lojas Goodwill. Há muitas delas! Havia apenas algumas perto da casa dos meus
pais em Memphis, mas há, no mínimo, doze aqui! E o que é isso, outlet da
Goodwill? Até parece! Espere. Droga. A outlet só abre em dias da semana
durante o horário comercial. Bom, pelo menos tenho algo para o qual ansiar
quando for demitida. Conseguirei comprar na outlet Goodwill o quanto quiser.
Há duas localizações entre o trabalho e meu apartamento. Insiro o endereço
da primeira e saio da garagem do estacionamento para a Las Vegas Boulevard.
Minha experiência limitada nesta cidade é que o trânsito é sempre ruim na Strip,
mas, felizmente, só tenho menos de quatrocentos metros ali, depois posso cortar
para a Convention Center Drive e sair desta bagunça. Quinze minutos depois,
estou estacionando em um shopping a céu aberto de Maryland Parkway.
Encontro uma vaga perto da porta e vejo a loja por fora. Parece uma boa — às
vezes, você simplesmente consegue prever essas coisas, sabe?
Suspiro enquanto desligo meu carro e o tranco. É tão bonito aqui. Sei que
muitas pessoas não acham isso de Vegas, mas é. Assim que você sai da Strip, é
adorável, paisagens com palmeiras e deserto. Espero que consiga ficar. Não
estraguei tudo. Espero que não precise ligar para meus pais e dizer a eles que
vou voltar para casa.
Entro pelas portas automáticas e inspiro, sentindo o cheiro de naftalina e pó
enquanto pego um carrinho. Claro que vou precisar de carrinho. Vejo que a cor
da semana é azul, o que significa que qualquer coisa com uma etiqueta azul tem
cinquenta por cento de desconto. Batuco os dedos no carrinho enquanto analiso a
loja antes de ir à primeira arara de roupas de adulto. O tamanho não importa
porque vou lavar tudo e customizá-las. Nem me importo, particularmente, se é
roupa feminina. Já transformei ternos masculinos em todo tipo de coisa.
Cachecóis, bolsas, uma capa. Uma vez, fiz um vestido com um paletó.
Às vezes, encontro uma peça ótima, mas a maior parte é porcaria que
preciso desmanchar e refazer. Gosto disso. Acho muito gratificante pegar algo
que foi descartado e transformar em algo novo.
Minha antiga líder Girl Trooper, a sra. Barnes, me ensinou a costurar. Não é
uma habilidade que a maioria das jovens aprende atualmente. Já faz um tempo
que não é. Eu poderia usar tecido novo, mas tecido é caro pra caramba. Além
disso, é bem mais divertido ir em busca da peça, como um tesouro. Expiro e
começo no fim da fileira, rapidamente movendo os cabides. O barulhinho que
eles fazem conforme deslizam contra a barra de metal me acalma. Desliza,
desliza, desliza. Pausa. Analisa. Repete. Três fileiras, estou calma. O estresse do
dia se esvai enquanto me concentro em nada além de verificar etiquetas e preços,
olhando se um item terá tecido útil suficiente para fazer algo com ele.
Estou na metade da sessão de roupas femininas quando olho para cima e
vejo lençóis pendurados. Lençóis de estampa antiga, dobrados e pendurados em
cabides de calça. Abandono as araras de roupas conforme tenho uma ideia.
Pijamas. Eu poderia cortar os lençóis e fazer partes de baixo de pijamas. Poderia
usar as beiradas largas das fronhas e a parte de cima do lençol como bainha das
calças. Poderia fazer shorts com a parte menor que sobrasse. Caramba, aposto
que poderia conseguir, no mínimo, um short, uma calça e até uma blusinha de
alcinha com cada lençol! Tenho um molde em casa, e elástico e todo o resto de
que preciso. Posso passar o fim de semana inteiro medindo, alfinetando,
cortando e costurando.
E não pensar em Rhys. Não pensar em como ele me fez sentir quando me
beijou no fim de semana anterior. Não pensar na reação que eu tinha com ele.
Uma reação que nunca senti, não daquele jeito. Não pensar no fato de que ele é
chefe do chefe da minha chefe. Não pensar na forma como ele simplesmente me
encarou naquela tarde quando eu praticamente me joguei nele.
O que será impossível. Tenho certeza de que as palavras e seja lá o que
você queira ainda passarão repetidas vezes em minha mente quando eu tiver
oitenta anos.
Payton me manda mensagem enquanto estou olhando tudo. Ela não sabe
sobre meu hobby da Goodwill, então evito responder à pergunta dela sobre onde
estou e lhe digo que já estou indo para casa. Consegui passar duas horas naquela
loja então não terei tempo de parar em outra antes de fechar, de qualquer forma.
Ela me fala para encontrá-la na piscina quando eu chegar em casa. Diz que a
hidromassagem está cheia de homens gostosos.
Digo a ela que preciso lavar roupa, o que não é mentira. Tenho que lavar
lençóis para começar a cortá-los.
Payton é espertinha. E é por isso que não percebi que ir à Ikea e jantar era
realmente apenas um truque para me arrastar para fora e socializar. Oh, nós
fomos à Ikea. Ela até foi dirigindo. Depois, ela nos levou ao bar.
— Sério, Payton? — pergunto quando ela estaciona em uma vaga no
Hennigan’s. Você disse que iríamos jantar.
— O que foi? Podemos pedir porção de frango aqui. Isso conta como jantar.
— Ela abaixa o espelho, tira um batom da bolsa e o destampa. — Alguns caras
da piscina vão nos encontrar aqui.
— Isso é um encontro? Você arranjou um encontro para mim?
Eu me viro para ela, confusa, enquanto tento entender como conseguiu
fazer planos para esta noite enquanto eu estava com ela na piscina. Claramente,
ela é muito melhor do que eu nesse tipo de coisa. Quais caras? Ninguém que vi
hoje se comparava a Rhys, mas talvez seja hora de eu parar de ser tão exigente.
Talvez meu problema seja esse! Será que não tenho razão?
— Ahn, não. Não é um encontro. — Ela balança a cabeça, erguendo uma
sobrancelha cética na minha direção. — São dois caras que moram em nosso
condomínio e vão nos encontrar neste bar, que é a menos de um quilômetro de
onde moramos.
— Oh, ok.
— Relaxe, apressadinha. É só para tomar uma.
— Ótima ideia.
— Sério? — Agora ela está obviamente em dúvida, sem fazer nada para
esconder seus olhos estreitos e lábios franzidos.
— Sério. — Viro meu próprio espelho para baixo e analiso meu reflexo. —
Planejou bem, só me avise da próxima vez para eu usar algo sem ser uma
camiseta que diz “Vamos falafel sobre isso”. — Tiro o lacinho de cabelo e
chacoalho o cabelo, penteando-o com os dedos. Tomei um pouco de sol hoje e
passei rímel antes de sairmos, está bom. — Mas amanhã eu vou fazer pijamas o
dia inteiro — digo a ela, balançando as mãos no ar, chacoalhando os dedos —, e
não quero ouvir uma palavra sobre isso.
— Certo. Mas isso foi decepcionantemente fácil. Eu já estava me
preparando para arrastar você para dentro — Payton diz enquanto saímos do
carro.
O calor me encontra no instante em que coloco uma perna para fora do
carro. Estão uns vinte graus às oito da noite, mas, sim, é um calor quente, como
dizem.
— Desculpe te decepcionar — digo a ela quando bato a porta do
passageiro. — Se ajuda, não vou ficar com ninguém desta vez. E não é um
desafio. Não vai acontecer.
— Por que não? A melhor forma de dar a volta por cima por alguém é ficar
embaixo de outro.
— Nunca fiquei embaixo de Rhys.
— Acho que é no sentido figurado.
Assim que entramos, pegamos uma mesa e pedimos duas cervejas. Não
amo cerveja particularmente, mas, que saco, quem não tem cão, caça com gato.
Será que alguém caça com gato? Talvez não seja uma ótima analogia. Talvez eu
devesse ter pedido vinho? Não tenho certeza se porção de frango combinava
com vinho. Bom, que seja — minha cerveja chegou.
Josh e Dan também chegaram. Eu os reconheço da piscina, Payton me
lembra quem é quem antes de eles chegarem à nossa mesa. Um terceiro cara
chega alguns minutos depois deles, um que não reconheço, mas parece ser amigo
deles. Não ouço seu nome, e ele não parece muito interessado no meu, então não
me incomodo. De qualquer forma, Payton não estava mentindo. Isso não é uma
armação ou um encontro. São só algumas pessoas se reunindo para beber, fazer
amigos. Talvez mais, quem sabe?
Socializar é difícil. Não tenho nenhuma fobia em particular sobre socializar,
nada disso. Sou muito boa em etiqueta social e fazer amigos. Ganhei todos os
distintivos de habilidade na vida que alguém pode obter durante meus dias de
Girl Trooper.
Mas bares são diferentes. Distribuir porta-copos para evitar marcas de copo
no balcão não é considerado uma qualidade social, por exemplo.
O que é ridículo, mas, enfim. Molho um pedaço de frango em ramequim de
plástico com mostarda e mel e escuto o que Josh está me contando sobre seu
emprego. Ele parece interessado em mim. Não agressivamente interessado,
apenas normalmente interessado, o que é legal.
Ele é atraente.
Ele é atencioso.
Ele está disponível.
Eu não sinto nada.
Mas talvez eu vá sentir alguma coisa, se tentar bastante. Talvez seja assim
que funciona. Talvez não seja sempre um desejo instantâneo, cego e
inexplicável.
Como foi com Rhys. Por que foi tão instantâneo com Rhys? Tão
irritantemente instantâneo. Na primeira vez em que o vi, eu o desejei antes
mesmo de ele olhar para mim.
Foco em Josh. Peço outra bebida e foco. Em Josh. Josh gente boa. Josh com
idade apropriada. Não o Josh chefe do meu chefe do meu chefe.
Fiquei admirada com Rhys ontem à noite. Claro que fiquei. Depois que
Payton arrancou a régua de corte da minha mão e me mandou ir para a cama,
fiquei deitada no escuro fazendo pesquisas na internet sobre Rhys Dalton. Não
sei o que eu estava procurando exatamente, não é como se fosse encontrar um
artigo sobre outra garota que se envergonhou diante dele de uma maneira pior
que eu.
Ok, sim, eu procurava esse artigo. Não existe, obviamente. Depois, procurei
“me envergonhando diante do crush” no Google só para me divertir. Após ler
duas histórias, decidi que era melhor parar de ler, no caso de eu estar
subconscientemente armazenando formas adicionais de me envergonhar.
Enfim, não encontrei muita coisa sobre Rhys. Algumas coisas chatas de
negócios. Não consegui encontrar uma esposa ou namorada, mas ele não tinha
uma página no Facebook para eu investigar. A única coisa social que consegui
encontrar dele foi no LinkedIn, e aquele site não era realmente designado para
dar em cima de seu chefe. Não de uma forma significativa, pelo menos.
Ele tem trinta e quatro anos. Meio velho para mim, provavelmente. Mas eu
não tenho preconceito, então acho que está tudo bem. Tive dois pais ao crescer.
Dois pais que me amavam e amavam uma o outro. Minha infância foi o
contrário de disfuncional. Foi completamente funcional, de uma forma não
convencional. Então não, não tenho nenhuma necessidade de ser cuidada e, se
quiser perder minha virgindade com um homem possivelmente meio velho para
mim, é minha decisão, na verdade, não é?
— Lydia? — Josh está perguntando alguma coisa, e não estou prestando a
menor atenção. Porque estou pensando no maldito Rhys.
— Sim? — Sorrio para Josh e renovo meu esforço para prestar atenção
nele.
Ele tem um cabelo bonito. E é legal. E está conversando comigo e
provavelmente responderia se eu lhe perguntasse qualquer coisa que ele quisesse
em vez de simplesmente me encarar como se eu não tivesse acabado de fazer
uma proposta muito generosa.
— Dardos? — Ele assente para uma placa de dardo perto de nossa mesa.
Ele tem olhos gentis e parece genuinamente interessado em minha resposta,
em que eu diga sim.
— Claro. — Coloco minha cerveja em cima de um porta-copos e dou um
tapinha no balcão. — Vamos lá.
Com isso, eu quero dizer dardos, não sexo. Por enquanto. Mas talvez vá
mudar de ideia. Não tipo esta noite, não vamos enlouquecer. Mas talvez Josh dê
em cima de mim. Talvez viremos amigos. Ele é meio engraçado, e eu gosto
mesmo dele. Talvez o desejo mágico e ilusório vá chegar, nunca se sabe.
— Por que estamos em uma porra de bar em Henderson? — Canon faz uma
careta e balança a cabeça, confuso, enquanto eu estaciono em uma vaga em
frente ao Hennigan’s.
— Meu amigo é dono do lugar. Disse a ele que vou entrar para ver como é.
— É. É, foi o que disse. E é por isso que trouxe seu primo aqui no fim de
semana passado.
Porra. Esqueci que ele sabia disso.
— É só uma bebida rápida, Canon — digo, convencendo-o. — Vamos ao
Strippers Strippers Strippers assim que acabarmos.
— Não seja babaca. Você sabe que se chama Double Diamonds, não
Strippers Strippers Strippers. E também sabe que é minha boate preferida de
strip. Respeite meus hobbies.
Eu paro, encontrando Canon no para-choque do meu carro assim que pego
a chave para trancar o carro. Ele não está errado. Também não faço ideia do que
estamos fazendo em um bar em Henderson. Não mesmo. Será que estou
esperando vê-la de novo? Sei que vou vê-la de novo. Na segunda, no trabalho.
Onde vou me controlar com beijos e meus pensamentos obscenos porque ela tem
vinte e dois anos, porra. E é minha funcionária.
É. Vinte e dois. Sou um pervertido por simplesmente pensar nela. Um
babaca por usar a ficha de funcionária dela para descobrir isso, em primeiro
lugar. É só que… por que ela teve que propor aquilo? Qualquer coisa que quiser.
Eu quero. Claro que quero. Não sou um santo, pelo amor de Deus.
Seria um mentiroso, além de depravado, se não admitisse que a
inexperiência relativa que acompanha a idade dela dá um tesão gigante. Muita
confiança do caralho em minha capacidade de ser melhor do que qualquer coisa
que ela viveu até agora.
— Canon, o que é aquela regra sobre limites de idade?
— Qual regra?
Guardei no bolso meu chaveiro e passei a mão na nuca, agitado.
— O negócio de até que idade pode ir? É metade da sua idade mais cinco,
certo? Deus, por que estou perguntando a você? — Estralo o pescoço e encaro a
entrada de Hennigan’s.
O olhar que ele me dá me faz arrepender de ter tocado no assunto. Deveria
ter perguntado ao meu primo — aquele desgraçado britânico pretensioso teria a
resposta.
— É metade mais sete, não cinco. E é para encontros, não sexo. Não há
regras para sexo, só ela ser maior de dezoito. Embora dezoito seja bem, bem
questionável e, se você for foder uma adolescente, preciso que pare e avalie sua
vida.
— Certo. Metade mais sete. — Assinto como se não importasse, já me
arrependendo de ter falado nisso com Canon.
— Me diga que estamos falando de uma de vinte e um anos. Me diga que
não tem coragem de transar com uma adolescente.
— Jesus, relaxe. Não tenho. Esqueça, não vamos falar disso. — Assinto em
direção à porta do pub e começo a andar.
— É por isso que escolho Double Diamonds. Vince não contrata a menos
que tenham vinte e um.
— O quê?
— Ótimos benefícios também.
— O quê? — Paro para poder olhar para Canon. — De que porra está
falando?
— As strippers no Double Diamonds. Pacote com benefícios
compreensivos. Plano de saúde, reembolso de matrícula. Sem taxas de estágio.
Sabia que a maioria das boates cobram as dançarinas só para trabalhar? — Ele
cospe essa última parte, seu tom indicando desgosto com o patriarcado da
trabalhadora moderna de boate de strip.
— Como…? — Hesito, enquanto o encaro, sem palavras. — Por que sabe
disso?
— Joguei golfe com Vince na semana passada.
— Ótimo. Que bom ouvir que está fazendo novos amigos.
— Não fique com ciúme. Você estava ocupado. — Canon verifica seu
relógio e olhar para Hennigan’s. — Deus. Espero que sua adolescente não esteja
em um bar.
— Pode calar a porra da boca? Ela não é adolescente. E não é minha.
Não é minha, e não está no bar. Percebo isso assim que passamos pela
porta, como se esperasse que ela estivesse no mesmo assento que estava semana
passada, me esperando. Possivelmente porque sei muito bem, depois de minha
pesquisa em seu arquivo de funcionária, que ela mora no fim da rua.
Só queria confirmar de qual departamento ela era, uma ponta de esperança
que ela simplesmente estivesse no quarto andar para uma reunião e que vê-la não
seria um acontecimento comum. Mas não. Ela é do Recursos Humanos,
designada ao cubículo 4W-28, do lado oeste do quarto andar. Perto demais do
meu escritório para ficar confortável.
Caramba, fui embora por um motivo. Não transei com ela no escritório de
Brady no fim de semana passado, apesar de querer, porque não sou acostumado
a tomar decisões ruins. Então a mandei para casa, para onde ela pertencia. Longe
de um homem como eu, um homem interessado em uma coisa, e quando o brilho
suave de seus olhos se transformou em um olhar arregalado, me disse que ela
estava interessada em algo diferente. Então ela aparece em meu escritório. Quase
duzentas mil pessoas empregadas pelo Vegas Strip, e ela está trabalhando em
meu cassino. Sentada a vinte metros da minha sala.
Caralho.
Não preciso da distração, e ela, com certeza, não precisa de mim. Abrir esse
resort é meu foco. Nada mais, nada mais. Este é meu momento. Esta é a minha
vez de fazer uma contribuição duradoura para a empresa da família. Esse
empreendimento era minha ideia. Fui eu que o levei ao conselho. Fui eu que
organizei o dinheiro para investimento. Fui eu que passei os últimos quatro anos
comendo, vivendo, respirando com o único objetivo de tornar Windsor o ramo
mais lucrativo do negócio da família.
Eu. Além disso, eu fodo. Não levo mulheres para jantar e as acompanho até
em casa até Connecticut a fim de conhecer meus pais.
Focado. Sou um privilegiado filho da puta. Não, isso não está certo. Sou o
privilegiado filho de uma herdeira. Meu bisavô criou uma empresa que garantiu
estabilidade financeira por gerações. Cada geração, desde então, em vez de
descansar, aumentou ainda mais a empresa. Aumentou, melhorou, desenvolveu.
Minha mãe administra a divisão norte-americana da Sutton Corporation por
duas décadas. Ela é poderosa e, com seus cinquenta, não está preparada para
abdicar. Meu primo assumiu como CEO da empresa há dois anos.
Eu poderia ter fodido pelo resto da vida e não importaria. A empresa teria
continuado funcionando sem mim. Não sou uma parte integral, não como minha
mãe, ou meu primo, ou meu tio, que administra os cruzeiros. Meus vinte foram
uma dificuldade para encontrar meu lugar nesse conglomerado. Um lugar que
importaria, um cabeçalho em vez de uma nota de rodapé.
O Windsor é meu cabeçalho, meu legado.
Não deixei passar que minha contribuição duradoura para a humanidade
será a abertura autoindulgente de um hotel luxuoso na Las Vegas Strip, e não
uma caridade ou reforma do plano de saúde ou a abolição da disparidade racial
ou o financiamento da educação pública.
Brady está atrás do balcão, mais observando do que servindo, então, quando
nos vê chegar, ele dá a volta, e nós nos cumprimentamos obrigatoriamente com
um tapa nas costas.
— Dois fins de semana seguidos. Uau. — Brady cruza os braços e se apoia
no balcão. — Você está impressionado com a minha microcervejaria ou voltou
pela garota.
Obrigado, Brady.
— Com certeza não viemos até Henderson pela cerveja — Canon murmura
quando se senta em um banquinho. — Você passa cartão aqui, certo?
Estou prestes a dizer para Canon não encher o saco quando Brady inclina a
cabeça para o outro lado do ambiente. Então ela está aqui. Sou inundado por
uma onda de adrenalina, e algo mais, algo diferente. Há uma sensação de
exultação ao vê-la de novo, um sentimento perdido para um homem que só está
querendo foder. Como se eu fosse um adolescente e esta fosse a primeira vez que
enfio a mão na calça de uma garota, quando não sou e isso não está acontecendo.
Talvez eu só precise esquecê-la. Talvez só provar uma vez, uma foda
rápida. Um bom momento para nós dois e, então, seguiríamos em frente. Na
segunda, voltaríamos aos negócios. Eu me viro no banquinho, olhando o bar
conforme Brady coloca duas bebidas diante de nós. Eu a localizo, atirando
dardos de um alvo de cortiça, seu cabelo escuro espalhado pelas costas, a luz
destacando as luzes em seu cabelo. Ela está de saia jeans, o tecido aconchegado
à curva de sua bunda, e a visão faz meus dedos ansiosos apertarem o vidro em
minha mão. Não ajuda quando ela se ergue na ponta dos dedos do pé para pegar
um dardo que está fora de seu alcance, sua bunda se erguendo muito mais
conforme ela se estica.
Ela é pequena, e me faz sentir vontade de protegê-la de uma forma babaca e
antiquada. Como se ela precisasse que eu a carregasse para não pisar em uma
poça ou que comprasse algo bonito para ela. Ela não precisa de nada disso. Mas
seria fácil de erguê-la, suas pernas envolvidas em meus quadris conforme eu me
enfio nela, minhas mãos segurando sua bunda enquanto eu a balanço para cima e
para baixo em volta de meu pau, suas mãos puxando meu cabelo enquanto ela
implora por mais, mais e mais.
Em minha mente, ela implora. Choramingos. Por favor, Rhys. Mais, Rhys.
Ela se vira, abrindo um sorriso para alguém atrás dela. Seu sorriso é largo,
uma mecha de cabelo caindo em sua face, e seus olhos brilhando com a risada.
Seu rosto está livre de qualquer maquiagem visível, o que só serve para fazê-la
parecer mais jovem e menos interessada em alguma arte da sedução.
Como se seus objetivos fossem muito menos intencionais do que a maioria
das mulheres. Menos ensaiados. Ou talvez ela simplesmente não faz ideia de que
afeta homens, mas não pode ser.
Meus olhos pairam para o que ela está sorrindo. Ou quem. Um homem. Por
que estou surpreso? Como se ela fosse esperar desde — ontem — quando ela me
ofereceu qualquer coisa que eu quisesse com ela? Sério, que porra era aquela?
Bufo e me volto para minha bebida. Depois volto para Lydia. Canon me
observa e revira os olhos.
— Ok, uau.
— Não enche.
Levo o copo aos lábios e dou um gole, com os olhos na minha boa garota
conforme ela lança um dardo. Ela diz algo que faz o homem rir, e me pergunto
se eles vieram juntos. Onde está a loira incentivadora com quem ela estava
semana passada? Presumi, como o babaca arrogante que sou, que ela estaria aqui
com a amiga. Apenas me esperando chegar e repetir a “coisa do beijo”, como ela
chamou. Dou outro gole e analiso o bar até encontrar a loira. Ela está em uma
mesa com dois caras. O que significa que estão em cinco e não é um encontro.
Ou é uma porra de orgia.
— Lydia Clark. Recém-graduada da Universidade do Estado de Louisiana.
Nova contratada do Windsor. Vinte e dois. — Canon me dá uma piscadinha
dramática com esse detalhe antes de continuar. — Teve um cachorro chamado
Scout na infância…
Paro de observar Lydia a fim de interromper Canon.
— Como sabe disso?
— Você me paga pela segurança, lembra? Sei de tudo. — Ele me dá um
olhar sábio, como se fosse um tipo de vidente.
É assustador.
— Além disso, acabei de tirar uma foto dela e passar pelo software que
estamos usando no cassino — ele complementa, o que me faz muito mais
sentido do que ele ser um ser onisciente.
— É, mas como sabe sobre o cachorro dela? Isso não estava no arquivo de
contratação.
— Não, está em um post do Instagram da semana passada — ele diz,
olhando para seu celular. — Hashtag TBT — ele lê em voz alta. — É um post de
Throwback Thursday com uma foto de uma Lydia de dez anos e seu cachorro.
Está vendo?
Ele vira seu celular na minha direção, e eu o arranco de sua mão com mais
agressividade que o necessário, mas ele está me provocando para seu próprio
divertimento. Lá está ela. Lydia criança com um cachorro. Está com uniforme de
Girl Trooper. Jesus Cristo. Jogo o celular de Canon no balcão com desgosto.
— Sabe, quando você tiver quarenta anos, ela terá vinte e oito.
— É, já entendi, sou velho. Ela é jovem.
Eu me pergunto se eles estão mesmo em um encontro para orgia. Talvez
seja isso que as crianças façam agora.
— Não, cuzão. Estou dizendo que, quando você tiver quarenta, metade da
sua idade mais sete é vinte e sete. Quando você tiver quarenta, Lydia terá vinte e
oito.
— Então se eu conseguir não encostar nela por seis anos, não serei
pervertido? Obrigado, ajudou.
— Estou dizendo que tudo vai compensar nos próximos anos, então por que
atrasar a gratificação agora?
— Não sou especialista em moralidade, mas não acho que esteja certo.
Do outro lado do bar, o cara jogando dardo com Lydia está parado atrás
dela e coloca uma mão em sua cintura e a outra na mão que segura o dardo. As
habilidades dela de jogar dardo são boas, então é uma atitude cretina da parte
dele.
Eu me pergunto se ela vai beijá-lo. Eu me pergunto se ela vai lhe propor
mais. Eu me pergunto por que me importo. Eu me pergunto se estou tendo algum
tipo de crise maldita de meia-idade. Desafia toda a lógica. Por que preciso ficar
com essa garota, em particular? O que importa? Não há menos de dez mulheres
no Double Diamonds que iriam para casa comigo esta noite — mulheres que
foram para casa comigo no passado. Mulheres a quem pago para poder expulsá-
las cinco minutos depois de eu gozar.
Mulheres que não olham para mim como se esperassem mais de mim.
Caralho.
— É melhor irmos embora — murmuro, mas ainda estou observando Lydia.
— Vamos — Canon concorda, mas ele não se mexe para se levantar. Ele
nem tira os olhos do jogo que está passando em uma das TVs do bar.
Ela deve me sentir ao seu lado antes de me ver, porque se vira um instante
antes de eu pegar sua mão. Seus olhos se arregalam de surpresa, seus cílios
batendo contra as faces conforme ela pisca com rapidez. Seus lábios se separam,
se juntam de novo enquanto um sorriso se forma. Ela ruboriza, a cor forte em
suas bochechas, e lá está aquele olhar de novo. Expectativa. Deus me ajude, ela
olha para mim com esperança.
O que estou fazendo? Ela precisa inclinar a cabeça para trás a fim de me
olhar porque estou bem perto dela, com sua mão macia envolvida na minha,
maior, mais áspera. Eu aperto, e sua respiração acelera, seus olhos brilhando, um
olhar de pura ansiedade no rosto.
— Rhys? — ela pergunta, e ouvir meu nome em seus lábios faz minha
pulsação acelerar e meu pau endurecer.
Em vez de responder, puxo sua mão e nos guio até o escritório de Brady.
Quando passamos pela porta, já estou nela, uma junção de lábios e língua, e
puxando seu cabelo.
Até a cadeira de Brady arranhar o chão. Lydia se afasta de mim com um
gritinho.
— De novo em meu escritório. Vou sair — Brady murmura conforme passa
por nós, a porta se fechando atrás dele.
Dou risada, e Lydia ruboriza.
— Quem é o cara?
— Quem?
Ela pisca para mim com uma confusão repentina, e fico grata por ela não se
lembrar do homem com quem estava conversando há dois minutos.
— Dardos — lembro a ela, e ela olha para baixo para sua mão, que ainda
está segurando os dardos para sua vez.
Ela abre a mão e os encara, depois se volta para mim.
— Josh? — ela responde, mas diz isso como uma pergunta, como se
possivelmente já tivesse esquecido o nome dele. Boa garota. — Só um cara do
meu condomínio. Nos conhecemos na piscina hoje.
Ela tomou sol hoje, eu percebo, há algumas sardas cobrindo seu nariz e sua
face, e estou irritado com a ideia do idiota do Josh vê-la molhada e coberta por
uma tira de tecido.
— Nós temos piscina no hotel — conto a ela.
— É, e eu tenho uma piscina em meu condomínio — ela responde com uma
risadinha, como se estivéssemos simplesmente comparando, seus olhos
buscando em minha expressão alguma dica do que eu queria.
Não sei, então a beijo. Pego os dardos dela e os jogo na direção da mesa do
Brady.
Eu a beijo de novo, e ela se inclina para mais perto, colocando as mãos em
meu peito. Seu toque é leve, tímido? Mas seus lábios são sedentos. Seus lábios
são flexíveis, macios e doces. Seus beijos parecem uma prévia de como seria o
sexo com ela. Faminto. Íntimo. Explorador.
Levo-nos de costas para o sofá, rezando um agradecimento a Brady por ter
a visão de ter um sofá no escritório. Ela cai em meu peito, seu corpo macio e
leve em cima de mim, mas são seus olhos que me interessam. Eles se arregalam,
como se ela estivesse surpresa por onde se encontra, o que não deveria estar
depois de me fazer a proposta ontem. Mas talvez não seja um comportamento
normal para ela. Talvez haja algo em mim especificamente que a faz fazer coisas
fora do normal.
Vejo que gosto dessa ideia.
O olhar de surpresa dura apenas um segundo, substituído por um sorriso
lento que aumenta e toma seu rosto todo. Se eu pensava que ela era bonita antes,
não é nada comparado a este instante. Sua língua aparece para lamber os lábios
e, então, ela abaixa a cabeça, uma risadinha escapando antes de olhar para cima
de novo. Ela me observa por baixo de seus cílios, e há um brilho de empolgação
em seus olhos agora, suas mãos deslizam para cima de meu peito, seus dedos
abertos para exploração, a ponta deles massageando como um gatinho muito
feliz.
Então ela flexiona o quadril. Deus me ajude, ela flexiona o quadril. Um
movimento minúsculo de rebolado empurra a pélvis dela contra minha coxa,
buscando fricção, buscando mais. Deslizo a mão até seu quadril para segurar sua
bunda e ela faz de novo. Mais forte dessa vez, mais deliberado, mas não acho
que ela tenha consciência de que está fazendo tudo isso. Suas mãos estão
ocupadas sentindo meu corpo através do tecido da minha camiseta e seus olhos
estão ocupados analisando os lugares que ela segue com um beijo. Meu pescoço.
Minha sobrancelha direita. Meu lóbulo esquerdo. Ela para ali, puxando minha
pele entre seus dentes com um puxão delicado, depois segue com a língua.
Outra flexão de seu quadril. Coloco a mão na dela e a deslizo para baixo até
passar a bainha da minha camiseta e a deslizo por debaixo, colocando-a em
minha barriga. Seus olhos se movem para os meus, de novo com aquele breve
olhar de surpresa seguido de um arregalado e o sorriso entusiasmado, sua marca
registrada.
Ela se ergue do meu peito o suficiente para erguer minha camiseta até a
metade do meu peito e, no mesmo movimento, ela abre as pernas. Abre para
ficar montada em minha coxa direita. O movimento faz sua saia subir em volta
do quadril, então a única coisa separando-a da minha perna é sua calcinha.
Algodão. Consigo sentir sob minha mão. Trilho a ponta de meu dedo pela
costura em volta de sua coxa e na beirada de sua calcinha, e ela se arrepia,
depois sorri, mordendo o lábio em um sorrisinho. Isso faz a pele de seu nariz se
enrugar, as sardas do sol da tarde se acumularem adoravelmente.
Outra flexão do quadril. Posso sentir o calor de sua boceta através de minha
calça, e é surreal pra caralho. É surreal porque ainda estou de calça. Que porra
está acontecendo? Nós estamos… roçando? Esta mulher adulta — jovem demais
para mim, sim, mas adulta ao mesmo tempo — está se esfregando na minha
perna?
Seus lábios se partem arfando, seu cabelo é um monte de mechas caídas em
volta de seu rosto. Algumas delas, grudadas em seus lábios, então estico o braço
e as tiro, colocando-as atrás de sua orelha. Meus dedos se demoram, traçando a
concha de sua orelha, descendo pela lateral de seu pescoço, por sua clavícula.
Ela sorri e se esfrega em minha perna, ambas as mãos espalmadas em meu peito
nu para se equilibrar.
Acho que não roço assim desde que tirei minha carta de motorista, então
faz… um tempo.
E, ainda assim, estou duro. Dolorosamente duro observando-a balançar para
trás e para a frente na minha perna. Chocado por meu pau ainda estar em minha
calça, mas duro.
Baixo as mãos até as coxas dela, nuas com sua saia acumulada em sua
cintura. Sua pele é macia e lisa sob minhas mãos e tocá-la é melhor do que
deveria. Melhor do que qualquer coisa que senti em um bom tempo.
Seus olhos se lançam para onde minhas mãos estão acariciando sua pele.
Ela deve gostar do que vê, porque lambe os lábios, e quando seus olhos
encontram os meus de novo, eles estão ardentes. Com expectativa e arregalados
e no tom mais lindo de verde, o tipo de verde geralmente associado a uma
floresta ou um festival irlandês. O tom de verde reservado a homens que se
importam com tal detalhe. Eles flertam, são questionadores e docemente
interessados no que ela está olhando — que sou eu.
Quero dizer para ela não se importar. Que ela não gostaria do que
encontrasse se passasse mais tempo comigo. Que não valho a pena qualquer
fantasia de mim que ela esteja pensando. Quero lhe dizer isso.
Eu quero.
Eu deveria.
Eu vou.
Mas também quero ver se ela consegue gozar simplesmente roçando para a
frente e para trás em minha perna, ou se precisa de uma ajudinha.
Quero deslizar minha mão para dentro de sua calcinha de algodão e ver o
quanto ela está molhada. Quero saber o quanto seu clitóris está rígido. O quanto
está com tesão e molhado. Quero saber se ela gosta de pequenos círculos
provocantes feitos pela ponta do dedo ou a firme pressão de um polegar no
momento certo.
E, Deus me ajude, não quero que ela pare de me olhar assim.
Ela sorri e aquela língua cor-de-rosa perfeita sai para outra lambida em seu
lábio inferior. Então ela se apoia nos cotovelos o suficiente para me beijar. Eu
deixo. Mantenho as mãos em suas coxas enquanto ela roça contra mim de novo e
enquanto me dá beijos delicados nos lábios. Quando ela tira a mão de debaixo da
minha camiseta para passar na minha ereção, eu deixo.
Eu deixo, quando o que quero fazer é assumir o controle. O que quero é
abrir minha calça, me massagear, colocar sua calcinha para o lado e me enfiar
dentro de sua boceta quente, molhada e apertada. Mas, se eu assumir o comando,
não posso observá-la me usar para gozar. E essa merda é sexy pra caralho. Mais
sexy do que é razoável para alguém da minha idade. Ou da idade dela, que seja.
Ainda assim, ela está fazendo isso comigo nesta sessão para maiores, então, se
ela quer brincar comigo depois da escola, estou dentro. Além do mais, estou bem
curioso para ver até onde isso vai.
Não foi a melhor semana de todas. Também não valeu a pena, foi só ok. Eu
estava ansiosa em trombar com Rhys. Assustada por isso, aterrorizada, diria.
Ficava com frio na barriga sempre que pensava que poderia encontrá-lo.
Constantemente olhando em volta para ver se o via, como uma adolescente
apaixonada obcecada esperando ter um vislumbre do rei da escola voltando para
a sala nos corredores, entre as aulas. Idiota. Era tortura. Agonia.
Patética. Eu o vi quatro vezes. Ele me ignorou todas as quatro. Bom, para
ser justa, ele só me viu duas vezes. Não acho que tenha me notado as outras duas
vezes. Como eu disse, patética. Eu deveria desistir. Como se aquele homem
estivesse pensando duas vezes sobre mim durante o que deveria ser o melhor
período de sua carreira — abrir o resort. Como se ele tivesse pensado duas vezes
em mim em uma terça aleatória.
Então faço meu trabalho. Conduzo orientação após orientação após
orientação. Respondo questões infinitas sobre seguros de vida e pacotes de
benefício e o número correto de desconto para um funcionário ali. Dou umas
olhadas para Rhys toda vez que tenho chance e arquivo tudo que descubro sobre
ele. Ele fica bem com gravatas listradas. E lisas. Bebe o expresso da máquina de
café chique na sala de descanso. E me deixa molhada e necessitada só de estar a
metros dele. Acho que essa última não foi realmente uma revelação.
Fora do trabalho, eu conheço umas doze lojas Goodwill e seus estoques
sempre rotativos de velhos lençóis. Payton me surpreende ao chegar em casa
uma noite com uma mala Jo-Ann Fabrics cheia de feltro, lantejoulas, botões e
canetas de glitter. Ela está levando a criação de distintivos com mais paixão do
que eu pensara ser possível, e com uma habilidade invejável. E é por isso que
acabo em um app de encontros conversando com caras com quem realmente não
quero conversar. Mas Rhys também não quer conversar comigo, então talvez eu
também ganhe o distintivos de app de encontros, certo? É um distintivo muito
legal também. Payton se empolgou com a caneta de glitter e alguns botões, e
tudo que precisei fazer para ganhá-lo era instalar o app no celular e abrir as
mensagens.
O que eu fiz, e pesquisas dizem que nunca vou perder minha virgindade.
Sinceramente, pensei que virgens tivessem uma demanda mais alta do que esta.
Se eu soubesse que seria tão difícil me livrar disso, teria simplesmente dado para
Mark Novak depois da festa de formatura, porque estou começando a me sentir
uma caixa de leite perto do vencimento. Aquela que as pessoas vasculham para
encontrar uma embalagem melhor, ou simplesmente deixam na prateleira em
favor dos leites mais chiques e vigaristas, de amêndoas.
O lado bom é que se um dia eu decidir me tornar uma stripper, meu nome
de stripper será Amêndoa. É bom ter outros planos, e strippers nunca usam o
nome verdadeiro, então acho que esta revelação era uma que valia a pena ter. E
eu poderia usar Amy, como apelido, quando precisar de algo um pouco mais
brincalhão. Amêndoa para os clientes sérios com problemas de
comprometimento.
Será que Rhys sabe o que é um app de encontros? Decido que
provavelmente não. Ele não parece um cara que precisaria deslizar para a
esquerda, para a direita, para cima ou para baixo para conseguir um encontro. O
que torna o fato de eu ter me oferecido para ele em uma bandeja de prata mais
frustrante ainda. Ou talvez devesse torná-lo menos frustrante? Deveria torná-lo
menos, eu acho. Se ele estivesse desesperado para transar e ainda não quisesse
transar comigo seria bem pior do que ele ter infinitas opções e não querer transar
comigo. De alguma forma, isso não me faz sentir melhor.
Faço meu melhor para testar a teoria de que estou erroneamente apaixonada
por Rhys e poderia querer outra pessoa tão fácil quanto ele. Nunca acontecera,
mas talvez se eu tentasse bastante… Então eu tento. Mantenho a mente aberta
naquele app de encontros. Abro as mensagens que me mandam. Leio. Penso em
responder. Quando Josh — lembro de seu nome agora — quando Josh pergunta
se pode me levar para jantar, eu não digo não. Não digo sim também. Fujo do
convite com um “talvez no próximo fim de semana”, porque não sei, talvez?
Talvez eu saia desse feitiço que me tomou. Talvez meu coração pare de bater
mais rápido quando Rhys está por perto. Talvez eu pare de criar cenários
imaginários em que Rhys e eu estamos sozinhos no elevador. Talvez, talvez,
talvez.
Talvez não. Eu quero Rhys. E ele deve me querer pelo menos um pouco.
Ele me fez gozar, afinal. Não consigo imaginar que homens façam mulheres
gozarem se não estiverem pelo menos um pouco interessados. Além disso, uma
das vezes em que ele me viu, seu olhar se demorou em meus lábios. Eu acho.
Não consigo exatamente passar credibilidade quando o assunto é Rhys, então
não tenho certeza, mas quase certeza de que aconteceu.
— Preciso de um distintivo Rhys — declaro quando coloco meu almoço na
mesa e me sento ao lado de Payton na lanchonete dos funcionários. Faz duas
semanas desde que ele me expulsou do colo e me deixou de palavras de
despedida que não iria acontecer. Ainda acho que vai.
— Tem certeza de que é disso que precisa? — Payton responde, brincando
com um embrulho de canudo e evitando meus olhos.
— Bom, eu preciso de um plano, e reforços positivos sempre fizeram
maravilhas para me motivar. Por que acha que eu vendia tantos cookies?
— Porque você é toda certinha?
— É — concordo, apontando para ela com meu garfo —, isso é verdade.
Mas acho o sistema de recompensa por distintivo muito gratificante e tenho
certeza de que quando você fizer um distintivo Rhys, vou pensar em um plano.
— Sorrio e enfim um monte de purê de batata na boca.
Hoje é o dia do lixo. Foram duas semanas malucas. Tivemos uma prévia de
inauguração esta semana, isso significa que as portas se abriram e os primeiros
hóspedes fizeram o check-in, mas a maioria é jornalista e executivos da indústria
de viagens com quartos oferecidos pelo hotel. É permitido que os funcionários
comecem antes da inauguração oficial em duas semanas. Já reservamos mais de
noventa por cento da capacidade para essa semana, então eles não têm muito
tempo para se acostumar com a rotina e planejar algo.
— Preciso te contar uma coisa — Payton diz, e acaba que eu também
preciso planejar umas coisas.
— Então ele gosta de pagar por isso? É com isso que estou lidando aqui?
Senhor, ele não está facilitando mesmo para mim. Sei que dizem que nada
que vale a pena vem com facilidade, mas isso é pedir demais de uma virgem.
Ainda assim… estou estranhamente atraída pela ideia. Mas isso é fodido? Estar
excitada pela ideia de ele me pagar por isso?
Provável.
Mas eu estou. Imaginar Rhys me pegando me aquece, me faz escorrer em
lugares que eu não deveria. A ideia de que eu poderia controlar a experiência. O
quando e onde. A ideia de me entregar a Rhys, deixá-lo abrir minhas pernas e me
foder, sem sequer me levar para jantar primeiro... me excita.
Está tudo tão para trás. De cabeça para baixo, e confuso, e errado. Mas
elimina a dúvida, não é? Se ele me escolher, se ele pagar por mim, significa que
ele me quer. E isso é emocionante, libertador e de formas que eu não teria
pensado. Eu não vou ter que questionar se ele está interessado. Se eu sou do faço
o tipo dele, se está sexualmente atraído por mim. Se meus peitos são muito
pequenos ou minha inexperiência também é decepcionante.
Talvez minha luxúria esteja me deixando delirante, mas faz sentido para
mim. É tão estranhamente claro assim. Parece certo para mim, isso me excita, e
isso é tudo que realmente importa, não é?
— Ele adora pagar por isso. Supostamente. De acordo com minha fonte —
Payton diz, baixando a voz em um sussurro de conspiração, embora
estivéssemos sozinhas.
— Sua fonte é um porteiro que usa sua chave para que as mulheres possam
acessar o elevador do piso executivo.
— Eu confirmei a história com minha nova amiga na limpeza! — Payton
para de falar com calma, claramente ofendida por minha avaliação de sua
informação. — Não te contei essa história sem confirmar. Isso não é Watergate.
— Não. — Balanço a cabeça. — Concordo, isso não é nada como
Watergate. Nem um pouquinho.
Payton assente presunçosamente enquanto dá uma mordida em seu almoço
e eu penso.
Passo o resto do almoço perdida em pensamentos — o resto do dia, se for
para ser sincera. Depois crio um plano. Um plano totalmente maluco.
— Você tem certeza absoluta de que quer fazer isso? — Payton pergunta
possivelmente pela terceira vez desde ontem à noite. — Ou de que essa sua ideia
é ao menos factível? Talvez você pudesse tentar propor de novo a ele primeiro?
Parece que seria muito mais fácil. E mais sensato. Sinto que podemos ter nos
empolgado um pouco com esse seu plano.
— É provável. Mas sou uma pessoa bem orientada por objetivos e quero
perder minha virgindade neste século. De preferência com Rhys.
Definitivamente, há química entre nós, e ele claramente é do tipo sem vergonha,
então ou ele me rejeitou porque tem algum tipo de fetiche para pagar por isso ou
alguma mania que ainda não descobri. Ou ele pensa muito que sou uma boa
garota para se interessar no que é interessado. — Spoiler, Rhys, não sou tão boa.
Além disso, li um romance uma vez sobre um leilão de virgens, e eles
acabaram felizes para sempre. Mas guardo isso para mim porque é muita
maluquice falar isso em voz alta, até para Payton.
Payton tira seu Del Taco do suporte para copos em meu carro e dá um gole.
O café gelado deles é uma afirmação da vida, o valor é apenas um dólar e tem
menos de cento e cinquenta calorias, então posso tomar um sem culpa de
engordar ou de ficar pobre. Além disso, nós merecemos a cafeína nesta manhã
porque estamos a caminho do Double Diamonds, que dizem ser uma boate de
escolha frequente para Rhys.
— Tem certeza de que esse lugar abre antes do meio-dia em um sábado? —
pergunto de novo, afinal por que uma boate de strip abriria antes do almoço?
Não estou em posição de julgar as escolhas de vida de alguém, mas estou
com dificuldade em visualizar um cenário em que alguém precisasse de uma
dança no colo antes do meio-dia. E é precisamente por isso que estamos indo tão
cedo, assim não vamos encontrar Rhys sem querer antes de eu estar pronta.
— Vinte e quatro horas. Verifiquei o site deles.
— Eles têm site?
— Quem não tem site?
Humm.
— Acha que eu deveria ter me inscrito on-line?
Payton se engasga com o café gelado, depois o coloca de volta no suporte
de copo.
— Não, não acho que deveria ter se inscrito on-line para ser uma prostituta.
Acho que esse é o tipo de inscrição que se faz ao vivo.
— Ok.
— Além do mais, o site deles é só para as dançarinas. Acho que as
prostitutas são todas meio às escondidas.
— Parece certo.
— Totalmente.
— Mas sabe o que não entendo?
— O quê?
— Ele não consegue encontrar mulheres para transar com ele de graça?
Claramente eu transaria. Olhe para ele.
— Bom, sabe o que dizem.
— O que dizem?
— Homens assim não estão pagando pelo sexo. Estão pagando para ela ir
embora logo depois.
Uau. Isso é bem triste.
— Você sabe que ele vai querer anal, certo? — Payton complementa.
— Presumi isso — respondo, dando de ombros.
— Não se preocupe — Payton diz tranquilamente. — Vou fazer um
distintivo de “bunda” para você.
— Você é uma boa amiga.
— Sou mesmo — Payton concorda, chacoalhando o gelo em sua bebida.
Quando chegamos ao Double Diamonds e entramos, não é o que eu
esperava, nem um pouco. É tão constrangedor quanto eu esperava duas mulheres
entrando em uma boate de strip antes do meio-dia. Perguntaram imediatamente
se gostaríamos de nos inscrever.
— Gostaria de falar com o proprietário — respondo, dando meu melhor
para soar confiante.
— Eu também — Payton adiciona, e eu a olho de canto de olho porque não
sei se ela vai me apoiar ou se realmente quer se inscrever.
É meu dia de sorte, porque o proprietário, Vince, está aqui. E está disposto a
nos conceder quinze minutos.
Conforme andamos pela boate até o escritório de Vince, observo meus
arredores. Esperava que fosse escuro, com um palco elevado no meio do
ambiente delineado com luzes neon. Há um palco, claro. Há três deles, menores
do que eu imaginava. As cadeiras são muito mais próximas aos palcos do que eu
imaginava também. Em geral, o lugar parece mais um barzinho do que uma casa
de má reputação. Se barzinhos tivessem poles, obviamente. Tem uma loira
bonita dançando para um homem sentado sozinho. Ele está bebendo café, seus
olhos não saem de seu corpo conforme nós passamos. Penso no que o trouxe a
uma boate de strip antes do almoço, mas, já que estou aqui por meus próprios
motivos nefastos, não estou em posição de julgar.
Assim que nos sentamos no escritório de Vince, Payton quebra o gelo com
seu bate-papo característico enquanto meu coração acelera um milhão de
quilômetros por hora. Eu me concentro no ambiente e respiro fundo enquanto
reúno a coragem de pedir o que quero pedir. O escritório tem um clima
estranhamente reconfortante. Seguro. Não precisa e nem tem luz neon, já que
feixes de luz natural entram pelas janelas enormes, decorando a parede inteira. A
decoração do escritório é de corporação indefinida. Eu pensaria que tinha
acabado de entrar em um escritório de advocacia, se escritórios de advocacia
tivessem lobbies com poles.
— Então, você tem múltiplas namoradas? — Payton já entra em seu próprio
assunto depois que uma mulher, que deve ter seus sessenta anos, nos oferece
café.
Fugazmente, eu me pergunto se eles anunciaram aquele cargo em um
quadro de empregos ou se a promoveram lá dentro.
— Como disse? — Vince responde, com as sobrancelhas erguidas em
dúvida, claramente confuso se tinha ouvido errado ou simplesmente avaliado
mal a audácia da qual Payton era capaz.
— Sabe, como Hugh Hefner tinha?
— Eu administro uma boate para cavalheiros em Vegas, não uma revista de
estilo de vida.
— É a mesma coisa. Enfim, você tem? Porque Rhys vai se apaixonar por
Lydia e eles vão morar juntos e blá blá blá. Eu vou ter uma nova colega de
quarto e não sei se estou a fim de analisar alguém no momento. Então estaria
aberta a ser a namorada número três. Não quero ser a namorada um ou dois,
parece ser muita responsabilidade, sabe? Também gostaria do meu próprio
quarto. É assim que você faz? As namoradas têm seus próprios quartos? Era
assim que Hef fazia. Você tem uma casa legal? Porque não vou te compartilhar
se morar em um apartamento de merda com uma lavanderia operada por moeda.
— Está falando sério?
Vince estreita os olhos para ela, como se não conseguisse saber se Payton
está de fato falando sério ou simplesmente zoando com ele, e Vince não parece
um homem acostumado a ser zoado. Acho que a maioria das pessoas têm essa
reação com ela, então estou acostumada. Para ficar registrado, ela raramente está
brincando quando diz algo ridículo.
— Mais sério do que tubarão — ela responde sem piscar.
— Isso nem existe. — Vince leva a xícara de café aos lábios, olhando-a por
cima da xícara. — O ditado é “mais sério do que defunto”.
— Tipo, tubarão não é sério? — Ela se inclina para a frente com os olhos
semicerrados. — Tente nadar com um tubarão e me conte o quanto eles não são
sérios.
— Você sabe que ele dormia com todas elas, certo?
— Dã — Payton responde, totalmente confusa com os acordos de dormir
juntos de um homem e suas múltiplas namoradas.
— Você é uma figura, não é? — Vince pergunta, ainda olhando para ela
como se não soubesse o que pensar dela.
— Sou muitas coisas. É verdade.
Payton sorri como se ele tivesse acabado de elogiá-la. Sinceramente, não
sei quais são os sentimentos dele, porque sua expressão não está passando muita
coisa. Mas, se tivesse que adivinhar, ele não vai convidar Payton para ser sua
namorada número um, dois ou três em breve.
— Vince — digo, endireitando os ombros e interrompendo antes que
Payton nos faça ser expulsas. Respiro fundo. Eu consigo fazer isso. Eu consigo,
eu consigo, eu consigo. — Tenho uma proposta para você.
Ele tira os olhos de Payton e me encara com força total, e eu tenho uma
preocupação breve sobre com quem exatamente estou lidando. Ele poderia ser
mafioso, não poderia?
É dono de uma boate de strip — uma boate de cavalheiros, que seja — no
coração de Las Vegas. Pode ter conexões com o crime organizado. Ou agiotas ou
assassinos. Não conheço este homem ou no que ele está envolvido. Duvido que
ele lidere um grupo jovem de igreja aos fins de semana, presumo até isso. E
tenho certeza de que não é alguém com quem se pode brincar. Não que eu esteja
brincando com ele, não estou. Estou falando sério. Mas não significa que não
esteja me excedendo.
— Estou ouvindo, srta. Clark — ele diz, com os olhos desviando para seu
monitor de mesa e de volta aos meus. — Você tem mais nove minutos. Se quiser
algo, é melhor começar. Rápido.
Então eu vomito meu pedido, porque não tenho nada a perder. Porque não
sou uma desistente. Porque tenho um plano.
Há um momento de silêncio quando termino. Um longo momento. Vince
me encara, quieto, seus dedos batucando em seu computador. Payton dá um gole
em seu café gelado, mas não há mais nada no copo, então o cômodo se enche
com aquele barulho de sugar o vazio que ocorre ao se criar um túnel de vento em
um recipiente vazio. Ela chacoalha o gelo, como se isso fosse criar mais uma ou
duas gotas a mais, e bebe de novo.
— Estão falando a real? — Vince para de me encarar para se dirigir a
Payton.
— Bem real. Assim como meus peitos.
Os olhos dele baixam lentamente para o peito dela, depois ele balança a
cabeça e se volta para mim.
— Aqui não é um bordel — ele diz, e tenho medo de que ele esteja prestes
a me expulsar do escritório, meu tempo já era. — Prostituição não é legal em
Clark County.
— Claro que não. Double Diamonds é um negócio, não é, senhor…?
— Vince — ele responde, impassível.
— Certo. Sr. Vince, você é um homem de negócios, não é? Então vamos
fazer um acordo. Eu farei seu tempo valer a pena, juro.
— Palavra de escoteira — Payton complementa e, quando me viro para
olhar para ela, dá uma piscadinha para ele, uma piscada bem dramática, com
uma inclinação de cabeça e um pequeno “tsc” que ela faz com a língua. — Do
tipo Urban Dictionary, grandão.
Eu nem quero saber o que isso significa, então lhe lanço um olhar para
fazê-la calar a boca e me volto para Vince.
Ele se recosta na cadeira, passando dois dedos pelos lábios enquanto nos
observa com um interesse recém-descoberto.
— Então você trabalha no Windsor. Vocês duas?
Assinto, sentindo como se estivesse quase fazendo-o mudar de ideia.
— Vamos falar de detalhes.
— Vai apresentar sua namorada aos seus pais quando eles vierem para a
grande inauguração? — Canon pergunta ao entrar em minha suíte como se
tivesse todo o tempo do mundo para socializar.
Ele se joga em uma cadeira do outro lado da poltrona em que estou sentado
e ergue as sobrancelhas como se esperasse uma resposta de verdade.
— Não enche, Canon.
— O fato de você nem questionar a quem estou me referindo é triste.
— Estou ocupado, Canon — digo a ele, assentindo para meu laptop. — Não
tenho tempo ou interesse em comentar a merda que sai da sua boca em um dia
bom, que dirá hoje. E se você pudesse parar de usar a chave-mestra para entrar
em meu apartamento de residência, eu ficaria agradecido.
— Por que você simplesmente não cresce e a chama para sair? — ele
pergunta, ignorando meu comentário em relação ao seu uso frequente da minha
porta da frente.
— Espere. — Desisto dos relatórios diante de mim e dou toda atenção a
Canon. — Está me dando conselhos para as escolhas da minha vida agora? Você
fez um ménage com duas strippers ontem à noite.
— É, e a culpa disso é de quem? Uma delas era para você, mas você disse
que estava ocupado demais para transar. O que eu deveria fazer com ela?
Mandá-la para casa sem transar?
— Fazer o que com quem? — Lawson entra em minha suíte como se ele
tivesse bastante tempo também.
— O que é isso? Vamos dar uma festa? Vocês não têm nada para fazer?
Nossa grande inauguração é em — verifico meu relógio — duas semanas.
— Não tenho merda nenhuma para fazer. — Lawson passa uma mão no
cabelo, deixando-o bagunçado. — Vai demorar no mínimo duas semanas e um
dia para o primeiro processo frívolo chegar. Além disso, é sábado, otário — ele
complementa com um sorriso. — Viva um pouco.
Estou prestes a falar para ele que vou viver assim que passar a inauguração
e para dar o fora do meu apartamento, mas ele já está me ignorando, jogando-se
na cadeira ao lado de Canon.
— Eu estou bem também — Canon diz. — Mas obrigado. — Ele vira o
celular na direção de Lawson. — Girafas ou elefantes?
— Girafas. — Lawson se alonga como se estivesse ficando confortável para
ficar um tempo ali, suas pernas esticadas, totalmente tranquilo, e pega o controle
da minha mesa de centro.
— Concordo. Quer entrar comigo em um carrinho? Merda, essas coisas são
caras — Canon murmura enquanto mexe na tela de seu celular.
— Claro. Mas compre um carrinho Bugaboo, não vou entrar em um
carrinho simples.
— O que estão fazendo?
Paro de trabalhar — de novo — para prestar mais atenção em Canon e
Lawson, meus olhos semicerrando quando me lembro até onde Canon pode ir
para se divertir.
— Fazendo um cadastro de bebê para você e Lydia.
— Saiam daqui. Vocês dois.
— Você parece um pouco estressado, cara. Talvez, se tivesse aceitado a
proposta de Peaches ontem à noite, conseguisse se concentrar melhor.
Esfrego a testa com a mão, depois respondo.
— Já passou pela sua cabeça que o nome dela não é Peaches?
— Jesus Cristo, Rhys. O nome dela é Claire. Eu estava tomando liberdades
cômicas, se liga.
Claire. Meghan. Sara. Christine. Staci. Susan. Amy. Penny. Jessica. Etc.
Tem alguma mulher do Double Diamonds que não fodi? Lembrar o nome
delas quando as vir de novo em vez de chamá-las de “docinho” me torna menos
babaca? Estou começando a desconfiar que não. E apenas semanas atrás eu teria
dado risada de toda essa conversa. Semanas atrás eu teria fodido Peaches, dado
uma boa gorjeta e não me importado com isso.
Porque semanas atrás eu não tinha beijado uma garota em um bar. Uma
garota que olha para mim com seus olhos grandes e inocentes e o rosto cheio de
esperança. Uma garota que pensa que eu ligaria, lembraria de seu aniversário e
do sabor de sorvete favorito dela, ou que ela prefere chocolate ao leite em vez de
amargo. Coisas que eu não lembraria, coisas que nunca lembro. Uma garota que
não faz ideia do quanto sou pervertido, ou quantas mulheres vieram antes dela.
Quantos relacionamentos eu estraguei, quantas mulheres eu paguei para me fazer
sentir bem quando não estava a fim de namorar uma mulher — ou até de levá-la
para jantar — por tempo suficiente para chegar à troca de orgasmos.
Abro um novo relatório no laptop e tento me concentrar.
— Vocês alguma hora se preocupam de tudo que fazemos ser trabalhar e
foder? — pergunto em voz alta, sem saber realmente a quem estou me dirigindo
ou se espero uma resposta.
Eles estão comigo desde o início desta jornada. Estavam entre as primeiras
pessoas que chamei para trabalhar depois de encontrar esta propriedade quatro
anos atrás, um resort pela metade que tinha sido abandonado quando acabou o
dinheiro do grupo de investimento anterior no meio da construção.
Administramos as fases iniciais do projeto remotamente, voando para Vegas
conforme a necessidade. Apenas menos de um ano atrás nos mudamos
oficialmente para Vegas, mudando-se para nossas suítes executivas no trigésimo
quarto andar como um lembrete de que o hotel ainda estava passando por obra.
Vivemos como solteirões pervertidos em um bordel desde então.
— Não, na verdade — Canon responde, tocando seu celular. — Você vai
com a gente na boate esta noite?
— Vou, talvez — digo mais para ele parar de perguntar.
Talvez eu vá, não sei. Não consigo pensar direito. A inauguração está muito
próxima. Muito próxima mesmo. Anos de trabalho prestes a se materializar, e
precisam ser perfeitos. Se essa aventura falhar, será colossal para a empresa.
Para a empresa da minha família. Está mexendo com a minha cabeça. Este hotel,
este resort, é meu momento. Meu. Meu primo Jennings já assumiu o cargo de
CEO da empresa da família. Minha mãe é líder da divisão norte-americana da
empresa desde que eu estava na escola, sem sinais de renunciar.
Verdade seja dita, eu não queria nenhum desses cargos. Nunca quis. Queria
algo meu. Algo virgem e inexplorado que eu pudesse construir desde o começo.
Ou desde a metade, como era o caso. Algo novo, que somaria ao legado da
empresa, um projeto que faria crescer o império da família em vez de
simplesmente contribuir com ele.
— Vince vai fazer alguma coisa hoje na sala dos fundos — Canon
persuade.
A maldita sala dos fundos. Oficialmente, é o equivalente à sala de elite.
Danças caras.
Não oficialmente, você não está pagando pela dança. Está pagando pelos
extras. Masturbação, boquetes, sexo. Está pagando para levar a festa a outro
lugar. Uma hora, uma noite, um fim de semana. Não oficialmente, claro.
Quantas vezes estive na sala dos fundos? Pedindo algo mais do que uma
dança? Escolhendo a partir de uma seleção de mulheres dispostas como se
estivesse selecionando uma refeição valiosa no drive-thru de um fast-food?
Não sou bom o suficiente para ela. Eu a arruinaria. Partiria seu coração,
esmagaria aquele otimismo nos olhos arregalados que irradiava dela, do topo de
sua cabeça até a ponta dos dedos de seus pés. Eu a foderia como uma prostituta e
esqueceria de ligar, porque é isso que faço. Esse sou eu.
Ela pensa que sou um homem bom. Posso ver em sua expressão quando ela
acha que não estou olhando. Posso ver em sua expressão quando ela sabe que
estou olhando. Quando ela roçou sua boceta quentinha contra minha coxa.
Quando ela mordeu o lábio e abriu as mãos em meu peito. Quando ela me
observa fazer um expresso na máquina de café industrial. Acho que ela quase
gozou na semana passada quando coloquei minha própria xícara de café na
máquina de lavar louça da sala de descanso.
Fácil demais. Fácil demais de impressionar, fácil demais de arruinar.
Otimista demais, quando o que gosto é do olhar satisfeito na expressão de uma
mulher depois de tê-la feito gozar, depois ver sua bunda saindo pela porta com
um monte de dinheiro enfiado na bolsa que me garante que ela entende o que foi
aquilo. Que não houve falta de comunicação sobre meu interesse nela além de
gozar.
Além do mais, mesmo se eu quisesse algo diferente, não tenho o tempo.
Duas semanas até a inauguração. Duas. Semanas. Minha família inteira virá para
a grande inauguração. Meus pais. Meu primo Jennings e sua nova noiva. Minha
avó. Minhas tias e tios e uma penca de primos.
Quero que eles sintam orgulho do que minha equipe e eu fizemos aqui em
Vegas e não, não passa despercebido por mim que, pessoalmente, eles não têm
por que sentir orgulho de mim.
— Como sabe o que Vince planejou para esta noite? Jogou golfe com ele de
novo hoje?
— Não. Recebi um e-mail.
— Você está na lista de correspondência do Double Diamonds? — pergunto
devagar, sem saber se é verdade. — Por que eles precisam enviar e-mails? Para
avisar os clientes quando eles estão com baixa em solteiros?
— Todo mundo tem newsletter, Rhys. Não seja otário. Além do mais, isso é
só para clientes da sala dos fundos, não para todo mundo.
— Para nos avisar do quê? Danças pela metade do preço?
— Leilões.
— É a mesma coisa.
— Não é um leilão para danças pela metade do preço, Rhys. É um leilão de
virgem.
— Jesus Cristo, Canon. — Balanço a cabeça.
— Não brinca, sério? — Lawson tira o olho do jogo com interesse e
começa a mexer em seu celular. — Eu não recebi esse e-mail — ele murmura.
— Provavelmente foi para spam — Canon diz a ele como se fosse uma
conversa normal. — Veja seu lixo. Então você vai?
Canon me olha com expectativa, não perturbado pelo conceito, e não posso
culpá-lo. Não posso dizer que a ideia não me deixa com um pouco de tesão.
— Eu disse a Brady que iria passar lá esta noite. Preciso confirmar uns
números com ele sobre aquela ideia de tivemos de abrir um local à parte do
Hennigan’s dentro do Windsor.
— Lydia não estará no Brady esta noite — Canon me diz.
— Como sabe disso?
Se ele estiver fazendo umas de suas perseguições assustadoras com ela, vou
ficar bravo. Às vezes, ele hackeia pessoas só porque pode, ou porque está
entediado. Ou curioso. Ou simplesmente porque é quarta-feira. Canon, com
tempo nas mãos, não é bom para ninguém.
— Porque ela estará no Double Diamonds — ele diz, entregando o celular
para mim.
Suas palavras me atingem em câmera lenta. Logicamente, sei que estou
processando o que ele está dizendo com um piscar de olhos, mas, sem lógica,
parece que demoro alguns minutos para chegar lá.
Lydia. Inscrita para o leilão. Na sala dos fundos do Double Diamonds. Um
leilão de virgem. Uma maldita virgem? O que eu disse para ela no bar? Que tipo
de safadeza sussurrei em seu ouvido? Perguntei a ela como gostava de foder,
pelo amor de Deus. Disse a ela que queria que ela sufocasse com meu pau. Falei
com ela como se fosse uma prostituta experiente, não uma virgem inocente.
Ela me respondeu? Ou só sorriu e baixou a cabeça? Mordeu o lábio e
sugeriu que fôssemos para seu apartamento? Pensava nela como uma
provocação doce, muito provável de querer mais de mim. Como jantar ou transar
de novo. Ou pior, meu tempo.
Pensei em por que ainda estava de calça e por que ela estava roçando na
minha perna como se fosse caloura no ensino médio. Mas uma virgem? Uma
virgem de vinte e dois anos, pelo amor. Esse pensamento nunca passou por
minha cabeça.
Por que ela ia fazer isso? Se vender? Ela tem um emprego e um lugar para
morar, então qual seria a porra do objetivo dela? Dinheiro? É tudo sobre dinheiro
para ela? O que eu era? Uma diversão? Uma experiência? Um potencial?
Pensei que ela fosse diferente. Real. Real demais para mim era minha
preocupação, não era? Quando, no fim, ela era exatamente meu tipo — estava à
venda. Pensar nisso me deixa inquieto, preocupado com o que mais me enganei
à minha volta. Meus dedos se apertam em punho, imaginando-a sair daquele
leilão com um imbecil qualquer que pode pagar por ela. Alguém que vai
sussurrar safadeza no ouvido dela e fodê-la como uma prostituta. Alguém como
eu.
— Quanto? — pergunto a Canon com a mandíbula tensa.
Sei que sou fodido, porque um bom homem não teria os pensamentos que
estou tendo agora.
— É um leilão, não é para comprar agora — ele responde. — A oferta
começa em cem mil.
— Vai mesmo fazer isso, Lydia? Tirando toda a diversão, é meio drástico.
Bem drástico. Não precisa fazer isso. Tem certeza?
Nunca tinha visto Payton nervosa, e isso me faz questionar o quanto me
desviei da terra da sanidade. Mesmo assim, tenho certeza. Certeza de que vou
fazer isso. Tenho razoável certeza de que Vince vai seguir o que combinamos e
trazer Rhys. Meia certeza de que Rhys estará interessado. Semicerteza de que
Vince não vai me passar a perna e me vender para um lugar sexual subterrâneo,
para nunca mais terem notícia de mim.
Isso é bem idiota. Mas tenho Payton, então não é como se estivesse aqui
sozinha. E se nós duas desaparecermos, ela deixou instruções para seu primo
sobre onde nos procurar. Ele trabalha com a lei, o que não nos ajudará em nada
se estivermos mortas.
Uau. Este plano pareceu muito melhor antes de eu pensar nele. Tenho um
leve ataque de pânico, e com “leve”, quero dizer um soco no estômago. Como
exatamente vim parar aqui? Aconteceu tudo rápido demais. Ontem, Payton me
contou sobre Rhys e as prostitutas e, nesta manhã, inventei esse plano insano e
esta noite vou a leilão.
Ainda assim, o pensamento de ir embora, de sair correndo daqui, de ir para
casa, de abrir aquele app de encontros que Payton me ajudar a instalar e
responder a qualquer homem que tenha me enviado mensagem… não é o que
quero. Eu quero Rhys. E preciso saber se ele me quer também. Mesmo que pelo
meio menos ortodoxo já planejado.
— O negócio é o seguinte, Payton, ele simplesmente é para mim. Acho que
ele pode ser meu cisne.
Brinco com o robe de seda cobrindo a lingerie que estou usando. Branca.
Staci insistiu que fosse branca. Assim que combinamos tudo, Vince me enviou
para falar com Staci a fim de me orientar. Orientar — palavra dele, não minha.
Eu não sabia se ele estava me zoando ou não, mas, de qualquer forma, Staci me
disse tudo que eu precisava.
Fomos ao shopping, no caso de estar se perguntando. Ela disse que não
tínhamos tempo de fazer uma encomenda on-line, então me levou na Victoria’s
Secret. Eu lhe disse que de jeito nenhum iria desfilar com uma calcinha fio-
dental diante de alguém. Ela piscou para mim e depois deu risada, um pouco
desacreditada, depois escolheu um baby-doll plissado com alcinhas e bastante
decotado. Mas ela me deixou escolher calcinhas de renda que combinavam e
cobriam minha bunda. A metade superior da minha bunda, na verdade. Minhas
nádegas estão definitivamente de fora, mas pelo menos não é calcinha fio-dental.
— O que cisnes têm a ver com isso?
— Eles são parceiros para a vida toda.
— Mas você não é a parceira dele ainda.
— Eu sei — digo, arrastando a palavra —, mas cisnes não escolhem
aleatoriamente outro cisne e acasalam, Payton. Eles escolhem com cuidado para
não ficarem a vida toda com algum cisne idiota aleatório que cruza seu caminho.
Eles escolhem. Cuidadosamente.
— Uau.
— É, não é?
— Não, digo, uau, você é nerd. Você ganhou um distintivo de cisne?
— Não existe distintivo de cisne — retruco, revirando os olhos. — Era o
distintivo “animais na natureza” — resmungo. — A questão é que eu quero ficar
com ele. Quero que Rhys me desvirgine.
— Pensei que tivéssemos concordado que você não iria mais usar essa
palavra.
— Eu sei, mas é uma palavra de verdade, Payton. Uma palavra legítima do
dicionário, não do Urban Dictionary.
Há uma pausa enquanto Payton simplesmente me encara.
— Você sabe que nós não teríamos virado amigas se nos conhecêssemos no
ensino médio, certo?
— Não era tão ruim! — protesto. — Até que eu era legal no ensino médio.
— Vou ter que acreditar na sua palavra, tigresa — Payton responde, mas
sua expressão não indica que ela acredita em mim. — Olha, precisamos
conversar.
— O que foi?
Olho para Payton pelo espelho. Estamos no camarim no Double Diamonds
esperando para a grande venda. Tenho que dizer que este lugar não é nada como
eu imaginava. O camarim é bem legal, muito parecido com o estilo do escritório
de Vince. Parece mais um camarim de spa do que um lugar de má reputação.
Armários, chuveiros, um balcão enorme cheio de espelhos para fazer cabelo e
maquiagem. Há uma estação de café também, mas só com café normal. Eles não
têm uma daquelas máquinas chiques de café como temos no Windsor. Eu deveria
dizer para Vince comprar uma, acho, depois começo a sorrir. Como se eu
trabalhasse aqui agora e pudesse fazer sugestões. Rá.
Payton se vira para mim e pega minhas mãos, esperando até eu lhe dar toda
atenção.
— Você sabe como um pênis é, certo?
— Payton! Oh, meu senhor. Não sou totalmente sem noção.
— E sabe que ele vai querer colocá-lo dentro de você, certo?
— Pare de me zoar. — Sei que estou vermelha igual uma beterraba, um fato
confirmado quando me volto para o espelho. — Eu sei o que é sexo. — Analiso
meu reflexo.
— Ok, só me certificando. Nunca enviaria minha garota para a batalha sem
um mapa.
— É um plano — murmuro. — Você nunca me enviaria para a batalha sem
um plano.
— Claro, que seja. Nunca te enviaria para a batalha sem saber como é um
pênis, ponto final. Falando nisso, você tem alguma pergunta?
Ahn, não?
— Acho que não.
Droga, deveria? Ter perguntas? Que perguntas deveria ter? Sei o que é sexo.
Não sou desinformada, apenas inexperiente. Analiso minhas unhas, pintadas de
rosa-claro durante minha manicure desta tarde. As unhas do pé também. Fui
esfregada e polida, secaram meu cabelo e um profissional me maquiou. Estou
usando mais maquiagem do que normalmente usaria, mas estou gostando.
Pareço uma versão mais dramática de mim. Com a lingerie de virgem, estou me
sentindo um pouco como uma noiva no dia do casamento.
Mas não é o dia do meu casamento. Definitivamente, não.
— Não, não tenho nenhuma pergunta, mas talvez te envie mensagem mais
tarde. Se pensar em algo.
— Ok. Sinta-se à vontade para me perguntar qualquer coisa ou me enviar
fotos de Rhys nu. E/ou. Só me avise quando puder.
— Está bom. Vou te avisar, quero dizer. Não vou te enviar fotos de Rhys
nu.
— Ok, uau. Estou realmente começando a pensar que só eu me doo nesta
amizade, mas hoje é sua grande noite, então podemos discutir sobre nossos
objetivos de amizade depois.
— Combinado.
— No caso de não conversarmos depois — Payton me puxa em um abraço,
cuidadosa para não estragar meu cabelo ou maquiagem —, só quero que saiba
que tenho orgulho de você, Lydia. Por mais estranho que seja estar orgulhosa por
isso, eu estou.
— Não tenha orgulho ainda. Nem sabemos se isso funcionou. Isso pode
acabar com Vince me vendendo para um empresário decadente de Iowa. Não
sabemos ainda, não é?
Uma tosse me alerta para o fato de que não estamos sozinhas. Eu me viro
para o som e vejo que Vince havia entrado, com as mãos nos bolsos e o que
penso que é uma expressão divertida no rosto. O que é meio impressionante,
porque, pelo que ouvi falar de Vince, ele não é de expressar seus sentimentos.
— Iowa é um lugar bem legal. É com os que vêm de Maryland que você
deve tomar cuidado.
Oh, droga. Ele ouviu.
— Ha-ha, você é brincalhão.
Tento acabar com o assunto porque não tenho total certeza de como lidar
com Vince.
— Estou falando sério — ele responde, seus olhos desviando para Payton.
— Como um paraquedista.
Há uma pausa conforme Payton olha para ele, sua testa franzida enquanto o
observa. Então ela sorri.
— É, essa foi boa. Segurança de paraquedas não é brincadeira.
Vince inclina a cabeça, depois se volta para mim.
— Deu certo — ele diz. — Ele está aqui.
Deu certo. Deu certo? Deu certo! Estou pronta para rebolar, subir e descer
em meus saltos de stripper mas… talvez ele não esteja aqui por mim? Talvez ele
esteja aqui para uma dança aleatória ou algumas coxinhas quentes? Eles têm dez
sabores diferentes de molho de coxinha e eu sou apenas um sabor.
— Ele fez uma oferta antecipada.
Uma oferta antecipada? Então… ele deu um lance? Vou sair daqui com ele?
Deu certo? Deu certo de verdade?
— A oferta é por mim?
Preciso confirmar. Preciso das palavras. Preciso da confirmação antes de
ficar empolgada demais. Preciso de cem por cento de garantia de que a oferta
não é para um combo de refeição antes de me fazer de boba.
— É, você.
Eu me viro para Payton com os olhos arregalados e dou um gritinho,
saltitando. Mas com cuidado, porque sou mais do tipo de saltos baixos do que
saltos altos, e não seria bom quebrar o tornozelo no momento e acabar na sala de
emergência em vez de na cama. Transando. Com Rhys!
— Você aceitou, não é? A qualquer oferta que ele tenha feito? Eu te disse
que o lance de início que você sugeriu foi estupidamente alto.
Quando Vince e eu conversamos sobre números esta manhã, eu sugeri dez
mil e ele riu da minha cara. Então sugeriu cem, o que pensei que era um pouco
baixo até ele esclarecer que queria dizer cem mil dólares, então eu ri tanto que
tive de me curvar com uma mão na boca para me conter.
Não é como se eu fosse habilidosa, sabe? Além disso, fiz uma pesquisa na
internet quando criei este plano, e o custo médio para o sexo em Nevada fica
entre algumas centenas e alguns milhares de dólares. Sei que virgens são uma
novidade idiota, mas cem mil? Por favor.
— Ele ofereceu dez mil, como sugeri? — pergunto, me contendo de revirar
os olhos na cara de Vince por estar certa. Quase o fiz. Se ele não me assustasse
um pouco, eu teria revirado os olhos.
— Ele ofereceu duzentos e pediu para eu cancelar o leilão.
— Dólares, certo? Duzentos dólares? — É um pouco decepcionante porque
eu estava realmente esperando dez mil, mas o dinheiro não era o principal. —
Então é isso, certo? Não preciso ir lá desfilar agora?
Sou inundada por alívio com a ideia de poder pular a humilhação do desfile
nesta camisola. Meus dedos já estão coçando para vestir de volta a roupa em que
cheguei e sapatos que não exigem equilíbrio de bailarina.
— Duzentos mil dólares, Lydia. E eu disse a ele que outra oferta insultante
como aquela iria fazê-lo ser acompanhado para fora de minha boate.
Eu escuto Vince, mas demora um instante para entender o que ele está
dizendo, meu coração batendo fora do normal quando olho nervosa para Payton.
Quanto ele acabou de dizer? E por que ele recusou? No que fui me meter?
— Hum, Vince. — Engulo em seco antes de continuar. — Por que você
recusou? Nós tínhamos um plano.
— Porque eu tenho meu próprio plano, Lydia, e duzentos mil não é bom
para mim. Não chega nem perto.
Oh, Deus. Fiz um acordo com um cafetão e está acontecendo exatamente
como alguém imaginaria que um acordo com um cafetão acontecesse.
Ainda não, porque ele passa muito tempo — bem mais tempo do que sete
minutos — apenas me beijando. Beijando e acariciando. Meu pescoço, meus
seios, meu quadril, minhas coxas. Carícias longas e tranquilas de suas mãos,
passadas gentis da ponta de seus dedos até ele descer por meu corpo e estar entre
minhas pernas de novo. E, então, está fazendo o negócio da língua e do dedo de
novo, e eu estou tão, tão molhada e lisa, mas, quando ele adiciona um segundo
dedo, parece que é muito apertado e vi em primeira mão que ele é bem maior do
que dois dedos, então não sei como isso vai dar certo.
— Você é bom mesmo com línguas — consigo dizer depois de ter gozado
uma segunda vez. E ele está beijando a parte interna de minhas coxas como se
elas fossem interessantes.
— Alguém já te fez sexo oral, Lydia?
— Não. Está bom? Estou fazendo errado?
Será que estou gozando rápido demais? Devagar demais? Alto demais?
Baixo demais? A preocupação se agarra em mim conforme penso se outras
garotas são melhores ao gozar do que eu, o que é idiotice. Sei que é idiotice, mas
não tenho nenhuma comparação. Talvez ele tenha feito oral uma segunda vez
porque queria uma reação diferente? Nem imagino.
Então o sinto sorrir contra minha coxa, o que é uma sensação estranha, mas
adorável.
— Você está perfeita — ele diz, beijando de novo minha coxa, seu lábio
inferior se arrastando em minha pele, a sensação de sua barba me afetando em
lugares bizarros.
Ele beija minha barriga, diretamente abaixo do meu umbigo, e me fala de
novo que estou perfeita e acredito nele. Ajuda o fato de eu conseguir sentir seu
pau roçando em minha perna quando ele fala, e está duro. Está duro em todos os
lugares, na verdade. Seu corpo é muito firme, e tonificado, e quente, e
perfeitamente pesado em cima do meu, como um cobertor pesado de homem.
Ele volta para cima por meu corpo, beijando, acariciando e fazendo meu corpo
palpitar com mais ansiedade do que montanhas-russas em parques de diversão já
causaram em mim. Então me beija de novo, nossas pernas entrelaçadas e seu pau
descansando pesadamente em minha barriga. Eu quero tocá-lo. Deveria tocá-lo,
certo? Tipo tocar tocar?
— Me diga o que fazer — peço, passando as mãos para cima e para baixo
em seus antebraços.
— Faça o que quiser — ele diz, dando outro beijo suave em meus lábios.
Ele está deitado tão perto de mim, que consigo ver as linhas minúsculas em
volta de seus olhos e a pulsação batendo em seu pescoço. Passo a ponta do dedo
em sua sobrancelha apenas porque posso, porque ele está aqui na cama, comigo.
E então passo a ponta dos dedos em seu comprimento. Suas pálpebras tremem e
se fecham, e ele cerra a mandíbula, um pequeno chiado de respiração escapa
quando o toco, então me sinto encorajada a fazer mais. Envolvo o dedo e o
polegar nele — o máximo que consigo — e deslizo a mão da base até a cabeça.
Ele é impossivelmente comprido e grosso e estou ansiosa para ajustá-lo dentro
de mim, mas com medo ao mesmo tempo. Estou molhada, necessitada,
desesperada e ansiosa. E nervosa — isso também.
— Estou indo bem?
Envolvi a mão no comprimento dele e estou massageando lenta, mas
firmemente. Estou fascinada com a cabeça, o leve cume de pele me avisando que
cheguei à ponta, a forma como a pele é um pouco mais macia ali. A minúscula
fenda no topo, um pouco escorregadia do pré-gozo que encontrei e esfreguei
entre o dedo e o polegar para usá-lo a fim de massagear a cabeça.
— Perfeitamente — ele diz em outro chiado de respiração.
Olho para ele de debaixo dos cílios e, então, me inclino para a frente e beijo
seu peito.
— Eu deveria usar a boca também?
— Porra, não — ele diz, e seu pau fica tenso na minha mão.
Oh. Minha mão para, incerta, até ele a cobrir com a dele e aumentar a
pressão, continuar a rotação da carícia para cima e para baixo. Apertando mais
forte, indo mais rápido, virando nossos punhos juntos.
— Agora não. Qualquer hora, menos agora.
— Ok.
Sorrio para ele e tento me esfregar em sua coxa porque também não quero
realmente seu pau em minha boca agora. Quero que ele avance para o próximo
passo.
Desta vez, ele avança. Abre minhas coxas e se ajoelha entre elas, colocando
um travesseiro debaixo dos meus quadris.
Oh, Deus, isso vai acontecer. Meu peito se ergue e desce com minha
respiração conforme Rhys me posiciona, enganchando minhas coxas sobre seus
braços, prendendo-me bem aberta. Ele passa as mãos para baixo na parte interna
de minhas coxas, depois se posiciona em minha entrada. Consigo sentir a cabeça
de seu pau nos meus lábios, consigo ver tudo também, com a maneira que ele
nos posicionou. Aperto meus olhos e prendo a respiração conforme ele faz um
barulho, uma combinação de risada e expiração.
— Relaxe, Lydia.
— É, está bom.
Expiro e abro os olhos. Balanço os quadris no travesseiro. Estou relaxada.
Ele bate a cabeça de seu pau em mim, como um tapa. Gostei. Aperto, e ele
deve gostar disso porque geme, seus olhos no lugar em que está tentando nos
unir. Passa as mãos em minhas coxas de novo, o gesto é reconfortante. Então
circula meu clitóris com seu polegar, e é muito bom. É maravilhoso, até ele
encaixar a cabeça de seu pau dentro de mim e fico tensa de novo, prendo a
respiração.
— Relaxe, Lydia — Rhys repete, com a mandíbula tensa, assim como os
músculos do pescoço.
O negócio é o seguinte, eu realmente quero isso, de verdade. Mas também
nunca me machuquei de propósito, e não vejo outro jeito de fazer isso sem doer.
Ele desliza a cabeça de seu pau para dentro e, então, para fora de novo, e estou
tão molhada, lisa e pronta, que não dói, parece que quero mais, mas quando ele
empurra mais, fico tensa. Meus ombros, minhas pernas, meu tudo.
Sou a pior prostituta na história da prostituição.
— Me… — Desculpe, é o que estou prestes a dizer, mas não consigo
terminar porque Rhys belisca a parte interna de minha coxa, forte.
E quando ele faz isso, é como se todo meu foco de terminações nervosas
fosse para esse lugar, e não conseguisse me concentrar em tensionar mais
nenhum outro lugar, então não o faço, relaxo e me concentro naquela dor na
coxa e, nesse instante de distração, ele entra em mim com uma estocada brusca
de seus quadris. Ele está dentro, ele está dentro, e puta merda, isso dói. Com
distração ou sem, isso dói. Como se dilacerasse, como se eu fosse cortada ao
meio, e queima, e ele está tão fundo e tenso à minha volta, sem se mexer,
respirando pesado, se segurando, esperando eu fazer alguma coisa, eu acho, mas
não sei o que ou como me sinto e penso que posso chorar, então cubro o rosto
com as mãos.
Ele solta minhas pernas, debruçando-se sobre mim e se suportando com os
antebraços ao lado da minha cabeça, o movimento altera o ângulo de meus
quadris e a forma como o sinto dentro de mim e — oh, Deus — é melhor ou
pior? Não sei. Ele tira minhas mãos e beija minha têmpora.
— Você está bem?
— Não sei.
Talvez?
— Estou te machucando?
— Está! — Dã.
Ele começa a se mexer, imediatamente se erguendo de cima de mim, saindo
de mim.
— Não! — Penduro meu braço em volta de seu pescoço e o puxo de volta
para mim. — Não vá. É uma dor normal. Eu acho. Não faço ideia.
Seus lábios se curvam em um sorriso, embora haja tensão perto de seus
olhos, como se estivesse sendo doloroso para ele ir devagar, ficar parado.
— Me diga como se sente.
— Como me sinto, tipo, neste momento?
— Sim. Por favor — ele diz, e é tanto uma ordem quanto um pedido.
Ele beija minha mandíbula e o movimento causa outro leve ajuste na
posição, outra nova sensação com a qual se acostumar.
— Como me sinto com você dentro de mim? — Ruborizo ao dizer isso.
Posso sentir a cor cobrir minhas bochechas conforme as palavras saem da
minha boca.
— Isso, exatamente isso. Me diga.
— É como se você estivesse me quebrando, mas, ao mesmo tempo, eu
gosto.
Ele parece fascinado com minha resposta. Seus olhos analisando todo meu
rosto. Seu olhar intenso.
— Cheia. Me sinto bastante cheia. É gostoso, tenso e beliscante. Existe a
palavra beliscante? É como alongar depois de uma longa corrida, e doloroso.
Mas também bom. A sensação de estar cheia é bem boa, tipo, não faço ideia de
como vivi sem ela.
Coloco as mãos em seus quadris e passo em sua pele, meus dedos apertando
sua bunda enquanto eu rebolo debaixo dele, me ajustando à penetração e
percebendo que a dor diminuiu em uma dor entorpecente, mas também em uma
dor de necessidade. Como se eu quisesse mais.
— O que mais? — ele pergunta.
Ele beija o canto da minha boca, um toque suave de seus lábios, e não sei
por que isso me deixa com tesão, mas deixa.
— Parece uma pressão. Como se toda essa pressão estivesse ali se
formando ou pulsando. Posso dizer pulsando? E, tipo, que eu gostaria que você
se mexesse? — É uma pergunta-barra-declaração porque não tenho absoluta
certeza. — Não para fora de mim! — complemento, segurando mais forte seus
quadris, temendo que eu tivesse acabado de dar direcionamentos ruins. — Não
para fora de mim. Dentro de mim. — Mexo os quadris o máximo que consigo de
onde estou, debaixo dele.
Rhys segura minha cabeça com as mãos e me beija — um beijo demorado e
molhado, cheio de língua e mordidas em meu lábio inferior — e, então, se afasta,
de novo se apoiando nos joelhos, ainda enterrado dentro de mim conforme
reposiciona minhas coxas abertas por cima das dele, seus antebraços sob meus
joelhos me apoiando e mantendo-me bem aberta.
Consigo ver onde estamos unidos deste ângulo. Minha pélvis está erguida
da cama, minhas mãos voltaram a segurar a colcha com punhos cerrados. Ele sai
de mim, e sinto imediatamente a perda. O movimento lento de seu corpo
abandonando o meu, a sensação de completude se esvaindo e se tornando vazia.
Ele pausa, com apenas a cabeça de seu pau dentro de mim, e nós dois podemos
ver sangue. Seu pau está molhado, coberto de mim e de sangue escorrido, e
prendo a respiração porque é meio estranho, meio básico, meio primitivo, e
meus sentimentos sobre tudo isso são primários, mas Rhys não parece nada
assustado. Parece estar gostando bastante, então expiro e tento relaxar.
Depois, ele flexiona os quadris e volta para dentro de mim, e não me
importo muito com o que seu pau está coberto, contanto que ele não pare de
fazer isso. Repete o movimento, saindo lenta e demoradamente, depois voltando
a deslizar para dentro, e eu decido que gosto muito de sexo.
— Boa garota — ele me elogia quando ergo os quadris para encontrar os
dele, e gosto de ouvir isso tanto quanto gosto de sexo.
Reforço positivo é meu estilo, e ser chamada de boa garota enquanto seu
pau está dentro de mim é uma mudança safada de reforço positivo que descubro
que cabe muito bem a mim.
— Estou feliz que é você — digo baixinho. — Estou feliz por fazer isso
com você.
Seus olhos se fecham por um instante, e ele engole em seco. Uma gota de
suor escorre por seu peito, e dou um aperto experimental em volta de seu pau,
que está enterrado profundamente dentro de mim, e tudo fica impossivelmente
mais apertado e aquela sensação de pressão e calor fica mais intensa.
— Isso é bom — ele geme, abrindo os olhos apenas um pouco.
Então ele se inclina para cima de mim de novo, apoiando-se com uma mão
e usando a outra para flexionar meu joelho até meu peito. Fica diferente, mas
não tenho tempo para pensar ou me ajustar muito, porque ele está estocando em
mim agora. Rápido. Depressa e profundamente. Forte. Meus peitos balançam das
estocadas, e o som de sua pele batendo contra mim ecoa pelo quarto. As luzes da
Strip iluminam, e brilham, e cintilam nas janelas, e eu sinto que estou perto de
fazer todas aquelas coisas também. Bem perto.
Rhys flexiona mais minha perna para que meu joelho fique praticamente na
minha orelha e, oh meu Deus, ele fica ainda mais profundo e forte e maior desse
jeito e, então, seu polegar volta ao meu clitóris, e, sim, um firme sim, gosto de
sexo. Arqueio as costas e enfio a ponta dos dedos nos antebraços de Rhys, e ele
sussurra o negócio de boa garota de novo em meu ouvido, e toda a pressão e
fricção incendeiam, e minhas pernas ficam tensas, e estou gozando, e tudo está
muito apertado e quente, e aperto os olhos, e uma sequência de ohs sai da minha
boca.
Rhys geme quanto me aperto em volta dele, ficando parado em cima de
mim, e então se mexe de novo, fazendo movimentos curtos com os quadris até
ele gozar também, a tensão deixando sua mandíbula, e ele é lindo, tão lindo, e
não consigo acreditar que consegui fazer isso com ele.
— Foi como uma onda — digo a ele, quando ele termina, caindo em cima
de mim, respirando com dificuldade. — Como uma onda intensa e quente, ou
talvez a melhor parte de uma montanha-russa, ou como voar. — Passo os dedos
em suas costas, explorando as linhas com a ponta dos dedos, raspando as unhas
levemente em sua pele. — O orgasmo foi diferente com você dentro de mim.
Diferente de como foi com seu polegar ou sua boca. E molhado. Pareceu mais
molhado. Acho que provavelmente é porque você acabou de gozar dentro de
mim. Parece um pouco sujo, mas tipo uma sujeira depois de uma boa festa que
você ainda não quer limpar. — Ele está em silêncio, com exceção do som de sua
respiração. — Desculpe, não sou boa em falar safadeza.
— Está tentando me matar? — Ele arfa a pergunta em meu ouvido.
— Não. — Balanço a cabeça contra o travesseiro debaixo de mim. — Claro
que não. Quero fazer de novo.
Ele sai de mim, e sinto o vazio instantâneo da perda. E dor, sinto dor,
exposição e vulnerabilidade. Rhys se levanta da cama e passa por uma porta
aberta, acendendo uma luz quando entra no banheiro. A bunda dele é perfeita,
exatamente como pensei que fosse. Dura e musculosa e tem uma convinha que
preciso explorar da próxima vez.
Eu me sento na cama, sem saber exatamente o que fazer agora. Deveria ir
embora? É por isso que ele me pagou, certo? Para que eu saísse quando ele
terminasse? Será que posso usar o banheiro dele primeiro? Suas mulheres de
sempre normalmente simplesmente vão embora, certo? Vejo minha bolsa em
uma cadeira do outro lado do quarto, então me levanto, me encolhendo ao fazê-
lo. É, vou sentir amanhã. Estou tirando uma camiseta da bolsa, quando Rhys
retorna.
— O que está fazendo?
— Pensei que agora fosse a parte em que você dá um tapa na minha bunda
e me fala que é hora de ir, docinho.
— Sente-se — ele diz, assentindo para a cama.
Ele não parece se divertir com minha avaliação de como a noite termina,
então solto minha camiseta e volto para a cama. E é quando percebo que acabei
de perder minha virgindade em um edredom branco fofo e não há como salvar o
edredom fofo branco e fico mortificada. Quinhentos mil dólares, e arruinei sua
roupa de cama. Sou uma prostituta muito horrível.
Começo a puxar o edredom da cama quando ele me faz parar.
— O que está fazendo? — ele pergunta de novo, colocando uma mão em
meu braço. Parece confuso, e me pergunto se estou me comportando
racionalmente.
— Arruinei sua cama.
— Lydia, quem se importa?
Eu me importo. Todo este apartamento é intocado e perfeito, e eu sou tipo
um cachorrinho resgatado e bagunceiro.
— Vou ligar para o pessoa da limpeza e pedir para mandarem um novo —
ele diz baixinho, passando a mão em meu braço. — Vá tomar um banho.
— Quando você diz que vai ligar para o pessoal da limpeza, quer dizer que
vai encontrá-los na porta e, depois, se livrar desta roupa de cama, não entregar a
alguém que vou encontrar na lanchonete dos funcionários na segunda, certo?
— Vou cuidar disso.
— Ok.
Assinto algumas vezes e, então, Rhys gentilmente me empurra na direção
do banheiro enquanto ando. Tomo um banho obscenamente demorado e penso
em meus sentimentos enquanto uso o xampu e sabonete dele, porque é tudo o
que ele tem no chuveiro.
Quando volto, Rhys está sentado na cama, com as costas na cabeceira e um
laptop no colo. O apartamento inteiro está escuro, com exceção de um abajur ao
lado da cama e o brilho vindo de seu laptop. A vista da Strip foi bloqueada com
algum tipo de sistema de cortinas blackout. A roupa de cama havia sido
substituída, e arrumada, e afofada, e me pergunto de novo se ele arruma a
própria cama normalmente ou se a camareira vem todos os dias.
Estou enrolada em uma toalha porque não pensei em levar nada para o
banheiro comigo. Meu cabelo ainda está úmido, e estou segurando nas pontas da
toalha bem mais forte do que o necessário, já que Rhys já me viu nua.
Ele está usando calça de pijama de algodão, suas pernas estendidas para a
frente e o peito nu. Ele não parece estar planejando me levar para casa, mas esse
não é realmente o trabalho dele, é?
— Devo chamar um Uber? — pergunto, me aproximando da minha bolsa.
— O quê? — Ele olha por cima de seu laptop, um olhar confuso em sua
expressão.
— Um Uber — repito. — Ou um táxi?
— Pode ficar — ele disse, assentindo para a cama ao seu lado.
Ok.
— O que devo vestir? — pergunto, abrindo a bolsa e tirando o traje branco
que usei no palco mais cedo. — Quer que eu vista isto? — Vejo que minhas
roupas foram resgatadas do chão, dobradas e penduradas na cadeira com minha
bolsa.
— Não — ele responde. — Isso não. — Acho que o estou irritando agora.
— O que normalmente usa para dormir?
Pijamas de lençol, penso. Nada que ele iria querer ver.
— Não trouxe nada que normalmente vestiria para dormir — é o que digo a
ele, a camisola ainda pendurada em minha mão.
Seus olhos desviam para ela e, então, baixam para seu laptop.
— Pegue uma camisa da gaveta do meio — ele diz, já digitando de novo.
Descubro que a gaveta do meio tem camiseta normal e macia. Escolho uma
azul e volto ao banheiro para me trocar em uma necessidade esquisita de
privacidade.
Depois entro debaixo das cobertas, minhas pálpebras já estão pesadas. Acho
que vou dormir em questão de minutos, o que é estúpido, porque estou na cama
de Rhys e deveria estar aproveitando a experiência. Mas hoje foi um dia cheio e
Rhys está trabalhando, então acho que ele não quer dormir de conchinha nem
nada.
Estou prestes a cair no sono com os sons estranhamente calmantes de Rhys
digitando em seu laptop quando me lembro de uma coisa.
— Desculpe ter demorado tipo dez vezes mais do que sete minutos — digo
a ele, e depois apago.
Passamos por uns dois semáforos e um Wal-Mart quando vejo uma placa
para a Goodwill e entro na galeria.
— Oh, meu Deus, nós vamos mesmo à Goodwill? — A pergunta é feita
com bem menos empolgação do que eu estava esperando.
Pensei que teria a empolgação do Del Taco, mas sua reação foi mais
receosa do que animada.
— Você disse que é isso que faz — respondo, confuso.
— Acho que Goodwill não é o que você pensa que é e não será seu estilo.
Nem preciso de nada hoje, então não precisamos fazer isso.
Eu a ignoro e estaciono. Ela pega seu café gelado com um pequeno
resmungo e abre a porta do carro.
— Loja de varejo e centro de doação — leio a placa assim que encontro
Lydia no capô do carro. — Estamos em um brechó?
Ela hesita, a ponta de seu tênis se arrastando no cimento e seu corpo meio
virado para trás na direção do carro.
— Você é ocupado demais para isto, Rhys. Não preciso mesmo ir hoje. Só
vamos embora.
— Já estamos aqui.
Aponto para as portas e começo a andar sabendo que ela vai seguir — mais
porque já havia trancado o carro. Quando chego à porta, eu a seguro aberta para
Lydia e a sigo para dentro.
Coisas usadas. Esse é meu primeiro pensamento ao entrar. Esta não é a
fonte de sua dívida. Lydia ergueu o copo de café gelado aos lábios e está dando
um longo gole, o canudinho pressionado entre seus lábios. Eu me pergunto por
que estamos em um brechó em vez de voltando ao hotel com meu pau entre seus
lábios, mas vir aqui foi minha ideia. Eu acho. Ela está parada em um pé só, a
ponta do outro de novo circulando no chão, desta vez no linóleo em vez de no
asfalto, e agora que estamos dentro da loja, o pavor em sua expressão abriu
caminho para um olhar de ansiedade.
— A cor da semana é azul. Eu sempre tenho sorte com azul — ela diz, e me
pergunto se estou tendo um infarto de algum tipo porque nada, nem uma única
coisa nas últimas vinte horas ou mais faz sentido.
Lydia pega um carrinho e o leva para os fundos da loja, passando prateleiras
industriais organizadas com pilhas de porcaria. Eu a observo analisar
rapidamente as prateleiras enquanto passa, mas claramente ela tem algum tipo de
estratégia ou destino já em mente porque continua se movendo, mesmo quando
um abajur de cerâmica laranja em formato de gato chama sua atenção. Está
opaco e é medonho. Ainda estou encarando-o e pensando no que teria possuído
alguém para comprá-lo em primeiro lugar, pensando se foi uma produção em
massa ou se era uma horrível peça única, quando vejo que Lydia chegou aonde
queria. Está colocando lençol usado no carrinho quando a alcanço. Um lençol
usado que parece que saiu da casa de um animador de Vegas dos anos cinquenta.
— Quando Vince vai te pagar? — eu pergunto, porque não consigo
entender o que está acontecendo neste exato instante.
Ela está precisando de dinheiro? Os lençóis não estão identificados até onde
consigo ver, então como ela sabe que vai caber na cama dela? Acho que ela nem
pegou um conjunto, apenas um aleatório de cima da prateleira com um passado
sombrio desconhecido.
Que eu nem posso julgar, porque ela está dormindo comigo e não duvido de
que meu pau tem um passado ainda mais sombrio do que esse lençol.
— O quê?
Ela para e olha para mim. Está segurando um cabide de calça com uma
fronha pendurada nos pregadores, alisando o material com a ponta dos dedos da
outra mão.
— Quando Vince vai te pagar? — insisto. — Você precisa de dinheiro?
— Oh. — Ela pisca e baixa os olhos dos meus, um brilho de mágoa ou
desconforto passa por sua expressão. — Não sei. — E, então, depois de uma
pausa: — Não. Não quero mais dinheiro de você. Obrigada.
O que ela quer dizer falando que não sabe? Aquele otário me fez transferir
o dinheiro para ele antes de sair, como se eu não fosse bom o bastante. Babaca.
— Então você não recebeu ontem à noite?
— Não. Temos que ver as coisas dos impostos primeiro.
Coisas dos impostos? Penso nisso e tenho certeza de que minha cara
expressa minha confusão, porque ela para, sua mão passando por uma estante de
fronhas, e se vira para mim.
— Desculpe, isso não faz parte de seu fetiche? Não deveria ter mencionado
os impostos?
— Que fetiche?
— Hum, o negócio de pagar por sexo. Não sei como você faz normalmente.
É a visão do dinheiro que te excita? Porque, se quiser deixar um pacote de
dinheiro no criado-mudo toda manhã, posso devolver na sua gaveta quando não
estiver olhando e, então, pode colocar de volta no criado-mudo depois de gozar.
O que precisar.
Quer saber qual é a parte mais bizarra desse discurso? Não acho que ela
esteja me zoando. Nem um pouquinho. Não havia um milímetro de reprovação
em seu tom, apenas total aceitação.
— Não é bem um fetiche, Lydia. É mais uma conveniência. Como frete de
dois dias.
Caralho. Acabei mesmo de compará-la com a conveniência de receber um
desodorante em menos de vinte e quatro horas? Não sou emocionalmente
apropriado para ela. Ela é do tipo profunda-emocional-apegada, não uma garota
de expectativas mínimas.
— Oh, ok. — Ela pisca algumas vezes e coloca uma fronha no carrinho. —
Posso ser conveniente.
— Ótimo. — Estou irritado com toda essa conversa e não sei bem por quê.
— Ótimo — Lydia responde, e não sei se ela está irritada com alguma
coisa.
Ela dá outro gole em seu café gelado e sorri para mim, chupando o
canudinho, e eu quero beijá-la. Ou fodê-la. Ou levá-la de volta para Vince e
esquecer que tudo isso aconteceu. Foi isso que ela disse ontem, não foi? Apenas
me leve de volta. Apenas me leve de volta, Rhys.
Levá-la de volta para Vince? Para o Double Diamonds? Para começar,
quando foi que ela se envolveu com ele?
Quando tudo isso ficou tão distorcido? Eu tenho responsabilidades. Um
hotel para inaugurar. Um legado para construir. Sou ocupado demais para
complicações no momento. E é por isso que pago strippers, e dança, e boquetes,
e sexo. E é por isso que dei meio milhão para uma garota colocar um abajur de
gato laranja em um carrinho de compras neste instante.
Minha vida é fodida. Estou sob muito estresse, eu decido. Estresse que
Lydia vai me ajudar a aliviar no próximo mês. O que quer que seja isso que
temos, sairá do meu sistema até lá. Esse pensamento alivia um pouco da tensão
de meus ombros e deixo pra lá o resto.
Parece que Lydia acabou de fazer compras com a adição do abajur — um
abajur que só posso presumir que é uma piada —, então, assim que ela paga
onze dólares e setenta e quatro centavos por sua compra, nós vamos embora. Ela
menciona algo sobre o ótimo achado que foi o abajur enquanto destravo o carro.
Não respondo porque não faço ideia de que porra ela está falando.
Ela fica quieta a caminho de seu apartamento, com exceção de perguntar se
pode beber o resto do meu café. Parece bem satisfeita com o silêncio, feliz
bebendo seu segundo café e dando direções para sua casa. Já sei que ela mora
perto do Hennigan’s, mas não conto, em vez disso, sigo seus direcionamentos
para pegar a 515 até a Hendersonville sem comentários. Quando saímos da
rodovia na Galleria, ela começa a falar. Mais ou menos.
— O negócio é o seguinte — ela começa, depois para, mexendo o
canudinho no copo a fim de distribuir o gelo ou procrastinar, não sei qual dos
dois.
— Qual é o negócio? — incentivo.
— O negócio é que não sabia que isso era para durar um mês — ela diz. —
Sei que fiz um acordo com o diabo e é problema meu, não seu, blá, blá, blá.
Blá, blá, blá. Esse é um ponto de vista.
— Mas não sei o que espera de mim.
— Espero que esteja disponível para quando eu quiser transar.
— Digo, sim. Isso eu entendi. Essa é meio que a descrição do meu trabalho,
dã.
— Você acabou de falar “dã” para mim?
— Com certeza.
— É uma prostituta horrível.
— Eu sei! — Ela dá um tapa em seu joelho e se vira para mim no banco. —
Não consigo acreditar que você pagou tanto por alguém sem referências ou
experiência. Nem é lógico! Você é que está me educando sexualmente e está me
pagando pelo privilégio. Deveria realmente trabalhar suas habilidades de
negociação, porque acho que Vince te enrolou. — Ela termina o discurso
balançando um pouco a cabeça, depois continua: — Não acho que me comprar
foi uma aquisição financeira boa. Aposto que seu contador ficará bem
decepcionado quando ele descobrir.
Olho para ela para sondar se está falando sério agora. Meu palpite é de que
é cem por cento sério.
— Tenho certeza de que Anthony vai lidar adequadamente com sua
decepção.
— Talvez ele consiga encontrar um jeito de me colocar em seus impostos
como uma despesa. Tipo gastos. Arquivado junto com o entretenimento da
grande inauguração ou algo assim? Certeza que Vince te dará um recibo, certo?
Se ele faturar isso como entretenimento, não seria mentira. Sexo por si mesmo é
um tipo de entretenimento.
Minha certeza se ela estava me zoando ou não acabou de cair oitenta por
cento, então fico calado, o que ela toma como um convite para continuar
falando. Sinto falta da Lydia quieta. Gostei dela nos cinco minutos em que a
conheci.
— Uma coisa seria você ser terrível no sexo e precisasse pagar para alguém
fingir gostar, mas você é superbom no sexo! Não precisei fingir nada.
— Obrigado — respondo sem expressão.
— Oh, droga, isso foi grosseiro? Aposto que você é bom em outras coisas
também. Deve ser, você é muito bem-sucedido. Aposto que é bom em coisas de
CEO.
— Com exceção de negociar.
— É — ela diz com um pequeno suspiro. — Com exceção disso. Mas, sabe,
provavelmente você só não está pensando com clareza agora, com a grande
inauguração chegando. Tenho certeza de que você é um negociador muito
melhor quando não está sob muito estresse. Mas tudo bem, porque você é bom
em muitas outras coisas, tipo malhar, e arrumar sua própria cama, e reciclar. —
Ela está contando nos dedos conforme lista minhas conquistas, pausando depois
do terceiro dedo. — E compartilhar. Você é um compartilhador excelente. — Ela
mexe o café gelado com uma mão e ergue o quarto dedo com a outra. — E… —
Ela pausa de novo, claramente não sabendo mais com qual conquista pode me
elogiar, o que vagamente me decepciona. Também me faz pensar que tipo de
conquistas poderiam impressioná-la o bastante a fim de ganhar seu respeito. —
Você, por um acaso, tem algo a ver com a máquina de café na sala de descanso?
Porque ela é fenomenal.
— Qual é a questão, Lydia? Para começar? Me lembre por que estamos
tendo esta conversa?
— Oh! Verdade. O negócio é que não percebi que isso era por um mês,
então só comprei um conjunto de lingerie sexy. Minhas coisas de sempre são
todas de algodão. Nem são fio-dental porque prefiro calcinha que cubra minha
bunda.
A ideia de Lydia com uma gaveta cheia de calcinhas de algodão entediantes
que ela não espera que ninguém veja me deixa duro de novo. Será que tem algo
errado com meu pau? Algum tipo de semi-ereção permanente induzida pelo
estresse? Não parece certo.
— E não tenho nenhum pijama sexy também. Então não sei o que espera
que eu pegue. É por isso que estou tentando te perguntar suas expectativas.
Entendi a parte do sexo, só não sei o que espera de mim nas outras vinte e três
horas e meia do dia.
— Ontem à noite foi bem mais do que meia hora — resmungo quando
paramos em outro semáforo.
— Eu sei! Desculpe! Mas você ficou fazendo oral em mim, e me beijando,
e todas essas coisas que não eram colocar seu pênis dentro de mim. Acho que
aquele artigo que li não estava contando todas essas outras coisas quando
concluíram a média de sete a treze minutos, e ainda não sei sobre essas outras
coisas ou por quanto tempo você iria querer fazê-las.
Vou precisar que Jesus assuma o volante deste carro se ela não ficar quieta
logo.
— Enfim, podemos ser mais rápidos, tenho certeza. Sei que você é
ocupado, então, talvez, possamos fazer umas rapidinhas e isso irá baixar nossa
média. Tipo se transarmos umas duas vezes por cinco minutos e uma vez por
uma hora, então é uma média de tipo vinte ou vinte e cinco minutos por sexo.
Droga, ainda é muito tempo? Talvez três rapidinhas para uma demorada? É você
que tem horário, então você que sabe.
Jesus. Volante. Ajusto meu pau conforme ela continua falando.
— Enfim, não era bem essa a questão — ela diz, respirando.
Obrigado por pequenos favores.
— A questão era que eu não tenho nada sexy, mas posso sair e comprar algo
hoje. Só preciso saber do que você gosta, porque essas coisas são caras, e você
não pareceu impressionado com a lingerie, e não sei ler mentes.
A lingerie que ela estava usando no palco diante de outros homens. Ela tem
razão. Eu a detestei.
— Apenas pegue o que você normalmente usaria, Lydia.
— O que eu normalmente uso não é o que você pensa, Rhys. Tem certeza
de que não quer que eu saia e compre umas coisas? Ou poderia pedir à minha
nova amiga Staci para me ajudar. Provavelmente, ela poderia me dizer onde
comprar on-line se você quiser algo mais ousado do que consigo encontrar no
Fashion Show. Quer que eu compre couro ou rendado ou que vista alguma
fantasia? É só me falar.
Ela leva o canudo até os lábios e dá outro gole, piscando para mim em uma
curiosidade inocente e sem um sinal de julgamento.
— Eu te quero exatamente do jeito que você é.
— Oh.
Uma linha minúscula se forma em sua testa como se fosse confuso para ela.
Ou talvez ela estivesse esperando que eu gostasse de brincar de escrava ou
alguma merda assim, é difícil dizer.
— Estava esperando viver uma experiência extrema, Lydia? Queria que eu
colocasse um plug com um rabo na sua bunda e pedisse para você se arrastar por
meu apartamento? Beliscasse seus mamilos? Batesse em você?
— Não particularmente. Só quero ser boa para você. Gosto quando você me
diz que sou uma boa garota. Isso realmente me excita.
— Excita?
— Uhumm — ela murmura e se ajeita no banco.
Digo a ela que preciso de um pouco de silêncio depois disso. O condomínio
em que ela mora é bacana. Um complexo de luxo a apenas vinte minutos da
Strip, perto o bastante para ser conveniente, mas longe o bastante para ter uma
sensação residencial relaxada. Ela mora em uma unidade perto da área de lazer
que deve ter uma academia, porque um babaca coberto de suor passa por nós ao
sair.
Ele grita “Oi, Lydia” ao passar, o que me irrita pra caralho.
— Seu amigo? — pergunto ao segui-la até a porta, carregando o abajur de
gato laranja.
— Eu o encontrei na piscina uma vez — ela diz, mostrando-me um sorriso
envergonhado por cima do ombro. — Mas não consigo me lembrar do nome
dele, então sempre faço tipo “Ei, e aí?” quando ele tenta conversar comigo.
Eu ia dizer que ele não daria a mínima em lembrá-la de seu nome se ela
estivesse disposta a lhe dar seu tempo, mas foda-se. Não estou pagando Lydia
para lhe dar dicas de como conseguir outros homens.
Ela abre a porta do apartamento e grita por sua colega de quarto, que não
parece estar em casa.
— Estranho, pensei que ela estivesse aqui — Lydia diz. Ela parece triste
por não a ver. — Acho que vou vê-la amanhã — ela diz, dando de ombros.
— Vocês são próximas? — pergunto por falta de mais coisa para conversar.
— Ela é minha melhor amiga.
— Você a conhece há muito tempo?
— Alguns anos. Nos conhecemos na faculdade, depois nós duas fomos
contratadas pelo Windsor, então decidimos nos mudar e morar juntas.
— Ah.
Eu não tinha percebido que sua colega de apartamento era funcionária
também, mas faz sentido. Sei que contratamos muitas pessoas de universidades.
Porra, detesto o lembrete de que Lydia estava na faculdade recentemente.
— Me dê isso — ela diz, pegando o abajur da minha mão.
Eu tinha até me esquecido de que estava segurando aquela coisa horrorosa.
Ela desaparece em um dos quartos, então eu dou uma olhada no apartamento.
Acho que este é um empreendimento relativamente novo. O apartamento em si
não é enorme, mas é conceito aberto e os eletrodomésticos parecem novos. O
sofá parece novo, assim como as mesas de canto e abajures. Abajures normais,
eu percebo, não em formato de gato ou unicórnio ou qualquer porra de que ela
gostasse. Há uma antiga cômoda pintada de azul-petróleo sendo usada para
apoiar a televisão e uma mesa de cozinha com cadeiras variadas que desconfio
que vieram da Goodwill. Há uma faixa de algum tipo pendurada em uma placa
de cortiça perto da mesa de cozinha. Como uma faixa de concurso, só que mais
feia. Eu me aproximo para olhar quando Lydia grita do quarto que está pegando
suas roupas de sempre.
Esta faixa é ainda mais ridícula do que o abajur. Há algo chamado distintivo
de bar costurado nela. Um distintivo de app de encontros. Um distintivo de
confiança. Pregado à placa, mas não costurado à faixa, está o distintivo Rhys. E
um distintivo de sexo. E um distintivo de bunda.
Meu pau lateja com a ideia de foder a bunda de Lydia, mas minha mente
está presa ao distintivo Rhys. Sou um tipo de jogo para ela?
A porta da frente se abre, e Payton aparece. Eu me afasto do quadro
enquanto Lydia sai de seu quarto com uma expressão feliz com a chegada de sua
amiga. Ela nos apresenta e, então, pausa, olhando melhor para sua amiga.
— Payton, por que ainda está usando a mesma roupa de ontem à noite?
— Ahn — Payton responde, olhando para baixo para si mesma, confusa. —
Estou? Chega de falar de mim. Como foi o sexo ontem à noite?
— Payton! — Lydia arregala os olhos e olha para mim, com a expressão
mortificada. — Não vou te contar como Rhys é na cama com ele parado bem
aqui.
— Ok, então amanhã no almoço? — Payton parece completamente
desorientada com a réplica de Lydia.
Os olhos de Lydia se lançam entre mim e Payton.
— Provavelmente também não, Payton.
— Ohhh — Payton fala pausadamente, olhando entre nós. — Claro que
não. Nunca falaríamos dessas coisas. Piscadinha, piscadinha.
Ela realmente fala “piscadinha, piscadinha” em voz alta.
— Já está quase pronta? Tenho bastante trabalho para fazer esta tarde. —
Incluindo fazer Lydia gozar múltiplas vezes para ficar fresco em sua memória
quando ela recapitular durante o almoço. Porque impressionar essa virgem, de
alguma forma inexplicável, se tornou meu objetivo.
Será que estou diferente? Que todo mundo vai saber que transei muito esse
fim de semana só de olhar para mim? Eu me olho no espelho do banheiro de
Rhys e ruborizo. Esse é o pensamento mais vergonhoso da vida. E idiota.
Ninguém vai olhar para mim e simplesmente saber. Além do mais, eles
provavelmente fizeram a mesma coisa o fim de semana inteiro, porque todo
mundo transa. Até eu.
Por exemplo, não vou encontrar Rhys no escritório hoje e imaginar como
ele é nu. Não vou. Se trombar com ele na sala de descanso no quarto andar, só
vou ter pensamentos normais sobre ele. Pensamentos completamente normais,
cobertos de roupas. Porque sou uma mulher adulta e uma pessoa profissional.
Se, por um acaso, acontecer de passar por ele no corredor, não vou imaginar
como ele fica de toalha na cintura enquanto está diante de mim se barbeando no
espelho. Não. Absolutamente não. Na verdade, vou parar de encará-lo neste
instante e tentar retirar esta lembrança do meu cérebro para ela não aparecer sem
querer mais tarde.
— O que foi? — ele pergunta enquanto eu me olho no espelho sem olhar
para ele.
Acabei de acordar e vim cambaleando até aqui para fazer xixi e o encontrei
já de banho tomado e — pelo que parece — quase acabando de se barbear. Eu
teria me virado e usado um dos outros banheiros, mas o sanitário aqui é separado
do resto do banheiro, o que é a melhor invenção do mundo porque nunca vou
gostar de Rhys no nível de fazer-xixi-na-frente-dele. Acho que não. A menos que
nos casemos e tenhamos filhos e ele me veja dando à luz. Talvez, depois disso,
não tenha problema fazer xixi na frente dele. Mas talvez.
— Nada.
Dou de ombros e pego minha escova de dente, porque tenho uma escova de
dente no banheiro de Rhys. Apenas uma manhã de segunda normal. Coloco
pasta de dente e a coloco na boca para me impedir de falar. Então olho de canto
de olho para Rhys ainda naquela toalha, só que ele terminou de se barbear, jogou
a toalha em um cesto e está andando nu até seu armário, e como uma garota não
pode se lembrar exatamente de como é sua bunda nua? Como? Não sou mágica,
pelo amor de Deus. Não posso simplesmente fazer aquela visão desaparecer de
meu cérebro. Além disso, não quero. Quero fazer um relatório detalhando
exatamente como é a bunda dele para toda mulher infeliz — e qualquer homem
interessado, sem preconceitos — que não teve a sorte de ser abençoada por isso
em primeira mão. O que me lembra…
— Então, hum, o escritório. Isto — digo, balançando um dedo entre nós
quando ele volta totalmente vestido, fazendo um nó em uma gravata no pescoço.
— O escritório — repito com outro aceno enquanto enxáguo minha escova de
dente.
— Vou cuidar disso — ele diz e, então, dá uma piscadinha para mim e me
fala “bom almoço” e sai. Meu Deus, ele começa a trabalhar cedo.
Espere. Almoço?
Oh, Deus, ele está se referindo ao meu almoço com Payton. Referindo-se a
ouvir Payton me perguntar por um relatório do sexo durante nosso almoço.
Isso é… embaraçoso. Mas ele pareceu que estava se divertindo, então acho
que não se importa. Além disso, ele trabalhou bem mais no sexo ontem à noite,
então, talvez, me lembrou do almoço porque está esperando uma boa crítica.
Tomo um banho demorado e enrolo para me arrumar porque tenho tempo.
Acordei mais cedo do que o normal e não preciso pegar o carro, o que é
conveniente, mesmo que morar em um hotel seja meio estranho.
Estranho, mas bem legal. Diferente de não ter comida. Isso é simplesmente
bem estranho, independente do que Rhys pense sobre o serviço de quarto ser
conveniente, não vou pedir serviço de quarto toda vez que quiser comer, então
vou consertar a situação da comida se vou sobreviver um mês aqui. Além disso,
ele tem cafeteira e café, mas não tem creme nem adoçante orgânico natural,
então por que tem os outros dois?
Não sei. Ainda bem que tem a máquina de café chique na sala de descanso.
Vai funcionar para hoje enquanto tomo conta do resto.
Assim que me apronto, saio do apartamento — ou suíte; não sei bem como
me referir a ele — e pego o elevador particular até o quarto andar. Rhys me deu
uma chave ontem que abre a porta de seu apartamento e acessa o elevador
particular. Também me mostrou onde o elevador particular sai no quarto andar,
para eu não me perder hoje. Acho que ele sabia que iria trabalhar mais cedo do
que eu. O que não tem problema, não é como se eu esperasse que ele pegasse o
elevador junto comigo para trabalhar. Não estamos dando carona um para o
outro nem nada, apenas morando juntos e transando. E nos dando muito bem e
curtindo a companhia um do outro. É isso. Não estou nem um pouco apaixonada
por ele. Só há, talvez, cinquenta por cento de chance de isso acontecer.
Assim que chego ao trabalho, coloco a bolsa na minha mesa. Ainda a
trouxe para o trabalho porque seria estranho deixá-la lá em cima, mas meio que
parecia desnecessário trazê-la quando não preciso das chaves do carro nem
carteira e já tenho um brilho labial extra na gaveta da minha mesa. Essa coisa de
morar em hotel realmente tem seu próprio conjunto de complicações. Então sigo
para a sala de descanso a fim de me abastecer antes de começar a trabalhar.
Cedo, como a funcionário produtiva que sou.
Minha chefe, Bethany, também é produtiva, porque ela já está na sala de
descanso usando a máquina chique quando eu chego. Ela sorri, diz bom dia e
comenta sobre como cheguei cedo esta manhã, o que agradeço porque o
reconhecimento verbal é quase tão bom quanto um distintivo.
— Teve um bom fim de semana?
Tive. Tive, sim.
— Tive, obrigada. — Mentalmente dou um tapinha nas minhas costas,
porque tenho certeza de que disse isso em um tom normal eu-não-transei.
— Você parece diferente — ela comenta ociosamente ao pegar uma barra
de granola da parte de petiscos gratuitos organizada com vidros abertos no
balcão.
Oh, meu Deus. Estou com um brilho. Estou com o brilho de eu-transei. Eu
sabia que estava. Sabia que seria totalmente óbvio, e agora as pessoas vão me
imaginar como devo ser nua.
— Tomou um pouco de sol?
Ou elas só vão pensar que tomei um pouco de sol.
— Hum, não este fim de semana, não. Mas peguei uma cor desde que me
mudei para cá. Provavelmente é isso. — Coloco minha xícara no lugar do café
enquanto Bethany tira a dela e aperto o botão para selecionar uma opção. — E
você? — pergunto quando a máquina murmura e a primeira gota de café cai em
minha xícara. — Fez algo divertido este fim de semana?
— Cortei o cabelo — ela responde, dando de ombros. — Não algo que
muda a vida exatamente. Só um corte — complementa, segurando as pontas de
seu cabelo.
— Legal — digo por falta de algo melhor para dizer.
Bethany espera até minha bebida ficar pronta e, então, voltamos juntas às
nossas salas. Ela tem um escritório no fim do meu corredor, então me deixa em
minha sala, dizendo para ter um bom dia, enquanto continua até a sua.
Eu tenho. Completo uma lista inteira de verificações de currículo para um
grupo de funcionários para comida e bebida que vão começar esta semana,
depois me entretenho em preparar uma orientação especializada para os
funcionários do spa que começarão amanhã. Estou tendo o melhor dia da minha
vida, até meu computador apitar com um alerta de reunião da qual eu não sabia
que estava agendada.
Um alerta de reunião que começa em cinco minutos. No escritório de Rhys.
Desconfiei que ele estava me chamando para um tipo de sexo safado na mesa
dele, só que, quando abro o ícone da reunião, vejo que não somos os únicos
participantes. Além disso, ele nunca se portou diferente de profissional comigo
no escritório — mesmo depois de eu lhe propor na sala de descanso, antes de
saber quem ele era.
E isso, pensando agora, não foi nem de perto tão ruim quanto me prostituir
para ele depois de saber quem ele era.
Então. É isso. Vou ser demitida. Bethany está listada como participante da
reunião. Assim como seu chefe, Harrison, o vice-presidente dos recursos
humanos. E, finalmente, Lawson McCall, chefe do departamento jurídico do
Windsor — e testemunha da minha venda no Double Diamonds.
Expiro o ar grandiosamente e me lembro do número de empregos
disponíveis em minha área em Las Vegas. Ou poderia ser garçonete, como
Payton disse. Provavelmente ganharia mais dinheiro e ficaria com as pernas bem
torneadas de toda a correria. Isso é simplesmente muito confuso. Pensei —
pensei que estivesse seduzindo Rhys. Que ele estivesse sentindo as mesmas
coisas que eu.
Talvez seu fetiche seja partir corações, e nesse caso, que se dane ele.
Endireito os ombros e me levanto, empurrando minha cadeira perfeitamente
perto da minha mesa, porque não há necessidade de ser desorganizada em
tempos de estresse.
Estou pensando em qual Goodwill deveria passar a caminho de casa,
quando Bethany aparece em minha mesa e diz que vai me acompanhar. Ela não é
muito mais velha do que eu, e me pergunto se um dia já teve que demitir alguém.
Então penso se demitir alguém é igual a sexo, e você sempre se lembra do seu
primeiro. E, então, penso se ela não está me acompanhando, mas me escoltando
até a reunião e, então, paro de me importar tanto com o quanto isso pode ser
difícil para ela.
Somos as últimas a chegar. Nunca estive na sala de Rhys. Nunca estive em
nenhuma sala executiva. Eu sabia onde eram, perto da minha no departamento
de recursos humanos, mas no fim de um corredor pelo qual nunca tive a
necessidade de andar. Passamos o elevador particular que peguei para ir
trabalhar esta manhã, localizado em uma alcova logo depois do corredor
executivo, e dou uma olhada triste.
A sala de Rhys é previsivelmente enorme. Há uma mesa, uma sala de estar
com um sofá e uma mesa de centro e uma mesa de reunião posicionada diante de
janelas do chão ao teto com uma vista da Las Vegas Boulevard. Lawson e
Harrison estão na mesa de reunião, com a postura relaxada. Penso ter ouvido
algo sobre pontuação no golfe. Empatados? Não sei, mas parece que eles estão
falando de golfe. Rhys está em sua mesa, ignorando ambos, revisando uma e
outra coisa em um monitor de sua mesa. Ele deve ver que entramos na sala
porque olha em nossa direção com instruções de fechar a porta, então se levanta
e vai para a mesa de reuniões, sentando-se à ponta.
O Rhys profissional não é tão bom, na verdade. Ele é meio que focado e
frio, e decido que vou me lembrar dele como o Rhys do bar. Ou o Rhys do Del
Taco. Ou o Rhys da Goodwill. O Rhys que assistiu ao programa de reforma
comigo. O Rhys a quem dei minha virgindade e por quem nunca me
arrependerei de ter passado por tantos apuros.
Bethany se senta e me sento ao lado dela. Estamos diretamente à frente de
Lawson e Harrison, a vista da Strip às costas deles.
Então Rhys começa a falar.
Estou tão ocupado, que não consigo pensar direito. Então não penso. Só
continuo vivendo a semana. Na segunda, chego em casa só depois das nove.
Nunca tinha pensado na suíte em nada além de um lugar para dormir antes de
Lydia morar lá, mas ela mudou as coisas.
Na quarta, derrubei café na manga da minha camisa e, quando corri para o
apartamento a fim de me trocar, estava com cheiro de alguém cozinhando. Só
que era no meio do dia, e minha cozinha nunca é usada. Além disso, eu tinha
acabado de ver Lydia sentada em uma das salas de reunião no quarto andar,
então sabia que não era ela. Mas era. Ela tinha obtido uma panela de barro de
Deus sabe onde — não, não, eu sei exatamente de onde. Baseado na estampa de
flores marrons da panela de barro, ela é mais velha do que Lydia, e sei muito
bem que a comprou na Goodwill. Meio milhão de dólares não parecem tê-la
influenciado em seus hábitos de compras.
Carne de panela. Ela tinha feito carne de panela em uma panela de barro.
Quando lhe perguntei sobre isso depois do trabalho, ela disse que não tinha
problema, que havia pedido as compras para o serviço de quarto e não era mais
fácil ter o jantar pronto quando chegássemos em casa? Então ela me fez o
boquete mais inexperiente que já recebi desde o ensino médio, e gostei.
Mais do que gostei. Foi o melhor, menos habilidoso boquete da minha vida.
Ela começou perguntando se não tinha problema ela usar lubrificante.
— É de mirtilo — ela disse, acenando o tubo na mão, os olhos arregalados
em dúvida.
Como se o sabor cobrindo meu pau fizesse diferença para mim. Então ela
explicou que precisava do lubrificante porque não queria cuspir. Que as
mulheres nos vídeos que ela assistiu — para pesquisa — cuspiram, mas ela
pensava que havia um jeito melhor, porque, enquanto ela estava realmente
empolgada para chupar meu pau, ela não queria cuspir nele, se não tivesse
problema para mim.
Ela realmente pausou para esclarecer.
— A menos que cuspir seja a melhor parte? Posso cuspir, se você quiser.
Depois de confirmar que o lubrificante era novo e não comprado em uma
promoção pela metade do preço, dei a ela minha permissão e lhe disse que não
tinha opinião sobre cuspir ou não. Ela sorriu e abriu a tampinha. Não foi um
sorriso sedutor, nem um pouco. Ela não tentou me olhar por baixo dos cílios
enquanto lambia os lábios. Não ronronou como uma gatinha safada. Não. Ela
sorriu com se eu tivesse acabado de abrir a porta para ela e chacoalhou os dedos
com uma ansiedade empolgada como se não soubesse por onde começar. Então
abriu totalmente a tampa e colocou o dobro da quantidade necessária na palma
da mão e a envolveu em meu pau, seu nariz franzindo quando ela percebeu que o
exagero no lubrificante fez bem mais sujeira do que ela tinha pensado.
Quase gozei bem ali.
— Oh — ela murmurou. — Ok, um segundo. Posso consertar isso.
Então se levantou, retornando com uma toalha de mão do banheiro. Assim
que ela limpou a mão, ajoelhou-se de novo, desta vez o olhar mais sincero no
rosto ao olhar para mim, ajoelhando-se entre minhas coxas separadas.
— Pronto? — ela me perguntou, me envolvendo com a mão de novo e,
notando que o lubrificante estava mais do seu gosto, deslizou a mão até a base e
de volta para a cabeça antes de se inclinar para a frente e envolver os lábios na
cabeça, um pouco da língua lambendo a ponta.
Foi aí que uma mecha de cabelo dela grudou no lubrificante. Ela parou de
novo, tentando tirá-la antes de eu assumir e segurar o cabelo longe de seu rosto
em um rabinho, contendo-me em ditar o ritmo para ela. Ela me lambeu, da raiz à
ponta, com a língua na parte de baixo do meu pau. Conseguiu enfiar três
centímetros, e olhe lá, chupando e girando a língua. Então se sentou e disse:
— Ok, agora me sufoque com ele.
Ela sorriu, como se pedir para sufocá-la com meu pau fosse um favor para
ela, em vez de para mim.
Eu disse a ela que não e expliquei o motivo, o que nos rendeu uma segunda
conversa. Não acho que um mês será tempo suficiente para ensiná-la a sufocar
com meu pau. Não acho que um mês será tempo suficiente, ponto final.
Então ela me perguntou se poderia engolir — claro que perguntou — e,
depois, nós comemos a carne de panela em frente à televisão assistindo a um
programa sobre simulador de casas.
Carne de panela caseira. De uma panela de barro.
Parece que ela obteve um Tupperware tão histórico quanto a panela de
barro, porque encheu um recipiente com sobras e o colocou em minha geladeira.
Uma geladeira que agora continha creme de café e homus, uvas, queijo e não sei
mais o quê.
No domingo, eu ia pegar algo de meu home office quando passei pelo
quarto de hóspedes e dei uma segunda olhada. Não tinha percebido que ela tinha
colocado algo neste quarto, mas ela colocou. Tinha posto uma máquina de
costura na mesa. A máquina parecia relativamente nova, o que significa que é da
década passada, então pensei que não era uma aquisição recente da Goodwill,
mas algo que ela voltara ao seu apartamento para pegar. Havia pilhas de lençóis
cortados em cima da cômoda e rolos de elástico e fita. Dobrados no encosto da
poltrona estavam duas calças de pijama feitas. Deduzindo o óbvio, elas foram
feitas de lençóis.
Ela faz os próprios pijamas de lençóis velhos. Não sei se contratei uma
prostituta ou uma dona de casa. Tenho certeza de que sou um canalha. Eu a fiz se
mudar e a deixei sozinha todas as noites desta semana. Só consegui jantar com
ela duas vezes. Nas outras noites, cheguei em casa tarde, entrei e fiz amor —
fodi. Eu a fodi e depois dormi, levantando de manhã para ir à academia enquanto
ela ainda dormia. Eu me juntei a ela no chuveiro algumas manhãs, ou desci para
minha mesa antes de ela acordar em outras.
Ainda assim, olhar para esse hobby dela, do qual eu não sabia, me fez sentir
um babaca. Mas ela me faz querer tentar. Tentar ser diferente. Tentar ser melhor.
Tentar ir mais devagar e me importar com o que é de verdade e com o que é
importante. E acho que ela é de verdade.
E ela me faz rir. Durante o intervalo comercial de um dos programas de
procura de casas, começou um comercial de máquinas de lavar, fazendo
propaganda de seus ciclos profundos. Ela passou a mão na minha coxa e disse:
— Eu gosto quando você entra fundo em mim, Rhys.
Dei risada, sem perceber que era uma tentativa de sedução, não uma piada.
Ela piscou, aquele olhar levemente magoado que ela tem quando pensa que está
sendo rejeitada passou por seu rosto. Então a beijei e usei as analogias da
máquina de lavar para falar safadezas até ela sorrir de novo.
Jesus Cristo. Pode ser que a ame.
Rhys trabalha muito, mas tenho uma sensação estranha de que ele está
tentando arrumar tempo para mim. Como se tentasse me impressionar, o que
acho que significa que gosta de mim. Talvez de um jeito ainda mais-do-que-
trinta-dias. Sem querer parecer convencida ou sem humildade, mas achava que
ele poderia. Eu pensei que, se ele apenas me desse uma chance, poderia gostar
de mim do tipo de muitos-meses em vez de dois-dias-de-duração.
Afinal de contas, esse era o plano. Era meio que o plano. Eu me apaixonar
por ele não estava nos planos. E também é contra as regras. Somente sexo, ele
disse. Essa é a regra, ele disse.
Ele me disse que não havia felizes-para-sempre para nós, mas eu não ouvi e
agora há uma chance de sessenta por cento de eu estar apaixonada por ele. O que
realmente será um problema se ele decidir que trinta dias de mim é mais do que
suficiente para ele. Problema para mim, de qualquer forma. Mas não perdi a
esperança, porque ainda tenho duas semanas. A grande inauguração oficial do
Windsor é esta noite e também marca a metade do tempo de nosso… acordo.
Mas tenho motivo para ter esperança, porque, por exemplo, no domingo
passado, ele me acordou com um café gelado do Del Taco e dois burritos de ovo
e queijo. Na cama. Ele me trouxe Del Taco na cama. Então acho que realmente
gosta de mim, porque isso é cortejar. Você não pega o elevador para o
estacionamento, entra no carro, dirige, espera no drive-thru e se lembra do café
da manhã de uma garota a menos que sinta alguma coisa. Certo?
Além disso, outro exemplo, continuamos transando por bem mais tempo do
que sete a treze minutos. Embora uma manhã tenhamos feito uma rapidinha no
chuveiro, mas até isso demorou, no mínimo, dez minutos. Já que a internet
acabou sendo uma fonte estranhamente não confiável de informação nesse
assunto, perguntei a Payton sobre isso. Ela me explicou que a maioria dos caras
consegue gozar em aproximadamente três minutos se eles não estiverem
preocupados com o prazer da mulher, então acho que isso é porque Rhys está
profundamente preocupado com meu prazer.
No domingo passado, depois de me trazer café na cama, ele demonstrou sua
preocupação. Múltiplas vezes. Então tomamos banho juntos e fomos à Goodwill.
É. Goodwill! Dois fins de semana seguidos. Se isso não é cortejar, não sei o que
é. Claro, algumas garotas podem preferir um jantar chique, mas eu não sou uma
delas. E nem pedi que ele me levasse! Foi ideia dele. Depois de nosso banho, ele
disse para eu me vestir para que pudéssemos sair. Pensei que ele quisesse ir ao
mercado, porque tinha parecido realmente perplexo quando eu lhe disse que
estava pedindo as compras para o serviço de quarto, mas ele me levou à
Goodwill. E… e! Foi uma diferente da que tínhamos ido no fim de semana
anterior. O que significa que ele teve que usar o app deles para encontrar a loja.
O que significa — sinceramente significa: esqueça os sessenta por cento de
chance. Tenho setenta por cento de confirmação de que estou apaixonada por
ele.
Após nossa ida à Goodwill (comprei um conjunto de lençóis vintage
bordados), nós fomos ao Forum Shops na Caesars. O que confirmava que ir até a
Goodwill na Sahara era completamente fora do caminho e provava ainda mais
que Rhys poderia, de verdade, estar entusiasmadamente gostando de mim.
Comprei um vestido para usar na grande inauguração e, então, almoçamos tarde
no Palm. Exatamente como um encontro de verdade. Ele até conversou comigo o
tempo todo sem olhar para o celular nem uma vez. Perguntou há quanto tempo
eu costurava e não riu de mim quando expliquei sobre os pijamas de lençol.
É quase como se Rhys tivesse esquecido que me pagou para eu estar aqui.
Da minha parte, eu fizera meu melhor para fingir que esqueci como cheguei até
aqui.
Vince, no entanto, não tinha esquecido. Nem chegara perto de esquecer. Na
verdade, ele estivera bem ocupado. E prestativo, já que estamos pensando em
outra… ideia. Eu o estive enrolando porque não estou pronta para tomar
nenhuma decisão sobre o que vem em seguida porque estou em uma bolha no
momento. Estou feliz na bolha e não quero que a bolha seja estourada por nada.
Então, na realidade, estive ignorando Vince um pouco.
Mais porque ele fica me perguntando coisas estranhas como se falei com
Payton hoje, o que não entendo, porque já expliquei a ele que não estou sendo
mantida presa e converso com Payton quando quero. Mas é legal da parte dele
estar preocupado comigo, e ele me fez um favor terrivelmente grande, então eu
deveria ser mais educada. Ignorar alguém é um comportamento bem grosseiro e
não é de uma Trooper. Eu me sinto castigada só de pensar nisso.
Lydia está conversando com Vince, e ela está chateada. Agitada. Enquanto
eu estou preso conversando com o governador de Nevada, um membro do
conselho do Reino Unido e um magnata de Hollywood cujo nome não consigo
me lembrar embora tenhamos sido apresentados há cinco minutos. Porque estou
distraído. A única coisa que eu queria evitar durante esta inauguração eram
distrações, e acabei tendo a maior distração da minha vida.
Estou irritado por permitir que isso tenha acontecido. Permitir que Lydia
entrasse em minha vida e perturbasse tudo.
Estou mais incomodado por não conseguir escutar o que eles estão falando.
Por não saber por que ela está chateada ou o que a está fazendo arregalar os
olhos e fazer beicinho.
Porra de Vince. Vou dar um fim nisso esta noite. Por que ainda convivo
com pessoas assim? O que estou fazendo? O acordo com Lydia não pode
continuar assim. Nem por mais um dia.
Só que vai ter que continuar, porque Vince desaparece logo depois de eu vê-
lo conversando com Lydia. E não tenho oportunidade de conversar com Lydia
sobre o motivo de ela estar chateada porque ficamos em locais totalmente
opostos o resto da noite, ou rodeados por um monte de gente.
Todos a adoram. Entendo, de verdade, mas não quero compartilhar. Eu a
quero toda para mim como o canalha egoísta que sou. Quero levá-la para cima e
descobrir o que Vince queria, depois fazer amor com ela até ela falar “oh, oh,
oh” e “Rhys, Rhys, Rhys”.
Mas não acontece. Quando, finalmente, vamos subir, sou afastado para falar
com a presidente de uma empresa enorme de bebidas, uma mulher que voou da
França para participar da grande inauguração, então preciso falar com ela. Lydia
sobe sem mim e está dormindo quando me junto a ela trinta minutos depois.
No domingo de manhã, me levanto e vejo que Lydia acordou antes de mim,
o que nunca aconteceu.
— Precisamos conversar — digo a ela quando vou para a sala.
Acabei de sair do banho, uma toalha ainda enrolada na cintura. Sinto cheiro
de padaria, e Lydia está cortando bananas na ilha da cozinha. Está acordada e
vestida e, de alguma forma, já estou me sentindo bem atrasado no dia de hoje.
Verifiquei minhas mensagens antes de tomar banho, então sei que não dormi
demais. Também sei que não tenho menos de que doze mensagens de voz que
exigem resposta e Jennings quer me encontrar às dez para verificar os relatórios
de previsão para o próximo trimestre.
E é domingo. E estou cansado pra caralho. E tudo que quero é tomar café
da manhã no sofá com Lydia e assistir a qualquer programa de casa que esteja
passando às nove da manhã.
— O que está havendo com você e Vince?
— O quê? — Lydia olha para mim, confusa. — Oh, aquilo. Maluquice. Fiz
torrada com Nutella e bananas caramelizadas. Na panela de barro, viu como é
útil? Só tenho que grelhar estas bananas para pôr em cima e está pronto.
A panela de barro. Deve ser por isso que está com cheiro de alguém que se
importa aqui.
— De quanto mais você precisa?
— O quê?
— Quero que você fique. Então de quanto mais você precisa? Vou
conversar com Vince e cuidar disso.
Ela pisca lentamente para mim por muitos segundos conforme meu celular
apita com outra maldita mensagem.
— Tenho que fazer um monte de ligação, mas quero cuidar disso. Hoje.
Então qual é seu preço?
Lydia se vira de costas e coloca uma frigideira que não sabia que eu tinha
no fogão. Esqueça, tenho certeza de que não tenho frigideira. Ela deve ter
comprado em algum lugar. Me pergunto se ela pediu para o serviço de quarto
junto com as compras. Será que um dia vou parar de achá-la infinitamente
fascinante?
Lydia está mexendo no fogão, me ignorando, então volto para o quarto e
pego meu celular, digitando uma mensagem conforme retorno à cozinha.
— Me fale alguma coisa, Rhys. Me fale alguma coisa que não seja o que
acabou de falar.
— Não sei o que quer que eu fale.
Quero saber que porra ela estava conversando com Vince ontem à noite.
Quero saber o que ela sente por mim. Quero resolver toda essa incerteza. Meu
celular apita de novo e olhar para ele, depois mando a chamada para a caixa de
mensagens.
— Sabe de uma coisa, Rhys? Acho que você tem tanto medo de algo
verdadeiro, que se esconde atrás de trabalho e boates de strip e estupidez em
geral.
O quê? Ok. Solto a respiração. Ok, posso ter entendido tudo isso errado.
— Espere, então…
— Não, não quero esperar. Não sou mais uma garçonete, Rhys. No caso de
não ter percebido. Sou uma recrutadora e tenho feito tudo. Você é uma década
mais velho que eu. É você que tem toda a experiência e confiança e habilidades
de vida e, mesmo assim, sou eu que estou fazendo tudo. Fazendo. A coisa. Toda.
— Ela diz essa última parte devagar, como se estivesse pontuando as palavras.
— Ok. Vamos com calma. Se isso é sobre o café da manhã, sempre
podemos pedir o serviço de quarto.
— Oh, meu Deus. — Ela desliga o fogo e solta uma colher de pau. Eu não
sabia que tinha isso também. — É, Rhys. É sobre quem faz o café da manhã.
Você tem trinta e quatro anos. Acorde. Preste atenção no que está se passando na
sua vida por meio segundo. Que tal isso?
— Eu estou — respondo. — Prestei atenção na sua conversinha com Vince
ontem à noite. E é por isso que…
— Acha que estou tendo reuniões secretas com Vince, Rhys? — ela me
interrompe de novo. — No meio da grande inauguração na frente de todo
mundo? É. Certeza. Eu estava alinhando meu próximo contrato antes de subir
para procurar receitas em panelas de barro para o café da manhã.
— Não quero você com mais ninguém, Lydia.
— Mas não me quer para você também, não é? Não de verdade. — Ela
balança a cabeça e aperta os lábios, depois respira fundo. — Me pergunte como
me sinto, Rhys.
Desconfio que acordei do lado errado esta manhã.
— Esqueça. Eu vou te dizer. Me sinto… tipo vazia. — Ela dá de ombros
quando diz isso, mas é um dar de ombros triste, talvez até beligerante. — Me
sinto como se chegasse em um parque de diversão e visse que está lotado e não
posso entrar. Parece que alguém acabou de me contar que o Papai Noel não
existe antes de eu estar preparada. Parece que está chovendo dentro do meu
coração.
Percebo, meio tarde demais, que ela pegou a bolsa e passou a alça por cima
da cabeça enquanto vai até a porta.
— Só para constar, eu estava noventa por cento apaixonada por você.
Deduzi cinco por cento por ser financeiramente irresponsável, porque poderia ter
ficado comigo de graça se não tivesse tanto medo de seus sentimentos idiotas. E
dois por cento por ser um babaca. Provavelmente estou contando em dobro as
porcentagens idiotas em relação às porcentagens do dinheiro, mas sabe de uma
coisa: não me importo.
— Lydia, espere.
Tento segurar a porta com a mão, para impedi-la de abrir, o que é
simplesmente uma merda, e ela me recompensa com um olhar que diz
exatamente isso. E então ela vai embora.
Porra. O que acabou de acontecer?
Eu fodi com tudo. Fodi com tudo e não faço ideia de para onde ela foi.
Liguei para Canon enquanto me vestia, uma mão no celular e a outra enfiando a
camisa pela cabeça, e pedi que ele a rastreasse da porta da minha suíte,
esperando que ela estivesse em algum lugar no hotel. Sabendo que não estaria.
Ela não estava. Pegou o elevador até o estacionamento, entrou em seu carro
e saiu da propriedade menos de dois minutos depois. E não vai atender se eu
ligar porque seu celular está no criado-mudo ao lado da minha cama, carregando.
Caralho. Provavelmente ela não teria atendido de qualquer forma, mas
odeio que ela esteja sem celular. E se seu carro quebrar ou acabar o combustível
ou ela quiser ligar para alguém que não seja eu?
Nem sei quem são seus amigos, além de Payton, ou se ela fez amigos desde
que se mudou para Vegas. Digo a Canon para falar para Payton e instruí-la que
me ligue se Lydia voltar para seu apartamento. Então, abro o app Goodwill no
celular ao entrar em meu carro. Será que ela iria para aquela entre o Windsor e
seu apartamento? Acho que seu carro não tem GPS, então ela não vai conseguir
encontrar as lojas às quais ela ainda não foi, mas isso não elimina uma única loja
porque provavelmente ela já foi em todas elas.
Por que há tantas malditas Goodwill em Las Vegas? Saio com o carro e sigo
para a loja na Tropicana. É a primeira a que fomos juntos, duas semanas atrás, e
fica entre minha casa e a dela. O estacionamento está muito lotado para fazer
uma busca rápida por seu carro, então eu entro. Ela não está lá. Claro que não
está lá, afinal por que deveria ser fácil? Eu não mereço que seja fácil. Ligo para
Canon e pergunto se ele consegue hackear nas câmeras de segurança da cidade
para rastreá-la desde quando saiu do estacionamento.
Ele ri de mim e desliga. Ligo de volta e digo para ele me cobrir porque vou
tirar o dia de folga. Porque Lydia tem razão sobre tudo. Porque eu não prestei
atenção na minha própria vida e agora a melhor parte dela se foi. Coloco o
celular no banco do passageiro, volto ao carro e penso se ela teria ido à loja na
Maryland ou na Sahara, onde a levei semana passada. Ou ela teria ido para uma
das seis em Henderson, mais perto de seu apartamento? Jesus. Decido dar uma
chance à que fica na Maryland. É mais perto do hotel do que a da Tropicana,
então talvez ela tenha ido nessa primeiro. Ou talvez eu passe o dia todo atrás
dela de um centro de doação ao outro.
Vou atrás dela o quanto precisar. O quanto ela me deixar. Ela não está na de
Maryland.
Não está em seu apartamento. E não voltou ao hotel.
É hora de fazer uma visita a Vince.
— Cadê a Lydia?
Encontrei Vince em seu escritório no Double Diamonds e pulei as
formalidades. Passei da fase de ser educado com esse babaca.
— Eu a enviei para olhar umas propriedades — Vince responde sem se
incomodar com minha chegada ou minha atitude. Ele nem está olhando para
mim, ocupado demais com seu laptop para se importar. Provavelmente está
calculando a receita da noite ou fazendo uma encomenda de desinfetante de
poles, maldito canalha. — Você a quer de volta?
Digo a mim mesmo que matá-lo só vai atrasar meu encontro com Lydia.
— Sim, eu a quero de volta, babaca. O que você tem sobre ela, Vince?
Quanto ela te deve? Fale seu preço para podermos acabar com essa brincadeira.
— Outro milhão mudaria as coisas — ele diz lentamente, encostando-se na
cadeira ao me analisar com interesse.
— Certo. Vou fazer a transferência hoje, e então você não tem mais nada
com ela. Agora me diga onde posso encontrá-la.
— Você é um idiota. — Ele se inclina para a frente na cadeira de novo e me
encara. — E nunca mais falar com Lydia será um problema para mim.
— Por quê?
— Estou casado com sua melhor amiga, para começar.
Eu o encaro, esperando que as palavras façam sentido.
— Você se casou com Payton?
Sinto que estou perdendo algo aqui. Eu me sento na cadeira à frente de
Vince e desvio o olhar um pouco. Só um pouco. Ainda não estou preparado para
estar errado sobre Vince. Além do mais, ele ainda é um babaca,
independentemente de qualquer coisa.
— Sim. Me casei com Payton, Deus me ajude. Até onde Lydia sabe, você é
a única pessoa que não consegue enxergá-la direito se não descobriu isso até
agora.
— O que quer dizer com isso?
— Ela é transparente pra caralho. Você nem sabe o quanto tem sorte. Queria
eu que Payton fosse tão transparente. Não faço ideia em que porra ela está
pensando ou onde ela está na maior parte do tempo.
— O que está dizendo exatamente?
— Aquele leilão foi todo para você. Prostituição nem é legal em Clark
County, Rhys. A coisa toda foi uma armação. Acha que estou adicionando meio
milhão em meus registros pela venda de uma virgem? Aqui é uma boate de
cavalheiros, não um bordel, seu otário.
— É, como se não houvesse prostituição em Las Vegas — contra-
argumento. — Nós dois sabemos que não é esse o caso.
— Com certeza. Mas não comigo. Eu administro um negócio legítimo aqui.
Caralho. Nós nos encaramos separados pela mesa dele e sei que ele está
dizendo a verdade, tenho quase certeza. Mas, porra. Será que eu prestei tão
pouca atenção assim?
— E aquele cara com quem eu estava competindo no leilão? Stan?
— Stan é o cara da manutenção aqui e aquele terno me custou uma nota.
Vou te mandar a conta dele, aliás.
— Teve um e-mail — contra-argumento. — Uma newsletter.
— Uma newsletter — ele repete de volta para mim como se eu fosse um
idiota. — Claro que vendo sexo por uma newsletter, Rhys. Ganho inscritos pela
newsletter como todos os outros bordéis do estado — ele solta e, é, agora estou
enxergando. Sou um idiota. — Nos reunimos no Starbucks e pensamos em
formas de nos promover — ele continua. — Você nos descobriu. Bom trabalho.
— Já entendi. A newsletter foi falsa — eu completo, mas é desnecessário,
porque Vince não está me escutando.
— Foi ideia de Canon. Eu disse a ele que era idiota demais para alguém
acreditar, mas ele disse que…
— É, sou um idiota. Já entendi — interrompo, ansioso para chegar à parte
em que descubro onde encontrar Lydia e consertar isso. Aceno para ele
continuar.
— Ele disse que você andava bem distraído — Vince continua. — E que a
visualização iria te ajudar a vir aqui.
Canon sempre adorou visualização.
— Espere. Como Canon se envolveu nisso? Ainda não entendo de onde
essa conspiração toda saiu, em primeiro lugar.
— Lydia — Vince responde como se eu fosse especialmente lento. — Foi
tudo ideia de Lydia. Pelo que ela me disse, vocês dois tiveram um lance em um
bar, mas ela pensou que você tivesse um fetiche de pagar-por-isso porque não
pôde avançar com ela.
Vince não poderia estar menos impressionado comigo neste momento. Ele
simplesmente ergueu dois dedos e os flexionou no gesto universal de aspas
quando disse “fetiche de pagar-por-isso”.
— Eu não…
— Não quero saber — ele interrompe, balançando a cabeça. — Liguei para
Canon para descobrir se alguma coisa que ela estava dizendo era verdade ou se
ele precisava que eu ligasse para a polícia para denunciar que você tinha uma
doida te perseguindo. Canon confirmou que vocês dois tiveram um lance. — Ele
faz aspas de novo quando diz “um lance” como se fosse ridículo para ele. — E
ele ficou bem atraído pelo grande plano de Lydia em te seduzir e para você
admitir que estava interessado nela ao fingir um leilão. Eu estava me sentindo
especialmente caridoso naquele dia, então nós pensamos no melhor jeito de te
trazer até aqui.
Faço uma nota mental para cortar a equipe de Canon. Ele realmente tem
tempo demais sobrando.
— Então o dinheiro foi para quê? Por que você me incitou até meio milhão
se tudo isso é falso? — pergunto, mas minha mente está pensando em como
estraguei tudo epicamente com Lydia.
— Não sou contrário a doações beneficentes, Rhys. Fazer você financiar
uma causa beneficente era o mínimo que você poderia fazer para me reembolsar
pelo meu tempo.
— Você é um otário mesmo, sabe disso?
Vince dá de ombros.
— Foi por uma boa causa.
— E qual seria a causa? — pergunto. — Pastéis de mamilo de folha de ouro
para todos?
— Lydia não queria o dinheiro — Vince responde, ignorando minha ironia
ao passar um dedo pelo mousepad em seu laptop. — Eu estava te incitando para
meu próprio divertimento. E pela causa, claro — ele complementa, abrindo um
sorriso sarcástico para mim.
— Certo. A causa. Que é?
— Um novo local de camping — Vince responde, virando seu laptop para
eu olhar. — Para as Girl Troopers da Grande Las Vegas. Encontrei uma
propriedade ótima na Red Rock, mas a propriedade não tem uma cabana
adequada. Tem uma lá, mas foi abandonada há uma década e o corretor disse que
está inabitável. Além disso, você sabe como é quente aqui — ele diz, erguendo a
sobrancelha. — Uma piscina seria um complemento legal. Para as acampantes.
— Era para isso que você precisava de meio milhão?
— Era. Presumindo que Lydia goste da propriedade. Vou colocar a
propriedade na garantia, então contratar um empreiteiro para verificar a cabana
existente e construir algo melhor. Adicionar uma piscina, talvez uma quadra de
tênis. Depois vamos doar para as Girl Troopers.
— Ela vai querer reformar. — Suspiro. — Ela vai querer salvar qualquer
estrutura em ruínas que existir com alguma visão romântica de seu charme
histórico. Mesmo que seja um monte de merda dos anos 1980. Vamos precisar
contratar alguém que possa reformar ou usar o que restar para construir um
balanço na varanda ou alguma merda assim. Isso a deixará feliz.
— Por mim, tudo bem. — Ele dá de ombros. Ele tira um Post-It da gaveta
da mesa e rascunha o endereço do camping, depois me entrega. — Acabamos
aqui? Vou te mandar um recibo da doação beneficente. Não espere muito para
sair e ainda pode encontrá-la lá.
— Obrigado, Vince.
— Ela é boa demais para você.
— Eu sei. Eu a quero mesmo assim.
Se não for tarde demais. Não pode ser tarde demais porque não posso voltar
a viver sem Lydia.
Red Rock é saindo de Vegas e, de acordo com o GPS do meu carro, devo
chegar ao camping a que Vince me mandou em pouco mais de meia hora. O que
significa que tenho meia hora sentado no carro para pensar no quanto sou
babaca. São dois quilômetros e meio reto pela Charleston até fazer curva, e
começo a acelerar até o camping.
Demora mais dez minutos e quase uma entrada perdida para chegar ao meu
destino, e fico aliviado ao ver dois carros parados do lado de fora da cabana, que
deveria, com certeza, estar condenada. Estaciono ao lado do carro de Lydia e
observo o local, em dúvida se elas estão lá dentro ou andando pela propriedade.
Não há porta na cabana, nem um teto de verdade. Não vejo ninguém, então vou
para a porta. Ou o que seria a porta.
Escuto a voz dela assim que passo pela soleira. Ela está em pé com a
corretora encarando uma janela na lateral da cabana, sem vidro. Há uma vista do
Cânion Red Rock no fundo, mas nem chega aos pés do brilho de Lydia.
— Eu escolhi um cisne ruim — ela está contando à mulher. — Escolhi um
cisne ruim e acasalei com ele e agora estou presa a ele porque estou noventa e
três por cento apaixonada por ele, embora ele seja um idiota. — Ela balança a
cabeça, depois para abruptamente, inclinando-se na direção da corretora. — Não
o acasalamento do tipo que engravida, só do tipo divertido. Posso falar? Fui uma
Trooper por treze anos, sabe? Ganhei todos os distintivos de saúde, então sei
como é um acasalamento de reprodução e me preveni. Provavelmente vou
ganhar um distintivo “não engravidou sem querer”.
— Hum… — a corretora responde, inclinando a cabeça para o lado,
claramente sem saber como responder a qualquer coisa que acabou de sair da
boca de Lydia. Então ela me vê e o alívio toma sua expressão. — Bom, veja só.
Parece que seu cisne veio atrás de você.
Lydia se vira e seus olhos brilham de surpresa. Um olhar de confusão em
seguida.
— Rhys. — Ela suspira um pouco ao falar isso, e soa como uma pergunta.
— Vou deixar vocês dois sozinhos. — A corretora sorri e, dando um olhar
entre nós dois, se vira para sair.
Seus saltos clicam no chão até ela chegar à varanda, Lydia e eu ficamos
quietos até que ela saia. Então me aproximo dela, andando lentamente em sua
direção enquanto observo o interior da cabana.
— Lugar legal — digo para começar.
— É. — Ela assente. — É mesmo. Tem muito potencial. — Ela ergue um
pouco o queixo. — Com a visão certa, poderia ser bem especial.
— Desculpe.
Ela pisca rapidamente e respira, mas eu continuo antes que ela diga algo.
— Desculpe por tudo. Exceto por aquele primeiro beijo no bar. Aquela foi a
melhor decisão que já tomei. Desculpe por tudo que veio depois.
— Você está se desculpando? — Ela pisca de novo. — Desculpando do tipo
“deseja que não tivesse acontecido”?
— Deus, não. — Balanço a cabeça. — Desculpando do tipo “estou
apaixonado por você”. Do tipo “espero que não tenha fodido tudo”. Do tipo
“espero que me dê outra chance”.
— Oh.
— Desculpe por ter te dado sinais confusos. Desculpe por abandonar você
no bar e desculpe por colocá-la em uma posição para pensar em um plano
totalmente maluco a fim de chamar minha atenção.
— Também peço desculpa. Minha hora não foi boa. Deveria ter esperado
até depois da grande inauguração, mas fiquei com medo de você se apaixonar
por uma prostituta de verdade em vez de por mim.
— Não é possível. — Balanço a cabeça.
— Claro que é. Tudo é possível.
— Você é a única mulher para mim, Lydia. Não sei o que posso te oferecer
— digo baixinho, colocando uma mecha de cabelo atrás de sua orelha e levando
suas mãos aos meus lábios. — Mas estou apaixonado por você e quero tentar.
— O que está fazendo? — Ela parece assustada e dá um passo para trás,
tirando a mão de mim. — Vai me pedir em casamento neste instante?
— Não ia, na verdade. Mas posso. Me caso hoje com você, se precisar.
— Não!
— Ok, uau. Foi um não bem espirituoso. Então não quer se casar comigo?
— Nos conhecemos há menos de dois meses, Rhys. Quero ser cortejada.
Paquerada. Pedida de uma forma romântica. Em algum lugar que não seja Del
Taco. Não, isso é mentira. Del Taco é legal, na verdade.
— Quer ser cortejada com café gelado do cardápio?
— É muito bom, Rhys. Independentemente do que diga.
— Muito bem.
— Aqui vai um spoiler, Rhys: eu vou me casar com você. Algum dia. Mas
isto — ela gesticula entre nós com seu dedo — não é meu pedido. Você vai pedir
um dia, quando nós dois estivermos prontos, e vai fazer direito. Me entendeu?
Que bom. As palavras “não ia, na verdade, mas posso” não sairão da sua boca
nesse momento. Entendido?
— Sim, senhora.
— Que bom. — Ela semicerra os olhos para mim como se não soubesse se
meu sim era sincero ou não.
— Posso falar uma coisa?
— O quê? — ela solta.
— Esse negócio de você ser mandona é excitante.
Um sorriso lento se abre em seu rosto junto com um pouco de rubor.
— Posso falar outra coisa?
— Ok — ela concorda, desta vez sorrindo.
— Você tinha razão quando disse que estava fazendo todo o trabalho e
quero consertar isso. Vai me deixar? Porque realmente preciso ganhar esses
setenta por cento de volta.
— Humm — ela murmura enquanto pensa. — Eu tenho alguns distintivos
ainda para ganhar. Talvez possa me ajudar com eles.
— Eu adoraria.
— Era uma vez uma garota que entrou em um bar e sequestrou meu
coração, mas eu era burro demais para ver o que estava acontecendo. Felizmente
para mim, ela era do tipo de garota muito bem orientada por um objetivo e que
decidiu ir contra toda a lógica de que eu valia a pena. Eu não valia, mas isso não
a impediu. Graças a Deus que isso não a impediu.
— Rhys! — Lydia chia. — Não conte isso a ele! Não é uma versão correta
de conto de fadas. Nem uma versão apropriada.
— Shhh. É nossa história preferida para dormir. Além disso, ele é um
cachorro, e não acho que se importe com qual versão eu conte.
Nós dois nos viramos para olhar para nosso novo cachorro, Trooper. Ele
bate o rabo contra o chão e inclina a cabeça para o lado, olhando para cima
conforme tenta identificar se Lydia está prestes a lhe fazer um carinho extra na
barriga antes de dormir. Ele é um vira-lata com mistura de Labrador que
pegamos com um grupo de resgate, mas não acho que deveria ser surpresa para
alguém. Lydia ama resgatar coisas. Pessoas, lençóis velhos, turistas perdidos, um
casal de cisnes que precisavam de patrocínio — sinceramente, não perguntei os
detalhes sobre esse último. Trooper é um cão adulto e malcomportado. Bem
parecido comigo quando Lydia me encontrou. Ela diz que ele tem potencial.
— Ele precisa dormir no canil dele?
Trooper abana o rabo em resposta. Ele sabe como me convencer.
— Sim. Precisa, sim. Até ele ganhar o distintivo de bom comportamento de
que precisa para dormir em seu cesto.
— Ele só comeu dois de seus sapatos — argumento. Trooper baixa a cabeça
e emite um grunhido dramático. — E um era um chinelo. Nem conta.
— Conta, Rhys. Assim como conta comer duzentos gramas de bife do
balcão depois de me distrair virando sua tigela de água.
Trooper fica de barriga para cima e balança o rabo de novo.
— E se o melhor cachorro que ele consegue ser ainda for terrível? — Estico
o braço e faço carinho em sua barriga.
— Então vou comprar sapatos novos.
— Ou você poderia simplesmente andar por aí descalça e grávida,
afirmando que sapatos são irrelevantes.
— Você gostaria que eu andasse descalça e grávida? Parece terrivelmente
inconveniente.
— Qual dos dois? Estar descalça ou grávida?
— Descalça enquanto grávida. Imagine cortar o pé enquanto anda descalça,
mas estar tão grávida, que não consegue alcançar o próprio pé para cuidar dele.
— Lydia.
Eu me levanto e aponto para Trooper ir para seu canil. Ele o faz sem
reclamar, girando antes de apoiar a cabeça nas patas da frente.
— O quê?
— Acho que deveríamos falar sobre o acasalamento do tipo reprodutivo.
Ter uns filhotes de cisne.
Lydia sorri.
— Você sabe que bebês de cisnes são chamados de filhotes?
— Claro que sei. — Certo. Prestei um pouco de atenção no pacote de
patrocínio dos cisnes.
— Baby. Isso é tão sexy. — Lydia está me olhando e lambendo os lábios
como faz quando volto da academia, com a camisa pendurada no ombro.
Ela ainda é fácil demais.
— Poderíamos comprar uma casa. Trooper precisa de um quintal. As
crianças vão precisar de um quintal. E eu poderia estar enganado, mas tenho
quase certeza de que nenhum ônibus escolar faz uma parada na Strip.
— Poderíamos comprar uma casa que precise de reforma! — Lydia
exclama.
Ela foi para a cama e está sentada de pernas cruzadas em cima da cama,
usando calça de pijama e uma blusinha.
— Ou poderíamos construir — sugiro. — Encontrar o terreno perfeito com
uma vista da Strip de um lado e as montanhas do outro. Construir como
queremos.
— Ou poderíamos comprar uma casa que precise de reforma!
— Ou poderíamos comprar uma casa que precise de reforma — concordo.
Porque, desde quando parei de ser egoísta, não sou mais tão burro.
— Será exatamente como um episódio de House Hunters — Lydia diz,
sonhadora. — Só que eu vou poder ver todas as casas, em vez de apenas três.
— Será exatamente assim — concordo. — Só que melhor.
Eu passava todos os dias, desde quando pensei que havia estragado tudo
com ela, apreciando-a. Apreciando o que temos juntos. Passamos fins de semana
explorando Vegas. Fins de semana viajando. Noites fazendo nada e dias fazendo
tudo. Fomos a Austin para os foodtrucks de taco e San Antonio para os tacos
recheados. Quando fomos a Paris, em lua de mel, comemos crepes, e ela os
chamou de tacos franceses. Depois ela riu de si mesma até quase ficar sem
fôlego. Eu me apaixonei por ela de novo.
Lydia torna toda experiência melhor. Estar com ela parece ser sorte, destino
e ganhar na loteria. É como ter confiança e amizade e um lar. Seu amor é como
uma surpresa tão boa, que você nunca ousaria ganhar, mas, quando ganha, você
a segura forte.
E é o que vou fazer. Vou segurar minha boa garota para sempre.