Abandono Escolar
Abandono Escolar
Abandono Escolar
Resumo
Esta pesquisa teve como objetivo conhecer os principais fatores que contribuem para a
evasão no primeiro ano do ensino médio da Escola de Ensino Médio Maria Marina
Soares no município de Guaraciaba do Norte- CE. Os índices de abandono do ano de
2013 serviram de base para contextualizar o problema que afeta o alcance das metas
estabelecidas pela escola. Os dados obtidos durante a pesquisa relativos ao ano letivo de
2014 mostram que o problema do abandono escolar ainda não foi resolvido. A natureza
quali-quantitativa da pesquisa deve-se a aplicação de questionários que continham
perguntas abertas e fechadas para a coleta de informações com alunos, professores e
equipe gestora. A análise dessas informações revelou que o desinteresse dos alunos é a
principal causa do abandono nesta referida série, porém existem outros fatores como a
repetência e a gravidez das jovens alunas. Professores e principalmente os gestores
recorrem aos pais e tentam sensibilizar o aluno para que ele compreenda a importância
do estudo para sua vida pessoal e profissional.
De forma geral, os fatores que contribuem para o abandono escolar podem ser
analisados a partir de duas abordagens distintas. Uma delas, está relacionada ao que
ocorre fora do ambiente escolar como a desigualdade social, o trabalho e a família. Na
outra, a própria escola é apontada como fator contribuinte à evasão, assim como o
professor.
O problema da evasão escolar vem sendo analisada e discutida em todos os níveis e
modalidades. Os estudos já realizados sobre o tema apontam diversos fatores que
concorrem como possíveis causas dos elevados índices de abandono nas escolas
públicas. A massificação e o atual modelo de ensino que não mais atrai os alunos, a
crise de valores da sociedade moderna, a necessidade de ingresso no mercado de
trabalho, são aspectos apontados como causas da evasão. A ‘bola’ vem sendo jogada da
escola para a família e vice-versa.
Nesse sentido, temos como principal objetivo conhecer os principais fatores que
contribuem para a evasão no primeiro ano do ensino médio. A relação entre os sujeitos
pesquisados com o índice de evasão. E ainda, estabelecer a relação entre o desempenho
escolar e a evasão no primeiro ano do ensino médio. Nosso objetivo vai além da
investigação ao sugerir intervenções para a redução das taxas de abandono na escola
pesquisada.
Revisão de Literatura
Contextualizando o abandono e a evasão escolar
Os temas evasão e abandono escolar vêm sendo debatidos, estudados e discutidos por
estudiosos e educadores brasileiros ao longo dos anos, contudo pouco sucesso se tem
obtido quanto a redução dos índices que se tornam cada vez mais preocupantes. O
debate envolve diversos setores da sociedade e põe em questão o papel de cada um. No
que diz respeito à educação, ela é um direito assegurado pela Constituição portanto é
dever do Estado e da família garantir o acesso e orientar a criança e o adolescente na sua
trajetória sócio-educacional. Embora haja essa garantia o que se observa é a
descontinuidade da trajetória escolar. Diagnóstico divulgado em julho de 2014 pelo
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) intitulado "Vamos lá, Brasil! Por uma
nação de jovens formados", revelou que somente 58% dos jovens que ingressam na
escola terminam o Ensino Médio (MARINHO, 2014). Esse mesmo estudo revela ainda
que para os jovens das classes sociais mais baixas o diagnóstico é ainda pior, somente
30% concluem essa etapa da escolaridade tendo como o principal motivo do abandono o
desinteresse pelos estudos. Os jovens não acreditam que a educação seja o caminho para
terem melhores condições de vida.
Essas taxas demonstram que as políticas públicas voltadas para o combate do abandono
escolar nem sempre tem obtido êxito. Como diversas causas podem provocar tal
fenômeno, algumas delas podem ainda não terem sido analisadas a fundo. Descobrir o
que causa esse esvaziamento nas escolas brasileiras é tarefa não apenas dos órgãos
governamentais, mas da sociedade como um todo, principalmente educadores e
gestores.
Algumas causas do abandono escolar podem ser resolvidas com políticas públicas que
atendam às necessidades dos alunos. Um exemplo de como uma gestão preocupada e
com foco na aprendizagem pode fazer a diferença é a experiência de Sobral. Com o
título “Sobral vira modelo nacional em gestão” uma reportagem do jornal Estado de São
Paulo, de 25 de abril de 2014, destaca as ações realizadas pela administração municipal
para elevar os índices de proficiência e reduzir as taxas de abandono. Segundo a matéria
“as taxas de abandono no ensino fundamental eram de 9,94% em 2000. Há dois anos
esse índice foi zerado”.
Medida considerada simples, mas que se mostrou muito eficaz.Quando o aluno não
comparece à escola, um profissional entra em contato com a família para averiguar o
que aconteceu e repassar o conteúdo do dia para o aluno. Caso seja necessário o
profissional vai à casa do aluno conversar com os pais. O elo entre família e escola fica
fortalecido e os pais compreendem a importância deles no acompanhamento da
educação dos filhos.
Essa mesma pesquisa mostrou que o percentual de alunos que se evadem pelo
desinteresse pelo estudo é bem maior que os que abandonam por entrarem no mercado
de trabalho. Segundo Neri (2009) 40% abandonam porque não gostam ou não
encontram motivos para estudar e apenas 27% por causa de trabalho. Nessa pesquisa,
embora o trabalho seja um motivo para o abandono, não se mostra como o principal.
Ainda de acordo com o autor aos 13 anos de idade, a proporção dos que frequentam a
escola é de 97%. Essa proporção cai para 83%, 74% e 53% aos 16, 17 e 18 anos,
respectivamente. Nessa faixa etária de 13 a 18 anos muitos jovens não se preocupam
com as consequências de seus atos. Existe uma demasiada valorização do presente em
detrimento de um futuro que se apresenta incerto.
A escola é um espaço pouco atrativo para aqueles que não se motivam apenas com a
esperança de que a escolarização lhes trará benefícios futuros. Melhorar a qualidade do
ensino pode ser a fórmula para tornar a escola mais atrativa. Para isso é preciso rever
algumas políticas e práticas pedagógicas. Essa melhoria deve ocorrer em todos os níveis
desde a educação infantil, pois cada etapa é o suporte à etapa seguinte.
Quanto aos fatores oriundos na própria instituição escolar é possível perceber que a
dificuldade dos alunos em acompanhar os conteúdos interfere na progressão para a série
seguinte, e como consequência da reprovação vem a falta de vontade de continuar os
estudos.
Dados de um estudo realizado pelo Instituto Unibanco, entre os anos de 2009 e 2010,
mostram que muitos alunos abandonam os estudos à medida que o ano letivo se
desenrola (NERI, 2014). Esse estudo deixou claro que as deficiências trazidas do ensino
fundamental reforçam a perspectiva de não conclusão do Ensino Médio. Os alunos com
maior dificuldade de aprendizagem e os que já estão fora da idade correta para a série
que frequentam devido à reprovação são sérios candidatos a abandonarem os estudos. O
desafio de possibilitar aos jovens a aquisição de conhecimentos necessários que lhes
permitam romper com o ciclo repetência-evasão deve ser prioridade no planejamento e
desenvolvimento de políticas públicas para o campo educacional.
Outro fator que é recorrente para essa questão da desmotivação para o estudo é o fato de
o currículo escolar ser extenso e muitas vezes enfadonho. Um currículo desprovido de
significado prático tem pouca chance de ser atrativo para os jovens de hoje.
O que deve ser considerado é que a escola deixou de ser aquele espaço apenas de
domínio escolar. A escola hoje é afetada diretamente por fenômenos que extrapolam
seus muros. Os problemas da rua, da localidade, das famílias e da sociedade, embora
não estejam literalmente em seu interior, já estão entre seus muros. Os problemas que
causam o abandono ou a evasão escolar não se limitam a um ou dois. Os fatores
externos somam-se aos fatores já existentes. “São tantos os obstáculos que na escola
acabamos gerando inimigos ao invés de aliados: falta de uma linguagem comum; falta
de uma linha comum de atuação; perda da força do coletivo”. (VASCONCELLOS,
2002, p. 38 a 40). Foco na aprendizagem é a alternativa para permanência do aluno na
escola e a conclusão do ensino médio.
Metodologia
Optamos por uma pesquisa de perfil quali-qualitativo por se tratar de verificações feitas
em ambientes escolares. De acordo com Bogdan e Biklen (1994, p.11) “a influência dos
métodos qualitativos no estudo de várias questões educacionais é cada vez maior.
Pineda (et.al. 1994, p. 26) define a investigação qualitativa como sendo de “índole
interpretativa, e se realiza com grupos pequenos de pessoas, cuja participação é ativa
durante todo o processo investigativo e tem como meta a transformação da realidade”.
Por ser essa pesquisa de caráter qualitativo seus resultados não podem ser generalizados
para outros grupos, pois se trata de um estudo de grupos isolados. Como afirma Queiroz
(2006, p. 93) “sem o recurso da quantificação, a pesquisa qualitativa não produz
generalizações para se construir um conjunto de leis do comportamento humano, nem
pode aplicar testes adequados de validade e fidedignidade”.
A escola pesquisada é denominada Escola de Ensino Médio Maria Marina Soares está
localizada à Avenida 12 de novembro, nº 119, no centro do município de Guaraciaba do
Norte, no estado do Ceará. A denominação dessa avenida deu-se em homenagem a
fundação da escola aos 12 de novembro de 1953. Em 2013, a escola completou 60 anos
de muita história e tradição na educação do município. Por ter uma excelente
localização, é a primeira opção da grande maioria de pais e adolescentes,
principalmente, aqueles que residem na sede do município.
A escola funcionou nos turnos manhã, tarde e noite com 7 turmas de primeiro ano, 6
turmas de segundo e 5 turmas de terceiro ano com uma matricula inicial de 712 alunos
no ano letivo de 2014. As metas estabelecidas para o ano de 2014 foram: aprovação de
88%, 12% de reprovação e 7% de abandono.
Destas sete turmas de primeiro ano optamos por pesquisar apenas as turmas do turno
tarde. O turno da manhã geralmente não apresenta casos de abandono, estando o turno
da tarde com os maiores índices de abandono no período diurno.
O uso do questionário justificou-se por se tratar da técnica mais fácil de ser aplicada
para um grupo grande de indivíduos. O formulário impresso com perguntas otimizou o
tempo de coleta, porém sempre há o risco de se obter respostas curtas e pouco claras, o
que em algumas indagações dificultou a interpretação das informações.
Feminino 35 52,3%
Total 67 100,00%
O mercado de trabalho para jovens do sexo masculino que ainda não concluíram o
Ensino Médio traz a oportunidade de ganho real e a certeza para muitos da
independência financeira. Essa situação dificulta a permanência do jovem na escola,
abrindo espaço para o aumento do número de mulheres nas escolas, principalmente no
Ensino Médio. Embora existam fatores que atingem o sexo feminino como o casamento
e a gravidez ainda na adolescência, o número de mulheres que cursam o Ensino Médio
supera a taxa de homens segundo dados do censo escolar/ 2013. De acordo com
informações contidas no site oficial do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
(INEP) o número de mulheres é de 54%, já os homens 46%.
Total 67 100,00%
Total 67 100,00%
Doença 01 12,50%
Gravidez 01 12,50%
Reprovação 01 12,50%
Total 08 100,00%
Pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) coordenada pelo pesquisador
Marcelo Neri (2009) revelou que 40% dos jovens entre 15 e 17 anos deixam de estudar
simplesmente por acharem a escola desinteressante. Esse desinteresse do aluno está na
ideia de que a escola não atende às necessidades atuais dos jovens que vivem em um
mundo de fácil aquisição de informações através da internet. Na escola eles não
encontram os mesmos atrativos que o mundo digital possibilita.
Total 67 100,00%
Total 67 100,00%
Total 67 100,00%
De 05 a 10 anos 01 20,00%
Total 05 100,00%
TABELA XI – NA AUSENCIA CONSTANTE DO ALUNO
Fonte: Questionário aplicado aos docentes do 1º ano turno tarde da E. E. M. Maria Marina Soares no
semestre letivo 2014.2 em Guaraciaba do Norte- CE
Como podemos ver na tabela acima todos os professores consultados informam a
coordenação quando um de seus alunos das turmas pesquisadas não está frequentando
regularmente às aulas. Observa-se que a primeira ação do professor é repassar o
problema para a gestão. Embora, algumas vezes o docente não perceba que também é
uma tarefa sua buscar soluções para resolver a problema, ele não permanece inerte
frente à questão, já que comunica a ausência do aluno aos gestores escolares. O
professor é a figura mais próxima ao aluno, ele pode perceber mais facilmente os fatores
que estão contribuindo para a baixa frequência do aluno de sua sala de sala.
Total 05 100,00%
Quando foram questionados para identificarem seu papel diante do problema da evasão
esses mesmos profissionais citaram que podem contribuir para solucionar o problema
diagnosticando os alunos em potencial risco de abandono, bem como buscando
inovações para sua prática pedagógica no sentido de facilitar a aprendizagem. Para eles
o aluno pode evadir-se quando não compreende a importância do estudo para sua vida,
por isso acreditam que devem conscientizá-lo.
CATEGORIA FREQUENCIA PERCENTUAL
As duas instituições 05 100,00%
buscam soluções
As duas instituições não 00 00,00%
buscam soluções
Total 05 100,00%
Nas palavras da diretora é preciso “mobilizar outros segmentos da sociedade civil para o
engajamento na luta contra o abandono escolar, pois este problema não diz respeito
apenas a escola, é também de caráter social”. Segundo ela, a escola pouco pode fazer
em relação aos fatores externos que causam o abandono. Assim como a coordenadora
entrevistada, ela também acredita que o acompanhamento da frequência desde o
primeiro dia de aula, assim como reuniões com professores e pais, além da
conscientização do aluno por meio do diálogo são meios para detectar aquele que corre
risco de abandono.
Considerações Finais
Ao realizarmos essa pesquisa não tínhamos a pretensão de solucionar o problema do
abandono na referida escola. Nosso maior objetivo focava na identificação das causas
do problema visando contribuir com a comunidade escolar. As respostas obtidas aos
questionamentos propostos mostraram uma séria preocupação dos professores e
gestores no sentido de encontrar alternativas para lidar com os fatores que, muitas
vezes, fogem ao ambiente escolar, e contribuem de forma significativa para as taxas de
abandono, que, em média, giram em torno dos 8%. Os professores não se mostram
alheios à temática, porém esperam da gestão uma posição definitiva para a solução do
problema. A gestão escolar vê na figura do professor uma peça fundamental para a
identificação precoce do aluno que posteriormente irá abandonar os estudos. Também é
consciente de que precisa desenvolver ações que também envolvam os pais como parte
importante para a permanência do aluno na escola.
Sem esgotar o assunto porque sua complexidade exige que cada caso seja analisado
individualmente, coletamos de professores sugestões que podem reduzir os casos
registrados anualmente na escola. O professorado acredita que a parceria da escola com
as famílias e com o conselho tutelar é fundamental para manter o aluno frequentando as
aulas regularmente. Devemos ressaltar a preocupação dos professores em oferecer um
ensino que desenvolva no aluno o gosto pelo estudo. Embora a maioria que frequenta a
primeira série do Ensino Médio nessa instituição tenha a vontade de terminar esse nível
de ensino, encontramos discentes que não conseguem ver na educação uma melhoria na
sua condição de vida.
Referências
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