Sistema de Esterilização para Ambientes Hospitalares, Utilizando Radiação UVC
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'10.37885/220910151
RESUMO
Segundo o European Centre for Disease Prevention and Control, a resistência aos
antibióticos está crescendo em todo o mundo, portanto o tratamento de doenças fica com-
prometido, assim como muitos avanços na área da medicina são prejudicados. Essa resis-
tência ocorre naturalmente quando microorganismos maléficos tornam-se resistentes ao
uso excessivo de antibióticos. Com isso, medicamentos mais caros deverão ser usados, e
leva-se a um aumento no tempo de duração das doenças, tratamentos e dos custos com
os cuidados de saúde (maior tempo de internação), bem como o custo econômico para as
famílias ou sociedades (ECDC, 2018).
Recentemente, a ênfase se dá em como tomar precauções contra a criação, e se pos-
sível eliminar a resistência de microorganismos, em conjunto com a exploração de novos
métodos para a esterilização dos microorganismos patogênicos. Dentre esses novos métodos
ou abordagens para essa erradicação, concentra-se esforços nas práticas não antibióticas,
que consigam prevenir e proteger contra doenças infecciosas.
Uma tecnologia proeminente dentre práticas não antibióticas seria tecnologias a bases
de luz, mais especificamente de irradiação ultravioleta C (UVC). Segundo Bolton (2013), as
vantagens mais atraentes dessa tecnologia são a capacidade de erradicar microorganis-
mos, independentemente de sua resistência antibiótica, e a improbabilidade dos próprios
micróbios desenvolverem uma resistência a estas terapias a base de luz, devido à natureza
não específica dos micróbios.
Observa-se que essa tecnologia de esterilização com radiação ultravioleta UVC, cresceu
recentemente devido aos cuidados para proporcionar a desinfecção completa de superfícies
do local em aplicação, juntamente com métodos de limpeza existentes. O uso de luz ultravio-
leta aumentou devido a sua facilidade de uso, tempos curtos de dosagem e ampla eficácia.
Em países de Primeiro Mundo essa tecnologia de esterilização já é usada, principal-
mente em ambientes hospitalares, clínicas, consultórios etc. Segundo o American Ultraviolet
Insightful Solutions (2012), observa-se a eficiência em reduzir ou eliminar micróbios aéreos
e de superfície indesejados em ambientes de saúde, utilizando-se um foco gerador de ra-
diação ultravioleta (Lâmpada de Mercúrio de 254 nm) nesses ambientes, prevenindo assim
a proliferação e consequentemente o número de infecções hospitalares.
Diante dessa opção comercial de utilização de Lâmpadas de Mercúrio de 254 nm, para
a esterilização de ambientes clínicos e hospitalares, ascendemos a justificativa do artigo,
e partindo desse pressuposto, pergunta-se: como calcular e verificar a eficácia de um
equipamento emissor de radiação UVC, para realizar a esterilização em ambientes
clínicos e hospitalares?
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Nessa linha de considerações, este estudo tem como objetivo calcular a intensidade
de radiação gerada e verificar a eficácia de um equipamento com lâmpadas de mercúrio de
254 nm, para esterilização de ambientes hospitalares, para que essa tecnologia alie-se a
outras práticas básicas de limpeza realizada com produtos químicos, afim de complementar
e contribuir para um ambiente mais seguro contra infecções hospitalares.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Infecções hospitalares
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cuidado de ser utilizado somente após o paciente deixar o leito hospitalar, e posteriormente
da limpeza com produtos químicos.
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Fases de crescimento, são válidas para sistemas fechados. Observa-se na figura 1, a
curva de crescimento dos microorganismos de acordo com sua fase.
Radiação ultravioleta
A luz ultravioleta foi descoberta em 1801 por Johann Ritter. A radiação ultravioleta
(UV), atua atomicamente nas estruturas alterando o DNA dos microrganismos, e também
rompendo moléculas de carbono, que são essenciais a vida dos microorganismos, e acaba
afetando todos os seres vivos e alguns materiais (SEELIG, 2003).
A luz (UV), ocupa uma pequena faixa de comprimentos de onda do espectro eletromag-
nético, se situa entre os raios-x (100 nm) e a luz visível (400 nm). As faixas ou regiões de
radiação que compreendem a luz Ultravioleta (UV) são classificadas em Faixas A, B e C. A
faixa de radiação UVC, corresponde ao intervalo entre 200 nm a 280 nm, como visualizare-
mos na Figura 2, que demonstra o Espectro da Curva de Inativação dos Microorganismos
de acordo com o comprimento de onda da radiação Ultravioleta UVC, tendo seu pico de
esterilização em 254 nm.
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Vários microorganismos respondem de forma diferente a luz. A Figura 3, mostra a dose
necessária para três logs1 de inativação (99,9 %) para uma grande variedade de microor-
ganismos patógenos.
𝑃𝑃 (1)
𝐼𝐼 =
𝐴𝐴
Onde:
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de 1 para 1 entre si. O conceito de esferorradiano adentra na área de trigonometria esférica,
e isso nos faz abandonar alguns conceitos da trigonometria plana, como o de que a soma
dos ângulos internos de um triângulo é 180º. Já na trigonometria esférica esses ângulos são
obrigatoriamente superiores a 180º, para melhor visualização desse conceito, segue Figura 4.
𝐸𝐸 = ℎ 𝑥𝑥 𝑓𝑓
(2)
c = 𝑓𝑓 x λ (3)
Onde:
E = energia Fundamental [J.s];
h = constante de Planck [J.s];
f = frequência [Hz];
λ = comprimento de onda [m];
c = velocidade da luz no vácuo [m/s].
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Efeitos da Radiação Ultravioleta
A fonte natural de radiação UVC é o Sol, e acaba por ser completamente absorvida
nas camadas superior e média das atmosferas pelo ozônio e oxigênio molecular. As fontes
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artificiais de UV são chamadas de lâmpadas de mercúrio de onda curta, que são projeta-
das para produzir energia na região germicida (254 nm), podendo ser de vidro ou quart-
zo (LUCAS, 2003).
As lâmpadas de mercúrio são de baixa pressão, projetadas especialmente para produzir
raios de UVC com potencial germicida e, também, se assemelham as lâmpadas fluorescentes
normais. A principal diferença encontrada entre a lâmpada germicida e a fluorescente, é que a
germicida se constitui de quartzo, e também possui uma camada interna de fósforo que con-
verte a Luz UV para luz visível (para identificarmos que a lâmpada está em funcionamento).
O princípio de funcionamento existente em uma lâmpada de vapor de mercúrio, se
dá pela diferença de potencial aplicada nas extremidades, que acaba por gerar um campo
elétrico em seu interior que ioniza o vapor de mercúrio, os quais produzem a emissão de
UVC, (LUCAS, 2003).
Equipamentos
MATERIAIS E MÉTODOS
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Sendo assim, este trabalho analisou a eficácia de um equipamento que esteriliza ambientes
hospitalares, utilizando lâmpadas emissoras de radiação UVC, a partir de uma abordagem
quantitativa, que só foi possível após a aplicação de testes em laboratório.
Portanto, considerando que a pesquisa utilizou abordagem quantitativa relacionada
com as constatações da pesquisa bibliográfica, a abordagem é quali-quantitativa. Para
o desenvolvimento deste projeto, necessitou-se de um equipamento que conseguisse se
locomover, afim de esterilizar diferentes leitos de um mesmo hospital ou clínica, que seja
possível solucionar o problema proposto. Diante disso, utilizou-se uma base em formato de
hexágono, com 4 rodas de silicone em sua parte inferior.
Base que serviu para a alocação de 20 lâmpadas de mercúrio de baixa pressão com
potência nominal de 75 W cada, e comprimento de onda de 254 nm. Lâmpadas que foram
alocadas em forma circular na parte superior da base de suporte, com o objetivo de conse-
guir emitir radiação UVC em 360º.
As Lâmpadas escolhidas foram da marca Philips, modelo TUV T8 de 75 W e 0,84 A, pois
possuem uma potência eficaz de radiação UVC de 25,5 W cada, também possuem um valor
comercial relativamente acessível e um comprimento elevado, que garante uma emissão
uniforme no ambiente. Suas dimensões são de aproximadamente 1213,6 mm de compri-
mento e 28 mm de diâmetro. Para que as lâmpadas entrassem em funcionamento foram
necessários reatores individuais, conforme Figura 6. Os reatores utilizam uma corrente total
de aproximadamente 8,4 A (0.42 A x 20) e consomem cerca de 1360 W (68 W x 20), dados
referentes aos 20 reatores utilizados para o pleno funcionamento das lâmpadas germicidas.
Todos os reatores, ficam alocados internamente na base do equipamento, juntamente
com uma contatora e 2 disjuntores para a proteção do equipamento, um com valor nominal
de 10 A para curtos internos, e outro contra curtos externos de 20 A.
Para a obtenção dos resultados, foram coletadas em laboratório dois tipos diferentes
de bactérias, ambas de Risco Moderado, conforme Quadro 1, Staphylococcus aureus e
Escherichia coli, foram manipuladas em um meio de cultura chamado Cromoclin, destinado
ao cultivo, contagem e identificação presuntiva de microrganismos causadores de infec-
ções. A presente placa possui uma divisão ao meio, conforme figura 6, sendo possível a
alocação de ambas bactérias, uma em cada lado.
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Figura 6. Meio de Cultura Cromoclin.
Após semeado as bactérias nos meios de cultura da Figura 6, foi necessária a verifica-
ção da concentração de microrganismos em cada meio de cultura. Para isso foi utilizado um
espectrofotômetro digital, que através de um feixe de luz é possível determinar a concentração
de uma solução, vide figura 8. Em seguida foram realizadas as soluções de cada bactéria.
Foram alocadas no equipamento supracitado para a padronização de 100 inóculos, que é
a suspensão de microrganismos em uma concentração adequada para ser utilizada, foram
utilizados para todos os testes o valor aproximado de 100 inóculos, ou seja, todos os meios
de cultura possuíram a mesma concentração de microrganismos para os testes realizados.
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para que a padronização dos experimentos ocorresse com eficácia foi necessário ad-
mitir alguns parâmetros para a disposição do equipamento emissor de radiação UVC, para
com os meios de cultura. Primeiro parâmetro que precisa ser levado em consideração é a
utilização das equações (1), (2) e (3), e partindo de seus resultados é efetuado a comparação
com a Figura 3, para verificar se a energia gerada pelas lâmpadas UVC é o suficiente para
esterilizar e/ou inibir o crescimento das bactérias Staphylococcus aureus e Escherichia coli.
Para melhor disposição dos dados que serão utilizados para os cálculos, é utilizado
o Quadro 3, onde se obtém valores nominais da lâmpada escolhida para o projeto, assim
como valores como a constante de Planck e a velocidade da luz no vácuo.
Descrição Valor
Potência Eficaz de cada Lâmpada P = 25,5 W
Comprimento de Onda λ = 254 nm
Área 𝐴𝐴 = 4𝜋𝜋𝜋𝜋𝜋
Partindo dos dados do Quadro 3, e através da equação (3), obtemos o valor da fre-
quência da luz emitida:
299.792.458 = 𝑓𝑓𝑓𝑓𝑓𝑓𝑓.10⁻⁹
f = 1,1802.10¹⁵𝐻𝐻𝐻𝐻.
Então para encontrar a Energia de cada fóton liberado, é utilizado a equação (2):
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pretexto um leito hospitalar de cerca de 25 m² e que o equipamento fique situado no centro
do leito, segue equação (1):
𝐼𝐼 = 127,5 𝐽𝐽/𝑠𝑠0
(4𝜋𝜋2,52 )
𝐽𝐽
I = 0,0001623
𝑠𝑠. 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐
Validação do experimento
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Figura 7. Disposição dos meios de cultura durante o experimento.
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Figura 9. Meios de Cultura de Controle, B, A e C, respectivamente.
Conforme Figura 9, o meio de cultura de controle, que não foi exposto a radiação UVC,
obteve um enorme crescimento de Staphylococcus aureus e Escherichia coli. Nota-se um
leve aglomeramento nas bordas dos meios A e C, devido a um possível sombreamento le-
vando em consideração que os meios de cultura encontravam-se levemente inclinados em
direção as lâmpadas UVC. Já o meio B obteve-se uma esterilização altamente satisfatória.
Então foi analisado a contagem de colônias com microscópio para a validação de quantos
logs de inativação cada meio obteve, segue resultado no Quadro 5.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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através de cálculos e experimento prático a eficiência da radiação UVC para esterilização
de microorganismos. A partir dessa conclusão poderia ser possível diminuir o número de
lâmpadas dispostas para eventual melhor custo benefício.
Como sugestão para futuro estudo, uma reorganização na disposição das lâmpadas
para eventual diminuição de custos, e a elaboração de práticas utilizando sistemas eletrônicos
opensource, como Raspberry pi 3, para o controle total, e comando por celular do equipa-
mento em questão, tornando-se prático e não sendo necessário o uso de temporizadores
eletromecânicos.
REFERÊNCIAS
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br/content/ABAAAeiqAAJ/ultravioleta. Acesso em 05 out 2017.
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