Escola Tomista: Professor Carlos Nougué Aula 43
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Escola Tomista
Professor Carlos Nougué
Aula 43
Bem-vindos à 43ª aula de nossa Escola Tomista. Estamos no Tratado das
Categorias XI se não me falha a memória.
Pois bem, ainda mais que na aula passada, quando tratei o lugar, quando
tratei a ubiquação – perdão – esta aula se funda no curso de Física – chama-se
Curso de Física – do Padre Álvaro Calderón. Ele não a publicou, não o publicou.
Isso foi destinado apenas a alunos de certo curso que ele deu. Pois bem, então
fique dado o devido crédito ao Padre Calderón. Grande parte do que direi hoje
aqui se deverá a este belíssimo curso de Física seu.
Muito bem, assim como a ubiquação é aquela realidade acidental que afeta
uma coisa natural pelo fato de ocupar um lugar determinado, assim também o
quando de uma coisa é aquela realidade acidental que a afeta, que afeta esta
coisa, pelo fato de ocupar um instante determinado. Então compare-se, até
porque o quando e ubiquação têm estreita relação assim como a têm o tempo e
o lugar. Então, assim como a ubiquação é aquela realidade que afeta... é... assim
como a ubiquação de uma coisa é aquela realidade que a afeta pelo fato de
ocupar um lugar determinado, assim também o quando de uma coisa é uma... é
a realidade acidental que a afeta, que afeta essa coisa natural pelo fato de
ocupar um instante determinado.
Pois bem, outra vez um salto para a Física. Já disse que me fundarei no
Curso de Física do Padre Calderón. Pois bem, um salto para ela e, em particular,
para a Cosmologia.
Pois bem, para a Física Moderna, para a Física Moderna, cujo objetivo
exclusivo é reduzir toda a sua ciência ao método matemático, então, para a
Física Moderna, tanto o espaço como o tempo são parâmetros fundamentais.
Por quê? Justamente porque tanto o tempo como o espaço são imediatamente
numeráveis. Como a Física Moderna anseia reduzir tudo ao método matemático,
então o espaço e o tempo são parâmetros fundamentais, porque são
imediatamente numeráveis. E é tão assim na descrição numérica de quase todas
as noções ou leis estabelecidas pela Física. Veja, falei descrição numérica de
quase todas as suas noções e leis, não de... não falei de definição. Já vimos a
importância da definição desde a primeira aula nossa – ou segunda, perdão –,
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desde o início de nossa Escola Tomista, mas justamente a Física Moderna não
busca definição. Ela funda suas leis e noções em descrições e descrições
matemáticas. Pois bem, tudo isso voltará a tratar-se no devido, na devida altura.
Mas esta é de fato a principal falha desta nova ciência. Por quê? Porque, embora
a existência, a natureza do espaço seja evidente, mas de uma evidência não em
todos os seus aspectos, como veremos ao estudar a Cosmologia, não se dá o
mesmo, não se dá a mesma evidência com o tempo, cuja existência é
problemática. Todas as noções e leis físicas – da Física Moderna – pretendem
explicar, ser explicadas a partir de uma noção que não é clara de modo algum
como é a noção de tempo. Vimos certa dificuldade ao estudar o lugar. Veremos
agora a dificuldade maior de estudar constante e, na mesma medida, o tempo é
mais complexo do que o espaço.
Pois bem, devemos evitar, então, esta falha da Física e, desde o início,
devemos, então, por esclarecer, afirmar o que é o tempo. Assim como nós, na
aula passada, buscamos, antes de tudo, o que é o lugar, agora, antes de voltar
à categoria ou predicamento do quando, devemos entender o que é o tempo.
Assim como, na aula passada, respondemos à pergunta “o que é o lugar”.
Pois bem, comecemos por, pela questão an sit (a-n, s-i-t, duas palavras),
se existe, se é. Perguntemo-nos se o tempo existe. Há quem o negue! Há quem
diga que o tempo é uma realidade tão somente mental e psicológica. É o que
veremos na altura da nossa História da Filosofia.
Pois bem, o tempo parece ter três partes. Que partes são essas? Passado,
presente e futuro. Pois bem, o passado já foi, porque ele só existe nas
consequências que ele tem sobre o presente; o futuro ainda não é, razão porque
só existe em suas possibilidades no presente. Se assim é, só existe o presente.
Mas pode dizer-se, efetivamente, que o presente é parte do tempo? Vejam que
pergunta difícil! Parece, então, que..., parece não, só existe o presente! O
passado já foi, o futuro ainda não é. Então só é, só existe o presente. Mas a
pergunta é: pode-se considerar que o presente é parte do tempo?
Pois bem, vamos pensar juntos. Podemos falar das partes de um corpo:
cabeça, tronco, membros... E estas partes são verdadeiras partes. Por quê?
Porque são do mesmo gênero que o todo, ou seja, o gênero corpóreo. E isso se
vê por quê? Como? Se vê assim: se o corpo tem certo volume, também o tem
suas partes e o volume é próprio do corpóreo.
Pois bem, o que sucede é que o instante não é propriamente uma parte do
tempo, mas é o termo ou limite do tempo, assim como o lugar é um termo ou
limite. E o que é um instante? É o termo ou limite que termina o tempo passado
e começa o tempo futuro.
Pois bem, esta é a primeira seta para entender o que é o tempo. O tempo
tem que ver, relaciona-se intimamente com o movimento. Portanto devemos
estudar agora a relação entre tempo e movimento.
Pois bem, alguns antigos, entre eles Aristóteles, disseram que o tempo era
um movimento do céu. Não, Aristóteles não. Perdão! Alguns antigos disseram
que o tempo era o movimento do céu. Aristóteles foi mais refinado, mas, mas
participou disso de alguma maneira. Alguns antigos disseram que o tempo era o
movimento do céu e o dia é uma revo... seria uma revolução completa da esfera
celeste. E hoje, como respondemos a isso? Como respondemos à pergunta “o
que é o dia?”. O dia corresponde a dois giros completos da agulha grande do
relógio, das agulhas do relógio.
aqui que lhes peço a máxima atenção, porque aqui sim é uma baita antecipação
da Física, da Cosmologia. O tempo não é uma propriedade de cada movimento
particular. Por quê? Porque, se o fosse, haveria tantos tempos quantos
movimentos particulares houvesse. O tempo da esfera celeste, para os antigos,
o tempo da agulha, do ponteiro do relógio, o tempo do ônibus que vai do Rio a
Niterói. Ao contrário, o tempo é o que permite comparar os movimentos e dizer
se eles são rápidos ou lentos. O tempo, portanto, tem de ser algo próprio de um
movimento primeiro que, de algum modo, esteja na origem e regule todos os
demais movimentos. Repita-se isso que é preciso ficar bem fixado: não há tantos
tempos quanto movimentos: o tempo da esfera celeste para os antigos, o tempo
do ponteiro do relógio, o tempo da viagem de ônibus do Rio a Niterói; ao
contrário, é um tempo que permite comparar os movimentos para dizer se são
rápidos ou lentos. O tempo, portanto, tem de ser algo próprio do movimento
primeiro, de um movimento primeiro que, de algum modo, esteja na origem de
todos os movimentos e regule todos estes movimentos. Se não fosse assim, não
se poderia falar de um único tempo para todos os movimentos.
Pois bem, diga-se, porém, que parece que não há esferas. Hoje não é
possível sustentar que haja esferas. Tudo isso se verá porque mais adiante no
ponto em que se estudará tudo isto. O primeiro móvel aqui, a primeira coisa
movida não parece ser a primeira esfera celeste. Parece ser o corpo mássico
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que se move, o corpo que tem massa, que se move com respeito a um espaço
vazio de massa. Repita-se: o primeiro móvel parece ser o corpo mássico, o corpo
com massa, que se move com respeito ao espaço vazio. Vazio de quê? De
massa.
Já antecipei na aula passada o que é o espaço, mas tudo isso tem de ser
discutido mais à frente.
Pois bem, e este espaço vazio de massa é que é imóvel. O primeiro móvel
é um corpo com massa que se move no espaço despojado de massa e é este
mesmo espaço o que é o primeiro imóvel.
Pois bem, vejam uma baita seta agora, hein! O primeiro movimento parece
ser inercial gravitatório do que não tem influência exterior e que, em sua primeira
origem, não pode ter sido dado senão pelo primeiro motor imóvel ou Deus. Este
é assunto a demonstrar-se (não é opinativo), a demonstrar-se na Física
inicialmente e, finalmente, na Metafísica. Santo Tomás o trata na Teologia
Sagrada, mas ele é radicalmente físico-metafísico.
Pois bem, então repita-se: o movimento inercial é o que faz com que os
astros fiquem (...), para que se entenda, é a inércia, é o movimento que perdura,
o movimento dos astros é inercial. Este é um nome complicado, porque inércia
nos faz lembrar não movimento, e, no entanto, chamamos o movimento dos
astros movimento inercial. Mas parece, então, como veremos na Cosmologia, a
inércia, o movimento inercial e a gravitação são duas faces de um mesmo
fenômeno. Mas tá, o primeiro movimento parece ser inercial gravitatório e tem
de ter tido em sua primeira origem o primeiro motor imóvel ou Deus.
Pois bem, mas, mesmo sem demonstrar que Deus é o primeiro motor
imóvel, deste primeiro movimento inercial gravitatório, o fato é que o movimento
inercial gravitatório parece responder aos princípios do movimento primeiro, dos
movimentos, aos princípios do movimento primeiro. Esses princípios são
dependentes mais imediatamente da massa, da massa, que é uma primeira
qualidade. Pois bem, repita-se que voltarei a isto na Cosmologia.
Pois bem, como o tempo também é algo contínuo, é evidente que se refere
ao movimento local segundo a ordem de anterioridade e posterioridade de suas
partes. É daí que o movimento toma sua continuidade. Pois bem, como é óbvio,
não se percebe o tempo se não se considera o movimento segundo a noção ou
razão de anterior e posterior, segundo um antes e um depois. Isso é puro
Aristóteles.
Pois bem, quando falamos de uma viagem que durou vinte minutos do Rio
a Niterói, por exemplo, comparamos o movimento do ônibus com o movimento
da Terra numerada pelo tempo. Dessa maneira, por comparação, a numeração
do primeiro movimento pode transferir-se para todo o outro movimento. Então
repita-se: assim como, ao dizer que durou vinte minutos a viagem do Rio a Niterói
de ônibus, quando fazemos nós comparamos o movimento do ônibus com o
movimento da Terra, que é numerado pelo tempo. Por isso é que, por
comparação, a numeração do primeiro movimento, aquele que é movido pelo
primeiro motor imóvel, pode transferir-se para todo e qualquer outro movimento.
Pois bem, agora sim, depois desse algo árduo percurso pela Cosmologia,
podemos voltar ao nosso predicamento ou categoria do quando.
Pois bem, como diz o Padre Calderón, é isto mesmo o que fazem os físicos
modernos: embaralhar-se, confundir-se quando partem do espaço e do tempo
como noções primeiras e a partir dos quais pretendem descrever, não definir, o
movimento. Definem o movimento a partir do tempo quando deveriam fazer ao
contrário: definir o tempo a partir do movimento e este a partir do espaço:
espaço-movimento-tempo. Eles fazem ao contrário: tempo-movimento-espaço.
Pois bem, o tempo pode ser infinito justamente porque não existe todo ao
mesmo tempo. Insista-se: só existe o instante presente das coisas móveis. Só
isso existe. Só existe o instante presente das coisas móveis e, se assim é, não
há nenhuma contradição, como dizia Santo Tomás de Aquino contra, por
exemplo, São Boaventura, não há nenhuma contradição em pensar que sempre
haja pra trás o instante anterior e sempre haja pra frente um instante posterior.
Outra seta, agora para a Teologia Sagrada. A fé, nossa fé, a fé cristã revela
– isso é uma revelação que Deus nos dá – que houve um instante inicial do
mundo no qual começou o tempo e é assim que começa o Gênesis: no princípio
Deus criou o céu e a terra. Gênesis 1,1. No princípio Deus criou o céu e a terra.
E nos revelou também que haverá um limite para o tempo quando Nosso Senhor
Jesus Cristo voltar em sua segunda vinda ou parusia a julgar os vivos e os
mortos. Mas estas não são verdades físicas. Que o tempo tenha começado em
certa altura e não tenha sido infinito para trás e que vá terminar em certa altura
e não seja infinito pra frente são verdades reveladas. A Física não tem por que
saber disso. Na Física há a possibilidade – não a certeza de que tenha sido
assim, ou seja, assim –, mas há a possibilidade, como afirmava Santo Tomás de
Aquino, de que o tempo seja infinito para trás e seja infinito para a frente. Era o
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que dizia Aristóteles, com uma diferença: Aristóteles se enganava ao pôr que
necessariamente o tempo tinha de ser infinito para trás e infinito para frente, ao
passo que Santo Tomás, já sabedor da revelação, demonstra, como veremos na
Física, demonstra que não é necessário que o tempo seja infinito para trás ou
infinito para a frente, apenas que é possível. Mas estamos no âmbito da Física
e não no da Teologia Sagrada.
Pois bem, assim como o tempo não tem máximo, tampouco tem mínimo.
Isso é assim porque, embora o número como tal, tenha um mínimo, ou seja, a
unidade, o tempo é número aplicado a uma realidade contínua, que é um
movimento local, referido à quantidade contínua, a magnitude.
terceira propriedade: o tempo é maior ou menor, mas nem é rápido, nem é lento.
Isto são as, estas três são as propriedades do tempo.
Pois bem, como decorre de todo o dito até agora, o instante está para o
tempo assim como o lugar está para o espaço. O instante está para o tempo
assim – isso é uma analogia – assim como o lugar está para o espaço. Com
efeito, assim como o lugar determina o espaço ocupado por um corpo, mas não
é parte e porção do espaço, mas sim termo ou limite do espaço, assim também
o instante não é parte do tempo, mas termo ou limite do tempo. Repita-se para
que se fixe isto: do mesmo modo como o lugar determina o espaço ocupado por
um corpo, mas não é parte de espaço, senão que é limite ou termo do espaço,
assim também o tempo não é parte... o instante – perdão – não é parte do tempo,
senão que é limite ou termo do tempo. Isso é assim porque assim como o espaço
de um corpo é determinado por sua superfície envolvente que é o lugar – já o
vimos na aula passada – assim também o tempo de uma coisa ou de um
processo – é natural – é determinado pelo instante inicial e pelo instante final,
mas lugar e instante têm uma profunda, uma radical diferença. Não se
confundam as similitudes, a analogia possível com identidade, com igualdade. O
lugar e o instante têm uma profunda, uma radical diferença. Por quê? Porque o
lugar é o termo continente imóvel primeiro do corpo natural. Lugar é o termo
continente imóvel primeiro do corpo natural e o corpo natural é móvel e, por isto
mesmo, é que há descontinuidade entre o lugar e a superfície envolvente do
próprio corpo. Isso é o que vimos na aula passada. Por seu lado o instante,
diferentemente, e o instante, como visto, é o fim do tempo passado e o começo
ou início do tempo futuro, é termo contínuo, ao contrário do lugar que pertence
a ambas as partes do tempo, passado e futuro. Então, o tempo, ele na verdade
é passado e futuro e o instante só impropriamente pode dizer-se presente. Bom,
é presente, mas ele não é parte do tempo, ele é o termo tanto do passado como
do futuro. É como se fosse o termo a quo do tempo e ad quem do futuro. Ele
mesmo, ele está, é ele que liga as duas coisas do passado e o futuro. Se não
fosse assim, não se poderia pensar no tempo como algo contínuo.
Pois bem, assim como dei três propriedades para o tempo, agora devo dar
três propriedades do instante.
Então, pode fazer-se outra analogia: o quando está para o instante assim
como a ubiquação está para o lugar, o quando está para o instante assim como
a ubiquação está para o lugar. Assim como a ubiquação é a realidade acidental
que se dá no corpo natural pelo fato de estar em tal lugar e não em outro lugar,
assim também o quando ou situação temporal é a realidade acidental que se dá
na coisa pelo fato de estar em um tempo. E que quer dizer estar em um tempo?
Existir em tal ou qual instante, mas existir neste instante e não em outro. Isto é
o quando.
Pois bem, porque o que é afetado pelo quando, pelo predicamento quando,
é aquilo que está no tempo, a coisa natural que está no tempo, é preciso ver o
que significa estar no tempo, o que nos leva a distinguir três coisas. Vejam que
aqui já vamos dar uma seta imensa. Então repita-se, né? Como o que é afetado
pela, pelo predicamento quando é aquilo que está no tempo, devemos então
saber o que significa estar no tempo e isto nos leva a distinguir três coisas, três
tipos, três classes de coisas: aquelas coisas que estão por si mesmas no tempo;
as que permanecem no tempo; e as que estão com o tempo, mas não nele.
Repitam-se as três classes de coisas: as que estão por si mesmas no tempo; as
que permanecem no tempo; e as que estão com o tempo, mas não nele.
Pois bem, as coisas naturais – todos nós, tudo isto que nós vemos aqui –
se se toma em consideração seu ser substancial – já vimos que elas são, antes
de tudo, substâncias e são substâncias de dado tipo, substância humana,
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Pois bem, as coisas que são incorruptíveis mesmas são duas: os anjos e
Deus. São as coisas incorruptíveis. Vejam que já dei aqui um imenso salto. É
uma seta. Mas nem Deus, nem os anjos estão no tempo, no tempo. Para os
antigos os corpos celestes estavam no tempo, mas eram incorruptíveis. A única
alteração que tinham era de movimento local. Mas, como hoje sabemos que isso
não é verdade, temos que só Deus e os anjos são incorruptíveis e não estão de
maneira alguma no tempo, enquanto os corpos celestes, para os antigos,
estavam tempo. Claro, se há movimento local, é porque estão no tempo.
Pois bem, quanto aos anjos, porém, pode dizer-se – esta é a terceira
maneira com respeito ao tempo – pode dizer-se que os anjos estão com o tempo.
Vejam que esta é uma baita seta! Pode dizer-se que os anjos estão com o tempo.
Por quê? Porque são, porque existem enquanto são e existem as coisas
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Muito bem, feita essa longa digressão, esse longo excurso (excurso com
“x” de excursão), esse longo excurso, voltemos e digamos que o tempo, repita-
se, é o número do movimento segundo o antes e o depois e é por isso que a
temporalidade ou quando, o predicamento quando das coisas, o predicamento
das coisas chamado quando ou temporalidade, é aquilo que as afeta em relação
com o antecedente e em relação com o consequente, com o que se segue, com
o que vem. Pois bem, assim como a ubiquação das coisas naturais tem
importância porque o lugar é a superfície de contato pela qual a coisa interage
com tudo o que a rodeia, com seu habitat, com seu ambiente, assim também o
quando ou temporalidade das coisas naturais tem importância porque o instante
que a coisa ocupa, assim como ocupa o lugar ela ocupa o instante, na sucessão
temporal explica, dá a razão da sua interação com o que antecede e com o que
se segue.
Mas o mais importante é dizer que, assim como cada coisa tem seu lugar
próprio ou natural – se lembram, o lugar próprio ou natural do homem é a Terra
e não Vênus? –, então assim como se há de dizer que cada coisa tem seu lugar
próprio ou natural onde se encontra em equilíbrio e com... e em harmonia com
as demais coisas que a rodeiam, assim também cada coisa tem seu tempo
próprio ou natural. Assim como cada coisa natural tem seu lugar próprio ou
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natural, assim também cada coisa natural tem seu tempo próprio ou natural. A
criança nasce com nove meses e não com trinta. E por que a criança nasce com
nove meses, o filhote de outros animais nasce depois de outros meses? Porque
uma coisa não pode vir depois de qualquer outra coisa e toda geração tem seu
processo com seus tempos próprios. Assim como o lugar – a Terra é o lugar
natural ou próprio do homem –, assim também a criança nasce em seu tempo
próprio aos nove meses, a criança humana, bebê humano, o filhote humano. E
se é assim, pense-se na maturidade. A maturidade pressupõe o quê? A
adolescência. E a adolescência pressupõe o quê? E a infância. E a infância
pressupõe o quê? O estado de embrião.
Pois bem, quanto mais vemos essas coisas, mais nos lembramos do
Eclesiastes, o livro da Bíblia. Vou ver se minha memória me permite citá-lo
quanto ao que nos interessa: “tudo tem seu tempo determinado e há tempo ou
propósito para tudo sob o céu, debaixo do céu. Há tempo de nascer e há tempo
de morrer; há tempo de plantar e tempo de colher o que plantou, o que se
plantou; há o tempo de matar e há o tempo de curar; há o tempo de derrubar e
há o tempo de construir, edificar; há o tempo de chorar, há o tempo de rir; há o
tempo de prantear e há o tempo de dançar; há o tempo de espalhar pedras e há
o tempo de reunir pedras; há o tempo de abraçar e há o tempo de afastar-se de
abraçar; há tempo de buscar e há o tempo de perder; há o tempo de guardar e
o tempo de jogar fora, de atirar fora; há o tempo de rasgar e há o tempo de cozer;
há o tempo de calar-se e há o tempo de falar; há o tempo de amar e há o tempo
de odiar; há o tempo de guerra e há tempo de paz. Que proveito tira o trabalhador
daquilo em que trabalha? Tenho visto trabalho que Deus deu a seus filhos, aos
filhos dos homens, para com ele os exercitar. Deus tudo fez belo em seu tempo
e também pôs o mundo no coração do homem sem que o homem possa
descobrir a obra de Deus, a obra que Deus fez desde o princípio e que vai até o
fim”. Eclesiastes 3, 1-11.
Termino aqui a nossa aula de hoje e deixo, por fim, uma seta. Quanto
dissemos contraria essencialmente a Teoria da Relatividade de Albert Einstein?