5457-Texto Do Artigo-21664-1-10-20200415
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RESUMO
O presente artigo busca discutir a trajetória histórica das Escolas Famílias Agrícolas (EFAs),
desde sua origem na década de 30. Estes Centros de Formação atendem especialmente a
filhos de agricultores familiares, através da Pedagogia da Alternância e vêm cada vez mais
sendo reconhecidos no cenário educacional da Educação do Campo. Implantadas desde 1969
no Brasil, as EFAs têm logrado a oportunidade de acesso à educação a adolescentes e jovens
camponeses, contribuindo para o desenvolvimento social das comunidades. Utilizamos
dados de pesquisa realizada entre 2013-2015, durante o curso de Mestrado em Educação do
Campo, realizado na UFRB. A discussão evidencia uma construção histórica a partir de
experiências concretas junto a agricultores familiares na França, Itália e Brasil, com
destaque para o protagonismo da participação das famílias. Entretanto, há desafios fundantes
para a continuidade das EFAs, principalmente pela ausência de financiamento seguro dessas
escolas.
ABSTRACT
This article intends to discuss the historical trajectory of the Agricultural Family Schools
(EFAs), since its origins in the 1930s. Those training centers are attended by farmers's
children. Those centers use the Alternanation Pedagogy and they are increasingly being
recognized in the education scenario. They were implemented in Brazil since 1969, the
EFAs have given the adolescents and young peasants the opportunity of education,
contributing to the social development of those communities. We used data from a
mastering research held between 2013 and 2015 at UFRB. The discussion shows a historical
construction based on concrete experiences with farmer famillies in France, Italy and in
Brazil, with emphasis on the participation of families. However, there are great challenges to
the continuity of EFAs, namely the lack of funding to maintain those schools.
1
Mestre em Educação do Campo pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Pedagogo do
Instituto Federal da Bahia (IFBA) – Campus Brumado. E-mail: gilvifreitas@hotmail.com
Gilmar Vieira Freitas
Introdução
Weffort (1989, p. 06) afirma que é o diálogo “do homem sobre o seu contorno e até
sobre os desafios que o faz histórico”, entendendo que não existe “educação fora das
sociedades humanas e não há homem no vazio”. É dessa forma que acreditamos não
simplesmente estar “no mundo, mas com o mundo” aberto àquilo que a realidade tem a nos
dizer (FREIRE, 1989, p. 35-39). Nesse sentido, dedicamo-nos no presente texto a apresentar
a trajetória histórica da formação das EFAs desde as experiências pioneiras realizadas na
França na década de 1930, a introdução dessa experiência no Brasil em 1969 e sua expansão
nas décadas seguintes, bem como um panorama sistematizado mais próximo dos dias de
hoje das EFAs no Brasil.
Embora esse tipo de escola tenha se adequado bem à realidade dos agricultores
brasileiros, essa experiência nasce no continente Europeu, em um contexto temporal
diferente, mas, ao mesmo tempo, com propósitos muito parecidos com aqueles que ainda
hoje motivam a criação de novas EFAs no Brasil: a ausência de políticas e escolas que
atendam às necessidades dos sujeitos do campo e que contribua para uma melhor qualidade
de vida no campo.
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Esses dados consideram apenas os principais Centros Educativos: EFAs, Escolas Comunitárias Rurais e
Casas Familiares Rurais/Escolas Familiares do Mar.
As MFRs não surgem por acaso e é relevante o fato de elas não virem de uma mente
brilhante do Estado que é quem historicamente pensa as políticas públicas “para o povo”. As
Maisons Familiales “Tiveram seus próprios promotores”, a quem podemos chamar de
“artesãos”; entre esses se destacaram os agricultores do interior da França (GARCÍA-
MARIRRODRIGA, 2010, p. 21) pela coragem de levar à frente e conduzir tal iniciativa de
acordo com suas necessidades e realidades.
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O padre Abbé Granereau nasceu no final do século XIX (1885), na França, e faleceu em 10 de junho de 1988.
Teve uma vida dedicada às causas camponesas com forte atenção à juventude. "Foi nessa luta íntima com a
terra, no trabalho de todo dia da roça que, um pouco de cada vez, entendi o grande valor e potencial existente
na vida do homem do campo e também o que lhe faltava" (GRANEREAU, apud QUEIROZ, 1997, p. 41).
Portanto, aos adolescentes e jovens restavam poucas opções, como indica Queiroz,
analisando o contexto das origens da Pedagogia da Alternância na França:
Além de Granerau, Jean Peyrat e Couvereur são outros dois importantes personagens
para que as MFRs pudessem ser pensadas e com condições de funcionar e evoluir. O
agricultor Jean Peyrat era um “um verdadeiro líder local” de Serignac-Péboudou, uma
– Yves não quer ir à escola superior. É uma desgraça, porque aos doze anos ainda
não acabou de se formar.
– Nem tudo está perdido. Existem outras escolas - disse o pároco. Escolas do
Estado, Escolas Livres, a Escola de Marmande, por exemplo.
– Sim, tudo isso está muito bem para formar as pessoas da cidade, mas não para
formar agricultores.
– Existem as Escolas de Agricultura; existe uma em Fazanes, a trinta quilômetros
de tua casa.
– Quantos agricultores autênticos - prosseguiu Jean Peyrat - você tem visto sair da
Escola de Agricultura? Além disso, é muito cara. Sempre acontece igual conosco:
ou instruir-se, abandonar a terra e seguir desenganados, ou não abandonar a terra e
continuar ignorantes por toda vida.
– Existem também cursos por correspondência...
– Isso não é mais que um paliativo que não resolve o problema.
– Mas então, e se eu mesmo fizer o trabalho?
– Ele sozinho vai se aborrecer, o remédio seria pior que a doença.
– E se encontrar outros?
– Então encontre outros, senhor padre, meu filho será o primeiro (GRANEREAU,
1969, apud GARCÍA-MARIRRODRIGA, 2010, p. 24).
Esse diálogo histórico é o ponto de partida, porém seria preciso pesquisar e encontrar
a melhor forma e condição para que aquela ideia pudesse acontecer na prática, além de
discussões e mobilizações junto a outros agricultores para dar vida àquela tentativa
enunciada. Nesse processo de mobilização, o padre terá o papel de encorajá-los.
O êxito dessa iniciativa era grande, pois criaram um tipo de escola irrecusável para
seus filhos, já que “ela responderia às suas necessidades fundamentais nessa idade da
adolescência, ou seja, agir, crescer, ser reconhecido, assumir um lugar no mundo dos
adultos, adquirir um status e papéis” (GIMONET, 1999, p. 40). Importante destacar como
Gimonet (1999) vê o aspecto das necessidades do jovem. É a imagem de um jovem que
também quer ser autor do processo educacional. Tais características resultam na perspectiva
de participação dos jovens de alguma forma que se sintam melhor no processo, não como
meros espectadores de uma aprendizagem, mas de forma proativa diante da situação coletiva
ou mesmo diante de suas próprias necessidades.
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Dois desses jovens eram irmãos (Lucien e Paul Callewaert), filhos do agricultor Callewaert, portanto uniam-
se três famílias (GARCÍA-MARIRRODRIGA, 2010, p. 25).
razões que motivaram a criação da MFR, ou seja, “a necessidade sentida pelas famílias [...]”.
É importante destacar essa fala do autor porque ressalta a importância da participação das
famílias no processo. Há ainda um terceiro personagem com destaque nesse processo, que
contribui para a afirmação e sustento dessa experiência inicialmente. Trata-se de Arsène
Couvereur,5 vice-presidente do Secretariado Central de Iniciativa Rural (SCIR), que
conheceu e acompanhou a implantação da MFR pioneira. “Foi ele quem, por suas
numerosas e importantes relações parisienses, facilitou os primeiros contatos dos promotores
com os poderes públicos” (GARCÍA-MARIRRODRIGA, 2010, p. 23).
Não havia outro professor senão o padre. Os cursos não correspondiam a nenhum
currículo pré-formulado: era o material, que chegava na casa do padre por
correspondência, dos cursos de agricultura elaborados por um instituto católico. A
única tarefa do padre era auxiliar os jovens a seguir esses cursos. O conteúdo era
totalmente técnico-agrícola. A parte de formação geral nada mais era que uma
reflexão informal entre os jovens e o sacerdote. Nessa reflexão, obviamente,
entrava muito assunto religioso de formação humana e cultural sobre a vida do
campo, sobre os valores do campo, etc. (NOSELLA, 2013, p. 48).
5
Ex-bancário, natural de Paris, que se insere no jornalismo de grande difusão no país. Criou o “France
Agricole”, espaço importante de informações sobre agricultura. Foi também vice-presidente do Secretariado
Central de Iniciativa Rural (SCIR) (GARCÍA-MARIRRODRIGA, 2010, p. 23).
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Por monitor, entenda-se o educador que atua nas escolas de Alternância.
Já entre 1944 e 1945, viu-se uma incidência maior na expansão das Maisons, ao
mesmo tempo em que desastrosamente a França foi ocupada pela Alemanha no início da
década de 40. Diante desse cenário de crise e reestruturação da França, as Maisons foram
favorecidas, sendo vistas como uma oportunidade para a retomada do país no espaço rural.
Em 1942, foi criado o primeiro Centro de Formação de Monitores e a União Nacional das
Maisons Familiales, unindo “cerca de quatro ou cinco” escolas (NOSELLA, 2013, p. 49-
50).
Isso fez com que “Os agricultores, ao repararem isso, começaram a ter medo das
possíveis consequências dessa desordem e a exigir do padre certa disciplina
administrativa”;
b) questões políticas envolvendo o sacerdote. Havia o desagrado de que
ele não era suficientemente prudente nas suas relações políticas: “tinha-se
relacionado, talvez demais, com o governo colaboracionista com os alemães”. Isso
indicava que fosse interessante o seu afastamento (NOSELLA, 2013, p. 50);
c) uma questão de “concepção e doutrina da Maison Familiale”
(NOSELLA, 2013, p. 51), como podemos exemplificar no trecho a seguir de
Nosella:
Esse trecho parece nos revelar algumas contradições presentes no processo das
MFRs, inclusive sobre o conceito de permanência do jovem no campo, porém não fica nítido
o teor das discussões. Por um bom tempo foi possível perceber a ideia de fixação do jovem
no campo, lembrando o Ruralismo Pedagógico dos anos 30, o que parece ser um propósito
defendido pelo padre.
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André Duffaure exerceu o cargo de “Diretor Geral da UNFREO, membro da FAO e de outras organizações
internacionais.” Destaca-se também por ser pioneiro na tentativa de sistematizar trabalhos sobre a Pedagogia
da Alternância tendo como foco a “participação dos pais nas MFR”. Falece em 1997 (ZAMBERLAN, 2003, p.
28).
Dados de 2008 apontam para a existência de 1.325 CEFFAs distribuídos nos cinco
continentes do mundo. Na Europa, registra-se a existência de 523 CEFFAs, abrangendo
quatro países apenas. Nesse bojo, destaca-se a França com 88% desse total. A América
supera o continente europeu com 593 CEFFAs distribuídos em 17 países. Estão no Brasil
44% desse total e 19% na Argentina. Na África foram contados 193 CEFFAs, em 16 países.
E, por fim, 16 CEFFAs em três países da Ásia e Oceania (CALVÓ, 2010, p. 110-117).
Após forte expansão na França nas décadas de 1940, 1950 e 1960, o Movimento das
Maisons Familiales Rurales rompeu fronteiras internacionais. O primeiro país a receber essa
expansão internacional foi a Itália incorporando outro nome: Scuola della Famiglia Rurale,
de forma abreviada, Scuola-Famiglia (NOSELLA, 2013, p. 56; PESSOTI, 1978, p. 19).
Até os anos 70, a Itália viveu um período crescente e de expansão; após isso, o que se
viu foi o quase desaparecimento das Escolas-Família italianas (ZAMBERLAN, 2003, p. 30-
31). É possível de se apontar alguns motivos para esse retrocesso italiano, referente a uma
pesquisa realizada na Itália:
Segundo esse autor, há cerca de dez anos (início dos anos 2000), o número de
unidades educacionais que utilizam a Alternância na Itália era pequeno, ressaltando a forma
político-administrativa particular de cada escola “substancialmente diferentes das de outros
países europeus, onde a experiência formativa familiar em alternância se difundiu e manteve
alguns pilares de sustentação do início de suas atividades”. É uma experiência que cabe
reflexão aos outros movimentos que desenvolvem a Alternância, pois “sem envolver de fato
e de direito os segmentos populares, de forma continuada e participativa poucas raízes
conseguem colocar” e então será um projeto fadado ao fracasso, ao desaparecimento
(ZAMBERLAN, 2003, p. 32-33).
A vinda das Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) para o Brasil tem uma origem
intimamente ligada à história das Escuolas-Famiglia italianas. Se na Itália a experiência é
implantada através do esforço de políticos, no Brasil a implantação volta a ter o apoio e
iniciativa de pessoas ligadas à Igreja, através do Padre Humberto Pietrogrande.
Durante visita desse padre ao Brasil, a partir de 1964, chamou-lhe a atenção de forma
mais particular a realidade precária socioeconômica encontrada no interior do estado do
Espírito Santo, onde havia maioria de descendência de italianos e alemães; uma região
“caracterizada por uma ampla imigração italiana, principalmente proveniente das regiões do
Veneto e da Lombardia a partir de 1875 até início do século XX” (CAVATI,1983; apud
ZAMBERLAN, 2003, p. 34). Ele comparava a situação encontrada com outras regiões onde
havia emigrantes, onde havia condições melhores, por exemplo, no estado do Rio Grande do
Sul (RS). Essa situação o inquietou e concluiu que precisava fazer algo por aquela realidade,
mas na ocasião teve que regressar a Florença para concluir a sua formação (NOSELLA,
2013, p. 61-62).
De fato, o cenário não era animador para o surgimento de uma proposta educacional
popular. Nesse contexto, segundo Queiroz (1997, p. 49-51), o Brasil apresenta uma situação
de concentração da propriedade das terras prejudicando os pequenos agricultores, restando-
lhes “abandonar a terra em favor das grandes fazendas e aumento assustador do
assalariamento rural”. Além da concentração de terra por fazendeiros, “a violência no
campo, a miséria e a fome, com a consequente degradação das condições de vidas dos
trabalhadores rurais, levam a um crescente êxodo rural”. Segundo esse autor, para muitos, o
advento das EFAs significava “uma possibilidade de superação desses desafios”.
Um dos primeiros êxitos dessa instituição foi conseguir apoio (bolsas de estudo) para
o intercâmbio na Itália de sete jovens do interior do Espírito Santo. Segundo Nosella, não
existia uma clareza do objetivo da ida desses jovens para a Itália, mas, como a AES tinha
O plano de ação construído pelos três técnicos italianos elencou como ação
prioritária a educação, identificando-a como aquela que iria permear e contribuir para a
evolução da pessoa humana em todos os sentidos e, então, a opção clara e visível pela
implantação de três Escolas da Família Agrícola (EFAs), que tiveram suas primeiras
atividades em 1969 nos municípios de Anchieta, Alfredo Chaves e Rio Novo do Sul
(NOSELLA, 2013, p. 66).
As primeiras EFAs só recebiam rapazes, sendo que a primeira escola para moças
agricultoras surge em 1971, no município de Iconha (ES). Um ano mais tarde inaugura-se
outra EFA feminina, a Escola-Família de Economia Doméstica, no município de São
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Os dois primeiros, o economista e o sociólogo, atuavam na Itália como professores da Universidade de
Padova; já o educador de nome “Mario Zuliani era o Diretor do centro de Promoção Agrícola - CPA de Asolo,
situado na província de Treviso [...]. Esse educador, no final de 1968, mudou-se definitivamente para o Brasil,
no Estado do ES, ajudando na articulação das atividades que desembocaram nas primeiras EFA’s do Brasil”
(ZAMBERLAN, 2003, p. 37). É conhecido no Movimento como o primeiro monitor das EFAs do Brasil.
Mateus (ES) (NOSELLA, 2013, p. 66). Para Zamberlan, a expansão do Movimento ocorreu
de forma extremamente rápida, surpreendendo aquilo que era planejado inicialmente, fruto
do desejo de atender às várias demandas de lideranças e padres. Com isso houve um
verdadeiro movimento de pessoas que, em mutirões, conseguiam erguer as construções. O
autor adverte que nesse momento a preocupação maior estava ligada ao fazer, construir
fisicamente, e não se priorizava tempo “para planejar conjuntamente o futuro pedagógico e
político de cada unidade que foi construída” (ZAMBERLAN, 2003, p. 39-40).
A primeira fase (1969-1972) constitui os passos iniciais, em que são criadas as três
primeiras EFAs no ano de 1969: a EFA de Olivânia, a EFA de Alfredo Chaves, e a EFA Rio
Novo do Sul. Também em 1970, começa a expansão das EFAs para o norte do estado
capixaba, com a criação de EFAs nos municípios de São Mateus, Barra de São Francisco e
São Gabriel da Palha. Importante ressaltar que a expansão de EFAs para o norte fez surgir a
necessidade do investimento da formação de monitores, motivando a criação do Centro de
Formação para Monitores (BEGNAMI, 2003, p. 32).
As primeiras EFAs são escolas informais de “Curso livre”, isto é, sem nenhuma
autorização legal de órgãos competentes. A duração era de dois anos e o ritmo das
alternâncias de uma semana na Escola e duas na família. O público era de jovens
rurais, filhos de agricultores familiares. Na maioria, fora da faixa etária escolar, ou
seja, jovens com mais de 16 anos de idade. No início houve uma tendência a
separar os sexos criando Escolas para moças e rapazes. Essa prática não vigorou,
[hoje] as EFAs são mistas (BEGNAMI, 2003, p. 32).
Apesar dos avanços percebidos pelo novo modelo de escola para o meio rural, as
famílias começaram a demandar que as escolas tivessem diplomas escolares, o que ainda
não existia. Havia “somente um certificado de ‘agricultor técnico’” (BEGNAMI, 2003, p.
33). Outro evento a se considerar é a demanda de alunos de baixa idade pela EFA, o que não
era comum àquela época.
Ressalta-se que esse processo de escolarização foi uma solicitação dos pais o que se
constitui em um marco na história das EFAs, pois, atualmente, é esse o caminho que todas
as EFAs do Brasil seguem, tendo a escolarização como direito fundamental dos sujeitos do
campo. Com o novo formato curricular, o Plano de Formação das EFAs passou a englobar
os fins de “pré-qualificação profissional e escolarização formal”. Com a expansão das EFAs
dentro do estado do Espírito Santo (ES) e com as exigências do processo de escolarização
das escolas, é criado (na primeira metade da década de 70) o Centro de Formação de
Monitores em Piúma (ES), constituindo-se numa ferramenta importante para a divulgação da
experiência e para a expansão das EFAs, sobretudo fora do estado do ES. Em 1976, é criado
o primeiro curso profissionalizante em agropecuária, de ensino médio, na EFA de Olivânia,
aumentando o nível de escolarização principalmente para os egressos dos cursos de ensino
fundamental (BEGNAMI, 2003, p. 33-34).
Foi só a partir dos anos 90 que a UNEFAB começou a encontrar algum sentido à
frente do Movimento nacional das EFAs, após viver um tempo de “crise institucional” desde
a sua criação. Inicia-se uma fase de articulação nacional integrando os diversos grupos e
regionais do Brasil. “É uma fase em que a Diretoria da UNEFAB intensifica os contatos e
articulações, em nível nacional e regional, para melhorar os aspectos associativos, em vista
Por fim, é importante destacar que mesmo com grandes avanços ao longo da história
das EFAs, ainda há desafios cruciais para o futuro desta prática educativa da Educação do
Campo. Com base em investigação realizada no Vale do Jequitinhonha (MG) por Freitas
(2015), que garantimos não destoar tanto das demais regiões brasileiras, podemos apontar
pelo menos quatro desafios que comprometem o trabalho das EFAs/CEFFAs: a)
continuidade da oferta da formação dos monitores, responsáveis pela condução do processo
de ensino-aprendizagem através da Alternância; b) a sobrecarga de trabalho enfrentada por
esses educadores em função das equipes reduzidas, considerando a quantidade de demandas
encontradas para o funcionamento das escolas; c) a gestão do tempo do monitor no cotidiano
da EFA e; d) financiamento aquém das necessidades para a manutenção da EFA
Este último desafio é uma das causas principais dos problemas anteriores
enfrentados, já que para valorização profissional e formação é preciso contar recursos
adequados e disponíveis. Considerando o cenário político e financeiro a que passa o Brasil
na atualidade, tais necessidades têm se intensificado ainda mais, colocando em cheque todo
um processo histórico de construção como vimos ao longo do texto, comprometendo
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Desse total, 32 unidades são encontradas na Bahia (BEGNAMI, 2011).
Considerações Finais
Por outro lado, percebemos um tema complexo que deve ser mais aprofundado, o
que não é possível apenas lendo este texto. A abrangência das Escolas Famílias Agrícolas
nos mostra uma marca histórica deste modelo de educação no contexto da Educação do
Campo, abrindo um espaço político para a luta pelos direitos dos povos do campo, negados
ao longo de sua história. A Alternância tem ganhado espaço nesse cenário, inclusive no
ensino superior com as Licenciaturas em Educação do Campo, cursos de especializações e
mestrado em universidades brasileiras, utilizando o Regime da Alternância como
metodologia de ensino.
Decorrente deste processo histórico, encontramos também vários marcos legais não
elencados neste texto, como o Parecer 01/2006 do Conselho Nacional de Educação, que
reconhece os dias da Pedagogia da Alternância como letivos e o Decreto presidencial
7.352/2010, que dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária - PRONERA. No entanto, ainda há desafios fundantes para a
continuidade das EFAs, principalmente pela ausência de financiamento seguro e adequado
dessas escolas pelo Governo e sociedade, o que interfere negativamente na qualidade do
trabalho prestado, como nas condições de trabalho e formação dos seus
educadores/monitores.
Referências
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 19ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1989.
PESSOTI, Alda L. Escola da Família Agrícola: uma alternativa para o ensino Rural.
Dissertação de Mestrado em Educação. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas (FGV),
1978. 195f.