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Blumenau em Cadernos

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セ@セ@ CANTO DOS COOPERADORES セ@fSI
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QC Cremer SIA. "" Produtos Têxteis e Cirúrgicos"" Blumenau セ@
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セ@ Centrais Elétricas de Santa Catarina SI A. "" Blumenau セ@
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fSI Tabacos Brasileiros Ltda. "" Blumenau セ@
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QC Indústria Têxtil Companhia Hering "" Blumenau セ@
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セ@ Cia. Comercial Schrader SI A. "" Blumenau セ@
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QC Artur Fouquet - Blumenau
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セ@ Georg T raeger "" Blumenau セ@fSI
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セ@ Electro Aço Altona SI A. "" Blumenau セ@
Distribuidora Catarinense de Tecidos SI A. "" Blumenau
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fSI FIe ix H auer - Curitiba セ@fSI
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fSI Conrado Ildefonso Sauer "" Rio de Janeiro セ@
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QC Fritz Kuehnrich "" Blumenau セ@
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\;..!\ Armen Mamigonian - Presidente Prudente S. P. fSI
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QC Companhia Industrial Schlõsser SI A. -


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Brusque セ@
Tecelagem Kuehnrich SI A. - Blumenau
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Malharia Blumenau SI A. - Blumenau
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QC Consulado Alemão - Blumenau セ@
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セ@ Tipografia Centenário Ltda. "" Blumenau セ@
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Transportadora Blumenauense Ltda. - Blumenau
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QC Fundação Teófilo Zadrozny - Blumenau セ@
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セ@ Malharia Maju SI A. - Blumenau セ@
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Moellmann SI A. - Comercial - Blumenau セ@
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11 itnau
em
TOMO XVII ABRIL DE 1976

PEQUENA HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO


DE BLUMENAU 1850-1883
=---------- Dr. Paulo Malta Ferraz - - - - - - - --..1
(Continuação do número anterior)

Antes de terminar o ano de 1852, ocorreu na colônia


um fato que alarmou os seus moradores: um grupo de índios
atacou a residência do dr. Hermann Blumenau, situada à mar-
gem do ribeirão da Velha. O ataque, que se verificou à tar-
de do dia 28 de Novembro, quando dr. Blumenau estava na
capital da Província, foi repelido por dois colonos moradores
nas proximidades. O dr. Fritz Müller, em notas que escreveu
para amigos e conhecidos, sobre a sua instalação à margem do
Garcia, descreveu o ataque dos bugres à propriedade do dr.
Blumenau, assim:
"Quando, pelas três horas, um dos colonos saiu de casa viu
cinco homens , armados com arcos e flecha, aproximarem-se da
casa, vindos de um morro próximo, onde havia plantação de
mandioca. O sexto bugre ficara no morro. O branco aproxi-
mou-se deles, de modo pacífico, colocou o fuzil no chão e fez-
lhes sinal com um ramo verde, para que eles se aproximassem
sem armas. Os índios hesitaram e pareciam aceder aos gestos
do branco, quando a um sinal de seu chefe, começaram uma
gritaria pavorosa e, batendo com as mãos espalmadas nas coxas,
avançaram em sua direção. O outro colono branco que ali che-
gara alarmado com a gritaria dos indígenas, atirou para o ar, a
fim de amedrontá-los. Os bugres estacaram, mas logo depois
continuaram avançando. Os dois brancos voltaram correndo

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para casa, mandaram a mulher para o Garcia, a fim de pô*la
em segurança e, se preciso fosse, pedir auxílio. Em seguida,
ambos os colonos esconderam*se numa choupana ao lado da
casa. Os bugres aproximaram*se fazendo grande alarido, cra*
varam suas flexas na parede da casa e começaram a saqueá*la.
Chegaram a entrar no quarto do dr. Blumenau. Nessa ocasião,
um dos índios é atingido por um tiro, desfechado por um dos
brancos. Ao ウ・ョエゥイセ@ ferido, o índio lança sua arma no chão
e foge, gritando, sendo seguido pelos seus demais companheiros .
Os brancos continuaram atirando contra eles e mais um índio
saiu ferido, mortalmente. Os bugres ・ュ「」ョィ。イセウL@ de novo,
no mato, e mesmo quando já se encontravam bem longe, ainda
se podiam ouvir os seus gritos apavora dores. No dia seguinte,
foi encontrado um dos selvagens, agonizante" (33).
O ano de 1853, porém, ao contrário do que todos es-
peravam, não foi propício ao desenvolvimento da colônia. Tem-
porais violentos e chuvas copiosas em Novembro desse ano,
causaram grandes enchentes do rio Itajaí-açu e seus afluentes,
cujos efeitos foram desastrosos para a lavoura. Mas, além da
enchente, esse ano trouxe inúmeros pesares ao fundador da co-
lônia, entre outros, a morte de alguns colonos, por afogamento
no Itajaí-açu. Eis as razões por que, mais tarde, em carta a
um amigo na Alemanha, o dr. Blumenau escrevia:
"O ano de 1853 passou muito ligeiro, entre trabalhos exces*
sivos e muitas amarguras. Devido aos poucos recursos que eu
tinha, era obrigado a fazer, apenas, as despesas mais ョ・」ウ£セ@
rias e não podia ter empregado. Fiz traçado de novos caminhos,
marquei derrubadas, comprei, vendi e distribui víveres, tudo eu
sozinho, tendo, pois, muito pouco tempo para pensar noutras
cousas.
Aqui, não tenho um só dia de sossego; de todos os lados me
procuram e há necessidade de se ter a paciência de um anjo para
se suportar tudo" (34).
A população colonial nesse ano aumentou com a vinda
de 25 novos imigrantes, entre os quais se encontrava Hermann
Wendeburg, que, no futuro, se tornaria vulto de grande proje-
ção na vida administrativa da colônia. De fato, reconhecendo
as suas qualidades de inteligência e sua dedicação ao trabalho,
o dr. Blumenau fez de Hermann Wendeburg seu imediato co-
laborador na direção da empresa. E quando, em 1860, a cn-
lônia passou ao Governo Imperial, o dr. Blumenau que conti-
nuou como seu diretor, obteve a nomeação de Hermann Wen-
deburg para o cargo de guarda-livros e de seu substituto even-
tual na direção da colônia. Bem acertada foi, aliás, a escolha
do dr. Blumenau, porque no exercício de suas funções, Her-

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mann Wendeburg prestou inegáveis serviços à coletividade e
revelou sempre dedicação e carinho excepcionais pelas cousas
e pela gente blumenauense.
A vida da colônia quase não se alterou nos anos se-
guintes, 1854 e 1855. Em 1854, fixaram-se na colônia 146 imi-
grantes, sendo trinta e uma famílias e vinte solteiros.
Referindo-se ao ano de 1854, o dr. Blumenau ・ウ」イセ@
veu, cheio de desalento, as seguintes palavras:
"Desgostos, trabalhos excessivos, miséria, a vida sem um UOl-
co e breve raio de alegria, o triste pressentimento de estar ・ュセ@
pregando inutilmente as minhas energias e o meu último vintém,
、・ゥク。イュセ@ exausto, impossibilitado de trabalhar como no エ・ュセ@
po passado.
A perspectiva, pois, nada tinha de risonha, os meus recursos
estavam quase no fim pela carestia reinante e pelos muitos 。オセ@
xílios pecuniários prestados aos imigrantes. Eu não podia 」ッョセ@
tar com rendimentos; a imigração se fazia lentamente porque na
Alemanha, principalmente na Prússia, as a utoridades faziam uma
guerra tremenda à emigração para esta terra riquíssima que,
para ser grande, se ressente apenas da falta de braços para o
trabalho" (35).
Entre os fatos de maior relevância do exercício de
1854, deve-se registrar a instalação, na sede da colônia, da pri-
meira escola pública primária, que ficou sob a direção do pro-
fessor Fernando Ostermann. Desde que chegara à colônia, em
1852, esse professor se esforçou por falar e escrever correta-
mente a lingua nacional, tendo, para esse fim, ido residir al-
gum tempo em cidades brasileiras. O professor Ostermann, que
se naturalizara brasileiro e fora aprovado no exame de habili-
tação para exercício do magistério, foi nomeado, em 13 de Ju-
nho de 1854, pelo Presidente da Província João José Coutinho,
regente da cadeira de primeiras letras então criada na colônia
com o direito à remuneração anual de Rs. 350$000.
No ano de 1855, chegaram à colônia apenas 32 imi-
grantes. A situação financeira do dr. Blumenau tornara-se ainda
mais precana. Foi então, que ele resolveu, mais uma vez,
apelar para o Governo Imperial, no sentido de obter o indis-
pensável apoio financeiro para o seu estabelecimento. Partiu
logo para o Rio de Janeiro, onde, em Abril de 1855, conseguiu
com o Governo um acordo de financiamento.
Pelo contrato então firmado, o Governo obrigara-se a
adiantar, sem juros, oitenta e cinco contos de réis, sendo vinte

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e cinco contos no primeiro ano e dez contos por ano, nos seis
seguintes. O Governo Imperial ficava, ainda, obrigado a con-
ceder durante sete anos a verba de oitocentos mil réis anuais
para pagamento de um ministro protestante (36). Além disso,
o Governo concedia a importância de dez contos de réis para
a compra de terrenos junto ao porto do rio e a construção de
uma ponte de desembarque (37). O Governo emprestava, ou-
trossim, a quantia de trinta e dois contos para a construção
de um caminho, ligando o vale do Itajaí ao planalto. Este úl-
timo empréstimo deveria ser amortizado a partir do quarto ano,
com a prestação anual de oito contos de réis (38). Por sua
vez, o dr. Blumenau assumia perante o Governo Imperial o com-
promisso de introduzir e estabelecer na colônia, dentro do pra-
zo do contrato, 4.000 colonos alemães ou dos Estados Unidos
da América do Norte, sendo que nos cinco primeiros anos, de-
veriam entrar, pelo menos, 1.600 imigrantes e nos aois anos
seguintes, os restantes 2.400. Em garantia do empréstimo, fi-
cava hipotecado ao governo o seu sítio da Velha. Mas, as
partes de terras devolutas concedidas ao dr. Blumenau não fi-
cavam gravadas pela referida hipoteca, afim de que ele pudesse
vender os lotes aos imigrantes, livres e desembaraçados de
qualquer ônus (39). O pagamento dos adiantamentos efetua-
dos pelo Governo far-se-ia, em parte, pelas indenizações que
seriam conferidas ao dr. Blumenau, por imigrantes que ele in-
troduzisse na colônia, sendo as indenizações de vinte mil réis por in-
divíduo de 5 a 10 anos e de trinta mil réis , quando o imigran-
te era maior de 10 e menor de 45 anos de idade (40).
Com o auxílio pecuniário recebido do Governo Impe-
rial, tratou o dr. Blumenau de incentivar a imigração para a
sua colônia. Para este fim especial, em Junho de 1855 enviou
o seu sobrinho Reinhold Gaertner à Alemanha, com poderes e
instruções especiais para combater a má vontade dos governos
alemães, notadamente o da Prússia, no que dizia respeito à emi-
gração (41. Encarregou-o, ainda, de publicar na Alemanha o
seu livro "Deutsche Kolonie Blumenau in der Provinz Santa Catarina in
sオ・、セbイ。ウゥャョBL@ aparecido em princípio de 1856 no qual o dr.
Blumenau combate todas as prevenções contrárias à vinda de
alemães para o Brasil e exalta as condições vantajosas de sua
colônia. Reinhold Gaertner desincumbiu-se satisfatoriamente
de sua missão, pois, apesar de todos os entraves, conseguiu tra-
zer para a colônia 292 imigrantes, que aqui chegaram nos pri-
meiros dias de 1856.

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Dois acontecimentos dolorosos abalaram a vida da cô-
lonia em 1856; uma enchente do rio Itajaí-açu, que causou ex-
tensos estragos à lavoura e um assalto dos índios. Foi em 9
de Fevereiro que os selvícolas atacaram a propriedade do co-
lono Augusto Hamester, em Itoupava Seca, matando-o junta-
mente com seu empregado Johann Kaben. Ambos os colonos
trucidados pelos selvagens haviam chegado à colônia no mês
anterior (42).
No ano de 1857, a imigração continuou elevada. Es-
tabeleceram-se aqui, durante esse ano, 199 imigrantes. Em 23
de Julho, informa Robert Gernhard (43), chegou à colônia o
pastor Oswald Hesse, primeiro ministro protestante de Blume-
nau, que oficiou o culto pela primeira vez, no dia 9 de Agosto.
O pastor Hesse que se notabilizou no meio colonial pelas suas
virtudes e seu interesse pela educação da mocidade, exerceu o
seu sacerdócio até 1887, quando veio a falecer (44).
No ano seguinte (1858), a imigração, de novo, come-
çou a declinar. Apenas 81 imigrantes chegaram à colônia. Não
obstante, o dr. Blumenau sentia-se animado e certo do futuro
engrandecimento de sua empresa. A colônia fora elevada à
categoria de distrito de paz, pela lei nº 461, de 6 de Agosto.
A lavoura progredira. admiravelmente. A safra de cana atingiu
cerca de 2.430 arrobas. A colheita de milho, também, foi
abundante e suficiente para o consumo da colônia.
A indústria fora enriquecida, pois, nesse ano, instala-
ram-se mais os seguintes estabelecimentos: uma fábrica de lou-
ças de barro, três engenhos de farinha de mandioca, dez de
açúcar e dez alambiques. Para melhorar o gado, o diretor da
colônia introduziu touros e novilhos da raça tourina. Algumas
obras públicas, outrossim, foram efetuadas no transcurso desse
exercício, a saber: a casa de moradia do pastor, uma casa para
abrigo de imigrantes, na povoação da colônia, um rancho para
o mesmo fim. situado nas proximidades do ribeirão Itoupava,
um plano inclinado, carro e guindaste para carga e descarga
de bagagens, situado à margem do rio, na sede da colônia (45).
Durante o ano de 1859, entraram em Blumenau ape-
nas 71 imigrantes. As dificuldades que se antepunham ao mais
rápido e perfeito desenvolvimento da colônia, tornavam-se cada
vez mais numerosas e insuperáveis. O dr. Hermann Blumenau
pôde, então, verificar quão gigantesca era a tarefa de que se

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incumbira. Chegou à conclusão de que não poderia cumprir as
obrigações que contraíra pelo contrato de financiamento de
1855. Por essas razões, o dr. Blumenau entendeu-se com o
Governo Imperial e conseguiu, em 13 de Janeiro de 1860, fa-
zer a cessão de sua colônia ao Governo, pelo preço total de
cento e vinte contos de réis, do qual seria descontada a quan-
tia de oitenta e cinco contos que já lhe fora adiantada nos
anos anteriores. Pelo contrato de cessão de sua colônia, o dr.
Blumenau ficava, a título efetivo, exercendo as funções de di-
retor da Colônia Imperial até a sua extinção. Esta circunstân-
cia, conforme salientou o historiador José Deeke (46), foi um
dos mais importantes fatores do progresso de Blumenau, por-
que assegurou à Colônia a continuidade do sábio e dedicado
governo de seu próprio furldador.
Com este ato do Governo Imperial, inaugurou-se para
Blumenau um período de grande prosperidade. Até então, po-
de-se afirmar, contara a Colônia apenas com a abnegação do
seu fundador e os esforços dos colonos. A partir de 1860, porém,
ao interesse constante e à orientação inteligente do dr. Blume-
nau, aliaram-se o valioso apoio do Governo e a proteção pessoal
do próprio D. Pedro 11. Para que melhor se possa apreciar o
valor do auxílio do Governo Imperial, basta salientar que, no
primeiro ano, a verba destinada à colônia foi de Rs. 12:912$560.
Não era uma importância vultosa, mas, como frizou José Deeke
com inteira procedência: "considerando-se que o dr. Blumenau
mantivera o empreendimento durante dez anos com a sua fortuna
pessoal de vinte e cinco contos de réis, bem podemos avaliar
o que significava para a colônia o capital empregado pelo
governo" (47).
Com melhores e mais amplos recursos, pode o dr .
Blumenau ir avante nos seus propósitos. E quando, vinte e
poucos anos após extinguiu-se a Colônia pela sua ereção em
município autônomo, o dr. Blumenau podia sentir-se verdadeira-
mente feliz, por haver realizado com inexcedível brilhantismo,
na idade provecta, o ideal de colonizador que fora o sonho
dourado de sua mocidade, a suprema aspiração de sua existência.

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C APÍTUL o IV
Como Viveram os Primeiros Colonos
Sacrifícios, renúncias e tristezas, caracterizaram a vida
dos colonos blumenauenses na década 1850-1860. Somente o
firme propósito de criarem para os seus descendentes um novo
lar mais farto em uma nova pátria mais generosa, deu-lhes o
ânimo e a perseverança indispensáveis para vencerem tantas
dificuldades e aflições.
De início, deve-se salientar entre os motivos de maior
sofrimento para os colonos, o trauma efetivo inerente ao emi-
grante. Por mais imperiosos que sejam os motivos que levam
o indivíduo a emigrar, não se opera impunemente para a
personalidade, o abandono da terra natal, o desprendimento
dos velhos conhecidos e amigos, a rutura de arraigados hábitos
e costumes.
A consequência natural e imediata da emigração, é o
trauma psicológico profundo e aflitivo que martiriza o emigrante
nos primeiros tempos e se manifesta em sua vida na nova terra,
conforme as condições personalíssimas de cada um, pela tris-
teza, pela saudade, pelas atitudes anti-sociais de rebeldia e, por
vezes, pelas perturbações psíquicas. N o caso da emigração
para Blumenau, os padecimentos dos colonos, oriundos de seus
esforços de adaptação ao novo habitat ainda mais se agravavam
porque, acostumados a vida de aldeias ou cidades européias,
viam-se, de chofre, em plena mata virgem da região sub-tropical
de um país que lhes era quase desconhecido. Não podiam ser
mais completas, portanto, as modificações no estilo de vida do
emigrante alemão que se destinava a Blumenau. E tais altera-
ções estendiam-se dos hábitos alimentares, do tipo de habitação,
do método de trabalho, até às atividades recreativas.
Um ligeiro retrospecto sobre o modo de vida dos pri-
meiros colonos blumenauenses mostrará que a árdua tarefa de
colonizar, exigiu daqueles humildes e anônimos pioneiros de
civilização nas selvas marginais do Itajaí-açu, um elevado tributo
de esforços, abnegação e tenacidade.
Em primeiro lugar, o clima demasiado quente no verão
acarretava para o colono recém-chegado, algumas perturbações
fisiológicas, tais como dores de cabeça, eczemas e sensação de

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fadiga. Mas, esses incômodos, como explicava o dr. Blumenau,
passavam com brevidade, sobretudo se o colono adotava métodos
de alimentação e de trabalhos adequados ao meio (48).
O rio, que era a via natural e única comunicação
Qntre os diversos pontos habitados, tornava-se, por vezes, um
obstáculo ao bom desenvolvimento da Colônia. As suas en-
chentes periódicas, não só destruíam o produto de trabalho de
alguns meses, como punham em perigo a própria vida do colono.
A simples navegação do rio não era isenta de perigos para
aqueles que não sabiam utilizar, com a necessária perícia, as
canoas finas e compridas. Aliás, logo no começo do ano de
1852, o obituário da colônia se iniciava com a morte por afo-
gamento no Itajaí, do carpinteiro Daniel Pfaffendorf. E por
muitos anos, enquanto o Itajaí e seus afluentes foram os únicos
meios de locomoção, a crônica de Blumenau registrou elevada
percentagem de afogamentos.
A selva, que então cobria todo o vale, não era tam-
bém um obstáculo fácil de vencer. A derrubada da mata para
o preparo das primeiras roças ou construção de rancho primitivo,
não raro causava acidentes, porque as copas das gigantescas
árvores ligadas às vizinhas por fortes cipós, arrastavam na sua
queda galhos da grossura de árvores e, por esse mesmo motivo,
algumas vezes a direção da queda ocorria de modo diverso do
previsto pelo corte. Um acidente dessa natureza, felizmente
sem maior gravidade, ocorreu com o sábio Fritz Müller, que
assim o narrou em uma de suas cartas para sua irmã Roschen.
"Ainda preciso 」ッョエ。イセ・@ que uma vez quasi perdi a vida no
mato. Havíamos cortado árvores e estávamos partindo os galhos
espalhados no chão. eョ」ッエイ。カセュ・@ ・ョエイセ@ os galhos de uma
laranjeira, quando ouvi chamar o meu nome e vi que o palmito
que Augusto estava cortando, caía em minha direção. Não pude
fugir tão depressa e o tronco bateu na minha cabeça. Caí ウ。ョセ@
grando, no chão. Logo, porém, recuperei os sentidos e com
compressas que fiz durante toda a tarde, melhorei bastante. Mas,
ainda hoje, muito sol faz mal à minha cabeça. Cortar árvores
aq ui na mata, é muito perigoso, pois, muitas vezes, a direção
da queda dos troncos cortados é desviada por cipós e outras
plantas" (49).
Além dos perigos das derrubadas, a selva ocultava dois
terríveis inimigos dos colonos: os índios e as feras.
Os índios foram, desde o princípio do estabelecimento
colonial, o terror constante dos colonos. Pouco nump.rosos, mas

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astutos e destros em seus ataques, os senhores da floresta , que
quasi sempre atacavam de surpresa, fizeram muitas vítimas.
Aqueles imigrantes que se localizavam nos pontos extremos da
colônia, viveram por muitos anos em contínuo sobressalto pelo
fundado receio de saques e morticínios por parte dos selvícolas.
A relação completa de seus ataques à zona colonial, estende-se,
no tempo, desde 1852, data do primeiro assalto à propriedade
do dr. Blumenau, na Velha, até quase aos nossos dias, quando
se fez a pacificação do grupo remanescente de botocudos, que
habitava, então, a zona do rio Plate.
A vida dos colonos durante os primeiros anos, foi per-
turbada ainda pelos ataques de animais perigosos: onças, cobras
venenosas, etc. As cobras venenosas foram, sem dúvida, per-
manente e traiçoeira ameaça à vida dos colonos, porque naquela
época não dispunham eles de eficientes recursos terapêuticos
contra o envenenamento produzido por mordida de cobra. Aliás,
é muito possível que um exame mais detido no obituário colo-
nial venha a confirmar a tradição oral existente, de que foram
numerosos e frequentes os casos de morte em consequência de
picadas de cobra. Tão encontradiços, de fato, foram em Blume-
nau, esses perigosos ofídios, sobretudo os da espécie denomi-
nada "jararaca", que um riacho situado no bairro da Velha
conserva, ainda hoje o nome bastante expressivo de "Jaraken-
bach", - evidente corruptela da palavra "jararaca", seguida
pelo designativo "b a c h" que, em língua alemã, significa
"ribeirão". É verdade que em consequência do desbravamento
da mataria circundante, esses perigos, pouco a pouco, desapa-
receram. Mas, inicialmente, os colonos tiveram de suportar
horas intermináveis de desespero, angústia e inquietação ante
a ameaça das cobras e das feras. A propósito dos ataques de
feras, Fritz Müller, que foi um autêntico colono blumenauense,
escreveu naquela época o seguinte relato:
"Ultimamente, nossa vida teria decorrido muito calma, se não
aparecesse algo que apavora toda a colônia a visita repetida
de onças ao jaguares. Uma manhã, 」ッョエオセュ・@ meu vizinho, que
durante a noite um tigre, como aqui também denominam as ッョセ@
ças, devorara seu cachorro. Não quis 。」イ・、ゥエ£セャッL@ porém, logo
duas noites após, apareceram mortos dois porcos de meu vizinho e,
na manhã seguinte, encontramos pelo caminho uns rastos de animal,
que devia ser muito grande e devia estar acompanhado por outro
menor, do tamanho de um gato bem grande. Preparamos, logo,
as espingardas, as armadilhas e guardamos bem os animais. A
noite, depois de se ter notado o desaparecimento de um 」。セ@

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chorro, um grito repentino fez acordar meu irmão A ugust. Em
companhia de S ... , meu irmão foi ao chiqueiro e viu que duas
táboas do tecto estavam separadas e no chão ・ョ」ッエイ。カセウ@ um
porco morto. Pelas marcas de sangue, カゥ。セウ・@ que a onça já
erguera a sua presa até ao tecto. Ambos, então, pegaram o
animal morto e o amarraram a um tronco de árvore, próximo à
casa. Mal se postaram, armados de espingardas, atrás da
janela da casa, quando reapareceu a onça, que foi recebida com
dois tiros. Por um pequeno instante a fera estacou. Depois fugiu
aos saltos para a mata. Na manhã seguinte, seguimos, por muito
tempo, as marcas de sangue, mas, desde então, a fera não
mais apareceu" (50).
Os hábitos alimentares dos colonos da margem do Ita-
]al-açU, igualmente, diferiam daqueles a que estavam acostu-
mados na velha Europa. O pão de trigo ou de centeio, a ba-
tata inglesa e os legumes diversos, constituiam, na Europa, a
base normal de alimentação do camponês ou do citadino. Em
Blumenau, porém, o trigo e o centeio foram substituídos pela
farinha de milho ou de mandioca, a batata inglesa, pelo aipim
ou pelo palmito, os legumes, só quando as roças não eram pre-
judicadas pelas enchentes ou pelas geadas, apareciam à mesa
dos colonos. Leite, ovos, queijo, linguiça e carne fresca, fo-
ram luxos que só após alguns anos de trabalhos incessantes e
com o desenvolvimento da lavoura e da pecuária, passaram a
integrar o cardápio habitual do colono. Sobre a alimentação
dos colonos, nessa época, uma publicação intitulada "Contos de
um velho colono blumenauense", publicada no almanaque "Volks-
bote" (Mensageiro do povo) para o ano de 1903, informa
com bastante senso de humor e em linguagem pitoresca, o
seguinte:
"Quase não havia cereais, a não ser o feijão, plantas bulbosas,
das quais agora há tanta abundância, foram importados aos
poucos, com dificuldade e muitas despesas das colônias mais 。ョセ@
tigas, de outras províncias e até da Europa. v・イゥヲ」ッオセウ@ o
mesmo fato, com as mudas e sementes de legumes e flores.
Acúcar, farinha de trigo e arroz, eram contados entre os artigos
de luxo. Se não havia farinha de mandioca, 」ッュゥ。セウ・@ palmito
com feijão. Quando escasseava o fubá de milho, ヲ。コゥセウ・@ o
pão de farinha de mandioca. É verdade que muitos faziam 」。セ@
retas ao ュ。ウエゥァ£セャッ@ e, de fato, custava a ser tragado. O pão
de mandioca se era muito assado ficava duro e seco; se porém,
não se deixava 。ウセイ@ bastante, o recheio ficava húmido e crú.
Com o tempo, todos se acostum'lvam, mas sentiam falta do pão
de centeio" (51).
Mas, os pioneiros da colonização de Blumenau se su-
jeitaram a muitos outros desconfortos. O tipo primitivo da

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casa do colono deixava muito a desejar. As palmeiras forne-
ciam quase toda a matéria prima necessária à confecção de
casa primitiva; os troncos partidos e ligados por cipós forma-
vam as paredes; as folhas entrelaçadas e amarradas às ripas,
serviam de tecto. Uma armação de paus e cipós encostada a
uma das paredes, substituia o leito. Troncos de árvores e cai-
xodes, supriam a falta de cadeiras e mesas. A iluminação da
casa, durante a noite, era, às vezes, um problema de difícil so-
lução para o colono. O azeite de baleia, de odor insuportável,
ou a vela de sebo, eram os meios comuns de iluminação. Mas,
quando no único armazém da Colônia se esgotava o estóque
de azeite de baleia e velas de sebo, os colonos passavam mal.
Uns conseguiam um velho tronco de aribá, cujas lascas forne-
ciam ótima iluminação. Outros, se estavam em pleno verão,
improvisavam uma lâmpada verdadeiramente original; apanha-
vam muitos vagalumes e os prendiam sob um copo virado.
Mas; a maioria, por certo, ficava na escuridão, o que podia não
ser agradável, mas era, sem dúvida, muito prático (52).
Na primeira década da história de Blumenau, os co-
lonos não tiveram ao menos, o conforto espiritual da prática
constante de seus cultos religiosos. Nos primeiros dois anos, o
dr. Blumenau, de quando em quando, fazia preleções aos colo-
nos, sobre temas de moral cristã. Já em 1853 o professor que
aqui chegara, Fernando Ostermann, fazia prédicas religiosas,
mas somente nos dias de festa do calendário cristão. Como
não havia igreja, os ofícios eram celebrados num pequeno com-
partimento da única hospedaria então existente, onde o dr.
Blumenau instalara o seu escritório. Só a partir de 1857, com
a chegada do pastor Oswald Hesse, puderam os colonos pro-
testantes contar com a assistência religiosa mais contínua.
Ainda pior era a situação dos poucos católicos romanos mora-
dores na Colônia. Estes tinham de percorrer cerca de duas
léguas de maus caminhos, até a igreja de São Pedro Apóstolo,
em Gaspar, para assistirem à sagrada missa. Somente em
1876, com a designação do padre José Maria Jacobs para vi-
gário residente, os católicos de Blumenau passaram a ter com-
pleta e constante assistência religiosa.
Eram, também, escassas as recreações de que os pri-
meiros colonos podiam usufruir. A população pequena, isolada
na selva e a necessidade de conjugarem seus esforços para
vencerem as dificuldades comuns, originavam uma espécie de

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sociabilidade mais íntima e ininterrupta entre os colonos. Aos
domingos, conta o velho Colono Blumenauense, as famílias se
reuniam nessa ou naquela casa, para comentar os acontecimen-
tos da semana, as alegrias e mágoa da vida do colono na sel-
va. As vezes, alguém trazia um livro para ser lido em voz
alta e cujo assunto era analisado em todos os pormenores (53).
Pode-se, pois, afirmar que foram as palestras entre vizinhos e
companheiros, as únicas formas de recreação dos colonos blu-
menauenses nos primeiros anos da vida colonial. As formas
mais genuinas de cultura germânica, as associações de tiro ao
alvo, ginástica, canto orfeônico, representação teatral e jogo de
boliche, só mais tarde, com o começo da urbanização da Co-
lônia, começaram a surgir em Blumenau.
Data de 2 de Dezembro de 1859. a organização da
primeira sociedade de atiradores em Blumenau, que reviveu
esse medieval festejo popular germânico, com a instituição do
"rei do pássaro". Transposto para a mata virgem, esse fol-
guedo conservou todos os seus traços originários. Começava a
festa pelo toque de alvorada, dado por tiros de morteiros. For-
mava-se o desfile dos atiradores, em coluna por dois, que mar-
chava pelas ruas ornamentadas com flores e folhas. Em pri-
meiro lugar, os atiradores iam buscar os "reis" das festas an-
teriores e, em seguida, rumavam para a sede do clube, onde
davam início às competições de tiro ao alvo e ao "pássaro".
Um baile, em que moços e velhos voltejavam ao compasso de
Rheinlânder, Schottisch, Landler e quadrilha suéca, encerrava
a festa (54). Explica-se, aliás, com facilidade, que tenha sido
a sociedade de atiradores a primeira forma de recreação revi-
vida na Colônia, porque era de todos os traços da cultura re-
creativa germânica, aquela que as condições do meio colonial
mais favoreciam. As demais formas associativas, como as so-
ciedades de cantores, de ginástica e de representação teatral,
só se organizaram muito posteriormente. Uma sodedade cul-
tural, o "Kulturverein ", que tinha por objetivo o desenvolvi-
mento da lavoura e da pecuária colonial pelo intercâmbio de
conhecimento e experiência adquiridas pelos colonos, também
somente em 1863 pôde ser fundada pelo dr. Blumenau.
Até os noivados e casamentos dos colonos faziam-se,
então, por uma maneira deveras sui-generis. Pelas listas de
novos imigrantes, que a direção da Colônia recebia antes da
chegada do navio em que eles viajavam, os homens solteiros

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ficavam sabendo quantas moças solteiras ou viúvas estavam
prestes a chegar. Separavam-se, então, entre os colonos sol-
teiros ou viúvos, um número igual de pretendentes ao matri-
momo. Procedia-se, em seguida, para cada nome de moça, o
sorteio de um dos pretendentes. É claro que esse processo de
escolha por sorte, não chegava jamais ao conhecimento das fu-
turas companheiras dos colonos. Quando o navio ancorava em
Itajaí, São Francisco ou Desterro, os pretendentes iam a bordo,
a pretexto de comprar mantimentos. Nesta ocasião, em geral
com o auxílio do comandante do navio, era fácil a cada colo-
no identificar entre as recém-vindas, aquela que lhe fora sor-
teada. Começavam, então, os idílios e todos sem exceção, num
gesto de galanteria interessada, procuravam demonstrar às com-
panheiras que eram vítimas de uma verdadeira paixão à pri-
meira vista (55). Às vezes. informa ainda o Velho Colono Blume-
nauense, acontecia que a um homem mais velho a sorte des-
tinava uma mocinha, ou ao contrário, uma mulher mais idosa
era sorteada para um adolescente, mas ninguém se rebelava.
Efetuado o sorteio, não havia possibilidade de trocas. Caso,
porém os pares não chegassem a um bom entendimento, o que
só excepcionalmente ocorria, então ficavam ambos livres de
adiarem seus projetos matrimoniais (56). Diante dos hábitos
modernos, esse sistema atinge as raias do ridículo e do absur-
do. Não se pode negar, porém, que ele foi um fator poderoso
de harmonia entre os colonos, harmonia de que muito eles care-
ciam para vencerem as dificuldades comuns da vida na selva.

CAPíTULO V
O Desenvolvimento da
Colônia Imperial (1860-1883)
Os colonos da margem direita do Itajaí-açu receberam
com grande satisfação o ato do Governo do Império, datado de
13 de Janeiro de 1860, que elevou à categoria de Colônia
Imperial o estabelecimento da colonização que Hermann Blume-
nau aqui fundara dez anos antes. É que todos logo compre-
enderam que esse ato administrativo importava em uma garantia
de êxito e pleno desenvolvimento da nova Colônia. E, de fato,
assim foi.
Durante vinte e três anos, a contar de 13 de Janeiro
de 1860 até 10 de Janeiro de 1883, data oficial da instalação

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do Município, a Colônia Blumenau, graças ao amparo direto do
Império e ao trabalho profícuo e incessante de sua gente, pôde
alicerçar o seu progresso e estendê-lo por todo o formoso
Vale do Itajaí.
Entre os fatores que mais contribuíram para o desenvol-
vimento da Colônia Blumenau nesse período de sua história, devem
citar-se: a permanência do dr. Hermann Blumenau na direção do
estabelecimento; o generoso e franco auxílio do Governo do
Império, sem o qual não teria sido possível o real progresso
da emigração européia para Blumenau, e a fixação dos emi-
grantes na nossa terra; enfim, a capacidade de sacrifício, a
dedicação ao trabalho e a perseverança dos colonos e seus
descendentes.
A simples rememoração dos fatos principais ocorridos
nesse período, melhor demonstrará o notável desenvolvimento
da Colônia Blumenau, justificando o ato do Governo, que a
adquiriu de seu fundador.
1860-1861
Ao ser nomeado Diretor da Colônia Imperial, o dr.
Blumenau procurou cercar-se de auxiliares dignos e eficientes,
escolhendo-os entre os colonos de maior capacidade intelectual
e moral. Assim, conseguiu a estreita colaboração das seguintes
pessoas: Hermann Wendeburg, guarda-livros da Colônia e subs-
tituto eventual do Diretor; Hans Breithaupt e Emil Odebrecht,
agrimensores; Karl Wilhelm Friedenreich, primeiro Juiz de Paz
do Distrito; Louis Sachtleben, o primeiro sub-delegado de polícia;
Thedor Schroeder, fiscal, e Theodor Kleine, secretário. Além
dessas pessoas que exerciam cargos especiais na administração
da Colônia, devem citar-se, entre seus colaboradores mais
destacados: Fernando Ostermann, que foi o primeiro professor
público da Colônia; o dr. Bernhard Knoblauch, médico clínico
na Colônia desde 1858; o pastor Rudolf Oswald Hesse, primeiro
ministro evangélico; e, enfim, os irmãos Fritz e August Müller,
que sempre se esforçaram pelo progresso do estabelecimento.
Mas, seria injustiça omitir nesta relação, além de
muitos outros, os nomes bastante conhecidos daqueles que, mais
tarde, prestaram relevantes serviços à Colônia em diversos
setores de atividade, tais como: Padre José Maria Jacobs,
primeiro vigário da Paróquia São Paulo de Blumenau; Victor
von Gilsa, Apollonia von Buettner, ambos professores; Frederico

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Deeke, o comandante de guardas de batedores do mato contra
as correrias dos selvagens, e Heinrich Krohberger, competente
construtor.
Com a verba de Rs. 12:912$560, que o Governo
Imperial destinou à Colônia no exercício de 1860, pôde o seu
diretor organizar condignamente a administração e prosseguir
com maiores facilidades os trabalhos de melhoramentos das
vias de comunicações.
Competia ao Governo do Império baixar as instruções
pelas quais se deveria reger a Colônia Imperial. Mas, somente
em 10 de Dezembro desse ano chegaram essas instruções ao
conhecimento do seu diretor, pelo aviso ministerial de 13 de
Dezembro de 1860. Pelas referidas instruções, ficava o dire-
tor investido de amplos poderes executivos, indispensáveis ao
melhor aproveitamento do trabalho colonial. Mas, o item 13°
do artigo IX das mencionadas instruções, criava, com função
consultiva sobre a aplicação das rendas da Colônia, um Con-
selho composto de cinco membros, maiores de 25 anos de
idade, nomeados pelo Presidente da Província, por 2 anos, e
que podiam ser reconduzidos enquanto bem servissem (57). Na
Colônia Blumenau, porém, este dispositivo regulamentar não
chegou a vigorar, talvez por causa da confiança que o dr. Her-
mann Blumenau inspirava a D. Pedro II. Certo é que, somente
durante prolongada ausência do dr. Blumenau da Colônia, em
1867, foi criado pelo regulamento ministerial de 9 de Janeiro
desse ano, um Conselho Colonial, composto de sete membros,
que começou a funcionar, de fato , aos 5 de Novembro do
mesmo ano (58).
Interessantes e dignas de registo são as citadas ins-
truções governamentais no tocante às atribuições do diretor,
estatuídas nos itens 8 e 9 do artigo segundo:
8º - Proporcionar trabalhos aos colonos recém chegados, de modo
que sem prejuízo da con strução de sua casa e das primeiras
plantações, possam obter meios de vida . Caso, porém, não ィ。セ@
jam trabalhos públicos, nem particulares, o diretor abonará nos
primeiros 6 meses a cada colono adulto a diária de 400 réis,
ao s de 10 a 5 anos a de 240 réis, e aos de 5 a 2 a de 160 réis,
isto porém nos dias em que nenhum trabalho público ou ー。イエゥセ@
cular possa ser dado ao colono. Nos segundos seis meses , e
sobre as mesmass condições, poderá ter lugar o abono de 1/ 2
diária, se de absoluta necessidade for . Os que não quiserem
se sujeitar ao trabalho a jornal ou a tarefa, ィ。カ・ョ、ッセL@ não エ・セ@
rão direito à diária .

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9º - Adiantar, sendo ouvido o Conselho da Colônia, ao colono エイ。セ@
balhador e morigerado, e que precisar de animais e ゥョウエイオュ・セ@
tos agrícolas ou pequenas máquinas para aproveitar os seus
produtos, quantia que não exceda a 300$000, sob hipotéca de
suas terras e benfeitorias. As quantias emprestadas nunca o
serão por mais de 3 anos e o reembolso será feito em prestações.
Os colonos que, vencido o prazo, deixarem de efetuar o ー。ァセ@
mento, ficarão pagando no primeiro ano o juro de 8 %, no ウ・セ@
gundo de 12 %, no terceiro de 18 % e em cada um dos que
ainda se seguirem 24 % e estarão sujeitos ao procedimento ・クセ@
cutivo para pagamento do capital. A soma total dos ・ューイ←ウエゥセ@
mos jamais excederá a Rs. 6:000$000 (59)."

CASA EM セue@ RESIDIU o DR.HERMANN BLUMENAU ATE 1880


FICAVA NA RUA DhSPALMEIRAS(ALAMÉDA DUQUE DECAXIASl
NOS FUNDOS Oh CASA nセ@ 106 ATUAL

(Continua no próximo número)

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As armas c/e Rio c/os (ec/ros
Edison M ueller

A colonização partir de 1874, ーッセ@


do vale do nosso rém , em 、・」ッイ↑ョセ@
rio Itajaí Açu, como cia da execução do
já tivemos ocasião contrato celebrado
de contar nestas entre o Governo
páginas, ・ヲエオッセウ@ Imperial brasileiro
durante cerca de e JoaqUim Caetano
vinte e cinco anos Pinto Júnior, 」ッュ・セ@
seguidos (1850 a çaram a vir para
1875) quase que esta região セウ@ ーイゥセ@
exclusivamente por meiros imigrantes
i m i g r a n t e s ーイッカ・セ@ a I i c i a dos pelos
nientes da Europa agentes daquele
Central, sobretudo contratante na Itália
de origem teuta . A e no Tirol austríaco.

Por esse tempo, e aguardando justamente a intensificação da


ImIgração em decorrência daquele contrato, a direção da Colônia Blumenau
acelerou a demarcação e divisão de lotes nas terras dos vales dos atuais
rios Benedito e dos Cedros, que o Dr. Hermann Blumenau recebera do
Governo Federal.
A primeira exploração desses dois afluentes do rio Itajaí havia
sido feita em 1863, de canoa, por um grupo de desbravadores, oriundos
de Blumenau, chefiados por Augusto Wunderwald. Devido à grande
quantidade de cedros encontrada na confluência daqueles dois rios, local
onde hoje se ergue a cidade de Timbó, Wunderwald deu a um deles o
nome dessa árvore de preciosa madeira de lei, que ainda conserva.
O ano de 1875 assinala a chegada e a instalação em terras do
atual município de Rio dos Cedros das levas sucessivas de imigrantes
vindos do Tirol e da província italiana de Trento, então sob o domínio
austríaco, que marcariam indelevelmente a vida e os costumes da região .
O primeiro grupo, formado por 20 famílias trentinas e aqui
chegado em princípios de 1875, ゥョウエ。ャッオセ・@ na localidade hoje denominada
Pomeranos Santo Antônio.
Logo depois, novo grupo de 25 famílias também de Trento ・ウエ。セ@
「・ャ」ゥ。セウ@ nas proximidades da anterior, no lugar chamado Encruzilhada
(" Crosara"), atual Pomeranos Médio. Ali, em demonstração da sua ーイッセ@
funda fé cristã, ergueram a primeira igrejinha a ser construída em Rio dos
Cedros, dedicada à Nossa Senhora das Dores (Madonna Addolorata).

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Em maio de 1875 novo e mais numeroso grupo de trentinos
・ウエ。「ャ」ゥセ@ na região, em Pomeranos Central. Pouco tempo após a sua
chegada, construíram uma igrejinha de ripas de palmitos, dedicada a Santa
Maria Madalena, substituída alguns anos mais tarde por Nossa Senhora
do Caravaggio, cuja imagem foi adquirida na Áustria, graças à 」ッー・イ。セ@
ção popular.
Também em 1875 ゥョウエ。ャッオセ・@ em Pomeranos Alto, em terras do
atual município de Rio dos Cedros, uma quarta leva de imigrantes trentinos
que, seguindo o exemplo dos seus predecessores na região, também ・イァオセ@
ram uma pequena e rústica igreja à sua padroeira, Nossa Senhora da
Assunção (Madonna dell' Assunta).
Ainda em 1875, novo grupo de imigrantes, saídos de lugares
montanhosos do Tirol e de Trento, ・ュ「イョィ。セウ@ mais profundamente
que os seus compatriotas na floresta brasileira, à falta de colônias 、ゥウーッセ@
níveis, ゥョウエ。ャ、ッセ・@ definitivamente na região que corresponde atualmente
à cidade de Rio dos Cedros. SegUindo as suas profundas convicções イ・ャゥセ@
giosas, também estes imigrantes não tardaram muito tempo em erguer uma
capela a Nossa Senhora da Conceição.
Em 1913, como resultadc de uma petição popular, era criada a
primeira paróquia do município, o curato de Nossa Senhora da Conceição
do Rio dos Cedros.
Em 1934, a povoação onde se localizava o curato foi elevada
à condição de vila, sede do distrito de Encruzilhada, pertencente ao m オョゥセ@
cípio de Timbó, então criado: e alguns anos mais tarde foi denominada
Arrozeira.
Em 19 de dezembro de 1961, a Lei estadual nO 793 criava o
Município de Rio dos Cedros, desmembrado de Timbó e instalado a 28 de
dezembro daquele mesmo ano.
Vale assinalar ainda que, no triênio 1946/ 49, foi construída na
região do Rio dos Cedros, em local de uma queda d'água de regulares
proporções, a primeira de duas importantes represas que integram hoje, de
forma destacada, o sistema energético catarinense. Situadas em terreno
montanhoso, com paisagens impressionantes, as barragens do Pinhal e Rio
Bonito, além de fornecerem energia elétrica através das usinas Palmeiras e
Cedros, constituem assim locais de grande atração turística e conferiram
características peculiares ao município.
Agricultores na sua grande maioria, os imigrantes trentinos
、・ゥ」。イュセウ@ primordialmente às lides do campo, conq uistando às florestas
áreas para as suas culturas. Vêm procedendo de forma semelhante os
seus descendentes.
Desde o início, como revela bem a sua antiga denominação de
Arrozeira, a rizicultura é a mais importante atividade do município e, ーッイセ@
tanto, a sua principal fonte econômica. São dignas de menção também as
culturas de milho, fumo e mandioca.
Importante é também a atividade de exploração florestal, como
a extração e beneficiamento de madeiras, a prod ução de óleos vegetais e o
reflorestamento.

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São estes justamente o s fatos históricos, geográficos e econô-
micos recordados, de acordo com a legítima tradição heráldica, nas armas
de Rio dos Cedros, da nossa autoria, cuja instituição ocorreu no ano
passado, em ato prévio aos festejos alusivos ao seu centenário de fundação .
As armas rio-cedrenses, cuja ilustração encima este artigo, tem
o seguinte brasonamento;
"De sinople uma pala de prata carregada de duas faixas amea-
das de três peças e duas meias-peças de goles acompanhadas
em chefe de uma arruela do mesmo sobrecarregada de uma
flor-de-lis do segundo esmalte; bordad ura enxadrezada de duas
fileiras de prata e de sinople.
(Em francês, o idioma heráldico, é assim;
De sinople, a u paI d' argent chargé de deu x fasces crénelées de
trois pieces et deux demi-pieces de gueules accompagnées en
chef d'un tourteau du même surchargé d'une fleur-de-lis du
second émail; à la bordure échiqueée de deux tires d'argent et
de sinople.)
Coroa mural de ouro forrada de goles com quatro torres abertas
do segundo esmalte.
Dístico; "RIO DOS CEDROS", de prata em listeI de sinople."
Como afirmamos ao descrever, nos artigos precedentes, as armas
de Ascurra, Balneário Camboriú, Indaial e Rodeio, a Heráldica r- sobretudo
uma arte de símbolos; logo, os emblemas heráldicos não devem ser repre-
sentações fotográficas das figuras que representam. Nem os objetos de
uso quotidiano, nem os animais nem as plantas que aparecem nos brasões,
por conseguinte, são os mesmos que se encontram na natureza.
A solução simplista, anacrônica e arcaica de se colocar no
campo do escudo uma represa ou um rio ao natural, ou uma efígie religiosa,
ou ainda uma ou mais representações ao natural de determinadas plantas
(especialmente de arroz), para assinalar as riquezas econômicas ou fatos
históricos particulares do município de Rio dos Cedros, ditada embora
pelos justos motivos que mencionamos antes, optou-se por uma alegoria que
está em consonância com o verdadeiro espírito heráldico.
A paLa, que se assemelha a uma fita colocada em posição per-
pendicular no centro do escudo, representa, pela sua própria forma e pelo
seu esmalte (a prata), a bacia fluvial do município, onde se destaca o Rio
dos Cedros, a fluir na direção norte-sul, através de uma região fertílissima
(o campo verde), até desembocar, com o rio Benedito, no Itajaí Açu. Essa
"peça" heráldica simboliza portanto a inegável importância do rio na vida
comunitária, presença tão notável que seu nome foi transmitido à própria
região que banha e fertiliza.
As duas jaixaof ameadaof, semelhantes aos muros dos castelos
medievais, representam, em inovação simbólica e através de alegoria criada
com estrita observância do verdadeiro espírito heráldico, as barragens do
Pinhal e Rio Bonito que, a par da sua importância econômica, deram
características peculiares ao município.

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d・ウエ。」セ@ de modo especial no brasão uma ェlッイセ、・MゥNヲL@ cuja
forma graciosa todos conhecem. p。QG・」セョッウ@ oportuno, todavia, tereI' aqui
considerações mais amplas sobre essa figura heráldica.
Sempre existiu muita controvérsia a respeito da origem da ヲャッイセ@
、・セャゥウL@ havendo inclusive, sobretudo na França, autores que 、・イゥカ。ュセョ@ da
lança ("javelot") dos antigos gauleses. A única conclusão admissível
parece ser contudo que, a exemplo de outras formas adotadas como "peças"
heráldicas à época das Cruzadas, tambéru a ヲャッイセ、・ゥウ@ tem uma origem
sarracena. Não há dúvida, porém, que em pouco tempo ela passou a ser
identificada, na Europa, como uma flor e, mais precisamente, como uma
representação estilizada e convencional de um lírio.
Desde tempos remotos é preeminentemente a insígnia real da
França. Consta que após o rei Clóvis haver escolhido uma ヲャッイセ、・ゥウ@
como emblema da sua purificação através do batismo, o rei Luís VII, o
Jovem, 。、ッエオセ@ também como uma "divisa", insígnia pessoal e real, em
alusão ao seu nome latino, Ludovicus Florus, segundo a versão mais
divulgada. O escudo desse rei era semeado de ヲャッイ・ウセ、ゥ@ e autores
antigos afirmam que ele オウッセ。@ já em 1147, quando partiu, com os ァイ。ョセ@
des do seu reino e na qualidade de um dos chefes da Segunda Cruzada,
para a Terra Santa.
A quantidade de ヲャッイ・ウM、セゥ@ do escudo real, variável durante
muito tempo, no início do século XIII foi reduzida a três, da seguinte
forma: "em campo azul três ヲャッイ・ウセ、ゥ@ de ouro ". Essas armas, por
vários séculos, foram daí em diante usadas pelos reis da França. A ヲQッイセ@
、・セャゥウ@ aparece por isso, em muitos brasões, como símbolo de nobreza e
soberania.
As ヲャッイ・ウセ、ゥ@ assumiram formas diversas em diferentes épocas,
conservando sempre no entanto as suas características principais; uma folha
central ereta ladeada por duas folhas curvas, reunidas por um anelete ィッイゥセ@
zontal, que deixa visível as pontas inferiores, os "pés", das três folhas .
A ヲャッイセ、・ゥウ@ pode ser de qualquer um dos esmaltes heráldicos.
Na Itália, onde é conhecida por "giglio", o uso da ヲQッイセ、・Mャゥウ@
se difundiu muito rapidamente e são numerosas as famílias que ostentam
esse emblema nos seus brasões. Aliás, um tipo especial de ヲャッイセ、・ゥウL@ "i1
giglio de Firenze", vermelho e em campo de prata, há vários séculos é
também a insígnia da cidade de Florença.
O ario é um símbolo da pureza e エッイョオセウ・@ a flor da Virgem.
Originalmente, no simbolismo cristão, o lírio foi usado por isso como atri-
buto das santas virgens e, mais tarde, como um símbolo da castidade e,
assim, um atributo de vários santos. A ヲャッイセ、・ゥウL@ considerada ーッオャ。イセ@
mente uma variedade de lírio, 。エイゥ「オセウ・@ o mesmo simbolismo.
Mesmo assim, na Arte Heráldica é feita nítida distinção entre
a ェlッイM、・セゥNヲ@ e o Lírio, que é representado exatamente pela flor deste nome.
Por isso, quando existe um lírio no brasão, 」ッウエオュ。セ・@ 、・ョッュゥ£セャL@ na
descrição heráldica, "lírio ao natural" ou mais comumente "lírio de jardim" .
Vale lembrar finalmente que, como atributo de realeza, a ヲャッイセ@
aparece em coroas e cetros de santos de origem real; e é assim um
、・セャゥウ@
símbolo da Virgem Maria como Rainha Celestial.

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A JLor-de-lú prateada recorda, por conseguinte, a religião tradi-
cional dos imigrantes trentinos que povoaram Rio dos Cedros, aludindo a
um fato histórico particular: a construção das pequeninas capelas dedicadas
à Nossa Senhora, que muitas vezes serviram de escolas e pontilharam as
lmhas coloniais, em redor das quais surgiram sucessivamente as laboriosas
com unidades que, independentemente de credo religioso, forjam a grandeza
do município. Lembra também, desse modo e pela sua posição sobranceira,
o próprio orago de Rio dos Cedros, como a guiar e proteger a todos os
munícipes, Nossa Senhora da Conceição, sob cuja invocação foi criado,
ainda neste século, em 1913, o primeiro curato.
Os quadrículo.f de esmaltes 。ャエ・イョ、ッセL@ de praia e de perde, que
compõem a bordadura do escudo, simbolizam, qual um mosaico carinhosa-
mente construído e a exemplo do que sucede nas armas de Rodeio, as
riquezas do município de Rio dos Cedros, que se concentram nas suas
atividades agrícolas: as várias culturas que, ao longo dos anos, contribuíram
e contribuem para a sua grandeza e o seu constante progresso. Pela sua
forma, lembram especialmente os "q uadros" das numerosas culturas de
arroz, cuja importância na vida local sempre foi tão notável que Arrozeira
chegou a ser a denominação de toda a região.
Finalmente, os esmaltes do brasão recordam também, de modo
inil udível, a origem dos principais povoadores de Rio dos Cedros. Cons-
tituem igualmente, como ocorre nas armas rodeienses, as mesmas cores
que, segundo a tradição, foram usadas por Napoleão na bandeira que
desenhou para a sua legião italiana; cores essas que foram mantidas
por Vítor Manuel II na bandeira adotada pela Itália em 1861, quando esta
tornou-se independente, e que iluminam ainda hoje a bandeira tricolor desse
país - o verde, o bronco e o vermelho.
A coroa mural dourada e forrada de vermelho que encima o
brasão é o emblema privativo e consagrado, no Brasil, de sede municipal
e de autonomia administrativa. Constitui a representação da própria cidade,
que se considera ainda, a exemplo das cidades medievais, envolvida pelos
seus muros protetores. As suas quatro torres estão apresentadas logica-
mente de conformidade com a perspectiva, isto é, vê-se uma no centro e
meia de cada lado, estando encoberta a quarta torre.
Como identificação popular e final das armas, a fita verde sob
o brasão contém apenas, em letras prateadas, o próprio nome do município.
O emblema distintivo ora descrito simboliza de modo eloqüente,
em sua singela composição, o município de Rio dos Cedros - e de acordo
com a melhor tradição heráldica, porque a simplicidade das armas é o
principal elemento da sua maior distinção e da sua maior nobreza.

Movimento セッ@ Museu セ。@ família Colonial, セオイ。ョエ・@ o mês セ・@ março セ・@ 1916
500 ingressos vendidos
4 excursões com 77 participantes
17 Lobinhos do Grupo de Escoteiros Leão de Blumenau tendo como chefe responsável a
Sra. Elfride GabeI.
J:lrdim de Infância do Bairro da Velha com 34 crianças.

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Figuras c/o Passac/o
J o S ê E. F I N A R D I
" N ã o é a g rand e:a ou pe:que nf: s dn tarda.
.. o que torna vu lg ar ou nobre a vi da de
.. al g uém. mas a dedicaç ão c om q ue exe c uta
.. e... tar efa" (Carl y l.)

ELIA BARBETTA
Natural de Cremona. Itália . onde nasceu a 4 de janeiro de 1850. era filho
de Glácomo Barbetta e Glovanna Foschlnl. Casado com Lúcia Vlgnanl. filha de Giovannl
e Madalena Vlgnanl. emigrara com sua única filha Virgínia. com dois meses de Idade.
chegando à "Colônla S. Raulo". em Ascurra. nos primeiros meses de 1876. radicando-se
no lote N° 4. da linha colonial Ribeirão São Paulo. o qual continha a área de 250.000
ms2. e pelo qual pagou à Direção da Colônia Blumenau. a quantia de Rs. 250$000 -
recebendo o seu título de propriedade em data de 15 de novembro de 1876.
O casal teve. além de Virgínia. que casou com Matln Matteucci. os seguintes
filhos. todos nascidos em Ascurra: Glacomlna Barbetta. nascida em 30 de março de 1878.
casou com Francesco Testonl; Francesca Barbetta. nascida em 1879. casou com Francesco
Vlvlanl; Antonio Barbetta. nascido em 10 de março de 1881. casou com Joanna Gandln;
Rosa Barbetta. nascida em 1883. casou com Secundo Vagliattl; Generosa Barbetta . nascida
em 29 de janeiro de 1886. casou com Francesco Pacher e Marcello Barbetta . nascido em
11 de julho de 1887. casou com Anna Curto
Ao chegar a Ascurra. Elia Barbetta contava 26 anos de Idade.
Católico fervoroso. frequentando assiduamente a missa dominical. adquirira
excelente educação religiosa nas homíllas e no ensino do catecismo junto ao Santuário de
Caravagglo. em Cremona.
Decidindo emigrar. fê-lo depois de consultar seu grande amigo e conselheiro
espiritual D. Geremla Bonomelli. Bispo Diocesano de Cremona. o qual. ao dar-lhe a benção
de despedida. fez-lhe veemente exortação recomendando-lhe que . ao chegar nas selvas
brasileiras. onde por certo não haveria padres. lesse aos domingos. o Evangelho. rezasse
o terço e as ladaínhas. ensinasse o catecismo às crianças. promovesse. enfim. o espírito
religioso entre os Imigrantes.
Elia Barbetta cumpriu à risca os conselhos do piedoso Bispo de Cremona: ao
chegar a Ascurra. tratou logo de reunir seus companheiros de imigração. estabelecidos
às margens do Ribeirão São Paulo. erguendo tosca capelinha de palmitos. no lote
urbano para tal fim reservado na sede da povoação demarcada e que foi consagrada a
Santo Ambrósio.
Escolhido como capelão. Elia Barbetta durante longos anos. quase 40. foi.
líder religioso de Ascurra . tomando parte saliente em todos os episódios lamentáveis
decorrentes da questão surgida entre a população ascurrense e os Padres Franciscanos.
de Rodeio.
Foi um auxiliar multo valioso do primeiro vigário de Blumenau. então com
jurisdição em Ascurra. Pe. José Maria Jacobs. a quem muito ajudou em suas visitas
apostólicas a Ascurra. onde. como capelão. preparava as crianças para a primeira comunhão.
Tendo trabalhado para uma Farmácia em Cremona. adquirira bons e úteis
conhecimentos de medicina . que prestativamente os aplicava com muito critério. sendo.
pois. considerado como o médico da comunidade incipiente.
Homem profundamente religioso e não menos fanático por sua paróquia.
sofria terrivelmente a cada Interdição que era submetida pelos Padres Franciscanos e.
segundo se comentou na época . teria sido decorrente desses episódios que numa manhã de
julho de 1915. estando em plena sacristia da Capela. sofreu mortal Insulto cardíaco. pondo
fim a cerca de 15 anos de lutas e dissabores mantidos contra os adversários de sua paró-
quia. que tanto amava e pela qual tanto lutara.
A morte súbita do seu líder religioso consternou sobremodo a população
ascurrense que . acorreu em grande número . ao seu sepultamento. no cemitério local.

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Subsídios à Crônica da Colônia de Blumenau
Frederico Kilian

De um DIÁRIO de AUGUSTO MÜLLER. irmão do sábio, Dr.


Fritz Müller, extraímos os seguintes apontamentos, por ェオャァ£セッウ@ de algum
interesse principalmente aos que se dedicam às pesquisas sobre fatos ッ」イセ@
ridos nas primeiras décadas da Colônia de Blumenau .
x x x x x
1877, 25 de Julho: Fortes trovoa das, a noite inteira, relâmpa-
gos, trovões e chuvas torrenciais, até à noitinha do dia 26.
29 e 30 de julho: Continuam fortes ch uvas com trovoadas, que
continuavam até 2 de agosto, inclusive. Enchente - O engenheiro Corco-
roca, genro do sr. Wendeburg morreu afogado na noite de 31 de julho,
quando pretendia, vindo de cima, passar a cavalo pelas águas nas proximi-
dades de Hermann R uediger. Dia 8 de agosto, novas trovoadas e ch uvas, de
forma que a ponte do Garcia estava nova mente debaixo d'água. (Npta do
tradutor - Trata-se da ponte a ntig a, de madeira, que ficava em nível in-
ferior à atual).
28 de ago sto: Jubileu de prata (25 anos) da Colônia de
Blumenau: De manhã; Toque de alvorada por uma bandinha; congra-
tulações do JUiz de Paz e Sub-delegado; uma delegação do K ulturvereein
entrega um mem o rial, no qual é ressaltado o de se nvolvimento da colônia e
um album, com fotografias (vista total do centro colonial Hsエ。、セーャコIL@ ・、ゥセ@
fícios públicos, Casa do Dr. Blumena u). À tarde : Desfile das sociedades
pelo centro da cidade. Fotografias, Canções, Banquete. À noite bailes e
teatro.
Irmão Fritz voltou de Dona Francisca e estava aborrecido por
ca usa do tempo chuvoso.
8 de setembro: Algun s colonos se negaram a pagar os emo-
1umentos para o registro das crianças - Prisão e Processo, mais de 100
mil réis de despesas. Dia 10 de setembro cerca de 40 Pomeranos do Rio
do Testo chegaram devido este assunto; foram apaziguados por L. Sachtle-
ben, - dia seguinte cerca de 60 colonos do Alto Rio do Testo vieram
por ca usa de questões de caminho - 6 dias de trabalho por ano a realizar
no caminho - novamente acalmados .
23 de !'etembro ([t' 1877 : Ina uguração da Igreja Evangélica.
- tempo horrível; rio bem alto.
26 de setembro: No Rio Morto um brasileiro, Marcelino, de
22 anos assassinou sua mulher de 20 anos, por ciúmes, com um tiro atrás
da orelha - foi preso pela polícia .
14 de dezembro: Bugres assaltaram a casa de Zotz, em Encano.
31 de dezembro: Apresentação da peça "Preciosa" no teatro
(esposa e filha Luiza de Aug . Müller foram a cavalo de Salto Weissbach
onde moravam, à sede para assistirem à apresentação).

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1878 - 24 de fevereiro: Os bugres assaltaram o distrito dos
italianos e mataram um homem, uma mulher e uma moça.
1878 - 14 de junho: O Presidente da Província visita a Co-
lônia - fala alemão - Apresentação de "Preciosa" no Teatro.
12 de outubro: Vento terra I muito forte. Em alguns locais
frios, geada.
Em setembro (1878) nevou no Salto Pilão.
17 de outubro: Fui buscar uma máquina de cortar rações na
Garcia.
O preço de fábrica da máquina importou em Rs. 62$400
Frete e despesas « 69$400
Rs. 131$800
1878 - 3 de novembro; Assembléia do::; acionistas da Com-
panhia de Navegação a Vapor . Roloff encarrega-se de fornecer, por 20
contos de réis, um vapor de estrutura de ferro até Itajaí e de pô-lo em
movimento.
1879 - 23 de março : Um terreno na sede, em frente à far-
mácia, foi arrematado, em hasta pública pelo Sr. Grewsmuehl, pelo preço
de Rs. 1:655$000.
28 de setembro: Um tigre atacou um italiano em seu rancho;
a caminho para Garcia o colono morreu.
13 de novembro : Numa picada nova, na Itoupava um tigre
atacou um inglês que dormia em sua casa de palmitos, através da parede
de palmitos e procurando arrancá-lo para fora, que o colono morreu no
dia seguinte em consequência dos ferimentos recebidos. Depois o tigre ma-
tou um cavalo e carregou-o cc. de 50 braças até uma cerca onde o lar-
gou. Ferido por um tiro de arma de disparo automático, o tigre foi per-
seguido por caçadores e cães e morto. Sem a cauda, ele mediu 13 1/ 2
palmos (3 metros).
13 de dezembro: Um filho do Sr. Schroeder entra em briga
com um italiano e o apunhala.
1880 - 23 de janeiro- Um tigre mata e leva um porco do co-
lono Withoeft. Reinhold Kaestner e Hins Withoeft vão a seu encalço no
mato, com cães. O tigre mata ambos os cães; o porco foi encontrado no
Morro dos Coqueiros e armaram uma espingarda de disparo automático.
Dia seguinteWilh. Weise, A. Bradatz e Robert Hinsching foram averi-
guar. Robert Hinsching sofre a perda de seu cachorro e a espingarda
falha novamente. Cristiano Spernau arma então 4 espingardas. O tigre
não apareceu mais.
27, 28 e 29 de janeiro; Fortes trovoadas com chuvas. A
lagoa está cheia. A Colônia está prestes a ser emancipada.
Meados de fevereiro: O tigre busca porcos e galinhas de vá-
rios lugares em Baixo Encano; também no Paupitz cerca de 20 galinhas
de cima de algumas árvores de laranjas. São armadas espingardas e ar-
madilhas. O tigre é ferido por um tiro automático e perde muito sangue,
mas não foi encontrado. - Roubos de galinhas no R. Roedel e M. Mark.

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1880 - Relato sobre a enchente. (Ocorrências em Salto
Weissbach e Blumenau).
Depois de ter chovido constantemente nos dias 20 e 21 de se-
tembro, a chuva intensificou-se no dia 22 de setembro, de forma que foi
necessário abrir uma comporta do dique da represa do moinho (no lote de
Augusto Müller, em Salto Weissbach - Nota do Tradutor). À tarde ch,o-
veu mais forte. Pelas 9 1/ 2 horas da noite abrir a segunda comporta. As
11 1/ 2, o Sr. Weise pediu socorro, para ajudar a levantar o seu açúcar,
visto que a água já penetrava na varanda. Quando eu fui então ao moinho,
a água já transbordava pelo dique e já havia atingido os caixões de fa-
rinha dentro do moinho. Nós colocamos os barrís de fubá e o milho em
posição mais alta e recolhemos as ferramentas. Chovia à cântaros e as
águas subiam tão de pressa que fomos obrigados de retirar as galinhas e
porcos dos estábulos e galinheiro. Pelas 3 horas a água baixou um pou-
co, já que o vão debaixo da ponte dava vasão, mas pela manhã subiu no-
vamente.
23 de setembro: As águas atingiram a estrebaria das vacas e
as colmeias das abelhas, debaixo das laranjeiras ficaram na água. Nós
buscamos as mesmas, transportando-as numa porta velha, na qual havíamos
amarrado um cipó. Depois do lanche fomos buscar Cana ubá do terreno
da escola, tendo que passar pela água até acima dos joelhos, estando as
águas já até ao portão do nosso jardim. - Johannes (filho de Aug. M.)
está ajudando a Lange a elevar o sal, pois as águas já atingiram a soleira
da porta. Quase que ininterruptos aguaceiros. Pelo meio dia as águas
param de subir e baixam lentamente - novos aguaceiros e as águas retor-
nam a subir.
24 de setembro: As águas baixam lentamente, porém conti-
nua a chover qllasi sem cessar . À tarde levamos o gado outra vez ao
pasto. As águas baixam muito devagar. Aos poucos chegam notícias so-
bre o nível das águas e os estragos na sede (Stadtplatz).
25 de setembro: H. Lange e Alberto Stutzer enfrentam os
obstáculos para chegarem à sede. A totalidade da sede está de b a i x o
d'água que atinge o balcão (sacada) da Casa da direção (atual prédio da
Prefeitura). Os moradores da Cidade se refugiaram, com auxílio do vapor,
nas igrejas católica e evangélica. As casas de Carl Ruediger e Ludwig
Weise tombaram. As de Grewsmuehl e Rabe, como as de Asseburg,
ameaçam ruir. Do Peneder e sapateiro Grasser várias cabeças de gado,
cavalos e porcos morreram afogados. Todas as casas, com exceção das de
Alfredo Beims, Hosang e Ba lIcke também de Grassmann estão debaixo
d'água. A olaria de Bugmann está demolida . - Limpeza do moinho.
26 de setembro: Visita a Lange: Notícias do Rio do Testo:
O moinho de Fritz Karsten foi levado pelas águas; os animais do capataz
Hoffmann (cca. 11 a 12 cabeças) morreram afogados; 18 pessoas morrerarr
afogadas, entre elas o jovem da família Grützfeld, composta de 6 pessoas,
no Vale do Selke, soterrados dentro de casa, por desabamento de terra.
26 de setembro: Seeliger teve que se refugiar para o morro.
A casa de Waldow foi levantada e deslocada; a serraria de Roweller foi
levada pelas águas, com todas as tábuas; da mesma forma a de Friedr.

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Koegler. Franz Klein perdeu todos os ウセオ@ animaís e mal põde salvar sua
vida. Johannes, Johann e Carl Krieck quiseram ir até à sede mas 」ッョウ・セ@
guiram somente chegar até Hermann Ruediger, cuja casa está repleta de
refugiados. Estes H. Ruediger conseguiu salvar com o auxílio de uma 「。ャセ@
sa feita às pressas de tábuas.
27 de setembro; Limpeza do moinho e instalações. r・。「イセ@
tura das aulas com 6 alunos (Nota do trad. - Augusto Müller exerceu o
cargo de professor em Salto Weissbach durante mais de 25 anos) - Johann
e Gustav (filhos de Aug. M.) ajudam a reparar o caminho para o Salto,
da mesma forma os colonos dos Fundos - Gust. Krieck e Jahn. Essig-
Schulze (o vinagreiro) cai da bateira e é levado pelas águas até b。、・ョセ@
furt, onde foi salvo. - Notícias de cima: As pontes sobre os ribeirões
Warnow, IIse, etc., foram todas arrastadas. No morro da Subida o 」。セ@
minho desbarrancou até às pedras nuas.
17 de outubro; Johann Hennings e Luise (genro e filha de
Aug: M.) festejam seu casamento.
11 óe novembro; Hermann (filho de Aug.M.) parte para a
Província de São Paulo.
1881. 13 de janeiro: Hermann Wendeburg falece ゥョ・ウーイ。、セ@
mente de ataque cardíaco. Solene enterro.
1883. Falência de Meyer & Spierling. Sessão do J uri na c¬セ@
mara Municipal. O" Immigrant". - Festa de aniversário da fundação do
" Liederkranz ".
1894. 24 de março: Minha cunhada (esposa do Dr. Fritz
Müller) falece após 4 meses de acamada de um mal intestinal no dia de seu
68 0 aniversário.
25 de março (Domingo de Páscoa) Enterro de minha cunhada.
1897. 21 de maio: Às 3 horas da tarde falece meu irmão Fritz.
22 de maio: Às 4 horas da tarde, enterro; Paulo Schwarzer
discursou ao túmulo.
x x x x x x x
Aqui terminou o caderninho, no qual se achavam estes 。ーッョエセ@
mentos e outros meramentes de interesse pessoal ou familiar.
Colaboração de FREDERICO KILIAN, neto, por afinidade, de
Augusto Müller.

Blumenau em Cadernos na Assembléia Legislativa

Em requerimento dirigido à mesa da Assembléia Legislativa


do Estado, o Deputado Aldo Pereira de Andrade, pediu a transcrição
nos Anais do artigo publicado em BLUMENAU EM CADERNOS e de
autoria do Professor A. Seixas Netto, com referência à GEOMETEORO-
LOGIA ATMOSFÉRICA.

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o QUE DIZEM DE NÓS
"B LUMEN A U E M C ADERNOS
B

Em Vitór i a Es pírit o Santo

o Jornalista Christiano Ferreira Fraga, do Jornal " A GAZETA "


de Vitória, Espírito Santo, publicou em 13 de F "vereiro do ano
em curso o seguinte artigo sobre 'Blumenau em CadMuos":

Bl u mena u em Cadernos
Christiano Ferreira Fraga

"Segundo informa a enciclopédia, Hermann Bruno Otto bャオセ@


mp.nau (1819-1899), doutorado em Química pela Faculdade de Filosofia
de Erlangen, foi o colonizador e fundador do município catarinense, que
tomaria o seu nome. Esteve em Santa Catarina de 1850 a 1884, quando
regressou à Alemanha, de lá mantendo entretanto assídua correspondência
com a colônia que organizara. Publicou dois livros valiosos para histo-
riadores e para imigrantes: "Emigração e colonização alemã" (1846) e
"O sul do Brasil em relação à emigração e colonização alemã" (1850).
Blumenau é hoje uma cidade próspera, com cerca de 100 mil
habitantes, e pelo censo de 1970, contando 53 estabelecimentos de ensino
primário, 7 de ensino médio, 1 de ensino superior e 4 radioemissoras.
Agropecuária desenvolvida, indústria têxtil e de produtos alimentícios e
a usina hidrelétrica de Salto.
A Fundação Cultural "Casa Dr. Blumenau " , além de outras
instituições, mantém a revista mensal ilustrada B L U M E NAU E M
C A D E R NOS, destinada ao estudo e divulgação da história de Santa
Catarina, e de que recebemos o número de janeiro último, com 40 pá-
ginas, entre cujos trabalhos publicados encontramos:
a) Um desafortunado escrivão - sobre um caso envenenauo
pela burocracia colonial do século XVIII, num resumo de oito páginas,
mais impressionante do que o romance de Kafka "O processo", e revi-
vendo um episódio real plenamente exatificado.
b) As páginas da notícia do "Encerramento do Primeiro
Congresso de História do Vale do Itajaí ". Encerrado a 13 de dezembro
de 1975, o certame reuniu 170 congressistas, vindos de vários pontos de
Santa Catarina e do Brasil, sendo que 22 eram especialistas em História,
11 conferencistas de renome nacional e internacional. Foram 。ーイ・ウョセ@
tados 3 temas relativos à imigração italiana. 3 conferências sobre 」ッャセ@
nização alemã, 2 conferências sobre arqueologia, 2 conferências sobre
colonização e :povoamento em geral e uma conferência sobre valores
do vale do Itajaí.

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Tiveram real importância as proposições e moções do cッョセ@
gresso. É com efeito admirável tal entusiasmo pela disquisição histórica
e historiográfica, e concentrada sobre uma zona do Estado, realçando
substancialmente a importância dos estudos históricos, hoje tão subesti-
mados até pela reforma do ensino.
c) Na secção "Figuras do passado" o artigo ilustrado "Giuseppe
Finardi", homenageando a memória desse imigrante italiano, que com a
sua mulher Maria Musa, foram dos mais prestimosos pioneiros da colo-
nização italiana de Santa Catarina.
d) A politicagem e o Contestado - narrativa de algumas
passagens sangrentas no município de Curitibanos, relacionadas com ail
campanhas do Contestado. Embora lhe faltem no final datas ・ウ」ャ。イセ@
doras, é louvável o esforço de pesquisa para arrancar do olvido fatos
consideráveis da crônica política, econômica e social do município.
e) Aspectos da economia catarinense nos séculos X V II I e
XIX - A segunda parte desse estudo cons :derando vários produtos
exportados, metalúrgicos, tecidos, erva-mate, manteiga, farinha de man-
dioca, em breve resumo. E 8 páginas de análise do comércio madeireiro de
importação e exportação, em seus altos e baixos, aproximadamente de
1905 a 1947.
Referindo-se a tempos anteriores a 1905: "Nestes anos a
exploração madeireira foi intensiva na região litorânea, sem que ィッオカ・ウセ@
se nenhuma preocupação de reflorestamento ou controle da produção".
Observações semelhantes prosseguem a intervalos, quanto às infrenes
derrubadas, apesar das medidas oficiais de repressão. "A devastação
continuou destruidora".
Em diversos períodos ocorriam crises do comércio madeireiro,
devidas "à superprodução caracterizada pela devastação indiscriminada"
ou a carência de transporte, do que resultava a acumulação de pilhas e
pilhas de madeiras à margem dos trilhos da São Paulo-Rio Grande, e
que ficavam apodrecendo e se desvalorizando (p. 30).
Essa carência de transporte até hoje tem sido de uma 」イッョゥセ@
cidade renitente. No "Informe JB' de YセRMWVL@ lemos que se encontra
"no Nordeste, esperando transporte para ser vendida ao exterior, uma
pirâmide branca de 400 mil toneladas de açúcar".
f) E púr fim "A estância das araucárias", uma historicidade
romanceada de fatos, usos e costumes, bem como da extração, preparo
e comércio da erva-mate, em tempos agitados pela jagunçada - quando
Canoinhas ainda não tivera foros de cidade.
A revista BLUMENAU EM CADERNOS é um atestado da
valorização da cultura entre o público blumenauense e também um
grande exemplo para as demais cidades brasileiras."
Somos gratos pela gentileza.

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Camboriú SigniFica Criae/ouro ele Robalo
por Pe. Raulino Reitz

Li em certo folheto com dados referentes ao nosso


famoso Balneário de Camboriú que seu nome poderia originar-se
de uma estória contada por um caboclo que teria dito que ele
morava lá onde "camba o rio", de cuja expressão mal articulada
teria se originado o topônimo Camboriú. No entanto mapas bem
antigos assinalam o nome Rio Camboriú antes de haver qualquer
povoamento de origem européia na área.
O topônimo Camboriú é de origem tupi, formado pela
aglutinação de duas palavras cambori-u. O primeiro eomponente
cambori, também pronunciado camori, camuri ou camurim significa
robalo, peixe da família dos Centropomídeos, do gênero CentropomuJ"
O segundo componente -u- é um sufixo que no caso significa
criadouro, comedouro, habitat. Cambori-u significa" o robalo come",
"onde há robalo", "come douro de robalo ", "criadouro de robalo".
Da mesma forma Siriú (siri-u), nome de uma lagoa perto de
Garopaba, S C, significa "lugar onde o siri se cria" e Tambaú
(tambá-ostra, mexilhão), "onde há ostras".
O robalo é um peixe do mar que procura os rios cos-
teiros subindo-os em busca de remansos ou lagoas. Nos meses de
inverno (maio a julho) aí procria, sendo notável a presença de
filhotes de robalo nas águas tranquilas de lagoas em comunicação
com o mar ou de poços de rios não muito distantes do mar,
mesmo de água doce.
Por informação de pescadores da região de Camboriú
soube que ainda hoje o Rio Camboriú é rico em robalos, cuja
carne é de primeiríssima qualidade.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda - Novo dicionário da língua
poruguesa. Rio de Janeiro, 1975 .

I H E R I N G, Rodolpho von - Dicionário dos Animais do Brasil. São


Paulo, 1968.
P A WELS, Pe. Geraldo José - Pequeno vocabulário da língua tupy para
compreensão de alguns nomes geográficos do Brasil. S . Pa ulo.

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ESTANTE CATARINENSE
por Carlo .r Braga , J1 ueUer

o GUARDA ROUPA ALEMÃO, de Lausimar Laus


Editora Pallas, em convênio com o INL/MEC - 1975
Editada no Rio, em convênio da Pallas com o Instituto Na-
cional do Livro, a presente obra está sendo apreciada nesta seção por
dois motivos: primeiro, a autora é catarinense. Segundo, a ação se de-
senrola em Blumenau, começando nos tempos da colônia, seguindo até
a época em que o nazismo tomou conta da Alemanha, com profundos
reflexos no Brasil.
Confesso que custei muito a encontrar o livro nas livrarias
de Blumenau. Estranhei. Afinal, uma escritora de Santa Catarina e
uma história passada em Blumenau, são motivos mais que suficientes
para um livro ter boa divulgação no Estado, especialmente em nossa re-
gião. Mas ninguém conhecia o "Guarda Roupa Alemão". Vi apenas
duas referências na crômca especializada; Norton Azambuja e Nereu
Corrêa (Caderno de Sábado, Correio do Povo, P A). Depois de muita
procura, e por indicação de um amigo, engajado na procura, encontrei
um exemplar numa banca de jornais.
Dos tempos em que eu el a leitor de "Vida Juvenil ", ャ・ュセ@
bro-me de um trabalho muito interessante, que era publicado em série:
"Brincando no Olimpo". A autora era Lausimar Laus. E de maneira
inteligente ela incursionava no mundo irreal dos deuses da mitologia
grega, através de várias crianças que viajavam no tempo. Lausimar
viveu alguns anos em Blumenau. E dessa convivência pôde aproveitar
os elementos necessários para dar um sabor real aos cenários e perso-
nagens que descreve no seu" Guarda Roupa Alemão".
Trata-se da história de uma família alemã, que vem para o
Brasil e se estabelece na Colônia Blumenau. Toda a saga destas pes-
soas e de seus descendentes está no livro; gente nascendo, gente ュッイセ@
rendo, as gerações se sucedendo.
E assistindo a tudo - impassível-o velho" Kleid.", ou seja o
velho guarda-roupa trazido da Alemanha e patrimônio da família. l。オセ@
simar descreve com muita sutileza o envolvimento de um alemão com
uma índia, o casamento dos dois e a reação negativa dos familiares
dele. A ingeGuidade de Sacramento, a índígena, alheia aos segredos do
sexo, casando menina e guardada pelo marido para conhecer o amor ウッセ@
mente após tornar-se mulher, é um dos pontos mais emotivos da ョ。イセ@
rativa. A maneira de Klaus explicar o Sacramento a transformação de
uma adolescente em mulher, é digna de ser mencionada. O escândalo
e o inconformismo causado por um romance entre uma jovem loura e
um negro é outra situação bem explorada pela romancista.

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Blumenau está sempre presente. O Rio Itajaí Açu, a cidade
no começo do século, os costumes germânicos, estão retratados a cada
página, em cada lance.
O final da história é de causar impacto.
Não se pode negar que Lausimar Laus é uma boa escritora.
Esse atributo, aliado à boa concatenação da trama, tornam o trabalho
bastante ir.teressante e fácíl de ser lido.
Achamos que a escritora ・ク」、オセウ@ um pouco no emprego
de palavras alemãs, que ela enfeixou no final do livro, num" glossa-
rio". Para quem não está habituado ao idioma alemão, o mais indicado
é familiarizar-se antes com o glossário.
Porém, o mais difícil vai ser encontrar o livro. A não ser
que a Editora Pallas tenha resolvido suprir bem o mercado.
Leitura recomendada.

A Estância c/ as Araucárias
Evaldo Trierwe ile r
( Continuaç ão do número anterior)

A mlsena desapareceu por alguns dia s . O charque ficou pen-


durado num varal adrede preparado. Fortalecido por um alimento sadio
aproveitou para derrubar o pinheiro. Este forneceu rachões e um tarumã
forneceu moirões. Os dias passavam lentos. Em cada dia se contavam
novos êxitos. Nestor Costa planejava tudo de acordo com o parecer de
Neco Batista. Este o acompanhava na caça, que era repartida na base
da amizade. As peles de animais vendidas davam dinheiro a repartir.
N o primeiro mês conseguiu construir a mangueira e prender algumas
reses. Essas já não fugiam com a aproximação deles por causa do sal.
Zeca Peixoto, caboclo sacudido, vindo das bandas de Lages, à força de
enxó e machado levou a bom termo um cocho para o gado ter sal na
mangueira.
A princípio como não podia deixar de ser, o gado receava os
homen s e mes mo o cocho. Capim fresco colocado no cocho com sal teve
o condão de 。エイ■セャッN@ Nestor com uma paciência imensa ia soltando as
reses. Algumas voltavam com outras . Fugiam, no entanto com a 。ーイックゥセ@
mação do homem. O sal os foi acostumando ao homem e por fim não
mais fugiam.
Neste tempo Nestor aproveitou para cercar um pedaço de campo
para gado leiteiro.
Neco Batista, que traba lhava agora como capataz, era homem
de seus quarenta anos rijo, talhado para as lides do campo. Tipo dos
que para executarem algum trabalho necessita In de uma cabeça pensante.
Tendo o patrão planejado, podia ficar tranquilo que o Neco executava
tudo a conte nto .

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Muitas vezes estivera pensando, porque este moço viera de tão
longe para fixar residência num lugar abandonado. Sozinho sem ninguém
por ele. Quem seria ele e que pretendia. Tentou ヲ。ャイセィ・N@ Nestor,
astuto, mudou de conversa. Neco, no entanto não desanimava. Tentou
por todos os meios 。イョ」セャィ・@ o segredo. E se perguntava;
- Quem era esse jovem entusiasta, que assim trabalhava e
vivia solitário e por vezes até abatido. Outras vezes o caboclo o ・ョ」ッセ@
trava sentado numa tora de pinheiro mergulhado em profunda cisma.
Quando se aproximava Nestor se fazia desentendido, murmurava qualquer
coisa ou 、・ウ」オャー。ョッセ@ dizia que estava descansando um pouco e isso
o fazia cismar.
Quanto a sua origem a resposta era invariável, que viera dos
lados de Valões e ficava nisso. Afirmou que nos tempos de menino ー。ウセ@
sara por ali e por isso sempre pensara em fixar residência nesse rincão
do fim do mundo.
Como fosse necessário plantar, saíram a procura de terra de
planta. eョ」ッエイ。ュセ@ longe dali. Como a terra era devol uta, fizeram
funcionar o machado e derrubaram uma coivara. Nestor olhava para
aquelas toras caídas e dizia;
- Pena é não ter um engenho de serra para serrar essa ュ。セ@
deira daria boas tábuas para minha casa. Tudo, porém, era muito difícil,
muito longe. Fosse como fosse, no fim do primeiro ano já havia levantado
uma casa de madeira serrada a braço. No fim do segundo ano possuía
capatazes que cuidavam do gado. Trabalhadores mourejavam nas roças
e foi adquirindo um ar de respeitabilidade. Os peães diziam;
- Por que será que não casa?
Só pensava em trabalhar. Não ia a festas. Quando, falavam
em mulheres, habilidosamente mudava de conversa. As más línguas não
lhe davam tréguas e juravam que havia um rabo de saia no jogo.
- Talivez, dizia Neco Batista, eu já tô cum ele desdo principo
e não pude arrancá nada.
- Isso vem ainda, disse o Zeca Peixoto. Deve ser uma 「ッョゥセ@
tona que ele viu antes de vi para cá e anda tratando de ficá rico pra
podê trazê a dona. Seja como for o homenzinho pensa e faz. Não é que
inventou de butá um monjolo. Os pau ele já escolheu. Vou começar a
escavar e os carapinas vêm amanhã.
- Apois não diga 1 Vamos tê farinha de milho barata,
disse um peão.
- Minha muié, quando sobé, vai pensá num revirado gostoso.
- Mais então, ele vai botá um monjolo. E quem é que vai
prepará a farinha?
- Ora a Bertulina, a preta véia, que veio lá dos confins do
Juda, onde o diabo perdeu as botas. Adispois que a preta chegou a casa
virou do dia pra noite. J á se come na hora certa e comida boa. M uié é
sempre muié nem que seja preta como a noite. Antonces ele apareceu
por esses dias com um relógio de parede.

QUセ@

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Pr'os diabos, que é que está pensando o patrão?
Não sei, mais fala que vai fazê casa grande.
É verdade, já escolheu os pinheiros e cedros. Já contratou
os homens para serrar a madeira. eウエ。カセ・@ no fim do segundo ano. A
primeira colheita prometia bom resultado. O feijão resultara abundante.
Foi preciso levantar um paiol para guardar o feijão. cオゥ、ッセウ・@ ao mesmo
tempo de rachar tábuas de pinheiro para fazer o assoalho para ーッウエ・イゥセ@
mente amontoar o milho. O terreno produziu abóboras como pedras. Isso
、・オセャィ@ o ensejo para criar porcos. Com pinhões, milho e outras frutas
em pouco tempo varas de porcos corriam a fazenda. Até ali tinha ウオエ・ョセ@
tado os homens com algumas cabeças de gado vendidas. Agora decidiu
matar a porcada e vender a banha. O preço estava baixo. Grande
quantidade, porém, sempre dava bom lucro. A mão de obra era barata.
Um negociante que visitara, achou a morada primitiva, todavia viu
que o rapaz tinha tento para levar avante a tarefa.
Vancê em poucos anos é homem feito.
- Se Deus quiser, respondeu tirando respeitosamente o chapéu'
- Isto é como quem já viu. Não vai muito tempo aí vem uma
morena na garupa. b。エ・オセャィ@ nas costas e foi sacando da guaiaca as
pelegas que pagavam o lote de banha comprada.
- Pode ser, não digo que não. Ainda é cedo para pensar
nisso. Talvez um dia. A preta véia chegou não sei de onde, cuida da
casa e eu posso seguir o meu caminho.
Escolha uma que possa continuar isso que foi começado aqui.
- Vou vê. E despediram-se.
x x x

Dois carpinteiros com alguns trabalhadores da redondeza, 」ッュ・セ@


çaram o trabalho de barragem de um dos ribeirões que vinha do noroeste.
Um cedro havia sido escolhido para fazer o medeiro do monjolo. Com
enxós escavaram uma extremidade de modo a formar um recipiente. No
centro entre as duas extremidades abriram uma cavidade e por ela 。エイセ@
vessaram um cerne de peroba de modo horizontal. Este cerne descansava
sobre dois esteios. Na outra extremidade abriram nova cavidade vertical
e por ela meteram um torno razoável, que fazia as vezes de mão de pilão.
Este torno ia cair dentro de uma redoma de madeira de uns sessenta
centímetros de diâmetro por meio metro de profundidade. A água イ・ーセ@
sada corria por uma calha e enchia o recipiente de uma extremidade, com
o peso ャ・カ。ョエセウ@ a outra extremidade, enquanto essa descia, fazendo o
jogo do balanço. A água escorrendo fazia o tronco voltar ao horizontal
e o torno cair sobre o milho intumecido. Mister é que se diga que o
milho ficava alguns dias na água para por meio desse tratamento se livrar
da película que envolve o grão. Livre dela o processo de socagem, após
ter sido passado na peneira, エッイョ。カセウ・@ mais fácil para obter a farinha de
milho. Diziam os caboclos: que o monjolo cantava sempre a mesma
música: Este mundo é um Louco, mas enfim, tome lá - puff! t・イュゥョ。セ@
do este trabalho que se estendia por alguns dias a farinha era levada
para um forno de cobre. Num fogo brando o tacho de cobre er.a 。アオ・セ@

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cid o por baixo. Por cima, depois da limpeza do azinhavre, ーッャカゥィ。セウ・@
a farinha úmida que se converta em brancos bejús, que se esfarinhavam
novamente, dando a célebre farinha de milho. Essa era recolhida num
saco. O trabalho exigia uma certa perícia e muita paciência. Se a pessoa
facilitasse a fornada queimava. Raramente acontecia, tal o cuidado que
dedicavam ao mister. r・」ッャィゥ。ュセョ@ com um trapo mais grosso para
evitar q ueimad uras.
A farinha 」ッョウ・イカ。セ@ por muito tempo e tinha várias aplicações.
Alguns a comiam com feijoada. Fazia parte integrante do revirado. E a
passoca era tanto mais nutritiva quanto mais farinha de milho entrasse em
sua compOSlçao. A passoca era o alimento preferido dos caçadores. Não
era necessário muito. Um saquitel pendurado à cinta e quando a fome
apertasse bastava tirar um ou dois punhadinhos (concha das mãos) e po:
diam continuar suas andanças, por que o alimento sustentava mesmo. E
de sustança: diziam. Para fazer a passoca tomavam carne (charq ue )
entre gordo e magro, ーゥ」。カュセョッ@ e ーオョィ。ュセッ@ a frigir. Dentro da panela
a frigir jogavam a farinha para depois ャ・カ£セ。@ ao pilão e ウッ」£セャ@ até tudo
se tornar farinha.
Também na estância das araucárias no fim de quinze dias lá
estava o monjolo a gemer noite e dia a sua cantilena. Nestor teve um
sorriso de satisfação, quando o monstrengo funcionou. Todos os agregados
se achegaram para ver o trabalho do patrão.
- Amigos, disse Nestor, amanhã vamos festejar o 。」ッョエ・ゥセ@
mento. O Zeca se encarrega de matar a novilha malhada e fazemos uma
churrascada e do resto charque.
Todos saíram satisfeitos. Neca Batista resmungou: Até que
enfim ele riu. Contente mesmo estava a preta Bertulina pelo sucesso da
estância. O outro dia foi para festejar o acontecimento. b・「オセウ@ um
pouco de consertada e a churrascada correu na maior harmonia. A turma
se divertiu junto ao sulco do braseiro, onde assavam o costela do e a 」。セョ・N@
Nestor chegou onde os homens se divertiam e lhes falou:
- Festa maior será quando a casa ficar pronta. Os homens
já estão serrando a madeira. Arranjei doze homens para se revesarem e
assim o serviço continuará mais depressa. Então faremos um fandango
e vamos divertir a macacada toda. Todos aplaudiram as palavras do jovem
chefe. Também os homens serradores estavam ali e o principal 、ゥカ・イエセ@
mento consistia em contar causos e imitar o mais bobo da turma. Tinha
um tal de Jeroime, que além de engraçado, sabia contar causos. Imitava
gagos, contava ャッイエ。セN@ De vez em quando ッオカゥ。ュセウ・@ gostosas ァ。イャィセ@
das. Alguns jogavam cara ou coroa. Outros jogavam "garrafa ". Este
jogo consistia de paus em formato de garrafa, e um alvo fincado no chão.
Aqueles que atirando a ーウ・オ、ッセァ。イヲ@ chegassem mais perto do alvo
faziam mais pontos. O jogo terminava com vinte pontos feitos. Quem
derrubasse o alvo tinha dez pontos ganhos.
A tarde chegou um gringo com uma sanfona. Gaita de oito
baixos. Naqueles tempos um sucesso. Tocavam: "M-eu boi barroso ",
"A Jardineira", "Melindrosa", "Ingrata" e outras que não lembro mais.
Ao som da sanfona o pessoal se influiu, ensaiou um fandango e espalhou

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o pé no terreiro limpo da faz -? nda . Com a sanfona a festa estendeu-se
noite adentro. Já bastante tarde, despediram-se do patrão que lhes acenava
da porta da casa. Achava que devia ser grato aqueles homens, por tudo o
que possuía, devia a eles pelo seu devotamento e trabalho.
Muita coisa melhorara e havia muito a melhorar ainda . Onde
ele se encontrava o perigo de ser encontrado pelos jagunços era remoto.
Não podia, contudo, afastar essa possibilidade. Naquela noite antes de
dormir, porque a música, a festa acordara as saudades, fez mil planos
para rever a menina de seus sonhos. Como precisava de uns cobres para
pagar o pessoal, resolveu vender uma tropilha. Escolheu seus melhores
p<!ães para ajudá-lo. No dia seguinte preparou tudo para a viagem. Cedi-
nho partiram no terceiro dia. Para onde se\Iuiria? Ora, paraCanoinhas,
Be-la Vista do Toldo. A terra que sabia acolhera a sua amada que
devia existir em algum recanto daquele recanto perdido. Bela Vista
continha a morena de seus desejos. A linda como falava em seus pensa-
mentos, que vivia em seus sonhos, obje to d e sua veneração, motivo de
todo o seu trabalho e canseira.
Naqueles dias, não como hoje em que a mulher é mais olhada
como objeto do que como a futura espos a, prazer da satisfação erótica do
homem, não a dona do coração, a flor abraçada e beijada a torto e a
direito e que levada para casa pelo casamento, torna-se objeto de repúdio,
quando já não satisfaz as exigências do sexo, único fito em grande parte
dos casamentos mal formados, fruto da ed ucação excessivamente libertina
de nossa juventude. O casamento nada mais lhes oferece, já provaram
tudo a ntes .
Não assim naqueles bons te mpos em que a mulher era a dona
do lar, era a mãe dos filhos e com poucas exceções não era encarado de
outra forma o casamento. O amor era considerado como elemento de
comunhão humana. A mulher tanto pode elevar o homem às supremas
c ulminâncias do a mor como pode levá-lo ao desespero e fazê-lo cometer
os mais abomináveis crimes. Ela pode ser a flor que desabrocha no lar ' e
pode ser a serpente que destila o veneno da infidelidade, do ciúme, da
palxao. Esta em vez de se converter em amor, converte-se em ódio. O
cristianismo fez muito pelo amor, convertendo-o num pecado . Não diga-
mos aqui amor, porque amor no verdadeiro sentido da palavra nunca pode
ser pecado. O amor que pode ser pecado, nada mais é que a paixão. E
a paixão que é a raiz do amor de dois seres só se converte em verdadeiro
amor através da reguladora das paixões que é a razão .
Olhada pelo lado da paixão o cristianismo teme a mulher, que
excluiu do sacerdócio. Ele a teme e ele mostra quanto é perigosa e para
isso evoca o Eclesiastes que diz: Os braços da mulher são semelhantes
à rede dos caçadores. E aconselha: .. Não vos apoieis n um caniço que
o vento agita, e não depositeis nele a vossa confiança, porque toda carne
é como erva a sua glória passa como a flor dos campos" . É nesse sentido
também que chama a atenção para aquela que perdeu o gênero humano:
Toda a malícia é pequena comparada a da mulher. Tudo isto olhado da
parte da paixão. Da parte do verdadeiro amor, da parte do verdadeiro senti-
do da vida a mulher eleva o homem e ele mesmo chega aos pontos mais
altos do heroísmo na dedicação ao esposo e amor entranhado pelos filhos.

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Era com os olhos na futura esposa, na mãe de seus filhos
futuros, que Nestor buscava com tanto interesse aquela que agora devia
ser uma moça, uma jóia.
Agora ali estava com seus valentes peães para o caso de ser
atacados houvesse força suficiente para a defesa. Sem novidade chegara
até Bela Vista. O gado nesses dias não valia m uito. v・ョ、ゥ 。 セ ウ ・@ uma rês
aqui e outra ali para corte. Uma tropilha inteira para um dono só era
obra do acaso. Nestor conseguira vender todo o gado que trouxera . d ・ウ セ@
pachou os peães e ficou rondando a terra de Bela Vista sem contudo
encontrar sombra da menina que um dia lhe tocara o coração.
Passou pelo desgosto de não ・ョ」ッエイ£セャ。 N@ Era no tempo de
preparar as roças e a terra de planta ficava longe. Elisa com o pai e
ir mãos estavam na plantação. As roças ficavam longe, por isso, a família
se transferia para lá até terminar o plantio. Em casa ficava somente a
dona e filhos menores ou um casal de criados de confiança para エイ。セ@
mento da criação.
Assim ele só sabia que ela existia. Não lhe sabia o nome.
Ignorava o nome de sua família. Mesmo fascinado pela idéia de カ↑セャ。L@
não se abriu para ninguém, nem procurou saber quem poderia ser o pai.
Queria ・ョ」ッエイ£セャ。@ sem o favor de quem quer que fosse . Era pesquisa
exclusivamente sua. Desprezava qualquer interferência de outrem.
Retornou dias depois à estância, nada disse e continuou o seu
trabalho, com mais disposição ainda. O que para outro seria motivo de
desânimo pa.:a ele era causa de persistência em seu propósito.
Trabalhando, planejando mais dois anos se passaram. Nesse
tempo ficaram prontas as tábuas da casa. Como temesse os jagunços que
ainda não o haviam descoberto, ele resolveu estudar o local da futu,:a
casa com atenção. Foi descobrir perto dali uma aprazível encosta, cujo
fundo dava para um boqueirão. Estudou o local com toda a perícia de
que foi capaz e resolveu construir nessa colina donde podia avistar boa
extensão da estância a casa. O local oferecia boa posição para defesa em
caso de ataque. Disposto a vender caro a sua pele, ヲッイエゥ」オセ。@ a grosso
modo. Seus inimigos, quando o descobriram planejaram a ataque e como
Nestor previra pereceram nele.
x x x

Da zona de plantação emanava um fio d 'água que passava


junto da casa engrossando numa torrente ao se junta r com outro que vinha
do noroeste. Esta água オエゥャコッセ。@ para movimentar um monjolo. Mais
abaixo, uma bica desviava o curso para um cocho de lavar roupa. Em
tudo pensou o jagunço antes de conduzir ao lar a bela dama . Na estância
tudo seguia o mesmo ritmo de tra balho que ele desde os primeiros dias
imprimIra. Seus peães eram homens escolhidos. Só aceitava homens
insuspeitos de terem ligações com o pessoal dos redutos. Qualquer ウオセ@
peita era motivo de despacho. Uma tenaz vontade de vencer e uma 、 ・ 」ゥセ@
são firme ヲ。コゥュセョッ@ progredir naquele fim de mundo falto de tudo. Onde
há uma vontade há também um caminho e essa persistência na decisão
tomada ヲ↑セャッ@ progredir. Essa firmeza também se mostrava na escolha dos
homens que deviam participar nessa sua luta. Por isso confiava em Neco

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Batista que crescera com ele e que estava sempre de olho em tudo o que
se passava. Uma vez denunciado o homem podia partir, Nestor, provada
a culpa jamais voltava atrás. Foi esse o modo de agir que lhe deu ーイッウセ@
peridade. Todavia, nos horizontes apontava sempre a figura da menina que
um dia seria a dona desse lar conquistado à força de ingentes sacrifícios.
Temendo sempre um assalto dos jagunços, porque os rumores
não cessavam, num domingo pela manhã Nestor desceu ao boqueirão e
examinou detidamente aquela região. Um carazal verde, denso subia pelas
abruptas encostas e contrafortes da pirambeira. Enormes pinheiros ・イァオゥ。ュセウ@
sobranceiros, saudando por primeiro o nascer do sol. A mata espessa,
entrelaçada de cipós, tramada de arbustos, alguns espinhosos, de 。「オョセ@
dantes galhadas, tornava difícil a penetração. Enfrentando todos os ッ「ウセ@
táculos percorreu boa parte da valada. Ao chegar ao fundo do boqueirão
topou uma trilha de caçadores que subia para a colina onde pretendia
construir. Desceu por ela e foi dar numa grande mata muito abaixo de
sua estância. Ao voltar pensou e para pensar melhor ウ・ョエッオセ@ numa
pedra à beira do picadão e assuntou. Se fosse atacado, fugiria por aqui.
Meditou as dificuldades de dominar a escuridâo, os perigos a que expunha
a companheira. Por fim resolveu vir para aí de noite para 。」ッウエオュイセ・@
com a picada. Dizer e fazer foi um só. Seguiu agora a trilha sob o
denso carazal até chegar ao local da construção. Era tão denso o carazal
que dele emergiu sem deixar vestígio. Marcou bem o local e perto de
ュ・ゥッセ、。@ chegou em casa. Conservou consigo o segredo e ninguém jamais
soube por onde andara naquele domingo. De noite procurou descer a
picada em plena escuridão e o conseguiu, voltou satisfeito.
Certo dia, em que Bertulina costurava numa máquina de mão
que lhe comprara e os peães estavam em sua lida rotineira, Nestor abriu
a picada e desde então sempre a conservou mais ou menos aberta para a
fuga. Muitas noites ・ウァオゥイ。カセ@ sob espesso carazal e dentro da ・ウ」オイゥセ@
dão achava o trilho e tornava a casa.
Jamais se soube porque esperava que sua fuga seria à noite,
talvez porque julgasse que, com as medidas que tomara os jagunços ja'mais
se atreveriam a 。エ」£セャッ@ de dia claro.
x x x

Desistir para aquele que crê em sua boa estrela é impossível.


Por isso passou em revista tudo o que pretendia realjzar antes de ir buscar
a jovem. Ele estava certo de que ela viria com alguém da família conhecer
a estância que a aguardava como dona. Talvez nunca houvesse alguém
que por amor de uma mulher, sobretudo pairando uma dúvida, tivera a
ousadia de enfrentar tantos sacrifícios, sabendo que ela poderia pertencer
a outrem, quando ele se desse a conhecer . Franziu a testa diante deste
pensamento. Desan オカゥッセウ・L@ porém, o seu semblante ao voltar o seu
pensamento para sua boa estrela. "Ela não tem dono, ela será minha" e
esta idéia fixa o confortou.
Apesar dos percalços e dificuldades sem conta conseguira em
pouco tempo uma pequena fortuna . Sonhando sempre com o rosto ヲッイセ@
moso de Elisa que ele via moça ele ia vencendo todos os obstáculos que
o decorrer dos dias lhe atriava aos pés. Quando o desânimo' queria ゥョカ。セ@

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、ゥイセャィ・@ a alma, invocava a imagem da tímida donzela que vira na carroça
naquela fatídica manhã. Imagem que tivera o condão de エイ。ョウヲッュセ@
lhe a vida.
Ajudara na matança da vaca, 」ッュ・イ。セャィ@ a carne, arrastado
pela fome. Jurara sobre os ossos da mesma que seria a última vez e
cumprira a palavra. Hoje ao ャ・ュ「イ。セウ@ do rosto da donzela, sentia イ・ュッセ@
sos, na ocasião, porém, a fome falara mais alto. Agora comeria carne de
suas próprias reses. Reses de sua propriedade, havia de イ。ァ・ョセウN@
Estava regenerado e cumpria o seu dever. Em tempo ャ・ュ「イッオセウ@ de 。イョセ@
jar um professor e aprendeu a ler e escrever. Fez progressos e teve
mesmo a intenção de fundar uma escola na fazenda. Mais rumores de
assaltos dos jagunços ヲゥコ・イ。ュセョッ@ desistir da idéia, porq uanto sentia que
seria desalojado e teria de obandonar tudo. Desacreditava em suposições,
todavia as notícias que corriam 、。カュセャィ・@ quase certeza.
Antes, porém, faria uma viagem a Canoinhas e procuraria pelas
casas, como já fizera antes, o paradeiro da linda moça que lhe cativara o
coração. Queria カ↑セャ。@ novamente, queria falar-lhe. Queria 」ッョエ。イセャィ・@ as
peripécias que enfrentara até o ponto de ousar ー・、■セャ。@ em casamento, caso
ela pudesse gostar dele.
Veio エゥイ£セャ。@ de seus pensamentos, a preta Bertulina anunciando
o almoço.
Conversou com a preta velha e passando pelo galpão ia ・ョエイ。セ@
do para o almoço, quando avistou um cavaleiro.
dゥウー￴セ・@ a almoçar e após o almoço ficou esperando o 」。カセ@
leiro. Devia ter ficado a conversar com um peão ou capataz pois só 」ィ・セ@
gou meia hora após. Vendo Nestor, para ele dirigiu-se:
- Com licença, moço! Bastardes!
- Boas tardes! Que deseja o amigo?
De passagem por aqui, ャ・ュ「イゥセ@ de ヲ。コ・イセャィ@ uma visita. Sou
filho de um fazendeiro lá de Campos Novos e ouvi falar de sua conduta
e do seu trabalho. Meu pai está arranjado. Pedi-lhe que me permitisse
fazer umas viagens para conhecer as redondezas e no roteiro inclui a sua
fazenda. Como gosto de festa trouxe comigo um violão. Se me permite
toco umas modinhas, isto é, eu canto e acompanho no violão.
- Mau! pensou Nestor. Se a minha fama já corre mundo
então sem demora os jagunços batem por aqui e haverá luta. Porque de
graça jam3is entregarei o fruto de meu trabalho.
O moço com aquiescência do estancieiro correu ao cavalo e
desamarrou da sela o instrumento. Afinou as cordas com perícia e voltou
um olhar interrogador para Nestor.
- Se quer me dar o prazer, pode tocar ou cantar uma de
suas modinhas.
O outro não fez de rogado, arranhou uns acordes de harpejo,
passando depois para uma surdina, ponteou uma modinha que passou a
acompanhar na sua bela voz de tenor rude. Neco Batista que vinha do
campo com três filhos foi chegando e passou a admirar o cantor.
Nestor, hospitaleiro, ofereceu almoço ao forasteiro. Depois do

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almoço o jovem deu uns compassos de fandango e foi o começo de uma
festinha que se prolongou até às duas horas. Todos voltaram ao trabalho
e Nestor anunciou que o jovem seria seu hóspede e que à noite teriam
ocasião de ouví-Io novamente.
Terminados os misteres do dia, todos se reuniram no galpão e
o fandango divertiu a turma até altas ィッイ。セN@ Bertulina serviu consertada
o que esquentou os ânimos só a custo deixaram a festa para recolher-se .
A lua palmilhando o minguante nascia agora mutilada por trás das escuras
ara ucárias.
Notando pendores musicais no jovem estancieiro, permaneceu
uns dias na fazenda para o iniciar no manejo do difícil instrumento. Dotado
de alma musical em pouco tempo aprendera as lições de seu mestre.
Possuía uma bela voz coisa que tinha passado despercebido, porquanto só
pensara em ganhar dinheiro, cuidar dos afazeres da fazenda, sem olhar
para o lado bom da vida, que é mais belo, porque a torna mais agradável
e os dias menos taciturnos.
O moço vendeu-lhe o instrumento e desde então passou a en-
saiar. Decidiu, por fim procurar Elisa e fazer-lhe uma serenata. Como
das outras vezes resolveu em poucos dias nova viagem a Canoinhas.
Passou ordens a Neco Batista, seu braço direito, para que tudo continuas-
se no mesmo ritmo durante sua ausência .
Saiu no dia marcado com um peão e umas vinte reses para
venda . Desta feita ao chegar em Bela Vista já havia vendido tudo.
Mandou retornar o peão com o muar que trazia a matalotagem, ficando
apenas com alguma roupa. Pediu quarto na hospedaria de Silveira e
passou a procurar a donzela.
Teve as mesmas decepções das outras veze s. Teria sido mais
fácil perguntar se conheciam uma donzela e descrevê-la. Enfim dar uns
dados a fim de que alguém o informasse a respeito. TodaVia não era de
s eu feitio. Ele tinha de encontrar a moça por si mesmo sem o auxílio
d e ninguém .
Cantou modinhas na vend a do Silveira . Divertiu a moçada.
Cantou desafio, esperou vasculhou os arredores, pois saía cada dia, a
moça parecia ter desaparecido da face da terra. Depois de três dias de
an siosa procura dispôs-se a voltar. Nada feito . Os pais naqueles tempos
guardavam bem as filhas. Estas raramente saíam e quando saíam, geral-
mente estavam acompanhadas. Foi nessa ocasião que Campano o viu e
comunicou o fato a Marcos naquele domingo pela manhã.
De volta à estância, entregou-se à lides diária s como qualquer
peão . Andava mais taciturno que antes, às vezes tocava a pedido dos
peães e amigos. Todos estavam dispostos a ajudar, conquanto soubessem
o que se passava naquela alma. Ele, porém, desconversava todas as vezes
que pretendiam sondar-lhe o coração. Quando não, levantava-se do tam-
borete onde costumava sentar-se e encerrava a reunião.

( Continua no próximo número )

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ARJllEN /lfAiJlIGONIAN - PreJ'idente Prudente セ@ SP - Nós é
que agradecemos gentileza suas palavras,
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mos suas atenções e do valor que dá à nossa modesta publicação.
DO;Jl QUIRINO A. SCHi1'lITZ - T e6jilo Otoni - JllG - Gratos
pela sua honrosa missiva. Folgamos em saber, que aprecia nossa modesta
revista. Agradecemos ainda, o envio "Informativo Pastoral". Recibo 。ウゥセ@
natura seguiu via postal.
ELi1'lAR JOENCK - Rolândia - PR - Seu pedido já foi 。エ・ョセ@
dido. Despachamos pelo correio registrado coleção "Bl umena u em c。、・イセ@
nos" solicitados.
JOSÉ AUGUSTO illIOTO - Lage.r - SC - Seu pedido de pu-
blicações já foi atendido. Remetemos pelo correio o que solicitou.
AFONSO I/flHOF - Ioinville セ@ SC - Recebemos, por seu ゥョエ・イセ@
médio, a colaboração de Elly Hernkenhoff, que muito agradecemos. Publi-
caremos na primeira oportunidade.
I CARLOS GAERTNER SOBRINHO - Rio da.f Anla.r - se -
Otimo! Publicaremos em breve: com os nossos agradecimentos.
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BLUMENAU EM CADERNOS
Fundação de J. }<' erreira da Si! va
Órgãfl deJ'tinado ao E.ffudo e Divulgação da Húfória de Santa Catarina !:
Propriedade da FUNDAÇÃO C ASA DR. BLUMENAU
IMPRESSO EM OFICINAS PRÓPRIAS

Direção: F. C. Allende
Assinatura por Tomo (12 números) Cr$ 25,00
Número avulso Cr$ 3.00 Atrasado Cr$ 5.00 I I

Assinatura para o exterior. Cr $ 50.00 anuais


Alameda Duque de Caxias, 64 Caixa Postal, 425
89.100 BL UMEN A U - Santa Catarina BRAS IL
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160

Digitalizado pelo Arquivo Histórico José Fereira da Silva - Blumenau - SC


セ@
セ@ . - セ@

セ@ FUNDAÇÃO "CASA DR. BLUMENAU" セ@


セ@ Instituída pela Lei Municipal No. 1835, de 7 de abril de 1972 セ@
セ@ Declarada de Utilidade Pública pela Lei Municipal nO. 2028 de 4/917 セ@
セ@ Alameda Duque de Caxias, 64 - Caixa Postal, 425 セ@
セ@ 89100 B L U M E NAU Santa Catarina セ@
セ@ Instituição de fins exclusivamente culturais セ@
セ@ セ@
セ@ São objetivos da Fundação: セ@
セ@ Zelar pela conservação do patrimônio histórico e セ@
セ@ cultural do município; セ@
セ@ Organizar e manter o Arquivo Histórico do M unicípio: セ@
セ@ Promover a conservação e a divulgação das tradições セ@
セ@ culturais e do folclore regional: セ@
セ@ Promover a edição de livros e outras publicações que セ@
セ@ estudem e divulguem as tradições ィゥウエ￳イ」ッセオャ。@ セ@
"P do M unicípio: セ@
セ@ Criar e manter museus, bibliotecas, pinacotecas, 、ゥウ セ@ セ@
セ@ cotecas e outras atividades, permanentes ou não, que セ@
セ@ sirvam de instrumento de divulgação cultural: セ@
セ@ Promover estudos e pesquisas sobre a história, as セ@
セ@ tradições, o folclore, a genealogia e outros aspectos セ@
"P de interesse c ultural do M unicípio: セ@
セ@ A Fundação realizará os seus objetivos através da セ@
セ@ manutenção das bibliotecas e museus, de instalação セ@
セ@ e manutenção de novas unidades culturais de todos セ@
セ@ os tipos ligados a esses objetivos, bem como através セ@
セ@ da realização de cursos, palestras, exposições, estudos, セ@
; pesquisas e publicações セ@

セ@ A Fundação "Casa Dr. Blumenau", mantém: セ@

セ@ Biblioteca Municipal "Dr. Fritz Müller" セ@


セ@ Arq uivo Histórico セ@
セ@ Museu da Família Colonial セ@
セ@ Horto Florestal "Edite Gaertner" セ@
セ@ Edita a revista "BLUMENAU EM CADERNOS" セ@
セ@ Tipografia e Encadernação セ@
セ@ (exclusivamente para serviços internos ) セ@
セ@ セ@
セ@ Conselho Curador: Hercí/io Deek e - presidente セ@
セ@ Edi,rOI1 /llueLler - カゥ」・セーイウ、ョエ@ セ@
セ@ Membros: E/imar Baumgarlen - Chri.yfiana Deeke Barreto セ@
セ@ Do/de Hering d 'dmaraf - RoLj EhLke - Selo OJ,ti セ@
セ@ Diretor Executivo: Federico CarfO.) AUende セ@

セ@ セ@
セ セ セ@

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LTDA.

A LIVRARIA D E SEU F I L H O

R U A 15 O E N O V E M B R O, 1422/24 - F O N E 22-2627 - C.P. 6 5 1

I N OÚST R I A - RU A A M A Z O NAS, 1505/ 31 - FONE 22-3627 _. G A R C I A

BLUMENAU STA. CATARINA

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