Antropolítica Ilegalismos Privilegiados
Antropolítica Ilegalismos Privilegiados
Antropolítica Ilegalismos Privilegiados
ISSN 1414-7378
Antropolítica Niterói n. 16 p. 1-253 1. sem. 2004
© 2005 Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Ciência Política da UFF
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Normalização: Surama Aline Velasco Paiva
Edição de texto: Icléia Freixinho
Projeto gráfico, capa e editoração eletrônica: José Luiz Stalleiken Martins
Revisão: Rosely Barrôco
Diagramação e supervisão gráfica: Káthia M. P. Macedo
Coordenação editorial: Ricardo B. Borges
Sumário em inglês: Ana Amélia Cañez Xavier
Tiragem: 500 exemplares
Catalogação-na-fonte (CIP)
ARTIGOS
ESTADO E EMPRESÁRIOS NA AMÉRICA LATINA (1980-2000), 101
ÁLVARO BIANCHI
O DESAMPARO DO INDIVÍDUO MODERNO NA SOCIOLOGIA DE MAX WEBER, 123
LUIS CARLOS FRIDMAN
A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS ASSALARIADOS NA CITRICULTURA PAULISTA, 137
MARIE ANNE NAJM CHALITA
AS ARENAS MARINGÁ: REFLEXÕES
ILUMINADAS DE
SOBRE A CONSTITUIÇÃO DE UMA CIDADE MÉDIA, 161
SIMONE PEREIRA DA COSTA
RESENHAS
LIVRO: ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NOS NEGÓCIOS, 191
PATRÍCIA ALMEIDA ASHLEY
AUTORA DA RESENHA: PRISCILA ERMÍNIA RISCADO
LIVRO: NOVAS EXPERIÊNCIAS DE GESTÃO PÚBLICA E CIDADANIA, 195
MARTA FERREIRA SANTOS FARAH E HÉLIO BATISTA BARBOZA
AUTORA DA RESENHA: DANIELA DA SILVA LIMA
LIVRO: UMA CIÊNCIA DA DIFERENÇA: SEXO E GÊNERO
NA MEDICINA DA MULHER, 199
FABÍOLA ROHDEN
AUTOR DA RESENHA: FERNANDO CESAR COELHO DA COSTA
NOTÍCIAS DO PPGACP
NÚCLEO DE ESTUDOS DO ORIENTE MÉDIO – NEOM, 209
RELAÇÃO DE DISSERTAÇÕES DEFENDIDAS NO PPGACP, 211
REVISTA ANTROPOLÍTICA: NÚMEROS E ARTIGOS PUBLICADOS, 239
COLEÇÃO ANTROPOLOGIA E CIÊNCIA POLÍTICA (LIVROS PUBLICADOS), 248
ARTICLES
STATE AND ENTREPRENEURS IN LATIN AMERICA (1980-2000), 101
ÁLVARO BIANCHI
THE LONELINESS OF THE MODERN INDIVIDUAL IN MAX WEBER’S SOCIOLOGY, 123
LUIS CARLOS FRIDMAN
THE SOCIAL CONSTRUCTION OF WORKERS’ LABOR HAND IN ORANGE PLANTATIONS
IN SÃO PAULO, 137
MARIE ANNE NAJM CHALITA
THE LIGHTENING ARENAS OF MARINGÁ: SOME THOUGHTS ON THE CONSTITUTION
OF A BRAZILIAN MIDDLE-SIZED CITY, 161
SIMONE PEREIRA DA COSTA
REVIEWS
BOOK: ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NOS NEGÓCIOS, 191
PATRÍCIA ALMEIDA ASHLEY
AUTHOR OF THE REVIEW: PRISCILA ERMÍNIA RISCADO
BOOK: NOVAS EXPERIÊNCIAS DE GESTÃO PÚBLICA E CIDADANIA, 195
MARTA FERREIRA SANTOS FARAH E HÉLIO BATISTA BARBOZA
AUTHOR OF THE REVIEW: DANIELA DA SILVA LIMA
BOOK: UMA CIÊNCIA DA DIFERENÇA: SEXO E GÊNERO
NA MEDICINA DA MULHER, 199
FABÍOLA ROHDEN
AUTHOR OF THE REVIEW: FERNANDO CESAR COELHO DA COSTA
PPGACP NEWS
NÚCLEO DE ESTUDOS DO ORIENTE MÉDIO – NEOM, 209
THESES, 211
PUBLISHED ARTICLES (REVISTA ANTROPOLÍTICA), 239
PUBLISHED BOOKS AND SERIES
(COLEÇÃO ANTROPOLOGIA E CIÊNCIA POLÍTICA), 248
A Comissão Editorial
Homenagem:
Luiz de Castro Faria:
o professor emérito
11
O PROFESSOR EMÉRITO
Vou abrir essa toada
Cantando com alegria
A vida do professor
Luiz de Castro Faria
Um pensador incansável
De nossa antropologia
Mil novecentos e treze
Em São João da Barra nasceu
Foi aluno do São Bento
E um diploma mereceu
Depois na Praia Vermelha
Num concurso se inscreveu
Edgar Roquette-Pinto
Foi quem fez a argüição
Podia ter dado zero
Pela resposta à questão
Sobre o que não estava escrito
Na prova de seleção
De Oliveira Viana
Obra e metodologia
De Edgar Roquette-Pinto
A nacional pedagogia
E de Augusto dos Anjos
As moneras da poesia
Foi a Cambridge, Inglaterra
E Musée de l’Homme em Paris
Lá na França foi bolsista
Da Unesco mas não quis
Curvar-se ao colonialismo
Cultural desse país
Voltou e em 53
Participou da primeira
Reunião dos antropólogos
Da nação brasileira
Com Heloísa, Egon Schaden,
Bastide e Oracy Nogueira
Baldus, Thales de Azevedo,
Galvão e Darcy Ribeiro,
Bastos d’Ávila, Altenfelder,
René e Édison Carneiro
Cardoso e Mattoso Câmara
Zés Bonifácio e Loureiro
Depois disso, eles fundaram
A Associação Brasileira
De Antropologia, a ABA,
Na qual ocupou primeira
Gestão o professor Castro
Orgulho em sua carreira
Foi diretor do Museu
Escute você agora
Castro foi quem fez o laudo
Que pedia sem demora
O enterro das cabeças
De Lampião e senhora
Professor da Fluminense
É mentor à revelia
Da Escola Galo-
Fluminense de Antropologia
Da etnologia até
O estudo regional
O Brasil da teoria
E pensamento social
O emérito professor
Sabe ensinar sem igual
Casado com a prima Elza
Também da terra campista
Ambos contrariam o adágio
“Nem a prazo nem à vista”
Tanto à vista quanto a prazo
Castro é grande cientista
Luiz de Castro Faria
Não é homem que se esqueça
O seu pensamento vivo
Todo dia recomeça
Castro é oito e oitenta
E deu tigre na cabeça
Seu aluno,
Felipe Berocan da Veiga,
5/7/2001
A PRESENTAÇÃO
*
Professor do Departamen-
to de Criminologia, Univer-
sidade de Ottawa (Canadá).
22
Diotima – Julgas que quem não é sábio é ignorante, e desconheces que existe
um meio-termo entre a sabedoria e a ignorância?
Sócrates – Que meio-termo é esse?
Diotima – Não sabes que a opinião acertada sem conveniente justificação
não é sabedoria – pois como poderia uma coisa ser sabedoria se não sabemos
fundamentá-la? E também não é ignorância, porque o que atinge a verdade
não pode ser ignorância? A opinião verdadeira é, por conseguinte, como
que um meio-termo entre a sabedoria e a ignorância.
Sócrates – Sinto que falas a verdade!
(PLATÃO).
Comecemos por esclarecer um certo número de ideias equivocadas, o
que faremos com a ajuda do psiquiatra Thomas Szasz (1998). A toxico-
mania refere-se ao uso de certas substâncias que os seres humanos
absorbem ou se injectam, e que são consideradas “perigosas” pelos
possíveis danos que podem causar tanto aos cidadãos que as utilizam
como aos outros. É a partir destas últimas consequências que eles são
catalogados e classificados como “toxicómanos”, ou seja, seres huma-
nos dependentes dessas substâncias.
A toxicomania é pois definida como uma delinquência (infracção, delito
ou crime) e como uma doença (dependência química) que “compete” ao
Estado e à medicina “eliminar e tratar”. Tal definição levanta um pro-
blema considerável, pois a sua referência é uma decisão que diz respei-
to a uma escolha e a uma selecção:
• quais substâncias e quais seres humanos podem e devem ser aceites,
isto é, cujo uso e dependência são vistos, principalmente pelo Esta-
do, como um modo ou um estilo de vida, de estar e viver em socie-
dade ou ainda como uma forma de prazer ou lazer;
• e quais substâncias e quais seres humanos são inaceitáveis, cujo
uso e dependência são vistos pelo mesmo Estado como um abuso,
isto é, uma infracção às suas normas jurídicas, uma forma de
delinquência que implica a sua qualificação como um delito ou um
crime.
Quando tais comportamentos são definidos da última maneira, a re-
pressão como política pública do Estado, implicando o recurso à justi-
ça penal (polícia, tribunais e prisão), constitui a regra geral. Para além
dessa atitude, acrescenta-se um maior constrangimento pela ineficácia
da política pública de saúde e pela privatização e mercantilismo da
medicina privada. Mas também pela atitude moralista e disciplinar de
uma boa parte das práticas médica e terapêutica: das atitudes individuais
D OS DIREITOS AINDA
DA GUERRA ÀS DROGAS
[...] a luta contra a droga coloca face a face os apoiantes de duas concep-
ções diametralmente opostas sobre o que é o ser humano: uma conside-
ra o cidadão adulto como agente moral livre e responsável; a outra
considera-o como vítima infantil, prisioneira das circunstâncias, “que
necessita de ser orientada, dirigida, tratada, sancionada e punida”
(SZASZ, 1998, p. 8, tradução nossa)
Enquanto a droga for uma substância inactiva e inerte, isto é, não for
consumida, ela não constitui nem perigo nem ameaça para ninguém.
Ela se torna perigosa, social e jurídicamente, a partir do momento em
que é consumida. Portanto, declarar a guerra a uma substância, nomean-
do-a criminosa em tais circunstâncias, é ridículo. Só mesmo os artifícios
da linguística, como o excesso de linguagem, permitem tal gesto. A
“guerra contra a droga” não é outra coisa senão uma declaração de guer-
ra de um Estado contra sua própria população. Um acto deliberado contra
a cidadania local e contra os cidadãos “outros”; os que produzem, trans-
portam, vendem e consomem local e globalmente as ditas substâncias.
As drogas têm uma história tão velha quanto a humanidade. A sua
proibição, discriminada e selectiva, e a sua criminalização acompanham
a história das sociedades e dos Estados modernos, da qual sobressai a
liderança do Estado norte-americano à cabeça de tal política pública. A
proibição e a criminalização, em particular das drogas psicoestimulantes,
parecem assumir uma função dupla e, em certa medida, ambígua.
Em primeiro lugar, pela identificação do mal, procura-se estabelecer as
condições de contrôle das mentes e das mentalidades. Aqui, “esculpin-
do” e identificando a figura do bode expiatório, a sua proibição cria a
possibilidade de uma válvula de escape aos numerosos problemas que
afligem as sociedades da segunda modernidade. Esse mecanismo e iden-
tificação originam, por sua vez, os espaços de adesão, de pelo menos
uma parte das sociedades civis, aos valores que são representados como
impedir que alguém possa causar dano aos outros constitui o único
objectivo pelo qual a força pode ser exercida sobre um membro de uma
sociedade civilizada. Sobre ele mesmo, o seu próprio corpo e o seu es-
pírito, o indivíduo é soberano. Cada um de nós permanece o único
guardião da sua saúde física, moral e intelectual (MILL, 1978, p. 13,
tradução nossa).
No melhor dos casos, as leis da guerra contra a droga, a proibição e a
criminalização são leis “paternalistas” que pretendem proteger os indi-
víduos deles mesmos, com a desvantagem de punir todos pelos exces-
sos de alguns. Acrescentemos que, do ponto de vista jurídico, as leis de
proibição das drogas, tendo como alvo a criminalização e a punição do
consumidor, são geralmente anticonstitucionais. Elas não podem proíbir as
acções de um cidadão que causem danos sómente a ele próprio, ou à
C ONCLUINDO
As atitudes e as acções dos Estados locais, em relação à produção, dis-
tribuição, venda e consumo de drogas, não são coerentes com os prin-
cípios e os valores morais e políticos fundadores da democracia. Pela
razão simples que elas são selectivas, discriminatórias e desiguais. No
sistema de relações de forças (indivíduos, grupos, instituições e Esta-
dos) que caracterizam o movimento da globalização, os Estados que
assumen um papel predominante encaminham-se para a definição de
uma política pública global em relação às drogas. Ainda que possamos
afirmar que existem diferenças entre as políticas públicas locais, um só
quadro geral as orienta cada vez mais. O modelo norte-americano apre-
senta-se e impõe-se como modelo universal, pela montagem ideológi-
ca, pelo constrangimento e, se necessário, pela força armada.
ABSTRACT
The purpose of this paper is to understand what a public policy such as the
“ war on drugs” is, in the context of globalization. Which main actors are
at play, which interests and values do they put forward and how; what
sort of alliances do they build and what real purposes do they seek? In the
case of drugs, locally and globally, one may identify the bridging of an
association between both legal and illegal economic power and the political
power that questions the extension of citizenship and the enlargement of
democracy. Both are seen as obstacles to the movement of capital accumula-
tion. Drugs and civil and human rights combined become a public space of
opposition, resistance and negotiation, essential to redefine citizenship and
to rediscover the means for the exercise of the democratization of democracy.
The war on drugs does not target, globally and locally, the rights of big
organized traffickers. That is why we are more interested in analyzing the
violent attack this policy makes against two meaningful figures of the dis-
course on drugs: the consumer and the single trafficker.
Keywords: globalization; drugs; public policy; human rights; citizenship;
democracy.
R EFERÊNCIAS
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N OTA
1
Este artigo foi redigido de acordo com as normas ortográficas e de sintaxe utilizadas em Portugal.
*
Doutora em Antropologia,
Universidade de Buenos
Aires.
56
ABSTRACT
The article analyzes work performed for the Interamerican Court on Hu-
man Rights in connection as expert anthropologist on a case of police vio-
lence. Various police procedures are analyzed, such as detentions for identity
verification, police infraction edicts, and razzias. The origin, expansion
and legitimacy of these procedures originate in administrative law – and
therefore in the control of public habits and morality – as much as in old
war tactics, such as quick incursions and pillaging. The expanse of these
police tactics poses particular – and often forgotten – problems in debates
about “public security”.
Keywords: anthropological expertise; human rights; police.
R EFERENCIAS
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facultades y prácticas policiales en la Ciudad de Buenos”, Buenos Aires,
2000.
N OTA S
1
La sentencia de la Corte fue dada a conocer el 18 de septiembre de 2003, pocos días después de la intervención
que dio lugar a este trabajo. La Corte ordenó al Estado argentino – entre otras medidas reparatorias – la
adopción de medidas legislativas o de cualquier otra índole que sean necesarias para adecuar el ordenamiento
jurídico interno a las normas internacionales de derechos humanos y darles plena efectividad.
2
Los “sospechosos típicos” son personas jóvenes de las clases populares y bajas. Pero, los jóvenes de clase
media son también blanco de las detenciones policiales.
OS ILEGALISMOS PRIVILEGIADOS
*
Professor do Departamen-
to de Criminologia da Uni-
versidade de Ottawa, Ontá-
rio, K1N 6N5.
66
poderia logicamente atribuir-lhe com base nos próprios enunciados que cons-
tituem sua armadura discursiva. Ora, se é verdade que essa afirmação tem
amplo apoio empírico no domínio dos ilegalismos populares,5 parece-
me que ela adquire uma importância e um interesse crescentes quando
a situamos no domínio daquilo que chamo de ilegalismos privilegiados.
É isso que tentarei mostrar nas páginas seguintes, utilizando sumaria-
mente, num primeiro momento, duas diferentes maneiras – propostas
na literatura criminológica – de abordar a questão da exclusão, parcial
ou total, de certas formas de ilegalismo do campo da intervenção pe-
nal. Essas primeiras observações me permitirão explicitar o quadro teó-
rico em que situo minha proposta.
Em segundo lugar, vou propor os elementos essenciais de definição do
que entendo por ilegalismos privilegiados e tentar, mediante um exer-
cício de contextualização, confrontar esses elementos com um certo
número de conhecimentos, muito desiguais, que existem atualmente
sobre o tema. Com essas proposições, que constituem o núcleo deste
artigo, procuro reunir sob um mesmo abrigo conceitual um certo nú-
mero de resultados de pesquisas produzidos seja no interior, seja à
margem, ou até mesmo totalmente fora do campo de investigação da
criminologia e da sociologia jurídica.
Em terceiro lugar, vou examinar brevemente os principais fatores que
intervêm no processo de construção social, política e jurídica da impu-
nidade penal relativa dos ilegalismos aqui tratados. À guisa de conclu-
são, apresentarei alguns argumentos que buscam indicar os sérios pro-
blemas (práticos, jurídicos e éticos) apresentados por qualquer projeto
de criminalização6 das condutas que se destacam nos contextos exami-
nados na segunda parte deste texto.
Sem haver merecido uma atenção constante da parte dos autores das
áreas de criminologia e sociologia jurídica, a questão da impunidade
em matéria penal foi abordada de maneiras diversas na literatura cien-
tífica dessas disciplinas. Limitando-se às contribuições que datam das
quatro últimas décadas, é possível identificar duas grandes teses pelas
quais tentou-se apreender seus traços essenciais.
A primeira, muito em voga nos anos 60/70, via a impunidade penal
como um atributo de classe, uma condição permanentemente associa-
da ao lugar ocupado pelo infrator na hierarquia social. Em outras pala-
Q UADRO 1
A DMINISTRAÇÃO PÚBLICA
S AÚDE PÚBLICA
D IMENSÃO IDEOLÓGICA
D IMENSÃO MATERIAL
D IMENSÃO JURÍDICA
C ONCLUSÃO
Se há uma finalidade que, mais que qualquer outra, orientou meus
propósitos neste artigo foi a de provar a importância e a necessidade,
para as ciências sociais, de investir (ou reinvestir, conforme o caso) nos
domínios que resumidamente aponto. E sugiro que a relativa urgência
de fazê-lo se justifica, entre outros, pelo fato de que a chama que ani-
mou as tentativas inovadoras de investigação nessa matéria, desde o
fim dos anos 70, parece ter se apagado ao longo dos últimos anos. Por
outro lado, também me empenhei em demonstrar que as questões aqui
apreciadas se mostram suficientemente importantes, no plano teórico,
para justificar que se reflita sobre elas com uma finalidade totalmente
diferente daquela de simplesmente denunciar a realidade que elas cir-
cunscrevem. Com efeito, o tom moralizante de denúncia que marcou,
e continua marcando, alguns trabalhos engajados nessa vertente con-
tribuiu para escamotear o fato de que por trás da realidade de exclusão
de um conflito do campo da intervenção penal se tece uma trama com-
plexa de relações (de colaboração, de confronto) entre diferentes siste-
mas normativos. Ou, em outras palavras, que esse objeto realmente
não levanta importantes questões teóricas senão na medida em que é
construído e problematizado tendo em conta a sua positividade. Talvez
nos contentemos com demasiada freqüência em conceber o penal, seu
discurso e as práticas institucionais que ele constitui como um objeto
estanque. Sem que seja necessário, ao contrário, colocar em questão
sua especificidade, parece cada vez mais evidente que se ganha ao ins-
crever esse objeto particular dentro de uma problemática mais ampla
ABSTRACT
The resolution of conflicts in modern societies can be seen as a complex
network of interactions between various relatively autonomous official con-
trol systems. The place occupied by the criminal law as well as its role within
this network are largely determined by the nature of its relations with the
other control systems. Based on these theoretical premises, this article pro-
poses a discussion on “privileged illegalities”, concept which is used to ex-
plain how similar empirical facts are differently classified by the legal do-
main, according to the contexts they are related. The principal characteris-
tic of these illegalities lies in the fact that they have a broad range of forms
of control (civil, administrative proceedings and, above all, amicable ar-
rangements). Consequences are specially relevant when some of these facts
are criminalized, and others are not.
Keywords: “privileged illegalities”; societal reaction theory; critical theory;
sociology of (penal) law; criminology.
R EFERÊNCIAS
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COMMISSION D’ENQUÊTE SUR LA TRAGÉDIE DE LA MINE
BELMORAL ET LES CONDITIONS DE SÉCURITÉ DANS LES
MINES SOUTERRAINES. Rapport final sur les circonstances, les conditions
préalables et les causes de la tragédie du 20 mai 1980. Quebec: Gouvernement
du Québec, 1981.
N OTA S
1
Devemos a Michel Foucault (FOUCAULT, 1975) a introdução do termo illégalisme, nos textos criminológicos
e da sociologia jurídica. Contrariamente a uma crença bem difundida, não se trata de um neologismo de
autoria do filósofo francês, mas de um termo que caiu em desuso após ter sido utilizado com uma certa
freqüência em textos anarquistas (da vertente individualista, particularmente), do início do século, na Fran-
ça, para designar diferentes formas de violação da lei, sobretudo penal, com o objetivo expresso de contestar
a ordem imposta pelo Estado. É num sentido que não coincide exatamente com esse, mas que lhe é próximo,
que Foucault utilizará – tudo indica – pela primeira vez esse termo em seu curso do Collège de France, do ano
1972-1973, sobre a sociedade punitiva (FOUCAULT, 1989). Já em Surveiller et punir as coisas são bem menos
claras. Tem-se ali a impressão – sobretudo quando se pensa na famosa distinção entre illégalismes de biens e
illégalismes des droits – que o termo designa diferentes formas de transgressões, sem nomes próprios, que concor-
rem todas a um estado permanente de desobediência generalizada. Em outras palavras, illégalisme (que Foucault
separa claramente do crime) é a ilegalidade sem nome, que não tem um só e único nome pelo simples fato de
que pode ter vários, tantas são as ordens normativas que ela pode transgredir. Se essa interpretação, da qual
sou o único responsável, está correta, é relativamente fácil concluir que a utilidade do emprego desse termo
se justificaria não pelo sentido que ele propõe (que não é nada transparente), mas, justamente, pela
multiplicidade de sentidos que ele possibilita. É para este uso que emprego aqui esse termo. O que explica, ao
mesmo tempo, por que não tenho outra escolha do que a de traduzi-lo por “ilegalismo”, em vez de “ilegali-
dade”, como consta na tradução brasileira de Surveiller et punir (FOUCAULT, 1977). E aos puristas que
eventualmente objetassem o emprego de uma palavra não acolhida pelos dicionários da língua portuguesa
(que, aliás, na sua forma original tampouco foi aceita pelos dicionários franceses) eu lembraria apenas que
pelo menos duas outras línguas neolatinas já adotaram o termo: o espanhol (ilegalismo) e o italiano (illegalismo).
2
Na literatura de expressão francesa, o termo “sistema penal” é empregado em dois sentidos: um estrito,
outro amplo. No primeiro, ele designa a soma (mais do que o conjunto) das instituições que têm por missão
o que se convencionou chamar de “aplicação da lei penal” (essencialmente, a polícia, o poder judiciário e as
instituições carcerárias). No sentido amplo – que é o que adoto neste artigo –, ele inclui, além dessa aparelha-
gem, o processo jurídico-político de produção da lei penal.
3
Ver, em particular, Lascoumes (1983, 1984, 1986).
4
Ver Lascoumes (1984, p. 233-238). Note-se, porém, que emprego esse termo num sentido que não coincide
exatamente com aquele que lhe atribui Lascoumes.
5
Não me parece de todo necessário que se discuta aqui o fato óbvio de que um número inimaginável de
conflitos que se produzem freqüentemente na esfera pública – e para os quais reservamos, tanto na lingua-
gem popular, quanto jurídica e mesmo sociológica, o epíteto de “crime” – escapam ao controle penal, por
razões aliás muito diversas: os “culpados” não puderam ser identificados, as agências de controle ignoraram
o fato, os atores da situação de conflito chegaram a um acordo entre eles etc. Refiro-me aqui, é claro, a esse
universo mágico, ou no mínimo virtual, que os pioneiros da criminologia, na segunda metade do século XIX,
*
Doutor em Ciências Sociais
pela Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp) e
professor doutor do Depar-
tamento de Ciência Políti-
ca do Instituto de Filosofia
e Ciências Humanas da
Universidade Estadual de
Campinas (IFCH/Unicamp).
102
que em vez de procurar uma solução global para a crise global apre-
sentem projetos pontuais que têm como objetivo diminuir as perdas de
um determinado setor ou grupo social. Assim, os setores exportado-
res, apoiados pelos organismos financeiros internacionais e pelos
tecnocratas liberais, tendem a apoiar as mudanças. Os industriais, cons-
trutores e comerciantes vinculados ao mercado interno geralmente
opõem resistências, embora pouco eficazes (DURAND, 1996, p. 44).
Em um estudo comparativo sobre a reação de entidades empresariais
da Venezuela (Fedecámaras) e da Colômbia (Andi) às propostas de
integração regional, Rita Giacalone chegou a conclusões semelhantes.
Segundo a autora, seu estudo concluiu que “essas posições se caracteri-
zaram por uma aceitação geral da integração, em nível ideológico, e
uma rejeição setorial em nível prático” (GIACALONE, 1997, p. 159).
A interpretação de Durand a essas contradições do discurso empresarial
é bem mais moderada, identificando um apoio condicional às políticas
neoliberais:
ABSTRACT
This paper intends to discuss the Latin American entrepreneurial associa-
tive impulse experienced in the 1980’s and the 1990’s and its complex
relationships with the action of the State. Based on a relational approach of
the entrepreneurial associativism which is opposed to theories supported by
essencialist pressuppositions, there will be detached the relationship of forces
between the different fractions of the entrepreneurs, the action of the subal-
tern classes and the State form of both. The entrepreneurs’ associativism
arises therefore as one of the possible capitalist answers to the crisis of Latin
American capitalism, the institutional form of entrepreneurial projects within
the context of the Continent’s economic and political crisis. It is in this
context that the neoliberal alternative will consistently grow among Latin
American entrepreneurs. These played a decisive role for the transforma-
tion of the ideological environment, the diffusion of a conception of world
based on liberalism and the change in the economic and political agenda,
placing in its center the withdrawal of the State from its previous positions,
at the same time in which they attempted to adjust rhythms and to minimize
the possible losses stemming from this alternative.
Keywords: entrepreneurs; collective action; neoliberalism; Latin America.
R EFERÊNCIAS
ACUÑA, Carlos H. Political struggle and business peak associations:
theoretical reflections on the Argentine case. In: DURAND, Francisco;
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BARTELL, Ernest. Perceptions by business leaders and the transition
to democracy in Chile. In: ______; PAYNE, Leigh A. (Ed.). Business and
democracy in Latin America. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press,
1995. p. 49-103.
N OTA S
1
Ver a descrição do episódio na “Nota metodológica y bibliográfica” de SCHVARZER (1991).
2
Uma versão dessa visão do empresariado pode ser encontrada na obra clássica de Fernando Henrique Car-
doso, Empresário industrial e desenvolvimento econômico no Brasil (CARDOSO, 1972).
3
Ver, por exemplo, JAGUARIBE (1972).
4
No Brasil, poderíamos apontar como precursores os estudos históricos realizados por Eli Diniz e Maria
Antonieta Leopoldi identificando uma atividade política empresarial, na primeira metade do século XX,
muito maior do que se supunha (DINIZ, 1978; LEOPOLDI, 2000).
*
Professor do Departamen-
to de Sociologia e do Pro-
grama de Pós-Graduação
em Sociologia e Direito da
Universidade Federal Flu-
minense.
124
UM TANTO DE METODOLOGIA
Ocorre que, tão logo tentamos tomar consciência do modo como se nos
apresenta imediatamente a vida, verificamos que se nos manifesta, “den-
tro” e “fora” de nós, sob uma quase infinita diversidade de eventos que
aparecem e desaparecem sucessiva e simultaneamente. E a absoluta in-
finidade dessa diversidade subsiste, sem qualquer atenuante de seu ca-
ráter intensivo, mesmo quando prestamos a nossa atenção, isoladamente,
a um único “objeto” — por exemplo, uma transação concreta —; e isso
tão logo tentamos sequer descrever de forma exaustiva essa “singulari-
dade” em todos os seus componentes individuais, e muito mais ainda
quando tentamos captá-la naquilo que tem de causalmente determinado.
Assim, todo o conhecimento reflexivo da realidade infinita realizado
pelo espírito humano finito baseia-se na premissa tácita de que apenas
um fragmento limitado dessa realidade poderá constituir de cada vez o
objeto da compreensão científica, e de que só ele será “essencial” no
sentido de “digno de ser conhecido” (WEBER, 1979a, p. 88, grifo do
autor).
O real é infinitude e caos ao qual o homem atribui sentido, ou seja, em-
presta significado ao mundo e à “objetividade”. Esse pressuposto filo-
sófico fundamenta a “objetividade possível de ser alcançada”. A mesma
idéia pode ser encontrada na definição do conceito de “cultura”:
D ESAMPARO
O homem moderno torna-se servil ao se submeter aos poderes impes-
soais das grandes organizações, que zelam pela administração e pela
manutenção da ordem. Ele se transforma em order addict quando an-
seia pela “subsistência” segura e tradicional oferecida institucionalmente
pela centralização das decisões nas grandes burocracias. Essa centrali-
zação carrega as ameaças à liberdade pela expansão de poderes
disciplinadores e ameniza o mal-estar decorrente da ausência do con-
forto religioso pelo desenvolvimento da razão e da ciência. Isso fez de
Weber um reformista liberal pessimista, cético quanto ao “progresso”.
Bendix procura descer a detalhes nessas imagens:
ABSTRACT
The article encloses an investigation on the contours of modern subjectivity
in Max Weber’s work, following some aspects approached by this German
thinker around the “disenchanted world” and the “iron cage” of the wes-
tern’s rationalization process. It discusses the reverberations of the mundane
ethics derived from the protestantism expansion and, according to the satis-
faction postponement theme, it updates some of Weber’s ideas on the cha-
racterization of the post-modern subjectivity.
Keywords: subjectivity; modernity; post-modernity; Max Weber.
R EFERÊNCIAS
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FRIDMAN, Luis Carlos (Org.). Socialismo: Émile Durkheim e Max Weber.
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*
Doutora pelo Programa de
Pós-Graduação em Sociolo-
gia da Universidade Fede-
ral do Rio Grande do Sul.
**
Parte dessas reflexões está
presente em CHALITA,
Marie Anne Najm. Cultura,
política e agricultura familiar:
a produção do empresário
rural como referencial das
estratégias de desenvolvi-
mento da citricultura
paulista. 2002. Tese (Dou-
torado em Sociologia) –
Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2004. Agradeço os
comentários à versão origi-
nal realizados por Delma
Pessanha Neves.
138
AS ALTERAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO E
NA DIVISÃO DO TRABALHO
C ONCLUSÃO
No campo da produção da citricultura, as transformações dos agricul-
tores familiares levaram à definição do trabalhador assalariado, atra-
vés de um conjunto de oposições originário da trajetória social funda-
da em torno da propriedade da terra, da gestão do trabalho e,
crescentemente, através de um conjunto de antagonismos de interes-
ses de “classe”. O perfil da citricultura, baseada em pequenas proprie-
dades e na presença maciça dos assalariados, consolidou um processo
de diferenciação entre proprietários e trabalhadores, principalmente a
partir do confronto entre agricultores familiares e assalariados, até então
englobados na categoria trabalhador rural.
O surgimento do trabalhador assalariado na citricultura culmina com
o avanço da integração com a indústria, entre os anos 60-70, quando
os grupos sociais transformaram-se e outros emergiram, definindo novas
formas de organização e dominação nas relações sociais. Porém, a aná-
lise dos conflitos históricos expressa a origem das clivagens a partir do
processo de diferenciação social e de representação política. Portanto,
seu surgimento ocorre através de um processo de lutas em torno das
bases materiais de apropriação da terra e da instrumentalização do
trabalho, mas também através de classificações e reclassificações dos
grupos sociais, que vão incorporar questões de representação político-
ideológica.
As mudanças nas formas e organização do trabalho na citricultura, da-
das as características desagregadoras dos direitos e as condições de re-
produção precárias dos assalariados, orientaram os processos culturais
de formulação identitária. Estes processos apoiados em oposições e
antagonismos que só se radicalizaram em posições e disposições de in-
teresses, conferiram a direção das mudanças institucionais ocorridas,
que, por sua vez, reforçaram as diferenças.
A competitividade do suco brasileiro no mercado internacional, basea-
da inclusive na relativa estabilização da estrutura fundiária, passou a
depender não apenas das novas formas de produção técnico-agronô-
mica e do baixo valor da terra, mas também da desestruturação da or-
ganização e da divisão do trabalho anteriormente consolidada. Tais fa-
tores influenciaram o desenho institucional da representação dos inte-
resses. Uma dupla estratégia de desenvolvimento e de seleção social
começa a se desenhar no setor, visando o rebaixamento dos custos e a
atenuação da queda da remuneração dos produtores: a verticalização
agrícola efetuada pelas indústrias e a composição mais eficiente de pa-
ABSTRACT
The social origin and transformations of the agricultural labor hand in the
orange plantations in São Paulo State mobilized for the final industrial
production of orange juice production for the international market are
analysed as a classification and reclassification process by the orange fa-
miliar producteurs upon the definition of rural workers. These processes
are part of their social representations indicating sectorial struggles and
institution orientations of interests defense.
Keywords: orange plantations; workers labor hand; sectorial struggles;
institutions of interests defense.
R EFERÊNCIAS
ALVES, Francisco José da Costa. Modernização e sindicalismo: lutas dos
trabalhadores assalariados rurais da região de Ribeirão Preto. 1991. Tese
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BASTOS, Elide Rugai. Sindicalismo no campo no Brasil: direitos
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N OTA S
1
O contrato padrão de participação considerava, fundamentalmente, a variação das cotações de suco na Bolsa de
Mercadorias e Valores de Nova Iorque, durante um período de 12 meses, chamado “ano-exportação”, a
remuneração ou o custo da produção e comercialização do suco e uma taxa de rendimento industrial das
frutas estabelecida no início da safra. Deste modo, havia, teoricamente, um preço único a ser pago por caixa
de laranjas, sua determinação final ocorrendo ao término de cada ano-safra e em dólar.
2
O contrato de safra obrigava o empregador à retenção do trabalhador durante o ano-safra, o pagamento do
13o salário, férias anuais e indenização proporcional ao tempo trabalhado e ao número de caixinhas colhidas
pelo trabalhador.
*
Doutora em Ciências So-
ciais pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro e
professora do Departamen-
to de Ciências Sociais da
Universidade Estadual de
Maringá/PR.
162
O foco nas cidades médias, e não nos pequenos centros urbanos, justi-
ficava-se pela preocupação em atingir o menos possível o processo de
crescimento econômico no país, ou seja, evitar uma pulverização espa-
cial excessiva de capitais públicos e privados. Portanto, para que um
determinado centro urbano se apresentasse como alternativa locacional
às metrópoles, era preciso, além de certo nível de complexidade da
divisão do trabalho, uma oferta suficiente de infra-estrutura produtiva.
Simultaneamente, esses autores destacam que as cidades médias foram
pensadas por planejadores urbanos e regionais e por técnicos que tra-
balhavam nos aparelhos do Estado como uma alternativa para o
ordenamento urbano das metrópoles brasileiras. Um ordenamento que
estava sendo ameaçado, segundo a visão governamental, principalmente
pelos fluxos de migrantes que deixavam as regiões mais pobres do país.
O debate sobre a criação dessas cidades médias teria, portanto, obscu-
recido o problema da concentração fundiária no Brasil. Assim, os
migrantes vindos de regiões pobres, freqüentemente dominadas pelo
latifúndio improdutivo ou pela grande propriedade, para as grandes
metrópoles, eram tratados como um “problema social” e não como um
grupo de excluídos do processo produtivo ou como trabalhadores que
poderiam continuar nas suas regiões vinculados ao desempenho de
lações produtivas com a terra, mas que não foram considerados aptos a
participar da grande empreitada capitalista que associou o estado e
uma companhia de terras.
C ONCLUSÃO
Penso que a construção da ideologia do “vazio demográfico” foi funda-
mental para o Estado brasileiro, em diversos momentos, consolidar os
seus programas de colonização. O norte do Paraná, na década de 1930,
seria apenas mais um exemplo. Essa ideologia foi e é eficiente, em gran-
de parte, porque vem sendo construída por pessoas autorizadas a falar
sobre a organização do espaço social agrário brasileiro: geógrafos, his-
toriadores, sociólogos, agrônomos, representantes de cooperativas agrí-
colas etc. Estes agentes contam com o auxílio dos meios de divulgação
acadêmicos (publicações científicas, relatórios técnicos de empresas) ou
de massa (jornais locais ou de circulação nacional, revistas técnicas
especializadas).
A construção da ideologia do “vazio demográfico” ocultou, durante anos,
personagens e situações nessa região. Como observa Tomazi (2000),
pensar que a história do norte do Paraná começa com a chegada dos
pioneiros trazidos pela companhia de terras, ou seja, a partir do mo-
mento em que começa a ocupação capitalista, é deixar de fora os índios;
os ribeirinhos; os trabalhadores nordestinos, que vieram trabalhar nas
ANTROPOLÍTICA Niterói, n. 16, p. 161–187, 1. sem. 2004
181
ABSTRACT
The aim of this article is to describe and analyze some of the various projects
of constitution of a middle-sized city, Maringá, located at Northern Paraná,
Southern Brazil. The city, with its 57 years of existence and a population of
approximately 300.000, is the third município of Paraná and is widely
known as one of the Brazilian cities that offer a good quality of life to their
inhabitants. Some years ago, Maringá became nationally famous as the
“Brazilian Dallas”. This city was presented as a progressive “hinterland
civilization” that values positively the rodeo world and anything related to
the country/caipira/sertaneja culture.
Keywords: middle-sized cities; urban anthropology; rodeos.
R EFERÊNCIAS
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ESTADO DE SÃO PAULO. São Paulo, 16 maio 2000. Caderno B, p. 1.
N OTAS
1
Para uma discussão mais detalhada do processo de constituição das regiões metropolitanas no Brasil, ver
Andrade e Serra (2001). Para uma abordagem específica da região metropolitana de Maringá, ver Rodrigues
e Tonella (2003).
2
O estudo realizado por essas instituições chama-se “Caracterização e Tendência da Rede Urbana do Brasil” e
foi publicado no número 3 da Coleção Pesquisas, da UNICAMP, em 1999. Resumo comentado de alguns
dados pode ser encontrado em matéria na Folha de São Paulo . São Paulo, 2 maio 1999. Caderno C, p. 1-10.
3
Dados do Censo 2000, do IBGE.
4
Considerando a importância geoeconômica da cidade de Maringá para a região norte do Paraná, Milton
Santos (1989) afirma que o município funciona como uma “metrópole do interior”, categoria que serve para
enfatizar o rápido processo de urbanização dessa cidade.
5
Esse termo é usado por Becker (1977) para referir-se à forma como os integrantes do “mundo artístico” agem
para produzir uma “obra de arte”. A apropriação dessa idéia para pensar o mundo dos rodeios pode parecer,
para aqueles que os percebem como lugar da produção do “lixo cultural”, indevida; mas considero ser
possível pensar que os idealizadores dos circuitos criam uma “rede de cooperação” que permite a produção
de um espetáculo que eles e os demais apaixonados por esse mundo consideram extremamente bonito,
empolgante e comovente. Vianna (1997) utiliza o mesmo conceito para pensar a atuação dos DJ’s no mundo
funk carioca.
6
Expressão utilizada por Priolli (1999) em artigo publicado no jornal Gazeta Mercantil, que falava da impor-
tância econômica dos rodeios e das estratégias adotadas por emissoras de TV que trabalham por assinatura,
como a CMT (Country Music Television), para abocanhar o mercado brasileiro.
7
Alem (1996, p. 55) argumenta que, no Brasil, esses três termos tornaram-se quase sinônimos, muito embora
as práticas e as representações que lhes deram origem sejam muito diferentes. Para esse analista, o movimen-
to seria o seguinte: o caipira e o sertanejo teriam se diluído no country, podendo estar no campo ou nas
cidades, por força de um novo “modo de vida”.
8
Para a improdutividade de trabalhar com o binarismo entre rural e urbano ver, numa perspectiva mais geral,
Williams (1990) e, no Brasil, o conjunto de artigos de Veiga (2002).
9
Pimentel (1997, p. 31) argumenta que esse movimento representa a fase atual e mais moderna do processo
cultural em que se colocou a tarefa de reinterpretar e requalificar o sertão.
10
Não é por acaso que um famoso programa de música caipira feito no rádio, no final dos anos 60, pela dupla
Tonico e Tinoco, chamava-se Na Beira da Tuia. Tulha é o nome dado aos reservatórios de grãos de café. Tal
programa ficou no ar por 30 anos e era ouvido em várias cidades do interior de São Paulo, Paraná e Minas
Gerais. Ver Nepomuceno (1999, p. 91-92).
11
Diz o artigo primeiro da lei: “Considera-se atleta profissional o peão de rodeio cuja atividade consiste na
participação, mediante remuneração pactuada em contrato próprio, em provas de destreza no dorso de
animais eqüinos ou bovinos, em torneios patrocinados por entidades públicas ou privadas. Parágrafo único:
Entendem-se como provas de rodeios as montarias em bovinos e eqüinos, as vaquejadas e provas de laço,
promovidas por entidades públicas ou privadas, além de outras atividades profissionais da modalidade orga-
nizadas pelos atletas e entidades dessa prática esportiva”. Percebe-se que, com essa lei, as vaquejadas são
englobadas pelos rodeios. Pensar o significado disso é tema para outra discussão, mas ressalto que, talvez,
essa seja a primeira vez que as diferenças entre os dois foram esquecidas. Há ainda uma outra regulamenta-
ção importante no artigo quinto, dessa mesma lei, que considera o “peão de rodeio” um segurado equipara-
do aos demais trabalhadores autônomos, para fins de filiação ao Regime Geral de Previdência Social.
12
Para uma análise preliminar desses dados, ver Costa e Dias (1998a; 1998b).
13
Para uma análise mais detalhada desses projetos de colonização, ver Costa (1996) e Santos (1993).
14
O argumento que o cultivo do café possibilitou a ocupação, urbanização e a industrialização de várias regiões
do Brasil, particularmente, no estado de São Paulo e seus “prolongamentos”, é desenvolvido, entre outros,
por José de Souza Martins. Ver especialmente Martins (1990).
15
Para uma discussão aprofundada da carga ideológica presente na caracterização dos chamados três nortes
(Velho ou Pioneiro, Novo e Novíssimo), ver Tomazi (1995).
R EFERÊNCIAS
SILVA, Ari de Abreu. A Predação do Social. Niterói: EDUFF, 1997.
VIANNA, Maria Lucia W. A Americanização (Perversa) da Seguridade Social
no Brasil. Rio de Janeiro: REVAN/UCAM/IUPERJ, 1998.
COORDENADORES:
PROF. DR. PAULO GABRIEL HILU DA ROCHA PINTO
PROF. DR. PAUL EDOUARD AMAR
A criação do Núcleo de Estudos do Oriente Médio visa criar uma estru-
tura acadêmica ligada ao PPGACP/UFF que possa atender a crescente
demanda de informação e análises acadêmicas sobre temas relaciona-
dos a essa região e às comunidades diaspóricas de populações originá-
rias desta região ou a ela ligadas. Uma vez que o Oriente Médio ocupa
um lugar central no discurso político e mediático e no imaginário cul-
tural, que se impõem como instâncias de legitimação de políticas e prá-
ticas que estabelecem relações de poder em termos globais, é funda-
mental que se criem as condições para a produção de um conhecimen-
to empírico e teórico sobre a região no campo acadêmico brasileiro.
Somente a título de exemplo da importância deste tema para o Brasil,
gostaríamos de lembrar da recente visita do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva a diversos países do Oriente Médio, que colocou na agenda das
relações internacionais do Brasil as importantes conexões culturais e
comerciais entre o Brasil e vários desses países. Além disso, o Brasil
conta com a presença de cerca de quatro milhões de árabes e seus des-
cendentes, dos quais cerca de um milhão é de muçulmanos, que consti-
tuem um importante grupo imigrante integrado à sociedade nacional,
juntamente com outros grupos originários da região, como os armênios
ou os judeus orientais.
Além da importância política e social do tema, a criação de uma massa
crítica de saberes sobre o Oriente Médio e suas diásporas traria novos
horizontes comparativos e novas áreas de diálogo teórico para as ciên-
cias sociais no Brasil. Uma abordagem comparativa com as sociedades
do Oriente Médio permitiria pensar criticamente semelhanças e dife-
renças culturais e sociais com o Brasil, abrindo o caminho para uma
abordagem mais pluralista nas ciências sociais brasileiras. Ademais, o
estudo das sociedades do Oriente Médio permitiria o surgimento de
novas abordagens e questões teóricas, assim como a abertura de novos
canais de diálogo com a produção acadêmica internacional.
Para tanto, o que será enfatizado no NEOM é a criação de condições
para viabilizar a pesquisa empírica nas sociedades do Oriente Médio e
suas diásporas. Assim, o primeiro passo será a criação de redes de
cooperação entre pesquisadores e instituições nacionais e estrangeiras
ANTROPOLÍTICA Niterói, n. 16, p. 209–210, 1. sem. 2004
210
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moderna
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240
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ANTROPOLÍTICA Niterói, n. 16, p. 239–250, 1. sem. 2004
241
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ANTROPOLÍTICA Niterói, n. 16, p. 239–250, 1. sem. 2004
245
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Dalva Maria da Mota
A beleza traída: percepção da usina nuclear pela população de Angra dos Reis
Rosane M. Prado
Povos indígenas e ambientalismo – as demandas ecológicas de índios do rio
Solimões
Deborah de Magalhães Lima
Raízes antropológicas da filosofia de Montesquieu
José Sávio Leopoldi
Resenhas
A invenção de uma qualidade ou Os índios que se inventa(ra)m
Mercia Rejane Rangel Batista
China’s peasants: the anthropology of a revolution
João Roberto Correia e José Gabriel Silveira Corrêa
Artigos
As concertações sociais na Europa dos anos 90: possibilidades e limites
Jorge Ruben Biton Tapia
A (re)construção de identidade e tradições: o rural como tema e cenário
José Marcos Froehlich
A pílula azul: uma análise de representações sobre masculinidade em face
do viagra
Rogério Lopes Azize e Emanuelle Silva Araújo
Homenagem
René Armand Dreifuss
por Eurico de Lima Figueiredo
Dossiê
Maneiras de beber: proscrições sociais
Apresentação: Delma Pessanha Neves
Entre práticas simbólicas e recursos terapêuticos: as problemáticas de um
itinerário de pesquisa
Sylvie Fainzang
Alcoólicos anônimos: conversão e abstinência terapêutica
Angela Maria Garcia
“Embriagados no Espírito Santo”: reflexões sobre a experiência pentecostal e
o alcoolismo
Cecília L. Mariz
Artigos
Visões de mundo e projetos de trabalhadores qualificados de nível médio em
seu diálogo com a modernidade tardia
Suzana Burnier
O povo, a cidade e sua festa: a invenção da festa junina no espaço urbano
Elizabeth Christina de Andrade Lima
Antropologia e clínica – o tratamento da diferença
Jaqueline Teresinha Ferreira
Mares e marés: o masculino e o feminino no cultivo do mar
Maria Ignez S. Paulilo
Resenhas
Antropologia e comunicação: princípios radicais
José Sávio Leopoldi
Politizar as novas tecnologias: o impacto sócio-técnico da informação digital e
genética
Fátima Portilho
Criminologia e subjetividade no Brasil
Wilson Couto Borges
Antropolítica
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