Gestão Escolar - Guia Do Diretor
Gestão Escolar - Guia Do Diretor
Gestão Escolar - Guia Do Diretor
ISBN 978-85-363-0333-8
1. Educação – Métodos de investigação educacional – Observações pedagógicas.
I. Acúrcio, Marina Rodrigues Borges. II. Andrade, Rosamaria Calaes de. III. Título.
CDU 37.012
FUNDAMENTOS
de grau. Tanto o professor quanto o diretor têm uma função administrativa muito importante, mas, enquanto aquele
administra a sala de aula, este se responsabiliza pela escola como um todo. O diretor é professor de professores, ele cuida
de um sistema bem mais complexo, com vários subsistemas – partes inter-relacionadas que constituem a escola.
O contato permanente com vários tipos de escolas, na maioria das regiões brasileiras, mostra que as instituições
educativas bem-sucedidas têm, inevitavelmente, um equilíbrio permanente entre o pedagógico e o administrativo, e
essa harmonia decorre, quase sempre, da compreensão de que a escola é um sistema.
No entanto, o conhecimento de que a escola é um sistema nem sempre permeia o dia-a-dia das instituições
educativas e as perdas que daí decorrem são enormes.
Segundo Deming, um sistema é um conjunto de funções ou atividades que interagem em um organismo em prol do
objetivo desse organismo. As partes mecânicas e elétricas que funcionam juntas, em um automóvel ou um aspirador de pó,
constituem um sistema. Há três idéias fundamentais que Deming coloca em destaque na sua visão do que é um sistema:
O primeiro passo de um diretor é definir, ou redefinir, com bastante precisão, o objetivo da escola. Embora isso
pareça óbvio, na maioria das vezes, a escola não sabe o que quer, não sabe o porquê de sua existência. Ao conversar
separadamente com alunos, pais, funcionários, professores, diretores, tem-se, com muita freqüência, a impressão de
estar-se tratando de diversas escolas. Cada segmento acredita que os seus objetivos são os da escola; como não há
clareza em relação ao que se pretende, surgem muitos conflitos desnecessários e perde-se muita energia.
Algumas escolas, em sintonia com os ensinamentos da Gestão da Qualidade, buscaram definir a visão, a missão,
os valores, mas muita coisa ficou apenas no papel. Em alguns casos, houve incoerência entre o escrito e o que se vivia
no cotidiano da escola. Poucas instituições conseguiram identificar o que estava errado e buscar as soluções, aprimo-
rando os processos da escola e melhorando as condições de trabalho.
O segundo passo é considerar, em todas as decisões, a interdependência entre os múltiplos componentes do siste-
ma, pois é quase impossível mexer com uma peça só. A imagem que me ocorre é a do horário de aulas. Com ele pronto,
qualquer alteração pedida por um professor desencadeia uma avalanche de mudanças. Um professor, quando pune
um aluno, mexe com todos os alunos, com as famílias, com a escola toda. Uma instituição, quando escolhe o seu diretor,
dá muitos sinais. A demissão de um professor quase sempre mexe mais com o grupo que fica do que com o demitido.
Um diretor que não compreende a interdependência entre os componentes do sistema passa grande parte do seu
tempo apagando incêndios e corre o risco de levar a escola ao fracasso. Vendo apenas árvores isoladas, sem competência
para ver a floresta, cria insatisfações, focos de resistência, desgastes desnecessários. Cada solução sua origina outros problemas.
Coleção Escola em Ação 19
O desempenho de cada componente deve ser avaliado em termos de sua contribuição para o alcance do objetivo
do sistema. É o critério menos pessoal e, nas escolas, esse critério raramente é considerado. Tanto para o bem quanto
para o mal, as simpatias, os apelos emocionais, o medo dos conflitos, os laços familiares, o tempo de casa falam mais alto
que qualquer contribuição para o objetivo do sistema.
O terceiro e último passo é reconhecer que as falhas de um sistema decorrem fundamentalmente das ações administrati-
vas. Se uma escola não vai bem, é possível encontrar muitas justificativas, mas nenhuma exime a direção da responsabilidade.
O diretor precisa pensar suas ações, mas não deve ter medo de agir. A administração é que permite o exercício
de todas as profissões. Para que o professor realize o seu trabalho, é necessário que alguém esteja administrando a
escola, criando condições para que as pessoas possam ser produtivas. Encontrar culpados para as mazelas da escola
não revela competência alguma. Quanto maior o poder de uma pessoa, maior a sua responsabilidade pelos resulta-
dos. O salário de um diretor deve recompensar não o seu trabalho, mas a responsabilidade pelos resultados da
instituição. Chegar à escola às seis horas da manhã e sair às dez da noite não é o que importa na avaliação de um
diretor. Em resumo, não é a quantidade de trabalho que distingue o diretor, mas a qualidade de sua administração.
Compreender a escola como um sistema facilita a abordagem de determinados aspectos. Como melhorar a esco-
la é um desses aspectos. Numa visão mais superficial, podem-se afirmar que quase todo sistema apresenta três compo-
nentes principais:
As escolas apresentam esses componentes. Nem sempre os procedimentos operacionais estão explicitados, mas eles
existem. Prova disso é o fato de dizer-se, com freqüência, para os novatos: “Aqui, fazemos assim; aqui, isto não é possível”.
Na melhoria de uma escola, há possibilidade de duas ações distintas: investimentos na parte física, ou investi-
mentos em educação, no desenvolvimento das pessoas.
A experiência demonstra que essa ação sozinha não implica o aperfeiçoamento da escola como um todo. Isto
significa que grandes melhorias nas instalações escolares, sem treinamento e capacitação de funcionários e pro-
fessores, não resultam, necessariamente, em maior qualidade de ensino, em garantia de aprendizagem.
2. Investimentos em educação:
Essa ação tem retorno somente a longo prazo, mas o seu alcance é profundo e duradouro, resultando em
ganhos visíveis na qualidade e na produtividade. Educação e treinamento melhoram o desempenho das
pessoas e, conseqüentemente, os procedimentos operacionais (estes dependem diretamente da eficiência
do elemento humano e de seus conhecimentos).
Para que a pessoa assimile os resultados dessa ação, é necessário que esteja motivada e que seu potencial mental
seja explorado no sentido do pleno aproveitamento e desenvolvimento. Para os investimentos na parte física, não
há barreiras, mas, para os investimentos no desenvolvimento de pessoas, há dois obstáculos a serem considera-
dos: o potencial intelectual e a motivação. Pode-se criar o melhor programa de desenvolvimento e nada funcio-
nar, se as pessoas não estiverem motivadas, ou se o programa não levar em conta o potencial intelectual delas.
Nas situações de vida real, o cargo de diretor de escola tem funções e características bem diferentes de uma instituição
para outra. Em alguns casos, ainda que se compreenda que a escola é um sistema, é muito difícil que a prática reflita essa
compreensão.
Ocorre-me a lembrança de escolas que têm como mantenedoras cooperativas educacionais, nas quais o diretor
cuida apenas (como se isso fosse possível) do pedagógico, sem autonomia até mesmo para mudar a cantina de lugar.
Lembro-me, ainda, de escolas de alguns sistemas de ensino ou de congregações religiosas em que há um diretor
pedagógico e outro administrativo no mesmo nível de poder. Se se trata de pessoas imaturas, vaidosas, com ambição
de poder, competitivas (e isto acontece com muita freqüência), quase toda a energia dessas pessoas é gasta na
competição e pouco se realiza em prol do objetivo do sistema. A escola corre risco, quando cada parte pensa ser o
todo, e isto acontece freqüentemente quando se fragmenta a função do diretor. Na escola, o diretor (sem adjetivações)
deve ser a última palavra em todos os aspectos, administrativos ou pedagógicos.
As mantenedoras podem e devem ter o controle das decisões e das ações do diretor, mas tão somente no nível estraté-
gico, nunca no nível operacional. Os instrumentos para esse controle são os planejamentos, os orçamentos e os resultados.
Nas organizações autoritárias, aqueles que ocupam os cargos mais importantes têm, com freqüência, os demais
a seu serviço. Em muitas escolas, ainda hoje, supervisores, coordenadores, orientadores educacionais, secretárias
escolares vivem em função do diretor; a serviço dos técnicos, estão os professores; estes têm como súditos os alunos.
É bem verdade que essa situação vem sendo modificada e, às vezes, de maneira desastrosa.
Ao colocar o aluno no centro do processo educacional, numa sociedade mais democrática, algumas escolas
passaram do autoritarismo para o anarquismo; equivocadamente destruíram a hierarquia, contribuindo para a falta
de respeito nas relações, para o caos na rotina de trabalho, para a baixíssima produtividade no ambiente escolar.
Não se passou da heteronomia para a autonomia, mas para a anomia; não se passou do medo para a compreen-
são, mas para o desrespeito; não se passou da submissão para a liberdade, mas para a agressividade; não se passou do
silêncio para a participação, mas para a revolta ou para a indiferença; não se passou da dominação para o serviço, mas
para a subserviência.
A compreensão do que é servir talvez seja a única possibilidade de evitar tantos equívocos. Há um poema de
Gabriela Mistral, poetisa e educadora chilena laureada com o Prêmio Nobel de Literatura de 1945, em que se lê:
(...) Uns criticam, outros constroem. Seja você o que serve. Servir não é faina de seres inferiores. Seja
você o que remove a pedra do caminho, o ódio entre os corações e as dificuldades do problema. Há
a alegria de ser puro e a de ser justo. Mas há, sobretudo, a maravilhosa e imensa alegria de servir.
Servir não é trabalho de gente pequena, de seres inferiores. O bom diretor é aquele que não precisa do cargo de
diretor; é aquele que não fica preso a uma posição, a um título. O cargo de diretor lhe cai bem, porque ele pode viver
sem ele. Há uma alegria no servir que só os seres superiores conseguem usufruir. Os fracos, os pequenos, os incompe-
tentes, quando podem, são autoritários; quando não podem, tornam-se subservientes, jamais servidores.
Na convivência com muitos grupos de educadores, foi possível perceber que o poder maior não é o que emana
do cargo, mas o que procede da capacidade de servir. Entre os professores, são aqueles que servem os mais conside-
rados, os mais respeitados pelo grupo. Nem sempre são os diretores.
A capacidade de servir é a verdadeira fonte do poder. No evangelho de São Mateus, capítulo 20, versículo 25 e
seguintes, pode-se ler:
Mas Jesus os chamou a si, e lhes disse: Sabeis que os príncipes das gentes dominam os seus vassalos; e
que os que são maiores exercitam o seu poder sobre eles. Não será assim entre vós outros. Entre vós,
todo o que quiser ser o maior, esse seja o que vos sirva, e o que entre vós quiser ser o primeiro, esse
seja o vosso servo.
A lição é antiga, mas a vaidade e a ambição exacerbada cegam, e os mais famintos são levados cada vez para
mais longe daquilo que tanto querem. Robert Lamp, educador norte-americano, dizia que o diretor deve ser extre-
22 A gestão da escola
mamente forte, para se tornar suficientemente fraco, para que o professor possa ser forte. Só o maior é capaz de se
tornar o menor; a recíproca jamais é possível. Para servir, procure ser grande: não há outro caminho.
E o que é ser grande? As exigências, as necessidades, as expectativas são próprias de cada época, de cada lugar.
Há, no entanto, um conjunto de características e de habilidades que garante um desempenho, no mínimo, razoável
de alguém que esteja à frente de uma escola.
Quanto maior o desenvolvimento tecnológico, maior a necessidade de líderes verdadeiramente humanos. Eles
é que fazem a diferença. O acesso às inovações tecnológicas não é privilégio de nenhuma empresa. O líder capaz de
criar esperanças, de ter valores e crenças que empolguem as pessoas, de fazer com que as pessoas queiram fazer, esse
líder é que faz a diferença e que dá uma dimensão transcendental à organização a que pertence.
Em um artigo de Marco Aurélio Ferreira Vianna, sócio-diretor do Instituto Marco Vianna de Estudo e Humanismo,
sobre os programas de qualidade, lemos no prefácio:
Estamos começando uma pesquisa sobre as características de liderança na ótica de cerca de 15 auto-
res (Crosby, Gardnes, Bennis, Kouzes, Handdy, Motomura, Vianna, Fischer e outros) e, ainda que de
maneira preliminar, conclui-se que 85% dos atributos colocados por esses estudiosos são de natureza
humana, e não empresarial. A título de exemplo cabe citar as “características dos líderes” indicadas
por Philip B. Crosby: ansiosos por aprender, éticos, disponíveis, determinados, cheios de energia,
confiáveis, sensatos, humildes, intensos, agradáveis. Vale também exemplificar um conjunto de carac-
terísticas dos “líderes superiores” pesquisados por Kouses/Posner. Em um estudo feito com base na
visão de quem é liderado, estes esperam de seu líder o seguinte conteúdo de atributos: honesto,
competente, olhar para adiante, inspirador, inteligente, justo, liberal, direito e fidedigno.
1. Natureza de caráter.
2. Relacionamento humano.
3. Conhecimento.
Crosby diz que a integridade do indivíduo determina o seu sucesso com antecedência. Os líderes são responsáveis
pela ética das instituições; eles devem assumir um papel de destaque no desenvolvimento e na defesa de princípios e de
valores. Não há como desempenhar esse papel sem honestidade, sem o desejo de ser justo, sem decência, sem nobreza de
caráter. Dar poder a um mau-caráter, principalmente quando se trata de alguém competente, é arruinar a vida de muitas
pessoas. Felizmente, no meio educacional, quando acontece de um mau-caráter assumir uma diretoria, freqüentemente
seu mandato tem sido transitório. Os líderes, segundo o grego Tucídides, são conscientes de seus deveres e honrados no agir.
Coleção Escola em Ação 23
Uma dada situação se modifica quando as relações existentes nessa situação se modificam. O autoritarismo e a
democracia se expressam principalmente nos relacionamentos, pois falar de relações é tratar da essência. É no campo
das relações que mais aumentaram as exigências em relação ao trabalho do diretor de escola. A função de representar
a escola, interna e externamente, como cabeça da instituição, é uma responsabilidade cada vez mais necessária e
crítica. Trata-se de uma função importantíssima que não pode apenas ser tolerada ou delegada a outra pessoa.
A visibilidade e a acessibilidade são inerentes ao cargo de diretor. Muitos infortúnios são evitados, quando o
diretor se torna visível, presente entre os alunos, os professores, os funcionários, os pais. Muito se aprende, muita
dúvida é eliminada, quando o diretor é uma pessoa a que se pode chegar, quando as portas da diretoria se encon-
tram freqüentemente abertas. É preciso que o diretor tenha gosto pelo relacionamento humano, que não tenha
medo de atritos, que veja nos embates oportunidades de aprimoramento. Minha opinião é de que a demanda por
visibilidade e contatos diretos crescerá muito. O exercício de uma diretoria será um tormento, uma tarefa altamente
desgastante, para quem não tiver uma expectativa positiva em relação aos relacionamentos humanos.
“Para ir adiante dos demais, é necessário ver mais que eles” são palavras do cubano José Martí. Um diretor de escola
precisa ter convicções, idéias, projetos. O conhecimento técnico é imprescindível, mas não é suficiente para que se garan-
ta uma gestão proficiente. Respeitadas as exigências legais, o melhor processo de escolha de um diretor seria o de pedir a
todos os interessados que apresentassem propostas para a administração da escola nas quais falassem de suas convicções,
idéias, projetos. Esse processo vale para escolas públicas e particulares, para escolas confessionais e laicas.
Tenho presenciado muitos equívocos na nomeação de diretores. Poucos, por falta de nobreza de caráter dos esco-
lhidos; muitos, por carência de habilidade nos relacionamentos humanos; e a maioria, por falta de conhecimento, pela
ausência de convicções, de idéias, de projetos, de capacidade de ver adiante, de enxergar mais que os liderados.
E o que é servir? Posso ser um servidor sem perder a autoridade, sem me tornar subserviente? É possível inverter
a pirâmide organizacional sem provocar o caos? É possível ter um modelo participativo sem perder agilidade nas
decisões? É possível solicitar a contribuição das pessoas sem mostrar fraqueza, indecisão?
Sim é a resposta para as questões colocadas no parágrafo anterior, mas é mister lembrar que o conhecimento
sobre o grupo de liderados é que permitirá ao diretor definir acertadamente o ritmo e as prioridades. Nada substitui
o conhecimento da realidade e da cultura de cada escola, pois não basta o desejo de servir, não é suficiente a
convicção de que o exercício do cargo de diretor é instrumento de desenvolvimento do grupo.
Em situações reais, as características mais importantes para um líder estão intimamente relacionadas com o grupo
de liderados. Para o cumprimento de uma tarefa, para a consecução de um objetivo, dois fatores são muito importan-
tes: competência e comprometimento. O papel da liderança varia dependendo do nível dos liderados em relação a
esses fatores.
24 A gestão da escola
É importante ressaltar que, em situações reais, não se encontram grupos bem-definidos, como o esboçado.
Nenhum grupo é totalmente competente ou incompetente, comprometido ou não-comprometido. Um grupo pode
ter predominantemente pessoas comprometidas ou não, profissionais competentes ou não; o papel da liderança é
conhecer bem o grupo, trabalhar as suas necessidades e inspirá-lo.
Vale a observação de Sergiovanni e Carver:
É preciso conhecer em que nível estão os professores e os funcionários de uma escola. Não faz sentido
querer motivá-los ao nível de autonomia, se eles estão inseguros, ou querer motivá-los ao nível de
segurança, quando professores e funcionários buscam autonomia. Se superestimamos o nível de ne-
cessidade de operação de professores e de funcionários, e os amedrontamos com uma administração
ultraparticipativa e auto-realizadora, somos tão ineficientes quanto os que negam satisfação significa-
tiva aos professores e funcionários, subestimando os níveis de necessidade de operação.
De modo geral, pode-se dizer que o papel principal de um líder não é o de controlar, mas o de liberar energias,
o de apoiar e orientar. O líder exerce três papéis fundamentais:
1. De projetista.
2. De professor.
3. De administrador.
Como projetista ele cria a realidade a partir dos anseios, dos objetivos pessoais seus e de seus liderados. O líder tem
obrigação de introduzir mudanças que melhorem a qualidade de vida do grupo; precisa ter visão, inspirar o grupo.
Como professor, prepara o grupo e se prepara para mudanças. Uma das principais preocupações do líder deve ser a de
Coleção Escola em Ação 25
educar e treinar. O treinamento é que garante, na prática, os resultados das grandes idéias. As pessoas trabalham mal,
na maioria das vezes, não por falta de motivação, preguiça ou deslealdade, mas por falta de competência. Os compo-
nentes de um sistema são necessários, mas não suficientes por si mesmos para realizar o objetivo de um sistema, e por
isso precisam ser administrados. O líder tem um compromisso com as pessoas que lidera e com a missão da empresa em
termos de resultados práticos. Uma administração incapaz traz prejuízos econômicos, emocionais e espirituais para as
pessoas e para as organizações. Ter consciência disso desperta, naturalmente, uma maior responsabilidade nos líderes.
Tenho percebido que o professor, talvez, seja a pessoa mais parecida com o aluno. É um ser paradoxal: ele é a
instituição (principalmente na relação com o aluno), mas ele a desafia constantemente; tem uma relação conflituosa
com o aluno, mas é o seu maior aliado; exige do aluno respeito à sua autoridade, mas é quem lhe ensina o
questionamento, o desafio; é forte quando se torna fraco e permite que seus alunos sejam fortes; quanto mais compar-
tilha seus conhecimentos mais se torna sábio; é adulto na relação com crianças e adolescentes e, na relação com
adultos, preserva a criança que há em cada um de nós.
Com essas características, o “bom” professor precisa de um ambiente:
O diretor deve ser um bom ouvinte. Precisa escutar as idéias, conhecer as necessidades e expectativas de seus
professores, funcionários, estar sintonizado com as aspirações de seus alunos e, para que não se perca no meio da
diversidade de desejos e convicções, o diretor precisa de lucidez, de firmeza nos objetivos e constância de propósito.
Servir não é fazer o que o outro quer, mas empenhar-se na realização do que é necessário para o bem de todos.
26 A gestão da escola
A arte da liderança, segundo Max De Pree, consiste em libertar as pessoas para fazerem o que lhes cabe, da
maneira mais eficiente e humana possível. O líder é o servidor dos seus seguidores, pois afasta os obstáculos que os
impedem de executar tarefas. Os líderes que sobrecarregam as pessoas, em vez de capacitá-las, não estão a serviço,
mas se servindo da liderança.
Se se quiser ter novas formas de convivência social, em que a proteção da vida e a felicidade sejam possíveis,
deve-se construí-las. A convivência se aprende, se constrói e se ensina. É uma tarefa de toda a vida de uma pessoa e de
uma sociedade.
Coleção Escola em Ação 27
O Dr. Humberto Maturana – médico da Universidade do Chile, biólogo graduado na Inglaterra e nos Estados
Unidos, em Biología del fenómeno social – afirma:
O ser humano é, na sua constituição, social. Não existe o humano fora do social. O genético não
determina o humano, somente fundamenta o que é humanizável. Para ser humano, é preciso crescer
humano entre humanos. Ainda que isso pareça óbvio, esquece-se de que se é humano somente na
maneira de ser humano das sociedades a que se pertence.
Se pertencemos a sociedades que valorizam, com a conduta diária de seus membros, o respeito aos
mais velhos, a honestidade consigo mesmo, a serenidade na ação e a verdade na linguagem, esse será
nosso modo de ser humano e o de nossos filhos.
Pelo contrário, se pertencemos a uma sociedade cujos membros valorizam, com uma conduta cotidiana, a
hipocrisia, o abuso, a mentira e o auto-engano, esse será nosso modo de ser humano e o de nossos filhos.
Mais do que aquilo que fala, a escola ensina aquilo que faz. Os alunos não apenas ouvem o que dizem os professo-
res, mas observam como se relacionam, o que valorizam, como trabalham, como se organizam, como vivem, quais são
seus valores, suas crenças. Aprendem como a escola resolve os problemas, como trata seus funcionários, que importân-
cia dá às disciplinas, aos setores, aos eventos, ao trabalho, ao lucro, ao bem-estar e à satisfação das pessoas.
Educar é mais que instruir, transmitir conhecimentos, dar competência. Educar é dar um sentido ao conheci-
mento, é inspirar projetos de vida, é despertar o projeto de viver em fraternidade, é humanizar, é formar cidadãos, e,
para isso, é preciso direcionar esforços, ter lucidez em relação ao que se quer e ao melhor caminho para chegar lá.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.