China e Rússia

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DIFERENÇAS ENTRE O AUTORITARISMO DA CHINA E

RÚSSIA
Uma perspetiva de Bunce e Weiss

Trabalho realizado por: Maria Isabel Ardelean, CPB2, nº 111392


Docente: Tiago Fernandes
Regimes autoritários contemporâneos
Segundo Bunce e Weiss (2020), dá para classificar os regimes autoritários em dois
tipos, os competitivos e os não competitivos. Assim através desta simples
categorização pode-se proceder à comparação de dois regimes autoritários
contemporâneos, que apesar da instabilidade que a estes pode estar associada, são
países que conseguem ter um significativo crescimento económico e reconhecimento
internacional, caminhando para atingir o nível da superpotência dos EUA. A China e a
Rússia para além da dimensão do seu território, que é uma primeira evidente
característica que partilham ambos, também têm uma grande proeminência e
influência internacional, sendo a China uma grande produtora, contribuindo em 2018
com 19% do PIB e a Rússia possuindo a segunda maior força militar do mundo a
seguir dos EUA.
Uma das características principais dos regimes autoritários é o objetivo dos líderes
autoritários de se permanecer no poder, para isso, este tipo de regime investem muito
em políticas de previsão e antecipação, como também, minimização da instabilidade e
das ameaças ao poder. "It is better to prevent, dilute, or redirect a challenge to their
rule than to allow it to form and grow"(Bunce & Weiss, 2020). Pelo que, estas políticas
de prevenção e antecipação podem ser negativas ou positivas.

…authoritarian rulers rely on negative incentives, such as repression of the


public in general and harassment and marginalization of the opposition and civil
society groups in particular, or on positive incentives, such as investment in the
development and socialization of shared values that can then be repeatedly
evoked; the creation of civil society organizations tied to the regime that provide
useful benefits to citizens; and the distribution of benefits to the public through,
say, economic growth, public works projects, expansion of the government, and
targeted allocation of jobs, goods, and money. (Bunce & Weiss, 2020)

Portanto, as estratégias usadas para sobreviver no poder, vão depender das


diferenças características do regime da China e Rússia, que por sua vez são produto
das suas tradições históricas.

No caso da China, a revolução de 1949 liderada por Mao Tsé-Tung que implementou a
República Popular da China sob o controlo do partido comunista chinês (PCC), deu
início a uma era conturbada para esta nação. Os principais episódios que marcaram o
período Maoista até 1978 quando Mao morre, foram o "Great Leap Forward” (1958-
1962) e o "Cultural Revolution” (1966-1976). A primeira resume-se a um conjunto de
reformas radicais comunistas (como a coletivização) no setor agrário e industrial que
tinha como objetivo lançar o país em direção ao rápido desenvolvimento económico.
Porém, acabou por se revelar um grande fracasso e um desastre uma vez que não se
atingiu o crescimento económico e a produtividade que se desejava, mas também se
prejudicou a situação económica inicial que tinham, ao ponto de que anos após o fim
destas políticas ainda se sentiam os estragos económicos e políticos que esta causou.
Jung e Chen, (2019) explicam que, esta implicou um alto custo humanitário, onde
milhões de pessoas morreram principalmente de fome e exaustão provocada pela
dura carga laboral que lhes foi imposta.
In 1958, Chairman Mao launched a radical campaign to outproduce Great
Britain, mother of the Industrial Revolution, while simultaneously achieving
Communism before the Soviet Union. But the fanatical push to meet unrealistic
goals led to widespread fraud and intimidation, culminating not in record-
breaking output but the starvation of approximately one in twenty Chinese.
(Brown, 2012)
Brown (2012), refere que um dos problemas do período maoista foi o de não se abrir
espaço para críticas ao regime, sendo os críticos e os intelectuais chineses seriamente
perseguidos (“revolução cultural”), isto teve como consequência más decisões
políticas por falta de feedback da verdadeira situação e realidade dos cidadãos e do
país, uma vez que Mao, acreditou que o dogma ideológico sem uma base científica e
técnica poderia levar ao desenvolvimento e crescimento económico.
As décadas seguintes com a subida de Deng Xisoping ao poder na década de 70, a
China recompõe-se ao fortalecer o seu partido comunista pretendendo trazer
estabilidade económica e política após a situação desastrosa em que Mao deixou o
país. Para isso, como afirma Bunce e Weiss (2020), substituiu-se os revolucionários
(do maoismo) com tecnocratas que permitissem basear as decisões políticas em
conhecimento científico e técnico em vez de utopias comunistas. Salientando que,
com Deng no poder, deu-se uma abertura económica, fazendo-se a transição de uma
economia fortemente planificada para o socialismo de mercado, o que permitiu um
crescimento do PIB.
Assim, as políticas ideológicas adotadas por Mao tiveram um grande impacto na forma
de governação e administração da China atual, que aprendeu com o passado e se
tornou muito burocrática e cautelosa com as reformas que impõe. Desta forma, a
China contemporânea, pode ser caracterizada pelo autoritarismo não competitivo onde
apenas o partido comunista lidera e assegura a integração, controlo e implementação
das diretrizes tomadas. “China’s regime “is committed to building rule of law as a key
way to create a more predictable and therefore more stable political environment,”
seeking to “maximize certainty”…“(Brunce & Weiss, 2020), como também (aprendendo
com os erros do passado), a China criou um conjunto de instituições que lhe permite
facilitar as relações entre administrações locais e os cidadãos, onde estes últimos
podem apresentar as suas preocupações e queixas, que são importantes para uma
governação efetiva que atende às demandas da população. “Losing sight of the
concerns of the public is a dangerous situation for any political regime” (Bunce &
Weiss, 2020).
No caso russo, os acontecimentos que marcaram a história e a atual política russa, foi
a União Soviética (1922-1991) e a sua queda, que não conseguiu acompanhar o
crescimento e a modernização do modelo capitalista.
As dificuldades e a falta de acompanhamento começaram-se a sentir ainda na década
de 70, vindo a piorar nos anos seguintes. Segrillo (2014) refere que, segundo as
próprias palavras de Mikhail Gorbachev, que subiu ao poder em 1985 e prometeu
várias reformas radicais ao país, mas que mais tarde vieram a ser a causa da queda
da União Soviética, a Perestroika e Glasnost eram inevitáveis, visto a diminuição do
crescimento e estagnação económica que se faziam sentir em comparação à grande
posição que ocupava até então. Verificando-se uma fraca eficiência da qualidade e
quantidade de produtos produzidos e o não acompanhamento do desenvolvimento
científico e tecnológico, numa “época em que a revolução científica e tecnológica abria
novos horizontes para o progresso econômico e social” (Segrillo, 2014).
Assim, percebeu-se que o forte planejamento estatal estava a impedir o
desenvolvimento do bloco, pelo que Gorbachev optou por uma restruturação
económica (Perestroika) que “referia-se à necessidade de acelerar o progresso
técnico-científico e econômico para recuperar o impulso perdido nas últimas décadas”
(Segrillo, 2014). Esta requereu também, uma abertura política (Glasnost que significa
transparência), dado o problema da corrupção que retinha a União Soviética de se
desenvolver. Isto traduziu-se numa descentralização do poder, privatização das
empresas e no abandono da economia planificada para optar por uma economia de
mercado como os capitalistas.
No entanto, estas reformas não tiveram o resultado desejado uma vez que a
Perestroika não permitiu o crescimento económico e a liberalização vinda da Glasnost,
fez com que os cidadãos aproveitassem esta abertura e se revoltassem sem que
houvesse capacidade repressiva para os impedir, para além de que, como referem
Bunce e Weiss (2020), começavam a eclodir os movimentos nacionalistas que exigiam
independência do bloco soviético e mais democracia. Assim, ao contrário do que se
viu na China onde as revoltas levaram a maior repressão e à consolidação do poder
do partido comunista, na União Soviética assistiu-se à sua queda.
Duarte e Figueiredo (2017), aponta que, as reformas que foram implementadas por
Gorbachev foram antagónicas com o modelo soviético e por isso este caiu.
Depois desta crise que levou à queda do bloco soviético, a Rússia passou por uma
transição à democracia e ao capitalismo, porém esta também acabou por ser
prejudicial ao país. Com a subida de Valdimir Putin ao poder melhorando a condição
deste, a Rússia voltou às suas origens autoritárias, sob a narrativa de que visto o
fracasso da democracia neste país, só um governo e um líder forte é que poderia levar
a Rússia a concorrer contra os EUA e chegar ao patamar de superpotência. Putin
aposta bastante nos discursos patriotas para assim se manter no poder.
Ao preservar alguns restos do legado democrático que teve, pode-se entender o
porquê de o regime atual da Rússia, ser competitivo e politicamente mais aberto.
“Another legacy of the democratic experiment is that Putin’s power rests in part on his
ability to maintain high levels of public support—a source of worry for Putin that is more
typical of his democratic counterparts” (Bunce & Weiss, 2020), além de ser menos
repressiva do que a China.

Como os regimes autoritários se mantêm no poder?


Essencialmente esta pergunta tem duas respostas, conforme expõem Bunce e Weiss
(2020), sendo elas, através da forte repressão ou através da tentativa de ganhar a
conformidade dos cidadãos. Se os autocratas optarem pela segunda, como é o caso
da Rússia, têm de ganhar a submissão do povo face ao regime, e para isso os líderes
investem em mecanismos que lhes atribuam legitimidade (como culto ao líder, a
imposição da retórica de que é preciso um governo forte que atribua estabilidade à
nação e os conduza em direção ao estatuto de potência mundial, criação de um
inimigo comum, discursos patrióticos e propagação da ideia da autocracia como
melhor forma de governo, mas também eleições mesmo que não justas, e existência
de algum espaço para a criação de uma oposição). No entanto, se os líderes não
conseguirem ganhar a simpatia da população e estes se revoltarem (tendo como
causa a fraca gestão dos lideres, que pode ser traduzida em más tomadas de
decisões ou a falta de concretização daquilo que prometeram), é preciso recorrer à
repressão, que por sua vez, se não for forte o suficiente e não conseguir suprimir as
revoltas, correm o risco de queda do regime, porque é dado um indício à oposição,
aos militares e outros atores do enfraquecimento do poder do autocrata. Podendo
estes, aproveitarem-se dessa fraqueza para derrubá-lo.
Por outro lado, quem optar pela repressão, como a China, tem de possuir uma forte
estabilidade económica que assegure o investimento num forte exército que mantenha
a tranquilidade e estabilidade social. Em contrapartida, a repressão e a censura para
além de representarem um grande gasto económico, também não abrem espaço para
críticas e feedback.
Outra questão levantada pelos autores necessária a este tipo de regime, é a
informação. Para se manterem no poder, é preciso controlar e minimizar a
instabilidade social e política, por isso os autocratas precisam de informações úteis e
fiáveis vindos tanto do povo como dos membros de dentro do regime. Isto porque,
estes agentes têm contacto com a realidade prática dos acontecimentos e problemas
nos vários setores do Estado, e só através de informações e feedbacks fiáveis é
possível os países conseguirem tomar boas decisões e reduzir a insatisfação da
população.
Tanto a China como a Rússia ambas querem ascender ao estatuto de potência
mundial e desenvolverem-se ao nível dos EUA, daí a importância de receberem bom
feedback e informação vindos da verdadeira realidade do seu país, conseguindo tomar
decisões que os encaminhem em direção ao desenvolvimento e progresso.

A Rússia, ao contrário da China, por basear a sua sobrevivência na aceitação do


regime por parte da população de forma voluntária, tem de ter cuidado com as
decisões que faz e como são transmitidas e justificadas ao público. Isto porque, as
decisões tomadas pelo regime, vão estar sempre submissas à opinião da população e
se forem contra o que o povo aceita, pode-se gerar instabilidade social e política. Para
que haja boas tomadas de decisão que estão de acordo com o que a população
precisa, há dependência de uma boa recolha de informações.
Conclui-se que, para um regime autoritário permanecer no poder depende de boas
informações e de cooperação da população ou fortes mecanismos de repressão.

Os benefícios e os custos da repressão:


"Fearful people hide and distort information.” (Bunce & Weiss, 2020)
Os regimes autoritários que apostam na repressão, conseguem manter uma
estabilidade política ao controlarem os cidadãos a aceitarem o regime, jogando com o
medo criado por esta. Já que, o medo de ser perseguido por estar contra ou criticar o
regime vai dificultar a organização e a mobilização dos cidadãos. Contudo, este medo
imposto e criado para manter estabilidade no regime tem a desvantagem de ter como
consequência a perda de informação útil e fiável para as boas tomadas de decisões.

Uma vez suprimidas as vozes por parte dos que estão em contacto com a realidade
prática das políticas definidas pelo regime, o autocrata cria um panorama errado e
distorcido da situação política e social do país, dificultando a capacidade deste, de
avaliar os problemas e de tomar decisões nesse sentido (em sentido de progresso).
Esta situação, por sua vez, para além de deixar que se agravem certos problemas da
sociedade, faz com que haja (possivelmente) um aumento da insatisfação dos
cidadãos, que são fortemente reprimidos, mas também submetidos a maus índices
sociais (como pouco crescimento das taxas de alfabetização, aumento das taxas de
mortalidade e desemprego), traduzindo-se numa maior instabilidade política que por
sua vez vai requerer uma maior ação repressiva e consequentemente mais gastos
económicos.
Um regime que imponha uma forte repressão, vai ter que estar constantemente a
investir nesse setor, porque se se reduzir as práticas repressivas abrir-se-ia uma
brecha para que a população que esteve reprimida e por isso descontente, derrubar o
regime.
Pelo que, a repressão cria descontentamento e medo que podem ser prejudiciais para
o regime em questões de revoltas e más informações, respetivamente.

Os benefícios e os custos da liberalização:


"If an authoritarian ruler is popular, it is much harder for civilian and military elites to
stage a coup d’état" (Bunce & Weiss, 2020).
Um regime autoritário mais liberal com menos repressão, onde a população não tem
tanto medo de expressar a sua opinião, é um regime mais aceite pela sociedade, que
não se sente tão constrangida. Isto é vantajoso porque, não só são obtidas críticas
construtivas, mas também, não vai existir tanta vontade por parte da população de
resistir ao regime, e permite ao autocrata de estar mais ciente da opinião pública e
saber melhor como preparar-se para impedir possíveis revoltas ou atenuar o
descontentamento da sua população. No entanto, os riscos para esta abertura é a
perda de controlo direto sobre a população (que pode resultar na perda total do
controlo), como também a dificuldade de definir, no contexto desta abertura política,
onde traçar a linha entre o controlo Estatal e a liberdade pessoal.
Além de que, nos regimes autoritários em que há mais liberalização política, e o líder
perde popularidade, os indivíduos conseguem mais facilmente se mobilizar e criar uma
frente ao regime.
É por isso que nestas situações, tem que existir um continuo reforço da popularidade
do líder e da ideologia em que a população entenda como a melhor para si.

Os autores afirmam que, na Rússia com a subida de Gorbachev ao poder nos anos
80, as reformas não se limitaram apenas ao setor económico, uma vez que se
percebeu que a corrupção proveniente do partido único limitava o progresso
económico do país e, portanto, uma reforma económica tinha que vir acompanha de
uma reforma política onde a competitividade e uma maior abertura às opiniões
permitiria a redução da corrupção e a subida de políticos mais aptos e eficientes ao
poder. Isto também permitiu que a população apoiasse mais o regime, além do país
passar para fora, a impressão de serem um regime flexível e razoavelmente aberto, o
que ajuda a formar coligações com países do ocidente.

No entanto, o maior desafio da Rússia com esta abertura política, é impedir que uma
mobilização anti regime se forme, ou que tenham uma derrota eleitoral (sendo eles um
regime autoritário competitivo que permite a existência de uma certa oposição e que
haja eleições).

Educação
Usada para legitimar o regime e criar conformidade e aceitação dos cidadãos por este
(minimizar as ameaças internas que possam surgir ao regime) o investimento na
educação dos mais jovens é entendida por Bunce e Weiss (2020), como sendo uma
medida preventiva tomada pelos autocratas.
No início da tomada do poder pelos líderes autocratas, os cidadãos sabem o porquê
de se submetem ao regime, pois assistiram ao contexto em que esta nasceu, mas à
mediada que essa geração inicial (de quando se tomou o poder) começa a ser
substituída pelas gerações mais jovens, é importante para os autocratas manterem e
passarem os hábitos para essas novas gerações que precisam assimilá-los,
conseguindo assim, através da persuasão criar um favoritismo ao regime. “This is
important not only because young people tend to be at the forefront of challenging
authoritarian rule but also because today’s youth are more globally minded and
connected than generations in the past” (Bunce & Weiss, 2020).
Os dois países têm formas diferentes de abordarem esta questão, enquanto a Rússia
impõe uma ideologia patriota, a China baseia-se mais na imposição da disciplina
política sobre os mais jovens.
Assim através da educação, é possível criar a imagem de que o regime é invencível e
que não pode ser derrubado ou que não há alternativa a este, além de inferirem que a
liderança do regime (tanto o partido comunista chinês como o Putin) permite preservar
a ordem, o progresso e o crescimento do país, mas também preservar os valores tão
presados pela ideologia (impostas por eles, os autocratas).
No caso chinês, é ensinado que as conquistas económicas e o estatuto global que o
país adquiriu só foram possíveis devido à liderança do partido comunista, sendo esta a
chave para a prosperidade do país.
No caso russo, estes usam a abordagem patriótica e da importância de um governo
centralizado forte que assegure a ordem, estabilidade e o crescimento do país, para
além de ensinarem e apresentarem as fraquezas da democracia que levam à
conclusão de que, talvez não haja alternativa à autocracia.

Ameaças externas
Já se compreendeu que o objetivo dos líderes autoritários são de minimizar as
ameaças que possam pôr em causa a sobrevivência do regime, no entanto estas
ameaças podem surgir tanto de dentro como de fora do país, sendo as ameaças de
fora entendidas pelo autor como ondas de manifestações e protestos contra os
autoritarismos, que se iniciaram noutros países e podem vir a alastrarem se.

Os autores definem estas ondas contra os regimes autocratas da seguinte forma, "the
transfer among countries of an innovative idea, product, policy, institution, or repertoire
of behavior” (Bunce & Weiss, 2020).

Estas, tornaram-se mais propicias com a abertura das fronteiras e a integração dos
países no sistema internacional (que tende a propagar a democratização). Isto porque,
o sucesso destas ondas noutros países pode levar a que os cidadãos se sintam mais
motivados para cria a mudança e seguirem os mesmos passos, uma vez que os
custos das revoltas parecem diminuir e os benefícios a aumentar. Assim, nestes
contextos é importante para os autocratas encontrar formas de isolar o regime.

Uma forma de conter estas ondas é recorrer à repressão como forma de desencorajar
estes comportamentos rebeldes. No entanto, como já foi mencionado a repressão
pode criar mais revolta e ressentimento contra o regime, tornando “obedient agents
into political rivals” (Bunce & Weiss, 2020).
Uma diferença na gestação destas ameaças são que ao contrário da China, a Rússia
tem uma desvantagem adicional que são as eleições nas quais há possibilidades de
as perderem, apesar de todo o controlo que possa apresentar sobre estas.

A propagação das ondas é mais capaz de acontecer se os cidadãos tiverem


motivados a reproduzir estes comportamentos, e essa motivação surge quando os
cidadãos tiverem acesso a noticias sobre estes fenómenos, quando os movimentos
tiverem bons resultados ou quando virem que se procedem em situações semelhantes
aos que eles vivenciam.
Portanto, o objetivo é evitar que isto aconteça, evitando que os cidadãos se consigam
organizar e mobilizar.
…protests are less likely to spread when regimes adopt diffusion-proofing
strategies that deprive citizens of these incentives and resources—for example,
by limiting information about the waves, portraying their effects in negative
ways, drawing sharp contrasts between their regime and those that have hosted
these waves, cracking down on external support of civil society, and using a
mixture of coercion and co-optation in order to demobilize opposition groups,
civil society organizations, and students. (Bunce & Weiss, 2020)

No livro “Citizens and the State in Authoritarian Regimes”, é exemplificado como onda
contra os regimes autocráticos a “color revolutions” (revolução das cores) e a
primavera árabe, sendo ambas contra a eliminação dos autoritarismos. A primeira era
mais direcionada para os regimes autoritários competitivos (como a Rússia) atuando
mais no contexto das urnas, enquanto a segunda tinha um foco para os regimes
autoritários não competitivos (como a China) atuando através de uma larga escala de
mobilização nas ruas.

Na revolução das cores que teve mais riscos para a Rússia (por ter eleições), as
medidas tomas pelos dois países foi essencialmente a da promoção negativa desta e
o rebaixamento destes acontecimentos tentando retratar a situação negativamente,
fazendo referência à organização, influência e controlo que os EUA tinham sobre estes
movimentos, enfatizando que o regime que eles têm (autoritário), tem como objetivo
proteger a soberania nacional de interferências externas.

Not surprisingly, the Russian media subsequently picked up these themes by


reporting, for example, that the color revolutions were not “real revolutions” but
rather power struggles orchestrated and financed by the West to weaken
Russia and promote Western hegemony in Eastern Europe and Eurasia.
(Bunce & Weiss, 2020).

Os chineses usaram os media para propagar estas ideias, tocando também em


questões como, a fraca situação económica e crises destes países que participaram
das revoluções, elevando assim a sua própria situação e servindo como argumento
para que os cidadãos chineses se sintam desmotivados a aderirem a estas ondas,
visto que não se encontram nas mesmas situações que esses países (encontram-se
melhor economicamente).

Like their Russian counterparts, moreover, the Chinese media have reported
that the so-called revolutionaries have not delivered on their election promises
—an argument that also serves the purpose of disparaging the value, more
generally, of Western-style electoral competition. Rather than portraying the
color revolutions as improving people’s lives, the Chinese media report them as
instead ushering in an era of inflation, rampant corruption, and a dramatic
decline in the quality of life. (Bunce & Weiss, 2020).

Para limitar a probabilidade dos seus cidadãos se envolverem neste tipo de


movimentos, ambos os países recorreram à desmobilização de “opposition groups,
civil society associations, and youth“ (Bunce & Weiss, 2020), sendo os atores que mais
criaram desafios ao regime.

Conclusão
A Rússia e a China apesar de ambas serem regimes autoritários apresentam
diferenças que tiveram origem no seu passado histórico. A principal diferença entre
estes é que a Rússia tem líderes eleitos enquanto a China tem líderes escolhidos, o
primeiro tem uma abertura política e económica o segundo só tem uma abertura
económica, e isto deve-se ao facto de que a Rússia passou por um período
democrático enquanto a China não, e por isso a Rússia é menos repressiva e
organizada do que a China que deseja ter o máximo de controlo sob a população e
prever os fenómenos que a possam pôr em causa.
Enquanto, o caminho para a experiência capitalista e a liberalização do regime no
período de Gorbachev previa-se que iriam levar a um bom caminho, e na China a
resistência de Deng às reformas políticas pareciam que o levariam a um mau
resultado, obteve-se o oposto. A União Soviética caiu e a China cresceu e virou um
modelo económico a seguir.
No caso chinês, é lhe benéfico apostar numa forte repressão porque tem boas
condições económica para o efeito, e além disso, conseguiu contornar o problema da
falta de boas informações ao criar formas de receber críticas e feedback dos cidadãos.
No caso russo, as eleições e a abertura política provenientes do legado democrático,
oferecem alguma legitimidade a Putin para governar (mesmo estas não sendo nem
transparentes e nem justas).
Os regimes autocráticos na atualidade têm um desafio acrescentado ao contrário dos
regimes autoritários do passado, e esse desafio é a globalização, o facto do mundo
estar mais conectado dificulta o isolamento e o controlo dos cidadãos e facilita a
propagação das ideias, assim, em contextos em que há vagas de ondas
revolucionárias contra os regimes autocráticos que se propagam para além das
fronteiras de um país, estas do ponto de vista dos autocratas, devem ser impedidas. A
Rússia e a China usam técnicas semelhantes para lidarem com estes acontecimentos,
ambas perpetuam uma imagem negativa destes fenómenos e usam muito a questão
do controlo dos EUA sobre estes movimentos, e da forma como estas manifestações
democráticas servem para manter a hegemonia dos EUA.

Referências
Brown, C. D. (2012). China’s Great Leap Forward. Education About Asia, 17(3) 29-34.
chinas-great-leap-forward-1 (1).pdf

Bunce, V. J. & Weiss, J. C. (2020). Citizens & The State In Authoritarian Regimes:
Comparing Russia & China. Oxford University Press.
Duarte, S. C. & Figueiredo, C. A. S. (2017). Um balanço político do fim da URSS:
crises e colapso. Tensões Mundiais, 13(25), 181-206.

Jung, H. S., & Chen, J. L. (2019). Causes, Consequences and Impact of the Great
Leap Forward in China. Asian Culture and History, 11(2), 58-65.
10.5539/ach.v11n2p58
Segrillo, A. (2014). De Gorbachev a Putin: A Saga da Rússia do Socialismo ao
Capitalismo (1ª Edição). Prismas

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