Em Nome Do Outro - Maia - Sklia
Em Nome Do Outro - Maia - Sklia
Em Nome Do Outro - Maia - Sklia
Resumo
Há tempos, Carlos Skliar vem se dedicando às questões da inclusão, da alteridade, da
mesmidade, do outro, principalmente sobre os aspectos socioantropológicos e
histórico-cultural. Neste artigo, pretende-se, em uma pesquisa bibliográfica, discutir as
ideias do autor, em uma abordagem qualitativa. Não pretendemos, aqui, esgotar o
assunto, pois acreditamos que este estudo seja um convite àqueles que, de alguma
forma, sintam-se afetados pela inclusão.
Palavras-chave: Carlos Skliar. Outro. Inclusão.
Abstract
For a long time, Carlos Skliar has been dedicating himself to the matters of inclusion,
otherness, sameness, specially about the socio-anthropological and historical-cultural
aspects. In this article, it is intended, in a bibliographic research, discuss the author's
ideas, in a qualitative approach. We do not intend here to deplet the subject, since we
believe this study to be an invitation to those who, somehow, feel affected by inclusion.
Keywords: Carlos Skliar. Other. Inclusion.
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Mestranda em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis; Diretora Escolar;
professora_simoneguerra@yahoo.com.br; 0000-0002-7858-1226
Entre 40 crianças, há aquele que ninguém vê, aquele lá atrás da sala, que se
joga no chão, que rola entre as carteiras da sala de aula, no recreio ninguém chega perto,
afinal, ele “baba” muito, “rouba” todos os biscoitos, fica pulando e batendo palmas do
nada, aquele que não entende ninguém e que parece não prestar atenção na
professora. Ei! Quem é você?
Por que não entendemos quem é esse menino ou menina que nos é diferente,
que nem nos olha, mas sabe que alguém está ao seu lado? Esse outro que enxergamos
diferente de nós mesmos, porque não conseguimos fazer com que ele se comporte
como os outros 39 (trinta e nove), que se sentam e leem suas lições sem questionar,
Há várias legislações que, praticamente, obrigam que esse outro entre nas
escolas regulares, porém nenhuma traz, claramente, como poderão se efetivar as
práticas pedagógicas de inclusão. Então, ficamos à espera daqueles que, no dia a dia,
estarão com eles buscando suas identidades, relacionando o outro com os outros, não
procurando tolerar, normalizar, robotizar, mas buscar uma aprendizagem por meio da
escuta, da sensibilidade, do relacionamento, do afetivo. Skliar tem razão, precisamos de
mudanças em educação, ou seja, é necessário haver um sistema de educação para a
inclusão.
O que a deficiência tem a nos dizer? Porque será que silenciamos o outro para
que possamos falar por eles? Quem, de fato, pode falar pelo outro? Ninguém! É
impressionante como ainda não aprendemos a lidar e considerar o outro através de sua
alteridade, por que ainda recorremos a uma inclusão excludente?
Se pudéssemos observar a sala de aula de vários lugares, perceberíamos a
dificuldade de qualquer professor ao receber um aluno com deficiência em sua sala, seja
qual deficiência for. O professor, desde o mais experiente ao mais novato, sentirá que
não está “preparado”, e não sabe o que fazer.
Não há, neste estudo, uma intenção de fazer uma “receita de bolo”, não há um
modo de preparo a seguir para práticas pedagógicas inclusivas, isto, devido à
diversidade e individualidade presentes no outro que chega. Portanto, faz-se necessário
que o professor desenvolva uma “escuta pedagógica”, que volte seu olhar a esse outro,
que desenvolva uma sensibilidade única, quase que imperceptível, neutra, sem (pre)
conceitos, límpida e persistente.
Assim, podemos nos valer dos pensamentos de Foucault (1999), quando afirma
que é necessário fazer reaparecer as vozes, as narrativas e os saberes desqualificados
daqueles que foram excluídos a fim de liberá-los.
Skliar (2003) ainda critica os espaços acadêmicos e, compactuamos com seus
pensamentos, quando nos faz refletir que na formação do professor há mais
convencimento do que conversação. O autor encoraja os professores para o trabalho a
partir da conversa/diálogo, por que incluir depende muito do que planejamos a partir
das escutas.
Skliar (2003) pensa em ensinar como oferecer; assim, nesse sentido,
ofereceríamos signos – como necessidade de tempo maior nas execuções das tarefas,
temos de ter em mente que não há como controlar o tempo e nem tampouco o jeito do
outro. Lembremo-nos do aluno do início, sua necessidade de rolar pela sala pode ser
sua autorregulação, no caso de um aluno autista, e isso talvez seja necessário para o seu
aprendizado; então, porque não ofertar a ele esse tempo? Esse gesto ético de conversar
e conhecer esse aluno pode proporcionar-lhe um efetivo aprendizado e uma inclusão
de fato. Dessa forma:
Não sei se a ideia dos gestos mínimos está precisando de uma teoria.
Ainda não sei, por isso não posso falar nunca muito mais do que já falo
sobre os gestos mínimos... Penso, todo o tempo, na vida mesmo,
penso que o único lugar onde pensar esses gestos mínimos é na vida,
na experiência da vida. Fico pensando: será necessária uma teoria
sobre os gestos mínimos? Ou essa apelação de pensar na vida já é
suficiente? Sempre pensei que poderíamos retratar muitos gestos
mínimos e ...conversar sobre eles! (SKLIAR, 2012, p. 325).
Por conseguinte, esse olhar é o que exclui mais do que aquele que nem entra na
escola, pois colocamos esse outro no espaço escolar e, ignorando sua presença ou
tentando uma homogeneidade da turma, focamos em uma inclusão que exclui.
Skliar (1999) acredita em uma educação que seja criativa, que permita criar, que
oriente para sair da mesmidade e que não construa essa mesmidade no outro. Pensando
assim, a escola deveria sim ser o espaço das diferenças, pelas diferenças de pensarmos,
agirmos e falarmos. Vale lembrar que as trocas no ambiente escolar são ricas em
experiências do próprio ser, caracterizando suas subjetividades. Desse modo, não só os
alunos, como também os professores aprenderão por meio das diferenças e trocas.
Nesse sentido, enfatizamos que a Lei de Diretrizes de Bases da Educação
Nacional (LDBEN), em seu artigo 2º, dispõe sobre a obrigatoriedade da matrícula a
TODOS os alunos; portanto, a escola deve se organizar para atender a TODOS
independente de sua diferença, necessidade ou deficiência (BRASIL, 1996).
Desse modo, os desafios são enormes na medida em que a escola necessita
assegurar e garantir a matrícula e a permanência de todos, mesmo que seja da forma
como Skliar (2003) pensa “politicamente correto”, com práticas homogêneas que não
contemplam a individualidade. Assim, torna-se necessário rever legislações que tratem
Skliar (2015) aponta três tipos de portas para a inclusão: “de portas abertas”, “de
portas giratórias” e “de portas com detectores de metais”. As “portas abertas” referem-
se às instituições que já abriam suas portas a todos, aquela que deixa o sujeito entrar
simplesmente. As “portas giratórias” fazem alusão a uma escola que permite a entrada
do aluno, mas, ao mesmo tempo, não trabalha com esse aluno; por conseguinte, ao
mesmo tempo em que inclui, exclui. E as “portas detectores de metais” seriam as
escolas que, para permitirem a entrada do aluno, antes, necessitam de “diagnósticos”,
ou seja, solicitam laudos para que esse aluno adentre as portas da escola.
Considerações finais
Referências
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de dezembro de
1996. Acessado em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
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