Eurico
Eurico
Eurico
RESUMO: Apesar de possuir uma sintonia diferenciada com os tempos modernos, se comparada aos
estados da Região Sudeste, a literatura baiana também vai privilegiar a cidade, símbolo da
modernidade e do imaginário do poeta moderno. Godofredo Filho, considerado por muitos críticos
como precursor do modernismo na Bahia, explora aspectos da vida urbana em sua lírica. O poeta
dedicou obras e poesias a algumas cidades como Salvador - BA, Feira de Santana - BA e Ouro Preto
MG. Não obstante à vasta produção do autor, neste trabalho, faremos apenas o estudo do “Poema da
Feria de Santana”, escrito em Salvador, no mês de março de 1926 e publicado em 1977. Neste poema,
o eu lírico esboça o mapa da cidade de Feira de Santana, no passado, misturando poesia e narrativa
memorialistas, que alternam entre as imagens de valorização e transformação da cidade, suas
desilusões, degradações, saudosismo e memórias poéticas sobre a infância, a família e a vida. As
imagens criadas alegorizam-se para falar de si, delineando a relação entre o poeta e a cidade. Nosso
objetivo, portanto, será pensar sobre a temática da cidade, como um dos elementos da modernidade,
presente no referido poema.
ABSTRACT: Still has a congruence with modern times, if compared with states of Southeast Region
the Bahia’s literature also will privilege the city, symbol of modernity and of modern poet’s
imaginary. Godofredo Filho, considered for many critics as pioneer of modernism in Bahia, explores
aspects of urban life in its lyric. The poet dedicated works and poems to some cities like Salvador-BA,
Feira de Santana-BA and Ouro Preto-MG. Do not nevertheless to wide author’s production, in this
work, we will make only the review of “Poema da Feira de Santana”, written in Salvador, in March of
1926 and published in 1977. In this poem, the lyrical I outlines the Feria de Santana’s mape, in the
past, mixing poem and memoirists narratives, that alternate amongst the images of valuation and city
transformation, his disappointments, degradations, homesickness and poetic memories about his
childhood, family and life. The images created allegorize for tell about himself, outlining the
relationship between poet and the city. Our objective, wherefore, will be think about city’s thematic,
as elements of modernity, in that poem.
www.uems.br/lem
Edição 02 – Novembro de 2012
Texto recebido até Outubro de 2012
Aceito para publicação em Novembro de
2012
Esta entrega, no entanto, está longe de ser ingênua e não pode ser vista como uma
abdicação do olhar sobre a engrenagem do mundo. [...] Eles percebem que, nesse
processo, a cidade é tomada por forças supra-humanas, geradas e engrenadas pelo
próprio homem, e transforma-se automaticamente em função de si mesma, mais que
em função do seu criador e suas verdadeiras necessidades (Fonseca, 2002, p, 48).
www.uems.br/lem
Edição 02 – Novembro de 2012
Texto recebido até Outubro de 2012
Aceito para publicação em Novembro de
2012
Dessa forma, a poesia moderna nasce na cidade, a fim de construir o sentido de sua
existência em meio às transformações que se instalam nos cenários urbanos, tomando como
ponto de partida as imagens representativas dos valores negativos e afirmativos da vida
hodierna. De um lado, temos a crítica pessimista aos valores dessa nova conjuntura; do outro,
a apresentação de uma perspectiva otimista, representada pelo culto às máquinas, à velocidade
e ao progresso:
www.uems.br/lem
Edição 02 – Novembro de 2012
Texto recebido até Outubro de 2012
Aceito para publicação em Novembro de
2012
www.uems.br/lem
Edição 02 – Novembro de 2012
Texto recebido até Outubro de 2012
Aceito para publicação em Novembro de
2012
variados temas e formas de representação ligadas a ela. A produção poética dos dois grandes
nomes da poesia moderna baiana - Eurico Alves e Godofredo Filho - exploram aspectos da
vida urbana que ora se assemelham, ora se distinguem. Nas composições do primeiro, por
exemplo, a matéria de seus versos remete à representação da realidade e das contradições do
universo urbano, e ainda à simplicidade da cidade interiorana, ambas representadas por
elementos diversos. Já a poesia de Godofredo filho, sobre a vida urbana, alterna entre as
imagens de valorização e transformação da cidade, suas desilusões, degradações, saudosismo
e memórias poéticas sobre a infância, a família e a vida.
Apesar da vasta produção do poeta Godofredo Filho, neste trabalho, faremos apenas o
estudo do “Poema da Feria de Santana”, escrito em Salvador, no mês de março de 1926 e
publicado em 1977. Nosso objetivo, portanto, será pensar sobre a temática da cidade como um
dos elementos da modernidade presente no poema.
O poeta feirense Godofredo Filho, nascido em 26 de abril de 1904, é considerado por
muitos críticos como precursor do modernismo na Bahia. Ficou conhecido como homem do
patrimônio devido a sua ocupação no cargo de 2º chefe do Instituto do patrimônio Histórico
Nacional – IPHAN. Assumia um posicionamento contra a destruição do passado colonial,
deixado pelos colonizadores, em nome dos ideais da modernidade. Para ele, era possível
modernizar e, ao mesmo tempo, preservar as riquezas históricas da cidade.
Sobre o poeta, Jerusa Pires diz que há nele
www.uems.br/lem
Edição 02 – Novembro de 2012
Texto recebido até Outubro de 2012
Aceito para publicação em Novembro de
2012
vertente dessa dicotomia se refere à cidade das negras do Acarajé, do carnaval e da cultura
afro; já a outra, diz respeito ao universo dos cortiços, das invasões e das favelas.
Além de cantar a “Cidade da Bahia”, Godofredo Filho também dedicou sua poética a
outras cidades, como Ouro Preto, Minas Gerais; e Feira de Santana, Bahia, sua cidade natal,
nos respectivos poemas “Ouro Preto” (1928) e “Poema da Feria de Santana” (1926).
O caráter inovador da poesia de Godofredo Filho está expresso também na liberdade
formal utilizada na composição de sua lírica. Notamos, no poema em estudo, vários elementos
formais que se encontram em consonância com os ideais estéticos vanguardistas, saudados
pelos modernistas brasileiros, como o caráter prosaico de sua poética, e também alguns pontos
de aproximação com subsídios do Cubismo e Futurismo, sejam através da ausência de
pontuação nas suas composições ou da superposição de informações fragmentadas, por meio
dos versos telegráficos, e da utilização dos versos brancos e livres. Todos estes aspectos
conferem dinamismo e velocidade aos seus versos.
Em “Poema da Feira de Santana”, Godofredo Filho esboça o mapa de Feira de
Santana, no passado, misturando a poesia e a narrativa memorialista. As imagens criadas se
alegorizam para falar de si, delineando a relação entre o poeta e o espaço urbano.
Inicialmente, temos um rápido esboço da principal atividade comercial da cidade: a feira de
gado, surgida desde o século XIX, quando o próspero comércio de gado começa a se
consolidar no local:
Em seguida, continuando seu percurso lírico pela cidade, traz alguns vultos históricos,
a partir da lembrança do passado aristocrático da sua família e da participação de seus
antepassados na lógica na atividade comercial descrita anteriormente:
www.uems.br/lem
Edição 02 – Novembro de 2012
Texto recebido até Outubro de 2012
Aceito para publicação em Novembro de
2012
www.uems.br/lem
Edição 02 – Novembro de 2012
Texto recebido até Outubro de 2012
Aceito para publicação em Novembro de
2012
Feira de Sant’ana
a de hoje tão diferente
também é boa
riscadinha de eletricidade
torcida esticada retesada de fios aéreos longos
Fords estabanados raquíticos
levando no bojo viajantes de xarque
Apesar da cidade não possuir os mesmos contornos e as mesmas imagens que estão
em sua memória, já que a presença dos símbolos da modernidade, como a eletricidade e a
chegada dos automóveis mudarem a paisagem local, a urbanização não incomoda a
sensibilidade do eu - lírico e este não apresenta o moderno com olhos de desencanto. A forte
sensibilidade do poeta foi descrita por Teixeira Gomes, que assevera:
Godofredo Filho é uma alta e poderosa voz tão à vontade na celebração de temas apreendidos
no quotidiano quanto na elaboração de uma poesia formalmente nobre – mas daquela nobreza
que é o reflexo harmonioso da forma posta a serviço de uma sensibilidade rara. (GOMES,
1979, p. 178)
www.uems.br/lem
Edição 02 – Novembro de 2012
Texto recebido até Outubro de 2012
Aceito para publicação em Novembro de
2012
www.uems.br/lem
Edição 02 – Novembro de 2012
Texto recebido até Outubro de 2012
Aceito para publicação em Novembro de
2012
Em alguns momentos, a cidade perde força para memória, pois ela só existe, da
maneira como é descrita, na imaginação poética do eu lírico. Além da cidade, ele evoca,
sobretudo, toda uma atmosfera e sociologia que precisa ser preservada. Quando o eu lírico se
refere ao tempo em que viveu em Feria de Santana como um “tempo morto”, percebemos que
apesar de não haver lugar para o passado na nova geografia da cidade, este não precisa ser
destruído por conta disso. Dessa forma, Godofredo Filho discute a ideia de que para que uma
cidade se modernize não é necessário que se destrua a memória do lugar, ou seja, as
recordações aludidas no poema resguardam um conjunto de experiências que são fruto do
desgaste natural ocorrido com a passagem do tempo.
Em estudo sobre a presença da narrativa histórica no “Poema da Feira de Santana”,
Oliveira ressalta a importância da memória como elemento identitário para a construção do
poema, bem como a presença de outras matérias presentes no tecido da composição:
www.uems.br/lem
Edição 02 – Novembro de 2012
Texto recebido até Outubro de 2012
Aceito para publicação em Novembro de
2012
www.uems.br/lem
Edição 02 – Novembro de 2012
Texto recebido até Outubro de 2012
Aceito para publicação em Novembro de
2012
CONSIDERAÇÕES FINAIS
www.uems.br/lem
Edição 02 – Novembro de 2012
Texto recebido até Outubro de 2012
Aceito para publicação em Novembro de
2012
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da
cultura. São Paulo: Brasiliense, 1993.
FONSECA, Aleilton. Mario Andrade: Trovador/domador da cidade. In: Légua & meia. Feira
de Santana, nº 1, 2001-2.
______. O poeta na metrópole: “expulsão” e deslocamento. In: Rota & Imagens: Literatura e
outras Viagens. Feira de Santana: UEFS, 2000.
GODOFREDO FILHO. Irmã poesia. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Salvador: Secretaria
de Estado da Educação e Cultura da Bahia, 1986.
GOMES, João Carlos Teixeira. Camões contestador e outros ensaios. Salvador: fundação
Cultural da Bahia, 1979.
GOMES, Renato Cordeiro. Todas as cidades, a cidade: literatura e experiência urbana. Rio de
janeiro: Rocco, 1994.
LEITE, Sebatião Uchoa. A poesia e cidade. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional: Cidade. Rio de Janeiro. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional da
Cultura, n. 23, 1994.
OLIVEIRA, Clóvis Frederico Ramaiana Moraes. Meus brinquedos todos: Godofredo Filho e
a narrativa histórica no Poema da Feira de Santana (1926). Disponível em
<http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300969387_ARQUIVO_I.pdf> Acesso
em 22 jan 2012.
OLIVEIRA, Lélia Vitor Fernandes de. Nove anos sem Godofredo Filho. Disponível em:
<http://www.infocultural.com.br/edicoesanteriores/agosto01/poesias/poesia1.htm> Acesso em
02 de jan de 2012.
www.uems.br/lem
Edição 02 – Novembro de 2012
Texto recebido até Outubro de 2012
Aceito para publicação em Novembro de
2012
SEVCENKO, Nicolau. Metrópole: matriz da lírica moderna. In: PECHMAN, Robert Moses
(Org). Olhares sobre a cidade. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1994.
www.uems.br/lem