Legislação e Ética

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Lição 1 - Noções Gerais de Direito

O Direito surgiu da necessidade de estabelecer regras nas relações exis­


tentes na sociedade para que surgissem mecanismos para melhorar o
convívio pacífico entre todos, com a criação de procedimentos a serem
adotados para o bem da coletividade.

Ao término desta lição, você deverá ser capaz de:


a) avaliar as condições possíveis de serem viabilizadas dentro do
ordenamento jurídico brasileiro;
b) identificar os elementos norteadores do Direito, suas fontes e princípios;
c) Avaliar as condições possíveis de serem viabilizadas dentro do
ordenamento jurídico brasileiro.

1. O que é o Direito?
O Direito é o conjunto de normas, regras, princípios, costumes, doutrinas,
jurisprudências, adotado por uma sociedade para estabelecer a organização,
prevenindo e resolvendo eventuais conflitos. O objetivo do Direito é garantir
o equilíbrio, a harmonia e a paz social.

O Direito é dividido em: Direito Objetivo e Direito Subjetivo.


• Direito Objetivo: é o sistema legal, é o conjunto de leis e normas, que
asseguram a ordem social e o bem comum.
• Direito Subjetivo: é a possibilidade de cada um, assegurada por lei, de
tornar exigíveis e obrigatórios os seus direitos assegurados por lei perante
terceiros. Exemplo: Direito de Ação.

2. Teoria Tradicional das Fontes do Direito


É uma das mais antigas e todos os autores fazem referência a essa teoria. É o
ponto comum, citado por todos, seja concordando ou discordando. Vejamos
quais são as fontes primárias ou diretas de Direito:
• Leis: norma imposta pelo governo, obrigatória em sua observância e cuja
sua desobediência gera uma pena.
• Costumes: o homem vivendo por meio dos costumes criará para ele um
Direito que será o consuetudinário.

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Há outras fontes denominadas indiretas:
• Doutrina: são os autores de livros, estudiosos e juristas do Direito que
mostram os diversos fatos jurídicos e constroem seu pensamento para
torná-lo o mais científico possível. Assim, eles apresentam novas vertentes
para o Direito.
• Jurisprudência: são as decisões proferidas pelos tribunais quando não há
lei e por ter surgido na sociedade um fato novo, para o qual ainda não há
uma norma específica.

2.1 Fontes Diretas

As fontes diretas são formadas pelo costume e pelas leis.

O costume é a prática uniforme e a constante repetição de determinado com­


portamento considerado correto e aceito como regra de Direito. São práticas
habituais que o juiz pode aplicar na falta da lei. Exemplo: cheque predatado.

A lei é a norma geral – para todas as pessoas – e abstrata – para todas as


situações semelhantes e futuras – imposta pelo Estado para todos os cidadãos
de um país. Desconhecer a lei não é razão que justifique o seu descumprimento.

Ponto-chave
A lei é:
a) Geral – vale para todas as pessoas.
b) Abstrata – vale para todas as situações semelhantes e futuras.

2.2 Fontes Indiretas

As fontes indiretas são formadas pela doutrina e pela jurisprudência.

A doutrina é a interpretação que os estudiosos do Direito fazem das leis,


em seus livros, pareceres e artigos científicos. Não tem força vinculante na
aplicação da lei, mas influenciam os juízes e os tribunais nas tomadas de
decisão.

A jurisprudência é o conjunto de decisões de segunda instância, em que se


aplicam as leis aos casos concretos. Exemplo: você moveu uma Reclamação
Trabalhista contra seu antigo empregador por meio de advogado e não
satisfeito com a decisão – sentença – do juiz – primeira instância –, recorreu
– Recurso Ordinário – fazendo subir sua causa para a segunda instância. A
decisão que o Tribunal – corpo de três juízes – proferir sobre sua ação receberá
o nome de Acórdão e passará a fazer parte da Jurisprudência Trabalhista.

As fontes do Direito devem estar antes da divisão do Direito em Público e


Privado, pois facilita a compreensão do aluno ao estudar.

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3. Divisões do Direito
O Direito Público rege as relações que envolvem o Estado e os interesses
gerais da coletividade. Ele trata da organização, da administração e do
funcionamento do Estado e de seus poderes, da arrecadação e da distribuição
da receita, da implementação e da prestação dos serviços públicos.
Regulamenta as relações entre o Estado e os particulares.

4. Ramos do Direito
Como o Direito é um conjunto de normas para estabelecer o equilíbrio na
sociedade, muitos são os interesses dela para observar os mais diversos
assuntos. O Direito é dividido em: Direito Público e Direito Privado.

4.1 Direito Público

É o ramo do Direito que rege as relações que envolvem as normas que tem
por interesse do Estado, como a função e a organização, a ordem e segurança,
a paz social.

Essas normas regulam as relações entre o Estado e os particulares, visando à


concretização do interesse público, conforme as previsões da lei. O interesse
público se concretiza por meio da atuação da Administração Pública, com
a organização e a prestação dos serviços públicos e utilização de recursos
financeiros públicos.

O Direito Público se divide em:


• O Direito Público Interno: rege os interesses estatais e sociais. São as suas
ramificações: Direito Constitucional, Direito Penal, Direito Processual,
Direito Tributário, Direito Administrativo, Direito do Consumidor, Direito
do Trabalho, Direito Eleitoral, Direito Ambiental, Direito Financeiro.
• Direito Público Externo: trata das relações internacionais entre Estados
soberanos. São as suas ramificações: Direito Internacional Público – rege
as relações jurídicas dos países entre si – e Direito Internacional Privado
– rege as relações e os negócios jurídicos internacionais ocorridos no
exterior.

4.2 Direito Privado

Este tipo de Direito disciplina as relações entre particulares relativas à vida


privada e as relações patrimoniais ou extrapatrimoniais. As normas de Direito
Privado encontram-se no Direito Civil e no Direito Empresarial/Comercial.

O Direito Público Interno se subdivide em:


• Direito Constitucional: regido pela Constituição da República Federativa
do Brasil, a qual contém normas que asseguram direitos e garantias

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individuais – art. 5º, por exemplo: direito de propriedade, liberdade de
expressão, direito a acesso à Justiça – e direitos sociais – art. 6º a 11, por
exemplo: direitos trabalhistas, direito à saúde, direito à educação – dentre
outros, e dispõe sobre a organização e o funcionamento do Estado e dos
poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Contém normas de Direito
Tributário, Financeiro, Administrativo, Trabalhista, Ambiental e do
Consumidor.
• Direito Penal: define os crimes, as contravenções e as penas a serem
aplicadas aqueles que praticarem atos proibidos pelas leis penais. Baseia-
se em várias leis, como: o Código Penal, a Lei das Contravenções Penais, a
Lei dos Tóxicos e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
• Direito Processual: disciplina a organização e o funcionamento do Poder
Judiciário, disciplina a atuação de juízes, promotores, defensores públicos e
advogados nos processos, a resolução dos conflitos de interesses. Divide-se
em Processo Civil e Processo Penal e é regido pelos Códigos de Processo
Civil e Penal, respectivamente.
• Direito Tributário: estabelece os limites e as possibilidades da atividade
estatal de criar, estabelecer e cobrar tributos. É voltada para criação,
imposição e fiscalização de tributos – impostos, taxas e contribuições
–, que os particulares devem ao Estado. É o ramo do Direito que regula
a arrecadação de receita para o Estado. É regido pelo Código Tributário
Nacional e pela Constituição Federal de 1988, dentre outras leis específicas.
• Direito Administrativo: é o conjunto de regras que disciplina a atividade
dos órgãos e agentes que integram a Administração Pública, a relação
entre servidores públicos e o Estado, os procedimentos legais para a
prestação dos serviços públicos. Estabelece os requisitos para o exercício
do poder de polícia. As regras de Direito Administrativo estão previstas na
Constituição e em diversas leis brasileiras.
• Direito do Consumidor: disciplina as relações de consumo, estabelecendo
os direitos do consumidor e os deveres dos fornecedores, fabricantes e
prestadores de serviços. Foi introduzido no Brasil pelo Código de Defesa
do Consumidor.
• Direito do Trabalho: regula as relações de emprego e demais atividades
de trabalho e produção para proteção do trabalhador. Cuida das relações
de emprego e das relações sindicais. É previsto na CLT – Consolidação das
Leis do Trabalho.
• Direito Eleitoral: regulamenta a criação, a formação, o funcionamento,
a fiscalização e as competências dos partidos políticos. Regulamenta
as eleições, as propagandas eleitorais e as sanções por infração às leis
eleitorais.
• Direito Ambiental: é o conjunto das normas que regulamentam o uso
dos recursos naturais e a proteção do meio ambiente, natural e cultural.

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Exemplos: Lei nº 9.605/1998 que dispõe sobre os crimes ambientais e o
Código Florestal – Lei nº 12.651/2012.
• Direito Financeiro: trata das regras para o uso e a aplicação das receitas
arrecadadas pelo Estado na execução do bem comum. Exemplo: Lei das
Diretrizes Orçamentárias.

O Direito Público Externo organiza as relações internacionais entre Estados


e entre Estados e Organizações Internacionais por meio de Acordos,
Convenções, Tratados Internacionais e Decisões de Organizações Inter­na­
cionais. Divide-se em:
• Direito Internacional Público: rege as relações jurídicas dos países entre
si e as relações entre os países e as organizações internacionais. Exemplo:
instalação de Embaixadas e Consulados estrangeiros em território
brasileiro ou vice-versa, Acordos Comerciais entre Brasil e outros países.
• Direito Internacional Privado: disciplina as relações jurídicas
internacionais ocorridas no exterior e em que uma das partes é cidadão
brasileiro ou ocorridas no Brasil, em que uma das partes é um cidadão
estrangeiro, dentre outros casos. Por exemplo: um brasileiro que faleceu
deixando bem imóvel situado no exterior para seus herdeiros aqui no
Brasil. Uma empresa estrangeira que queira abrir filial ou representação
no Brasil.

O Direito Privado disciplina as relações privadas entre particulares desde o


nascimento até depois da morte. Estabelece dois tipos de direitos: os direitos
patrimoniais – propriedade, responsabilidade civil, contratos, obrigações,
direito das empresas, herança – e os direitos existenciais – família, estado
civil, direito ao nome, direito à imagem, entre outros. É formado pelo Código
Civil, Código Comercial, entre outras leis.

5. Conceitos Gerais
5.1 Fato Jurídico

É todo ato voluntário e consciente que cria, modifica, extingue, resguarda


ou transfere direitos. Pode ser lícito ou ilícito, voluntário ou natural. Os fatos
jurídicos voluntários dividem-se em: Atos Materiais e Negócios Jurídicos. O
Novo Código Civil, no artigo 185, define Ato Jurídico Lícito e, no artigo 186, traz
o conceito de Ato Ilícito.

5.2 Bem e Coisa

Coisa é sempre um bem material, físico. Os bens nem sempre são uma coisa,
pois podem ser imateriais e impalpáveis. Existem bens imateriais que por
sua própria natureza não possuem um valor econômico definido, não são

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comercializáveis, mas são passíveis de indenização pecuniária1 face à sua
preciosidade e valoração subjetiva de seu titular. Exemplos: a vida, a honra e
a liberdade.

5.3 Bem de Família

Está previsto nos artigos 1.711 a 1.722 do Código Civil. Os cônjuges ou entidade
familiar podem destinar um terço de seu patrimônio líquido, com escritu-
ra pública ou testamento, para constituição do bem de família, mantendo-se
a impenhorabilidade do imóvel residencial, com a Lei nº 8.009/90. Todos os
pertences e os acessórios existentes na residência são considerados bens de
família e, portanto, impenhoráveis. O bem de família, para ter validade contra
terceiros, deve obrigatoriamente ter seu título de constituição registrado no
registro de imóveis.

Os tribunais aplicam a proteção do bem de família também aos domicílios


dos solteiros, dos separados e dos viúvos, pois a moradia é um direito
fundamental previsto na nossa Constituição.

O bem de família só pode ser objeto de execução por suas respectivas dívidas
tributárias e de condomínio, e perdurará enquanto viver um dos cônjuges ou
na falta deles até que todos os filhos completem a maioridade.

Atenção!
A jurisprudência recente dos Tribunais afastou a proteção do bem de família do fiador de
contrato de aluguel, ou seja, o bem de família do fiador responde pelas dívidas do contrato
de aluguel.

5.4 Prescrição e Decadência

Prescrição é um modo de acabarem os direitos pela perda da ação em razão


da inércia do titular do direito que não o exerceu no prazo legal, isto é, que
não propôs a ação para fazer valer seus direitos, no prazo de lei. Decadência é
a perda do direito pelo decurso do tempo.

5.5 Procuração

É o instrumento público ou privado de representação judicial, isto é, peran-


te os tribunais, ou extrajudicial, para casos que podem ser resolvidos fora da
Justiça. A procuração é particular quando é feita entre particulares, sem a
presença do tabelião, ou seja, fora de cartório; mas com reconhecimento de

1. Pecuniária
1 relativo a dinheiro
Ex.: transação p.
2 que consiste ou é representado em dinheiro
Ex.: reservas p.
fonte: dicionário Houaiss digital

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firma da assinatura do outorgante. A Procuração Pública é feita pelo cartório
de títulos e documentos.

A procuração é um documento em que alguém, chamado de outorgante,


transfere poderes a outra pessoa, chamado de outorgado, para que ela, em
seu nome, pratique atos ou administre interesses.

Quando a procuração atribui apenas poderes de representação extrajudicial


ao outorgado, significa que ele tem poderes limitados e não poderá utilizá-
la para representar o outorgante em processos judiciais. Pode ocorrer da
procuração deferir poderes de representação judicial e extrajudicial, ou
apenas poderes representativos judiciais ou extrajudiciais.

Toda vez que a procuração atribuir poderes que envolvam representação


judicial, será denominada de procuração ad judicia e a assinatura do
outorgante deverá ser reconhecida em cartório.

Para ter validade, a procuração de pessoa física deverá estar acompanhada


de cópia autenticada do CPF/MF e/ou da cédula de identidade do outorgante.
Já a procuração conferida por pessoa jurídica deverá ser validada com cópia
completa e autenticada, do contrato social da empresa outorgante.

5.6 Obrigações

As obrigações nascem das relações mercantis, gerando direitos e deveres


entre as partes, que recebem a denominação de credor, que é o titular do
direito, e devedor, que é o titular do dever.

As obrigações classificam-se, pelo Novo Código Civil, quanto às partes e ao


objeto, em:
• Simples: quando existe um só credor, um só devedor e um só objeto.
• Complexas: quando há mais de um credor ou vários devedores ou mais de
um objeto.
• Cumulativas: quando o devedor tem que cumprir mais de uma prestação e
só se isenta da obrigação cumprindo todas.
• Alternativas: quando existe mais de uma prestação e o devedor se exonera
da obrigação cumprindo apenas uma delas.
• Solidárias: quando há multiplicidade de credores ou de devedores,
sendo que cada credor pode cobrar do(s) devedor(es) a obrigação em sua
totalidade, devendo posteriormente se entender com os demais credores.
Quando houver solidariedade de devedores, a prestação pode ser exigida
em sua totalidade de qualquer um deles, ficando o que saldar a obrigação
com direito regressivo contra os demais codevedores.

Quanto ao fim, as obrigações se dividem em:


• De Resultado: o devedor só se exime quando atingir o resultado para

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o qual foi contratado. Exemplo: um pedreiro que foi contratado para
construir um muro. A obrigação só será extinta quando terminar
totalmente o muro.
• De Meio: o devedor deve empenhar-se para realizar a prestação,
considerando-se satisfeita a obrigação mesmo que o resultado não seja
positivo. Exemplo: o advogado tem uma obrigação de meio, que consiste
na defesa dos interesses de seu cliente. Sua obrigação é considerada
satisfeita mesmo que ele não ganhe a Ação Judicial, desde que efetue seus
serviços – propositura e andamento da ação, se pelo autor, ou defesa, se
pelo réu, atuação em audiências etc.

6. Exercendo seus Direitos


O acesso à Justiça para fazer valer os seus direitos é assegurado consti­
tucionalmente. O Código de Processo Civil exige que sejam cumpridos
determinados requisitos para que a lide2 se estabeleça e prospere a demanda
até a decisão final. Esses requisitos são:
• Legitimidade de partes: as partes têm que ter relação com a lide.
• Interesse de agir: a parte requerente deve ter tido um direito violado ou
ameaçado efetivamente.
• Possibilidade jurídica do pedido: a proteção a este direito deve estar
assegurada pela lei. Exemplo: não se pode pleitear em juízo uma dívida de
jogo que não é legalizado.

Além das condições da ação, para que possa ingressar em juízo, a parte tem
que ter capacidade civil e estar devidamente representada por profissional
habilitado e inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.

Quanto à capacidade civil – capacidade de ser sujeito de direitos e deveres e


exercê-los por si só, como parte em uma relação jurídica –, temos:
• Capacidade civil plena: a partir dos 18 anos.
• Capacidade civil relativa: devem ser assistidos por pais, tutores ou
curadores.
• entre 16 e 18 anos;
• ébrios habituais e viciados em tóxicos;
• os pródigos;
• os que têm a capacidade de discernimento reduzida face à deficiência
mental;
2. Lide
1 trabalho penoso; faina, labuta
2 luta, peleja, combate
3 Rubrica: termo jurídico.
pleito judicial pelo qual uma das partes faz um pedido e a outra resiste; pendência, litígio
Fonte: dicionário Houaiss digital

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• deficientes mentais com deficiência mental incompleta.
• Incapacidade civil absoluta: devem ser representados por pais, tutores ou
curadores.
• menores de 16 anos;
• os que por deficiência mental não têm o mínimo discernimento para os
atos da vida civil;
• os que por enfermidade não puderem exprimir a sua vontade.
7. Arbitragem
Atualmente, como via alternativa, vem sendo utilizada de modo crescente
e com sucesso na solução dos conflitos a justiça privada pelo instituto
da arbitragem. As partes capazes podem resolver questões de direitos
patrimoniais disponíveis, pela aplicação da Lei nº 9.307/96, mediante a
cláusula compromissória ou compromisso arbitral – cláusula contratual
que prevê a possibilidade de se resolver pendências ou problemas durante
o cumprimento do contrato perante um árbitro privado, uma espécie de juiz
escolhido e contratado pelas partes, e não mediante ação judicial. Essa forma
de resolução de conflitos é, normalmente, mais rápida que um processo na
Justiça, mas é realizada por grandes empresas devido ao seu alto custo. Esse
instituto está também referendado e aprovado pelo Código Civil – artigos 851
a 853.

A arbitragem é uma forma pura de diminuir controvérsias e resolver


interesses de duas partes, que de livre e espontânea vontade, pactuam a
forma, o local e a competência do Tribunal ou árbitro(s), mantendo o sigilo de
seus conflitos e resguardando-se de qualquer consequência danosa, que uma
eventual publicidade do fato poderia acarretar.

A arbitragem proporciona às partes envolvidas o exercício do livre arbítrio


e do direito de escolha, conduzindo-as a uma reflexão, na medida em que
são elas que estabelecem, de certa forma, as regras gerais que permearão e
ordenarão o procedimento.

Essa liberdade é amparada pela Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, que


em seu artigo 2º, determina que:

Nota Jurídica
“A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes:
§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na
arbitragem desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.
§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos
princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais do comércio.”

Essa liberdade das partes não é total, pois, em defesa da ordem pública, da
moral e dos bons costumes, o legislador estabeleceu limites no primeiro
parágrafo do artigo.

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A ordem pública é mais ampla que o conjunto de leis e normas que visam a
assegurá-la, engloba a moral, o bom senso dos cidadãos e o desejo expresso
desses respeitarem uns aos outros e ao Estado, buscando um equilíbrio e a
paz social.

A arbitragem é a representação e a expressão da vontade das partes, na


medida em que elas escolhem renunciar à apreciação de sua causa pelo
Poder Estatal e elegem um árbitro ou um Tribunal de Justiça Privada, de sua
confiança, para trazer de volta a paz entre elas, restituindo patrimonialmente
a parte efetivamente lesada.

No procedimento arbitral, o demandante e o demandado são aproximados


pelo árbitro, que os coloca frente a frente para declararem suas razões um ao
outro e chegarem a um meio termo, conciliando-se espontaneamente.

Por acordo e transação, as partes convencionam o valor e os termos da


indenização e a forma de pagamento dela, podendo o árbitro estipular uma
multa para o eventual inadimplemento da devedora.

Toda a transação é reduzida a termo pelo árbitro na sentença arbitral, que


deverá analisar cada ponto de divergência enumerado no compromisso ar-
bitral, sob pena de nulidade, declarando ao final se a questão foi resolvida
por equidade, ou por acordo e transação das partes ou com base no direito
vigente, caso em que fundamentará com o dispositivo legal pertinente. Se as
partes na primeira audiência não chegaram a uma conciliação, o juiz arbitral,
após a produção de provas – se houverem, decidirá a questão.

O juízo arbitral ao avaliar o caso concreto e durante todo o procedimento e a


produção de provas pelas partes, quando necessário, deverá dar entendimento
de ambas as faces da legislação pertinente e com base no conjunto probatório
e na situação de fato e de direito apresentada, decidir o objeto da lide em sua
totalidade.

Poderá o árbitro, ao sentenciar de acordo com o Direito, utilizar-se de outra


norma não citada pelas partes, mas que se aplique melhor ao caso e traga
uma decisão mais justa.

A arbitragem pretende ser bem mais ampla que a Justiça estatal, ter mais
flexibilidade de interpretação da lide e satisfazer ambas as partes, com
celeridade3 e de forma definitiva.

Os limites do poder de atuação do juízo arbitral devem ser preestabelecidos


por acordo e transação voluntária das partes, na convenção arbitral, entendida
como “cláusula compromissória” e/ou compromisso arbitral.

3. Celeridade
característica do que é célere; agilidade, rapidez, velocidade
Ex.: a c. dos meios de comunicação
Fonte: dicionário Houaiss digital

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O objetivo da arbitragem é a solução do conflito de forma rápida e eficaz,
sendo que a prevalência da vontade das partes é imperativa em relação à
vontade de terceiros.

Exercícios Propostos

1. O que é Direito?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

2. Associe as duas colunas, relacionando o ramo do Direito com a sua defi­


nição:
1. Direito Constitucional ( ) É o conjunto de regras sobre rela-
2. Direito Judiciário ou Processual ções de emprego.
3. Direito Privado ( ) É o conjunto de regras que disci-
4. Direito do Trabalho plina as relações privadas entre
5. Direito do Consumidor particulares desde o nascimento
até depois da morte.
( ) É o conjunto de regras que disci-
plina as relações de consumo.
( ) É o conjunto de regras que
disciplina a atuação de juízes e
advogados nos processos.
( ) É o conjunto de regras que prevê
as garantias individuais e os
direitos sociais dos cidadãos
brasileiros.

A sequência correta dessa associação é:


( ) a) (1), (2), (3), (4), (5)
( ) b) (2), (3), (4), (5), (1)
( ) c) (3), (4), (2), (1), (5)
( ) d) (4), (3), (5), (2), (1)
( ) e) (4), (5), (3), (2), (1)

3. Para dar início a uma ação na Justiça, é preciso satisfazer as condições


exigidas no ________________, que são as chamadas condições da
ação. Essas regras de _____________ se aplicam a todo tipo de causa
judicial civil. Um bom advogado conhece todas essas regras e também
____________ dos Tribunais.

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Assinale a sequência que preenche as lacunas de forma correta:
( ) a) Código de Processo Civil, Direito Processual, a Jurisprudência.
( ) b) Código Penal, Direito Processual, a Doutrina.
( ) c) Constituição, Direito Privado, os Costumes.
( ) d) Código de Processo Civil, Direito Privado, a Jurisprudência.
( ) e) Código Civil, Direito Processual, a Doutrina.

4. Direito Subjetivo é possibilidade de cada um de tornar exigíveis e obriga­


tórios os seus direitos assegurados por lei perante terceiros, como no
direito de ação:

( ) Verdadeiro ( ) Falso

5. Leia as assertivas abaixo e assinale a alternativa correta:


III. Os tribunais aplicam a proteção do bem de família também aos domicílios dos
solteiros.
III. Doutrina é a interpretação que os estudiosos do Direito fazem acerca das leis,
em seus livros, pareceres e artigos científicos.
III. A lei é geral e concreta.
IV. Desconhecer a lei é motivo para descumpri-la.

São corretas as assertivas:


( ) a) I e IV.
( ) b) II e IV.
( ) c) II e III.
( ) d) III e IV.
( ) e) I e II.

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Lição 2 - Direito das Relações de Consumo/
Direito do Consumidor

O Direito das Relações de Consumo trata de relações bilaterais, de cunho


econômico, em que predomina a responsabilidade objetiva do fornecedor
e a inversão do ônus da prova, quando o fornecedor apresenta provas de
que as reclamações do consumidor não procedem. O consumidor, por ser
a parte mais fraca na relação, por lei, tem o direito de reclamar pela má-
prestação de serviços, por defeitos dos produtos comprados e por prejuízos
morais e materiais decorrentes de acidentes de uso do bem adquirido.

Ao término desta lição, você deverá ser capaz de:


a) como prestador de serviços, ficaráser capacitado para cumprir seus
deveres de fornecedor;
b) fazer valer seus direitos de consumidor;
c) identificar uma relação de consumo.

1. Definição
O Direito das Relações de Consumo é o ramo do Direito que disciplina as
relações de consumo entre consumidor, fornecedor e fabricante. As fontes
são para todos os ramos de Direito.

A legislação mencionada não está diretamente envolvida com o Direito do


Consumidor. Torna o material extenso e sem funcionalidade.

Atualmente, são muitos os órgãos que cuidam do Direito do Consumidor e


depende da sua regionalidade.

2. Fornecedor
O fornecedor é o fabricante, produtor, importador, comerciante, empresário,
prestador de serviço. É a pessoa física ou jurídica que fornece bens ou presta
serviços, a título oneroso, isto é, mediante contraprestação pecuniária, que é o
pagamento. O fornecedor é considerado pelo Código de Defesa do Consumidor
a parte mais forte da relação de consumo. Subentende-se que tenha todas as
informações técnicas, comerciais e jurídicas sobre o produto ou serviço com
que trabalha e tem a obrigação de transmiti-las ao consumidor.

O fornecedor tem o dever de colocar no mercado serviços e produtos de


qualidade, sempre atento à preservação da saúde e da segurança psíquica
e física dos consumidores. Definido pelo dispositivo legal abaixo, não os
Tribunais.

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Nota Jurídica
Segundo o art. 3º, do Código de Defesa do Consumidor:
“Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira,
bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.”

Os produtos devem ser testados para serem aprovados pelo órgão competente,
o que não exclui a responsabilidade civil e criminal do fornecedor e do
fabricante por eventuais acidentes e defeitos.

Os serviços devem ser prestados com honestidade, qualidade e segurança. O


prestador deve observar não apenas o lucro, mas principalmente os reflexos
e a importância de seu trabalho para o consumidor. Exemplo: um médico tem
a obrigação de utilizar seus conhecimentos para fazer o melhor pela saúde de
seu paciente, não medindo esforços para isso.

3. Consumidor
Segundo o Código de Defesa do Consumidor, artigo 2º:

Nota Jurídica
“Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final.”

O consumidor é aquele que compra bens ou utiliza informação ou serviços


em benefício próprio, ou de terceiros, como familiares, empregados, amigos
etc.; fornecidos por empresários ou comerciantes durante sua atividade
profissional.

O consumidor é a parte mais frágil na relação de consumo, pois o prestador


de serviços tem aparato jurídico, por exemplo: se você está comprando um
eletrodoméstico financiado em uma grande rede comercial, precisará assi-
nar um contrato de financiamento e receberá um carnê das prestações. O
lojista teve assessoria jurídica e financeira para efetuar o contrato e a apro-
vação do financiamento. Como vendedor do eletrodoméstico tem todas as
informações sobre ele e tem o fabricante como aliado. Já o consumidor, pre-
sume-se leigo em termos de financiamento, tanto no que tange às melho-
res taxas de mercado quanto à parte jurídica contratual, sendo utilizador do
eletrodoméstico e não técnico. A lei protege seus direitos contra eventuais
abusos do fabricante e dos fornecedores.

São tidos como consumidores as pessoas físicas – indivíduos – e as pessoas


jurídicas – sociedades, fundações, associações etc. – que adquiram qualquer
bem ou serviço como destinatários finais. Por exemplo: se uma concessioná-
ria adquire veículos para integrar seu ativo fixo – patrimônio da empresa – é
considerada consumidora nessa relação jurídica, porém se adquirir os veí-
culos para revendê-los não será mais consumidora, mas intermediária entre

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a fábrica e o destinatário final. No momento em que vender o veículo para o
cliente, a concessionária será considerada fornecedora e responderá junto
com o fabricante por eventuais defeitos e problemas técnicos do bem.

4. Produto
Produto é todo bem móvel ou imóvel, material – exemplo: carro – ou imaterial
adquirido pelo consumidor mediante remuneração do fornecedor.

5. Serviços
Toda atividade profissional mercantil fornecida a título oneroso aos
consumidores, como serviços bancários, de advocacia, conserto de um
aparelho eletrodoméstico, fornecimento de luz, entre outros.

6. Recall
Segundo o artigo 10, do Código de Defesa do Consumidor, se um fabricante,
após colocar um determinado produto em circulação no mercado, descobre
que ele apresenta defeito, a lei o obriga a noticiar esse fato aos consumidores
pelos meios de comunicação.

Pelo recall, o fabricante chama de volta para si os produtos defeituosos. Um


exemplo é o das fábricas de veículos automotores que convocam por meios
de comunicação todos que compram determinado modelo para efetuarem a
troca de certas peças, gratuitamente e com urgência.

O fabricante ou fornecedor fica responsável por divulgar a existência de


produto defeituoso no mercado, reparando todos os danos sofridos pelos
consumidores que já tiverem utilizado a mercadoria. Devem comunicar às
autoridades sob pena de responsabilidade criminal com pena privativa de
liberdade, que varia entre 6 meses e 2 anos de prisão.

Atenção!
“Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final.”

7. Prazos para Reclamação


Conforme o artigo 26, do Código de Defesa do Consumidor, o prazo para o
consumidor reclamar de vícios aparentes ou defeitos fáceis de detectar acaba
em 30 dias para produtos e serviços perecíveis – somado ao prazo de garan-
tia, quando houver.

O prazo para o consumidor reclamar sobre vícios ocultos é de 90 dias da


constatação do problema. O prazo por danos causados por produto ou servi-
ço defeituoso, acaba em cinco anos, contado a partir da ciência do dano e de
sua autoria.

22
SEÇÃO IV
DA DECADÊNCIA E DA PRESCRIÇÃO

Art. 26 - O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação


caduca em:

I - 30 (trinta) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produto não


duráveis;
II - 90 (noventa) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produto
duráveis.

§ 1º - Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do


produto ou do término da execução dos serviços.
§ 2º - Obstam a decadência:

I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o


fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente,
que deve ser transmitida de forma inequívoca;
II - (Vetado.)
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.

§ 3º - Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento


em que ficar evidenciado o defeito.

Art. 27 - Prescreve em 5 (cinco) anos a pretensão à reparação pelos danos


causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capí-
tulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e
de sua autoria.

8. Direitos Básicos do Consumidor


Atenção!
O prazo de 7 (sete) dias para se arrepender de compras também se aplica para as compras
feitas pela internet.

O Código de Defesa do Consumidor é um sistema de normas e princípios para


a guarda do consumidor, o sujeito de direitos, grupo vulnerável da relação
de consumo, criando mecanismos para a proteção desses direitos. O artigo
6º, do Código de Defesa do Consumidor estabelece todos os direitos básicos
necessários para que o consumidor conviva no mercado de consumo com
dignidade e igualdade. Dispõe o artigo 6º:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por


práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou
nocivos;
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e
serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;

23
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,
com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais
coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou
impostas no fornecimento de produtos e serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as
tornem excessivamente onerosas;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção
ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos,
assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;
IX - (Vetado);
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

O Código de Defesa do Consumidor, no inciso I, do artigo 6º, assegurou o


direito mais básico e mais importante dos direitos dos consumidores, que
é preocupação com a preservação da saúde, da vida e da segurança deles,
pois muitos produtos ou serviços, ofertados no mercado de consumo, são
perigosos e danosos para a vida dos consumidores.

O Código desenvolveu esse tema nos artigos 8º e 17, proibindo os fornecedores


a colocarem produtos que causem riscos aos consumidores. O artigo 8o
refere que “os produtos e serviços colocados no mercado de consumo
não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os
considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição,
obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações
necessárias e adequadas a seu respeito”. O artigo confirma a preocupação
do legislador em proteger a segurança do consumidor, no caso ampliando a
definição de consumidor, o artigo 17, do Código de Defesa do Consumidor, que
enuncia “para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas
as vítimas do evento”.

9. Princípios Básicos do Direito do Consumidor


9.1 Princípio da Isonomia ou Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor

Os desiguais devem ser tratados de forma desigual pela lei. Como o


consumidor é o polo frágil da relação de consumo, deve ser tratado pela lei
de forma protetiva, prevalecendo sempre as normas e as interpretações que
lhe forem mais favoráveis.

24
Ponto-chave
a) Um contrato de prestação de serviço ou de compra e venda, em uma relação de
consumo, deve ser interpretado sempre da forma mais favorável ao consumidor.
b) Em razão da vulnerabilidade do consumidor, nas ações que envolvem direito do
consumidor, o juiz poderá determinar que o fornecedor ou fabricante faça prova de que
agiu conforme a lei.

9.2 Princípio da Boa-fé

Esse princípio significa que as partes, ao negociarem ou contratarem, devem


agir com lealdade, sinceridade, seriedade, honestidade e transparência. O
fornecedor não deve buscar o lucro fácil em prejuízo do consumidor.

Baseado nesse princípio, o Código de Defesa do Consumidor, no seu artigo


6º, VIII, estabelece a inversão do ônus da prova em favor do consumidor e,
no artigo 53, dispõe que são nulas todas as cláusulas que estipularem que o
consumidor perderá todas as parcelas já pagas em prol do fornecedor, nos
contratos de compra e venda de imóveis ou nos de compra de bens móveis
financiados.

9.3 Princípio da Equidade

Esse princípio estabelece um equilíbrio nas relações de consumo, entre o


fornecedor e o consumidor, de forma que nenhuma das partes seja cobrada
mais que a outra.

9.4 Princípio da Transparência

Significa que, ao celebrar um contato com o empresário para compra de


mercadorias, aluguel de algum bem móvel ou imóvel ou recebimento de ser-
viços, todas as condições, as obrigações e os direitos contratuais devem ser
esclarecidos ao consumidor, inclusive nos contratos de adesão deve aparecer
em negrito e com destaque as cláusulas penais e as limitativas de direitos do
consumidor.

10. Infrações e Sanções


O Código de Defesa do Consumidor destinou o Título II, do art. 61 ao art. 80, às
“Infrações Penais”. Dentre as principais infrações podemos citar:
• Publicidade enganosa ou abusiva: publicidade enganosa é a que induz
o consumidor ao erro criando diante falsas expectativas e crenças sobre
o produto ou serviço anunciado. Publicidade abusiva agride os valores
socioculturais da época, por exemplo: propaganda discriminatória,
preconceituosa ou lesiva ao meio ambiente. Configura o crime do artigo 67,
do Código de Defesa do Consumidor, cuja sanção consiste em detenção de
3 meses a 1 ano, além de multa e do dever de reparar os danos civis – art.
186 e 927, do Código Civil.

25
• Omissão de dados sobre a periculosidade ou nocividade dos produtos em
embalagens, rótulos ou recipientes das mercadorias – art. 63. Pena de 6
meses a 2 anos e multa. Também incorre nesse crime e com a mesma pena
o prestador de serviço que não comunicar os riscos e a periculosidade do
serviço a ser prestado ao cliente – antes de iniciar sua execução. No caso
de omissão culposa, em que o próprio fornecedor desconhecia o risco ou
perigo, a pena será reduzida, variando de um a 6 meses de detenção ou
multa.
• Deixar de efetuar o recall e comunicar às autoridades sobre a descoberta
da periculosidade do produto colocado em circulação no mercado. Pena
de detenção de 6 meses a 2 anos e multa.
• Executar serviços de alta periculosidade em desacordo com as normas de
segurança, expondo a si, a terceiros e à coletividade a risco de vida ou de
saúde. Pena de detenção de 6 meses a 2 anos e multa.
• Utilizar peças ou componentes usados sem a autorização expressa do
consumidor. Pena de detenção de 3 meses a um ano.
• Efetuar a cobrança de dívida mediante ameaça, coação ou utilização
de meios e linguagem que cause constrangimento físico ou moral ao
consumidor. Pena de detenção de 3 meses a um ano e multa.

Conhecer o Direito das Relações de Consumo é muito importante para


qualquer profissional. É preciso conhecer os direitos dos consumidores e os
deveres que todo prestador de serviço, fornecedor e fabricante tem para que
haja sucesso profissional.

Exercícios Propostos

1. Conceitue Direito das Relações de Consumo.


_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

2. A Constituição Federal, o Código de Defesa do Consumidor, o Novo Código


Civil, a Lei de Ação Civil Pública e o Decreto nº 2.181/97 são normas que
visam a assegurar os direitos do consumidor.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

26
3. Associe as duas colunas, relacionando o princípio do Direito do Consu­
midor com a sua definição:
1. Princípio da Vulnerabilidade ( ) As partes, ao negociarem ou
do Consumidor contratarem, devem agir sem-
2. Princípio da Boa-fé pre com lealdade, sinceridade,
3. Princípio da Equidade seriedade, honestidade e trans-
4. Princípio da Transparência parência.
( ) Visa a estabelecer um equilíbrio
nas relações de consumo, entre
o fornecedor e o consumidor.
( ) Estabelece que todas as condi-
ções, as obrigações e os direitos
contratuais devem ser esclareci-
dos ao consumidor.
( ) Sendo o consumidor o polo frá-
gil da relação de consumo, deve
ser tratado pela lei de forma
protetiva.

A sequência correta dessa associação é:


( ) a) (1), (2), (3), (4).
( ) b) (2), (3), (4), (1).
( ) c) (3), (4), (2), (1).
( ) d) (4), (2), (3), (1).
( ) e) (4), (3), (2), (1).

4. Conforme o artigo 26, do Código de Defesa do Consumidor, o prazo para


o consumidor reclamar de vícios aparentes ou defeitos fáceis de detectar
acaba em _________ para produtos e serviços perecíveis. O prazo para
bens e serviços duráveis é de __________. O prazo para arrependimento
de compras feitas pela internet é de _________.

Assinale a sequência que preenche as lacunas de forma correta:


( ) a) 30 dias, 60 dias, 15 dias.
( ) b) 90 dias, 90 dias, 7 dias.
( ) c) 30 dias, 90 dias, 7 dias.
( ) d) 5 anos, 7 dias, 30 dias.
( ) e) 90 dias, 5 anos, 15 dias.

27
5. Leia as assertivas abaixo e assinale a alternativa correta:
III. A propaganda enganosa não configura prática abusiva.
III. Os contratos devem ser interpretados favoravelmente aos consumidores.
III. O consumidor tem o direito à informação adequada sobre os produtos e serviços
que recebe.
IV. Fabricantes e fornecedores não precisam observar normas de segurança.

São corretas as assertivas:


( ) a) I e IV.
( ) b) II e IV.
( ) c) II e III.
( ) d) III e IV.
( ) e) I e II.

28
Lição 3 - Direito do Trabalho

O Direito do Trabalho no Brasil começou no governo do presidente Getúlio


Vargas, em 1930, que idealizou uma política trabalhista para o país. Vamos
estudar as noções desse Direito e seus itens principais. Aprofundaremos
nossos conhecimentos no Direito do Trabalho.

Ao término desta lição, você deverá ser capaz de:


• analisar, interpretar e avaliar os impactos da legislação trabalhista do
país.

1. Noções Gerais
É um conjunto de princípios, normas, institutos e regras jurídicas aplicáveis
às relações entre empregados e empregadores, para melhorar as condições
sociais do trabalhador.

2. Fontes do Direito do Trabalho


2.1 Fonte de Origem Estatal
Constituição Federal;
Leis: CLT;
Atos do Poder Legislativo;
Sentença Normativa;
Jurisprudência.

2.2 Fontes de Origem Internacional

Convenções e recomendações da Organização Internacional do Trabalho –


OIT.

2.3 Fontes de Origem Contratual


Convenções e acordos coletivos;
Regulamentos das empresas;
Disposições contratuais – contrato individual de trabalho;
Costumes.

As normas jurídicas possuem diversas lacunas em relação à regulamentação


dessa relação de emprego, pois não acompanham as transformações da
realidade social, já que surgem novas áreas de atuação no mercado de trabalho.

29
Essas lacunas serão sanadas pelo uso da analogia, equidade, princípio gerais
do Direito e da doutrina.

A Consolidação das Leis do Trabalho disciplina sobre o preenchimento das


lacunas das leis dessa relação de emprego por meio do art. 8º, no que diz: “As
autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições
legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência,
por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito,
principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos
e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum
interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público”.

3. A Hierarquia das Normas Trabalhistas


A hierarquia no ordenamento jurídico também é imperativa no Direito do
Trabalho. A Constituição se encontra no topo dessa estrutura e é superior
à CLT, bem como convenções, acordos e sentenças normativas estão
subordinadas às normas contidas nas leis – ordinárias, complementares e
medidas provisórias – e, por fim, os contratos de trabalho se encontram na
base dessa estrutura.

A CLT dispõe sobre essa hierarquia:

“Art. 619. Nenhuma disposição de contrato individual de trabalho que


contrarie normas de Convenção ou Acordo Coletivo de Trabalho poderá
prevalecer na execução do mesmo, sendo considerada nula de pleno direito.”

“Art. 620. As condições estabelecidas em Convenção quando mais favoráveis,


prevalecerão sobre as estipuladas em Acordo.”

4. Direito Coletivo do Trabalho e Sindicato


O sindicato é uma associação coletiva, de natureza privada, para a defesa e o
incremento de interesses coletivos profissionais e materiais de trabalhadores,
sejam subordinados ou autônomos, e de empregadores.

As Convenções Coletivas de Trabalho são pactos jurídicos firmados entre


o sindicato patronal e o sindicato dos trabalhadores de uma determinada
categoria, valendo para os trabalhadores e as empresas daquela categoria
e situados dentro dos limites territoriais dos sindicatos que firmaram a
Convenção. Nesse tratado são estipuladas condições de trabalho, horários,
adicionais, normas de segurança e proteção do trabalhador, remunerações e
demais direitos e deveres para ambas as partes, suprindo inclusive eventuais
omissões da CLT.

Os Acordos Coletivos de Trabalho são um conjunto de normas firmadas


por acordo e vontade do sindicato de uma categoria profissional e uma ou
mais empresas, valendo como lei entre os trabalhadores dessa categoria e
as empresas participantes do Acordo. Nela também se tratam de assuntos

30
como remuneração de horas extras e trabalho em feriados, adicionais de
insalubridade e periculosidade, benefícios – vale alimentação, vale refeição,
vale transporte, previdência privada, assistência médica.

Por meio dos acordos e das convenções coletivos de trabalho, as partes podem
fixar remunerações, horários e condições diversos dos previstos na CLT.
Por exemplo, pode-se prever que todas as horas extras serão remuneradas
com adicional de 100%, ou que os vendedores trabalharão dois finais de
semana por mês e folgarão durante a semana nessas ocasiões, pactuando-se
remuneração fechada para o trabalho nessa ocasião, por fim de semana, fora
a comissão.

As sentenças normativas são decisões dos Tribunais do Trabalho julgando


dissídios coletivos quando os sindicatos não conseguem negociar ou chegar
a um acordo coletivo quanto aos direitos e aos deveres dos membros da
categoria.

5. Princípios do Direito do Trabalho


O princípio no Direito é o seu fundamento que irá instruir as normas jurídicas.
O princípio possui as seguintes funções:
• Informativa: serve de inspiração ao legislador e de fundamento para as
normas jurídicas.
• Normativa: atua como fonte para suprir as lacunas da lei.
• Interpretativa: serve como orientador para os aplicadores da lei.
Além da observância dos princípios gerais do Direito, destacam-se os
princípios específicos do Direito do Trabalho. São eles:
a) Princípio da proteção: estabelece o equilíbrio entre as partes
consideradas desiguais na relação de emprego. Proporciona a
compensação da superioridade econômica do empregador, concedendo
a superioridade jurídica ao empregado. Subdivide-se em: in dubio pro
operário – se aplica a norma mais benéfica ao empregado –; aplicação
da norma mais favorável ao empregado e da condição mais favorável ao
empregado.
b) Princípio da irrenunciabilidade de direitos: estabelece que os direitos
trabalhistas são irrenunciáveis, como o empregador não pode exigir
que seu empregado renuncie a suas férias. O art. 9º, da CLT, determina a
nulidade de qualquer ato que viole esse princípio:

“Art. 9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de


desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente
Consolidação.”
c) Princípio da irredutibilidade salarial: a remuneração dada aos trabalhos
empreendidos pelo empregado não pode ser reduzido ao benefício do
empregador. Somente são feitos descontos em virtude de lei, conforme

31
o art. 462, da CLT, ou em acordo ou convenção coletivos – art. 7º, VI, da
CF/88.
d) Princípio da continuidade da relação de emprego: consiste na segurança
do empregado mesmo havendo mudança estrutural ou funcional no seu
ambiente de trabalho, qual seja a empresa. Há o preceito constitucional
do direito adquirido – art. 5º, XXXVI, da CF/88. Na Consolidação das Leis
do Trabalho vem explicitado nos artigos 10 e 448 o instituto visto, com a
força de lei pública.
e) Princípio da primazia da realidade: persiste na ideia de que a realidade
de fato, presenciada somente em virtude dos fatos da vida real, deve ter
prioridade sobre as cláusulas pactuadas entre seus signatários.

6. Contrato de Trabalho
O contrato de trabalho, segundo o art. 442, da CLT, é o instrumento em que
se formaliza a relação jurídica existente entre o empregador e o empregado,
estipulando-se os horários, a remuneração, a função e as demais regras que
nortearão a prestação dos serviços.

Nota Jurídica
Art. 442 - Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à
relação de emprego.

Os contratos de trabalho devem ser escritos. Em caso de omissão e existindo


todos os elementos que caracterizam o vínculo empregatício – subordinação,
habitualidade, remuneração e pessoalidade –, presume-se o contrato verbal.

O contrato de trabalho envolve duas partes: empregado e empregador.


• Empregador: é a pessoa física ou jurídica, ou grupo econômico que em
caráter não eventual emprega e subordina pessoa física para se beneficiar
com seus serviços, pagando-lhe uma remuneração.
• Empregado: é a pessoa física que presta serviços com habitualidade,
pessoalidade e subordinação, mediante remuneração. Todos esses
requisitos devem estar presentes, em conjunto, para caracterizar o vínculo
empregatício.

São requisitos caracterizadores do vínculo empregatício:


• Habitualidade: o serviço deve ser prestado contínua e regularmente,
sempre nos mesmos dias e horários para haver o vínculo. Exemplo: um
médico que trabalha em escala de revezamento 12x36 horas deve cumprir
sempre essa jornada, de forma habitual. A diarista que trabalha apenas
uma vez por semana em uma residência não pode ser considerada
empregada mensalista.

32
• Pessoalidade: o empregado, contratado em função de suas características
e qualificações pessoais, deve prestar os serviços pessoalmente, não
podendo enviar terceiros para representá-lo.
• Subordinação: significa que o empregado deve obedecer ordens e regras
da empresa e que deve prestar contas de seus serviços a um superior.
• Remuneração: o trabalhador deve ser assalariado, recebendo
compensação monetária pelos seus serviços. A remuneração pode ser
contratada por hora, por dia, por semana ou por mês. A remuneração
é a soma do salário fixo e da parte variável paga habitualmente. A parte
variável de remuneração são as comissões, os prêmios – lucratividade,
produtividade etc. –, os adicionais e as horas extras habituais. Sobre a
parte variável da remuneração devem incidir férias, 1/3 Constitucional, 13º
salário, aviso prévio e DSR – Descanso Semanal Remunerado.

6.1 Contrato por Prazo Indeterminado

A regra geral é a do contrato por prazo indeterminado em que o empregado


é admitido para exercer atividades essenciais e de natureza da empresa,
mediante pagamento de salário, devendo obedecer regras estabelecidas pelo
empregador – regulamentos internos da empresa, horários, hierarquias etc.
–, proibido ao empregador a dispensa imotivada.

6.2 Contrato por Prazo Determinado

Quando o contrato for por prazo determinado, será extinto pelo fim do prazo
ou por dispensa sem justa causa, antes do termo – prazo final –, caso em que
o empregador deverá indenizar o empregado – 50% do valor total que ainda
deveria receber até o final do contrato. Se o empregado se demitir antes do
prazo contratual final, deverá pagar ao empregador os prejuízos que causar.

Os contratos de trabalho por prazo determinado só podem ser utilizados para


a contratação de serviços eventuais e temporários, e têm o prazo máximo de
dois anos.

Podemos citar como exemplos:


• Contrato de experiência: 90 dias;
• Contrato temporário de trabalho: 3 meses (Lei nº 6019/74);
• Contrato de aprendizagem (Decreto 5598/2005);
• Contrato por obra certa (Lei nº 2.959/56);
• Contrato de atleta profissional (Lei nº 9.615/98).
Não atende ao propósito da aprendizagem técnica.

33
7. Obrigações do Empregador na Admissão
O empregador tem a obrigação de efetuar o registro na CTPS – Carteira de
Trabalho e Previdência Social – em 48 horas a partir da admissão, sob pena de
responder administrativa e penalmente – CLT, artigos 53 a 55; CP, artigo 297,
§§ 3º, II e 4º; Lei nº 5.553/68.

A multa administrativa específica para a falta de registro é de metade do


salário mínimo e para a falta de anotações – incompletas, incorretas ou
inexistentes – é um salário mínimo. No caso de falta de registro são devidas as
duas multas, pela ausência de registro e pela ausência de anotações na CTPS,
que somam um salário mínimo e meio.

De acordo com os parágrafos 4º e 5º, do artigo 29, da CLT, e a Lei nº 10.270 de


29/01/2001, o empregador é proibido de efetuar na Carteira Profissional do
trabalhador qualquer referência ou anotação que o desabone, o que significa
que não poderá anotar a justa causa em sua carteira, mesmo que tenha provas
dela. A desobediência a essa norma acarreta o pagamento de uma multa no
valor de meio salário mínimo.

A NR-7 – norma regulamentadora de segurança e saúde no trabalho –


determina que todo funcionário deve efetuar exame admissional que ateste
sua aptidão física para as funções que irá desempenhar. Esse exame é
comprovado por atestado médico e a data em que foi efetuado deve constar
da ficha de registro do empregado.

8. Extinção do Contrato de Trabalho


O contrato de trabalho pode extinguir-se por inúmeras razões, como: morte
do empregado, aposentadoria, demissão voluntária, dispensa imotivada, dis-
pensa por justa causa, rescisão indireta e fechamento da empresa.

8.1 Demissão Voluntária

É a forma de extinção do contrato de trabalho em que o empregado pede a


demissão por não lhe interessar mais a continuidade da relação trabalhista.

Nesse caso, o empregado terá o dever de conceder o aviso prévio – que admite
renúncia pelo empregador – e terá direito a receber do empregador: saldo de
salário, férias proporcionais mais um terço, férias vencidas mais um terço –
se houver – e 13º salário proporcional.

No pedido de demissão não há direito de movimentar a conta do FGTS, o


empregado fica impedido de levantar o FGTS, perde o direito à multa dos 40%
e não recebe o seguro desemprego.

O fato de o empregador conceder ao empregado a dispensa do trabalho


durante o período de aviso prévio não significa que o empregado não deva
indenizá-lo monetariamente.

34
8.2 Dispensa Imotivada

Ocorre quando o empregador sem justo motivo acaba com o contrato de


trabalho, dispensando o trabalhador e extinguindo a relação jurídica existente
entre ambos.

O trabalhador terá direito ao aviso prévio, que poderá ser indenizado quando
o empregador rescindir de imediato o contrato e dispensar o empregado de
trabalhar durante o período de aviso prévio, 13º proporcional, férias vencidas
acrescidas do terço constitucional, férias proporcionais acrescidas de um ter-
ço, saldo de salário, multa de 40% sobre o valor depositado na Caixa Econômi-
ca Federal, durante todo o período contratual – lembrando que o empregador
deverá depositar mais 10% sobre esse valor para a Previdência Social, sendo o
valor total da multa de 50% –, levantamento do FGTS.

Caso o empregado trabalhe há doze meses ou mais na empresa, terá direito às


guias de seguro desemprego pagas pelo INSS. Esse é o novo prazo segundo a
nova regra do seguro desemprego, conforme a Lei nº 13.134, de 2015.

Nota Jurídica
Art. 3º Terá direito à percepção do seguro-desemprego o trabalhador dispensado sem justa
causa que comprove:
I - ter recebido salários de pessoa jurídica ou de pessoa física a ela equiparada, relativos a:
a) pelo menos 12 (doze) meses nos últimos 18 (dezoito) meses imediatamente anteriores à
data de dispensa, quando da primeira solicitação;
b) pelo menos 9 (nove) meses nos últimos 12 (doze) meses imediatamente anteriores à data
de dispensa, quando da segunda solicitação; e
c) cada um dos 6 (seis) meses imediatamente anteriores à data de dispensa, quando das
demais solicitações.

8.3 Dispensa por Justa Causa

A dispensa por justa causa é um fato que impede a continuidade do contrato


de trabalho, tornando impossível o relacionamento empregado/empregador.

O trabalhador demitido por justa causa perde o direito ao aviso prévio, ao


levantamento do FGTS e a multa, ao 13º salário proporcional, recebendo única
e exclusivamente as férias proporcionais e o saldo de salário.

Para que seja acolhida a justa causa do empregado perante a Justiça do


Trabalho, são necessários os requisitos:

Gravidade da falta: não é qualquer falha do empregado que gera a justa causa,
o ato precisa afetar a relação empregatícia. É considerada falta grave se o
fato cometido pelo empregado for previsto em lei. Mesmo que o empregado
cometa um fato que o empregador considere grave, mas que não se encaixa
em nenhuma das hipóteses de lei, não poderá ser dispensado por justa causa.
Exemplo: quebra de confiança.

35
Imediatidade: a reação do empregador ao ato do empregado tem que ser
imediata, ou seja, se o trabalhador subordinado comete a falta hoje e o seu
patrão toma o conhecimento do fato hoje, para configurar a justa causa, deve
dispensar o funcionário no momento em que se certifica do comportamento
inadequado. Se deixar para dispensá-lo no dia seguinte não poderá mais
alegar a justa causa e terá que pagar as indenizações pertinentes à dispensa
sem justa causa.

Proporcionalidade: a dispensa por justa causa é considerada uma punição


severa e de grau máximo, que afeta o trabalhador em sua moral e amor
próprios, portanto, só poderá ser aplicada quando a falta cometida se
enquadrar dentro do artigo 482 e for de extrema gravidade.

Relação de causa e efeito: há a falta cometida e a dispensa imediata por justa


causa, devendo ficar comprovado que foi determinada atitude praticada pelo
empregado que motivou a dispensa, por exemplo furtar bem ou patrimônio
da empresa. Segundo o art. 482, da CLT, são motivos de justa causa, somente
os atos praticados pelo empregado que se enquadrem em:
• Ato de improbidade: é ato de desonestidade praticado contra o
empregador, atentando contra o seu patrimônio ou de terceiro. É
um proceder do empregado que afeta o patrimônio e a confiança do
empregador no empregado ou de terceiros na empresa. Exemplo:
falsificação de documentos, emissão de recibos falsos.
• Incontinência de conduta: relacionada a questões sexuais e de qualquer
conduta exagerada no âmbito moral. Exemplo: empregado que acessa
sites pornográficos no ambiente de trabalho, atos obscenos de qualquer
natureza.
• Mau procedimento: é a conduta desrespeitosa, comportamentos não
polidos, demonstrações de falta de educação, uso de palavras de baixo
calão. O respeito é a quebra das regras de convivência em sociedade, o
decoro e o respeito.
• Negociação habitual: ligada a atos de comércio não permitidos ou
contrários aos interesses do empregador. Podem ser de três tipos: a)
negociação proibida pelo empregador: o empregador, com poderes de
mando, proíbe qualquer ato de comércio pelos empregados no ambiente
de trabalho; b) negociação que institui ato de concorrência para o
empregador: é uma forma de concorrer com o próprio empregador. Trata-
se de quebra de lealdade entre empregado e empregador; c) negociação
que prejudica o desempenho da atividade da empresa: o empregado não
pode praticar quaisquer atos que prejudiquem o funcionamento e as
relações no ambiente de trabalho.
• Condenação criminal do empregado: é a condenação transitada em
julgado que se mostre incompatível com a prestação do serviço. Essa
hipótese não configurará justa causa quando a condenação não resultar
em pena de privação de liberdade: a sursis – substituição da pena privativa

36
de liberdade por medidas restritivas de direitos e/ou prestação de serviços
à comunidade.
• Desídia no desempenho das funções atribuídas: a desídia configura-se
quando o empregado realiza as tarefas que lhe são atribuídas sem prestar
a devida atenção e a cautela necessária, deixando falhas grosseiras, que
poderiam ser facilmente evitadas se dedicasse cuidado no cumprimento
de suas funções. São os atos de negligência, descaso e omissão do
empregado que tem como consequência desobedecer aos procedimentos
de trabalho exigidos pelo empregador. Exemplo: o Presidente da República
vai visitar a empresa e todos os empregados são orientados a usar EPI –
Equipamento de Proteção Individual – e fardamento completo naquele
dia; um empregado vai trabalhar de chinelo.
• Embriaguez habitual ou em serviço: são duas as possibilidades:
a) embriaguez habitual: é aquela em que o empregado ingere
frequentemente bebidas alcóolicas. Os Tribunais do Trabalho tem
decidido no sentido de que a embriaguez habitual não mais gera justa
causa. É uma doença e gera suspensão do contrato de trabalho para que
o empregado realize tratamento. Para se cogitar a suspensão do contrato
de trabalho, o empregado deverá estar internado para tratamento, o que
somente é possível por vontade própria; b) embriaguez em serviço é
hipótese pontual, eventual, de embriaguez. Acontece quando o empregado
comparece para trabalhar após a ingestão de substância química tóxica.
Essa conduta coloca em risco toda a atividade empresarial e é situação
de aplicação de justa causa. É importante saber que, apesar do nome,
a hipótese de embriaguez se refere a qualquer substância química
inebriante, qualquer substância que cause vício, deixando o empregado
sem o uso pleno de suas capacidades mentais.

Atenção!
“Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final.”

• Violação de segredo da empresa: o sigilo profissional, que deve ser


observado em todas as profissões – em especial médicos, secretárias,
administradores, gestores, corretores, contadores etc. –, é de extrema
importância, pois envolve fatos corriqueiros da profissão, pessoas –
integridade pessoal e privacidade – e negócios, os quais podem ser
traduzidos em interesses patrimoniais. Muitas vezes, o empregado revela
um segredo ou informação de que teve conhecimento no exercício de sua
função ou em razão dele, porém sem intenção de prejudicar alguém, mas
acaba causando prejuízos.
• Ato de indisciplina e insubordinação: os atos de indisciplina são aqueles
que se referem ao desatendimento às normas gerais da empresa; os atos
de insubordinação são aqueles que se referem à desobediência de regras
específicas dirigidas a um empregado específico. A insubordinação é o
descumprimento de ordens diretas do empregador. Não será caso de
insubordinação se a ordem do empregador for excessiva, ilegal ou abusiva.

37
• Abandono de emprego: para se configurar abandono de emprego é
necessário que o empregado falte ao trabalho por trinta dias consecutivos,
sem apresentar qualquer justificativa ou dar notícias. O empregador não
tem a obrigação de convocar o seu empregado para voltar ao trabalho, pois
esse é o dever do trabalhador. Se a convocação for feita por meios públicos,
como os jornais por exemplo, deverá o empregador ser cuidadoso para
não prejudicar a imagem do trabalhador.
• Ato lesivo da honra e da boa fama praticado no serviço: que fira os
interesses e a integridade moral do empregador, de colegas de trabalho ou
de terceiros. Podem ser praticados das mais diversas formas: por escrito
ou por meio da fala.
• Prática habitual de jogos de azar: o local de trabalho é onde o trabalhador
deve ir para desempenhar as funções para qual foi contratado mediante
subordinação e remuneração. O empregado deve ir ao serviço para
trabalhar e não para jogar. A prática habitual de jogos de azar no local
de trabalho e durante o expediente, além de configurar ato ilícito, que
contraria a lei, a moral e os bons costumes, atrapalha o bom e ideal
desenvolvimento do trabalho.

8.4 Dispensa Indireta

Ocorre quando o trabalhador pede para colocar fim ao contrato de trabalho


por culpa exclusiva do empregador, que descumpre normas do contrato e de
direitos trabalhistas. Se for comprovada a culpa do empregador, o empregado
terá direito às mesmas verbas rescisórias que receberia se fosse dispensado
sem justa causa, levantando o FGTS, percebendo a multa dos 40% e fazendo
jus ao seguro desemprego.

O trabalhador pode requerer junto à DRT – Delegacia Regional do Trabalho –,


ou diretamente à Justiça do Trabalho, a apuração de falta grave do empregador.

O empregado pode trabalhar em uma empresa e efetuar referido pedido,


mesmo sem comunicar o fato a seu empregador, o qual, uma vez citado,
não poderá demitir o funcionário antes do término de apuração da queixa
e julgamento pela Justiça do Trabalho. São considerados motivadores da
dispensa indireta:
• O descumprimento pelo empregador das obrigações estipuladas no
contrato de trabalho. Exemplo: atraso no pagamento de salários. Para
que seja considerado caso de rescisão indireta, o atraso no pagamento de
salários deve ser, no mínimo, três meses.
• Rigor excessivo no tratamento do empregado: o empregador deve tratar
seus funcionários de forma humana, com respeito e dignidade, não
podendo imputar-lhes serviços excessivos, nem mesmo reprimendas que
firam a integridade física, emocional e/ou psíquica do empregado, ainda
que ele cometa faltas graves.

38
• Exposição a perigo manifesto exigindo do trabalhador a execução
de tarefas que atentem à segurança e à saúde dele, salvo nos casos
expressamente contratados. Exemplo: o dono de uma empresa
mineradora não pode exigir de um funcionário que foi contratado para
efetuar serviços no solo que execute tarefas de extração mineral no
subsolo ou em minas subterrâneas, haja vista que o grau de periculosidade
e insalubridade nessas tarefas é bem maior.
• Ausência de registro e anotações na CTPS: além de configurar ilícito
penal, constitui infração administrativa e agressão a determinações
expressas da CLT, podendo gerar consequências como: multa
administrativa, detenção de 3 a 6 meses do empregador, rescisão do
contrato de trabalho por justa causa do empregador, condenação na
indenização dos prejuízos causados ao empregado e recolhimento dos
valores devidos a título de contribuições ao INSS e depósitos fundiários,
dentre outras cominações legais – penalidades.
• Ofensas físicas ao trabalhador: o empregador que agredir fisicamente seu
empregado deverá responder civil e criminalmente por seus atos, além de
sofrer as penas administrativas e trabalhistas, expressas na CLT, conforme
o caso concreto.
• Redução de salários ou de trabalho quando a remuneração for paga
por produtividade, desde que não haja prévia autorização da Delegacia
Regional do Trabalho e do sindicato dos empregados.

9. Jornada de Trabalho
A lei prevê uma jornada máxima diária de oito horas, semanal de 44 horas,
visando ao bem-estar, à saúde física e mental do trabalhador e à segurança
no trabalho.

Todas as horas que ultrapassarem a jornada normal permitida por lei serão
remuneradas com o adicional de hora extraordinária. A CLT prevê adicional
de 50% para as duas primeiras horas extras diárias e a CF/88 prevê adicional
de 100% para as horas laboradas nos domingos e nos feriados. Se a Convenção
ou o Acordo coletivos dispuserem adicionais maiores, esses devem ser
utilizados por serem mais benéficos ao trabalhador.

39
As horas extras trabalhadas entre as 22h de um dia e às 5h do dia seguinte
devem sofrer o acréscimo do adicional noturno que corresponde a 20% do
salário hora. Esse adicional deve ser aplicado sobre o valor final da hora extra.

9.1 Adicional Noturno

A jornada de trabalho noturno, por ser menos favorável à saúde do trabalhador,


é reduzida e sofre um acréscimo de 20% sobre o salário. Considera-se jornada
noturna a realizada entre as 22 horas de um dia e às 5h do dia seguinte.

No caso do trabalhador exercer jornada diurna, mas realizar horas extras em


horário de jornada noturna, as horas extras laboradas após as 22h deverão
sofrer o acréscimo de 20%.

Há diferença no valor a ser pago para o trabalhador urbano e o trabalhador


rural: para o trabalhador rural, o valor do adicional noturno é de 25%.

9.2 Adicional de insalubridade

O trabalhador que labora em condições que oferecem risco ou prejuízo à


sua saúde pelo contato com agentes químicos, físicos ou biológicos, são,
perante a lei, indenizados. Foi estipulado em lei o pagamento do adicional
de insalubridade que varia entre 10, 20 ou 40%, incidentes sobre o valor do
salário mínimo vigente à época. O índice a ser aplicado varia de acordo com o
grau de insalubridade a que o trabalhador estiver exposto.

Tal percentual deverá constar de Acordo ou Convenção Coletiva de Trabalho,


sendo o seu pagamento obrigatório, podendo em alguns casos, autorizados
por lei, o empregador eximir-se do pagamento de referida verba desde
que comprove a efetiva entrega dos equipamentos de proteção individual
ao empregado e que a utilização desses equipamentos elimine o caráter
insalubre do trabalho, devendo comprovar que fiscaliza a utilização deles
pelo funcionário e que adota medidas de redução do grau de insalubridade
no ambiente de trabalho desse empregado.

O adicional de insalubridade incide sobre as horas extras e sobre as jornadas


noturnas.

9.3 Adicional de Periculosidade

É devido a todo trabalhador que exercer atividade que exponha a algum risco
sua integridade física ou sua vida, como o trabalho com agentes explosivos,
inflamáveis, radioativos, ionizantes (artigo 193, da CLT) ou em funções que
exponham o empregado a descargas elétricas. Também é devido o adicional
de periculosidade ao trabalhador para as atividades que requeiram o uso de
motocicleta e para aquelas atividades que exponham o trabalhador ao risco
de roubo ou outras espécies de violência física.

40
O adicional noturno é calculado sobre o salário base do empregado e seu
percentual é fixo no valor de 30%, mas, de acordo com a Lei nº 7.369/85, artigo
1o, por ser mais benéfico ao empregado, quando se tratar de eletricitários,
o adicional de 30% a título de periculosidade incidirá sobre o salário total
efetivamente devido no mês.

Quando a atividade profissional oferecer risco à saúde e à segurança do


empregado – insalubridade –, e ao mesmo tempo apresentar perigo à vida ou
à integridade física do trabalhador – periculosidade –, deverá o trabalhador
optar por um dos dois adicionais, caso o dissídio coletivo de sua categoria seja
omisso sobre o assunto.

10. Férias
Todo trabalhador tem direito ao descanso por determinado período após
completar o período aquisitivo de um ano de trabalho. A cada doze meses
de trabalho, o empregado tem direito ao gozo das férias anuais remuneradas
que, em geral, é de 30 dias.

Por determinação legal e constitucional, além da remuneração das férias, o


trabalhador terá direito ao terço constitucional.

As verbas pagas habitualmente, como comissões, incorporam o salário para


fins de cálculos das férias e sobre o valor total – salário base mais média das
comissões dos últimos seis meses –, incidirá o terço constitucional.

A CLT dispõe sobre férias:

Art. 129 - Todo empregado terá direito anualmente ao gozo de um período de


férias, sem prejuízo da remuneração.

Art. 130 - Após cada período de 12 (doze) meses de vigência do contrato de


trabalho, o empregado terá direito a férias, na seguinte proporção:
I - 30 (trinta) dias corridos, quando não houver faltado ao serviço mais de 5
(cinco) vezes;
II - 24 (vinte e quatro) dias corridos, quando houver tido de 6 (seis) a 14
(quatorze) faltas;
III - 18 (dezoito) dias corridos, quando houver tido de 15 (quinze) a 23 (vinte e
três) faltas;
IV - 12 (doze) dias corridos, quando houver tido de 24 (vinte e quatro) a 32
(trinta e duas) faltas.

§ 1º - É vedado descontar, do período de férias, as faltas do empregado ao


serviço.
§ 2º - O período das férias será computado, para todos os efeitos, como
tempo de serviço.

41
Os menores de 18 anos e em idade escolar têm direito de gozar suas férias nos
meses que coincidem com as férias escolares – dezembro, janeiro ou julho.

O primeiro dia das férias não pode coincidir com domingos e feriados.

As férias deverão ser pagas em dobro quando o empregador não concedê-las


ao empregado no período concessivo de férias qual seja, no prazo máximo
de 11 meses e 29 dias a contar do dia seguinte a aquele em que o empregado
completa o período aquisitivo das férias.

11. Décimo Terceiro Salário


A lei concede ao trabalhador um salário a mais a cada ano de serviço. Esse
valor é direito do trabalhador e não pode ser renunciado, nem por acordo
entre as partes, salvo nos casos expressamente previstos em lei. Exemplo: em
uma ação trabalhista em que o reclamante pleiteia o pagamento das verbas
rescisórias e décimo terceiro salário em atraso, a lei autoriza as partes a
transacionarem o crédito resultante da somatória de todos os valores devidos
ao empregado, desde que essa transação ocorra por livre e espontânea
vontade das partes sem qualquer espécie de coação.

O 13º salário deve ser pago sobre a média das remunerações mensais
percebidas pelo trabalhador, quando tiver em seu salário parte fixa mais
parte variável – salário base mais comissão, por exemplo.

Como se calcula o 13º salário proporcional? O trabalhador tem direito a 1/12


– um doze avos – de 13º salário a cada mês em que houver trabalhado, efeti-
vamente, durante, no mínimo, 15 dias. Exemplo: João ganha mensalmente um
salário de 500,00 e foi admitido para trabalhar na empresa no dia 20 do mês
de maio de determinado ano. Quando chegar dezembro, no ano da contrata-
ção, terá trabalhado 7 meses e 10 dias e, portanto, terá direito a 7/12 – sete doze
avos – de 13º salário.

Assim:
R$ 500,00 ÷ 12 meses = R$ 41,66
R$ 41,66 × 7 meses = R$ 291,66

12. Trabalho Autônomo


É o trabalho prestado por uma pessoa física de forma esporádica ou eventual,
não subordinado, remunerado, sem vínculo empregatício para execução de
serviços específicos.

13. Proteção da Mulher e do Menor


A lei trabalhista assegura à empregada mulher o direito à estabilidade
provisória durante todo o período gestacional e o direito à licença maternidade
por 120 dias. Garante o direito a faltas justificadas para realização do pré-natal
e dos exames necessários.

42
O empregador não pode contratar mulheres para trabalhos em minas e
subsolos, ou para trabalhos que envolvam levantamento de peso, subir em
andaimes pelo lado externo das edificações e outros que envolvam alto grau
de periculosidade ou insalubridade.

Quanto ao menor, a lei e a Jurisprudência reconhecem sua fragilidade e seu


direito à educação e ao desenvolvimento integral. Nesse sentido, fica proibida
a contratação de menores de 16 anos.

O menor, assim como os demais trabalhadores em idade escolar, tem direito


a sair mais cedo para chegar a tempo no local de seus estudos. As férias do
menor devem coincidir com as férias escolares.

O menor está proibido de trabalhar à noite e, no que tange a horas extras,


poderá efetuar no máximo duas por dia, desde que a jornada extra não
acarrete faltas na escola.

Exercícios Propostos

1. Defina Direito do Trabalho.


_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

2. Associe as duas colunas, relacionando o princípio do Direito do Trabalho


com a sua definição:
1. Princípio da Proteção ( ) Qualquer cláusula contratual que
2. Princípio da Primazia da trate sobre renúncia de direitos é
Realidade considerada nula de pleno direito.
3. Princípio da Irredutibilidade ( ) É vedada a redução dos salários dos
dos Salários empregados, salvo disposição em
4. Princípio da Irrenunciabilidade sentido contrário em acordo ou
dos Direitos Trabalhistas convenção coletiva.
( ) Vige a realidade prática da relação
trabalhista independentemente do
que estiver escrito no contrato ou
na Carteira de Trabalho e Previdên-
cia Social.
( ) Tem a finalidade de proteger o tra-
balhador e estabelecer um equilí-
brio na relação contratual existente
entre ele e o empregador.

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A sequência correta dessa associação é:
( ) a) (1), (2), (3), (4).
( ) b) (2), (3), (4), (1).
( ) c) (3), (4), (2), (1).
( ) d) (4), (2), (3), (1).
( ) e) (4), (3), (2), (1).

3. A lei prevê uma jornada diária máxima de trabalho de ________________


e jornada semanal máxima de _____________. As horas extras são
remuneradas com adicional de ____________.
Assinale a sequência que preenche as lacunas de forma correta:
a) 8 horas, 44 horas, 50%.
b) 12 horas, 50 horas, 30%.
c) 6 horas, 40 horas, 100%.
d) 8 horas, 40 horas, 50%.
e) 44 horas, 8 horas, 50%.

4. Leia as assertivas abaixo e assinale a alternativa correta:


III. As hipóteses de embriaguez se aplicam a qualquer substância entorpecente e
não só ao álcool.
III. Todo trabalhador tem direito ao descanso por determinado período após
completar o período aquisitivo de um ano de trabalho.
III. O empregador pode contratar mulheres para trabalhos em minas e subsolos.
IV. O menor não está proibido de trabalhar à noite.

São corretas as assertivas:


( ) a) I e IV.
( ) b) II e IV.
( ) c) II e III.
( ) d) III e IV.
( ) e) I e II.

5. Os salários do trabalhador são impenhoráveis, segundo a CLT.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

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Lição 4 - Ética e Moral

Para entendermos a ética, é bom estudar um pouco de filosofia. Aristóteles


entendia a ética como sendo o estudo de virtudes e vícios de caráter do ser
humano no seu agir em sociedade. Kierkegaard e Foucault compreendiam
a ética como a busca e esforço humano para existir com beleza e dignidade,
e chamavam-na de “a arte de viver”. Kant entende a ética como a ciência
do “dever ser” justificada pelo “imperativo categórico”, o que significa que
a ética separa a moral da religião, entende que os acontecimentos da vida
devem ser avaliados com a razão e as decisões têm que ser racionalmente
morais. Vamos estudar os princípios da ética e da disciplina na vida
profissional e pessoal.

Ao término desta lição, você deverá ser capaz de:


a) aprender que se é importante para a sociedade em que vive e que pode
fazer grande diferença no progresso e na humanização de nosso país;
b) compreender o significado e a importância da ética em sua vida e sua
profissão.

1. Conceito e Problemas da Ética


A palavra ética vem do grego ethos, significando modo de ser ou caráter,
como forma de vida. A ética preocupa-se com a relação entre liberdade de
escolha de um lado e moral de outro. As questões da ética circundam a vida
humana e se resolvem com o uso da consciência para a tomada de decisões
finais. Ela responde questões como: Por que devo ajudar o próximo? Por que
ser honesto com o cliente? Por que cumprir as leis? Em que consiste a res-
ponsabilidade profissional? Por que devo zelar pela conservação das partes
comuns do condomínio em que vivo? Por que não se deve dirigir bêbado? etc.

A ética deve ser compreendida como uma ciência moderna que conduz o
homem a uma reflexão sobre a responsabilidade de sua conduta e como ela
reflete em sua felicidade e interfere na ordem social.

Os problemas da ética consistem em responder questões de natureza exis-


tencial, como: O que é o homem? Qual a razão de ser do homem? Por que o
homem deve obedecer normas se é livre em sua essência?

O ser humano é, por natureza, um ser investigativo, curioso, insaciável de


conhecimentos sobre si mesmo. Sente a necessidade de saber de onde veio
e para que veio, qual o seu papel no mundo, por que precisa passar por

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sofrimentos e dificuldades e como pode modificar sua realidade tornando a
vida mais doce e tranquila.

Essencialmente livre, muitas vezes o ser humano se revolta contra as regras


impostas, pois são elaboradas por outros seres humanos, os quais também
são falíveis e nem sempre as normas são justas.

A ética como ciência se dedica a responder filosoficamente a todas essas


questões, inclusive atrelando-as à realidade do mundo, servindo de guia para
a tomada de boas decisões.

2. Ética, Direito e Moral


A ética está ligada às formas de conduta das pessoas e diz respeito ao
comportamento correto e adequado em situações concretas.

A moral diz respeito aos valores internos e pessoais internalizados ao longo


da existência humana, que podem ser comuns a várias pessoas, criando certa
identidade de pensamento e proceder entre elas.

O Direito, por meio de leis e normas jurídicas, disciplina as mais variadas


relações entre particulares e o Estado, entre dois ou mais Estados, e dos
indivíduos uns com os outros, assegurando a ordem social e estatal. O Direito
trata de valores externos e considerados corretos no contexto geral de uma
determinada sociedade, nos limites territoriais de um determinado Estado.

Algumas vezes, a moral e o Direito se conflitam, pois nem sempre as leis são
consideradas moralmente corretas por todos os membros de uma mesma
sociedade.

A ética questiona e confronta a moral e o Direito, descrevendo formas de


comportamento adequadas e aplicáveis às situações concretas do cotidiano
e no exercício profissional. Ela se preocupa em distinguir o bem do mal,
impondo limites necessários à ordem social e ao bem comum. A ética serve
de mediadora e conciliadora entre o Direito e a moral.

2.1 Virtudes Essenciais ao Homem

A virtude não se aprende, é um valor que o homem internaliza ao longo


de suas experiências existenciais. Existem algumas virtudes essenciais ao
homem que devem ser observadas no exercício de toda e qualquer profissão,
como: honestidade, prudência, humildade, empatia, compreensão, sigilo,
perseverança, solidariedade, coragem, competência e capacidade para
vencer desafios.

Honestidade: quando alguém procura os serviços de um profissional,


espera encontrar alguém de confiança, capacitado, decente e digno, que irá
solucionar seus problemas de forma legal, definitiva e ética. Um profissional

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não deve usar de artifícios para enganar as outras pessoas ou obter vantagens
indevidas.

Prudência: o profissional conhece os riscos e as vantagens das atividades de


sua área e deve avaliá-los antes de tomar qualquer atitude, esclarecendo a
seu cliente ou chefe sobre a situação e as medidas mais adequadas ao caso
concreto.

Humildade: consiste na virtude de reconhecer suas falhas, redimir-se de seus


erros e saber admitir quando não entende do assunto a ser tratado, buscando
aperfeiçoar-se e estando sempre disposto a aprender.

Empatia: é a capacidade de ouvir o outro e colocar-se em sua posição,


entendendo o que ele sente e pensa para encontrar a solução mais apropriada.

Compreensão: capacidade de perceber o problema na integralidade, sem


envolver-se emocionalmente com a situação, entendendo a posição do outro
e facilitando o diálogo e o encontro de soluções.

Sigilo: fator essencial e determinante do sucesso ou insucesso profissional


de muitos. Existem profissões em que a quebra do sigilo constitui crime –
psicólogos, advogados, médicos, gerentes de instituições financeiras etc. –;
salvo nos casos expressamente previstos em lei.

O cliente ou chefe, quando se dirige a um profissional, quer sentir-se à vontade


para expor sua problemática e suas necessidades, confidenciando assuntos
que exigem total sigilo.

Perseverança: é uma grande virtude e está atrelada à autoconfiança e


à fé. Consiste na força interior que nos motiva a prosseguir, mesmo que
aparentemente as barreiras do meio do caminho sejam intransponíveis.

No cotidiano, os profissionais se deparam com situações em que são incom­


preendidos ou mal interpretados, principalmente quando exercem atividades
de meio, pois os chefes e os clientes sempre esperam um resultado positivo,
que nem sempre é possível atingir.

Solidariedade: a realidade socioeconômica em que vivemos exige cada vez


mais a colaboração de profissionais de diversas áreas, para que a população
menos favorecida, que não tem condições de subsistir com a própria renda,
seja atendida em suas necessidades.

Se cada um contribuir com seu trabalho na medida de suas possibilidades,


prestando ajuda aos colegas dentro da empresa, às pessoas necessitadas,
aos parentes e amigos, aos poucos todos estarão assistidos e terão suas
necessidades satisfeitas.

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Falar em solidariedade nem sempre significa almejar contribuição em
dinheiro. Muitas vezes um pequeno gesto, uma palavra amiga, um sorriso, um
abraço ou até mesmo ouvir o problema do outro já é de grande valia.

Coragem: elemento essencial da vida, ajuda-nos em nossas defesas, capacita-


nos a vencer obstáculos e a reagir diante de situações adversas e inesperadas.
A coragem nos impulsiona a criar coisas novas e a modificar as já existentes.

Competência: a pessoa só deve exercer uma profissão se estiver devidamente


preparada e instruída para fazê-lo, sendo sua obrigação atualizar-se
constantemente sobre novas técnicas, regras e procedimentos.

Capacidade para vencer desafios: no cotidiano nos deparamos com diversos


obstáculos, não podemos desistir diante deles, precisamos enfrentá-los e
aprender com eles, o que significa crescer como pessoa e como profissional.

2.2 Ética e Educação

A educação como instrumento de formação ética do indivíduo é de


importância fundamental e deve iniciar-se desde a pré-escola, ensinando
valores morais e sociais.

É necessário que, desde criança, tomemos contato com a realidade de que


somos seres sociais e que as nossas atitudes podem influenciar de forma
positiva ou negativa a vida das outras pessoas.

Vivemos atualmente uma política educacional de inclusão social que visa a


formar o homem em sua integralidade, buscando a criação de uma sociedade
mais justa e solidária, com menos desigualdades e mais consciência.

A ética confirma que a educação atinja sua função social, pois conduz os
educandos a uma reflexão sobre os problemas socioeconômicos e políticos
do país e a uma autoanálise de sua própria vida e de como pode modificar e
melhorar a realidade atual.

2.3 Ética e Cidadania

A ética faz distinção entre o bem e o mal, confronta o Direito e a moral,


questiona a realidade social e política de um país, levanta polêmicas e cria
axiomas – parâmetros de ação.

Como ciência, produz conhecimento e desenvolve técnicas e regras de


crescimento e realização do bem comum. Não há consenso no que consiste o
bem comum, sendo discutida pela ética quando se trata de aliar a cidadania
ao exercício efetivo dos direitos humanos assegurados pela ONU e inclusos
na nossa Constituição Federal.

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Não há como falar em cidadania diante da fome, da miséria e de tantas
discrepâncias sociais, com as quais nos deparamos. É uma questão ética
criar uma consciência nacional de igualdade, trabalho, solidariedade e
desenvolvimento progressivo e conjunto, em que políticos e cidadãos somem
esforços e lutem juntos por uma verdadeira cidadania, construindo uma
nação em que impere a supremacia do bem comum e dos interesses sociais.

Para que tal ideal se transforme em realidade, é necessário que cada classe
profissional contribua com suas regras éticas, fiscalizando o proceder de seus
afiliados e punindo aqueles que utilizarem seu registro para fins ilícitos ou em
detrimento de terceiros e da sociedade como um todo.

2.4 Ética no Brasil

É notório que vivemos um momento de crise mundial, com grandes índices


de analfabetismo, desnutrição, fome e desemprego, em diversos países; mas
estamos na era da evolução e da política mundial dos direitos humanos,
da globalização e da inclusão social. Todos lutam contra as desigualdades
e aderem a Convenções e Tratados Internacionais de Direitos Sociais e
Fundamentais.

No Brasil é crescente a atuação de Organizações Não Governamentais – ONGs


–, sem fins lucrativos, em que os próprios membros da sociedade se agrupam
para proporcionar educação, alimentação, saúde, esportes, informação e
acesso à justiça à população menos favorecida.

O governo tem demonstrado maior preocupação com os problemas sociais,


utilizando-se da mídia para conscientizar a Nação de que, embora a garantia
dos direitos fundamentais e sociais seja um dever do Estado, cada cidadão
tem sua parcela de responsabilidade na reconstrução social e econômica do
país.

Essa política de união de forças e conscientização nacional dos problemas


socioeconômicos é a expressão da materialização da ética.

Neste sentido, a ética desperta no ser humano a solidariedade e a certeza de


sua importância na comunidade.

Nosso proceder pessoal e profissional tem reflexos significativos na sociedade.


Não somos apenas um número. Não importa a profissão, raça, cor ou classe
social, sempre precisamos pensar antes de agir, ser uma pessoa virtuosa e
jamais utilizar-se do “egoísmo-ético”, o que significa a teoria que fundamenta
comportamentos em que o indivíduo ao proceder pensa apenas nas
vantagens que obterá para si, sem se preocupar se causará danos a terceiros.

No Brasil, o “egoísmo ético” é inaceitável. Precisamos ter a consciência de


que vivemos em um país em que somos participantes ativos e diretos de
um processo de crescimento e retomada da economia, no qual a sociedade
combate a exclusão social e as desigualdades que impedem o progresso.

49
2.5 Ética Profissional

Toda classe profissional necessita de normas e regras apropriadas ao contexto


das situações que possam surgir no exercício da profissão, chamadas de
Código de Ética Profissional.

Todo ser humano é sujeito de deveres e direitos. Percebemos que o direito


de um corresponde a um dever de outro. Por exemplo: o direito do cliente
de receber um serviço perfeito e no prazo fixado corresponde ao dever
do profissional contratado, de desempenhar suas tarefas com sabedoria,
conhecimento, capricho e pontualidade. Caso não realize suas funções
corretamente, o profissional deverá arcar com as consequências de seus atos,
pois toda ação corresponde uma reação.

Se o indivíduo infringir uma norma, seja ela moral, de direito ou de ética, terá
de suportar as consequências de seu erro. Quando uma pessoa quebra uma
regra moral, ela sofre sanções internas – autorreprovação – e/ou reprovação
social. Se o comportamento constituir uma desobediência à ética, seu
agente receberá as penalidades estipuladas no Código de Ética de sua classe
profissional, que vão desde uma simples advertência até a perda da licença
para o exercício da profissão.

Todo profissional responde civil e criminalmente pelas infrações que comete


no exercício de sua profissão, sanções que não excluem a aplicação das
penalidades do Código de Ética Profissional.

O Código de Ética Profissional vincula todos os profissionais da classe que


regulamenta. Por exemplo: o Código de Ética dos Médicos vale como lei
perante todo e qualquer médico, mesmo que não o CRM. Toda pessoa que
exercer atividade própria e exclusiva de médico, sem a devida formação e
licença profissional, responderá por exercício ilegal da profissão e também
suportará as cominações do Código de Ética dos Médicos.

A Ética Profissional baseia-se em valores comuns a profissionais de uma


mesma área, descrevendo condutas que deverão ser praticadas pelos
profissionais no desempenho de suas funções.

2.6 Ética Profissional e Individualismo

O profissional deve deixar de lado seu individualismo e colocar acima de


tudo a ética na tomada de decisões profissionais para evitar comportamentos
egoístas e destrutivos.

É comum, principalmente quando se trata de profissionais liberais e


autônomos, que se avalie logo de início os lucros e os recebimentos para
decidir se vale ou não a pena aceitar o serviço. Na vida deve-se buscar a
realização humana integral.

50
Se o serviço a ser realizado não for lícito, ou se os meios a serem utilizados
para sua execução não forem honestos, ou até mesmo se o motivo e os meios
forem corretos, mas os fins forem ilícitos ou maus, o valor recebido não
compensará o peso da consciência e nem os dissabores da atitude antiética.

2.7 Código de Ética

Vamos ler a seguir o Código de Ética do ramo da engenharia para nos ajudar
a entender como funciona um código.

Código de ética profissional da engenharia, da arquitetura, da agronomia,


da geologia, da geografia e da meteorologia

As Entidades Nacionais representativas dos profissionais da Engenharia, da Arquitetura, da


Agronomia, da Geologia, da Geografia e da Meteorologia pactuam e proclamam o presente
Código de Ética Profissional.

Brasília, 06 de novembro de 2002

Relação das Entidades Nacionais signatárias:


1 - ABEA - Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos
2 - ABEA - Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura
3 - ABEAS - Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior
4 - ABEE - Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas
5 - ABENC - Associação Brasileira de Engenheiros Civis
6 - ABENGE - Associação Brasileira de Ensino de Engenharia
7 - ABEQ - Associação Brasileira de Engenharia Química
8 - ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
9 - ABETI - Associação Brasileira de Ensino Técnico Industrial
10 - AGB - Associação dos Geógrafos Brasileiros
11 - CONTAE - Conselho Nacional das Associações de Técnicos Industriais
12 - CONFAEAB – Confederação das Federações de Engenheiros Agrônomos
do Brasil
13 - FAEMI - Federação das Associações de Engenheiros de Minas do Brasil
14 - FAEP-BR - Federação das Associações dos Engenheiros de Pesca do Brasil
15 - FEBRAE - Federação Brasileira de Associações de Engenheiros
16 - FEBRAGEO - Federação Brasileira de Geólogos
17 - FENATA - Federação Nacional dos Técnicos Agrícolas
18 - FENEA - Federação Nacional dos Engenheiros Agrimensores
19 - FENTEC - Federação Nacional dos Técnicos Industriais

51
20 - FISENGE - Federação Interestadual de Sindicato de Engenheiros
21 - FNA - Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas
22 - FNE - Federação Nacional dos Engenheiros
23 - IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil
24 - IBAPE - Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia
25 - SBEA - Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola
26 - SBEF - Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais
27 - SBMET - Sociedade Brasileira de Meteorologia
28 - SOBES - Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurança

Preâmbulo

Art. 1º - O Código de Ética Profissional enuncia os fundamentos éticos e as


condutas necessárias à boa e honesta prática das profissões da Engenharia,
da Arquitetura, da Agronomia, da Geologia, da Geografia e da Meteorologia e
relaciona direitos e deveres correlatos de seus profissionais.

Art. 2º - Os preceitos deste Código de Ética Profissional têm alcance sobre


os profissionais em geral, quaisquer que sejam seus níveis de formação,
modalidades ou especializações.

Art. 3º - As modalidades e especializações profissionais poderão estabelecer,


em consonância com este Código de Ética Profissional, preceitos próprios de
conduta atinentes às suas peculiaridades e especificidades.

Da identidade das profissões e dos profissionais

Art. 4º - As profissões são caracterizadas por seus perfis próprios, pelo saber
científico e tecnológico que incorporam, pelas expressões artísticas que
utilizam e pelos resultados sociais, econômicos e ambientais do trabalho que
realizam.

Art. 5º - Os profissionais são os detentores do saber especializado de suas


profissões e os sujeitos proativos do desenvolvimento.

Art. 6º - O objetivo das profissões e a ação dos profissionais volta-se para


o bem-estar e o desenvolvimento do homem, em seu ambiente e em suas
diversas dimensões: como indivíduo, família, comunidade, sociedade, nação
e humanidade; nas suas raízes históricas, nas gerações atual e futura.

Art. 7º - As entidades, instituições e conselhos integrantes da organização


profissional são igualmente permeados pelos preceitos éticos das profissões e
participantes solidários em sua permanente construção, adoção, divulgação,
preservação e aplicação.

52
Dos princípios éticos

Art. 8º - A prática da profissão é fundada nos seguintes princípios éticos aos


quais o profissional deve pautar sua conduta: Do objetivo da profissão.
I - A profissão é bem social da humanidade e o profissional é o agente
capaz de exercê-la, tendo como objetivos maiores a preservação e o
desenvolvimento harmônico do ser humano, de seu ambiente e de seus
valores; Da natureza da profissão.
II - A profissão é bem cultural da humanidade construído permanentemente
pelos conhecimentos técnicos e científicos e pela criação artística,
manifestando-se pela prática tecnológica, colocado a serviço da melhoria da
qualidade de vida do homem; Da honradez da profissão.
III - A profissão é alto título de honra e sua prática exige conduta honesta,
digna e cidadã; Da eficácia profissional.
IV - A profissão realiza-se pelo cumprimento responsável e competente
dos compromissos profissionais, munindo-se de técnicas adequadas,
assegurando os resultados propostos e a qualidade satisfatória nos
serviços e produtos e observando a segurança nos seus procedimentos; Do
relacionamento profissional
V - A profissão é praticada através do relacionamento honesto, justo e com
espírito progressista dos profissionais para com os gestores, ordenadores,
destinatários, beneficiários e colaboradores de seus serviços, com igualdade
de tratamento entre os profissionais e com lealdade na competição; Da
intervenção profissional sobre o meio.
VI - A profissão é exercida com base nos preceitos do desenvolvimento
sustentável na intervenção sobre os ambientes natural e construído e da
incolumidade das pessoas, de seus bens e de seus valores; Da liberdade e
segurança profissionais
VII - A profissão é de livre exercício aos qualificados, sendo a segurança de
sua prática de interesse coletivo.

Dos deveres

Art. 9º - No exercício da profissão são deveres do profissional:

I - ante ao ser humano e a seus valores:


a) oferecer seu saber para o bem da humanidade;
b) harmonizar os interesses pessoais aos coletivos;
c) contribuir para a preservação da incolumidade pública;
d) divulgar os conhecimentos científicos, artísticos e tecnológicos inerentes
à profissão.

II - ante à profissão:
a) identificar-se e dedicar-se com zelo à profissão;
b) conservar e desenvolver a cultura da profissão;

53
c) preservar o bom conceito e o apreço social da profissão;
d) desempenhar sua profissão ou função nos limites de suas atribuições e de
sua capacidade pessoal de realização;
e) empenhar-se junto aos organismos profissionais no sentido da
consolidação da cidadania e da solidariedade profissional e da coibição
das transgressões éticas.

III - nas relações com os clientes, empregadores e colaboradores:


a) dispensar tratamento justo a terceiros, observando o princípio da
equidade;
b) resguardar o sigilo profissional quando do interesse de seu cliente ou
empregador, salvo em havendo a obrigação legal da divulgação ou da
informação;
c) fornecer informação certa, precisa e objetiva em publicidade e
propaganda pessoal;
d) atuar com imparcialidade e impessoalidade em atos arbitrais e periciais;
e) considerar o direito de escolha do destinatário dos serviços, ofertando-
lhe, sempre que possível, alternativas viáveis e adequadas às demandas
em suas propostas;
f) alertar sobre os riscos e responsabilidades relativos às prescrições
técnicas e às consequências presumíveis de sua inobservância;
g) adequar sua forma de expressão técnica às necessidades do cliente e às
normas vigentes aplicáveis.

IV - nas relações com os demais profissionais:


a) atuar com lealdade no mercado de trabalho, observando o princípio da
igualdade de condições;
b) manter-se informado sobre as normas que regulamentam o exercício da
profissão;
c) preservar e defender os direitos profissionais.

V - ante ao meio:
a) orientar o exercício das atividades profissionais pelos preceitos do
desenvolvimento sustentável;
b) atender, quando da elaboração de projetos, execução de obras ou criação
de novos produtos, aos princípios e recomendações de conservação de
energia e de minimização dos impactos ambientais;
c) considerar em todos os planos, projetos e serviços as diretrizes e
disposições concernentes à preservação e ao desenvolvimento dos
patrimônios sociocultural e ambiental.

54
Das condutas vedadas

Art. 10 - No exercício da profissão são condutas vedadas ao profissional:

I - ante ao ser humano e a seus valores:


a) descumprir voluntária e injustificadamente com os deveres do ofício;
b) usar de privilégio profissional ou faculdade decorrente de função de
forma abusiva, para fins discriminatórios ou para auferir vantagens
pessoais;
c) prestar de má-fé orientação, proposta, prescrição técnica ou qual quer
ato profissional que possa resultar em dano às pessoas ou a seus bens
patrimoniais.

II - ante à profissão:
a) aceitar trabalho, contrato, emprego, função ou tarefa para os quais não
tenha efetiva qualificação;
b) utilizar indevida ou abusivamente do privilégio de exclusividade de
direito profissional;
c) omitir ou ocultar fato de seu conhecimento que transgrida à ética
profissional.

III - nas relações com os clientes, empregadores e colaboradores:


a) formular proposta de salários inferiores ao mínimo profissional legal;
b) apresentar proposta de honorários com valores vis ou extorsivos ou
desrespeitando tabelas de honorários mínimos aplicáveis;
c) usar de artifícios ou expedientes enganosos para a obtenção de vantagens
indevidas, ganhos marginais ou conquista de contratos;
d) usar de artifícios ou expedientes enganosos que impeçam o legítimo
acesso dos colaboradores às devidas promoções ou ao desenvolvimento
profissional;
e) descuidar com as medidas de segurança e saúde do trabalho sob sua
coordenação;
f) suspender serviços contratados, de forma injustificada e sem prévia
comunicação;
g) impor ritmo de trabalho excessivo ou exercer pressão psicológica ou
assédio moral sobre os colaboradores.

IV - nas relações com os demais profissionais:


a) intervir em trabalho de outro profissional sem a devida autorização de
seu titular, salvo no exercício do dever legal;
b) referir-se preconceituosamente a outro profissional ou profissão;
c) agir discriminatoriamente em detrimento de outro profissional ou
profissão;

55
d) atentar contra a liberdade do exercício da profissão ou contra os direitos
de outro profissional;

V - ante ao meio:
a) prestar de má-fé orientação, proposta, prescrição técnica ou qualquer
ato profissional que possa resultar em dano ao ambiente natural, à saúde
humana ou ao patrimônio cultural.

Dos direitos

Art. 11 - São reconhecidos os direitos coletivos universais inerentes às


profissões, suas modalidades e especializações, destacadamente:
a) à livre associação e organização em corporações profissionais;
b) ao gozo da exclusividade do exercício profissional;
c) ao reconhecimento legal;
d) à representação institucional.

Art. 12 - São reconhecidos os direitos individuais universais inerentes


aos profissionais, facultados para o pleno exercício de sua profissão,
destacadamente:
a) à liberdade de escolha de especialização;
b) à liberdade de escolha de métodos, procedimentos e formas de expressão;
c) ao uso do título profissional;
d) à exclusividade do ato de ofício a que se dedicar;
e) à justa remuneração proporcional à sua capacidade e dedicação e aos
graus de complexidade, risco, experiência e especialização requeridos por
sua tarefa;
f) ao provimento de meios e condições de trabalho dignos, eficazes e
seguros;
g) à recusa ou interrupção de trabalho, contrato, emprego, função ou tarefa
quando julgar incompatível com sua titulação, capacidade ou dignidade
pessoais;
h) à proteção do seu título, de seus contratos e de seu trabalho;
i) à proteção da propriedade intelectual sobre sua criação;
j) à competição honesta no mercado de trabalho;
k) à liberdade de associar-se a corporações profissionais;
l) à propriedade de seu acervo técnico profissional.

Da infração ética

Art. 13 - Constitui-se infração ética todo ato cometido pelo profissional que
atente contra os princípios éticos, descumpra os de- veres do ofício, pratique
condutas expressamente vedadas ou lese direitos reconhecidos de outrem.

56
Art.14 - A tipificação da infração ética para efeito de processo disciplinar será
estabelecida, a partir das disposições deste Código de Ética Profissional, na
forma que a lei determinar.

Entendemos o significado e a importância da ética na vida e na profissão.


Aprendemos que uma pessoa é importante para a sociedade em que vive e
que pode fazer grande diferença no progresso e na humanização de nosso
país.

Exercícios Propostos

1. O que é ética?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

2. A ética não se preocupa com a relação entre liberdade de escolha de um


lado e moral de outro. As questões da ética circundam a vida humana
e não se resolvem com o uso da consciência para a tomada de decisões
finais.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

3. Associe as duas colunas, relacionando as virtudes com a sua definição:


1. Honestidade ( ) O profissional conhece os riscos e as vantagens das
2. Prudência atividades de sua área e deve avaliá-los antes de tomar
3. Humildade qualquer atitude, sempre esclarecendo a seu cliente ou
4. Empatia chefe, sobre a situação e as medidas mais adequadas ao
5.Competência caso concreto.
( ) Consiste na virtude de reconhecer suas falhas, de redi-
mir de seus erros e saber admitir quando não entende
do assunto a ser tratado, buscando aperfeiçoar-se e
estando sempre disposto a aprender.
( ) Um profissional não deve usar de artifícios para enga-
nar as outras pessoas ou obter vantagens indevidas.
( ) A pessoa só deve exercer uma profissão se estiver devi-
damente preparada e instruída para fazê-lo, sendo sua
obrigação atualizar-se constantemente sobre novas
técnicas, regras e procedimentos.
( ) É a capacidade de ouvir o outro e colocar-se em sua
posição, entendendo o que ele sente e pensa, a fim de
encontrar a solução mais apropriada.

57
A sequência correta dessa associação é:
( ) a) (1), (2), (3), (4), (5).
( ) b) (2), (3), (1), (5), (4).
( ) c) (3), (1), (2), (4), (5).
( ) d) (2), (1), (5), (4), (3).
( ) e) (1), (4) (3), (5) (2).

4. Leia as assertivas abaixo e assinale a alternativa correta:


III. A ética não está ligada às formas de conduta das pessoas e diz respeito ao
comportamento correto e adequado em situações concretas.
III. Não existem virtudes essenciais ao homem que devem ser observadas no
exercício de toda e qualquer profissão.
III. Quando uma pessoa quebra uma regra moral, ela sofre sanções internas.
IV. Ao desobedecer às regras da ética, a pessoa receberá as penalidades respectivas,
previamente estipuladas no Código de Ética de sua classe profissional.

São corretas as assertivas:


( ) a) I e III.
( ) b) II e IV.
( ) c) II e III.
( ) d) III e IV.
( ) e) I e II.

5. A Ética Profissional baseia-se em ____________ a profissionais de uma


mesma área, descrevendo ____________ que deverão ser praticadas
pelos profissionais no desempenho de suas funções. A esse conjunto
normativo denominamos ______________
Assinale a sequência que preenche as lacunas de forma correta:
( ) a) Valores diferentes, penas, Código Penal.
( ) b) Valores comuns, penas, Código de Ética Profissional.
( ) c) Valores comuns, condutas, Código de Ética Profissional.
( ) d) Valores diferentes, condutas, Código Penal.
( ) e) Valores comuns, condutas, Código Moral.

58
Lição 5 - Direito Comercial ou Empresarial

Direito Comercial é uma disciplina de muitos nomes, no mundo todo:


mercantil, empresarial, dos negócios etc. O Código Civil abriga, desde
2002, parte das disposições legais que regem a matéria objeto de estudo da
disciplina no seu Livro “Direito da Empresa”, com o que lhe deu mais um
nome.

Independente do nome que se dê, é importante ficar claro que o direito


comercial trata da disciplina jurídica da exploração de atividades
econômicas.

Ao término desta lição, você deverá ser capaz de:


a) conhecer conceito de empresário e seus requisitos legais, de empresa;
c) conhecer exemplos de tipos de empresas;
d) diferenciar estabelecimento empresarial e nome empresarial;
e) saber o conceito de títulos de crédito e suas espécies.

1. Conceito de Empresa
Desde 2002, quando o Direito Comercial passou a ser disciplinado pelo Código
Civil, o conceito de empresa passou a significar atividade econômica, negocial,
que ocorre de forma organizada voltada para a produção ou circulação de
bens ou serviços.

A partir dessa definição, diferenciou-se o conceito de empresa, de empresário,


de sociedade empresária e de estabelecimento empresarial. É comum
usarmos empresa para nos referirmos a esses conceitos, mas, legalmente, há
importantes diferenças entre eles.

A pessoa jurídica empresária é cotidianamente denominada empresa e


os seus sócios são chamados empresários. Em termos técnicos, empresa
é a atividade e não a pessoa que a explora e o empresário não é o sócio da
sociedade empresarial, mas a própria sociedade.

2. Conceito de Empresário
O art. 966, do Código Civil, considera empresário aquele que pratica atividade
empresária. Essa é uma definição material do conceito de empresário, sendo
ele o sujeito de direitos e obrigações que exerce a atividade econômica
organizada para a circulação de bens ou serviços, exceto a atividade intelectual.

59
Nem todo sócio ou acionista é empresário, só será se possuir cargo de
administração e participar de forma efetiva da organização da atividade.
Aquele que somente investe, mas não administra a atividade econômica, é
considerado investidor, mas não empresário.

Nota Jurídica
O conceito de empresa significa atividade econômica – que busca lucro – organizada e
explorada por um empresário, que pode ser uma pessoa física ou jurídica. No primeiro
caso, aquele que exerce a atividade econômica se chama empresário individual; no
segundo caso, sociedade empresária. Como é a pessoa jurídica que explora a atividade
empresarial, não é correto chamar de empresário o sócio da sociedade empresária.

2.1 Requisitos para ser Empresário


Dois são os requisitos para que seja possível se inscrever como empresário
individual: plena capacidade civil e ausência de impedimentos.

Quanto ao requisito da capacidade, o Código Civil determina que para


requerer a inscrição como empresário é necessário ter plena capacidade
civil; não sendo possível requerer a inscrição por representante ou assistente.

Caso uma pessoa registrada como empresário se torne civilmente incapaz, a


atividade empresarial poderá ser continuada por meio de um representante
ou assistente. Essa incapacidade superveniente poderá ocorrer quando
o próprio empresário passa por um processo de interdição e é declarado
incapaz ou quando ele falece e seus herdeiros são incapazes.

O segundo requisito é a ausência de impedimento. Determinadas pessoas,


por causa do cargo ou função que ocupam ou em virtude de algumas
circunstâncias pessoais, não podem exercer atividade de empresário, mas se
o fizer, responderão pelas obrigações contraídas. São impedidos de exercer
atividade empresarial:
• Os falidos não reabilitados;
• Os funcionários públicos;
• Os devedores do INSS;
• Os deputados e os senadores, no caso de empresas que tenham firmado
contratos com o governo;
• Os condenados por prática de crime que vede o acesso à atividade
empresarial.

2.2 Empresário Individual

Toda e qualquer pessoa física que atenda aos requisitos descritos no item
anterior poderá praticar a atividade empresária, criando e organizando o
negócio e deverá se inscrever na Junta Comercial.

60
O empresário individual deve fazer sua inscrição na Junta Comercial antes de
iniciar sua atividade. A única exceção ocorre no caso de pessoa que desenvolve
atividade rural, a qual é dispensada de realizar esse registro.

Ao se registrar na Junta Comercial, o empresário individual não adquire


personalidade jurídica; ou seja, essa pessoa responderá com seus bens
pessoais em casos de dívidas adquiridas no exercício da atividade. O inverso
também poderá acontecer. Se o empresário possuir dívidas particulares
e não conseguir quitá-las, isso poderá atingir o patrimônio utilizado pela
atividade empresária. De acordo com o Código Civil, o empresário casado não
precisa pedir autorização ao cônjuge para se desfazer de bens que integrem
o patrimônio da empresa.

É possível que se decrete à falência do empresário individual, de acordo com


a lei de falências.

2.3 Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI

Essa empresa ocorre quando determinada pessoa natural constitui pessoa


jurídica para exploração de empresa, sem a necessidade de se juntar a algum
sócio. Com a criação da EIRELI, o indivíduo protege seus bens particulares
não envolvidos com a exploração da atividade, criando uma pessoa jurídica
que assume os direitos e as obrigações relativas à empresa.

Com a criação da EIRELI em 2011, o empresário individual passou a ter a


opção de separar seus bens pessoais dos bens envolvidos com a empresa.
Para que seja constituída a EIRELI, deve ser estabelecido um capital do, no
mínimo, cem salários mínimos, limitando o direito de constituição e EIRELI
aos pequenos negócios.

Nota Jurídica

Empresário Individual EIRELI


Não forma pessoa jurídica, sendo a Cria uma pessoa jurídica que terá
personalidade jurídica é única. personalidade jurídica distinta daquele
que a forma.
Pode ter qualquer valor de Precisa de um investimento mínimo de
investimento. cem salários mínimos.
Empresário assume os riscos do Há separação das responsabilidades
negócio e terá seu patrimônio patrimoniais e o empresário, regra
particular penhorado em caso de geral, não arrisca seu patrimônio
dívida da atividade. particular.

3. Microempresa e Empresa de Pequeno Porte


As microempresas e as empresas de pequeno porte têm um tratamento
diferenciado devido à sua menor capacidade econômica. Essas atividades

61
necessitam de incentivos diferenciados para que possam competir no
mercado.

As inovações referentes ao tratamento diferenciado e favorecido a essas


atividades são relacionadas a:
• apuração e recolhimento de impostos e contribuições;
• cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias;
• acesso ao crédito e ao mercado, bem como preferência nas aquisições de
bens e serviços pelos poderes Públicos, à tecnologia, ao associativismo e às
regras de inclusão.

Atualmente, os parâmetros para enquadramento como microempresas são


os seguintes:
• ser empresário, pessoa jurídica, ou a ela equiparada;
• ter, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a
R$ 360.000,00.

Para o enquadramento como empresa de pequeno porte deverá ser:


• empresário, pessoa jurídica, ou a ela equiparada;
• ter, em cada ano, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e
sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e
seiscentos mil reais).

4. Elementos Obrigatórios da Atividade Empresária


Para que a empresa possa ser exercida são necessários dois elementos obriga­
tórios: estabelecimento empresarial e nome empresarial.

O primeiro é o elemento objetivo que representa o investimento realizado


para a criação do negócio e o segundo é o elemento identificador do sujeito
da atividade empresária.

4.1 Estabelecimento Empresarial

É o conjunto de bens reunidos pelo empresário para a exploração de sua


atividade econômica. A proteção jurídica do estabelecimento empresarial
visa à preservação do investimento realizado na organização da empresa.

Não há como dar início à exploração de qualquer atividade empresarial, sem a


organização de um estabelecimento, pois é o conjunto de bens indispensáveis
e úteis que o empresário reúne para explorar a atividade econômica, como:
• máquinas
• mercadorias em estoque
• veículos

62
• marca
• tecnologia
• clientela
4.2 Nome Empresarial

É o segundo elemento obrigatório para a prática da atividade empresária, que


se caracteriza como o elemento de identificação do empresário individual, da
EIRELI ou da sociedade empresária. Considera-se nome empresarial a firma
ou a denominação adotada para o exercício de empresa.

Para ser reconhecido no meio empresarial e poder exercer sua atividade de


forma regular, o titular da empresa precisa se identificar e registrar o seu
nome empresarial.

Nome empresarial é diferente do que se denomina de nome fantasia. Pode


ocorrer de o nome empresarial que é criado pelo empresário ou pelos sócios
da sociedade empresária não ser comercialmente interessante. Nesses casos,
pode ser criado um outro nome para servir de título do estabelecimento ou
de nome do produto, mas não é registrado. No momento de realização dos
atos oficiais, deverá ser usado o nome empresarial e terá proteção jurídica, ao
menos no âmbito do direito empresarial.

5. Propriedade Intelectual
É o ramo do Direito que protege a atividade criativa humana. Não é o bem final
que é protegido, mas sim a ideia. Designa um composto de direitos que visam
aos mesmos fins: assegurar a uma pessoa física ou jurídica o pleno exercício
dos seus meios industriais e comerciais e garanti-lo contra as intromissões de
terceiros por meio de usurpação e comportamentos ilícitos.

5.1 Bens Protegidos pela Propriedade Iintelectual

Atualmente, o Direito Industrial brasileiro é regulado pela Lei nº 9279/94, Lei


da Propriedade Industrial – LPI, que traz quatro bens jurídicos tutelados pela
propriedade industrial:
• Invenção: é o ato em que alguém cria um determinado objeto, fórmula ou
qualquer outro produto que era desconhecido. É protegido por patente.
• Modelo de utilidade: é um aperfeiçoamento técnico da invenção. Há
um acréscimo na utilidade do bem, pois deve representar um avanço
tecnológico, que os técnicos da área reputem como engenhoso. É
protegido por patente.
• Desenho industrial, também chamado de design: é a alteração na forma
e nas cores dos objetos, mas com mera finalidade estética, sem que
represente nenhum melhoramento. Distingue-se da obra de arte já que vai
ter aplicação na indústria. É protegido pelo registro.

63
• Marca: sinal distintivo que identifica produtos ou serviços. Também irá
receber o registro.

5.2 Condições da Patente

Para se conceder uma patente é preciso que a invenção ou o modelo de


utilidade atendam essas quatro condições:
• Novidade: a invenção tem que ser desconhecida dos cientistas ou
pesquisadores especializados.
• Atividade inventiva: não decorre de modo óbvio.
• lndustriabilidade: possibilidade de utilização ou produção do invento por
qualquer tipo de indústria.
• Desimpedimento: por razões de ordem pública, a invenção não pode ser
patenteada. São três impedimentos atuais: invenções contrárias à moral,
produtos resultantes da transformação do núcleo atômico e seres vivos.

5.3 Condições do registro

Quanto às condições de registro, temos que separar o registro do desenho


industrial do registro da marca.

►►5.3.1 Registro do desenho industrial


O registro de desenho industrial possui três condições:
• Novidade: mesma novidade exigida para as patentes.
• Originalidade: configuração visual distinta em relação aos objetos
anteriores.
• Desimpedimento: não pode ser registrado desenho que tenha natureza
puramente artística – as obras de arte são protegidas pelo direito autoral –;
ofenda a moral e os bons costumes e apresente forma comum.

►►5.3.2 Registro de marca


O registro da marca também irá demandar três requisitos para a concessão:
• Novidade relativa: necessário para que a marca cumpra sua função de
identificar o serviço ou produto.
• Não colidência com marca notória: pode ser indeferido o pedido de
registro que coincida com outra marca notória.
• Desimpedimento.
5.4 Proteção à propriedade industrial

Quem consegue a patente ou o registro no Instituto Nacional de Propriedade


Industrial – INPI tem o direito exclusivo sobre o uso da invenção, do modelo
de utilidade, do desenho ou da marca.

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Todo direito industrial pode ser licenciado – alugado – ou cedido – vendido. A
forma mais comum de se fazer tal licença é por meio do contrato de franquia.

A propriedade industrial envolve interesse público e deve ser usada em acordo


com os interesses sociais. Pode haver a quebra da patente, como nos casos
de medicamentos que tenham grande importância, mas são inacessíveis à
grande parte da população devido ao seu alto preço.

Se houver uso inadequado da patente, há a possibilidade de ocorrer licença


compulsória ou obrigatória de patentes, que significa uma suspensão
temporária do direito de exclusividade do titular de uma patente. Enquanto
estiver valendo essa suspensão, será permitida a produção, o uso, a venda
ou a importação do produto ou processo patenteado, por um terceiro, sem
necessidade da autorização do titular da patente.

Os bens protegidos pela propriedade industrial são de natureza patrimonial


e, por isso, sua proteção trata de um direito disponível. Sendo propriedade
industrial pode ser alienada ou cedida pelo seu proprietário de acordo com
sua autonomia privada, bastando que haja o interesse na alienação.

5.5 Extinção da Propriedade Industrial

O Direito Industrial pode se extinguir nas seguintes hipóteses:


• decurso do prazo de duração;
• caducidade;
• falta de pagamento de retribuição devida ao INPI;
• renúncia do titular;
• inexistência de representante legal no país.
6. Títulos de Crédito
Para compreender título de crédito, é preciso entender o conceito de crédito.
Crédito é uma palavra tem diferentes significados, mas o que nos interessa
aqui está ligado a uma necessidade econômica.

Em certo momento o homem percebeu que poderia negociar de forma


diferente seus bens: ao invés de se fazer a troca de um bem pelo outro
momentaneamente, criou-se a possibilidade de uma das partes negociantes
cumprir sua obrigação instantaneamente, mas a outra só vir a cumpri-la no
futuro.

Com o desenvolvimento da economia, a forma de ele se utilizar o crédito foi


sofrendo alterações: passou-se a fazer operações de crédito com prazos mais
longos, com a estipulação de garantias, com a utilização de diversas formas de
representação do negócio. Nesse crescimento uma necessidade surgiu: fazer
o crédito circular.

65
Os títulos de crédito surgem com propósito de facilitar a circulação do crédito.
É um documento abstrato e autônomo em que se representa um crédito
líquido e certo, que será cobrado nas condições estipuladas no documento.

6.1 Legislação Aplicável

Existem inúmeras leis sobre títulos de câmbio no Brasil, mas as principais


são:
• Decreto 2044/1908: a primeira lei sobre o assunto, regulamentou apenas
a letra de câmbio e a nota promissória, mas servia de base para todo e
qualquer título.
• Lei Uniforme de Genebra – LUG: trata apenas da Letra de Câmbio e Nota
Promissória, mas também serve de base para os demais títulos.
• Lei nº 5474/68: Lei da Duplicata.
• Lei nº 7357/85: Lei do Cheque.
• Código Civil de 2002 – arts. 887 a 926: estabeleceu uma teoria geral dos
títulos de crédito.

6.2 Características

As características dos títulos de crédito são:


• É documento de natureza comercial, tanto pela sua origem como pelo seu
uso.
• É um bem móvel: define que a entrega – tradição – do título transfere a
titularidade.
• Somente mediante a apresentação da cártula é que o titular poderá fazer
prova de quais são os direitos que possui em virtude do título e exercê-los.
• Aquele que paga tem o direito de receber o título, tem o direito de resga­tá-lo.
• A possibilidade de circulação do crédito.
6.3 Espécies de Títulos de Crédito

No Direito Brasileiro, temos as seguintes espécies de títulos de crédito:


• Letra de câmbio: é o título de crédito em que o sacador declara que o
sacado pagará ao tomador ou beneficiário uma quantia certa, em local e
data certos. É uma ordem de pagamento. Quem realiza o saque, a emissão
do título, inicialmente não é o responsável pelo pagamento. Esse é o título
de crédito mais antigo da história, mas atualmente está em desuso.
• Cheque: representa uma ordem de pagamento. É o título cambiário que
resulta da declaração unilateral de vontade do emitente ou sacador,
lastreado em prévia e disponível provisão de fundos em poder de banco
ou instituição financeira a ele assemelhada por lei – sacado. O sacador dá

66
uma ordem de pagamento contra o banco, uma ordem incondicional de
pagamento à vista, nas condições estabelecidas no título.
• Nota promissória: é o título pelo qual o emitente faz a outra pessoa, o
beneficiário, uma promessa de pagamento em seu favor ou à sua ordem,
nas condições constantes do título.
• Duplicata: é título cambiário extraído por vendedor ou prestador de
serviços, que registra o saque feito sobre o crédito resultante de compra e
venda mercantil ou prestação de serviços. Significa uma emissão de fatura
a ser paga.
• Cédulas de crédito: são promessas de pagamento emitidas pelo devedor
em razão de financiamento dado pelo credor, em que ficam bens do
devedor dados em garantia. Essa garantia é constituída no próprio título,
independentemente de qualquer outro instrumento jurídico.

Exercícios Propostos

1. Qual é o conceito de empresa?


_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

2. Segundo o Direito Comercial, verifique quais das assertivas abaixo são


verdadeiras e assinale a alternativa correta:
I. O empresário individual não forma pessoa jurídica, sendo a personalidade jurí-
dica única.
II. A empresa individual de responsabilidade limitada precisa de um investimento
mínimo de cem salários mínimos.
III. Na empresa individual de responsabilidade limitada não há separação das
responsabilidades patrimoniais e o empresário arrisca seu patrimônio particular.
IV. O empresário individual pode estabelecer sua atividade com qualquer valor de
investimento.

São verdadeiras as assertivas:


( ) a) I, II e IV.
( ) b) II, III e IV.
( ) c) I e III.
( ) d) II e IV.
( ) e) I, II e III.

67
3. Relacione corretamente as colunas abaixo e assinale a alternativa correta:
I. Invenção. ( ) É a alteração na forma e nas cores dos obje-
II. Modelo de utilidade. tos, mas com mera finalidade estética, sem
III. Desenho industrial. que represente nenhum melhoramento, com
IV. Marca. aplicação na indústria.
( ) Sinal distintivo que identifica produtos ou
serviços.
( ) É um aperfeiçoamento técnico da invenção.
( ) É o ato em que alguém cria um determinado
objeto, fórmula ou qualquer outro produto
que até era desconhecido.

( ) a) I, II, III, IV.


( ) b) II, III, IV, I.
( ) c) III, IV, II, I.
( ) d) IV, II, III, I.
( ) e) IV, III, I, II.

4. João, empresário, executou um serviço para seu cliente José. Como José
estava sem dinheiro no momento, pediu a João que emitisse _________,
que significa uma fatura a ser _______ por José.
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto:
( ) a) Letra de câmbio, assinada.
( ) b) Duplicata, paga.
( ) c) Cheque, dada.
( ) d) Nota promissória, assinada.
( ) e) Duplicata, vendida.

5. Assinale a alternativa que indique as características dos títulos de crédito:


III. É um bem móvel, transmite-se a sua titularidade mediante entrega.
III. É um documento de natureza comercial.
III. Não ajuda a circulação de crédito.
IV. Quem paga o título de crédito não tem direito de resgatá-lo.

( ) a) II e IV.
( ) b) I, II e III.
( ) c) I e III.
( ) d) I e II.
( ) e) III e IV.
5. D
4. B
3. C
2. A
por um empresário, que pode ser tanto uma pessoa física quanto jurídica.
1. O conceito de empresa significa atividade econômica, que busca lucro, organizada e explorada

Respostas dos Exercícios Propostos

68
Lição 6 - Direito Falimentar

O sucesso da atividade empresarial não depende somente da boa atuação


do empresário, dos administradores e de investidores, há sempre riscos
envolvidos. O direito falimentar regula os momentos de crise, separando-
os em duas espécies diferentes: a crise que resulta no encerramento da
empresa e a crise que pode ser solucionada.

Ao término desta lição, você deverá ser capaz de:


• conhecer o conceito de recuperação judicial e de falência.
1. Legislação Aplicável
A atual Lei de Falências é a Lei nº 11.101/2005 que alterou o procedimento
de falência e instituiu a figura da recuperação de empresas, extinguindo o
instituto da concordata.

A Lei nº 11.101/05 se aplica às atividades empresárias em geral. Existem casos


em que essa lei não se aplica devido às especificidades da atividade, conforme
vai dispor o art. 2º, vejamos:

Art. 2º Esta Lei não se aplica a:


I - empresa pública e sociedade de economia mista;
lI - instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito,
consórcio, entidade de previdência complementar; sociedade operadora
de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de
capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.

Antes de iniciarmos os estudos sobre institutos da Falência e da Recuperação,


vamos ver o que ambos têm em comum.

2. Disposições Comuns à Falência e à Recuperação


2.1 Obrigações não Exigíveis

Segundo o art. 5º, da Lei de Falência, não serão exigíveis do devedor as obriga-
ções a título gratuito, nem as despesas que os credores tiverem para ingressar
na recuperação judicial ou na falência, exceto as custas judiciais.

69
2.2 Verificação e Habilitação dos Créditos

Para se processar a falência ou a recuperação judicial é necessário verificar


quais são exatamente os créditos que o devedor tem que pagar. O artigo 7º, da
Lei de Falência, trata dessa verificação, cujo responsável é o administrador
judicial. Essa análise é feita nos livros contábeis do empresário ou da
sociedade empresária e nos documentos fiscais e comerciais.

A lei permite aos credores habilitar seus créditos, ou seja, terão a possibilidade
de se apresentarem em juízo para ter sua examinada a sua pretensão de
crédito.

3. Administrador Judicial
Os procedimentos da falência e da recuperação judicial exigem atos
de fiscalização, acompanhamento e gestão. A Lei nº 11.101/05 instituiu
o administrador judicial, o qual terá funções diferentes na falência e
na recuperação, mas podemos defini-lo como aquele que irá auxiliar o
magistrado na condução dos procedimentos.

3.1 Atribuições do Administrador

O art. 22, da Lei nº 11.101/05, estabelece as atribuições do administrador em


ambos os procedimentos de recuperação e falência.

Na recuperação judicial, são partes do procedimento o administrador e o


próprio devedor. Como consequência, os esforços de ambos são direcionados
para a solução da crise financeira e para a manutenção da viabilidade do
negócio e preservação da atividade econômica.

Do ponto de vista dos credores, é interessante a superação da crise financeira


da empresa, pois isso aumenta as chances de recuperarem os créditos
concedidos, de manter ou realizar novos negócios.

O administrador judicial, ao conduzir um plano de recuperação, deve ser


eficiente, fiscalizar as atividades do devedor e o respectivo cumprimento
do plano de recuperação judicial. Na hipótese de descumprimento das
obrigações assumidas no plano de recuperação judicial, o administrador
deverá requerer a falência.

Deverá apresentar ao juiz os seguintes relatórios: um mensal, sobre as


atividades do devedor – que deverá ser juntado aos autos do processo – e
outro sobre a execução do plano de recuperação, depois de proferida a
sentença de encerramento da recuperação judicial.

No processo de falência, mais complexo que o de recuperação, o administrador


judicial atuará de modo mais efetivo, devendo observar as seguintes questões,
conforme prescreve o art. 22, da Lei nº 11.101/05:

70
• avisar, pelo órgão oficial, o local e horário em que, diariamente, os
respectivos credores terão à disposição os livros e documentos do falido;
• examinar a escrituração do devedor;
• fazer a relação dos processos e representar judicialmente a massa falida;
• receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor entregando a ele o
que não for assunto de interesse da massa;
• apresentar, em 40 dias, contados da assinatura do termo de compromisso,
podendo ser prorrogado por igual período, um relatório sobre as causas
e as circunstâncias em que ocorreu a falência. Apontará no relatório a
responsabilidade civil e penal dos envolvidos, quando houver;
• arrecadar os bens e os documentos do devedor e elaborar o auto de
arrecadação;
• avaliar os bens que foram arrecadados;
• contratar avaliadores, de preferência oficiais, mediante autorização do juiz,
para a avaliação dos bens caso entenda não ter condições técnicas para
tanto;
• praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos
credores;
• requerer ao juiz a venda antecipada de bens perecíveis, deterioráveis ou
sujeita a considerável desvalorização ou de conservação arriscada ou
dispendiosa;
• praticar todos os atos para conservar direitos e ações, diligenciar a
cobrança de dívidas e dar a quitação;
• remir, em benefício da massa e mediante autorização judicial, bens
apenhados, penhorados ou legalmente retidos;
• representar a massa falida em juízo, contratando, se necessário, advogado,
cujos honorários serão previamente ajustados e aprovados pelo Comitê de
Credores;
• requerer todas as medidas e as diligências necessárias para o
cumprimento da lei, a proteção da massa ou a eficiência da administração;
• apresentar ao juiz para a devida juntada aos autos, até o décimo dia do
mês seguinte ao vencido, a conta demonstrativa da administração que
especifique com clareza a receita e a despesa;
• entregar ao seu substituto, se for o caso, todos os bens e os documentos
pertencentes à massa que se encontrarem sob o seu poder; sob pena de
responsabilização;
• realizar a prestação de contas ao final do processo e também se ocorre a
sua substituição, destituição ou se renunciará ao cargo de administrador
judicial.

71
A remuneração do administrador judicial fica a cargo do devedor ou da massa
falida. Dada a importância de sua atividade, o administrador judicial poderá
responder, por dolo ou por culpa, pelos eventuais danos causados à massa
falida, ao próprio devedor ou aos credores.

4. Comitê de Credores
A principal finalidade da criação do comitê de credores é zelar pelo bom
andamento do procedimento judicial, seja da falência ou da recuperação.
Sua criação é facultativa e suas atribuições estão previstas no art. 27, da Lei
nº 11.101/05.

Na recuperação judicial e na falência, o Comitê de Credores terá, dentre


outras, as seguintes atribuições:
• fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial;
• zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei;
• comunicar ao juiz, caso detecte violação dos direitos ou prejuízo aos
interesses dos credores;
• apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos interessados;
• requerer ao juiz a convocação da assembleia-geral de credores;
• manifestar-se nas hipóteses previstas na lei de falência.
Especificamente na recuperação judicial, o Comitê terá, dentre outras, as
seguintes atribuições:
• fiscalizar a administração das atividades do devedor; apresentando, a cada
trinta dias, relatório de sua situação;
• fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial;
• submeter à autorização do juiz, quando ocorrer o afastamento do devedor
nas hipóteses previstas na lei, a alienação de bens do ativo permanente,
a constituição de ônus reais e outras garantias, bem como atos de
endividamento necessários à continuação da atividade empresarial
durante o período que antecede a aprovação do plano de recuperação
judicial.

Caso não exista esse Comitê, na recuperação judicial ou na falência,


suas atribuições serão exercidas pelo administrador judicial ou, na
incompatibilidade deste, pelo juiz.

5. Assembleia Geral de Credores


É o órgão necessário aos procedimentos de recuperação judicial e de falência,
é o órgão máximo de representação dos credores. Possui funções deliberativas
a respeito de qualquer matéria que possa afetar os interesses dos credores.

72
Entre elas, destaca-se a de eleger e constituir o comitê de credores, o que
confere legitimidade a este órgão.

O art. 35, da Lei nº 11.101/05, estabelece a competência da assembleia geral de


credores. Na recuperação judicial, ela deverá deliberar sobre:
• aprovação, rejeição ou modificação o plano de recuperação judicial
apresentado pelo devedor;
• constituição do Comitê de Credores, escolher seus membros e sua
substituição;
• pedido de desistência do devedor, nos termos do § 4º, do art. 52, da lei;
• o nome do gestor judicial, quando do afastamento do devedor;
• qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores.
Nos procedimentos de falência, a assembleia irá deliberar sobre:
• a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua
substituição;
• a adoção de outras modalidades de realização do ativo, na forma do art. 145
da lei;
• qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores.
6. Recuperação Judicial
As empresas são fontes geradoras de empregos, de circulação de riquezas e
de crescimento econômico. Em razão disso, a atividade empresarial que se
encontra em momento de crise tem à sua disposição instrumentos legais
para buscar sua recuperação. Nos termos do art. 47, da Lei nº 11.101/05:

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da


situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos
interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua
função social e o estímulo à atividade econômica.

6.1 Requisitos da Recuperação Judicial

Além dos requisitos gerais para utilização da Lei nº 11.101/05, o art. 48 traz re-
quisitos específicos para que o empresário ou sociedade empresária faça jus
à recuperação judicial. Os requisitos são:
• O devedor deve exercer regularmente suas atividades há mais de dois
anos.
• Não pode ter sido declarado falido e, se tiver sido, suas responsabilidades
têm que ter sido extintas.
• Não poderá ter, há menos de cinco anos, obtido concessão de recuperação
judicial.

73
• Não ter como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por
qualquer dos crimes falimentares.

Esses requisitos são cumulativos, isto é, só poderá requerer a recuperação


quem atender a todos eles ao mesmo tempo.

7. Recuperação Extrajudicial
É possível que a recuperação da crise do empresário ou da sociedade
empresária seja realizada mediante renegociação com os credores.

Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá
propor e negociar com credores plano de recuperação extrajudicial.

Para se valer da recuperação extrajudicial, o devedor também terá que


observar os requisitos legais. Em outras palavras, não são todos os devedores
que poderão se valer desse meio de solução de crise.

Assim como na recuperação judicial, na recuperação extrajudicial será


igualmente elaborado um plano de recuperação, que poderá ser levado
à homologação judicial. Caso não tenha a aprovação de 100% de credores,
mas obtiver aprovação de 3/5 deles, o plano de recuperação deverá,
obrigatoriamente, ser levado à homologação judicial, para que se torne
vinculante a todos os credores.

Não ficam obrigados a participar do processo de recuperação extrajudicial


os créditos trabalhistas, aqueles decorrentes de acidentes de trabalho e os de
natureza tributária.

8. Falência
O conceito de falência tem dois significados. O primeiro significado é
econômico, que representa um estado patrimonial de insolvência, ou seja,
quando um empresário ou sociedade empresária possui mais dívidas do que
caixa para saldá-las.

O segundo conceito é o jurídico e diz respeito a um processo de execução


coletiva contra o devedor insolvente. É desse segundo conceito que trata a Lei
no 11.101/05. Para ser réu em um processo de falência, não necessariamente o
empresário, a sociedade empresária ou a EIRELI devem estar com os passivos
maiores que ativos, basta que fique configurado o conceito legal de falência.

8.1 Finalidades da Falência

São três as finalidades mais importantes do processo de falência:


• Realizar o concurso de credores: deixar todos os credores em uma situação
igual, de forma a que todos sejam satisfeitos proporcionalmente aos seus
créditos.

74
• Sanear o meio empresarial: uma sociedade falida é causa de prejuízos aos
credores do meio social, aos negócios e à circulação de riquezas.
• Proteger não somente o crédito individual de cada credor do devedor, mas
o crédito público e a economia como um todo.

8.2 Etapas da falência

A falência é dividida em três etapas.

A primeira, chamada de fase pré-falimentar, é uma fase investigatória, em


que o juiz irá analisar se de fato há estado de falência.

A segunda só ocorrerá se tal estado ficar configurado e será a etapa em que


ocorrerá propriamente o concurso de credores. É chamado de fase falimentar.
É nessa etapa que se terá a preocupação com os objetivos primordiais da
falência, que é fazer os pagamentos dos credores, de acordo com a relevância
do seu crédito.

Por fim, ocorrerá a fase pós-falimentar que é uma etapa processual em que
serão observados os efeitos finais do processamento da falência.

Exercícios Propostos

1. Qual o conceito de Direito Falimentar?


_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

2. Segundo o Direito Falimentar, verifique quais das assertivas abaixo são


verdadeiras e assinale a alternativa correta:
III. A Lei de Falências não se aplica às atividades das sociedades cooperativas de
crédito.
III. Para se processar a falência ou a recuperação judicial não é necessário verificar
quais são os créditos que o devedor tem que pagar.
III. O administrador judicial é aquele que irá auxiliar o magistrado na condução dos
procedimentos de recuperação e falência.
IV. A remuneração do administrador judicial fica a cargo do credor.

São verdadeiras as assertivas:


( ) a) I e IV.
( ) b) II, III e IV.
( ) c) I e III.
( ) d) II e IV.
( ) e) I, II e III.

75
3. Relacione corretamente as colunas abaixo e assinale a alternativa correta:
I. Administrador judicial ( ) Viabiliza a superação da situação de crise
II. Comitê de credores econômico-financeira do devedor.
III. Assembleia geral de ( ) Órgão máximo de representação dos cre-
credores dores.
IV. Recuperação judicial ( ) É aquele que irá auxiliar o magistrado na
condução dos procedimentos de recupera-
ção e falência.
( ) Sua principal finalidade é zelar pelo bom
andamento do procedimento judicial, seja
( ) a) I, II, III, IV. da falência ou da recuperação.
( ) b) II, III, IV, I.
( ) c) III, IV, II, I.
( ) d) IV, II, III, I.
( ) e) IV, III, I, II.

4. Carlos, empresário há mais de dois anos no ramo de restaurantes, está


passando por uma crise no seu negócio. Uma vez que ele preenche
todos os requisitos da lei, ele poderá tentar uma _____________, que
é a ____________ das dívidas. Assinale a alternativa que preenche
corretamente as lacunas do texto:
( ) a) Falência, insolvência.
( ) b) Recuperação judicial, confissão.
( ) c) Recuperação extrajudicial, renegociação.
( ) d) Falência, renegociação.
( ) e) Recuperação judicial, confissão.

5. Assinale a alternativa que indique as atribuições do administrador ju­


dicial:
III. Avisar, pelo órgão oficial, o local e o horário em que, diariamente, os respectivos
credores terão à disposição os livros e documentos do falido.
III. Eleger e constituir o comitê de credores.
III. Requerer ao juiz a convocação da assembleia-geral de credores.
IV. Praticar todos os atos para conservar direitos e ações, diligenciar a cobrança de
dívidas e dar a quitação.
( ) a) I e IV.
( ) b) I, II e III.
( ) c) I e III.
( ) d) I e II.
( ) e) III e IV.

76
Lição 7 - Direito Tributário

O conhecimento dos conceitos fundamentais em Direito Tributário


é necessário para a melhor organização da atividade empresarial e
profissional de cada cidadão para evitar tributos abusivos e saber os limites
da atividade arrecadatória do Estado.

Ao término desta lição, você deverá ser capaz de:


• conhecer o conceito de Direito Tributário, tributos, responsabilidade
tributária e princípios tributários.

1. Conceito de Direito Tributário


O Direito Tributário é um ramo específico da ciência jurídica que estuda e
organiza os princípios e as normas relacionadas à obtenção de receitas
estatais enquadradas no conceito de tributos.

A doutrina jurídica define o direito tributário de vários modos, dentre os quais


destacamos:
• o Direito Tributário é disciplina juridicamente os tributos;
• o Direito Tributário é o ramo autônomo do Direito, integrado pelo
conjunto das proposições jurídico-normativas que correspondam, direta
ou indiretamente, à instituição, à arrecadação e à fiscalização de tributos;
• o Direito Tributário se ocupa das relações entre o fisco e as pessoas sujeitas
a imposições tributárias de qualquer espécie, tributando e protegendo o
cidadão contra os abusos desse poder.

2. Fontes do Direito Tributário


As fontes são usadas com vários significados. Indica a origem do Direito, as
condições em que são criadas determinadas normas jurídicas. Tem o sentido
de fundamento de validade de uma norma jurídica. Para compreender
melhor, vamos conhecer os itens formadores do Direito:

Constituição: é a fonte de mais alto grau de hierarquia normativa do Direito.


No campo do Direito Tributário, estabelece as competências dos entes estatais,
os limites da tributação, os direitos e os deveres do cidadão perante o fisco e
os princípios que fundamentam a atividade tributária.

77
Lei complementar: em matéria tributária, as leis complementares têm duas
funções: estabelecer normas gerais de Direito Tributário que detalhem o
estatuto jurídico do Sistema Tributário Nacional; criar, excepcionalmente,
tributos de competência residual da União.

Lei ordinária: é a espécie de lei que cria o tributo, institui as denominadas


obrigações acessórias, que são deveres legais que organizam a arrecadação e
a fiscalização tributárias.

Medida provisória: em caso de relevância e urgência, o Presidente da


República poderá editar medidas provisórias, com força de lei, devendo
submetê-las de imediato ao Congresso Nacional (art. 62, CF).

Convênio: ato normativo executivo infralegal, que expressa, em matéria


tributária, ajuste de vontade entre entes federativos.

3. Tributo
A definição de tributo se encontra no art. 3º, do Código Tributário Nacional:

Art. 3° Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo


valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída
em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

3.1 Espécies de Tributo

Veremos a seguir as definições das seguintes espécies tributárias, mais


comuns no dia a dia: taxa, contribuição de melhoria, empréstimo compulsório
e imposto.

►►3.1.1 Taxa
Os entes federados, ou seja, União, estados e municípios podem instituir as
taxas em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva
ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao
contribuinte ou postos à sua disposição.

As taxas são tributos que se relacionam por uma atuação estatal específica,
como o exercício regular do poder de polícia, ou quando põe à disposição um
serviço público específico que beneficia contribuintes específicos. A função
das taxas é cobrir, de forma parcial, a manutenção desses determinados
serviços públicos.

►►3.1.2 Contribuição de Melhoria


Ocorre quando um bem imóvel se valoriza em decorrência de uma obra
pública. Essa espécie de tributo se fundamenta no princípio que proíbe o

78
enriquecimento sem causa, já que o dono do imóvel não fez nada para que
seu imóvel se valorizasse. Se não houvesse essa cobrança, os proprietários dos
imóveis beneficiados por obra pública se beneficiariam de um acréscimo em
seu patrimônio, em detrimento do conjunto da população que arca com os
impostos.

►►3.1.3 Empréstimo compulsório


Esse tipo de empréstimo é um tributo temporário. A União pode cobrá-lo para
custear despesas urgentes, mas fica obrigada a devolver o valor recolhido
quando solucionada a causa que motivou a sua instituição.

Podem configurar as despesas urgentes as decorrentes de calamidade


pública ou guerra entre o Brasil e outro país, ou nos casos de necessidade de
investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional.

►►3.1.4 Imposto
De acordo com o Código Tributário Nacional – CTN, imposto é o tributo cuja
obrigação tem como gerador uma situação independente de qualquer ativi-
dade estatal específica, relativa ao contribuinte. Ao contrário das taxas e das
contribuições de melhoria, a receita recolhida por meio de impostos não vin-
cula a qualquer contraprestação por parte da Administração Pública.

4. Princípios do Direito Tributário


São enunciados genéricos que orientam a criação, a interpretação e a
aplicação das normas jurídicas. No Direito Tributário, dentre eles estão:

Princípio da legalidade: a Constituição Federal dispõe que “ninguém será


obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” e
que sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado
à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios exigir ou aumentar
tributo sem lei que o estabeleça.

Princípio da capacidade contributiva: cada um deve contribuir na proporção


de suas rendas e haveres, independentemente de sua eventual disponibilidade
financeira.

Princípio da anterioridade: é vedado cobrar tributos no mesmo exercício


financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou,
ou seja, uma vez instituído um imposto por meio de lei, este só poderá ser
cobrado no exercício financeiro seguinte.

79
Princípio da isonomia: é vedado instituir tratamento desigual entre contri­
buintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer
distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida,
independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou
direitos.

Princípio da vedação do confisco: é proibida a utilização de tributo com


efeito de confisco. O princípio tem relação com os direitos fundamentais
de propriedade, de liberdade de iniciativa e de liberdade profissional, alvos
preferenciais da tributação.

5. Obrigação Tributária
A obrigação pode ser entendida como uma relação jurídica temporária em
que uma pessoa é devedora da outra. Em Direito Tributário, essa relação é
chamada obrigação tributária.

Uma das principais fontes de custeio da atividade estatal é a arrecadação de


tributos, por isso, a relação jurídica tributária é aquela em que o cidadão deve
para o governo.

6. Competência para Instituir Impostos


A Constituição Federal prevê a possibilidade da cobrança de 13 impostos
– federais, estaduais e municipais – cabendo a cada ente da federação a
cobrança de determinados tipos de impostos:
• A União possui competência ordinária para instituir sete impostos: o
imposto sobre importação – II; o imposto sobre a exportação – IE; o
imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza – IR; o imposto
sobre produtos industrializados – IPI; o imposto sobre operações
financeiras – IOF; o imposto sobre a propriedade territorial rural – ITR; e o
imposto sobre grandes fortunas – IGF.
• Os Estados têm competência para instituir três impostos: imposto sobre
transmissão causa mortis e doação – ITCMD; o imposto sobre operações
relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação – ICMS; e o
imposto sobre a propriedade de veículos automotores – IPVA.
• Os Municípios têm competência para instituir três impostos: o imposto
sobre a propriedade predial e territorial urbana – IPTU; o imposto sobre a
transmissão intervivos de bens imóveis – ITBI; e o imposto sobre serviços
de qualquer natureza – ISS.

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Exercícios Propostos

1. De acordo com o Direito Tributário, relacione corretamente as colunas


abaixo e assinale a alternativa correta:
1. Constituição. ( ) Estabelece normas gerais de Direito Tribu-
2. Lei complementar. tário que detalham o estatuto jurídico do
3. Lei ordinária. Sistema Tributário Nacional.
4. Convênio. ( ) Cria os tributos.
( ) Expressa, em matéria tributária, ajuste de
vontade entre entes federativos.
( ) Estabelece as competências dos entes
estatais, os limites da tributação, os direitos
e deveres do cidadão perante o fisco.

( ) a) 1, 2, 3, 4.
( ) b) 4, 3, 2, 1.
( ) c) 3, 4, 1, 2.
( ) d) 3, 1, 4, 2.
( ) e) 2, 3, 4, 1.

2. Verifique quais das assertivas abaixo são verdadeiras e assinale a alter­


nativa correta:
III. O sujeito passivo da obrigação tributária é sempre o contribuinte.
III. No Brasil, a Constituição proíbe utilizar tributo com efeito de confisco – art. 150,
IV.
III. O princípio da anterioridade autoriza cobrar tributos no mesmo exercício
financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou.
IV. Segundo o princípio da isonomia é vedado instituir tratamento desigual entre
contribuintes que se encontrem em situação equivalente.

São verdadeiras as assertivas:


( ) a) II e IV.
( ) b) I, II e IV.
( ) c) II e III.
( ) d) I, II e III.
( ) e) Somente II.

3. Segundo o estudo sobre bens, verifique quais das assertivas abaixo são
verdadeiras e assinale a alternativa correta:
III. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela
se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada
mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

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III. Os entes políticos poderão instituir taxas, em razão do exercício do poder de
polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e
divisíveis.
III. O Direito Tributário é a disciplina jurídica dos contratos.
IV. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação que
depende de atividade estatal específica.

São verdadeiras as assertivas:


( ) a) I, III e IV.
( ) b) I e II.
( ) c) II e IV.
( ) d) II, III e IV.
( ) e) II e III.

4. Os municípios têm competência para instituir os três impostos previstos


no art. 156, da CF: ____________, _____________ e ____________.
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto:
( ) a) IPVA, IR, II.
( ) b) IPTU, ITBI, ISS.
( ) c) IOF, ITR, IE.
( ) d) IPI, IGF, IPVA.
( ) e) ICMS, ISS, IPTU.

5. O que significa o princípio da capacidade contributiva?


_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

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