Medicina NET
Medicina NET
Medicina NET
Revisões Internaci…
Revisões Pós-Operatório de
Algoritmos Cirurgia Cardíaca
Aulas em Vídeo INTRODUÇÃO
Os resultados da cirurgia cardíaca estão relacionados aos fatores
Artigos Comentados de risco pré-operatórios e ao adequado manejo da homeostase durante e
após o procedimento cirúrgico. Os principais fatores de risco incluem:
Casos Clínicos disfunção ventricular (fração de ejeção < 30%), lesão de tronco de
coronária esquerda, diabetes, insuficiência renal, obesidade, doença
pulmonar e idade avançada. A literatura dispõe de diversas metodologias
BPR Guia de Remé…
e escores para avaliação de risco e previsão de resultados, fornecendo
ferramentas para a avaliação da qualidade do serviço e o desenvolvimento
Biblioteca Livre
de estratégias de contínuo aperfeiçoamento.
O uso de circulação extracorpórea (CEC), associada à parada
BPR Guia de Injetá… cardiorrespiratória, torna a cirurgia cardíaca um procedimento peculiar, já
que esses pacientes costumam apresentar resposta inflamatória sistêmica
ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS
NO PÓS-OPERATÓRIO
Copyright 2013 MedicinaNET Durante o período de ausência de fluxo coronário na circulação
extracorpórea, a demanda miocárdica de oxigênio deve ser reduzida para
evitar isquemia e infarto. Tradicionalmente, a cirurgia cardíaca é realizada
no coração não pulsátil, após indução de parada cardíaca diastólica com a
infusão de solução cardioplégica na raiz da aorta e no seio coronariano.
Nos últimos anos, a cirurgia de revascularização do miocárdio sem uso de
circulação extracorpórea tem também sido utilizada. Um dispositivo é
usado para estabilizar uma pequena área ao redor do alvo na artéria
coronária, garantindo mínima movimentação do miocárdio e permitindo a
contração cardíaca. Ambas as técnicas apresentam resultados
semelhantes, embora se observe que o uso da CEC esteja associado à
maior resposta inflamatória, insuficiência renal e coagulopatia no pós-
Atelectasia
Derrame pleural
Sistema Radiografia de tórax com sinais de congestão, a
respiratório despeito de pressões de enchimento normais ou
baixas, por causa das alterações de permeabilidade
vascular
Lesão de nervo ulnar e mediano causada por: fratura
do 1º arco costal após esternotomia, lesão de plexo
braquial, trauma por punção de veia jugular interna,
posicionamento inadequado do membro superior
Sistema
Neuropatia do nervo radial, após retirada da artéria
nervoso
radial, em geral de curso benigno
Distúrbios visuais transitórios: perda de acuidade
visual, ofuscamento e escotomas
Disfunção cognitiva, em geral transitória
Constipação e retenção urinária
Trato
Inapetência
gastrointestinal
Disgeusia (alteração do paladar)
e geniturinário
Íleo paralítico
Anemia decorrente de perdas e hemodiluição
ADMISSÃO NA UTI
Na chegada do paciente à unidade de terapia intensiva, deve-se
proceder a uma abordagem sistemática, com o objetivo de identificar e
tratar prontamente o surgimento de disfunções orgânicas. O intensivista
deve identificar o paciente e obter o máximo de informações referentes
aos antecedentes pessoais, uso de medicações no pré-operatório e
exames complementares. É também fundamental o diálogo com a equipe
de anestesistas e cirurgiões, para coleta detalhada das intercorrências do
intraoperatório.
No serviço de pós-operatório de cirurgia cardíaca do Instituto do
Coração/HC-FMUSP, adota-se a rotina resumida nas Tabelas 2, 3 e 4.
ROTINAS E PRESCRIÇÃO
MÉDICA
Os cuidados do paciente no pós-operatório de cirurgia cardíaca
são multidisciplinares e envolvem a participação de médicos, enfermeiros
e técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e nutricionistas. Para o manejo
MONITORAÇÃO
A monitoração do paciente deve incluir termômetro, cardioscópio,
oximetria de pulso, cateter venoso central, pressão arterial invasiva e
cateter de artéria pulmonar em casos selecionados. Parâmetros de macro
e micro-hemodinâmica são importantes para a adequada reposição
volêmica, manejo de drogas vasoativas e diagnóstico precoce de
complicações.
Parâmetros de Macro-hemodinâmica
Pressão arterial média;
perfusão periférica/tempo de enchimento capilar;
diurese;
pressão venosa central;
débito cardíaco;
pressão de oclusão de artéria pulmonar.
REPOSIÇÃO VOLÊMICA
A reposição volêmica no pós-operatório visa a manter adequada a
oferta de oxigênio e a perfusão tecidual. Na realização da reposição
volêmica, é importante reconhecer o compartimento depletado para que
as perdas possam ser repostas com o fluido apropriado.
SEDAÇÃO E ANALGESIA
A sedação deve ser realizada visando ao bom acoplamento
paciente/ventilador e à redução da ansiedade. Escalas de monitoração da
sedação devem ser aplicadas diariamente, para evitar a sedação
excessiva dos pacientes e seus consequentes malefícios, como a
ventilação mecânica prolongada. O despertar diário também deve ser
realizado em todos que não tenham contraindicação a ele. Quando houver
necessidade de sedação por período prolongado, deve-se dar preferência
à utilização do midazolam. Evitar a utilização do propofol em pacientes
hemodinamicamente instáveis. O etomidato pode ser uma boa alternativa
de sedação para pacientes hemodinamicamente instáveis que necessitam
realizar procedimentos, como cardioversão ou entubação orotraqueal.
A utilização de dexmedetomidina já provou ser segura em
pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca. Quando comparado ao
propofol, apresentou menor necessidade de utilização de morfina para
obtenção de sedação/analgesia adequada. Deve-se, porém, estar atento à
possibilidade de ocorrência de hipotensão e bradicardia, dois efeitos
colaterais dessa medicação.
O uso de opioides apresenta como vantagem o efeito combinado
de analgesia e sedação. Entretanto, por causarem vasodilatação periférica
e suas consequências, devem ser usados com atenção no pós-operatório
de cirurgia cardíaca. É importante garantir conforto e mobilidade a esses
pacientes utilizando doses suficientes de analgésicos, prevenindo assim a
formação de atelectasias e o aparecimento de hipoxemia.
Após a retirada do tubo endotraqueal, dar preferência à realização
de anestesia em intervalos regulares, sendo necessária reavaliação
frequente para a titulação das doses a serem utilizadas.
Na UTI pós-operatória do InCor/HC-FMUSP, utiliza-se o seguinte
esquema para analgesia:
Hipertensão
Definida como pressão arterial média (PAM) acima de 105 mmHg,
ou um aumento acima de 20 mmHg acima do basal, ou pressão arterial
sistólica acima de 140 mmHg. É especialmente comum e grave em
cirurgias valvares, principalmente após correção de estenose aórtica.
Costuma aparecer precocemente no PO (entre 1 e 2 horas) e ocorre mais
comumente em pacientes com história prévia de HAS, uso pré-operatório
de betabloqueador e função ventricular normal antes da cirurgia. Confere
maior morbidade e mortalidade ao paciente.
Isquemia Miocárdica
Lesão isquêmica miocárdica perioperatória é uma complicação da
cirurgia cardíaca que pode ocorrer entre 3 e 30% dos casos. Os eventos
agudos são causados primariamente por limitações à proteção miocárdica
durante o procedimento cirúrgico.
A ocorrência desse evento está relacionada ao aumento da
mortalidade, e suas principais causas incluem alguns dos fatores de risco
citados na Tabela 7, como revascularização incompleta, hipotensão e
hipertensão arterial e taquicardia, além de espasmo coronariano,
trombose distal ou do próprio enxerto, anemia e problemas técnicos.
Isquemia miocárdica que ocorre no período de dias a semanas após o
procedimento, geralmente se deve a oclusão do enxerto.
2. Tratamento
Garantir oxigenação adequada; saturação arterial de oxigênio >
95% e níveis de hemoglobina > 9 a 10;
adequar a volemia do paciente;
iniciar nitroglicerina IV imediatamente e titular dose conforme
parâmetros hemodinâmicos;
manter PAM entre 70 e 90 mmHg; pode ser necessário associar
com nitroprussiato para atingir essa meta. O nitroprussiato
também pode ser necessário em condições de baixo débito
associado a resistência vascular sistêmica elevada;
betabloqueadores podem ser utilizados cautelosamente em
pacientes que não estejam dependentes de aminas
vasoativas, em baixo débito e nem hipovolêmicos. Utilizar
naqueles que se encontram hipertensos e taquicárdicos;
após início de infusão de nitroglicerina, deve-se sempre obter
um novo ECG. Caso o ECG tenha normalizado, manter a
nitroglicerina por mais 24 horas; caso a alteração
eletrocardiográfica persista e o paciente se encontre
hemodinamicamente instável, discutir com a equipe cirúrgica a
indicação de coronariografia de emergência para diagnóstico e
provável intervenção terapêutica, mantendo-se a utilização das
drogas inotrópicas, vasodilatadoras e balão intra-aórtico, se
necessário. Em casos de estabilidade hemodinâmica,
considerar o início de inibidores da enzima conversora de
angiotensina e estatinas, além de discutir com a equipe
cirúrgica a indicação de coronariografia.
Vasoplegia
Caracteriza-se pela ocorrência de resposta inflamatória sistêmica
secundária ao procedimento cirúrgico, geralmente aparente nas primeiras
12 horas do pós-operatório. A gênese dessa complicação é multifatorial,
envolvendo a ação de citocinas inflamatórias, a ativação do sistema
complemento, a ativação leucocitária e o óxido nítrico. O uso pré-
operatório de doses elevadas de vasodilatadores, atualmente muito
comum nos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, também tem sido
implicado como possível fator causador dessa síndrome. Deve-se atentar
para o fato de que 30% dos casos de vasoplegia no pós-operatório
devem-se à infecção, o que torna a instituição de tratamento precoce
medida fundamental para evolução do quadro. A ocorrência de vasoplegia
predispõe, ainda, ao desenvolvimento de insuficiência renal e à síndrome
do desconforto respiratório agudo.
1. Achados clínicos
Hipotensão, vasodilatação periférica, taquicardia, taquipneia,
queda da resistência vascular sistêmica, oligúria, débito
cardíaco normal ou elevado, febre e leucocitose.
2. Tratamento
O tratamento deve ser guiado por monitoração hemodinâmica
invasiva, com utilização de cateter de artéria pulmonar e pressão arterial
invasiva. Reposição volêmica, com cristaloides ou coloides (na presença
de edema pulmonar ou periférico), é a primeira medida a ser tomada na
vasoplegia, visando a PAM = 65 mmHg; se, após reposição volêmica
adequada, não for atingido o nível de PAM desejado, instituir terapia
vasopressora com noradrenalina.
Tamponamento Cardíaco
É caracterizado por elevação das pressões intracardíacas,
limitação do enchimento diastólico, redução do volume sistólico e débito
cardíaco. A taquicardia reflexa, secundária ao tamponamento, reduz o
tempo de diástole, favorecendo a ocorrência de isquemia miocárdica. O
achado clássico do tamponamento no PO é o aumento e a equalização
das pressões de enchimento, vistas nas medidas do cateter de artéria
pulmonar.
1. Achados clínicos
Hipotensão;
estase de jugulares;
abafamento de bulhas;
baixo débito;
pulso paradoxal;
cessação ou redução abrupta da drenagem pericárdica;
PCR em AESP;
alargamento mediastinal na radiografia de tórax;
redução da voltagem no ECG;
achado de líquido pericárdico que causa restrição ao
enchimento das câmaras no ecocardiograma.
Fibrilação Atrial
A fibrilação atrial pós-operatória (FAPO) é a complicação mais
comum em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, ocorrendo em cerca
de 30 a 50% destes. A incidência dessa complicação vem aumentando
continuamente nas últimas décadas, sobretudo pela maior prevalência de
pessoas mais idosas que vêm se submetendo à cirurgia cardíaca nos
últimos anos. Está associada a aumento importante das taxas de
mortalidade e morbidade, predispõe os pacientes a maior risco de
acidente vascular cerebral (AVC) e aumenta de forma importante os
custos do tratamento hospitalar.
A FAPO costuma ocorrer entre o 2º e o 4º dias pós-operatório, com
pico de incidência no 2º dia. Geralmente, é uma complicação bem tolerada
na maioria dos indivíduos e costuma ser um problema temporário
relacionado à cirurgia. Entretanto, em pacientes idosos e/ou com
disfunção ventricular esquerda (VE), pode ser uma complicação
ameaçadora à vida.
1. Prevenção
Os betabloqueadores orais são a classe de droga mais estudada,
até o momento, para uso na prevenção desta arritmia pós-operatória
(classe I, nível de evidência A; para pacientes sem contraindicação, que
se submeterão à cirurgia cardíaca). Outras estratégias estudadas ou que
se encontram em estudo incluem a utilização de amiodarona no pré-
operatório, sotalol, marca-passo atrial, bloqueadores do canal de cálcio
não di-hidropiridínicos, magnésio, estatinas e ácidos graxos poli-
insaturados. Entretanto, o impacto das medidas de prevenção sobre a
diminuição da ocorrência de complicações da FAPO, incluindo AVC e
custos econômicos, ainda é controverso. No serviço de pós-operatório de
cirurgia cardíaca do Instituto do Coração/HC-FMUSP, a profilaxia não é
recomendada.
2. Tratamento
O tratamento visa ao controle da frequência cardíaca, à reversão e
à manutenção do ritmo sinusal e à prevenção de embolias.
Hipóxia, distúrbios hidroeletrolíticos (especialmente do magnésio e
do potássio) e ácido-básicos devem ser sempre corrigidos.
A cardioversão elétrica deve sempre ser realizada nos pacientes
que evoluem com instabilidade secundária à arritmia e eletivamente
utilizada para reversão ao ritmo sinusal quando uma tentativa de reversão
farmacológica não obtiver sucesso. Os aparelhos bifásicos são associados
à utilização de doses de energia mais baixas, maiores taxas de
cardioversão e menor incidência de lesões de pele. A posição
anteroposterior das pás e sedativos de curta duração devem ser
preferencialmente utilizados.
Na UTI pós-operatória do InCor/HC-FMUSP, opta-se por tentar
reversão para ritmo sinusal, sempre que possível.
Quando se opta inicialmente pela cardioversão farmacológica e
ocorre falha da reversão do ritmo após mais de 48 horas de tentativa,
deve-se suspender o fármaco que visa a modificar o ritmo e introduzir
droga controladora da frequência cardíaca. Iniciar anticoagulação plena e
realizar nova tentativa de cardioversão somente após 24 horas de
anticoagulação, ou após realização de ecocardiograma transesofágico.
Arritmias Ventriculares
Extrassístoles ventriculares e taquicardia ventricular não
sustentada (TVNS) que requerem um curso curto de tratamento, são
relatadas em até 50% dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, com
pico de incidência ocorrendo entre o 3º e o 5º dia de pós-operatório. A
presença de níveis elevados de catecolaminas, necrose miocárdica e
alterações eletrolíticas são explicações possíveis para ocorrência dessas
arritmias.
Os dados disponíveis na literatura até o momento são insuficientes
para afirmar se a ocorrência de tais eventos altera de forma significativa a
evolução clínica dos pacientes.
A terapêutica utilizada deve ser individualizada e baseada na
suspeição da presença de fatores de risco, como disfunção ventricular
esquerda. Hipoxemia, distúrbios eletrolíticos e ácido-básicos devem ser
corrigidos em todos os pacientes.
A utilização de marca-passo atrial pode ser uma estratégia para a
supressão das extrassístoles; uma alternativa para a presença de
extrassístoles frequentes, aos pares ou em salvas, é a utilização de
lidocaína por 24 horas. Reposição de magnésio e utilização de
amiodarona são alternativas para taquicardia ventricular não sustentada.
Para taquicardia ventricular sustentada, dependendo da presença ou não
de instabilidade clínica, pode-se utilizar cardioversão elétrica, amiodarona
IV ou overdrive pacing.
Distúrbios de Condução
Bloqueios atrioventriculares (BAV) podem ser causados por
clearance incompleto da solução de cardioplegia, drogas antiarrítmicas ou
secundários ao procedimento cirúrgico. Destes, o que mais comumente
cursa com BAV é a troca de válvula aórtica e, nesse contexto, costumam
ser temporários. Quando causados por trauma ou manipulação cirúrgica
na área do nó AV ou feixe de His, podem ser temporários, mas costumam
durar vários dias. A transecção completa do nó AV, durante a cirurgia de
troca de válvula aórtica, é uma complicação bem estabelecida e leva à
1. Tratamento
Suspensão de medicações que atuem negativamente na
condução AV;
a necessidade da utilização de marca-passo (MP) depende do
mecanismo de escape e da adequação da FC.
Disfunções Respiratórias
A maioria dos pacientes é extubada entre 4 e 6 horas após o ato
cirúrgico. Após a chegada na UTI, é fundamental avaliar a posição do tubo
orotraqueal, fazer radiografia de tórax, gasometria arterial e um cuidadoso
exame físico pulmonar. Para programação de extubação, alguns critérios
devem ser preenchidos:
estabilidade hemodinâmica;
ausência de sangramentos;
ausência de complicações neurológicas e adequado nível de
consciência;
adequada troca gasosa.
Achados Clínicos
A maioria dos pacientes não apresenta sinais e sintomas ao
diagnóstico, que é baseado quase sempre nos exames laboratoriais. Os
sintomas decorrentes da uremia e hipervolemia ocorrem mais tardiamente
e incluem: redução do volume urinário (pode não estar presente),
anorexia, náusea, vômitos, confusão mental, prurido, atrito pericárdico e
Asterix, sinais de hipervolemia com edema periférico, dispneia, estase
jugular e estertores crepitantes em bases pulmonares.
Achados Laboratoriais
Aumento de ureia e creatinina;
acidose metabólica com ânion gap aumentado;
hipercalemia;
hiperfosfatemia;
eletrocardiograma: onda T apiculada, redução da onda P,
alargamento do QRS.
Tratamento
Dieta: restrição proteica < 0,6 g/kg/dia nos pacientes que não
estejam em diálise. Caso contrário, não é necessário restrição;
balanço hídrico: monitorar peso diário, diurese e aporte hídrico;
estabilização hemodinâmica: manter PAM > 70 mmHg, IC > 2,2
L/min/m2, correção de hipovolemia com SF 0,9%. Evitar uso de
coloides;
correção de hipervolemia: o uso de diuréticos está indicado para
o tratamento da hipervolemia. Nesses casos, sugere-se a
furosemida IV em bomba de infusão contínua 50 mg/h, solução
não diluída;
drogas nefrotóxicas: ajustar dose de antibióticos pela função
renal. Evitar uso de IECA e anti-inflamatórios não hormonais;
hemodiálise: a hemodiálise está indicada nos casos de acidose
metabólica, hipercalemia, uremia e hipervolemia refratários. É
importante ressaltar que não está isenta de efeitos adversos.
Sangramento no Pós-operatório
Sangramento e coagulopatia são eventos comuns no pós-
operatório de cirurgia cardíaca, especialmente em procedimentos com uso
de circulação extracorpórea. Os principais determinantes incluem:
Infecções
O aparecimento de complicações infecciosas no pós-operatório de
cirurgia cardíaca está associado a altas taxas de morbidade e mortalidade.
Infecção profunda da ferida operatória é uma complicação séria e
dispendiosa, com taxas de mortalidade que variam de 15 a 20%, a
despeito de terapêutica apropriada.
A obesidade é o principal fator de risco para o surgimento de
deiscência esternal, com ou sem infecção, e após qualquer tipo de cirurgia
cardíaca. Diabetes, utilização das duas artérias torácicas internas e a
presença de insuficiência renal são outros fatores de risco comuns para o
surgimento de infecção.
Achados Clínicos/Laboratoriais
Febre ou hipotermia;
hiperemia e/ou calor e/ou rubor na ferida;
drenagem de secreção pela ferida;
deiscência;
taquicardia/taquipneia;
instabilidade esternal;
leucocitose/leucopenia;
presença de coleções em exames de imagem.
Disfunções Gastrintestinais
Morbidade abdominal ocorre em cerca de 0,2 a 5,5% dos
pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca, com uma taxa de
mortalidade média de cerca de 33%, sendo responsáveis por
aproximadamente 15% do total de óbitos dos pacientes de cirurgia
cardíaca.
Complicações Neurológicas
Acidente vascular cerebral é a mais grave e temida complicação
neurológica no pós-operatório de cirurgia cardíaca. O desenvolvimento de
AVC no pós-operatório da cirurgia de revascularização do miocárdio varia
de 0,8 a 5% nos diferentes estudos. A maioria dos eventos ocorre nos
primeiros dois dias após a cirurgia. É importante ressaltar que muitos
desses eventos têm apresentação silenciosa, em decorrência de
microembolização, contribuindo para a disfunção cognitiva em longo
prazo. Entre os principais fatores de risco, destacam-se:
Complicações Endócrinas
Glicemia
A hiperglicemia é um fator de risco bem estabelecido para
morbidade e mortalidade em pacientes no pós-operatório de cirurgia
cardíaca. Ela provoca, direta ou indiretamente, disfunção endotelial,
aumento da trombogênese, prejuízo na cicatrização, distúrbios
hidroeletrolíticos, depressão do sistema imune, além de interferência
negativa em outros sistemas como pulmonar, neurológico e renal.
O controle glicêmico estrito pode, além de diminuir as taxas de
mortalidade, diminuir as taxas pós-operatórias de infecção, principalmente
mediastinite. Esse efeito benéfico pode ser visto tanto em pacientes
diabéticos, como em não diabéticos que apresentem níveis glicêmicos
alterados no pós-operatório. Esse controle também está associado à
presença de uma melhor função contrátil do miocárdio, com menor
necessidade de uso de drogas inotrópicas no pós-operatório e a menores
níveis de lactato.
Entretanto, a ocorrência de episódios de hipoglicemia, comuns aos
diversos protocolos de controle glicêmico disponíveis, além dos efeitos
colaterais do uso de altas doses de insulina, podem contrabalancear os
efeitos positivos dessa terapêutica, devendo ser prevenidos. O nível ótimo
de glicemia a ser atingido ainda não é estabelecido.
A Tabela 11 mostra protocolo de controle glicêmico da UTI pós-
operatória do InCor/HC-FMUSP:
Insuficiência Adrenal
Complicação presente em até 0,1% dos pacientes submetidos à
cirurgia cardíaca e que pode ser exacerbada pela circulação
extracorpórea. Pacientes usuários crônicos de corticoterapia devem
Disfunção Tireoidiana
Os níveis séricos de T3 livre no pós-operatório de cirurgia cardíaca
estão frequentemente reduzidos. A despeito de seus efeitos benéficos
sobre o débito cardíaco e sobre a resistência vascular sistêmica, não há,
na literatura, até o presente momento, dados convincentes de que a
reposição desse hormônio traga benefícios. Parece que a reposição de T3
no pós-operatório de pacientes com função tireoidiana normal no pré-
operatório deva ser reservada para os casos de baixo débito refratário.
Para pacientes que recebiam hormônio tireoidiano no pré-
operatório, deve-se reiniciar sua reposição, o mais precocemente possível,
no pós-operatório.
TÓPICOS IMPORTANTES
A cirurgia cardíaca, a despeito de todo avanço científico
incorporado pela medicina nas últimas décadas, continua a ser
uma modalidade terapêutica com grandes repercussões na
homeostase dos diversos sistemas do corpo humano. Sem
dúvida, os cuidados médicos apropriados no pós-operatório
sobre os mais diversos sistemas constituem parte fundamental
para a boa evolução clínica dos doentes.
É importante lembrar que, mesmo com todo arsenal diagnóstico
complementar disponível atualmente, a anamnese e o exame
físico permanecem como as principais ferramentas para o
precoce e correto diagnóstico das principais complicações.
Não se deve atrasar o tratamento de uma possível
complicação, suspeitada clinicamente, para aguardar a
realização de um exame complementar.
A participação da equipe multidisciplinar de saúde, com
enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas, psicólogos e
nutricionistas, são indissociáveis dos cuidados médicos, tendo
inclusive, relevância estatística para redução de
morbimortalidade.
BIBLIOGRAFIA
1. Nicolau JC et al. Condutas práticas em cardiologia. 2010.
2. Libby P et al. Braunwald’s heart disease: a textbook of cardiovascular
medicine. 8.ed. 2008.
3. Schettino G et al. Paciente crítico: diagnóstico e tratamento. Hospital
Sírio-Libanês. 2006.
4. Lipshutz AK, Gropper MA. Perioperative glycemic control: an evidence-
based review. Anesthesiology 2009; 110(2):408-21.
5. Echahidi N, Pibarot P, O’Hara G, Mathieu P. Mechanisms, prevention,
and treatment of atrial fibrillation after cardiac surgery. J Am Coll
Cardiol 2008; 51:793-801.
6. Dunning J, Versteegh M, Fabbri A, Pavie A, Kolh P, Lockowandt U et
al. Guideline on antiplatet and anticoagulation management in cardiac
surgery. Eur J Cardiothorac Surg 2008; 34:73-92.
7. Thygesen K, Alpert JS, White HD et al. Universal definition of
myocardial infarction. Circulation 2007; 116:2634-53.
8. Loef GB, Epema AH, Smilde TD, Robert HH, Ebels T, Navis G et al.
Immediate postoperative renal function deterioration in cardiac surgical
patients predicts in-hospital mortality and long-term survival. J Am Soc
Nephrology 2005; 16:195-200.
9. André ACS, DelRossi A. Hemodynamic management of patients in the
first 24 hours after cardiac surgery. Crit Care Med 2005; 33:2082-93.
Comentários