Sebenta de Gestão Financeira

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Sebenta

Gestão Financeira
da teoria à prática

Alexandrino Ribeiro
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Sebenta

Gestão Financeira
da teoria à prática

Alexandrino Ribeiro

Alexandrino Ribeiro 1
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Índice

Prefácio ...................................................................................................................... 5

Capítulo I – Introdução
1.1. As funções da empresa ………………………………………………..……………… 7
1.2. A função financeira: objetivos e sua evolução histórica …………..……………….. 7
1.3. A análise financeira: objetivos e interessados ………………………..………….... 10

Capítulo II – Instrumentos de análise


2.1. Os documentos contabilísticos e suas limitações ………………………,,……….. 12
2.1.1. Material de suporte contabilístico ……………………………..………………….. 12
2.1.1.1. O balanço …………………………………………………………………………. 13
2.1.1.2. A demonstração de resultados ……………………………….………………… 15
2.1.2. Limitações dos documentos contabilísticos ……………………...……………… 15
2.2. Informações de carácter extra contabilístico …………………………...………….. 16
2.3. Dos documentos contabilísticos aos documentos financeiros certificados e
preparados para análise ………………………………………………………...………… 17
2.3.1. Principais correções financeiras ………………………………………………….. 17
2.3.1.1. A certificação ……………………………………………………….…………….. 17
2.3.1.2. A preparação e a arrumação ……………………………………………………. 18

Capítulo III – Métodos e Técnicas de Análise


3.1. O método da comparação de balanços e de demonstrações de resultados de
exercícios sucessivos …………………………………………………..…………………. 21
3.2. O método dos rácios ou indicadores ………………………..……………………… 26

Capítulo IV – Estudo do Equilíbrio Financeiro a Curto Prazo e a Médio/Longo


Prazo
4.1. Da regra do equilíbrio financeiro mínimo à análise funcional do equilíbrio …..… 32
4.1.1. A regra do equilíbrio financeiro mínimo ………………………………………….. 32
4.1.2. A liquidez …………………………………………………………………………….. 33
4.1.3. O fundo de maneio ……….………………………………………………………… 33
4.1.4. As necessidades de fundo de maneio …………………………...………………. 36
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4.1.5. A relação fundamental de tesouraria …………………………………………….. 38


4.2. O equilíbrio estrutural de tesouraria ………………………………………………… 39
4.2.1. O balanço funcional ………………………………………………..………………. 39
4.3. A análise dos fluxos monetários ………………………………………….…………. 41
4.3.1. A demonstração dos fluxos de caixa …………………………………….……….. 42
4.4. Condições para a manutenção de equilíbrio financeiro a médio/longo prazo .… 44
4.5. Conceito de solvabilidade. Sua avaliação …………………………………………. 45
4.6. Perda e recuperação de solvabilidade ………………………………….………….. 45

Capítulo V – Estudo da Rendibilidade


5.1. Tipos de rendibilidade ……………………………………………………...………… 54
5.1.1. A rendibilidade financeira …………………………………………………..……… 54
5.1.2. A rendibilidade económica ……………………………………...…………………. 56
5.1.3. A rendibilidade das vendas …………………………………………...…………… 57
5.2. Análise integrada dos diferentes tipos de rendibilidade ………………….………. 58
5.3. Equilíbrio financeiro e rendibilidade: o efeito alavanca financeiro ………….…… 60
5.4. O limiar da rendibilidade ou Ponto Morto das Vendas ……………………………. 61
5.5. Cash-flow e rendibilidade ……………………………………………………………. 64
5.6. O conceito de autofinanciamento …………………………………………………… 66
5.7. Estudo da produtividade …………………………………………...………………… 68

Capítulo VI – O Planeamento Financeiro ……………………….……………………. 70

Capítulo VII – Análise e Avaliação do Risco


7.1. Risco operacional …………………………………………………….………………. 73
7.2. Risco financeiro ………………………………………………………..……………… 74
7.3. Risco global ……………………………………………………………………………. 75

Casos Práticos
Capítulo II ………………………..………………………………………………………..… 77
Capítulo III ………...………………………………………………………………………… 83
Capítulo IV ………………………………………………………………………………….. 87
Capítulo V …………..………………………………………………………………………. 90
Capítulo VI ………………………..……………………………………………………….. 101

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Capítulo VII ………………………...……………………………………………………… 106

Bibliografia ................................................................................................................ 109

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Prefácio

Num mercado onde existe uma concorrência feroz entre as


empresas perante clientes cada vez mais exigentes, a gestão
financeira é uma questão central nas organizações, sejam elas de
cariz privado ou de cariz público. Estas exigências de
competitividade impõem otimização de rendimentos e gastos a todos
os níveis, inclusive os rendimentos e gastos financeiros.
Os conteúdos presentes nesta Sebenta, Gestão Financeira – da
teoria à prática, servem de ponto de partida, para o estudo, no
âmbito das Unidades Curriculares de Gestão Financeira e de Gestão
e Análise Financeira. Os conceitos e conteúdos nela apresentados,
permitem que os alunos fiquem a conhecer e dominem um conjunto
de teorias e técnicas, relacionadas com a Função Financeira da
empresa. Estes conhecimentos vão permitir que na sua vida
profissional, como elementos activos na gestão das organizações,
participem mais eficientemente na gestão e análise económica e
financeira, permitindo ainda que se familiarizem com a literatura
especializada na área da Gestão Financeira. Permitindo ainda que
realizem um melhor acompanhamento das aulas da Unidade
Curricular.
São igualmente propostos uma série de casos práticos, que
vão de encontro à parte teórica apresentada. Tais exercícios
destinam-se a ser resolvidos no decurso das aulas da Unidade
Curricular, à medida que se vão enquadrando nos conceitos teóricos
em discussão, e permitiram uma melhor compreensão da parte
teórica.
Como principais resultados a obter na aprendizagem com a
leitura e resolução dos casos práticos presentes na Sebenta, estes
consistem em:
- Distinguir o balanço como documento contabilístico do balanço
para fins de análise económica e financeira;
- Converter a informação contabilística em informação de gestão;
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- Aplicar métodos e técnicas de análise económica e financeira,


como o método dos rácios;
- Distinguir análise estática de análise dinâmica;
- Distinguir análise financeira de análise económica;
- Compreender a importância da análise dinâmica no estudo da
situação económica e financeira da empresa;
- Integrar a análise de balanços no trabalho de fim de exercício;
- Elaborar relatórios de gestão.

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Capítulo I

INTRODUÇÃO

1.1. As funções da empresa

No interior de uma empresa convêm distinguir-se cinco grandes funções, ou


áreas de atuação:

- Função Direção

- Função Comercial (Marketing)

- Função Financeira

- Função Produção

- Função Pessoal (Recursos Humanos)

Todas estas funções, ou áreas de atuação, devem-se conjugar, devendo


formar um todo, visto que a estratégia adotada na Função Financeira deve ser
coerente com a estratégia adoptada na Função Comercial, na Função Produção, na
Função Pessoal (ou Recursos Humanos) e na Função Direcção.

1.2. A função financeira: objetivos e sua evolução histórica

A função financeira de uma empresa ou organização norteia-se, de uma forma


resumida, por dois grandes objetivos, como:

1) O equilíbrio dos fluxos económicos e financeiros

- Os fluxos financeiros e económicos de uma empresa são a contrapartida de


fluxos de bens e serviços (fluxos físicos).

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2) A otimização do conjunto de proveitos financeiros e de encargos


financeiros

- A função financeira deve tomar as melhores decisões em questões


relacionadas com o financiamento e com o investimento que as empresas têm de
realizar para garantir o seu normal funcionamento.

A Evolução da Função Financeira

A evolução histórica da função financeira das empresas é marcada por três


grandes fases de evolução, sendo que essas fases registam uma evolução
cumulativa das tarefas a desempenhar pelo gestor financeiro.

1ª fase – Função Financeira  Tesoureiro

O tesoureiro efetuava os recebimentos e os pagamentos, decorrentes do


exercício das restantes atividades da empresa. Sendo uma fase com competências
restritas para o gestor financeiro mas importantes para garantir o normal
funcionamento da empresa e que, fundamentalmente nas pequenas e médias
empresas, ainda hoje várias empresas se encontram neste estágio de evolução do
seu departamento financeiro.

As grandes preocupações do gestor financeiro nesta fase de evolução são:

- Manutenção de um saldo de disponibilidades que lhe permitisse assegurar o normal


funcionamento da empresa;

- Rapidez na cobrança das dividas de clientes;

- Escalonamento adequado da liquidação dos débitos aos fornecedores.

Em suma, a função financeira limitava-se aquilo que atualmente se designa por


Gestão de Tesouraria em sentido restrito, ou gestão das disponibilidades.

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2ª fase – Função Financeira responsável pelas decisões sobre o financiamento

Nesta fase de evolução a função financeira da empresa passa a ter a seu


cargo também as decisões de financiamento, ou seja, a recolha atempada e ao menor
custo dos fundos que possibilitam o financiamento dos capitais necessários ao
funcionamento e desenvolvimento da empresa. Esta atuação ao nível das melhores
decisões de financiamento passa pela escolha, entre as várias possibilidades de
financiamento existentes no mercado financeiro, da opção mais racional para o
financiamento da atividade operacional da empresa como para o financiamento dos
investimentos que a empresa realiza a médio e longo prazo.

3ª fase – A Função Financeira participa nas decisões de investimento

Na terceira fase da evolução histórica da função financeira da empresa o


gestor financeiro desempenha um conjunto diversificado de tarefas, algumas que
derivam da primeira fase da evolução histórica, outras da segunda fase, mas também
um conjunto de novas tarefas que surgem nesta terceira fase. Deste modo, as
funções do gestor financeiro, na generalidade dos casos são:

- Organização do departamento financeiro e de tesouraria;

- Estudar novas formas de financiamento face à política de mercado de crédito;

- Adequar o período de crédito obtido dos fornecedores ao crédito concedido aos


clientes;

- Determinação das necessidades de financiamento face aos investimentos;

- Estabelecer a orçamentação e os elementos previsionais da empresa;

- Aplicação dos excedentes de fundos de tesouraria;

- Utilizar novos capitais de risco que minimizem os encargos financeiros;

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- Emitir pareceres sobre a evolução económica e financeira da empresa, mais


precisamente no tocante ao equilíbrio financeiro e à rendibilidade da mesma.

1.3. Análise financeira: objetivos e interessados

Para a realização de uma análise económica e financeira a uma empresa


torna-se necessário recorrer a um conjunto de ferramentas e métodos, que utilizam as
noções e os mecanismos provenientes de outras abordagens fundamentais da
atividade da empresa, tais como a economia, as ciências e técnicas de gestão, a
fiscalidade, o direito e a teoria das organizações. No final da realização da análise
económica e financeira o analista deve emitir um relatório financeiro onde expresse a
situação económica e financeira da empresa na atualidade, bem como a evolução
que essa situação económica e financeira registou nos últimos anos.
O relatório financeiro emitido vai interessar ser analisado por diversos
Stakeholders da empresa, tendo cada um desses agentes com interesses na
empresa diferentes perspetivas e interesses na análise do relatório financeiro. A
análise do relatório financeiro interessa aos seguintes Stakeholders, com o respetivo
interesse na análise:

- Aos gestores  orientar a sua gestão;

- Aos credores financeiros (Bancos)  condições e limites dos empréstimos;

- Aos fornecedores  fixar a política de crédito à empresa;

- Aos clientes  certeza nos fornecimentos e adiantamentos dos clientes;

- Aos investidores  política de compra e venda das ações da empresa;

- Diversos organismos (INE, Banco de Portugal)  elaboração de informação


económica e financeira;

- Trabalhadores  segurança do emprego e recebimento de ordenados;

- Estado  controlo fiscal.


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O trabalho do analista financeiro assenta fundamentalmente em três etapas


distintas. Começa na realização de uma “radiografia” ao Balanço, à Demonstração de
Resultados, à Demonstração de Fluxos de Caixa e a outras fontes de informação,
passa pela análise dos resultados dessa “radiografia” efetuada às demonstrações
financeiras e termina na elaboração de uma proposta de soluções de melhoria para a
saúde económica e financeira da empresa.

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Capítulo II

INSTRUMENTOS DE ANÁLISE

2.1. Os documentos contabilísticos e suas limitações

2.1.1. Material de suporte contabilístico

As demonstrações financeiras de origem contabilística são fundamentalmente


o balanço, a demonstração de resultados e a demonstração dos fluxos de caixa.
Nesta seção abordaremos o balanço e a demonstração de resultados, sendo a
demonstração dos fluxos de caixa abordada ao longo do capítulo IV.
Existem características que as demonstrações financeiras apresentam que são
importantes para a análise económica e financeira das empresas. Entre essas
características encontram-se: a relevância, a fiabilidade,

- Relevância: consiste na qualidade que as demonstrações financeiras têm de


influenciar as decisões dos seus utilizadores, ao ajudá-los a avaliar acontecimentos
passados, presentes e futuros, a confirmar ou corrigir as suas avaliações. A
relevância da informação pode ser perdida se houver demora no seu relato.

- Fiabilidade: as demonstrações financeiras têm que estar libertas de erros materiais


e de juízos prévios, ao mostrar apropriadamente o que tem por finalidade apresentar
ou se espera que razoavelmente represente. Para que a informação seja fiável deve
ser neutra e ter em consideração a substância económica dos factos e não apenas a
sua forma legal.

- Comparabilidade: a quantificação dos efeitos financeiros de operações e de outros


acontecimentos deve ser registada de forma consistente pela empresa e durante a
sua vida, para se identificarem tendências na sua posição financeira. Por outro lado,
as empresas devem adotar os princípios de normalização contabilística, a fim de se
conseguir comparabilidade entre elas.

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2.1.1.1. O balanço

O balanço é um documento contabilístico que expressa a situação patrimonial


de uma empresa, em determinada data, comprovando a seguinte equação
patrimonial:

Capitais próprios = Ativo – Passivo

Sendo o Ativo o conjunto de bens e direitos pertencentes à empresa, o Passivo


o conjunto das obrigações pelas quais a empresa deve responder e o Capital Próprio
a diferença entre o conjunto de bens e direitos pertencentes à empresa e o conjunto
das obrigações pelas quais a empresa deve responder
O balanço de uma empresa divide-se em dois membros distintos, existindo
regras de organização e ordenação das rubricas financeiras no balanço dentro de
cada um dos membros, sendo que:
- As rubricas que compõem o primeiro membro do balanço são ordenadas
segundo um grau crescente de liquidez;
- As rubricas que compõem o segundo membro do balanço são ordenadas
segundo um grau crescente de exigibilidade.

Por outro lado, dado que a empresa se financia com capitais próprios e capitais
alheios, será normal que o Ativo exceda o Capital Alheio. Se assim não for, diz-se que
a empresa está tecnicamente falida ou insolvente.
No primeiro membro do balanço, numa ótica financeira, são apresentadas as
rubricas relativas aos Investimentos, sendo as mesmas divididas em dois grandes
blocos financeiros: o Ativo Não Corrente (ou Ativo Fixo) e o Ativo Corrente (ou Ativo
Circulante).

1) Ativo Não Corrente/ Ativo Fixo

O Ativo Não Corrente é composto pelo conjunto de valores destinados a


permanecer de modo duradoiro na empresa (imobilizações), e divide-se em:

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 Ativos Intangíveis/ Imobilizações Incorpóreas;

 Ativos Fixos Tangíveis/ Imobilizações Corpóreas;

 Investimentos Financeiros.

2) Ativo Corrente/ Ativo Circulante

O Ativo Corrente é composto pelo conjunto de valores sujeitos a uma


renovação constante, devido à atividade normal da empresa, e divide-se em:

 Existências;

 Dividas de terceiros;

 Títulos negociáveis;

 Depósitos bancários e caixa.

No segundo membro do balanço, numa ótica financeira, são apresentadas as


rubricas relativas aos Financiamentos, podendo os mesmos ser financiamentos
através de capitais próprios ou financiamentos através de capitais alheios. As rubricas
do segundo membro do balanço podem ainda ser divididas em dois grandes blocos
financeiros: os Capitais Permanentes e o Passivo Corrente (ou Passivo Circulante).

1) Capitais Permanentes

Os Capitais Permanentes são constituídos pelo conjunto de fundos utilizados


pela empresa durante um período de tempo superior a um ano, e divide-se em:

 Capital Próprio;

 Passivo Não Corrente/ Débitos de Médio e Longo Prazo.

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2) Passivo Corrente/ Exigível a curto prazo

O Conjunto de fundos utilizados pela empresa cujo prazo de vencimento é


inferior a um ano, e inclui:

 Passivo Corrente/ Débitos a curto prazo.

2.1.1.2. A demonstração de resultados

A demonstração de resultados é um documento contabilístico que evidencia a


formação de resultados (lucros ou prejuízos) num determinado período temporal
(geralmente um ano), permitindo assim, a avaliação do desempenho económico da
empresa no referido período.
Existem duas formas de elaborar e apresentar a demonstração de resultados:

a) Demonstração de resultados por natureza, onde nesta demonstração de


resultados agrega-se os rendimentos e os gastos em grupos homogéneos de
acordo com a sua natureza;

b) Demonstração de resultados por funções, onde os rendimentos e os gastos são


agregados por funções, evidenciando os custos das funções clássicas da
empresa: produção, distribuição, administrativa e financeira. Para a elaboração da
demonstração de resultados por funções é importante que a empresa tenha
implementado um Sistema de Contabilidade Analítica.

2.1.2. Limitações dos documentos contabilísticos

Os documentos contabilísticos são importantes para a realização de uma


análise económica e financeira à empresa, mas apresentam algumas limitações que
derivam do facto desses documentos contabilísticos serem elaborados com base em
regras e princípios contabilísticos. As principais limitações dos documentos
contabilísticos, como o balanço e a demonstração de resultados são:

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1) Não refletem valores atuais, pois a contabilização segue, em regra, o princípio do


custo histórico;

2) Existem contas que o seu valor foi estipulado através de uma estimativa;

3) A reavaliação do imobilizado é uma prática pouco usual nas empresas;

4) Muitas rubricas com valor financeiro estão omitidas do balanço, porque a sua
valorização objetiva oferece algumas dificuldades;

5) Os diferentes critérios valorimétricos utilizados, podem provocar diferenciações nas


várias empresas e dificuldades na comparação;

6) As normas contabilísticas são muitas vezes ditadas por imperativos fiscais, o que
reduz o significado económico-financeiro da informação contabilística.

2.2. Informações de carácter extra contabilístico

Para além das demonstrações contabilísticas, como o balanço, a


demonstração de resultados e a demonstração dos fluxos de caixa, para se analisar a
situação económica e financeira de uma empresa, pode-se recorrer a outras
informações, tais como:

 Informações sobre a própria empresa;

 Informações sobre o produto da empresa;

 Informações sobre a conjuntura nacional e internacional;

 Anexo ao balanço e à demonstração de resultados: conjunto de notas explicativas


aos documentos contabilísticos;

 Centrais de balanços (Ex: Banco de Portugal).

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2.3. Dos documentos contabilísticos aos documentos financeiros


certificados e preparados para análise

2.3.1. Principais correções financeiras

Para se efetuar uma correta análise económica e financeira da empresa existe


a necessidade de se realizar duas tarefas prévias sobre as demonstrações financeiras
emanadas da contabilidade da empresa:

 A certificação;

 A preparação ou arrumação.

2.3.1.1. A certificação

A certificação das contas em algumas empresas, nomeadamente nas


empresas de maior dimensão, é realizada por auditores internos ou externos e, por
vezes, até mesmo por Revisores Oficiais de Contas. Nas pequenas e médias
empresas esse trabalho de certificação muitas vezes não é realizado pelo que se
torna necessário o analista financeiro tomar as devidas diligências para atestar que os
valores inscritos em cada uma das rubricas correspondem à realidade dos factos e
que não existem factos materialmente relevantes ocultados nas contas da empresa.
Na certificação das contas de uma empresa convém prestar atenção muito
especial às seguintes rubricas, dado que são rubricas muito suscetíveis a
lançamentos irregulares:

 Devedores em geral – deve-se analisar a natureza dos componentes de cada


rubrica e a probabilidade do recebimento de cada crédito;

 Credores em geral – deve-se separar as dividas correntes das dividas


consideradas anómalas;

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 Existências ou stocks/Inventários – deve-se detetar a existência de monos,


artigos defeituosos, antiquados, etc., criando ou corrigindo a provisão para
depreciação de existências conforme tal se torne necessário;

 Amortizações – deve-se analisar se as amortizações têm sido habitualmente


praticadas e se vão ao encontro da vida útil dos bens do imobilizado;

 Provisões, deve-se analisar se as provisões criadas vão de encontro com a


probabilidade de ocorrência do gasto.

2.3.1.2. A preparação e a arrumação

Na fase de preparação e arrumação das rubricas o analista financeiro entra


com mais profundidade no conteúdo de cada uma das rubricas e são efetuadas as
agregações, desagregações ou transferências que se tornam necessárias para
permitir uma visão mais adequada da situação económica e financeira da empresa.
No final desta fase é obtido o Balanço Financeiro da empresa que deriva do seu
Balanço Contabilístico conjugado com as correções financeiras operadas.

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Estrutura do Balanço Financeiro


1º Membro
Ativo

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2º Membro
Capital Próprio e Passivo

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Capítulo III

MÉTODOS E TÉCNICAS DE ANÁLISE

O que realmente interessa numa análise económica e financeira de uma


empresa é analisar o presente, recorrendo ao passado, para se poder perspetivar a
evolução económica e financeira futura da empresa. Daqui resulta a importância de
para além de uma análise económica e financeira estática, ser efetuada uma análise
económica e financeira dinâmica pois várias empresas com uma estrutura financeira
semelhante em dado momento, poderão encontrar-se efetivamente, se se tiver em
conta a evolução passada e as perspetivas de evolução futuras, em situações
económicas e financeiras reais diferentes.

Na literatura encontramos referencia às seguintes técnicas de análise


económica e financeira às Demonstrações Financeiras:

1. Análise das DF de um único período;

2. Comparação de DF sucessivas;

3. Utilização de rácios.

3.1. O método da comparação de balanços e de demonstrações de


resultados de exercícios sucessivos

Antes de entrarmos propriamente na análise das demonstrações financeiras de


exercícios económicos sucessivos iniciamos pela análise de demonstração do
Balanço de um único período. Apesar dessa análise evidenciar uma visão estática da
situação económica e financeira da empresa, permite obter já algumas informações
importantes sobre a mesma, nomeadamente a existência de equilíbrio ou
desequilíbrio financeiro, de curto e/ou de médio e longo prazo, no momento a que
reporta a demonstração financeira analisada.

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1. Análise das demonstrações financeiras de um único período

Considerando o Balanço seguinte o da empresa A reportado a 31 de dezembro


do ano N, pretende-se que seja retirada a máxima informação financeira desse
mesmo
balanço.

Na análise financeira efetuada sobre um Balanço de um determinado momento


é importante ter em consideração aspetos como:

- A relativização dos valores da coluna [1] possibilita uma leitura fácil e imediata da
estrutura sintética do Balanço;

- Podemos analisar o peso relativo das diferentes rubricas do Balanço e apreender se


estão criadas as condições para que a empresa observe o equilíbrio financeiro,
olhando para a relação entre os Capitais Permanentes e o Ativo Não Corrente e entre
o Ativo Corrente e o Passivo Corrente;

- Este método é também utilizado nas análises cross section dos dados, permitindo
aferir do posicionamento relativo da empresa A, face a concorrentes e à média da
Indústria a que pertence, como pode ser visualizado e analisado pela Tabela
seguinte:

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2. Análise das demonstrações financeiras sucessivas

O princípio utilizado nesta técnica de análise económica e financeira das


demonstrações financeiras sucessivas é a justaposição de imagens sucessivas de
uma mesma realidade transformar várias análises estáticas numa análise dinâmica a
situação económica e financeira da empresa.

A partir da definição de séries temporais, é possível apreender as tendências


da evolução futura da empresa. Esta comparação das demonstrações financeiras
sucessivas pode ser efetuada em valores absolutos ou em percentagem.

2.1. Comparação em valores absolutos

A comparação das últimas demonstrações financeiras da empresa com as


anteriores, em termos absolutos, permite obter uma visão direta e rápida da evolução
da situação económica e financeira, através das mutações verificadas nas diferentes
massas patrimoniais.

Nas Tabelas seguinte são apresentados dois balanços da empresa X a 31 de


dezembro do ano N e a 31 de dezembro do ano n+1 (com valores em Euros), assim
como as mutações verificadas em cada uma das rubricas. Essas mutações devem ser
analisadas e averiguar as eventuais razões económicas e financeiras que as possam
originar.

Alexandrino Ribeiro 23
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+ -
Ativo N N+1
 

Ativo Não Corrente

Ativos Fixos Tangíveis 250.000 400.000 150.000

Ativos Intangíveis 25.000 20.000 5.000

Ativo Corrente

Inventários 30.000 60.000 30.000

Clientes c/c 35.000 80.000 45.000

Estado Outros Entes 5.000 5.000


Públicos

Depósitos bancários 40.000 4.000 36.000

Caixa 3.500 1.000 2.500

Total 388.500 570.000 225.000 43.500

Alexandrino Ribeiro 24
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Capital Próprio e Passivo N N+1 + -

Capital próprio 53.500 53.500

Passivo

Passivo Não Corrente

Financiamentos obtidos 100.000 200.000 100.000

Passivo Corrente

Financiamentos obtidos 80.000 120.000 40.000

Fornecedores c/c 150.000 190.000 40.000

Estado Outros Entes 5.000 6.500 1.500


Públicos

Total 388.500 570.000 181.500

2.2. Comparação em percentagem

Numa análise financeira com base em percentagem podemos voltar a ter,


como exemplo os balanços da empresa A nos anos de n, n-1 e n-2.

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3.2. O método dos rácios ou indicadores

Um rácio consiste numa relação significativa entre duas rubricas do balanço ou


da demonstração de resultados, podendo ser expresso quer sob a forma de
quociente, quer sob a forma de percentagem. Na construção dos rácios devemos ter
em conta dois grandes princípios:
 Não conterem elementos estranhos ao fenómeno a observar;
 Os elementos confrontados devem pertencer ao mesmo período.

Os rácios apresentam vantagens e desvantagens ao serem utilizados como


instrumento de análise económica e financeira de uma empresa. As principais
vantagens do método dos rácios na análise da situação económica e financeira de
uma empresa derivam do facto de permitirem:

 Obter informações sintéticas sobre aspetos que interessam à gestão;

 Efetuar comparações que não são possíveis realizar por meio de números
absolutos;

 Apreciar a evolução do facto que se esteja a analisar, através do cálculo do mesmo


rácio ao longo do tempo;

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 Relacionar indicadores interligados;

 Comparar a situação da empresa com as empresas do mesmo sector e com a


mesma dimensão.

Através destas vantagens do método dos rácios, pode-se: criar um quadro de


indicadores significativo; utilizar indicadores homogéneos e comparar a situação
económico e financeira de duas empresas.

O método dos rácios também apresenta algumas limitações quando é utilizado


como método de análise económica e financeira de uma empresa, tais como:

 Os rácios são um simples instrumento de análise financeira que não substitui a


apreciação do analista;

 Um rácio isolado pouca informação fornece;

 Uma análise não deve ser conduzida ao sabor de uma série de rácios;

 As diferentes práticas contabilísticas adotadas pelas empresas inviabilizam a


comparação de rácios entre empresas;

 A contabilidade é feita a custos históricos, assim a inflação verificada na economia


afeta de forma diferente as empresas e dificulta a comparação de diferentes anos.

Os rácios podem ser classificados em dois grandes grupos, os de cariz


económicos e os de cariz financeiro. Os rácios de cariz económico são aqueles que
dizem respeito à análise da rentabilidade de uma empresa. Os rácios de cariz
financeiro são aqueles que estão mais relacionados com o equilíbrio das diversas
massas patrimoniais do balanço, nomeadamente as de curto prazo e as de médio e
longo prazo.

Alexandrino Ribeiro 27
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Rácios Financeiros

1) Rácios de Liquidez

A Liquidez consiste na capacidade de uma empresa solver os seus


compromissos no curto prazo, ou seja, nos próximos doze meses. Existem
essencialmente três rácios de liquidez: a Liquidez Geral, a Liquidez Reduzida e a
Liquidez Imediata, sendo as respetivas fórmulas de calculo apresentadas
seguidamente.

1.1) Liquidez Geral (LG)

Liquidez Geral = Ativo Corrente/ Passivo Corrente

1.2) Liquidez Reduzida (LR)

Liquidez Reduzida = (Ativo Corrente – Inventários)/ Passivo Corrente

1.3) Liquidez Imediata (LI)

Liquidez Imediata = Disponibilidades/ Passivo Corrente

2) Rácios de Funcionamento

Os Rácio de funcionamento dizem respeito à aferição da eficiência com que


a empresa está a gerir os ativos e os passivos que possui. Visam essencialmente
introduzir uma análise dinâmica ao equilíbrio financeira de curto prazo. São
fundamentalmente três os rácios de funcionamento: O Prazo Médio de Recebimentos,

Alexandrino Ribeiro 28
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

o Prazo Médio de Pagamentos e o Prazo Médio de Existências (Inventários), sendo


as respetivas fórmulas de calculo apresentadas seguidamente.

2.1) Prazo Médio de Recebimentos (PMR)

PMR = ((Clientes c/c + Clientes letras a receber)/ Vendas líquidas)* 12

2.2) Prazo Médio de Pagamentos (PMP)

PMP = ((Fornecedores c/c + Fornecedores título a pagar)/ Compras anuais)* 12

2.3) Prazo Médio de Existências (PME)

PME = (Inventários/ Custo das Mercadorias Vendidas e Matérias Consumidas)* 12

3) Rácios de rotação

Os indicadores de rotação também nos permitem aferir da velocidade da


transformação dos elementos do ativo em meios líquidos e dos elementos do passivo
em exigível. Existem, essencialmente, três indicadores de rotação: a Rotação de
Clientes, a Rotação de Fornecedores e a Rotação do Ativo, sendo as respetivas
fórmulas de calculo apresentadas seguidamente.

3.1) Rotação de Clientes (RC)

RC = Vendas/ Clientes

Alexandrino Ribeiro 29
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

3.2) Rotação de Fornecedores (RF)

RF = Compras/ Fornecedores

3.3) Rotação do Ativo (RA)

RA = Vendas/ Ativo

Para analisar se a empresa possui equilíbrio financeiro a curto prazo devemos


analisar:

 a relação entre os valores realizáveis e disponíveis e o exigível a curto prazo;

 a velocidade de transformação do realizável e disponível em meios líquidos e


do exigível a curto prazo em dividas imediatamente exigíveis.

4) Rácios de Solvabilidade

A Solvabilidade consiste em analisar a capacidade da empresa solver os seus


compromissos a médio longo prazo. Nesta seção vamos abordar quatro rácios de
solvabilidade: a Solvabilidade geral, a Solvabilidade Reduzida, a Autonomia
Financeira e a Cobertura do Imobilizado, sendo as respetivas fórmulas de calculo
apresentadas seguidamente.

4.1) Solvabilidade Geral (SG)

SG = Capitais Próprios/ Passivo Total

Alexandrino Ribeiro 30
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

4.2) Solvabilidade Reduzida (SR) ou Endiv. a Médio Longo Prazo (EMLP)

EMLP = Capitais Próprios/ Passivo Não Corrente

4.3) Autonomia Financeira (AF)

AF = Capitais Próprios/ Ativo Total

4.4) Cobertura do Imobilizado (CI)

CI = Capitais Permanentes/ Ativo Não Corrente

Regra geral, quanto maiores forem os rácios de solvabilidade melhor para o


equilíbrio financeiro a médio e longo prazo pois significa que a empresa dispõe de
uma maior autonomia financeira perante os credores.

Como exercício sobre os rácios de solvabilidade e a sua análise propõe-se um


exercício de investigação que se traduz na resposta à seguinte questão:

- Como deverá atuar a gestão financeira da empresa quando a solvabilidade é fraca?

Alexandrino Ribeiro 31
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Capítulo IV

ESTUDO DO EQUILIBRIO FINANCEIRO A CURTO E A


MÉDIO/ LONGO PRAZO

4.1. Da regra do equilíbrio financeiro mínimo à análise funcional do


equilíbrio

Após uma primeira abordagem à temática do equilíbrio financeiro ao longo do


Capítulo 3, torna-se pertinente, no intuito de consolidar conceitos, debater duas
questões importantes nomeadamente para o estudo do Capítulo IV. Essas questões
traduzem-se nas seguintes:

 O que é o equilíbrio financeiro?

 Quando e em que condições posso afirmar que uma empresa está, ou não,
equilibrada financeiramente?

4.1.1. A regra do equilíbrio financeiro mínimo

Numa abordagem estática do equilíbrio financeiro assenta na seguinte regra do


equilíbrio financeiro mínimo:

“Os capitais utilizados por uma empresa para financiar uma imobilização, um
stock ou outro elemento do seu ativo, devem poder ficar à sua disposição durante o
período que corresponde, pelo menos, ao da duração da imobilização, do stock ou
outro elemento adquirido com esses mesmos capitais”

Perante esta definição sobre a regra do equilíbrio financeiro mínimo podemos


afirmar que, cumprindo rigorosamente a mesma, se vai verificar as seguintes duas
igualdades:

 O ativo não corrente deve ser igual aos capitais permanentes;

 O ativo corrente deve ser igual ao passivo corrente.


Alexandrino Ribeiro 32
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Deste modo, se empresa cumprir rigorosamente a regra do equilíbrio financeiro


mínimo o seu balanço terá uma simetria entre os dois membros, apresentando uma
estrutura idêntica à da Figura seguinte.

Activos Capitais
Imobilizados Permanentes

Activos Capitais Alheios


Circulantes de CP

Apesar do interesse e da pertinência da regra do equilíbrio financeiro mínimo


para o equilíbrio financeiro da empresa, pode ser apontada como grande crítica a esta
mesma regra o facto de apresentar uma perspetiva estática de análise, o que se
revela muito limitativa para a dinâmica atual do meio envolvente às empresas.

4.1.2. A liquidez

A liquidez é um conceito que iniciamos a sua análise em capítulos anteriores e


que, numa perspetiva dinâmica de análise, consiste na adequação, a todo o tempo,
entre aplicações e origens, decorrentes do funcionamento normal da empresa, numa
ótica de financiamento global.

4.1.3. O fundo de maneio

O conceito de fundo de maneio pode ser abordados numa perspetiva estática


mas também numa perspetiva dinâmica. Inicialmente será efetuada uma abordagem
à perspetiva estática de fundo de maneio e, posteriormente, será abordada a
definição dinâmica deste mesmo conceito financeiro.

Alexandrino Ribeiro 33
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Na perspetiva estática de fundo de maneio podemos seguir duas definições


que originam cada uma delas formulas de calculo importantes para a obtenção do
valor desta variável financeira. As duas definições consistem nas seguintes:

 Diferença entre os capitais circulantes e o exigível a curto prazo, ou seja,


parte do ativo corrente que, estando fora da exigência imediata dos credores, aparece
ligada à exploração, podendo nela considerar-se comprometida de forma duradoura;

 Diferença entre os capitais permanentes e as imobilizações líquidas, ou seja,


excedente de capitais permanentes sobre os ativos não correntes.

Do cálculo do fundo de maneio por cada uma das fórmulas que resultam das
definições anteriormente apresentadas constata-se que o fundo de maneio de uma
empresa, numa determinada data, pode assumir valor positivo, negativo ou nulo.

Apesar desta definição de fundo de maneio numa perspetiva estática ser


interessante para a análise financeira de uma empresa, na análise do equilíbrio
financeiro de curto prazo devemos ter em consideração o prazo de realização dos
ativos circulantes (PRA) e o prazo de exigibilidade dos débitos de curto prazo (PED).
Da conjugação das possibilidades do fundo de maneio ser positivo, negativo ou nulo,
com a relação entre o PRA e O PED, surgem nove possibilidades distintas de
situação financeira de uma empresa, como pode ser visualizado e analisado na
Tabela seguinte.

Alexandrino Ribeiro 34
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

A análise presente na Tabela anterior introduz uma vertente dinâmica do fundo


de maneio. Nessa vertente dinâmica o fundo de maneio de uma empresa consiste no
conjunto de valores submetidos às transformações cíclicas de período curto, e cujo
destino normal no fim de cada ciclo de exploração é serem rentabilizados no circuito
de exploração seguinte.

Torna-se assim pertinente definir ciclo de exploração, consistindo este no


número de dias que decorre entre o momento em que se compra a matéria-prima,
passando pela fase de aprovisionamento, pelo processo de transformação dessas
matérias-primas, pelo aprovisionamento dos produtos acabados, pelo momento em
que se vende o produto final e se cobra aos clientes. Com tudo o restante constante
podemos referir que quanto maior a duração do ciclo de exploração maior terá de ser
o investimento, pelo que maior terá que ser o fundo de maneio da empresa.

Alexandrino Ribeiro 35
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Associado ao conceito dinâmico de fundo de maneio e ao conceito de ciclo de


exploração torna-se pertinente calcular o Ciclo de Caixa (CC) de uma empresa, na
medida em que o fundo de maneio criado pela empresa é importante para o
financiamento do seu Ciclo de Caixa.

O cálculo do Ciclo de Caixa pode ser efetuado com o recurso às fórmulas


seguintes, dependendo se estamos perante uma empresa comercial ou perante uma
empresa industrial.

- Empresa Comercial

CC = PME mercadorias + PMR clientes – PMP fornecedores

- Empresa Industrial

CC = PME matérias-primas + PME produtos acabados + PMR clientes – PMP fornecedores

4.1.4. As necessidades de fundo de maneio

Na análise do equilíbrio financeiro de curto prazo é importante a comparação


entre o fundo de maneio que a empresa possui e a sua necessidade de fundo de
maneio. Deste modo, torna-se pertinente determinar a necessidade de fundo de
maneio da empresa, podendo esta ser calculada pelo método indireto de cálculo (com
base nos prazos médios do Ciclo de Caixa) ou pelo método direto de cálculo (com
base no Balanço Funcional).

Iniciando pela necessidade de fundo de maneio pelo método indireto de


cálculo, este método tem em consideração os vários prazos médios que constituem o
ciclo de exploração, principalmente o ciclo de caixa, mas devidamente ponderados
em função de um único fator de ponderação. O fator de ponderação normalmente
utilizado é o volume de vendas anual. Este cálculo das necessidades de fundo de
maneio seguindo os seguintes quatro passos:

Alexandrino Ribeiro 36
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

1º passo: cálculo dos prazos que constituem o Ciclo de Caixa (CC)

PME matérias = Saldo de matérias * 365


Consumo anual
(prazo expresso em termos de dias de consumo)

PME produtos acabados = Saldo de produtos acabados *365

Custo das mercadorias vendidas

(prazo expresso em termos de dias de vendas)

PMR = Saldo de clientes *365

Vendas anuais

(prazo expresso em termos de dias de vendas)

PMP = Saldo de fornecedores *365

Compras anuais

(prazo expresso em termos de dias de compras)

Em rigor, este cálculo não está de todo correto, pois estamos a calcular prazos
em dias de vendas, dias de consumo e dias de compras. Para resolver este problema
temos que avançar para o 2º passo.

2º passo: conversão dos prazos do ciclo de caixa (C.C.) em dias de vendas ao preço
de venda (implica utilizar como fator de ponderação as vendas líquidas);

Alexandrino Ribeiro 37
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

3º passo: Soma dos prazos (em dias de vendas), o que nos vai dar o chamado Prazo
Médio das Necessidades de Fundo de Maneio (PMNFM) – número de dias de venda
em que a empresa tem que financiar o seu ciclo de exploração;

4º passo: Cálculo do valor das necessidades de fundo de maneio (NFM), que vem:

Necessidades de Fundo de Maneio = PMNFM * Vendas diárias

4.1.5. A relação fundamental de tesouraria

Com base nos valores obtidos para o fundo de maneio e para a necessidade
de fundo de maneio pode ser calculada a tesouraria de uma empresa. O saldo de
tesouraria de uma empresa obtém-se da seguinte forma:

Tesouraria Líquida = Fundo de Maneio – Necessidades de Fundo de Maneio

O resultado obtido pela fórmula anterior será sempre enquadrado em uma das
seguintes possibilidades:

Se: Fundo Necessidades de Tesouraria Líquida


 
de Maneio Fundo de Maneio Positiva ou Ativa

Se: Fundo Necessidades de Tesouraria Líquida


< 
de Maneio Fundo de Maneio Negativa ou Passiva

Se: Fundo Necessidades de Tesouraria Líquida


= 
de Maneio Fundo de Maneio Nula

Para um bom equilíbrio de tesouraria a mesma deve apresentar um valor


positivo ou nulo. Quando a empresa apresenta uma tesouraria líquida negativa torna-
se pertinente a implementação de política de reequilíbrio de tesouraria, podendo estas
Alexandrino Ribeiro 38
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

atuar sobre o fundo de maneio e/ou sobre as necessidades de fundo de maneio. As


políticas de reequilíbrio de tesouraria que atuam sobre o fundo de maneio devem ter
um impacto ao nível do aumento do mesmo. Já as políticas que atuam ao nível das
necessidades de fundo de maneio devem permitir uma descida desse mesmo valor.

4.2. O equilíbrio estrutural de tesouraria

4.2.1. O Balanço Funcional

O equilíbrio estrutural de tesouraria pode ser estudado tendo por base o


Balanço Funcional da empresa. O Balanço Funcional procura “fotografar”, em
determinada data, as aplicações e recursos relacionados com os ciclos financeiros da
empresa, apresentando a seguinte estrutura:

Alexandrino Ribeiro 39
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Entre as rúbricas que compõem o Balanço Funcional temos que considerar


que:

O Capital Alheio Estável Inclui:

- Financiamentos bancários de médio e longo prazo;

- Fornecedores de imobilizado;

- Empréstimos por obrigações;

- Rendas de médio e longo prazo dos contratos de locação financeira referente


ao reembolso de capital;

- Dividas contingências registas na conta Provisões para Riscos e Encargos.

O Ativo Não Corrente inclui:

- Ativos Fixos Tangíveis;

- Ativos Intangíveis;

- Dívidas de terceiros a médio e longo prazo (apenas as decorrentes de decisões


de carácter financeiro e estratégico);

- Adiantamentos a fornecedores de imobilizado;

- Acréscimos e diferimentos a mais de um ano;

Alexandrino Ribeiro 40
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

As Necessidades Cíclicas incluem:

- Inventários, apenas as normais de exploração;

- Adiantamentos a fornecedores;

- Clientes (incluir letras descontadas ainda não vencidas);

- Estado e outros entes públicos (apenas o respeitante à exploração. Ex: IVA);

- Outras dívidas de exploração a receber (inclui a componente de acréscimos e


diferimentos)

Os Recursos Cíclicos incluem:

- Adiantamento de clientes;

- Fornecedores;

- Estado e outros entes públicos (apenas o respeitante à exploração Ex: IVA);

- Outros credores de exploração.

Como já foi referido na seção 4.1.5) quando a tesouraria liquida evidenciar um


valor negativo torna-se pertinente implementar na empresa políticas de reequilíbrio de
tesouraria.

4.3. A análise dos fluxos monetários

Numa empresa podem verificar-se fluxos financeiros de duas naturezas:

1) Fluxo financeiros de contrapartida

2) Fluxos Financeiros autónomos

Os fluxos financeiros de contrapartida consistem em fluxos monetários que


surgem como consequência dos fluxos reais. Estes fluxos financeiros podem ser:

Alexandrino Ribeiro 41
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

1.a) Imediatos – quando o fluxo financeiro é a contrapartida imediata do fluxo


real;

1.b) Escalonados – quando o fluxo físico ocorre no momento t1 e o


correspondente fluxo financeiro ocorre no momento t2.
Podendo, em termos temporais, t1 ser antes ou depois de t2;

1.c) Múltiplos – quando para compensar os efeitos dos desfasamentos,


existentes nos fluxos escalonados, a empresa pode trocar o
seu crédito por dinheiro. Para tal recorre a um terceiro,
geralmente um intermediário financeiro. São exemplos deste
tipo de fluxos financeiros o desconto de letras e o Factoring.

Numa empresa nem todos os fluxos são contrapartida direta, diferida ou


indireta de um fluxo real. Existem fluxos financeiros denominados autónomos que
resultam, por exemplo, das operações financeiras de empréstimo.

4.3.1. A demonstração dos fluxos de caixa

Os fluxos financeiros que ocorrem numa empresa durante um determinado


período têm que ser registados numa demonstração financeira específica para tal
efeito que se designa Demonstração dos Fluxos de Caixa.

A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) consiste num documento de


natureza financeira que aborda os pagamentos (saídas de caixa e equivalentes) e
recebimentos (entradas de caixa e equivalentes) de uma empresa ocorridos num
determinado período. Estes pagamentos e recebimentos são devidamente ordenados
e agrupados por categorias ou tipos de atividades (atividades operacionais, de
investimento e de financiamento), permitindo assim obter informação acerca das
movimentações financeiras efetivamente ocorridas no período em causa, assim como
informar sobre a variação de tesouraria ocorrida do início para o fim do período.

A Demonstração dos Fluxos de Caixa, pelo método direto, tem a seguinte


configuração:

Alexandrino Ribeiro 42
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Alexandrino Ribeiro 43
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

4.4. Condições para a manutenção de equilíbrio financeiro a


médio/longo prazo

Uma empresa está equilibrada financeiramente a longo prazo se conseguir


solver os seus compromissos ano após ano. A existência de equilíbrio financeiro a
médio longo prazo assenta, prioritariamente, nas seguintes condições:

Alexandrino Ribeiro 44
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

 a margem de segurança financeira da empresa deve ser essencialmente


constituída por capitais próprios;

 a empresa deve apresentar rentabilidade positiva ao longo dos anos.

4.5. Conceito de solvabilidade. Sua avaliação

O conceito de solvabilidade foi já inicialmente abordado no capítulo 3, tratando-


se de um conceito relativo ao equilíbrio financeiro de uma empresa no médio e longo
prazo, consistindo na capacidade que a empresa tem para solver os seus
compromissos a médio longo prazo. Associado ao conceito de solvabilidade surge o
de solvabilidade final, sendo que uma empresa possui solvabilidade final se o seu
ativo após venda é suficiente para satisfazer todo o seu passivo.

A existência de solvabilidade depende essencialmente de dois fatores: do nível


de capitais próprios e da rentabilidade da empresa. Relembrando, o rácio de
solvabilidade calcula-se da seguinte forma:

Solvabilidade Geral = Capitais Próprios/ Passivo Total

4.6. Perda e recuperação de solvabilidade

A perda de solvabilidade numa empresa é geralmente gradual e acompanha,


em regra, a diminuição de valor do rácio de solvabilidade. À medida que o valor do
rácio de solvabilidade diminui a empresa vai tendo cada vez mais dificuldades de
solvência dos seus compromissos, e vai-se tornado cada vez mais dependente dos
credores. Normalmente, quando uma empresa deixar de ter solvabilidade o seu futuro
fica seriamente ameaçado, podendo chegar até a uma situação de falência técnica.

Contudo, uma empresa insolvente nem sempre é um caso perdido, para a sua
recuperação existe a necessidade de determinar as causas que estão na origem da
degradação económica e financeira em que se encontra e a forma de as ultrapassar.
Implementando assim as políticas de reequilíbrio financeiro mais ajustadas com a
máxima brevidade possível.
Alexandrino Ribeiro 45
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

As medidas de reequilíbrio financeiro ajustadas para empresas com graves


problemas económicos e financeiras traduzem-se nas designadas políticas de
Saneamento Financeiro das empresas consistindo, algumas delas, nos seguintes
exemplos:

 Converter bens não essenciais em dinheiro;

 Cortar ou adiar todos os pagamentos respeitantes a credores, que não


incomodem muito o funcionamento da empresa;

 Novas entradas de capital realizadas pelos sócios;

 Conseguir a dilatação dos prazos de pagamento através da negociação com


os credores.

Existem, em alguns países, programas específicos de apoio a empresas em


dificuldades económicas e financeiras cuja manutenção interessa salvaguardar por
razões de carácter político ou macroeconómico. Para além disso existem programas
gerais de apoio à recuperação de empresas que se encontram em dificuldades
financeiras, dos quais o programa PER (Processo Especial de Revitalização de
Empresas) é um exemplo.

Deve ainda ser considerado que para uma empresa ser considerada
recuperável tem que se prever que após a resolução dos problemas que afetam a
empresa, pela colocação em prática das medidas de recuperação da empresa, esta
seja rentável, e que seja rentável de uma forma satisfatória, que lhe permita pagar as
dividas com que a empresa se encontra na atualidade.

O saneamento financeiro consiste no conjunto de operações ou medidas que


visam restituir à empresa o equilíbrio financeiro perdido, isto é, dar-lhe uma nova
forma ou estrutura financeira equilibrada. Isto passa, pois, pela alteração e
transformação da empresa que é realizada através de concursos de credores ou com
entradas de novos capitais.

Alexandrino Ribeiro 46
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

1) Saneamento Financeiro através da negociação com os credores

Este tipo de saneamento financeiro implica, desde logo, que os credores


estejam interessados em resolver os problemas da empresa e implica transformações
qualitativas e apenas no 2º membro do balanço.

Pode assumir várias formas, tais como a consolidação do passivo, a


transformação de dívidas em capital e o perdão parcial da dívida.

1.1) Consolidação do Passivo

O saneamento financeiro via consolidação do passivo corresponde à


transformação do passivo de curto prazo em passivo a médio longo prazo através da
negociação com os credores.

Exemplo:

Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)

Pela análise do balanço da empresa constatamos a existência de desequilíbrio


financeiro. Para resolver o problema do desequilíbrio financeiro a empresa negociou
com os credores a passagem de 70% das dividas de curto prazo para médio longo
prazo. Deste modo, o balanço que se obterá após a operação de saneamento
financeiro será o seguinte:

Alexandrino Ribeiro 47
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)

1.2) Transformação das dividas em capital

O saneamento financeiro por via da transformação das dívidas em capital


consiste em os credores aceitarem passar de credores para acionistas da empresa,
passando assim o credor a deter uma quota na participação do capital da empresa.

Exemplo:

Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)

Se a empresa, para resolver o problema do desequilíbrio financeiro, negociar


com os credores a passagem de 70% das dividas de curto prazo em participação em
capital da empresa o balanço após esta política de saneamento financeiro
apresentará a seguinte configuração:
Alexandrino Ribeiro 48
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)

1.3) Perdão parcial da divida

O saneamento financeiro por via do perdão parcial da dívida trata-se, para a


empresa, de uma medida melhor que as anteriores, mas de mais difícil aceitação para
os credores na medida em que implica que os credores tenham que abdicar de
receber uma parte da dívida. Este perdão parcial da dividas não vai além dos 50%.

Exemplo:

Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)

Alexandrino Ribeiro 49
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Se a empresa, para resolver o problema do desequilíbrio financeiro, acordar


com os seus credores um perdão de 50% das suas dívidas, o balanço após esta
política de saneamento financeiro apresentará a seguinte configuração:

Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)

De salientar que o saneamento financeiro da empresa por via da negociação


com credores é um processo muito moroso, pois envolve muitas pessoas e interesses
diferenciados. O grande problema destas medidas deriva da necessidade de efetuar
reuniões com os credores e que existem uns que concordam e outros não, sendo
muitas vezes difícil chegar a um consenso.

2) Saneamento Financeiro com entrada de novos capitais

O saneamento financeiro com a entrada de novos capitais na empresa traduz-


se num método mais rápido e eficaz de reequilíbrio financeiro da empresa, visto que
provoca transformações quantitativas nos dois membros do balanço. Entre as várias
possibilidades de saneamento financeiro através de entrada de novos capitais na
empresa salienta-se a contração de um empréstimo a médio e longo prazo e o
aumento de capital em dinheiro.

Alexandrino Ribeiro 50
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

2.1) Contração de um empréstimo a médio longo prazo

Para que a contração de um empréstimo a médio e longo prazo seja possível a


empresa tem que provar à instituição de crédito de que poderá ser novamente
rentável e ter capacidade de pagamento dos juros e amortização do capital
emprestado.

Exemplo:

Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)

Na medida em que a empresa do exemplo anteriormente apresentado


apresenta-se desequilibrada em termos financeiros vamos supor que, no intuito de
alcançar o equilíbrio financeiro na empresa, a mesma obtém um empréstimo bancário
de médio longo prazo no montante de 250.000 Euros junto de uma instituição
financeira. Após a operação financeira o balanço da empresa apresentará a seguinte
configuração:

Alexandrino Ribeiro 51
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)

2.2) Aumento do capital social em dinheiro

O saneamento financeiro através do aumento de capital em dinheiro consiste


no aumento do capital próprio da empresa conseguido através de novas entradas em
dinheiro realizadas pelos sócios ou acionistas da empresa. Essas entradas podem ser
realizadas pelos sócios ou acionistas atuais da empresa ou por novos sócios ou
acionistas que entrem no capital da empresa.

Exemplo:

Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)

Alexandrino Ribeiro 52
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Na medida em que a empresa do exemplo anteriormente apresentado


apresenta-se desequilibrada em termos financeiros vamos supor que, no intuito de
alcançar o equilíbrio financeiro na empresa, realiza-se um aumento do capital social
da empresa com entradas em dinheiro dos sócios no montante de 250.000 Euros.
Após a operação financeira o balanço da empresa apresentará a seguinte
configuração:

Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)

Após o estudo de várias políticas de saneamento financeiro podemos concluir


que todas essas medidas podem ser implementadas numa empresa de forma
combinada, aplicando-se em simultâneo mais de uma política de saneamento
financeiro na empresa. Contudo, muitas vezes torna-se difícil a recuperação da
empresa pois existem muitos interesses em jogo.

Alexandrino Ribeiro 53
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Capítulo V

ESTUDO DA RENDIBILIDADE

Se nos capítulos anteriores foi abordada a temática do equilíbrio financeiro,


numa vertente de análise financeira, neste capítulo será efetuada uma abordagem da
rendibilidade, numa vertente de análise económica da empresa. A rendibilidade
consiste na aptidão que a empresa apresenta para gerar lucro, isto é, rendimentos
superiores aos gastos. A taxa de rendibilidade é obtida relacionando o lucro com os
capitais que o segregam. De um modo geral, podemos considerar que, com tudo o
resto constante, quanto maiores forem as rendibilidades obtidas pela empresa mais
atrativa a mesma se torna e melhor remunera os capitais nela investidos.

5.1. Tipos de rendibilidade

5.1.1. A rendibilidade financeira

A rendibilidade financeira traduz-se na rendibilidade dos capitais próprios da


empresa. Consistindo assim na taxa de rendibilidade dos capitais próprios e dá-nos o
nível de remuneração dos capitais investidos pelos sócios ou acionistas na empresa.
A taxa de rendibilidade dos capitais próprios (RCP) de uma empresa pode ser
calculada utilizando a seguinte formula:

Taxa de RCP = (Resultado Liquido/ Capitais Próprios)* 100

De salientar que quanto maior for o valor da rendibilidade dos capitais próprios
mais atrativa é a empresa para potenciais investidores, pois sabem que os capitais
investidos vão ser remunerados a uma taxa elevada.
Alexandrino Ribeiro 54
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Na fórmula do cálculo da rendibilidade dos capitais próprios surgem algumas


questões importantes de responder, como:

1) Que Capitais Próprios?

a) Montante

Somente nas empresas com capital próprio positivo faz sentido calcular a
rendibilidade dos capitais próprios pois quando o capital próprio da empresa é nulo ou
negativo não faz sentido calcular essa mesma rendibilidade derivado da ausência de
capital próprio no financiamento da empresa. Quando o capital próprio é negativo ou
nulo a empresa é financiada somente por capitais alheios.

b) Momento

Em relação ao momento em que se vai obter o capital próprio da empresa vamos


separar duas situações possíveis:

 Quando não há aumentos de capitais próprios ao longo do ano, deve-se


considerar o valor dos capitais próprios do início do ano no cálculo da rendibilidade
dos capitais próprios, até porque o próprio lucro que o reinvestimento das parcelas de
lucro gerado ao longo do ano gera, em última análise, pode ser considerado como
resultante do investimento em capitais próprios no início do ano.

 Quando há aumentos de capitais próprios ao longo do ano, deve-se somar os


capitais próprios do início do ano a média aritmética ponderada do investimento em
capitais próprios ao longo do ano. Neste caso, a forma de calcular a taxa de
rentabilidade dos capitais próprios vem:

Alexandrino Ribeiro 55
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Onde:

n = mês em que se realiza a nova entrada de capital social para a empresa

2) Que Resultado Líquido?

O valor do resultado líquido a utilizar no cálculo da rendibilidade dos capitais


próprios deve estar já deduzido dos impostos sobre o rendimento. Do ponto de vista
da empresa os impostos sobre lucros, embora não sejam considerados como custos
da atividade, irão constituir-se em gastos que a empresa terá que suportar como se
de verdadeiros custos se tratasse. Contudo, pode-se calcular a taxa de rendibilidade
dos capitais próprios antes de impostos (considerando-se o lucro antes de impostos),
para se por em evidência o peso relativo ou a influência dos impostos sobre o lucro,
na rendibilidade dos capitais próprios.

5.1.2. A rendibilidade económica

A rendibilidade económica ou também designada Rendibilidade do


Investimento Total (RIT) consiste na capacidade da empresa remunerar todos os
capitais nela investidos, quer os capitais próprios como os capitais alheios. A fórmula
de cálculo que permite obter a rendibilidade do investimento total de uma empresa
traduz-se em:

RIT = (Resultado Líquido + Encargos Financeiros)/ Investimento Total

Alexandrino Ribeiro 56
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Nesta fórmula o seu numerador consiste no lucro líquido antes de encargos


financeiros suportados na medida em que a rendibilidade do investimento total mede
a aptidão da empresa para remunerar os capitais totais investidos,
independentemente da sua origem. Quanto ao denominador da fórmula considera-se
que o investimento total equivale ao ativo da empresa expresso no balanço no final do
exercício económico.

5.1.3. A rendibilidade das vendas

A rendibilidade das vendas (RV) consiste no lucro obtido por cada Euro
vendido, ou seja, traduz-se na capacidade das vendas da empresa gerarem lucro. A
fórmula de cálculo que nos permite obter a rendibilidade das vendas de uma empresa
traduz-se em:

RV = Resultado Líquido/ Vendas Líquidas

Se considerarmos, como mera hipótese simplificadora, que a empresa não tem


outros proveitos e custos para além dos que respeitam à exploração corrente, a
fórmula de cálculo da rendibilidade das vendas pode ser a seguinte:

RV = Resultado Líquido/ Vendas Líquidas = 1 – (Custos de Exploração/ (P.V. unit* Q.V.))

Deste modo, podemos aumentar a rendibilidade das vendas de uma empresa


seguindo as seguintes estratégias:

a) Diminuindo os custos, para o mesmo nível de vendas;

b) Aumentado as vendas a taxas mais elevadas do que as dos acréscimos de


custos, designadamente através de:

Alexandrino Ribeiro 57
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

- aumento do preço de venda;

- aumento das quantidades vendidas;

- aumento de ambos.

5.2. Análise integrada dos diferentes tipos de rendibilidade

As rendibilidades das empresas anteriormente apresentadas apresentam-se


interligadas na medida em que se influenciam mutuamente.

Relação da rendibilidade financeira com a rendibilidade económica

A Rendibilidade dos capitais próprios depende da:

 Rendibilidade do Investimento Total bruta (RIT bruta);

 Estrutura de Capitais (EC).

RCP = RIT (bruta) X EC

Deste modo, podemos aumentar a Rendibilidade dos Capitais Próprios (RCP)


das seguintes maneiras:

 Aumentando a Rendibilidade do Investimento Total e a Estrutura de Capitais;

 Aumentando a Rendibilidade do Investimento Total, mantendo a Estrutura de


Capitais;

 Aumentando a Estrutura de Capitais, mantendo a Rendibilidade do Investimento


Total;

 Mesmo que a Rendibilidade do Investimento Total diminua, desde que a Estrutura


de Capitais aumente mais que proporcionalmente (e vice-versa).

Alexandrino Ribeiro 58
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Relação da rendibilidade financeira com a rendibilidade das vendas

Esta análise interligada entre a rendibilidade financeira e a rendibilidade das


vendas de uma empresa é designada por Análise Dupont. Nesta análise a
rendibilidade dos capitais próprios depende da:

 Rendibilidade das Vendas bruta (RV bruta);

 Rotação do Ativo (RA);

 Autonomia Financeira (AF);

RCP = RV (bruta) X RA : AF

Deste modo, podemos aumentar a Rendibilidade dos Capitais Próprios (RCP)


das seguintes maneiras:

 Aumentando a Rendibilidade das Vendas;

 Aumentando a Rotação do Ativo;

 Diminuindo a Autonomia Financeira.

Relação da rendibilidade económica com a rendibilidade das vendas

A Rendibilidade do Investimento Total (RIT) depende da:

 Rendibilidade das Vendas (RV);

 Rotação do Ativo (RA).

RIT = RV X RA

Deste modo, podemos aumentar a Rendibilidade do Investimento Total (RIT)


das seguintes maneiras:
Alexandrino Ribeiro 59
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

 Aumentando a Rendibilidade das Vendas;

 Aumentando a Rotação do Ativo;

5.3. Equilíbrio financeiro e rendibilidade: o efeito alavanca financeiro

Nesta seção é conjugado dois conceitos importantes na análise económica e


financeira da empresa, a importância da rendibilidade que deve ser articulada com a
necessidade de existir equilíbrio financeiro da empresa. O efeito financeiro de
alavanca traduz-se na possibilidade de valorização dos capitais próprios através do
recurso a capitais alheios, ou seja, ao endividamento.

O endividamento da empresa tem um custo financeiro subjacente para a


mesma. Contudo, temos que ter em consideração a forma como a mesma empresa
investe o capital que advém do endividamento, podendo o rendimento desses
investimentos ser maior, menor ou igual ao custo financeiro que a empresa incorreu
com a contração da dívida.

Deste modo, o efeito financeiro de alavanca, ou também designado efeito


“Levier”, pode ser positivo, negativo ou nulo, dependendo da relação entre a
rendibilidade financeira e a rendibilidade económica. Assim, se:

 RCP > RIT  Efeito financeiro de alavanca positivo, significando que o


endividamento benéfico para a empresa;

 RCP < RIT  Efeito financeiro de alavanca negativo, significando que o


endividamento é prejudicial para a empresa;

 RCP = RIT  Efeito financeiro de alavanca neutro, significando que o


endividamento nem é benéfico nem prejudicial para a
empresa.

Alexandrino Ribeiro 60
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

5.4. O limiar da rendibilidade ou Ponto Morto das Vendas

No estudo da rendibilidade de uma empresa há todo o interesse em se


determinar o montante mínimo das vendas para equilibrar a exploração, isto é, para
se atingir o ponto em que a empresa não tenha lucro nem prejuízo operacional.

Uma empresa suporta diversos tipos de custos que podem ser enquadrados
em dois grandes grupos: custos variáveis e custos fixos. Os custos variáveis são
aqueles que têm um comportamento variável em relação à atividade da empresa, tais
como, o consumo de matérias, consumo de energia, etc. Os custos fixos, também
designados por encargos de estrutura são os que não têm um comportamento
variável em relação à atividade da empresa, tais como, despesas com o pessoal,
amortizações, rendas, etc.

Com base nestes dois grupos de custos podemos construir uma Conta de
Exploração, que pode apresentar a seguinte estrutura:

Conta de Exploração

1 – Valor das Vendas Líquidas

2 – Custo Industrial (variável) dos produtos vendidos

3 – Custos Comerciais (variáveis)

4 – Custo (variável) dos produtos vendidos (2) + (3)

5 – Margem sobre os custos variáveis (1) – (4)

6 – Encargos de Estrutura

7 – Resultado Operacional (5) – (6)

De salientar que uma empresa se encontra no Ponto Morto das Vendas


quando efetua vendas de forma que o seu Resultado Operacional seja igual a zero.

O cálculo do Ponto Morto da Vendas pode ser feito em termos de quantidade


vendida e em termos de valor das vendas.
Alexandrino Ribeiro 61
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

1) Quantidade

Consiste na quantidade mínima que é necessário vender para que a empresa


não tenha lucro nem prejuízo de Exploração. A fórmula que permite obter essa
quantidade do ponto morto das vendas será a seguinte:

QPMV = Encargos Estrutura/ (Preço Venda unit. – Custo Variável unit.)

2) Valor

Consiste no valor mínimo que é necessário vender para que a empresa não
tenha lucro nem prejuízo de Exploração. A fórmula que permite obter essa quantidade
do ponto morto das vendas será a seguinte:

ValorPMV = Encargos Estrutura/ ((Preço Venda unit. – Custo Variável unit.)/ Preço Venda
unit.)

Em termos gráficos o Ponto Morto das Vendas, ou Break-Even-Point apresentará a


seguinte configuração:

Alexandrino Ribeiro 62
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

O conhecimento do Ponto Morto das Vendas, constitui um instrumento de


gestão e de análise muito precioso, e que servirá de apoio para responder a questões
como:

 Em que mês a empresa entra na zona de lucro operacional?

 Quanto falta produzir e vender para se atingir a zona de lucro operacional?

 Que lucro se poderá esperar se a margem sobre os custos variáveis aumentar em


10%?

 Com o atual nível de atividade e de encargos de estrutura, que aumento se poderá


efetuar no preço de venda dos produtos por forma a se obter mais 10% no lucro
operacional?

Torna-se também interessante para a gestão financeira da empresa saber qual


será o seu Ponto Morto Total. O Ponto Morto Total consiste no ponto de vendas, em

Alexandrino Ribeiro 63
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

termos de quantidade e valor, em que o Resultado Líquido da empresa é igual a zero,


ou seja, os proveitos totais são iguais aos custos totais.

1) Quantidade

Consiste na quantidade mínima que é necessário vender para que a empresa


não tenha lucro nem prejuízo. A fórmula que permite obter essa quantidade do ponto
morto total será a seguinte:

QPMT = (Enc. Estrutura + Custos Financ. Financ.)/(Preço Venda unit. – Custo Variável unit.)

2) Valor

Consiste no valor mínimo que é necessário vender para que a empresa não
tenha lucro nem prejuízo. A fórmula que permite obter essa quantidade do ponto
morto total será a seguinte:

ValorPMT = (Enc. Estrutura + Custos Financ. Financ.)/((Preço Venda unit. – Custo Variável unit.)/ Preço Venda unit.)

5.5. Cash-flow e rendibilidade

O cash-flow de uma empresa é análogo ao caudal de água de um rio na


medida em que nas empresas também se fala em fluxos de liquidez, ou caudal de
meios financeiros, por se estar na presença de uma substância igualmente líquida e
fluida – o Dinheiro. No final de cada período (dia, mês, ano) o saldo das
disponibilidades corresponde à diferença entre as entradas e saídas de dinheiro;

O cash-flow pode ser analisado segundo duas perspetivas: o conceito dinâmico


de cash-flow (ou cash-flow em sentido lato) e o conceito estático de cash-flow (ou
cash-flow em sentido restrito).

Alexandrino Ribeiro 64
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

O conceito dinâmico de cash-flow pode ser avaliado através da análise da


Demonstração dos Fluxos de Caixa dividindo-se o movimento de entrada de meios
líquidos na empresa em duas grandes rubricas:

a) Cash-flow Operacional, que engloba as entrada e saída de meios monetários da


empresa resultantes da atividade principal da mesma (Ex: pagamento de matérias-
primas, recebimento relativo à venda de mercadorias)

b) Cash-flow Extra-Operacional, que engloba as entradas e saídas de meios


monetários da empresa resultantes de outras atividades que não a principal atividade
da empresa (Ex: pagamento de juros, recebimento de vendas de imobilizado)

Por outro lado, devido à frequente dificuldade de quantificação do cash-flow


dinâmico os analistas financeiros calculam o cash-flow segundo perspetiva estática do
mesmo. Na perspetiva estática do cash-flow os mesmo calcula-se da seguinte forma:

Cash-flow = Resultado Líquido + Amortizações + Provisões

Existe ainda a distinção entre o cash-flow Bruto e o cash-flow Líquido, que é


realçada por alguns analistas financeiros, onde a diferença entre eles estará no
imposto sobre o rendimento, na medida em que os mesmos se calculam pelas
seguintes fórmulas:

Cash-flow Bruto = Resultados Antes de Impostos + Amortizações + Provisões

Cash-flow Líquido = Resultados Líquidos + Amortizações + Provisões

De salientar ainda que existem analistas financeiros que sugerem a


reformulação das fórmulas de cálculo das taxas de rendibilidade para considerando
no numerado das mesmas o cash-flow da empresa em detrimento do seu resultado
líquido.
Alexandrino Ribeiro 65
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

5.6. O conceito de autofinanciamento

Uma empresa possui duas fontes de financiamento, sendo elas via capitais
próprios ou via capitais alheios. Ao nível dos capitais próprios encontramos rúbricas
como o capital realizado, as reservas (sejam reservas legais, reservas livres, reservas
estatutárias, ou outro tipo de reservas) e os resultados (podendo estes ser resultados
transitados ou resultados líquidos do exercício). Ao nível do financiamento via capitais
alheios estes podem advir também de várias origens, como dos financiamentos
bancários, de dividas aos fornecedores, de dividas ao Estado, de dívidas a locadoras
financeiras, etc.

Entre os vários tipos de financiamento devemos distinguir o conceito de


Autofinanciamento. Deste modo, o Autofinanciamento, por definição, consiste no
conjunto de meios líquidos gerados pela empresa e nela retidos anualmente e que
não revelam qualquer vínculo imediato de exigibilidade, ou seja, traduz-se nos meios
líquidos totais retidos na empresa. O autofinanciamento gerado por uma empresa
num exercício económico pode ser calculado da seguinte forma:

Autofinanciamento = Result. Antes Impostos – Imposto s/ Rendimento – Dividendos a pagar

Através do cálculo do autofinanciamento podemos chegar ao valor do cash-


flow da seguinte forma:

Resultados Antes de Impostos


- Imposto sobre o Rendimento
- Dividendos a pagar
= Autofinanciamento
+ Amortizações
+ Provisões
+ Dividendos a pagar
= Cash-flow Líquido (estático)
+ Imposto sobre o Rendimento
= Cash-flow Bruto (estático)

Alexandrino Ribeiro 66
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Uma empresa pode adotar uma política de autofinanciamento mais ou menos


acentuada, dependendo da política de dividendos seguida pela mesma. Essa política
de dividendos pode, por sua vez, ser avaliada pelo cálculo do rácio de cariz bolsista
Payout Ratio, através da seguinte fórmula:

Payout Ratio = Dividendos/ Resultado Líquido

Deste modo, o Payout Ratio permite avaliar a proporção de resultado líquido


que a empresa obtém num determinado exercício económico que é distribuído aos
sócios ou acionistas sobre a forma de dividendos. A parte dos resultados líquidos que
não é distribuída aos sócios ou acionistas sobre a forma de dividendos será retida na
empresa sobre a forma de reservas e destinar-se-á ao autofinanciamento da
empresa.

Uma política de autofinanciamento acentuada apresenta vantagens e


desvantagens. Entre as vantagens salienta-se:

-  Capitais Próprios   Fundo de Maneio   Solvabilidade   Autonomia Financeira


Equilíbrio Financeiro a Médio Longo Prazo

- Maior independência da empresa perante terceiros  proporciona maiores garantias


de reembolso para a Banca;

- Permite resolver problemas financeiros internamente, evitando a entrada de novos


sócios.

Alexandrino Ribeiro 67
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Entre as desvantagens de uma política de autofinanciamento acentuada


salienta-se:

- O pequeno acionista como precisa dos dividendos, pois o mesmo traduz-se num dos
tipos de retorno do seu investimento, pode decidir vender as suas ações mesmo com
prejuízo (menos valias). Esta situação muitas vezes resulta de uma “manobra” dos
grandes acionistas para obter domínio total da empresa;

- Desmotiva investidores atuais e potenciais investidores e, dessa forma, o preço de


mercado das ações da empresa tendem a descer;

- Não é de todo correto esperar pelo autofinanciamento para investir pois, como
abordados anteriormente, o endividamento moderado e a baixo custo pode ser
benéfico para a empresa, provocando um efeito de alavanca financeira positivo.

5.7. Estudo da produtividade

A produtividade de uma economia e de uma empresa é uma variável


fundamental para a competitividade, para a rendibilidade e para o equilíbrio financeiro.
A produtividade traduz-se numa medida de eficiência económica na conversão de
recursos de produção em bens económicos. Para medir a produtividade da empresa
necessitamos de saber o seu Valor Acrescentado Bruto (VAB) na medida em que
consiste no valor incorporado pela empresa nos bens e/ou serviços adquiridos a
terceiros.

De uma forma genérica, a produtividade global de uma empresa pode ser


calculada pela seguinte fórmula:

Produtividade Global = Produção/ Fatores produtivos

A produtividade de uma empresa é obtida assim pela relação entre o que a


empresa aplica no seu processo produtivo e o que obtém em termos de valor do
produto e/ou serviço que resulta do seu processo produtivo. Deste modo, quanto mais
eficiente for a empresa na aplicação dos seus recursos produtivos mais produtividade
vai alcançar, permitindo-lhe ser mais competitiva no mercado, obter melhores
Alexandrino Ribeiro 68
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

indicadores de rendibilidades e, por conseguinte, melhor equilíbrio financeiro a curto e


a médio e longo prazo.

Seguidamente é apresentado um exemplo de cálculo da produtividade global de


uma empresa.

Exemplo:

Uma empresa fabrica o produto X e utiliza fatores produtivos no valor de 25.000


Euros. Sabendo que a produção do bem X, num determinado período, atingiu o valor
de 100.000 Euros, calcule o indicador da produtividade global da empresa.

Produtividade Global = 100.000/ 25.000 = 4

Outro tipo de produtividade que usualmente se calcula nas empresas é a


produtividade do trabalho. Esta mesma produtividade pode ser calculada pela
seguinte fórmula:

Produtividade do Trabalho = Produção/ Mão de Obra

Seguidamente é apresentado um exemplo de cálculo da produtividade do


trabalho de uma empresa.

Exemplo:

Uma empresa produziu 100.000 Euros e consumiu 30 Horas cujo custo/hora é


de 500 Euros. Calcule a produtividade do trabalho.

Produtividade do trabalho = 100.000/ (30* 500) = 6,6

Alexandrino Ribeiro 69
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Capítulo VI

O PLANEAMENTO FINANCEIRO

O planeamento financeiro numa empresa traduz-se na gestão orçamental. Tal


como o Governo de uma País tem a necessidade de elaborar o Orçamento de Estado
para um determinado ano, a empresa deve elaborar os orçamentos para as suas
atividades e os orçamentos globais para planear a sua atividade futura.

A gestão orçamental consiste em planear as atividades da empresa,


traduzindo-se no estabelecimento de planos de ação para cada gestor na sua área
funcional, seja ela a área comercial, financeira, de produção, de recursos humanos,
etc. Na gestão orçamental são assim desenvolvidos os orçamentos, traduzindo-se
estes em um quadro, ou conjunto de quadros, que materializam os planos de ação,
sendo elaborados com base nas quantidades, nos valores e nos prazos previstos
para as atividades, nos custos e proveitos previstos, bem como nos fluxos financeiros
estimados para um determinado exercício económico.

Na literatura encontramos a classificação dos orçamentos em diversas


tipologias, sendo a divisão mais comum entre os orçamentos operacionais e os
orçamentos globais. Os orçamentos operacionais são aqueles que se encontram
associados à atividade operacional da empresa, como são exemplo o Orçamento de
vendas, o Orçamento de compras, o Orçamento de gastos com pessoal, o orçamento
de fornecimentos e serviços externos, etc. Quanto aos orçamentos globais, somente
devem ser desenvolvidos após os orçamentos operacionais estarem terminados pois
a sua elaboração depende deles, e envolvem as atividades da empresa no seu todo.
São exemplos de orçamentos globais o Orçamento de tesouraria, o Orçamento
financeiro, o Balanço previsional e a Demonstração de Resultados previsional.

Esquematicamente a gestão orçamental de uma empresa deve seguir os


passos apresentados na Figura seguinte:

Alexandrino Ribeiro 70
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Relativamente à gestão orçamental, a sequência de orçamentos a ser


elaborados é apresentada na Figura seguinte:

Alexandrino Ribeiro 71
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Alexandrino Ribeiro 72
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Capítulo VII

ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO RISCO

No presente capítulo vamos averiguar em que medida os resultados das


empresas são sensíveis a um determinado conjunto de fatores que influencia a sua
respetiva atividade. Tipicamente podemos distinguir três tipos de risco nas empresas,
o risco operacional, o risco financeiro e o risco global.

O risco operacional quantifica a volatilidade dos resultados operacionais da


empresa, estando muito dependente do nível de custos fixos na estrutura de custos
da empresa. O Risco Financeiro quantifica a volatilidade dos resultados líquidos
causado pelo grau de endividamento da empresa, estando assim muito dependente
do nível de custos financeiros de financiamento que a empresa suporta. Já o risco
global resulta da conjugação do risco operacional com o risco financeiro, dependendo
assim tanto do nível de custos fixos como do nível de custos financeiros de
financiamento que a empresa enfrenta.

7.1. Risco Operacional

Os conceitos de Ponto Morto das Vendas e de Grau de Alavanca Operacional


assumem especial importância para a avaliação do risco operacional de uma
empresa. O Grau de Alavanca Operacional mede a sensibilidade dos resultados
operacionais (ou de exploração) a variações nas vendas líquidas da empresa,
calculando-se da seguinte forma:

GAO = ( RE/ RE)/ ( VL/ VL)

Alexandrino Ribeiro 73
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Quando os custos fixos representam uma parcela elevada dos custos totais
maior será o Grau de Alavanca Operacional e, desse modo, maior é o risco
operacional da empresa.

O conceito de ponto morto das vendas foi já abordado no capítulo V, sendo a


sua fórmula de cálculo, em quantidade, a seguinte:

QPMV = Encargos Estrutura/ ((Preço Venda unit. – Custo Variável unit.)/ Preço Venda unit)

De salientar que quanto maior for o Ponto Morto das Vendas maior é o risco
operacional da empresa pois é sinal de que o nível de custos fixos da empresa é
relativamente elevado e que a empresa terá de apresentar um nível de vendas
relativamente elevado para cobrir esses mesmos custos fixos.

7.2. Risco financeiro

O risco financeiro de uma empresa é um indicador que mede a sensibilidade do


resultado líquido da empresa a variações no resultado de exploração. Deste modo, o
conceito de Grau de Alavanca Financeiro assume especial importância para a
avaliação do risco financeiro. Sendo o Grau de Alavanca Financeiro (GAF) calculado
da seguinte forma:

GAF = ( RL/ RL)/ ( RE/ RE)

Perante a fórmula do GAF constata-se que quanto mais elevados forem os


custos financeiros de financiamento suportados por uma empresa mais elevado é o
GAF e, desse modo, maior será o risco financeiro apresentado pela empresa.

Alexandrino Ribeiro 74
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

7.3. Risco global

O risco global enfrentado por uma empresa engloba a conjugação do risco


operacional e do risco financeiro. Para medirmos o risco global vamos teremos de
recorrer ao Grau de Alavanca Combinado (GAC), que mede a sensibilidade do
resultado líquido a variações do volume de vendas. O GAC calcula-se da seguinte
forma:

GAC = GAO * GAF = ( RL/ RL)/ ( VL/ VL)

Perante a fórmula do GAC constata-se que quanto mais elevados for a soma
dos custos fixos com os custos financeiros de financiamento suportados por uma
empresa mais elevado é o GAC e, desse modo, maior será o risco global apresentado
pela empresa

Alexandrino Ribeiro 75
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Casos Práticos

Alexandrino Ribeiro 76
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Capítulo II

INSTRUMENTOS DE ANÁLISE
GESTÃO FINANCEIRA

Exercício 2.1 Caso Prático 2.1

A empresa “Beta, Lda” apresentou os seguintes balanços, em dois exercícios sucessivos:

Balanço do ano n – 31/12/n (em Euros)

Activo Capital Próprio e Passivo


Imobilizações/ Activo não corrente 20.000 Capital, reservas e result. transitados 8.000
Existências/ Inventários 15.000 Resultado líquido do exercício 2.000
Créditos a curto prazo 10.000 Débitos a M/L prazo/ Passivo não corrente 5.000
Disponibilidades 5.000 Débitos a curto prazo/ Passivo corrente 35.000
50.000 50.000

Balanço do ano n+1 – 31/12/n+1 (em Euros)

Activo Capital Próprio e Passivo


Imobilizações/ Activo não corrente 12.000 Capital, reservas e result. transitados 10.000
Existências/ Inventários 14.000 Resultado líquido do exercício 1.500
Créditos a curto prazo 10.000 Débitos a M/L prazo/ Passivo não corrente 8.500
Disponibilidades 4.000 Débitos a curto prazo/ Passivo corrente) 20.000
40.000 40.000

Com base nestas informações, determine, para os dois períodos considerados, o valor:

a) Do activo circulante/Activo corrente.


b) Do activo fixo/Activo não corrente.
c) Do exigível a curto prazo/Passivo corrente.
d) Dos capitais permanentes.
e) Dos capitais alheios.
f) Interprete os resultados obtidos nas alíneas anteriores.

Alexandrino Ribeiro 77
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 2.2

Sabendo os seguintes dados, sobre a empresa “IPCA, Lda”, no ano n:

Rendimentos (Proveitos) operacionais = 20.750 Euros


Gastos (Custos) operacionais = 16.000 Euros
Gastos (Custos) financeiros = 8.000 Euros
Rendimentos (Proveitos) financeiros = 5.000 Euros
Taxa de imposto sobre o rendimento = 25%

Com base nestes dados:


a) Construa a Demonstração de Resultados por natureza.
b) Interprete os valores obtidos na alínea anterior.

Alexandrino Ribeiro 78
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 2.3


GESTÃO FINANCEIRA

Sabendo os seguintes dados, sobre a empresa “ESG, Lda”, em 31 de Dezembro do ano n:

Vendas anuais 125.000 unidades


Preço de venda unitário 14,50 Euros
Custo das mercadorias vendidas e matérias consumidas 1.625.500 Euros
Gastos (Custos) financeiros 125.000 Euros
Rendimentos (Proveitos) financeiros 5.755 Euros
Taxa IRC 25%
Taxa de outros impostos sobre o lucro 1%
Compras anuais 1.750.000 Euros
Activo fixo tangível (Imobilizado corpóreo) 1.500.000 Euros
Inventários (Existências) 45 dias de compras
Clientes 30 dias de vendas
Caixa 1% das vendas
Depósitos bancários 25.000 Euros
Capital realizado 850.000 Euros
Reservas 15% do capital realizado
Resultados transitados 133.707 Euros
Passivo Não Corrente (Exigível a médio longo prazo) 600.000 Euros
Estado e outros entes públicos (a pagar) 2.670 Euros
Fornecedores 30 dias de compras

Sabendo ainda que a empresa “ESG, Lda” labora durante 365 dias no ano n:

a) Elabore a demonstração de resultados por natureza, relativamente a 31 de Dezembro do ano n.

b) Elabore o balanço, relativamente a 31 de Dezembro do ano n.

c) Interprete os valores obtidos nas alíneas anteriores

Alexandrino Ribeiro 79
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 2.4

O balanço contabilístico da empresa “ESG & ESG, Lda”, relativo a 31/12/N é o que a seguir se apresenta:

Balanço da empresa “ESG & ESG, Lda” em 31/12/N (valores em Euros)


Activo AB AP AL Capital Próprio e Passivo
Imobilizado/Activo Não Corrente Capital Próprio
Imobilizado Incorpóreo1 10.000 8.000 2.000 Capital realizado 9.300

Imobilizado Corpóreo2 80.000 40.000 40.000 Reservas 4.000

Investimentos Financeiros3 3.000 3.000 Suprimentos 4.400


93.000 48.000 45.000 17.700
Circulante/Activo Corrente Passivo
Existências/Inventários 32.000 32.000 Exigível a Médio Longo Prazo5

Dividas de Terceiros C/P Empréstimos Bancários7 16.000


Clientes c/c 2.000 2.000 16.000
Clientes t/r 1.400 1.400 Exigível a Curto Prazo6
Adiant. a Fornecedores 400 400 Adiantamentos de Clientes 100
3.800 3.800 Fornecedores c/c 20.000
Títulos negociáveis4 1.500 1.500 Fornecedores Títulos a Pagar 30.000

Depósitos Bancários 10.000 10.000 Empréstimos Bancários7 8.000


Caixa 1.000 1.000 Credores Diversos 1.500
48.300 48.300 59.600
141.300 48.000 93.300 93.300

1 – Activos Intangíveis
2 – Activos Fixos Tangíveis
3 – Outros Activos Financeiros
4 – Activos financeiros detidos para negociação
5 – Passivo Não Corrente
6 - Passivo Corrente
7 – Financiamentos obtidos

Alexandrino Ribeiro 80
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática GESTÃO FINANCEIRA

Informações adicionais:

1) Em caixa existe um vale do chefe de caixa, respeitante a diferenças de caixa, no montante de 40 Euros;

2) A conta Depósitos Bancários apresenta a seguinte estrutura:


- Depósitos à Ordem = 3.000 Euros
- Depósitos a Prazo, a mais de um ano = 7.000 Euros;

3) Na conta Clientes c/c estão registados 200 Euros de um Cliente cuja a cobrança se afigura duvidosa;

4) Devido à situação económica, os Títulos Negociáveis (Activos financeiros detidos para negociação) da
empresa não se afiguram de fácil transacção, a menos de um ano;

5) A empresa tem um imóvel de rendimento, adquirido por 5.000 Euros e que já sofreu 1.000 Euros de
amortização. Este imóvel está lançado na rubrica imobilizado corpóreo (Activos fixos tangíveis);

6) A conta Fornecedores Titulos a Pagar decompõe-se da seguinte forma:


- Com vencimento até um ano = 28.600 Euros
- Com vencimento a mais de um ano = 1.400 Euros;

7) Relativamente ao Passivo de Médio Longo Prazo (Passivo Não Corrente), conta Empréstimos
Bancários (Financiamentos Obtidos), está registada a primeira prestação do empréstimo que se vence
daqui a 8 meses no montante de 1.600 Euros. O restante vence-se a mais de um ano;

8) A empresa pretende entregar o valor dos suprimentos aos sócios, durante o ano N+2.

Com base nestas informações:

a) Efetue as correções que se tornam necessárias para elaborar o Balanço para análise financeira.

b) Elabore o Balanço Financeiro.

c) Indique os valores correspondentes às seguintes rubricas: Activo Fixo, Activo Circulante, Activo
Maneável, Capitais Próprios, Capitais Permanentes, Capitais Alheios.

Alexandrino Ribeiro 81
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 2.5

Considere os seguintes dados, das contas “Imobilizações” (Activo Não Corrente) e “Dividas a Terceiros a
curto prazo” (Passivo Corrente), extraídas do Balanço da empresa “ABC, Lda”, em 31/12/N, e as
informações adicionais que a seguir se apresentam:

Imobilizações (Activo Não Corrente)


Imobilizações Corpóreas (Activos fixos correntes) 500.000 Euros
Amortizações Acumuladas (125.000 Euros)

Dividas a Terceiros a curto prazo (Passivo Corrente)


Empréstimos Bancários (Financiamentos obtidos) 125.000 Euros
Fornecedores 375.000 Euros
Accionistas/ Sócios 200.000 Euros
Estado e Outros Entes Públicos 31.350 Euros

Informações adicionais:

1) Fornecedores
Metade do valor registado nesta rubrica será exigida no ano N+2 e a outra parte será exigível no ano N+1.

2) Estado e Outros Entes Públicos


Esta rubrica engloba uma importância retida na empresa, e que deverá ser entregue às instituições da
Segurança Social no inicio do ano N+1.

3) Empréstimos Bancários (Financiamentos obtidos)


Esta conta inclui 25.000 Euros de um empréstimo bancário a 5 anos, contraído em Abril do ano N à taxa
de juro de 8%, com amortizações semestrais de capital e juros. As amortizações de capital têm inicio em
Abril do ano N+1 e os juros vencem-se no fim de cada semestre.
O restante valor desta conta (100.000 Euros) referem-se a empréstimos de curto prazo.

4) Custos e Perdas Financeiras de Funcionamento (Gastos Financeiros de Funcionamento)


O valor desta conta ascende a 71.650 Euros e inclui 7.500 Euros referentes aos juros do empréstimo
bancário contraído em Abril do ano N.

Com base nestas informações proceda às correcções eventualmente necessárias para efeitos de análise
financeira.

Alexandrino Ribeiro 82
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Capítulo III

MÉTODOS E TÉCNICAS DE ANÁLISE

Caso Prático 3.1

Foram retirados os seguintes dados da contabilidade da empresa “Galo de Barcelos, Lda”:

Balanços (valores em u.m.)

31/12/n 31/12/n+1
Activo
Edifícios (Líquidos de Amortizações) 1.700 1.400
Máquinas (Líquido de Amortizações) 3.820 3.300
Inventários (Líquido de Provisões) 1.600 2.400
Clientes títulos a receber 800 1.000
Clientes c/c (Líquido de Provisões) 1.000 1.100
Depósitos à Ordem 1.000 1.200
Caixa 80 100
Total do Activo 10.000 10.500
Capital Próprio 3.800 4.000
Passivo
Financiamentos obtidos a longo prazo 3.000 2.500
Financiamentos obtidos a curto prazo 500 500
Estado e Outros Entes Públicos 1.200 1.500
Fornecedores títulos a pagar 500 700
Fornecedores c/c 1.000 1.300
Total do Passivo 6.200 6.500
Total do Capital Próprio e Passivo 10.000 10.500

Outras Informações:
1 1
Anos Vendas Compras Custo da Vendas
n 11.520 u.m. 6.000 u.m. 9.300 u.m.
n+1 12.600 u.m. 8.000 u.m. 10.000 u.m.

1 - Os valores das vendas e das compras têm o IVA incluído


Alexandrino Ribeiro 83
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Pedidos:

1) Com base nos dados disponíveis, calcule, para o ano n e para o ano n+1:
a) A Liquidez Geral.
b) A Liquidez Reduzida.
c) A Liquidez Imediata.
d) O Prazo Médio de Recebimentos.
e) O Prazo Médio de Pagamentos.
f) Os indicadores de rotação.

2) Indique e explique, se do ano n para o ano n+1 se verificou uma melhoria da liquidez da empresa.

Alexandrino Ribeiro 84
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 3.2


GESTÃO FINANCEIRA

A empresa “Beta, Lda” apresentou os seguintes balanços, em dois exercícios sucessivos:

Balanço do ano n – 31/12/n (em Euros)

Activo Capital Próprio e Passivo


Activo Não Corrente 20.000 Capital, reservas e result. transitados 8.000
Inventários 15.000 Resultado líquido do exercício 2.000
Créditos a curto prazo 10.000 Passivo Não Corrente 5.000
Disponibilidades 5.000 Passivo Corrente 35.000
50.000 50.000

Balanço do ano n+1 – 31/12/n+1 (em Euros)

Activo Capital Próprio e Passivo


Activo Não Corrente 12.000 Capital, reservas e result. transitados 10.000
Inventários 14.000 Resultado líquido do exercício 1.500
Créditos a curto prazo 10.000 Passivo Não Corrente 8.500
Disponibilidades 4.000 Passivo Corrente 20.000
40.000 40.000

Com base nestas informações, determine, para os dois exercícios económicos considerados, o valor:

a) Da Solvabilidade Geral.
b) Do Endividamento a Médio Longo Prazo.
c) Da Autonomia Financeira.
d) Da Cobertura do Imobilizado.

Alexandrino Ribeiro 85
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 3.3

Sabem-se os seguintes dados sobre a empresa “GestFinanceira, Lda”:

Balanços

(valores em u.m.)
Ano N Ano N+1
Activo
Activo Não Corrente 700 1.500
Inventários 220 250
Créditos a Curto Prazo 280 430
Disponibilidades 95 210
Total do Activo 1.295 2.390
Capital Próprio e Passivo
Capital Próprio 800 940
Passivo Não Corrente 200 350
Passivo Corrente 295 1.100
Total do Capital Próprio e Passivo 1.295 2.390

1) Analise a evolução da situação financeira da empresa, utilizando os seguintes rácios ou indicadores:

a) Liquidez Geral.
b) Liquidez Reduzida.
c) Liquidez Imediata.
d) Solvabilidade Geral.
e) Autonomia Financeira.
f) Capacidade de Endividamento a Médio Longo Prazo.
g) Cobertura do Imobilizado.

2) Dê um parecer sobre a situação financeira da empresa e sugira políticas de reequilíbrio financeiro se tal for
necessário.

Alexandrino Ribeiro 86
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Capítulo IV

ESTUDO DO EQUILIBRIO FINANCEIRO A CURTO E A


MÉDIO/ LONGO PRAZO

Caso Prático 4.1

Calcule o valor do Fundo de Maneio, segundo as fórmulas por si estudadas, para as empresas A, B, C e D, que se
apresentam de seguida, e interprete os valores obtidos.

Empresa A
Balanço da empresa A, em 31/12/n (valores em Euros)
Activo Não Corrente 20.000 Capital Próprio 70.000
Inventários 25.000 Passivo Não Corrente 0
Créditos a Curto Prazo 19.000 Passivo Corrente 0
Disponibilidades 6.000
Total do Activo 70.000 Total do Capital Próprio e Passivo 70.000

Empresa B
Balanço da empresa B, em 31/12/n (valores em Euros)
Activo Não Corrente 20.000 Capital Próprio 25.000
Inventários 25.000 Passivo Não Corrente 15.000
Créditos a Curto Prazo 19.000 Passivo Corrente 30.000
Disponibilidades 6.000
Total do Activo 70.000 Total do Capital Próprio e Passivo 70.000

Empresa C
Balanço da empresa C, em 31/12/n (valores em Euros)
Activo Não Corrente 25.000 Capital Próprio 15.000
Inventários 20.000 Passivo Não Corrente 10.000
Créditos a Curto Prazo 19.000 Passivo Corrente 45.000
Disponibilidades 6.000
Total do Activo 70.000 Total do Capital Próprio e Passivo 70.000

Empresa D
Balanço da empresa D, em 31/12/n (valores em Euros)
Activo Não Corrente 20.000 Capital Próprio 4.000
Inventários 25.000 Passivo Não Corrente 8.000
Créditos a Curto Prazo 19.000 Passivo Corrente 58.000
Disponibilidades 6.000
Total do Activo 70.000 Total do Capital Próprio e Passivo 70.000

Alexandrino Ribeiro 87
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 4.2

Na qualidade de gestor financeiro da empresa “Catedral, Lda” foi-lhe fornecida as seguintes


informações sobre a sua exploração:

Saldos Tempos Ponderação


Stock de mercadorias 60 dias de vendas ao preço de custo 60%
Clientes 40 dias de vendas ao preço de venda 100%
Fornecedores 60 dias de compras ao preço de compra 70,2%

Sabendo ainda que o volume anual de vendas previsto é de 365.000 Euros, calcule as
necessidades de fundo de maneio, em dias e em valor, através do método indirecto.

Alexandrino Ribeiro 88
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático
G4.3
ESTÃO FINANCEIRA

Tendo em consideração o esboço dos balanços da empresa “Terra do galo, Lda” que se
apresentam seguidamente:
(valores em Euros)
Activo 31/12/N 31/12/N+1 Capital próprio + Passivo 31/12/N 31/12/N+1
Activo Não Corrente Capitais Próprios
Equipamentos 3.375 2.250 Capital realizado 50.000 50.000
Edifícios 51.600 48.160 Reservas 87.311 110.205
Terreno 34.400 34.400 Outras reservas 39.375 39.375
Activo Corrente Resultados do Exercício 22.894 26.866
Inventários 105.434 128.238 Passivo
Clientes 104.250 118.532 Passivo Não Corrente
Caixa 8.450 19.209 Financiamentos obtidos 10.000 10.000
Passivo Corrente
Fornecedores(Exploração) 73.420 82.345
Financiamentos obtidos 12.305 14.244
Est. O. E. Públicos (IRC) 12.204 17.754
Total do Activo 307.509 350.789 Tot. Cap. Próp. e Passivo 307.509 350.789

Com base nestas informações:

a) Calcule o valor de tesouraria líquida.


b) Interprete os valores obtidos na alínea anterior.

Alexandrino Ribeiro 89
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Capítulo V

ESTUDO DA RENDIBILIDADE

Caso Prático 5.1

Considere os seguintes dados, para o ano n e para o ano n+1, da empresa “ESG, Lda”:

(valores em Euros)
Ano n Ano n+1
Capitais próprios no início do ano 30.000 34.000
Aumento de capital social em maio do ano n+1 5.000
Capitais próprios no fim do ano 34.000 46.500
Lucro Líquido 4.000 7.500

Com base nestas informações, calcule:

a) A taxa de rendibilidade dos capitais próprios para o ano n.

b) A taxa de rendibilidade dos capitais próprios para o ano n+1.

Alexandrino Ribeiro 90
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 5.2


GESTÃO FINANCEIRA

Foram apurados os seguintes valores sobre a empresa “ESGtex, Lda”, relativos ao ano n:

• A taxa de imposto sobre o rendimento é de 30%;

• Resultado Antes de Impostos relativo ao exercício económico do ano n: 18.500 Euros;

• Em 31 de janeiro do ano n foi efectuada uma nova entrada de capital social, no valor de
25.000 Euros;

• No dia 30 de junho do ano n foi efectuada uma nova entrada de capital social, no valor de
10.000 Euros;

• No dia 31 de outubro do ano n foi efectuada uma nova entrada de capital social no valor de
5.000 Euros;

• O capital próprio da empresa, no dia 1 de janeiro do ano n era de 100.000 Euros.

Com base nestes dados:

a) Calcule a taxa de rendibilidade dos capitais próprios da empresa.

b) Calcule a taxa de rendibilidade dos capitais próprios da empresa, antes do imposto sobre o
rendimento.

c) Se a taxa de juro líquida dos depósitos a prazo, no ano n, for de 5%. Indique se a opção dos
sócios investirem na empresa “ESGtex, Lda” pode ser considerada boa ou má. Justifique a sua
resposta.

Alexandrino Ribeiro 91
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 5.3

Sabe-se os seguintes dados, sobre a empresa “FinanceiraGest, Lda”, no ano n:

- Quantidade vendida = 100.000 unidades;


- Preço de venda unitário = 5 Euros;
- Custos Financeiros = 35.000 Euros;
- Custo Operacional unitário = 3,25 Euros;
- Proveitos Financeiros = 0 Euros;
- Taxa de imposto sobre o rendimento = 30%

Do balanço, em 31 de dezembro do ano n, retiramos as seguintes informações:

- Capital Próprio = 150.000 Euros (valor igual a 1 de janeiro do ano n)


- Passivo = 180.000 Euros.

Com base nestas informações calcule:

a) A Estrutura de Capitais.

b) A Rentabilidade das Vendas (Bruta).

c) A Rotação do Ativo Total.

d) A Rentabilidade do Investimento Total (com base nos rácios anteriores).

e) A Rentabilidade do Investimento Total (fórmula simples).

f) A Rentabilidade dos Capitais Próprios.

Alexandrino Ribeiro 92
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 5.4

Da contabilidade da empresa “IPCA & IPCA. Lda”, retiraram-se os seguintes dados, para o ano n:

Resultado Antes de Impostos = 100.000 Euros;


Taxa de Imposto sobre o Rendimento = 25%;
Preço de Venda unitário = 4 Euros;
Quantidade Vendida = 125.000 unidades.

Com base nestes dados calcule a Rentabilidade das Vendas.

Caso Prático 5.5

Sabe-se os seguintes dados sobre a empresa “Barca Cellis, Lda”, no ano n:

Custos de Exploração = 170.000 Euros;


Preço de Venda unitário = 5 Euros;
Quantidade Vendida = 45.000 unidades.

Sabendo ainda que a empresa não tem outros custos nem outros proveitos que os de exploração, calcule a
Rentabilidade das Vendas.

Caso Prático 5.6

Foram retirados os seguintes valores da contabilidade da empresa “XPTO, Lda” em 31 de dezembro do ano n:

Ativo = 100.000 Euros;


Capital Próprio = 25.000 Euros (igual ao valor em 1 de janeiro do ano n)
Passivo = 75.000 Euros;
Resultados Líquidos = 6.000 Euros;
Encargos Financeiros = 6.975 Euros

Com base nestas informações indique se o endividamento em que a empresa “XPTO, Lda” incorreu se revelou
benéfico para ela.

Alexandrino Ribeiro 93
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 5.7

Foram retirados os seguintes valores da contabilidade da empresa “ABCD, Lda” em 31 de dezembro do ano n:

Ativo = 75.000 Euros;


Capital Próprio = 25.000 Euros (igual ao valor em 1 de janeiro do ano n)
Passivo = 50.000 Euros;
Resultados Líquidos = 3.000 Euros;
Encargos Financeiros = 7.500 Euros

Com base nestas informações indique se o endividamento em que a empresa “ABCD, Lda” incorreu se revelou
benéfico para ela.

Caso Prático 5.8

Da contabilidade da empresa “ESG & ESG, Lda”, foram retirados os seguintes valores:

Investimento Global (Activo) = 60.000 Euros;


Capitais Próprios = 15.000 Euros;
Capitais Alheios = 45.000 Euros;
Encargos Financeiros do exercício = 3.150 Euros;
Lucro Líquido do exercício = 2.850 Euros.

Com base nestas informações, indique se o endividamento que a empresa ESG & ESG, Lda incorreu foi vantajoso
para a empresa.

Caso Prático 5.9

Da contabilidade da empresa “CBA, Lda” foram retirados os seguintes valores:

Investimento Global (Activo) = 60.000 Euros;


Capitais Próprios = 15.000 Euros;
Capitais Alheios = 45.000 Euros;
Encargos Financeiros do exercício = 4.500 Euros;
Lucro Líquido do exercício = 900 Euros.

Com base nestas informações, indique se o endividamento que a empresa


“CBA, Lda” incorreu se revelou vantajoso.

Alexandrino Ribeiro 94
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 5.10

Sabe-se os seguintes dados, sobre a empresa “Beta & Alfa, Lda”, para o ano n:

Quantidade Vendida = 15.000 unidades


Valor das Vendas Líquidas = 60.000 Euros
Custo industrial variável unitário dos produtos vendidos = 2 Euros
Custo Comerciais variáveis = 7.500 Euros
Encargos de Estrutura = 15.000 Euros

Com base nestas informações:

a) Elabore a Conta de Exploração.

b) Calcule a quantidade do Ponto Morto das Vendas.

c) Elabore a Conta de Exploração para o nível de vendas do Ponto Morto das Vendas.

d) Elabore a representação gráfica e interprete os valores obtidos

Alexandrino Ribeiro 95
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 5.11

Sabe-se os seguintes dados sobre a empresa “Alfa & Omega, Lda” para o ano n:

Vendas previstas = 220.000 unidades;


Preço de venda unitário = 12 Euros;
Custo variável unitário = 7 Euros;
Encargos de estrutura previstos = 1.000.000 Euros;
Custos financeiros de financiamento = 125.000 Euros;
Taxas de imposto sobre o rendimento = 30%

Com base nestes dados:

a) Calcule o Ponto Morto das Vendas e o Ponto Morto Total, em termos de quantidade e de valor.

b) Elabore a Demonstração de Resultados prevista para o Ponto Morto das Vendas e para o Ponto
Morto Total.

c) Efectue a representação gráfica.

d) Interprete os valores obtidos nas alíneas anteriores.

Alexandrino Ribeiro 96
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 5.12

Sabe-se os seguintes dados sobre a empresa “Beta & Omega, Lda” para o ano n:

Vendas previstas = 250.000 unidades;


Preço de venda unitário = 10 Euros;
Custo variável unitário = 6 Euros;
Encargos de estrutura previstos = 750.000 Euros;
Custos financeiros de financiamento = 125.000 Euros;
Taxas de imposto sobre o rendimento = 35%

Com base nestes dados:

a) Calcule o Ponto Morto das Vendas e o Ponto Morto Total, em termos de quantidade e de valor.

b) Interprete os valores obtidos na alínea anterior.

c) Elabore a Demonstração de Resultados prevista para o Ponto Morto das Vendas e para o Ponto
Morto Total.

d) Efectue a representação gráfica.

Alexandrino Ribeiro 97
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 5.13

1) Sabe-se os seguintes dados sobre a empresa “Galo de Barcelos, Lda”:

Balanço da empresa “Galo de Barcelos, Lda” em 31/12/n (valores em Euros)


Activo Capital Próprio e Passivo
Activo Intangível 200.000 Capital Realizado 275.000
Activo Fixo Tangível 450.000 Reservas 41.000
Inventários 125.000 Resultado Líquido 50.000
Clientes c/c 150.000 Passivo Não Corrente
Outros Devedores 25.000 Financiamentos Obtidos 300.000
Depósitos Bancários 37.500 Suprimentos 80.000
Caixa 12.500 Passivo Corrente
Fornecedores 130.000
Financiamentos Obtidos 100.000
Outros Credores 24.000
Total do Activo 1.000.000 Total do Capital Próprio e Passivo 1.000.000

Informações adicionais:

1) Ficou acordado entre os sócios que o valor dos suprimentos seria integrado no capital
social da empresa num próximo aumento de capital social;

2) Na rubrica Fornecedores encontra-se registada uma divida ao Fornecedor Y, no montante


de 25.000 Euros, que será paga em fevereiro do ano n+2;

3) A rubrica Outros Devedores diz respeito a uma divida que o seu recebimento se afigura
difícil a curto prazo;

4) Na rubrica Financiamentos Obtidos de M/L prazo encontram-se 50.000 Euros que a


empresa terá que pagar em 30 de novembro do ano n+1.

Com base nestas informações, efectue as correcções necessárias para efeitos de análise
económica e financeira da empresa “Galo de Barcelos, Lda”.

Alexandrino Ribeiro 98
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

2) Sabe-se os seguintes dados sobre a empresa “Alfa, Lda”:

Balanço da empresa “Alfa, Lda”, em 31/12/n (valores em Euros)


Activo Capital Próprio e Passivo
Activo Intangível 70.000 Capital Realizado 30.000
Activo Fixo Tangível 250.000 Reservas 7.000
Investimentos Financeiras 20.000 Resultado Liquido 3.000
340.000 Total do Capital Próprio 40.000
Inventários 50.000 Financiament. Obtido M/L 170.000
prazo
Clientes 27.500 Financiament. Obtido Curto 230.000
prazo
Depósitos Bancários 40.000 Fornecedores 20.000
Caixa 5.000 Credores Diversos 2.500
122.500 Total do Passivo 422.500
Total do Activo 462.500 Total do capital Próprio e Passivo 462.500

Com base nestes dados e sabendo que o valor das vendas e das compras da empresa “Alfa,
Lda” no ano n foram de 220.000 Euros e 180.000 Euros respectivamente, calcule:

a) Os rácios de Liquidez.

b) Os rácios de solvabilidade.

c) Os rácios de rotação de clientes e rotação de fornecedores.

d) Interprete os valores alcançados nas alíneas anteriores.

3) Tendo em conta o balanço da empresa “Alfa, Lda” apresentado na questão anterior,


indique o seu valor do Fundo de Maneio em 31 de dezembro do ano n.

Alexandrino Ribeiro 99
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

4) A Demonstração de Resultados da empresa “Alfa, Lda”, relativa a 31 de dezembro do ano n, é a


que a seguir se apresenta:

Demonstração de Resultados da Empresa “Alfa, Lda” em 31/12/n (valores em Euros)


Rubricas Valores
Vendas 220.000
Custo Industrial das Vendas 120.000
Resultado Bruto 100.000
Custos Comerciais 30.000
Resultado de Exploração 70.000
Custos Financeiros 66.000
Resultado Corrente 4.000
Imposto Sobre o Rendimento 1.000
Resultado Líquido 3.000

Com base nestas informações e sabendo que o capital próprio da empresa “Alfa, Lda” em 01
de janeiro do ano n era de 37.000 Euros, calcule:

a) A rentabilidade dos capitais próprios.

b) A rentabilidade do investimento total.

c) Interprete os valores alcançados nas alíneas anteriores.

Alexandrino Ribeiro 100


Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Capítulo VI

O PLANEAMENTO FINANCEIRO

Caso Prático 6.1

A empresa “FabrIPCA, Lda” dedica-se à fabricação de máquinas para trabalho de materiais.


Actualmente fabrica um único produto, em fase de expansão, destinado a ser usado na indústria,
mas também com aplicação doméstica.
A “FabrIPCA, Lda” consome praticamente uma única matéria-prima principal, que tem sido
abastecida por um único fornecedor, existindo, todavia, outros a quem a empresa pode recorrer. O
prazo médio de pagamentos acordado é de 30 dias. Aos restantes fornecimentos também é
concedido o mesmo prazo.
O produto da “FabrIPCA, Lda” é comercializado em todo o território nacional, mas com especial
incidência nas zonas de maior densidade populacional. As condições de crédito aos clientes são de
60 dias.
Da análise do enquadramento sectorial da empresa e da sua situação económica e financeira ao
longo dos três últimos anos, pode concluir-se o seguinte:
• A empresa detém uma quota de mercado de 14%, prevendo-se o seu crescimento para o
próximo triénio - ano n+1 a ano n+3;
• Tem-se assistido a uma degradação da situação económica e financeira da empresa, resultante
da deterioração das condições de exploração e da insuficiência de capitais próprios para
financiar o seu activo imobilizado;

Face a este panorama, a administração definiu os objectivos para os próximos três anos, a saber:
• A expansão da empresa, traduzida num acréscimo anual das vendas, de modo a aumentar a sua
quota de mercado;
• Melhorar os índices de produtividade e de rendibilidade;
• Conseguir recuperar o equilíbrio financeiro.

A empresa propõe-se atingir estes objectivos através da realização das seguintes políticas:
• Aumentar os preços de venda unitários a um ritmo que permita o crescimento da empresa e a
viabilização aos restantes objectivos;
• Proceder aos estudos necessários a melhoria do produto, assim como dos circuitos de
distribuição;
• Promover a divulgação do produto através de uma campanha de publicidade;
• Modernizar o equipamento e aperfeiçoar as técnicas de fabrico, de modo a melhorar os índices
de produtividade;
Alexandrino Ribeiro 101
Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

• Adequar os custos aos limites mínimos, decorrentes da racionalização da actividade, através da


contenção dos custos fixos, incluindo um melhor aproveitamento dos recursos humanos;
• Negociar com as instituições de crédito esquemas de financiamento que lhe permitam manter o
equilíbrio financeiro necessário à consecução dos objectivos previstos.

Definidos os objectivos e delineadas as políticas, a “FabrIPCA, Lda” decidiu elaborar um


conjunto de programas e orçamentos para os anos n+1, n+2 e n+3 (valores em Euros).

1) Orçamento de vendas

Ano n+1 Ano n+2 Ano n+3


Quantidade vendida 78.200 89.930 103.420
Preço de venda unitário 1,70 1,94 2,23
Valor de vendas 132.940 174.464 230.627
IVA de vendas a 21%

2) Orçamento de investimento

Ano n+1 Ano n+2 Ano n+3


Equipamento industrial --- 17.000 ---
Equipamento administrativo --- 3.000 ---
Publicidade e I&D 6.000 4.500 3.000
Total 6.000 24.500 3.000
IVA de investimento a 21% (dedutível)

• Prevê-se que o equipamento (industrial e administrativo) a adquirir em n+2 seja pago em duas
prestações semestrais e iguais, com vencimento em outubro de n+2 e março de n+3;

• Quanto aos custos de publicidade e I&D prevê-se que sejam distribuídos uniformemente ao
longo do ano, sendo o seu pagamento efectuado no próprio mês da sua realização.

Alexandrino Ribeiro 102


Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

3) Orçamento de produção

Ano n+1 Ano n+2 Ano n+3


Produção (unidades) 69.855 91.050 104.600
Custo unitário 0,942 1,1342 1,2872

4) Orçamento de aprovisionamento

Ano n+1 Ano n+2 Ano n+3


Consumo 63.363 99.630 129.828
Compras anuais 65.887 102.016 133.592
IVA de Compras a 21% (dedutível)

5) Orçamento de Fornecimentos e Serviços Externos (FSE)

Ano n+1 Ano n+2 Ano n+3


Custos variáveis
Força motriz 2.445 3.642 4.812
Outros 6.647 8.723 11.531
Custos fixos 10.980 12.077 13.284
Total 20.072 24.442 29.627
IVA de F.S.E. a 21% (dedutível)

6) Orçamento dos custos com pessoal

Ano n+1 Ano n+2 Ano n+3


Remunerações ilíquidas 20.664 22.316 24.108
Encargos sociais trabalhadores
Taxa Social Única (11%) 2.273 2.455 2.652
IRS (8%) 1.653 1.785 1.929
Encargos sociais patronato (28%) 5.786 6.248 6.750

• O subsídio de férias é pago em julho e o 13º mês é pago em dezembro;


• O IRS é calculado a uma taxa média de 8%, sendo entregue nos cofres do Estado no 1º mês de
cada trimestre, exceptuando os meses de outubro e novembro que são pagos em Dezembro;
• A data de pagamento dos restantes encargos é o mês seguinte ao da sua realização.

Alexandrino Ribeiro 103


Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

7) Previsão de imposto sobre o rendimento

Ano n+1 Ano n+2 Ano n+3


IRC 4.236 5.441 13.678

8) Outras informações

8.1) Prevê-se o pagamento e o recebimento no ano n+1 de todos os débitos e créditos


constantes do balanço do ano n, a saber:

Créditos de curto prazo


Clientes 19.577
Sócios 1.878
Débitos de curto prazo
Fornecedores de matérias 12.705
Fornecedores FSE 10.877
Fornecedores Imobilizado 15.000
Estado (IVA a pagar) 867
Sócios 2.736
IRC (previsão) 1.657

8.2) O saldo de Disponibilidade em 31 de dezembro do ano n é de 4.945 Euros;

8.3) O director financeiro negociou com as instituições de crédito o seguinte esquema de


financiamento:

* Empréstimo a médio longo prazo

- Valor do empréstimo: 10.000 Euros;


- Data de levantamento: 2 prestações de 5.000 Euros, uma em janeiro do ano n+1 e outra em julho
do ano n+1;
- Prazo de carência de capital: 1 ano a partir do último levantamento;
- Modo de reembolso: 4 prestações semestrais e iguais, vencendo-se a primeira em julho do ano
n+2;
- Taxa de juro: 21,25% ao ano.

Alexandrino Ribeiro 104


Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

* Empréstimo de curto prazo

- Um “plafond” de crédito até 25.000 Euros a utilizar de acordo com as necessidades:

Ano n+1 Ano n+2 Ano n+3


Empréstimos contraídos 42.114 66.232 79.888
Reembolsos efectuados 28.800 64.114 81.932

- Taxa de juro: 18,25% ao ano;

* Juros dos empréstimos

Ano n+1 Ano n+2 Ano n+3


De médio prazo 532 2.126 1.328
De curto prazo 1.925 3.002 3.297
Total 2.457 5.128 4.625

a) Elabore os orçamentos de tesouraria e os orçamentos financeiros para os próximos três anos


(n+1, n+2 e n+3). Apresente as justificações dos cálculos que entender necessários.

b) Os documentos construídos evidenciam determinada situação financeira previsional. A essa


luz, concorda com as políticas definidas pela empresa, nomeadamente em matéria de actuação
financeira? Justifique devidamente a sua resposta.

Alexandrino Ribeiro 105


Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Capítulo VII

ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO RISCO

Caso Prático 7.1

Quantidade vendida = 10.000 unidades


Preço de venda unitário = 10 Euros
Custos variáveis unitários = 6 Euros
Custos Fixos = 20.000 Euros
Taxa de imposto sobre o rendimento = 40%

Com base nestes dados:

a) Efetue a demonstração de resultados.

b) Analise o grau de alavanca operacional.

Caso Prático 7.2

Sabendo os seguintes dados sobre a empresa “Risco & Rabiscos, Lda” no ano n:

Quantidade vendida = 10.000 unidades


Preço de venda unitário = 10 Euros
Custos variáveis unitários = 6 Euros
Custos Fixos = 25.000 Euros
Taxa de imposto sobre o rendimento = 40%

Com base nestes dados analise o grau de alavanca operacional e interprete o valor obtido.

Alexandrino Ribeiro 106


Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 7.3

Sabendo os seguintes dados sobre a empresa “Risco & Sarrabiscos, Lda” no ano n:

Quantidade vendida = 10.000 unidades


Preço de venda unitário = 10 Euros
Custos variáveis unitários = 6 Euros
Custos Fixos = 20.000 Euros
Custos Financeiros de Financiamento = 5.000 Euros
Taxa de imposto sobre o rendimento = 40%

Com base nestes dados analise o grau de alavanca financeiro.

Caso Prático 7.4

Sabendo os seguintes dados sobre a empresa “Risco & Sarrabiscos, Lda” no ano n:

Quantidade vendida = 10.000 unidades


Preço de venda unitário = 10 Euros
Custos variáveis unitários = 6 Euros
Custos Fixos = 20.000 Euros
Custos Financeiros de Financiamento = 2.000 Euros
Taxa de imposto sobre o rendimento = 40%

Com base nestes dados analise o grau de alavanca financeiro e interprete os valores obtidos.

Alexandrino Ribeiro 107


Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

Caso Prático 7.5

Sabendo os seguintes dados sobre a empresa “Sarrabiscos & Risco, Lda” no ano n:

Quantidade vendida = 10.000 unidades


Preço de venda unitário = 10 Euros
Custos variáveis unitários = 6 Euros
Custos Fixos = 20.000 Euros
Custos Financeiros de Financiamento = 2.000 Euros
Taxa de imposto sobre o rendimento = 40%

Com base nestes dados analise o grau de alavanca combinado.

Alexandrino Ribeiro 108


Sebenta Gestão Financeira – da teoria à prática

BIBLIOGRAFIA

- Fernandes, Carla, Peguinho, Cristina, Vieira, Elisabete e Neiva, Joaquim (2022),


“Análise Financeira – Teoria e Prática”, 6ª Edição, Edições Silabo;

- Nabais, Carlos e Nabais, Francisco (2011), “Prática Financeira I – Análise


Económica e Financeira”, Lidel Edições;

- Nabais, Carlos e Nabais, Francisco (2011), “Prática Financeira II – Gestão


Financeira”, Lidel Edições;

- Matias, Fernanda, Baptista, Celísia, Salsa, Leonor, Coelho, Luís e Serrasqueiro,


Zélia (2023), “Gestão Financeira – Teoria e Prática”, Edições Silabo;

- Silva, Jacinto e Ferreira, Paulo (2018), “Princípios de Gestão Financeira”, Rei dos
Livros;

- Breia, Arménio, Mata, Mário e Pereira, Vitor (2014), “Análise Económica e Financeira
- Aspectos Teóricos e Casos Práticos”, Rei dos Livros;

Alexandrino Ribeiro 109

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